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DIFRAÇÃO: REDES DE DIFRAÇÃO, DIFRAÇÃO DE RAIOS X

Gabriel Karlinski Mendonça 1, Julia Selva Domingos1, Marianne Rodrigues Roldão1 ,


Rafaela Brandão Leal1, Thiago Mamedes de Arruda1 .
1Estudante de engenharia química, CampusVarzea Grande, MT, Brasil

As ondas eletromagnéticas são úteis em diversos campos de estudo, tais como teorias da
medicina, geofísica, geologia, física, entre outras. Em decorrência de pesquisas com esse
tipo de onda, surgiram invenções como televisores, rede de internet, fornos micro-ondas,
e outros aparelhos utilizados por muitos no dia a dia. Principalmente no campo da física,
mas também bastante presente na medicina, há uma ampla gama na utilização de ondas
luminosas e ondas de raios-x. Nesse contexto, este trabalho objetiva promover um melhor
entendimento sobre os comportamentos e as particularidades físicas dessas ondas e sua
contribuição para com o avanço científico e tecnológico, através de estudos sobre a
incidência de feixes de luz e raios-x em fendas/obstáculos.
PALAVRA – CHAVE: Eletromagnetismo, gama, ondas, raios-x, fisica

Electromagnetic waves are useful in various fields of study, such as theories of medicine,
geophysics, geology, physics, among others. As a result of research with this type of
wave, inventions such as televisions, internet networks, microwave ovens, and other
devices used by many in their daily lives have emerged. Mainly in the field of physics,
but also quite present in medicine, there is a wide range in the use of light waves and x-
ray waves. In this context, this work aims to promote a better understanding of the
behavior and physical characteristics of these waves and their contribution to scientific
and technological advancement, through studies on the incidence of light beams and x-
rays in cracks/obstacles.
KEYWORD: Electromagnetism, gamma, waves, x-rays, physics

1 INTRODUÇÃO

Dispõem-se do termo difração ou fendas. Quando se trata da incidência


quando há uma flexão de feixes de onda de feixes luminosos sobre aberturas
em volta de obstáculos ou também seu periódicas, nota-se fenômenos de
desdobramento após atravessar orifícios interferência na vizinhança do limite da
sombra. A difração de ondas que Huygens, que só é validada em 1819 por
possuem comprimento em dimensão de um artigo publicado por Fresnel. Apesar
centímetros ou metros, tais como ondas da complexidade dos fenômenos
de água, podem ser facilmente envolvidos da difração da luz, devido a
visualizadas, uma vez que sua aplicação sua grande gama de aplicações, esse é
ocorre sobre obstáculos/aberturas um objeto de grande importância no
macroscópicas. [1] âmbito acadêmico. [1]
Encontra-se um exemplo simples A figura de difração depende das
de difração quando o céu não há nuvens condições de iluminação e de onde
e observa-se pequenos pontos e observa-se a imagem formada. Se o
filamentos flutuando diante dos olhos. obstáculo é iluminado com ondas planas
Essas moscas volantes, como são e a região onde é observado a difração
chamadas, aparecem quando a luz passa está longe do obstáculo, diz que temos a
por pequenos depósitos opacos difração de Fraunhofer. Nos demais
existentes no humor vítreo, a substância casos, quando o deslocamento da onda
gelatinosa que ocupa a maior parte do não é plano, é dito que temos difração de
globo ocular. O que é observado quando Fresnel. [3]
uma mosca volante se encontra em nosso Nesse quadro, o presente trabalho
campo de visão é a figura de difração de revisão bibliográfica, objetiva a
produzida por um desses depósitos. [2] exposição de modelos matemático que
A primeira observação expliquem o fenômeno da difração e sua
sistemática da difração da luz foi incidência sobre fendas simples,
realizada pelo italiano Francesco circulares e múltiplas, tal como os
Grimaldi no século XVII. Seu trabalho diversos segmentos de estudo originados
foi utilizado por outros físicos para pela espectroscopia de rede e sua
evidenciar que a luz se tratava de uma aplicabilidade nos raios-x.
onda. Desse modo, ao final do século
XVII, surge a teoria ondulatória da luz
proposta pelo holandês Christiaan
2.DIFRAÇÃO

2.1 DIFRAÇÃO E O PRINCÍPIO DE HUYGENS

Como base, a difração descreve uma aparente flexão das ondas, sejam
elas sonoras, ondas na água e ondas onda com o obstáculo gerado [4]
eletromagnéticas, seguindo está linha de Ao passar pelo ponto do espaço,
pensamento, princípio de Huygens relata as ondas difratadas, pelo mesmo ponto
que quando uma fenda é posta entre uma de origem, apresentam a mesma fase e
fonte luminosa e uma tela, há a formação por isso podem interagir uma com a
de interferências criadas pelo meio, outra naquele ponto, o processo de
quando a onda contorna o obstáculo cria recombinação exibe-se devido as
trajetórias diferentes que variam seus propriedades periódicas ao longo do
comprimentos totais e acabam se espaço e do tempo que combinam seus
recombinando ao passar por um dado máximos e mínimos de amplitude com
ponto no espaço, logo a difração dependência da interação do
relaciona a ação entre a interação da comprimento de onda total [4].

3 DIFRAÇÃO GERADA POR UMA FENDA

A reação de uma onda atravessa comprimento de onda λ [5]. Para a


uma fenda que não é estreita, que usamos obtenção da posição dos mínimos deve-
como exemplo uma largura a. A se dividir a fenda em duas regiões de
𝑎
intensidade da luz em um anteparo, gera largura , onde se tem na extremidade
2
dependência do ângulo criado entre a superior da fenda um raio luminoso r1 , e
onda e a fenda. A intensidade máxima é na extremidade inferior, um raio r2,
gerada na direção frontal da fenda( 𝜃 = sendo assim, a posição do ponto P1, pode
0, sin(𝜃 ) = 0), diminuindo quando ser obtida através do já dito ângulo 𝜃,
chega em um ângulo que depende da gerado entre a reta que liga o centro da
largura da fenda denominada a e do fenda ao ponto P1 e o eixo central [4].
Figura 1: Raios provenientes das
extremidades superior e inferior de uma
região de largura a/2 sofrem interferência
destrutiva no ponto P1 da tela de observação C

Fonte: HALLIDAY, D.et al, 2016

Como as ondas secundárias


de r1 e r2 pertencem a mesma frente de
onda, elas estão em fase, entretanto, para
produzirem um mínimo devem estar
λ
defasadas de . Supondo que r1 e r2
2
sejam paralelas e formem um ângulo
𝜃 com o eixo central, a diferença entre as
distâncias percorridas por r1 e r2
𝑎
será sin(𝜃 ) . Igualando essa diferença
2
λ
a , obtemos o primeiro mínimo de
2
intensidade em [4]:

λ
sin (𝜃 ) = (1)
𝑎
Fazendo o mesmo processo para
mais ondas, da equação (1), descobre-se
os próximos mínimos em [4]


sin(𝜃 ) = (2)
𝑎
Sendo que os pontos de intensidade
zero podem assumir os valores de m=
±1, ±2, ±3, …, sendo λ o comprimento
da onda e ‘a’ a largura da fenda [4].
3.1 INTENSIDADE DA LUZ DIFRATADA POR UMA FENDA

De maneira geral, toda a energia


luminosa está no máximo central de difração,
antes do primeiro mínimo de intensidade.
Tendo essa afirmativa como base, pode-se
descobrir a largura do máximo central y1,
gerados para ambos os lados do eixo central, a
partir da Equação (3) [4] [6]:
𝑦1
tan(𝜃1 ) = (3)
𝐿
Sendo 𝜃1 ângulo que ira relacionar à largura da sin(𝛼) 2
𝐼 (𝜃 ) = 𝐼𝑚 ( ) (4)
𝛼
fenda, já obtida pela equação dos mínimos de 𝜋𝑎
Onde 𝛼 = sin 𝜃 e os mínimos ocorrem em
intensidade, e y1 será a distância requerida para λ

descobrir L, ou seja, a distância entre a fenda e 𝛼 = 𝑚𝜋, onde m= 1, 2, 3, … [4].

o
Figura 2: Difração em uma fenda: posição dos 4 DIFRAÇÃO POR UMA
mínimos. ABERTURA CIRCULAR

A difração por uma abertura


circular corresponde a produção de feita a partir
de um máximo central e seus máximos e
mínimos que para esta difração são
concêntricos, onde o ângulo 𝜃 faz
correspondência ao primeiro mínimo com
Fonte: KRIEGER, J. 2012 et al. diâmetro d gerado pela Equação 5 [4]:

Pode-se identificar que com o aumento


das faixas que ultrapassam a fenda d, tendendo λ
sin 𝜃 = 1.22 (5)
𝑑
ao infinito, consequentemente infinitamente
estreitas, a linha poligonal de fasores se
A Equação 5 apresenta grandes
transforma em um arco de circunferência,
aplicações de grande relevância para resolução
podendo identificar um padrão por parte da
de instrumentos ópticos, visto que a luz
difração, logo, com a Equação 4 encontramos a
provinda de um determinado ponto, que
intensidade luminosa em função do ângulo 𝜃
atravessa o objeto, cria uma série de aberturas
[4]:
circulares, podendo ser exemplificados como distinguir os pontos separadamente. Contudo as
lentes, diafragmas entre outras [4]. cores observadas à uma distância normal,
Em questões de resolução angular o critério de apresentam uma separação angular 𝜃 entre os
Rayleigh apresenta uma teoria definida para pontos de sua vizinhança, que os mesmos são
resolução de dois objetos observados com uma menores que 𝜃𝑟 , não havendo distinção por
reparação angular relativamente pequena. Esse parte dos pontos [4].
critério
estabelece que o limite de resolução se dá no
5 DIFRAÇÃO PRODUZIDA POR
ponto a partir do qual as duas imagens estarão FENDAS MÚLTIPLAS
discerníveis, ou seja, quando o máximo central
da figura de difração de umas das imagens 5.1 DUAS FENDAS

coincidir com o primeiro mínimo de difração da


Quando as fendas são estreitas em
outra imagem, sendo expressa pela Equação 6
comparação com o comprimento de onda, é
[7]:
plausível supor que a luz proveniente de cada
λ
𝜃𝑟 = 1,22 (6)
𝑑 fenda se espalha uniformemente em todas as
4.1 VISÃO HUMANA direções do lado direito da fenda. Entretanto,
Dentro da visão humana, o critério quando as fendas possuem larguras finitas, os
de Rayleigh se trata apenas proximidade de picos da figura de interferência produzida em
aplicação, visto que sua resolução tem uma fenda dupla, são modulados pela figura de
dependência de fatores que envolvem a difraçãocaracterística da largura de cada fenda
intensidade relativa das fontes, o estado do [7].
ambiente, a turbulência do ar entre as fontes Quando a luz difratada chega à tela de
e o observador [4]. observação C, ondas provenientes de diferentes
pontos da fenda sofrem interferência e
4.2 PONTILHISMO produzem na tela uma série de franjas claras e
escuras (máximos e mínimos de interferência).
Por se tratar de um estilo de pintura, com
Para determinar a posição das franjas, vamos
formatos circulares e puntiformes, o critério de
usar um método semelhante ao que
Rayleigh, nesse contexto, explica o
empregamos para determinar a posição das
acontecimento do uso das cores. A mudança de
franjas de interferência produzidas no
cor está diretamente ligada a percepção
experimento de dupla fenda. No caso da
humana, logo, uma análise a curta distância
difração, as dificuldades matemáticas são bem
apresenta uma separação angular 𝜃 entre pontos
maiores que no caso da
vizinhos que são maiores que 𝜃𝑟 , conseguindo
dupla fenda, de modo que obteremos apenas
uma expressão para as franjas escuras [4].

Figura 3: Intensidades na figura de difração de


duas fendas de largura finita
Fonte: HALLIDAY, D. et al, 2016

6 REDES DE DIFRAÇÃO
(a) Gráfico teórico da difração produzida por
uma única fenda de largura a finita Denomina-se rede de difração um
conjunto que contém um número grande de
fendas paralelas, todas com a mesma largura a
e a mesma distância d entre os centros de duas
fendas consecutivas. A primeira rede de
difração foi construída por Fraunhofer, usando
fios finos. As redes podem ser feitas com uma
ponta de iamante para gerar sulcos igualmente
(b) Gráfico teórico da intensidade em um
espaçados sobre uma superfície de vidro ou de
experimento de interferência com duas fendas
metal, ou então fazendo-se a redução de uma
infinitamente estreitas (a)
fotografia de um conjunto de faixas claras e
escuras impressas sobre uma folha de papel.
Para uma rede de difração, o termo fenda
geralmente pode ser substituído por ranhura ou
linha [7].
A partir das análises da ocorrência de
difração em fendas, chega-se em um conjunto
(c) Gráfico teórico da intensidade em um
contendo um expansivo número de fendas,
experimento com duas fendas de largura a
todas com a mesma largura a e mesma distância
finita. A curva de (b) se comporta como uma d,originando uma rede de difração. A primeira
envoltória, modulando a intensidade das rede de difração foi construída por Fraunhofer,
franjas de (b). usando fios finos. As redes podem ser feitas
com uma ponta de diamante para gerar sulcos
igualmente espaçados sobre uma superfície de
vidro ou de metal, ou então fazendo-se a redução
de uma fotografia de um conjunto de faixas
claras e escuras impressas sobre uma folha de Figura 5: (a) A curva de intensidade
produzida por uma rede de difração com
papel [7]. muitas ranhuras é constituída por picos
A Figura 5 representa a seção reta de uma estreitos, que aqui aparecem rotulados pelos
números de ordem, m.
rede de transmissão, as fendas são
(b) As franjas claras correspondentes, vistas
perpendiculares ao plano da página e a figura de em uma tela, são chamadas de linhas e
interferência é formada pela luz transmitida também foram rotuladas pelo número de
ordem m.
através das fendas. A figura retrata um
diagrama com seis fendas; entretanto, uma rede
real pode conter milhares de ranhuras. A
distância d entre os centros de duas fendas
consecutivas denomina-se espaçamento da
rede. Um feixe plano de luz monocromática
incide perpendicularmente da esquerda para a
direita sobre a rede, considerando a condição de Fonte: HALLIDAY, D. et al, 2016

Fraunhofer, isto é, a tela está situada a uma Figura 6: Os raios que vão das ranhuras de
uma rede de difração até um ponto distante
distância suficientemente grande para que os P são aproximadamente paralelos. A
diferença de percurso entre raios vizinhos é d
raiosque emergem da rede e atingem um ponto
sen θ, em que θ é o ângulo indicado na
da tela, possam ser considerados paralelos [7]. figura.

Figura 4: Rede de difração simplificada, com


apenas cinco fendas, que produz uma figura
de interferência em uma tela de observação
distante

Fonte: HALLIDAY, D. et al, 2016

𝑑 𝑠𝑒𝑛 𝜃 = 𝑚𝜆
Fonte: HALLIDAY, D. et al, 2016 Para determinar as posições das linhas
na tela de observação, supomos que a tela está
suficientemente afastada da rede para que os
raios que chegam a um ponto P da tela sejam
aproximadamente paralelos ao deixarem a rede
de difração (Fig. 36-20). Em seguida, aplicamos medidos e a Equação 36.13 serve para
a cada par de ranhuras vizinhas o mesmo calcular os comprimentos de onda. Usando
raciocínio que usamos no caso da interferência uma rede com muitas fendas, são obtidos
causada por duas fendas. A distância d entre máximos muito agudos, e os desvios
ranhuras vizinhas é chamada de espaçamento angulares (e, portanto, os comprimentos de
da rede. (Se N ranhuras ocupam uma largura onda) podem ser determinados com
total w, então d = w/N.) A diferença entre as precisão [7]
distâncias percorridas por raios vizinhos é d sen Os comprimentos de onda podem ser
θ (Fig. 36-20), em que θ é o ângulo entre o eixo determinados com precisão. Uma
central da rede e a reta que liga a rede ao ponto importante aplicação dessa técnica é usada
P. Haverá uma linha em P se a diferença entre na astronomia. À medida que a luz gerada
as distâncias percorridas por raios vizinhos for dentro do Sol passa por sua atmosfera,
igual a um número inteiro de comprimentos de certos comprimentos de onda são
onda, ou seja, se em que λ é o comprimento de absorvidos seletivamente. O resultado é
onda da luz. A cada número inteiro m, exceto m que o espectro de luz solar produzido por
= 0, correspondem duas linhas diferentes, uma rede de difração apresenta linhas de
simetricamente dispostas em relação à linha absorção escuras (Figura 36.18).
central; assim, as linhas podem ser rotuladas de Experiências de laboratório mostram que
acordo com o valor de m, como na Fig. 36-19. diferentes tipos de átomos e íons absorvem
Esse valor é chamado de número de ordem, e as luz de diferentes comprimentos de onda.
linhas correspondentes são chamadas de linha Comparando esses resultados de
de ordem zero (a linha central, para a qual m = laboratório com os comprimentos de onda
0), linhas de primeira ordem, linhas de segunda de linhas de absorção no espectro da luz
ordem, e assim por diante[4]. solar, os astrônomos podem deduzir a
6.1 ESPECTROSCÓPIO DE REDE composição química da atmosfera do Sol.
A mesma técnica é usada para fazer
As redes de difração são análises químicas de galáxias que estão a
amplamente empregadas para medir o milhões de anos-luz de distância [7].
espectro da luz emitida por uma fonte, uma A Figura 7 mostra o projeto de um
técnica chamada de espectroscopia ou espectrômetro de rede usado na
espectrometria. A luz incidente sobre uma astronomia. Nessa figura, é usada uma rede
rede de difração com espaçamento de transmissão; porém, em outros
conhecido sofre dispersão e forma um dispositivos, costuma-se usar redes de
espectro. Os ângulos dos desvios são então reflexão. Nos projetos mais antigos, usava-
se um prisma em vez de uma rede, e Figura 8: Diagrama de um espectrômetro
baseado em rede de difração para uso em
formava-se um espectro por dispersão
astronomia
(veja a Seção 33.4) em vez de por difração.
No entanto, não existe nenhuma relação
simples entre comprimento de onda e
ângulo de desvio em um prisma. Os
prismas absorvem parte da luz que passa
por eles e são menos eficazes para lidar
com muitos comprimentos de onda não
visíveis que são importantes na
astronomia. Por essas e outras razões, as
redes são preferidas em aplicações que Fonte: YOUNG, D. FREEDMAN, A. 2016.

exigem precisão [7].


Figura 7: (a) Fotografia do Sol com luz visível. 7 DISPERSÃO E RESOLUÇÃO
(b) Espectro da luz solar por uma rede de DAS REDES DE DIFRAÇÃO
difração
7.1 DISPERSÃO
(a)
Para poder separar comprimentos de
onda próximos (como é feito nos
espectroscópios), uma rede de difração deve ser
capaz de espalhar as linhas de difração
associadas aos vários comprimentos de onda.
Esse espalhamento, conhecido como dispersão,
é definido pela equação: [4]
∆𝜃
𝐷=
∆𝜆
Fonte: YOUNG, D. FREEDMAN, A. 2016 Em que Δθ é a separação angular de
(b) duas linhas cujos comprimentos de onda
diferem de Δλ. Quanto maior o valor de D,
maior a distância entre duas linhas de emissão
cujos comprimentos de onda diferem de Δλ.
Vamos demonstrar daqui a pouco que a
Fonte: YOUNG, D. FREEDMAN, A. 2016 dispersão de uma rede de difração para um
𝑚
ângulo θ é dada por: [4] 𝐷 =
𝑑 cos 𝜃
época, foi determinado que os raios que se
7.1 RESOLUÇÃO
originavam do cátodo eram totalmente
absorvidos pela matéria e essa absorção se
A rede de difração deve ter uma alta
relacionava com a voltagem de aceleração e ao
resolução, R, definida pela equação [5]
direcionar-se essa radiação para cristais ocorria
𝜆𝑚é𝑑
𝑅= uma emissão de luz visível, denominada
∆𝜆
fluorescência. [8]
Em que λ méd é a média dos
Em 1896, identificaram que os raios
comprimentos de onda de duas linhas que mal
derivados do cátodo eram compostos por
podem ser distinguidas, e Δλ é a diferença entre
pequenas partículas carregadas negativamente,
os comprimentos de onda das duas linhas.
tendo massa aproximadamente igual a 1/1800
Quanto maior o valor de R, mais próximas
do Hidrogênio [8]. A carga absoluta dessa
podem estar duas linhas sem que se torne
partícula foi determinada como sendo de
impossível distingui-las. Vamos demonstrar
1,601x1019C e foi chamada de elétron.
daqui a pouco que a resolução de uma rede de
O físico alemão Wilhelm Conrad
difração é dada por [4]
Röntgen, que estudava os raios catódicos,
𝑅 = 𝑁𝑚
observou que um papel pintado com platino-
Assim, para conseguir uma grande
cianeto de bário (um material fluorescente) na
resolução, devemos usar um grande número N
mesma mesa do tubo fluorescia mesmo que o
de ranhuras e trabalhar com grandes valores de
tubo estivesse envolto em papelão preto [8].
m. [4]
Röntgen também notou uma sombra provinda
8 RAIOS X de um fio metálico sobre o papel fluorescente e,
dessa
8.1 HISTÓRICO
forma, passou a pensar na radiação como uma

O processo de descoberta dos Raios-X forma de luz invisível. Röntgen passou a

começou no final do século XIX, a partir de estudar intensamente essa radiação e descobriu

experimentos com os “tubos catódicos”, muitas propriedades como a propagação em

equipamentos exaustivamente utilizados em linha reta (daí formar sombras bem

experimentos daquela época e que consistiam delimitadas), alta capacidade de penetração,

em um tubo de vidro, ligado a uma bomba de indiferença à campos magnéticos e capacidade

vácuo, onde era aplicada uma diferença de de impressionar chapas fotográficas [8]. Essas

potencial entre dois terminais opostos, gerando descobertas fizeram com que Röntgen ganhasse

uma corrente elétrica dentro do tubo. Nesta o primeiro prêmio Nobel de Física, em 1901,
pelo descobrimento dos Raios-X [9].
Já a difração de raios-X (DRX) foi elétron de uma camada mais externa passa à
historicamente descoberta em 1912, por Max camada K (III), liberando energia na forma de
Von Laue e seus alunos Walter Friedrich e Paul um fóton de Raio-X (IV). A energia do fóton de
Knipping, ao obterem o padrão de difração de raio-X é equivalente a diferença de energia
um cristal de sulfato de cobre [10]. Percebeu-se entre as duas camadas do átomo [8].
então que, quando as ondas atravessam fendas Figura 10: Produção de Raios-X a nível
ou contornam pequenos obstáculos que atômico
possuem dimensões correspondentes ao seu
comprimento de onda, ocorre a difração.
8.2 PRODUÇÃO DE RAIOS X
Os raios-X são gerados ao desacelerar Fonte: Bleicher e Sasaki, 2000.
rapidamente uma partícula que se encontrava
com alta energia de movimento, sendo que a A intensidade e a faixa de

forma mais comum de se fazer isso é colidir um comprimentos de onda produzidos pelo tubo

elétron de alta energia (gerado em um tubo podem ser aumentadas ao elevar a diferença de

catódico) com um alvo metálico que potencial entre os terminais, como mostra a

desempenhará papel do ânodo, como mostrado Figura 11. Cada uma das curvas da figura

na Figura 9 [8]: representa o espectro para uma determinada


voltagem, de forma que é possível notar que

Figura 9: Esquema da produção de Raios-X. para voltagens mais altas, os comprimentos de


onda apresentam intensidades muito mais
elevadas. Os comprimentos de onda que
possuem maior intensidade compõem a
chamada “radiação característica” do alvo e os
demais comprimentos são chamados de
“radiação branca” ou “radiação de frenamento”
Fonte: Bleicher e Sasaki, 2000. pois é a radiação produzida quando as cargas
Na Figura 10 é possível visualizar o elétricas sofrem uma desaceleração. Quanto
fenômeno a nível atômico. Quando o elétron de maior for a voltagem, maior será a radiação
alta energia atinge o alvo (I), um elétron da característica em relação à radiação contínua,
camada K de um átomo do material é liberado possibilitando a utilização de um comprimento
na forma de fotoelétron (II), surgindo uma de onda pré-determinado [8].
vacância, ou seja, um espaço vazio nessa
camada. Para preencher esse espaço, um outro
Figura 11: Relação entre a diferença de Figura 12: Fenômeno de difração.
potencial e a intensidade de cada comprimento
de onda produzido.

Fonte: Pereira, 2016.

Em 1913, após os estudos de Max Von


Laue, William H. Bragg e seu filho William L.
Bragg apresentaram estudos da difração de
Fonte: Bleicher e Sasaki, 2000. raios-X em estruturas cristalinas. Eles
constataram que ao incidir raios-X em um
8.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS X
cristal havia uma reflexão especular, ou seja, o

A difração é um fenômeno fácil de se ângulo de incidência é igual ao ângulo de

observar com a luz visível em um simples reflexão, nos diversos planos atômicos

experimento. Ao posicionar uma bola de tênis paralelos no interior do cristal. Dessa forma,

na frente da parede, incidindo uma luz visível cada plano refletia uma pequena parte da

diretamente a ela, será possível visualizar um radiação e os feixes difratados eram produzidos

círculo na parede. Esse círculo diminui ao por essas reflexões. E então, denominou-se a

aproximar a bola da parede e aumenta ao afastá- difração de raios-X como sendo um fenômeno

la. No entanto, ao diminuir continuamente de interação entre o feixe de raios-X incidente e

apenas o tamanho da bola, o círculo formado na os elétrons dos átomos que compõem um

parede vai diminuído até que chegará um material, ocorrendo um espalhamento do feixe

momento em que será possível observar uma de forma que a onda espalhada possui direção

figura semelhante à Figura 12. Esse fenômeno definida, mesma fase e mesma energia da onda

é chamado de padrão de difração e ocorre incidente, como mostrado na Figura 13 [9].

quando o obstáculo (a bola de tênis) tiver


dimensões da ordem de alguns comprimentos
de onda da luz incidente. No caso a luz visível
é necessário apenas que o obstáculo tenha
menos de um milímetro [9].
Figura 13: Difração de raios-X. dolorosas que eram feitas no passado como uma
forma de examinar o interior do indivíduo.
Contudo, além do uso na área médica, os raios-
X também são de grande importância para
outros setores [10].
Nas indústrias farmacêuticas e de
cosméticos, por exemplo, os estudos para
desenvolver medicamentos mais eficazes e
Fonte: Pereira, 2016.
menos tóxicos são incessantes. O fármaco deve
ser transportado até a parte do corpo adequada
Para que a interferência das ondas seja para que possa agir no organismo. Para isso,
construtiva é necessário que a diferença de deve ser recoberto por uma substância que seja
caminho percorrido pelo feixe de raios-X seja estável durante o transporte e se rompa ao
igual a um número inteiro (𝑛) múltiplo do atingir o local desejado, além de ser inerte para
comprimento de onda (𝜆). E, para um material não causar danos ao organismo. Dessa forma, é
cristalino (onde os átomos estão periodicamente necessário conhecer a interação do fármaco
arranjados) a difração dos raios-X satisfazem a com as membranas que formam os tecidos do
Lei de Bragg: organismo. Essa interação pode ser analisada
𝑛𝜆 = 2𝑑ℎ𝑘𝑙 sen 𝜃 por meio da intensidade de raios-X espalhada
Onde 𝑑ℎ𝑘𝑙 é a distância interplanar da rede pelos elétrons presentes nesses materiais e
atômica e θ é o ângulo de incidência dos raios- membranas,
X. sendo possível identificar efeitos tóxicos ao
organismo [10].
8.4 APLICAÇÕES DE RAIOS X Na indústria aeronáutica e espacial a
A aplicação mais conhecida dos raios-X difração de raios- X é utilizada como uma
é no diagnóstico por imagens, a radiografia. De ferramenta muito importante para a análise
fato, essa utilização possibilitou um grande crítica e desenvolvimento de superligas, um
avanço para a área médica e odontológica, material imprescindível na fabricação de
permitindo a descoberta de diversas doenças e turbinas a gás. As superligas são ligas metálicas
o tratamento delas. Os estudos dos métodos de baseadas em Ni, Co ou Fe e são aplicadas
diagnóstico por imagem vêm possibilitando um quando se requer resistência a alta temperatura
crescente desenvolvimento de técnicas seguras associada a estabilidade superficial [9].
na observação do interior do corpo humano, de Além das aplicações citadas acima existem
modo não invasivo, substituindo cirurgias diversas outras, como o desenvolvimento de
semicondutores na indústria microeletrônica, Hanawalt.
nanotubos de carbono que possuem REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
propriedades espetaculares e têm sido muito
estudados, na pesquisa e desenvolvimento de [1] (HALLIDAY, D. et al, 2016),

novos materiais e em basicamente toda (YOUNG, D. FREEMAN, A. 2016).

estrutura que esteja na ordem de nanômetros,


[2] (HALLIDAY, D; RESNIK, R. 9. ed. v.
pois ela pode ser estudada através da sua 4. 2016).
interação com os raios-X.
[3] FRAGNITO, H. COSTA, A. Difração
CONCLUSÃO
da luz por fendas. São Paulo, 2010.
O raios-x, atualmente, ainda é a Disponível em: <
sustentação para o desenvolvimento da https://sites.ifi.unicamp.br/hugo/files/2013/
ciência, é utilizado diariamente na área 12/diffraction.pdf> Acesso em: 09 de abril
médica, como nos exames de de 2021.
mamografia, tomografia
computadorizada e entre outros. Da [4] HALLIDAY, D; RESNICK, R;
WALKER, J. Fundamentos de física:
mesma forma que o raios-x é usado para óptica e física moderna. 10. ed. v. 4. Rio
tratamento o mesmo pode ser maléfico de Janeiro: LTC, 2016.
já que trata-se de uma radiação [5] TIPLER, P. A.; Mosca, Gene
eletromagnética, seu uso excessivo (2009). Física Para Cientistas e
Engenheiros VOL. 2.
pode causar sérios danos a saúde. Além
da importância do raios-x na medicina, [6] KRIEGER, J. Difração em uma fenda:
posição dos mínimos, 2012.
outras utilização são consideráveis,
como a verificação de sondas, [7] YOUNG, D. FREEDMAN, A. Física
IV: Sears e Zemansky: ótica e física
caracterização de redes cristalinas, moderna. Colaborador A. Lewis Ford;
aplicações nos campos da astrofisica, tradução Daniel Vieira; revisão técnica
Adir Moysés Luiz. – 14. ed. – São Paulo:
astronomia e mais recentemente na área Pearson Education do Brasil, 2016.
da pintura para estudos de telas antigas.
[8] Bleicher, L. e Sasaki, J. M., Introdução
Graças aos estudos de Max, foi à difração de raios-X, Universidade
apresentado estudos da difração de Federal do Ceará, 2000.

raios-X onde hoje tem a aplicação na [9] Pereira, A. B., Caracterização


identifação de fases cristalinas, estrutural e térmica de cristais de L-
Arginina. UFMA. Imperatiz-MA, 2016.
determinação do paramentro de rede e
identificação de fases pelo metodo de [10] Lima et al., Raios-X : Fascinação, medo
e ciência. Química Nova, vol. 32, No. 1, 2009

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