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RELATÓRIO FINAL

Estudo Geológico e Geotécnico num Armazém na


Rua Vasco da Gama, N.º 5, Portela – Loures

B&B Hospitality España, S.L.

R01.01.20180109.01
11 de maio de 2018
R01.01.20180109.01 - Relatório Final

Documento:
R01.01.20180109.01 - Relatório Final

Projeto:
Estudo Geológico e Geotécnico num Armazém na Rua Vasco da Gama, N.º 5, Portela
– Loures

Resumo Executivo:
É apresentado o Estudo Geológico e Geotécnico num Armazém na Rua Vasco da
Gama.

Consultor Principal:

_____________________________
Marco Rocha, Engº Geólogo OE n.º: 66888

Controlo do documento:

VERSÃO DATA DE PUBLICAÇÃO

R01.01.20180109.01 11.05.2018

I
R01.01.20180109.01 - Relatório Final

O presente estudo é realizado ao abrigo do princípio da não


eliminação da incerteza.
Este processo reconhece e é regido pela existência de limites
razoáveis de tempo e recursos.
A Brownfield Engineering utiliza as melhores técnicas disponíveis na
persecução dos objetivos a que se propõe, fundamentando as suas
conclusões e recomendações em análise objetiva, factual e pericial
dos dados e resultados adquiridos.

II
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Índice

1 Introdução.............................................................................................................. 4
2 Trabalhos realizados ............................................................................................. 5
2.1 Reconhecimento de Superfície ....................................................................... 5
2.2 Sondagens Mecânicas ................................................................................... 5
3 Caracterização Geológica ...................................................................................... 9
3.1 Litostratigrafia ................................................................................................. 9
3.2 Hidrogeologia ............................................................................................... 10
3.3 Tectónica e Sismicidade ............................................................................... 10
4 Caracterização Geotécnica .................................................................................. 13
4.1 Resultados Obtidos ...................................................................................... 13
4.2 Zonamento Geotécnico ................................................................................ 13
4.3 Parâmetros Geotécnicos .............................................................................. 14
5 Autoria ................................................................................................................. 17
6 Anexos ................................................................................................................ 18

III
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1 Introdução
O presente relatório, elaborado por GEOTEST, LDA., a pedido da BROWNFIELD
ENGINEERING, destinado a B&B HOSPITALITY ESPAÑA, S.L. diz respeito ao
reconhecimento geológico e geotécnico dos terrenos interessados pelo armazém
localizado na Rua Vasco da Gama, N. º5, na Portela de Sacavém, em Loures.
No estudo que agora se apresenta são descritos e interpretados os trabalhos
desenvolvidos por GEOTEST, LDA., que constaram na execução de uma campanha de
prospeção geotécnica definida pelo Cliente, bem como na consulta e recolha de
elementos bibliográficos da especialidade existentes sobre o local.
O reconhecimento geotécnico da área em estudo compreendeu a realização de dez
sondagens mecânicas, acompanhadas da execução de ensaios de penetração
dinâmica (SPT). A realização dos ensaios SPT permitiu a recolha de amostras
remexidas para observação macroscópica dos terrenos ocorrentes e para
posterior execução de ensaios laboratoriais. Em determinados troços da furação
houve necessidade de avançar com recurso à rotação, com a recolha de
amostragem contínua. Num dos furos de sondagem procedeu-se à instalação de
tubo piezométrico, visando o controlo da posição do nível de água.
No presente relatório descrevem-se os trabalhos realizados, apresentam-se e
interpretam-se os resultados obtidos, indicando-se as características geomecânicas das
formações ocorrentes, tendo em vista a análise das condições de fundação das
estruturas a executar.

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2 Trabalhos realizados
2.1 Reconhecimento de Superfície
O estudo iniciou-se pela recolha e análise de elementos geológicos e topográficos,
existentes sobre a zona, sendo de destacar a Carta Geológica de Portugal, à escala
1:50 000, Folha 34-B (Loures) e respetiva Notícia Explicativa, publicada pelos Serviços
Geológicos de Portugal.
A localização do armazém em estudo consta na planta apresentada no Anexo I
(Desenho n.º G-1027-18-EG-01-01[0]), bem como na Figura 1 apresentada a seguir.

Figura 1 - Fotografia aérea com a localização do armazém em estudo (Fonte: Google


Earth).

2.2 Sondagens Mecânicas


A prospeção mecânica consistiu na realização de 10 furos de sondagem, com recurso
a uma sonda hidráulica da marca OXIDRILL, modelo OG150, assente sobre lagartas. Na
furação à rotary foram utilizadas trialetas de diâmetro 86 mm, enquanto na furação à
rotação foram empregues coroas de tungsténio e diamantadas com diâmetro de 86 mm.

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A localização destes furos de sondagem seguiu todas as indicações dadas pelo Cliente
e consta no Desenho n.º G-1027-18-EG-01-01[0].
A realização destas sondagens visou o reconhecimento dos terrenos ocorrentes, a
execução de ensaios in situ e a colheita de amostras em profundidade destinadas à sua
observação visual e caracterização laboratorial.
No Quadro I indicam-se as profundidades máximas atingidas, o tipo de furação
empregue, o número de ensaios SPT efetuados em cada um dos furos de sondagem e
o comprimento do tubo piezométrico instalado.
Quadro I - Principais Características das Sondagens Mecânicas

Sondagem Profundidade Rotary (m) Rotação (m) Ensaios SPT Piezómetro (m)
N.º (m)

S1 7.80 6.75 1.05 5 -

S2 6.06 3.26 2.80 4 -

S3 7.54 7.54 0.00 5 -

S4 7.52 6.06 1.46 5 7.00

S5 7.65 6.15 1.50 5 -

S6A 6.17 3.62 2.55 4 -

S7 7.82 6.17 1.65 3 -

S8A 7.90 4.87 3.03 3 -

S9 10.55 7.55 3.00 5 -

S10 10.57 7.64 2.93 5 -

Total 79.58 59.61 19.97 44 7.00

Ao longo das sondagens foram realizados ensaios de penetração dinâmica SPT


(Standard Penetration Test), com espaçamentos da ordem de 1.5 m ou quando se
verificou mudança de litologia. Estes ensaios possibilitam a caracterização mecânica
dos terrenos ocorrentes, por intermédio de correlações vulgarmente utilizadas, bem
como a colheita de amostras remexidas e representativas dos terrenos atravessados.
O procedimento de execução deste ensaio in situ consiste na cravação de uma ponteira
normalizada ligada a um amostrador especial, através de pancadas dadas por um pilão
com peso e altura de queda normalizados. Este ensaio tem três fases, cada uma para
uma penetração de 15 cm, totalizando 45 cm. A 1ª fase do ensaio serve para evitar
possíveis erros devido ao remeximento do terreno durante a furação, sendo o valor de
NSPT correspondente à soma das pancadas dadas na penetração das 2ª e 3ª fases. No
final de cada fase anota-se o número de pancadas necessário à penetração. Termina-
se o ensaio depois de concluída a 3ª fase ou quando o número de pancadas atinge as
60 ou a nega brusca. Neste caso regista-se a penetração obtida, em centímetros.

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A amostragem obtida de um maciço rochoso pelo processo de furação à rotação permite


determinar parâmetros de qualidade, nomeadamente a Percentagem de Recuperação
e o índice RQD (Rock Quality Designation).
A Percentagem de Recuperação é definida como sendo a relação entre a soma do
comprimento de todos os tarolos obtidos numa manobra e o comprimento do trecho
furado nessa manobra. O valor de percentagem obtido dá uma ideia do estado de
alteração das diferentes litologias.
O índice RQD é uma percentagem de recuperação aplicável a sondagens à rotação e
com duplo amostrador de diâmetro maior ou igual a 76 mm (NX) e corresponde à relação
entre a soma dos tarolos obtidos com comprimento igual ou superior a 10 cm e o total
da furada. Este índice dá indicações no que respeita à qualidade do maciço rochoso.

Segundo D. Deere, os maciços rochosos podem ser caracterizados quanto à sua


qualidade, conforme o Quadro II apresentado a seguir.
Quadro II - Caracterização dos maciços rochosos

RQD Qualidade

RQD > 90% Excelente qualidade

75% < RQD < 90% Boa qualidade

50% < RQD < 75% Qualidade razoável

25% < RQD < 50% Qualidade fraca

RQD < 25% Qualidade muito fraca

A classificação do estado de alteração e de fracturação dos maciços rochosos foi


efetuada com base nos critérios adotados pela Sociedade Internacional de Mecânica
das Rochas (S.I.M.R.), que se apresentam nos Quadros III e IV.
Os registos individuais das sondagens com a descrição visual e espessura dos terrenos
atravessados, as profundidades atingidas, a simbologia, a estratigrafia, os resultados
dos ensaios SPT, a posição do nível de água medido no piezómetro instalado e nos
restantes furos de sondagem, bem como outros parâmetros relativos ao maciço rochoso
(percentagem de recuperação, RQD, grau de alteração e fracturação do maciço) figuram
no Anexo II. Apresenta-se, igualmente, no mesmo anexo, as fotografias das caixas de
sondagem com as amostras colhidas a partir dos ensaios SPT realizados e a
amostragem contínua obtida durante a furação à rotação.

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Quadro III - Estados de Alteração

Símbolos Designações Descrição

W1 São Sem quaisquer sinais de alteração

Sinais de alteração apenas nas imediações das


W2 Pouco Alterado
descontinuidades

Alteração visível em todo o maciço rochoso, mas a rocha não é


W3 Medianamente Alterado
friável

Alteração visível em todo o maciço rochoso e a rocha é


W4 Muito Alterado
parcialmente friável

O maciço apresenta-se completamente friável, praticamente com


W5 Decomposto
comportamento de solo

Quadro IV - Estados de Fracturação (S.I.M.R.)

Símbolos Intervalos (cm) Descrição

F1 > 200 Muito afastadas

F2 60 a 200 Afastadas

F3 20 a 60 Medianamente afastadas

F4 6 a 20 Próximas

F5 <6 Muito próximas

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3 Caracterização Geológica
3.1 Litostratigrafia
De acordo com a Carta Geológica de Portugal anteriormente referida, o local em estudo
situa-se numa formação do Miocénico Marinho, habitualmente designada por “Calcários
de Marvila” (M4VIc) e atribuída ao Serravaliano terminal e Tortoniano inferior.
Os “Calcários de Marvila” são formados por biocalcarenitos grosseiros, ricos de
moluscos (em regra de grandes dimensões), passando a arenitos finos de cor
amarelada clara e a argilas cinzentas ricas de ossos de cetáceos, atingindo cerca de 12
m de espessura. Segundo a Notícia Explicativa da Folha 2, Loures, da Carta Geológica
dos Arredores de Lisboa, esta formação é constituída por calcários gresosos ou
margosos e grés calcários, em regra muito fossilíferos, e por alguns níveis de argila. As
bancadas compactas alternam com outras mais argilosas.
A cartografia geológica das formações ocorrentes consta na Figura 2.

Figura 2 - Localização num extrato da Carta Geológica de Portugal, publicada pelos


Serviços Geológicos de Portugal, Folha 34-B (Loures), à escala 1:50 000 (sem escala).

De acordo com a cartografia geológica regional consultada, as camadas miocénicas


apresentam uma disposição tabular, inclinando cerca de 4º para ENE.

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3.2 Hidrogeologia
As condições hidrogeológicas são essencialmente dominadas pela natureza litológica
dos materiais presentes e pela estrutura geológica, apresentando-se, de seguida, as
características hidrogeológicas das formações ocorrentes no lote de terreno em estudo.
No que se refere aos depósitos de aterro, verifica-se que a permeabilidade depende
quer da percentagem de finos existente, quer da granulometria e natureza dos materiais
grosseiros presentes. Em termos gerais, como a granulometria fina é predominante nos
aterros ocorrentes neste local, em conjunto com alguma componente arenosa e a
presença de fragmentos líticos, estes depósitos em geral possuem uma baixa a
moderada permeabilidade. Estas condições favorecem uma eventual percolação nestes
materiais, com caudais pouco significativos, podendo estes vir a funcionar como
aquitardos.
Na zona em estudo os “Calcários de Marvila” são constituídos, sobretudo, por
biocalcarenitos muito alterados a decompostos e muito fraturados, pelo que na sua
maioria adquirem um caráter areno-siltoso e areno-argiloso a argilo-arenoso. Por sua
vez, nas bancadas biocalcareníticas menos fraturadas e menos alteradas, a circulação
de água faz-se essencialmente através das superfícies de descontinuidade, de forma
que a permeabilidade dependerá do seu estado de fracturação, das características
geométricas das fraturas (orientação, espaçamento entre fraturas e continuidade) e do
tipo de material do preenchimento. Assim, este complexo miocénico tanto possui
permeabilidade por porosidade (primária), como também apresenta permeabilidade de
fissura (secundária) nas camadas mais carbonatadas e menos fraturadas.
Deste modo, este complexo miocénico apresenta uma permeabilidade moderada a alta,
podendo dar azo à circulação de água.
Visando o controlo da posição do nível de água procedeu-se à instalação de um
piezómetro, em tubo PVC rígido, de 2’’ de diâmetro, devidamente crepinado e envolvido
por material drenante, no furo de sondagem S4. Após a conclusão dos trabalhos de
campo, no dia 2018-04-27, o nível de água neste piezómetro mostrou-se posicionado
aos 5.1 m de profundidade e no furo de sondagem S9 aos 4.0 m. Os restantes furos de
sondagem ficaram sem água (secos) após a conclusão dos trabalhos de campo.

3.3 Tectónica e Sismicidade


Do ponto de vista estrutural, a região onde se insere a área em estudo, situa-se no
flanco ocidental do sinclinal do Tejo de orientação geral NE-SW, constituído por
formações geológicas que vão desde o Lusitaniano até ao Pliocénico. O conjunto destas
formações inclina para sul e sudeste.
Consoante a sua constituição litológica, as várias unidades apresentam diferentes
comportamentos reológicos face à deformação Alpina. Deste modo, as formações
constituintes da Série Miocénica comportaram-se de forma dúctil, originando

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dobramentos suaves, raramente associados a falhas de pequena dimensão e


orientação variada.
A presença de falhas na Série Miocénica, tal como já foi referido anteriormente, é mais
limitada, mostrando estas, geralmente, pequena dimensão e direção aproximadamente
N-S. Podendo, no entanto, apresentar outro tipo de orientações, que constituem os
grupos de acidentes de orientação NE-SW, paralelos ao Tejo, e os grupos de acidentes
de orientação NW-SE, formando, os primeiros, o sistema mais antigo e também o mais
importante.
De acordo com a bibliografia consultada, as camadas miocénicas deverão apresentar
uma disposição tabular, com uma direção aproximadamente NNW-SSE, inclinando para
ENE, da ordem de 4º.
A área interessada pelo estudo encontra-se sujeita à influência de diversos mecanismos
de sismicidade, que podem dar origem a sismos intraplaca e interplaca. De acordo com
a carta de isossistas de intensidades máximas, do Instituto Nacional de Meteorologia e
Geofísica (1993), a área em estudo localiza-se numa zona de intensidade IX, na escala
de Mercalli modificada.
De acordo com a norma NP EN 1998-1 de 2010, a região abrangida pelo presente
estudo situa-se na zona sísmica 1.3 e 2.3 para a ação sísmica tipo 1 e 2, respetivamente,
o que corresponde a uma aceleração de 1.5 e 1.7 m/s2. Esta norma define espectros de
potência consoante a natureza dos terrenos (Tipos A, B, C, D e E), conforme se
apresenta no Quadro V.

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Quadro V - Tipos de Terreno

Parâmetros
Tipos de
Descrição do Perfil Estratigráfico
Terreno
νs,30 (m/s) NSPT cu (kPa)

Rochas ou formação geológica de tipo rochosos, que inclua,


Tipo A > 800 - -
no máximo, 5 m de material mais fraco à superfície.

Depósitos de areia muito compacta, de seixo (cascalho) ou


de argila muito rija, com uma espessura de, pelo menos,
Tipo B 360 – 800 > 50 > 250
várias dezenas de metros, caracterizados por um aumento
gradual das propriedades mecânicas com a profundidade.

Depósitos profundos de areia compacta ou medianamente


Tipo C compacta, de seixo (cascalho) ou de argila rija, com uma 180 - 360 15 - 50 70 - 250
espessura de várias dezenas e muitas centenas de metros.

Depósitos de solos não coesivos de compacidade baixa a


média (com ou sem alguns estratos de solos coesivos
Tipo D < 180 < 15 < 70
moles), ou de solos predominantemente coesivos de
consistência mole a dura.

Perfil de solo com um estrato aluvionar superficial com


Tipo E valores de s do tipo C ou D e uma espessura entre cerca de - - -
5 e 20 m, situado sobre um estrato mais rígido.

Depósitos constituídos ou contendo um estrato com pelo


menos 10 m de espessura de argilas ou siltes moles com < 100
Tipo S1 - 10 - 20
elevado índice de plasticidade (PI>40) e um elevado teor em (indicativo)
água

Depósitos de solos com potencial de liquefação, de argilas


Tipo S2 sensíveis ou qualquer outro perfil de terreno não incluído nos - - -
tipos A - E ou S1

νs,30 – velocidade média das ondas de corte.

De acordo com a informação recolhida, as formações ocorrentes incluem-se nos


terrenos do tipo C.

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4 Caracterização Geotécnica
4.1 Resultados Obtidos
De acordo com a prospeção realizada verifica-se a existência de um horizonte superior
de aterros até profundidades a variar entre cerca de 3.0 e 6.0 m. Trata-se de aterros
heterogéneos, formados por argilas castanho-avermelhadas e castanho-escuras, com
alguma componente arenosa e fragmentos calcareníticos; blocos de calcarenito com
intercalações argilosas acastanhadas e por areias finas a médias, de tons alaranjado,
castanho-amarelado, acastanhado e castanho-avermelhado, com fragmentos de
calcarenito, brita calcária e restos de alvenaria.
Neste horizonte recente foram realizados ensaios de penetração dinâmica, SPT, onde
foram obtidos valores de NSPT situados entre 4 e 60, contudo considera-se que os
valores de NSPT representativos variam entre 4 e 27. Assim, os valores de NSPT mais
elevados deverão corresponder à presença de elementos líticos de maior dimensão.
Subjacentemente ocorre o maciço miocénico dos “Calcários de Marvila”,
essencialmente formado, neste local, por biocalcarenitos cinzento-claros a amarelo-
claros, muito alterados a decompostos (W 4-5) e muito fraturados (F5-4) e por arenitos
finos, amarelados, micáceos. Quando decompostos, os níveis biocalcareníticos
apresentam-se como areias siltosas e areias argilosas a argilas arenosas, de tons
laranja a amarelado-claro, com fragmentos calcareníticos.
Nos ensaios SPT realizados neste complexo miocénico foram registados valores de
NSPT de 56 e da ordem e acima de 60. Nas bancadas biocalcareníticas foram registados
valores da percentagem de recuperação compreendidos entre 20 e 100% e índice RQD
entre 0 e 20%, correspondendo a um maciço rochoso de qualidade muito fraca.
Após a conclusão dos trabalhos de campo, no dia 2018-04-27, foi detetada a presença
de nível de água à profundidade de 5.1 m no piezómetro instalado na S4.

4.2 Zonamento Geotécnico


Em termos de zonamento geotécnico definiram-se 2 zonas geotécnicas, ZG1 e ZG2.
A zona geotécnica ZG1 é formada pelos depósitos de aterro, de génese recente. A ZG1
foi reconhecida até profundidades variáveis entre cerca de 3.0 m e 6.0 m, mostrando-
se caracterizada por valores de NSPT mais representativos compreendidos entre 4 e 27.
A zona geotécnica ZG2 corresponde ao maciço miocénico que constitui o substrato
local, contudo em função da sua natureza litológica e características geomecânicas esta
zona foi diferenciada em duas subzonas ZG2A e ZG2B. A ZG2A compreende o maciço
miocénico descomprimido, onde foram registados valores de NSPT de 23 e 32. A ZG2B
é essencialmente formada por biocalcarenitos, muito alterados a decompostos (W 4-5) e
em geral muito fraturados (F5-4), onde os valores de NSPT obtidos variaram entre 56 e 60.

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Foram elaborados quatro perfis geológico-geotécnicos interpretativos, à escala 1:100


(formato A1), designados de A-A’ a D-D’, que traduzem o modelo geológico adotado
para o local e que se apresentam no Anexo III (Desenho n.º G-1027-18-EG-01-02[0]).

4.3 Parâmetros Geotécnicos


Na determinação dos parâmetros geotécnicos dos materiais ocorrentes tomam-se como
valores base os resultados obtidos nos ensaios realizados e consideram-se as
correlações existentes na bibliografia da especialidade (Bowles,1996). Para as
formações detetadas consideram-se parâmetros em condições drenadas, ou seja,
ângulo de resistência ao corte e módulo de deformabilidade drenado.
Face aos resultados obtidos na campanha de prospeção e do conhecimento do tipo de
materiais presentes, podem-se estimar os parâmetros geomecânicos das formações
ocorrentes, a partir de correlações com valores de NSPT normalmente utilizadas. No
presente caso adotam-se para as diferentes zonas geotécnicas as características de
resistência e de deformabilidade que se apresentam no Quadro VI.
Quadro VI - Parâmetros Geotécnicos

Formação ’ E’
Zona Geotécnica NSPT
Geológica (º) (MPa)

ZG1 Recente 4 - 27 25 - 28 5 - 10

ZG2A Miocénico 23 - 32 30 - 32 30 - 60
descomprimido
ZG2
ZG2B Miocénico 56 - 60 35 - 38 100 - 120

’ - ângulo de resistência ao corte; E’ - módulo de deformabilidade drenado.

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Condições de Fundação
Face à génese recente dos depósitos de aterro e às suas fracas características
resistentes, considera-se que estes não deverão servir como horizonte de fundação de
estruturas sensíveis à ocorrência de assentamento. Deste modo, considera-se que as
fundações de novas estruturas a construir, deverão ficar assentes na formação
miocénica ocorrente em profundidade.
Desconhecem-se as características da estrutura/estruturas a construir, pelo que na
presente análise se admite que se poderá optar por uma solução de fundação direta,
por sapatas, assentes na formação miocénica.
De seguida apresenta-se a metodologia adotada para a estimativa das tensões
admissíveis, que poderá ser considerada no dimensionamento das fundações. Chama-
se, no entanto, a atenção para o facto dos cálculos que se apresentam serem gerais,
constituindo os seus resultados apenas ordens de grandeza, devendo os mesmos ser
aferidos com base nas condições específicas de cada caso.
O cálculo da tensão admissível, para além do conhecimento da geometria da fundação
e da cota de implantação, requer o conhecimento das características do carregamento
induzido pela estrutura. Desconhecendo-se quais as características deste
carregamento, admite-se, simplificadamente, que se pretende transmitir uma carga
vertical e centrada, permitindo assim ter uma ordem de grandeza do valor de tensão
admissível a tomar no cálculo da fundação.
O cálculo da tensão admissível para fundações diretas é feito segundo a metodologia
proposta pelo Eurocódigo 7 (EC7), admitindo os coeficientes parciais de segurança
previstos para a Abordagem de Cálculo 1, combinações 1 e 2.
A capacidade de carga é calculada através da seguinte expressão:

1
qult = c dNc ds c + qdNqds q + BNds 
2

sendo,
cd – valor de cálculo da coesão (kPa);
qd – valor de cálculo da tensão acima da cota de fundação (kPa);
B – largura da fundação (m);
 – peso volúmico do solo (kN/m3);

Ncd, Nqd, Nd – fatores da capacidade de carga, função do valor de cálculo do ângulo d;

sc, sq, s – fatores adimensionais tendo em conta a geometria da fundação.

Considera-se que os parâmetros apresentados anteriormente correspondem a valores


característicos, pelo que para determinar os valores de cálculo é necessário afetá-los
dos coeficientes de segurança indicados no EC7 para a referida Abordagem de Cálculo.

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A determinação da tensão admissível de uma fundação deve ter em atenção, para além
da verificação à rotura, a questão da deformabilidade. Como tal, o valor da tensão
admissível é ainda limitado pelo máximo assentamento admitido para a estrutura em
estudo.
O assentamento é estimado com base na Teoria da Elasticidade utilizando a formulação
que consta de Winterkorn e Fang (1975):

1 − ν2
s = σ B cd
E

sendo,
s – assentamento (m);

 – tensão aplicada (kPa);


B – largura da fundação (m);
 – coeficiente de Poisson do solo (0.3 - condições drenadas);
E – módulo de deformabilidade (kPa);
cd – fator que tem em conta a forma e rigidez da fundação.

Nos cálculos efetuados considera-se, simplificadamente, uma profundidade enterrada


da sapata (D) igual a 0.6 m, as dimensões em planta de 2.02.0 m2 e nível freático
abaixo da fundação. Refere-se ainda que se tomam, por segurança, os menores valores
que constam do Quadro VI. Para verificação da tensão admissível calculada à rotura, o
assentamento máximo admitido é de 1.5 cm.
Nestas condições, com base nos cálculos realizados propõe-se a adoção de um valor
de tensão admissível da ordem de 150 kPa nos casos em que a fundação fique assente
na formação miocénica descomprimida (ZG2A) e de 450 kPa nos casos em que a
fundação fique assente na formação miocénica caracterizada por valores de NSPT da
ordem e acima de 60 pancadas (ZG2B).
Refere-se, porém, que estes valores deverão ser confirmados com base nas reais
dimensões das sapatas, profundidades estimadas para fundação e características do
carregamento.

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5 Autoria

Desenvolvimento Verificação

Sandra Brito
Geóloga
____________________
GEOTEST, Lda
Marco Rocha
Engº Geólogo OE n.º: 66888
Rita Martins
Brownfield Engineering, Lda
Engª. Civil
GEOTEST, Lda

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R01.01.20180109.01 - Relatório Final

6 Anexos
Anexo I – Planta – Desenho n.º G-1027-18-EG-01-01[0];
Anexo II – Boletins das Sondagens;
Anexo III – Perfis – Desenho n.º G-1027-18-EG-01-02[0];

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