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Título: Ultrassom gestacional.

Marina estava grávida do primeiro filho e passou a acompanhar um aplicativo que descrevia o
desenvolvimento fetal. Ela estava na 9ª semana de gestação e viu que neste momento os órgãos do feto
estavam praticamente formados mas a cabeça ainda era grande em comparação com o restante do corpo.
Marina estava apreensiva porque até o momento não tinha sentido os movimentos do futuro filho e seu
marido estava ansioso para sentir os famosos “chutes” do feto.

Duas semanas depois, Marina realizou uma ultrassonografia de rotina e a médica radiologista lhe explicou os
achados. Disse que o CCN era de 55mm e TN era normal. Ela relatou que foi identificada a ossificação do
crânio do feto, inclusive osso nasal, e a presença dos segmentos ósseos dos membros. A médica também
identificou a levocardia com frequência 160bpm.

Naquele momento, Marina e o marido não entenderam se todos aqueles achados estavam adequados mas
na consulta de pré-natal tiveram todas as dúvidas esclarecidas. A obstetra explicou que a gravidez estava
progredindo conforme o esperado e que Marina precisaria repetir o ultrassom obstétrico no segundo e no
terceiro trimestre. O USG morfológico do segundo trimestre é importante porque identifica malformações e
pode identificar o sexo do bebê. E o do 3º trimestre avalia o crescimento fetal, a quantidade do liquido
amniótico e a placenta.

A família saiu da consulta tranquila e confiante, ansiosos para acompanhar cada momento do
desenvolvimento do futuro filho até o momento de tê-lo nos braços.
 Modificações do Organismo 
Materno
periférico diminui, graças aos hormônios
contrainsulares pela placenta.
◗ As alterações fisiológicas observadas na  Glicose = é transferida ao feto por difusão
gestação são decorrentes, principalmente, de facilitada, (níveis = 20 mg/dℓ inferiores aos
fatores hormonais e mecânicos, e os ajustes da mãe). Depois de uma noite de jejum, os
verificados no organismo da mulher devem ser níveis de glicemia são 15 a 20 mg/dℓ
considerados normais durante o inferiores aos sinalados fora da gravidez.
estado gravídico, embora possam determinar Aumento da RESISTÊNCIA
pequenos sintomas que afetam a saúde da paciente. INSULÍNICA ao FINAL DO 2o
◗ A gravidez pode mostrar problemas de saúde que trimestre, podendo chegar a
a mulher já tinha, mas não estavam tão expostos aproximadamente 80% no termo. ➾
antes. Efeito do ↑hormônio lactogênio
placentário humano (hPL) e adipocinas. O
efeito diabetogênico do hPL resulta na
Modificações Sistémicas mobilização de lipídios na forma de
Postura e Deambulação ácidos graxos livres (AGL). Esses AGL
◗ Antes da expansão de volume do útero gestante, serviriam como fonte de energia,
já surgem alterações na postura. poupando glicose e aminoácidos, que
◗ Mudança do centro de gravidade = Quando o estarão disponíveis para o feto.
útero evade a matriz da pelve.  Hiperinsulinismo Pós-prandial (3o
◗ Deambulação dos gansos, a chamada marcha trimestre) = É observado, em função dos
anserina = base de sustentação ampliada e os Os níveis de hPL elevam-se rapidamente no 1 o e no 2o
ângulos aumentados entre os pés e a linha trimestre e alcançam o seu máximo nas últimas 4
mediana, principalmente à direita, por conta do semanas da gravidez
dextrodesvio uterino.
◗ Articulações = maior mobilidade durante a fatores contrainsulares, após a administração
gestação. Principalmente, a sacroilíacas e a sínfise de glicose. O efeito inibitório da insulina na
pubiana. Gera aumento da capacidade pélvica lipólise é significativamente reduzido durante
o 3o trimestre quando comparado ao de outras
Metabolismo fases do ciclo gestatório.
◗ Alterações suscitadas pelo rápido crescimento e ◗ Metabolismo Lipídico:
desenvolvimento do concepto durante a gravidez, A placenta é praticamente impermeável aos
sendo registradas grandes modificações no lipídios, exceto aos AGL e aos corpos
metabolismo de energia e no acúmulo de cetônicos. Mas eles influenciam o crescimento
gordura. fetal. Duas alterações consistentes no
metabolismo materno durante a gestação são o
◗ Metabolismo Glicídico: ACÚMULO DE LIPÍDIOS NOS TECIDOS
 Parasitismo verdadeiro: O feto continua a
DA GESTANTE e a HIPERLIPIDEMIA
extrair glicose e aminoácidos da gestante, em GESTACIONAL.
taxas idênticas, tanto em períodos de  Acúmulo de lipídios nos tecidos da gestante
alimentação, como em períodos de jejum. = ocorre durante os primeiros 2/3 da
 Corpo da gestante faz ajustes para prover
gestação e é o principal responsável pelo
SUPRIMENTO ININTERRUPTO DE acréscimo de peso materno, excluindo o
GLICOSE e de AMINOÁCIDOS para o decorrente do concepto. Diretamente
concepto: não consome relacionado com a hiperfagia, pois desaparece
indiscriminadamente a glicose e, à medida com a restrição alimentar.
que a gravidez se desenvolve, seu uso
 A tendência de acumular gordura cessa e ômega-6, sendo suas necessidades supridas
durante o último trimestre da gravidez, pela placenta e pelas reservas tissulares da
quando o metabolismo lipídico transmuda-se mãe, principalmente do tecido adiposo.
para estado catabólico, em virtude de diversas
alterações coincidentes que ocorrem no ◗ Metabolismo Hidroeletrolítico:
tecido adiposo.
 Retenção de Líquido = 8 a 10 litros intra e
 Com o aumento da atividade lipótica no último extracelular.
trimestre, o fígado é que processa boa parte
 Aumento do volume plasmático ➾ aumento
dos ácidos graxos e glicerol ➾ liberação do débito cardíaco e do fluxo plasmático
hepática na forma de triglicerídios da renal
lipoproteína de muito baixa densidade  Provocada pela maior secreção de aldosterona,
(VLDL) e corpos cetônicos. apesar do efeito natriurético da progesterona.
 Ao fim da gravidez, a gliconeogênese a partir do
➾ HIPERALDOSTERONISMO
glicerol está aumentada, poupando aquela
SECUNDÁRIO DA GRAVIDEZ
proveniente dos aminoácidos que são
 MANUTENÇÃO DA ISOTONICIDADE =
transportados para o feto.
O sódio deve ser conservado para prover
Conclui-se que o feto se beneficia dos produtos
quantidade adicional indispensável à expansão
finais do metabolismo decorrente da atividade
tecidual e dos compartimentos líquidos durante
lipolítica do tecido adiposo materno. Os corpos
a gestação.
cetônicos cruzam livremente a placenta e podem
 Na verdade, a concentração plasmática de
ser usados como combustível fetal ou mesmo como
substratos para a síntese de lipídios no cérebro. sódio encontra-se ligeiramente diminuída na
gestação, assim como a osmolaridade total. A
Finalmente, a atividade lipolítica intensa do
tecido adiposo durante o final da gestação também gestante parece aceitar esse nível de
osmolaridade, sem elevar a diurese.
favorece os tecidos maternos, pois nesse estágio o
uso periférico de glicose é bastante diminuído pela  Limiar de Sede mais baixo = Sente mais
resistência à insulina e o efeito inibidor da insulina vontade de ingerir líquido, mesmo com
sobre os lipídios é atenuado. osmolaridades pouco altas
 Pressão Oncótica/Coloidosmótica
 Hiperlipidemia Materna = Durante a Diminuída = gera o aumento da taxa de
gravidez normal há aumento constante nos filtração glomerular renal (TGF) ➾ promove o
triglicerídios plasmáticos e pequeno EDEMA PERIFÉRICO comum na gravidez
normal.
acréscimo no colesterol. Principalmente,
lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL). O aumento líquido intra e extracelular, ocasiona a
 A produção acentuada dos triglicerídios diminuição da proporção de sódio no corpo materno
VLDL e sua remoção diminuída da circulação (diminuição da osmolaridade). Para compensar, é gerada
em decorrência da menor atividade da uma diminuição na pressão coloidosmótica e é ativado o
lipoproteína lipase (LPL) no tecido adiposo Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona para evitar a
são os principais responsáveis pelo aumento excreção de sódio pelos rins através da urina.
dos triglicerídios VLDL durante a gestação.
 A indução da LPL nas mamas por volta do parto
 Fatores responsáveis pela retenção de
dirige triglicerídios circulantes para essa glândula,
líquido estão descritos a seguir:
visando à produção de leite. Por esse mecanismo
 Retenção de sódio
ácidos graxos essenciais da dieta materna que
circulam na forma de triglicerídios podem se  Novo nível de osmolaridade
tornar disponíveis para o lactente.  Diminuição do limiar da sede
 ACIDOS GRAXOS = Os AG Essenciais são  Redução da pressão oncótica.
benéficos para a mãe, prevenindo doenças  Consequências da retenção de líquido são:
cardiovasculares, câncer de colo e doenças  Redução na concentração de hemoglobina
imunológicas, e são indispensáveis para  Redução do hematócrito
o desenvolvimento cerebral e visual do  Diminuição da concentração de albumina
concepto.  Aumento do débito cardíaco
 O feto não é capaz de sintetizar os AGPICL  Elevação do fluxo plasmático renal
(ácidos graxos poli-insaturados de cadeia  Edema periférico.
longa ) por meio dos seus precursores ômega-3
◗ Metabolismo do Cálcio:  A partir de 5 semanas, já se tem aumento
da Frequência Cardíaca (FC), mas é no 3o
 Na gravidez, uma grande quantidade de cálcio
trimestre que ela chega a +10 a 20% da FC
(e de fósforo) é transferida contra o gradiente de
não grávida
concentração da mãe para o feto (transporte
ativo), com acúmulo de 25 a 30 g de cálcio no
termo.
◗ Aumento do Volume Sistólico
 A absorção de cálcio no intestino dobra na  Em função do expansão do volume plasmático
gravidez, consequência também do nível ➾ a partir do 1o trimestre
duplamente elevado de vitamina D3 de origem  Em consequência, o débito cardíaco, que em
placentária e materna renal. O nível de PTH no média era de 5 ℓ/min fora gravidez, eleva-se
soro diminui na gestação, o que é compensado para aproximadamente 7 ℓ/min em torno de
pelo acréscimo do peptídio relacionado com o 28 a 32 semanas da gestação (acréscimo de
PTH (PTHrP) de origem fetal e placentária. O 40 a 50%), estabilizando-se até o parto
PTHrP elevado na gravidez, produzido pela
paratireoide fetal e pela placenta, contribui para o ◗ Síndrome de Hipotensiva Supina
aumento da vitamina D3, o decréscimo da  A partir de 20 semanas de gestação, o útero
concentração de PTH e a regulação do transporte gravídico impede o retorno venoso ao coração,
transplacentário da mãe para o feto. O transporte quando a gestante assume a posição supina pela
de cálcio pelo trofoblasto também depende do compressão da veia cava inferior.
aumento da concentração da proteína de ligação Consequentemente, muitas mulheres sofrem a
ao cálcio, que atinge máxima concentração no 3o chamada síndrome de hipotensão supina,
trimestre, quando é marcante o crescimento fetal. chegando a apresentar, por vezes, perda da
consciência. Ao se adotar o decúbito lateral
esquerdo, o débito cardíaco é restaurado quase
Sistema Cardiovascular automaticamente.
 As principais alterações hemodinâmicas ◗ Aumento da Pressão Venosa nos
registradas na gravidez incluem o aumento do
MMII
débito cardíaco e do volume sanguíneo (por
A pressão venosa nos membros inferiores aumenta
causa, principalmente, do volume plasmático),
cerca de três vezes, em virtude da compressão que
e a redução da resistência vascular
o útero determina nas veias pélvicas, em particular
periférica e da pressão sanguínea. Essas
na posição de pé, parada, quando há maior
alterações já aparentes no início da gravidez
aprisionamento de sangue nas pernas e nas coxas.
alcançam o seu máximo no 3o trimestre e
Há, na gravidez, tendência à hipotensão, lipotimia
permanecem relativamente constantes até o
ortostática, edema dos membros inferiores,
parto.
varicosidades e hemorroidas.
 Elas contribuem para o ótimo crescimento e
desenvolvimento do feto e protegem a mãe das ◗ Aumento da Pressão Arterial e
perdas fisiológicas de sangue no parto. Débito no Parto
A cada contração uterina leva à autotransfusão de
◗ Aumento da Frequência Cardíaca 300 a 500 mℓ de sangue de volta para o sistema
 Início da gravidez = aumento de NO ➾ circulatório. O débito cardíaco aumenta cerca de
vasodilatação periférica 35% durante as contrações e 10% nos intervalos. No
período expulsivo, por ocasião dos puxos, o
débito cardíaco aumenta ainda mais, cerca de 50%.
A resposta simpática à dor e à ansiedade durante o
parto causa maior elevação na frequência cardíaca e
na pressão arterial.
No pós-parto imediato, o útero contrai-se
firmemente, e mais uma vez há autotransfusão
Na gravidez, o aumento do Ca++ no esqueleto fetal ocorre sanguínea (aproximadamente 300 mℓ), que aumenta
principalmente à custa da maior absorção de Ca++ no
o débito cardíaco em 60 a 80%. De fato, a partir de 6
intestino da mãe, consequência da ação direta do aumento
da vitamina D3 de origem placentária e materna (renal) no
a 8 semanas de pós-parto o débito cardíaco reassume
enterócito. Na lactação, o aumento do Ca++ no esqueleto seus valores não gravídicos.
do bebê obtido pelo leite materno é possível porque o Ca+
Constituem as alterações cardiovasculares mais relevantes:
+ é mobilizado do esqueleto da lactante, assim como é
 Aumento da frequência cardíaca (10 a 20%)
maior a sua reabsorção tubular renal, ambos mecanismos
 Aumento da
dependentes do elevação
volume sistólico (10%)relacionado com o
do peptídio
 Aumento
PTH do débito
(PTHrP) cardíacomamária
de origem (40 a 50%)(hormônio da
 Diminuição
paratireoide da pressão arterial média (10%)
[PTH]).
 Diminuição da resistência vascular periférica (35%).
Sistema Sanguíneo vasos sanguíneos no leito placentário. No entanto,
quase imediatamente, há depósito de fibrina na ferida
◗ Hemácias placentária, consumindo 5 a 10% de todo o
 Embora esteja elevada na gravidez, com pico de cerca fibrinogênio circulante.
de 15% em torno de 32 semanas, a produção de Essa hipercoagulabilidade fisiológica da gravidez, em
hemácias é ofuscada pela elevação de 40% do volume contrapartida, é responsável pelo risco aumentado
plasmático. de trombose que a grávida apresenta.
 Concentração de hemoglobina reduz = É a clássica
anemia fisiológica da gravidez, confundida
frequentemente com o estado de anemia ferropriva
Principais
Sistema
são Urinário
alterações hematológicas ocorridas na gestação
listadas a seguir:
 Aumento na ingesta e absorção do ferro. Deve-se ◗ Modificações Anatômicas
 ↓Diminuição: do número de hemácias, da
concentração de hemoglobina e de hematócrito
contabilizar a quantidade de ferro que o feto a termo  Os rins deslocam-se para cima pelo aumento do
 ↑Aumento: de leucócitos e da concentração de
necessita (na ordem de 300 mg) mais o indispensável volume uterino e aumentam em tamanho cerca de 1
fibrinogênio.
para o acréscimo da eritropoese materna e a prevenção cm em virtude do acréscimo do volume vascular renal
da anemia consequente às perdas hemorrágicas do e do espaço intersticial. Uma das mais significantes
parto. alterações do sistema urinário observadas na gravidez
 Durante a gravidez, as necessidades de ácido fólico é a dilatação da sua porção superior que ocorre a partir
estão aumentadas de 50 para 400 mg por dia. A de 7 semanas em até 90% das gestantes e pode
suplementação universal de ácido persistir até 6 semanas do pós-parto.
fólico também é proposta para  O útero expandido diretamente comprime os ureteres,
prevenir a anemia enquanto a progesterona inibe a musculatura lisa
megaloblástica. ureteral, determinando ureteroectasia. A dilatação
◗ Leucócitos ureteral é mais pronunciada à direita em virtude da
dextrorrotação uterina, estando o ureter esquerdo
 Têm a sua concentração
relativamente protegido pela sigmoide. A dilatação do
ampliada na gestação,
sistema urinário superior pode aumentar a estase
podendo alcançar, no
urinária, predispondo a gestante a infecções urinárias,
termo, até 20 mil/mm3.
pielonefrite.
◗ Plaquetas  No sistema urinário inferior, a anatomia da bexiga
 Tpequeno decréscimo (250 para está distorcida pela compressão direta do útero
210 mil/mm3, valores gravídico. A bexiga é deslocada anteriormente.
médios). Registra-se,  Os níveis circulantes elevados de estrogênios
inclusive, determinam hiperemia e congestão da mucosa uretral
trombocitopenia e vesical. Também há redução da resposta contrátil do
gestacional, no 3o trimestre, colo vesical a estímulos alfa-adrenérgicos e
com níveis de 80 a 150 diminuição do suporte pélvico da parede vaginal
mil/mm3. anterior e da uretra, alterações que podem contribuir
 Também ocorrem para a incidência elevada de incontinência urinária na
gravidez.

◗ Modificações Fisiológicas
 Aumento do fluxo plasmático renal e da TFG, em
função do aumento do débito cardíaco
alterações
 A elevação da TFG resulta em diminuição da
importantes na coagulação sanguínea durante a
creatinina plasmática
gravidez e, nesse contexto, elas são caracterizadas por
 Concentração de ácido úrico = no 1o trimestre da
estado de hipercoagulabilidade. Ocorre aumento
gravidez, devido à ação uricosúrica dos estrogênios e
significante de diversos fatores da coagulação,
notadamente do fibrinogênio, que pode atingir 400 a
600 mg/dℓ no 3o trimestre, e redução da atividade
fibrinolítica.
 Essas modificações são responsáveis pela hemostasia
fisiológica ao tempo da separação da placenta no
secundamento. Na verdade, a contração miometrial é
o principal mecanismo de defesa, comprimindo os
Principais modificações respiratórias:
 Frequência respiratória sem alteração
 Volume-corrente e volume-minuto aumentados
cerca de 30 a 40%
 Capacidade residual funcional diminuída em 20%

do aumento da TFG; eleva-se depois, a partir do 3º frequência respiratória, aumenta 30 a 40%, refletindo
trimestre, até atingir 4 a 5 mg/dℓ no termo da gestação a elevação do volume-corrente, pois a frequência
 A hipercalciúria também é comum na gravidez pelo respiratória não se altera. A expansão da caixa
aumento da absorção do cálcio intestinal. Todavia, a torácica e o aumento do estímulo respiratório criam o
taxa de formação de cálculos renais permanece volume-corrente elevado
inalterada, à medida que fatores inibidores na sua  A progesterona parece desempenhar papel
produção, tais como citrato, magnésio e fundamental no estímulo do centro respiratório no
glicoproteínas, também estão aumentados. sistema nervoso central.
 A glicosúria é fisiológica na gravidez e se deve ao  Pela elevação da cúpula do diafragma estão
aumento da TFG que excede o limite da reabsorção diminuídos o volume de reserva expiratório e o
tubular da glicose. Desse modo, não é indicativa de volume residual, em cerca de 20%, o que se reflete na
diabetes na gestação, assim como não serve para o capacidade residual funcional, também reduzida em
seu rastreamento. 20%.
 Igualmente, a proteinúria (microalbuminúria) é  A dispneia parece decorrer da percepção da paciente à
fisiológica na gravidez, sendo normais valores de hiperventilação da gravidez.
proteína na urina de até 300 mg/dia.  A resolução das alterações respiratórias induzidas pela
 A despeito do enorme trabalho urinário na gravidez, o gravidez começa 24 a 48 h após o parto e se completa
volume urinário não está maior. Até 80% da urina com 7 semanas do puerpério.
filtrada é absorvida nos túbulos proximais. A
frequência urinária decorre da compressão do útero Sistema Digestivo
gravídico na bexiga.
 No 1o trimestre é frequente a ocorrência de náuseas e
vômitos (50 a 90% das gestantes), levando, em geral,
Sistema Respiratório à anorexia, embora uma quantidade equivalente de
mulheres relate melhora no apetite e uma parcela
 A expansão do volume sanguíneo e a vasodilatação da considerável admita desejos por certos alimentos.
gravidez resultam em hiperemia e edema da mucosa  A base fisiológica das náuseas, que tendem a ocorrer
do sistema respiratório superior. Essas alterações pela manhã, é desconhecida, embora possa estar
predispõem a gestante a congestão nasal, epistaxe e relacionada com níveis crescentes de gonadotrofina
até mesmo alterações da voz. Também caracterizam a coriônica humana (hCG) e de estrogênios.
gravidez alterações marcantes na caixa torácica e no
 Pode haver gengivite. Quando muito intensas, essas
diafragma. Com o relaxamento dos ligamentos das
alterações periodontais podem deflagrar parto pré-
costelas, o ângulo subcostal aumenta de 68 para 103°.
termo, o que é discutível. As gengivas estão
Os diâmetros anteroposterior e transverso do tórax
comumente edemaciadas, hiperêmicas, e sangram
aumentam 2 cm cada um, resultando na expansão da
com facilidade.
circunferência torácica de 5 a 7 cm. Embora o
 Durante os dois primeiros trimestres há redução na
diafragma eleve-se aproximadamente 4 cm pelo
secreção gástrica de ácidos, explicando a incidência
aumento do útero gravídico, sua função não se mostra
reduzida de úlcera péptica e a remissão das
comprometida; na verdade, sua excursão está
preexistentes.
incrementada de 1 a 2 cm
 O sistema gastrintestinal (esôfago, estômago, vesícula,
 A hiperventilação da gravidez facilita as trocas
intestino) permanece atônico durante toda a gestação.
gasosas nos pulmões. Tanto o PO2 no ar alveolar
Os fatores determinantes são hormonais, os mesmos
quanto no sangue arterial elevam-se. O consumo de
que relaxam a musculatura de artérias, veias e
oxigênio aumenta de 15 a 20% para fazer frente à
ureteres. Uma consequência imediata é a alta
massa materno-fetal adicional e ao trabalho
incidência de pirose, combinação do relaxamento do
cardiorrespiratório da gestação. Gera alcalose
esfíncter gastresofágico ao aumento de pressão intra-
respiratória. A diminuição do PCO2 é compensada
abdominal, esta última condicionada pelo útero
pelo aumento da excreção urinária de bicarbonato,
gravídico.
cuja concentração diminui no plasma; por isso, o pH
 A atonia do cólon explica a grande frequência da
arterial não sofre alteração significativa (pH = 7,4),
constipação intestinal.
caracterizando a alcalose respiratória compensada
 A vesícula fica hipotônica, distendida, com bile
 A complacência da parede torácica, todavia, diminui
viscosa e com grande tendência de formar cálculo.
com o evoluir da gestação, aumentando o trabalho da
respiração.
 Já no 1o trimestre da gestação o volume-minuto, Sistema Endócrino
produto do volume-corrente (tidal volume) pela
◗ Tireoide
 O volume da tireoide materna chega a aumentar 30%
no 3o trimestre, em decorrência da hiperplasia e da
maior vascularidade. Não se trata de bócio, pois esse
aumento é fisiológico.
 Os níveis da tireoxina total (T4T) aumentam 1,5 vez
em relação aos valores não gravídicos, até 16 semanas
da gravidez, momento em que se estabilizam devido à
elevação da globulina de ligação da tireoxina (TBG)
estimulada pelos estrogênios, com 99,7% do T4
ligados à TBG.
 O hCG elevado no 1o trimestre tem ação tireotrófica e
estimula a produção materna da tireoxina livre (T4 L)
que, por sua vez, inibe a secreção do TSH. No 2o
trimestre, e em especial no 3o, os níveis de T4 L são
significativamente mais baixos. O aumento da TBG
concorre também para a diminuição dos hormônios
tireoidianos livres (T4,T3).  Importante para o desenvolvimento normal do cérebro
 A última série de eventos fetal, o T4 L materno é transferido para o concepto
durante toda a gravidez. Ele é especialmente relevante
desenrola-se no antes que a tireoide fetal comece a concentrar iodo e
metabolismo sintetizar o hormônio da tireoide, o que ocorre
periférico dos aproximadamente com 12 semanas de gravidez.
hormônios da  O aumento da depuração renal de iodo na gravidez e a
tireoide e é mais quantidade significativa de iodo transferida para o
proeminente na feto, que no final da gravidez passa a produzir seus
segunda metade próprios hormônios, causam mínima
hipotireoxinemia, mas não bócio, em áreas de
suficiência de iodo. A carência de iodo manifesta-se
por elevada hipotireoxinemia, com aumento de TSH e
da tireoglobulina, com significativa hipertrofia da
tireoide.

Pele e fâneros
 Cerca de 50% das gestantes exibem estrias no abdome
no decurso do último trimestre, por vezes encontradas
também nos seios (estrias gravídicas ou víbices).
Inicialmente vermelhas, mais tarde tornam-se brancas
ou nacaradas, persistindo indelevelmente.
da gestação. Existem três  Há aumento na pigmentação da linha alva do abdome
enzimas deiodinases nos tecidos, inferior (linea nigra), da vulva, das aréolas mamárias e
nomeadas como tipo I, II e III. As da face (cloasma). É comum o aparecimento de
enzimas tipo I não se modificam significativamente. telangiectasias, relacionadas com os altos níveis
As tipo II, expressas na placenta, convertem T4 em estrogênicos. É provável que o hormônio
tri-iodotironina (T3). As últimas (tipo III), também melanotrófico da hipófise atue também sobre os
abundantes na placenta, catalisam T4 em T3 reversa melanoblastos epidérmicos, acentuando a
(T3r) pigmentação, e o sistema nervoso autônomo
influencie a formação do pigmento nas gestantes.
 A hipertricose é um fenômeno fisiológico durante a
gravidez (pelos na face e em outras regiões,
crescimento mais acentuado dos cabelos), com unhas
muito quebradiças e surgimento de eritema palmar e
hipertrofia das glândulas sudoríparas e sebáceas.
 Simultaneamente, o órgão aumenta, inicialmente de
Modificações dos órgãos modo desigual, sendo mais acentuada a expansão
genitais na zona de implantação, o que lhe impõe forma
assimétrica (sinal de Piskacek).
Vulva e vagina  A matriz de piriforme passa a globosa, e o toque dos
 A Sob a influência dos estrogênios, o epitélio vaginal fundos de saco laterais revela essa morfologia (sinal
espessa-se durante a gravidez e há aumento da de Nobile-Budin), enquanto o pulso da artéria uterina
sua descamação, o que resulta maior secreção vaginal. pode ser percebido.
Essa secreção tem pH mais ácido (3,8 a 4,0) do que  De volume crescente, o corpo do útero mantém a
o comum na mulher não gestante, para proteger contra configuração esférica até o 4o a 5o mês, quando
a infecção ascendente. A vagina também aumenta a o alongamento predomina sobre os diâmetros
sua vascularização com a gravidez. transversos, conferindo à víscera forma cilíndrica. A
 A vulva e a vagina tumefazem-se, experimentam expansão do istmo, levando à incorporação de sua
amolecimento e têm sua coloração alterada. A cavidade à do corpo, acentua, nos últimos meses, a
vulva pigmenta-se e a região limítrofe com a cilindrificação da matriz.
extremidade inferior da vagina perde seu  Nos primeiros 2 meses, o útero é um órgão
característico tom róseo, tornando-se vermelho- exclusivamente pélvico; com 12 semanas torna-se
vinhosa, com ninfas e grandes lábios entreabertos perceptível ao palpar abdominal, o que depende do
(sinal de Jacquemier). panículo adiposo e da musculatura da parede. O
 O conteúdo da vagina altera-se e o estudo da citologia crescimento subsequente pode ser acompanhado, mês
esfoliativa revela peculiaridades significativas.  a mês, delimitando-se o fundus e medindo-se a altura
em relação à sínfise púbica.
 O útero sofre aumento dramático no seu peso (de 4 a
Útero 70 g na não gestante, para 1.100 a 1.200 g na gestante
 O útero é formado pela fusão na linha média dos dois a termo) e no seu volume (de 10 mℓ para 5 ℓ) durante
ductos müllerianos, sendo composto por três camadas a gravidez. O número de células miometriais aumenta
separadas e distintas: (1) serosa, cobertura peritoneal no início da gestação (hiperplasia) e, depois,
externa; (2) miométrio, camada de músculo liso; (3) permanece estável.
endométrio, membrana mucosa que reveste a cavidade  O crescimento miometrial na segunda metade da
uterina. gestação resulta primariamente do aumento no
 Durante e fora do ciclo gestativo, ocorrem produção e tamanho da célula (hipertrofia) que ocorre sob a
síntese de prostaglandinas. influência dos hormônios esteroides, principalmente
 Há de diferenciar-se, no útero, corpo, istmo e colo; a os estrogênios.
morfologia da víscera modifica-se de modo  Ainda na segunda metade da gestação, a distensão que
considerável nas diversas fases da vida a matriz sofre pelo aumento do seu conteúdo
determina afinamento gradual da parede uterina,
especialmente no istmo, que não sofre hipertrofia,
◗ Útero na gravidez constituindo o segmento inferior do útero.
 Há imediato amolecimento da região correspondente  Elevação de 10 vezes no fluxo sanguíneo = Além
ao local da implantação, progredindo por todo o órgão disso, há redistribuição do fluxo sanguíneo dentro do
e pelas outras estruturas  Útero, antes igualmente repartido para o miométrio e
pélvicas. A o endométrio, e com 80 a 90% dirigidos para a
diminuição da placenta durante a gravidez. Esse aumento marcante
consistência é do fluxo uteroplacentário é consequência da
subordinada à diminuição da resistência vascular placentária,
embebição  No início da gestação avigora-se a anteversoflexão, o
gravídica e à que motiva polaciúria, elemento semiótico no
redução do diagnóstico da gravidez. O crescimento subsequente
tônus, ameniza e depois elimina a pressão sobre a bexiga,
precocemente substituída pelo apoio do órgão, engrandecido e
notadas pesado, sobre a parede abdominal. Em 80% dos casos
especialmente no a matriz está desviada para o lado direito e torcida no
istmo, determinando o sinal mesmo sentido (dextrodesvio e dextrorrotação).
de Hegar.

Miométrio
Durante a gravidez, o aumento da massa do miométrio  O amolecimento, notado ao exame da genitália
decorre de: interna, é precoce e constitui sinal de probabilidade
I. Hipertrofia dos elementos musculares, com no diagnóstico da gravidez. Modifica-se a posição do
aumento de volume dos preexistentes. É a colo. Na decorrência do crescimento do corpo, a
hipertrofia menos nítida na cérvice cérvice eleva-se e orienta-se na vagina, situando-se
II. Hiperplasia dos elementos musculares, com posteriormente em direção ao côncavo sacro. É de
aumento quantitativo de miócitos, atribuído difícil acesso, tanto ao toque como ao exame
primeiramente à divisão das miocélulas, mas, especular. Quando a insinuação da cabeça ocorre, no
na realidade, proveniente da metaplasia de final da gravidez, o colo desce e centraliza-se no eixo
elementos indiferenciados vaginal.
III. Aumento do tecido conjuntivo, das células, das  O encurtamento do colo também é prenúncio do parto,
fibras e dos líquidos intersticiais (embebição acentuando-se até o completo apagamento, mas se
gravídica). É também muito maior a trata de um fenômeno observado apenas em
vascularização. primíparas

 Acredita-se que ele seja constituído


basicamente por três camadas musculares: uma fina,
Diferenciação – Probabilidade,
interna, de fibras musculares circulares; outra, igualmente Presunção, Certeza
delgada, externa, de fibras musculares
predominantemente longitudinais; e uma central, a mais ◗ Sinais de presunção:
grossa, de fibras que se entrelaçam 4 semanas:
Amenorreia: Sinal mais precoce.
A relação entre fibra muscular e tecido conjuntivo 5 semanas:
aumenta das partes inferiores do útero em direção ao Náuseas; Congestão mamária:
fundo. Mamas congestas e doloridas;
No início da gravidez, o crescimento do útero é Com 8
independente do feto. À medida que a gravidez semanas:
progride, as divisões das células miometriais tornam-se A aréola primária torna-se
menos expressivas e a musculatura cresce por mais pigmentada e surgem os
estiramento determinado pelo conteúdo uterino, o que tubérculos de Montgomery
aumenta em 15 vezes o comprimento das fibras (glândulas sebáceas hipertrofiadas
musculares nas aréolas);
Inicialmente, as contrações são indolores, e as mais Por volta das 16 semanas:
generalizadas são denominadas de Braxton-Hicks;
posteriormente, a atividade do marca-passo localizado
ao fundo uterino promove as contrações coordenadas
com dominância fúndica. Cerca de 100 bilhões de
células musculares lisas compõem o miométrio. As
junções comunicantes tornam possível a comunicação
elétrica e metabólica entre um grande grupo de células.
 Colo

É produzida uma secreção amarela – colostro; Aumento


da circulação venosa é comum – rede de Haller;
Em torno da 20ª semana
Surge a auréola secundária, que aumenta a pigmentação
em volta do mamilo.
Cloasma gravídico ou máscara gravídica: Manchas
provocadas pelo aumento da produção de melanina
circundando parte da testa, ao redor do nariz, bochecha
e lábio superior; 18 semanas:
Linha nigra: Pigmentação da linha alba; Percepção e palpação dos movimentos ativos do feto;
Sinal de Halban: Aumento da lanugem nos limites do Palpação dos segmentos fetais.
couro cabeludo.
20 semanas:
◗Sinais de probabilidade: Auscultação:
6 semanas: Ausculta dos batimentos cardiofetais com o
Amenorreia; estetoscópio de Pinard (a partir de 20 semanas) ou o
Aumento do volume uterino. sonar (a partir de 10 a 12 semanas).
8 semanas:
Alteração da consistência uterina: o útero vazio é firme. Exames para detecção da
Na gravidez, com 8 semanas, adquire consistência
cística, elástico-pastosa, principalmente no istmo – sinal Gravidez
de Hegar.
◗ HcG
Alterações do muco cervical: Torna-se viscoso, mais
 Com a urina (teste de farmácia):
espesso e não se cristaliza.
1. Espera-se diagnóstico positivo pelo menos 1
dia antes da amenorreia;
Alteração do formato uterino: Inicialmente, o útero
2. Dosagem do hCG apenas qualitativa;
cresce de modo assimétrico, desenvolvendo-se mais
3. Aconselha-se realizar utilizando a primeira
acentuadamente na zona de implantação. A sensação
urina da manhã.
tátil é de abaulamento e amolecimento no local, sendo
possível notar, eventualmente, sulco separando as duas
 Com o sangue:
regiões – sinal de Piskacek;
Na ausência de gravidez, em geral, os fundos de saco
1. Espera-se diagnóstico positivo pelo menos 7
estão vazios; a partir de 8 semanas, quando a matriz de
dias antes da amenorreia.
piriforme assume o formato globoso, o dedo que
examina encontra-os ocupados pelo corpo uterino –
sinal de Nobile-Budin; ◗ USG
Há percepção dos batimentos do pulso vaginal nos  Com 4 a 5 semanas, na parte superior do útero,
fundos de saco devido à hipertrofia do sistema vascular começa a aparecer formação arredondada, anelar,
– sinal de Osiander; de contornos nítidos, que corresponde à estrutura
No exame especular, ao entreabrir a vulva, destaca-se a ovular, denominada, em ultrassonografia, saco
coloração violácea da sua mucosa – sinal de gestacional (SG)
Jacquemier ou de Chadwick;  A partir de 5 semanas, é possível visualizar a
Essa mesma tonalidade da mucosa vaginal – sinal de vesícula vitelina (VV) e, com 6 semanas, o
Kluge. eco embrionário e a sua pulsação cardíaca (BCF)
 Em torno de 10 a 12 semanas, nota-se espessamento
16 semanas: no SG, que representa a placenta em
Aumento do volume abdominal: Útero torna-se desenvolvimento e seu
palpável com 12 semanas e percebe-se o aumento do
volume abdominal progressivo em torno de 16 semanas.

◗Sinais de certeza: local de


São dados pela existência do concepto, anunciada pelos
batimentos cardiofetais e pela sua movimentação ativa;
A USG é capaz de rastreá-los com 7 a 8 semanas.

14 semanas:
Sinal de Puzos:
É quando se impulsiona o feto com os dedos dispostos
no fundo de saco anterior. Dessa maneira, ocorre implantação no útero. Com 12 semanas, a placenta
impressão de rechaço quando o concepto se afasta e pode ser facilmente identificada e apresenta estrutura
quando ele retorna. definida com 16 semanas.

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