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O Sino da Terra: Atmosfera terrestre

toca música
Com informações da Universidade do Havaí - 10/07/2020

A Terra toca uma música complexa e suave - infelizmente em um tom baixo demais para
os ouvidos humanos.
[Imagem: Sakazaki/Hamilton - 10.1175/JAS-D-20-0053.1]

Música da Terra

Um sino vibra em um tom mais grave e fundamental e, simultaneamente, em


muitos tons harmônicos mais agudos, produzindo um som musical complexo,
melodioso e agradável.

O que não sabíamos é que toda a atmosfera da Terra vibra de maneira muito
parecida, produzindo uma música inaudível para os humanos, mas igualmente
complexa e suave.

O badalar da atmosfera não produz uma música que possamos ouvir, por ser
de frequência muito baixa, mas na forma de ondas de pressão atmosférica em
larga escala que abrangem o globo e viajam pelo equador, algumas se
movendo de leste para oeste e outras de oeste para leste.

Cada uma dessas ondas é uma vibração ressonante da atmosfera global,


análoga a um dos sons ressonantes de um sino.
A descoberta, feita por Takatoshi Sakazaki (Universidade de Quioto) e Kevin
Hamilton (Universidade do Havaí), é uma impressionante confirmação de
teorias desenvolvidas por físicos nos últimos dois séculos.

Ressonâncias atmosféricas

As teorias sobre as ressonâncias atmosféricas começaram com percepções de


um dos maiores cientistas da história, o físico e matemático francês Pierre-
Simon Laplace, no início do século XIX.

Nos dois séculos seguintes, os físicos refinaram a teoria, o que levou a


previsões detalhadas das frequências de ondas que deveriam estar presentes
na atmosfera. No entanto, ninguém havia ainda conseguido detectar essas
ondas no mundo real.

Sakazaki e Hamilton conseguiram depois de fazer uma análise detalhada da


pressão atmosférica observada no mundo todo, a cada hora, durante 38 anos.
Os resultados revelaram claramente a presença de dezenas dos modos de
onda previstos.

Os dois pesquisadores concentraram-se particularmente em ondas com


períodos entre 2 horas e 33 horas, que viajam horizontalmente pela atmosfera,
movendo-se ao redor do mundo em grandes velocidades - acima de 1.100
quilômetros por hora. Esses movimentos definem um padrão característico,
parecido com um tabuleiro de damas, de zonas de alta e baixa pressão, que
estão intimamente associadas com essas ondas à medida que elas se
propagam.

"Para esses modos de onda de movimento rápido, as frequências e padrões


globais que observamos correspondem muito bem aos previstos teoricamente,"
afirmou Sakazaki. "É emocionante ver a visão de Laplace e de outros físicos
pioneiros tão completamente validada depois de dois séculos".
Agora que aprenderam a ler as partituras da música atmosférica, os físicos querem
entender sua conexão com o clima.
[Imagem: Sakazaki/Hamilton - 10.1175/JAS-D-20-0053.1]

Decifrando as melodias da Terra

Estes primeiros resultados não significam que o trabalho deles esteja


concluído.

"Nossa identificação de tantos modos em dados reais mostra que a atmosfera


está realmente tocando como um sino," comentou Hamilton. "Isso finalmente
resolve uma questão antiga e clássica da ciência atmosférica, mas também
abre uma nova avenida de pesquisa, para entendermos os processos que
energizam as ondas e os processos que atuam para amortecê-las".

Assim, enquanto a música da Terra continua a tocar, os físicos vão continuar


tentando decifrar suas melodias. E não deve demorar muito para que um deles,
mais interessado em arte, possa "traduzir" os sons da Terra em sons que
possamos escutar.

Bibliografia:

Artigo: An Array of Ringing Global Free Modes Discovered in Tropical Surface Pressure Data
Autores: Takatoshi Sakazaki, Kevin Hamilton
Revista: Journal of Atmospheric Sciences
Vol.: 77 (7): 2519-2539
DOI: 10.1175/JAS-D-20-0053.1

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