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Is It too much to ask?

DIEGO P.O.V

Não conseguia focar em mais nada, Amaury estava ali depois de 1 ano e eu não sabia o
que fazer, ou como agir, o que é estranho, a gente costumava saber de tudo e hoje não
sabemos mais de nada, a gente costumava a dividir tudo e hoje o que está dividido é a casa
em que morávamos que Amaury quis deixar pra mim, pagando só a parte dele. O que está
dividido é um divórcio doloroso, deixando pra trás toda nossa história. Mais flashes passam
pela minha cabeça, dessa vez me lembro da expressão no rosto de Amaury quando eu
sugeri o divórcio, o quanto ele estava quebrado e o quanto aquilo me quebrou, mas não
podia deixar chegar ao extremo, ao ponto de nos odiarmos, a gente passou por coisas
lindas e mágicas demais para tudo ser acabado por um sentimento destrutivo.

Consigo afastar os pensamentos a medida que eu ia ouvindo o diretor falar de fundo. O


clima estava muito esquisito, estranho, pesado, e eu sabia que Amaury não ia falar nada,
não nessa situação, ele tinha dificuldade de lidar com conflitos, então, eu decido quebrar o
gelo, da pior maneira possível.

"Quanto tempo né." - eu digo e me arrependo logo em seguida, inferno, que situação
horrorosa. Só consigo observar a expressão nele e seu comportamento. Frio. Muito frio. O
suficiente pra congelar meus ossos se fosse preciso. Seus olhos eram frios, seu corpo
estava enrijecido, as palavras eram ríspidas, eu conseguia ler cada parte dele, mesmo
depois de 1 ano sem olhar pra ele. E aquilo acabou mais comigo. Amaury sempre foi a
pessoa mais amorosa do mundo, ver ele desse jeito é como uma tortura.

A maneira como ele me respondeu doeu, doeu muito, mas não doeu mais do que doeu sua
próxima resposta.

"Você sabe de quem é culpa da gente não ter se encontrado mais" - aquilo foi como uma
facada, e eu não podia reclamar, a culpa era minha.

Passamos pelo teste de química, foi terrível ter que agir daquele jeito, foi terrível de ver tudo
o que nos tornamos. Vejo Amaury se afastar e decido ir atrás, apressando meu passo para
tentar alcançá-lo, já que um passo dele eram três meu. Consigo ver que ele percebeu e
antes que eu pudesse falar algo, ele se virou e parou na minha frente, me fazendo ficar cara
a cara com ele. Novamente, analiso seu rosto, suas expressões. O cansaço era visível, mas
ele ainda tinha um brilho, acho que isso nunca vai se apagar, independente do que
aconteça, ele tem esse dom de brilhar mesmo estando o mais machucado possível. Ele
estava mais lindo do nunca, a barba bem maior, o cabelo também. Os músculos cresceram
muito mais, o corpo escultural como sempre foi. Me doía pensar que tudo aquilo poderia ter
passado pelas mãos de outro pessoa, tudo nesse momento me doía, mas eu precisava me
manter firme, não podia desmoronar, não na frente dele. Ele me olha, finalmente, e solta um
simples "o que foi", demostrando a frieza.

"Você tá diferente." - eu digo, mesmo sabendo que ele não ia se abrir comigo ou querer
algum papo que não fosse profissional, mas eu sinto que precisamos de uma conversa,
nem que fosse uma última conversa.

"Meu número é o mesmo, se quiser conversar, me liga, prefiro encarar isso de forma virtual
do que cara a cara." - essa resposta foi um grande tapa na minha cara. Vejo ele se virar pra
sair e seguro seu braço, podendo sentir perfeitamente seus músculos do bíceps enrijecido,
sentindo meu corpo arrepiar.

"Em que momento a gente se perdeu assim?..." - vejo ele só me olhar e se afastar. Meus
olhos instantaneamente começam a lacrimejar. Merda. Eu realmente perdi o amor da minha
vida…

Eu nunca tinha me permitido sentir depois que me divorciei de Amaury. Sentir o peso do
que estávamos abrindo mão, sentir a sua ausência. Sentir como tudo era tão sem graça
sem ele. Eu vivia em um ciclo eterno de sempre me ocupar com um milhão de coisas ao
mesmo só pra não conseguir sentir nada, porque eu não ia conseguir lidar. Não ia conseguir
lidar com todo o amor e a ausência sem quebrar em milhões de pedacinhos. Então eu
bloqueei tudo, por todo esse tempo eu consegui "seguir" minha vida sem pensar muito, mas
esse encontro com ele foi o aval para eu desbloquear tudo e sentir os piores sentimentos da
minha vida. Eu não havia me separado do meu marido, meu amor, mas também do meu
melhor amigo, e acho que pior do que perder um grande amor, é perder uma grande
amizade. Ver ele daquele jeito simplesmente acabou comigo, porque, novamente, o Amaury
sempre foi uma pessoa alegre, fofo, amoroso, carinhoso, aberto e ele estava todos os
opostos. Frio, fechado, estranho, triste. Fico pensando em como o amor é. Quando a gente
está imerso à ele, tudo é incrível, mas quando você chega na superfície, se afasta dele, é a
pior dor do mundo. Amar dói, não sabia que doía tanto, mas dói. Perder ele dói, muito, de
maneiras que eu nem sei expressar. Agora eu entendo e me arrependo pra caralho.

AMAURY P.O.V

Vou embora do projac completamente acabado. Nem meus melhores e piores sonhos iria
imaginar reencontrar o Diego do jeito que eu encontrei, ainda mais depois de tudo que
aconteceu. Me pergunto se eu vou conseguir lidar? Passei esse tempo todo reprimindo todo
e qualquer sentimento sobre essa situação. Eu sentia a falta, era inevitável, mas não eu
podia me dar ao luxo de sentir de fato, ou eu ia quebrar. E agora eu quebrei. E não faço
ideia de como vou conseguir me recompor.
Me divorciar de Diego mudou muita coisa em mim, eu me fechei, coisa que eu não fazia
com ele, mas perder ele foi como perder uma parte de mim, então eu acho que essa parte
feliz minha, foi junto com ele e agora, não sei o que fazer pra me reconectar com essa parte
de novo. Sei que parece dramático e melancólico demais pensar assim, mas só quem amou
de verdade e perdeu esse amor de uma maneira brusca, sabe que isso muda sua
perspectiva sobre as coisas. E obviamente porque era recente, talvez passaria. Ou não.

Chego em casa retirando meu tênis, retirando a camisa, jogando em algum canto quando
sinto meu celular vibrar no bolso, novamente um número desconhecido. Estranho por um
breve momento mas dou de ombros atendendo, sentindo meu mundo cair novamente
quando ouço a voz que ecoava do outro lado da linha. Diego.

"Amaury, por favor, me escuta, eu preciso conversar com você." - respiro fundo, muito fundo
mesmo.

"Acho que a gente já conversou tudo aquela noite." - dizer aquelas palavras doía demais.

"Me arrependo amargamente daquela maldita noite, por favor, vamos conversar, descobri
que preciso te dizer muita coisa." - fecho os olhos sentindo novamente um nó na garganta.

"Eu não sei se quero ouvir essas coisas Diego, eu tô profundamente machucado, e eu não
fazia ideia que estava assim." - eu digo.

"Por favor, só mais uma conversa, nem que seja a última, se você não quiser mais me ver
eu saio da novela, do Rio de Janeiro, da sua vida. Mas por favor, é pedir muito? - aperto o
celular em minha mão e abro os olhos, suspirando.

"Ok, vamos conversar. Vou te mandar o endereço e você vem. Já tô machucado mesmo,
me machucar mais não vai fazer diferença." - digo e consigo ouvir ele soltar um suspiro,
quase que como de alívio.

"Chego em 10 minutos. Obrigado, Maury." - ele desligar e eu tento processar. Maury. Que
saudades de ouvir ele me chamar assim…

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