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FOCUS SOBRE

PREVENÇÃO DE
MALARIA
ANGOLA JUNHO 2010

QUAIS SÃO AS BARREIRAS AO USO CONSISTENTE DE


MOSQUITEIRO ENTRE MULHERES GRÁVIDAS E CRIANÇAS
MENORES DE CINCO ANOS?

Estudo de Pesquisa Qualitativa Conduzida com Mulheres Grávidas e Cuidadoras de


Crianças Menores de Cinco Anos em Benguela e Malanje

PSI/Angola 1
ARQUÉTIPO: Mana Minga

MM ana Minga vive em uma zona peri-urbana no bairro de Ritondo. Ela tem 24 anos, está
grávida e tem dois filhos pequenos: um de 4 anos e outro de 2 anos. Seu marido é
professor e tem 28 anos. Ela vive com seu marido, seus filhos e sua irmã.

Ela vive em uma casa de bloco sem pintura, composta de um dormitório e uma sala de família. No seu
tempo livre ela cuida de sua casa e gostar de olhar livros. Mana Minga tem aspiração de ter um emprego
e sua própria casa um dia. Mais do que nada, ela gostaria de voltar ao colégio e que sua família tenha
boa saúde.

Mana Minga diz que uma boa mãe é carinhosa, atenciosa e uma boa professora. Para conseguir
informação sobre saúde, Mana Minga vai ao centro de saúde ou recebe conselhos de sua família e
vizinhos. Ela confia nos conselhos de enfermeiras e doutores acima de todos quando se trata de
questões de saúde.

Mana Minga se preocupa mais com o lixo e a água


parada no seu bairro. Ela acredita que o lixo e a água
parada causam malaria entre crianças. Ela está muito
preocupada sobre contrair malaria durante sua
gravidez, por isso ela pensa que é importante para ela
ir a um centro de saúde para consultas pré-natais.
Mana Minga diz que a diferença entre a malaria e o
paludismo é que a malaria torna-se mortal muito
rapidamente, enquanto que o paludismo é mais
fácilmente controlado. Minga sabe que uma das
conseqüências da malaria é que pode torná-la louca.
Se uma mulher contrai malaria durante a gravidez, ela
sabe que o bebê pode morrer ou nascer com malaria. Mana Minga tem um mosquiteiro rectangular que é
tratada com insecticida que ela recebeu no centro de saúde. Ela acha que os mosquiteiros tratados com
insecticidas que são dadas gratuitamente no centro de saúde são as melhores. Ela nem sempre usa uma
rede mosquiteira – somente quando ela nota que há muitos mosquitos. Suas amigas, vizinhas, e as
pessoas no centro de saúde a incentivam a usar um mosquiteiro, mas mesmo assim, ela nem sempre
usa um.

PSI/Angola 2
HISTORICO

M alaria é um problema de saúde pública sério em Angola. O estudo MIS 2006-7 descobriu que
20% das crianças menores de cinco anos e 14% das mulheres grávidas estavam infectadas
com Malaria (Macro International, 2007). A malaria é endêmica em todas as 18 províncias, que
estão divididas em três níveis de endemia:

• a parte norte do país é hiper endêmica e tem uma taxa prevalência de 28%;
• a parte central do país é meso endêmica (estável) e tem uma taxa de prevalência de 55%; e
• a parte sul do país é meso endêmica (instável) e tem uma taxa de prevalência de 17%.

Em 2004, PSI Angola lançou seu programa de prevenção de malaria, que agora consiste no marketing
social de dois mosquiteiros tratados com insecticida de longa duração: Seguro e Salvo e Jóia. Ambas os
mosquiteiros são distribuídas através do setor comercial em áreas urbanas. Seguro e Salvo tem como
alvo mulheres grávidas e é vendido em áreas comerciais fora de Luana. Jóia é um mosquiteiro de maior
custo que é distribuída em Luanda e Benguela. Em 2008, PSI distribuiu um total de 143.518 mosquiteiros
em áreas urbanas de dez províncias e desenvolveu e lançou atividades BCC1.

De 2008 a 2012, PSI Angola receberá fundos do Fundo Global Ronda 7 para distribuir mosquiteiros
tratados com insecticida de longa duração (MTILD) e implementar actividades de comunicação para
mudança de comportamento para aumentar a posse e o uso de mosquiteiros entre mulheres grávidas e
crianças menores de cinco anos. O plano estratégico nacional de malaria incorpora a distribuição de
MTILDs subsidiadas como uma estratégia complementar à distribuição gratuita. A entrega de MTILDs de
custo muito baixo via sector privado tem a intenção de prover mosquiteiros que são muito necessitadas a
grupos em risco que não são alcançados pela distribuição gratuita e também dá a lares de baixa renda
sem mulheres grávidas ou crianças menores de cinco anos uma fonte acessível de MTILDs. Durante este
período de cinco anos, PSI planeja distribuir 200.000 mosquiteiros subsidiadas por ano e lançar
campanhas de rádio, imprensa e televisão para aumentar o uso de MTILDs.

Como um parceiro no Fundo Global Ronda 7, PSI Angola é responsável por lançar uma campanha, a
nível nacional, de comunicação para mudança de comportamento para aumentar o uso de mosquiteiros
tratados com insecticida entre mulheres grávidas e crianças menores de cinco anos. PSI Angola
desenvolverá e lançará uma campanha de rádio dirigida a cuidadoras de crianças menores de cinco
anos. O presente estudo qualitativo é proposto para adquirir um maior entendimento sobre os
determinantes de uso de MTILDs desde a perspectiva do usuário para ajudar na criação de mensagens
focalizadas, relevantes e efetivas para a campanha de rádio.

Especificamente, os objetivos do estudo eram:


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Comunicação para Mudança de Comportamento
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• Identificar crenças para reforçar e crenças para mudar relativas ao uso de MTILD
• Criar um perfil de pessoa:
o criando um arquétipo de caráter do grupo alvo
o identificando estratégias de sucesso utilizadas por mulheres grávidas/cuidadoras para usar
MTILDs consistentemente
• Entender as atuais associações com o uso de MTILD
• Descrever a abertura e habilidade do grupo alvo para processar mensagens relacionadas ao uso de
MTILD
• Identificar o marco de referência e comportamentos alternativos que previnem o grupo alvo de
usar mosquiteiros

DESENHO DE ESTUDO

V inte mulheres grávidas e vinte mulheres com crianças menores de cinco anos foram recrutadas
propositadamente nas cidades de Benguela e Malanje. Participantes potenciais do estudo foram
abordadas dentro de comunidades e fora de serviços de saúde e monitoradas para elegibilidade. O
critério de elegibilidade para este estudo incluía: ser maior de 18 anos; viver em áreas comerciais
urbanas de Benguela e Malanje; estar atualmente grávida ou ser a cuidadora principal de uma
criança menores de cinco anos, e consentir voluntariamente em participar deste estudo. O
estudo foi conduzido com três diferentes categorias de participantes: usuárias consistentes de
mosquiteiros, usuárias inconsistentes e não-usuárias. Entrevistas em profundidade foram
conduzidas com todas as participantes do estudo. Seis entrevistadas de cada lugar de estudo
também foram convidadas a participar de uma narrativa fotográfica, onde se pediu às
participantes para tirar fotografias dos benefícios e barreiras ao uso de mosquiteiros em suas
casas. Isto incluía instruções para tirar fotografias de onde o mosquiteiro é guardada, como o
mosquiteiro é pendurada, o estado de mosquiteiro, a localização de mosquiteiro, a localização
dos lugares de dormir na casa. Depois que as fotos foram tiradas, elas foram reveladas e os
entrevistadores voltaram para fazer uma pequena entrevista relacionada às imagens tomadas
pelas participantes. Dois entrevistadores com experiência prévia coletando dados qualitativos
foram recrutados e treinados para participar do estudo. Todas as entrevistas foram conduzidas
em português e gravadas em áudio com o consentimento das participantes do estudo.

O estudo foi submetido para aprovação ética ao Comitê de Bioética Angolana e ao Conselho de
Pesquisa e Ética de PSI.

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D

Participantes da sessão discutindo a codificação das


citações

PROCESSO
ados para este estu do foram conduzidos durante os meses de Janeiro e Fevereiro, que coincidem com a
estação quente de chuvas. As entrevistas foram transcritas e codificadas pela equipe de pesquisa de
PSI/Angola, sob a supervisão do Conselheiro de Pesquisa. Os dados foram analisados durante um workshop
de pesquisa de dois dias com o pesquisador regional para a África do Leste. Durante o workshop de pesquisa,
a equipe trabalhou na criação de um arquétipo e no resumo de muitas descobertas. O workshop de pesquisa
incluiu participantes de diferentes áreas, incluindo pesquisa, programas e administração para permitir
diferentes opiniões e perspectivas sobre resultados do estudo. As diferenças entre Malanje e Benguela eram
mínimas e o grupo decidiu que um arquétipo seria suficiente para descrever o “cliente” que programas de
prevenção de malaria querem abordar.

DESCOBERTAS CHAVE
‘O calor é uma barreira chave para o uso consistente de mosquiteiro. Usuários
consistentes de mosquiteiro vêem os mosquitos como um desconforto maior do que o
calor.

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Tanto mulheres grávidas e cuidadoras que usam mosquiteiros consistentemente quanto àquelas que não
usam mosquiteiros consistentemente mencionaram o calor como uma barreira primária ao uso de
mosquiteiro. Entretanto, usuárias consistentes estavam mais preocupadas com o desconforto e ameaça
dos mosquitos (por causa do barulho, picada ou doença potencial que pode resultar da picada) do que
com o desconforto do calor. Cuidadoras que consistentemente têm suas crianças dormindo sob
mosquiteiros as vêem como reconfortantes: os mosquiteiros não somente mantêm os mosquitos
longe delas/suas crianças, mas elas também podem reduzir o número de doenças que a criança pode ter.
.
Quando não há eletricidade você não pode ligar o ventilador para dormir sob o
mosquiteiro. Faz tanto calor, mas eu prefiro ter calor do que ser picada.
Cuidadora, Malanje, Usuária

O que fez que você colocasse seu filho para dormir sob um mosquiteiro? Você dorme sob um
mosquiteiro? Por causa das doenças — ficar doente hoje, amanhã, depois de amanhã, então temos
que tentar evitá-los um pouco para ver se o número de doenças diminui um pouco. Mulher grávida,
Benguela, Usuária inconsistente

Outros atributos de mosquiteiros que não-usuários mencionaram como barreiras ao uso de mosquiteiros
incluíam: a dificuldade de entrar e sair de mosquiteiro, ter que prender o mosquiteiro para manter os
mosquitos fora, o fato de mosquiteiro se rasgar facilmente, e a sensação de estar sufocando-se. (como
estar dentro de um saco).

À parte do calor, quais são as dificuldades que você enfrenta dormindo sob um mosquiteiro?
Você tem que levantar-se a qualquer hora, levantar o mosquiteiro para ir ao banheiro, depois levantá-
la outra vez para deitar-se. Essa é a dificuldade, da forma como eu vejo. Mulher grávida, Malanje,
Não-usuária
Por que você acha que algumas mulheres grávidas na sua comunidade não usam
mosquiteiros? Como você sabe se elas usam mosquiteiros ou não? Porque elas reclamam o
tempo todo, que a mosquiteiro se rasgou, que estava causando problemas, que é muito quente, ou
que elas não sabem como pendurá-la – que sempre está caindo. Mulher grávida, Benguela,
Usuária

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Usuários
Dificuldades e aborrecimentos pendurando mosquiteiros são barreiras ao uso
consistente.

inconsistentes descreveram dificuldades em pendurar o


mosquiteiro como uma barreira ao uso de mosquiteiro. Ou eles não sabem
como pendurá-la, não tem paciência para pendurá-la corretamente a fim
de que os mosquitos não entrem no mosquiteiro, têm concepções erradas
sobre o tipo de cama ou teto requerido para pendurar um mosquiteiro, ou
não têm o interesse em fazê-lo. O tamanho do mosquiteiro ou a cama
da criança não ser propícia para o uso de mosquiteiros também
constitui um desafio para pendurar mosquiteiras.

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Algumas usuárias e usuárias inconsistentes descreveram situações onde eles não puderam dormir
consistentemente sob um mosquiteiro porque elas haviam recentemente lavado o mosquiteiro e não
tinham o tempo ou energia para re-pendurar o mosquiteiro antes da noite.

Por que você não usa o mosquiteiro que eles deram para você? Preguiça. Preguiça de que? De
armá-la, de encontrar tempo para pendurá-la. Você acha que é difícil armá-la? Muito difícil: não,
mas um pouquinho. O que você acha que tornaria mais fácil para você pendurar a rede
mosquiteira? Ter aquele tipo que tem um anel. Mulher grávida, Malanje, Não-usuária

Então você terminou não usando o mosquiteiro? Sim, eu terminei não usando o mosquiteiro. Até
hoje continua lá. Mas agora eu fui à casa de uma amiga para ver como se pendura. Sim, porque eu só
estava colocando na cama. Isto está certo ou não? (ri) Cuidadora, Benguela, Não-usuária

Cuidadoras cujas crianças dormem consistentemente sob mosquiteiros penduram pessoalmente o


mosquiteiros e não vêem pendurá-la como uma barreira ao seu uso. Elas ou seguem as instruções que
vêm com o mosquiteiro ou encontram soluções criativas quando encontram dificuldades para pendurar
um mosquiteiro.

3 Usar um mosquiteiro consistentemente é um hábito que costuma ser iniciado por


uma gravidez ou quando se tem filhos.

Tanto usuárias consistentes como inconsistentes descrevem dormir sob mosquiteiros como um hábito ou
parte de uma rotina. A narrativa sugere que, muitas vezes, este hábito resulta como conseqüência de
ficar grávida ou ter filhos pequenos.

Durante a gravidez, as mulheres desenvolvem o hábito de dormir sob um mosquiteiro para proteger o
bebê. Enquanto que algumas mulheres mantêm esse hábito depois que o bebê nasce, outras descrevem
não dormir sob um mosquiteiro a não ser que estejam grávidas.

O que a fez decidir a começar a dormir sob um mosquiteiro? O que me fez decidir? Eu pensei
no meu bebê. Na saúde do meu bebê e eu decidi usar um mosquiteiro por causa da malaria. Você
dormia sob um mosquiteiro quando não estava grávida? Como eu não estava grávida, era
difícil dormir sob um mosquiteiro. Por quê? Porque é incômodo. Sempre eram meus filhos que
dormiam sob o mosquiteiro. Mulher grávida, Benguela, Usuária

Quando você não estava grávida, você também dormia sob um mosquiteiro? Não, antes de
ter meu filho eu não dormia sob um mosquiteiro, somente depois que comecei a ter filhos isso se
tornou um hábito, o mosquiteiro. Mulher grávida, Benguela, Usuária

O uso de um mosquiteiro durante a gravidez é considerado uma forma de manter você e seu bebê
saudáveis e um acto “responsável”. Da mesma forma, algumas cuidadoras também comentaram que
fazer que seus filhos durmam sob mosquiteiros é uma forma de ser uma “boa mãe” protegendo seus
filhos de doenças. Tanto cuidadoras que eram usuárias como não-usuárias descreveram uma mulher que
faz que seus filhos durmam sob um mosquiteiro como paciente, amorosa e cuidadosa.

4 Variações sazonais em incidência de malaria ou densidade de mosquitos se tornam

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uma razão para o uso inconsistente de mosquiteiro.

As narrativas indicam que cuidadoras cujas crianças usam mosquiteiros inconsistentemente


(particularmente aquelas que usam mosquiteiros durante a “estação” de malaria) percebiam que elas
estavam fazendo tudo o que podiam para prevenir a malaria entre seus filhos. Esta percepção vai contra
nossa classificação dessas participantes como usuárias inconsistentes, e cria um impasse em relação à
habilidade do programa de prevenção de mudar comportamentos dado que parte do grupo alvo pensa
que já está praticando o comportamento promovido. O uso sazonal dos mosquiteiros é justificada pela
diminuição da percepção da necessidade durante a estação fria pela diminuição do número de
mosquitos, ou a diminuição do risco de malaria. Há, entretanto, inconsistências e confusão sobre quando
a estação quente de chuvas começa e termina.

Quem usa o mosquiteiro em casa? Eu e as crianças a usamos, bem, não sempre, mas a
usamos. Meus filhos dormem sob ela na estação de chuvas. Quando eles param de dormir sob
um mosquiteiro? Na temporada de frio pois eu acho que é ai que o mosquitos desaparecem e
vão embora. É ai que eles não ficam constantemente sob o mosquiteiro. Cuidadora Malanje,
Usuária inconsistente

Antes de você ficar grávida, você dormia sob um mosquiteiro? Sim, sim eu dormia sob um
mosquiteiro. Porque nós sabemos que de Maio até Agosto, de 15 de Agosto, 15 de Setembro a
estação seca termina, a estação de chuvas começa.Mulher grávida, Benguela, Usuária

5 Mesmo entre usuárias consistentes, há situações específicas em que há um descanso


no uso de mosquiteiros que pode estar fora do controle da mulher/cuidadora.

Entre usuárias de mosquiteiras, há situações nas quais pode haver um período de tempo quando uma
mulher grávida ou crianças menores de cinco anos não dormem sob um mosquiteiro. Essas situações
costumam acontecer com freqüência quando a mulher grávida ou as crianças estão dormindo fora de
casa (normalmente na casa de parentes) onde não há oportunidade de pendurar um mosquiteiro ou não
há o hábito de dormir sob um mosquiteiro.

...o hábito de uma casa pode não ser o hábito de outra casa. Eu estou falando sobre passar a
noite na casa de meus primos ou de minha irmã e acontece que lá eles não têm o hábito de usar
um mosquiteiro, então eu podia passar a noite inteira sem dormir sob um mosquiteiro.
Cuidadora, Malanje, Usuária

Já houve alguma noite em que você não dormiu sob um mosquiteiro? Somente quando eu
durmo fora da minha casa. Quando foi isso? Eu fui a Huambo, para ficar na casa da minha
sogra. Quanto tempo você ficou lá? Duas noites. Você poderia ter dormido sob um
mosquiteiro lá? A casa estava muito cheia. Eu fui lá para o velório do meu sogro. Mulher
grávida, Benguela, Usuária

Nesses casos fica claro que a participante deve seguir hábitos ou prácticas da casa onde ela pode estar,
e não há menção de levar um mosquiteiro à casa de outra pessoa. Outras situações onde há uma
potencial interrupção no uso de mosquiteiros foram mencionadas por cuidadoras e mulheres grávidas: a
cuidadora dormindo fora de casa e a pessoa responsável pelas crianças não fazendo elas dormirem sob
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o mosquiteiro, necessitar lavar o mosquiteiro e não ter um mosquiteiro extra para usar no ínterim, ou a
criança não está dormindo em sua própria cama onde o mosquiteiro está pendurada.

Por que você não dormiu sob um mosquiteiro? Eu lavei o mosquiteiro, naquele momento eu
só tinha um mosquiteiro, eu a lavei, com essas coisas, eu a levei e a pendurei para secar, e
então eu não tive tempo de colocá-la de novo, então eu tive que dormir assim mesmo. Mulher
grávida, Benguela, Usuária

6 Usuárias inconsistentes e não-usuárias têm outros produtos e estratégias que elas consideram
“melhores” do que dormir sob mosquiteiros.

Algumas não-usuárias e usuárias inconsistentes usam outras maneiras para prevenir malaria ou picadas
de mosquitos que elas consideram mais confortáveis, mais efetivas, mais fáceis e mais atraentes. Isto
inclui o uso de insecticidas (dragão ou xeltox), espirais e repelentes. Essas alternativas os mosquiteiros
são consideradas mais confortáveis em relação ao calor (a reclamação principal sobre o uso de
mosquiteiras); mais fáceis de usar – particularmente em relação a um espaço ou quarto pequeno;
suficientemente efectivas (quando há menos mosquitos ao redor), e mais atraentes em relação a seu
estilo de vida.

Quem na sua casa usa um mosquiteiro? Ninguém na minha casa usa uma. Todos nós usamos
repelente. A casa é pequena, nós somente temos um quarto. Nao há condições de pendurar um
mosquiteiro. Cuidadora, Benguela, Não-usuária

Você tem um mosquiteira em casa? Sim, isso foi o que disse. Eu nem sempre a uso. Você
sabe que às vezes o mosquiteiro é desconfortável e eu prefiro usar choutox. Você dorme
melhor e mais calmamente. Cuidadora, Malanje, Não-usuária

Em algumas situações, cuidadoras combinam estratégias e usam insecticidas e dormem sob um


mosquiteiro.

7 Em Malanje, mulheres grávidas e cuidadoras foram incentivadas a usar mosquiteiros


por seus parceiros, vizinhos, e doutores ou enfermeiras.

Em Malanje, participantes foram incentivadas a usar mosquiteiros por parceiros, vizinhos, e pessoal de
centros de saúde. Isto não foi observado em Benguela. Isto poderia ser potencialmente devido a
diferenças na severidade e, portanto percepção de risco em relação à malaria (Malanje é classificada
como uma epidemiologia de malaria hiper endêmica, enquanto que Benguela é classificada como meso
endêmica) ou porque Malanje é mais rural que Benguela e, portanto pode ter diferentes padrões de apoio
e influência social. Parceiros masculinos de mulheres grávidas particularmente influenciaram suas
parceiras grávidas, assim como doutores e enfermeiras do centro de saúde.

Quem era essa pessoa? Meu marido. Então a decisão de começar a usar um mosquiteiro
foi dele? Sim. Além dele, que fez você começar a usar um mosquiteiro? Eu aceitei porque
ele disse que como eu estou grávida, eu tenho que usar um mosquiteiro. Mulher grávida,
Malanje, Usuária inconsistente

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Por exemplo, eu também não gostava disso, porque eu me sentia sufocada sob o mosquiteiro. Eu
me sentia como se estivesse dentro de um saco e eu me sentia ansiosa. Eu costumava não gostar
de dormir sob um mosquiteiro, mas quando eu comecei a ir ao posto de saúde, às palestras, então
eu descobri que é importante dormir sob um mosquiteiro porque nós podemos evitar algumas
doenças que são causadas por mosquitos. Cuidadora, Malanje, Usuária inconsistente.

8 O acesso os mosquiteiros é uma barreira ao uso entre cuidadoras, mas não


necessariamente entre mulheres grávidas.

Cuidadoras reportaram falta de dinheiro para comprar mosquiteiros e não serem elegíveis ou capazes de
receber mosquiteiros gratuitas através do setor público.

Enquanto que algumas mulheres sim receberam mosquiteiros gratuitas do setor público, outros tiveram
dificuldades em receber mosquiteiros gratuitas tais como: não estar atualmente grávidas (e não tendo
recebido uma quando estavam grávidas), não poder receber uma até que a criança tenha 6 meses, falta
de estoque na instituição de saúde pública, ou necessitar um diagnóstico de paludismo para a criança
receber um mosquiteiro gratuita. Mosquiteiros em farmácias do sector privado são consideradas caras, e
as do mercado são consideradas de baixa qualidade, e de forma interessante, algumas participantes
demonstraram preocupação de que essas não sejam tratadas com insecticidas. O acesso o mosquiteiros
gratuitas parece estar relacionado à idade da criança, se a criança é um infante, as cuidadoras tinham
mais probabilidade de receber um mosquiteiro durante a visita de controle de 6 meses do bebê. .

Eu posso dizer que conseguir um mosquiteiro é difícil porque no hospital, você está no hospital,
eles não te dão um mosquiteiro. Eles têm que saber que tipo de doença seu filho tem primeiro. Por
exemplo, quando seu filho nasce, eles também não vão te dar uma em seguida. O bebê tem que ter
6 meses antes que eles te dêem uma. Agora, se fosse no mercado eu diria que é difícil porque para
conseguir uma no mercado você precisa de dinheiro. Sem dinheiro, você não vai conseguir uma.
-Cuidadora, Malanje, Não-usuária

Meus filhos já nao usam mosquiteiros. Elas não existem. Se aquelas coisas aparecessem, as
pessoas teriam a bondade de dizer que eu as usaria, mas elas não aparecem, nós ficamos assim.
Somente Deus sabe onde a saúde de uma pessoa irá. Cuidadora, Benguela, Não-usuária

9 Mosquiteiros tratadas com insecticidas e mosquiteiros dados nos centros de saúde


são vistas como superiores a outras.

Mosquiteiro tratadas com insecticidas foram mencionadas por todas as mães, usuárias e não-usuárias da
mesma forma, como sendo muito superiores os mosquiteiros não tratadas com insecticidas em termos de
prevenção de malaria. Mulheres descreveram que mosquiteiros tratados com insecticidas matavam
mosquitos e moscas que pousam nelas. Em alguns casos, mosquiteiros sem tratamento foram descritas
como inúteis (igual a não usar nenhuma mosquiteiro), e ineficazes em manter os mosquitos fora. Em
Malanje, mosquiteiros tratados foram descritas como aquelas recebidas do hospital ou rectangulares.
Mosquiteiros não tratadas foram descritas como sendo encontradas no mercado e tendo um anel.
Entretanto em Malanje parece haver confusão sobre terminologia, pois as cuidadoras chamaram
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mosquiteiros tratados com insecticida “mosquiteiros exercitadas”, “mosquiteiros com germicida” e
aquelas “desinfetadas com insecticidas”.

Que tipo de mosquiteiro protege você, para evitar Malaria? Aquelas que há no posto medico,
que já estão tratadas... Mulher grávida, Benguela, Usuária

O que ajudaria seria nos dar mosquiteiros que já estão prontas para pendurar para prevenir o vírus
do mosquito. Por exemplo, me deram dois mosquiteiros gratuitas, mas elas não têm o produto
nelas. Por que eu deveria pendurá-las? Porque quando o mosquiteiro não tem produto nela, eles
(os mosquitos) entram, mas quando elas têm produto nelas ele (o mosquito) vem, pausa e morre.
Cuidadora, Benguela, Não-usuária

Em alguns casos, mosquiteiros não tratados são preferidas porque elas são mais fáceis de pendurar.
Cuidadoras descrevem dificuldades em pendurar os mosquiteiros quadradas dadas em centros de saúde,
então elas preferem as cônicas de “chawa” (é o nome de um Mercado paralelo de Malanje) ou as que
vêem com molduras.

Depende do quarto, porque aquelas [mosquiteiros] do hospital, elas somente podem ser
penduradas em um quarto como esse, pequeno… Agora desde aqui, até lá, como você pendurará
um mosquiteiro, se você necessita de quatro esquinas? Mulher grávida, Benguela, Usuária

10 Cuidadoras e mulheres grávidas têm conhecimento superficial sobre a transmissão de


malaria, mas há muitas crenças incorretas, particularmente em relação à água parada e
o papel da água parada na transmissão da malaria.

As narrativas sugerem que há uma diferença entre malaria e paludismo (que são programaticamente
tratadas como a mesma doença). Geralmente, a malaria é vista como uma forma mais severa de
paludismo, ou que o paludismo se transforma em
malaria se não for tratado. As participantes
percebem a malaria como muito mais severa que
o paludismo, particularmente porque resulta em
danos ou efeitos psicológicos.

Todos os participantes mencionaram mosquitos


como estando envolvidos na transmissão de
malaria; entretanto, o mecanismo pelo qual a
malaria é transmitida é muito confuso. Algumas
participantes descreveram como mosquitos
”pegam” os bichinhos (insectos) na água
parada e depois infectam pessoas, ou que o “veneno” vem do lixo, onde mosquitos são encontrados.
Algumas participantes crêem que a água parada ou a água suja é a fonte de malaria e uma mulher
grávida não deve caminhar sobre água parada sem calçados, ou crianças não devem brincar em água

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parada. Também houve menção da malaria resultar do consumo de mangas ou de ficar molhado com
água de chuva.

Por exemplo, para evitar paludismo eu não posso permitir que meu filho jogue em água suja e água
parada. Eu sei que a água parada traz muitas doenças, ela traz paludismo, e eu sei que eu devo
evitar que meus filhos brinquem nesses lugares.. Cuidadora, Malanje, Usuária

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CONCLUSÕES

O uso consistente de mosquiteiros tratadas com insecticidas de longa duração é visto como uma
estratégia chave para a prevenção e controle de malaria em Angola. Este estudo identificou vários
factores que servem como barreiras ao uso consistente de mosquiteiros entre mulheres grávidas e
crianças menores de cinco anos. Esses factores incluem: atributos de producto que são considerados
intoleráveis (primariamente o calor), dificuldades em pendurar mosquiteiros, e percepções de qualidade
(mosquiteiros tratadas e formato de mosquiteiro). Outras barreiras incluem a falta de um “hábito” de uso de
mosquiteiro, variadas percepções de risco de acordo com a estação de malaria, e acesso os mosquiteiros.

Descobertas deste estudo podem ser usadas para informar campanhas de comunicação para promover o
uso de mosquiteiros entre esses dois grupos alvo. Resultados factíveis incluem abordar as dificuldades
de pendurar mosquiteiros, percepções do “calor” experimentadas sob um mosquiteiro, maximizar o efeito
de influenciadores positivos (parceiros de mulheres grávidas e pessoal de serviço de saúde), e assegurar
disponibilidade de mosquiteiros assim como promover pontos de venda de mosquiteiros através de
clínicas, como nem todos os pacientes são elegíveis para recebê-las. Promover o uso de mosquiteiros
durante todo o ano e n t r e u s u á r i a s s a z o n a i s é u m a e s t r a t é g i a que pode assegurar que
pessoas que já practicam o comportamento promovido possam estar completamente protegias da
malaria. Os resultados também indicam que campanhas de pendurar as mosquiteiros depois da sua
distribuição teriam mais sucesso no uso verdadeiro de mosquiteiros.

Muitas descobertas deste estudo justificam investigações mais a fundo, particularmente: 1) adquirir um
entendimento mais profundo sobre as percepções, uso e preferência das “alternativas” (tais como espirais
ou insecticidas) os mosquiteiros; 2) investigar como fazer do uso de mosquiteiro um hábito “duradouro”
que vai além da gravidez ou a infância; e 3) investigar em profundidade como abordar crenças incorretas
sobre transmissão de malaria e como elas podem influenciar comportamentos preventivos.

PSI/Angola 13
RECONHECIMENTOS

P SI gostaria de agradecer o Fundo Global por prover fundos para este estudo; o Programa Nacional
de Controle da Malaria, USAID/PMI, e o Recipiente Principal/Ministério da Saúde para o Fundo
Global como parceiros no controle da malaria; os entrevistadores Antero da Cruz, Francisca Antonio,
Juelma Brito, Teresa dos Santos Onaitite Afonso, Elsa Claudia, Helena Chimbili e Marivalda Luis por
conduzir as entrevistas em profundidade; Amy Ellis, Pesquisadora Regional para a África do Leste, por
conduzir a sessão de interpretação; e todas as mulheres que compartilharam suas histórias e
concordaram em participar desta pesquisa.

PSI/Angola 14
PSI/Angola 15
Nana Frimpong
Representante, PSI Angola
Rua de Cambambe 13-15 B. Cruzeiro
Bairro Cruzeiro
Luanda, Angola
+244 222 447 227 nana@psiangola.org

Luis Fernando Martinez


Diretor de Marketing e Comunicações, PSI Angola
Rua de Cambambe 13-15
B. Cruzeiro
Bairro Cruzeiro
Luanda, Angola
+244 222 447 227 luisfer@psiangola.org

Jennifer Wheeler
Conselheira de Pesquisa, PSI Moçambique/Angola
1Av. Lucas E. Kumato #33, B. da Sommerschield
C.P. 4059, Maputo, Moçambique
+258 21 485 025 jwheeler@psi.org.mz

Pedro Sapalalo
Diretor Adjunto de Marketing e Comunicações
Rua de Cambambe 13-15 B. Cruzeiro
Bairro Cruzeiro
Luanda, Angola
+244 222 447 227 sapalalo@psiangola.org

Elsa Caveya
Pesquisadora
Rua de Cambambe 13-15 B. Cruzeiro
Bairro Cruzeiro
Luanda, Angola
+244 222 447 227 elsa@psiangola.org

www.psi.org/research

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