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QUEDA E ARREPENDIMENTO
Mateus 14.53-54; 66-72

Introdução
Pedro, o apóstolo privilegiado, com Tiago e João, que recebeu do céu a revelação do
que era e de quem era o Divino Filho de Deus; cujo coração era grande, sincero,
entusiástico; o "pulmão" cheio e claro do colégio apostólico.

O homem que, variadas vezes, expressou imensa força de vontade; que bebeu por
cerca de três anos o cristalino ensino de Cristo, como amigo chegado dele;
testemunha ocular da glória de nosso Senhor; que fez com voz firme o voto de ir com
Jesus até à morte, se tanto fosse necessário...

Num momento de vacilação, frágil e covarde, negou todos esses privilégios, jurou que
não conhecia Jesus, e perjurou que nada havia entre o prisioneiro Nazareno e ele!

Diante de tão angustioso flagrante de pecado, só nos convém prestar atenção às


advertências divinas: "Você, que está de pé, veja, não caia!" E: "Vigie e ore, para não
cair em tentação!" E, afinal, que resida em nossos corações a suave intercessão:
"Pai... livra-os do mal!"

1 - HISTÓRICO
Os acontecimentos que ora estudados, na vida do apóstolo Pedro, se deram na última
noite da vida de Jesus, em Jerusalém, numa madrugada de sexta-feira. Após o
Getsêmane, a prisão de Cristo e a ação heroica de Pedro, tentando defender o Mestre
(Mc 14.47; cf. Jo 18.10-11), os apóstolos todos fugiram (Mc 14.50).

Do Getsêmane, conduziram Jesus à casa do sumo sacerdote Caifás, a um palácio


muito conhecido na cidade. Todavia, como Anás, o sogro de Caifás, era tido com
grande prestígio entre os judeus, e era homem hábil, de influência e rico, tendo sido
sumo sacerdote por quase 8 anos (desde 7 a 14 A. D.), levaram-lhe o Senhor primeiro,
preso, para uma ligeira inquirição prévia (Jo 18.13, 18-24).

Mas, pouco depois foi entregue a Caifás, que morava com o sogro, segundo se
conjectura, e aí se deu o primeiro processo informal do sinédrio, que tudo confirmou
numa segunda reunião depois, de manhã (Mt 26.57-68; Mc 14.58-72; Lc 22.31- 62; Jo
18.15-28; Mc 15.1-5).

Pedro e João, seguindo de longe a escolta com o Senhor aprisionado, conseguiram


penetrar no pátio ou átrio interior do palácio de Caifás. João era conhecido no local e
foi ele quem conseguiu que Pedro também entrasse até ao pátio (Jo 18.15-16). O átrio
era uma área descoberta, redonda ou quadrada, no interior das casas do tempo. Ao
redor, mais elevados, costumavam ficar os aposentos, quartos, salas e salões.

A entrada era usual o vestíbulo, ou portal, espécie de pavilhão coberto. Foi nestes dois
lugares que Pedro sofreu a prova de que saiu vencido a princípio.

A primeira tentação se deu no pátio, onde havia acendido uma fogueira, pois a noite
estava fria (Jo 18.18).

A segunda se deu entre o pátio e o vestíbulo (Mt 26.71).

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A terceira se deu no pátio, de novo, ao redor da fogueira. Foi de um dos salões do


palácio, mais elevado, onde Jesus estava sendo inquirido, que Ele pôde olhar, em
baixo, o discípulo em apertos e angústias.

Pedro, parece, ansiava mesmo pelo socorro de seu Senhor, pois seus olhos
encontraram os de Jesus. E, graças a Deus, Pedro restabeleceu-se. Fugiu do lugar
perigoso e, arrependido, voltou a ser o discípulo de "Cristo, Filho do Deus vivo."

2 - RECONSTITUIÇÃO
Os quatro Evangelhos contam os fatos da queda e reabilitação de Pedro. Combinando
as narrativas, os detalhes de umas com as outras, pode-se reconstituir perfeitamente o
desenrolar dos fatos narrados na lição com quase absoluta certeza.

Inicialmente, note- se a profecia de Jesus, feita aos discípulos, e a Pedro, dizendo a


este que naquela noite todos o haviam de abandonar, sendo que ele, Pedro, antes que
o galo cantasse duas vezes, três vezes o ia negar (Mc 14.27-31). A primeira negação
de Pedro deu-se no pátio.

Foi provocada por uma das criadas do sumo sacerdote (14.66), a porteira que, a
pedido de João, permitira a entrada de Pedro no palácio (Jo 18.16-17). Pedro negou
afirmando ignorar até o sentido do que lhe diziam. Neste primeiro passo em falso,
Pedro pecou contra a verdade.

Disse uma falsidade flagrante. Esta negação teve um agravo. A criada sabia que
Pedro era discípulo de Jesus, como João o era. Note-se o "também tu", que ela
empregou, identificando Pedro como colega de João (14.67).

A segunda tentação de Pedro ocorreu no momento em que ele tentando reagir ao


ambiente, saiu do pátio para o vestíbulo, ou porta de entrada (Mt 26.71), talvez para
fugir ou para evitar o clarão da fogueira no átrio, que o tornava mais visível. Esta
negação foi provocada por várias pessoas.

E João (18.25) conta que já os inimigos, ali, comentavam o caso: "eles" — homens e
mulheres falavam-lhe (Lc 22.58). E uma dessas pessoas foi outra criada, decerto
também porteira, e que insistiu em fazer Pedro bem identificado. Pedro negou
segunda vez, e agora com maior agravo que o da primeira negação. Jurou também. O
medo, o pavor, a irritação, o primeiro erro — tudo impeliu a queda do pobre discípulo.

Nesta hora, o galo cantou pela primeira vez. Seriam 3 ou 4 horas da madrugada,
então. Era o aviso. Mas, infelizmente, o apóstolo não soube ouvi-lo. Tendo-se atolado
já no lameiro, ia-se afundando mais e mais. A terceira negação de Pedro ocorreu, de
novo, no pátio (Jo 18.25), ao pé do fogo perigoso. Foi o terceiro passo em falso, do
discípulo (14.70).

Entre a segunda e a terceira negação interveio cerca de uma hora (Lc 22.59). Foi esta
última negação também provocada pelos presentes (14.70), tendo, entre estes,
assumido a atitude principal um parente de Malco, a quem Pedro ferira no jardim das
Oliveiras (Jo 18.26).

Entre outras provas de identidade, citavam os presentes a linguagem característica


dos galileus. Pedro não pôde dominar-se. O pavor o dominou totalmente. E o apóstolo
negou pela terceira vez o seu melhor Amigo, e com a agravante de fazer valiosa a sua
palavra por meio de juras e imprecações, profanando assim o nome de Deus.

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O velho hábito de blasfemar e imprecar retornou impetuoso, julgando-se o "homem


velho" já vitorioso sobre o "novo homem" — Pedro. E o galo cantou pela segunda vez
(14.72). O dia devia vir rompendo. Mas, a fé do apóstolo não ia falhar de todo. Je-sus,
no momento propício, socorreu a Pedro.

Olhou-o sereno, compassivo, triste, mas perdoando-lhe. Foi o remédio. Pedro caiu em
si e, realmente arrependido, fugiu do pátio perigosíssimo. Fez mais: chorou
amargamente o seu erro (Lc 22.61).

Foi respondida a oração de Jesus (Lc 22.32). Quem poderá expressar o que se tenha
passado na alma e no coração de Pedro naquele dia, o dia da crucificação de Cristo, e
no dia seguinte?

Uma coisa é certa: Pedro não apostatou. Parece que João o procurou e o levou com
Maria para o seu lar, cumprindo o espírito de Gálatas (6.1). Após a ressurreição, Pedro
está com João (Mc 16.7 e Jo 19.26-27). Como é imensa a graça divina!

3 - CORAÇÃO DA LIÇÃO
A piedade cristã não evita as tentações nem inibe da queda ao crente. Por duas vezes
faltou com a fé o "pai da fé" - Abraão. Caiu precisamente no seu ponto mais forte o
manso Moisés.

Jó, em certo momento de sua árdua prova, falhou na paciência. Paulo e Barnabé, dois
gigantes no Reino de Deus, deram o exemplo mau de, uma vez, brigarem. Deus
permite essas experiências a fim de que nos conheçamos a nós mesmos e à sua
graça bondosa e salvadora.

É no meio do fogo que a fé verdadeira se apura. Ser tentado é uma coisa. Cair na
tentação é outra. No primeiro caso, somos apenas passivos.

No segundo, agentes. Um cristão pode cair no erro. É humano. Mas, não deve ficar
nele. Pedro tresmalhou, mas retornou logo ao redil. O arrependimento é um bem. Há
dois tipos de arrependimento. Um chora em face das consequências, pelo mal que
pode lhe acontecer. Outro chora por ter ofendido a Deus. O primeiro afasta o pecador
da cruz.

O segundo o leva a Cristo. O primeiro produz o desespero. O segundo, a esperança e


a fé. Judas teve o arrependimento que é remorso. Pedro, o que é vida e restauração
moral. O crente contrito dá provas disso. Uma é não negligenciar o olhar de
advertência do divino Reparador. Outra, fugir do ambiente da tentação.

E ainda outra, o sentimento profundo de haver errado. E, por fim, a volta ao seio do
bom Pastor. O pecado é forte e hábil. Mais forte e capaz, porém, é a graça divina.
Pedro foi exemplo vivo dessa verdade. O perdão consola, reanima a alma, orienta o
crente e conduz ao caminho estreito da obediência. Deus não rejeita o crente que erra
e se arrepende. Louvado seja o seu Nome!

4 - ADVERTÊNCIAS
A presunção no crente, julgando- se mais forte do que os outros, é um passo perigoso
para as quedas espirituais.

Não busque o "fogo" que os inimigos acendem. É perigo. É chama diabólica. O


primeiro passo em falso exige segundo e terceiro, milhares de outros passos curvos e
falhos.

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Pedro parece não ter ouvido o galo cantar pela primeira vez! Ele estava ocupado
demais em ouvir o que não convinha, e caiu no pecado por isso. Deus não permite a
queda fatal e irreparável do crente. O seu socorro vem sempre à hora própria.

O pecado leva o homem à incoerência. Pedro teve medo de umas pobres criadas e de
uns soldados grosseiros, no pátio do Juiz Caifás. E negou o seu Mestre! Entretanto,
devia antes ter tido medo de injuriar e ofender ao seu Rei e Senhor, que vale tudo.
Se você também está em pé, veja que não caia!

5 - PRÁTICA
Os tempos que correm são perigosíssimos. O crente vive cercado de tentações de
todas as formas. O jogo cruel dos interesses temporais põe à prova a nossa fé. E
quantos tropeçam e chegam mesmo a cair nesse laço! A vaidade, igualmente, trabalha
os corações.

E quantos cedem ao seu atrativo! O mundo, com a sua amizade, arrasta muitos filhos
de Deus. As lutas de opiniões, de partidos, de seitas, como são fatores constantes de
quedas, às vezes trágicas! O egoísmo é outro recurso maligno a deformar vidas. As
riquezas também. As alianças entre cristãos e incrédulos, a quantos servidores do
Mestre não ferem mortalmente!

É preciso fugir dos elementos heterogêneos espirituais a fim de evitar a queda do


cristão genuíno. Nada de ficar longe do Senhor! É a primeira grande imprudência.
Nada de se tomar parte nas rodas que combatem a causa de Cristo.

Pedro resvalou exatamente por acomodar-se ao grupo dos inimigos do seu Mestre. O
Salmo primeiro já advertiu disso ao cidadão do Reino dos céus.

Não desanimemos quando formos surpreendidos por alguma falta. Corramos até ao
Salvador. Arrependamo-nos. Mudemos o rumo do nosso caráter e tratemos de receber
de nosso Senhor a força que nos leva a vencer o resto da jornada.

Lágrimas benditas foram as lágrimas de Pedro! Serão as suas se, porventura,


assaltado pelo maligno, souber "ir para fora" e "chorar amargamente!"

AUTOR: REV. GALDINO MOREIRA

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