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*orol'AÇÃo 25
| Do ESpAÇo Metropol ização do espaço

lgt ae um urbano ge- transforma profundamente os espaços rurais, em especial os mais próxi-
lnly'ranças estruturais mos dos espaços metropolizados, independentement e defazerem parte de
re-escalada uma metrópole. O que vale mais é arelaçâo com a globalização e a reestru-
fritatista
fircrsistência pode con- turação e, menos, a vinculação a um espaço metropolitano.
F tsrt" nosso)
:
Até que ponto, então, os espaços rurais estão sujeitos ao processo de
I metropolizaçao? Sobretudo, quando a distinção entre o rural e o urbano
não parece tão clara como no passado?
Em primeiro lugar, é quase consensual que, hoje em dia, o mundo rural
e o mundo urbano não têm mais aquela dicotomia de antes. A intensifica-
, não se restrin- ção da capitalização do campo e a grande diversidade das atividades que
dimensão cultural. se desenvolvem no campo não mais restritas ao cultivo ou à criação
-
de animais, como o desenvolvimento do turismo rural
da cultura mer-
- acrescidas da
espaços de toda revolução nos transportes e nas comunicações aproximaram esses dois
os valores urbanos mundos. Acrescenta-se a essa descrição, o fato de haver uma forte difusão
peÍluenas e médias por todo o espaço da cultura urbana, dos valores urbanos, das normas e
is e valores que relações sociais dominantes na cidade.
rus metrópoles. Por Essas mudanças significam, então, que o espaço rural é um espaço re-
l, figura essa que sidual? Essas mudanças exprimem a ideia de que quando se fala em me-
da metrópole. tropolização do espaço se descarta o pensar sobre os espaços rurais? Des-
metro, de metró- carta-se o pensamento sobre os espaços rurais incrustrados nos mosaicos
termo para qualifi- justapostos da urbanização contemporânea?
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Detropolitano e que Respondemos a essas questões de forma negativa. Em primeiro lugar,


de sua aparência. porque a cidade e o campo não são mais termos antagônicos como no pas-
$er e diz respeito a sado. São, sim, dicotômicos. Cada termo se coloca oposto ao outro, mas
inicialmente con- não mais contrários, contrapostos ou conflitantes como no passado.
reve a ela. Essa Também, jâ é consenso que não se sustenta mais o entendimento de
de metropolização que a distinção entre o rural e o urbano se baseie unicamente num critério
o em diversas populacional, segundo o lugar de moradia das pessoas. A compreensão do
nao. que vem a ser o rural e o urbano cada vez mais exige a compreensão de dois
globalização e o de outros processos: o de urbanização do campo e o de periurbanização. Na
iais, mas prefe- reflexão sobre metropoltzaçáo do espaço é importante levar em considera-
metrópole difusa, ção esses dois processos mencionados, em especial, o de periurbanízaçáo.
guardam relação A discussão sobre periurbanizaçáo é importante, tanto quanto a de
S, por exemplo, urbanização do campo, mas não cabe no escopo desse trabalho. Vamos
-reglao. apenas anunciar o sentido pelo qual são, aqui, percebidos. Entende-se
dimensão da reali- por urbanizaçâo do campo um conjunto de aspectos da transformação
e metropolizaçâo, do campo sob influência da cidade, independentemente da distância fi
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r"noeoizeçÃo Do ESpAço Metropolização do espaço


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destaca-se a difusão de
I se constitui numa condição indispensável
à produção imobiliária formal,
lrro, mais do que assimi- que (não exclusivamente) mercantiliza
o.rp"ço. Em geral, as terras mais
lnegram-.se a eles porque Ionge do núcleo metroporitano tendem
a ter um preço d.e mercad.o menor.
lrbres culturais urbanos Por isso, devido a essa dinâmica dos
preços, novas áreas passam a ser con_
lrirrbanização, o sentido tinuadamente incorporadas à lógica do
mercado de terras da metrópole,
loe rurais - mesmo que contribuindo para a indefinição dos limites
do aglomerado metropolitano.
l&s. onde a densidade urbana apresenta-se menor,
a propriedade dos terre-
h*o expressa mais uma nos apresenta dimensões maiores. Trata-se,
muitas vezes, de terrenos in-
! complementar e, dife- dustriais' rurais ou terrenos sem uso e vazios
que apresentam preços mais
lpectiva permite funda- reduzidos. Esses terrenos se constituem
em mercadoria., .orio qualquer
F.* de metropolizaçao mercadoria, constituem estoques antes
da sua realização. Em especial, são
p, se constituindo num esses terrenos que fazem crescer o
estoque de terras do setor imobiliário.
lrtss e, também, algumas Esses terrenos são os privilegiados
paraì construção de unidades habita-
fe expressam hábitos cul- cionais horizontais, sejam voltadas paraalta
renda ou para extratos popu_
lnfpote. lares' já que o Preço da terra é relativamente
menor do que de outras áreas,
h- "t características ba- em especial os localizados nas áreas
com melhores equipamentos urbanos
tak"r,çam grau expres- e não tão distantes do centro do
agromerado metropolitano.
laamorfoseando, como A dinâmica do mercado de terras arcançado
pero processo de metropo_
F-* metrópoles como lização permite compreender porque
se desenvolve um
padrão territorial
hte, Recife, Fortaleza... disperso' como bem asseverou Lefebvre (lg7g),a "cidade
se estende des-
b* de metro polização mesuradamente; ela explode... As extensões
urbanas (subúrbios, periferias
bo, desconcentrado e próximas ou longínquas) são submetidas
à propriedade da terra, às suas
l&s se confundem com consequências: renda fundiária, especulação,
ìarefação espontânea ou
se vai distanciando provocada etc." (LEFEBVRE,1976, p. l1g)
vão se impondo,
Paulo que se expres-
que a tríade: globali- A metropolização uista a partir da metrópore
maior realização. São
de "dilatação e um olhar sobre as transformações internas da
metrópole ressalta, quase
incompatíveis com os semPre' a questão da centralidade. Muitas
vezes a metrópole é percebida
iÇON, 201t, p. 40), como multicêntrica e, outras, como policêntrica.
Termos esses, usudor rem
e depende de uma distinção e com o mesmo sentido, o de conter
várias centralidades.
No entanto, se distinguirmos a multicentralidade
'endo áreas e mo- da policentralidade
poderemos alcançar um nível de compreensão
mais apurado. Examine-
uma maior "valo- mos, de início, ambas as palavrâs, gue igualmente
outros termos, há contém a palavra cen_
tralidade, mas diferentemente, são formadas
privada da terra peros anteposto s murti e poli.
se de um lado esses antepostos tem o
mesmo sentido na linguagem (o sig_
MFrR0PoLtzAÇÃo D0 ESPAÇ0
Metropol ização do espaço 31

pode deixar de considerar que na ideia de hierarquia está posta a ideia de


ordem e, tambéffi, â de subordinação. Nesse sentido, os espaços hierar-
Fry" um processo que quizados, eu€Í do passado, quer do presente, revelam a espacializaçáo da
ffragmentação e ahera economia e da política.
funda em colocação Em resumo, o processo de metropolizaçao acentua a homogeneizaçáo
fr
b seu livro, intitulado do espaço, intensifica sua fragmentação e altera a hierarquiza entre os lu-
brt Nesse livro, Lefe- gares. Além disso, se faz acompanhar ou induz ao desenvolvimento de I, tua I
[Étalismo, o trabalho infraestruturas, tais como as redes de circulação, a provisão de serviços
loo, fragmentado e hie- públicos, as redes informacionais e comunicacionais, etc. L,uiz F

fz decorrer os termos Falando nessas redes é importante lembrar que elas, dentre outros ele- Maria
)o trabalho, o espaço mentos e aspectos que se pode dizer a seu respeito, é que elas buscam ga-
Rita dr
quizado5. rantir a continuidade na descontinuidade; a unidade na fragmentação e
Silvan
uma vez que salta o domínio, na hierarquia. Se é importante ma4termos na análise da me-
Teresi
ção houve um acir- tropolização do espaço a tradição na referência à distância e densidade
é chamar a atenção dos lugares, não podemos nos furtar, por contingência do presente, em
ão do espaço. Com incorporar a dimensão das redes imateriais, que devem ser analisadas com
Fanao claro que é na outras referências, como a fluidez dos fluxos, a densidade e o alcance des-
Ferece se constituir de ses. Nesse sentido, esse presente cada vez mais imaterial e virtual nos faz

lbrmando territórios mergulhar numa outra lógica: a lógica topológica, a da estruturação das
fm nitidez as diversas redes imateriais, que é diferente da lógica do terreno, da lógica topográ-
hdas, a das pequenas fica tão tradicional ao conhecimento geográfico. É claro que isso nos traz
frersam temporalida- um grande desafio, pois não há, ainda, indicadores sistematizados para
l|or muito diferentes; dimensionarmos a densidade virtual dos lugares.
itit Outro aspecto importante de ser mencionado é que as infraestruturas
Foirão na hierarquia eram, em grande parte, providas na quase totalidade pelo Estado, por meio
i hierarquia herdada, dos fundos públicos. Essas infraestruturas embora pudessem ser, também,
p, assim, a hierarquia fonte de negócios para o capital, não eram produzidas segundo o imperati-
l t d. urbana. Não se vo único da racionalidade capitalista e condicionadas aos interesses exclu-
I
i sivos da reprodução do capital. Hoje em dia, no entanto, conhecemos uma
t significativa mudança. A produção dessas infraestruturas se colocam cada
frço, ele'está falando em
vez mais como negócios do capital, uma vez que o Estado vem refluindo
lú." N{uitas vezes, após
na sua competência de prover tais infraestruturas ou de dirigir o processo
!nafirmando que sua re-
|re muito s nao geograJos de seu desenvolvimento. Consequentemente, o que se vê é que o processo
ts. de metropolização sefazacompanhar pelo crescimento da participação da
|-riamos hierarquia dos
iniciativa privada na provisão dessas infraestruturas.
fc porque levaria a usar a
!.lug"r"r'para manter o O fazer urbano, no tocante ao provimento das infraestruturas urbanas
I se privatizaprogressivamente e o sentido da cidade como um todo se torna
:

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