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“Mala Com Alça”

Texto Original de Marcelo Marinho


Adaptação e Encenação Marcus Di Bello

Espetáculo Infantil
Mala Com Alça
Espetáculo Infantil em Um Ato, Dois Patos e Três Chatos

(Atores terminando de se arrumar enquanto o público entra e se acomoda. Quando estiver perto
de começar os atores falam em coro)

CORO
Atenção criançada, o espetáculo Mala Com Alça começa em cinco minutos!
(Repetir quantas vezes for necessário, alterando o tempo de espera. Enquanto isso os atores
terminam a maquiagem, com o violão sendo tocado)

ATOR 1
Boa tarde (ou bom dia) jovens senhoras e jovens senhores. Como vão? Bem bom, bacana,
bonito? Ou mal, mole, meleca, molenga? Bem vindos ao maravilhoso mundo do teatro, onde
tudo é possível. Aqui vocês podem encontrar todos os tipos de criaturas mágicas: príncipes (um
ator faz pose ao seu lado), heróis (o outro ator faz pose ao seu outro lado) e monstros horríveis
(os dois apontam para o ATOR 1, que os empurra dali). O meu nome é Mariano. Esse (aponta
para ator 2) é Conrado. E aquele (aponta para ator 3) é Alberto. E o nosso espetáculo se chama
Mala Sem Alça. E por que mala sem alça?
(O tempo inteiro os outros dois atores repetem o que o ator 1 diz. Na última pergunta, o ator 2
repete também)

ATOR 3
É mesmo. Por que chama Mala Com Alça?

ATOR 1
Por que tem as nossas iniciais no nome. Mala começa com Ma, de Mariano. Com é o começo
de Conrado. E Alça começa com Al, de Alberto. Mala Com Alça.

ATOR 3
Mas o nome dele nem é Conrado. Conrado é apelido.

ATOR 1
Mas era o jeito do nome ficar legal. Sem contar que a gente possuí uma mala no palco, e essa
mala tem alça.

ATOR 2
Se é assim a gente tem um violão também e nem por isso o espetáculo se chama Violão Com
Corda.

ATOR 1
É que essa mala é uma mala mágica.

OS OUTROS DOIS
Ohhhhhhhh!

ATOR 1
Mas não pelos seus truques.
OS OUTROS DOIS
Ahhhhhh!

ATOR 2
Mas como uma mala pode ser “mágica” se não tem nenhum truque de “mágica”?

ATOR 1
Essa mala é mágica por causa das suas histórias.

ATOR 3
Histórias?

ATOR 1
Sim, histórias. Essa mala tem várias histórias. Histórias alegres, histórias tristes, histórias
engraçadas, histórias de terror, histórias de suspense, histórias rápidas como a hora do recreio e
histórias divertidas como as aulas que a gente tem na escola.

ATOR 3
Então nós queremos histórias!

ATOR 1
Então, do que vocês querem que sejam essas histórias?

ATOR 2
Eu quero uma história de fadas.

ATOR 3
Não, uma história de cowboy.

ATOR 2
Nâo, de fadas!

ATOR 3
Não, de cowboy!

ATOR 2
Fica quieto!

ATOR 3
Não, fica quieto você que é burro!

ATOR 1
Opa! Pode ir parando! É muito feio chamar o amigo desse jeito, sabia?

ATOR 2
É.

ATOR 3
Mas por quê?
ATOR 1
Porque ninguém é burro. Burro é quem faz “Ih-ón”, tem uma orelha deste tamanho e dá coices
assim.

ATOR 2
É.

ATOR 1
Pede desculpas pra ele.

ATOR 2
É.

ATOR 3
Você me desculpa?

ATOR 2
É... Quer dizer, sim, eu desculpo.

ATOR 1
Isso me lembrou uma ótima histórias sobre bullying.

OS OUTROS DOIS
Bullying?

ATOR 1
Vocês sabem o que é bullying?

OS OUTROS DOIS
Não.

ATOR 1
Vocês ainda querem ouvir a história?

OS OUTROS DOIS
Claro!

ATOR 1
Ótimo, vamos lá.

(Música. Enquanto atores 2 e 3 pegam adereços, ator 1 está ao violão.)

MÚSICA
Uma história vou contar
Agora vou representar
Abrindo a mala eu descubro
Um mundo inteiro escondido
Personagens eu decido
Posso transformar o mundo.
(A – D – G – E – A)
ATOR 1
Era uma vez, um garoto, Amaral
Acredite, pode acontecer contigo
Tinha timidez, mas nada muito mal
Só queria mesmo fazer um novo amigo.

ATOR 2
Às vezes me sinto sozinho
Queria ter alguém pra conversar
É fácil, só fazer um esforcinho
Amigo meu qualquer um pode ficar

ATOR 1
Mas isso era complicado
Os meninos com ele implicavam
As meninas dele se afastavam
Ninguém ficava do seu lado.
Tudo isso por um motivo bobo
Não lhe davam nem um aceno
É que desde que era pequeno
Usava óculos esse garoto.

ATOR 3
Nerd, CDF, quatro olhos
Ninguém quer ter você por perto

ATOR 1
E isso não estava nada certo.
Cada vez mais isolado,
Amaral se punha a chorar.

ATOR 2
Coitado, estou sendo injustiçado
Só por usar óculos e gostar de estudar.
Não tenho culpa de usar óculos
É que tenho problema de visão
Vocês com certeza entenderiam
Se tivessem um pouco mais de educação.

ATOR 1
O garoto não conseguia um amigo
Já tinha tentado todas as táticas
Até que, de repente, num belo dia
Ocorreu uma competição de matemática.

ATOR 3
Tinham duas escolas, a nossa e a da outra equipe.
As duas querendo ganhar
Mas quando chegou a última rodada
Estávamos 1 ponto atrás no placar.
ATOR 1
A última questão era difícil
Ninguém sabia como responder
E a cada momento que passava
A outra escola ficava mais perto de vencer.
Até que Amaral se levantou
Ajeitou os óculos e disse de uma vez.

ATOR 2
Já sei qual é a resposta certa
Trinta mais quinze mais onze
É exatamente cinquenta e seis.

ATOR 1
Graças a sua inteligência
A escola ganhou a competição
E coube a ele levantar a taça
Na hora da premiação.

ATOR 3
Desculpe por ter te chamado de quatro olhos.
Agora eu percebo que foi errado
Daqui pra frente, prometo não te tratar
Daquele jeito que eu havia te tratado.

ATOR 2
Tudo bem, está desculpado
Sei que você também é um garoto divertido
E espero que para sempre
Nós possamos ser grandes amigos.

ATOR 1
E depois de tudo isso,
Foi só felicidade
Porque Amaral percebeu
Que melhor do que um troféu
Ele ganhou uma amizade.

CORO
Ser diferente
Não tem nada errado
Tem que respeitar
Para ser respeitado
(D – G – A – G – D – A)

ATOR 1
E então, aprenderam alguma coisa sobre bullying?

ATOR 3
Sim, que trinta mais quinze mais onze é cinquenta e seis.

ATOR 2
Não, aprendemos que não é porque uma pessoa é estudiosa que ela também não pode ser
divertida. Não devemos julgar pelas aparências.

ATOR 3
(constrangido)
Exatamente o que eu falei.

ATOR 1
E vocês gostaram da história?

ATOR 2
Sim!

ATOR 3
Não!

ATOR 1
Mas por que você não gostou?

ATOR 3
Porque eu é que tive que interpretar o garoto malvado.

ATOR 2
Mas você é malvado.

ATOR 3
Não sou não!

ATOR 1
(Para o ator 2)
Agora você é que está sendo malvado com ele.

ATOR 2
Desculpa, não foi a minha intenção.

ATOR 1
Mas será que a história que acabamos de ver não serviu para ensinar vocês? Vocês continuam
falando essas coisas feias um para o outro. Acho que eu vou ter que contar mais uma história
pra ver se vocês aprendem.

OS OUTROS DOIS
Isso, conta!

ATOR 3
Mas agora eu quero ser o personagem bonzinho.

ATOR 1
Tá bem, tá bem. Vamos começar?

(Eles concordam)

MÚSICA
Uma história vou contar
Agora vou representar
Abrindo a mala eu descubro
Um mundo inteiro escondido
Personagens eu decido
Posso transformar o mundo.
(A – D – G – E – A)

ATOR 1
Era uma vez um garotinho
Simpático e brincalhão
Mas que tinha muita chateação
Porque era muito baixinho.

ATOR 3
(Ficando de joelhos para interpretar o garoto)
Me chamo Firmino, mas meu apelido é Nino
Gosto de estudar, sou aplicado e esforçado
Mas fico triste quando me deixam de lado
Só porque sou muito pequenino.

ATOR 1
Seus colegas sempre tiravam sarro. Especialmente um que era bem mais alto.
(Olhando para o ator 2, mostrando que ele deve fazer esse personagem)

ATOR 2
Mas tenho medo de altura, será que tenho coragem?

ATOR 3
Sobe no banco e entra logo na personagem.

ATOR 2
Tampinha, baixinho, anão de jardim
Sai daqui, ninguém te atura
Não importa o quanto você se esforce
Você não chega nem na minha cintura.

ATOR 3
Nâo tenho culpa de ser pequeno
E isso não é nenhum defeito
O que importa não é a altura
E sim, ser direito

ATOR 1
Mas nem assim ficava em paz
O baixinho de cabelo castanho
Só chorava e dizia

ATOR 3
Vai mexer com alguém do seu tamanho.

ATOR 1
Mas um dia, de sobressalto
Nino ficou preso no banheiro
Juntamente com o outro garoto
Que, desesperado, gritava alto

ATOR 2
Socorro! Socorro! Socorro!
Estou gritando, mas ninguém me nota
Preciso que alguém venha
E derrube logo essa porta.
Tenho claustrofobia
Tenho medo de lugares fechados
A escola logo vai fechar
E demoraremos para ser achados.

ATOR 1
O garoto alto estava desesperado
E achava que ninguém iria ajudar
Já estava preso por muito tempo
E estava perto de desmaiar.
Mas então eles perceberam
Na porta havia um buraco bem lá embaixo
Que só poderia ser atravessado
Por alguém que fosse muito baixo.

ATOR 3
Não precisa se preocupar
Eu vou nos tirar daqui
Passarem pelo buraco, abrirei a porta
E deixarei você sair.

ATOR 1
E então Nino começou
Devagar a passar pelo buraco

ATOR 3
Meu Deus, eu não tinha reparado
Como esse buraco é tão apertado

ATOR 1
Nino conseguiu escapar
E abriu a porta imediatamente

ATOR 3
Venha, já pode sair
Você está livre, pode ficar contente

ATOR 2
Obrigado, muito obrigado
Não sei como lhe agradecer
Nunca mais vou lhe ofender
Desculpe por ter tirado sarro
E por ter feito toda aquela traquinagem
Percebo que hoje, a sua pouca altura
Não foi defeito, e sim vantagem.

ATOR 3
Não tem problema, não se preocupe
É claro que o desculparei
Espero que um dia você possa me ajudar
Do mesmo jeito que eu o ajudei

ATOR 1
E assim, depois de sãos e salvos
O garoto alto aprendeu uma lição
A de que não precisa ter muita altura
Para ter um grande coração.

CORO
Ser diferente
Não tem nada errado
Tem que respeitar
Para ser respeitado
(D – G – A – G – D – A)

ATOR 1
(Para o ator 3)
E dessa história você gostou?

ATOR 3
Dessa sim. Eu aprendi que tamanho não é documento e que os meus joelhos doem se eu ficar
muito tempo ajoelhado.

ATOR 1
(Para o ator 2)
E você, também gostou dessa?

ATOR 2
Gostei, mas quero mais uma.

ATOR 1
Mais uma?

ATOR 3
É, mais uma!

ATOR 1
Bom, então mais uma história. Mas dessa vez é a última.

OS OUTROS DOIS
Aaah!

ATOR 1
É importante que vocês se lembrem que por trás de cada história existe uma lição para ser
aprendida, e, melhor do que isso, é pra ser praticada no nosso dia a dia.

MÚSICA
Uma história vou contar
Agora vou representar
Abrindo a mala eu descubro
Um mundo inteiro escondido
Personagens eu decido
Posso transformar o mundo.
(A – D – G – E – A)

ATOR 1
Era uma vez numa escola
Um menino chamado Juninho
Que gostava de fazer esportes
Mas que mesmo assim ainda era gordinho.
Juninho estava sempre disposto
A jogar futebol no recreio
Jogava e jogava com gosto
Sem medo, temos nem receio.

ATOR 2
Sempre gostei de futebol
Adoro Zico, Neymar e Pelé
E daí que eu como um pouquinho mais?
Nosso peso não diz o que a gente é.
Mas não adianta o quanto eu tente
Nunca me machuco nem fico contundido
Mesmo com tanta gente
Sou sempre o último a ser escolhido.

ATOR 3
Não adianta que não vou te escolher
Vê se sai daqui e não me amola
Quem é que gostaria de ter no time
Um jogador mais redondo do que a bola?
Seu gordo, obeso, baleia
Prefiro ter um jogador manco
Do que alguém que não aguenta correr
Se depender de mim, você só fica no banco.

ATOR 1
Juninho chorava e chorava
Só queria poder jogar
Treinava, treinava e treinava
Mas nada do resto da turma deixar.

ATOR 2
Posso não conseguir correr
Mas por que isso importa tanto?
A única coisa que eu quero
É poder pisar dentro do campo.
Se eles soubessem o quanto eu me esforço
Não zombariam mais de mim
Ao contrário do que eles pensam
Eu não sou nada ruim.

ATOR 1
Mas Juninho não desistiu do seu sonho
E no final do campeonato, um jogador faltou
E depois de olhar o banco de reservas
Juninho foi o único que sobrou.

ATOR 3
Tá bom, você pode entrar
Bota essa camisa e essa calção fuleiro
Mas não pode jogar na linha
Você vai ter que ser o goleiro.

ATOR 2
Ótimo, eu vou adorar
Podem contar comigo
Sempre que o time precisar
Estarei pronto para o perigo
Colocarei as luvas
E as chuteiras também
Por esse gol aqui
Não vai passar ninguém.

ATOR 1
A partida começou
E Juninho não foi nada mal
Mas, terminando em zero a zero
Foram pros pênaltis no final.

ATOR 3
Meu Deus, vamos perder
Esse gordo é muito ruim
Garanto que ganharíamos
Se dependesse só de mim
Ele receberia zero
Se eu tivesse que lhe dar uma nota
Com certeza esse gordinho
Será a nossa derrota.

ATOR 2
Estou confiante e preparado
Para toda a honra e toda a glória
Sei que daqui só sairemos
Depois de termos conquistado a vitória.

(Acordes param. Ator 3 veste a camisa do adversário, para bater o pênalti)


ATOR 1
É amigo! Aqui é pimba na gorduchinha, você queria pênaltis, tá aí! Vamos agora para a última
cobrança de pênalti, se for gol as cobranças continuam, se o goleiro defender a escola (nome da
escola) será campeã. A partida está emocionante, a torcida vibra, os jogadores estão
concentrados. Haja emoção, amigo. Reúna a sua torcida em casa, mande a sua energia você
torcedor da escola (nome da escola). E o juiz apita, está autorizada a cobrança. Ajeitou, correu,
fez ali a graça, olhou pra bola, olhou pro gol, respirou, a batida...defendeu Juninho! E o time da
escola (nome da escola) é campeão!

OS TRÊS
É campeão!
(Fazem fanfarra)

ATOR 1
(Como violão)
O tempo então passou
O (nome da escola) foi campeão
E Juninho, hoje em dia
É goleiro da seleção.

ATOR 2
Juninho venceu as barreiras
Tudo o que ele sonhou foi feito
Se tornou um jogador profissional
E derrubou o preconceito.

ATOR 3
E ganhou muitos amigos
Depois que foi campeão
Amigos que guarda até hoje
No fundo do seu coração.

ATOR 1
Espero que vocês tenham ouvido
E melhor, que tenham aprendido

ATOR 2
O que é o bullying
Bullying, palavra sem rima nem nada

ATOR 3
Para mostrar que essa atitude
É uma coisa muito errada.

ATOR 2
Espalhem para os seus amigos
Pros seus parentes e conhecidos

ATOR 3
Que por mais difícil que seja
Ninguém deve se dar por vencido.
ATOR 1
E para quem ainda não acreditou
É só cantar o que a gente cantou

CORO
Ser diferente
Não tem nada errado
Tem que respeitar
Para ser respeitado
(D – G – A – G – D – A)

ATOR 2
Entendi porque o espetáculo se chama “Mala Com Alça”

ATOR 3
É porque tem uma mala com alça no palco.

ATOR 2
Não, não é por isso. É porque um mala sem alça é alguém muito chato, e como o espetáculo é
legal, então é mala com alça.

ATOR 1
Pode ser por isso também. Então, a partir de agora, temos três missões.

ATOR 3
Quais?

ATOR 1
Primeira, a de arrumar toda essa bagunça na mala. Segunda, a de sempre respeitar a todos. E
por último, a de aplaudir o público que nos assistiu hoje.

(Atores aplaudem)

FIM

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