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METODOLOGIA FENOMENOLÓGICA
A fenomenologia nos dá “o
discernimento do bem, belo
e verdadeiro” (MIKLÓS, 2000)
...consideramos que não existe nada sob, sobre e fora dos fenômenos, que
o virtual é pura e simplesmente irreal, e então tudo o que é vivo é
fenomênico, inclusive o genos, o qual se inscreve no fenon, sob a forma
de genoma. Ou consideramos como unicamente dignos de atenção os
princípios organizadores que geram as coisas visíveis e, então, a vida
fenomênica não é mais do que a expressão da realidade mais profunda
do genos. Toda operação viva comporta uma determinação genética. Não
existe nada vivo sem os genes. O DNA precisa sempre de um invólucro
fenomênico para se reproduzir. Assim os genes só operam enquanto
genes nas células vivas. Todo fenômeno de vida constitui, de certo modo,
um genofenômeno,... (MORIN, 2011, p. 133 a 143).
história, através das mudanças que “são uma constante no universo”, como disse
Einstein “in” Teoria da Relatividade. Não devemos achar, supor nem extrapolar, mas
sim observar e perceber o que realmente mudou em intervalos de tempo, afinal
pretende-se uma metodologia verdadeira, cientifica. O princípio básico do método é
que nós mesmos devemos nos incorporar na experiência do fenômeno, fazendo-nos
parte dele durante toda a pesquisa, em vez de especular em torno dele ou substituí-
lo por um conceito abstrato, um dogma, um modelo matemático ou um gabarito.
Conforme o homem faz o uso racional de seus sentidos ele se torna o melhor
instrumento científico possível. Para Marx “a natureza só é percebida através dos
nossos sentidos na medida em que ela “vai passando”, ou seja, num processo
temporal; daí o “livre movimento da matéria” ser parte da nossa cognição tanto
quanto nós somos parte da Natureza e a percebemos sensorialmente” (FOSTER
2014). Considerando esta dinâmica temporal este método é válido para fenômenos
vitais, anímicos (plantas, animais, ser humano, fenômeno social, fenômeno
antropológico, bacias hidrográficas, etc.) onde o ser humano interage com o mundo
natural.
Altamira B. de Souza em 2008 falando de fenologia na botânica, diz: “a
biologia floral inclui o estudo de todas as manifestações de vida da flor, inclusive a
fertilização. Neste sentido a biologia floral mescla-se com a ecologia da polimização,
que engloba estudo de interação entre flores e seus visitantes/polinizadores”.
Wolfgang von Goethe (1979/1832), ilustre pensador e poeta, chamou esse
passo de “fantasia”, porque você está vendo alguma coisa que é invisível. “Olhem
uma flor: vocês estão vendo uma borboleta aprisionada. Olhem uma borboleta:
vocês estão vendo uma flor liberta”. Esse é o nível de consciência que se atinge
quando se chega ao tempo. Ao se observar borboletas e flores sempre se tocando,
torna-se possível perceber que a borboleta é como uma flor; ela é toda colorida, tem
pétalas que parecem asas, mas aprisionada, está no nível da flor. Quando se liberta,
ela entra no nível animal e percebe-se que a flor está bem no limiar. Mas Goethe só
conseguiu chegar a esta percepção depois de observar muitas e muitas borboletas e
flores desta forma peculiar. Isso tem relação com poesia sim, pois você pode retratar
uma experiência de uma maneira exata, porém poética. Então poesia pode ser
exata, descritiva (GHELMAN, 2000). Caetano Veloso usou brilhantemente este
aspecto da fenomenologia ao compor “Luz do Sol” onde explica, poeticamente, o
fenômeno da fotossíntese e da Vida na Terra...
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“Luz do sol
Que a folha traga e traduz
Em verde novo
Em folha, em graça
Em vida, em força, em luz...
Céu azul
Que venha até
Onde os pés
Tocam a terra
E a terra inspira
E exala seus azuis...
Reza, reza o rio
Córrego pro rio
Rio pro mar
Reza correnteza
Roça a beira
A doura areia...
Marcha um homem
Sobre o chão
Leva no coração
Uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão
Da infinita beleza...
O filósofo Fontenelle conta a história de uma rosa, que supunha ser eterno o
jardineiro. Por quê? Porque em sua memória de rosa, jamais se lembrava de ter
visto outro no jardim (POLITZER, 1977, p. 45). Ora, a experiência e a ciência nos
ensinam que os jardineiros são perecíveis, tanto quanto as rosas. É bem verdade
que há coisas que mudam muito mais lentamente do que uma rosa. Não podemos
nos deter nas aparências, não podemos nos iludir com o momento, nem com nossos
sentimentos ou desejos, precisamos perceber as coisas em seu movimento onde o
tempo é a essência.
O TERCEIRO PASSO é a percepção do vital, do gesto anímico do fenômeno.
É o DIAGNÓSTICO propriamente dito. O VITAL é a manifestação da vida, é o que
caracteriza os sistemas vivos ou organismos que, desde os mais simples
unicelulares, apresentam um “quantum” de inteligência (Qi), o que dá a cada ser vivo
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As plantas que não se movem, não berram, não latem, não falam, não
pensam, mas são os únicos seres vivos que são capazes de captar a luz do SOL,
que com a água, o ar, os elementos minerais e elaborarem a VIDA...
Aos animais, que se movem, mas, não falam, a natureza lhes deu o instinto
para se alimentarem, reproduzirem e se protegerem.
Aos Homens, que evoluíram e ficaram de pé, deu as mãos livres para o
trabalho, a vista perfeita para observarmos e produzirmos deu a inteligência, o
pensamento, a reflexão para decidirmos o que fazer, para escolhermos o nosso
destino, o livre arbítrio.
O gesto anímico é a expressão que emana do íntimo do fenômeno e que o
caracteriza, que o define como um ser único, ímpar, sem igual. É o passo que define
a identidade do fenômeno, do ser. O ser emite este gesto próprio, esta onda, este
sopro, esta aura, esta energia e a alma do observador que o recebe, o capta, o
decodifica, percebe o gesto anímico daquele ente, o que significa e para que ele
serve. É o diálogo com a Natureza. É aí que está o sutil, o sentimento, a intuição, a
sinergia.
O QUARTO PASSO de nosso caminho crítico é o estabelecimento de uma
intimidade entre o observador e o fenômeno. É a capacidade de ver o fenômeno
com os sentidos. É o juízo feito pelo observador com base no conhecimento prévio
do fenômeno (diagnóstico) e com a interação dos dados prováveis, da estatística e
da intuição. É a capacidade de intuir o futuro com base na história e no aqui e agora.
É o PROGNÓSTICO. É a capacidade de antever uma linda borboleta após o casulo.
A fenomenologia dá a nós técnicos, educadores, pensadores, filósofos,
cientistas a dimensão espiritual de ser humano, como nos diz Herberth Haum citado
por Miklós (2001, p. 25): “quando o meu pensar for luz, minha alma brilhará. E
quando minha alma brilhar... eu serei verdadeiramente homem”.
O “diálogo com a Natureza” é uma dimensão trans, além, é uma categoria
superior na compreensão das contradições da Natureza, dos processos naturais,
dos processos produtivos (agroecologia) e dos manejos pertinentes àquele “lócus”,
àquele sítio, àquele bioma. É preciso entender essas contradições, esses processos
e, sutilmente, sensivelmente, dialeticamente exercitar a observação e a dedução.
Sir Arthur C. Doyle, o criador de Sherlock Holmes nos diz: “as nossas ideias
devem ser tão vastas quanto a Natureza, se quisermos interpretar a Natureza”.
Assim a ciência Agroecologia nos permite decifrar sinais da Natureza como, por
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COSMO
(luz, ritmos, clima)
Água
Portador da Vida
ANIMAIS HOMEM
(movimento, ação, instintos) (pensamentos, reflexão, sentimentos)
TERRA PLANTAS
(solo, água, ar) (fotossíntese, formação da biomassa)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOETHE, Wolfgang von. Fausto. Ed. Martin Claret Ltda. São Paulo, 2014.
MARGULIS, Lynn. A origem do sexo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2002.
MORIN, Edgar. O Método 2. A vida da vida. Ed. Sulina, Porto Alegre, 2011.