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Universidade Salvador – UNIFACS


Cursos de Engenharia – Cálculo Avançado / Métodos Matemáticos Aplicados
Profa: Ilka Rebouças Freire

Integrais Múltiplas

Texto 01: A Integral Dupla em Região Retangular. Integrais Iteradas

A integral definida de uma função de uma variável pode ser estendida a uma função de
várias variáveis. A integral definida de uma função de uma variável é chamada de integral
simples para diferenciar de uma integral múltipla que envolve funções de várias variáveis.
Vamos trabalhar com integrais de funções de duas variáveis, ou seja, a integral dupla.
Na discussão de uma integral simples exigimos que a função fosse definida em um
intervalo fechado em R. Para a integral dupla, a função de duas variáveis deve estar
definida numa região fechada do R2. Entende-se por região fechada do R2, uma região
que contém a sua fronteira. O tipo mais simples de uma região fechada do R2 é um
retângulo fechado.

Um retângulo fechado R do R2 é a região do plano limitada pelas retas x = a;


x = b; y = c e y = d, ou seja, R = { (x,y)  R2; a  x  b e c  y  d }

a b

c
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A região R pode ser considerada como uma região de integração para z = f(x,y), supondo
f definida em R e corresponde ao intervalo de integração [a,b], quando f é uma função de
uma variável.
Para definir a integral dupla nosso primeiro passo é estabelecer uma partição em R.
Dividimos o intervalo [a,b] em n subintervalos e o intervalo [c,d] em m subintervalos.
Traçando retas paralelas aos eixos coordenados passando pelos pontos que dividem os
intervalos obtemos uma rede de sub-regiões retangulares que cobrem R.
a = xo < x1 < x2 <....< xn-1 < xn = b e c = yo < y1 < y2 <....< ym-1 < ym = d

yj
Rij
j
yj-1
xi-1 i xi

Cada sub-retângulo indicamos por Rij, com largura ix = xi  xi-1 e altura jy = yj  yj-1

Se ijA unidades quadradas é a área do retângulo Rij, de largura ix e altura jy , temos
que ijA = ixjy
Seja ( i, j ) um ponto arbitrário em Rij. Consideremos f(i, j ) ixjy e a soma, que é
m n
chamada de soma de Riemann  f ( ,  ) x y . Quando max x  0 e max y  0,
j1 i 1
i j i j i j

ou, equivalentemente n  + e m  + , se a soma acima tiver limite finito temos a


seguinte definição:
3

Seja z = f(x,y) definida numa região retangular R fechada do plano.


m n
Dizemos que f é integrável em R se existir o limite lim   (f i,  j )i x jy
n   j 1i 1
m 
= L.
Neste caso, L é chamado de integral dupla de f em R e escrevemos
m n
lim   (f  i ,  j ) i x j y =  (f x, y )dxdy ,
n   j 1i 1 R
m  
ou  (f x, y )dA , sendo ijA = ixjy
R

Se f é uma função contínua numa região retangular do plano então,


pode-se mostrar que f é integrável.

Interpretação Geométrica

Para interpretar geometricamente o significado da integral dupla, vamos supor,


inicialmente, z = f(x,y) contínua em R e f(x,y)  0 em R
O gráfico de z = f(x,y) é uma superfície situada acima do plano XY. É fácil compreender
m n
que   (f i ,  j ) i x j y corresponde à soma dos volumes dos paralelepípedos cujas
j 1i 1

bases são os sub-retângulos Rij e cujas alturas são os valores correspondentes a f(i, j ).
Assim, ijV = f(i, j ) ixiy.

f(i, j )

jy
ix
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Quando n  +  e m  +  esta soma vai se aproximar do volume do sólido limitado


por R, pelo gráfico de z = f(x,y) e pelas retas que passam pela fronteira de R e são
paralelas ao eixo OZ.

Se S é o sólido que tem R como base e uma altura de medida f(x,y) para cada
ponto (x,y) de R, então o volume de S é dado por V(S) =  (f x, y )dxdy
R

Observação: Se f(x,y) é positiva em alguns pontos de R e negativa em outros, o volume


do sólido correspondente é obtido dividindo-se a região e somando-se a parcela em que
f(x,y)  0 com o módulo da parcela correspondente em que f(x,y)  0.

Cálculo de Integrais Duplas: Integrais Repetidas ou Iteradas

Obtivemos a definição da integral dupla com a sua interpretação como volume, porém não
dispomos, até agora, de um método para calculá-las. Veremos como é possível avaliar
tais integrais reduzindo o seu cálculo ao de duas integrais simples.
Nossa abordagem será intuitiva e usará a interpretação geométrica da integral dupla
como volume. O desenvolvimento rigoroso desse método pertence a um curso de análise
Matemática

Vamos analisar a integral dupla numa região retangular.


Seja z = f(x,y) uma função dada, integrável numa região fechada R, cujo gráfico em R é o
sólido S e R = { (x,y)  R2; a  x  b e c  y  d }.
b
Seja yo  [c, d]. A função f(x,yo) é contínua na variável x, logo a integral  (f x, y o )dx existe
a

e tem um valor definido para cada valor de yo escolhido, sendo portanto uma função de y
b
em [c,d]. Seja A(y) =  (f x, y )dx . Geometricamente A(y) corresponde à área da região
a

plana obtida pela intersecção do plano que passa por (0,y,0) e é perpendicular ao plano
XY, com a superfície S, cuja fronteira superior é o gráfico de z = f(x,y).
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A(y)

y
b

f(x,y)

A(y)

a b x

A(y) é, portanto, a área de uma secção plana perpendicular ao eixo OY.

O volume do sólido S corresponde ao limite da soma de todas essas áreas, ou seja,


d d d b
V(S) =  A( y )dy . Logo, V( S )   (f x, y )dxdy   A( y )dy   [  (f x, y )dx ]dy
c R c c a

Esta última integral é chamada de integral repetida ou iterada e também pode ser escrita
d b bd
como  (f x, y )dxdy   [  (f x, y )dx ]dy    (f x, y )dydx
R c a ac
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Observações:

1) Desde que a função seja contínua em R a ordem das integrais pode ser trocada,
como mostra a última notação.
d b b
2) Ao calcularmos  [  (f x, y )dx ]dy , a integral “interna”  (f x, y )dx deve ser calculada
c a a

considerando-se x como a variável de integração e y constante.


b d d
3) Ao calcularmos  [  (f x, y )dy ]dx , a integral “interna”  (f x, y )dy deve ser calculada
a c c

considerando-se y omo a variável de integração e x constante.


4) A escolha da 1ª ordem de integração vai depender do grau de dificuldade de
integração, considerando-se x ou y constantes.

Propriedades

As propriedades operatórias da integral dupla são semelhantes às propriedades da


integral simples.
Se f(x,y) e g(x,y) são funções integráveis em R, então:

1) ( (f x, y )  g( x, y )) dxdy   (f x, y )dxdy   g( x, y )dxdy


R R R

2)  cf( x, y )dxdy  c  (f x, y )dxdy


R R

3) Se f(x,y)  g(x,y) em R, então  (f x, y )dxdy   g( x, y )dxdy


R

Além disso, valem todas as técnicas de integração vistas para uma integral simples.
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Exemplos:

1) Calcule ( 2x 2  3y )dxdy , sendo R = {(x,y)R2; 1  x  2 e 1  y  3 }


R

nas duas ordens de integração

Solução:

i) 1ª integração em x:

2
( 2x  3y )dxdy =
R

3 2
2
3 2
3 2
3 16 2 3 9y 2 3
[
 ( 2 x  3 y )dx ]dy   [ x  3 xy] 1 dy   [  6 y   3 y ]dy  (
 6  9 y )dy  [6 y  ]1
1 1 1 3 1 3 3 1 2

81 9 24  81  9
= 18  6   24
2 2 2

ii) 1ª integração em y

2
( 2x  3y )dydx =
R

2
2 3
2
2
2 y2 3 2
2 27 2 3 2
2  4x 3 
[
 ( 2 x  3 y )dy ]dx   [ 2 x y  3 ]1 dx   [ 6 x   2 x  ]dx   [ 4 x  12 ]dx    12 x  
1 1 1 2 1 2 2 1  3  1

32 4 36
 24   12   36  12  36  24
3 3 3

2) Calcule R f x, y  dA , sendo f x, y   xe xy ; e R = x, y   2 / 1  x  3 e 0  y  1.


Solução: Neste caso, é mais conveniente fazer a primeira integração em y, pois a
integração fica mais simplificada.
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xy
 xe dA 
R
1
31
xy
3  xe xy
  xe dydx   
x
 3
x 0
3
x x 3
 3
 3
 dx  ( e  e )dx  ( e  1)dx  e  x 1  e  3  e  1  e  e  2
10 1 
0 1 1

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Observação: Vejamos o que acontece na resolução na ordem   xe xy dydx .
01

Inicialmente a integral interna deve ser resolvida por partes:


u  x  du  dx
xy 
 xe dx   xy e xy
dv  e dx  v 
 y

xy e xy e xy e xy e xy
 xe dx  uv   vdu  x  dx  x  2 C
y y y y
3
3
xy  e xy e xy  e 3y e 3y e y e y
 xe dx   x  2  3  2   2
1  y y  1 y y y y

13
xy
1 e 3y e 3y e y e y
  xe dydx = ( 3  2   2 )dy
01 0 y y y y

Esta última integral NÃO tem solução por métodos elementares.

x2 y2
3) Encontre o volume do sólido limitado pela superfície (f x, y )  4   , os planos
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x = 3 e y = 2 e os três planos coordenados

Solução: O sólido está limitado inferiormente pela região


 
R = x, y   2 / 0  x  3 e 0  y  2 , que será a região de integração,

2
R
3

x2 y2
e superiormente pelo parabolóide (f x, y )  4  
9 16
9

2
2 3 x2 y2 2 x3 y2x 3 2 3y 2 2 y3
V(S) =  [ ( 4   )dx ]dy   [4x   ] 0 dy   [12  1  ]dy   [11y  ] =
0 0 9 16 0 27 16 0 16 0 16 0

1 43
22   unidades de volume.
2 2

Referências Bibliográficas:
1. Cálculo um Novo Horizonte – Howard Anton vol 2
2. Cálculo com Geometria Analítica – Swokowski vol 2
3. Cálculo B – Diva Fleming
4. Cálculo – James Stewart vol 2

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