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Emoção (Memória Emotiva)

Mente, coração e alma do ator estão envolvidos em sua profissão. Algumas vezes
a mente assume o comando. Outras vezes a alma está mais envolvida. Isto traz à baila a
questão da emoção. Toda emoção exigida dele pode ser encontrada através da
imaginação dentro das circunstâncias.

Se na peça o ator necessita de uma ação à qual não responde, pode voltar à sua
própria vida, não em busca da emoção, mas de uma ação similar. Isso é chamado de
memória emotiva. Em sua própria experiência pessoal você teve uma ação semelhante à
qual correndo uma reação emocional. Volte à ação e às circunstancias específicas em
que esteve e lembre-se do que fez. Se você recordar o lugar, os sentimentos voltarão.

Muitos atores que não conseguem chorar em cena, usam a memória emotiva ou
até mesmo a técnica. Lembrar de um ente querido que faleceu, algo que era apegado e
teve que desapegar. Essas memórias estimulam o ator a chorar e trazer em cena a
emoção necessário. Ninguém precisa saber o que você está pensando, mas todos
precisam saber que você está sentindo dor e está triste. A ação irá mostrar ao público o
seu sofrimento, a ação de chorar. A sua memória emotiva fica guardada contigo.

É possível usar a técnica para chorar. Quando estamos chorando, provavelmente,


nossa voz fica rouca, começamos a soluçar, as mãos ficam trêmulas e nossa respiração
ofegante. Essas técnicas cobrem a necessidade de você utilizar a memória emotiva e
acabar se ferindo com ela. Uma outra técnica é você bocejar de boca fecha, ou pelo
menos tentar. Quando bocejamos, nossos olhos enchem de lágrimas, então se você tiver
a capacidade de bocejar com a boca fechada poderá ser uma boa técnica para não
falsear a ação e nem trabalhar com a memória emotiva.

EXERCÍCIO: 1) Texto: Fazer o texto com a emoção que achar e depois o professor
vai orientar dando uma emoção para cada um.

ATOR 1: - De quem foi a culpa?

ATOR 2: - Não existe culpado.

ATOR 1: - Você está bem?

ATOR 2: - Estou.

ATOR 1: - Mesmo?

ATOR 2: - Sim.

ATOR 1: - Ah é?

ATOR 2: - Sim, sim.

ATOR 1: - Não está sofrendo?

ATOR 2: - Estou seguindo a vida.


ATOR 1: - Tá certo.

ATOR 2: - E você?

ATOR 1: - Eu tô… eu to bem.

ATOR 2: - Que bom.

ATOR 1: - Voltei para a faculdade.

ATOR 2: - Maravilha.

ATOR 1: - Estou até pensando em fazer uma tatuagem.

ATOR 2: - Legal!

ATOR 1: - Como legal? Você nunca deixou eu fazer uma tatuagem!

ATOR 2: - Eu não tenho que achar mais nada, não é?

ATOR 1: - Não mesmo… (T) O cachorro está sentindo sua falta.

ATOR 2: - Eu também sinto falta dele.

ATOR 1: - E de mim? Você não sente minha falta? (T) Ai, desculpa. Parei.

ATOR 2: - Tudo bem.

ATOR 1: - Você está mais magro.

ATOR 2: - 2kg.

ATOR 1: - Nossa, por que?

ATOR 2: - Não é tanto assim. A gente precisa se cuidar, né?

ATOR 1: - Precisa? Se cuidar para quem? (T) Desculpa…

ATOR 2: - Você também está mais magra.

ATOR 1: - É a roupa!

(Silêncio).

ATOR 2: - E a casa?

ATOR 1: - Dando muito trabalho.

ATOR 2: - Eu ligo para você avisando quando eu for pegar o resto das minhas coisas, ta?

ATOR 1: Ok.
2) Texto PARA CASA: Trazer a emoção necessária para a cena.

(Ator 1 entra em cena, Ator 2 apenas observa o outro ator entrando).

(Ator 1 entrega um convite).

ATOR 2: - Obrigado pelo convite, mas eu já disse para Julia que eu não vou por ir…

ATOR 1: - Justamente. Por quê?

ATOR 2: - Porque eu trabalho nesse dia.

ATOR 1: - No domingo? No final da tarde?

(Silêncio).

ATOR 1: - Meses já se passaram e nada justifica que você continue desse jeito.

ATOR 2: - Para você, talvez. Agora não cabe a você julgar o que eu sinto.

ATOR 1: - Eu não estou julgando ninguém, pelo contrário, é você que está me julgando
por um erro que cometi…

ATOR 2: - Um erro que destruiu muita coisa. Minha confiança por você, por exemplo.

ATOR 1: - Se coloca no meu lugar.

ATOR 2: - É impossível, porque eu digo e repito que eu jamais teria feito uma coisa dessa
no seu lugar.

ATOR 1: - Nossa, você fala de um jeito que parece que eu matei.

ATOR 2: - Mas você matou! Matou minha confiança, o amor que eu sentia e pra nada! Por
mero capricho!

ATOR 1: - Como assim por mero capricho? Do que você está falando?

ATOR 2: - Eu to falando da minha relação que você destruiu! As suas atitudes são infantis!
Eu não daria um passo em uma decisão daquele tamanho envolvendo a Julia para depois
amarelar e voltar para trás. O amor que eu sinto pela Julia é imenso, um amor que talvez
você não saiba o que é porque você não sabe amar, você usa as pessoas! Você é o
centro do universo! E até a atenção exagerada que a mamãe te deu a vida inteira, as
vezes eu me pergunto, se ela não cabia muito bem.

ATOR 1: - Eu não vou levar em consideração o que você está falando, você está
magoado.

ATOR 2: - Magoado? Eu estou destruído. Eu estou tentando refazer a minha vida há


meses e por esse motivo você não direito de vir até aqui e falar que o fato de eu ter me
afastado de você é uma injustiça!
ATOR 1: - Desculpa. (T) O que eu posso fazer por você?

ATOR 2; - Se afastar! Me deixar em paz! E começa a tomar cuidado com as outras


pessoas pelo o que elas sentem porque pelo visto…

ATOR 1: - Pelo visto o que?

ATOR 2: - Pelo visto você continua fazendo a mesma coisa, né? Só que a vítima dessa
vez é…

ATOR 1: - Presta atenção no que você vai falar. Tudo tem limite. E se o tom da conversa
for esse, eu vou embora.

ATOR 2: - Isso… Vai embora. Nem com uma conversa difícil você é capaz de bancar. Não
tem coragem, nunca teve. Vai embora e depois deixa que os outros arrumem o caos que
você deixou.

ATOR 1: - Escuta aqui! Quem você pensa que é para você subir nesse seu pedestal e vim
falar de coragem?

ATOR 2: - Do que você está falando?

ATOR 1: - Da sua covardia. De ter abandonado a Júlia no momento que mais precisava
de você.

ATOR 2: - Eu não abandonei ela. Eu não tinha condições e ela é também a sua filha.

ATOR 1: - Claro! Agora que te interessa, eu também sou parente dela.

ATOR 2: - Chega. É melhor a gente encerrar essa conversa…

ATOR 1: - É melhor para quem? Melhor para você? Porque é muito fácil você apontar o
dedo na minha cara como se você fosse íntegra, como se você fosse certa.

ATOR 2: - Me desculpa, mas perto de você.

ATOR 1: - Você é o centro do universo! Você virou as costas para a minha filha no
momento que ela mais precisava de você! Deixou ela sofrer, me rejeitar porque você se
afirmava a pessoa perfeita, né? Você me acusa de ter amarelado, de ter voltado na minha
decisão, mas fique sabendo que foi você que causou tudo isso quando se recusou a
tentar restabelecer uma amizade entre mim e a Júlia! Sabe pra que? Pra se vingar! Se
vingar do fato da Júlia sempre ter me amado.

ATOR 2: - Cala a boca! Cala a boca! Eu não sou obrigado a ouvir isso! Eu estou na minha
casa!

ATOR 1: - É obrigado sim porque essa casa deveria ser minha! Essa vida deveria ser
minha e a Júlia é a minha filha, não é sua filha! Eu só estou te chamando para essa festa
porque a Júlia pediu! Eu queria que a nossa amizade voltasse, mas quem não quer é
você!

ATOR 2: - Eu não quero sua amizade! Eu quero a minha filha! A Júlia!


ATOR 1: - Você quer a Júlia por vingança e não por amor. E a vingança não vai te levar a
lugar nenhum.

(Ator 1 sai).

ATOR 2: - Eu te odeio! Eu te odeio!

HISTÓRIA: Ator 1 e Ator 2 são irmãos. O Ator 1 sofreu um acidente após o nascimento da
filha e o Ator 2 tomou a decisão de cuidar da Júlia durante o período que o Ator 1 estava
em coma. Após anos, o Ator 1 sai de coma e sem querer destrói a relação atual do irmão
e por vingança, o Ator 2 usa a filha para atingir o Ator 1 e fazer com que a Júlia odeie o
Ator 1. A cena não envolve só esse subtexto. É uma lavagem de roupas de irmãos que
envolve desde a infância até o atual ocorrido. A Júlia considera o Ator 1 e o Ator 2 a
família dela. Os pais unidos que ela nunca teve.

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