Você está na página 1de 36

Propagação de Ondas.

ÍNDICE

1 – Tipos de onda terrestre 3


1.1. – A Onda Direta 3
1.2. – A Onda Refletida 5
1.3. – A Onda Superficial 6
1.4. – A Onda Troposférica 8
2 – Recepção por meio de uma ou mais ondas 10
3 – A ionosfera: conceituação 10
4 – A Formação da Ionosfera 11
4.1. – Matéria 12
4.2. – Ionização 12
4.3. – Recombinação 13
4.4. – Fonte de Ionização 13
4.5. – Efeito das Manchas Solares 14
4.6. – Formação da camada ionizada 14
4.7. – Regiões ou Camadas Ionosférica 15
4.8. – A Camada D 15
4.9. – A camada E 16
4.10. – A camada F 16
4.11. – A camada F1 e F2 17
4.12. – Outras camadas 17
5 – Freqüência Crítica 18
6 – Ângulo Crítico 19
7 – Altura Virtual 22
8 – Variações Regulares da Ionosfera 22
8.1. – Diurnas 23
8.2. – Estacional ou Sazonal 23
8.3. – Variações em períodos de 11 anos 24
8.4. – Variações em períodos de 27 dias 25
9 – Variações Irregulares da Ionosfera 25

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 1 08/2003.


Propagação de Ondas.

10 – Predições Ionosféricas 26
11 – Trajeto ou transmissão da onda espacial 27
11.1. – Modos de propagação 28
11.2. – Trajeto sobre o círculo máximo 29
11.3. – Freqüência 29
11.4. – Ângulos de incidência 30
12 – Freqüência Máxima Utilizável (MUF) 32
13 – Freqüência Ótima de Trabalho (FOT) 33
14 – Potência do Sinal Recebido 33
14.1. – Fatores 33
14.2. – Ganho da antena 34
14.4. – Intensidade do campo 34
14.4. – Absorção 35
14.5. – Altura da Antena 35
15 – Desvanecimento (Fading) 35
15.1. – Desvanecimento por Interferência 37

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 2 08/2003.


Propagação de Ondas.

1 – TIPOS DE ONDA TERRESTRE.

A propagação por uma onda terrestre compreende os tipos de rádio transmissão que
não utilizam a reflexão pela ionosfera. A intensidade do campo das ondas terrestres
depende de certos fatores como: potência do transmissor, características da antena
transmissora, frequência, difração das ondas em face da curvatura terrestre, características
elétricas (condutibilidade e constante dielétrica), localização do terreno, direção de
transmissão, além das condições meteorológicas locais como, por exemplo, o grau de
umidade do ar.
A intensidade do campo das ondas terrestres que atingem o receptor depende, em
sua maior parte, de alguns desses fatores. Além disso, como a terra se comporta como um
semicondutor e, devido o contato com sua superfície, parte da energia irradiada pela onda é
absorvida e rapidamente dissipada sob a forma de calor. Por essa razão é que as perdas
sofridas na transmissão por ondas terrestres são muitas vezes excessivas e a sua utilização é
limitada geralmente às comunicações a distâncias moderadas (algumas centenas de
quilômetros) e em frequências baixas.
A figura 1 mostra as diferentes direções de deslocamento que podem ser seguidas
pelas ondas terrestres – direta do transmissor ao receptor, refletida, conduzidas pela
superfície da terra ou refratadas na troposfera. A onda terrestre resultante pode ser
considerada, no entanto, como sendo constituída de uma ou mais das seguintes
componentes: onda direta, onda refletida, onda superficial e onda troposférica.

1.1 – A Onda Direta.

A onda direta é a componente da onda terrestre que se desloca diretamente da


antena transmissora para a receptora. É limitada somente pela distância no horizonte à qual
se acondiciona uma pequena distância resultante da difração da onda pela curvatura da
terra.
O alcance limite pode ser calculado facilmente tomando-se o valor do raio terrestre
igual a 4/3 do verdadeiro. Desta forma tudo se passa como se a terra aumentasse sua
circunferência devido à difração. Este alcance pode ser ampliado aumentando-se a altura
das antenas transmissora e receptora, aumentando assim a linha do horizonte.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 3 08/2003.


Propagação de Ondas.

onda troposférica

onda direta

onda de superfície
onda refletida

TX RX

Figura 1. A Onda Terrestre.

A intensidade do campo elétrico de uma onda direta varia inversamente com relação
ao alcance da transmissão. A figura 2 mostra o aumento da atenuação com o aumento da
distância. Como exemplo, observa-se que para uma onda de 10 MHz, 1 watt de potência
irradiada sofre uma atenuação de mais de 80 dB (decibéis) em um percurso de 40
quilômetros. Verifica-se também que a atenuação aumenta quando aumenta a frequência de
transmissão mantendo-se constante a distância. A onda direta não é afetada pela terra e nem
pela sua superfície, sujeitando-se, no entanto, aos efeitos da refração na troposfera, entre o
transmissor e o receptor. Tal refração é particularmente importante quando se considera as
frequências muito altas (VHF), mas isto será explicado com maiores detalhes quando
tratarmos especificamente da onda troposférica.
30
40
50
1,6 Km
60
16 Km
70
Atenuação em dB 40 Km
80
80 Km
90
100
160 Km
110
120

130 MHz
10 100 1.000 10.000

Figura 2. Atenuação do campo elétrico em espaço livre.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 4 08/2003.


Propagação de Ondas.

1.2 – A Onda Refletida.

Esta componente, como o nome a indica, é a porção da onda irradiada que atinge a
antena receptora após ter sido refletida sobre a terra ou mar. Para as comunicações entre
dois pontos situados abaixo centenas de quilômetros e distanciados entre si de alguns
quilômetros, a onda refletida adquire importância comparável à onda direta como meio de
propagação. Devido a reflexão na superfície da terra, a onda refletida se apresenta com uma
inversão de fase de 180° e este aspecto é importante para a determinação dos efeitos que
ocorrem com a combinação desta com a componente direta ao ser atingido o ponto de
recepção. Uma vez que a onda refletida demora mais tempo no deslocamento para chegar
ao ponto de destino, isto resultará numa diferença de fase acima de 180°.
Verifica-se, pela figura 3, que as ondas emitidas em igualdade de fase assim
continuam até o ponto em que há a reflexão da componente refletida. A partir deste ponto,
as frente de onda correspondentes ficam defasadas de 180° e esta defasagem será pouco a
pouco dilatada, à medida que aumentar o percurso da onda refletida. Quando a componente
refletida atingir o solo com o pequeno ângulo de incidência, a diferença do de percurso será
menor. A onda refletida que atingir a antena receptora, com aproximadamente 180° fora de
fase com a direta, acarretará uma anulação na energia do sinal resultante da onda direta.
Este efeito de anulação pode ser diminuído aumentando-se a altura das antenas, pois isso
irá variar a diferença de fase entre as ondas direta e refletida e, consequentemente, o grau
de atenuação do sinal.

TX RX

Figura 3. A inversão de fase na reflexão.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 5 08/2003.


Propagação de Ondas.

1.3 – A Onda Superficial.

A onda superficial é a componente da onda terrestre mais afetada pela


condutibilidade e pela constante dielétrica da terra, tendendo, por isso, a acompanhar a
curvatura terrestre. Quando as antenas transmissora e receptora estiverem sobre a terra ou
muito próximo dela, as componentes direta e refletida tendem a se anularem e, neste caso, a
intensidade de campo resultante será devida principalmente à onda superficial. A
componente superficial não se prende, normalmente, à superfície da terra, estende-se a
alturas consideráveis diminuindo, no entanto, a intensidade de campo com a altura. Uma
vez que parte de sua energia é absorvida pela terra, a intensidade da onda superficial será
tanto mais atenuada quanto maior for a distância. A atenuação será função da
condutibilidade da superfície terrestre por onde a onda se desloca. A tabela 1 mostra a
condutibilidade relativa aos diferentes tipos de superfícies.

Tipos de Superfície Condutibilidade Relativa Constante Dielétrica


Água do mar Boa 80
Água doce Regular 80
Solo úmido Regular 30
Terreno plano, solo argiloso Regular 15
Terreno seco ou rochoso Fraca 7
Deserto Fraca 4

Tabela 1. Características de Propagação do terreno.

A melhor superfície para transmissão da onda superficial é a água do mar, o que


explica porque os contatos via rádio a distâncias relativamente longas são melhores
sucedidas através dos oceanos. As propriedades elétricas do terreno, que determinam a
atenuação da intensidade do campo da onda superficial, variam pouco em função do tempo
e, consequentemente, este tipo de transmissão tem características relativamente estáveis.
A componente superficial é transmitida geralmente como uma onda de polarização
vertical, permanecendo com essa polarização até a uma apreciável distância da antena. Tal
polarização é usada porque a terra apresenta um efeito de curto circuito, sobre o campo
elétrico da onda polarizada horizontalmente, oferecendo resistência à componente vertical.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 6 08/2003.


Propagação de Ondas.

A corrente na terra devido à onda superficial polarizada verticalmente não chega a


oferecer curto-circuito para um determinado campo elétrico, mas concorre na manutenção
da configuração dos campos, auxiliando a transmissão da energia.
Quanto melhor a condutibilidade do solo, menor será a absorção de energia da
corrente pela terra. Já que não existe uma superfície perfeitamente condutora, ou terra ideal,
as perdas conseqüentes vão retardar a extremidade da frente de onda em contato com a terra
produzindo um desvio para frente, no sentido do deslocamento, razão pela qual as
sucessivas frentes de onda têm essa inclinação, como ilustra a figura 4. As correntes na
terra indicam que na superfície existe campo elétrico paralelo à mesma e o campo
representado na figura 4 é o resultante da sua composição com o irradiado verticalmente.
Quanto mais condutora a superfície, menor será o campo paralelo, pois tende ao curto-
circuito e menos inclinado será o campo resultante. A tabela 2 mostra a variação no ângulo
de inclinação com a vertical para as frequências de 20 KHz a 20 MHz, propagadas sobre
superfície de água do mar e de terreno seco. Aumentando a frequência, o ângulo de
inclinação também aumenta. A 20 MHz, o ângulo de inclinação é desprezível sobre o mar,
tornando-se maior que 1°, mas sobre terreno seco seu valor vai a 35° acarretando mudanças
sucessivas na polarização e, evidentemente, aumentando a atenuação.

Direção de propagação

Superfície da Terra

Correntes

Figura 4. Onda Superficial.

Freqüência (MHz) Ângulo de inclinação sobre o mar Ângulo de inclinação sobre o terreno seco
0
0,02 0 02´ 30´´ 40 18´
0,2 00 08´ 00´´ 130 30´
2,0 00 25´ 00´´ 320 12´
20,0 10 23´ 00´´ 350 00´

Tabela 2. Ângulo de Inclinação em função da Freqüência.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 7 08/2003.


Propagação de Ondas.

Esta inclinação do vetor campo elétrico de uma onda eletromagnética, não deve ser
confundida com o fenômeno da difração, que consiste em contornar obstáculos.

1.4 – A Onda Troposférica.

A onda troposférica é a componente da onda terrestre que sofre refração nas camadas
mais baixas da atmosfera, efeito esse que aumenta gradativamente em função da umidade,
da densidade e da temperatura e, consequentemente, do índice de refração. Em alturas de
uns poucos quilômetros a umas centenas ou mais, coexistem, próximas umas das outras,
imensas massas de ar frio e de ar quente, que provocam diferenças bruscas de temperatura e
mudanças de densidade. A reflexão e a refração troposférica resultante, tornam possíveis as
comunicações a distâncias bem maiores do que poderiam ser obtidas com as ondas
terrestres comuns.
A figura 5 mostra o desvio de cima para baixo, de uma frente de onda que penetra
numa camada de ar, cuja constante dielétrica e umidade diminuem com o aumento da altura
relativa à superfície da terra; a figura 6 mostra o desvio da mesma onda, no sentido de
baixo para cima, face às condições opostas. Uma vez que a refração aumenta com a
freqüência, a refração troposférica torna-se mais efetiva nas mais altas frequências,
assegurando interessantes possibilidades de comunicações acima dos 50 MHz, além da
linha do horizonte.

Baixa constante dielétrica (pouca umidade)

Direção de propagação

Terra

alta constante dielétrica (muita umidade)

Figura 5. Desvio de uma frente de onda.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 8 08/2003.


Propagação de Ondas.

alta constante dielétrica


Direção de propagação

baixa constante dielétrica

Terra

Figura 6. Desvio de uma frente de onda.

Uma causa muito comum da refração troposférica é a inversão de temperatura. A


inversão de temperatura resulta, por sua vez, de uma série de causas como – uma massa de
ar quente que atravessa uma massa mais fria; descida de uma massa de ar aquecida por
compressão; resfriamento rápido da superfície de ar após o por do sol; e o aquecimento do
ar acima de uma camada de nuvens devido a reflexão dos raios solares em superfície
superior das nuvens. A propagação na troposfera depende das condições locais e como
estas variam a todo instante, podem ocorrer severos desvanecimentos.
Nas comunicações por onda troposférica, as antenas transmissora e receptora devem
ter o mesmo tipo de polarização, uma vez que a onda troposférica mantém a mesma
polarização durante seu deslocamento.
Pode ocorrer que a onda, encontrando camadas com índices de refração diferentes,
sofra reflexão ou refração sucessivas e retorne à terra. Refletindo na terra, retorna à
troposfera e novamente à terra. Neste caso a onda fica confinada entre a superfície terrestre
e a camada e, como toda sua energia se concentra no CONDUTO assim formado, seu
alcance é maior. As comunicações não são estáveis porque os condutos troposféricos não
têm tempo certo de duração. É necessário que as duas antenas estejam situadas dentro do
conduto para haver comunicação. Se um conduto se forma deixando uma das antenas acima
da camada refletora, as comunicações serão impossíveis.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 9 08/2003.


Propagação de Ondas.

Podem ocorrer condutos troposféricos entre duas camadas. A onda em lugar de


retornar à terra, é refletida (ou refratada sucessivamente) para cima, na camada inferior.
Neste caso trata-se de um CONDUTO ELEVADO e, no caso anterior, CONDUTO
SUPERFICIAL.

2 – RECEPÇÃO POR MEIO DE UMA OU MAIS ONDAS.

Evidentemente a intensidade de campo presente no receptor será o resultado da


combinação das componentes existentes na recepção. Estas componentes estarão com fases
diferentes entre si devido às diferenças de trajetos. No entanto, a intensidade resultante, em
um dado instante, é diferente da intensidade resultante em outro instante, pois as condições
de propagação variam com o tempo, determinando alterações nos comprimentos dos
trajetos. Esta variação da intensidade de campo, recebida ao longo do tempo, será tratada
com maiores detalhes no estudo do DESVANECIMENTO (FADING).

3 – A IONOSFERA: CONCEITUAÇÃO.

Nos primórdios da era do rádio, os físicos e matemáticos supunham que a recepção


de sinais de rádio a grandes distâncias era impossível, isto devido à atenuação resultante da
absorção da energia desses sinais pela terra. Mais tarde, quando foi verificado
experimentalmente que tais sinais poderiam ser recebidos através do Oceano Atlântico, a
opinião dos físicos foi posta em dúvida. Entretanto este resultado estava correto para o
problema conhecido na época: a propagação de ondas terrestres sobre a curvatura da terra,
suposta circundada pelo espaço livre. Evidentemente, outros meios de propagação deveriam
existir.
A evidência que resultara da experiência da comunicação transatlântica provara
simplesmente que era injustificável e sem sentido a hipótese das ondas circundarem a terra,
sendo esta envolvida pelo vazio. Foi aventada então, pelos cientistas inglês Heaviside e o
norte-americano Kenelly, a hipótese de que a terra estaria envolta por uma camada
eletrificada que agiria como um refletor desviando as ondas de volta à terra e, com isso,
impedindo que as mesmas escapassem pelo espaço livre. Admitiram também que esta
camada seria a fonte de origem das correntes elétricas na atmosfera superior e causa das
mudanças no campo magnético terrestre durante as tempestades magnéticas. Mais tarde,
porém, quando se verificou que havia várias camadas e não apenas uma e que essas

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 10 08/2003.


Propagação de Ondas.

camadas eram constituídas de gases ionizados da atmosfera, sugeriu-se então atribuir à


região onde foram localizados, a designação de ionosfera.

4 – A FORMAÇÃO DA IONOSFERA.

A ionosfera estende-se a uma altura superior a 400 km da terra. Acima dessa altura,
o ar se apresenta tão rarefeito que se considera, na prática, como não existindo. Isto porque,
como sabemos, a densidade dos gases que compõem a ionosfera vai diminuindo à medida
que a altura aumenta. A atmosfera, por sua vez, é alvo constante de bombardeio pela
irradiação e pelas chuvas de partículas provenientes do sol e também pelos raios cósmicos,
cuja origem ainda desconhecemos. A irradiação solar não compreende apenas os raios
luminosos que podemos ver, mas também todos os raios componentes do espectro, desde o
infravermelho ao ultravioleta, além da chuva de partículas – prótons e elétrons, que se
locomovem à velocidade da luz. Essas diferentes formas de irradiação aproximam-se da
atmosfera terrestre e atingem determinados níveis críticos onde a densidade dos gases é de
tal ordem, que se tornam susceptíveis de ionização pelo efeito da irradiação, formando as já
citadas camadas ionizadas. As camadas superiores da atmosfera são as mais afetadas pela
irradiação, principalmente pela irradiação ultravioleta que é fonte predominante.
Para compreender melhor como essa ionização se realiza, torna-se necessária uma
breve recordação sobre a mecânica dos gases.

4.1 – A Matéria.

Toda matéria (sólidos, líquidos e gases) é constituída de partículas fundamentais


denominadas moléculas. A molécula, menor divisão de uma substância que mantém todas as
características e propriedades desta, é, por sua vez, constituída de partículas menores
chamadas átomos.
O átomo é constituído de uma parte central chamada núcleo em torno do qual circulam
minúsculas partículas ou cargas elétricas denominadas elétrons que realizam um movimento
semelhante ao dos planetas em volta do sol. Nos átomos ditos normais ou neutros, a carga de
cada elétron é equilibrada por uma carga, de sinal oposto e de mesmo valor, associada ao
núcleo. Convencionou-se chamar negativa a carga correspondente ao elétron e positiva à que
fica associada ao núcleo.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 11 08/2003.


Propagação de Ondas.

Nos átomos de certas substâncias, como nos gases, por exemplo, os elétrons estão
fracamente equilibrados pela força atrativa do núcleo, que eles escapam, por causas diversas,
do respectivo átomo, ficando este com uma carga negativa a menos. Quando isto acontece
torna-se evidente a ocorrência de uma atividade elétrica.

4.2 – A Ionização.

Tem sido verificado que a energia sob forma de radiação eletromagnética é capaz de
deslocar os elétrons livres de seus átomos provando, com isso, que a radiação tem energia e
comprimento de onda próprios.
Quando tal evento ocorre em um gás, diz-se que o gás está ionizado, significando com
isso que seus átomos perderam parte da sua quota normal de elétrons, os quais vão associar-se
a outros átomos quaisquer. Os átomos que perdem elétrons recebem a denominação de íons
positivos e os que incorporam os elétrons assim libertos denominam-se íons negativos. O
termo íon se aplica a qualquer partícula elementar que dispõe de carga elétrica.
Embora os gases possam conter alguns íons, deve-se aplicar energia externa sobre os
átomos de modo a produzir íons em abundância. Diz-se ter sido atingido o estado de
ionização quando todas ou uma grande parte das partículas do gás são íons, positivos e
negativos. A energia externa necessária à produção de íons pode vir de muitas fontes, sendo
as mais importantes: o impacto de uma partícula com outra; as ondas cósmicas, tais como as
ondas de luz, os raios X, os raios GAMA e os raios ULTRAVIOLETAS; as reações químicas e
as aplicações de calor.
A ionização natural do ar causada por qualquer das energias citadas acima, produz
aproximadamente 2 íons por centímetro cúbico por segundo, à pressão atmosférica. Nas
regiões mais altas, como na ionosfera, a ionização produzida se faz numa razão 100 vezes
maior. Na alta atmosfera, onde a pressão é baixa, as condições existentes são mais favoráveis
à ionização. O sol fornece constantemente os raios ultravioletas no comprimento de onda
apropriado para provocar a ionização.

4.3 – A Recombinação.

Os átomos e os íons existentes num gás estão em constante movimento e são


frequentes as colisões entre eles. Quando um elétron colide com um íon positivo pode resultar
uma combinação entre ambos, reconstituindo-se novamente um átomo neutro de gás. Este

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 12 08/2003.


Propagação de Ondas.

processo de recombinação prossegue continuamente e um átomo que tenha sido ionizado não
permanece assim indefinidamente. O tempo necessário para a recombinação ou desionização
vai depender de vários fatores, principalmente da distância entre as partículas do gás. Estando
presentes apenas umas poucas partículas, como acontece nas regiões da alta atmosfera, as
colisões não serão frequentes e as partículas permanecerão ionizadas por períodos mais
longos.

4.4 – Fonte de Ionização.

Apesar do sol ter na sua composição os mesmos elementos que são encontrados na
terra, lá eles existem submetidos à violenta atividade solar, permanecendo constantemente
num estado de fusão ou gasoso. Provavelmente, devido à intensa pressão interna e à atividade,
em grande escala, das forças atômicas, o sol emite imensa quantidade de energia nas formas
de calor, partículas e de ondas eletromagnéticas. Tem sido observado nas erupções da
superfície solar que elas projetam nuvens imensas de gás quente a alturas de 0,8 a 1,6 milhão
de Km de sua superfície. Outra alteração que se observa é o aparecimento de manchas na
superfície do sol e que influem, particularmente, na quantidade de radiação ultravioleta e,
consequentemente, na extensão da ionização causada por esse tipo de radiação.

4.5 – Efeito das manchas solares.

Nos períodos das grandes manchas solares a ionização e a desionização nas várias
camadas é maior que o normal. As manchas solares são áreas escuras que aparecem no disco
solar e, dada sua relativa escuridão, elas deveriam indicar temperaturas e radiação ultravioleta
menos intensas. No entanto, apresentam em torno nuvens gasosas brilhantes e o processo de
sua formação leva a crer que produz, na realidade, grande quantidade de energia ultravioleta.
As manchas solares aparecem normalmente em grupos, seguindo mais ou menos um ciclo
definido de atividade, num intervalo de tempo médio de 11 anos entre os máximos de 2 ciclos
consecutivos. As tempestades magnéticas sobre a terra também estão relacionadas com a
presença dessas manchas solares.

4.6 – Formação de uma camada ionizada.

Quando a radiação ultravioleta de determinado comprimento de onda penetra na


atmosfera terrestre, ela se aprofunda até a densidade denominada crítica, onde o meio
ambiente absorve a maior parte da energia incidente no processo de produção da ionização.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 13 08/2003.


Propagação de Ondas.

No início, antes de se atingir essa profundidade, as partículas de ar estão tão dispersas que
apenas umas poucas moléculas do gás rarefeito tornam-se ionizadas. À medida que vai sendo
atingida a camada de densidade crítica, uma maior proporção de moléculas são ionizadas mas
a energia da radiação vai se atenuando neste processo, de modo que se torna fraca demais para
produzir a ionização. Constata-se então que uma camada ionizada terá maior intensidade de
ionização na sua parte central do que nas superfícies.

4.7 – Regiões ou Camadas Ionosféricas.

Através da sondagem ionosférica determinou-se que existem 4 camadas distintas na


ionosfera sendo denominadas, em função da altura e de suas intensidades; de camadas D, E,
F1 e F2. A situação dessas camadas em relação à terra é mostrada na figura 7.

Camada F2
320 Km

264 Km
160 Km
Camada F1
Terra
Sol
112 Km

Camada E

noite 72 Km
Camada D dia

Figura 7. Camadas de ionização.

Como se pode observar na figura 7, essas 4 camadas só estão presentes durante o dia
quando o sol está frente a posição considerada da atmosfera. Durante a noite as camadas F1 e
F2 parecem fundir-se numa única camada F desaparecendo as camadas D e E devido a
recombinação dos íons que as compõem. Convém lembrar, entretanto, que o número real de
camadas, suas alturas com relação à terra e a intensidade relativa de ionização presente, tudo
isso varia de hora para hora, de dia para dia, de mês para mês, de estação para estação e de
ano para ano.

4.8 – A camada D.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 14 08/2003.


Propagação de Ondas.

Esta região fica situada em alturas compreendidas entre 50 a 90 quilômetros da


superfície da terra, e é a primeira região onde se verifica uma ionização pronunciada.
Comparando-se com as condições existentes nas camadas mais altas, verifica-se que a
ionização na região D não é tão ampla, e que ela produz pequeno efeito de desvio nas ondas
de rádio de alta freqüência. O principal efeito da ionização nessa região consiste em diminuir
ou atenuar a intensidade de campo das onda de rádio de altas frequências que por elas se
deslocam e em absorver completamente as ondas de rádio de baixas e médias freqüências. A
região D existe somente durante as horas do dia e sua intensidade varia em função da posição
do sol. Torna-se mais densa à tarde e vai desaparecendo após o ocaso, dada a rápida
recombinação de íons que se processa nessas alturas. É a principal responsável pela redução
da intensidade das ondas de alta freqüência quando estas se deslocam durante as horas de luz.

4.9 – A camada E.

Situada em alturas compreendidas entre 90 a 145 Km esta é a segunda região em


ordem de altura, denominada camada E. É chamada também de região Kenelly – Heaviside
em homenagem aos homens que provaram sua existência. A altura desta camada varia com a
estação do ano. As alturas mais baixas ocorrem quando o sol está em latitude tal que a
radiação ultravioleta realiza percurso mais longo até penetrar na atmosfera terrestre do que
quando o sol fica mais diretamente face à terra. Uma vez que a razão de recombinação neste
nível atmosférico é maior, a intensidade de ionização na camada E segue de perto as
variações da altura, antes atingindo um máximo à tarde, atenuando-se para um mínimo
durante à noite, até tornar-se impraticável para as combinações rádio em alta freqüência. O
número de elétrons por unidade de volume nesta camada é, normalmente, bastante grande
para refletir de volta à terra as ondas de rádio de frequências tão altas como 20 MHz. Por isso
a camada E tem grande importância nas radiocomunicações à distâncias inferiores a 2400
Km. Para maiores distâncias a transmissão por este meio é relativamente pobre, isto porque o
baixo ângulo vertical exigido pela onda em sua saída da terra vai resultar numa maior
absorção na região ionizada. Para distâncias superiores a 2400 Km poderão ser obtidas
melhores transmissões utilizando-se as camadas F1 e F2.

4.10 – A camada F.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 15 08/2003.


Propagação de Ondas.

Nas alturas compreendidas entre 145 Km a 380 Km acima da superfície da terra, existe
uma outra região de ionização conhecida por camada F. Aí a ionização está sempre presente,
usualmente em duas camadas durante as horas do dia e em uma camada durante a noite.
Nesta região e à noite, esta única camada F permanece numa altura aproximada de 270 Km. A
atmosfera aí é tão rarefeita que a recombinação se realiza muito lentamente de modo que os
íons remanescentes durante a noite são suficientes para refletir as ondas de alta freqüência de
volta à terra.

4.11 – As Camadas F1 e F2.

Durante as horas do dia, especialmente quando o sol permanece alto, como nas
latitudes tropicais e durante os meses de verão, a camada F divide-se em 2 camadas distintas –
F1, com seu limite inferior a uma altura aproximadamente de 145 Km e a F2 com este limite a
uma altura de 250 a 350 Km, dependendo das estações do ano e da hora e do dia. A camada
F2 é a mais altamente ionizada de todas e a mais utilizada nas radiocomunicações a longas
distâncias. O grau de ionização apresentado por esta camada tem uma variação dia a dia
bastante apreciável, quando comparada com as demais. A intensidade de ionização atinge um
máximo à tarde e vai decrescendo gradativamente através da noite. A elevação da densidade
de íons pela manhã é muito rápida e, sendo baixa a razão de recombinação, esta alta
densidade de íons persiste.

4.12 – Outras camadas.

Além das regiões de ionização citadas que variam de altura e de ionização para as
variações do dia, das estações e de ano para ano, existem outras camadas em alturas próximas
as de E que aparecem como as nuvens no céu. Elas se apresentam frequentemente com uma
intensidade suficiente para assegurar uma boa transmissão via rádio se utilizada como meio de
reflexão. Em outras ocasiões, particularmente durante os distúrbios nas regiões polares, como
os que dão origem à aurora boreal, pode ocorrer uma ionização difusa numa ampla faixa de
alturas, restringindo as radiocomunicações, dada a excessiva absorção que acarreta.
O objetivo dos próximos tópicos é o estudo dos aspectos principais do que ocorre,
quanto aos seus efeitos, quando as ondas de rádio penetram na ionosfera.

5 – A FREQÜÊNCIA CRÍTICA.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 16 08/2003.


Propagação de Ondas.

Além da altura, a outra principal característica da ionosfera que controla ou determina


as radiocomunicações à longa distância é a densidade de ionização de cada uma das camadas
ionosféricas. Quanto mais alta a frequência, maior será a densidade de ionização necessária
para refletir as ondas de volta à terra. Em outras palavras, quanto menor o comprimento de
onda, mais denso ou mais compacto deve ser o meio para que este possa refleti-las. Por
conseguinte, as camadas superiores ou as que são mais altamente ionizadas são as que
refletem as frequências mais altas, enquanto que a região D, a menos ionizada, não reflete
frequências ligeiramente acima dos 500 KHz. Haverá então, num determinado instante e em
cada camada, um valor de mais alta freqüência, denominado de freqüência crítica, abaixo da
qual as ondas que se deslocam verticalmente de baixo para cima são refletidas diretamente de
volta para a terra. As ondas de frequências mais altas do que a freqüência crítica passam
através da camada ionizada e não serão refletidas a não ser que isto seja possível nas camadas
mais elevadas onde venham a incidir. As ondas de frequências mais baixas que a crítica, são
refletidas para a terra e isso só não ocorrerá se foram antes absorvidas ou já refletidas por
camadas situadas mais abaixo.
A figura 8 mostra ondas de diferentes frequências irradiadas verticalmente para a
ionosfera. Dois dos sinais representados retornam diretamente à terra passando o terceiro
através das camadas, sem retornar.

Camada 2

Camadas ionosféricas

Camada 1

Frequências críticas
Frequência
superior à
crítica

Terra

Figura 8. A freqüência crítica.


Os sinais que retornam têm a freqüência crítica para a camada refletora
correspondente, ou seja – a freqüência mais alta em que é possível haver reflexão. Todas as
frequências abaixo da freqüência crítica retornam de modo idêntico. O sinal que não retorna

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 17 08/2003.


Propagação de Ondas.

tem freqüência superior à freqüência crítica das camadas e, por isso, ultrapassa-as,
deslocando-se para exterior.
Este fenômeno deve ser compreendido em termos de uma combinação de efeito de
ionização, reflexão e refração, a que se sujeita uma onda eletromagnética. Quando um raio, ou
um trem de ondas, penetra numa camada ionosférica ele sofre um retardo tão logo inicia a
penetração. A refração aí é semelhante a que se processa quando a luz passa do ar para a
água, como já exemplificado. O sinal que penetra na ionosfera segundo um ângulo de 90° não
sofre desvios, toda a sua frente de onda é retardada uniformemente. Quanto mais alta a
freqüência do sinal, mais ele penetra na camada e assim prossegue até perder toda a sua
energia. Convém lembrar, entretanto, que uma camada ionizada apresenta maior densidade
nas proximidades do centro e a onda passará por ela se a ionização não for suficiente para
determinar a absorção de toda a energia. A energia restante será então reirradiada de volta ao
ponto de transmissão. Tal efeito se assemelha ao arremesso de uma bola de tênis para cima,
verticalmente, na direção de uma tela de arame. Se as malhas da tela são menores que o
diâmetro da bola, todos os arremessos são refletidos de volta, e isto será mais efetivo quanto
mais a tela se feche até assemelhar-se a um sólido de metal. Porém se forem arremetidas bolas
de golfe contra a mesma tela, a maioria delas passará através das malhas não havendo
reflexão. Pode-se concluir então que, do mesmo modo como a freqüência em relação a
ionização, há um diâmetro crítico de bola para determinada tela. As bolas de diâmetro menor
que o crítico passarão e as de diâmetro maior serão refletidas.

6 – ÂNGULO CRÍTICO.

Usa-se para determinar a freqüência crítica para a propagação vertical, porque ela
define uma condição limite. As ondas eletromagnéticas em radiocomunicação geralmente
incidem em ângulo oblíquo contra a ionosfera, de modo que as refrações podem ou não
refleti-las de volta à terra. Evidentemente, qualquer freqüência igual ou menor que a
freqüência crítica retorna a terra, podendo as frequências mais altas retornarem também, se
sua propagação se fizer segundo determinados ângulos de incidência. Este fenômeno pode ser
compreendido melhor se fizermos analogia com a tela e as bolas de tênis. Se, num
determinado momento o diâmetro crítico para uma dada tela é igual ao diâmetro da bola de
tênis, as bolas de golfe que forem arremessadas obliquamente retornam, passando pelas
malhas, com facilidade, somente as que forem lançadas verticalmente. Então, para esta tela

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 18 08/2003.


Propagação de Ondas.

existe um certo ângulo de incidência segundo o qual a maioria das bolas de golfe são
refletidas de volta. No caso de propagação das ondas eletromagnéticas prevalecem as mesmas
condições. Em ângulos de incidência próximo da vertical, determinada freqüência passa
através da ionosfera, mas sob ângulos menores há um certo valor a partir do qual as ondas são
refletidas. Este ângulo é determinado de ângulo crítico. A onda que atinge a ionosfera com o
ângulo crítico é a que retorna à terra mais próxima da fonte de irradiação. A distância entre a
fonte e o ponto de retorno desta onda á denominada DISTÂNCIA DE SILÊNCIO e nela não
existem ondas emitidas pela fonte e refletidas pela ionosfera.
O conceito de ângulo crítico pode ser melhor compreendido considerando-o
semelhante a um fenômeno ótico como ilustra a figura 9.

ar ar

água água

Fonte luminosa Fonte luminosa

Figura 9. O Ângulo crítico.

Se um feixe luminoso passar de um meio mais denso (água) para outro de menor
densidade (ar) segundo um ângulo reto com a superfície que os separa, não haverá reflexão e
o feixe de luz segue adiante. À medida porém que o ângulo de incidência vai se tornando
menor que 90° a reflexão vai aumentando. Inicialmente a reflexão de volta à água é pequena,
tênue, sendo refratada a maior parte do feixe que penetra no ar. O desvio vai aumentando na
medida em que o ângulo de incidência vai diminuindo, mas há um dado valor de ângulo,
ângulo crítico, no qual não haverá refração sendo toda a luz refletida de volta à água. À
medida que os ângulos vão se tornando menores que o crítico, o feixe de luzes vai se
refletindo para distâncias cada vez mais afastadas da fonte emissora. Podemos perceber então
que o fenômeno ótico não pode ser integralmente aplicado ao caso das ondas de rádio, uma
vez que os limites entre uma camada densamente ionizada e o ar que lhe fica acima não são

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 19 08/2003.


Propagação de Ondas.

claramente definidos. A onda, tanto é desviada de volta como refletida, e, por isso, no campo
da propagação, os termos reflexão e refração tendem a ser usados indistintamente.
A explicação popular de que o retorno das ondas de rádio é apenas um fenômeno de
refração está ilustrada na figura 10.
Altura real
Ângulo crítico

Ângulo de coincidência Superfície inferior


da camada ionizada

φ
A B

Figura 10. O fenômeno da refração.

Suponha um feixe de ondas que se propaga do ponto A de tal modo que penetra na
ionosfera segundo um ângulo de incidência φ, como ilustra a figura 10.
Quando a onda entra na ionosfera a parte superior da frente da onda sofre primeiro os
efeitos da redução do índice de refração. Tendo em vista ainda que a maior densidade de
ionização se encontra na frente central da camada, a parte superior da frente da onda é mais
desviada durante o processo da refração do que a porção inferior da onda. Mediante as
refrações sucessivas o desvio continua até que, finalmente, a onda retorna à terra.

7 – A ALTURA VIRTUAL.

O desenho simplificado apresentado na figura 11, ajuda também a compreender


melhor a noção de altura virtual de uma camada ionosférica.

A
Altura real

B D

Superfície inferior
H da camada ionizada

TX RX
Figura 11.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 20 08/2003.


Propagação de Ondas.

De acordo com o ilustrado na figura 11, o tempo de transmissão da onda de rádio ao


longo do itinerário BCD, na camada ionizada, é o mesmo que seria considerado na
transmissão segundo o percurso BAD, caso não estivessem presentes as partículas ionizadas e
se existisse uma superfície perfeitamente refletora em A.
A altura H, medida da terra até a interseção A dessas duas retas do percurso, recebe a
denominação de altura virtual da camada. Observa-se que a altura virtual é sensivelmente
maior que a altura atual ou real da camada, mas apesar disso, há a conveniência em utilizá-la
frequentemente nas medidas e nas aplicações que envolvem a reflexão ionosférica.

8 – VARIAÇÕES REGULARES DA IONOSFERA.

Uma vez que a existência da ionosfera depende das radiações solares, é óbvio que o
movimento da terra em torno do sol e as mudanças de estado devidas às atividades deste,
causando um aumento ou uma diminuição na quantidade de irradiação, vão variar a
conformação da ionosfera. Tais variações compreendem não só aquelas que ocorrem
normalmente na natureza e que podem ser previstas com antecedência como também as
variações ditas irregulares, resultantes de um comportamento anormal do sol. Para fins de
estudo dividem-se as variações regulares em 4 categorias, a saber: diurna ou variação diária,
estacional (estações do ano ou sazonal), as que ocorrem em períodos de 11 anos e,
finalmente, as que se verificam em períodos de 27 dias. Existem tabelas que mostram essas
variações juntamente com os efeitos que produzem na ionosfera e nas radiocomunicações
fornecendo, inclusive, sugestões para compensar tais efeitos.

8.1 – Variações Diurnas.

Em sua maior parte, as variações diurnas e os efeitos que elas produzem na ionosfera
foram, abordadas quando do estudo feito no item anterior, sobre as camadas ionosféricas.
Uma das principais consequências das variações diurnas é o aumento da absorção da energia
das ondas de rádio durante o dia, acompanhando o curso solar. Este fenômeno se deve quase
inteiramente à camada D que atenua a energia das ondas de alta freqüência que se refletem
nas camadas superiores e, absorve completamente as ondas de frequências mais baixas
(médias frequências) durante o dia.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 21 08/2003.


Propagação de Ondas.

Outra conseqüência é, devido às variações de altura das camadas, a alteração da


distância de silêncio. Isto se faz sentir, principalmente, nas estações receptoras próximas do
limite daquela distância.
Para contornar tais efeitos é interessante operar em frequências mais altas durante o dia,
reservando as frequências mais baixas para as horas da noite, quando a atenuação pouco
influencia na propagação.

8.2 – Variações Estacional.

Como a posição aparente do sol se desloca de um hemisfério para outro em


correspondência com as mudanças de estações do ano, também, de acordo com ela, a
densidade máxima de íons das camadas D, E e F1 se modifica, tornando-se maior durante o
verão. A camada F2, entretanto, não segue este ritmo estacional. Na maioria das localidades a
maior densidade de íons da camada F2 é verificada durante o inverno e a menor no verão,
exatamente o inverso daquilo que se poderia esperar de uma simples teoria. A figura 12,
ilustra a densidade de íons relativa à todas as camadas bem como as alturas dessas camadas
com relação à superfície da terra, tudo em função das mudanças de estação.

Figura 12. Variação estacional.


Observa-se que no inverno a densidade de íons da camada F2 atinge um pico máximo
por volta do meio dia, apresentando densidade muito mais alta do que no verão. Verifica-se

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 22 08/2003.


Propagação de Ondas.

também que o limite de separação das camadas F1 e F2 não é muito nítido durante o inverno,
já que a altura da camada F2 é relativamente menor durante esta estação.

8.3 – Variações em períodos de 11 anos.

Sabe-se de estudos de pesquisas que, desde 1851, as atividades devidas às manchas


solares são cíclicas, ocorrendo em períodos de 11 anos. Pouco antes da descoberta deste
fenômeno delineou-se um processo para medir a intensidade relativa da atividade das
manchas solares e, por meio dele, as variações, das máximas às mínimas, foram
acompanhadas de perto durante os anos. O método adota o denominado número de WOLF, ou
seja, um número que se obtém diariamente multiplicando-se por 10 o número de manchas
observadas em cada grupo. O número de Wolf é uma maneira de medir a atividade solar. Há
meses em que a superfície visível do sol se apresenta isenta de manchas de modo que o
número de Wolf é zero. Há épocas, entretanto, que o número de Wolf ascende a mais de 140,
apresentando valores diários na casa das centenas. Estas condições ocorrem quando o ciclo
das manchas atinge seu máximo. Do mínimo ao máximo e deste ao mínimo vai um período de
tempo variável, aproximadamente em torno dos 11 anos. Também os valores de nível máximo
e mínimo variam de ciclo para ciclo. O aumento de atividade nas ocasiões em que há um
máximo de manchas, acarreta um aumento de densidade de íons em todas as camadas
ionosféricas, resultando daí na elevação da freqüência crítica para as camadas E, F1 e F2 e
numa região D. Isto vai permitir o emprego das mais altas frequências, para as comunicações
a longas distâncias, nas épocas em que as manchas atingem o valor máximo. O aumento de
absorção na região D, que provoca seu maior efeito nas baixas frequências, exige o emprego
das frequências mais altas; mas o efeito mais importante de todos reside na melhoria das
condições de propagação durante os períodos em que as manchas são máximas e na elevação
das frequências críticas. A absorção cresce, mas este efeito é largamente compensado pelo
aumento das frequências de operação.

8.4 – Variações em períodos de 27 dias.

Este ciclo dos 27 dias também é devido às atividades das manchas solares e resulta da
rotação do sol em torno de seu próprio eixo. Assim como o número das manchas solares varia
de dia para dia, face à rotação do sol, ou mesmo devido ao aparecimento de novas manchas ou

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 23 08/2003.


Propagação de Ondas.

ao desaparecimento das existentes, na sua face visível, a absorção na região D também se


modifica.

Modificações semelhantes também são observadas nas frequências críticas da camada


E. Estas variações são sentidas numa larga faixa geográfica. Apesar das flutuações nas
frequências críticas da camada F2 serem maiores dia a dia, com relação as das demais
camadas, elas normalmente não se apresentam igualmente em todo a terra. Dada a
variabilidade da camada F2, não é possível fazer-se predições diárias de suas frequências
críticas mas, predições para períodos mais longos e a distribuição geográfica das variações
são possíveis.
Torna-se necessário, pois, na seleção das frequências para as radiocomunicações a
longas distâncias, levar em consideração estas flutuações.

9 – VARIAÇÕES IRREGULARES DA IONOSFERA.

Complementarmente às variações mais ou menos regulares das características da


ionosfera, há um certo número de efeitos singulares transitórios e imprevisíveis que aparecem
no fenômeno da propagação. Destes podemos citar alguns que mais prevalecem: o E
esporádico; o distúrbio-ionosférico súbito, (desvanecimento dellinger); as tempestades
ionosféricas e as reflexões difusas. Estas variações são apresentadas normalmente em uma
tabela contendo os efeitos que produzem na ionosfera e nas radiocomunicações, fornecendo
inclusive sugestões para compensar tais efeitos.

10 – AS PREDIÇÕES IONOSFÉRICAS.

Por meio da sondagem da ionosfera é possível predizer-se com muitos meses de


antecedência, as várias características importantes da ionosfera, acima de qualquer ponto da
superfície da terra. Tais predições são utilizadas na seleção das frequências ótimas para as
radiocomunicações numa determinada direção e para um dado momento. A média de variação
da freqüência crítica e os fatores mais usados que a influenciam são suficientemente bem
conhecidos para que se possa fazer predições bem antecipadas para as condições médias da
ionosfera nos dias normais (dias sem distúrbios ionosféricos). Um dos princípios básicos
adotados em todas as predições ionosféricas consiste em estabelecer a relação entre as
características da ionosfera e o ciclo das manchas solares (representadas pelo número de

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 24 08/2003.


Propagação de Ondas.

Wolf). A predição consiste atualmente em predizer primeiro a atividade solar e então deduzir,
da massa de dados disponíveis, a conseqüente tendência das variações durante as estações e os
dias, bem como geográficas, das características da ionosfera.
A propagação por onda espacial refere-se aos tipos de radiocomunicações que utilizam
as reflexões ionosféricas no estabelecimento das ligações transmissor-receptor. Constitui o
método mais importante de radiocomunicação à longa distância, mas apresenta alguns
problemas que somente poderão ser solucionados adequadamente se compreendidos os
princípios teóricos correspondentes.
Um problema típico de propagação por onda espacial consiste em determinar se a
ionosfera é capaz de refletir uma onda de rádio de determinada freqüência e se o sinal
recebido é suficientemente forte para ser ouvido acima do nível de ruído presente no receptor.
A resposta a esta questão só poderá ser dada após considerar os diversos fatores envolvidos,
que trajeto deve a onda percorrer entre o transmissor e o receptor, se a freqüência da onda de
rádio está abaixo do limite de freqüência utilizável no trajeto considerado, e, se a intensidade
de campo do sinal é suficiente para chegar ao receptor.

11 – O TRAJETO DE TRANSMISSÃO DA ONDA ESPACIAL.

A figura 13 ilustra alguns dos vários e possíveis trajetos de deslocamento das ondas
de rádio entre o transmissor e o receptor, se foram utilizadas reflexões numa camada da
ionosfera.

Figura 13. Trajetos das ondas por reflexão na ionosfera.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 25 08/2003.


Propagação de Ondas.

Observa-se nesta figura que algumas ondas apresentam frequências altas demais para
serem refletidas pela camada ionizada, a menos que sejam refletidas em outra camada situada
mais acima e que apresente maior grau de densidade iônica. As demais ondas que se
apresentam na freqüência adequada à reflexão retornam à terra e constituem aquelas que vão
assegurar, realmente, as radiocomunicações. Observa-se também que a distância de silêncio é
a distância medida a partir do transmissor até o ponto onde já há sinal recebido por reflexão.
A figura 14, mostra a relação entre a zona de silêncio e a onda terrestre.

Figura 14. A zona de silêncio.

Quando a distância de silêncio ficar aquém do limite curto da zona de silêncio, as


ondas espacial e terrestre terão aproximadamente a mesma intensidade de campo, mas suas
fases estarão relacionadas aleatoriamente. Quando isto acontece, o campo da onda espacial ou
reforça ou anula a campo da onda terrestre causando um desvanecimento no sinal (Fading).
As figuras 13 e 14 ilustram a diferença entre distância de silêncio e zona de silêncio.
Para cada freqüência superior à freqüência crítica, a partir da qual já há reflexão,
corresponde uma distância de silêncio que depende exclusivamente da freqüência da onda e
da ionização da camada refletora. A zona de silêncio, por outro lado, depende do alcance da
onda terrestre, desaparecendo completamente quando este for igual ou maior que a distância
de silêncio.

11.1. – Os Modos de Propagação.

O alcance da onda quando de seu retorno à terra depende da altura da camada ionizada
e do desvio que lhe é imposto durante o seu relacionamento no interior da camada; este desvio

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 26 08/2003.


Propagação de Ondas.

depende, por sua vez, da relação entre a freqüência da onda e a densidade da camada exigida
para refratar ou desviar a onda. Após o retorno à terra, parte da energia é rapidamente
absorvida e parte é refletida na superfície terrestre de volta à ionosfera onde pode ser refletida
novamente, atingindo, assim, a uma grande distância do transmissor. Este processo de saltos
por meio de reflexões alternadas da ionosfera pode ser contínuo fazendo com que a
transmissão possa ser recebida à longa distância do transmissor. A figura 15, ilustra este
processo.

Figura 15. Reflexões sucessivas.

A figura 16 mostra o mesmo processo ilustrando a reflexão em várias camadas.


Mostra também a relação que existe entre as alturas das camadas refletoras e os alcances
verificados na superfície da terra.

Figura 16. Reflexões em várias camadas.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 27 08/2003.


Propagação de Ondas.

11.2. – O Trajeto sobre o Círculo Máximo

Os trajetos percorridos normalmente pelas ondas de rádio no seu deslocamento do


transmissor ao receptor, situam-se num plano que passa pelo centro da terra e que contém os
pontos de transmissão e de recepção. A interseção deste plano com superfície da terra é um
círculo denominado círculo máximo e representa o trajeto da onda entre o transmissor e o
receptor. Todos os trajetos de transmissão das ondas de rádio que se realizam neste plano são
denominados por extensão de trajeto sobre o círculo máximo. A parte da ionosfera que influi
na propagação da onda espacial é a que fica diretamente acima do trajeto sobre o círculo
máximo. O problema fica mais complicado quando a distância exigida para a transmissão é
longa demais para um único salto entre o transmissor e o receptor. As ondas podem seguir
tanto o maior como o menor arco do trajeto sobre o círculo máximo. Por exemplo, se as
ondas irradiadas em Belém podem atingir Manaus atravessando a distância entre as duas
cidades diretamente ou dando a volta ao mundo no sentido do Leste. No primeiro trajeto
temos o arco menor e, no segundo, o arco maior. Estes dois tipos de transmissão denominam-
se, respectivamente, trajeto curto e trajeto longo.

11.3 – A Freqüência.

Como já foi observado quando do estudo da ionosfera, o aumento da freqüência da


onda, implica em menor refração para uma densidade iônica determinada. Então, se o ângulo
de incidência da onda na ionosfera for constante e, se a freqüência aumenta, a distância do
transmissor ao ponto de retorno da onda sobre a terra aumentará consideravelmente. A figura
17 mostra três ondas de diferentes frequências incidindo com um mesmo ângulo sobre uma
camada ionosférica de determinada densidade.
Verifica-se pela figura que a onda de 100 MHz não é refratada suficientemente na
ionosfera e não retorna. As ondas de 5 e de 20 MHz retornam, porém, a de 20 MHz sendo
menos refratada que a de 5 MHz, alcança maior distância na primeira reflexão.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 28 08/2003.


Propagação de Ondas.

Figura 17. Refração em função da freqüência de transmissão.

11.4 – O Ângulo de Incidência.

Para uma onda de rádio de determinada freqüência e uma camada ionizada de


determinada densidade de ionização corresponde um certo ângulo de incidência, denominado
ângulo crítico, segundo o qual a onda se reflete retornando à terra a uma distância mínima ou
com uma mínima distância de silêncio. Este fenômeno já foi explicado pormenorizadamente
mas convém recordar que o ângulo crítico para uma determinada onda é definido como o
ângulo no qual a onda se propaga horizontalmente no interior da camada não retornando, por
isso, à terra. Uma conclusão que se tira é que essas duas definições são as mesmas, pois tanto
o ângulo segundo o qual a onda retorna como o ângulo no qual a onda não retorna, são os
mesmo ângulos.
Para fins de cálculo mede-se o ângulo crítico entre o trajeto da onda incidente na
ionosfera e uma reta que liga o ponto de incidência ao centro da terra. Entretanto, para
facilidade de explanação, considera-se tanto o ângulo crítico como os demais ângulos de
incidência como os ângulos formados pelo trajeto da onda com a ionosfera ou com a
superfície terrestre, considerados superfícies horizontais. A figura 18 mostra uma
determinada onda incidindo sob diferentes ângulos na ionosfera e as conseqüentes variações
da distância de silêncio.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 29 08/2003.


Propagação de Ondas.

Figura 18. O ângulo de incidência.

Observa-se na figura 18 que para os ângulos de incidência maiores que o ângulo


crítico não há suficientemente refração na ionosfera e as ondas se perdem no espaço.
Imediatamente abaixo do ângulo crítico a onda retorna à terra com a mínima distância ao
transmissor. Continuando a diminuir o ângulo, as ondas retornam com distâncias cada vez
maiores.
O ângulo crítico para uma dada frequência não deve ser confundido com a freqüência
crítica para uma dada camada da ionosfera. A freqüência crítica, como já foi explicado
anteriormente, é a mais alta freqüência para uma dada densidade de ionização, que retorna
diretamente à terra quando propagada em ângulo vertical, incidência de 90° sobre a ionosfera.
Apesar de uma onda de freqüência maior que a crítica, propaganda verticalmente, não retornar
à terra, é possível entretanto que esta mesma onda retorne, se propagada sob ângulos
diferentes. Em outras palavras, podem ser utilizadas ondas de frequências maiores que a
freqüência crítica se o ângulo de incidência for menor que 90°. A figura 19 ilustra a relação
entre o ângulo de incidência com a utilização de ondas de frequências maiores que a crítica na
obtenção da radiocomunicação.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 30 08/2003.


Propagação de Ondas.

Figura 19. Ângulos de incidência para várias frequências.

12 – A FREQUÊNCIA MÁXIMA UTILIZÁVEL (MUF).

Para uma dada camada ionizada de altura e densidade iônica constantes e uma
determinada antena de ângulo de irradiação fixo, haverá uma certa freqüência, maior do que
qualquer outra, que retorna à terra a uma distância dada. Esta freqüência denomina-se
freqüência máxima utilizável (MUF) para uma dada distância; seu valor será sempre maior
do que o valor da freqüência crítica, já que o ângulo de incidência e maior que 90°. Então,
para uma dada distância sobre um arco de círculo máximo, haverá uma freqüência máxima
utilizável que é a mais alta freqüência possível de ser refletida numa determinada camada
ionosférica e que retorna à terra nesta distância. Se a distância entre o transmissor e o receptor
aumentar, a freqüência máxima utilizável também aumentará, ou em outras palavras, para um
maior alcance de transmissão, maior será a freqüência máxima utilizável.
Na escolha da freqüência de operação adequada à transmissão por ondas espaciais ao
longo de um trajeto rádio prefixado, a freqüência máxima utilizável será, por certo, o fator
mais importante a ser considerado. Se a freqüência de operação estiver acima da freqüência
máxima utilizável, diz-se que haverá escape pois ela não será refletida, passará através da
camada ionizada. Por outro lado, se a freqüência decresce para valor abaixo da freqüência
máxima utilizável do momento, a onda fica atenuada consideravelmente pois, na faixa de alta

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 31 08/2003.


Propagação de Ondas.

freqüência, quanto menor a freqüência, maior parte da sua energia se perde por absorção da
ionosfera. Daí porque é desejável que a transmissão ocorra numa freqüência tão próxima
quanto possível da freqüência máxima utilizável. Existe, como mostra a figura 20 uma
relação direta entra a freqüência máxima utilizável, as condições ionosféricas, o tempo e o
ângulo de irradiação.

Figura 20. MUF em função da hora (diurna e noturna).

Será possível então predizer ou predeterminar os valores médios da freqüência


máxima utilizável relativa à propagação por um trajeto em determinado horário e num
determinado mês. O método utilizado para a solução deste problema implica em cálculos
estatísticos, que não será abordado inicialmente neste trabalho. Algumas publicações
especializadas e artigos diários, permitem ao usuário conhecer rapidamente qual a freqüência
máxima utilizável para uma radiocomunicação, na hora desejada, ao longo do mês
considerado.

13 – A FREQÜÊNCIA ÓTIMA DE TRABALHO (FOT).

As variações da camada ionosférica ocorrem dia a dia e a toda hora. As predições que
se podem obter da MUF são fruto da observação para períodos longos, não levando em
consideração essas variações do dia a dia. Por esta razão, o limite máximo de freqüência a
selecionar deve ter valor tal, que não haja probabilidade de freqüência de operação tornar-se

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 32 08/2003.


Propagação de Ondas.

maior que o MUF para determinado dia. Assim, a freqüência ótima de trabalho para a camada
F2 deve ser tomada aproximadamente à base de 85 % (segundo bibliografias especializadas)
da MUF para o trajeto de transmissão considerado, devidos às variações diárias desta camada.

14 – A POTÊNCIA DO SINAL RECEBIDO.

14.1 – Os Fatores.

Para saber se a ionosfera comporta a transmissão por ondas espaciais num dado
trajeto e num determinado tempo, basta consultar a MUF para o trajeto considerado. Se existir
uma freqüência ótima de trabalho bem definida conclui-se que a transmissão pelo trajeto
desejado é possível. No entanto existem mais alguns fatores que devem ser considerados. A
onda incidente na antena receptora é composta de várias componentes originadas nos diversos
trajetos possíveis entre o transmissor e o receptor e pelo fato da reflexão na ionosfera não ser
ideal. As componentes somarão suas amplitudes mas, devido às diferenças de fase, poderá
ocorrer reforço ou cancelamento. Neste último caso a comunicação não será possível, mesmo
usando-se a freqüência ótima de trabalho. É necessário que, no cálculo de um link de
radiocomunicação, uma série de fatores sejam considerados e que o transmissor forneça
potência suficiente para compensar todas as perdas. Alguns destes fatores serão examinados a
seguir.

14.2 – O Ganho da Antena.

O ganho de uma antena depende principalmente de seu aspecto ou finalidade. Os


diferentes tipos de antenas bem como suas características constituem objeto de estudo
especial (Antenas e Microondas), mas aqui pode ser dito que as antenas transmissoras são
projetadas tendo em vista a irradiação de energia com elevada eficiência, da energia irradiada.
Em muitos dos circuitos de rádio procura-se obter apenas a transmissão entre um transmissor
e um receptor. Neste caso torna-se desejável irradiar a maior energia possível apenas numa
única direção. As antenas de características direcionais recebem e transmitem mais energia,
ou apresentam maior ganho, na direção dita favorável com redução na recepção de sinais
indesejáveis e ruídos das demais direções. Os quesitos mais comum exigidos para as antenas
transmissoras e receptoras são os de eficiência na transmissão ou recepção e os relacionados
com a menor perda de potência. De uma maneira geral, as características de uma antenas são
as mesmas para a transmissão e para a recepção.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 33 08/2003.


Propagação de Ondas.

14.3 – A Intensidade de Campo.

Não há praticamente perda de energia quando a onda atravessa uma região não
ionizada da atmosfera, a não ser aquela natural queda de intensidade de campo devida ao
deslocamento ou propagação da própria onda. Esta atenuação se faz sentir na razão inversa da
distância (atenuação em espaço livre). A intensidade de campo da onda ao longo do seu
trajeto e não havendo obstáculos (nem grandes massa e nem íons) e sem a interferência de
outros feixes de onda, varia inversamente na razão da distância à origem da fonte emissora. A
energia da onda, que é proporcional ao quadrado da intensidade do campo, varia inversamente
com o quadrado da distância (é a conhecida lei do inverso do quadrado). Convém lembrar
aqui que a intensidade de campo é normalmente medida em microvolts por metro.

14.4 – A Absorção.

A presença de íons na atmosfera superior não somente causa desvio e o retorno à terra
das ondas de baixa freqüência, como também provoca a dissipação de parte de sua energia,
como conseqüência das colisões dos elétrons excitados com as partículas de ar vizinhas. Isto
reduz a intensidade da onda de rádio, além da redução normal devida à propagação de
corrente de transmissão. Este processo de absorção é grande quando se utiliza a propagação
pela ionosfera. Durante o dia esta absorção se verifica principalmente na região D da
ionosfera. Nesta, a densidade de elétrons é consideravelmente menor do que nas regiões mais
altas, mas a elevada densidade de moléculas de ar que apresenta, provoca um maior número
de colisões apesar da escassez de elétrons. Durante a noite, a ionização e a absorção na região
D torna-se insignificante. Entretanto, há ainda alguma absorção para as frequências próximas
do MUF para a camada F2, uma vez que as ondas de tais frequências permanecem algum
tempo dentro da camada, o que proporciona um tempo maior para as relativamente poucas
colisões acarretando, conseqüentemente, uma apreciável perda de energia. Esta absorção
denomina-se absorção de desvio, porque ela decorre de um retardo que, por sua vez, provoca
um desvio. A absorção que ocorre, embora não havendo um retardo apreciável, denomina-se
absorção sem desvio. A absorção que se verifica na região D é principalmente deste último
tipo.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 34 08/2003.


Propagação de Ondas.

14.5 – A Altura da Antena.

É um dos fatores importantes na recepção dos sinais oriundos da ionosfera, mas, no


entanto, o estudo detalhado deste fator será feito posteriormente, quando for tratado o
fenômeno do desvanecimento.

15 – O DESVANECIMENTO (FADING).

O desvanecimento é constituído por flutuações da intensidade do sinal recebido ao


longo do tempo. As causas do desvanecimento se encontram no meio de propagação e, se
entre as antenas não existisse meio nenhum, não haveria desvanecimento; é a chamada
propagação no espaço livre.
Distinguem-se dois tipos principais de desvanecimento, com relação à duração das
flutuações do sinal: desvanecimento rápido e desvanecimento lento. Este último representa
as flutuações ocasionadas por fenômenos mais ou menos cíclicos, em espaços de tempos
maiores, como as variações mensais, estacionais e anuais.
O desvanecimento rápido pode ocorrer em horas, minutos, segundos e frações de
segundos.
Em um link de radiocomunicação a intensidade do sinal recebido, por si só, não
determina se a mensagem será ou não recebida, nem permite tirar conclusões sobre sua
inteligibilidade. É necessário atentar para outro fator: o ruído presente na entrada do
receptor quer oriundo do meio, quer oriundo do próprio equipamento. A mensagem será
bem recebida se a intensidade do ruído, sendo a relação entre eles denominada relação
sinal/ruído (SNR). Para cada tipo de serviço (telefonia, telegrafia, teletipo, comunicação de
dados ou televisão, por exemplo) existe uma SNR mínima, medida em decibéis, para que a
mensagem seja satisfatoriamente recebida. Abaixo desta SNR a mensagem se perde dentro
do ruído presente.
Uma primeira solução, que se torna evidente, evitando a paralisação do sistema pelo
desvanecimento, é o aumento da potência do transmissor. Assim, mesmo durante as suas
atenuações profundas, o sinal permanece acima do ruído, mantendo a SNR aceitável. No
entanto, esta prática nem sempre é possível e, às vezes, se torna bastante cara. Geralmente
esta solução é adotada contra o desvanecimento lento, de previsão mais fácil. Durante um
ano, por exemplo, é possível conhecer razoavelmente os meses em que as atenuações serão

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 35 08/2003.


Propagação de Ondas.

mais pronunciadas e, em função destas, é calculada a potência do transmissor. Sobre esta


variação lenta se sobrepõem as flutuações rápidas cujos efeitos são minimizados mediante
processos a serem estudados.
Convém ainda ressaltar o aspecto seletivo do desvanecimento. As flutuações não
possuem as mesmas intensidades, num mesmo instante, ao longo do espectro de
frequências. Uma certa freqüência pode estar sendo fortemente atenuada e outra,
relativamente próxima, sofrer uma pequena atenuação.

15.1 – O Desvanecimento por interferência.

Este desvanecimento tem origem no fato do sinal recebido ser, na realidade,


constituído de vários componentes. Devido aos diferentes modos de propagação, vários
trajetos são possíveis entre o transmissor e o receptor. Do mesmo modo, o retorno da onda
não é feito em um único ponto, mas sim, de uma pequena região da camada ionizada.
Devido às irregularidades da ionosfera, a onda se reflete segundo várias componentes.
É como se uma onda se refletisse em uma superfície irregular havendo primeiro a reflexão
nas saliências e, depois, nas partes mais baixas. No ponto de recepção existe diferença entre
os trajetos dos componentes refletidos nas saliências e nas reentrâncias.
Se os trajetos são diferentes, as fases dos diversos componentes serão desiguais e
variam de instante para instante, acompanhando as variações da ionosfera, reforçando ou
cancelando o sinal recebido, mediante a interferência dos diversos componentes e segundo
um processo imprevisível.

Prof. Kelias de Oliveira M. Sc. 36 08/2003.

Você também pode gostar