Você está na página 1de 60

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

LUCIA FATIMA EGEVARTH LEME

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES:


REPENSANDO A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO CURSO DE
FORMAÇÃO DOCENTE NORMAL – MÉDIO INTEGRADO

Caderno pedagógico apresentado à Secretaria de


Estado da Educação, Superintendência da Educação
como requisito do Programa de Desenvolvimento
Educacional do Estado do Paraná.
Orientadora: Dra. Sandra Aparecida Pires Franco

Boa Esperança
MAIO/2010
2

Ficha Catalográfica Produção Didático-Pedagógica


Professor PDE/2009
Formação Continuada de Professores:
Título
Repensando a Prática Pedagógica no Curso de
Formação Docente Normal - Médio Integrado

Autor Lucia Fatima Egevarth Leme

Escola de Atuação Colégio Estadual Vicente Leporace

Município da escola Boa Esperança

Núcleo Regional de Educação Goioerê

Orientador Prof. Dra. Sandra Aparecida Pires Franco

Instituição de Ensino Superior UEM

Área do Conhecimento Pedagogia

Produção Didático-Pedagógica Caderno Pedagógico


(indicar o tipo de produção conforme
Orientação 03/2008 disponível na
página do PDE)

Relação Interdisciplinar (indicar, Relação com os aspectos sociais e ideológicos.


caso haja, as diferentes disciplinas
compreendidas no trabalho)

Público Alvo ( indicar o grupo com o Professores do Curso de Formação Docente


qual o professor PDE desenvolveu o
trabalho: professores, alunos,
comunidade...)

Localização (identificar nome e Rua Curitiba, nº 498


endereço da escola de CEP 87390-080
implementação)
Justificativa – Com a intenção de refletir sobre a
Apresentação: (descrever a
justificativa, objetivos e metodologia formação continuada de professores do Curso
utilizada. A informação deverá conter no Normal Médio – Integrado, esse Caderno
máximo 1300 caracteres, ou 200 Pedagógico tem por objetivo compreender o
palavras, fonte Arial ou Times New aspecto essencial para a efetiva prática
Roman, tamanho 12 e espaçamento pedagógica do professor das Séries Iniciais do
3

simples) Ensino Fundamental. Assim, fundamenta-se na


perspectiva Histórico-crítica e na Metodologia da
Mediação Dialética, que trata-se de uma
proposição de uma nova forma de trabalho
pedagógico, no que concerne à formação ético-
política no âmbito do trabalho escolar, em que se
apresentará uma forma compreensível de
alternativas metodológicas condizentes com as
necessidades educacionais atuais, e em especial,
no ambiente onde o curso será desenvolvido
contemplando um complexo de múltiplas relações,
buscando articular de forma intencional a teoria e
prática como movimento dialético reforçador da
aprendizagem do aluno.

Objetivo Geral - Compreender a importância da


Formação Continuada dos professores do Curso
de Formação Docente da Educação Infantil e das
séries Iniciais do Ensino Fundamental - Normal
Médio Integrado, visando mudanças na prática
pedagógica.

Objetivos específicos: - Promover momentos de


estudo e análise do material especificamente
selecionado, visando atualização do conhecimento
técnico-científico e/ou metodológico dos
professores com possibilidades de um
comprometimento maior com a própria formação;

- Propiciar a reflexão e a troca de experiências


entre os professores por meio da Formação
Continuada, viabilizando aos professores um
repensar sobre a prática pedagógica no Curso de
Formação Docente;

- Refletir sobre a Formação Continuada de


professores enquanto condição para que se efetive
junto à instituição escolar uma intervenção
pedagógica consistente, percebendo nesta
formação um elemento para uma efetiva práxis;

- Contribuir para que a Formação Continuada na


escola possa melhorar a ação prática pedagógica
dos professores do Curso de Formação,
resultando num fazer educativo consciente;

- Oportunizar pela formação continuada,


momentos para o aprofundamento das questões
educacionais por meio de debates, de estudos e
4

de atividades teórico-práticas que ocorrerão na


escola e a proposição de ações para uma ação
prática pedagógica condizente com as
necessidades educacionais atuais.

Metodologia - Metodologia da Mediação Dialética.

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Formação Continuada. Prática Pedagógica. Curso


Normal Médio. Mediação Dialética.
5

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................06

INTRODUÇÃO .................................................................................................. ...07

1. PRIMEIRA UNIDADE - A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES


- UM BREVE HISTÓRICO: desafios e perspectivas ..........................................12

1.1 A formação continuada de professores na perspectiva da LDB e das


Diretrizes Curriculares - Princípios pedagógicos no Curso Normal – Médio
Integrado ..............................................................................................................14
1.2 A formação continuada de professores repensando a formação inicial
ético-política no trabalho escolar e a produção do conhecimento .......................16

2. SEGUNDA UNIDADE - A DIALÉTICA - PRINCÍPIO ORGANIZADOR DO


PENSAMENTO, LÓGICA E TEORIA DO CONHECIMENTO ..............................21

2. 1 O trabalho educativo na escola – práxis ..........................................23


2. 2 Do conhecimento científico ao saber ensinado - transposição didática
ou mediação...........................................................................................................28

3. TERCEIRA UNIDADE - OS FUNDAMENTOS DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA


...............................................................................................................................34
3.1 Para compreender a mediação: imediato e mediato ..........................34
3.2 A prática educativa: aula em uma dimensão filosófica .......................37
3.3 Etapas da prática educativa ou aula: trabalho pedagógico do professor
...............................................................................................................................38

4. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES ...........................................................49


4.1 Considerações sobre apresentação dos Planos de aula elaborados
pelos professores ..............................................................................................49

REFERÊNCIAS ....................................................................................................50

ANEXOS ..............................................................................................................53
6

APRESENTAÇÃO

Este caderno pedagógico destina-se aos educadores que sonham com


uma mudança no meio educacional. A proposição da Metodologia da
Mediação Dialética na perspectiva Histórico-Crítica ainda é desconhecida no
cotidiano escolar e principalmente no curso de formação docente inicial.
Pretende-se com este trabalho apresentar aos profissionais da educação
suporte teórico-metodológico e subsídios pedagógicos, a fim de contribuir com
a ação docente do professor, apresentando a mediação como práxis educativa
transformadora.
7

INTRODUÇÃO

Este caderno apresenta textos e atividades para a aplicação no


desenvolvimento de estudo e reflexão na formação continuada dos
professores, realizada sob a orientação da Profª. Drª. Sandra Aparecida Pires
Franco, docente do Curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Maringá,
com o objetivo de compreender a importância da formação continuada dos
professores do Curso de Formação Docente da Educação Infantil e das séries
Iniciais do Ensino Fundamental - Normal Médio Integrado, visando mudanças
na prática pedagógica.
Sabe-se que são grandes as dificuldades enfrentadas pelos educadores
na escola, mas a preocupação aumenta quando lidamos com a formação de
futuros professores. Deve haver o compromisso do educador em dar formação
consistente ao aluno, pois, nesse curso todas as disciplinas devem ter a
preocupação com a prática pedagógica a qual irá refletir no ensino da
Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
No cotidiano escolar encontram-se muitos desafios em diferentes
aspectos, pois são grandes as dificuldades enfrentadas pelos educadores em
sala de aula. O comportamento agitado dos alunos faz com que muitos
docentes apresentem um sentimento de insegurança, alegando que os alunos
não têm interesse nas aulas e que nada lhes chama a atenção. Apesar disso,
muitos professores procuram estratégias diferenciadas para ministrarem os
conteúdos e como o processo de ensinar está cada dia mais difícil, buscam-se
alternativas viáveis de superação desse quadro.
Diante do exposto, esse Material Didático apresenta alguns subsídios
para refletir com os professores da Formação Docente os fundamentos e
princípios da Proposta teórico metodológica do Curso, a compreensão da
prática educativa como práxis numa totalidade dinâmica e os desafios da
realidade escolar atual, tendo em vista a ação crítica do professor na arte de
ensinar os conteúdos no processo ensino-aprendizagem, visando à formação
humana e científica dos alunos para compreender a realidade social na qual
estão inseridos.
8

Assim, pelo estudo e reflexão, esse Caderno Pedagógico propõe


reforçar a compreensão dos educadores do verdadeiro papel na prática
educativa e que apesar das contradições da sociedade capitalista é possível,
por meio da análise e estudo da realidade no cotidiano escolar, compreender a
perspectiva do Materialismo Histórico e a mediação dialética, a qual apresenta
diferentes formas do fazer pedagógico, do compromisso e participação efetiva.
Dessa forma, as dificuldades encontradas pelos professores na
realidade escolar são as mesmas da maioria dos educadores e como diz
Saviani (2003, p. 116):
[...] o avanço tecnológico exige um aprimoramento e
qualificação do pessoal, a incorporação de novos métodos e
recursos pedagógicos, um desenvolvimento qualitativo. Isto
reflete na formação dos professores que também resulta
precária, sendo agravada por que são obrigados a ter uma
sobrecarga de aulas o que em conseqüência, traz dificuldades
para a teoria, [...] fica difícil para esses professores assimilar
as propostas teóricas e procurar implementá-las na sua
prática.

Para Pimenta (2006, p.83), “a essência da atividade do professor é o


ensino aprendizagem, [...] é o conhecimento teórico e prático de como garantir
que a aprendizagem se realize como conseqüência da atividade de ensinar”.
Assim, o compromisso do professor é garantir a aprendizagem do conteúdo
pelo aluno, promover a formação de valores e hábitos, possibilitando que ele
seja um cidadão participativo e ainda compreender as dimensões sociais,
políticas, econômicas e ideológicas que interferem na realidade escolar, sendo
capaz de analisar as situações e dificuldades dos alunos, planejar e buscar
meios que asseguram a aprendizagem dos mesmos.
A compreensão de uma nova perspectiva metodológica, com outro modo
de entender o processo ensino aprendizagem pode gerar formas diferenciadas
de ensinar e de aprender, auxiliando o professor em sua ação pedagógica,
possibilitando um caminho de superação das dificuldades enfrentadas em sala
de aula, com a proposição metodológica apresentada nesse Material Didático
em que se busca compreender os desafios e dificuldades, propiciando aos
professores uma análise dos movimentos sociais, filosóficos e antropológicos,
cujo entendimento é fundamental na formação inicial e continuada do
professor, pois, refletem o momento histórico no qual estão inseridos e
9

influenciam a prática educativa associadas às expectativas da sociedade em


uma educação mais qualitativa.
Ter conhecimento e compreensão das tendências pedagógicas e
metodológicas pelos professores é de fundamental importância, para que estes
possam elaborar conscientemente sua própria metodologia, embasados em
fundamentos teórico-metodológicos e traçar sua própria trajetória político-
pedagógica com suporte da equipe pedagógica da escola. Por intermédio
desses conhecimentos poderão propor mudanças, transformando sua prática
educativa em uma ação efetiva, visando uma formação mais humana e crítica
que só é atingida pelo saber científico transformando-o em conteúdos
necessários para formar a consciência e a humanização dos educandos,
permitindo que o ensino consiga transpor as dimensões do espaço escolar.
Acredita-se que, com a compreensão dos fundamentos teórico-
metodológicos da mediação, com base no Materialismo Histórico-Dialético,
esta proposição possa contribuir para auxiliar e modificar a prática pedagógica
na formação inicial do professor, visto que possibilita aos professores e alunos
trabalharem juntos, promovendo uma aprendizagem em que ambos pela
dialética elaboram uma aprendizagem significativa. Isso significa que se o
educador tem conhecimento da teoria e do método que embasa sua prática
poderá buscar novos caminhos e até criar metodologias diferenciadas que
sejam eficientes para o ensino na realidade escolar onde trabalha, podendo,
dessa forma, provocar transformação por meio da conscientização de seus
alunos e contagiar colegas num esforço coletivo apesar dos entraves e
condicionantes sociais. Porém, vale ressaltar que não há transformação sem o
comprometimento ético e político de todos os responsáveis pela educação.
Todas as atividades deste Caderno Pedagógico evidenciam a
importância de uma formação inicial e continuada dos professores de forma
consistente, visando uma educação mais qualitativa, buscando compreender a
práxis como uma atividade realizada de forma livre e consciente que precisa da
teoria, pois, o conhecimento forma a autoconsciência e o aperfeiçoamento
individual, facilitando ao ser humano realizar seus objetivos. Mas que para se
efetivar é necessário uma ação educacional transformadora que educa apesar
das contradições no âmbito educacional e escolar. Além disso, proporcionar
aos alunos, futuros professores, aulas mais interessantes e significativas, é
10

essencial, uma vez que valoriza o processo e se analisa todos os resultados,


possibilitando ao aluno comportamento crítico e criativo, dando-lhes condições
para explorarem a realidade educacional, de forma que possam participar e
sentirem-se sujeitos ativos interferindo positivamente na sociedade em que
vivem.
Na primeira unidade se fará um estudo teórico com textos sobre a
Formação continuada de professores com um breve histórico, seus desafios e
perspectivas, analisando e compreendendo a legislação apresentada pela LDB
e das Diretrizes Curriculares, bem como compreender os princípios
pedagógicos no Curso Normal, modalidade, Médio Integrado e para repensar a
formação inicial ético-política no trabalho escolar, na produção do
conhecimento e para a melhoria da qualidade de ensino.
Na segunda unidade serão estudados textos e atividades
relacionadas aos pressupostos do materialismo histórico, da Mediação
Pedagógica na perspectiva dialética, em que serão analisados alguns textos.
Para isso pretende-se buscar compreender a dialética como princípio
organizador do pensamento, a lógica e a teoria do conhecimento,
aprofundamento teórico sobre o trabalho educativo, ou seja, a práxis,
refletindo sobre a mediação e a passagem do conhecimento científico para o
conteúdo de ensino, a fim de contribuir com a ação pedagógica do professor
no Curso de Formação Docente.
E por último, a terceira unidade tem o objetivo de conhecer a
proposição didática da Metodologia da Mediação Dialética elaborada por Maria
Eliza Brefere Arnoni, buscando conhecer os fundamentos da mediação
pedagógica e pelo estudo compreender o imediato e o mediato, levando à
compreensão de uma prática educativa: aula em uma dimensão filosófica, as
etapas da aula e os passos para orientar o trabalho pedagógico do professor.
Esses passos serão trabalhados em forma de oficina, em que os professores,
após a apreensão, desenvolverão com os alunos do Curso no Colégio Estadual
Vicente Leporace de Boa Esperança.
Desse modo, por intermédio do Material Didático apresentado podem-se
oportunizar pela formação continuada, momentos para o aprofundamento das
questões educacionais por meio de debates, estudos e atividades teórico-
11

práticas que ocorrerão na escola e a proposição de ações para uma ação


prática pedagógica condizente com as necessidades educacionais atuais.
12

PRIMEIRA UNIDADE

1. A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES - UM BREVE


HISTÓRICO: desafios e perspectivas;

Refletir sobre a formação inicial e continuada dos professores tendo em


vista tornar o ensino melhor e formar alunos mais conscientes da realidade em
que estão inseridos, é pensar que o conhecimento científico deve ser a base
para esta formação, a fim de que os profissionais da educação possam ter
capacidade crítica para perceber as contradições sociais, econômicas, culturais
e políticas existentes que influenciam e determinam as ações a serem
tomadas, planejadas em função da aprendizagem dos seus alunos.
Professores pesquisadores em Universidades têm se debruçado sobre
a formação inicial e continuada do professorado no país, procurando
alternativas que contribuam para melhoria da qualidade do ensino nos
diferentes níveis da educação brasileira. Abordam os diferentes aspectos da
formação, a práxis do professor e defendem a educação continuada como uma
prática reflexiva. Para então, buscar caminhos quanto à superação das
dificuldades e construir uma boa escola a partir da reflexão e envolvimento de
todos os seus profissionais. Segundo Filho & Alves (apud BARBOSA, 2003,
p.285):

Esse envolvimento, todavia só acontece quando não são


negadas à escola as condições objetivas necessárias para
isso, condições estas que incluem melhorias na organização do
trabalho pedagógico, melhorias salariais, acesso à produção
cientifica, oportunidade de troca de experiências e exercício
sistemático de reflexo sobre o fazer docente. [...] acreditar na
capacidade de envolvimento dos alunos, educadores, pais e
demais membros da comunidade na construção de um projeto
educacional que leve em conta as suas necessidades
concretas, os seus sonhos e fantasias, os seus desejos e
utopias dos alunos. [...] saber que as dificuldades e problemas
que sempre surgem e que irão surgir, quando surgirem, serão
enfrentados pelo coletivo como responsabilidade de todos e de
cada um, o que só acontece quando houver sentido de
pertencimento à escola que também é gestado coletivamente
em processos participativos de construção.
13

Neste sentido, a formação continuada é caminho para reflexão e


construção de propostas que contribuam para a melhoria da qualidade no
ensino escolar, no domínio de métodos e do conhecimento na ciência de
atuação socializado como caminho de humanização. Isso exige nova postura
frente aos desafios, uma sólida teorização e reflexão sendo consistente na
formação inicial e “em serviço” de forma contínua. Assim a situação
educacional atual exige do professor:
[...] investimento emocional, conhecimento científico-técnico-
pedagógico, conduta ética e compromisso com a
aprendizagem dos alunos, e isso envolve o desenvolvimento
de capacidades de participação coletiva para tomada de
decisões orientadas por um modelo de professor reflexivo, ou
seja, que considera seu fazer docente e as práticas
pedagógicas que ocorrem na escola como objetos de
permanente reflexão (Filho & Alves, in Barbosa, p. 287).

A permanente participação e reflexão na busca do saber se dá com a


garantia da aquisição do conhecimento e dos elementos fundamentais da
cultura por todos os professores e alunos. Quando se pensa na formação inicial
e no desenvolvimento profissional dos docentes em exercício deve haver o
comprometimento não só do Estado, mas também, das Universidades, das
escolas e de outras instituições. Portanto, para se ter uma formação continuada
consistente é preciso uma proposta educacional concreta, amparada pela
legislação e a garantia de financiamento para sua efetivação pelo poder
competente.
Assim considera-se que o professor de qualquer nível de ensino deve
conhecer profundamente sua disciplina e o desenvolvimento dos processos da
trajetória educacional para situar-se no momento histórico e reavaliar-se, tendo
presente o aprendizado anterior e o atual, como docente na complexidade
social de contradições e mudanças. Ter consciência das fragilidades da própria
formação e perceber suas necessidades de capacitação é entender que a partir
das reflexões e da análise crítica de sua prática é possível superá-las à luz das
teorias científicas. Assim, conhecer a realidade para atuar sobre ela, significa
ser professor capaz de fazer a crítica aos modelos implícitos na educação
escolar que contribuem para a manutenção das desigualdades sociais e desta
forma entender a dinâmica dessas relações é possível interferir sobre elas.
14

1.1 A formação continuada de professores na perspectiva da LDB e


das Diretrizes Curriculares - Princípios pedagógicos no Curso de
Formação Docente - Normal – Médio Integrado;

Vivemos numa sociedade onde o avanço tecnológico e a globalização


tem aprofundado as desigualdades sociais com a sofisticação da tecnologia,
aliada ao discurso científico das ciências humanas colocadas a serviço da
justificação das desigualdades, onde a educação é submetida à lógica da
acumulação flexível indicada como essencial para todos, na sociedade
capitalista cujo principal capital é o conhecimento, negado para a maioria da
população das camadas populares. Além disso, responsabiliza-se o indivíduo
de buscar, por si mesmo a educação, promovendo assim a privatização e
aligeiramento para formar os profissionais da educação. Desta forma “[...] a
formação do professor trabalhador da educação, tem sido um alvo importante”.
Em torno da “capacitação”, da “reciclagem”, [...] ergueu-se também uma
“indústria” de cursos à distância e presenciais e de pós-graduação (2006, p. 18,
Proposta Curricular do curso de formação de Docentes - SEED).
Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e
sensibilidade, mas a atividade docente está se transformando profundamente
e, portanto, requerer-se uma nova identidade, pois a situação caótica em que
se encontram muitas escolas onde a violência e o desrespeito acabam
desfigurando sua real função impedindo que os objetivos traçados sejam
atingidos. Além disso, ele desempenha papéis que deveriam ser da família e a
sobrecarga de tarefas que extrapolam o espaço escolar, como estudos e
pesquisas para a preparação das aulas, correção de trabalhos e outras,
associadas aos baixos salários dos trabalhadores em educação contribuem
para agravar esta situação.
Além da saúde e a satisfação profissional dos professores devem ser
considerados também a sua eficácia, em sala de aula, no processo de ensino-
aprendizagem que passa a ser prejudicada frente aos fatores já citados.
Percebe-se que em sua maioria, os professores não encontram respostas para
explicação do quadro acima mencionado, em sua formação inicial, nem na
formação continuada. Isso porque as causas são geradas nas relações sociais
15

atuais, por esta razão é necessário compreendê-la e organizá-la no seu


conjunto na estrutura social.
A partir da Lei n° 9394/96, das Diretrizes Curricul ares Nacionais e do
Plano Estadual de Educação, sobre a formação inicial e continuada dos
profissionais de educação, busca-se alternativas para formação do profissional
da educação fundamentado nos princípios da LDB (lei de Diretrizes e Bases)
construiu-se os pressupostos teóricos metodológicos da organização da
proposta curricular do Curso de Formação de Docentes - Médio Integrado que
têm como princípios: “o trabalho educativo; a práxis como princípio curricular e
o direito da criança ao atendimento escolar”. Para entender o trabalho como
processo educativo de acordo com a proposta curricular é necessário:

[...] compreender a natureza da relação que os homens


estabelecem com o meio natural e social, bem como as
relações sociais em suas tessituras institucionais, as quais
desenha o que chamamos de sociedade, [...] a educação é
também um manifestação histórica do estar e do fazer humano
que fundamentam o processo de socialização, (PPC–SEED-
PR, 2005, p. 23).

A responsabilidade de ensinar não é só função do professor, mas da


família e da sociedade. Pimenta, (2006, p. 120), explica que embora o ensino
não seja tarefa exclusiva do trabalho pedagógico do professor:

[...] o ensino ocorre através de outras atividades e agentes


sociais, a tarefa de ensinar desde a organização, análise dos
processos de ensino, em aula, na escola, até a organização,
análise e decisão de ensino e os conseqüentes resultados
dessas no processo de educação enquanto humanização
constitui a especificidade do trabalho profissional do professor.

Sendo o ensino escolar tarefa do professor, ele deve ter formação


consistente para poder exercer uma prática educativa que gere uma
aprendizagem real e duradoura.
Nestes pressupostos entende-se a práxis “como atividade humana
condicionada pelo modo de produção de vida predominante e lidamos com
uma dimensão mais política, temos compromisso com o futuro e com a
transformação” (PPC -2006, p. 26). Neste sentido no Currículo da Formação
16

Docente se enfatiza “o conceito de cuidar, educar, criança e aprendizagem”,


pois estes elementos integram o trabalho pedagógico na Ed. Infantil
entendendo o conhecimento como resultado do fazer próprio do professor de
crianças que inclui “a criação, significação e ressignificação dos sentidos da
existência humana e social” (PPC-PR, p. 27), daí a importância de uma
formação inicial consistente dos profissionais da educação.

1.2 A formação continuada de professores repensando a formação


Inicial ético-política no trabalho escolar e a produção do conhecimento:

A preparação técnica e formação ético-política dos professores de


qualquer nível de ensino, em qualquer sociedade requer atenção permanente
dos que realmente se preocupam com a educação e lutam para que ela seja de
qualidade, mas isso exige investir concretamente.
A educação não transforma sozinha, mas pode contribuir para
solidificação das forças construtivas de intervenções que podem levar às
mudanças necessárias. O educador deve ser formado com consciência crítica
para perceber a ideologia oculta em sua atividade. Ser tratado com justiça e
respeito e não ser culpado pela situação caótica em que se encontra a
educação. Assim, deve ser consciente da sua função e dominar a disciplina
que vai ensinar. Como diz Severino (2003, p.79, 87):

Assim o domínio, assimilação do processo produtivo do


conhecimento, do saber e do processo educativo como um
todo medeia à conscientização. O conhecimento e domínio dos
instrumentos técnicos e métodos lógicos da profissão e dos
fundamentos teóricos resgata a essencial significação do
trabalho em sua existência, como atividade básica do
conhecimento. [...] ter compreensão de si mesmo, dos outros e
das suas relações recíprocas e da integração ao grupo social e
na humanidade como um todo. [...] não, pode ocorrer educação
efetivamente humanizadora se não for levada em conta essa
complexa constituição dos seres humanos como entes dotados
de uma personalidade subjetiva como pertencentes a uma
sociedade historicamente determinada e como integrante de
uma espécie bem característica.

[...] só será assegurada qualidade à sua atuação se, ao longo


dos processos iniciais e continuados de sua formação, lhe for
assegurado pelas mediações pedagógicas um complexo
articulado de elementos formativos, produzidos pelo cultivo de
sua subjetividade, que traduza competência epistêmica, técnica
17

e científica, criatividade estética, sensibilidade ética e


criticidade política.

Assim, inserido num projeto educacional o educador poderá exercer


com segurança sua função educativa. Desta forma, colabora com a escola para
conscientizar o aluno de que é sujeito ator da própria história e pode participar
efetivamente da vida comunitária e social engajando-se em movimentos e
associações, etc.

ATIVIDADES

A organização das atividades será em pequenos grupos com a


socialização e troca de experiências entre os participantes.

Para esta unidade sugere-se a realização das seguintes


atividades:

1. Assistir o vídeo – “Águia” – Disponível em:


http://www.youtube.com/watch?v=PlX5YjGwEcM.
Reflexão e análise, relacionando com o profissional da educação em sua
ação pedagógica;

2. Leitura e reflexão do texto desta unidade “A Formação Continuada


de professores - um breve histórico: desafios e perspectivas”;
Em grupos desenvolver as seguintes atividades:
a) Refletindo com os colegas cursistas, aponte as principais dificuldades
encontradas na Formação dos profissionais da educação:
b) A formação continuada vem de encontro com as necessidades dos
professores e alunos no processo de ensino e de aprendizagem? Justifique.

3. Para aprofundar, faça a reflexão sobre os Vídeos de Bernadete Gatti,


Pesquisadora da Fundação Carlos chagas. “Formação de Professores - Oito
desafios da Formação de Professores” - parte 1 “Enfatizar o sentido sócio
cultural dos conhecimentos”, 5 min e parte 2 “Criar uma carreira atrativa”,
6 min. 24 set. 2008. Disponível em http://www.google.com.br/search?hl=pt-
18

BR&source=hp&q=Forma%C3%A7%C3%A3o+de+PROFESSORES-
+bERNADETE+GATTI&rlz=1W1GGLL_pt-BR&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=

4. Realizar o aprofundamento teórico pela leitura e análise do texto


“Docentes para uma educação de qualidade: uma questão de
desenvolvimento profissional” de Maria Izabel de Almeida. Disponível em
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/viewFile/2213/1856, - Agora
junto com os colegas do grupo desenvolva as seguintes tarefas:

a) Pensando no professor necessário para as novas gerações, (Almeida,


2004, p.171) aponta para “[...] um professor capaz de desenvolver uma
nova forma de relacionamento com seus alunos, preparando-os para
entrar em contato com o mundo do conhecimento, de modo a apropriar-
se dele, articulando as novas aprendizagens com as anteriores, e a
tornar-se um produtor de conhecimento numa perspectiva
interdisciplinar”. O que também se evidencia na ação docente é “[...] a
capacidade do professor empenhar-se na formação dos seus alunos para
a democracia, [...] contribuindo para que tenham melhor inserção em
nosso mundo”. Analise criticamente esta afirmação da autora e aponte outras
atribuições que julga necessárias para o professor hoje:

b) Na página 173 e seguinte, a mesma autora aponta algumas


exigências do profissional da educação no processo ensino-aprendizagem na
perspectiva da qualidade social. Comente sobre elas e aponte sugestões para
que a Formação Continuada do profissional da educação seja mais produtiva
para a prática pedagógica na escola.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, de Maria Izabel. Docentes para uma educação de qualidade: uma


questão de desenvolvimento profissional”. n. 24, p. 165-176, Editora UFPR.
Curitiba: 2004. Disponível em:
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/viewFile/2213/1856, - Acesso
em 05/04/2010.
19

ARNONI, Maria Eliza Brefere; OLIVEIRA, Edilso Moreira de; ALMEIDA José
Luis Vieira de. Mediação dialética na educação escolar: teoria e prática. São
Paulo: Edições Loyola, 2007.

BARBOSA, Raquel Lazzari Leite. Formação de educadores: desafios e


perspectivas. (Organizadora). São Paulo: Editora UNESP, 2003.

BRZEZINSKI, Iria (org); SEVERINO, Antonio Joaquim e outros. LDB


Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 1997.

GATTI, Bernadete. ”Formação de Professores - Oito desafios da Formação de


Professores” - parte 1 “Enfatizar o sentido sócio cultural dos
conhecimentos” ”,( 5 min) e parte 2 “Criar uma carreira atrativa”, (6 min).
24 set. 2008. Disponível em: http://www.google.com.br/search?hl=pt-
BR&source=hp&q=Forma%C3%A7%C3%A3o+de+PROFESSORES-
+bERNADETE+GATTI&rlz=1W1GGLL_pt-BR&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=
Acesso em 17/05/2010.

NUNES, Rodinei. Vídeo “Águia” — 11 de janeiro de 2008 — 04m42s. Filme


motivacional. Edição - Produção Final de Sorocaba-SP. Locução de Márcio
Corrêa. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PlX5YjGwEcM –
Acesso 05/04/2010.

PARANÁ. Proposta Pedagógica Curricular do Curso de formação da educação


infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental em nível médio, na
modalidade normal / Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de
Educação. Departamento de Educação Profissional. – Curitiba: SEED – PR,
2006.

PEREIRA, Maria de Fátima Rodrigues; PEIXOTO, Elza Margarida de


Mendonça. “Política de Formação de Professores: desafios no contexto da
crise atual” Revista HISTEDBR On-line Artigo Revista HISTEDBR On-line,
Campinas, n. Especial, p.216-224, mai. 2009 - ISSN: 1676-2584. Disponível
em:
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/33esp/art13_33esp.pdf
Acesso em 26/03/2010.

SEED - Acessoria de Formação dos professores - Dia a dia da educação – O


que é o PDE. Disponível em:
http://www.pde.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2 Acesso
em 14/10/2009.

______ Lei Complementar Nº. 103 - 15/03/2004 - Publicada no Diário Oficial


Nº. 6687 de 15/03/2004 – Plano de Carreira do Professor da Rede Estadual de
Educação Básica do Paraná. Disponível em:
http://celepar7cta.pr.gov.br/SEEG/sumulas.nsf/72f6421141cdce2603256c2f007
a9922/0136dea4d1af589c03256e98006e2e8b?OpenDocument – Acesso em
15/102009.
20

CFC (Coordenação de Formação Continuada) - Formação continuada dos


profissionais da educação – compromisso com a qualidade de ensino.
Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/cfc/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4
– Acesso em 16/10/2009.
21

SEGUNDA UNIDADE

2. A DIALÉTICA - PRINCÍPIO ORGANIZADOR DO PENSAMENTO,


LÓGICA E TEORIA DO CONHECIMENTO

A partir de 1979 forma-se a teoria Histórico-crítica e o problema da


dialética na educação passa a ser amplamente discutida. A função política e a
mediação da competência técnica são muito debatidas. Para entender a
dialética é necessário conhecer a pedagogia crítica que a fundamenta, pois o
sentido básico desta é a transformação da sociedade. Isso envolve a
possibilidade de compreender a manifestação da educação escolar atual como
um resultado de um longo processo de transformação histórica, porque o
homem continuamente produz sua existência. Dessa forma, Saviani (2003, p.
88, 102, 103) define a Pedagogia Histórico-crítica assim:

[...] empenho em compreender a questão educacional com


base no desenvolvimento histórico objetivo. Portanto a
concepção é o materialismo histórico dialético, ou seja, a
compreensão da História parte do desenvolvimento material,
da determinação das condições materiais da existência
humana. [...] concepção que procura afirmar-se sobre uma
base histórica, [...] a escola é, pois compreendida com base no
desenvolvimento cultural que concorre para o desenvolvimento
histórico da sociedade; assim, compreendida, torna-se
possível a sua articulação como superação da sociedade
vigente em direção a uma sociedade sem classes.

Dessa forma, no entender de Saviani (2003, p. 94, 72), “O que define a


essência da realidade humana é o trabalho. [...] ele age sobre a natureza
ajustando-a as necessidades”. E ainda explica que “[...] o papel político da
educação se cumpre na perspectiva dos dominados quando se garante aos
trabalhadores o acesso ao saber sistematizado”. Isso implica que se aponte o
rumo que se quer seguir, valorizar a cultura erudita (greco-romana) e não
perder de vista as funções da escola para assim preservar sua especificidade.
Como esta concepção tem base histórica vamos compreender o que
vem a ser dialética. Para Arnoni e outros (2007, p.33), desde a Antiguidade “a
22

dialética sofreu influência de Parmênides e Heráclito” que tinham para dirigir o


pensamento “[...] um princípio organizador do pensamento e da linguagem na
busca da verdade por meio do logos”. Citando Oliveira (1996), os autores
afirmam que “a dialética nasceu com a Filosofia numa tentativa de resposta
racional – não mais em bases míticas – às questões sobre o sentido do mundo
e de nossas vidas”. Foi criada para desenvolver o [...] “fundamento racional de
todo o saber, de todo o conhecimento”, ou seja, para dar respostas as
questões fundamentais da vida humana e da sociedade.
Portanto, dialética para os autores acima citados (2007, p. 21-22), “é a
lógica e a teoria do conhecimento que fundamentam a categoria da mediação”
que “encerra uma totalidade, articula método, uma metodologia e uma lógica” e
favorece um ensino comprometido com a aprendizagem do aluno numa
perspectiva dialética. Nessa perspectiva, os autores ainda afirmam que o saber
é o objeto do trabalho docente articulando as abordagens ontológicas e
epistemológicas no trabalho educativo, mas a maioria dos professores não
sabe distinguir uma da outra. O que as diferencia é que na abordagem
ontológica há a inclusão das “dimensões valorativas das relações econômicas,
sociais, políticas, históricas e culturais que conformam o homem em sociedade,
aspectos ausentes na abordagem epistemológica” (ARNONI, 2007, p. 23).
A metodologia da mediação dialética possibilita a formação humana e
política, pois, o aluno conhecendo cada conceito estudado por meio das
diferentes dimensões no processo de aprendizagem chegará à compreensão
do conhecimento científico.
Saviani (2003, p. 142-143) apresenta o método materialista dialético
como:

[...] movimento no processo pedagógico, que incorpora a


categoria da mediação, vê a educação como mediadora no
interior da prática social global e se a humanidade se
desenvolve historicamente onde a prática é o ponto de partida
e o ponto de chegada, [...] passa do empírico ao concreto pela
mediação do abstrato.

Esse método possibilita pelo estudo e análise da teoria passar do senso


comum do cotidiano vivido ao concreto das relações sociais por intermédio da
mediação do abstrato, ou seja, o que foi compreendido do saber sistematizado
23

do conteúdo em estudo pode modificar a prática social do aluno. Isto significa


que no ponto de chegada, o conhecimento do aluno aproxima-se ao do
professor no ponto de partida. Dessa forma, as novas gerações incorporam os
elementos herdados já sistematizados, de modo que se tornem agentes ativos
do processo de desenvolvimento e transformação das relações sociais. Nesse
sentido, Gasparin (2005, p.8) diz que: “Assumir uma teoria do conhecimento no
campo da educação significa trabalhar um conhecimento científico e político
comprometido com a criação de uma sociedade democrática e uma educação
política”. Assim, o professor ao trabalhar os conceitos de sua disciplina em
várias dimensões possibilita ao aluno refletir e ampliar sua compreensão da
realidade social na qual está inserido, podendo ser alguém que pensa e age
para mudar, sendo agente transformador. Para isso, faz-se necessário
compreender a práxis educativa pela mediação dialética no ensino escolar.

2.1. O trabalho educativo na escola – práxis

Para compreender o trabalho educativo na escola precisamos ter claro o


conceito de práxis. No entender de Konder, (1992, p. 97), Práxis é palavra de
origem grega que “significa ação no âmbito das relações entre as pessoas na
ação intersubjetiva, na ação moral e na ação dos cidadãos”. Analisando Marx,
o autor afirma que:
A práxis é a atividade concreta pela qual, os sujeitos humanos
se afirmam no mundo modificando a realidade objetiva e, para
poderem alterá-la, transformando-se a si mesmos. É a ação
que para se aprofundar de maneira mais conseqüente, precisa
de reflexão, do autoquestionamento, da teoria; e é a teoria que
remete a ação, que enfrenta o desafio de verificar seus
acertos e desacertos, cotejando-os com a prática (KONDER,
1992, p. 115).

Assim, a práxis é uma atividade realizada de forma livre e consciente,


mas que precisa da teoria, pois com o conhecimento forma a autoconsciência e
o aperfeiçoamento individual, facilitando ao ser humano atingir seus objetivos.
Sendo crítico, o indivíduo envolve-se na participação ativa da política, nos
debates e nas deliberações da comunidade, modifica suas atitudes na relação
com os outros e com ele mesmo. Porém, para que isso possa se efetivar faz-se
24

necessário uma ação educacional transformadora que educa apesar dos


entraves e contradições no âmbito educacional e escolar.
Saviani (2003, p.141-142), explica:

Práxis, “é um movimento prioritariamente prático, mas que se


fundamenta teoricamente, alimenta-se da teoria para
esclarecer o sentido, para dar direção à prática. [...] a prática é
ao mesmo tempo, fundamento e critério de verdade e
finalidade da teoria [...]”. “A prática para desenvolver-se e
produzir suas conseqüências necessita da teoria e precisa ser
por ela iluminada”.

Pensar na unidade teoria e prática exige conhecer a realidade que


queremos transformar e as formas para conseguir, reconhecendo o contexto
histórico e prever as metas e resultados como as finalidades no ensino. Assim,
práxis na ação pedagógica crítica “é uma ação consciente, a atividade prático-
teórico do ser social”. A “práxis crítica trabalha com as contradições entre o
ponto de partida e o ponto de chegada, considerando este novo ponto de
partida” (SAVIANI, 2003, p. 142). O ensino aprendizagem é a essência da ação
pedagógica do professor, é o conhecimento técnico prático de como garantir
que o aluno aprenda em decorrência do ato de ensinar. “Esta aprendizagem
deve ser compreendida enquanto determinada em uma realidade histórico-
social” (Pimenta, 2003, p. 83), assim, o saber sistematizado que ensinamos foi
construído pela vivência dos homens em relação à natureza e com seus
semelhantes no meio social da humanidade. Como afirma Vasquez citado por
Pimenta (2006, p.94):

[...] ao esclarecer os diferentes níveis da práxis de acordo com


o grau de penetração da consciência do sujeito ativo no
processo prático (práxis espontânea e práxis reflexiva) e com
o grau de criação ou humanização da matéria e transformada
evidenciada no produto de sua atividade prática (práxis
reiterativa, imitativa, burocratizada – e práxis criadora), [...]
deixa claro que, no seu entender, toda a atividade humana é
práxis, mas de diferentes níveis e formas.

Ainda no entender de Pimenta (2003), pensar na formação humana de


forma global exige uma reflexão sobre os objetivos da teoria que se vai utilizar
um planejamento consciente, domínio da ciência e de sua utilização na
25

natureza e na vida social humana. Assim, o processo educativo pode ser


compreendido através de reflexões propostas sobre o cotidiano das relações
entre alunos e professores compreendendo o processo educacional. Para isso,
o exercício da ação docente exige preparo e a Pedagogia como Ciência da
Educação propicia e desenvolve o estudo da prática pedagógica no preparo
das atividades e se entendermos a educação como prática social, então a
atividade docente é uma prática social (práxis). A ação educativa pensada para
a humanização das gerações em desenvolvimento torna os educadores
conscientes e que, se articulados com um projeto global e concreto, podem
produzir uma nova ordem social e transformar a realidade naquilo que impede
a humanização dos homens.
A humanização se dá pela mediação, o ser humano não nasce sabendo
sentir, pensar, avaliar e agir. Assim, Arnoni e outros (2006, p. 55) afirmam que
“pensar de forma sistemática e lógica, para saber querer, agir ou avaliar, é
preciso aprender o que implica o trabalho educativo”. “[...] o saber que [...]
emerge do processo de aprendizagem que se viabiliza no trabalho educativo” é
que interessa à educação escolar, pois tudo o que sabemos, aprendemos com
os outros e na escola não é diferente. O saber sistematizado deve ser
apresentado de forma que os alunos aprendam e isto exige dos educadores
conhecimento da disciplina e de procedimentos adequados de acordo com o
conteúdo a ser ensinado para facilitar a compreensão pelos alunos,
principalmente na formação inicial dos professores. Os autores (2007, p. 106)
ainda afirmam que:

Um curso não é práxis do futuro professor. É a formação


teórica (teórico prática) do professor para práxis
transformadora. Isto é pela ação do sujeito professor,
enquanto professor que ele exerce a “práxis transformadora”,
[...] como agente da práxis (de uma práxis transformadora)
precisa, pois, de sólida formação teórica (pedagogia), da
Pedagogia dialeticamente considerada.

Esse preparo deve também acontecer de forma continuada, pois assim


como as práticas sociais estão em constantes mudanças, também o
conhecimento deve ser atualizado. A teoria é instrumento para a ação, os
educadores que agem por meio da pesquisa e do ensino enquanto práxis
educacional podem direcionar um projeto histórico de humanização dos
26

homens, e assim, podem provocar a transformação das condições sociais


produtivas e reprodutivas ou de alienação. Os autores acima citados,
(ARNONI, 2006, p.106) esclarecem que:

Pedagogia dialética que enquanto ciência prática (atividade


teórica) da e para a práxis educacional, requer que se tome o
seu objeto de conhecimento (educação como práxis social)
dialeticamente: no qual a unidade teoria e prática possibilitam
a apreensão das contradições da educação enquanto práxis
social, de modo a poder estabelecer a direção e sentido, as
finalidades de nova práxis educacional, no sentido de afirmar a
humanização dos homens (emancipação e humanização).

O ser humano está em constante mudança e neste processo é evidente


a superação que é essencial na vida humana. À medida que vai vivenciando
novas experiências ele se relaciona com os outros, com o ambiente e assim
nesta interação se constrói e é construído. Por isso, para Arnoni e outros
(ARNONI, 2007, p. 35, 37) é importante “entender o ser humano tendo em vista
o trabalho educativo”, “[...] compreender a história enquanto dimensão mais
radical e necessária da vida humana” e nas relações mais amplas precisa
mediar-se e estar em constante busca do conhecimento. Dessa forma, ao se
humanizar, “[...] o homem age em função de seu conhecimento e conhece para
agir, [...] configura-se assim, a ação e conhecimento como dois elementos
constitutivos da práxis humana”. O conhecimento é fruto do esforço coletivo da
humanidade no entendimento e apropriação do real. A experiência que temos
não é só nossa, aprendemos nos relacionando com o meio natural e social, por
esta razão esse saber é individual e ao mesmo tempo coletivo, então, “[...] o
conhecimento é sempre resultante da mediação realizada entre os sujeitos”. O
esforço em “tornar o conhecimento objeto de conhecimento” é a lógica
entendida como “processo de estabelecer relações entre a parte e o todo”.
Para compreender esta lógica temos que ter claro o método indutivo e
dedutivo que fundamentaram o processo de elaboração do conhecimento
científico. O primeiro, passa pela análise da realidade que vai da parte ao todo
e o segundo do todo em direção às partes e ambos configuram alternativas
metodológicas mutuamente excludentes. “[...] o conhecimento do ser humano
se desenvolve a partir de um processo circular e dialético ao qual Viera citado
por Arnoni (2007, p.39 - 40) denomina “ciclo perfeito do conhecimento”, que se
27

realiza na articulação interpenetração, completude e superação dos processos


indutivo e dedutivo”, levando a compreensão de relação das partes ao todo que
é importante na produção científica e nas atividades de ensino.
Pode-se dizer que a lógica dialética surge de uma percepção mais
aprofundada dos processos naturais percebidos no esforço do pensamento no
seu constante movimento, tentando entender em profundidade a realidade para
refletir em ideias abstratas os elementos objetivos que aí se encontram.
Portanto, Arnoni e demais autores (2007, p.40, 42, 43) ainda completam que:

Da articulação das operações do pensamento, realizadas [...]


em termos processuais, a lógica e a teoria dialéticas, as quais
se distinguem em termos metodológicos, do procedimento
indutivo e dedutivo da ciência, em virtude de aquelas
acontecerem a possibilidade de superação, o que não ocorre
nesta. [...] A lógica dialética caracteriza-se por um sistema de
pensamento racional, que reflete o movimento real das
transformações em curso do mundo físico e social o qual [...]
se fundamenta a partir da relação que se estabelece entre o
“ser” humano e organizado em sociedade, ou seja, de um
dado do mundo material apropriado pelo pensamento e aceito
por este na qualidade de um fato. [...] Em qualquer proposta
metodológica de investigação e de intervenção da realidade,
encontra-se fundamentada num desses dois princípios lógicos,
seja ele de caráter formal ou dialético.

A lógica formal não pode ser considerada como verdade absoluta, ela
precisa da dialética para explicar e definir-lhe sua validade. Elas sustentam
qualquer proposta metodológica adotada na construção do conhecimento e no
trabalho educativo, que se expressam em diferentes visões da realidade, tendo
cada uma seus limites e possibilidades de atuação. É preciso entender a
“dialética que a princípio está na natureza e na história, sob a forma de trama
de relações racionais entre os fatos, transporta-se para o espírito, para a
consciência” (VIEIRA PINTO, 1969, p. 66 apud ARNONI e outros, 2007, p.25).
Assim, as ideias se unem e nas relações objetivas e subjetivas geram o
processo do conhecimento sob a forma da unidade de pensamento e ação.
Então, a concepção dialética que estabelece relação entre conteúdo e método
é a lógica dos conteúdos em sua articulação com as formas.
28

2.2. Do conhecimento científico ao saber ensinado: transposição


didática ou mediação

A ciência no decorrer da história com os avanços e o contínuo processo


de desenvolvimento precisou desenvolver novos métodos de investigação nas
áreas do conhecimento numa perspectiva mais ampla da realidade, na
totalidade, pois não se esgotam o poder do pensamento formal. Para a lógica
formal não existe a contradição, porque os conceitos são imutáveis e
equivocados, tenta entender os fins operatórios. No pensamento dialético, a
contradição é prova de veracidade e qualidade do conceito formulado ao
significado da realidade. É a lógica do aprofundamento do processo de
investigação do real. Finalmente, Arnoni e outros (2007, p. 51), apresentam à
dialética como:

[...] a penetração no conceito, expresso no trabalho educativo


na forma do conteúdo de ensino revela-o dotado de sentidos
dinâmicos, portadores de contradições, as quais somente são
aprendidas num exercício racional por meio do qual
necessitamos dar movimento ao conceito-conteúdo de ensino,
no sentido sincrônico (tempo atual) e diacrônico (através dos
tempos) e assim a partir deste movimento, estabelecer a sua
totalidade, por meio da análise das relações entre a parte que
se configura/apresenta o fenômeno e o todo no qual está
inserido.

No trabalho educativo, pela contextualização do assunto e da


análise histórica, formamos os conceitos na relação com
outros e com o meio e à medida que vamos internalizando e
compreendendo o significado, codificamos o pensamento.
Assim, uma palavra pode ter vários significados e adquire
sentido dependendo do contexto, parágrafo, do texto ou do
livro e, também partindo da realidade concreta do aluno,
fazendo análise e envolvendo os diversos níveis, como a
origem e história de cada conceito.

Dessa forma, analisando o conceito em todos os sentidos possíveis, os


problemas e contradições presentes vão aparecendo, possibilitando superar a
percepção fragmentada, instrumentalizando o pesquisador e o professor ao
conhecer o movimento da realidade, apontando a necessidade de um trabalho
educativo de acordo com a lógica dialética, em que analisa cada conceito em
29

diversas dimensões, fazendo com que seja compreendido e apropriado pelos


alunos.
Para que haja aprendizagem, deve haver dedicação no estudo e análise
histórica detalhada no contexto social, cultural e econômico de cada época. A
fim de detalhar o para que, para quem e por que dos métodos, concepções,
organizações escolares, as políticas existentes, os sistemas e valores. Assim,
tendo conhecimento dos processos históricos possibilita-se a reflexão para ver
o que e onde deve ser diferente, estabelecendo prioridades e metas na prática
educativa, principalmente, na função de ser professor. Ao propor o Projeto
Político Pedagógico da escola é importante ter compreensão dos fundamentos
teórico-metodológicos da proposta curricular do curso e das questões acima
abordadas, a fim de planejar os conteúdos, tendo em vista a aprendizagem dos
educandos.
Desta forma, no entender de Saviani (2003, p. 75), o cientista interessa-
se em desenvolver o conhecimento de sua área e o professor deseja fazer o
aluno aprender e progredir como meio de seu crescimento. Para isso, é
importante tornar este saber ensinável, fazer a transposição didática, isto é, a
transformação do saber elaborado em saber escolar, organizar os conteúdos
de forma que possam ser assimilados e o “método é essencial ao processo ao
pedagógico”. Segundo Vieira citado por Arnoni e outros (Vieira, 1992, p. 29,
apud ARNONI e outros, 2007, p.65), a questão do método pode ser assim
compreendida:

Admite-se a existência de um método quando se segue


determinado “caminho”, uma trajetória teórica, buscando
atingir a um fim antecipadamente colocado em geral exame de
certo objeto. [...] o método representa uma ordenação, uma
sistematização intelectual expressa através de um conjunto
coerente de leis, categorias e conceitos. Um método [...] pode
levar a outros “caminhos” alcançando o fim proposto e
também vários fins não indicados, certamente inatingíveis por
meio do acaso.

Arnoni e outros (2007, p. 65) adotando o método do materialismo


histórico dialético utilizam a abordagem didática da mediação e afirmam que
existem métodos e:
30

[...] a partir de uma perspectiva teórica implícita ou explicita


criamos e organizamos nossas visões de mundo experiências
diárias e, em nosso trabalho educativo, a organização
metodológica do conteúdo a ser trabalhado em sala de aula.

Esclarecendo, os autores (2007, p. 143), afirmam que a mediação


“explicita para o professor a intencionalidade da prática educativa” numa
perspectiva dialética, “significa relação de tensão entre termos diferentes: o
imediato e o mediato” referem-se à diferença, heterogeneidade, a repulsão e o
desequilíbrio entre si”. O saber imediato é o saber comum, o mediato é o
científico que supera o primeiro sem anulá-lo, pois o imediato está presente no
mediato que na visão da mediação pedagógica é uma relação dialética que
caracteriza o processo de ensino e a aprendizagem em que aluno e professor
lidam com estes saberes. Assim, “a mediação dialética constitui o pressuposto
teórico-filosófico que possibilita compreender as relações de tensão que se
estabelecem no processo de ensino e no de aprendizagem” tendo esta
compreensão é possível discutir sobre esta relação pedagógica no ensino.
Então, formar o professor é dar condições de que ele próprio seja capaz
de criar um bom método, baseado numa teoria sólida de pedagogia social, de
trabalho coletivo e esforço conjunto. Como a escola tem o dever de garantir o
acesso e permanência dos educandos, poderá fazer com que realmente
aprendam o conhecimento elaborado. Cabe ao professor e a equipe
pedagógica buscar novas formas de tornar compreensível o conhecimento
produzido nas relações sociais de maneira que os alunos possam assimilá-lo e
compreendê-lo, a fim de que sirvam para a própria transformação.

ATIVIDADES

1. Após a leitura, análise e reflexão do texto: “A dialética - princípio


organizador do pensamento, lógica e teoria do conhecimento”:
a) Explicite os conceitos de: práxis dialética, lógica dialética, saber
imediato e mediato, mediação dialética;
b) Procure refletir sobre a práxis e destaque a diferença entre “prática
pedagógica” e “práxis dialética”;
31

c) Reflita com seus colegas e apresente sua opinião clara e objetiva


sobre a perspectiva da mediação dialética na prática escolar considerando a
questão do método:

2. Leitura do item “1.3. Medição Dialética” no texto do artigo “Ensino e


Mediação Dialética”, de Maria Eliza B. Arnoni.
http://seer.fclar.unesp.br/index.php/iberoamericana/article/viewFile/437/317.
a) Apresente de forma sucinta a compreensão sobre a mediação
dialética.

3. Assistir ao vídeo “Crianças do Milênio” em seguida em grupo fazer a


análise e reflexão, registrando situações de socialização humanas necessárias
para o sucesso na educação escolar.

Crianças do Milênio é um projeto único e de longa duração, que


pretende responder aquela velha pergunta: nascemos como somos ou somos
feitos pelo ambiente em que somos criados? Os produtores do programa terão
20 anos para responder essa questão. Para isso, eles trabalham com 25
famílias diferentes cujos filhos nasceram no início de janeiro de 2000 e que
representam a maior variedade possível de contextos genéticos, sociais,
geográficos e éticos.

Roteiro de análise =>


a) Observar e comentar como acontece a socialização das crianças e a
importância da família e o meio social no processo;
b) O que impede a humanização dos homens no âmbito familiar e
escolar?
c) Analise o texto abaixo relacionando a frase do Documentário
“Crianças do Milênio”, "nascemos como somos ou somos feitos pelo
ambiente em que somos criados?", considerando como acontece a
socialização humana e qual a função da família, do ambiente e da escola neste
processo nos dias atuais;

KONDER (1992), analisando Marx afirma que:


32

A práxis é a atividade concreta pela qual, os sujeitos humanos


se afirmam no mundo modificando a realidade objetiva e, para
poderem alterá-la, transformando-se a si mesmos. É a ação
que para se aprofundar de maneira mais conseqüente, precisa
de reflexão, do autoquestionamento, da teoria; e é a teoria que
remete a ação, que enfrenta o desafio de verificar seus acertos
e desacertos, cotejando-os com a prática (KONDER, 1992, p.
115).

A humanização se dá pela mediação, o ser humano não nasce sabendo


sentir, pensar, avaliar e agir. Assim, Arnoni e outros (2007, p. 55) afirmam que
“pensar de forma sistemática e lógica, para saber querer, agir ou avaliar, é
preciso aprender o que implica o trabalho educativo”. “[...] o saber que [...]
emerge do processo de aprendizagem que se viabiliza no trabalho educativo”.

4. Assistir o vídeo: “Ensino Aprendizagem da Organização do Trabalho


Pedagógico”, com João Luis Gasparin. Programa: Nós da Educação –
20min08s. Vídeo disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?i
d=608.

Análise:

a) Comente o processo de ensino e aprendizagem segundo Gasparin.


b) A respeito da formação de Professor o que diz Gasparin?
c) Como a organização do trabalho expressa a necessidade de pensar a
formação que queremos para os jovens dos tempos atuais?
d) Que desafios encontramos na formação dos professores pensando na
organização do trabalho pedagógico hoje na escola?

REFERÊNCIAS

ARNONI, Maria Eliza Brefere; OLIVEIRA, Edilso Moreira de; ALMEIDA José
Luis Vieira de. Mediação dialética na educação escolar: teoria e prática. São
Paulo: Edições Loyola, 2007.
33

ARNONI, Maria Eliza B. Ensino e Mediação Dialética. Disponível em:


http://seer.fclar.unesp.br/index.php/iberoamericana/article/viewFile/437/317,
Acesso em 04/05/2010.

BARBOSA, Raquel Lazzari Leite. Formação de educadores: desafios e


perspectivas. (Organizadora). São Paulo: Editora UNESP, 2003.

BRZEZINSKI, Iria (org); SEVERINO, Antonio Joaquim e outros. LDB


Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 1997.

CRIANÇAS DO MILÊNIO – Documentário- BBC de Londres. GNT-Brasil. DVD,


(60MIN).

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3ª


ed. rev. – Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

GASPARIN, João Luis. ”Ensino aprendizagem da Organização do trabalho


pedagógico. - Vídeo: Nós da Educação, 1 DVD (20min). Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=608
Acesso em 17/05/2010.

GEORGEN, Pedro; SAVIANI, Dermeval. Formação de professores: a


experiência internacional sob o olhar brasileiro. 2 ed. Campinas, S P: Autores
associados; São Paulo:Nupes, 2000.

KONDER, Leandro. O Futuro da Filosofia da Práxis: O Pensamento de


Marx no Século XXI. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

PIMENTA, Selma Garrido. O Estágio na Formação de Professores: Unidade


Teoria e Prática? 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura


da vara, onze teses sobre a educação e política. ed. 22. São Paulo:
Ed.Cortez Autores Associados, 1989.

__________ Pedagogia Histórico Crítica: primeiras aproximações. Coleção


Educação Contemporânea. 8ª ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados,
2003.
VIEIRA, E. Democracia e política social. São Paulo: Cortez,1992.

VIEIRA PINTO, A. Ciência e existência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.


34

TERCEIRA UNIDADE
.
3. OS FUNDAMENTOS DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

3. 1 Para compreender a mediação: imediato e mediato

Segundo Arnoni, (2007, p. 88, 89, 92) “todo o método, por meio da
articulação de suas categorias pode explicar qualquer aspecto da realidade”.
“Assim, não há método que seja incompleto; o que pode haver é método mal
compreendido em razão de ter sido mal estudado”. Sendo assim, método é um
caminho teórico que expressa à visão de mundo de uma determinada teoria de
compreensão do real pela sua operacionalização, ou seja, colocada numa ação
prática. Já a metodologia de ensino deve ser fiel aos princípios da dimensão
teórica do método, sendo capaz de atuar na prática com a intenção de
transformação.
Portanto, o método dialético é o caminho teórico de conhecer e
compreender a natureza pelo pensamento humano, tem como categorias que
no materialismo histórico dialético são “o movimento, a totalidade, a contradição
e a superação” e a “mediação” para entender o ser social”. Assim, o movimento
se entende pela passagem da “quantidade para a qualidade” o “movimento na
interpenetração do contrário” que se explica porque não se consegue
desenvolver a mesma aula em salas diferentes, a “totalidade” onde o “todo
nunca é a soma das partes” e “um não existe sem o outro”, eles se completam e
se modificam conforme as relações que acontecem entre si e a “negação da
negação” que se movimenta da tese para a antítese e desta pela a síntese”
Com base na metodologia do Materialismo Histórico Dialético que
norteia este trabalho segundo os autores (2007, p. 144, 147) podemos dizer
que: a metodologia é uma atitude para encarar a realidade para compreender
nos seus diferentes aspectos numa articulação de uma teoria com uma prática
determinada, prática para entender o momento histórico e social que os criou.
É necessário ter claro a concepção de ensino que está relacionada ao saber do
professor e à aprendizagem que é “relação do aluno com o saber”. Pensando
nisso, eles propõem uma “metodologia da mediação dialética” para “articulá-lo
35

com o processo de aprendizagem com ênfase especial na ação do professor”


na organização do conteúdo de ensino.
Para que haja entendimento desta proposição metodológica é
importante ter claro os fundamentos da mediação pedagógica criada por Maria
Eliza Brefere Arnoni (2007, p. 75), “é uma mediação como qualquer outra, mas
é ao mesmo tempo diferente das outras”.
Portanto, os autores propõem:

[...] considerar a prática educativa como práxis, uma totalidade


dinâmica, possibilita ao professor depreender o movimento do
processo de ensino e o da aprendizagem, cujo devir consiste
na aprendizagem do aluno. Este movimento gera-se na
contradição do mediato com o imediato, possibilita ao aluno a
elaboração da síntese, o saber aprendido (ARNONI, 2007, p.
130-131).

Entende-se por imediato o saber, os conceitos cotidianos e o


mediato, o conhecimento científico que para o MMD torna-se compreensível
pela maneira como o professor organiza e trabalha o conteúdo escolar,
demonstra a concepção que ele tem consciente ou não da realidade, do
conhecimento e da práxis, pois a aula é uma ação, é a materialização das
concepções teóricas do professor sobre o ensino e aprendizagem.
No entender de Arnoni e outros (2007) já mencionados, o saber
científico para ser ensinado, precisa ser transformado em conteúdo de ensino
para ser compreendido, organizado metodologicamente para que se torne
dinâmico no processo de ensino, partindo do imediato, (o que aluno já sabe) e
o ponto de chegada o mediato (saber científico), no qual ele se apropria e
elabora a síntese do que incorporou.
Nesse processo de ensino, ao estimular seus alunos, o professor deve
buscar informações para sanar suas dúvidas das questões problematizadas
assim, toma consciência do grau de seu entendimento, a fim de que possa
elaborar respostas e nesse movimento, o conteúdo torna-se
metodologicamente compreensível. “Tensão, contradição, superação e síntese,
são movimentos do pensamento, e o professor ao organizar
metodologicamente e propiciar situações de ensino capazes de gerá-los, torna
36

o conteúdo de ensino ensinável (ensino) e permite a aprendizagem” (ARNONI,


2007, p. 146).
A intencionalidade do trabalho do professor na prática educativa
consiste em ensinar os bens culturais produzidos, levando o aluno a um
pensamento mais articulado podendo agir criticamente e não de forma
alienada. O grande desafio é a operacionalização diária das ações, dos
objetivos previstos e colocados no plano para mudar aspectos indesejáveis
presentes detectados na realidade escolar.
A proposta curricular do Curso da Formação Docente propõe também
para o futuro professor uma formação humana. Dessa forma, Arnoni e outros
(2007, p.126), afirmam que “a concepção da prática educativa baseia-se na
ontologia do ser e para entendê-la é preciso ser analisada nas três categorias
da dialética: práxis (teoria pratica), totalidade (todo e parte), e mediação
(imediato e mediato)”. Nessa ação valoriza-se o ser humano em todos os
sentidos numa visão ampla em que são analisadas as relações históricas e
sociais, da natureza e do homem.
Assim, “práxis é uma categoria filosófica que permite a compreensão da
dinâmica do ambiente e possibilita a ação crítica do ser social no sentido de
transformação”. Por esta razão temos que pensar que o professor, no contexto
da práxis educacional, está condicionado, historicamente e socialmente, pela
sua realidade social, adotando às vezes pontos de vista parciais sobre a
prática. Isso se dá pela falta de uma Formação Inicial e Continuada consistente
pautada nos princípios filosóficos, teórico-metodológicos geradores de uma
consciência crítica transformadora.
Na proposta teórica metodológica do MMD (Metodologia da Mediação
Dialética) segundo os autores já mencionados, a organização do ensino é
realizada por uma sequência de situações pedagógicas e procedimentos que
reforçam o conteúdo trabalhado, favorecendo a compreensão pelo professor
das ações de planejar, desenvolver, avaliar e intervir no processo de ensino-
aprendizagem, em que o aluno elabora o saber, exigindo de ambos um
trabalho articulado, favorecendo a aprendizagem. Nesse caso, o conteúdo é
sempre retomado de forma diferenciada com situações de ensino interligadas e
interdependentes. Nesta prática educativa, o foco é a interlocução entre
37

professor e aluno sobre o conteúdo de ensino e o plano de aula que deve


atender a intencionalidade de cada momento da aula.

3.2 A prática educativa: aula em uma dimensão filosófica

Para que se tenha uma boa aula não pode haver improvisação, isto
torna o professor um mero executor do programa dos outros. Planejar com
antecedência a aula, garante uma prática mais efetiva e por isso os autores
citados anteriormente (2007, p.127), afirmam ainda que: “pensar a aula, numa
perspectiva dialética, implica concebê-la como práxis, a prática não pode ser
realizada exclusivamente durante o desenvolvimento da própria ação prática“.
É preciso ter claro a relação teoria e prática “caracterizando a práxis”.
O ato de educar tem uma intencionalidade e ao planejar o educador
deve ter compreensão teórica de suas ações práticas em relação ao processo
de ensino que potencializa no aluno a aprendizagem do conteúdo. Se ele adota
uma “prática pragmática e empírica, sem o caráter problemático da contradição
que se estabelece entre as dimensões teóricas e prática da práxis” (ARNONI,
2007, p. 128), leva à alienação com a sensação de inabilidade e mero executor
e reprodutor de propostas oficiais, de livros didáticos e do conhecimento.
A alienação pode acontecer quando, não ocorrem na prática ações
educativas pensadas frente aos problemas da escola, colocadas no plano
escolar, cujo desafio é sua aplicação diária entendendo a tensão dialética que
se estabelece entre “a intencionalidade registrada no plano, as metas, os
objetivos e a realidade escolar” (ARNONI, 2007, p.129, 130). Assim, a
aprendizagem não se efetiva, pelo descompromisso de alguns educadores que
atuam sem conhecer a importância dos fundamentos filosóficos do método e
metodologias adequadas que venham de encontro às exigências sociais e da
realidade escolar para gerar a aprendizagem significativa nos alunos. De
acordo os autores acima citados “práxis tem como par dialético a alienação, a
educação e a criticidade da ação humano-social” O professor pode passar da
ação pedagógica comum (alienada) superando-a em outra práxis crítica tendo
consciência das relações presentes nesta prática educativa, cujo conteúdo em
estudo é significativo para o professor e alunos.
Assim autores afirmam:
38

Em uma aula é necessário que o professor, enquanto sujeito


do ensino, considere e relacione o conhecimento científico que
pretende trabalhar e o saber do sujeito de aprendizagem, o
aluno. Em uma aula, são dois sujeitos (professor e aluno)
históricos, dialogando, numa tensão dialética característica da
mediação, sobre um mesmo assunto, e para manter essa
mediação ela precisa ter sentido para ambos. [...] para
potencializar uma aprendizagem por compreensão, é
necessário conceber a aula em uma dimensão filosófica, como
prática educativa, a práxis educacional crítica (ARNONI, ET AL
2007, p.135- 136).

Esta prática deve ser planejada tendo claro: os objetivos, os


conteúdos e a avaliação por intermédio de uma metodologia que provoque a
participação efetiva do professor e dos alunos, em que os conceitos em estudo
e as atividades desenvolvidas tenham sentido reais e concretos.

3. 3 Etapas da prática educativa ou aula: trabalho pedagógico do


professor

No desenvolvimento da prática educativa: aula, no MMD (Metodologia


da Mediação Dialética), a primeira etapa é o planejamento em que o professor
fará a seleção dos fundamentos teóricos e dos princípios filosóficos
metodológicos do conteúdo de ensino na área da ciência de atuação e a
organização metodológica do conteúdo, isto é, vai transformar o conceito
científico em conteúdo de ensino e a elaboração do plano de aula. A segunda
será o desenvolvimento ou operacionalização da mediação dialética e a
terceira, a avaliação na qual será realizada a análise dos processos
desenvolvidos no ensino, na aprendizagem e na relação dialética entre ambos.
A prática educativa implica em mudar a prática cristalizada no cotidiano escolar
e perceber se há coerência entre a concepção estabelecida no PPP (Projeto
Político Pedagógico) e a ação pedagógica de sala de aula, percebe-se que há
um abismo entre a teoria assumida e a prática desenvolvida. É fundamental
que o professor tenha profundo conhecimento do conteúdo que irá ensinar
podendo assim aprofundar os conceitos contextualizando-os e fazer as
intervenções pedagógicas necessárias para a aprendizagem.
Para Gasparin, é preciso:
39

Trabalhar os conteúdos de forma contextualizada em todas as


áreas do conhecimento humano. Isto possibilita evidenciar aos
alunos que os conteúdos são sempre uma produção histórica
de como os homens conduzem sua vida nas relações sociais
de trabalho em cada modo de produção. Consequentemente
os conteúdos reúnem dimensões conceituais, cientificas,
históricas, econômicas, ideológicas, políticas, culturais
educacionais que devem ser explicitadas e aprendidas no
processo de ensino aprendizagem (GASPARIN, 2005, p.2).

Com base na metodologia do Materialismo Histórico Dialético que


norteia este trabalho segundo Maria Eliza Brefere Arnoni e outros (2007, p.
144), pode-se dizer que: a metodologia é uma atitude para encarar a realidade
para compreender nos seus diferentes aspectos numa articulação de uma
teoria com uma prática determinada, para entender o momento histórico e
social que os criou. Para os autores é necessário ter claro a concepção de
ensino que está relacionado ao saber do professor e à aprendizagem que é
“relação do aluno com o saber”. Pensando nisso, eles propõem uma
“metodologia da mediação dialética (MMD)” para “articulá-la com o processo de
aprendizagem com ênfase especial na ação do professor” e na organização do
conteúdo de ensino.
A elaboração do plano de aula pela MMD, segunda etapa da prática
educativa é o desenvolvimento do conteúdo de ensino em uma aula por MMD,
sua operacionalização ou aplicação em sala de aula e segue os seguintes
passos do resgatando/registrando, problematizando, sistematizando e o
produzindo.
“Resgatando/registrando” é o ponto de partida. No desenvolvimento
do conteúdo de ensino o professor busca por meio de várias atividades o
mesmo ponto de partida pela oralidade, desenho, recortes, dramatização,
mímica, poesia, música, colagem, relatos, textos, escrita etc., e o aluno
representa nelas as ideias iniciais que tem sobre o assunto. Partindo desses
registros, o professor delimita o conhecimento, comparando-o com o
pretendido e elabora a problematização e sobre a reelaboração da produção
dos alunos planejam as atividades para a retomada do conteúdo. O registro é
o ponto inicial do processo de aprendizagem e do ensino e este inicia com o
planejamento. Arnoni e outros (2007, p.151), mostram que “os registros dos
alunos, que sendo históricos representam um dos pólos da mediação dialética,
40

o imediato, que se contrapõe ao outro pólo, o mediato, representado pelo


conteúdo científico” que são de grande valia para o professor, pois a partir
deles se organizam as questões do problematizando. Além disso, partir do
cotidiano dos alunos e do professor significa trabalhar os conteúdos
relacionados à vida individual, coletiva, pública e privada dos sujeitos
envolvidos no ensino.
“Problematizando”: contradições entre as representações iniciais o
conteúdo de ensino na “Metodologia da Mediação Dialética”. Para os autores já
citados (2007, p. 151, 155), problematizar é uma situação de ensino
questionadora para que o aluno perceba as divergências entre os dois saberes
e pela contestação “estimula o aluno a pensar e elaborar soluções por
intermédio de seus saberes disponíveis”, percebendo que deve buscar
respostas e investigar. A problematização tem por “objetivo despertar em cada
aluno individualmente a consciência da dimensão subjetiva (saber inicial) e a
objetiva (conceito científico), gerando conflito, fazendo com que os alunos
argumentem e defendam suas idéias ou a dos colegas explicando-as”. Esta
atividade “tem caráter sedutor e persuasivo, [...] para convencer o aluno a rever
sua concepção” e o conteúdo com questionamentos por meio da argumentação
contrapondo-as com o conceito científico. Como diz Arnoni e outros (2007, p.
153):

No “problematizando”, a discussão da atividade


problematizadora com o aluno possibilita-lhe a identificação e
a compreensão da contradição entre seu saber inicial e o
científico ensinado, e também potencializado que ele supere o
imediato no mediato pretendido e elabore assim sínteses que
expressem o conceito científico estudado, a “sistematização”.

Por meio desta atividade o aluno percebe à distância que há entre aquilo
que já sabe e o conteúdo a ser aprendido e se esforça em atingir o nível mais
elevado do conhecimento.
O “sistematizando” é o terceiro momento da aula e para os autores
(ARNONI e outros p. 154, 156), “sistematizar é tornar o saber metódico e
ordenado, em coerência com determinada linha de pensamento e/ou de ação,
neste trabalho a mediação dialética” (sic). Neste momento, o professor cria
41

situações de ensino, fazendo o aluno perceber a relação do que sabe com o


saber científico, trabalha o conteúdo planejado, levando-o a passar do saber
inicial para o saber científico, fazendo elaborações e sínteses. Quando se tem
claro, tanto o aluno como o professor das intenções da aula, gera um
comprometimento maior de ambos na prática educativa pretendida. Por meio
do diálogo, o professor apresenta os conceitos, propiciando compreensão do
tema e revisando os pontos ainda não entendidos pelos alunos e estes
realizam as tarefas individualmente ou em grupos, que com as informações
organizadas consultam fontes de pesquisa, fazem leitura de textos didáticos,
pontos na lousa, apostilas etc., explorando as diferentes dimensões e
provocando os alunos a participar e expressar suas ideias num processo
interativo. “Estas dimensões da linguagem são fundamentais nesta perspectiva,
pois constituem critérios para a escolha dos procedimentos da avaliação que
caracterizam o “momento” posterior”.
O “produzindo” é o quarto momento da aula, em que o aluno expressa
as sínteses cognitivas, o que aprendeu no MMD pelas diversas linguagens,
apresenta os conceitos aprendidos e este é o ponto de chegada e ao mesmo
tempo é ponto de partida e elemento de avaliação que para os autores já
citados, “[...] permite ao professor e o aluno depreenderem a situação atual de
compreensão do conteúdo de ensino desenvolvido”. Nesse momento, o aluno
consegue expressar de forma clara e qualitativa o que aprendeu, pois no
decorrer de toda a aula, o professor utiliza situações em que ele vai se
familiarizando com a produção.
O desafio e dificuldade que o professor pode encontrar nesta proposta é
ter claro o pressuposto teórico da mediação e compreensão dos conceitos com
que vai trabalhar. Deve valorizar a intenção comunicativa da produção que é a
atividade intelectual dos alunos em sala de aula. Assim, para os autores acima
citados, “o parâmetro de avaliação é comparar a produção do aluno em todos
os momentos do MMD, tendo como referência o conceito cientifico” (2007, p.
159). Para avaliar, o professor pede que o aluno escreva o que aprendeu
produzindo o texto, porque a qualificação é um dos aspectos da avaliação e o
aluno deve ter claro no que será avaliado. Devem-se evitar surpresas e utilizar
recurso de linguagens vivenciadas nas aulas. Estabelecer os critérios de
avaliação para verificar a produtividade do aluno que podem ser: observação
42

do desempenho do aluno, ausência ou presença parcial ou incompleta de


conceitos e a comparação entre as produções iniciais e as finais.
Nessa perspectiva, (2007, p. 160, 161), a “avaliação” sendo a terceira
etapa da prática educativa, onde “avaliar é [re] olhar a aula”, se faz com a
“retomada no desenvolvimento da operacionalização da MMD”. Assim, “a
concepção filosófica da prática educativa concebe a aula como um complexo
dinâmico que sofre a influência de distintos fatores pertencentes e gerados pela
sociedade que a insere”. É o ponto de chegada e ao mesmo tempo é ponto de
partida e elemento avaliativo. O aluno consegue expressar de forma clara e
qualitativa o que aprendeu, pois no decorrer de toda a aula o professor utiliza
situações em que ele vai se familiarizando com a produção. Pode ser por meio
de dramatização, exposição de cartazes, etc.
Assim, na avaliação da aula segundo o MMD, os dados apresentados
pelos alunos no produzindo mostram que o conceito proposto foi compreendido
e o professor pode planejar a continuidade do assunto. O recurso didático
produzido pelos alunos para representar e registrar serve como parâmetro
avaliativo na perspectiva da mediação dialética.
Um dos fatores que interferem na aprendizagem dos alunos é converter
o conteúdo de ensino segundo a Metodologia da Mediação Dialética, por esta
razão ele deve ser analisado na práxis nos seguintes aspectos: levantamento
dos aspectos prioritários do conteúdo, dos aspectos conceituais da ideia dos
alunos e comparando seus registros. É necessário focar também os fatores
externos e internos que prejudicam a aula e o desenvolvimento dos conteúdos
e desta maneira focar os fatores que interferem no ensino e replanejá-los.
Nesta perspectiva, ensinar não é transmissão e simplificação do saber.
A operacionalização dessa proposta vincula-se a sua aplicação prática. Para
superar o imediato no conceito, o ensino deve ser comprometido e o professor
tornar o conteúdo compreensível, focando na problematização e assim gerando
contradições entre o imediato e o mediato. Para Arnoni e outros (2007, p. 164),
“esta relação cognitiva é provocada pela tensão dialética entre o imediato e o
mediato elaborando uma síntese que se qualitativa, representa a superação
numa práxis crítica transformadora”. Por meio desse percurso, a mediação
dialética leva a compreensão da realidade, pois a intencionalidade na práxis,
43

exige propósitos como: planejamento, o plano, o desenvolvimento e a


avaliação conforme plano de aula em Arnoni (Ver Anexo A).
Dependendo da intenção, uma prática educativa pode ser geradora de
relações sociais transformadoras ou reproduzir as que aí estão. Para Arnoni e
outros (2007, p.165).

Uma teoria é pratica á medida em que se materializa por


intermédio de ações humanas, que só se verificam quando os
atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com
um resultado ideal, uma finalidade, e terminam com um
resultado efetivo e real.

Assim, quando traçamos objetivos ou finalidades, estamos negando uma


realidade e afirmando outra, podemos então dizer que uma teoria só pode
transformar se assumida com ações concretas e comprometida com a
realidade social.
O momento “predominante” dessa aula é o movimento dialético em que
a contradição não se resolve, refere-se ao desenvolvimento simultâneo do
processo de ensino e da aprendizagem na “operacionalização” do MMD, com
diálogo constante entre professor e aluno sobre o conteúdo de ensino. Mas
para a elaboração de sínteses a contradição precisa ser resolvida. Assim, para
os autores acima mencionados (2007, p. 167-168):

[...] o professor realiza intervenções capazes de provocar no


aluno a explicitação da contradição entre as idéias iniciais
sobre o conceito estudado (saber imediato) e o conceito
cientifico implícito no conteúdo de ensino (saber mediato).

A “reelaboração” é fundamental para o docente organizar o conteúdo de


ensino e operacionalizar o MMD. O conceito científico inserido no todo tem
nova compreensão a da totalidade dinâmica, elaborada assim o conteúdo de
ensino. Nesse sentido, para melhor esclarecer os pressupostos teóricos da
MMD segue abaixo algumas proposições para elaboração das atividades
pedagógicas os autores já mencionados (2007, p.170.171):

a) A aula não se resume exclusivamente no trabalho de sala de


aula. Este é apenas um dos seus momentos. Ela envolve o
44

planejamento, o desenvolvimento e a avaliação do conteúdo de


ensino.
b) O desenvolvimento do conteúdo de ensino centra-se na
problematização de situações capazes de gerar contradições,
provocar superação e possibilitar a elaboração de sínteses
(aprendizado).
c) Os registros de anotações do saber inicial do aluno
expressam suas idéias atuais, consideradas partes
aparentemente independentes do todo.
d) As atividades problematizadoras situam-se entre os registros
dos alunos (mediato) e o conceito científico reelaborado
(mediato).
e) No desenvolvimento da aula pela aplicação da MMD, o
professor, inicialmente, depreende a contradição entre as
representações dos alunos a (resgatando/registrando) e o
conteúdo de ensino e, em seguida transforma esta contradição
em atividades problematizadoras (problematizando) para
proporcionar ao aluno a oportunidades de perceber a
contradição e, assim superá-la.
f) As atividades problematizadoras ensejam a necessidade de
ser ”resolvida” e, assim motiva o aluno a participar da
sistematização do conteúdo de ensino.
g) As atividades sistematizadoras, por utilizarem a função
referencial da linguagem a serem organizadas em função do
conteúdo de ensino, oferecem ao aluno a oportunidade de
organizar a sistematizar suas informações.
h) As atividades do “produzindo”, formais ou informais,
possibilitam ao professor e aluno discutir os aspectos do
conteúdo de ensino compreendidos ao não, facultando a
retomada do processo de ensino.

Dessa forma, sugere-se aos professores o desenvolvimento de aula que


seja processual e dinâmica numa práxis que expressa à ação consciente do
professor em relação à teoria e prática, pois o desenvolvimento do processo de
ensino e de aprendizagem, segundo essa metodologia, centra-se nas
diferentes expressões do saber: o imediato e o mediato. O saber imediato
como já vimos é o saber subjetivo que o aluno traz sobre o conceito científico a
ser ensinado e o saber mediato é o saber científico que se pretende ensinar
para lhe potencializar a elaboração de uma nova síntese.
Assim, pela operacionalização da Metodologia é possível articular os
diferentes saberes e sintetizá-los em forma de narração, dissertação, leitura
verbal e não verbal, resumo, entrevista, revistas em quadrinhos, teatro,
produção de cartazes etc. O trabalho deve ser pautado em saberes específicos
das áreas de referências e para a produção do conhecimento sobre o objeto de
estudo. Por intermédio de grupos de estudo é possível trabalhar de forma
45

interdisciplinar, podendo envolver duas disciplinas, seguindo a abordagem da


Metodologia da Mediação Dialética. Por meio de grupos de pesquisa, reflexão
e discussão sobre os objetivos, produção do plano de aula e aplicação da
mesma são alguns procedimentos possíveis.
Para que possamos desenvolver e planejar uma aula de acordo com a
proposição de uma aula interessante sugere-se a leitura do artigo de Maria
Eliza Brefere Arnoni, “Metodologia da Mediação dialética: uma proposição de
aula interessante” acessando o link:
http://www.ibilce.unesp.br/departamentos/edu/docentes/arnoni/aula/ArnoniMEB
_Lixo_Aula%20interessante_pdf_26_03_2008.pdf, em que a autora apresenta
de forma organizada sua proposição metodológica com os passos da aula de
forma detalhada. Também, há outros artigos e publicações da autora que
podem ser acessados e pesquisados.
Como a Metodologia da Mediação Dialética é uma proposição que está
de acordo com os princípios da Proposta Curricular do Curso de Formação
Docente apresenta-se um plano de aula nesta perspectiva.

Universidade Estadual de Maringá


Departamento de Teoria e Prática da Educação
Disciplina: Pedagogia - PDE
Orientadora: Sandra Aparecida Pires Franco
PLANO DE AULA – METODOLOGIA DA MEDIAÇÃO DIALÉTICA
A – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome: Lucia Fátima Egevarth Leme
Escola: Nível de Ensino: Série: Duração:
Colégio Formação Docente – Médio 2ª 3 hora/aula
Estadual Vicente Integrado
Leporace- EFMN
B – DADOS PEDAGÓGICOS
Curso: Formação Docente – Nível médio Integrado
Disciplina: Organização do Trabalho Pedagógico
Conteúdo da Ciência de Referência: Pedagogia

1. Objetivos: Por que


ensinar?
- Compreender a importância do trabalho pedagógico como princípio articulador da ação
pedagógica na formação docente;
- Desenvolver a compreensão da ação prática do professor como uma ação crítica
conectada com uma realidade mais ampla.

2. Tópicos do conteúdo de ensino O que


O trabalho pedagógico como princípio articulador da ação ensinar?
pedagógica
46

3. Metodologia de Ensino (procedimentos) Como


ensinar?
3.1 Resgatando:
Escreva o que você entende por “trabalho pedagógico como princípio articulador da ação
pedagógica”.
Assistir o vídeo:
Nós da Educação – palestra com João Luis Gasparin. “A Organização do Trabalho
Pedagógico no curso de formação de professores” - Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=606

3.2 Problematizando (atividades sobre o conteúdo da disciplina):

Tendo por base o fala de João Luiz Gasparin no vídeo Nós da Educação - “A
Organização do Trabalho Pedagógico no curso de formação de professores” - pensar sobre as
seguintes questões:
a) Para você o que significa trabalho pedagógico? Pesquise e dê sua opinião.
b) Qual a importância da Organização do trabalho pedagógico e sua aplicação na escola?
c) A organização do trabalho pedagógico na escola é de responsabilidade só do
professor? Quem mais deve participar e acompanhar?
d) O trabalho como princípio educativo é importante na sua formação docente? Justifique:

3.3 Sistematizando (atividades sobre o conteúdo da disciplina):


Trabalhar fazendo a análise do texto científico: “O trabalho como princípio educativo”
extraído da Proposta Curricular do Curso de Formação Docente (SEED, p. 23-24, item 2.1.1.-PR),
(Anexo A).

Após a análise da reflexão sobre o vídeo, aponte aspectos sobre a importância da


organização do trabalho pedagógico na Formação Docente para a prática educativa em sala de
aula:

3.4 Produzindo (atividades sobre o conteúdo da disciplina):


Ler o trecho do texto “O profissional do futuro“ de Celso Vasconcelos (Anexo B) e
responder ao questionamento:
a) Refletindo sobre o tema em estudo escreva um parágrafo no mínimo 5 (cinco) linhas
sobre a sua compreensão a respeito do trabalho pedagógico do professor do futuro.
b) Que perfil de profissional da educação se abstrai do texto?
4. Recursos Pedagógicos: Quais
Vídeo materiais?
TV pendrive.
Quadro de giz, giz.
Textos diversos.
Computador
Caderno, caneta, lápis, borracha.
5. Avaliação: Como foi a
Considerar a produção escrita do aluno no registro de atividades, aula? (Processo de
no interesse, desempenho e no desenvolvimento das atividades, ensino e processo
observação e análise da participação na discussão do tema proposto e a de aprendizagem)
expressão oral.
Critérios: presença completa, parcial ou ausência de conceitos,
expressão qualitativa verificada nos registros comparação entre as
produções iniciais e as finais tendo como referência o conceito cientifico.
47

6. Referências bibliográficas consultadas:

ANTUNES, Celso. O profissional do futuro. In: A memória como os estudos sobre o


funcionamento da mente nos ajudam a melhorá-la. 4ª ed. Ed. Vozes - Fas. 9. Petrópolis,
RJ: 2005. cap. 6, p. 45-47.
GASPARIN, João Luis. “A Organização do Trabalho Pedagógico no curso de formação de
professores” - Vídeo: Nós da Educação – (20 min). Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=606. Acesso em
08/05/2010.

PARANÁ. Proposta pedagógica curricular do curso de formação de docentes da educação infantil


e anos iniciais do ensino fundamental, em nível médio, na modalidade Normal / Secretaria de
Estado da Educação, Superintendência da Educação. Departamento de Educação Profissional. –
Curitiba: SEED – PR, 2006.

Local: Boa Esperança – PR Data 07/05/2010 Assinatura:

Esse plano de aula elaborado na Metodologia da Mediação Dialética em


Arnoni é uma sugestão para que os professores de acordo com a disciplina de
atuação possam criar outros seguindo os quatro passos do
regatando/registrando, problematizando, sistematizando e produzindo.

ATIVIDADES

1. Após fazer a leitura, a análise e reflexão do texto: “Etapas da prática


educativa: passos da aula”.

a) Destaque de forma sintética as etapas da aula no MMD;


b) Procure refletir sobre as etapas da prática educativa apresentadas
registrando sua opinião sobre a necessidade se pensar o ensino
aprendizagem de forma organizada;
c) Analisando os passos da aula apresentados no texto, é possível
adotar esta metodologia na sua pratica diária. Justifique:

2. Após a reflexão atividades realizadas nesta unidade, fazer uma


pesquisa de um texto ou vídeo sobre a formação do professor, depois reflita,
discuta e registre suas impressões sobre a pesquisa e elabore com seus
colegas algumas ações que possam fortalecer a prática pedagógica no Curso
de Formação Docente;
48

3. Agora tente planejar uma aula no MMD, veja no anexo c “Plano de


aula” na perspectiva dialética em Arnoni. Escolha um conteúdo em sua
disciplina de atuação e bom trabalho.

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. O profissional do futuro. A memória como os estudos
sobre o funcionamento da mente nos ajuda a melhorá-la. 45ª Ed. Vozes faz.
9.Petrópolis, RJ: 2002.

ARNONI, Maria Eliza Brefere; OLIVEIRA, Edilso Moreira de; ALMEIDA


José Luis Vieira de. Mediação dialética na educação escolar: teoria e prática.
São Paulo: Edições Loyola, 2007.

ARNONI, Maria Eliza Brefere. Metodologia da Mediação Dialética: uma


proposição de aula interessante. Disponível em:
http://www.ibilce.unesp.br/departamentos/edu/docentes/arnoni/aula/ArnoniMEB
_Lixo_Aula%20interessante_pdf_26_03_2008.pdf – Acesso em 28/04/2010.

ARNONI, Maria Eliza B. Ensino e Mediação Dialética. Disponível em


http://seer.fclar.unesp.br/index.php/iberoamericana/article/viewFile/437/317,
Acesso em 04/05/2010.

GASPARIN, João Luis. “A Organização do Trabalho Pedagógico no curso de


formação de professores” - Vídeo: Nós da Educação – (20 min) Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=606.
Acesso em 08/05/2010.

NEGRÃO, Sonia Maria Vieira. Ação Docente – Práticas Pedagógicas


Videoconferência Formação de Docentes, (57’) - Superintendência da
Secretaria de Estado da Educação.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vídeo “Lev Vygostky” (44’)”. Biblioteca Audiovisual
"Grandes Educadores". Formação continuada de professores.

PARANÁ. Proposta pedagógica curricular do curso de formação de docentes


da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, em nível médio, na
modalidade Normal / Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da
Educação. Departamento de Educação Profissional. – Curitiba: SEED – PR,
2006.
49

4. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES

4.1 Considerações sobre apresentação dos Planos de aula


elaborados pelos professores

Este material foi elaborado tendo em vista a Formação Inicial e


Continuada dos profissionais da educação do Curso de Formação Docente –
Médio Normal como proposição de repensar a prática pedagógica, a fim de
contribuir para a melhoria do processo de ensino e auxiliar o professor para
enfrentar os desafios e implicações da prática educativa, possibilitando um
despertar para a compreensão da dimensão ético-política e de uma práxis
educativa com uma nova proposição metodológica, para gerar novas
discussões nas relações do fazer pedagógico do professor, contribuindo para
refletir sobre a formação docente.
A Metodologia da Mediação Dialética desenvolvida por Maria Eliza
Brefere Arnoni apresenta de forma clara e prática um caminho para desenvolver
o processo de ensino e de aprendizagem. Nessa perspectiva, a aula é
entendida como uma unidade da educação escolar, em que a tensão gerada
entre o professor e o aluno é a diferença sobre a compreensão da realidade
entre ambos, é o fundamento ontológico da relação pedagógica que deixa de
ser centrada no conhecimento para centrar-se no ser social.
O professor deve ter compreensão do conhecimento da disciplina que
vai ensinar e realizar uma práxis com a intencionalidade de promover a
socialização do conhecimento sistematizado historicamente, o mediato. Assim,
ele tenciona o saber sistematizado por meio da problematização e das
atividades com a experiência imediata do aluno, que elabora sínteses
superando o saber cotidiano fragmentado e assim ajuda-o a transpor o saber
inicial, levando-o ao conhecimento científico.
Com o estudo da fundamentação teórica, das atividades, dos vídeos,
dos textos complementares, debates e da reflexão do material didático os
professores irão elaborar planos de aulas em sua disciplina de atuação para
desenvolver e aplicar esta nova metodologia junto aos seus alunos em sala de
aula na escola, a fim de avaliar sua aplicabilidade.
50

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, de Maria Izabel. Docentes para uma educação de qualidade: uma


questão de desenvolvimento profissional”. n. 24, p. 165-176, Editora UFPR.
Curitiba: 2004. Disponível em:
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/viewFile/2213/1856, - Acesso
em 05/04/2010.

ANTUNES, Celso. A memória como os estudos sobre o funcionamento da


mente nos ajuda a melhorá-la. 45ª Ed. Vozes faz. 9.Petrópolis, RJ: 2002.

ARNONI, Maria Eliza Brefere; OLIVEIRA, Edilso Moreira de; ALMEIDA José
Luis Vieira de. Mediação dialética na educação escolar: teoria e prática. São
Paulo: Edições Loyola, 2007.

ARNONI, Maria Eliza Brefere. Metodologia da Mediação Dialética: uma


proposição de aula interessante. Disponível em:
http://www.ibilce.unesp.br/departamentos/edu/docentes/arnoni/aula/ArnoniMEB
_Lixo_Aula%20interessante_pdf_26_03_2008.pdf – Acesso em 28/04/2010.

ARNONI, Maria Eliza B. Ensino e Mediação Dialética. Disponível em


http://seer.fclar.unesp.br/index.php/iberoamericana/article/viewFile/437/317,
Acesso em 04/05/2010.

BARBOSA, Raquel Lazzari Leite. Formação de educadores: desafios e


perspectivas. (Organizadora). São Paulo: Editora UNESP, 2003.

BRZEZINSKI, Iria (org); SEVERINO, Antonio Joaquim e outros. LDB


Interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 1997.

CFC (Coordenação de Formação Continuada) - Formação continuada dos


profissionais da educação – compromisso com a qualidade de ensino.
Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/cfc/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4
– Acesso em 16/10/2009.

CRIANÇAS DO MILÊNIO – Documentário- BBC de Londres. GNT-Brasil. DVD,


(60MIN).

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3ª


ed. rev. – Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

GASPARIN, João Luis. “A Organização do Trabalho Pedagógico no curso de


formação de professores” - Vídeo: Nós da Educação – (20 min) Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=606.
Acesso em 08/05/2010.
51

GASPARIN, João Luis. ”Ensino aprendizagem da Organização do trabalho


pedagógico. - Vídeo: Nós da Educação, 1 DVD (20min). Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=608
Acesso em 17/05/2010.

GATTI, Bernadete. ”Formação de Professores - Oito desafios da Formação de


Professores” - parte 1 “Enfatizar o sentido sócio cultural dos
conhecimentos” ”,( 5 min) e parte 2 “Criar uma carreira atrativa”, (6 min).
24 set. 2008. Disponível em: http://www.google.com.br/search?hl=pt-
BR&source=hp&q=Forma%C3%A7%C3%A3o+de+PROFESSORES-
+bERNADETE+GATTI&rlz=1W1GGLL_pt-BR&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=
Acesso em 17/05/2010.

GEORGEN, Pedro; SAVIANI, Dermeval. Formação de professores: a


experiência internacional sob o olhar brasileiro. 2 ed. Campinas, S P: Autores
associados; São Paulo:Nupes, 2000.

KONDER, Leandro. O Futuro da Filosofia da Práxis: O Pensamento de


Marx no Século XXI. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

NEGRÃO, Sonia Maria Vieira. Ação Docente – Práticas Pedagógicas


Videoconferência Formação de Docentes, (57’) -Superintendência da
Secretaria de Estado da Educação.

NUNES, Rodinei. Vídeo “Águia” — 11 de janeiro de 2008 — 04m42s. Filme


motivacional. Edição - Produção Final de Sorocaba-SP. Locução de Márcio
Corrêa. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PlX5YjGwEcM –
Acesso 05/04/2010.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vídeo “Lev Vygostky”, (44’). Biblioteca Audiovisual
"Grandes Educadores". Formação continuada de professores.

PARANÁ. Proposta Pedagógica Curricular do Curso de formação da educação


infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental em nível médio, na
modalidade normal / Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de
Educação. Departamento de Educação Profissional. – Curitiba: SEED – PR,
2006.

PEREIRA, Maria de Fátima Rodrigues; PEIXOTO, Elza Margarida de


Mendonça. “Política de Formação de Professores: desafios no contexto da
crise atual” Revista HISTEDBR On-line Artigo Revista HISTEDBR On-line,
Campinas, n. Especial, p.216-224, mai. 2009 - ISSN: 1676-2584. Disponível
em:
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/33esp/art13_33esp.pdf
Acesso em 26/03/2010.

PIMENTA, Selma Garrido. O Estágio na Formação de Professores: Unidade


Teoria e Prática? 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.
52

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura


da vara, onze teses sobre a educação e política. ed. 22. São Paulo:
Ed.Cortez Autores Associados, 1989.

__________ Pedagogia Histórico Crítica: primeiras aproximações. Coleção


Educação Contemporânea. 8ª ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados,
2003.

SEED - Acessoria de Formação dos professores - Dia a dia da educação – O


que é o PDE. Disponível em:
http://www.pde.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2 Acesso
em 14/10/2009.

______ Lei Complementar Nº. 103 - 15/03/2004 - Publicada no Diário Oficial


Nº. 6687 de 15/03/2004 – Plano de Carreira do Professor da Rede Estadual de
Educação Básica do Paraná. Disponível em:
http://celepar7cta.pr.gov.br/SEEG/sumulas.nsf/72f6421141cdce2603256c2f007
a9922/0136dea4d1af589c03256e98006e2e8b?OpenDocument – Acesso em
15/102009.

VIEIRA, E. Democracia e política social. São Paulo: Cortez,1992.

VIEIRA PINTO, A. Ciência e existência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.


53

ANEXOS
54

Anexo A – Texto para o item 3.3

SISTEMATIZANDO
O trabalho como princípio educativo

A proposta de currículo do Curso Normal, em nível médio, está calcada


numa visão educacional em que o trabalho é o eixo do processo educativo,
porque é através dele que o homem, ao modificar a natureza, também se
modifica numa perspectiva que incorpora a própria história da formação
humana. Portanto o trabalho deve ser o centro da formação humana em todo o
ensino médio e não apenas naquele que tem o objetivo profissionalizante. Ter
o trabalho como princípio educativo implica compreender a natureza da relação
que os homens estabelecem como meio natural e social, bem como as
relações sociais em suas tessituras institucionais, as quais desenham o que
chamamos de sociedade. Assim, a educação é também uma manifestação
histórica do estar e do fazer no humano que fundamentam o processo de
socialização.
Como bem nos ensina Gramsci, os fundamentos científicos da
compreensão e da produção social do saber e dos modos de produzir a vida
precisam ser explicitados num projeto de educação emancipatória. A educação
estabelece as bases científicas do trabalho humano num processo de
socialização que liberta os homens do reino da necessidade para inaugurar o
reino da liberdade. Isso só será possível se conseguirmos compreender o ato
de estudar, de aprender e de ensinar como um trabalho condicionado pelo
modo de produzir a vida no contexto do capitalismo, mas que não poderá se
encerrar na reprodução desse sistema social, apontando para um devir, um
futuro que todos teremos que fazer nascer.
Nesse sentido, o Ensino Médio tem um papel fundamental de lapidar a
formação inicial (do Ensino Fundamental), apontando as possibilidades de
aprofundamento que os jovens poderão escolher ao longo de sua
escolarização. Se pensarmos nos três eixos que tradicionalmente constituem
as trajetórias de formação: o científico, o de profissões e o cultural poderemos
organizar este nível de ensino apontando possibilidades que os unifiquem por
não serem excludentes no espaço/tempo da escolarização, mas que poderão
55

ser escolhidos como forma de dedicação mais especializada, que os jovens


poderão seguir futuramente. Ou seja, poderão já no Ensino Médio vislumbrar
uma dedicação maior à compreensão das ciências de base, a uma profissão
como uma forma de conceber a ciência não desvinculada da técnica e da
tecnologia e a algumas formas de arte.
No caso do Normal, considerando que encaminhamos os jovens para a
profissão de educador, propomos um currículo que possa formá-los
solidamente nos fundamentos das diferentes ciências e artes, especialmente
nas ciências da educação.
O currículo não deve ser dicotômico, pois, o “fazer e saber sobre o fazer”
deverão ser elementos integrados ao processo de formação dos alunos. Os
saberes disciplinares não poderão ser independentes dos saberes
profissionais. Ao ensinar química, biologia, matemática, português ou outra
disciplina, os docentes deverão ter presente o compromisso com aqueles
conhecimentos, no sentido de que eles serão ensinados pelos futuros
professores das crianças de 0 a 10 anos de idade. Os alunos por sua vez,
deverão estar comprometidos com o processo o de aprendizagem porque
estão se preparando para um trabalho com características especiais – a
educação de crianças.
O professor, como todo ser social, é portador de história, carrega uma
gama de sentidos e significados sociais que configuram toda sua atividade de
aprender e ensinar. Todo ser que trabalha necessita se reconhecer no que
resulta do processo criador. É um intelectual que transforma atos e objetos no
processo do trabalho de formar, ensinar, aprender e produzir conhecimentos.
Dessa forma, em qualquer proposta de formação de professores, seja inicial ou
continuada, a compreensão do objeto e do produto do trabalho do professor
precisa ser delineada. O objeto e o trabalho do professor não são coisas, são
pessoas (alunos), e o outro, é seu semelhante, e não um objeto sobre o qual o
professor plasma sua subjetividade, mas trata-se, sobretudo de outro ser
humano. Por sua vez, os meios de trabalho também são diferençados: o meio
de trabalho é o próprio professor e a relação social, num processo de trabalho
complexo e diferente do processo de produção material, porque se inicia e se
completa em uma relação estritamente social, permeada e carregada de
história, de afeto e de contradições, características próprias das relações entre
56

os seres humanos. Nesse sentido, o conhecimento escolar é o núcleo


fundamental da práxis pedagógica do professor e neste contexto histórico e
social que as possibilidades de exercer seu papel emancipador se explicitam,
contribuindo para o processo de transformação social.
Dessa forma, propõe-se a composição curricular articulada aos saberes
disciplinares e específicos do “saber fazer” da profissão do professor. Isto
significa dizer que o núcleo fundamental da formação do professor pressupõe
por um lado o domínio dos conteúdos que serão objeto do processo ensino-
aprendizagem e, por outro, o domínio das formas através das quais se realiza
este processo.
Nessa linha de considerações, o trabalho como princípio educativo no
trabalho do professor toma forma na medida em que se constitui como
elemento basilar da sua práxis. Trabalho este aqui entendido como a forma
pela qual se dá a produção do conhecimento no interior da escola (PCP, SEED
– PR, 2006, p. 23-25).
57

ANEXO B - Texto para o item 3.4

PROBLEMATIZANDO

O profissional do futuro
Celso Antunes 13.12.2000

Imagine um automóvel deslocando-se por uma estrada de terra, em


noite escura. Seus faróis apontam para o trecho ainda não transitado; ilumina o
desconhecido. Não importa muito os buracos que as rodas atravessam. Estes,
vistos instantes atrás, simbolizam o passado. O que agora importa não é mais
a escuridão, já examinada instantes atrás, mas o ponto brilhante alcançado
pelos limites dos faróis.
Esta singela metáfora parece-nos ajustar-se a educação. O que agora
estamos fazendo foi ontem programado; o que se pretende não é apenas onde
o aluno se encontra, mas o ponto que esperamos brilhante, para onde será
levado. Claro que nos preocupamos como agora, sem dúvida é fundamental a
alegria e crescimento, importa e muito, construir-se pelos caminhos da
transformação, mas essencial é o amanhã, o fecho do processo, o ponto que,
agora iluminado, representará o futuro que buscamos construir.
Como adivinhá-lo?
Não parece necessário exercício qualquer de futurologia. Menos ainda
buscar adivinhações esotéricas. O futuro do profissional que agora estamos
construindo tem claramente delineado as habilidades que necessitará as
inteligências que colocará em ação, as práticas essenciais, as circunstâncias
inevitáveis.
E essas quais seriam?
Em primeiro lugar, até como alicerce para os passos mais ousados,
necessário espírito de iniciativa. Iniciativa que, confundindo-se com a
criatividade, fará deste profissional um decifrador de códigos em um
especialista em resolver problemas. Ao lado desta qualidade, outra não menos
primordial é a sensibilidade no uso de habilidades operatórias, tais como e
entre outras a análise, crítica interpretação, síntese, intuição, descrição e
dedução. Não poderia também ficar atrás a capacidade de trabalhar em
58

equipe, sabendo com argúcia e tirocínio o juntar os bons e principalmente,


juntar-se aos bons. É indispensável que seja no sentido lato do termo – um
verdadeiro administrador. Administrador do seu tempo, de suas metas, de suas
emoções, mas também do meio ambiente e da preservação, de seus sonhos e
suas iniciativas; é essencial que possa ver bem mais que simplesmente olhar e
assim possuir perspicácia para o todo, reverência para o conjunto. É importante
que explore em seus mais extremos limites sua competência inter-pessoal,
aprendendo a cuidar dos outros, torcer pelos amigos, apaixonar-se pela
solidariedade. Se a isso tudo aprendera comunicar-se com clareza, usando
suas múltiplas linguagens, certamente será uma pessoa democrática, uma
criatura profissionalmente em qualquer contexto imprescindível.
Sua escola está trabalhando para dar contorno de realidade ao ponto
iluminado pelos faróis? Em quais momentos da matemática e da geografia, da
língua portuguesa ou das ciências existe essa exploração? O currículo
proposto trabalha estes itens em seus objetivos e no pragmatismo do dia-a-
dia? A filosofia da escola está ajustada a buscar a verdade pela ciência, a
beleza na arte e a bondade na Justiça e na ética? Planejamento pedagógico
mostra no ponto iluminado do futuro as estratégias e os cronogramas de sua
construção?
Se a resposta é sim, parabéns. Contemple o milênio com confiança dos
que lavram a terra. Se resposta é ainda não, é imprescindível acordar. Como
lembra o poeta americano Auden: “se queremos viver é melhor tentar
imediatamente; senão queremos, é melhor começar a morrer” (ANTUNES, p.
45-47).
59

ANEXO C - Ficha modelo

Plano de Aula na Metodologia da Mediação Dialética

A – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome:

Escola: Nível de Ensino: Série: Duração:

B – DADOS PEDAGÓGICOS
Curso:
Disciplina:
Conteúdo da Ciência de Referência:

1, Objetivos: Por que


ensinar?

2. Tópicos do conteúdo de ensino O que


ensinar?

3. Metodologia de Ensino (procedimentos) Como


ensinar?
3.1 Resgatando:

3.2 Problematizando (atividades sobre o conteúdo da disciplina):

3.3 Sistematizando (atividades sobre o conteúdo da disciplina):

3.4 Produzindo (atividades sobre o conteúdo da disciplina):

4. Recursos Pedagógicos: Quais


materiais?
5. Avaliação: Como foi a
aula? (Processo de
ensino e processo
de aprendizagem)
6. Referências bibliográficas consultadas:

Local: Data: Assinatura:

Você também pode gostar