Você está na página 1de 3

FÍSICA EXPERIMENTAL III

2015/2016

Experiência 5: ÓPTICA ONDULATÓRIA, DIFRACÇÃO E INTERFERÊNCIA


Os padrões de cores que recobrem as manchas de óleo em
pavimentos de asfalto molhados, constituem uma das
manifestações mais comuns do fenómeno de interferência
óptica. À escala macroscópica, este fenómeno ocorre
igualmente com outro tipo de ondas como as criadas em
tanques cheios de água (ver figura). Nalgumas regiões de
sobreposição, entre duas ou mais ondas, pode ocorrer
aniquilação total ou parcial das ondas interferentes, enquanto
noutras regiões o padrão é constituído por vales e cristas.
Os fenómenos de interferência óptica não são explicáveis no
quadro de um modelo meramente corpuscular. A teoria
ondulatória que descreve a natureza electromagnética da luz constitui, todavia, um ponto de
partida natural para a análise destes fenómenos. As perturbações ópticas parecem ser
soluções de uma equação de onda. Essas soluções satisfazem o princípio de sobreposição,
segundo o qual, o campo electromagnético total em qualquer ponto do espaço em que duas
ou mais ondas se sobrepõem, é igual à soma vectorial das ondas intervenientes. A
interferência óptica consiste pois na interacção entre duas ou mais ondas luminosas, com
geração de um padrão em que a intensidade total (dada pelo quadrado do módulo do
campo electromagnético) difere da soma das intensidades individuais.
Um corpo opaco colocado entre uma fonte pontual e um alvo, projecta uma sobra
complexa, constituída por regiões claras e escuras, resultante do fenómeno denominado por
difracção. Ocorre difracção sempre que a fase ou a amplitude de parte da frente de onda se
altera, após interacção com obstáculos, transparentes ou opacos. Os vários segmentos da
frente de onda que se propagam para além do obstáculo interferem, dando origem a uma
distribuição particular de densidade de energia, isto é, dando origem a um padrão de
difracção.
Não existe uma distinção física significativa entre interferência e difracção. No entanto, é
frequente falar-se de interferência quando se considera a sobreposição de um número
reduzido de ondas, reservando-se a difracção para os casos em que o número de ondas é
elevado.
É conveniente salientar-se que os instrumentos ópticos só utilizam parte de qualquer frente
de onda incidente. Os efeitos de difracção são pois de grande importância para analisar em
detalhe todos os dispositivos que incluam lentes, diafragmas, fendas, espelhos, etc.. Na
ausência total de aberrações, a definição de uma imagem formada por
um sistema óptico é limitada apenas por difracção. A figura ao lado
mostra uma fotografia de uma fonte luminosa pontual, onde a
difracção provocada pela abertura da máquina fotográfica difundiu a
energia luminosa de modo a formar um disco central circular
brilhante, rodeado por anéis alternadamente escuros e luminosos.

ÓPTICA ONDULATÓRIA DIFRACÇÃOE INTERFERÊNCIA Página 1 de 3


FÍSICA EXPERIMENTAL III
2015/2016

Na figura seguinte são mostradas fotografias, de uma série de fontes pontuais, que foram
tiradas interpondo orifícios cada vez mais pequenos. O conjunto poderia representar, por
exemplo, uma constelação de estrelas. A difracção das ondas a partir dos bordos do orifício
limita o detalhe da informação que é possível receber. À medida que o orifício através do
qual se observa o conjunto das fontes pontuais se torna mais pequeno, a figura de difracção
de cada ponto dispersa-se e
começa a sobrepor-se com
as imagens de difracção dos
outros pontos.
O fenómeno da difracção é explicado pelo princípio de Huygens-Fresnel que propõe que
cada ponto de uma frente de onda não obstruída constitui, em qualquer instante, uma fonte
de ondas esféricas secundárias com a mesma frequência da onda primária. Deste modo, a
amplitude do campo em qualquer ponto do espaço é dada pela sobreposição de todas essas
ondas (tendo em conta as suas amplitudes e fases relativas).
Considere-se agora o caso de uma fenda (abertura rectangular)
suficientemente afastada do ecrã onde se observa o fenómeno.
Neste caso podemos observar um padrão de difracção de
Fraunhofer, constituído por zonas claras (interferência
construtiva) e escuras (interferência destrutiva) distribuídas ao
longo de uma direcção perpendicular à fenda. A condição geral
para o aparecimento de mínimos, correspondentes a
interferência destrutiva, é dada por:
λ
sen(θ) = m com m = ±1, ± 2, ± 3, ... (1)
a
sendo a a largura da fenda e λ o comprimento de onda da radiação. Nas condições referidas
acima, a distância L é suficientemente grande para que a seguinte aproximação seja válida:
y
sen(θ) = (2)
L
em que y representa a distância ao centro do ecrã. Deste modo, podemos escrever para a
localização dos mínimos:
λ ⋅L
ym =m com m = ±1, ± 2, ± 3, ... (3)
a
Se tivermos duas fendas, para além da interferência devido à fenda, temos também de
considerar a interferência resultante das duas ondas que vêm de cada uma das fendas (esta
situação corresponde à experiência realizada por Young).
De forma a termos uma interferência construtiva num determinado ponto P do ecrã, é
necessário que a diferença de percurso óptico r2-r1 seja um múltiplo do comprimento de
onda. Sendo assim, essa condição é definida pela equação:
d ⋅ sen(θ) = m ⋅ λ com m = ±1, ± 2, ± 3, ... (4)

ÓPTICA ONDULATÓRIA DIFRACÇÃOE INTERFERÊNCIA Página 2 de 3


FÍSICA EXPERIMENTAL III
2015/2016

sendo d a distância entre as fendas e m a ordem de difracção. Com as mesmas


considerações tomadas no caso da fenda, é possível obter a expressão para a posição dos
máximos de interferência:
λ ⋅L
ym =m com m = 0, ± 1, ± 2, ± 3, ... (5)
d

Note-se que o efeito da difracção


na fenda apresenta-se sob a
forma de uma envolvente em
torno do padrão de difracção
definido pela distância entre
fendas*.
Se o número de fendas for bastante grande, temos o que normalmente é designado por uma
rede de difracção (note-se que esta poderá ser constituída não por fendas mas por
elementos de fase com a mesma periodicidade das fendas). Neste caso, cada fenda produz
difracção, e cada um desses feixes difractados vai interferir com os outros de forma a criar o
padrão de difracção final. De forma equivalente às duas fendas podemos chegar à condição
para os máximos de interferência no padrão igual a (4), mas em que neste caso d
corresponde ao período da rede (distância entre fendas). A intensidade do padrão é neste
caso bastante distinta do caso das duas fendas, sendo que tipicamente cada ordem tem
largura muito fina, tanto mais fina quanto maior o número de fendas*.

*
ver capítulo 37.3, 37.4 e 38.2 do Seway & Jewett.

ÓPTICA ONDULATÓRIA DIFRACÇÃOE INTERFERÊNCIA Página 3 de 3

Você também pode gostar