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Resumo
ISSN 2176-1396
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Introdução
A Psicologia Escolar surge a partir do século XIX, com a expansão do ensino público
nas cidades da América e da Europa e a crescente ocorrência de problemas ligados a menores,
tais como abandono, negligência, delinquência, entre outros. Tais questões originaram a
procura por profissionais qualificados e capazes de fornecer ajuda às escolas e órgãos jurídicos
nos problemas de avaliação e compreensão das dificuldades existentes e de suas possíveis
causas, propondo e implementando soluções adequadas (ANTUNES, 2008).
Cassins (2007) afirma que os primeiros serviços de Psicologia Escolar foram criados ao
final do século XIX na França. Nesse período, entre o final do século XIX e início do século
XX, a ênfase era dada à avaliação psicológica individual de crianças e adolescentes suspeitos
de serem “deficientes mentais, físicos ou morais”. Partindo disso, gradualmente passa-se a
ampliar a abrangência desse trabalho para o âmbito da educação e crianças em idade escolar.
Os principais focos de estudo foram a observação, prevenção, intervenção e mensuração
de habilidades e capacidades. Cassins (2007) aponta que pesquisas realizadas nos Estados
Unidos, França, Bélgica, Suíça, Grã-Bretanha, Itália e Alemanha em questões como a
inteligência, subdotação e superdotação; desenvolvimento infantil e seus atrasos; diagnóstico,
intervenção e ajuda concreta a crianças com dificuldades escolares tiveram grande impulso.
Um dos documentos orientadores da educação inclusiva no âmbito internacional foi a
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que assegura a igualdade de direitos entre
todos os seres humanos, sem distinção, inclusive com relação à educação. De forma geral,
garante às pessoas com deficiência “os mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna, à
educação fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na vida da
comunidade” (ARANHA, 2004 p. 14).
Outro documento fundamental é a Declaração de Jomtien de 1990, onde os países
relembraram que a educação é um direito de todos, sem distinções. Declararam ainda que a
educação é de fundamental importância para o desenvolvimento das pessoas e das sociedades.
Ao assinar a declaração de Jomtien, o Brasil assume o compromisso de erradicar o
analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no país. Para cumprir tal compromisso, o
país tem criado instrumentos norteadores para a ação educacional e documentos legais que
apoiem a construção de sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes esferas públicas:
municipal, estadual e federal (ANTUNES, 2008).
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Tais documentos foram fundamentais para direcionar o trabalho dentro das escolas com
o objetivo de construir uma sociedade mais justa, voltada para a solidariedade e o respeito pelo
outro.
Podemos afirmar que o trabalho do psicólogo inserido no contexto escolar assume um
caráter transformador, ou seja, tal profissional atua como um agente de mudanças pautado na
promoção e prevenção de saúde, mas sem deixar de lado a necessidade da colaboração da
instituição como um todo para que estas transformações ocorram e sejam efetivas (ANTUNES,
2008).
Os maiores desafios do psicólogo inserido em contextos educacionais inclusivos
atualmente, ocorrem, pois, sua formação inicial aborda de forma superficial a temática da
deficiência e da inclusão escolar, além da ênfase clínica nas disciplinas de Psicologia Escolar.
As poucas informações sobre esses temas fazem com que o psicólogo encontre
dificuldades para contribuir com o processo de inclusão escolar de estudantes com deficiência,
assim, apesar de apresentar dificuldades relacionadas ao papel que deve ser desempenhado por
seus profissionais e uma possível resistência encontrada ao adentrar nas instituições educativas,
é uma área em crescimento, onde há uma necessidade de profissionais interessados para suprir
a carência destes no ambiente escolar.
Relato de Experiência
Esta experiência dentro da APAE teve por objetivo proporcionar aos estudantes de
Psicologia a vivência do contexto profissional para adquirir experiências de observação,
interação e intervenções supervisionadas, de modo a capacitá-lo ao exercício profissional,
subsidiado pelos conhecimentos teórico-clínicos da vida acadêmica, bem como reconhecer,
analisar e responder as demandas da APAE.
O público-alvo da experiência foi composto por uma equipe técnica multiprofissional
das áreas da Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Medicina; além da equipe pedagógica que contava com duas pedagogas, uma responsável pelo
turno matutino e outra pelo turno vespertino; da equipe diretiva composta por uma diretora e
uma vice-diretora e a equipe docente constituída por professoras regentes.
Participaram de forma indireta, a equipe administrativa, constituída por duas secretárias,
a equipe de serviços gerais, zeladoras, merendeiras, motorista e caseiro, bem como pais, alunos
e comunidade.
Para a atuação foram utilizados os seguintes instrumentos: Observações do contexto
escolar de forma geral, bem como observações em sala de aula e uma pesquisa de clima
institucional, a partir disso, percebeu-se a necessidade de modificações na área diretiva,
pedagógica e docente, assim, foi realizado as seguintes intervenções:
• Treinamento de liderança;
• Treinamento pedagógico;
• Palestra para os pais;
• Assessoramento Psicopedagógico com a equipe docente;
• Palestra para a comunidade para sensibilização e conscientização para a construção de
uma sociedade inclusiva.
Observações
Pesquisa de clima
Treinamento de liderança
enfrentam não só as crianças, jovens e adultos com deficiência, mas também sua família, sendo
está o nosso enfoque principal.
partir dessa visão que as estagiárias basearam suas intervenções, tentando resgatar a
importância do papel desses profissionais dentro do ambiente escolar.
A equipe docente foi outro setor que necessitava de intervenções, sendo assim, o
assessoramento às professoras foi ofertado com o intuito de melhorar a qualidade de vida
profissional e pessoal do docente, uma vez que os dois pontos caminham juntos.
A atividade proporcionou novas reflexões, um momento de escuta, na qual aos poucos
elas foram sentindo-se livres para falar dos dilemas, das dificuldades, e principalmente
compartilhar suas experiências profissionais e pessoais, expressar suas angústias e suas
propostas de como melhorar o ambiente escolar.
Em cada encontro as estagiárias trabalharam um tema diferenciado. No primeiro deles
foi trabalhado a autopercepção e a identificação dos pontos fracos e fortes de cada uma a partir
do inventário de estilos de personalidade D.I.C.A.
O segundo tema foi a percepção e o papel do educador, foi realizada uma técnica de
contemplação, onde as estagiárias pediram para que as professoras olhassem para a porta e a
descrevesse, através da sensação, e posteriormente, irem até ela e tocarem, e descreverem
novamente, de acordo com a experiência para trabalhar a ressignificação de suas crenças através
da experiência, foi distribuído também o texto “A importância de um olhar diferenciado para
as dificuldades”.
No terceiro encontro foi trabalhado a comunicação e o trabalho em equipe e aplicada a
técnica do “papel amassado”, para elucidar o quanto a subjetividade influencia no processo de
comunicação. No quarto encontro o tema trabalhado foi a sexualidade, através da “Cartilha de
orientação sobre a sexualidade e a deficiência intelectual”. O quinto encontro foi sobre o
relacionamento interpessoal e a tolerância e determinação.
Por fim, foi trabalhado o círculo restaurativo, onde foi utilizada uma caixinha com um
espelho para que as professoras olhassem e dentro e relatassem como aquele profissional estava
se sentindo, após isto, foi pedido para que elas retirassem uma mensagem da caixa e lessem em
voz alta, e dissessem se tinha relação com o que elas estavam vivenciando no momento, por
fim foi pedido que cada uma escolhesse uma palavra que acreditassem ser essencial ao exercício
de sua profissão, e posteriormente para que elas falassem sobre a escolha. Foi realizada uma
discussão em cima das frases apresentadas.
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Palestra à comunidade
Com objetivo de encerramento do estágio, e por sugestão dos pais após a palestra
ministrada à eles, foi realizada, no último dia de estágio, uma palestra direcionada à
comunidade, intitulada “Construindo uma sociedade para todos”, visando a conscientização ao
abordar temas como o preconceito e as diferenças, bem como através da apresentação dos
diferentes tipos de deficiência e a forma correta de lidar com cada um, uma vez que por falta
de tal conhecimento que muitas vezes surge a insensibilidade o preconceito e a intolerância.
Uma vez que, como afirmam Caputo e Guimarães (2003), o “fardo” da discriminação é
evidenciado no estigma de invalidez e incapacidade que lhes é atribuído pela sociedade em
geral; a concretização da desigualdade, portanto, nasce no conjunto das relações sociais.
Conclusão
os serviços ofertados, as suas próprias competências para exercer o cargo que ocupava, o
relacionamento interpessoal e a comunicação.
Os fatores que mais geravam insatisfação na equipe eram: a incoerência, a falta de
autenticidade, a falta de comprometimento, a rigidez e a falta de integração entre a equipe, que
só vieram a confirmar o caráter negativo do clima da instituição. Foi realizada então uma
devolutiva para toda a equipe apresentando as propostas de intervenção, que consistiam em um
treinamento de liderança, o assessoramento pedagógico e o assessoramento com a equipe
docente. A partir disso, surgiu a possibilidade de ministrar uma palestra para os pais, bem como
para a comunidade acerca da deficiência.
A primeira área trabalhada foi a Direção, para tanto nos propusemos a realizar um
treinamento de liderança para que a diretora desenvolvesse tal perfil, uma vez que a não
identificação com o cargo, como dito anteriormente, afetada de forma indireta toda a escola.
Paralelamente, ocorria o assessoramento com a equipe pedagógica, que também consistia em
uma área de grande insatisfação.
Tanto no treinamento de liderança quanto no assessoramento com as pedagogas
ocorreram situações que expressaram a falta de organização, de comunicação e de confiança no
trabalho da estagiária, uma vez que por várias vezes estes foram cancelados, sem uma
justificativa plausível.
Mesmo com estes percalços a estagiária conseguiu concluir o trabalho e obteve um
feedback positivo tanto por parte da diretora quanto por parte das pedagogas e, posteriormente
das próprias professoras e equipe técnica, tanto com relação à atuação destas, quanto com
relação a melhora do clima institucional.
Com relação ao assessoramento com a equipe docente, que era outra área que foi
proposta intervenção, a princípio foi enfrentado resistências, assim como comportamentos que
refletiam como a escola estava se movendo, tais como atrasos e não participação dos encontros.
Aos poucos, o clima de desconfiança foi dando lugar a uma maior participação e
comprometimento com os encontros. Podendo concretizar os objetivos da proposta dos
encontros, que consistiam em dar voz, acolher as angústias e instrumentalizá-las para a
realização de um trabalho mais efetivo, assim como, resgatar o olhar diferenciado para seu
trabalho e consequentemente promover um autoconhecimento que levasse à reflexão e melhora
da qualidade de vida destas.
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Foi realizada ainda, na “Semana da pessoa com deficiência”, uma palestra com os pais,
intitulada “O deficiente e seus pais”, que como já foi apresentado neste, tinha o objetivo de
promover um momento de reflexão e de compartilhamento acerca das dificuldades, do
preconceito, da aprendizagem e dos desafios que enfrentam não só as crianças, jovens e adultos
com deficiência, mas também sua família, sendo este o nosso enfoque principal. A repercussão
da palestra foi bastante positiva, os pais participaram ativamente com comentários, relatos de
experiências e sugestões, dentre elas a sugestão de se realizar um trabalho parecido com a
comunidade.
A partir da sugestão trazida pelos pais, foi ministrada outra palestra para a comunidade,
nesta acrescentaram o depoimento de duas mães de alunos com deficiência acerca de suas
experiências e informações sobre os tipos de deficiência e seus manejos. Ao final os membros
da comunidade deram um feedback bastante positivo, inclusive se emocionaram com os
depoimentos apresentados, e sugeriram a continuidade do trabalho.
REFERÊNCIAS