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CRÔNICA

A LEALDADE DAS MULHERES


Basta olhar as fitas das visitas nos presídios para saber que a lealdade não é qualidade
masculina.
Contardo Calligaris

Na tarde de quinta-feira passada, estive no Presídio Feminino do Butantã, situado na rodovia Raposo
Tavares, longe do bairro paulistano do Butantã.

Aconteceu assim: antes do fim de ano, Wagner Paulo da Silva, que eu não conhecia, me escreveu
explicando que ele organizava um grupo de leitura regular para detentas desse presídio. O grupo (mais
ou menos 25 mulheres) tinha discutido uma de minhas colunas; quem sabe eu me dispusesse a
proporcionar um “encontro com o autor”?

Soube depois que Wagner da Silva e Durvalino Peco animam há anos esse grupo de leitura para
detentas do presídio do Butantã e, agora, com o apoio do Estado de São Paulo, estendem o programa a
26 penitenciárias da região metropolitana (para isso, eles promovem, na Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo, um curso gratuito de formação de mediadores -as inscrições já
estão encerradas, mas vale a pena conferir: www.fespsp. org.br/leiturativa/).

Enfim, voltando das férias, liberei uma tarde para aceitar o convite e encontrar minhas leitoras.
Ficamos conversando mais ou menos duas horas, e saí de lá com algumas reflexões. Eis uma delas.

A prisão, para as mulheres, é uma punição mais severa do que para os homens, e a causa dessa
diferença é um atributo feminino.

Claro, há homens leais e mulheres desleais, mas, em regra, a lealdade é uma qualidade mais feminina
do que masculina. Não estou pensando na fidelidade amorosa e sexual - nesse campo, homens e
mulheres são capazes das mesmas “traições”. Penso numa lealdade mais fundamental, que uma
comparação vai explicar facilmente.

Em dia de visita numa penitenciária masculina, a fila de mulheres (esposas, mães, filhas, irmãs) é
longa: facilmente, é mais de uma visita feminina por cada preso.
Em dia de visita numa penitenciária feminina, a fila é curta e, em sua grande maioria, composta pelas
mães das detentas; os homens aparecem num número irrisório. Sei lá, por 700 mulheres no presídio,
uma dúzia de gatos pingados visitando. Os homens se esquecem de suas companheiras assim que as
portas do presídio se fecham sobre elas. Abandonada pelo companheiro ou marido, a mulher (outra
prova de lealdade) prefere duvidar de si: será que o marido nunca comparece porque ela não é, nunca
foi, a mulher que ele queria?

A deslealdade masculina aparece também quando os homens são presos; eles são bem felizes de
receber a visita das mulheres que voltam a cada semana, lealmente, anos a fio, mas, com frequência, se
esquecem dos filhos que deixaram fora do presídio.

As mulheres presas, ao contrário, só pensam nas crianças que estão lá fora (em geral, com a avó; quase
nunca com o pai). E, de novo, a lealdade com as crianças as leva a duvidarem de si mesmas: no dia em
que sairão do presídio, os filhos não as reconhecerão, ou então, de qualquer forma, eles já gostam de
avós, vizinhas, tutores e tutoras mais do que delas - e por aí vai.

Facilmente, as mães detentas vivem o afastamento das crianças não como consequência da punição
pelos crimes que elas cometeram, mas, bem mais sofrido, como punição por elas não “merecerem” ser
mães - como se os filhos estivessem longe porque elas não souberam e não saberiam ser mães.

As mulheres, qualquer criminologista sabe, agem criminosamente por razões diversas das dos homens.
Em regra, matam por paixão amorosa; quando traficam ou assaltam é, frequentemente, para
acompanhar o parceiro. Com isso, a prisão feminina é uma espécie de pena do talião: crimes
cometidos por amor são punidos pelo sumiço dos homens amados e pelo medo da perda do amor das
crianças.

Na época em que trabalhei em instituições psiquiátricas fechadas, quando o expediente terminava e


estava na hora de ir embora, no fim do dia, eu era acometido por uma tristeza profunda. Acabava de
compartilhar um bom tempo com os que estavam lá internados, e eis que, agora, eu ia embora, para
uma casa, uma companhia, o convívio dos amigos. E eles, não; eles ficavam. A tristeza era uma
espécie de culpa por abandoná-los no que era, de fato, uma desolação. Pois bem, ao sair da
penitenciária do Butantã, não senti nada disso, pois não havia desolação. Não teria como fazer elogio
maior à direção do presídio, à equipe que lá trabalha e as detentas que encontrei, pela resiliência de sua
vontade de viver.
(Folha de São Paulo: 19/02/2010.)
Fonte: http://www.substantivoplural.com.br/a-lealdade-das-mulheres/ Acesso: 14/11/2016.

1. Na crônica do psicanalista Contardo Calligaris, a partir de uma distinção dos conceitos de fidelidade
(monogamia amorosa e sexual) e lealdade (comprometimento com o outro), o autor chega à conclusão
que, em geral,
a) as mulheres são mais fieis do que os homens.
b) as mulheres são mais leais do que os homens.
c) as mulheres não são capazes de trair.
d) os homens são mais fieis do que as mulheres.
e) os homens são mais leais do que as mulheres.
2. Leia a tira a seguir, de Dik Browne, para responder à questão.

O efeito humorístico produzido na tira consiste na irritação de Helga, esposa do personagem Hagar (à
esquerda). De acordo com o contexto, qual foi o provável motivo?
A pergunta do segundo quadrinho. O amigo de Hagar não entendeu que o brinde se referia aos anos
em que o casal está junto, e sugere a uma suposta relação amorosa de Hagar antes do casamento.

3. Leia a tira a seguir para responder à questão.

Há um tom de crítica na tira, se torna evidente em qual dos quadrinhos e por quê?
No último quadrinho na fala da mulher. A crítica é que a comemoração do homem pelo aumento
salarial vai durar pouco, devido os aumentos das contas não vai sobrar “grana no bolso”, causa da
alegria dele.
4. Leia os quadrinhos reproduzidos a seguir para responder à questão.

A julgar pelo contexto humorístico, nos quadrinhos do cartunista argentino Nik, as palavras
deferência, diferença e indiferença significam respectivamente:
a) delicadeza, desavença e desprezo.
b) desinteresse, discórdia e desconsideração.
c) respeito, tranquilidade e seriedade.
d) todas as alternativas estão corretas.

5. Leia as propagandas abaixo para responder à questão.

É um dos recursos mais importantes da publicidade, pois em poucas palavras ele tem o objetivo de
expressar a história, a filosofia, o conceito de determinada empresa, marca, serviço ou produto. Em
alguns casos apelam até pela rima para facilitar a memorização. Dos exemplos acima, essas frases
curtas de “não te abandona”, “porque se sujar faz bem” e “Sua saúde é um big bem” são chamadas:
a) logotipo. b) símbolo.
c) slogan. d) manchete.

6. Leia a tira a seguir. Observe como o garoto se deixa levar pelo noticiário e de que modo o
personagem se comporta diante da situação.
O objetivo principal desse texto é
a) informar sobre a vida dos elefantes.
b) conscientizar sobre a importância da água para nossa sobrevivência no planeta.
c) instruir sobre o modo adequado de beber água potável.
d) provocar humor mediante a crítica do modo de agir do menino.

7. Com base nos dados do gráfico, verifica-se que a causa principal das internações de jovens
infratores é
a) roubo.
b) furto.
c) drogas.
d) estupro.

8. (Fuvest) Observe a charge para responder à questão:


A crítica contida na charge visa, principalmente, ao:
a) ato de reivindicar a posse de um bem, o qual, no entanto, já pertence ao Brasil.
b) desejo obsessivo de conservação da natureza brasileira.
c) lançamento da campanha de preservação da floresta amazônica.
d) uso de slogan semelhante ao da campanha “O petróleo é nosso”.
e) descompasso entre a reivindicação de posse e o tratamento dado à floresta.

9. (ENEM 2008-adaptada) Leia o gráfico para responder à questão.


A VIDA NA RUA COMO ELA É

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) realizou, em parceria com a


ONU, uma pesquisa nacional sobre a população que vive na rua, tendo sido ouvidas 31.922 pessoas
em 71 cidades brasileiras. Nesse levantamento constatou-se que a maioria dos moradores de rua
a) nunca estudaram e a maior causa é o desemprego.
b) ingressaram no nível superior e o principal motivo são problemas familiares.
c) frequentaram o ensino fundamental, mas se envolveram no mundo das drogas e do
alcoolismo.
d) estudaram o ensino médio, no entanto, se envolveram em decepção amorosa.

10. (ENEM 2010) Leia a tira para responder à questão.


(SOUZA, Maurício de. Chico Bento. Rio de Janeiro: Ed. Globo, no 335, Nov./99)
Nessa historinha, o efeito humorístico origina-se de uma situação criada pela fala da Rosinha no
primeiro quadrinho, que é:
(A) Faz uma pose bonita!
(B) Quer tirar um retrato?
(C) Sua barriga está aparecendo!
(D) Olha o passarinho!
(E) Cuidado com o flash!

(Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/fotos/0,,OI76888-EI12879,00-O+celular+faz+25anos.html.
18/10/2008).
QUESTÃO 11 Leia o texto para responder à questão.
CAPITÃO AMÉRICA NEGRO

[...] Falcão (o herói e não o cantor) assumirá a identidade de Capitão América, se tornando assim o
primeiro negro a viver o Capitão. A mudança ocorrerá após a aposentadoria de Steve Rogers que
descobre que uma injeção de “Soro para supersoldados” o fez perder sua força e agilidade. Assim ele
passará seu escudo para o fiel companheiro. Capitão América surgiu nos anos 40 como um herói
patriota que lutava contra os Nazistas. O retorno do personagem ocorreu em 1960 e desde então ele é
um ícone dos quadrinhos. Já Falcão, criado por Stan Lee e Gene Colan teve sua primeira aparição em
1960 na edição Captain America Vol. 1 #117 e foi o primeiro herói negro da Marvel.
(http://br.cinema.yahoo.com/ Acesso em: 01/08/2014 às 11:11)
De acordo com a matéria, o primeiro herói negro da Marvel foi:
a) Steve Rogers
b) Stan Lee
c) Capitão América
d) Falcão
QUESTÃO 12
MULHER-MORCEGO LÉSBICA

[...] Em 2006, na edição 52 da Detective Comics, foi revelado que a Mulher-Morcego era lésbica.
Após o anúncio de que Kate Kane, a Batwoman, se casaria com a policial Maggie Sawyer, uma
decisão editorial vetou o evento, o que ocasionou no desligamento dos roteiristas J.H. Williams e W.
Haden Blackman que afirmaram divergências criativas com a DC após esse e outros vetos da editora.
(http://br.cinema.yahoo.com/ Acesso em: 01/08/2014 às 11:11)
a) De acordo com a notícia, qual a justificativa para a demissão dos dois roteiristas da DC Comics?
Uma decisão editorial que vetou o evento de um casamento lésbico, e divergências criativas dos
roteiristas com a DC.

b) Segundo sua opinião, qual foi o motivo principal para o desligamento dos envolvidos? Você
concorda? Elabore argumentos a favor ou contra os roteiristas.
A criação de um roteiro de um relacionamento lésbico entre a protagonista e uma policial, e anúncio
de um eventual casamento entre as duas, o qual foi vetado pelos editores.

A MORTE DO HOMEM-ARANHA

[...] Em 2011 a Marvel revelou que o herói morreria durante uma batalha, na versão Ultimate de seus
quadrinhos. Apesar de não ter afetado outras séries, como a “Amazing Spider-Man”, a morte de Peter
Park deixou muitos fãs lacrimejando.
(http://br.cinema.yahoo.com/ Acesso em: 01/08/2014 às 11:11)
Esse texto tem como principal objetivo
a) informar um fato.
b) ironizar uma situação.
c) anunciar um produto.
d) refletir sobre a vida.

14. Observe que ao relacionar as propagandas abaixo, é possível notar traços comuns.

Para identificar o texto publicitário, geralmente as empresas ou instituições estão ligadas ao emprego
de recursos de linguagem. Associe a coluna da direita aos seus respectivos conceitos (coluna da
esquerda).
I - símbolo ( ) palavra representativa da marca ou grupo de letras que forma a sigla.
II - logotipo/logomarca ( ) frase curta sempre associada a um produto ou a uma empresa.
III - slogan ( ) imagem ou elemento gráfico que identifica a marca.
Assinale a alternativa que indica a sequência CORRETA de cima para baixo.
A ( ) III – I – II
B ( ) II – III – I
C ( ) I – II – III
D ( ) III – II – I

15. Analise os textos abaixo.

No cartum de Caulos, vemos uma representação do que parece serem as pistas de uma estrada
semelhante ao anúncio ao lado. Da direita para esquerda, na última pista, aparece um símbolo (caveira
com ossos cruzados) o qual sugere:
a) ser uma faixa exclusiva para piratas.
b) ser uma faixa exclusiva para transporte funerário.
c) representar uma faixa para travessia de pedestres.
d) chamar atenção para a relação entre alta velocidade e acidentes fatais.

16. Leia o texto a seguir e, depois, releia a frase em destaque.


TEXTO
Duas amigas conversam ao telefone. Uma terceira amiga, Mariana, se aproxima e ouve parte da
conversa:
-Minha irmã, Raquel, ficou internada no hospital.
No fim de semana, Mariana se encontra com a amiga da qual ouvira a frase e pergunta:
-Sua irmã Raquel já saiu do hospital?
A amida responde:
-Não tenho irmã chamada Raquel...
(MAGALHÃES, Tereza Cochar; CEREJA, W.R. Gramática: texto, reflexão e uso. 4ª ed. São Paulo: Atual. p. 347.)
Dependendo da situação e da entonação com a qual a frase em destaque for pronunciada, ela pode ter
dois sentidos, um excluindo o outro.
a) Quais são esses sentidos?
Com o emprego da vírgula, há uma entonação na fala e o sentido é de vocativo “Minha irmã”,
significando “amiga”, e Raquel é o aposto explicativo. Fofoca entre amigas pelo celular informando
que uma conhecida delas está hospitalizada.
O outro sentido, sem a interrupção da vírgula entre irmã e Raquel, resulta em um aposto
especificador, nesse caso, informa o fato de que sua irmã Raquel está internada no hospital.
b) Com que sentido Mariana entendeu a frase?
Ela entendeu errado, não notou a entonação da frase e entendeu que Raquel era irmã da
emissora da mensagem.

17. O autor Nani usou, nas situações abaixo, as linguagens verbal e não-verbal. Observe e identifique
o efeito humorístico produzido pela associação entre os desenhos e as falas dos personagens.

18. Interprete o gráfico à seguir para responder à questão.

De acordo com os dados do gráfico, o período com o maior índice de acidentes de trânsito foi:
a) 2008/2009.
b) 2009/2010.
c) 2010/2011.
d) 2011/2012.

19. Leia o texto a seguir.


A CADA ANO, CERCA DE 2.000 CRIANÇAS APOSENTAM SEUS BRINQUEDOS.

Todos os dias, no Brasil, mais de cinco crianças morrem em acidentes de trânsito. Seja consciente, não
interrompa a história de quem ainda tem uma vida inteira pela frente.
(Disponível em: http://www.paradapelavida.com.br. Acesso em: 23/11/2016.)
Tendo em vista o contexto, o recurso expressivo predominante empregado no trecho “[...] crianças
aposentam seus brinquedos”, é
a) a ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
b) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
c) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas = brinquedos, atribuindo-lhes vida.
d) o eufemismo, que consiste em suavizar uma expressão desagradável, no caso, o infanticídio.

20. Leia o cartaz e interprete as imagens para responder às perguntas abaixo.

O número de acidentes
dispara durante o Natal e o
Ano Novo. Não dê este
presente para sua família.
Se beber, não dirija.

http://www.paradapelavida.com.br. Dez. 2012.


O cartaz se reporta a dois tipos de “tradição de fim de ano”, valendo-se dos recursos de linguagem
verbal e não verbal.
a) Explique quais são esses dois tipos de tradição, identificando elementos do cartaz para justificar
seus argumentos.

b) Qual delas o texto sugere “Vamos acabar com essa tradição de fim de ano”?
21. (UFMG-2006) Leia este trecho:
A DOCE VIDA DOS FILHOS-CANGURUS
Nos anos mais efervescentes das décadas de 1960 e 1970, a palavra de ordem da juventude era
pôr o pé na estrada. Isso significava romper com os valores estabelecidos da sociedade, entre eles a
família, e ir em busca de seus sonhos, mesmo quando estes não eram muito claros. Visto hoje, parece
compreensível. Além de um mundo que pedia reformas, havia um imenso abismo entre esses jovens e
a geração de seus pais. Sair de casa acabou virando sinônimo de liberdade. Mesmo que para isso
tivessem que trocar o conforto familiar por uma espécie de república de estudantes ou compartilhar
um apartamento com vários amigos. Os mais psicodélicos integravam-se em comunidades hippies ou
adaptavam-se ao espaço de uma barraca de acampamento. No final dos anos 1970, essa prática já
estava naturalmente incorporada à ideia de independência e realização pessoal.
O tempo passou e os filhos daquelas gerações rebeldes comportam-se hoje de forma
diametralmente oposta. Ao contrário de seus pais, os jovens atuais não têm mais tanta pressa em sair
de casa. A maioria, aliás, nem pensa no assunto. São os representantes da chamada geração-canguru,
que resistem a abandonar a comodidade da casa paterna do mesmo modo que o filhote marsupial se
agarra à bolsa protetora da mãe. Alguns, mais folgados, não arredam da barra da saia nem mesmo
depois que se casam e têm filhos. Com isso, um novo fenômeno surgiu: o prolongamento da
adolescência.
LOPES, C.F. Galileu, São Paulo, n. 95, jun. 1999. p.47-48. (Texto adaptado)

Com base no seu próprio ponto de vista, REDIJA um texto dissertativo, analisando uma
consequência do comportamento de indivíduos que vivem o fenômeno atual do prolongamento da
adolescência.

MODELO DE RESPOSTA
Amadurecimento tardio
A postura do jovem brasileiro tem sofrido diversas alterações na última década, até o inicio desse
milênio os adolescentes eram mais independentes, se afastavam da família com mais segurança e
menos medo. Hoje o conforto momentâneo é o principal fator para decisões que mudam toda a vida.
Hoje a escolha da universidade, não se baseia mais na qualidade de ensino, e sim, na distancia de
casa ou no conforto que a cidade sede pode fornecer. Os jovens estão adiando responsabilidade ao
máximo, não querem resolver seus problemas e muitas vezes preferem ignorá-los para não ter que
enfrentar.
O adolescente não está atrasando apenas a saída de casa, adia também o primeiro emprego,
primeiro estagio e por vezes até o casamento. Os adolescentes dizem estar em busca de uma vida
estável, procurando casar apenas após conquistá-la, mas eles não fazem por onde.
Se as pessoas estão cada dia mais despreocupadas e folgadas, a culpa não é unicamente da
tecnologia, com a qual as crianças crescem acostumadas com a facilidade. Esta culpa também é dos
pais que por terem tido vidas difíceis querem dar o melhor para os filhos, esquecendo de ensinar o
fundamental: Os pais não são eternos e nem todas as pessoas que conhecerem farão por eles o mesmo
que os pais fazem.
A única solução para este problema seria os pais começarem a cobrar menos de si e mais das
crianças, deixando elas resolverem seus problemas sozinhas, desde novas, apenas auxiliando quando
necessário, mas deixando elas pensarem e agirem sozinhas, na medida do possível!

BELAS & TRAÍDAS


Ricas, belas, famosas e... traídas. Este seria o título correto desta crônica, não fosse ele longo.
Mais correto ainda, já que mais abrangente, seria acrescentar a palavra “infelizes” antes do ponto-
final, considerando-se que, nas relações de amor, toda e qualquer deslealdade produz infelicidade.
Mas enfim, de uma maneira ou de outra, vale lembrar que a felicidade não anda de mãos dadas
com a beleza, o dinheiro e a fama. Uma celebridade não é obrigatoriamente feliz, como podem pensar
algumas jovens sonhadoras, principalmente quando se projetam, carregadas de ilusão, na vida das
atrizes de televisão e das modelos que desfilam nas passarelas do mundo. Quase sempre os holofotes
em cima de uma mulher, ao mesmo tempo em que a iluminam para os outros, a obscurecem para ela
mesma, fazendo com que perca sintonia com a vida real.
Acaba de ir para as livrarias um livro muito interessante e de leitura saborosa: Divas
abandonadas, da jornalista Teté Ribeiro. Para quem não sabe, até porque o termo já não é de uso
corrente, divas é o nome que se dá às atrizes e cantoras excepcionais, principalmente as de ópera, além
de poder também ser traduzido por deusas. Em nosso país, por exemplo, diva é uma Fernanda
Montenegro, uma Marília Pêra, uma Tônia Carrero, uma Marieta Severo, mas também podemos
denominar como tal uma escritora como Lygia Fagundes Telles, como o foram Clarice Lispector,
Cecília Meireles e Hilda Hilst, entre outras. Pois Teté Ribeiro lista sete estrelas que se enquadram no
título e no tema desta crônica. São elas: princesa Diana, Jacqueline Kennedy Onassis, as cantoras
Maria Callas e Tina Turner, a poeta Sylvia Plath e as atrizes Ingrid Bergman e Marilyn Monroe, esta
última a campeã em todas as modalidades na perigosa arte de viver: bela, rica, famosa, traída e...
infelicíssima!
(...)
No livro A arte de amar, do escritor paulista Júlio César da Silva, a mulher aparece como
predestinada a ser traída. É uma fatalidade, afirmava ele, machista como todos os poetas do começo do
século XX. No livro, definido como obra-prima por Monteiro Lobato, podem-se ler estes dois versos
bastante elucidativos:
Se ele te engana, perdoa, e não lhe digas nada!
Da mulher o destino é ser sempre enganada.
Incrível, não acham? Pois é, mas mesmo nos dias de hoje, quase 100 anos depois de esses versos
serem escritos, encontraremos quem com eles concorde. Machistas existem desde a criação do mundo,
e progresso algum há de acabar com eles. E o poeta, sem esconder o orgulho de ser homem, ainda
afirma mais adiante:
A despeito de tudo, ele te engana e mente, que a um homem não lhe basta uma mulher somente!
Posso imaginar a indignação das leitoras diante dessas duas estúpidas afirmações. Mas entre os
leitores alguns certamente dirão: “E nós, homens, também não somos vítimas de traição, mesmo
quando ricos, belos e famosos? Quando alguém vai escrever um livro contando as agruras pelas quais
passam as celebridades masculinas?”. Está aí uma sugestão para a mesma Teté Ribeiro, que fez esse
livro imperdível.
CARLOS, Manoel. Veja Rio: Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2007.

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