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FORMAÇÃO TEOLÓGICA ::: Curso Livre

NÍVEL MÉDIO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 3
DIMENSÕES DA SALVAÇÃO ............................................................................................................................................. 3
1. Passado ................................................................................................................................................................... 3
2. Presente .................................................................................................................................................................. 3
3. Futuro ..................................................................................................................................................................... 3
ORIGEM DA SALVAÇÃO ................................................................................................................................................... 4
ANÚNCIO DO PLANO DA SALVAÇÃO ..................................................................................................................... 4
DEUS ............................................................................................................................................................................... 4
HOMEM ........................................................................................................................................................................... 5
1. Antes da Queda ....................................................................................................................................................... 5
2. Após a Queda.......................................................................................................................................................... 5
A PROFUNDIDADE E A UNIVERSALIDADE DO PECADO ..................................................................................................... 5
AÇÃO DE DEUS APÓS A QUEDA ........................................................................................................................................ 6
1. O Evangelho é Deus Buscando o Homem .............................................................................................................. 6
2. O Evangelho é Deus Provendo uma Solução para o Pecado do Homem ............................................................... 7
A ESSÊNCIA DO PECADO É O EGOÍSMO ............................................................................................................................ 9
UMA DEFINIÇÃO PRÁTICA DE PECADO ............................................................................................................................ 9
“Eu quero” ................................................................................................................................................................. 9
“Eu posso” ................................................................................................................................................................. 9
“Eu faço” ................................................................................................................................................................... 9
A MORTE DO CORDEIRO ................................................................................................................................................ 10
A JUSTIFICAÇÃO ........................................................................................................................................................ 11
LUTERO E A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ .............................................................................................................................. 11
CRISTO CRUCIFICADO – A REVELAÇÃO DA JUSTIÇA DE DEUS ....................................................................................... 12
(1) Graça .................................................................................................................................................................. 13
(2) Redenção ............................................................................................................................................................. 13
(3) Propiciação ......................................................................................................................................................... 13
(4) Tolerância ........................................................................................................................................................... 14
JUSTIFICAÇÃO FORENSE - PERDÃO ................................................................................................................................ 15
JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ – PROMOÇÃO ........................................................................................................................... 16
COMO O HOMEM PODE SE TORNAR JUSTO (SER JUSTIFICADO)? ..................................................................................... 17
O PROCESSO DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ ....................................................................................................................... 17
O SIGNIFICADO DE JUSTIÇA DE DEUS PARA PAULO ....................................................................................................... 18
1. Uma Virtude Essencialmente Divina .................................................................................................................... 18
2. Uma Ação Divina ................................................................................................................................................. 18
3. O Centro na Cruz.................................................................................................................................................. 18
4. Deus é Justo e Demonstra Justiça ........................................................................................................................ 18
5. Justificação Forense ............................................................................................................................................. 19
6. Há um Relacionamento entre “Justiça” e outros “termos” ................................................................................. 19
7. Justiça e Fé ........................................................................................................................................................... 19
8. Justiça com o Objetivo de Esperança ................................................................................................................... 20
9. Justificação e Comunhão ...................................................................................................................................... 22
10. A Justiça como o Poder da Nova Vida ............................................................................................................... 23
CONCLUSÃO .................................................................................................................................................................. 24
A SANTIFICAÇÃO........................................................................................................................................................ 25
DEFINIÇÃO .................................................................................................................................................................... 25
O SIGNIFICADO BÍBLICO DE SANTIFICAÇÃO .................................................................................................................. 26
1. Alguém ou algo separado por Deus para uso ou serviço ..................................................................................... 26
2. Santificação como um fato consumado................................................................................................................. 27
3. Santificação como processo progressivo, em desenvolvimento ............................................................................ 27
O QUE O HOMEM PODE FAZER NA OBRA DA SANTIFICAÇÃO? ........................................................................................ 28
1. A Entrega da Vontade a Deus ............................................................................................................................... 29
O COMBATE DA FÉ ........................................................................................................................................................ 32

SOTEROLOGIA 1
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A GLORIFICAÇÃO ...................................................................................................................................................... 33
A TENSÃO ENTRE O “JÁ” E O “AINDA NÃO” ................................................................................................................... 34
COMUNHÃO E OBEDIÊNCIA ........................................................................................................................................... 35
COMUNHÃO E DEPENDÊNCIA......................................................................................................................................... 36
NOSSA PERMANENTE NECESSIDADE DA CRUZ ............................................................................................... 36
AMOR ............................................................................................................................................................................ 37
1. Justificação ........................................................................................................................................................... 37
2. Santificação .......................................................................................................................................................... 37
3. Glorificação .......................................................................................................................................................... 37
JUSTIÇA ......................................................................................................................................................................... 38
1. Na Justificação ..................................................................................................................................................... 38
2. Na Santificação ..................................................................................................................................................... 38
PODER ........................................................................................................................................................................... 39
1. Na Justificação ..................................................................................................................................................... 39
2. Na Santificação ..................................................................................................................................................... 39
CONTÍNUA DEPENDÊNCIA DE DEUS ............................................................................................................................... 40
CONSTANTE NECESSIDADE DA CRUZ ............................................................................................................................ 40
ESCLARECENDO APARENTES CONTRADIÇÕES............................................................................................... 41
JULGAMENTO PELAS OBRAS .......................................................................................................................................... 41
1. Paulo ..................................................................................................................................................................... 41
2. Pedro .................................................................................................................................................................... 41
3. Davi ...................................................................................................................................................................... 42
4. Salomão ................................................................................................................................................................ 42
5. Jesus Cristo........................................................................................................................................................... 42
PAULO X TIAGO ............................................................................................................................................................ 43
Harmonização........................................................................................................................................................... 43
BIBLIOGRAFIA BÁSICA E SUPLEMENTAR ......................................................................................................... 44

SOTEROLOGIA 2
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SOTEROLOGIA
(A DOUTRINA DA SALVAÇÃO)
Apontamentos em Sala de Aula, SALT-IAENE
Dr. Luiz Nunes

INTRODUÇÃO

A salvação “é uma experiência de fé que redime nosso passado, enche de gozo nosso presente e
aguarda com esperança um futuro glorioso” – La Rondelle, O que é Salvação, pág. 9.

Portanto, a salvação é mais do que uma doutrina ou ensino bíblico de aspecto meramente conceitual.
Envolve o conhecimento pessoal de Deus, conforme revelado em Sua Palavra.

Dimensões da Salvação
As Escrituras apresentam a salvação como sendo uma experiência contínua, e não apenas uma
experiência momentânea em um dado instante da vida do cristão.
Ou seja, salvação é um processo e não um ato.

1. Passado
“Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme sua
própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” – 2Tim. 1:9.

O sentido da salvação está na Pessoa de Jesus Cristo. Na cruz do Calvário, Ele nos garantiu a certeza
da salvação. Foi um ato de iniciativa exclusivamente divina.
A morte de Jesus Cristo foi a vitória divina contra o pecado e contra o autor do pecado – Satanás. Com
o Seu sacrifício, Jesus proveu perdão a todos os pecadores.
Portanto, a morte vicária de Cristo nos proveu a justificação.

2. Presente
“Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos,
poder de Deus” – 1Cor. 1:18.

Salvação é mais do que um perdão divino providenciado na cruz – justificação.


É também andar com Deus, dia-a-dia.
Este andar com Deus as Escrituras denominam de santificação.

3. Futuro
“Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para revelar-se no
último tempo” – 1Pedro 1:5.

SOTEROLOGIA 3
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Nossa salvação só será completada quando Jesus Cristo voltar pela segunda vez. Então nossa natureza
pecaminosa será erradicada para sempre.
Este futuro ato divino é denominado de glorificação.

Origem da Salvação
“E adora-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no livro
da vida do Cordeiro que foi morto, desde a fundação do mundo” – Apoc. 13:8.
“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam
sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo” – Apoc. 14:6

O evangelho sempre existiu no coração da Divindade. Não foi um plano emergencial, elaborado após a
rebelião de Lúcifer, no céu, ou após o pecado de nossos primeiros pais, no Éden.

“O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão.
Foi a revelação ‘do mistério encoberto desde os tempos eternos’. Foi um desdobramento dos princípios que
têm sido, desde os séculos da eternidade, o fundamento do trono de Deus. Desde o princípio Deus e Cristo
sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador da apóstata. Deus não
ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível
emergência. Tão grande era Seu amor pelo mundo, que aceitou entregar Seu Filho unigênito ‘para que todo
aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna’” – Ellen White, O Desejado de Todas as Nações,
pp. 17-18.

ANÚNCIO DO PLANO DA SALVAÇÃO

Deus
Ele toma a iniciativa da salvação

“E chamou o Senhor Deus ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?” – Gên. 3:9.

Em Seu plano original para o homem, Deus pretendia desfrutar de um relacionamento eterno em amor.
A melhor ilustração deste relacionamento de amor entre Deus e o homem é o relacionamento entre pai
e filho (cf. Sal. 103:13; Luc. 15:11-32).
Pelo pecado, o homem separou-se de Deus. Portanto, se o Senhor não tivesse tomado a iniciativa de
buscá-lo, o homem nunca procuraria a Deus.
A melhor explicação prática do evangelho é: “Deus buscando o homem” (Luc. 15:3-7).
O motivo que impulsiona Deus a partir em busca do pecador é o Seu amor infinito.
A verdade mais maravilhosa da Bíblia é que Deus ama o pecador, apesar do seu pecado.
Deus é amor. O filho pródigo voltou porque confiou no amor do pai. Sua compreensão do amor do pai
era incompleta, mas foi o suficiente para erguê-lo de seu estado perdido.
O amor de Deus é poderoso. Ele sempre ama (Rom. 5:8). Ele ama o justo e o ímpio; Ama o
extraviado, e o que está “em casa”.

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Na parábola da ovelha, foi o pastor quem partiu em busca da ovelha perdida, assim como foi Deus
quem tomou a iniciativa de procurar Elias no monte Horebe (1Rs 19:9).

Homem

1. Antes da Queda
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou...
Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia” – Gên. 1:27, 31.
“A mente [do homem] era capaz de compreender as coisas divinas. As afeições eram puras; os
apetites e paixões estavam sob o domínio da razão. Ele era santo e feliz, tendo a imagem de Deus, e estando
em perfeita obediência à Sua vontade” – Ellen White, Patriarcas e Profetas, p. 28.
“Nossos primeiros pais, se bem que criados inocentes e santos, não foram colocados fora da
possibilidade de praticar o mal. Deus os fez como entidades morais livres, capazes de apreciar a sabedoria
e benignidade de Seu caráter, e a justiça de Suas ordens, e com ampla liberdade de prestar obediência ou
recusá-la. Deviam gozar comunhão com Deus e com os santos anjos; antes, porém, que pudessem tornar-se
eternamente livres de perigo, devia ser provada sua fidelidade” – Idem, p. 32.

2. Após a Queda
O pecado do homem se constituiu, a princípio, em perda da confiança na palavra do Deus de amor.
“E lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento
do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” – Gên. 2:16, 17.

A falta de confiança em Deus levou o homem a se revelar contra Ele e se separar dEle.
O pecado de nossos primeiros pais foi cometido antes de comerem do fruto proibido. Eles pecaram
contra Deus quando em seu coração decidiram deixar de confiar no Senhor.
Então, o pecado de Adão e Eva foi deixar de confiar em Deus.
O pecado de Adão e Eva, como também o nosso, consiste primeiro em não confiar em Deus e, em
segundo lugar, em agir contra a vontade dEle.

“Mas aquele que tem dúvidas é condenado, se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que
não provém de fé é pecado” – Rom. 14:23.

Portanto, o pecado tem dois aspectos:


• O primeiro é subjetivo, ou seja, é uma atitude da alma (no sentido de “homem interior”).
• O segundo aspecto é objetivo porque abrange a ação humana que pode ser vista, constatada e
medida pelos atos praticados.
O pecado (visto sob os dois aspectos mencionados acima) separou o homem de Deus.
Uma vez separado de Deus, o homem ficou totalmente perdido.
• Suas afeições não eram mais voltadas a Deus, mas para si mesmo.

A Profundidade e a Universalidade do Pecado


O pecado provocou separação (ruptura) no relacionamento entre Deus e o homem.

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“Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem
o seu rosto de vós, para que vos não ouça” – Isaías 59:2.

Esta ruptura entre Deus e o homem produziu outras rupturas:

1. Ruptura do homem dentro de si mesmo


“Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, cozeram folhas de figueira, e
fizeram cintas para si... Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo e me
escondi” – Gên. 3:7, 10.

2. Ruptura entre o homem e a mulher (casamento)


“Então disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” – (3:12).

3. Ruptura entre os homens (sociedade)


“Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou
Caim contra Abel, seu irmão, e o matou” – (4:8).

• Há os que fazem o bem (filhos de Deus) e os que fazem o mal (filhos dos homens).
• Abel e Caim representam estes dois grupos na sociedade em geral.

4. Ruptura entre o homem e a natureza


“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não
comesse: maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.
Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo” – (3:17, 18).

Ação de Deus após a queda

1. O Evangelho é Deus Buscando o Homem


“Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se
da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim” – Gên. 3:8.

A primeira reação de Adão e Eva, ao ouvirem a voz de Deus, foi a de se esconderem. Por quê?
• O pecado produziu em nossos primeiros pais uma visão distorcida do caráter de Deus.
• Eles se esconderam por causa do senso de culpa e vergonha.
• Eles se esconderam para não sofrerem o castigo prometido por Deus.
• Passaram a ver a Deus como um tirano, pronto a castigar os que Lhe desobedecem.
Mas a visão distorcida provocada pelo pecado não desvirtuou apenas a compreensão a respeito do
caráter de Deus; desvirtuou o sendo de dignidade do próximo.

“Então disse o homem: a mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.” – Gên.
3:12.

Adão deixou de ver Eva como uma “auxiliadora idônea” (2:18), para considerá-la como inimiga.
Sim, só um inimigo poderia influenciá-lo a transgredir a ordem divina.

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Eva não era mais sua esposa amada, mas uma adversária.
A visão distorcida que o homem tem de Deus, por causa do pecado, leva-o a ter uma visão distorcida
do seu próximo.
Aqui está a causa do conflito que leva à separação de casais, amigos, famílias, povos e nações.
A solução para o problema do pecado está na reaproximação do homem e Deus, isto é, na
restauração do relacionamento amigável de confiança e amor com Deus.
Com que surpresa e admiração Adão e Eva devem ter ouvido a suave voz de Deus a lhes chamar! Não
lhes falou com irritação, mas com amor. Ao O ouvirem falar, houve uma inversão de sentimentos: da
vergonha e temor para a confiança e amor.
Era Deus quem estava restaurando o relacionamento com o homem.

2. O Evangelho é Deus Provendo uma Solução para o Pecado do Homem


a) A Promessa Divina
“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” – Gên. 3:15.

Aqui encontramos a primeira profecia messiânica, como também a primeira promessa de vitória sobre
o pecado. Gênesis 3:15 tem um duplo sentido:
• Promessa de um Messias substituto – justificação.
• Promessa de uma repulsa contra o pecado – santificação.

“Se, porém, cedessem uma vez à tentação, sua natureza se tornaria tão depravada que não teriam em
si poder nem disposição para resistir a Satanás” – Patriarcas e Profetas, p. 45.
“O pecado não somente nos exclui de Deus, mas também destrói na alma humana tanto o desejo como
a capacidade de O conhecer” – Educação, p. 28.
“O resultado de comer da árvore da ciência do bem e do mal, é manifesto na experiência de todo
homem. Há em sua natureza um pendor para o mal, uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir.
Para opor resistência a esta força, para atingir aquele ideal que no íntimo de sua alma ele aceita como o
único digno, não pode encontrar auxílio senão em um poder. Esse poder é Cristo” – Idem, p. 29.
“Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa operação da terceira pessoa da
Trindade, a qual viria, não com energia modificada, mas na plenitude do divino poder. É o Espírito que
torna eficaz o que foi realizado pelo Redentor do mundo. É por meio do Espírito que o coração é purificado.
Por Ele torna-se o crente participante da natureza divina. Cristo deu Seu Espírito como um poder divino
para vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal, e gravar Seu próprio caráter em Sua igreja”
– O Desejado de Todas as Nações, p. 646.
“Sem o processo transformador que só pode advir através do divino poder, as propensões originais
para o pecado permanecem no coração com toda a sua força, para forjar novas cadeias, para impor uma
escravidão que nunca poder ser desfeita pela capacidade humana” – Evangelismo, p. 192.
“É a graça que Cristo implanta na alma, que cria no homem a inimizade contra Satanás. Sem esta
graça que converte, e esse poder renovador, o homem continuará cativo de Satanás, como servo sempre
pronto a executar-lhe as ordens. Mas o novo princípio na alma cria o conflito onde até então houvera paz. O
poder que Cristo comunica, habilita o homem a resistir ao tirano e usurpador. Quem quer se ache a

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aborrecer o pecado em lugar de o amar, que resista a essas paixões que têm dominado interiormente e as
vença, evidencia a operação de um princípio inteiramente de cima” – O Grande Conflito, p. 506.

b) A Ação Divina
“Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu” – Gên. 3:21.

A perda da confiança na palavra de Deus levou o homem para longe dEle.


Atraída pela serpente (Gên. 3:1; Apocalipse 12:9), Eva aproximou-se da árvore do conhecimento do
bem e do mal. Ali dialogou com a serpente, e esta, tendo recebido a atenção de Eva, falsamente acusou a
Deus de impedir-lhe o acesso a uma fonte de conhecimento mais amplo.

“Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis
conhecedores do bem e do mal” – (3:5).

Além de repressor, Satanás sutilmente acoplou outra acusação velada contra Deus: o egoísmo.
Ora, se Deus estava impedindo que o homem tivesse acesso a um conhecimento mais amplo (“...se vos
abrirão os olhos”), era porque Ele o desejava somente para Si.
Lastimavelmente, Eva deixou de crer em Deus para acreditar na serpente. Este foi o seu pecado.
O ato de comer do fruto foi uma conseqüência da descrença em Deus.
Eva desempenhou para Adão o mesmo papel que a serpente utilizara para ela: um instrumento de
tentação. Levou-lhe o fruto e sugeriu-lhe que o comesse.

“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para
dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu” – (3:6).

Adão teve oportunidade de dialogar com Eva, e voluntariamente decidiu comer do fruto proibido.
Tal como Eva, ele preferiu não confiar na palavra de Deus.
A felicidade eterna da raça humana dependia da fé na palavra de Deus.

“E lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento
do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” – (2:16, 17).

A mesma verdade contida acima pode ser expressa com outras palavras, sem alterar-lhe o sentido:
• “Certamente vivereis para sempre se não comeres da árvore do conhecimento do bem e do
mal.”

O que Deus queria destacar na lei proibitiva não era a morte, como conseqüência de comer do fruto,
mas a vida eterna de felicidade pela abstinência de comer do fruto!
O pecado de Adão e Eva foi um contra-senso, uma loucura! Todo o ambiente contribuía para prover-
lhes uma atmosfera de alegria e felicidade: as plantas, as flores e a diversidade de animais. Especialmente a
comunhão com Deus e com os anjos.

“Os anjos os advertiam a que estivessem de sobreaviso contra os ardis de Satanás; pois este esforço
para os enredar seria incansável. Enquanto fossem obedientes a Deus, o maligno não lhes poderia fazer

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mal; pois, sendo necessário, todos os anjos do Céu seriam enviados em seu auxílio” – Patriarcas e Profetas,
p. 45.

A comunhão com Deus, com os anjos e com a Natureza deveria ser para Adão e Eva uma eterna
motivação a não comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Separado de Deus, por causa do pecado cometido, o homem passou a exercer o uso de sua vontade
egoisticamente: preparou uma vestimenta para cobrir a nudez do seu corpo, escondeu-se de Deus e,
finalmente, para justificar-se perante Deus, mentiu, culpando a esposa pelo ato que ele voluntariamente
praticara.

A Essência do Pecado é o Egoísmo


O pecador é aquele que se escolhe a si mesmo como fim supremo, em vez de escolher a Deus.
Este foi o pecado de Lúcifer, bem como o de Adão e Eva.

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que
debilitavas as Nações! Tu dizias no ter coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o
meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais
altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” – Isaías 14:12-14.
“Ninguém de nenhum modo vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a
apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra
tudo o que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se
como se fosse o próprio Deus” – 2Tess. 2:3-4.

Uma Definição Prática de pecado

“Eu quero”
Vontade própria e obstinação em vez de submissão. Daí vem o egoísmo em vez do altruísmo.

“Eu posso”
Auto-suficiência, em vez de fé.

“Eu faço”
Farisaísmo (justiça-própria) em vez de humildade.

O antídoto contra a essência do pecado (egoísmo) é a CONVERSÃO.

“Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo
pela fé no Filho de Deus, que me amor e a si mesmo se entregou por mim” – Gálatas 2:20.

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A Morte do Cordeiro
Esta foi a ação divina para a solução do pecado de Adão e Eva.
Como nossos primeiros pais reagiram ao verem os resultados do pecado na natureza:
“Testemunhando eles, ao murchar da flor e no cair da folha, os primeiros sinais da decadência, Adão
e sua companheira choraram mais profundamente do que os homens hoje fazem pelos seus mortos. A morte
das débeis e delicadas flores era na verdade um motivo para tristeza; mas, quando as formosas árvores
derrubaram as folhas, esta cena levou-lhe vividamente ao espírito o fato cruel de que a morte é o quinhão de
todo o ser vivente” – Patriarcas e Profetas, p. 56

Deus ordena que Adão mesmo mate um cordeiro.


“Para Adão, a oferta do primeiro sacrifício foi uma cerimônia dolorosíssima. Sua mão deveria
erguer-se para tirar a vida, a qual unicamente Deus podia dar. Foi a primeira vez que testemunhava a
morte, e sabia que se ele tivesse sido obediente a Deus não teria havido morte de homem ou animal. Ao
matar a inocente vítima, tremeu com o pensamento de que seu pecado deveria derramar o sangue do
imaculado Cordeiro de Deus. Essa cena deu-lhe uma intuição mais profunda e vívida da grandeza de sua
transgressão, que coisa alguma, a não ser a morte do amado Filho de Deus poderia expiar” – Idem, p. 68.

O que Deus queria ensinar?


• Um Inocente substituto deveria morrer pelos pecados – Cordeiro.
• Unicamente Sua morte poderia prover justiça aos pecadores – vestes feitas de peles.
• Para que a justificação fosse efetiva ao pecador, este deveria aceitá-la pela fé na palavra de
Deus. Adão e Eva tinham liberdade de aceitar ou rejeitar o plano que Deus oferecera.

“No início do grande conflito, declarara Satanás que a lei divina não podia ser obedecida, que a
justiça era incompatível com a misericórdia, e que, fosse a lei violada, impossível seria ao pecador ser
perdoado. Cada pecado devia receber seu castigo, argumentava Satanás; e se Deus abrandasse o castigo do
pecado, não seria um Deus de verdade e justiça. Quando o homem violou a lei divina, e Lhe desprezou a
vontade, Satanás exultou. Estava provado, declarou, que a lei não podia ser obedecida; o homem não podia
ser perdoado. Por haver sido banido do Céu, depois da rebelião, pretendia que a raça humana devesse ser
para sempre excluída do favor divino. O Senhor não podia ser justo, argumentava, e ainda mostrar
misericórdia ao pecador” – O Desejado de Todas as Nações, p. 732.

Satanás exultou quando Adão e Eva caíram em pecado. Para ele, Deus estava num dilema:
• Se Deus perdoasse o homem, não seria justo;
• Se Deus não perdoasse, não seria amor.

A solução divina para o Seu dilema seria a expiação vicária (substituta).


Tal salvação foi provida pelo amor de Deus.

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A JUSTIFICAÇÃO

Quando fala de justificação pela fé em suas epístolas aos Romanos e aos Gálatas, Paulo está usando
uma metáfora das coortes forenses (tribunais). A palavra grega traduzida para “justificar” é DIKAIOUN
(DIKAIOSUNE, “justiça”; DIKAIOS, “justo”). A palavra não quer dizer “tornar justo”, mas “considerar”,
“declarar” ou “contar” como justo. Quando uma pessoa é acusada perante uma coorte e o juiz a declara sem
culpa, essa pessoa é considerada inocente. Paulo aplica esse modelo forense ao processo da salvação, e
declara que, devido ao que Jesus fez, Deus considera como justo o pecador que a Ele vem com fé.
Conquanto João use um conjunto de palavras diferentes, o que se acha descrito em seu evangelho
(3:17-19; 5:24), está aproximado do que Paulo entende por justificação pela fé. De acordo com João, aquele
que crê em Jesus não entra em juízo; enquanto que aquele que não crê, já foi julgado. O juízo vem no fim do
tempo e o veredicto dado em juízo determinará o lugar da pessoa na nova ocasião. Mas o crente em Jesus já
sabe qual deve ser esse veredicto – vida eterna. Igualmente em Paulo, os pecadores são justificados pela fé
(PISTIS, “crença”), e se crerem em Jesus e continuarem seu relacionamento com Ele, têm a certeza no
resultado final do juízo. Eles sabem agora (no presente) que o veredicto será “inocente”. Seu “status” de
justiça é assegurado em Jesus (pois Jesus é justo). O futuro tornou-se presente em Cristo, e para ser aceito
pelo crente por meio da fé (cf. O Ministério, Jan/Fev. 1992, p. 21).

“É da prerrogativa do Pai perdoar as nossas transgressões e pecados, porque Cristo tomou sobre Si
nossa culpa, aliviando-nos da mesma, nos imputando Sua própria justiça. Seu sacrifício satisfaz plenamente
as reivindicações da justiça” – Declaração de Ellen White no Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia,
vol. 6, p. 1.070.

Lutero e a Justificação pela Fé


A restauração da doutrina da justificação pela fé foi realizada por Martinho Lutero no século XVI. Até
chegar à sua histórica descoberta, Lutero procurara por todos os meios possíveis encontrar a certeza da
aprovação divina para si.

“Aprofundando-se suas convicções de pecado, procurou pelas próprias obras obter perdão e paz.
Levava vida austera, esforçando-se por meio de jejuns, vigílias e penitências para subjugar os males de sua
natureza, dos quais a vida monástica não o libertava. Não recuava ante sacrifício algum pelo qual pudesse
atingir a pureza de coração que o habilitaria a ficar aprovado perante Deus” – O Grande Conflito, p. 120.

Pela providência divina, Lutero foi levado a visitar Roma. Após haver chegado na cidade, ele tomou
conhecimento de um decreto papal que concedia uma certa indulgência (perdão) aos que subissem de joelhos
a “escada de Pilatos”.

“Por uma decretal recente, fora prometida pelo papa certa indulgência a todos os que subissem de
joelhos a “escada de Pilatos”, que se diz ter sido descida por nosso Salvador ao sair do tribunal Romano, e
miraculosamente transportada de Jerusalém para Roma. Lutero estava certo dia subindo devotamente esses
degraus, quando de súbito uma voz semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: “O justo viverá pela fé”.
Romanos 1:17. Ergueu-se de um salto e saiu apressadamente do lugar, envergonhado e horrorizado. Esse
texto nunca perdeu a força sobre sua alma. Desde aquele tempo, viu mais claramente do que nunca dantes a

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falácia de se confiar nas obras humanas para a salvação, e a necessidade de fé constante nos méritos de
Cristo. Tinham-se-lhe aberto os olhos, e nunca mais se deveriam fechar aos enganos do papado. Quando ele
deu as costas a Roma, também dela volveu o coração, e desde aquele tempo o afastamento se tornou cada
vez maior, até romper todo contato com a igreja papal” – Idem, p. 122.

Para Lutero esse dia tornou-se inesquecível.


Historicamente, foi o ressurgimento da verdade bíblica da justificação pela fé.
Da justificação pelas obras, Lutero passou à justificação pela fé.

Eis o texto bíblico que mudou a trajetória da vida de Lutero:

“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele
que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em
fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rom. 1:16-17).

Cristo Crucificado – a Revelação da Justiça de Deus

1. Justiça de Deus
a) Um atributo divino
É uma qualidade específica do caráter de Deus.
Deus é justo no mesmo sentido em que Ele é amor. A Justiça perfeita pertence a Deus como uma parte
intrínseca de Seu próprio Ser.

“A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins” – Isaías 11:5.

A justiça como atributo de Deus não salva o homem; pelo contrário, se Deus abertamente Se revelasse
aos pecadores em Sua justiça e santidade, o homem seria destruído.

b) Justiça salvadora
A justiça que salva é a justiça de Deus revelada através de Jesus Cristo (Rom. 3:21-24)

2. A Revelação da Justiça de Deus (Rom. 3:21-16)


“Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado” – Rom. 3:20.

O problema dos judeus do tempo de Cristo consistia no uso errado da lei de Deus. Eles usavam a lei
como meio de salvação. É evidente que eles não adoravam ídolos. Eles adoravam a lei.

“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas” – Rom.
3:21.

Para Paulo, o evangelho de Jesus Cristo é confirmado pela lei e pelos profetas. O evangelho de Jesus
Cristo não é a rejeição ou anulação do Velho Testamento, mas é a sua plena confirmação e revelação.

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A justiça salvadora de Deus que justifica o pecador arrependido é concedida como um dom,
totalmente desvinculada da obediência do homem à lei (Rom. 3:28).

“Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” –
Rom. 3:24.

(1) Graça
“O vocábulo grego CHARIS significa ‘favor’ ou ‘generosidade’, especialmente não conseguido ou
imerecido. Paulo usa a palavra para sublinhar que a atividade salvífica de Deus em Jesus é totalmente
imerecida pelo pecador e que ela constitui a disposição amorosa de Deus para com a criatura errante” – O
Ministério, Jan-Fev/1992, p. 23.

(2) Redenção
“’Redenção’ significa reaquisição – ato de tornar a comprar, pagando o preço exigido. Fala-se de
redimir a propriedade perdida ou resgatar os bens colocados numa loja de penhora, pagando certa quantia
em dinheiro. Este era o significado antes da palavra ‘apolutrosis’, que Paulo usa para falar do ato da
redenção em Cristo Jesus (Rom. 3:24). Uma imagem particularmente notável, associada com esta palavra
em seu primeiro século de uso, relaciona-se com a redenção de um escravo. O escravo tinha que redimir-se
e comprar sua liberdade, pagando ao seu senhor o preço de mercado como escravo; ou outra pessoa
poderia comprar-lhe a liberdade, pagando o preço. Assim, quando Paulo falou de Jesus com Redentor, na
verdade ele estava dizendo que Jesus havia pago o preço para os libertar da escravidão do pecado. Seus
leitores não deveriam perder de vista a questão da passagem da escravidão para a liberdade – tudo como
um dom gratuito de Cristo, que realmente pagou um elevado preço pela salvação da raça humana” – Idem,
p. 21.

“A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça,
por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” – Rom. 3:25.

(3) Propiciação
“O único outro uso vocábulo, no Novo Testamento, é o que aparece em Hebreus 9:5, onde se refere
ao ‘propiciatório’ que era a tampa de ouro da arca da aliança, e sobre a qual era derramado o sangue do
sacrifício, no dia da expiação, ao entrar o sumo sacerdote no Santo dos Santos. O ‘propiciatório’, pois, era
o ‘local’ da expiação. O propiciatório jazia oculto, e os judeus, através de seus sumo sacerdotes, podiam
aproximar-se do mesmo apenas uma vez por ano. Era ali que Deus vinha encontrar-se com os homens. (Ver
Êxodo 25:17-22; Levítico 16:2 e Num. 7:89). Era aquele, por igual modo, o lugar da meditação, bem como
da manifestação da remissão do pecado. Assim também, por intermédio de Cristo, que é o antítipo ou
realização do propiciatório, há uma mediação com Deus, já que Jesus é o grande Mediador entre Deus e os
homens, e que, por meio dele, os homens têm acesso a Deus. (Ver Efésios 2:18)” – Champlin, O Novo
Testamento Interpretado, vol. III, p. 623.

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(4) Tolerância
Na cruz de Jesus Cristo, Deus demonstrou (tornou público, revelou) dramaticamente a Sua justiça. Por
quê? Porque durante os quatro mil anos anteriores à cruz, Deus não havia tratado ao pecado com a Sua ira
completa.
Deus ignorou os pecados dantes cometidos não porque Ele os esqueceu, mas porque os tolerou por
muito tempo, ou seja, Deus Se “conteve” para não descarregar a Sua ira sobre os pecadores.
A paciência de Deus para com os pecados dantes cometidos não significava ignorá-los, tolerá-los ou
tratá-los levianamente, mas, ao contrário, é apenas o adiantamento de julgamento do pecado.
O que Deus fez em Jesus Cristo é a manifestação do fim da paciência.
Para Paulo, o evangelho de Cristo é a pregação da cruz como o local de julgamento de Deus. Assim o
evangelho revela que Deus considera o pecado seriamente, e que está cheio de ira contra o pecado.

Deus, por causa do sacrifício de Cristo, aceita os homens na pessoa dEle, como Salvador, e os declara
justificados. Portanto, o sangue é a base (ou a causa) da declaração judicial (forense) da justificação.
Tanto na expiação, como na justificação pelo sangue, reside o poder de purificar os homens dos
pecados.

“Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” – 1Jo 1:7.

Este “pecado” não é somente o pecado do passado.


O sangue nos purifica dos pecados diários.
Isto acontece através do ministério do Espírito Santo, mas a base da santificação é o sangue.

O sangue simboliza a operação santificadora do Espírito.


O poder e a influência do Espírito transformam a nossa vida moral.

A expiação do sangue é ao mesmo tempo a causa do perdão do pecado, e o instrumento de purificação


contínua.

O “sangue de Cristo” não é um ato do homem, mas é um ato de Deus oferecendo a reconciliação ao
homem. O perdão dos nossos pecados não é um esquecer “barato”, mas é o mais sério tratamento imaginável
do pecado. Deus pagou o infinito preço da morte de Cristo. A cruz é o lugar do ato da reconciliação de Deus!

“Tendo em vista a manifestação de sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e
justificador daquele que tem fé em Jesus” – Rom. 3:26.

Da mesma forma em que o sacrifício expiatório de Cristo encontrou solução para as transgressões
passadas, assim também encontra solução para as transgressões presentes.
A morte de Jesus tem o mesmo efeito para os pecados cometidos no presente, como os do passado ou
anteriores à cruz.
Em Romanos 3:26, Paulo deixa claro que na cruz de Cristo Deus mostrou que Ele é justo, mas também
que Ele justifica o crente em Cristo. Assim, a cruz revela o duplo aspecto da justiça de Deus:

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• justiça retribuitiva (justiça)


• justiça redentiva (misericórdia)

“O amor de deus têm-se expressado tanto em Sua justiça como em Sua misericórdia. A justiça é o
fundamento de Seu trono, e o fruto de Seu amor. Era o desígnio de Satanás divorciar a misericórdia da
verdade e da justiça. Buscou provar que a justiça da lei divina é um inimigo da paz. Mas Cristo mostrou
que, um plano divino, elas não indissoluvelmente unidas; uma não pode existir sem a outra” – O Desejado
de Todas as Nações, p. 733.

Justificação Forense - Perdão

Ellen White escreveu que “o perdão de Deus não é meramente um ato judicial pelo qual ele nos livra
da condenação. É não somente perdão pelo pecado, mas livramento do pecado. É o transbordamento de
amor que transforma o coração” – O Maior Discurso de Cristo, p. 114.

Com Sua morte na cruz do Calvário, Jesus Cristo ofereceu a salvação a todos os pecadores.

“Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como
justiça” – Rom. 4:5

Vejamos como Lutero entendeu este verso:

“Intrinsecamente, os santos sempre são pecadores; por isto sempre são justificados extrinsecamente.
Os hipócritas, ao contrário, intrinsecamente sempre são justos; por isto extrinsecamente sempre são
pecadores. Os santos são pecadores intrinsecamente, digo, ou seja: tal como somos dentro de nós mesmos,
aos nossos olhos no conceito que temos de nós mesmos extrinsecamente vem a ser, então, tal como somos
diante de Deus e no seu conceito. Portanto, somos justos extrinsecamente quando somos, não por algo
procedente de nós, não por nossas obras, mas somente pela imputação da justiça da parte de Deus; pois sua
imputação não se baseia em algo dentro de nós nem em nosso poder. Assim, também nossa justiça não se
baseia em algo dentro de nós, nem está em nosso poder. Porquanto os santos sempre tenham seus pecados
perante seus olhos e rogam a Deus que lhes outorgue a justiça conforme a misericórdia, Deus também
sempre os têm como justos. Assim, que perante si mesmos e em verdade são injustos; mas perante Deus, que
pela confissão dos pecados os considera justos, são justos. Sendo, em realidade, pecadores, são justos
porque Deus que tem compaixão deles, os conceitua como justos de uma maneira que sobrepuja o seu
entendimento, e são injustos segundo o seu entendimento pode atingir. De fato, são pecadores, mas são
justos em esperança” – Obras de Martín Lutero, vol. X, pp. 165-166.

Assim, justificação forense equivale ao perdão de Deus, isto é, ao ato judicial pelo qual Ele nos livra
da condenação.
A penalidade que nós pecadores deveríamos receber – morte eterna – foi substitutivamente sofrida por
Jesus Cristo. Sua morte na cruz é um ato de graça que assegura a todos os pecadores – “ímpios” – o perdão.

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Contudo, a morte de Jesus Cristo como nosso Substituto não justifica automaticamente a todos os
pecadores. Se assim fosse, então a salvação seria universalista (este conceito é defendido por alguns
evangélicos).
Para ser efetiva, a justificação precisa ser aceita pelo pecador, através da fé no sacrifício expiatório de
Cristo. Ao receber, pela fé em Cristo, o perdão de Deus, o crente é, a partir de então, considerado justo por
Deus.
O aspecto forense da justificação está ligado ao ato divino de justificar o pecador – “ímpio”, que crê
em Jesus Cristo, com base na ação justificadora de Deus na morte e ressurreição de Cristo.
Assim, a justificação é um ato de graça de Deus e não uma retribuição segundo as obras do homem.

Justificação Pela Fé – Promoção

A absolvição judicial ou perdão legal, embora livre o pecador da condenação não transforma o caráter
do pecador. A justificação, para ser completa, precisa conferir ao pecador um poder divino, que transforme
a sua vida.
Assim, a justificação tem dois aspectos distintos, mas simultâneos: perdão (justificação forense) e
promoção.

Lembrando:
“O perdão de Deus não é meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. É não
somente perdão pelo pecado, mas livramento do pecado. É o transbordamento de amor redentor que
transforma o coração” – O Maior Discurso de Cristo, p. 114.

1. A mulher pecadora, além de ter sido perdoada por Cristo, foi “promovida” do estado de
condenada à morte, a salva pela graça (cf. João 8:1-12).
A justificação pela fé está revelada nas palavras de Jesus Cristo: “Nem eu tão pouco te condeno;
vai...”.
• O perdão de Jesus foi expresso por: “Nem eu tão pouco te condeno”.
• A promoção que Jesus lhe ofereceu, concedeu-lhe poder para viver uma vida de santificação.
Tal como o perdão, a promoção é o ato de um momento. Ambos são simultâneos.

2. O “filho pródigo” foi perdoado e promovido.

“O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; vesti-o, ponde-lhe um anel no
dedo e sandálias nos pés; também trazei e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este
meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se” – Lucas 15:22-
24.
O filho não merecia a posição a que foi restabelecido. Tinha consciência de sua indignidade, tanto que
decidiu pedir trabalho como empregado. Ele voltou a ocupar a posição de filho unicamente pela
misericórdia do pai.
Sim, o pródigo foi promovido à posição de um filho normal.

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Como o Homem pode se Tornar Justo (ser Justificado)?


Segundo a avaliação bíblica, todo o ser humano descendente de Adão é pecador, portanto, não tem
justiça em si mesmo.

“Como está escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” – Rom.
3:10-12.
“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” – Rom. 3:23.

O homem torna-se justo (é justificado) quando pela fé aceita a Jesus Cristo.

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” – João 3:16.
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça
de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção...
sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” – Romanos
3:21-24.

Jesus Cristo é a melhor definição de justiça.

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e
agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará
seguro; será este o seu nome, com que será chamado: Senhor Justiça Nossa” – Jeremias 23:5-6.

Ellen White aplica esse título a Jesus Cristo:


“Jeremias também testificou da vinda do Redentor como um príncipe da casa de Davi” – Atos dos
Apóstolos, p. 223.

Jesus Cristo é nossa justiça pela Sua vida irrepreensível, de perfeita obediência à lei de Deus e pela
Sua morte vicária na cruz.

“Podemos ver nas Escrituras que a alienação do homem de Deus determinou duas conseqüências
fatais: ele está inteiramente sem justiça e está sob uma sentença de morte. Portanto, para o homem ser
salvo, Deus precisa fazer duas coisas: Ele deve remover a sentença de morte e Ele deve providenciar justiça
perfeita e divino poder que traga o homem de volta a um relacionamento com Deus. O primeiro requisito
Deus preencheu pela morte de Cristo; o segundo, pela vida de justiça que Jesus viveu na terra. Este é o
evangelho, ‘o poder de Deus para a salvação’ (Rom. 1:16)” – Salvation Unlimited, p. 26.

O Processo da Justificação Pela Fé


A justificação pela fé deve ser compreendida como o ato de Deus, pelo qual Ele remove a sentença de
condenação, a qual o homem está exposto como conseqüência de seus pecados, libertando-o de sua culpa e
atribuindo-lhe os méritos de Cristo.

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Este ato ocorre no momento em que o mérito de Cristo é apropriado pela fé, sendo designado como
ato forense ou judicial, visto que Deus pronuncia um juízo sobre o homem, que lhe confere uma posição
inteiramente diferente e direitos inteiramente diferentes.
Na justificação, o relacionamento do homem com Deus é restabelecido de tal maneira que agora ele
encontra-se perdoado de todos os seus pecados, não sendo mais culpado perante Deus, mas aparecendo
perante o Senhor como aceito e justo, em quem Deus não encontra nada mais para punir, com quem Ele não
tem mais uma atitude de desagrado.
Através deste ato de justificação que emana de Deus, nós recebemos a remissão dos pecados e a
imputação da justiça de Cristo; para Deus, desde o momento em que a fé é exercida, Ele vê tudo o que Cristo
realizou com se tivesse sido feito pelo homem. Na justificação, o homem recebe gratuitamente, pela fé, além
do perdão dos pecados, o poder para viver uma vida de justiça em Cristo.
Assim, a justificação concede três coisas: 1) perdão, 2) promoção e 3) poder!

O Significado de Justiça de Deus para Paulo

1. Uma Virtude Essencialmente Divina


É o acontecimento divino, supremo e universal em Cristo, em favor de toda a raça humana (cf. Rom.
1-3).

2. Uma Ação Divina


A justiça de Deus (dikaiosine teou) apresenta Deus em ação. Não é um mero atributo divino, no
sentido estático do pensamento grego, ou em termos dos atributos do protestantismo inicial.
O poder (dinamis) de Deus está envolvido (cf. Rom. 1:17; 3:21; 3:25).

3. O Centro na Cruz
A compreensão da justiça de Deus, bem como a sua mensagem, está centralizada na cruz de Cristo
(Rom. 3:25; 5:9; 2Cor. 5:18; Gál. 3:13), onde o ato salvador de propiciação (lasterion) teve lugar.
A “justiça de Deus” revelada na cruz envolve não apenas a morte, mas também a ressurreição de
Cristo. Por isto, “justiça de Deus” não é apenas um ato declaratório ao mundo. Os acontecimentos
intimamente ligados (morte – ressurreição) têm um centro histórico – a cruz.
Isto é que tornar possível a declaração em 1Cor. 1:30: “Mas vós sois dEle, em Cristo Jesus, o qual Se
nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”.

4. Deus é Justo e Demonstra Justiça


A “justiça de Deus” deixa claro que Ele é justo, e que a justiça é própria a Ele (Rom. 3:25). Contudo,
não é uma justiça estática. Ela está enraizada na “demonstração” (endeisis) de Sua ação judicial.
“Justiça” é uma expressão de graça, mas de tal maneira que a “justiça de Deus” também é revelada.
Todavia, a “demonstração” ou “manifestação” também é uma declaração de perdão que traz salvação.
Desta forma nós temos uma dualidade: justiça e graça combinadas.

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5. Justificação Forense
A “Justiça de Deus” inclui a justificação. A justiça é judicialmente atribuída ao crente.
É imputada a ele como uma nova qualidade, perante Deus.
Forensicamente, judicialmente, não significa “como se” ele fosse justo, visto que a soberana sentença
de Deus é pronunciada genuinamente. Tampouco significa que a retidão moral foi atingida. Significa apenas
que o homem que tem “justiça” está numa posição correta perante Deus.
O julgamento de Deus produz a “justiça” nos crentes pela remissão. Esta justificação divina é vista na
declaração contrastante de Paulo em Rom. 8:34; 2Cor. 3:9.
“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita
de Deus, e também intercede por nós” – Rom. 8:34.
“Porque se o ministério da condenação foi glória, em muito proporção será glorioso o ministério da
justiça” – 2Cor. 3:9.

6. Há um Relacionamento entre “Justiça” e outros “termos”


Observa-se em Paulo um perfeito relacionamento de “justiça de Deus” com “remissão”, “perdão”;
“dom”, “livre dom”, “benefício”.
A “justiça” concedida e comunicada por Deus é mais do que perdão. Ela é apresentada com ação
auxiliadora, eficaz, salvadora; como uma ação de libertação total.
No Judaísmo, a justificação, em termos de méritos, virá no fim escatológico. Ela nunca é revelada no
presente; mas no Cristianismo a “justiça” é comunicada no presente (cf. Rom. 3:24-26; 5:1, 9).
Para Paulo, o “dom da justiça” é tanto comunicado como recebido.

“Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância
da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” – Rom. 5:17.

Por esta razão é que a comunicação determina a vida total da fé, caracterizada pela expressão: estado
de justificação.
A renovação constante da firmeza da fé é realizada na base da “justiça” comunicada.

“E ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” – Fil. 3:9.

De onde provêm, então, a justiça? Da lei?


Não, ela vem de Deus!

7. Justiça e Fé
É pela fé que a pessoa é atraída para a salvação provida por Cristo. Em seus escritos, Paulo trata da
justificação individual e nunca de justificação coletiva, mas Paulo não pensa no indivíduo nem sentido
individualístico. Quando a pessoa é justificada, ela passa a ser um membro do corpo de Cristo.
Cumpre ressaltar, contudo, que além de toda a ênfase colocada na experiência pessoal, tudo que é
realizado permanece na esfera do ato objetivo de Deus – a salvação provida em Cristo, no evento: vida,
morte e ressurreição. Isto está claramente demonstrado no fato de que nas comunidades Paulinas os crentes
são justificados quando eles são batizados nas águas e recebem ali o Espírito Santo. (cf. Gál. 3:1-5).
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“Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, em nome do Senhor Jesus
Cristo e no Espírito do nosso Deus” – 1Cor. 6:11.

Todavia, isto não significa que a justificação esteja magicamente ligada com o batismo. Isto é
refutado, não apenas em 1Cor. 1:17 (“Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o
evangelho; não com sabedoria da palavra, mas para que se não anule a cruz de Cristo”), mas pelo conceito
Paulino de fé:

“E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso;
para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a
justiça” – Rom. 4:11.

A justiça de Deus foi imputada a Abraão antes que ele tivesse sido circuncidado. Também é bom
lembrar que o próprio Paulo foi quem declarou que o batismo cristão tinha seu equivalente no rito da
circuncisão israelita.

“Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, na qual
igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” – Col.
2:11-12.

O exemplo do pai da fé de ter sido justificado antes da circuncisão é uma garantia que nos impede de
considerar o batismo como um rito mágico.

Há uma relação da atitude subjetiva com o ato objetivo da salvação, e que merece uma consideração
especial.

8. Justiça com o Objetivo de Esperança


A salvação no presente traz consigo a esperança da salvação no futuro, pois a justificação é uma graça
que implica no alvorecer de um novo tempo; sendo, portanto, uma ponte no tempo.
Esta é a grande inversão trazida pela justificação:
• No Judaísmo a justificação é incerta e deve sr esperada até o Dia do Juízo.
• No Cristianismo, ela já está presente e ativa. É declarada à luz da história e apropriada pela fé
como uma realidade presente.
Visto que a promessa de justiça transcende ao tempo e aponta para a consumação, ela produz o
surgimento da esperança e é neste período vital que a fé na justificação vence a hesitação da escatologia
judaica.
A pessoa justificada, que compreendeu “o agora” do perdão na cruz, pode olhar com confiança
para a sentença final.
A justiça é assim apresentada como um objetivo de esperança em Gál. 5:5.

“Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé”.

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Justificação e Juízo Final


Para melhor compreensão é preciso analisar as declarações nas quais “justificado” (dikaioo) é
conjugado no futuro (ver também Rom. 3:20, 30; 2:13).

“Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim, mediante a fé em Cristo
Jesus, também nós temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por
obras da lei, pois por obras da lei ninguém será justificado” – Gál. 2:16.

“Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por
meio da obediência de um só muitos se tornarão justos” – Romanos 5:19.

“Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei, viverá por ela. Mas a
justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: quem subirá ao céu? (isto é: para trazer
do alto a Cristo); ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, para levantar a Cristo dentre os mortos). Porém,
que se diz ‘A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Se
com tua boca confessares a Jesus como Senhor e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os
mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da
salvação” – Romanos 10:5-10.

“Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância
da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” – Rom. 5:17.

A “justiça” mencionada nestes textos é sem dúvida a justiça imputada que é recebida pela fé, por
ocasião da conversão (batismo).
Mas o “serás salvo” em Rom. 10:9 e a “salvação” no verso 10, bem como a “vida” em Rom. 5:17, são
termos escatológicos que consideram a absolvição final, com base numa fé inamovível.
A ligação de “justiça” e “salvação” unifica presente e futuro. Contudo, ambos – presente e futuro – são
distintos. Não que o juízo universal seja antecipado na justificação. Ao contrário, é algo tanto presente
quanto futuro.
A “forma futura” expressa o fato de que o dom não é um estado passivo, mas um movimento para o
fim. Como todos os dons que nos são dados em Cristo, estes dons permanecem numa tensão de esperança.
Para Paulo, o juízo final baseado nas obras não contradizia a justificação pela fé. O conceito de Paulo
do juízo final enfatiza a transcendente norma divina, como também a decisiva convocação de temor a Deus.
O conceito de juízo serve como uma poderosa motivação para a obediência.
A doutrina da justificação exige a confrontação com a firme seriedade de Deus na cruz.
Unicamente com base na lei imutável de Deus, confirmada pelo juízo final, é que a compreensão da
cruz pode se manter intacta na sua validade, pois somente um permanente reconhecimento do princípio do
juízo final pode preservar esta compreensão da perversão antinomiana (ou seja, “contrária à lei”), que
defende o argumento de que a justificação dispensa o crente de fazer a vontade de Deus.
Isto é o que a Bíblia chama de “libertinagem” (cf. Judas 4).

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9. Justificação e Comunhão

a) Justificação e Espírito Santo


A justificação e o Espírito estão intimamente unidos.

“Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, no nome do Senhor Jesus
Cristo e no Espírito do nosso Deus” – 1Cor. 6:11.
“Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provêm da fé” – Gál. 5:5.

b) Comunhão com Cristo


A palavra “comunhão” é bastante usada no meio Adventista. Ela denota a união espiritual entre Cristo
e o crente. Teólogos não-Adventistas têm mais comumente usado a palavra “misticismo” para comunicar
esta noção do relacionamento espiritual do crente com a Divindade.
É evidente nos escritos de Paulo que fé justificadora e união com Cristo, no sentido de identificação
com o Seu destino, estão intimamente relacionados (cf. Gálatas 2:16 a 21; 3:26 a 29).

“Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achado pecadores, dar-
se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado? Certo que não” – Gálatas 2:17.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de
Deus” – 2Cor. 5:21.

Esta frase incomum de Paulo demonstra o íntimo relacionamento entre Cristo e o crente.
Ou seja, visto que Cristo, representativamente, Se tornou “pecado” por nós, nós podemos nos tornar
“justiça nEle”.
Nós somos contados em Sua justiça e aceitos como justiça de Deus, no sentido de Jer. 23:6; 33:16,
onde Jesus é chamado de “Senhor Justiça Nossa”.
Assim devemos entender de maneira absoluta a frase: “...para que fôssemos feitos justiça de Deus”.
Ela indica que os homens redimidos estão destinados à retidão moral do Senhor Deus. Isto não quer dizer
que o crente não mais irá cometer atos pecaminosos em sua vida.
Ao contrário, o sentido da frase é que os crentes participarão plenamente na santidade de Deus, em
Seu amor, bondade, justiça, longanimidade; enfim, em todas as qualidades morais positivas de Deus.

Esta transformação do crente é realizada pela operação do Espírito Santo:

“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz. Longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, domínio próprio. Contra estas cousas não há lei” – Gál. 5:22, 23.

A transformação moral e espiritual realizada pelo Espírito Santo torna os crentes participantes da
natureza de Cristo em tudo quanto Ele é e possui:

“Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo: se com
ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados” – Rom. 8:17.

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Diante do acima exposto, fica claro que a justificação não consiste de mera declaração forense,
mas antes, faz provisão para a tremenda e maravilhosa participação na retidão de Deus.

Ao fazer uma breve recapitulação, temos:


1. Justificação pela fé é perdão e promoção. Isto é, justificação é mais do que um decreto forense
(meramente declaratório).
2. A justificação tem a sua frutificação na santificação, e nada será sem esse acompanhamento
resultante. Ela tem que ser real e tem que produzir transformação.
3. A justificação, como passo anterior à santificação, é também um passo antecedente à
glorificação (cf. Rom. 5:17).
4. A justificação consiste na implantação do princípio vital, através do qual chegamos à vida
eterna. Não pode haver vida para quem não participa da santidade do próprio Deus, pois
ninguém poderá ver a Deus sem a santificação (cf. Hb. 12:14).

Em Cristo somos santificados.


Não significa meramente que em Cristo somos reconhecidos como santos; Cristo é a nossa santidade,
mas também está nos transformando em seres santos.

10. A Justiça como o Poder da Nova Vida


A justiça de Deus não é nem o começo, nem a continuação de uma ação justificadora “quietista”(isto
é, contemplativa e inativa); ela é sempre teológica, tem sempre uma finalidade.
A justiça de Deus conduz o crente para o domínio da graça (ver Rom. 5:12-21), que atua sempre em
direção à vitoriosa vida eterna. E esse Reino da graça é um reino de justiça!

“A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a
vida eterna, mediante Jesus Cristo nosso Senhor” – Rom. 5:21.

Portanto, a justiça não é encontrada apenas no princípio; ela permanece durante o transcurso. O crente
é atraído pela justiça para o estilo de vida que Deus em Sua soberania determina. Por isso, as declarações
concernentes à justificação não devem ser separadas do vivificante domínio de Cristo, da vivificação da
comunidade de crentes.

“Justiça” e “vida” então entrelaçados:

“...os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um só, a
saber, Jesus Cristo” (Rom. 5:17).
“...também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo nosso Senhor”
(Rom. 5:21).

O alvo da ação vivificadora iniciada pelo dom da “justiça” é a “vida eterna”, ao contrário do pecado,
que é uma ação para a morte.

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a) O Espírito Santo como fonte de poder para a nova vida


“Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é
vida por causa da justiça” – Rom. 8:10.

“...o espírito é vida por causa da justiça” não se refere à justiça de vida, mas ao estado de “justiça”
concedida na “conta corrente da justificação”.
Aqui nós encontramos a base pneumatológica para o Espírito ser, para Paulo, o poder da nova vida. É
próprio da função do Espírito exaltar a Cristo, Sua vida, Sua morte, Sua ressurreição, Sua vitória sobre
Satanás e o pecado (cf. João 15:26).
Quando está tratando do tema justificação pela fé, nem sempre Paulo menciona explicitamente a
atuação do Espírito no processo. Mas Paulo não comete injustiça por deixar de atribuir ao Espírito Santo o
papel de Agente da justificação, conforme pode ser constatado em Rom. 8:10. A justificação pela fé em
Cristo dá-se pela presença do Espírito Santo atuando na vida do ser humano.

b) Paulo não fala de um processo de salvação concluído


Em virtude da justificação, a nova condição de serviço na vida do crente é o notável relacionamento
com “justiça” e o paralelismo com o princípio da justificação é consistentemente delineado.

“Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem
obedeceis sois servos, seja do pecado para morte, ou da obediência para a justiça?” – Rom. 6:16.
“E, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” – Rom. 6:18.
“...nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas
oferecei-vos a Deus como ressurrectos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de
justiça” – Rom. 6:13.
“Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos
membros para a escravidão da impureza, e da maldade para maldade, assim ofereci agora os vossos
membros para servirem a justiça para santificação” – Rom. 6:19.

É bom lembrar que, antes, os crentes romanos eram “escravos do pecado” (Rom. 6:20).
Desta maneira, sem qualquer risco de dificuldade ou contradição, o conceito de justiça forense e
perdoadora alcança o conceito de justiça como um poder vivo que vence o pecado.
A justiça que é concedida ao crente traz consigo o poder vivo da “justiça” (dikaiosune). É, portanto, a
“justiça” que conduz ao estado de “santificação” (hagiasmos).
É esta justiça, atuando poderosamente, e que envolve toda a vida do crente, que vence a “iniqüidade”
(cf Rom. 6:13, 17, 18, 20).

Conclusão
Em Paulo, portanto, “justiça” representa tanto a justiça que perdoa, quanto o vivo poder que elimina a
escravidão provocada pelo pecado (cf. Theological Dictionary of the New Testament, vol. II, pág. 203-210.

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A SANTIFICAÇÃO

Definição
Contemplemos a mulher pecadora, sozinha e em pé perante Jesus, esperando a sentença fatal; com que
surpresa ela não deve ter recebido as palavras de Jesus a ela dirigida: “Mulher, onde estão aqueles teus
acusadores? Ninguém te condenou?” (João 8:10)!
• Sua resposta foi: “Ninguém, Senhor”.
• Imediatamente Jesus diz: “Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais”.
Quando Jesus disse: “Nem eu tão pouco te condeno; vai...”, Ele estava ao mesmo tempo perdoando a
mulher e libertando-a para continuar sua vida. Isto é justificação (é o ato simultâneo de perdoar e promover
o pecador arrependido do estado de condenação a “salvo” pela graça de Jesus).
Assim, na justificação, a pessoa recebe o poder habilitador para viver uma vida santificada.
E onde estava este poder habilitador de viver uma vida santificada, para a mulher? Estava na
PALAVRA de Jesus: “Vai”
Após ter sido perdoada e promovida, a mulher não deveria mais viver pecando, como antes; por isso
Jesus disse: “...e não peques mais”. Este “não peques mais” indicava a nova condição em que ela deveria
viver. Esta nova condição de vida é biblicamente denominada de SANTIFICAÇÃO.
Em 1João 3:9, temos: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado”. Para bem
esclarecer, o apóstolo explica o que é pecado: “o pecado é a transgressão da lei” (1João 3:4). Portanto, a
ordem de Cristo para a mulher perdoada (“não peques mais”), significava: “não vivas mais transgredindo a
lei de Deus”.
Diante do acima exposto, podemos concluir acertadamente que a vida santificada é igual à vida de
obediência voluntária às leis de Deus.

Mas, se em nossa explicação de santificação ficássemos apenas neste aspecto de obediência voluntária
às leis divinas, estaríamos comunicando uma noção parcial e incompleta da santificação bíblica. A ênfase
isolada da obediência às leis de Deus na santificação pode gerar um erro teológico: perfeccionismo moral.
Neste erro, muito comum, a pessoa faz de sua obediência e dos seus méritos o fundamento de sua
salvação. Na verdade, este foi o erro em que incorreram os judeus que rejeitaram a Cristo.
Para que ninguém cometesse o engano da salvação por obras da lei, o apóstolo Paulo, inspirado por
Deus, escreveu suas epístolas esclarecedoras, as quais estamos estudando nesta matéria.
Também o apóstolo João ensinou no que consiste realmente a verdadeira santificação: “Todo aquele
que permanece nele não vive pecando” (1Jo 3:6).
Assim podemos entender que santificação é: viver em Cristo e andar com Cristo.
Sim, santificação é desfrutar de uma comunhão pessoal e diária com Jesus.
Este conceito de que santificação consiste fundamentalmente de uma vida de íntima comunhão com
Deus e como conseqüência desta comunhão, numa vida de obediência voluntária às leis divinas, também está
presente no relato que o apóstolo João faz do encontro de Jesus com a mulher pecadora.
“De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas,
pelo contrário, terá a luz da vida” – João 8:12.

Em O Desejado de Todas as Nações, p. 447, Ellen G. White nos oferece um vislumbre daquele
ambiente encantador:

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“Era de manhã, o Sol acabava de erguer-se sobre o monte das Oliveiras, e seus raios incidiam com
ofuscante claridade no mármore dos palácios, fazendo rebrilhar o ouro das paredes do templo, quando
Jesus, apontado-o, disse: ‘Eu sou a luz do mundo’”.

Mas, além de dizer: “Eu sou a luz do mundo”, Jesus também disse: “quem Me segue não andará nas
trevas”.
Somente aquele que segue a Jesus como “a luz do mundo”, é que pode ser um vitorioso na vida
espiritual.
Tendo o incidente de Jesus com a mulher pecadora como cenário, podemos afirmar que:
• Justificação é Jesus dizendo: “Nem eu tão pouco te condeno, vai...” Nestas palavras nós
encontramos os três aspectos simultâneos de justificação: PERDÃO, PROMOÇÃO e a
concessão de PODER para viver vitoriosamente a vida espiritual.
• Santificação é Jesus dizendo: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas
trevas”. Nestas palavras nós encontramos o primeiro aspecto da santificação: COMUNHÃO
com Cristo. O segundo aspecto encontramos na expressão: “e não peques mais”.
• Depois de ter sido justificada por Cristo, a pessoa passa a andar com Cristo. A conseqüência
direta de andar em comunhão com Cristo é a OBEDIÊNCIA VOLUNTÁRIA aos
mandamentos de Deus.

A santificação é uma obra progressiva. Ela parte do companheirismo e da adoração de um Deus


pessoal. Quanto mais unida a pessoa estiver com Cristo e com Este crucificado, maior será a percepção de
sua própria indignidade e pecaminosidade inerente. Os progressos da santificação serão caracterizados por
um profundo arrependimento e falta de confiança em si mesmo, em cada vitória sobre o pecado.
A pessoa que contempla a Cristo diariamente não irá sentir-se gradualmente mais santa, mas cada vez
sentirá mais e mais a sua incapacidade.

O Significado Bíblico de Santificação

1. Alguém ou algo separado por Deus para uso ou serviço


a) Pessoas ou animais
“Vós me sereis de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel” –
Êx. 19:6.
“Disse o Senhor a Moisés: Consagra-me todo primogênito; todo aquele que abre a madre de sua mãe
entre os filhos de Israel, tanto de homens como de animais, é meu” – Êx. 13:1, 2.

b) Tempo – sábado
“Lembra-te do dia de sábado, para santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o
sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha,
nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque
em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: por isso
o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” – Êx. 20:8-11.

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c) Bens – Dízimos
“Também todas as dízimas da terra, tanto do grão do campo, como do fruto das árvores, são do
Senhor: santas são ao Senhor... No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passa debaixo
da vara do pastor, o dízimo será santo ao Senhor” – Lev. 27:30, 32.

Santificação não é sinônimo de conduta.


Ser santo não significa ser inerentemente bom, ou que não se peça mais.

“Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa e a esposa incrédula é santificada no


convívio do marido crente. De outra sorte os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos” –
1Cor. 7:14.

O esposo ou a esposa incrédulo é santificado pelo relacionamento com o cônjuge crente.


Neste sentido, a idéia básica de santo é a de “separado”.
Em Rom. 1:7 e Fil. 1:1, Paulo chama os membros da igreja de “santos”. Eles eram santos porque
foram chamados por Deus e estavam em Cristo.

2. Santificação como um fato consumado

“Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez
por todas... De quanto mais severo castigo julgais vos será considerado digno aquele que calcou aos pés o
Filho de Deus e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” –
Heb. 10:10, 29.

Não existe uma santificação parcial. Ela é completa (cf. 1Cor. 1:2).

O desenvolvimento do cristão não é para a santificação, mas na santificação. A contração “na” dá


idéia de completo, mas também de desenvolvimento.

“...nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de
Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, no
nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” – 1Cor. 6:10, 11.

Conforme vimos anteriormente, santificação envolve comunhão e conduta. Assim, podemos afirmar
que em termos de relacionamento o crente está completo, mas em termos de conduta está incompleto.

3. Santificação como processo progressivo, em desenvolvimento

“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” – João 17:17.

Crescer na santificação não é, por exemplo, ter hoje dez hábitos maus e amanhã nove hábitos maus. O
crescimento não é visto em “ter menos”, em “diminuir atos”, mas em santidade.

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“Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do
espírito, aperfeiçoando a nossa santidade o temor de Deus” – 2Cor. 7:1.

a) A tensão entre o real e o ideal na santificação

“Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” – Mat. 5:48.

O contexto do verso 48 são os versos 43 a 47. A exortação que Jesus nos faz quanto a sermos “santos
como Deus”, está relacionada com o amor que devemos ter para com o próximo, inclusive os inimigos. Deus
ama a todos os Seus filhos (cf. Rom. 5:8).
Para resolver a tensão entre o real e o ideal, Ellen White apresenta a perfeição relativa na esfera
pessoal:
“Como Deus é santo em Sua esfera, assim deve o homem caído, mediante fé em Cristo, ser santo na
sua” – Atos dos Apóstolos, p. 559.

Como exemplo, mencionamos a semente, pois ela é “perfeita” em cada fase do seu desenvolvimento:

Semente – broto – ramos – flores – fruto


REAL IDEAL

Como cristãos, temos um IDEAL a alcançar, mas este só será atingido quando Cristo voltar.
Contudo, não é preciso viver em estado de tensão e angústia no presente, pois somos perfeitos em cada
passo do nosso viver com Cristo.

O que o Homem pode Fazer na Obra da Santificação?


A santificação é produto da ação de Deus na vida do cristão. Todas as três Pessoas da Trindade estão
envolvidas, produzindo santificação.

Deus, o Pai
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados
íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o
fará” – 1Tess. 5:23, 24 (cf. Ezeq. 37:28).

Deus, o Filho
“Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta”
– Heb. 13:12 (cf. Heb. 2:11).

Deus, Espírito Santo


“...para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o
evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo” –
Rom. 15:16 (cf. 1Cor. 6:11)

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A santificação consiste na transformação moral do crente, segundo a imagem de Jesus Cristo. E já


vimos que esta transformação se dá pela comunhão do crente com Cristo.
Antes de prosseguirmos, é bom lembrar que:
• Na justificação, eu RECEBO a Cristo.
• Na Santificação, eu ANDO com Cristo.
Assim, a justificação é o começo da vida espiritual do crente COM Cristo.
A santificação é a continuação da vida espiritual EM Cristo.

“O [crente] que está sendo santificado pela verdade, exercerá domínio próprio e seguirá os passos de
Cristo até que a graça se perca na glória. É imputada a justiça pela qual somos justificados; aquela pela
qual somos santificados, é comunicada. A primeira é nosso título para o Céu; a segunda nossa adaptação
para ele” – Ellen White, Mensagens aos Jovens, p. 35.

Por uma questão didática é que nós separamos “justificação” de “santificação”.


Contudo, na vida prática, ambas formam uma unidade INSEPARÁVEL. Isto é o que podemos
concluir com base nos exemplos bíblicos e na citação de Ellen White, mencionada acima.
Vimos que quando Jesus perdoou, promoveu e por Sua palavra concedeu poder à mulher arrependida
(justificação), imediatamente acrescentou que Ele era a Luz do mundo, e quem O seguisse não andaria em
trevas. A partir do momento em que a mulher passou a seguir a Jesus, iniciou-se a vida de santificação.
Jesus não lhe disse: “estás santificada! Agora que aceitastes a salvação que Eu te dei, iniciou-se o
processo de santificação”.
Uma vez que Jesus Cristo é indivisível, Ele concede justificação, santificação, sabedoria e redenção
numa unidade indivisível (cf. 1Cor. 1:30).

Portanto, o âmago da mensagem bíblica do evangelho é: crer em Cristo, estar em Cristo, seguir a
Cristo e, na contemplação dEle, ser transformado mediante o Espírito Santo à Sua semelhança de caráter.

1. A Entrega da Vontade a Deus


Visto que “Deus é quem opera tudo em todos” (1Cor. 12:6), qual é a parte humana no processo da
santificação?

“Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais
agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” – Fil. 2:12.

Se nós parássemos a leitura no v. 12, pareceria que o texto está dizendo que podemos receber o Céu
por nossas boas obras. Mas Paulo continua no verso seguinte:

“...porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” –
Fil. 2:13.

Será que Paulo está entrando em contradição? Cremos que não. A única maneira de harmonizarmos
estas duas declarações de Paulo é concluir que há alguma coisa na vida cristã a fazer, e há também alguma
coisa que não podemos fazer.

SOTEROLOGIA 29
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“A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todos têm sua devida esfera de
ação, mas neste caso são impotentes. Poderão levar a um procedimento exteriormente correto, mas não
podem mudar o coração; são incapazes de purificar os mananciais da vida” – Ellen White, Caminho a
Cristo, p. 18.

Através do exercício da vontade, o homem pode ter um comportamento externo inatacável. Todavia,
perante Deus, todo o esforço realizado no sentido de aperfeiçoar-se moralmente é totalmente sem valor para
a salvação da alma.

“Há os que professam servir a Deus, ao mesmo tempo em que confiam em seus próprios esforços para
obedecer à Sua lei, formar um caráter reto e alcançar a salvação. Seu coração não é movido por uma
intuição profunda do amor de Cristo, mas procuram cumprir os deveres da vida cristã como uma exigência
de Deus a fim de alcançarem o Céu. Semelhante religião nada vale” – Idem, p. 44.

Mas, por que o homem, exercendo todo o seu potencial de força de vontade, não pode transformar o
seu coração?

“...como está escrito: Não há justo, sem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a
Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nenhum sequer...
pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” – Rom. 3:10-12, 23.

O nosso problema não está com nossas ações exteriores, mas com o coração, que por natureza é
pecaminoso.
Todos nós nascemos com natureza pecaminosa, e separados de Deus Somos pecadores desde o
nascimento. Todavia, um bebê recém-nascido não tem o desejo de roubar, fumar ou beber. Uma criança não
comete todos os atos que nós denominamos de “pecados”, mas ela tem um problema que é a raiz de todos os
pecados – o egoísmo.
É exatamente porque nascemos em pecado que Jesus disse que devemos nascer de novo (João 3:3).
O pensamento positivo, o crescimento moral pelo esforço próprio, e tudo o mais que é feito pelo
homem é inútil quando se trata de mudança do coração.
A pergunta continua: o que o homem pode fazer para obter a vitória contra o pecado na vida de
santificação? Leia o que foi escrito a seguir:

“Muitos indagam: ‘Como devo eu fazer para a entrega do próprio eu a Deus?’ Desejais entregar-vos
a Ele, mas sois faltos de poder moral, escravos da dúvida e dirigidos pelos hábitos de vossa vida de pecado.
Vossas promessas e resoluções são como palavras escritas na areia. Não podeis dominar os pensamentos,
os impulsos, as afeições. O conhecimento de vossas promessas violadas e dos votos não cumpridos,
enfraquece a confiança em vossa própria sinceridade, levando-nos a julgar que Deus não vos pode aceitar;
mas não precisais desesperar. O que deveis compreender é a verdadeira força da vontade. Esta é o poder
que governa a natureza do homem, o poder da decisão ou de escolha. Tudo depende da reta ação da
vontade. O poder da escolha deu-o Deus ao homem; a ele compete exercê-lo. Não podeis mudar vosso
coração, não podeis por vós mesmos consagrar a Deus as suas afeições; mas podeis escolher servi-Lo.
Podeis dar-lhe a vossa vontade; Ele então operará em vós o querer e o efetuar, segundo o Seu beneplácito.

SOTEROLOGIA 30
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Deste modo toda a vossa natureza será levada sob o domínio do Espírito Santo de Cristo; vossas afeições
centralizar-se-ão nEle; vossos pensamentos estarão em harmonia em Ele.
“O desejo de bondade e santidade é, em si mesmo louvável; de nada, porém, valerão essas virtudes,
se ficarem somente no desejo. Muitos se perderão enquanto esperam e desejam ser cristãos. Não chegam ao
ponto de render a vontade a Deus. Não escolhem agora ser cristãos.
“Mediante o conveniente exercício da vontade, pode operar-se em nossa vida uma mudança
completa. Entregando a Cristo o vosso querer, aliai-vos com o poder que está acima de todos os principados
e potestades. Tereis força do alto para estar firmes e, assim, pela constante entrega a Deus, sereis
habilitados a viver a nova vida, a vida da fé” – Caminho para Cristo, p. 47, 48.

Todo seu humano normal é dotado da faculdade de força de vontade. Ele a usa erradamente quando
procura, por seus esforços, vencer a tendência para pecar. Este é o uso errado da vontade. Mas como
podemos apreender da citação inspirada acima, usamos corretamente a nossa vontade quando nós a
entregamos a Cristo. Esta entrega deve ser diária e constante!
A vitória espiritual contra o pecado e a tendência de pecar dá-se pela nossa submissão voluntária a
Deus e Sua vontade. Nesta constante dependência de Deus reside o segredo da vida cristã vitoriosa.

a) Quem dirige a sua vida?


É neste ponto que o orgulho humano começa a atuar: “Espere um pouco! E a dignidade humana? Não
somo marionetes de brinquedo; afinal, fomos feitos à imagem de Deus!” – alguém pode dizer.
Uma pessoa que decidiu submeter-se ao controle de Deus pode deixar de permanecer sob o controle de
Deus. Para isto ela é plenamente livre. Contudo, se nós rejeitamos a liderança divina em nossa vida,
ficaremos automaticamente sob o controle de Satanás, mesmo que não manifestemos o extremo da
possessão demoníaca.
Ao comentar a expulsão de um espírito imundo do homem que procurou a Jesus num dia de sábado,
na sinagoga de Cafarnaum (cf. Marcos 1:21-28), Ellen White fez uma notável referência ao domínio
exercido por Satanás naqueles que resistem entregar-se a Deus:

“O mesmo espírito mau que tentara a Cristo no deserto e possuía o louco de Cafarnaum, dominava os
incrédulos judeus. Para com eles, porém, assumia ar de piedade, buscando enganá-los quanto aos motivos
que tinham em rejeitar o Salvador. Sua condição era mais desesperadora que a do endemoninhado; pois
não sentiam a necessidade de Cristo, sendo assim mantidos seguros sob o poder de Satanás” – ODTN, p.
233.

Portanto, é possível sim uma pessoa ser dominada por Satanás sem estar visivelmente possessa.
Tudo isso deve nos levar a entender que na vida espiritual não existe neutralidade:

“Temos inevitavelmente de estar sob o domínio de um ou de outro dos dois grandes poderes em
conflito pela supremacia do mundo. Não é necessário que escolhamos deliberadamente o serviço do reino
das trenas para cair-lhe sob o poder. Basta negligenciarmos fazer aliança com o reino da luz. Se não
cooperarmos com os instrumentos celestes, Satanás tomará posse do coração e torna-lo-á morada sua” –
Idem, p. 307.

Como, então, podemos escapar do tirânico domínio de Satanás?

SOTEROLOGIA 31
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“Quando a alma se rende inteiramente a Cristo, novo poder toma posse do coração. Opera-se uma
mudança que o homem não pode absolutamente operar por si mesmo. É uma obra sobrenatural
introduzindo um sobrenatural elemento na natureza humana. A alma que se rende a Cristo, torna-se Sua
fortaleza, mantida por Ele num revoltoso mundo e é Seu desígnio que nenhuma autoridade seja ai conhecida
senão a Sua. Uma alma assim guardada pelos seres celestes, é inexpugnável aos assaltos de Satanás. Mas a
menos que nos entreguemos ao domínio de Cristo, seremos governados pelo maligno” – Idem, p. 307.

b) Santificação – vida de comunhão diária com Deus


Sem comunhão pessoal com Deus não existe crescimento espiritual. Para tal, precisamos separar
tempo para estar com Ele.
“Far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la
ponto por ponto e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar
assim em Seu grande sacrifício pos nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e
seremos mais profundamente imbuídos de Seu Espírito. Se quisermos ser salvos afinal, teremos de aprender
aos pés de cruz a lição de arrependimento e humilhação” – ODTN, p. 72.

Em Caminho a Cristo, p. 69, Ellen White ainda nos ensina a entregar nossa vontade a Deus
diariamente, pela manhã, através de uma oração:

“Consagrai-vos a Deus pela manhã; fazei disto vossa primeira tarefa. Seja vossa oração: ‘Toma-me,
Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu
serviço. Permanece comigo, e permite que toda a minha obra se faça em Ti’. Está é uma questão diária.
Cada manhã consagrai-vos a Deus para esse dia. Submetei-Lhe todos os vossos planos, para que se
executem ou deixem de se executar, conforme o indique a Sua providência. Assim dia a dia podereis
entregar às mãos de Deus a vossa vida, e assim ela se moldará mais e mais segundo a vida de Cristo”.

Quando Paulo nos exorta a desenvolver a nossa salvação (Fil. 2:12, 13) ele quer que nós aprendamos a
entregar a nossa vontade a Deus, diariamente. Mas além da entrega da vontade, ele esperava que nós nos
esforcemos para manter comunhão pessoal com Deus.

Esta é a parte humana na santificação.

O Combate da Fé
“Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para qual também foste chamado, e de
que fizeste a boa confissão, perante muitas testemunhas” – 1Tim. 6:12.

Será que temos procurado combater o inimigo, e nos empenhado na luta da fé?
Existe diferença entre a luta da fé e a luta do pecado?

A esta altura alguém poderá dizer: “Espere um pouco, a Bíblia não diz: ‘Resisti ao Diabo, e ele fugirá
de vós’ (Tiago 4:7)”. Sim, é verdade; mas antes, no mesmo verso, está escrito: “Sujeitai-vos, portanto, a
Deus”.
Qual deve ser a nossa batalha?

SOTEROLOGIA 32
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É estar na submissão a Deus, enfrentando a luta da fé.

“Conquanto pensem que se estão entregando a Deus, têm ainda grande dose de presunção. Há almas
conscienciosas que confiam parcialmente em Deus, e parcialmente em si mesmas. Não esperam em Deus,
para ser guardadas por Seu poder, mas confiam na vigilância contra a tentação e no cumprimento de certos
deveres, para serem por Ele aceitas. Não há vitórias nesta espécie de fé. Essas pessoas labutam sem
propósito algum; têm a alma em contínua escravidão, e só encontrarão descanso quando depuserem seus
fardos aos pés de Jesus” – Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 353.

“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do Diabo; porque a nossa luta não é contra
o sangue, e sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra
as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que
possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes,
cingindo-vos com a verdade, e revestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do
evangelho da paz; abraçando sempre o escudo da fé, com o qual podeis apagar todos os dardos inflamados
do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é palavra de Deus; com toda
oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica
por todos os santos” – Efés. 6:10-18.

Visto que nossa luta é contra “as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efés. 6:12), nossa
única chance de vitória está na utilização de armas espirituais.

“O homem é incapaz de salvar-se a si mesmo, mas o Filho de Deus enfrenta o combate por ele, e
coloca-o em vantagem ao dar-lhe Seus atributos divinos” – Ellen White, Review and Herald, 28/02/1898.

Quando nós concentramos nossa força de vontade em conhecer a Jesus pessoalmente, através da
comunhão diária, e permitimos que Ele viva Sua vida em nós, é que iremos obter vitórias na santificação.
Assim, santificação é uma vida de comunhão pessoal com Deus. Pela entrega diária de nossa vida,
pensamentos, sentimentos e vontade a Deus, Ele realiza em nós o querer e o efetuar, segundo a Sua vontade.
Visto que na santificação o crente tem a presença de Deus consigo; tal como na justificação, a santificação
também comunica a idéia de poder!

A GLORIFICAÇÃO

A salvação é um processo que envolve três fases:


• Justificação,
• Santificação e
• Glorificação.

Na justificação, pela fé, aquele que se arrepende de seus pecados, RECEBE a Cristo.
Na santificação, o crente justificado ANDA com Cristo, dia-a-dia, através do Espírito Santo.

SOTEROLOGIA 33
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Na glorificação, o crente também ANDARÁ com Cristo, não apenas espiritualmente através da
presença do Espírito Santo, como no presente, mas pessoalmente, POR TODA A ETERNIDADE.

A glorificação será concretizada no futuro, quando Jesus Cristo retornar pela segunda vez a esta
Terra.
Na justificação nós recebemos o perdão dos pecados. Na santificação nós recebemos o poder de Deus
para não permanecer pecando, mas é somente na glorificação que nós estaremos livres da presença do
pecado.

A Tensão entre o “já” e o “ainda não”


“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual
temos a redenção, a remissão dos pecados” – Col. 1:13, 14.
“... no qual temos a redenção, pelo Seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça” – Efés. 1:7.

Através da crucifixão, ressurreição e mediação de Cristo no santuário celestial, temos a certeza da


salvação no presente. Portanto, pelos eventos relacionados com a primeira vinda de Cristo nossa justificação
e santificação estão definitivamente asseguradas.
Na justificação e santificação o crente desfruta da graça do perdão em Cristo, mas até à morte ou até à
segunda vinda de Cristo ele não estará livre de pecar.
Esta é uma realidade claramente expressa na Palavra de Deus.

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça” –
Rom. 6:14.

Neste texto, Paulo nos ensina que o cristão não vive mais sob o despótico domínio do pecado, porque
a graça que nele atua mantém o poder do pecado subjugado. Contudo, a natureza pecaminosa ainda está
presente, tanto que Paulo exorta os crentes romanos da seguinte forma:

“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões” –
Rom. 6:12.

A única maneira de o cristão vencer o poder do pecado no presente, está em manter-se


permanentemente ligado a Cristo pela fé, segundo a orientação que Ele deixou:

“Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque
sem mim nada podeis fazer” – João 15:5.

Assim, no presente, temos a redenção em Cristo do poder do pecado.

“E não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em
nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” – Rom. 8:23.
Esta redenção do “nosso corpo” só se dará no futuro, por ocasião da segunda vinda de Cristo.

SOTEROLOGIA 34
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“Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a
trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os
que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares,
e assim estaremos para sempre com o Senhor” – 1Tess. 4:16, 17.

“Isto afirmo, irmãos, que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar
a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos,
num momento, num abrir e fechar d’olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Por que é necessário que este corpo corruptível
se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E quando este corpo
corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá
a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó
morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus que nos
dá a vitória por intermédio do nosso Senhor Jesus Cristo” – 1Cor. 15:50-57.

Quando Paulo diz que a nossa redenção está no futuro, ele tinha em mente a segunda vinda de Cristo.
Somente quando Jesus voltar e nós formos transformados de um corpo mortal e corruptível num corpo
imortal e incorruptível é que estaremos para sempre livres da presença do pecado.

Comunhão e Obediência
A condição básica para se receber a incorruptibilidade e a imortalidade quando Jesus voltar está em
mantermo-nos constantemente ligados a Cristo pela fé. Esta comunhão com Cristo também é conhecida
biblicamente pela expressão “andar com Deus” (cf. Gên. 5:24; 6:9; 17:1).
O “andar com Deus” – comunhão – conduz o crente, conseqüentemente a contemplar a Deus (2Cor.
3:18). À medida que o crente contempla a Deus, ele vai conhecendo e descobrindo novos aspectos do caráter
de Deus. Por exemplo, ele passa a entender e aceitar a Lei de Deus como expressão do Seu caráter, mas,
especialmente, ele passa a desejar viver em harmonia com esta Lei, voluntariamente obedecendo aos
preceitos do Senhor.
Diante do que temos exposto acima, é bom destacar que é muito perigoso, na apresentação da
justificação e da santificação, a ênfase unilateral sobre comunhão pessoal com Deus, que tende a omitir a
obediência necessária aos mandamentos de Deus. Nunca, em hipótese alguma, a doutrina da justificação pela
fé em Cristo deve ser interpretada como uma licença implícita para pecar (cf. Judas 4). Alguns podem ser
levados a essa má interpretação da justificação pela fé devido ao fato de que ela se realiza
independentemente das obras da lei (Rom. 3:21, 28), e que é totalmente pela graça (Rom. 3:24).
A comunhão com Deus sempre produzirá como resultado a obediência aos mandamentos de Deus.

“Eu sou a videira, vós os ramos, quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem
mim nada podeis fazer... Se guardardes os meus mandamentos, permaneceis no meu amor; assim como
também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e no seu amor permaneço” – João 15:5, 10.

SOTEROLOGIA 35
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Pelo contexto de João 15, o “fruto” produzido pela comunhão com Cristo é “guardar os mandamentos
de Jesus e assim permanecer no Seu amor”, porque a síntese dos mandamentos é o amor (cf. 1João 2:3-6;
3:4-6).

Comunhão e Dependência
Todo cristão fiel guarda “a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e
Salvador Jesus Cristo” (Tito 2:13).
E por que a segunda vinda de Cristo é a esperança tão acalentada por nós?
Em primeiro lugar, porque anelamos estar pessoalmente na presença de Cristo, para desfrutar
eternamente de Sua companhia. Nós também aguardamos o retorno de Cristo porque sabemos que Ele
ressuscitará os nossos queridos familiares e amigos que nos foram subtraídos pela morte. Mas além do prazer
da companhia de Jesus e da restauração do convívio com nossos queridos, nós esperamos o Seu retorno para
que também Ele restaure totalmente o mundo em que vivemos. Estamos cansados de ouvir sobre doenças,
sofrimentos, violência e morte.
Sim, nós O aguardamos para que Ele restaure o nosso mundo (social, material e espiritualmente),
inclusive a Natureza, tão agredida e devastada pela ação egoísta do homem.
Nós esperamos a segunda vinda de Cristo porque não queremos mais viver pecando contra Deus, e
transgredindo Suas leis. Estamos cansados de experimentar o amargor do sentimento de culpa provocado
pela prática do pecado.
Mas, enquanto Jesus não retornar pessoalmente, precisamos estar cônscios de uma coisa:

“Enquanto a vida durar, é necessário guardar-nos contra as afeições e paixões com um propósito
firme. Há corrupção interna, há tentações externas, e onde quer que a obra de Deus avance, Satanás deseja
arranjar de tal modo as circunstâncias que a tentação venha com subjugante poder sobre a alma. Não
podemos estar seguros um só momento, a menos que estejamos apoiados em Deus, a vida escondida com
Cristo em Deus” – Comentário Bíblico Adventista, vol. 2, p. 1.032.

“Não podemos dizer: ‘Estou sem pecado’ enquanto este corpo vil não for mudado e transformado à
semelhança de Seu corpo glorioso” – Signs of the Times, 23 de março de 1888.

A consciência de nossa presente condição pecaminosa nos impulsionará para os braços de Cristo.
Nossa única esperança de glorificação futura está em nos mantermos voluntariamente submissos a Deus.
É na constante dependência do Seu poder que poderemos alcançar a vitória final e definitiva.

NOSSA PERMANENTE NECESSIDADE DA CRUZ

Na cruz Deus demonstrou Seu amor, Sua justiça e Seu poder:


1. Amor – “Mas Deus prova o Seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores” (Rom. 5:8).
2. Justiça – ““...a quem Deus propôs, no sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a
Sua justiça, por ter Deus, na Sua tolerância, deixando impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo

SOTEROLOGIA 36
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em vista a manifestação da Sua justiça no tempo presente, para Ele mesmo ser justo e o justificador daquele
que tem fé em Jesus” (Rom. 3:25, 26).
3. Poder – “Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos
salvos, poder de Deus” (1Cor. 1:18).

Amor
“Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho” – Gál. 4:4.
A demonstração do amor de Deus na cruz de Cristo foi uma surpresa para os habitantes dos mundos
que não pecaram.
“Com intenso interesse, os mundos não caídos observavam para ver Jeová levantar-Se e assolar os
habitantes da Terra. E, fizesse Deus assim, Satanás estaria pronto a levar a cabo seu plano de conquistar a
aliança dos seres celestiais. Declarara ele que os princípios de Deus tornavam impossível o perdão.
Houvesse o mundo sido destruído, e teria pretendido serem justas as suas acusações. Estava disposto a
lançar a culpa sobre o Senhor, e estender sua rebelião pelos mundos em cima. Em lugar de destruir o
mundo, porém, Deus enviou Seu Filho para o salvar” – ODTN, p. 34.

1. Justificação
Quando o pecador em contrição busca o perdão de Deus, ele é justificado. A sua justificação é
concretizada, primeiro em função da suficiente expiação realizada pela morte de Cristo na cruz; em segundo
lugar, pela imputação desta justiça ao pecador.
Tanto a morte de Cristo na cruz quanto a justificação no presente do pecador, estão fundamentados e
envolvidos pelo amor de Deus.

“Mas Deus prova o Seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo
nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos
da ira” – Rom. 5:8, 9.

2. Santificação
A santificação é uma fase do processo da salvação que se realiza pela iniciativa de Deus (cf. 1Tess.
5:23, 24).
Na santificação, a justiça é comunicada ao crente (cf. Fil. 3:9), mas além da justiça, o amor de Deus
também é comunicado.

“Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade... Eu lhes fiz conhecer o Teu nome e ainda o farei
conhecer, a fim de que o amor com que Me amaste esteja neles e Eu neles esteja” – João 17:17, 26.

3. Glorificação
A nossa esperança de glorificação no futuro também tem por base o amor de Deus. É porque Ele nos
ama, e sempre amará, que irá transformar “o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo de sua [de
Cristo] glória” – Filip. 3:21.
É o amor de Deus em Cristo Jesus que nos concede a santificação. Este mesmo amor irá nos conceder
a glorificação.

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“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com
a glória por vir a ser revelada em nós... Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por
meio daquele que nos amor. Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem
principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” –
Rom. 8:18, 37-39.

Justiça

1. Na Justificação
A justiça que o pecador arrependido recebe na justificação é-lhe imputada em virtude da justiça de
Deus demonstrada na cruz de Cristo (cf. Rom. 3:25, 26).

2. Na Santificação
A santificação cristã consiste na comunhão com Deus e obediência, mas também na santificação o
crente continua a receber justiça.
Esta justiça é-lhe comunicada por Cristo, através do ministério do Espírito Santo.

“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fossemos feitos justiça de
Deus” – 2Cor. 5:21.
“...e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” – Filip. 3:9.

Durante a fase da santificação, o poder do pecado é subjugado pela graça de Deus (Rom. 6:14);
contudo, o crente não está livre de pecar. Deixando de andar com Deus em comunhão ele pode recair em
pecado. Quando em pecado, novamente o cristão necessita de perdão e justificação.
Em que base o cristão arrependido recebe o perdão? É claro que ele o recebe em função do sacrifício
expiatório de Cristo na cruz do Calvário.

“Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” – 1João 1:7.

Biblicamente “andar na luz” é andar com Jesus Cristo na senda da santificação, pois Ele é a luz (João
8:12). Mas se porventura o cristão voltar a cair em pecado, “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de
todo o pecado”.
Quando a Inspiração menciona “o sangue de Jesus”, ela está se referindo ao sacrifício de Cristo na
cruz (cf. 1João 2:1, 2).
Assim, enquanto o crente permanece em Cristo, ele está continuamente recebendo justiça de Deus
(justiça comunicada), mas quando ele recai em pecado está novamente, conforme no passado de trevas
espirituais, carente da justiça de Deus (justiça imputada).
Tanto a justiça imputada (justificação) quanto a justiça comunicada (santificação), são-lhes
concedidas com base no sacrifício expiatório de Cristo na cruz.

SOTEROLOGIA 38
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Poder

1. Na Justificação
“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele
que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em
fé, como está escrito: O justo viverá pela fé” – Rom. 1:16, 17.
Na justificação, o pecador, além da justiça e amor, também recebe poder.

Nesta passagem de Romanos, “poder” é a tradução do termo grego “dinamis”, de onde se deriva nossa
moderna palavra “dinamite” (um potente explosivo). Ou seja, o Evangelho é uma verdadeira EXPLOSÃO!
Rom. 1:16 e 17 foi a chave que abriu para Lutero a porta da salvação. Deixemos que ele mesmo fale
sobre o “poder de Deus” em Rom. 1:16.

“Cabe notar que a palavra poder tem aqui, o sentido de ‘potência’ ou ‘potestade’ e em linguagem
familiar ‘possibilidade’. Ao falar do poder de Deus, Paulo se refere não ao poder que Deus tem conforme a
Sua essência como o Onipotente, mas ao poder mediante o qual ele confere potência e fortaleza. Assim como
se diz ‘o dom de Deus’, ‘a criatura de Deus’, ‘as coisas de Deus’, assim também se diz o poder de Deus, isto
é, o poder que vem de Deus, como temos em Atos 4:33: ‘com grande poder os apóstolos davam o testemunho
da ressurreição de Jesus’ e em Atos 1:8’mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo’. Além
do mais, no último capítulo de Lucas (24:49), lemos: ‘até que do alto sejam revestidos de poder’ e em Luc.
1:35: ‘e o poder do Altíssimo’ e cobrirá ‘com a sua sombra’.
“Em segundo lugar temos que destacar que Paulo diz poder de Deus para diferenciá-lo de poder dos
homens. O poder do homem é aquele que lhe confere forças e saúde quando em vida na carne; é o poder que
o capacita a fazer as coisas próprias da carne. Mas este poder Deus o reduz a nada por meio da cruz de
Cristo, para nos dar o Seu próprio poder, que concede ao homem forças e saúde ao seu espírito, e que o
capacita a fazer as coisas próprias do espírito (a seguir Lutero cita textualmente Salmo 60; 11, 12 e Salmo
33:16). Isto é, o que o apóstolo quer dizer ao falar do evangelho como de um poder de Deus, a saber: que o
evangelho é o poder do Espírito, vale dizer, as riquezas, as armas, os recursos, de onde procede todo seu
poder – e este poder provém de Deus. Em outras palavras, as riquezas, as armas, o ouro, a prata, os
impérios, e outras coisas desta índole constituem o poder dos homens; destas coisas os homens se valem
para fazer tudo o que fazem, e sem elas nada podem fazer. Mas tudo isto, como acabo de dizer, deve ser
reduzido totalmente a nada, ao menos como fatores nos quais os homens põem sua confiança e seu orgulho.
De outra maneira não estará em nós o poder de Deus” – Obras de Lutero, vol. X, pp. 40, 41.

2. Na Santificação
Na santificação, além de amor e justiça, o crente também recebe o poder de Deus.

“...que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para revelar-se
no último tempo” – 1Pedro 1:5.
“Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos,
poder de Deus” – 1Cor. 1:18.

Este é um verso notável!

SOTEROLOGIA 39
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Nele, Paulo afirma que o mesmo poder de Deus revelado na cruz do Calvário, é o poder que sustém o
crente na sua vida de santificação (somos salvos).

Contínua Dependência de Deus


“Como no Paraíso perdido, assim no paraíso recuperado a árvore da vida será necessária. Apoc.
22:1, 2, 14. Mesmo na glória imortal os santos devem reconhecer sua dependência de Deus quanto à vida,
comendo do seu fruto doador de vida como o antídoto da morte” – LaRondelle, O que é Salvação, p. 142.

Outro texto notável que liga os méritos de Cristo, conquistados na cruz do Calvário, com a esperança
da glorificação é Apoc. 22:14:

“Bem-aventurados aqueles que lavam suas vestiduras (no sangue do Cordeiro), para que lhes assista
o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas”.

Este texto nos ensina que o direito de participarmos da Árvore da Vida, durante os infindáveis anos da
eternidade, foi-nos assegurado pela morte de Jesus Cristo na cruz.

“O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam
as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, toda verdade da Palavra de Deus, de
Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário” – Ellen White, Obreiros
Evangélicos, p. 315.
“Todas as bênçãos desta vida e da futura nos são concedidas assinaladas com a cruz do Calvário” -
Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 362.

A cruz de Cristo é a base central de nossa salvação (justificação, santificação e glorificação).

“Justificação, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por
intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-
nos na esperança da glória de Deus” – Rom. 5:1, 2 (cf. 1Cor. 1:30; Rom. 8:23).

Relembrando:
• Na justificação Deus NOS LIBERTA da culpa do pecado.
• Na santificação Deus NOS LIVRA do poder do pecado.
• Na glorificação Ele NOS LIBERTARÁ da presença do pecado.

Constante Necessidade da Cruz


Sempre que a sociedade é pacífica, alguns cristãos começam a perder de vista o fundamento de suas
bênçãos e se perguntam: Por que a humanidade precisa de um sacrifício expiatório? Por que é necessário que
nossos pecados sejam perdoados através do sangue de Cristo? Que diferença faz a cruz? Por que Deus não
pode nos perdoar mediante Sua completa misericórdia, unicamente pela Sua graça, sem sacrifício cruento?
A pessoa moderna fala preferivelmente de crimes, fracassos da moral de sentimentos de inferioridade
do que de pecado e de culpa. Fracassos tais como “complexo de inferioridade” são usados como substitutos

SOTEROLOGIA 40
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moralistas para a realidade do pecado. Secretamente, homens e mulheres encontram-se enfermos devido ao
seu pecado indigno ou seus fracassos morais e, portanto, não se sentem satisfeitos; mas por não saberem
resolver esta situação, reprimem-se impedindo desta forma qualquer esforço moral para começar novamente.
Repousa aí a raiz patológica do secularismo moderno. O fracasso moral não é trivial ou irreal, mas um
mal sólido; não dando ouvidos às suas consciências, homens e mulheres têm traído seus ideais,
contaminando seu caráter e perdido a batalha.
A técnica da psicanálise não pode ajudar aqui, porque o estímulo de atos perversos não pode ser
alimentado. Não pode haver solução enquanto se permanece no nível unicamente moral. Um moralista tal
nunca pode se perdoar a si mesmo. Não há salvação para o fracasso moral até que compreendamos que toda
nossa vida deve ser transformada mediante seu direcionamento para Deus. O psiquiatra pode aliviar
temporariamente uma alma enferma do pecado, procurando falar-lhe para eliminar o sentimento de culpa;
mas nunca poderá eliminar a culpa. Somente Cristo pode apagar nossos pecados.
Enquanto o moralista é conduzido pela sua própria justiça, para sua própria desesperança, o crente em
Cristo reconhece seu fracasso como o pecado contra Deus, como a transgressão de Sua santa vontade, como
a rebelião contra o Seu amor. Isto o leva a uma total condenação própria. Mas, mediante a fé no Cordeiro que
Deus proveu, ele pode confessar todas as suas faltas e aceitar o perdão que Jesus oferece. Cristo oferece o
perdão do passado e uma oportunidade.
O crente em Cristo fica tão plenamente direcionado para Deus a ponto de preocupar-se mais com Deus
do que consigo mesmo. Ao aceitar o perdão de Deus, ele também aprende a perdoar e respeitar-se a si
mesmo. O Credo antigo dos apóstolos conclui com este testemunho de fé: “Creio... no perdão dos pecados”.
Os cristãos não vivem sob as sombras da cruz, mas em meio à sua luz salvadora

ESCLARECENDO APARENTES CONTRADIÇÕES

Julgamento pelas Obras

1. Paulo
“...que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: Dará a vida eterna aos que, perseverando
em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação dos facciosos que
desobedecem à verdade, e obedecem a injustiça” – Rom. 2:6-8.
“Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba
segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” – 2Cor. 5:10.
“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens, cientes de
que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele
que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas” – Col. 3:23-25.
“... manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada
pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará” – 1Cor. 3:13.

2. Pedro
“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um,
portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação” – 1Pedro 1:17.

SOTEROLOGIA 41
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3. Davi
“...e a ti, Senhor, pertence a graça: pois a cada um retribuis segundo as suas obras” – Salmo 62:12.

4. Salomão
“Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras até que as que estão escondidas, quer sejam boas,
quer sejam más” – Ecles. 12:14.

5. Jesus Cristo
“Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a
cada um conforme as suas obras” – Mat. 16:27.
“Quando vier o Filho do homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então se assentará no
trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como
o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda; então
dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me deste de comer; tive sede e me deste de
beber; era forasteiro e me hospedaste; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-
me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com
sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te
vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhe dirá: Em verdade vos afirmo que sempre
que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então o Rei dirá também aos que
estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; sendo forasteiro, não
me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso não fostes ver-me. E eles lhe
perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não
te assistimos? Então lhes responderá: Em verdade vos digo que sempre que os deixastes de fazer a um
destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão este para o castigo eterno, porém os justos para a
vida eterna” – Mateus 25:31-46.
“Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo;
porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado” – Mateus 12:36, 37.

OBRAS DA LEI OBRAS DA FÉ


MÉRITOS = Meio de Salvação RESULTADOS = frutos
Ex.: Rom. 3:20, 28; Gál. 3:13 Ex.: 1Tess. 1:3 (edição Revista e Corrigida)

Fomos libertados das “obras da lei”, não da lei.


Cristo nos libertou da “maldição da lei”, não da lei.
Pelo relacionamento FÉ-OBRAS, temos a fé operante (1Tess. 1:3; Gál. 5:6).

O que vai ser julgado?


Se a fé foi operante (julgamento qualitativo).
Mas também o julgamento será uma verificação para ver se as obras são obras de fé (julgamento
quantitativos).

SOTEROLOGIA 42
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“Entretanto, porém, o rei para ver os que estava à mesa, notou ali um homem que não trazia veste
nupcial” – Mateus 22:11.

O Rei veio conferir se os convidados estavam trajados com as vestes nupciais.


• “Você aceitou as vestes que Eu fiz e lhe dei?”, “Suas obras são obras da fé?”.
O julgamento será realizado em função da fé ou da incredulidade. Assim, o que será avaliado no
julgamento é se o que foi feito, foi pela fé ou pelo esforço próprio de legalismo.
“No cerimonial típico, somente os que tinham vindo perante Deus com confissão e arrependimento, e
cujos pecados, por meio do sangue da oferta para o pecado, eram transferidos para o santuário, é que
tinham parte na cerimônia do dia da expiação. Assim, no grande dia da expiação final e do juízo de
investigação, os únicos casos a serem considerados são os do povo professo de Deus” – O Grande Conflito,
p. 480.
“Ao abrirem-se os livros de registro no juízo, é passada em revista perante Deus a vida de todos os
que creram em Jesus. Começando pelos que primeiro viveram na Terra, nosso Advogado apresenta dos
casos de cada geração sucessiva, finalizando com os vivos” – Idem, p. 482.

Paulo X Tiago
“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei... Que,
pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque se Abraão foi justificado por obras,
tem de que gloriar, porém não diante de Deus. Pois, que diz as escrituras? Abraão creu em Deus, e isto lhe
foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim, como
dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como
justiça” – Rom. 3:28 e 4:1-5.
“...e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isto lhe foi imputado para
justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé,
somente.” – Tiago 2:23, 24.

1. A solução católica romana: Paulo deve ser interpretado à luz de Tiago.


2. A solução de Lutero: “Tiago é uma epístola de palha”. Lutero não conseguiu harmonizar Paulo e
Tiago.

Harmonização
Paulo e Tiago estão falando para auditórios diferentes
a) Paulo fala contra o legalismo (fazer obras para ajudar na salvação)
b) Tiago fala contra o intelectualismo (apenas a fé basta, sem nenhuma evidência visível)

Obras
a) Paulo fala das obras da lei (como meio)
b) Tiago fala das obras da fé (fé operante)

Abraão é citado como exemplo por ambos


a) Paulo utiliza Abraão em Gên. 15 (creu na promessa).
b) Tiago utiliza Abraão em Gên. 22 (sacrifício de Isaque).

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Obras na salvação sob uma perspectiva diferente


a) Paulo fala da salvação diante de Deus – as obras não têm qualquer valor.
b) Tiago fala da salvação diante dos homens – as obras “evidenciam” se o crente tem a fé que salva.

Concluímos relembrando as famosas e poderosas palavras do apóstolo da graça:

“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o PODER DE DEUS para a salvação de todo
aquele que crê...” – Rom. 1:16

BIBLIOGRAFIA BÁSICA E SUPLEMENTAR

Ellen White. Caminho a Cristo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.


________. O maior discurso de Cristo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
________. Paulo – o apóstolo da fé e da coragem. Campinas, SP: Certeza Editorial, 2005.
F. F. Bruce. Paulo – o apóstolo da graça. São Paulo: Shedd, 2003.
La Rondelle. O que é salvação?. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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