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Análise de Desempenho de Linhas de


Transmissão Frente a Descargas Atmosféricas
aplicada à Coordenação de Isolamento
A. R. Rodrigues1, Msc., IFMG, G. C. Guimarães2, Phd., UFU, M. L. R. Chaves3 , Dr., UFU,
W. C. Boaventura4 , Dr., UFMG

Um projeto de coordenação de isolamento trata da


Resumo--Este trabalho apresenta um modelo computacional seleção de distâncias de isolamento capazes de suportar as
desenvolvido com a utilização do software ATP/ATPDraw para sobretensões estimadas para o sistema, neste caso, a linha de
a avaliação do desempenho de linhas de transmissão frente a
transmissão, baseando-se em critérios técnicos e
descargas atmosféricas. O objetivo do trabalho é desenvolver
uma ferramenta de estudo capaz de representar econômicos. Os intervalos de isolamento entre a torre e os
adequadamente os fenômenos eletromagnéticos necessários ao cabos fase apresentam uma probabilidade de falha associada
projeto de coordenação de isolamento de linhas de transmissão. a cada nível de tensão: não há como concluir,
Para isto deve ser considerada a influência das características deterministicamente, se uma dada sobretensão provocará ou
individuais das ondas de sobretensão originadas por descargas não a disrupção em uma estrutura [2]. Portanto, devem ser
atmosféricas, na suportabilidade das cadeias de isoladores.
empregados métodos estatísticos para descrever a
Particularmente, é apresentada a modelagem da dinâmica da
disrupção para avaliar o desempenho de linhas de transmissão suportabilidade de um isolamento através de uma
frente aos eventos de backflashover, originados pela incidência distribuição cumulativa normal ou gaussiana, analisando-se a
de descargas elétricas nas torres das linhas de transmissão. Os probabilidade de falha e o desvio padrão associados [3].
estudos contemplaram a avaliação da suportabilidade da cadeia Os cabos de blindagem desempenham a função de
de isoladores em linhas de 500kV, tanto na torre de incidência proteção contra desligamentos de linha devido ao fenômeno
da descarga elétrica, quanto nas torres adjacentes. Foram
de flashover, ao evitar a ocorrência da descarga atmosférica
determinadas as máximas sobretensões suportáveis pelo
isolamento e as amplitudes de correntes críticas para cada caso. diretamente sobre os cabos fase. As descargas atmosféricas
Adicionalmente, foi analisada a influência da resistência de pé diretas ou falhas de blindagem incidem sobre uma fase da
de torre nos eventos de backflashover. linha, produzindo uma sobretensão ao longo da fase
atingida, com probabilidade de disrupção ao longo da cadeia
Palavras Chave-ATPDraw, Backflashover, Coordenação de de isoladores. As descargas indiretas podem incidir tanto
Isolamento, Desempenho de Linhas de Transmissão, sobre os cabos pára-raios, também conhecidos como cabos
Transitórios Eletromagnéticos, Sistemas Elétricos de Potência,
TACS.
de blindagem ou cabos-guarda, quanto sobre a torre,
produzindo um arco elétrico de contornamento da cadeia de
I. INTRODUÇÃO isoladores instalada entre a torre e uma fase da linha. Este
fenômeno é conhecido como backflashover [4]. Neste último
A S sobretensões originadas pela ocorrência de descargas
atmosféricas são a principal causa de desligamentos em
linhas de transmissão. Quando a amplitude das
caso a impedância de aterramento da torre é determinante
para a ocorrência ou não da falta, devendo ser
sobretensões de origem atmosférica supera a suportabilidade adequadamente analisada.
da cadeia de isoladores é estabelecido um arco elétrico ao Os cabos de blindagem são conectados à terra a partir de
longo do contorno de isolamento, configurando-se um estruturas aterradas que são, geralmente, as torres de
evento de curto-circuito entre fase e terra. Portanto a transmissão. As correntes que percorrem os cabos são
avaliação do desempenho de linhas de transmissão frente a conduzidas para o solo através dessas estruturas metálicas.
descargas atmosféricas requer o desenvolvimento de Ao percorrer a impedância do cabo, a corrente elétrica de
modelos capazes de representar adequadamente os surto atmosférico produz uma onda de sobretensão que
mecanismos determinantes dos desligamentos desta natureza propaga ao longo da linha, em direção às torres adjacentes.
[1]. Ao atingir a torre vizinha, esta sobretensão pode superar o
nível de isolamento da linha, dando origem a um arco
1 elétrico ao longo dos isoladores que separam o cabo fase da
André Roger Rodrigues é professor efetivo do IFMG-Campus Formiga
e aluno de doutorado do COPEL-UFU, Av. João Naves de Ávila, 2121- parte metálica da torre, estabelecendo-se um curto-circuito
Santa Mônica-Uberlândia-MG-Brasil (e-mail: andre.roger@ifmg.edu.br). fase-terra, caso a tensão de operação da rede seja capaz de
2 e 3
Geraldo Caixeta Guimarães (e-mail:gcaixeta@ufu.br) e Marcelo sustentar o arco após o fluxo da corrente de descarga. O
Lynce Ribeiro Chaves (e-mail:lynce@ufu.br) são professores titulares da
UFU-Universidade Federal de Uberlândia, Av. João Naves de Ávila, 2121- sistema de proteção da linha, que tem seus relés
Santa Mônica-Uberlândia-MG-Brasil. sensibilizados pelo fluxo da corrente de curto-circuito,
4
Wallace do Couto Boaventura é professor titular da UFMG- comanda o desligamento desta.
Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627 –
Pampulha – Belo Horizonte – MG –Brasil (e-mail:
O contexto apresentado acima motivou a realização deste
wventura@cpdee.ufmg.br). trabalho no intuito de determinar o surto de tensão no

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condutor fase para a condição de descarga indireta, quando na Fig. 2.


da incidência de uma descarga atmosférica na torre da linha
de transmissão. A representação adequada da impedância
característica da torre da linha de transmissão e o valor da
resistência de aterramento, utilizada na modelagem
computacional, são parâmetros determinantes da amplitude
das sobretensões de origem atmosférica que produzem a
disrupção sobre a cadeia de isoladores. Para tanto, foi
conduzido um estudo para avaliar a influência destas
grandezas na amplitude destas sobretensões através do
desenvolvimento de um sistema de controle modelado com
componentes disponíveis na rotina TACS do software
ATPDraw. Tal sistema é capaz de registrar o instante de Fig. 2. Geometria da torre do tipo convencional de linha trifásica de
tempo e a amplitude das sobretensões que provocam a 500 kV.
disrupção na cadeia de isoladores devido ao backflashover.
Os dados contendo as especificações elétricas e
II. MODELAGEM DA DESCARGA ATMOSFÉRICA mecânicas dos cabos utilizados na torre convencional estão
relacionados na tabela I.
A descarga atmosférica foi representada utilizando-se
uma fonte de corrente tipo 15, bi-exponencial, disponível no TABELA I
ATPDraw [5]. A corrente elétrica injetada pela fonte possui Dados Elétricos e Mecânicos dos Cabos
Nome do Cabo Grosbeak EHC 3/8"
forma de onda padronizada para ensaios de impulso
Tipo CAA EHS Classe C
atmosférico, com tempo de frente igual a 1,2 µs e tempo de Comprimento do Vão (m) 600 600
cauda igual a 50 µs [6]-[7]. A corrente de descarga Flechas (m) 25,67 22
atmosférica sofreu acréscimos contínuos em sua amplitude Seção do Cabo (mm2) 374,30 195,00
de forma a identificar os valores críticos de corrente de Diâmetro Interno (cm) 0,93 0,00
surto. A forma de onda da corrente produzida pela fonte é Diâmetro Externo (cm) 2,51 0,91
Resistência em CC (Ω) 0,101 3,36
mostrada na Fig. 1, com o eixo de tempo deslocado de
0,5 µs para a esquerda do zero para permitir a visualização
Os parâmetros da linha de transmissão foram calculados
completa da forma de onda.
utilizando-se o modelo JMarti do programa ATPDraw,
levando-se em consideração a sua dependência com a
frequência [7].
Para o cálculo dos parâmetros das linhas de transmissão
foi considerada uma freqüência inicial de 10 Hz e uma
frequência da matriz de transformação de 250 kHz,
observando-se um tempo de crista de 1 μs, uma vez foi
utilizada uma fonte de corrente impulsiva do tipo 1,2x50 μs.
A resistividade do solo foi assumida sendo igual a
1000 ohm.m [1]-[8].

IV. MODELAGEM DA DISRUPÇÃO NA CADEIA DE


Fig. 1. Forma de onda da corrente elétrica produzida pela fonte de surto. ISOLADORES
A modelagem da disrupção na cadeia de isoladores foi
Neste trabalho foi considerada somente a situação de
baseada na curva de suportabilidade TensãoxTempo [9]
descarga simétrica, ou seja, uma situação particular na qual a
descrita por (1):
( )
descarga elétrica atinge simultaneamente os pontos de
ligação dos dois cabos pára-raios na torre. V (t ) = 400W + 710W t 0,75 (1)
onde:
III. MODELAGEM DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO t – instante de tempo de disrupção em µs (time to
A configuração geométrica de uma linha de transmissão breakdown);
determina a suportabilidade do isolamento entre os cabos V – tensão aplicada a cadeia de isoladores em kV;
fase e os cabos pára-raios, e influencia nas amplitudes de W – comprimento da cadeia de isoladores em m.
sobretensões resultantes da incidência de descargas
atmosféricas. Devido a grande variedade de torres existente, A cadeia de isoladores é composta por 26 isoladores do
neste trabalho foi utilizada uma torre do tipo convencional tipo padrão com comprimento igual a 14,605 cm [10].
de 500 kV, com circuito simples, extraída de [1]. As fases A amplitude do surto de tensão ao qual a cadeia de
estão dispostas em feixes simétricos compostos por quatro isoladores fica submetida durante a descarga atmosférica foi
sub-condutores GROSBEAK 636 MCM, CAA, espaçados medida através da ligação de uma chave entre a torre e a fase
de 0,4 m. Os dois cabos de blindagem são do tipo EHS 3/8", da linha de transmissão, representada no sistema elétrico
classe C, posicionados consoante o perfil de torre mostrado simulado. Esta chave é do tipo controlada por pulso de
disparo, disponível na TACS. Desta forma a diferença de

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potencial entre os terminais da chave controlada, representa VI. SISTEMA DE CONTROLE DA DISRUPÇÃO
a sobretensão imposta a cadeia de isoladores durante o surto Na modelagem computacional desenvolvida, a disrupção
atmosférico. A curva de suportabilidade de tensãoxtempo foi representada através do uso de uma chave da rotina
descrita pela equação (1) e medida no sistema elétrico TACS, comandada pela diferença de potencial à qual a
implementado no ATPDraw é mostrada na Fig 3 (a). Para cadeia de isoladores é submetida. O sistema de controle está
fins de validação, esta curva foi comparada com a curva de representado na Fig. 5.
TensãoxTempo obtida experimentalmente em [10], para uma Basicamente o sistema de controle da chave da TACS que
cadeia de isoladores também formada por 26 isoladores. representa a disrupção utiliza a seguinte lógica:
i. As sobretensões existentes entre a torre 1 (VTORR1)
e as fases (VFA1VA, VFB1VA e VFC1VA) são
aplicadas às entradas de um dispositivo somador,
sendo utilizadas para o cálculo das diferenças de
potenciais impostas às cadeias de isoladores de cada
fase desta torre. O módulo desta sobretensão é então
calculado.
ii. No instante de tempo no qual o módulo das
(b) Curva de TensãoxTempo para sobretensões torna-se maior ou igual à curva de
(a) Curva TensãoxTempo
implementada no ATPDraw. Ocorrer a Descarga para Impulso suportabilidade Vxt, um comparador gera os pulsos
1,2x50 µs. (DISP1A, DISP1B e DISP1C) com amplitude igual a
Fig. 3. Curva de suportabilidade Vxt da cadeia de isoladores. 5;
Ressalta-se que embora a curva C mostrada na Fig. 3 (b) iii. Os pulsos gerados pelos comparadores do passo
seja referente a ensaios de torres de 765 kV e 500 kV anterior são aplicados aos dispositivos
utilizadas no sistema de Furnas, as diferenças de geometria Sample&Track que registram o instante de tempo em
para a torre de 500 kV, implementada computacionalmente que estes tornam-se positivos e geram os pulsos de
na Fig. 3(a), não representaram discrepâncias significativas disparo (VGAT1A, VGAT1B e VGAT1C), com
nas duas curvas. amplitude igual a 5, para as chaves controladas das
fases A, B e C, respectivamente, da torre 1.
V. SISTEMA ELÉTRICO SIMULADO iv. As chaves da TACS mostradas no sistema elétrico da
Fig. 4 são controladas pelos pulsos gerados no passo
O sistema elétrico implementado neste trabalho está anterior. Quando os pulsos forem positivos (>0),
representado na Fig. 4. Foram representadas três torres ao situação na qual a sobretensão na cadeia supera a
longo da linha de transmissão trifásica. A fonte de surto curva Vxt, as chaves são fechadas simulando a
denominada Isurge é ligada aos cabos de blindagem disrupção através da cadeia de isoladores. Com os
localizados no topo da torre central (torre 2). No sistema pulsos VGAT1A, VGAT1B e VGAT1C aplicados às
elétrico foram representados 4 vãos de linhas. As linhas das chaves das fases A, B e C da torre 1, ocorre a injeção
extremidades possuem comprimentos de 10 km. O vão a de corrente de curto-circuito nas fases da linha de
esquerda da torre central possui comprimento de 500 m transmissão trifásica. Este sistema de controle foi
enquanto que o vão a direita possui comprimento de 600 m. também aplicado as torres 2 e 3.
A altura das torres é de 44,7 m. As torres foram
representadas por dois trechos de linha de transmissão VII. RESULTADOS
monofásicas, ligados em série, com comprimentos
proporcionais a 2/3 (29,8 m) e a 1/3 (14,9 m) da altura da Neste item serão analisadas as amplitudes das
torre, conforme [11]. Cada um dos dois trechos de linha de sobretensões que determinam a ocorrência de disrupções
transmissão possui impedância de surto de 200 Ω. Os devido ao fenômeno de backflashover. É identificado o
trechos de linha de transmissão monofásicos utilizados para valor de pico e a forma de onda do surto de tensão no
modelar a impedância das torres, foram representados pelo condutor fase. Também é apresentada uma análise da
modelo Transposed Lines (Clarke), com parâmetros influência da impedância de pé de torre na ocorrência da
distribuídos, do ATPDraw. A velocidade de propagação da disrupção. Para tanto a impedância de pé de torre foi
onda eletromagnética na torre é considerada, em média, representada por meio de resistores, conforme mostrado na
igual a 85% do valor da velocidade da luz [12]. Fig. 4, para valores de resistências iguais a 30 Ω e 60 Ω
As chaves instaladas entre os nós denominados VTORR1 [13].
e os condutores fases (VFA1VA, VFB1VA e VFC1VA), da Para cada caso estudado foram identificados os valores
Torre 1, registram as amplitudes das sobretensões resultantes de corrente crítica de descarga atmosférica, ou seja, o menor
impostas à cadeia de isoladores de cada fase. Neste sistema, valor de corrente capaz de produzir um fenômeno de
a chave controlada por TACS é fechada quando a diferença backflashover. Ressalta-se que nos casos estudados a linha
de potencial existente entre os seus terminais supera a de transmissão não está energizada.
suportabilidade dos isoladores. A mesma modelagem foi Caso 1 – Torre de descarga com resistência de terra igual a
adotada para as torres 2 e 3. 60 ohms.
Neste caso foi considerada uma resistência de
aterramento da torre de descida da descarga igual a 60 Ω. As

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Fig. 4. Sistema elétrico implementado para estudos de desempenho de linhas de transmissão.

Fig. 5. Sistema de controle da chave da TACS que representa a disrupção sobre a cadeia de isoladores.

torres adjacentes têm resistências de pé de torre iguais a Neste caso, a disrupção ocorreu no instante de tempo igual
1000 Ω. Portanto, avalia-se a influência somente da resistência a 2,62 μs, quando a sobretensão na cadeia de isoladores da
de aterramento da torre 2, atingida pela descarga. fase B da torre 3, atingiu o valor de 2,8292 MV. A amplitude
A Fig. 6 mostra as sobretensões impostas às cadeias de da corrente crítica foi de 90,06 kA.
isoladores das três torres do sistema elétrico. Devido a Pode -se perceber que a sobretensão na cadeia de isoladores
geometria da linha de transmissão modelada, as sobretensões da fase B, da torre 1, atingiu o limiar da suportabilidade no
observadas nas fases A e C são muito similares. A fase B ficou instante de tempo igual a 5,65 μs.
submetida aos maiores níveis de sobretensão. Dessa forma,
Caso 2 – Torre de descarga com resistência de terra igual a
foram analisadas somente as fases A e B de cada uma das
30 ohms.
torres.
Neste caso foi considerada uma resistência de aterramento
da torre 2, atingida pela descarga, igual a 30 Ω, sendo mantida
a amplitude da corrente de descarga igual ao valor de corrente
crítica de 90,06 kA, obtida no Caso1. Desta forma analisou a
influência da redução da resistência de aterramento no
fenômeno de backflashover. As torres adjacentes têm
resistências de aterramento iguais a 1000 Ω. A análise da
Fig. 7 permite concluir que não ocorre nenhuma disrupção
neste caso. A disrupção ocorreu para um valor de corrente
crítica de 94,31 kA. Com este valor de corrente de descarga, a
disrupção aconteceu no instante de tempo de 2,43 μs, quando a
sobretensão na cadeia de isoladores da fase B da torre 3
Fig. 6. Sobretensões atmosféricas para resistência de terra igual a 60 ohms.
atingiu o valor de 2,9052 MV.

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Observa-se que a redução do valor da resistência de Para este valor de corrente crítica, a sobretensão na cadeia
aterramento da torre de incidência da descarga, produz de isoladores da fase B da torre 3, atinge o valor de
sobretensões resultantes com amplitudes bastante amortecidas, 2,9052 MV, no instante de tempo t = 2,43 µs.
quando comparadas aos valores obtidos no Caso 1.
Caso 4 - Resistência de aterramento das torres adjacentes
iguais a 30 ohms.
As amplitudes das sobretensões foram fortemente reduzidas
quando comparadas ao Caso 3, conforme mostrado na Fig. 9.
Esta condição apresenta o melhor desempenho elétrico da
linha de transmissão frente a descargas atmosféricas. A
amplitude da corrente crítica observada foi de 138,751 kA.

Fig. 7. Sobretensões atmosféricas para resistência de terra igual a 30 ohms.

Nos casos 3 e 4 serão avaliadas as influências das


resistências de aterramento das torres adjacentes nas
amplitudes máximas das correntes críticas e sobretensões
suportáveis. Nestes casos a resistência da torre de descarga foi
mantida igual a 30 Ω e as resistências das torres adjacentes, à
esquerda e à direita, sofreram variações, possibilitando a
análise de suas influências individuais nas amplitudes máximas Fig. 9. Sobretensões atmosféricas nos isoladores para o Caso 4.
das correntes críticas. Em ambos os casos a amplitude da
corrente de descarga permaneceu igual a 90,06 kA. Com a ocorrência da corrente crítica, a disrupção ocorre
quando a sobretensão na cadeia de isoladores da fase B, da
Caso 3 - Resistência de aterramento da torre a esquerda igual
torre 3, atinge o valor de 2,9635 MV, no instante de tempo
a 30 Ω e resistência de aterramento da torre a direita igual a
igual a 2,3 µs.
1000 ohms.
A observação dos resultados obtidos nos casos 3 e 4
A Fig. 8 mostra a forma de onda das sobretensões nas fases demonstra que um alto valor de resistência de aterramento de
A e B da linha de transmissão para este caso. Observa-se que a uma das torres adjacentes à torre de incidência da descarga,
amplitude das sobretensões resultantes na torre 1 foram pode provocar uma redução considerável nos valores de
bastante reduzidas, em comparação aos Casos 1 e 2. No corrente crítica suportável pela linha de transmissão, frente a
entanto, a corrente crítica permaneceu igual a 94,31 kA, sobretensões de origem atmosférica, quanto ao fenômeno de
mesmo valor obtido no Caso 2, uma vez que a disrupção backflashover.
ocorre na fase B da torre 3, cuja resistência de aterramento
permaneceu inalterada. Portanto a redução da resistência de VIII. CONCLUSÕES
aterramento somente da torre 1 não foi suficiente para
Este trabalho apresentou os resultados de estudos de
determinar uma melhoria no desempenho da linha de
coordenação de isolamento para sobretensões originadas por
transmissão frente a descargas atmosféricas.
descargas atmosféricas indiretas em linhas de transmissão. Foi
apresentada uma modelagem da dinâmica da disrupção na
cadeia de isoladores através da implementação de um sistema
de controle que utiliza dispositivos da TACS, permitindo tanto
o registro do instante de tempo de ocorrência da disrupção
quanto das amplitudes das sobretensões impostas às cadeias de
isoladores, ao longo da linha de transmissão.
Os resultados obtidos nos Casos 1 e 2 comprovam que a
redução da amplitude da resistência de aterramento das torres
provoca uma atenuação das sobretensões nos isoladores, para
o evento de backflashover. Consequentemente, linhas com
menores valores de resistência de aterramento suportam
correntes de descarga atmosférica com maiores amplitudes,
Fig. 8. Sobretensões atmosféricas nos isoladores para o Caso 3. contribuindo para a melhoria do desempenho elétrico de linhas
de transmissão frente a descargas atmosféricas.

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A análise dos resultados obtidos nos Casos 3 e 4 permite [10] D'Ajuz. Ary, Transitórios elétricos e coordenação de isolamento -
aplicação em sistemas de potência de alta tensão. Rio de Janeiro.
concluir que as resistências de aterramento das torres FURNAS. Niterói. UNIVERSIDADE FEDERAL
adjacentes à torre de incidência da descarga, também FLUMINENSE/EDUFF. 1987.
apresentam grande influência no desempenho elétrico de linhas
[11] P.C. A. Mota, "Um estudo sobre tensões induzidas por descargas
frente a descargas atmosféricas. Maiores valores de corrente atmosféricas em linhas de transmissão." Dissertação de Mestrado,
crítica foram observados quando as torres adjacentes possuem Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia,
resistência de aterramento com valores próximos ou menores 2001.
do que o valor da resistência da torre de descida da descarga. [12] L. C. Zanetta Júnior, Transitórios Eletromagnéticos em Sistemas
Tal fato contribui para a redução do número de desligamentos Elétricos de Potência, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
e para a melhoria do desempenho elétrico de linhas de 2003, pp 638.
transmissão.
[13] L. V. Cunha, "Desempenho de linhas de transmissão frente a descargas
Os diferentes comprimentos de vãos adjacentes à torre de atmosféricas: Influência do efeito corona na ruptura a meio de vão."
incidência da descarga, determinam a ocorrência de valores de Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica,
pico de sobretensões em instantes defasados no tempo. Dessa Universidade Federal de Minas Gerais, Julho de 2010.
forma, o projeto de coordenação de isolamento também deve
considerar os comprimentos dos vãos para avaliar o XI. BIOGRAFIAS
desempenho de linhas de transmissão frente a surtos André Roger Rodrigues nasceu em Patos de Minas,
MG, Brasil, em 1979. Concluiu a graduação e o
atmosféricos, de forma a otimizar o comprimento das cadeias mestrado em Engenharia Elétrica nos anos de 2004 e
de isoladores e reduzir o número de desligamentos. 2007, respectivamente, pela Faculdade de Engenharia
Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Atualmente é aluno do curso de doutorado do
IX. AGRADECIMENTOS COPEL-UFU, atuando no núcleo de Dinâmica de
Os autores agradecem o suporte financeiro da FAPEMIG- Sistemas Elétricos. Desde 2008, é professor do
IFMG-Instituto Federal Minas Gerais - Campus
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais e
Formiga. Suas áreas de interesse são: transitórios eletromagnéticos, conversão
também o apoio científico fornecido pelas instituições de de energia, dinâmica de sistemas elétricos e geração distribuída.
ensino envolvidas neste trabalho (IFMG, UFU e UFMG).
Geraldo Caixeta Guimarães é graduado em
Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de
X. REFERÊNCIAS Uberlândia (UFU) em 1977. Obteve o título de
[1] L. C. Rocha, "Desempenho de linhas de transmissão EAT e UHT frente mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade
a descargas atmosféricas: Influência da ruptura em meio vão," Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1984 e de
Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica, Doutor (PhD), em Engenharia Elétrica pela
Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. University of Aberdeen, Aberdeen, Reino Unido,
em1990. Atualmente é professor da Faculdade de
[2] A.R.Hileman, Insulation coordination for power systems, New York: Engenharia Elétrica da UFU, e suas pesquisas se
Marcel Dekker, Inc, 1999. concentram na área de energia eólica, geração distribuída, dinâmica e controle
de sistemas elétricos, fluxo de carga, estabilidades transitória e de tensão.
[3] R. R. Nunes, "Coordenação de Isolamento para Transitórios de Manobra
considerando a Forma de Onda das Sobretensões," Dissertação de Walace do Couto Boaventura nasceu no Brasil em
Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de 1965. Ele tem graduação e mestrado em Engenharia
Minas Gerais, 2006. Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Belo Horizonte, Brasil, em 1988 e 1990,
[4] S. Visacro, Descargas Atmosféricas: Uma Abordagem de Engenharia, respectivamente. Obteve o título de Doutor em
vol. I. São Paulo. Ed. Artliber, 2005. Engenharia Elétrica pela Universidade de Campinas,
Campinas, Brasil, em 2002. É professor do
[5] LÁSZLO PRIKLER, HANS KR. HOIDALEN, “ATPDRAW for Windows Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG
3.1x/NT”, User´s Manual, version 1.0, Release Nº1.0.1, November desde 1992. Suas áreas de pesquisa incluem
1998. compatibilidade eletromagnética e processamento de sinais aplicados aos
sistemas elétricos de potência.
[6] S. Visacro, “A Representative Curve for Lightning Current
Waveshape of First Negative Stroke”, Geophys. Res. Lett., vol. 31, Marcelo Lynce Ribeiro Chaves nasceu em Ituiutaba,
L07112,2004. MG, Brasil em 1951. Obteve o título de Doutorado em
1995 pela Unicamp, Campinas, Brasil. O título de
[7] M. P. Pereira Filho, J. A. – “Curso básico sobre a utilização do ATP”,
Mestrado foi obtido em 1985, na Universidade Federal
CLAUE, Novembro/1996.
de Uberlândia (UFU) e a Graduação em Engenharia
[8] A.C. S. Lima, M. P. Pereira, O. Hevia, “Cálculo de Parâmetros de Elétrica obtido em 1975, também pela Universidade
Linhas de Transmissão”, Revista Iberoamericana Del ATP, Federal de Uberlândia. É professor titular na
Ano3. Vol.2, Número 3, Setembro, 2000. Universidade Federal de Uberlândia. As suas áreas de
interesse são: acionamentos elétricos, transitórios
[9] LIMA, A. B. ; Boaventura, Wallace do Couto ; PAULINO, J. O. S. . The eletromagnéticos e modelagem de transformadores.
Use of a Special Grounding Arrangement to Improve the Lightning
Performance of Transmission Line. In: SBSE 2012 - Simpósio Brasileiro
de Sistemas Elétricos, 2012, Goiânia. Anais do SBSE 2012 - Simpósio
Brasileiro de Sistemas Elétricos, 2012.

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