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Jaime Ginzburg*
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1970, o autor realizou uma experiência de formação de leitores, junto a
trabalhadores em Osasco (SP), abrindo um caminho de aproximação das
Letras para pessoas para quem o sistema escolar e acadêmico é inacessível.
O relato sensível, elaboração de um resgate de memória, referente a
sua experiência individual e seu impacto coletivo, aproxima o pesquisador
do professor, e expõe a preocupação do autor em diminuir o campo que
separa a cultura erudita das classes populares. A perspectiva de Bosi,
construída a partir de Gramsci, contraria a convencional hierarquia que
mantém os intelectuais em um espaço à parte da população em geral. Ao
fomentar uma vontade de saber no grupo com que trabalhou, o autor
observa a formação de competências intelectuais, longe do sistema
acadêmico. A vontade de saber, no caso, é impregnada por necessidades
sociais.
Neste relato encontramos uma espécie de núcleo geral de orientação
do livro. Assim como o saber que surge nas classes populares, diante dos
olhos do autor, todo o livro é impregnado por necessidades de mudanças
sociais. Como fica claro especificamente em seu estudo sobre Graciliano
Ramos, Bosi sustenta nesse livro uma concepção de escrita em que a
consciência tem um papel fundamental e constitutivo. Estar ciente dos
conflitos reais em que a escrita se envolve permite elaborar com
determinação um olhar crítico voltado para necessidades de mudanças
sociais.
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