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Aula 3

Como construir orações adequadas.

Não adianta escrever para alguém, se ninguém lê o que você


escreve. Seu texto pode ser denso, sem ser enfadonho. As
pessoas devem ter prazer em ler seus textos, devem procurar pelo
que você escreve.
Orientações gerais:

1. Escolha do tema;
2. Escolha do título;
3. Capacidade descritiva;
4. Jogo de palavras (contrastes);
5. Humor.
Tati Bernardi é colunista da Folha de São Paulo, contista,
romancista, cronista e roteirista brasileira. Suas obras são
particularmente dirigidas a mulheres jovens (fonte: Wikipédia).
Onde estão as pessoas interessantes? (escolha do título)

Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação
aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas
com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra
adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu,
mas to falando dos “fabricação em série”. Tô fora de dançar os hits das
rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo
assim, gata, iradíssimo, tia.
Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e só sair de
casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses
que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que
por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, meus
hormônios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar.

Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas


olham sempre pra mim com aquela cara de “tô no meu mundo, fique no
seu”. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a
pensar “se são meus amigos, logo, devem ter amigos interessantes”.
Infelizmente essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito
desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos
acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.
Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que
exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com
garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o
nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de
serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda
Adidas com cabelinho playmobil também to fora.

Você consegue se enxergar no ambiente. Identificação entre o que


você pensa e o que escritor pensa. Experiências em comum que ligam
você ao autor do texto.
O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da
música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados,
bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram “tristeza não
tem fim, felicidade sim” no ombro do amigo, têm grandes chances de ser
aquele tipo que se acha super descolado só porque tirou a gravata e que
fala tudo metade em inglês ao estilo “quero te levar pra casa, how does it
sounds?” Foi então que descobri os muquifos eletrônicos alternativos,
para dançar são uma maravilha, mas ainda que eu não seja
preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais
sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai
dos meus filhos, não uma transa bizarra.
Minha mais recente descoberta foram as baladinhas também alternativas
de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar
bacana, estilo bacana, papo bacana… gente tão bacana que se basta e não
acha ninguém bacana. Na praia quem é interessante além de se isolar
acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão
à praia e às baladinhas praianas. Orkut, MSN, chats… me pergunto onde
foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nessa vida: a
tal da química. Mas então onde, Meu Deus? Onde vou encontrar gente
interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos
casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê,
… e eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais
pra mim e me sentindo a mais idiota de todos?
Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu
agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos
lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar
mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon
lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.
A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar
que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-
la andando por aí?

Tati Bernardi
Anderson França é ativista social, roteirista e escritor. Indicado
ao prêmio Jabuti pelo livro Rio em Shamas. É colunista do
Metrópoles.
Pra quem come a vida dura, vacina russa é
maria mole (título)
Chegamos num tempo em que Putin, montado num urso e com uma
seringa na mão, virou uma esperança (subtítulo)
Uma vez eu comia maria mole. Não sei que vento bateu, caiu no chão.
Eu era dessas crianças bem atrapalhadas. E tinha meu universo particular.

Aos 16, no antigo segundo grau, eu ia na cantina, buscava um copo de


café e, enquanto todos os outros alunos faziam rituais pré-sexuais, onde
80% deles estariam na gravidez no segundo ano, eu abria um jornal na
sala de aula e fingia ler a seção de Economia, vendo os números da
extinta Bolsa do Rio e a de São Paulo.

Petrobras PP, Paranapanema ON, Banespa labaxúrias, esse linguajar


maroto-tinhoso que o Guedes usou pra engabelar todo mundo e
conseguir emprego de ministro. Não governa, não diz coisa com coisa,
mas já deve ter favorecido a boiada que o Salles passou mudando o
regramento.
Porque Agro é tech, agro é pop, mas agro é grana, bitola larga, na Bolsa
de Mercadorias e Futuros. O Guedes é tão safadonauta, ou seja, um
astronauta do planeta dos safados, que ele taxou livro em 12% e banco
em 5,8%.

Eu com 16 anos, no recreio, bebia café no copo, abria jornal e bancava o


mentiroso fingindo que tava ocupado com notícias que aquelas crianças
não tinham maturidade pra entender, na verdade, era inveja mesmo, as
referidas crianças se pegavam umas as outras no baile, e eu ficava
acompanhado por Jesus e minha Bíblia.
Parto do princípio que todo grêmio ou DCE de direita é de gente que não
transa. Assim como parto do princípio que DCE de esquerda é de gente
que transa mal, para no meio, chora, se despenteia. E se mete em terapia,
pra resolver os problema da cabeça, porque na assembleia da faculdade
disse que a mulher dar de quatro é fetiche de submissão machista, e
Sheila AMA dar de quatro.

Sheila fica num conflito e segue feminismo que não dá de quatro, ou dá


de quatro bebaça e feliz. Depois, propõe uma vertente progressista dog
style.
A gente tá perdendo um tempo, meus amigo, eu nem te falo. Mundo
acaba amanhã, e as pessoas debatendo se o menino do Uber que levou
esculacho do racista de Valinhos é preto ou branco, light skin, bege,
afrobege, ladrone de protagonisme, e Bolsonaro, dizem, volta a recuperar
sua imagem na opinião pública por ter mantido o auxílio-emergencial
pras classes D e E, ou seja: fez o que o Lula fazia.

Dizer que existe um racha no governo não é nada, eu quero que digam
onde que não tem, onde a peça tá inteira. É uma direita autofágica, que
conquista voto, mas não consolida seu poder. Cresce no vácuo que a
esquerda cria, não falando com o pobre, mas se autodestrói no poder, e
surgem novos mitos, dissidentes dos mitos antigos.
Mujica disse esses dias, porém, que a esquerda está se infantilizando. E
Orlando Silva, PCdoB, que a esquerda “perdeu contato com o povão”.
Não sobra ninguém. Nessa tentativa de civilizar e moralizar pessoas, a
esquerda do PSol sacaneia Thaís Ferreira, porque não a considera negra o
suficiente. Isso porque Thaís cursou o RenovaBR.

RenovaBR é uma baita de uma furada? É.

Mas eu conheço a Thaís, um monte de gente no Rio a conhece, e ela foi


pra aprimorar seu fazer politico, que já existia ANTES do Renova. É
muita estupidez, mesquinhez, ignorância e elitismo o PSol carioca
impedir Thaís de se lançar candidata pela legenda, APENAS PORQUE
ELA FEZ RENOVABR.
Mano, ela foi estudar política. Não conseguiu estudar pra passar nesse
vestibular pro IFCS, abençoado do papai. Ela pegou a oportunidade que
veio, e foi aprender. Mas se perguntar na rua, ela continua conectada com
o povo que representa.

A gente tá muito perdido.

A história de uma jovem do Twitter que foi salva pelo amigo, quando leu
Aracaju-se, pensou que se tratava de uma versão de Noronhe-se,
mas um amigo a salvou e disse: Amiga, Aracaju – SERGIPE.

Ôta porra.
Mas a maria mole. O marshmelow suburbano, que eu deixei cair no
chão. Você sabe que maria mole é um doce de cor branca. E que, ao cair
no chão cheio de terra fica sujo, e cinza-merda.
Aos 9 anos, olhei a maria mole, e nenhum de vocês me avisou que o
diabetes seria meu destino, 30 anos depois. Então eu abaixei E COMI A
MARIA MOLE. Virei o olhinho, sentindo a terra ESFOLIAR meus
dentes.

Não morri. Vacina russa, pode vir. É uma esperança, pra quem botou pra
dentro uma maria mole com terra.

Chegamos num tempo em que Putin, montado num urso e com uma
seringa na mão, virou uma esperança.

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