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Manual de

Redação
Policial-Militar
Copyright © Paulo César Luz Nunes
(Professor de Língua Portuguesa da Academia de Polícia Militar da Bahia)

Solisluna Design e Editora


edição gráfica e design Enéas Guerra e Valéria Pergentino
projeto gráfico e editoração Rafael Casanova
assistente de editoração Elaine Quirelli

ilustrações Hamilton de Oliveira


fotografia Ieda Marques

N972m

Nunes, Paulo César Luz.

Manual de redação policial-militar: para comandantes, chefes, diretores, coordenadores,


secretários administrativos e auxiliares; instrutores e alunos dos cursos de formação e
aperfeiçoamento; estudantes e afins / Paulo César Luz Nunes. – Salvador-BA : O Autor, 2001.
224p. ; 12 il.

ISBN 85-902037-1-9 (broch.)


(Aprovado pelo Comando Geral da Polícia Militar do Estado da Bahia, conforme publicação no
Boletim Geral Ostensivo n. 219, de 13 de novembro de 2000, fls. 5632-3, sob a rubrica Projeto de
Manual de Redação da PMBA).

1. Redação oficial. 2. Língua Portuguesa - Gramática. I. Título.

CDD: 808.066

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida
– por qualquer meio ou processo, seja mecânico ou eletrônico, inclusive xerográfico,
fotográfico, microfilme, etc. – nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem
a expressa autorização do autor. Essas proibições se aplicam também às características gráficas
e ou editoriais (Lei n.º 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).

Críticas e sugestões a esta obra devem ser enviadas para:


pcesar@pmba.ba.gov.br
Paulo César Luz Nunes

Manual de
Redação
Policial-Militar

Para comandantes, chefes, diretores, coordenadores, secretários


administrativos e auxiliares; instrutores e alunos dos cursos de formação
e aperfeiçoamento; estudantes e afins.

Outubro de 2001, Salvador, Bahia


“Não pedimos fluência, elegância, nem limpeza,
mas um respeito aos limites mesmos da Língua,
além dos quais ela perde não apenas sua beleza
e seu sentimento, mas sua própria natureza. É um
mínimo de decência e de dignidade, na escrita,
sem o qual o pensamento mais profundo e a
idéia mais brilhante se tornam torpes e ridículos.”
Rubem Braga
“Com um sorriso freqüente nos lábios, ele
conquistou as inúmeras amizades que deixou.”
À memória do meu honrado, leal e eterno amigo,
Ten PM André Luís Freitas Mota.
Paulo César Luz Nunes
Agradecimentos

A Deus, por ter-me dado sabedoria e conhecimento para a realização


desta obra.

Aos meus pais, à Paula e aos seus familiares, por me sustentarem


com palavras e gestos de carinho, fazendo com que eu alcançasse
os meus ideais.

Aos Ex.mos Srs. Cel PM Christóvão Rios de Britto e Cel PM Jorge Luiz de
Souza Santos, pelo apoio e incentivo em prol do engrandecimento cultural
da Polícia Militar do Estado da Bahia.

À Comissão, presidida pelo Ten Cel PM Jorge da Silva Ramos, que, com
zelo e competência, avaliou este Manual, reputando-o por trabalho
técnico-profissional.

Aos oficiais, praças e amigos civis que, por qualquer meio ou forma,
contribuíram para a realização desta primeira edição.

Um singular agradecimento aos companheiros da Corregedoria da


PMBA e, em especial, ao 1º Ten PM Luciano Nery da Silva e ao Sd 1ª Cl
PM Décio Amorim Pimentel, pela efetiva participação na concretização
deste trabalho.

Paulo César Luz Nunes


Manual de Redação Policial-Militar

Sumário

APRESENTAÇÃO 15

ABREVIATURAS, SINAIS CONVENCIONAIS E SIMILARES 16

primeira parte
A REDAÇÃO OFICIAL 19

I Redação oficial 19
II Estudando o ofício 25
III Outros documentos 53

segunda parte
GRAMÁTICA APLICADA À REDAÇÃO POLICIAL-MILITAR 69

IV Emprego dos pronomes de tratamento 69


V Estudando as abreviaturas 81
VI Tira-dúvidas de expressões castrenses 109
VII Expresões latinas 131
VIII Expressões que confundem 145
IX Exercitando os seus conhecimentos 183
X Breve comentário à canção Força Invicta 187
XI Conferindo o exercício 191

terceira parte
TEXTOS OFICIAIS DA ORTOGRAFIA 195

BIBLIOGRAFIA 221
Prefácio
Paulo César, o Gramático!
Paulo César Luz Nunes é uma dessas raras pessoas que combinam, em
sua personalidade, sensibilidade e competência. A equanimidade com
que modela suas decisões fundamentais, e a determinação de realizar
sempre o que lhe parece justo e plausível destacam-se, de pronto, como
qualidades expressivas desse jovem professor.
Ainda aluno, adotava o comportamento de não permanecer refém de
dúvidas, buscando sempre, nos intervalos, dirimi-las, de todo, com o velho
mestre, provavelmente um tanto exausto. Mas persistia.
O olhar atento, acompanhado por um leve sorriso de satisfação quando
lograva entender o assunto, traçava sempre, a meus olhos, a figura do
aprendiz apaixonado pela matéria. Esplêndido aprendiz!
Na minha intuição quase matemática, poderia apostar que ali nascia um
novo e grande amante da Língua Portuguesa, a nossa “última flor do
Lácio inculta e bela”. Não me enganei. E, mais que isso, alguns anos depois,
reencontro-o, compenetrado, dando-me notícias das suas incursões nas
salas de aula. Paulo César, agora, professor de Português, demonstrava
singular talento, ao transmitir aos seus alunos tudo que aprendera pelo
seu grande esforço e vontade.
Reaparece-me agora com nova surpresa. É o Manual de Redação Policial-
Militar, de sua autoria. Trabalho minucioso, fôlego de pesquisador, disciplina
estóica de quem se revela sempre um apaixonado das Letras. Descobriu
uma lacuna ponderável no seu segmento profissional – quer seja o estudo
do Português e sua aplicação específica na área militar – e tratou de
preenchê-la com invulgar competência. Resultado: um completo manual
destinado a um público-alvo que certamente fará dele uma verdadeira
referência para as suas consultas.
O Manual mapeia todos os assuntos de interesse da classe, oferecendo-
se – hierarquia à parte – a expectativas iguais. Em linguagem objetiva e
clara, traça um roteiro preciso que vai do ensino da Redação Oficial,
com todos os capítulos decorrentes, à Gramática aplicada à Redação
Policial-Militar. Tudo feito com dedicação e esmero. Um grande presente
para todos os seus pares.
Tecnicamente, perfeito; no que tange à demanda, oportuno.
O Manual de Redação Policial-Militar de Paulo César Nunes, com certeza,
vai figurar no elenco das melhores contribuições à Língua Portuguesa
ofertadas por um seu verdadeiro Professor.
Salvador, maio de 2001.

Jorge Portugal
Conselheiro Cultural do Estado da Bahia;
professor de Língua Portuguesa e Redação; compositor.
Apresentação

Este Manual é fruto de um trabalho minucioso, amadurecido


ao longo dos anos pelos estudos e pesquisas ligados à área da
comunicação verbal, principalmente na atividade de revisão dos mais
variados textos produzidos pela Polícia Militar do Estado da Bahia.

Incorporando o espírito do revisor gramatical e atendendo à solicitação


de amigos e companheiros de profissão, apresentamos e discutimos
alguns deslizes redacionais, nos quais incorremos a todo o momento –
basta escrevermos um bilhete simples para que isso ocorra –,
solucionamos questões controversas do dia-a-dia castrense,
padronizamos alguns tipos de documentos, indicamos as melhores
formas de desenvolvê-los, e muito mais.

Escrito numa linguagem simples, com uma narrativa contínua e envolvente,


o Manual se destina aos policias militares de todos os níveis hierárquicos,
bem como a todos aqueles que estimam e cultuam as letras. Transpõe,
assim, os muros dos quartéis, estendendo-se também ao público civil.

Para facilitar a compreensão, dividimo-lo em três partes: tratamos da


redação oficial na parte primeira, definindo-a e situando, nesse contexto,
a correspondência policial-militar, partindo-se, daí, para o estudo e
padronização de alguns documentos castrenses. Na segunda, aplicamos,
na expressão escrita dos integrantes da PM, as normas gramaticais vigentes.
Na última parte reunimos, para efeito de complementação, textos oficiais
da nossa Ortografia.

Esperamos que este trabalho corresponda às expectativas, servindo de


guia prático para consultas futuras, uniformizando procedimentos e
contribuindo, conseqüentemente, para a melhoria da qualidade do serviço
que prestamos à sociedade.

O Autor
Abreviaturas,sinaisconvencionais
esimilares1

§ ibid.
parágrafo ibidem (no mesmo lugar)
adv. id.
advérbio idem (o mesmo)
agl. id. ibid.
aglutinação idem ibidem (o mesmo, no mesmo
lugar)
atual.
atualizada (a edição) i. é,
isto é
C 21 – 30
Manual de Abreviaturas, IG 10 – 42
Símbolos e Convenções Instruções Gerais para
Cartográficas do Exército Correspondência, Publicações e Atos
Normativos no Ministério do Exército
cf. (atualizadas até 1996)
confronte, compare, confira
IG 10 – 42 revogadas
conj. Instruções Gerais para
conjunção Correspondência no Ministério
ed. do Exército (1975)
edição interj.
I – 7 – PM interjeição
Instruções para a Correspondência na loc. cit.
Polícia Militar do Estado de São Paulo loco citato (no lugar citado)
Manual da Presidência pres. ind.
Manual de Redação da presente do indicativo
Presidência da República
pron.
NGB pronome
Nomenclatura Gramatical Brasileira
rev. e ampl.
OM revista e ampliada (a edição de
Organização Militar um livro)
op. cit. RDPM
opus citatum (obra citada) Regulamento Disciplinar
da Polícia Militar
OPM
Organização Policial-Militar reimp.
reimpresso, reimpressa
p.
página seq.
sequentia (seguinte ou o que
p. ex. se segue)
por exemplo
s. f. comp.
perf. do ind. substantivo feminino composto
perfeito do indicativo
s.m.
PMBA substantivo masculino
Polícia Militar do Estado da Bahia
v.
prep. ver, vide, verbo
preposição

1
Algumas dessas abreviaturas já constam no tópico “Outras abreviaturas empregadas na Corporação”,
mas achamos conveniente apresentá-las logo, para facilitar a compreensão dos tópicos anteriores.
A Redação Oficial

Redação
I Oficial

A redação literária e a redação técnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21


O que é redação técnica
A comunicação oficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
A redação oficial
A correspondência militar
A correspondência policial-militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Alguns documentos utilizados na Polícia Militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Manual de Redação Policial-Militar 21

A redação literária e a redação técnica


Redigir é exercitar o pensamento; assim, exercitamo-lo das mais variadas
formas, exprimindo nossas impressões e desenvolvendo as nossas idéias.
Essas idéias são desenvolvidas, a rigor, por intermédio dos três principais
gêneros de composição em prosa: a descrição, a narração e a dissertação.
Essa é a classificação clássica, a qual valoriza o feitio artístico da composição,
também conhecida por redação literária.
Contudo, embora as imagens estilísticas melhor se adequem à criação
artístico-literária, redação há que repousa na objetividade da linguagem,
a que chamamos de redação técnica.

O que é redação técnica


Nada melhor do que a definição de Margaret Norgaard: “Redação técnica
é qualquer espécie de linguagem escrita que trate de fatos ou assuntos
técnicos ou científicos, e cujo estilo não deve ser diferente de outros
tipos de composição. A redação técnica é necessariamente objetiva
quanto a ponto de vista, mas uma objetividade completamente
desapaixonada torna o trabalho de leitura penoso e enfadonho por levar
o autor a apresentar os fatos em linguagem descolorida, sem a marca da
sua personalidade. Opiniões pessoais, experiência pessoal, crenças, filosofia
de vida e deduções são necessariamente subjetivas, não obstante
constituírem parte integrante de qualquer redação técnica meritória.”
(citado por Júnior3: 19)
Othon M. Garcia4 arremata: “(...) toda composição que deixe em segundo
plano o feitio artístico da frase, preocupando-se de preferência com a
objetividade, a eficácia e a exatidão da comunicação, pode ser considerada
como redação técnica. Nesse caso, a redação oficial, a correspondência
comercial e bancária, os papéis e documentos notariais e forenses
constituem redação técnica.”

3
Cf. JÚNIOR, Edgard de Brito Chaves. Modelos de redação oficial: para funcionários públicos, advogados,
despachantes, etc. Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1979. p. 19.
4
Cf. GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. 17. ed. reimp. Rio de Janeiro, Fundação
Getúlio Vargas, 1998. p. 386.
22 A Redação Oficial

A comunicação oficial
A comunicação oficial é aquela que advém dos órgãos da administração
pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, constituindo um
conjunto de normas regedoras da comunicação escrita. O redator desse
tipo de comunicação deve preocupar-se mais com o estilo oficial do que
com o seu próprio estilo, haja vista a impessoalidade da redação, a sua
formalidade, concisão e clareza, conforme veremos no capítulo seguinte
(v. “O texto”).

A redação oficial
A redação oficial, portanto, é o mecanismo por meio do qual funciona a
comunicação oficial escrita, dando-lhe forma específica; é o modo de redigir
uma correspondência, dentro dos cânones estabelecidos pelo Manual de
Redação da Presidência da República e pelas regras gramaticais vigentes.
Foi com a edição do Decreto n.º 100.000, de 11 de janeiro de 1991,
que o Presidente da República autorizou a criação de uma comissão
para rever, atualizar, uniformizar e simplificar as normas de redação de
atos e comunicações oficiais, no âmbito federal, inclusive aqueles
praticados no Exército, daí surgindo, após o período de uma “gestação”,
o Manual da Presidência.
Editado, foram as regras do mencionado Manual consolidadas por meio
da Instrução Normativa n.º 4, de 6 de março de 1992, que tornou obrigatória
a sua observação pelos órgãos componentes da Administração Federal.

A correspondência militar
A correspondência militar é o tipo de comunicação oficial peculiar às
forças militares da União. Apresenta algumas especificidades, porém não
deve opor-se aos preceitos normativos elencados no Manual da Presidência.
Até antes da edição do Manual da Presidência, no que se refere ao
Exército Brasileiro, vigoravam as Instruções Gerais para a Correspondência
no Ministério do Exército (IG 10-42), editadas no ano de 1975, três anos
após a publicação das Normas sobre Correspondência, Comunicação e
Atos Oficiais, do Ministério da Educação e Cultura (1972).
Manual de Redação Policial-Militar 23

As IG 10-42 estribaram-se no texto normativo do Ministério da Educação,


nas normas estabelecidas pelas Circulares de n.os 13/44, de 28 de outubro
de 1944; 18/46, de 5 de julho de 1946; e 7/69, de 9 de dezembro de
1969; a segunda circular, proveniente da Secretaria da Presidência da
República; as restantes, do Gabinete Civil, além de tantas outras que
visavam a padronizar a comunicação oficial brasileira.
Entretanto, com o surgimento do Manual da Presidência, as IG 10-42
foram atualizadas, por intermédio da Portaria n.º 433, de 24 de agosto
de 1994, revogando, expressamente, as instruções anteriores.
Nesse sentido, alguns ajustes foram feitos, porém nem tudo estabelecido
no Manual da Presidência foi adotado pelas atuais IG 10-42, a exemplo
do modelo de ofício, que permaneceu com a antiga estrutura, conforme
veremos mais adiante (v. “Estudando o Ofício”).

A correspondência policial-militar
Força auxiliar e reserva do Exército, nos termos do §6º do art.144 da
vigente Constituição Federal brasileira5 , a PMBA, a qual será o referencial
de estudo neste trabalho, é alcançada, no que couber, pelas IG 10-42,
embora, para alguns, tais instruções não mais tenham vinculação com a
Corporação, isto por força do caput do art. 42 da Carta Magna, com a
nova redação dada pela Emenda Constitucional n.º 18, de 5 de fevereiro
de 19986 .
Ocorre, porém, consoante visto anteriormente, que as IG 10-42 não
estão perfeitamente ajustadas no cenário da comunicação oficial brasileira,
o que nos faz concluir que as normas de correspondência, dentro da
Polícia Militar, também estão carentes de uma uniformidade, necessitando
sejam amoldadas ao padrão estatuído pelo Manual da Presidência,

5
Cf. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Obra
coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto e Márcia Cristina Vaz dos
Santos Windt. 20 ed. atual. e ampl. São Paulo, Saraiva, 1998. p. 83:
“§6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reservas do Exército,
subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios.”
6
Ibid., p.40:
“Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas
com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”
24 A Redação Oficial

acrescidas de alguns senões, referentes às nossas singularidades – que


são as particularidades adstritas à vivência militar.
Esta, pois, é a razão de ser do Manual de Redação Policial-Militar:
padronizar normas de comunicação oficial no âmbito castrense.

Alguns documentos utilizados na Polícia Militar


A padronização a que nos referimos diz respeito, notadamente, à
confecção de alguns documentos utilizados em larga escala nos quartéis,
os quais mais parecem uma colcha de retalhos, em razão de que um
determinado expediente, oriundo de uma Unidade X, nunca, ou quase
nunca, é igual, na forma e estrutura, àquele confeccionado na unidade Y,
que, por sua vez, também apresenta patente discordância ao elaborado
na unidade Z.
O campeão de modelos divergentes é, com certeza, o ofício.
Em recente pesquisa por nós efetuada, analisamos ofícios de diversas
unidades da atividade fim (operacionais), inclusive as do interior do Estado
baiano, assim como algumas da atividade meio (administrativas) – cujo
teor do documento tratava de apresentação de policial militar –, que
nos propiciou chegar, acreditem, à seguinte conclusão: nenhum ofício se
igualou, na forma e estrutura, a algum outro; nem mesmo o acaso
colaborou. Não fossem os dizeres: “Polícia Militar da Bahia”, acreditaríamos
que cada expediente pertencia a uma polícia diferente.
Essa é a razão por que dedicamos um capítulo exclusivo para o estudo
do ofício. A sua compreensão também servirá para entendermos os
demais documentos abordados neste Manual, a saber, o memorando, o
fax e a portaria (v. “Outros Documentos”), como também a tantos outros
aqui não referidos, em virtude de que, no ofício, constam preceitos gerais
da maior relevância, necessários à uniformização da comunicação oficial.
A Redação Oficial

Estudando
I oofício

Linhas gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 A assinatura e a identificação


do signatário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
parte I
O substituto interino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
O timbre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
O substituto que responde
A numeração do documento . . . . . . . . . . . 29
pelo comando, chefia, direção
O local e a data . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 ou coordenação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
O vocativo Assinatura por delegação
parte II Assinatura no impedimento . . . . . . . . . . . . . 43
O texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 O destinatário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Quanto à mensagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Quanto ao estilo O cabeçalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
Quanto ao tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 O assunto
Quanto à forma A referência
Desdobramento do parágrafo . . . . . . . . . . . 35 O anexo
Outras peculiaridades do texto . . . . . . . . . 36 O slogan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48
parte III O endereço no rodapé
O fecho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 A distribuição
Por que o fecho vem seguido O grupo indicador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
por vírgula? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
O modelo do ofício padrão . . . . . . . . . . . . . 50
Manual de Redação Policial-Militar 27

Linhas gerais
Didaticamente, para estudarmos a forma e estrutura do ofício, dividimo-
lo em três partes, a saber:
parte I – que compreende o timbre, a numeração, o local e a data, e o
vocativo;
parte II – que é o texto propriamente dito;
parte III – compreendendo o fecho, a assinatura e identificação do signatário,
e o destinatário.

parte I

O timbre
O timbre caracteriza o papel. Desta forma, não teremos mais um papel
qualquer. Trata-se do papel timbrado. Vem centrado no alto da folha,
composto pelo brasão institucional da PM local7 e pelos dizeres “Polícia
Militar do Estado Tal”, acrescidos da organização policial-militar (OPM)
expedidora. Às vezes, também compõem o timbre o endereço, o número
de telefone, fax ou telex e até nomenclatura para telegrama. Na PMBA
– utilizada em nossos exemplos –, esses acessórios do timbre vêm,
seguindo a tendência das cartas comerciais, no rodapé do papel, separados
por um filete horizontal.
É importante ressaltar que o Manual da Presidência da República não faz
qualquer tipo de referência ao timbre do papel, tanto no ofício, quantos
nos demais documentos, a exemplo do memorando e da portaria. No
entanto, é o papel timbrado que caracteriza a oficialidade do documento.
A omissão do Manual da Presidência implica a manutenção da regra
constante na Instrução Normativa n.º 83, de 3 abril de 1978, no anexo I

7
Em alguns órgãos públicos baianos, como a Polícia Civil, o timbre é composto tão-somente pelo brasão
do Estado, seguido dos dizeres do órgão correspondente. Na PMBA, por tradição, usa-se o seu brasão
institucional, em detrimento do brasão do Estado da Bahia.
Na sua história, o brasão institucional da PMBA passou por algumas modificações evolutivas. Com
efeito, o atual aperfeiçoamento gráfico do brasão foi desenvolvido a partir dos seus princípios heráldicos;
totalmente redesenhado, tornando-se uma forma única, limpa e clara nos seus detalhes, apta para o uso
adequado em computação gráfica e aplicações diversas, de uso exclusivo e padronizado pela Polícia Militar
da Bahia.
28 A Redação Oficial

de timbres padronizados8 , que também é utilizada, de maneira análoga,


no serviço público estadual.
Partindo-se do formato do papel, que deve ser do tamanho “A-4” (29,7
x 21 cm)9 , tem-se a margem esquerda a 2,5 cm ou dez toques da borda
esquerda do papel, e a margem direita a 1,5 cm ou seis toques da borda
direita do papel. O brasão da PMBA (que deve ter 2,5 cm de diâmetro)
deverá estar centrado10 , a 1,5 cm ou seis toques da margem superior do
papel (de acordo com as IG 10-4211 ), com os dizeres apostos logo abaixo,
em caixa alta, a 0,6 cm da borda inferior do brasão, também centralizado.
Um fato interessante são os brasões como, p. ex., o da Academia de
Polícia Militar da Bahia (APM), além das logomarcas e dos signos de
batalhões e companhias independentes, os quais são utilizados quando
da confecção de alguns documentos, a exemplo do ofício. Muitas vezes,
esses brasões, logomarcas e signos compõem o próprio timbre, ou vêm
ao lado do brasão da PMBA, ou abaixo dele.
Recomendamos o uso do brasão da PM, tão-somente, quando o ofício
se destinar a um órgão externo, público ou privado, em razão de que é
esse o brasão institucional representativo da Corporação. É a sua
identidade, que não pode ser perdida ou preterida por um festival de
designers, dos mais variados, que acabam confundindo o seu destinatário.
Papel timbrado é o papel oficial, é o meio por que se fala em nome do
órgão Polícia Militar.
No entanto, quando a correspondência for interna, i. é, dentro da própria
Polícia Militar, nada obsta que se use, em assim querendo, o brasão, a
logomarca ou o signo característico da unidade (e tão-só) na composição
do timbre; nunca, porém, estes associados ao brasão da PM, num mesmo
documento, como já observamos nos expedientes de algumas OPMs.

8
Cf. COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS. Subcomissão de Política Editorial e
Normalização. Editoração de publicações oficiais. Brasília, Departamento de Imprensa Nacional, 1987. p.123
9
Esse tamanho, juntamente com o formato “A-5” do memorando (14,8 x 21 cm), foi introduzido no
Brasil em 1970, por meio da Instrução Normativa DFC/1-70.
10
É comum verificarmos, na maioria dos ofícios expedidos dentro da Polícia Militar, que o brasão da PM
vem localizado à esquerda do papel, e não ao centro; porém, conforme a Instrução Normativa n. 83, o
brasão vem à esquerda quando se tratar de memorando.
11
Cf. BRASIL. Ministério do Exército. Instruções gerais para correspondência, publicações e atos normativos no
Ministério do Exército: Portaria n. 433, de 24 de agosto de 1994. 1. ed. 1994 (atual. até 29 de fevereiro de
1996). IG 10-42. p. 73.
Manual de Redação Policial-Militar 29

A numeração do documento
A numeração do documento, conhecida por índice na redação comercial,
também constitui um grande problema nos ofícios castrenses. Não existe
uma sintonia entre as unidades, no que toca à sua padronização, conquanto
o Manual da Presidência seja bastante claro, citando apenas o tipo do
documento, no caso o ofício (escrito por extenso, embora as IG 10 4212
grafem abreviadamente Of – sem ponto), seguido da abreviatura de
número (n.º) mais a numeração (geralmente com três dígitos) e a sigla
do órgão expedidor, este separado por uma barra inclinada (/). Deve
estar situado, horizontalmente, no início da margem esquerda (a 2,5 cm
ou dez toques da borda do papel) e eqüidistante, verticalmente, de 5,5
cm ou de seis espaços duplos (“espaço dois”) de sua borda superior,
assim devendo ser grafado:
a. Ofício n.º 001/DA (Ofício n. 001, expedido pelo Departamento
de Administração).
b. Ofício n.º 222/UAAF (Ofício n.º 222, expedido pela Unidade de
Apoio Administrativo Financeiro 13 de um batalhão da Região
Metropolitana de Salvador).
Obs.: Se o ofício for circular, essa indicação deve ser assinalada em seguida à numeração, em
caixa alta (maiúsculas)14 : Ofício n.º 001/DA – CIRCULAR / Ofício n.º 222/UAAF – CIRCULAR.
As IG 10-4215 assim se pronunciam a respeito:
“Art. 45 – Para cada tipo de correspondência (...) é adotada uma
numeração seguindo a ordem natural dos números inteiros, iniciada a 1º
de janeiro de cada ano e encerrada a 31 de dezembro.
Art. 46 – Após a numeração, seguem-se um traço horizontal e a sigla da seção,
repartição, divisão ou gabinete no qual o expediente foi estudado e elaborado.”
Nota-se uma semelhança com o prescrito pelo Manual da Presidência,
salvo o traço horizontal, que fica entre o número e a sigla. Segundo o
Manual, usa-se uma barra.

12
ibid., p.48.
13
Segundo a nova organização estrutural e funcional da PMBA, Decreto n.º 7.796, de 28 de abril de
2000.
14
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 47.
15
ibid. p.19.
30 A Redação Oficial

No entanto, a maioria dos ofícios é numerada conforme o antigo modelo


da PM paulistana, i. é, com a sigla do órgão expedidor do documento
antecedendo os números, bem como se procedendo a grafia dos dois
últimos algarismos do ano em que foi confeccionado, fato este que
contraria a recomendação do Manual da Presidência. Às vezes, até o
mês da confecção é referenciado, senão vejamos o que diziam as antigas
I – 7 – PM16 , de São Paulo:
“Artigo 44 – A correspondência da Polícia Militar é identificada pelo
conjunto de identificação composto de:
designação do tipo de documento, seguida da abreviatura de número (n.º);
sigla da OPM, seguida de traço;
numeração do documento, seguida de barra ( / );
prefixo numérico identificador da fração e subfração da OPM que
elaborou o documento;
os dois últimos algarismos referentes ao ano em que foi elaborado, depois
de uma barra.”
É fácil perceber que constitui uma redundância a referência à sigla da
OPM e a indicação do ano ou do mês de elaboração do ofício na
numeração, em face de que no próprio timbre do papel já consta a
identificação do órgão signatário, assim como o local e a data já têm um
local específico para serem referenciados, consoante veremos mais adiante,
não havendo qualquer necessidade de sua repetição.
Em algumas unidades, como a Corregedoria da PMBA, além da numeração
normal, também há a necessidade de acostar-se o Registro de
Corregedoria Geral (RCG), que acompanha a história de determinado
processo ou documento. Nesse caso, o RCG seguirá após a numeração
ordinária, separado por um traço horizontal:
– Ofício n.º 123-4567-99/99/SA (Ofício n.º 123, com referência
ao RCG n.º 4567-99/99, produzido pela Seção Administrativa da Corregedoria).

16
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Instruções para correspondência na Polícia
Militar. Aprovadas pelo Decreto n.º 1EM/PM-283/02, de 20 de maio de 1980, e publicadas no Boletim
Geral n.º 31/81. 3. ed. São Paulo, 1982. I-7-PM. p. 21. Ressalte-se que essas instruções foram atualizadas,
conforme o Boletim Geral n.º 116, da PMESP, de 22 de julho de 1993.
Manual de Redação Policial-Militar 31

O local e a data
O local e a data são elementos fundamentais da “certidão de nascimento” do
expediente, correspondendo ao momento em que o ofício foi confeccionado e
assinado, convindo que se usem por extenso todos os elementos desse tópico.
O término da data deve coincidir com a margem direita e, verticalmente,
deve estar a 6,5 cm ou sete espaços duplos (“espaço dois”) da margem
superior do papel:
Salvador, 25 de janeiro de 1973.
Há, pois, três observações a serem feitas:
a. O mês é grafado com a letra inicial minúscula17, apesar de nome próprio;
b. Depois da menção ao local e à data, usamos o ponto-final, por se
tratar de oração cujo verbo aí se oculta (embora alguns acreditem que o
ponto-final se dá em virtude de existir uma frase nominal, i. é, sem verbo);
c. O nome da cidade de origem não precisa ser seguido pela sigla do seu
Estado. Esse nome, entretanto, poderá ser omitido, se já vier especificado
no timbre do papel.

O vocativo
Segundo Celso Cunha18 , os vocativos “servem apenas para invocar, chamar
ou nomear, com ênfase maior ou menor, uma pessoa ou coisa personificada”.
Daí porque também denominamos esta parte do ofício de invocação19 .
Invocando-se o destinatário, empregar-se-á o pronome de tratamento
(v. “As formas de tratamento”) equivalente ao seu cargo ou função,
por extenso – evite abreviá-lo (use Senhor em vez de Sr., p. ex.) –,
devendo o vocativo estar situado a 10 cm ou dez espaços duplos da

17
Cf. ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. 32. ed. Rio de
Janeiro, José Olympio, 1994. p. 460; nessa obra, o Prof. Rocha Lima reúne quatro exemplos clássicos, da
lavra de Olavo Bilac e Euclides da Cunha, na referência às datas, onde o nome dos meses estão grafados,
invariavelmente, com letra minúscula. Cf., também, o Formulário Ortográfico de 1943, constante no
Capítulo XII deste Manual, na observação do 3.º caso do item 49.
18
Cf. CUNHA, Celso Ferreira da. e Luís F. Lindley Cintra. Nova gramática do Português contemporâneo. 2.
ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985. p. 156.
19
Essa era a forma empregada no antigo Manual de Correspondência, in: BRASIL. Ministério da Educação
e Cultura. Secretaria de Apoio Administrativo. Normas sobre correspondência, comunicação e atos oficiais.
Rio de Janeiro, 1972.
32 A Redação Oficial

borda superior do papel e, horizontalmente, com avanço de parágrafo


(2,5 cm ou dez toques).
Quanto à pontuação, o Manual da Presidência refere-se apenas ao
emprego da vírgula 20 que, gramaticalmente, caracteriza o vocativo:
“Soldado, qual o seu nome?” Como neste exemplo, quando se trata da
mesma linha, depois do vocativo (soldado), escrevemos, evidentemente,
a palavra em minúscula (qual); o vocativo no ofício, porém, é especial,
porque – embora seja seguido por palavra com inicial maiúscula e na
linha seguinte – ele é parte integrante do corpo do texto, o que explica
o emprego da vírgula:
a. Excelentíssimo Senhor Governador do Estado(,)
No entanto, há, nos livros especializados de redação empresarial, além
da vírgula, três maneiras de pontuação no vocativo: com os dois-pontos21
(que foram usados na área federal até 1992, quando se privilegiou a
vírgula, com o advento do Manual de Redação da Presidência da
República); com ponto-final; ou desprovido de qualquer sinal de
pontuação22 , sendo mais raros estes dois últimos casos; até a exclamação
teria algum sentido:
b. Senhora Secretária da Segurança Pública(:)
c. Senhor Chefe da Casa Militar do Governador(.)
d. Senhor Comandante Geral(!)

parte II

O texto
O texto corresponde à alma do ofício. É a sua essência, sem a qual não
haveria o porquê de confeccioná-lo. Deve-se ter muita atenção, quando
de sua produção, em razão de que um texto mal redigido implica a não-
compreensão por parte de seu decodificador, o destinatário do

20
Cf. BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República. Brasília, Imprensa
Nacional, 1991. p. 28.
21
Cf. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, op. cit., p. 195.
22
Cf. JÚNIOR, op. cit., p. 111.
Manual de Redação Policial-Militar 33

documento. Este, não o decodificando, ou o fazendo de modo imperfeito,


acaba por ocasionar a conhecida solução de continuidade, i. é, a paralisação
da comunicação, como também provoca pedidos indeferidos, mal-
entendidos entre comandantes, chefes, diretores ou coordenadores,
prejuízos econômicos, pareceres e julgamentos equívocos, dentre outros.
Não compreendido, também se transforma o texto num empecilho à
Administração, de vez que quanto mais eficaz é a comunicação, menos
moroso é o seu resultado. Desta forma, para evitar tal óbice ao serviço
público, é necessário observarmos alguns princípios da redação
de correspondência:

Quanto à mensagem
Significa dizer que para se transmitir uma mensagem não interessa apenas
o seu conteúdo (aquilo o que se quer dizer), mais igualmente a maneira
(como isso será dito). Para tanto, deve-se estudar o destinatário,
qualificando-o dentro do organismo público ou privado. Às vezes, um
texto oficial é mais formal; outro, menos formal. Tudo depende de com
quem estamos nos correspondendo.

Quanto ao estilo
É a linguagem culta, bem cuidada. Os deslizes gramaticais devem ser
evitados ao máximo; mormente os indesejáveis vícios de linguagem: os
solecismos, barbarismos, os cacófatos, os clichês, as frases de arrastão e
as labirínticas, etc.
As IG 10-42 revogadas23 nos deram uma sucinta e boa visão do princípio estilístico:
“Art. 30 – A redação oficial (...) deve considerar os seguintes aspectos:
correção gramatical – indispensável à análise do documento;
clareza – necessária ao seu perfeito entendimento;
sobriedade – redação simples, sem ser vulgar;
precisão – emprego exato dos vocábulos, para evitar diferentes interpretações;

23
Cf. BRASIL. Ministério do Exército. Instruções gerais para correspondência no Ministério do Exército: Portaria
Ministerial n. 323, de 14 de março de 1975. 1. ed. 1975. IG 10-42. p. 16.
34 A Redação Oficial

impessoalidade – interesse do serviço acima das opiniões pessoais;”


Além dos princípios acima descritos, temos, também, os seguintes:
unidade – implica fixar-se numa única idéia central;
concisão – consiste no emprego de palavras básicas, simples; construções
fáceis, com frases curtas e diretas, eliminando-se palavras e assuntos
supérfluos, possibilitando ao leitor uma perfeita compreensão do texto;
coerência – desenvolver e coordenar o assunto logicamente, de maneira
a facilitar sua interpretação pelo receptor;
integridade – consiste em apresentar documento que necessite apenas
da aprovação e assinatura do comandante, chefe, diretor ou coordenador
de uma OPM, para torná-lo completo.

Quanto ao tratamento
Nas comunicações oficiais, conseqüentemente, nas correspondências por
meio de ofício, o tratamento é revestido de toda uma formalidade,
indisponível no trato público, i. é, os signatários dos órgãos não podem
dispor, dispensar o tratamento devido a uma determinada autoridade.
O grau de respeitabilidade deve ser mantido, tanto na maneira com que
nos dirigimos ao decodificador, como no correto emprego dos pronomes
de tratamento, capítulo que analisaremos mais adiante (v. “Emprego dos
pronomes de tratamento”).

Quanto à forma
Avanço de parágrafos do texto – equivalente a 2,5 cm ou dez toques; o
texto inicia a 1,5 cm ou a três espaços simples do vocativo, sendo que o
espaço entre os parágrafos do texto é de 1 cm ou um espaço duplo
(“espaço dois”).
No texto, salvo o primeiro parágrafo e o fecho24 , todos os parágrafos
devem ser numerados, em algarismos arábicos – numeração cardinal –,
seguindo-se, se preciso for, do seu fracionamento, visando a possibilitar a

24
As IG 10-42, entretanto, contemplam a numeração do primeiro parágrafo (cf. BRASIL. Ministério do
Exército, op.cit.,p 48.
Manual de Redação Policial-Militar 35

subdivisão e discriminação das partes de um todo sempre que houver


necessidade. Essa numeração segue o padrão da redação técnica.
Os números dos parágrafos devem estar localizados no início da margem
esquerda. Infelizmente, essa regra é pouco difundida nas OPMs.
Dos parágrafos, surge o seguinte desdobramento:

Desdobramento do parágrafo
Subparágrafos
a. São divisões do parágrafo, indicados por letras minúsculas, seguidas de
ponto: a., b., c., etc.;
b. Cada subparágrafo poderá ter um título, redigido em letras minúsculas
(exceto a primeira letra que deve ser maiúscula), devendo ser sublinhado.
Alíneas
a. São as subdivisões dos parágrafos:
Alíneas numéricas – indicadas por algarismos arábicos, seguidos de
sinal de fechar parênteses: 1), 2), etc.;
Alíneas alfabéticas – indicadas por letras minúsculas, seguidas de sinal
de fechar parênteses: a), b), etc.
b. As alíneas poderão receber títulos, quando necessários, redigidos em
letras minúsculas, à exceção da primeira letra, que será maiúscula.
Itens
a. São as subdivisões das alíneas alfabéticas, sendo de duas espécies:
Itens numéricos – indicados por algarismos arábicos, entre parênteses:
(1), (2), etc.;
Itens alfabéticos – indicados por letras minúsculas, entre parênteses.
b. Os itens poderão receber títulos, se preciso for.
Subitens
a. Subitens são as disposições do alfabeto, em duas espécies:
Subitem de transição – indicado pelo sinal de transição;
Subitem de ponto – indicado pelo sinal de ponto.
36 A Redação Oficial

b. Os subitens poderão receber títulos, quando necessários.

Obs.: Os documentos, digitados em espaço duplo (1 cm), entre linhas e textos, duplicarão
o espaço, quando passarem de uma divisão ou subdivisão para outra.

Assim fica a disposição gráfica do desdobramento:


1. (parágrafo)
a. (subparágrafo)
1) (alínea numérica)
a) (alínea alfabética)
(1) (item numérico)
(a) (item alfabético)

Outras peculiaridades do texto


a. O uso de chavões, clichês e frases feitas deve ser evitado, principalmente
no início do texto. Descarte frases como25 : “Vimos, pelo presente, solicitar...”,
“Damos ciência a todos...”, “ Vimos, através desta, informar...”. Prefira as formas:
solicitamos, informamos, comunicamos, enviamos, recomendamos, etc.
b. Com base no Manual da Presidência26 e nas IG 10-4227 , a partir da
segunda página do texto do ofício e em todas as páginas seguintes, no
alto da folha, a 1 cm da margem superior e junto à margem esquerda,
deve ser digitada a abreviatura de folha (fl.)28 seguido do seu número; a
palavra ofício, antecedida pela preposição “do”, seguido de sua numeração
e a data, esta isolada por vírgula. Assim:
fl.29 002 do Of. n.º 001/DP, de 25.01.7330

25
Exemplos extraídos da Portaria CGC/021/09/91, publicada no BGO n. 177, de 20. Set. 1991.
26
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 29.
27
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 73.
28
O Manual da Presidência não usa a abreviatura de folha (fl.), e sim uma convenção, com a letra “f’
maiúscula: “Fl.” Cf. BRASIL. Presidência da República, loc. cit.
29
Veja que, contrariamente ao constante no modelo do Manual da Presidência, preferimos manter a
expressão “fl.” no singular. Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 43.
30
Atenção para a grafia da data, neste exemplo. Os dias são escritos com dois algarismos arábicos, seguidos
dos algarismos que correspondem ao mês e ao ano, tudo separado por ponto. Cf.: BRASIL. Presidência
da República, loc.cit.
Manual de Redação Policial-Militar 37

c. Ao transcrevermos qualquer texto de lei, regulamento ou documento,


conforme o disposto nas IG 10-4231 , devemos iniciar a primeira linha da
transcrição com o sinal de aspas, logo após ser deixado o espaço vertical
de 1 cm ou um espaço duplo do corpo do texto, para destacá-lo. Essa
primeira linha virá a 6,5 cm da borda esquerda do papel, mantendo-se
essa margem para as linhas seguintes, sendo que a margem direita deverá
ser igual a do corpo do ofício (1,5 cm). No curso dessa transcrição, os
artigos, parágrafos e alíneas desnecessários devem ser substituídos por
uma linha pontilhada e, ao seu término, utilizamos o sinal de aspas,
seguindo-se, novamente, um espaço vertical de 1 cm ou um espaço
duplo, antes de continuar o texto. Atenção: como vimos, não é necessário
que a transcrição esteja em itálico.
d. Nas citações de ato normativo conhecido por nome específico, este
virá apresentado claramente, devendo a numeração e a data figurar entre
parênteses: Estatuto dos Policiais Militares (Lei Estadual n.º 3.933, de 6 de
novembro de 1981)32 .

parte III

O fecho
O fecho dos mais variados documentos sofreu, ao longo dos tempos,
profundas transformações; antes, demasiadamente longos; hoje,
constituídos de uma só palavra; o bastante, certamente, já que a intenção
do fecho é o arremate do texto e a saudação final ao destinatário. Se for
esse o desiderato, o fecho não precisa vir rodeado de expressões
supérfluas, descartáveis. Configura o último parágrafo do texto.
Princípio da redação técnica, a concisão foi um dos responsáveis pela
redução dos quinze para apenas dois modelos de encerramento, os quais
devem vir centralizados, a 1 cm ou um espaço duplo do final do texto.
Exemplos de fechos (arcaicos) de cortesia33 :

31
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 73.
32
ibid.,p. 74.
33
Cf. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, op. cit., p. 26-7.
38 A Redação Oficial

a. Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Excelência os protestos


de meu mais elevado respeito...;
b. Apresento a V. S.a os meus protestos de elevada estima e distinta
consideração;
c. Com elevada estima e consideração, subscrevo-me;
d. Subscrevo-me atenciosamente;
e. Cordiais saudações.
O Manual da Presidência34 estabelece o uso do vocábulo respeito-
samente para as correspondências dirigidas às autoridades de hierarquia
superior à do subscritor do ofício. Nesses termos, usa-se esse fecho na
correspondência do comandado ao seu comandante; do Diretor do
Departamento de Finanças ao Comandante Geral da Corporação; deste
ao Secretário da Segurança Pública, etc.
Por outro lado, prescreve o termo atenciosamente para as corres-
pondências entre autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia
inferior. Desta forma, o termo atenciosamente é usado para
correspondência entre comandantes, chefes, diretores e coordenadores;
também para correspondência do subcomandante geral da PM aos
comandantes, chefes, diretores, coordenadores, etc.
Esses dois tipos de fechos, vale dizer, foram ratificados pelas IG 10-4235 .
Observe que a hierarquia é respeitante à organização funcional castrense.
Não subsistindo – o que é rotina nos expedientes – a omissão dos
fechos quando o ofício parte do superior para o subordinado.
Há quem defenda essa corrente, apresentando como justificativa para tal
procedimento o maior grau de informalidade da linguagem, bem como o
disposto no art. 43, § 9º, das IG 10-4236 : “O fecho do documento é
constituído, exclusivamente, pela assinatura da autoridade competente, salvo
se a correspondência for dirigida a civis, quando se acresce uma saudação.”

34
BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 25-6.
35
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 16-7.
36
ibid., p.18.
Manual de Redação Policial-Militar 39

Contudo, não nos parece coerente, sendo até de pouca elegância, a


supressão do fecho durante a produção do ofício, podendo até ser
aceitável no memorando, que apresenta um modelo mais simples de
confecção (v. “O Fecho”).
Obs.: No Boletim Geral Ostensivo (BGO) de n.º 177, publicado pela PMBA em 20 set. 199137 ,
adotou-se o vocábulo “cordialmente” para a correspondência mais formal, e “atenciosamente”
para a correspondência menos formal. Entretanto, no ano seguinte (1992), foi publicado o
Manual da Presidência, que desconheceu o fecho “cordialmente” para os expedientes públicos.

Por que o fecho vem seguido por vírgula?


Anteriormente, o fecho de um expediente era assim: “(...) subscrevo-me
/ atenciosamente(.) / Fulano de Tal”. Ora, o ato de subscrever-se é feito
quando se apõe a assinatura, e o “atenciosamente” é um adjunto adverbial
da maneira de subscrever-se. Quer dizer que se alguém grafa “subscrevo”
e apõe a assinatura, provoca aspecto redundante ilegítimo.
Da análise da oração: “Subscrevo-me / atenciosamente / Fulano de
Tal.”, temos:
Fulano de Tal: sujeito;
Subscrevo-me: predicado;
Atenciosamente: adjunto adverbial de modo.
Desta forma, se antecipo o “atenciosamente” ao todo da frase (ocultando-
se a palavra “subscrevo”, em face do pleonasmo), temos um caso de
adjunto adverbial deslocado, o que implica o emprego da vírgula (v. , no
cap.VI, “Emprego da vírgula”). Por isso é que usamos a vírgula depois dos
fechos “respeitosamente” e “atenciosamente”:
Atenciosamente(,)
(assinatura)
Nome Completo
(cargo)

37
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA. Portaria n. GCG/021/09/91. Aprova alterações
nas correspondências. Boletim Geral Ostensivo, Salvador, 177:5.376-78, set. 1991.
40 A Redação Oficial

A assinatura e a identificação do signatário


As assinaturas dos ofícios devem ser acompanhadas da repetição completa
do nome do signatário e da sua identificação, ou seja, a designação do
cargo ou função por ele exercida, com a mesma tonalidade do corpo do
texto38 , a fim de facilitar a identificação da origem do expediente.
A exceção dá-se no tocante aos documentos assinados pelo Presidente
da República39 .
A identificação do signatário localizar-se-á a 2,5 cm ou três espaços duplos
do fecho. Portanto, vem centralizado40. Acima da identificação, conforme
as IG 10-4241 , haveria um traço horizontal, dispensado apenas quando o
subscritor fosse o Presidente da República ou o Ministro do Exército.
Na realidade, esse traço não é mais usual nos expedientes modernos.
Convém mencionar que, nas IG 10-42 revogadas, a identificação do
signatário era representada pelo nome deste em maiúsculas, em uma
linha, e, noutra, logo abaixo, a abreviatura do posto ou graduação, seguida
das abreviaturas da função ou cargo e da OM:
(assinatura)
Nome Completo
Ten Cel PM Cmt do 18º BPM

As antigas I-7-PM 42 quase em tudo aquiesceram com as IG 10-42


revogadas, salvo no que se refere à abreviatura da OM, que dispensa.
Também concordamos em eliminar a abreviatura da OM expedidora,
por constituir-se redundância, uma vez que, no timbre do ofício, já consta,
de maneira bem legível, a referida OM; então, por que repetir? Assim fica:
(assinatura)
Nome Completo
Ten Cel PM Cmt

38
Ao contrário do que observamos em diversos ofícios, os quais vêm com a identificação do signatário
em negrito, devem estes vir com a referida identificação no mesmo tom do corpo do texto, i. é, sem o
negrito.
39
Cf.BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 26.
40
Opinião contrária e já vencida (pelo Manual da Presidência), onde, em vez de centralizados, viriam a
assinatura e identificação do signatário na metade direita do documento; cf. BRASIL. Ministério do
Exército,op. cit.,p.74.
41
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, loc. cit.
42
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, loc. cit.
Manual de Redação Policial-Militar 41

Há uma questão interessante neste tópico, que, certamente, o leitor atento


já observou: o posto (ou a graduação) veio abaixo do nome, e não ao
término deste e na mesma linha, separado por um traço horizontal (fato
este, aliás, já corrigido pelas atuais IG 10-4243 ). Na PMBA, é tradicional
assinar-se documentos dos mais diversos tipos seguindo-se da especificação
do posto (ou graduação), separado por um travessão e grafado do próprio
punho. Logo abaixo, por conseqüência, segue-se o nome, em maiúsculas, e
a abreviatura do posto ou graduação. Neste caso, por questões estéticas,
o designativo do cargo ou função pode vir grafado por extenso:
(assinatura)
Nome Completo – Ten Cel PM
Comandante

As próprias IG 10-42 revogadas admitiam esse tipo de construção, quando


apresentavam alguns modelos de correspondência. Ademais, as atuais IG
10-4244 , no anexo B, n.º 10, “a”, advertem que se o signatário for oficial
general ou cadete (neste caso, também vale a regra para o aluno oficial
da Academia de Polícia Militar – APM) o posto ou título precede o
nome. Dessa interpretação, deduz-se que, quando não se tratar de oficial
general ou cadete, deve-se escrever o posto ou graduação logo após o
nome, e não abaixo dele.
Veremos, agora, os casos de substituição do titular da subscrição do
expediente, a saber, o substituto interino; o substituto que responde
pelo comando, chefia, direção, ou coordenação; a assinatura por delegação
e a assinatura no impedimento.

O substituto interino
Quando o substituto assumir interinamente, o seu nome será digitado
em letras maiúsculas, seguido da abreviatura do posto ou graduação, em
uma linha; noutra, logo abaixo, a abreviatura do cargo ou função45 ,
acrescida da abreviatura do termo “interino” (Int.)46 :

43
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 70-1.
44
Essa informação também continha no §1º do art. 62 das instruções revogadas. Nas atuais, cf. BRASIL.
Ministério do Exército, op. cit.,p. 74.
45
Observe que, neste caso, o designativo do cargo ou função não vem por extenso.
46
Nas IG 10-42, logo após o cargo e o designativo de interino, também consta a OM expedidora, o que,
conforme já analisamos, nos parece desnecessário (cf. Ministério do Exército, op. cit., p. 21) .
42 A Redação Oficial

(assinatura)
Nome Completo - Maj PM
Cmt Int.

O substituto que responde pelo comando, chefia,


direção ou coordenação
Quando o substituto responder pelas funções de comando, chefia, direção
ou coordenação, o seu nome será grafado em letras maiúsculas em uma
linha, seguido da abreviatura do posto ou graduação; em outra, logo
abaixo, a abreviatura da expressão “respondendo pelo” (Resp. p/), acrescida
do cargo ou função:
(assinatura)
Nome Completo - Maj PM
Resp. p/ Cmd.º

Assinatura por delegação


É sempre motivo de grande confusão e controvérsia a assinatura por
delegação e a assinatura no impedimento, inobstante seja clara e simples a
sua distinção.
A assinatura por delegação, conforme a sua acepção, decorre de uma
prévia delegação de poderes, conferida pelo do titular do cargo ou função
pública, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 62 das IG 10-
4247 ; é um ato previsto. Inclusive, quando possível, publicado no boletim
interno da Unidade. Logo, há a representação do resultado por parte da
autoridade pública delegante. Entrementes, a assinatura no impedimento
decorre tão-somente da ausência fortuita do titular do cargo ou função
que irá subscrever o documento48 .
A assinatura por delegação será antecedida pelo nome, digitado ou
datilografado em maiúsculas, e posto (ou graduação) da autoridade

47
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 21. Assim versa o parágrafo único do citado artigo:
“Não será objeto de delegação a assinatura de documentos que indiquem tomada de posição sobre
problemas fundamentais ou doutrinários, os referentes a assuntos de justiça e disciplina e os de natureza
pessoal.”
48
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 21.
Manual de Redação Policial-Militar 43

delegante, vindo, então, logo abaixo e, de preferência, a 1 cm ou um


espaço duplo, junto à margem esquerda do papel49 , a expressão “Por
delegação:” em minúsculas, salvo a sua primeira letra, seguida de dois-
pontos; sucedendo-se, preferencialmente, a 2 cm ou dois espaços duplos,
a assinatura, o nome (em maiúsculas), o posto (ou graduação) abreviado
e a função da autoridade delegada, o que nos dá uma distância de 3
cm50 entre os nomes das autoridades delegante e delegada:
(assinatura)
Nome Completo - Ten Cel PM
Comandante

Por delegação:
3 cm

(assinatura)
Nome Completo - Maj PM
Subcomandante

Assim querendo, a autoridade delegada poderá iniciar o texto do ofício


com a expressão: “Incumbiu-me o Sr. Comandante, Chefe, Diretor ou
Coordenador...” ou outra similar. Para esse caso, a assinatura e a
identificação do signatário serão as da autoridade delegada, o que
suprimirá, conseqüentemente, a expressão “ Por delegação:”51

Assinatura no impedimento
Como dito, a assinatura no impedimento52 decorre da ausência fortuita
do titular da subscrição (o comandante, chefe, diretor, coordenador, etc.);
isto, porém, quando for de natureza urgente a correspondência.
Portanto, o termo que distingue a assinatura por delegação da assinatura
no impedimento é a “imprevisibilidade”. Há que haver uma circunstância
fortuita ou de força maior que, na urgência do envio do expediente,

49
É comum encontrarmos a expressão “Por delegação:” e o nome da autoridade que assina o documento
em posição centralizada, o que é errado.
50
Conforme estipulam as IG 10-42 (cf. Ministério do Exército, op. cit., p. 47 e 74).
51
ibid., p. 21.
52
loc.cit.
44 A Redação Oficial

exija a assinatura deste pela autoridade mais graduada presente, naquele


momento, na organização policial-militar.
Consistirá na aposição da expressão “no impedimento de”, grafada de
forma manuscrita pelo próprio subscritor, no local onde deveria assinar a
autoridade titular do cargo ou função, e, abaixo da identificação da
autoridade, portanto centralizado53 , a dois centímetros ou dois espaços
duplos, assinará a autoridade substituta, seguindo-se, abaixo, o seu nome
completo e a abreviatura do posto ou da graduação e, mais abaixo, o
seu cargo ou função, tudo escrito em letra de imprensa:
No impedimento de (manuscrito)
Nome Completo - Ten Cel PM
Comandante

(assinatura do substituto)
Nome Completo - Maj PM (em letra de imprensa)
Subcomandante (manuscrito)

A grafia manuscrita e em letra de imprensa servem para denotar a urgência


do documento. No entanto, em algumas unidades, verificamos que, em
vez do procedimento acima descrito, a autoridade subscritora apõe, no
espaço destinado à assinatura do titular do cargo ou função, as inicias N. I.
(significando “no impedimento”) seguidas da assinatura do substituto, o
que é incorreto, embora prático, pois assim não se identifica o subscritor.

O destinatário
O destinatário é a autoridade receptora do documento; é aquela a quem
se destina a mensagem contida no ofício, cabendo-lhe decodificá-la e
respondê-la, se o documento já não representar uma resposta a uma
anterior consulta, solicitação ou recomendação, ou quando se tratar de
uma remessa.
Diversamente da quase totalidade dos ofícios expedidos dentro da
PMBA, o destinatário vem especificado abaixo do texto do ofício, na
sua primeira folha, situado a 2 cm da margem inferior e junto à margem
esquerda do papel 54 .

53
Observe que difere da assinatura por delegação, que vem junto à margem esquerda do papel.
54
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 42.
Manual de Redação Policial-Militar 45

O Manual da Presidência é claro, embora várias OPMs persistam no uso


do antigo modelo de cabeçalho, colocando-se o destinatário logo abaixo
da autoridade expedidora do documento, situado próximo à margem
superior esquerda, do seguinte modo:
Do: Cmt do 18º BPM
Ao: Ex.mo Sr. Cel PM Cmt Geral
Essa forma é muito parecida com o modelo das IG 10-42 55 , que
posicionam o cabeçalho na metade superior direita do papel.
De plano, anote-se que não mais existe a referência ao signatário
(Do: Cmt do 18º BPM). A supressão do signatário foi um modo inteligente
e econômico de evitar uma repetição desnecessária e incômoda, uma
vez que a autoridade expedidora virá identificada, claramente, logo abaixo
do texto, na identificação do signatário, conforme analisamos
anteriormente. Os dois-pontos, após as preposições do e ao, também
nunca existiram56 . Até mesmo as IG 10-42, que utilizam um cabeçalho
similar, os desconhecem.
Desta forma, seguindo-se o novo modelo de destinatário, preconizado
pelo Manual da Presidência, na localização já anteriormente discriminada,
na primeira linha escrevemos, no vocativo, o pronome de tratamento –
por extenso – correspondente ao cargo ou função da autoridade
receptora; na segunda57 , o cargo ou função, sem o designativo do posto
ou da graduação58 , quando policial militar; na terceira, a designação do
órgão a que pertence, preside, governa, comanda, dirige, chefia, coordena,
etc, e, na quarta, o endereço, escrito de forma sucinta. Se o endereço for

55
Ministério do Exército, op. cit., p. 48.
56
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 44 e 48. É bom dizer, também, que as próprias IG 10-42
revogadas (portanto aquelas de 1975) também não previam os dois-pontos.
57
Nessa segunda linha, preferimos, diferentemente do Manual da Presidência, não discriminar o nome
do destinatário, quando a correspondência dirigir-se a autoridades com cargos ou funções bem definidos
dentro do organismo público ou privado; este, inclusive, é um procedimento muito tradicional dentro da
PMBA, o que também contribui para concisão deste tópico.
58
Detalhe interessante é a referência ao cargo ou função da autoridade sem que seja discriminado o posto
ou a sua graduação. Embora seja muito comum nas correspondências castrenses colocarmos a abreviatura
do posto ou da graduação antecedendo o cargo ou a função, tal procedimento é incorreto, segundo as IG
10-42. Assim, a expressão “Ao Senhor / Ten Cel PM Cmt do 16º BPM” é corretamente grafada da seguinte
forma: “Ao Senhor / Cmt do 16º BPM”. Cf. BRASIL. Ministério do Exército, p. 17: “Art. 37. Nas referências
às autoridades, emprega-se apenas o título do cargo...”.
46 A Redação Oficial

de uma OPM, sendo a correspondência a ser entregue por meio de um


mensageiro ou estafeta, são suficientes o CEP e a cidade de destino, em
razão da notoriedade do local59 .
Quanto à pontuação no endereçamento, note que a seqüência dos
elementos, colocados em coluna, comporta a virgulação. Entretanto, este
aspecto gramatical sempre foi omitido, atribuindo-se valor de rotulação
aos segmentos apresentados.
Quando a autoridade tiver o tratamento protocolar de V. Ex.a, grafa-se
a primeira linha da seguinte forma: “A Sua Excelência o Senhor”.
Quando o tratamento corresponde a V. S.a, grafamos: “Ao Senhor”,
e assim sucessivamente, conforme estudaremos no tópico “As formas
de tratamento”, constante no cap. IV.
A Sua Excelência o Senhor
Governador do Estado da Bahia
Governadoria
Av. Luís Viana Filho, s/n.º, 390 – Ala Sul
41.750-300 – Salvador-BA

Ao Senhor
Subcomandante Geral da PMBA
Quartel do Comando Geral
40.060-030 – Salvador-BA

Considerações finais
De toda a análise, o leitor atento perceberá que o novo modelo de
confecção do ofício, adotado pelo Manual da Presidência, aboliu algumas
de suas partes, apresentadas nas IG 10-42 e nos antigos manuais de
correspondência60 , as quais devem ser evitadas ao máximo. Estamos nos
referindo, notadamente, ao cabeçalho, ao assunto, à referência e ao anexo,
pois são totalmente desnecessários, como veremos adiante.

59
Nesse sentido: BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 78.
60
Cf., p. ex., BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, op. cit., p. 62-3.
Manual de Redação Policial-Militar 47

O cabeçalho
Já vimos no item “O destinatário” que o cabeçalho não é essencial,
tornando-se até um termo redundante.

O assunto
O assunto, que constitui um pequeno resumo do que será tratado,
também chamado de súmula ou ementa61 , revela-se um dado redundante,
visto que, no início do texto, o verbo empregado para iniciar a frase já
indica o tipo de propósito do signatário. Se o texto referir-se a uma
solicitação, inicia-se com a expressão: Solicito de V. Ex.a, ou expressão
sinônima; se for uma remessa: Envio a V. S.a, ou similar, etc., percebendo-se,
de maneira transparente, que a aposição do assunto serve apenas para
ocupar espaço no papel. Essa composição tem uso, atualmente, no
memorando, em razão de sua praticidade (v. “O assunto”).

A referência
Por motivo igual ao visto acima, basta referenciarmos o documento
originário no próprio corpo do texto, logo no seu início, assim: “Conforme
recomendação constante no Ofício n.º 001/DF, datado de 2 de janeiro
de 2000, informo a V. S.a que ...”

O anexo
Vale a mesma regra dos itens anteriores. O anexo, localizado no alto da
página, apenas ocupa precioso espaço. Preferindo-se, poderemos dedicar
um só parágrafo para constarmos os anexos: “Em anexo, seguem os
seguintes documentos:”. Também podemos aproveitar uma passagem do
texto, onde seja pertinente a sua referência: “(...) conforme verificamos no
termo de declarações que segue anexo a este expediente...”.
Contrapondo a esses termos descartáveis, embora as IG 10-42 ainda os
utilizem62 , há outros que, por sua natureza e necessidade, são facultativos
na confecção do ofício, embora não tenham sido lembrados pelo Manual

61
ibid.,p. 28.
62
Ministério do Exército, op. cit., p. 48.
48 A Redação Oficial

da Presidência. São eles o slogan da OPM, o endereço no rodapé, o grupo


indicador e a distribuição.

O slogan
O slogan da OPM é tão-só uma frase ou expressão que se identifica
com as atribuições da organização policial-militar que expede um
documento63 . Vem-se tornando uma praxe na expedição dos ofícios das
OPMs, e, por seu uso tornar-se corriqueiro, padronizamos sua localização
a 1 cm ou um espaço duplo abaixo do local e data do ofício (v. “O local
e a data”), devendo ser grafado, entre aspas, em itálico e com a fonte
menor em duas unidades do restante do documento (se o ofício, p. ex.,
for digitado em fonte 12, escreva o slogan na fonte 10), com o final da
frase coincidente com a margem direita do papel. Veja este exemplo,
com slogan originário do 18º BPM:
Salvador, 23 de fevereiro de 2000.
“Guardião do Centro Histórico”

O endereço no rodapé
Conforme já dissemos, faz parte da composição do timbre, embora
– tal como o slogan – o Manual da Presidência não faça nenhum tipo
de referência.
O endereço da OPM expedidora, constante no rodapé do papel, serve
como fonte para uma futura consulta, pois ali não só consta o endereço
como também o n.º do telefone e o do fac-simile (fax). Deve, porém, vir
de forma concisa e abreviada, quando possível, evitando-se a aposição
de dados desnecessários.

A distribuição
A distribuição visa a controlar o destino dado ao documento e às suas
cópias, numa eventual consulta aos arquivos. É uma prática que já vem
sendo utilizada por alguns setores da PMBA, inclusive pela Corregedoria.
Vem aposta, geralmente, nas cópias dos expedientes, abaixo de sua
assinatura, junto à margem esquerda e com tamanho reduzido da fonte
em duas unidades do corpo do texto:
63
O seu emprego, contudo, deve condicionar-se a uma prévia autorização do escalão competente.
Manual de Redação Policial-Militar 49

(assinatura)
Nome Completo - Ten Cel PM
Comandante

Distribuição:
1a via: Comando Geral
2a via: arquivo
Total: duas vias

O grupo indicativo
Previsto pelas IG-10-42 e também conhecido por grupo indicador64 , o
grupo indicativo corresponde às iniciais de quem redigiu o documento
(sem se designar o posto ou a graduação), de quem o digitou ou
datilografou e, se houver revisão, também as iniciais de quem o revisou65 ,
todas em maiúsculas, separadas por uma barra inclinada (/).
Se uma mesma pessoa realizar duas ou as três etapas da confecção, não
precisa repetir as inicias, pois serão apostas apenas uma vez.
O grupo indicativo virá na parte inferior, junto à margem esquerda do
documento, logo abaixo da distribuição, se esta existir; em não existindo,
virá a 1 cm acima da margem inferior, consoante estipulam as IG 10-42.
Em qualquer dos casos, virá com o tamanho da fonte reduzido em duas
unidades do corpo do texto. Preferencialmente, opte por utilizá-lo apenas
nas cópias dos expedientes arquivados na OPM.

64
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 49 e 75.
65
Assim entendem Odacir Beltrão e Mariúsa Beltrão (Cf. BELTRÃO, Odacir e Mariúsa Beltrão.
Correspondência: linguagem & comunicação: oficial, empresarial, particular. 19. ed. rev. e atual. por Mariúsa
Beltrão. São Paulo, Atlas, 1993. p. 116):
“Há duas opiniões sobre a colocação das iniciais do redator e do datilógrafo: a primeira é a favor de seu
registro ao alto, logo abaixo do número de expedição do documento, e que previne possível esquecimento
por parte do datilógrafo; a segunda é pela colocação das iniciais embaixo, ao pé da folha, para evitar
confusão com o prefixo, uma vez que, por exemplo, SC tanto pode significar Seção de Cobranças, quanto
Sérgio Castro ou outro nome.
“As iniciais são lançadas pela ordem de responsabilidade:
OP/MT
OP – redator / MT – datilógrafo
seguindo as normas vigentes para a redação de nomes próprios, isto é, com as iniciais maiúsculas.
“ Se houver revisor, as suas iniciais serão acrescentadas às do redator e datilógrafo:
OP/MT/EB
OP – redator / MT – revisor / EB – datilógrafo”
50 A Redação Oficial

(assinatura)
Nome Completo - Ten Cel PM
Comandante

Distribuição:
1a via: Comando Geral
2a via: arquivo
Total: duas vias

PCLN/PMC

O modelo do ofício padrão


A seguir, apresentamos o modelo de um ofício padrão, de acordo com
as normas estudadas até o momento. Tais quais os modelos do Manual
da Presidência, as distâncias do modelo seguinte, bem como dos demais
que serão apresentados, estão indicadas em centímetros, para efeito de
padronização, sendo que, no sentido horizontal, 1 cm equivale a cerca
de 4 toques datilográficos (1 toque = 2,5 mm). No sentido vertical, 1 cm
corresponde, de modo aproximado, a um “espaço dois” (o espaço um é
igual a 0,5 cm). Se for usado um processador de texto para a confecção
do ofício, empregue as medidas em centímetros.
Manual de Redação Policial-Militar 51
52 A Redação Oficial
A Redação Oficial

Outros
II documentos

O memorando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Forma e estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62


O timbre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 O timbre
A numeração A ordem legislativa
A data . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 O preâmbulo
O destinatário O título
O assunto A epígrafe
O texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 A ementa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
O fecho Autoria ou fundamento
legal de autoridade
A identificação do signatário
e a assinatura Ordem de execução ou
mandado de cumprimento
Outras observações
O fecho
O fax . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
A matéria legislada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64
Composição de uma portaria . . . . . . . . . . . 62
Manual de Redação Policial-Militar 55

Depois de analisado o ofício e as suas peculiaridades, passamos ao estudo


de alguns outros documentos oficiais, notadamente o memorando, o fax
e a portaria, concentrados em um só capítulo, devido à extensão do
conteúdo e suas singulaidades já haverem, em boa parte, sido supridas
quando estudamos o capítulo anterior (v. “Estudando o ofício”).

O memorando
O Manual da Presidência67 bem define o memorando: “(...) modalidade
de comunicação entre unidades administrativas de um mesmo órgão, que
podem estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível diferente.
Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação eminentemente interna”.
Verificamos, então, em face da simplicidade burocrática, do menor grau
de formalidade e do caráter interno, que o memorando, ou papeleta68 –
como é conhecido por alguns –, visa à rapidez da difusão da mensagem
dentro de um órgão do setor público. Percebemos, também, com base
na definição acima, que ele pode partir de um subordinado para um
superior, malgrado a posição contrária das IG 10-4269 .
Dividimo-lo, para facilitar a compreensão, de maneira similar àquela
apresentada no capítulo anterior, no aspecto formal, em razão de as
prescrições do memorando seguirem, em sua grande parte, as disposições
estabelecidas para o ofício. São, pois, o timbre, a numeração, a data, o
destinatário, o assunto, o texto, o fecho, a identificação do signatário e a
assinatura. De logo, percebemos que, na ordem dada, a distinção se
apresenta no destinatário e no assunto, além de o vocativo deixar de existir.

67
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 52.
68
Cf. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, op. cit., p. 60.
69
O memorando é, segundo as IG 10-42, “correspondência que circula no âmbito de uma OM, utilizada
por autoridade superior para a transmissão de ordens, instruções, decisões, recomendações, esclarecimentos
ou informações.Tem como principal característica a agilidade, devendo sua tramitação pautar-se pela rapidez
e pela simplicidade dos procedimentos burocráticos.” Nesse sentido, o tipo de correspondência interna
de um subordinado para um superior ou par seria a parte: “correspondência que tramita no âmbito de
uma OM, por meio da qual o militar se comunica com um de seus pares ou superior hierárquico, em
objeto de serviço” (cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 9-10). Entretanto, somos favoráveis à
utilização do memorando em qualquer das situações acima apontadas, tendo em vista que o objetivo maior
do Manual da Presidência é a padronização e simplificação dos procedimentos redacionais.
56 A Redação Oficial

O timbre
O Manual da Presidência, tal como no ofício, não faz referência ao tamanho
do papel, tampouco ao timbre do memorando. Com base na Instrução
Normativa n.º 83 e nas IG 10-4270 , o papel padrão é o de formato “A-5”
(14,8 x 21 cm), ou meio-ofício. Todavia, observamos que as novas
dimensões do memorando não comportam mais esse tipo de papel,
sendo necessário o formato “A-4” (29,7 x 21 cm). Nesse sentido,
conforme veremos no modelo de memorando, apresentado mais adiante,
podemos notar que o texto propriamente dito se inicia um pouco abaixo
do meio do papel, havendo, então, em toda a primeira metade da folha,
espaço suficiente para a aposição dos despachos necessários.
Por seu turno, o timbre deve vir localizado à esquerda do impresso,
ficando o brasão institucional eqüidistante de 1,5 cm ou de três espaços
simples das margens superior e esquerda do papel.
Note que o timbre do memorando se distingue do timbre do ofício por
este vir centralizado, enquanto aquele, à esquerda. Além disso, se fôssemos
levar em consideração o antigo formato do papel (“A-5”), deveria o
brasão vir impresso em formato menor, com um diâmetro de 1,5 cm,
conforme estipula a Instrução Normativa n.º 83, ao revés do brasão do
ofício, que tem 2,5 cm de diâmetro. No entanto, optamos em manter
esta última medida, em face da maior dimensão do papel. Os dizeres, por
sua vez, localizar-se-ão no lado direito do brasão, a 0,6 cm deste.
As margens do papel são as mesmas referidas para o ofício, ou seja, a
margem esquerda situa-se a 2,5 cm ou dez toques da borda esquerda, e
a direita, a 1,5 cm ou seis toques da borda direita.

A numeração
A numeração vem logo abaixo do timbre. O Manual da Presidência,
acrescente-se, não especifica a distância que ela se localiza da margem
superior do papel. Convencionamos, então, utilizar a mesma prevista para
o ofício, i.é, 5,5 cm ou seis espaços duplos. As demais orientações são as
mesmas previstas no item “A numeração do documento”, constante no
cap. II, inclusive no que se refere à aposição do termo circular: Memorando
n.º 123/UAAF.

70
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 20.
Manual de Redação Policial-Militar 57

A data
Diferentemente do ofício, a data deve estar situada na mesma linha da
numeração do memorando, sendo que o seu término deve coincidir
com a margem direita. Repare que não há indicação do local71 , já que o
memorando é um documento de trâmite interno. Atenção: não coloque
vírgula após a preposição em:
Memorando n.º 123/UAAF. Em 25 de janeiro de 1973.

O destinatário
Outra novidade no memorando. É colocado logo abaixo da numeração,
sem se especificar, entretanto, a distância exata 72 . Para efeito de
padronização, usamos a distância do vocativo, que é de 10 cm ou dez
espaços duplos da borda superior do papel (v., no cap. II, “O vocativo”).
O destinatário é designado por seu cargo ou função, sem se referenciar
o posto, ou a graduação, ou o nome da autoridade. Lembre-se: após a
preposição ao, não coloque dois-pontos:
Ao Sr. Cmt da 1.ª Cia.

O assunto
Como já vimos, esse item não consta na composição do ofício. É o resumo
do assunto tratado, de maneira mais abreviada possível. Também é conhecido
por súmula ou ementa (v. , no cap. II, “O assunto”), sendo digitado em
espaço um, vindo logo abaixo do destinatário, no começo da margem
esquerda (com a letra inicial maiúscula73 ), precedido da palavra assunto:
Assunto: Comunicação
Uma advertência: evite escrever verbos como “faz”, “presta”, “relata”,
etc., isolados por um travessão, após o substantivo, conforme recomendava
o antigo manual da PM de São Paulo74 , pois o seu emprego, embora

71
As IG 10-42 indicam, desnecessariamente, o estado e a cidade de expedição, seguidos da data (cf.
BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 44).
72
Utilizam as IG 10-42 o antigo modelo do ofício (v., no cap. II, “O destinatário”).
73
Embora saibamos que depois de dois-pontos segue-se o vocábulo com a inicial minúscula, esta é uma
convenção adotada nos expedientes em geral, tendo por objetivo enfatizar o assunto a ser tratado.
74
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, op. cit. p. 15.
58 A Redação Oficial

tenha conquistado alguns adeptos na PMBA, atualmente é condenável, além


de ser uma redundância: no momento em que se encaminha o expediente,
o que se quer já está sendo feito, ou já se está prestando, ou já se está relatando,
etc. Portanto, não use a forma: Assunto: Comunicação – faz.

O texto
Iniciamos o texto propriamente dito a 4 cm verticais abaixo do assunto.
As demais regras para a sua composição são as mesmas previstas no
item “O texto” do cap. II.

O fecho
Tem a mesma padronização do item “O fecho”, do capítulo anterior, i.é,
empregamos atenciosamente ou respeitosamente, conforme o caso, a 1
cm centralizado e abaixo do final do corpo do texto. Por ser um documento
interno, usamos, quase que invariavelmente, atenciosamente (o grau de
formalidade é menor).
Tal como no ofício e em virtude mesmo do menor formalismo,
as IG 10-4275 recomendam que não se faça uso das expressões de
cortesia nos memorandos, embora o Manual da Presidência adote uma
postura contrária76 .

A identificação do signatário e a assinatura


Enquanto no ofício a composição desse item se dá a 2,5 cm abaixo do
fecho, no memorando, ele virá a 4 cm abaixo do referido fecho do
documento. As demais disposições são as mesmas previstas no cap. II,
“A assinatura e identificação do signatário”.

Outras observações
Não usamos o slogan característico da unidade nem o endereço no
rodapé do memorando, em virtude de ser um expediente de trâmite
interno. A distribuição e o grupo indicativo são facultativos. Observe,
também, que o destinatário não vem no final do texto, como no ofício, e

75
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 18 e 44.
76
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 53.
Manual de Redação Policial-Militar 59

sim em seu início. No mais, exceto a referência ao assunto, consulte o


item “Considerações finais”, do capítulo anterior.
Veja o modelo de memorando abaixo:
60 A Redação Oficial

O fax
O fac-simile (expressão latina que significa “fazer coisa semelhante”77 ),
vulgarmente conhecido por fax, é um documento característico dos
tempos modernos, muito utilizado na quase totalidade das unidades da
PMBA, bem como nos demais setores do serviço público e privado.
Visa a agilizar, sobremaneira, a comunicação entre os órgãos, em razão
da velocidade com que transmite mensagens, constituindo-se, também,
um meio mais barato do que as formas tradicionais de comunicação,
como o telex e o telegrama.
Optamos em apresentar um modelo de fax, previsto pelo Manual da
Presidência 78 , em detrimento do estudo de outras formas de
comunicação urgente, a exemplo dos radiogramas, telegramas e do telex,
que, com o passar dos anos, vêm-se tornando formas obsoletas de
transmissão de mensagens.
Ao revés do que muitos pensam, o fax não é tão atual assim. Embora
não fosse difundido, esse documento já era previsto pelas IG 10-42
revogadas, que foram publicadas em 1975: “TELECÓPIA E TELEFOTO
– designação específica dada à correspondência transmitida por meio de
sistema de telecomunicações por ‘fac-simile’.”
Além de ser usado na transmissão de mensagens urgentes, também
utilizamos o fax para a antecipação de documentos que necessitam de
uma rápida oficialização de sua determinação, recomendação, solicitação,
etc. Nesses casos, o documento original segue posteriormente pelo
veículo ordinário.
O fax carece de um formulário em papel “A-4” (29,7 x 21 cm), nos
termos do Manual da Presidência, devendo o seu original permanecer
arquivado na unidade expedidora, haja vista ser ele transmitido por meio
de uma linha de telefone.
Convém atentar para o modelo de fax, porque há um hábito na Corporação
de enviar, através do aparelho de fax, o próprio ofício; na verdade, apenas
basta transpor o conteúdo deste para o formulário exposto na página seguinte.

77
Cf. CARLETI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 8. ed. totalmente rev. e ampl. São Paulo, Liv. Ed.
Universitária de Direito, 2000. p. 175.
78
ibid.,p.57.
Manual de Redação Policial-Militar 61

Anote-se, também, que o modelo apresentado (extraído do Manual da


Presidência) vem com moldura, diferentemente das IG 10-4279 , que a
evitam, tendo por objetivo a redução de custos.

79
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 57.
62 A Redação Oficial

Composição de uma portaria


A portaria, confeccionada intracorporação, é um instrumento por meio
do qual algumas autoridades policiais-militares – dentro de sua esfera de
competência e mediante publicação em boletim – expedem instruções
sobre a organização e funcionamento de serviços ocorrentes no âmbito
do quartel, regulam atos procedimentais, designam policiais militares para
apurar feitos investigatórios (sindicância, inquérito policial-militar, etc.),
além de praticar outros atos previstos no seu plexo de atribuições.

Forma e estrutura
Para facilitar o entendimento, dividimos a composição de uma portaria
em três elementos básicos: o timbre, a ordem legislativa e a matéria legislada.
O timbre
Com base na Instrução Normativa n.º 8380 , utilizamos o formato de papel
“A-4” (29,7 x 21 cm), sendo que as normas para a sua composição são
as mesmas descritas para a composição do timbre no ofício (v. , no cap. II,
“O timbre”).

A ordem legislativa
A ordem legislativa é composta pelo preâmbulo e pelo fecho da portaria.
O preâmbulo
Segundo o Manual da Presidência81 , o preâmbulo consiste na parte primeira
da portaria, a qual não é incluída no texto, servindo, no entanto, para
identificá-la na ordem legislativa. Abrange o título, a autoria ou o fundamento
de autoridade e a ordem de execução ou mandado de cumprimento.
O título
Chamamos de título o conjunto formado pela epígrafe e pela ementa.
A epígrafe
Na definição do Manual da Presidência82 , “epígrafe é a parte do preâmbulo
que qualifica o ato na ordem jurídica e o situa no tempo, através da data,

80
Cf. COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS, op. cit., p. 147.
81
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 226.
82
ibid.,p. 227.
Manual de Redação Policial-Militar 63

da numeração e da denominação.” Deve estar localizada a 6 cm abaixo da


borda superior, no início (aproximadamente) da metade direita do papel:
Portaria n.º 2.000, de 2 de julho de 1998.
Ementa
Também conhecida por rubrica da lei, a ementa é a parte do preâmbulo
que resume o conteúdo da portaria, de forma que a sua simples leitura
permita o conhecimento da matéria legislada, enunciando-se, para tanto,
o tema central do texto.
Posiciona-se a ementa a 2 cm ou dois espaços duplos abaixo da epígrafe,
à direita, com o recuo aumentado, e digitado em espaço simples. Evite
escrevê-la em negrito ou colocá-la entre aspas.
Autoria ou fundamento legal de autoridade
É a parte do preâmbulo que contém a identificação do cargo da
autoridade e a base legal em que se funda para confeccioná-la. Localiza-
se a 4,5 cm da margem esquerda do papel, e a 1,5 cm abaixo da ementa.

Ordem de execução ou mandado de cumprimento


Estribando-se no Manual da Presidência83 , podemos dizer que a ordem de
execução ou mandado de cumprimento é a parte do preâmbulo em que se
prescreve a força coativa da portaria, como a palavra “R E S O L V O”,
muito usada em nossa Corporação.
Em rigor, a ordem de execução do ato normativo deverá ser grafada
com dois espaços em branco entre as letras que a compõem, em caixa
alta (maiúsculas), como no exemplo acima, ou em negrito (“RESOLVO”),
também em caixa alta.
O fecho
O fecho vem no final da portaria, a 4,5 cm da margem esquerda do impresso,
sendo constituído pelo local (que pode ser o órgão expedidor) e a data84 .

83
id. ibid., p. 228-98.
84
Na área federal, as datas vêm seguidas (após o ponto-e-vírgula) pelo número de anos, em numeral ordinal,
de dois acontecimentos históricos no Brasil: a Declaração da Independência e a Proclamação da República.
64 A Redação Oficial

A matéria legislada
A matéria legislada consiste no texto ou corpo da lei, que é composto
por artigos e seus conseqüentes desdobramentos em parágrafos e
incisos, e estes em alíneas, embora não seja costumeira a utilização de
artigos na PMBA.
Para compor o texto, deve-se usar o padrão exigido pela Imprensa
Nacional, constante no apêndice do Manual da Presidência 85 , do qual
passamos a transcrever os principais itens:
“a. o texto deve ter 18 cm de largura; se o papel utilizado for de
tamanho ‘A-4’ (29,7 x 21 cm), a margem esquerda será de 2 cm, e a
direita, de 1 cm;
“b. tabelas, quadros e gráficos devem ser dispostos em uma coluna
de 18 cm de largura, ou em duas que somem 37 cm;
“c. deve-se usar espaço simples (‘espaço um’) entre os parágrafos
do texto e espaço duplo (‘espaço dois’) entre capítulos, seções,
artigos, parágrafos, incisos, alíneas, etc.;
“d. o texto deverá ser datilografado com o tipo courier (de pitch
10, corpo 12) ou times roman (de corpo 12);
“g. os artigos devem ser designados pela forma abreviada ‘Art.’, seguidos
de algarismo arábico e do brasão de número ordinal ‘º’ até o de número
9, inclusive (‘Art. 1º’, ‘Art. 2º’, etc.); a partir do de número 10, segue-se o
algarismo arábico correspondente, seguido de ponto (‘Art. 10.’, ‘Art.
11.’, etc.). A indicação de artigo será separada do texto por um espaço
em branco, sem traços ou outros sinais, portanto. O texto de um artigo
inicia sempre por maiúscula e termina por ponto, salvo nos casos em
que contiver incisos, quando deverá terminar por dois-pontos;
“h. os incisos dos artigos devem ser designados por algarismos romanos
seguidos de hífen, e iniciados por letras minúsculas, a menos que a
primeira palavra seja nome próprio; ao final, são pontuados com ponto-
e-vírgula, exceto o último, que se encerra em ponto, e aquele que
contiver desdobramento em alíneas encerra-se por dois-pontos;
“i. parágrafo único de artigo deve vir designado pela expressão
‘Parágrafo único’, seguida de ponto;

85
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 297, et seq.
Manual de Redação Policial-Militar 65

“j. quando um artigo contiver mais de um parágrafo, estes serão


designados pelo brasão ‘§’, seguido do algarismo arábico
correspondente e do brasão do numeral ordinal ‘º’ até o nono
parágrafo, inclusive (‘§ 1º’, ‘§ 2º’, etc.). A partir do de número 10, a
designação deve ser feita pelo brasão ‘§’ seguido do algarismo arábico
correspondente e de ponto (‘§ 10.’, ‘§ 11.’, etc.). O texto dos parágrafos
inicia-se com maiúscula e encerra-se com ponto, exceto se for
desdobrado em alíneas, caso em que deverá findar por dois-pontos;
“l. as alíneas ou letras de um inciso deverão ser grafadas com a letra
minúscula correspondente, seguida de parêntese: ‘a)’, ‘b)’, etc.;
“m. os números que correspondam ao desdobramento de alíneas
deverão ser grafados em algarismos arábicos seguidos de ponto (‘1.’,
‘2.’, etc.). O texto dos números inicia-se por minúscula e termina em
ponto-e-vírgula, salvo o último, que se deve encerrar por ponto;
“n. em remissões a outros artigos do texto normativo, deve-se
empregar a forma abreviada “art.” seguida do número correspondente
(‘no art. 8º’, ‘no art. 15’, etc.); quando o número for substituído por
um adjetivo (‘anterior’, ‘seguinte’, etc.), a palavra artigo deverá ser grafada
por extenso (‘no artigo anterior’, ‘no artigo seguinte’);
“o. os numerais devem ser escritos por extenso quando constituírem
uma única palavra (‘quinze’, ‘trezentos’, ‘mil’, etc.). Quando constituírem
mais de uma, devem ser grafados em algarismos (‘25’, ‘142’, etc.).
Os numerais que indiquem porcentagem seguem a mesma regra:
a expressão ‘por cento’ será grafada por extenso se o numeral
constituir uma única palavra (‘quinze por cento’, ‘cem por cento’), e
na forma numérica seguida do brasão ‘%’ se o numeral constituir
mais de uma palavra (‘142 %’, ‘57 %’, etc.);
“p. valores monetários devem ser expressos em algarismos seguidos
da indicação, por extenso, entre parênteses: Cr$ 1.000.000,00 (um
milhão de cruzeiros). Se o valor a ser mencionado estiver localizado
no final de uma linha, não o separe: coloque o cifrão em uma linha
e o numeral na seguinte;”
Observe, ainda, o teor do art. 11 da Lei Complementar n.º 95, de 26 de
fevereiro de 1998 (Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da
66 A Redação Oficial

Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos


normativos que menciona), também conhecida por “Lei das leis”:
“Art. 11 – as disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão
e ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:
“I. para obtenção de clareza:
“a. usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo
quando a norma versar sobre assunto técnico, hipótese em que se
empregará a nomenclatura própria da área em que se esteja legislando;
“b. usar frases curtas e concisas;
“c. construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo,
neologismo e adjetivações dispensáveis;
“d. buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das
normas legais, dando preferência ao tempo presente ou ao futuro
simples do presente;
“e. usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os
abusos de caráter estilístico;
“II. para a obtenção de precisão:
“a. articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar
perfeita compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto
evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o legislador
pretende dar à norma;
“b. expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das
mesmas palavras, evitando o emprego de sinonímia com propósito
meramente estilístico;
“c. evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo
sentido ao texto;
“d. escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na
maior parte do território nacional, evitando o uso de expressões
locais ou regionais;
“e. usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio
de que a primeira referência no texto seja acompanhada de
explicitação de seu significado;
Manual de Redação Policial-Militar 67

“f. grafar por extenso quaisquer referências feitas, no texto, a números


e percentuais.
............................................................................................................................................”
Veja, a seguir, dois modelos de portaria:
68 A Redação Oficial
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Empregodos
I
V pronomesde
tratamento

Os pronomes em geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Concordância com os pronomes de tratamento
As formas de tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
Quando se emprega "Vossa Excelência" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Do Poder Executivo
Do Poder Legislativo
Do Poder Judiciário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Do Ministério Público
Manual de Redação Policial-Militar 71

Os pronomes em geral
Pronome é o vocábulo que denota o ente ou a ele se refere,
considerando-o tão-só como pessoa do discurso.
Conforme Celso Pedro Luft86 , os pronomes assim são definidos:
a. Pessoais87 – designam diretamente a pessoa do discurso;
b. Possessivos – determinam o ser como posse de uma delas;
c. Demonstrativos – situam o ser do ponto de vista dessas pessoas;
d. Indefinidos – aqueles que indagam o elemento desconhecido sobre o
qual queremos informação;
e. Relativos – equivalem a pronomes pessoais, mas com função de
conectivos subordinativos oracionais.

Concordância com os pronomes de tratamento.


Celso Cunha88 assim os define: “denominam-se pronomes de tratamento
certas palavras e locuções que valem por verdadeiros pronomes pessoais,
como: você, o senhor, Vossa Excelência”.
Anote-se que, embora os pronomes de tratamento designem a pessoa
a quem se fala, i. é, a segunda pessoa do discurso, esses pronomes levam
o verbo para a terceira pessoa, assim como, conseqüentemente, os
pronomes oblíquos e possessivos.89 :
“Vossa Excelência não escreveu em seu discurso o motivo que o
fez renunciar”.

86
Cf. LUFT, Celso Pedro. Novo manual deportuguês, gramática, ortografia oficial, redação, literatura, textos e
testes. 17. ed. São Paulo, Globo, 1991. p. 99.
87
Aí se incluem os pronomes de tratamento.
88
Cf. CUNHA, op. cit., p. 282.
89
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA. Portaria n. GCG/021/09/91. Aprova alterações
nas correspondências. Boletim Geral Ostensivo, Salvador, 177:5.376-78, set. 1991. Assim foi publicado o
item 2.a da presente portaria, em concordância com o acima dito:
“2. a. Os pronomes de tratamento, em português, são de 3ª pessoa, com ele concordando os pronomes
possessivos (seu, sua, seus, suas) e pronomes oblíquos correspondentes (o, a, os, as, lhe, lhes, se).
Ex.: V. Ex.a esqueceu-se de enumerar, em seu relato, as causas do acidente que o vitimou. (seu – pronome
possessivo / o – pronome oblíquo)”
72 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

(Vossa Excelência: pronome de 2.a pessoa / escreveu: verbo de 3.a pessoa


/ seu: pronome possesivo de 3.a pessoa / o: pronome oblíquo átono de
3.a pessoa / fez: verbo de 3.a pessoa).
No tocante aos adjetivos que se referem aos pronomes de tratamento,
assim se pronuncia o Manual da Presidência90 : “o gênero gramatical deve
coincidir com o sexo da pessoa a que se refere e não com o substantivo
que compõe a locução. Assim, se o nosso interlocutor for homem, o
correto é ‘Vossa excelência está atarefado’; se for mulher, ‘Vossa excelência
está atarefada’, ‘Vossa Excelência deve estar satisfeita’.”
Conforme já verificamos, os pronomes de tratamento são pronomes de
2.a pessoa do discurso, i. é, a pessoa com quem falamos (“Vossa Excelência
está muito ocupado?”); no entanto, para a 3.a pessoa, ou seja, aquela de
quem falamos, usam-se as formas Sua Excelência, Sua Majestade, etc.(“Será
que Sua Excelência está muito ocupado, João?”); porém estas podem ser
empregadas com o valor daquelas, como expressão de máxima cerimônia
– no dizer de Celso Cunha91 ; nesse caso, vêm seguidas de aposto que
contenha um título determinado por artigo:
“Vossa Excelência, Senhora Secretária, irá à solenidade
de formatura?”
“Sua Excelência, a Senhora Secretária, irá à solenidade
de formatura?”

Obs.: Repare que em ambas as frases o tratamento dirige-se à pessoa com quem se fala
(2.a pessoa do discurso), embora, no segundo exemplo, o possessivo Sua refira-se à 3.a pessoa,
i. é, aquela de quem se fala.

Sobre esse assunto, veja, abaixo, o constante na Portaria n.º CGC/021/


09/91, publicada no BGO n.º 177, de 20 de setembro de 199192 :
“.....................................................................................................................................................
f. Vossa e Sua
1) Emprega-se Vossa em relação a pessoa com quem se fala, a quem é
dirigida a correspondência.

90
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit. p. 21.
91
Cf. CUNHA, op. cit., p. 283.
92
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA, loc. cit.
Manual de Redação Policial-Militar 73

Ex.: Temos satisfação de convidar Vossa Senhoria a prestigiar o I


Encontro de Comandantes de Unidades Operacionais da RMS.
2) Emprega-se Sua em relação à pessoa de quem se fala.
Ex.: Soubemos que Sua Excelência estará presente à cerimônia de
posse do Comandante Geral da Polícia Militar do Estado da Bahia.
g. O pronome oblíquo é utilizado para posições hierárquicas equivalentes
e há ausência dele quando se trata de ‘superior’ para ‘subalterno’.
Ex.: a) Encaminho-lhe relatório de passeata...
b) Apresento a relação nominal dos soldados...
Em conseqüência destas alterações, fica extinto o tratamento de 2ª pessoa
do plural (vós) e os pronomes possessivos (vossos) e oblíquo (vos) nas
correspondências oficiais desta Polícia Militar93 .”

Obs.: Não concordamos em não empregar o pronome oblíquo correspondente, quando a


comunicação partir do superior para o subordinado, haja vista que os verbos que iniciam os
expedientes, na grande maioria das vezes, são verbos bitransitivos (transitivos diretos e indiretos),
i. é, são verbos que necessitam de dois complementos: um objeto direto e um objeto indireto.

Ora, se digo: “Apresento a relação nominal dos soldados...”, fica evidente que não tem cabimento
omitir-se o pronome oblíquo dativo lhe, já que quem apresenta, apresenta algo a alguém; algo
é a relação nominal dos soldados... mas quem é alguém? Ou o receptor da mensagem, o
destinatário, não é ninguém? Procedendo-se dessa forma, estaríamos mutilando o verbo
bitransitivo, bem como contrariando as normas de cortesia e respeito que regem as
correspondências oficiais. O correto é escrever-se: “Apresento-lhe a relação nominal dos
soldados” ou “Apresento a V. S.a a relação nominal dos soldados”.

As formas de tratamento
São as seguintes as formas de tratamento utilizadas no Brasil:
a. Vossa Alteza (V. A.): para príncipes, arquiduques e duques;
b. Vossa Eminência (V. Em.a) ou Vossa Eminência Reverendíssima (V. Em.a
Rev.ma): para cardeais; o vocativo correspondente é “Eminentíssimo Senhor
Cardeal ou Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal”.

93
Essa recomendação visa a suprimir o emprego de Vós na correspondência dirigida às autoridades militares
não tratadas por Vossa Excelência, opondo-se ao que recomenda o art. 36, n. 5, das IG 10-42. Cf. BRASIL.
Ministério do Exército, op. cit., p. 17.
74 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

c. Vossa Excelência94 (V. Ex.a): no Brasil, veremos os casos mais adiante;


porém, em Portugal, emprega-se essa forma de tratamento a qualquer
pessoa a quem se quer manifestar grande respeito; o vocativo
correspondente é “Excelentíssimo Senhor,” quando as comunicações
forem dirigidas aos Chefes de Poder 95 : “Excelentíssimo Senhor
Governador do Estado,”; “Excelentíssimo Senhor Presidente da
Assembléia Legislativa,”; as demais autoridades são tratadas com o vocativo
“Senhor”, seguido do respectivo cargo: “Senhor Chefe da Casa Militar
do Governador,”, “Senhora Secretária da Segurança Pública,”;
d. Vossa Magnificência96 (V. Mag.a): para reitores de universidades; o
vocativo correspondente é “Magnífico Reitor,”;
e. Vossa Majestade (V. M.): para reis e imperadores;
f. Vossa Excelência Reverendíssima (V. Ex.a Rev.ma): para bispos e arcebispos;
g. Vossa Reverendíssima (V. Rev.ma) ou Vossa Senhoria Reverendíssima
(V. S.a Rev.ma): para monsenhores, cônegos ou superiores religiosos;
h. Vossa Paternidade (V. P.): para abades, superiores de convento;
i. Vossa Reverência97 (V. Rev.a) ou Vossa Reverendíssima (V. Rev.ma): para
sacerdotes, clérigos e demais religiosos;
j. Vossa Santidade (V. S.): para papas; o vocativo correspondente é
“Santíssimo Padre,”;

94
“Embora o seu emprego, no português europeu, se tenha restringido bastante nas últimas décadas, e em
particular, nos últimos anos, ainda se usa a forma Vossa Excelência, na linguagem oral, em determinados
ambientes (p. ex.: Academias, Corpo Diplomático) ou situações (empregado de comércio dirigindo-se a
cliente, telefonista dirigindo-se a quem solicita uma ligação, etc.), sem que haja qualquer discriminação
nítida quanto à categoria da pessoa interpelada. Por vezes aparece reduzida a forma coloquial Vossência.
Na linguagem escrita, sob a forma abreviada V. Ex.a, é largo o seu uso, principalmente na correspondência
oficial e comercial”. Cf. CUNHA, op. cit., p. 287.
95
O Manual da Presidência refere-se apenas aos chefes de poder no âmbito federal, exemplificando, para
o emprego do vocativo Senhor: “Senhor Governador”. Esqueceu-se, porém, que o Governador de Estado
é o chefe do Poder Executivo na esfera estadual, motivo pelo qual somos favoráveis ao emprego do vocativo
Excelentíssimo Senhor aos Chefes de Poder das esferas estadual e municipal. Cf. BRASIL. Presidência da
República, op. cit., p. 23.
96
Há uma tendência moderna a equiparar esse tratamento a Vossa Excelência.
97
Essa forma é protocolar e só se aplica estritamente ao ocupante do cargo indicado. Às vezes, no tratamento
direto, é possível substituí-la por formas também respeitosas, porém menos solenes. Em vez de tratar-se o
sacerdote desta maneira, poderemos tratá-lo por senhor, ou, no português europeu, por senhor Padre. Cf.
CUNHA, loc. cit.
Manual de Redação Policial-Militar 75

k. Vossa Senhoria98 (V. S.a): para funcionários públicos graduados, oficiais99


até o posto de coronel100 , demais autoridades públicas e particulares; o
vocativo correspondente é “Senhor,”.

Obs.: 1. Nas formas abreviadas de tratamento, há sempre um espaço entre o ponto anterior
e a letra imediatamente seguinte. Assim, em vez de V.S.ª, use V. S.ª.

2. No envelope, as correspondências endereçadas às autoridades tratadas por Vossa Excelência,


independentemente de serem Chefes de Poder ou não, terão a estrutura a seguir, conforme o
Manual da Presidência101 :
Excelentíssimo Senhor

Fulano de Tal
Juiz de Direito da 10a Vara Cível

Rua ABC, n.º 123,

01010 – Salvador/BA

3. Nas correspondências endereçadas às autoridades e particulares tratados por Vossa Senhoria,


deve constar o seguinte endereçamento:

Ao Senhor
Fulano de Tal102

Rua ABC, n.º123

01010 – Salvador/BA

98
“É um tratamento praticamente inexistente na língua falada de Portugal e do Brasil. Na língua escrita,
emprega-se ainda em ambas as variedades diplomáticas – mas cada vez menos – em cartas comerciais, em
requerimentos, em ofícios, etc., quando não é próprio o tratamento de Vossa Excelência”. In.: CUNHA,
loc.cit.
99
As IG 10-42, no n. 4 do art. 36, recomendam o uso de V. S.a apenas para autoridades civis. Tal preceito
não mais tem fundamento, sendo largamente utilizado nos expedientes dirigidos aos militares.
100
Exceção ao Chefe da Casa Militar do Governador e ao Comandante Geral da PMBA, por razões que
veremos mais adiante.
101
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 23.
102
Repare que o manual da Presidência não faz referência ao cargo do destinatário nesse exemplo.
76 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Observe, no primeiro exemplo, que, precedendo o cargo da autoridade,


não há o emprego do tratamento digníssimo (DD.). O Manual da Presidência
aboliu o uso desse termo às autoridades tratadas por Vossa Excelência,
procedimento também seguido pelas IG 10-42103 . Entende o Manual104 , e
nós aquiescemos, que “a dignidade é pressuposto para que se ocupe
qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repetida evocação”.
Da mesma forma, às autoridades que recebem o tratamento de Vossa
Senhoria fica dispensado o uso do superlativo ilustríssimo105 (Il.mo), sendo
suficiente o tratamento Senhor. Seguindo-se essa mesma linha de raciocínio,
embora o Manual da Presidência não se posicione, torna-se desnecessário
o tratamento mui digno (MD.), antecedendo o cargo ou a função do
destinatário. Atenção: doutor não é forma de tratamento, e sim título
acadêmico, devendo ser reservado àqueles que, de fato, concluíram o
curso universitário de doutorado106 .
Nos envelopes, é bem comum encontrarmos a recomendação: “À atenção
de...”, com o fim de que a correspondência seja encaminhada a alguém
em especial, principalmente quando o documento é reservado. Cuidado:
a sua forma abreviada é At.., e não “Att.”, como observamos habitualmente:
At.: Fulano de Tal.
Outras expressões usadas nos envelopes:
E.M. – “Em mão” ou “em mãos”;
E.M.P. – “Em mão(s) própria(s)”: o documento é entregue pessoal-
mente;
A/C ou a/c – “Aos cuidados de”.

103
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 17.
104
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 24.
105
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA. loc. cit. O item 2.d da portaria tornou-se sem
efeito, em razão da presente recomendação: “Para a forma vocativa Ilustríssimo (Il.mo) usa-se o tratamento
VOSSA SENHORIA (V. S.ª) e a abreviatura MD. (muito digno). À forma EXCELENTÍSSIMO (Ex.mo)
correspondem o tratamento VOSSA EXCELÊNCIA (V. Ex.a) e a abreviatura D. (digníssimo)”.
106
Sobre o emprego de doutor, veja o que diz Celso Cunha: “De uso bastante generalizado em Portugal e
no Brasil é o título de Doutor. Recebem-no não só os médicos e os que defenderam tese de doutorado,
mas, indiscriminadamente, todos os diplomados por escolas superiores.” (In.: CUNHA, op. cit., p. 286).
Manual de Redação Policial-Militar 77

Quando se emprega “Vossa Excelência”


Emprega-se Vossa Excelência para as seguintes autoridades, conforme o
Manual da Presidência107 :

Do Poder Executivo
Presidente da República;
Vice-Presidente da República;
Ministros de Estado;
Secretário-Geral da Presidência da República;
Consultor-Geral da República;
Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República;
Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República;
Secretários da Presidência da República;
Procurador-Geral da República;
Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Federal;
Chefes de Estado-Maior das Três Armas;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;
Embaixadores;
Secretário Executivo e Secretário Nacional de Ministérios;
Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
*Chefe da Casa Militar do Governador108 ;
Prefeitos Municipais.

Do Poder Legislativo
Presidente, Vice-Presidente e Membros da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal;
Presidentes e Membros dos Tribunais de Contas Estaduais;
Presidentes e Membros das Assembléias Legislativas Estaduais;
Presidentes das Câmaras Municipais109 .
78 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

107
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 21-2.
108
Embora o Manual da Presidência não faça nenhum tipo de referência, trata-se o Chefe da Casa Militar do
Governador do Estado da Bahia por Vossa Excelência, em razão do Decreto Estadual n.º 7.564, de 5 de maio de 1999,
publicado no Diário Oficial de 6 de maio do mesmo ano, que aprova o Regulamento da Casa Militar do Governador:
“Art. 13 – Aos titulares de cargos em comissão, além do desempenho das atividades concernentes aos sistemas
estaduais, definidos em legislação própria, e da coordenação e execução das atividades de segurança que são
inerentes a todos os seus integrantes, cabe exercer as atribuições gerais e específicas a seguir enumeradas:
I – Chefe da Casa Militar do Governador:
...........................................................................................................................................................
f) praticar todos os atos administrativos, no âmbito da Casa Militar do Governador, deferidos aos
Secretários de Estado;” (grifo nosso)
No que se refere ao Comandante Geral da PMBA, o tratamento Vossa Excelência, para muitos, deixou de
ser empregado, em face do Decreto n.º 7.428, de 31 de agosto de 1998 e, posteriormente, do Decreto n.º
7.796, de 28 de abril de 2000 (Aprova a nova organização estrutural e funcional da Polícia Militar do Estado da
Bahia) – que veio a revogar o decreto anterior –, o qual não esclarece ter o Comandante Geral prerrogativas
de Secretário de Estado, conforme era previsto na Lei Estadual n.º 3.406/75 (Dispõe sobre a antiga
organização básica da PM), lei esta revogada e que assim vinha disposta:
“Art. 12. O Comandante Geral da Polícia Militar será um Coronel ou Tenente Coronel Combatente do
serviço ativo do Exército, proposto ao Ministério do Exército pelo Governador do Estado;
..................................................................................................................................................................
§6º. O Comandante Geral da Polícia Militar no âmbito do Estado tem prerrogativas de Secretário de
Estado.” (Cf. ARANHA, Roberto. Legislação policial militar. Coletânea de leis, decretos e normas da Polícia
Militar da Bahia. 3. ed. rev. e ampl. Salvador, Garamond, 1996. p. 7).
Veja, agora, como dispõe o Decreto 7.796/00, vigente, cujo texto é similar ao do Decreto 7.428/98, revogado:
“Art. 27 – Aos titulares de cargos em comissão, além do desempenho das atividades concernentes aos Sistemas
Estaduais,definidosemlegislação própria, cabeo exercício das atribuiçõesgerais eespecíficasaseguir enumeradas:
I. Comandante Geral:
...........................................................................................................................................................
c) promover e manter intercâmbio com os demais Secretários de Estado e Corporações Policiais
Militares;” (grifo nosso)
Quando o texto legal acima se refere aos demais Secretários de Estados, tem-se a idéia de inclusão do
Comandante Geral no rol daquelas autoridades que têm prerrogativas de Secretário de Estado. Nesse
sentido, a relação de telefones do Gabinete da Secretária da Segurança Pública inclui, na parte reservada
aos Secretários de Estado e correlatos, o nome do Comandante Geral.
Ocorre que, mesmo com o advento do Decreto n.º 7.796/00, observamos a manutenção do tratamento
cerimonioso de Vossa Excelência ao Comandante Geral nos expedientes públicos, inclusive àqueles advindos
de órgãos externos, como os do Poder Judiciário ou de outras Secretarias do Estado. Cf. POLÍCIA MILITAR
DO ESTADO DA BAHIA. loc. cit. O item 2.b. dessa portaria (não esqueçamos de que ela é de 1991,
portanto anterior ao decreto em análise) assim dispõe:
“.........................................................................................................................................................
b)Usa-se Vossa Senhoria (V. S.ª) – para Chefes de setores, Comandantes, Coronéis, Diretores de
Departamento, qualquer cidadão civil.
Obs.: O uso de V. Ex.a, na Polícia Militar, fica restritamente dirigido ao COMANDANTE GERAL desta Instituição.”
Ademais, é bom lembrar que a Ordem de Precedência nas cerimônias oficiais, de caráter estadual, posiciona
o Chefe da Casa Militar no sétimo nível de precedência. Nesse mesmo nível, seguem-se, logo depois e
nessa ordem, o Chefe da Casa Civil e o Comandante da Polícia Militar do Estado (para saber mais, cf.
BRASIL. Normas do cerimonial público da República Federativa do Brasil e ordem geral de precedência: Decreto
n. 70.274, de 9 de março de 1972 e suas alterações. Brasília, Imprensa Nacional, 1998).
Manual de Redação Policial-Militar 79

Do Poder Judiciário
Presidente e Membros do Supremo Tribunal Federal;
Presidente e Membros do Superior Tribunal de Justiça;
Presidente e Membros do Superior Tribunal Militar;
Presidente e Membros do Tribunal Superior Eleitoral;
Presidente e Membros do Tribunal Superior do Trabalho;
Presidente e Membros dos Tribunais de Justiça;
Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Federais;
Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais;
Presidente e Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho;
Juízes e Desembargadores.

Do Ministério Público
Procuradores de Justiça;
Promotores de Justiça.

Obs.: 1. O item “Do Ministério Público” não consta no Manual da Presidência. Entendemos,
porém, que é necessária a sua menção, tendo em vista que o tratamento devido aos membros
do Ministério Público é o mesmo dispensado aos membros do Poder Judiciário.
Esse tratamento decorre da Lei Complementar Federal n.º 8625/93110 , em seu Capítulo VI
(Das garantias e prerrogativas dos membros do Ministério Público), in verbis:

“Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de


sua função, além de outras previstas em Lei Orgânica:
I - receber o mesmo tratamento jurídico e protocolar dispensado aos membros do Poder
Judiciário junto aos quais oficiem;”

2. Alguns dicionários admitem o emprego de Vossa Excelência 111 para coronéis (e não só
oficiais generais) e vereadores em geral (e não só o Presidente da Câmara).

109
Repare que os vereadores não recebem o tratamento de Vossa Excelência, salvo, especificamente, o
vereador Presidente da Câmara.
110
Tanto essa Lei quanto à Lei Complementar Estadual n.º 11/89 instituíram, em nível nacional e estadual,
as Leis Orgânicas do Ministério Público, mediante autorização dada pela atual Constituição Federal
brasileira, conforme o §5.º do art. 128.
111
Esse emprego é apenas uma questão doutrinária (cf. LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 10. ed.
rev. e ampl. São Paulo, Ática, 1995. p. XII-XIII). Para que o seu uso fosse oficializado, necessária seria a
regulamentação por meio de norma técnica.
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Estudandoas
V abreviaturas

Uma questão interessante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83


Regras para a correta composição das abreviaturas e siglas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Publicações sobre o assunto dentro da PMBA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
A grafia das datas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
A grafia das horas: um grande equívoco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
A grafia correta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
A abreviatura dos postos e graduações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .94
Algumas observações importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Outras abreviaturas empregadas na PM
Manual de Redação Policial-Militar 83

Uma questão interessante


As abreviaturas, ao lado da confecção do ofício, constituem um dos
problemas mais controversos dentro da Polícia Militar, devido ao disposto
no manual de campanha Abreviaturas, Símbolos e Convenções
Cartográficas do Exército, C 21-30112 , que, em suas instruções para o
emprego das abreviaturas, contraria as regras existentes na ortografia oficial.
Nesse sentido, asseveram Odacir Beltrão e Mariúsa Beltrão113 :
“Com o passar dos anos, algumas normas se desgastaram ou se tornam
letra morta. É o que ocorre com a regra para abreviaturas. Os
regulamentos militares, os guias telefônicos e o Guia Postal Brasileiro
são, a par de outros, veículos de difusão de alterações, como eliminar-
se o ponto em abreviatura, dando-lhes feição de símbolo.
“Veja-se, por exemplo, o caso da palavra general. Sua abreviatura era
Gal., ainda mantida em nomes de logradouros, escolas etc., apesar de
haver passado a Gen. no formulário ortográfico oficial, editado em 1943,
usando-se gal. para galeria (logradouro). Hoje é comum a forma Gen.
sem ponto abreviativo, em publicações oficiais.” (grifamos).
A literatura castrense, a esse respeito, não chega a uma unidade doutrinária,
confundindo e dificultando, sobremodo, o emprego correto das formas
reduzidas de alguns vocábulos.
Com base no que dispõe o art. 40 das IG 10-42114 , passemos a analisar
esse fato:
“Art. 40 – Na correspondência militar, empregar-se-ão as abreviaturas
constantes no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e as
estabelecidas ou previstas no Manual de Campanha de Abreviaturas,
Símbolos e Convenções Cartográficas (C 21-30).”
Desse excerto, concluímos que, mesmo na correspondência militar ou
na redação castrense de um modo geral, devemos sempre observar as
regras contidas na ortografia oficial. Porém, o que percebemos é uma

112
Cf. BRASIL. Ministério do Exército. Abreviaturas, símbolos e convenções cartográficas. Manual de
Campanha: Portaria n. 173-EME, de 29 de agosto de 1972. 1. ed. 1972. C 21-30.
113
Cf. BELTRÃO, op. cit., p. 358.
84 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

verdadeira colcha de retalhos, no que se refere ao emprego das


abreviaturas na Polícia Militar e no Exército. Há construções totalmente
contrárias ao preconizado pela regra oficial, inclusive no que respeita a
abreviaturas já reconhecidas pelo formulário ortográfico, que assumem
uma feição distinta, quando grafadas no seio militar.
Pelo disposto no art. 40, ora descrito, devemos, primeiramente, observar
e seguir a regra do vocabulário ortográfico, por esta vir em primeiro
lugar no texto – realizando-se, assim, uma análise conforme o critério
topológico; depois, na sua omissão, seguiremos o que houver prescrito o
C 21-30, isto, contudo, dentro dos parâmetros ditados pela regra oficial.
Não podemos, em verdade, deixar de lembrar que, como em todo grupo
profissional, há regras e termos específicos, adstritos tão-somente àquele
meio, em face do caráter técnico que o envolve. Assim, as abreviaturas
dos postos e graduações da PMBA, como veremos logo, têm grafia
específica e divergente do breviário ortográfico.
Para que fiquem mais cristalinas essas considerações preliminares, veremos
três recomendações do C 21-30115 (Artigo I), quanto ao emprego das
abreviaturas, as quais são totalmente contrárias à ortografia oficial:
“2-1. Regras gerais
a. As letras inicias deverão ser maiúsculas, salvo as exceções previstas
neste Manual.
b. O gênero e o número não alteram as abreviaturas. Ex.: Forças
Armadas – FA e não FFAA.
c. As abreviaturas serão usadas sem pontos abreviativos”.
Veremos, a seguir, que esse trecho do C 21-30 não corresponde
à realidade.

Regras para a correta


composição das abreviaturas e siglas
Segundo a Editoração de Publicações Oficiais116 , “a abreviatura é uma
forma de redução, de contração escrita das palavras. É a parte de uma

115
Cf. BRASIL. Ministério do Exército. Abreviaturas, símbolos e convenções cartográficas, op. cit.,p. 2-1.
116
Cf. COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS, op. cit., p. 219.
Manual de Redação Policial-Militar 85

palavra que, na escrita, representa a palavra inteira. Trata-se, na realidade,


de um modo de grafar palavras, e até frases, com menor número de
caracteres do que aquele que ordinariamente se usaria”.
Assim conceitua Celso Pedro Luft117 :
“Abreviatura é a escrita reduzida de uma palavra ou locução: Álg. (Álgebra),
fut. Ind. (futuro do indicativo).
Recurso convencional da escrita para ganhar espaço e tempo, consiste
em eliminar uma ou mais letras de vocábulos e expressões de repetição
forçosa em determinados textos.”
Para compô-la, observamos as seguintes regras oficiais:
a. Deve-se abreviar palavras em razão da freqüência de seu uso numa
obra e do seu caráter preferencialmente técnico.
b. Se a abreviatura for por suspensão ou corte de elementos gráficos,
inclusive a parte final do vocábulo, deve ela terminar por ponto. Esse
ponto, geralmente, se coloca depois de consoante e depois da última
consoante dos encontros: sarg. (sargento), rec. (recurso), mod. (modelo)
adj. (adjetivo), constr. (construção)118 .
c. Se a abreviatura for por corte ou suspensão de elementos apenas
internos do abreviando, não haverá uso de ponto: rqte (requerente),
acdo (acordo).
d. Algumas abreviaturas mantêm, depois do ponto, a última ou as últimas
letras postas acima das outras, em corpo reduzido (sobrescrito): c.el
(coronel), t.te (tenente), ded.o (dedicado), am.o (amigo).
e. As abreviaturas ou símbolos que indicam peso, volume, medida, tempo,
formato, algarismos romanos em função ordinal, símbolos químicos e
matemáticos não recebem ponto abreviativo: g (grama), Km (quilômetro),
min (minuto), log (logaritmo), Fe (ferro), Pedro II, etc.
f. As abreviaturas de vocábulo composto por justaposição com hífen
guardarão o hífen: v.-alm. (vice-almirante), c.-alm. (contra-almirante), cap.-

117
Cf. LUFT, Celso Pedro. Grande manual de ortografia Globo. 2. ed. Rio de janeiro, Globo, 1987. p. 209.
118
“Certas abreviaturas técnicas modernas têm ponto depois de vogal ou depois da primeira consoante de
encontro. Assim, ago. (agosto), Anu. (Anuário), Anún. (Anúncio), Ci. (Ciência), ci. (científico), Fáb. (Fábrica),
Téc. (Técnica), etc. – são abreviaturas fixadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT (Norma
83, 5, 52)”, in.: LUFT, loc.cit.
86 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

m.-g. (capitão-de-mar-e-guerra), cap.-frag. (capitão-de-fragata), cap.-ten.119


(capitão-tenente), ang.-sax. (anglo-saxão), m.-q.-perf. (mais-que-perfeito).
g. Há abreviaturas com variantes: ten. ou t.te (tenente), ten.-c.el ou t.te-c.el
(tenente-coronel), sarg.-aj. ou sarg.-aj.te (sargento-ajudante), a.C. ou A.C.
(antes de Cristo)120 , f. fl. ou fol. (folha), bem como há também aquelas
que designam mais de uma palavra: p. (página, palmo, pé).
h. Os vocábulos de quatro letras ou menos só deverão ser objeto de
abreviatura se puderem, sem ambigüidade, ser reduzidos a uma só letra
seguida de ponto: v. (ver, veja, vede).
i. Uma vogal acentuada conserva o seu acento se fizer parte integrante
da abreviatura: méd. (médico).
j. As expressões honoríficas ou de tratamento somente deverão ser
abreviadas quando acompanharem o nome ou os atributos da pessoa a
que se referem: S. Ex.a o Chefe da Casa Militar do Governador. Nos
outros casos, deverão ir por extenso: Sua Excelência ainda não chegou.
k. Os femininos, nas abreviaturas, fazem-se com o acréscimo de um a
alçado: Dr., Dr.a .
l. Não usaremos abreviaturas nos nomes geográficos, conforme
recomendação da Conferência Geográfica do Rio de Janeiro (1926).
Portanto escrevemos Praça Castro Alves e não P. 121 Castro Alves, Rua
Padre Agostinho Gomes, e não R. P.e Agostinho Gomes.
m. Quanto ao plural das abreviaturas, podemos dizer que:
O plural das abreviaturas deverá ser feito, como regra geral,
acrescendo-se um s: btl. – plural: btls. (batalhões), Cia. – plural: Cias.
(companhias).
As letras maiúsculas devem ser dobradas: AA. (autores), VV.SS. (Vossas
Santidades), etc. As maiúsculas dobradas também podem representar
superlativos: MM. (Meritíssimo), SS. (Santíssimo). Observemos

119
Pelo C 21-30, os termos técnicos dessas abreviaturas, relativas aos postos da Marinha brasileira, são: V
Alte (vice-almirante), C Alte (contra-almirante), CMG (capitão-de-mar-e-guerra), CF (capitão-de-fragata) e
CT (capitão-tenente); cf. BRASIL. Ministério do Exército. Abreviaturas, símbolos e convenções cartográficas,
op.cit.p.2-6.
120
O manual de redação e estilo de O Estado de São Paulo apenas admite as formas a. C. e d. C.
121
Assim é a abreviatura de praça, no sentido toponímico.
Manual de Redação Policial-Militar 87

também que, por uma questão de tradição, algumas minúsculas


são duplicadas quando se flexionam no plural: ss. (seguintes),
pp. (páginas)122 .
As abreviaturas chamadas símbolos técnicos (veja o item e) não
têm plural: 100 m, 10 Km.
Às siglas123 , quando vão ao plural, simplesmente acrescentamos um
s (minúsculo) em seu final124 , sem o emprego do apóstrofo. Assim,
DA – plural: DAs (Departamentos de Administração, Diretórios
Acadêmicos), e não DA’s, DF – plural: DFs (Departamentos de
Finanças), e não DF’s. Atenção: o plural de PM é PMs (policiais militares
ou polícias militares). Então, o correto é escrevermos: “Dois PMs
salvaram a vida de um cidadão.” e não “Dois PM salvaram a vida de
um cidadão.” Contrariando o que o C 21-30 diz, o número altera a
abreviatura e, conseqüentemente, a sigla. Não pluralizar as siglas é
um erro muito comum dentro da Polícia Militar.
Obs.: Segundo o Aurélio125 , sigla “é a reunião das letras iniciais dos vocábulos fundamentais
de uma denominação ou título, sem articulação prosódica, constituindo meras abreviaturas.”

A sigla é, então, a reunião das iniciais de um nome próprio composto de


várias palavras. Corresponde, também, a uma grafia abreviada de uma
locução substantiva ou nome composto, por meio da representação das
iniciais – em caixa alta, i. é, em maiúsculas – dos elementos ou caracteres
que a compõem.
São as seguintes as peculiaridades da sigla:
a. Ela pode ser dividida em sigla real, i. é, constituída apenas pelas letras
iniciais dos nomes próprios: PMBA, QCG, etc.; e sigla por extensão, ou sigla

122
Segundo a ABNT, a abreviatura de página, tanto no singular quanto no plural, é p.
123
No dizer do manual de redação e estilo de O Estado de São Paulo, “abreviaturas que se identificam
com siglas”.
124
Embora ainda exista divergência na doutrina, a maioria dos autores flexiona a sigla. Nesse sentido:
COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS, op. cit.; LUFT, op. cit.; O ESTADO DE
SÃO PAULO. Manual de redação e estilo de O Estado de São Paulo. Eduardo Martins. 3. ed. rev. e ampl. São
Paulo, Moderna, 1997. p. 23; BELTRÃO, op. cit., p. 65, etc. Em sentido contrário: BRASIL. Ministério do
Exército. Abreviaturas, símbolos e convenções cartográficas, loc. cit.; EMPRESA GRÁFICA DA BAHIA. Manual
de redação e revisão da EGBA. 2. ed. rev. e ampl. Salvador, s/d. p. 37.
125
Cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa.
3. ed. totalmente rev. e ampl. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. p. 1853.
88 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

imprópria126 , que é aquela constituída de mais de um elemento do mesmo


nome: Rondesp, Codeplan, etc.
b. Geralmente, não se usam pontos intermediários ou pontos-finais nas
siglas127 : PMBA (e não P.M.B.A.), embora o próprio Aurélio prefira o uso
do ponto;
c. Na primeira citação, devemos explicar sempre o que a sigla significa,
colocando-a entre parênteses, logo em seguida. Na repetição, basta
a sigla, assim: “Terminou ontem o Curso de Aperfeiçoamento de Ofici-
ais (CAO). Segundo o coordenador do CAO...”, nunca, porém, use a
forma inversa: “Terminou ontem o CAO (Curso de Aperfeiçoamento
de Oficiais)”;
d. Siglas e acrografias128 notórias, como a dos principais partidos políticos,
bancos, companhias aéreas e alguns órgãos governamentais, dispensam
explicações: PMDB, SSP, PMBA, Bradesco, Vasp, etc.
e. Todas as siglas de até três letras são escritas em caixa alta (maiúsculas):
QCG, DA, APM, CPM;
f. Voltando-se à Conferência de Geografia, havida no Rio de Janeiro em
1926, em seu art. 18, ficou estabelecido que o Estado da Bahia teria a
abreviatura Ba., porém, hoje em dia, em lugar dessa abreviatura, usamos
a sigla BA; daí a grande confusão e o porquê de encontrarmos em
vários documentos a antiga forma. Não se esqueça mais: o correto é
BA (em maiúsculas); Ba. é símbolo químico de bário: Salvador/BA, Porto
Seguro/BA, etc.
g. As siglas e acrônimos com quatro ou mais letras, querendo-se, podem
ter somente a inicial maiúscula quando são silabadas, i. é, quando são
pronunciáveis. Assim, podemos grafar Copom, Rondesp, Efap, Coppa,
Codeplan, Aids, Planserv, Funprev;

126
Por sigla imprópria, temos, curiosamente, as palavras cadáver e larápio. Aquela, possivelmente, é originária
do latim caro data vermicus (carne dada aos vermes); esta, advém do nome de um certo pretor romano que,
no exercício de suas funções, de forma corrupta, favorecia a quem melhor lhe pagasse: Lucius Antonius
Rufus Appius, que assinava L.A.R.Appius (cf. BELTRÃO, op. cit., p. 68).
127
É a tendência moderna.
128
Constituem a reunião de elementos (iniciais, primeiras letras e sílabas) dos componentes de um nome,
com a intenção de formar uma palavra silabável (pronunciável), e deve ir, sempre, em caixa alta e baixa
(maiúsculas e minúsculas): Sudene, Varig, etc. São as siglas por extensão, propriamente ditas.
Manual de Redação Policial-Militar 89

h. As siglas com quatro ou mais letras devem ir em maiúsculas quando se


pronuncia separadamente cada uma de suas letras ou parte delas: PMBA,
IMLNR, VPMB;
i. Algumas siglas podem levar maiúsculas e minúsculas na sua estrutura,
porém não deve haver espaços entre as letras129 . Portanto, a sigla correta
do Esquadrão de Polícia Montada é EsqdPMont, em vez de Esqd P Mont,
conforme foi institucionalizada, por meio da Nota n.º ACG/034/03/88,
publicada pela PMBA no BGO n.º 56, de 25 de março de 1988. As siglas
corretas do Esquadrão de Motociclistas Águia e da Companhia de Polícia
Rodoviária (hoje transformada em Batalhão130 ) são, respectivamente,
EsqdMcl e CiaPRv (sem espaço), em vez de Esqd Mcl e Cia P Rv, conforme
foram institucionalizadas, por meio da Nota n.º ACG/019/02/88, publicada
no BGO de 18 de fevereiro de 1988. O curioso é que, nessa mesma
nota, a regra correta foi seguida para o caso das siglas do Batalhão de
Polícia de Choque e do Batalhão de Polícia de Guardas, senão vejamos:
BPChq e BPGd, respectivamente. É a famosa história da colcha de retalhos:
não havia uma sistematização normativa nas publicações desse gênero.

Publicações sobre o assunto dentro da PMBA


Quanto às publicações sobre abreviaturas na PMBA, dentre outras, consta-
nos o C 21-30 (1972), as IG 10-42 (1994), algumas publicações no Boletim
Geral Ostensivo, tais como as contidas no BGO n.º 30 (1988), e no
BGO n.º 56, (1988). Essas duas últimas publicações, no entanto, não trazem
nada de novo, além das abreviaturas dos órgãos da antiga estrutura da
PMBA, seguindo-se o padrão do C 21-30.
Transcrevemos, abaixo, para o fim de melhor entendermos os tópicos
que virão a seguir, um excerto da Nota n.º ACG/019/02/88131 , a qual
está lastreada nas IG 10-42 revogadas:

129
Para melhores esclarecimentos, cf. O ESTADO DE SÃO PAULO, op. cit., p. 268.
130
A transformação da CiaPRv em Batalhão deu-se mediante o Decreto n.º 7.807, publicado no Diário
Oficial do Estado da Bahia n.º 17.398, a seguir transcrito, de 19 de maio de 2000 (observe, nesse excerto,
que as normas para a composição das siglas CiaPRv e BPRv foram perfeitamente observadas):
“Art. 1º - Fica transformada, na estrutura da Polícia Militar da Bahia, a Companhia de Polícia Rodoviária
– CiaPRv em Batalhão de Polícia Rodoviária – BPRv, com sede no Município de Salvador-BA, subordinado
ao Comando de Policiamento do Interior e com autonomia administrativa. (grifamos)
131
Cf. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA. Nota para BGO n. ACG/019/02/88. Recomenda o
uso das abreviaturas de órgãos da estrutura da PMBA. Boletim Geral Ostensivo, Salvador, 30:387-90, fev. 1988.
90 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

“ABREVIATURAS DE ÓRGÃOS DA ESTRUTURA DA PMBA


(Recomendação quanto ao uso)
Transcreve-se o Capítulo XIII das IG 10-42 (Instruções Gerais para a
Correspondência no Ministério do Exército), que trata das abreviaturas
e símbolos:
Capítulo XIII
Das abreviaturas e símbolos
“Art. 44 – As abreviaturas destinam-se à simplificação de palavras e
expressões correntes na linguagem.
“Art. 45 – Na correspondência militar, empregar-se-ão as abreviaturas
constantes do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e as estabe-
lecidas ou previstas no manual de campanha ‘Abreviaturas, Símbolos e
Convenções Cartográficas’.
“Art. 46 – As abreviaturas militares devem ser empregadas somente entre
militares e, obrigatoriamente, na correspondência interna de uma OM.
“Art. 47 – Num mesmo documento empregar-se-á a abreviatura
livremente se, na primeira vez em que for empregada, vier precedida de
seu significado por extenso.
“Art. 48 – Principais regras para emprego de abreviaturas:
1. As letras iniciais de todas as abreviaturas devem ser maiúsculas;
2. O gênero e o número não alteram a abreviatura;
(Ex.: Polícias-Militares – PM e não PPMM)
3. A abreviatura dos tempos do verbo, quando não especificado em
contrário, será a mesma do substantivo correspondente;
(Ex. Abastecimento, abastecer, abastecido... Abst)
4. O nome dos meses será sempre abreviado com as três primeiras letras;
5. O ano será representado pelos algarismos das dezenas e unidades
e os dias com dois algarismos;
6. A data será escrita na seguinte ordem: dia, mês e ano;
Ex.: 25 Jan 31.
7. A hora será indicada utilizando-se número de quatro algarismos, dos
quais, os dois primeiros correspondem às horas e os dois últimos aos minutos;
Manual de Redação Policial-Militar 91

8. O grupo data-hora deve ser escrito da seguinte maneira: 241300


Dez 52 (às treze horas, de vinte e quatro de dezembro de 1952);
9. As abreviaturas podem ser combinadas;
10. As abreviaturas de grupos de palavras devem ser usadas apenas
como tal, não podendo ser fracionadas.
11. As siglas são formadas por letras maiúsculas, sem espaço entre
as mesmas132 .”

Obs.: Como já analisamos anteriormente, os itens 1 e 2 do art. 48, por nós grifados, não
encontram fundamento na ortografia oficial.

A grafia das datas


Lendo-se atentamente os itens 4, 5 e 6 do art. 48 em referência (trata da
composição das datas), verificamos que, para um fato havido em 23 de
janeiro de 1973, pela regra descrita, assim grafamos: 23 Jan 73.
Embora saibamos que este tipo de grafia constitui uma convenção no
uso militar, temos, por obrigação, que tecer alguns comentários:
Item 4. se o nome dos meses será sempre abreviado, não precisamos
dizer que usaremos, para tal, as três letras iniciais, já que, ao consultarmos
a ortografia oficial, já teremos esta informação; aliás, seguindo-se a regra,
bem como a recomendação da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), o mês de maio não se abrevia133 (lembre-se da composição
das abreviaturas: maio tem apenas quatro letras), embora o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1981, registre a redução do mês
de maio (mai.). Também poderemos nos deparar com a redução do mês
de maio baseada na nomenclatura latina (Mai.), assim se grafando os
demais meses: Ian, Feb, Mar., Apr, Jun, Jul, Aug, Sep, Oct, Nov e Dec.
Item 6. veremos que o mês de janeiro (Jan), com a inicial maiúscula, foi
abreviado de forma distinta da existente na ortografia oficial, que tem a
inicial minúscula, sendo terminada ou não por ponto: jan., jan; se fôssemos

132
Veremos, mais adiante, que o emprego de “as mesmas” não está correto; cf., no Capítulo VI: “Tira-
dúvidas de expressões castrenses”.
133
Nesse sentido: BELTRÃO, op. cit., p. 65; COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS,
op. cit., p. 57; em sentido contrário: LUFT, Celso Pedro, op. cit., p. 221, que admite as formas abreviadas
mai. (com o ponto) e mai (sem o ponto), embora fiquemos com a primeira corrente.
92 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

seguir, à risca, o mandamento oficial, assim ficaria a composição da data:


23 jan. 31, ou 23 jan 31, ou 23 jan.º 31. Acrescente-se que alguns preferem
referir-se às datas, a exemplo do Manual de Editoração de Publicações
Oficiais134 , da seguinte maneira: 23 jan. 1931, i. é, com a grafia completa
do ano e dando-se preferência ao ponto no final da abreviatura.
São as seguintes as abreviaturas oficiais dos meses :
Janeiro Julho
jan.º, jan., jan jul., jul
Fevereiro Agosto
fev.º, fev., fev ag., ag.to, ago. ago
Março Setembro
ço
m. , mar., mar set.º, set., set
Abril Outubro
abr., abr out.º, out., out
Maio Novembro
*** nov.º, nov., nov
Junho Dezembro
jun., jun dez.º, dez., dez

A grafia das horas: um grande equívoco


Dizemos ser um grande equívoco o modelo de grafia das horas no âmbito
militar porque, na verdade, se trata de uma forma totalmente adversa
àquela reconhecida pelos modernos meios de comunicação.
Da análise do item 7 (“a hora será indicada utilizando-se número de
quatro algarismos, dos quais, os dois primeiros correspondem às horas e
os dois últimos aos minutos”), temos que o horário de treze horas e
trinta minutos, ou uma e meia da tarde, é expresso por 1330, conforme
exemplo do próprio C 21-30, bem como das IG 10-42135. Numa versão
mais atual, essa grafia foi melhorada para 13:30H, a qual é utilizada em
larga escala dentro dos quartéis.
134
Cf. COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS, op. cit, p. 58-9.
135
Cf. BRASIL. Ministério do Exército, op. cit., p. 53.
Manual de Redação Policial-Militar 93

Dessa “evolução” das horas, notamos o aparecimento de dois-pontos


entre os algarismos das horas e dos minutos, terminando o designativo
por um H (maiúsculo), dando a idéia de ser a abreviatura horária, o que
é uma idéia equívoca, pois a abreviatura de hora é h (minúsculo),
inobstante a evidente contradição do C 21-30, onde, no artigo sobre as
abreviaturas de unidades de medidas, grafa hora com h (minúsculo),
noutro, que trata das abreviaturas gerais, grafa a unidade de medida horária
com H (maiúsculo).
Na verdade, esse tipo de grafia, que também é usado em alguns outros
setores da sociedade, é uma tentativa de adequação ao modelo americano;
acontece, porém, que estamos no Brasil, e, aqui, a regra é outra.
Assim, temos os seguintes tipos equivocados de grafia das horas dentro
da PM, isto sem contar com as grafias que vêm com um ponto ao final
das letras. Convém lembrar, também, que a abreviatura de horas não vai
ao plural por ser um símbolo científico136 :
1330, 13:30, 13:30H, 13:30 H, 13:30HS, 13:30 HS, 13:30Hs, 13:30 Hs,
13:30h, 13:30 h, 13:30hs, 13:30 hs, 13H30, 13H30MIN, 13H30min

A grafia correta
Para grafarmos corretamente as horas, devemos seguir a regra abaixo,
muito empregada no meio jornalístico, a exemplo dos jornais A Tarde,
Folha de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil:
a. Nas horas cheias, escrevemos o algarismo seguido da palavra horas
por extenso: 2 horas, 8 horas, 13 horas, 20 horas. Repare que não se
acrescenta o zero à frente das horas com um só algarismo (9 horas e
não 09 horas).
Obs.: O manual de redação do jornal O Globo137 prefere a forma abreviada das horas: 2h, 8h,
13h, 20h (sem espaço entre o número e o símbolo), utilizando-se a forma por extenso quando
a indicação das horas for apenas aproximada: “O soldado chegou por volta das 13 horas”,
“Comunico a V. S.a que, às 15 horas, aproximadamente...”.

136
Num pequeno deslize, o Manual de Redação Forense (cf. RODRÍGUEZ, Victor Gabriel de Oliveira.
Manual de redação forense. 1. ed. Campinas, Editora Jurídica Mizuno, 2000, p. 182-3) apresentou as seguintes
frases: “O reclamante cumpre seu turno diariamente, das 08:00hs. às 17:00hs.” / “Às 13:00 horas saio
daqui e chego no fórum a tempo para a audiência.” (grifamos). Note que o símbolo de horas está no plural
e seguido por um ponto abreviativo, além de estarem as horas separadas por dois-pontos.
137
Cf. O GLOBO. Manual de redação e estilo. Organizado e editado por Luiz Garcia. 23. ed. São Paulo,
Globo, 1996. p. 64-5.
94 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

b. Nas horas quebradas, escrevemos h, min e s para as horas, minutos e


segundos, respectivamente, sem dar espaço entre os números: 7h10,
13h30, 18h20.
Obs.: Malgrado o entendimento distinto do manual de redação O Globo, a indicação dos
minutos (min) só será necessária se a especificação da hora chegar até o número de segundos:
7h10min27s, 13h30min30s138 .
c. Usa-se o artigo antes de horas: “O serviço será das 7 às 13 horas”
“A parada começou às 9 horas”.
d. Genericamente, considera-se que a madrugada vai de zero às 6 horas;
a manhã, das 6 horas ao meio-dia; a tarde, do meio-dia às 18 horas e a
noite, das 18 às 24 horas.
e. A meia-noite e a zero hora se equivalem, mas aquela se refere ao dia
anterior e esta, ao posterior. Assim, para nos referirmos a uma ocorrência
havida nesse horário, ao confeccionarmos o relatório, pela manhã, no
final do serviço, podemos dizer: “Levo ao conhecimento de V. S.a que,
por volta da meia-noite de ontem...” ou “Levo ao conhecimento de V. S.a
que, por volta da zero hora de hoje...”
Obs.: Repare que utilizamos a expressão “da meia-noite” e “da zero hora”, já que devemos
anteceder o artigo às horas, e não de meia-noite e de zero hora, onde a preposição de
permanece sem contração.

A abreviatura dos postos e graduações


No Estado baiano, os postos e graduações policiais-militares estão
regulamentados pela Lei Estadual n.º 7.145, de 19 de agosto de 1997
(Reorganiza a escala hierárquica da Polícia Militar do Estado da Bahia, reajusta
o soldo dos policiais militares e dá outras providências). Suas respectivas
abreviaturas estão regulamentadas pelo Manual de Abreviaturas, na seção
relativa ao Exército (C21-30).
Na página seguinte, os postos e graduações:

138
Nesse sentido, os jornais A Tarde, A Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, dentre outros; é o emprego
mais usual nos dias de hoje.
Manual de Redação Policial-Militar 95

Coronel Aluno Oficial


Cel Al Of
Tenente Coronel 1º Sargento
Ten Cel 1º Sgt
Major Aluno Sargento
Maj Al Sgt
Capitão Soldado de 1a Classe
Cap Sd 1a Cl
1º Tenente Aluno Soldado
1º Ten Al Sd
Aspirante a Oficial
Asp

Obs.: 1. Para as graduações de Aluno Sargento e Aluno Soldado, a Lei 7.145/97 139 refere-se
ao Aluno do Curso de Formação de Sargentos, aquela; e ao Aluno do Curso de Formação de
Soldados, esta. As suas respectivas abreviaturas, bem como a abreviatura de Aluno Oficial, não
constam no C 21-30.

2. A Lei em análise desconheceu a grafia correta dos vocábulos “tenente coronel” e “aspirante
a oficial”. Ambos são substantivos compostos, sendo grafados com o hífen: tenente-coronel e
aspirante-a-oficial140 .

3. Essa Lei extinguiu os seguintes postos e graduações: 2º Tenente, 3º e 2º Sargentos e Soldado


de 2.a classe.
4. As graduações de Aspirante a Oficial, Subtenente e Cabo serão extintas, à medida que vagarem141 .

Já sabemos, contudo, que as abreviaturas de postos e graduações militares,


constantes na ortografia oficial, são diferentes dessas vistas acima; mas
temos aí um caso de especificidade técnico-profissional, onde a própria
grafia já tem uso consagrado nacionalmente até na imprensa escrita e
televisada. No entanto, algum órgão, público ou privado, poderá vir a
referir-se aos postos e graduações, utilizando a abreviatura prevista no
Vocabulário Ortográfico, o que não estará errado.

139
Cf., nessa Lei, o art. 1º, II, “c” e “d”.
140
Cf. BRASIL. Ministério do Exército. Abreviaturas, símbolos e convenções cartográficas, op. cit., p. 2-6.
141
Cf. nos arts. 3º e 4º desta Lei.
96 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Estas são as abreviaturas policiais-militares mencionadas pela ortografia


oficial142 : c.el (coronel), ten.-c.el ou t.te-c.el (tenente-coronel), maj. (major),
cap. (capitão), ten. ou t.te (tenente), asp. ou asp.te (aspirante), sarg. (sargento).

Algumas observações importantes


a. As palavras número e artigo devem ser escritas de forma abreviada
(n.º, art.), quando vierem seguidas de algarismo, individualizando-as, e
por extenso, quando não houver complemento: “Não sei o número do
documentoexpedido.”, “O documento expedido é o de n.o 36”, “A
que artigo você se refere?”, “Refiro-me ao art. 73”. A regra também
vale para a palavra inciso (inc.).
b. Os números cardinais, quando designarem datas (anos), devem ser
escritos sem pontos ou espaços, ao revés do número de leis, decretos,
portarias, etc., que grafamos com ponto: ano 2000, e não ano 2.000,
porém grafamos Lei n.º 2.000 e não Lei n.º 2000.
c. Os ofícios, memorandos, leis, decretos, portarias, e outros documentos,
quando citados de maneira genérica, i. é, sem a especificação do número
e/ou data, vêm grafados por extenso e em minúsculas; porém, quando
individualizados, grafamos de modo abreviado – quando possível –, ou
por extenso, com a inicial maiúscula: “Ainda não recebemos o ofício da
Corregedoria.” “Qual a lei que regulamenta o porte de armas?” “Ontem
recebi o Ofício n.º 001/DP”, “Encaminhamos o Memor. n.º 123/UAAF”,
“Analisei o Dec.-Lei n.º 456”, etc.
d. Na primeira remissão a texto legal, a citação deve ser feita por extenso:
Lei Estadual n.º 3.933, de 6 de novembro de 1981; nas remissões seguintes,
a citação deve ser feita na forma reduzida: Lei Estadual n.º 3.933/81, ou
Lei Estadual n.º 3.933, de 1981.

Outras abreviaturas empregadas na PM


Listamos, a seguir, uma pequena relação de abreviaturas que podem ser
utilizadas no meio castrense, principalmente na confecção de relatórios
de serviço. São abreviaturas de nomes de pessoas, logradouros,
nacionalidades, profissões, palavras ou expressões de uso freqüente, dentre
outras. Podemos, também, fazer algumas combinações dessas abreviaturas:
da função de Ajudante-Secretário, p. ex., temos: aj.te + secr. = aj.te-secr.

142
É importante frisar que Odacir Beltrão e Mariúsa Beltrão (cf. BELTRÃO, op. cit., p. 64), quando se
referem à maioria das abreviaturas de postos militares, grafam a inicial maiúscula, como, p. ex., Gen.
(general), Cel. (coronel), Maj. (major), Cap. (capitão), Ten. ou T.te (tenente).
Manual de Redação Policial-Militar 97

A
A., AA Adm. asp. ou asp.te
autor, autores Administração, aspirante
Administrador
abrev. ass.
abreviatura aj. ou aj. te assinado
ajudante
Ant.º Assist.
Antônio alem. Assistência
alemão
ap. ou apart. Assoc.
apartamento Alf. Associação
alfabeto; alferes
ar. at. te
árabe alm. atenciosamente
almirante; almude(s)
Arq. Av.
Arquivo(s) Alm. avenida
Almanaque(s) (toponimicamente)
art.
artigo; artilharia amer. Aviaç.
ou artilheiro americano Aviação

B
B. ou B.º bilh.e Bras.
beco bilhete Brasil
(toponimicamente)
bimens. brig. ro
el
B. bimensal brigadeiro
bacharel;
bimestr. btl.
éis
B. bimestral batalhão
bacharéis
BR
Bibl. Brasil
Biblioteca
bras.
Bibliogr. brasileiro ou brasileirismo
Bibliografia
98 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

C
C. cav. Col.o
Correio cavalaria Colégio
C. ou Calç. cav.o com.
calçada cavaleiro comandante;
(toponimicamente) comendador
C.ia ou Cia.
Caç. Companhia Comiss.
caçadores (comercial ou Comissão
(do Exército) militarmente)
comp.
c.-alm. Cid. companhia
contra-almirante Cidade (militarmente);
composto;
Câm. Cir.
Câmara Cirurgia compl.
complemento
Cap. Circ.
Capital Circular Comun.
Comunicações
cap., caps. civ.
capítulo, capítulos civil cond.
condicional; condutor
cap.-frag. Cl.
capitão-de-fragata Clérigo; Classe Conf.
Conferência
cap.-m.-g. Classif.
capitão-de-mar-e- Classificação Congr.
guerra Congresso
Clín.
cap.-ten. Clínica Cons.
capitão-tenente Conselho
clín.
Cart. clínico Corresp.
Cartografia Correspondência
Cód.
cat. Código Crít.
catálogo Crítica
Colet.
catól. Coletânea cump.to
católico cumprimento
Manual de Redação Policial-Militar 99

D
D. dipl. doc., docs.
Domingo; Diário; diploma documento,
Digno; Dom, Dona documentos
Dir.
déb. Direito Doç.
débito Documentação
Diret.
Dec. Diretoria Dr., Drs.
Decreto Doutor, Doutores
Diretr.
Dep. Diretrizes Dr.ª, Dr.as
Departamento Doutora, Doutoras
Dist.
desp. Distrito
despesa; desporto
Div.
dic. Divisão
dicionário

E
econ. Ens. etc.
econômico Ensaio; Ensino et cetera (e assim
por diante)
Educ. Esc.
Educação Escola evang.
evangélico
eletr. escol.
eletricista escolar ex.
exemplo(s)
Emp. Escr.
Empresa Escrita; Escritor; Exérc.
Escritura Exército
enf.
enfermeiro espec. Ext.
especial Exterior
Eng.
Engenharia; Est.
Engenheiro Estado; Estudo(s)
eng.º ou Eng. estrang.
engenheiro estrangeiro
100 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

F
f., fl. ou fol. Farm. Fin. (ABNT: finan.)
folha Farmácia, Farmacologia Finanças
fls. ou fols. Fed. folh.
folhas Federação folheto
Fáb. fed. for.
Fábrica federal forense
Fac. fem. fot.
Faculdade feminino fotógrafo, fotográfico
fam. Ferr.ª fs.
familiar Ferreira Fac-símile(s)
farm. ferrov. Func.
farmacêutico ferroviário Funcionário

G
g gír. Grafol.
grama(s) gíria Grafologia
g. ou gr. g.-m. Gram.
grau(s) guarda-marinha Gramática
g.de Gov. gram.
grande Governo gramatical
gen. gov.
general governamental

H
h herd.º Hosp.
hora(s) herdeiro Hospital
hab. hist.
habitante(s) histórico
Heráld. hon.
Heráldica honorário
Manual de Redação Policial-Militar 101

I
ib. ou ibid. industr. Invest.
ibidem (no mesmo industrial Investigação
lugar, na mesma hora)
inf. ip. lit.
id. infantaria, infante; ipsis litteris (letra por
idem (o mesmo, do infantil; infinitivo; letra, literalmente)
mesmo autor) informativo
ip. v.
i. é Inf. ipsis verbis (palavra
isto é Informação; por palavra,
Informador textualmente)
i. e.
id est (isto é) ingl. irreg.
inglês irregular
Impr. (ABNT)
Imprensa Inst. it. ou ital.
Instituição; Instituto italiano
indef.
indefinido int. il.
internacional ilustrações
J
J. Jorn. jur., juríd.
Jornal Jornalismo jurídico
jap. J.r ou J.or Jurispr.
japonês Júnior Jurisprudência
J.é Judic. Just.
José judiciário Justiça
J.º Jur.
João Jurisprudência

K
kg km/h K.O.
quilograma(s) quilômetro(s) knock-out
por hora (fora de combate)
km
quilômetro(s)
102 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

L
l legisl. loc. cit.
litro(s) legislativa loco citato (no lugar
citado)
l., l.º ou liv. Legisl.
livro Legislação; Legislatura Long.
longitude
L. Leit.
largo (toponicamente); Leitura Lt.da ou Ltda.
Leste limitada
lig.
Lab. ligação
Laboratório
ling.
L.da lingüístico, linguagem
Licenciada
Liv. (ABNT)
L. do Livraria
Licenciado

M
m méd.-vet. M.me
metro(s) médico-veterinário Madame
m. M.el Monit.
masculino; mês ou Manuel Monitor
meses; morreu
Mem. Monogr.
m ou min Memória; Memorial Monografia
minuto(s)
Memor. m.or
M.ª Memorando morador
Maria
mens. Mun.
Man. mensal Município
Manual
Mensag. Mus.
maq. Mensagem, Museu
maquinista Mensageiro
Mús.
Mar. MM. Música
Marinha meritíssimo
masc. Met.
masculino Meteorologia
méd Mét.
médico(s) Método
Manual de Redação Policial-Militar 103

N
n N.C. ou N/C Notic.
abrev. de número nesta capital ou Noticiário
natural nesta cidade
núm.
nac. neg. número
nacional negativo (em Gramática)
Náut. n.o
Náutica número
Naveg. Not.
Navegação Notícia(s)

O
obj. op. cit. opin.
objeto opus citatum opinião
(obra citada)
obs. ou Obs. Org.
observação oper. Organização
operação; operário
of. ou Of.
oficial; oferece(m)

P
p. ou pág. P.D. pess.
página; É errado pede deferimento pessoa, pessoal
abreviar pg., que vale
peq. p. ex.
por pago
pequeno por exemplo
P.
per. P.J.
praça
periódico pede justiça
(toponimicamente)
Per. a p.m.
P. ou P.e
Pereira post mortem (depois
Padre; PP. ou P.es =
da morte); post
Padres Pesq.
meridiem (depois do
Pesquisa
pal. meio-dia)
palavra(s)
104 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

pop. proc. Psican.


popular processo; procuração; Psicanálise
procurador
Pop. Psicot.
População prof., profs. Psicotécnica
professor, professores
Pov. Psiq.
a as
Povoação, povoado prof. , prof. Psiquiatria
professora, professoras
p.p. Publ.
por procuração; Prot. Publicações
próximo passado Protocolo
públ.
pref. Prov. público
prefeito; prefixo, Providência; Província
prefixal
P.S.
pres. post scriptum
presente; presidente (pós-escrito)
probl. Psic. (ABNT) ou Psicol.
problema(s) Psicologia

Q
q. ou q q.ta, q. to quinz.
que quanta, quanto quinzenal
q.m quadrim. quot.
quem quadrimestral quotidiano
q.do quart.
quando quarteirão
Q.G. Quest.
quartel-general Questionário;
Manual de Redação Policial-Militar 105

R
R. reg.o Res.
Rei; reprovado; réu registrado; Resenha; Resumo
(linguagem forense); regulamento
res.
Revista; rua
Regul. reserva (militarmente)
(toponimicamente)
Regulamento
Reun.
R.a
rel. Reunião
Rainha
relativo
Rev.
Radiogr.
Rel. Revista
Radiograma
Relação
Rodov.
rec.
Relat. Rodovia
receita
Relatório
rodov.
rec.o
Relig. rodoviário
recebido
Religião
(comercialmente) Rot.
Rem.te Roteiro
Recr.
Remetente
Recreação rubr.
rep. rubrica
ref.
reprovado
reformado; referente
(classificação escolar)
ou referido
Rep.
reg.
República
regimento; regional;
registro; regular Repart.
Repartição

S
s ou seg séc., sécs. Secret.
segundo(s) (Fís.) século, séculos Secretaria
sarg.-aj. ou sarg.-aj.te Secç. seg.
sargento-ajudante Secção seguinte; segs.
s:d. secr. ss.
sem data; sine die secretário seguintes
106 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

sem. Sinop. S.ta ou Sta.


semana; semestre Sinopse Santa
semest. Sínt. S.to ou Sto.
semestral Síntese Santo
sent. Sist. Subdist.
sentido Sistema Subdistrito
sep. S.M.J. suj.
separata, separado salvo melhor juízo sujeito
Serv. Sr., Srs. sup.
Serviço Senhor, Senhores superior
Sess. Sr.a, Sr.as
Sessão, Sessões Senhora, Senhoras
Sind. Sr.ta ou Srta.
Sindicato Senhorita

T
Téc. Territ. Trav. ou T.
Técnica Território travessa
téc. tes. trim.
técnico tesoureiro trimestre(s)
tel. test. trimestr.
telefone; telegrafista; testemunha (ABNT: trimest.)
telegrama Trab. trimestral
Telecom. Trabalho Tur.
Telecomunicações Tráf. Turismo
Telev. ou TV Tráfego
Televisão
Manual de Redação Policial-Militar 107

U
univ. Univ.
universitário; universal Universidade; Universo

V
V. ou V.a vesp. Vocab.
Vila vespertino Vocabulário
V.a vet. vs.
viúva veterinário versus (latim)
v.-alm. Viaç. v.v.o
vice-almirante Viação vide verso
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Tira-dúvidas
V
I deexpressões
castrenses

O gênero feminino dos postos "Tudo do" RDPM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119


e graduações policiais-militares . . . . . . . . . 110
"Destarte (outrossim)", R E S O L V O:
Oficiala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Policial militar "lotado"
"O praça" ou "a praça"? ("pertencente") ao btl.
O guarda / a guarda / o recruta Corregedoria "Geral" e Corregedor
/ a recruta "Geral" da PM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
"Policial-militar" ou "policial militar"? . . . 116 Colete "reflexivo" ou colete "refletivo"?
a a
Sd "PM 1 Cl" ou Sd "1 Cl PM"? . . . . . . . 117 "Reintegrar, às" fileiras da Corporação,
o Sd PM...
O PM faltou ao serviço, o "mesmo"
alegou que... Comunico "à V. S.a que," cumpri
a missão fielmente
"Carguear" o armamento
Emprego da vírgula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Permissão para "adentrar ao" refeitório 118
Emprego da crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
O "supra-citado" PM...
Alguns casos em que
"Transgrediu" os incisos...
não empregamos a crase . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Alguns casos em que Solicitar "a" V. S.a ou solicitar "de" V. S.a? 126
o uso da crase é facultativo . . . . . . . . . . . . . 123
"Protocolar" ou "protocolizar"
Casos especiais da crase um documento?
O tenente "deflagrou" a arma . . . . . . . . . . . 124 Por ser muito alto, aquele oficial
comprou uma "espadona" . . . . . . . . . . . . . . . 127
Aquele soldado já fez
carga das "munições"? Quem é "o sentinela" da hora?
Os policiais militares "Deveis" informar por que
"reprimiram os manifestantes" "chegou" atrasado, esquecendo-se
de "sua" missão
Muita gente acha aquele
policial "truculento" PASSAGEM DE SERVIÇO: "fí-la"
ao meu substituto legal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Neste quartel, não entra
policial "a paisana" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 "Desta" OPM ou "dessa" OPM?
Será que já chegaram A "soldadesca" já está em forma . . . . . . . . 129
os "contra-cheques"?
"(...) Atravessaram da pátria as
Você sabe "bater" continência? fronteiras 'suas' armas, 'sua' glória,
'seu' fanal..."
Quem será o próximo
coronel a assumir a função "Órgão Correcional"
de "comandante-geral"? ou "Órgão Correicional"?
"Porque" você não foi promovido? O comportamento do PM revelou nítida
"infringência" ao art. 13 do RDPM . . . . . . . 130
Porque
Duas "rádio-patrulhas" chegaram
porquê . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
ao local do evento
Por que
Aquele sargento é "rádio-operador"
Por quê
Manual de Redação Policial-Militar 111

Neste capítulo, vamos analisar algumas palavras e expressões de uso muito


freqüente nos quartéis, mas que acabam por gerar muitas dúvidas quanto
ao seu correto emprego. Essas palavras e expressões foram tiradas do dia-
a-dia, em nossa atividade de correção de textos – na revisão de pareceres,
enquadramentos, ofícios, além de outros documentos de natureza diversa
– e na observação da comunicação verbal entre os policiais militares.
Eis o nosso tira-dúvidas.

O gênero feminino dos postos e graduações


policiais-militares
Observe a frase:
“As três soldados femininos saíram-se muito bem na operação
de ontem.”
Percebemos algo de errado na concordância do sujeito da frase (as três
soldados femininos), em razão de que encontramos o artigo definido
feminino plural (as), que tem função específica de determinar o substantivo,
alheio à sua dita atribuição, que é determinar, no exato sentido de fazer
com que o substantivo, ou elemento determinado, venha a concordar,
em gênero e número, com o seu determinante, o artigo. Assim, o
substantivo soldado, que apresenta a função sintática de núcleo do sujeito,
deveria vir no feminino, e não no masculino, como o exemplo dado.
Como bem define Rocha Lima143 , “artigo é uma partícula que precede o
substantivo(...) / Em razão disso, qualquer palavra, expressão, ou frase,
fica substantivada se o trouxer antes de si.”. O artigo é, pois, uma palavra
variável que determina o substantivo. No dizer de Cegalla144 : “Artigo é
uma palavra que antepomos aos substantivos para determiná-los. Indica-
lhes, ao mesmo tempo, o gênero e o número.”
Escrevendo corretamente a frase acima, veremos que não é necessário
o adjetivo feminino, o qual tornaria o sujeito pleonástico:
“As três soldadas saíram-se muito bem na operação de ontem.”

143
Cf. ROCHA LIMA, op. cit., p. 92.
144
Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa: com numerosos exercícios.
22. ed. São Paulo, Nacional, 1981. p. 99.
112 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Ainda que possa soar estranho, essa construção está gramaticalmente


correta, embora o Aurélio145 não designe soldada como feminino de
soldado – dando-lhe outro significado –, tampouco aos demais postos e
graduações militares atribua flexão no feminino.
Essa e tantas outras construções encontram guarida na Lei n.º 2.749, de
2 de abril de 1956 (Da norma ao gênero dos nomes designativos das
funções públicas), sancionada pelo Presidente Juscelino Kubitschek, a seguir
transcrita na versão original:
“Art. 1º Será invariàvelmente observada a seguinte norma no emprego
oficial de nome designativo de cargo público:
‘O gênero gramatical dêsse nome, em seu natural acolhimento ao
sexo do funcionário a quem se refira, tem que obedecer aos
tradicionais preceitos pertinentes ao assunto e consagrados na
lexeologia do idioma. Devem, portanto, acompanhá-lo nesse
particular, se forem genèricamente variáveis, assumindo, conforme o
caso, eleição masculina ou feminina, quaisquer adjetivos ou expressões
pronominais sintàticamente relacionadas com o dito nome’.
Art. 2º A regra acima exposta destina-se por natureza às repartições da
União Federal, extensiva às autarquias e a todo serviço cuja manutenção
dependa, totalmente ou em parte, do tesouro Nacional.
Art. 3º Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.”
Conforme vimos, inobstante seja uma lei de eficácia no âmbito federal,
deveriam as Forças Armadas, e, especificamente, o Exército Brasileiro,
seguir o mandamento legal, flexionando os postos e graduações no
feminino, quando do ingresso da mulher nas corporações militares
– fato que se deu há mais de três lustros –, como assim o é em outros
cargos públicos. Temos, portanto, ministra, senadora, deputada, secretária,
conselheira, embaixadora, governadora, delegada, escrivã, escriturária, etc.

145
Cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa.
3. ed. totalmente rev. e ampl. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. p. 1877. Nesse sentido, soldada significa
a quantia com que se paga o trabalho de criados, operários, etc.; salário de tripulante de embarcação
mercante; salário; recompensa, prêmio.
Manual de Redação Policial-Militar 113

Ordinariamente, na condição de força auxiliar e reserva do Exército,


as polícias militares não podem estar alheias a essa mudança. Devem,
portanto, flexionar os postos e graduações policias-militares no feminino.
Teremos então: coronela, tenente-coronela146, capitã ou capitoa147, aluna
oficiala, sargenta, aluna sargenta, soldada e aluna soldada148 .
Com muita propriedade, Luiz Antonio Sacconi149 ratifica o nosso enten-
dimento, apresentando, flexionados no gênero feminino, os seguintes
substantivos: almiranta, capitã ou capitõa, comandanta, coronela, generala,
oficiala, oficiala-generala, oficiala superior, sargenta, soldada, suboficiala e
taifeira, classificando a palavra tenente como substantivo comum-de-dois.
Sabemos também que alguns podem alegar que os postos e graduações
policiais-militares não são cargos. Essa afirmação é, no entanto, equívoca,
de vez que o cargo a que a lei se refere não é aquele definido no Estatuto
dos Policiais-Militares, mas sim, no dizer do Aurélio150 : “Função ou emprego
público ou particular”. É o cargo na visão do Estado para o servidor, e não
na visão da PM para o seu policial (nesta vale a definição do Estatuto151 ).
Ratificando as palavras acima, podemos verificar, em alguns Acórdãos da
Câmara Especializada do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, referentes
às reintegrações de policiais militares, que o texto judicial assim se
pronuncia: “Visando à reintegração no cargo de Soldado da Polícia Militar...”
(grifo nosso).
O próprio Governo baiano entende ser a graduação de soldado um
cargo público, a teor da Portaria n.º 516, originária da Secretaria de
Administração, de 28 de junho de 2001, vista a seguir:

146
Repare que tenente, major e cabo não sofrem flexão, constituindo-se substantivos comuns-de-dois.
147
Cf. o vocábulo capitoa em CEGALLA, op. cit., p. 83; RODRÍGUEZ, op. cit., p. 81.
148
O dicionário de jargões militares (elaborado pelo Cap Josemar) prevê as formas sargenta e soldada; cf.
CRUZ, Josemar Silva da. Do sordé ao coroné: dicionário (completamente fora de alinhamento e cobertura)
de termos e expressões afins usadas na caserna e na área. 1. ed. Salvador, Contraste Editora Gráfica, 1994.
p. 75 e 78.
149
Cf. SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 18. ed. reform. e atual. São Paulo,
Atual, 1994. p. 113-4
150
Cf. FERREIRA, op. cit. p. 409.
151
“Cargo policial-militar é um conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades cometidos a um
policial militar em serviço ativo.” (in.: ARANHA, op. cit., p. 37).
114 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

“A SECRETÁRIA DE ADMINISTRAÇÃO, no uso de suas atribuições, e


com fundamento no Capítulo XV – Disposições Finais, item 4, do Edital
de Abertura de Inscrições SAEB – Concurso Público para Seleção de
Candidatos ao Curso de Formação de Soldado da Polícia Militar/2001,
para provimento de vagas do cargo de Soldado PM, publicado no Diário
Oficial do Estado de 14.05.2001, RESOLVE:
1 - excluir a alínea ‘e’ do item 3 - capítulo VII, do Edital de Abertura de
Inscrições SAEB – Concurso Público para Seleção de Candidatos ao
Curso de Formação de Soldado da Polícia Militar/2001.
2 - manter as demais condições estabelecidas no documento alterado
na forma deste ato.”
(grifamos)
De observar-se, porém, que a Lei n.º 7.145/97, que reorganiza a escala
hierárquica da PMBA, refere-se aos postos e graduações (cargos públicos)
no masculino; assim, quando escrevermos a palavra “posto” ou
“graduação”, o substantivo correspondente deverá permanecer no
masculino: “(...) promover ao posto de Capitão PM Maria Joaquina”.
Nas apresentações pessoais das policiais militares, não há que se flexionar
o cargo no feminino pelo mesmo motivo acima esposado; bem assim,
também por não haver artigo precedendo o posto ou a graduação, fato
que os impede de sofrer flexão, pois o cargo não foi determinado, limitando-
se a ser um enunciado abstratamente previsto em lei: “Soldado de Primeira
Classe PM Maria Joaquina, do 1º BPM. Apresento o serviço sem alteração.”
(significa dizer: “Eu, Maria Joaquina, detentora do cargo de Soldado de
Primeira Classe, do 1º BPM, apresento o serviço sem alteração.”).
É certo que o tipo de flexão apresentado encontra grande resistência
no meio militar, além de soar estranho, haja vista o descostume dos
nossos ouvidos. Porém, não estaremos errando, ao flexionarmos os postos
e graduações no feminino, notadamente como no primeiro exemplo
dado neste tópico, onde há a forte presença de um determinante – o
artigo: “A capitã é muito responsável”, “Encontrei a sargenta treinando
bastante”, “Quando aquela competente mulher será coronela?”.
Do mesmo modo, também é viável que flexionemos o substantivo,
quando o posto (ou a graduação) vier abstratamente referenciado na
frase: “Duas alunas oficialas foram reprovadas no curso.”, “Precisamos de
Manual de Redação Policial-Militar 115

sete soldadas para a composição da equipe feminina.” – note que as


alunas oficialas e as soldadas não foram individualizadas.

Oficiala
Parece estranho, não é? Mas a grafia correta para o feminino de oficial é
oficiala152 , constante, inclusive, nos bons dicionários e nas boas gramáticas:
“Aquela garota quer ser oficiala.”
Observe que erramos freqüentemente a flexão desse substantivo em
virtude da forte influência da polícia americana.

“O praça” ou “a praça”?
A boa doutrina153 define o vocábulo praça, no referente à hierarquia militar,
como um substantivo de duplo gênero, de gênero vacilante, ou de gênero
incerto, i. é, ambos os gêneros masculino e feminino podem ser utilizados,
devido à sua vacilação no emprego; recomendando, no entanto, grafá-lo
no masculino: o praça.
Nesse sentido, entendemos que quando a palavra praça vier determinada,
melhor será empregá-la no masculino: “Aquele praça é um bom profissional.”;
quando, porém, designar uma coletividade, é facultado o seu emprego
no feminino, embora prefiramos o masculino: “Uns fugiam à prisão; outros
cuidavam em defender a casa, mas as praças, loucas de cólera,... iam
invadindo e quebrando tudo” (Aluísio Azevedo, O Cortiço, p.185)154 .

O guarda / a guarda / o recruta / a recruta


A flexão se dá conforme o sexo da pessoa155 : “João é um bom guarda”,
“Maria Joaquina é uma boa guarda”. O mesmo entendimento vale para o
vocábulo recruta.

152
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1435; ROCHA LIMA, op. cit., p. 78; RODRÍGUEZ, op. cit., p. 83. Vale
dizer que o vocábulo oficiala, com muito boa técnica, é utilizado em alguns expedientes do Tribunal
Regional do Trabalho da 5ª Região, Vara Única de Eunápolis/BA, bem como nas certidões do Cartório do
Registro Civil das Pessoas Naturais, Comarca de Salvador/Subdistrito da Vitória; esse cartório, inclusive,
também emprega o termo suboficiala.
153
Cf. CUNHA, op. cit., p. 191; ROCHA LIMA, op. cit., p. 76; CEGALLA, op. cit., p. 84.
154
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1620.
155
Cf. CUNHA, op. cit., p. 190.
116 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

“Policial-militar” ou“policial militar”?


Poderíamos dizer que também seja este vocábulo de grafia vacilante,
porque encontramos fartos exemplos na legislação castrense, até mesmo
no texto de uma mesma lei, onde há alternância da grafia policial militar
e policial-militar (assumindo uma mesma função gramatical), parecendo
não haver uma definição quanto à existência ou não do hífen.
Entretanto, aclarando-se as idéias, quando a expressão tiver a função de
substantivo, i. é, designar o integrante da Polícia Militar, malgrado a opinião
contrária de alguns doutrinadores156 , sigamos o que preconiza o Aurélio157 ,
grafando-se “O policial militar” (sem hífen).
Quando, porém, tiver função adjetiva, a sua grafia será com o hífen: “Manual
de Redação Policial-Militar”. O Aurélio158 também nos dá um excelente
exemplo, ao grafar Inquérito Policial-Militar (com hífen).
Da Constituição do Estado da Bahia159 (1989), extraímos dois preciosos
exemplos sobre esse tema:
“Art. 46-....................................................................................................................................................
§3º-O policial militar em atividade que aceitar cargo público civil permanente
será transferido para a reserva, na forma da lei.
Art. 47-......................................................................................................................................................
§2º-O limite mínimo de gratificação devida aos praças pelo exercício da
atividade policial-militar nunca será inferior a sessenta e cinco por cento do
máximo fixado em lei.” (grifamos)
Acrescente-se que o vocábulo policial (referindo-se à pessoa) é um
substantivo comum-de-dois: “o policial militar / a policial militar ”.

156
Luiz Antonio Sacconi (cf. SACCONI, op. cit., p. 124-5) não faz distinção entre as funções substantiva
e adjetiva, grafando sempre policial-militar (com hífen), o que discordamos. Nesse mesmo raciocínio, Sacconi
apresenta o termo policial-militares como o correto plural para ambas as funções (“os policial-militares”;
“barreiraspolicial-militares”).
157
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1527-96.
158
id. ibid., p. 1115 (cf. inquérito) e 1337 (cf. militar).
159
Cf. BAHIA. Constituição do Estado da Bahia. 1. ed. Salvador, Empresa Gráfica da Bahia, 1989. p. 21-2.
Manual de Redação Policial-Militar 117

Sd “PM 1a Cl” ou Sd “1a Cl PM”?


A graduação é Soldado de Primeira Classe (v., no cap. V, “A abreviatura
dos postos e graduações”), à qual acrescemos o órgão Polícia Militar.
Portanto, escrevemos Sd 1a Cl PM, assim como o correto é 1º Ten PM /
1º Sgt PM, e não 1º PM Ten / 1º PM Sgt. Atenção quanto às abreviaturas,
evitando escrever SD 1a CL PM em caixa alta (maiúsculas), pois SD
representa a abreviatura de soldado da Marinha, segundo o C 21-30160.

O PM faltou ao serviço. O “mesmo” alegou que...


Evite o uso de o mesmo, a mesma, os mesmos e as mesmas para substituir
pronomes ou substantivos. É a recomendação da grande maioria dos
gramáticos e dicionaristas.
O dicionário Aurélio diz que “parece conveniente evitar o uso de ‘o
mesmo’ como equivalente do pronome ele ou o (...) é tão freqüente
esse uso, pelo menos deselegante, de ‘o mesmo’, que podemos observá-
lo num mestre como Camilo Castelo Branco: ‘A primeira mulher que
amei era uma dama de alto nascimento, que tivera bastante influência no
quartel-general de Lord Wellington, e jogara, por causa de um ajudante-
de-ordens do mesmo, o sopapo com uma viscondessa celebrada”161 .
Portanto, prefira a forma: “O PM faltou ao serviço. Ele alegou que...” ou
“O PM faltou ao serviço, tendo alegado que...”.

“Carguear” o armamento
Não encontramos o vocábulo carguear em nenhum tipo de dicionário162 ,
seja o de sinônimos, ou de verbos e regimes, ou de lingüística, ou analógico
e de idéias afins, ou de qualquer outro tipo. Isto porque a palavra carguear,
filologicamente, não existe.
Em vez de carguear um armamento, prefira a forma carregar (ou fazer
carga de) um armamento. Carregar é o termo correto; advém do latim

160
Cf. BRASIL. Ministério do Exército. Abreviaturas, símbolos e convenções cartográficas, op. cit., p. 2-7.
161
Excerto extraído de artigo do prof. Pasquale Cipro Neto, o qual também não recomenda o uso de o
mesmo nesses casos.
162
Esse vocábulo aparece, no entanto, no dicionário de jargões militares. Cf. CRUZ, op. cit., p. 22 (cf.,
também, a errata).
118 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

“carricare”, e uma de suas acepções é trazer consigo; levar em si; trazer;


também significando transportar, levar 163 : “Os policiais militares
carregaram cintos e coletes”.

Permissão para “adentrar ao” refeitório.


É muito comum, nos refeitórios dos diversos cursos de formação da
PM, ouvirmos a frase: “Permissão para adentrar ao refeitório”. Porém,
para a surpresa muitos, a frase correta é: “Permissão para eu me adentrar
no refeitório”.
Explicamos: adentrar-se é um verbo pronominal (deve vir acompanhado
de pronome pessoal objetivo) e, segundo Francisco Fernandes164 , significa
“entrar, internar-se: ‘À maneira que no país destes profanos eu me
adentrava...’ (M. Barreto, C. persas, 8.)”. O Aurélio165 também incorpora
os sinônimos “penetrar (...), embrenhar-se: ‘Milhares de homens, ... se
adentram pela mata para extrair o leite das seringueiras.’ (Tiago de Melo,
Mormaço na Floresta, p. 78); ‘Não nos adentremos pelos aspectos de
caráter nitidamente econômico da colonização.’ (Silviano Santiago, Nas
Malhas da Letra, p. 193)”.

“O supra-citado” PM... (errado)


Escreve-se supracitado166 , junto e sem o hífen.
Para saber mais, consulte a letra c do 5.º caso do item 46 do Formulário
Ortográfico de 1943 (v. Capítulo XII).

“Transgrediu” os incisos... (errado)


Essa expressão é muito usada nos enquadramentos disciplinares dos
policiais militares, quando queremos dizer que houve desobediência ou
violação a uma das condutas previstas no art. 13 do Regulamento
Disciplinar da PMBA (RDPM).

163
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 415; FERNANDES, Francisco. Dicionário de verbos e regimes. 4. ed. Porto
Alegre, Globo, 1959. p. 137.
164
Cf. FERNANDES, op. cit., p. 51.
165
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 50.
166
ibid., p. 1907.
Manual de Redação Policial-Militar 119

Transgredir tem origem latina, “trangredire”, significando desobedecer a;


deixar de cumprir; infringir; violar; postergar167 .
Ocorre, contudo, que o art. 13 do RDPM, nos seus cento e quarenta e
dois incisos, prescreve condutas negativas, ou seja, ele prevê as condutas
em que o policial militar não deve incorrer, sob pena de ser sancionado,
como, p. ex., “faltar à verdade”, “utilizar-se de anonimato”. Então, se agimos
de acordo com as condutas prescritas, não estamos, é óbvio, transgredindo-
as, pois que, para que isso aconteça, elas deveriam assim estar grafadas:
“não se deve faltar à verdade”, “não se deve utilizar de anonimato”168 .
Opte, portanto, pelas formas: “desenvolveu a conduta prevista nos incisos...”,
“agiu de acordo com os incisos...”, “subsumiu-se aos incisos...”, etc.

“Tudo do” RDPM


Evite essa construção, em virtude da sucessão desagradável das con-
sonâncias idênticas que a sílaba e a preposição do provocam. É um vício
de linguagem conhecido por colisão169. Prefira: “Tudo previsto (constante)
no RDPM”, etc.

“Destarte (outrossim)”, R E S O L V O:
“Destarte” e “outrossim” são expressões desgastadas pelo uso
indiscriminado. Evite-as sempre que puder, substituindo-as por “em face
de que”, “isto posto”, etc.

Policial militar “lotado” (“pertencente”) ao btl.


Também são expressões desgastadas: lotado é um jargão jornalístico e
pertencente implica uma relação de pertinência, como se o policial fosse
um objeto, uma propriedade do batalhão. Prefira as expressões servindo
no btl., ora servindo no btl., ou equivalentes.
167
id.ibid.,p. 1987.
168
Há alguns juristas, mormente da área penal, que defendem a existência de uma perinorma para toda
norma de caráter proibitivo implícito (do grego perí = movimento em torno; posição em torno; perinorma
é o mandamento que circunda, que está implícito na norma), a exemplo do art. 121 do Código Penal
brasileiro, que dispõe: “Matar alguém:/ Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.” (veja que,
expressamente, não há proibição à prática do homicídio, porém, se o indivíduo cometê-lo, será punido);
a perinorma seria:“não matar”, justificando-se, assim, o emprego de transgredir e similares, pois a transgressão
seria à perinorma e não à norma.
169
Cf. CEGALLA, op. cit., p. 410.
120 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Corregedoria “Geral” e Corregedor “Geral” da PM


O correto é Corregedoria e Corregedor Chefe, respectivamente, segundo
a nova organização estrutural e funcional da PMBA170 .

Colete “reflexivo” ou colete “refletivo”?


É apenas uma questão de opção, pois ambos os vocábulos estão corretos.

“Reintegrar, às” fileiras da Corporação, o Sd PM...


Reintegrar significa, quando bitransitivo, conforme anota Francisco
Fernandes171 , “Restabelecer na posse de; repor (no mesmo lugar):
‘Reintegrasse os lentes nos quadros do magistério.’ (Rui, Correspondência,
102)”. Ainda funcionando como verbo transitivo direto e indireto, o
Aurélio172 o define como “Restabelecer (alguém na posse de um bem,
de um emprego, de que fora despojado: O novo diretor reintegrou nas
cátedras os professores demitidos”.
Desta forma, a frase correta é: “Reintegrar nas fileiras da Corporação o
Sd 1ª Cl PM...”. Note que a expressão nas fileiras da Corporação não vem
entre vírgulas, já que corresponde ao complemento indireto do verbo e,
como sabemos, não se separa o verbo do seu complemento.

Comunico “à V. S.a que,” cumpri a missão fielmente.


Eis uma situação similar à anterior. Comunicar é um verbo bitransitivo,
necessitando, então, de dois complementos: um indireto (a V. S.a) e um
direto (que cumpri a missão fielmente), não podendo haver vírgula isolando
o verbo comunicar dos seus complementos (objetos indireto e direto,
respectivamente). Bem assim, não se emprega a crase antes de pronome
pessoal (no caso, pronome de tratamento). A forma correta é: “Comunico
a V. S.a que cumpri a missão fielmente.”

170
Cf. nos arts. 5º, III, 13, e 27, III, do Decreto n.º 7.796, de 28 de abril de 2000 (Aprova a Organização
Estrutural e Funcional da PMBA). Entendemos, todavia, que Corregedor Chefe deveria escrever-se com
hífen: Corregedor-Chefe.
171
Cf. FERNANDES, op. cit., p. 508.
172
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1734.
Manual de Redação Policial-Militar 121

A confusão acontece, geralmente, devido às orações intercaladas, termos


acessórios e expressões de ressalva, que devem estar isolados na frase:
“Comunico a V. S.a que, como de costume, cumpri a missão fielmente.”
A mesma regra vale para os verbos solicitar, informar, recomendar e
outros equivalentes.
Para melhor esclarecermos esse tópico, vejamos algumas dicas a respeito
do emprego da vírgula e da crase:

Emprego da vírgula
Serve para marcar uma pequena pausa. Veja alguns casos em que ela
é empregada:
a. nas datas, separando o nome da localidade: “Salvador, 22 de abril de 1500.”
b. Depois do sim e do não, usados como resposta, no início da frase:
“Hoje você vai trabalhar?/ Não, vou trabalhar amanhã.”
c. Quando houver a elipse de um termo, i. é., a sua omissão – geralmente
um verbo: “Todos trabalharam cedo; ele, muito tarde.” (trabalhou).
d. Para separar termos de uma mesma função sintática, assindéticos:
“A operação contava com coronéis, capitães, tenentes, sargentos e
soldados.” (repare que a conjunção “e” substitui a vírgula entre os dois
últimos termos).
e. Para isolar o vocativo: “Capitão, capitão, que houve com a tropa?”.
f. Para isolar o aposto: “A PMBA, centenária milícia de bravos, vem passando
por uma fase de mudanças.”
g. Para isolar palavras e expressões explicativas, retificativas, corretivas,
conclusivas, continuativas, como: por exemplo, a saber, ou melhor, isto é,
aliás, além disso, então, digo, outrossim, com efeito, etc.
h. Para isolar certos predicativos: “Justamente ele, taciturno e circunspecto,
foi o escolhido.”
i. Para isolar o adjunto adverbial deslocado: “No começo da noite, a blitz
será iniciada.”

Obs.: Em geral, o advérbio e a locução adverbial deslocados, principalmente quando de pequena


extensão, não são isolados por vírgula, salvo quando a ênfase assim o exija.
122 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

j. Para separar os elementos paralelos de um provérbio: “Filho de peixe,


peixinho é.”
l. Para separar orações coordenadas assindéticas: “O bandido arrombou
a porta, comeu, bebeu, depois foi embora.”
m. Para separar orações coordenadas sindéticas, exceto as introduzidas
por “e”, “ou” e “nem”: “Penso, logo existo.”
Obs.: I. As conjunções “e”, “ou” e “nem”, quando repetidas ou empregadas enfaticamente,
admitem vírgula antes: “Ou você estuda, ou brinca, ou não faz nada.”

2. As orações coordenadas ligadas pela conjunção “e” são separadas por vírgula, quando os
sujeitos forem diferentes: “O clima ficou tenso, e o soldado ameaçou atirar.” (sujeitos: o clima
e o soldado).

3. Exceto a conjunção adversativa “mas”, a qual sempre vem no início da oração, as demais
adversativas (porém, contudo, entrementes, entretanto, todavia, etc.) podem também aparecer
no meio dela, sendo, pois, isoladas por vírgulas.

n. Para separar orações e termos intercalados: “A Polícia Militar, como já


era esperado, saiu-se muito bem no carnaval.”
o. Para separar orações adjetivas explicativas: “A Academia da PM, que é
uma instituição de nível superior, forma vários oficiais por ano.”
p. Para separar orações substantivas e adverbiais quando antepostas à
principal: “Que ele seja um bom policial, é preciso.” (adjetiva subjetiva),
“Ainda que se esforce, ele nunca será um bom militar.” (adverbial concessiva).
q. Para separar orações reduzidas (de infinitivo, gerúndio e particípio):
“Ao dar o primeiro tiro, deu início ao tumulto.” (reduzida de infinitivo),
“Chegando os policiais, o tumulto acabou.” (reduzida de gerúndio),
“Terminado o tumulto, todos saíram do local.” (reduzida de particípio).

Emprego da crase
a. Antes de palavras femininas, expressa ou oculta, que seja acompanhada
de artigo: “O rapaz foi à sede da companhia prestar uma queixa.”

Obs.: Quando a palavra feminina não aceitar o artigo, não se usará crase. Esse fato se dá pela
própria natureza da palavra, ou quando ela já vier acompanhada por um determinativo
incompatível com o artigo: “Irei a Propriá brevemente.” (transformando-se a frase para: “Voltei
de Propriá.”, notamos que a preposição “de” não se contrai com o artigo “a”; portanto, por sua
natureza, Propriá não requer artigo.
Manual de Redação Policial-Militar 123

b. Na designação das horas: “A palestra começará às dez.”


c. Nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas, formadas por palavra
feminina: “Ele, às vezes, chega atrasado no batalhão.”

Alguns casos em que não empregamos a crase


a. Antes de pronome pessoal, conforme vimos anteriormente: “Comunico
a V. S.a que...”
b. Antes de palavra masculina: “Esta iluminação é a gás?”;
Obs.: Quando vem subentendida a expressão feminina “à maneira de”, “à moda de”, ou
quando vier antes dos demonstrativos aquele e aquilo, empregamos a crase: “Cabelos à
Ronaldinho.” (à moda de Ronaldinho).

c. Antes de palavra de sentido indefinido: “Você entregou esta arma a alguém?”


d. Antes do verbo: “O assaltante preferiu morrer a entregar-se.”
e. Antes de numeral cardinal (exceto na designação das horas): “O batalhão
está localizado a três quilômetros do centro da cidade.”
f. Antes dos pronomes demonstrativos (a exceção de aquele(s), aquela(s),
aquilo), indefinidos, relativos ou interrogativos: “Como o perito chegou
a esta conclusão?”
g. Em expressões formadas por palavras repetidas: “Os acareados ficaram
cara a cara.”

Alguns casos em que o uso da crase é facultativo


a. Antes de nomes próprios femininos: “A (À) Astrogilda, em mãos.”
b. Antes de pronomes possessivos seguidos de substantivos femininos:
“Apresentar-me-ei a (à) minha superiora hierárquica.”
c. Após a preposição “até”: “Eles foram seguidos até a (à) rua.”

Casos especiais da crase


a. Quando a locução adverbial a terra for usada para designar “terra
firme”, em oposição a “estar em alto mar” ou “estar a bordo”, não receberá
o acento grave (indicador de crase): “Após meses de batalha, os
marinheiros finalmente retornaram a terra.”
124 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

b. Quando a palavra terra significar “lugar”, “cidade natal” ou “planeta”,


empregamos a crase: “Em breve os astronautas voltarão à Terra.”,
“Chegamos à minha terra natal!”
c. Quando a palavra casa estiver qualificada, empregamos a crase na
expressão “a casa”; não havendo o qualificativo, deixamos de empregá-la:
“Voltei à casa paterna.”; “O bom filho a casa torna.”
d. A locução adverbial a distância só admitirá a crase quando essa distância
estiver determinada; em não havendo determinação, não usaremos o
acento grave: “O morto foi encontrado à distância de 200 metros da
praia.”; “Aquela senhora foi seguida a distância.”
e. Com os pronomes relativos a qual e as quais, pode ou não haver o
uso da crase. Se o antecedente feminino requerer o artigo, empregamo-
la: “Lá estão as soldadas, às quais eu me referi.”

O tenente “deflagrou” a arma. (errado)


Deflagrar significa “atear fogo”, “excitar”, “irromper”, “provocar explosão”;
por isso falamos em deflagração de uma guerra, mas não podemos falar
em deflagrar uma arma: “O tenente disparou a arma.” (certo).

Aquele soldado já fez carga das “munições”? (errado)


Um punhado de balas é munição e não “munições”. Deve-se usar o
plural apenas quando o texto especifica diferentes tipos de munição:
“Aquele soldado já fez carga da munição?” (certo).

Os policiais militares
“reprimiram os manifestantes”. (errado)
Reprime-se a “atividade”, “a ação”, não aqueles que as praticam: “Os poli-
ciais militares reprimiram a atividade (ação) dos manifestantes.” (certo).

Muita genteachaaquele policial “truculento”. (errado)


Não basta que alguém seja grande e forte para merecer o adjetivo
truculento. A truculência pede “crueldade” e “ferocidade”. Portanto, utilize
essa palavra com moderação.
Manual de Redação Policial-Militar 125

Nestequartel,nãoentrapolicial“apaisana173”. (errado)
A locução à paisana requer o acento grave, que é indicativo da crase:
“Neste quartel, não entra policial à paisana.” (certo).

Será que já chegaram os “contra-cheques174”? (errado)


O prefixo contra vem seguido por hífen quando se junta a palavras iniciadas
por vogal ou pelas consoantes “s”, “h” e “r” . Nos demais casos, grafa-se
sem o hífen: “Será que já chegaram os contracheques?” (certo).

Você sabe “bater” continência? (errado)


Continência não se “bate”, se presta: “Você sabe prestar continência?” (certo).

Quem será o próximo coronel a assumir a função


de “comandante-geral”?
Nos termos do Manual da Presidência175, usamos o hífen nas palavras
compostas, em que o adjetivo geral é acoplado a substantivo que indica
função, lugar de trabalho ou órgão, como “diretor-geral”, “inspetoria-
geral”, “procurador-geral”, “secretaria-geral”; por isso, o mesmo ocorre
com comandante-geral e subcomandante-geral, embora o Decreto n.º
7.796/00 (que aprova a nova organização estrutural e funcional da PMBA)
não entenda assim, grafando ambos os vocábulos sem o devido hífen.

“Porque” você não foi promovido? (errado)


O porquê, muitas vezes, é motivo de muita confusão, pois admite quatro
formas: porque, porquê, por que e por quê176. Analisemos, então, o seu emprego:

Porque
É usado introduzindo uma resposta ou explicação: “Eu não fui promovido
porque ainda não completei o interstício.”

173
Cf. CRUZ, op. cit., p. 9. Esse dicionário grafa, erroneamente, a locução à paisana sem o acento.
174
id. ibid., p. 28. Também observamos que a palavra contracheque foi grafada, de forma incorreta, com o
hífen. Para saber mais, cf. o 5º caso do item 46 do Capítulo XII (“Formulário Ortográfico de 1943”).
175
Cf. BRASIL. Presidência da República, op. cit., p. 96.
176
Cf. a observação da 14a regra do item 43 do Capítulo XII.
126 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Porquê
Trata-se, na verdade, de um vocábulo substantivado, sinônimo de causa,
razão, motivo. Por ter função de substantivo, como já vimos (v. “O gênero
feminino dos postos e graduações policiais-militares”), vem precedido
por artigo: “Não entendi o porquê da sua não-promoção.” (o motivo da
sua não-promoção).

Por que
É empregado quando equivale a:
a. Pelo qual, pelos quais, pela qual, pelas quais: “São inúmeras as provas por
que passamos, até sermos promovidos.” (pelas quais passamos).
b. Motivo, razão e causa, nas frases interrogativas diretas e indiretas:
“Por que você não foi promovido? (interrogativa direta); “diga-me por
que você não foi promovido.” (interrogativa indireta).

Por quê
É interrogativo, sendo empregado sempre que vier imediatamente seguido
do sinal de interrogação (na interrogação direta), ou de ponto-final
(na interrogação indireta): “Você não foi promovido por quê?”
(interrogativa direta), “Você não foi promovido. Diga-me por quê.”
(interrogativa indireta).

Solicitar177 “a” V. S.a ou solicitar“de”V. S.a?


O verbo solicitar, significando “pedir com instância”, “rogar com grande
empenho”, é transitivo direto e indireto, admitindo-se dupla regência.
Podemos, então, dizer: “solicitar alguma coisa a alguém”, ou “solicitar de
alguém alguma coisa”.

“Protocolar” ou “protocolizar” um documento?


Opte por protocolizar, que significa registrar ou inscrever no protocolo.
O Aurélio178 considera o vocábulo “protocolar”, para esse sentido, um

177
Cf. FERNANDES, op. cit., p. 552.
178
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1655.
Manual de Redação Policial-Militar 127

brasileirismo, pois ele está ligado à idéia de tratamento de acordo com


as normas do cerimonial público.

Por ser muito alto, aquele oficial comprou


uma “espadona”. (errado)
O aumentativo sintético de “espada179 ” é espadalhão ou espadagão, assim
como o seu diminutivo sintético é espadim: “Por ser muito alto, aquele
oficial comprou um espadalhão (espadagão).” (certo).

Quem é “o sentinela” da hora?


Embora se diga que sentinela é um substantivo de “duplo gênero”, “gênero
vacilante”, ou gênero incerto, a boa doutrina180 tende a fixá-lo no feminino:
“Quem é a sentinela da hora?”

“Deveis” informar por que “chegou” atrasado,


esquecendo-se de “sua” missão. (errado)
Muito comum na PMBA é a expressão “deveis”, para designar um
expediente encaminhado ao policial militar que tenha cometido alguma
infração disciplinar, a fim de que ele explique as razões de sua conduta.
Da análise vocabular, verificamos que, por natureza, “deveis” é um verbo
(flexionado na segunda pessoa do plural – vós deveis). Porém, quando
falamos: “Vou encaminhar-lhe um deveis.”, verificamos que o vocábulo
mudou de classe gramatical, sem que a sua forma sofresse modificação.
É o que chamamos de derivação imprópria, também denominada de
conversão, habilitação ou hipóstase por lingüistas modernos181 .
De acordo com o que estudamos no tópico “O gênero feminino dos
postos e graduações policiais-militares”, o artigo determina o substantivo;
assim, o artigo indefinido singular um substantiva a palavra deveis, que
deixa, então, de ser verbo.

179
Cf. ROCHA LIMA, op. cit., p. 87-8.
180
id. ibid., p. 76; cf., também, CUNHA, op. cit., . p. 191. Sacconi entende ser o vocábulo sentinela um
substantivo sobrecomum feminino (cf. SACCONI, op. cit., p. 115).
181
Cf. CUNHA, op. cit., p. 103-4.
128 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Transformado em substantivo, o deveis serve como título de alguns


documentos: Assunto: Deveis. Entretanto, incorremos no erro descrito na
frase que inicia este tópico, quando transportamos para o corpo do
texto o verbo flexionado na segunda pessoa do plural, haja vista que ele
nos força a conjugar todos os verbos e pronomes na mesma pessoa
(v., no cap. X, “Breve comentário à canção Força Invicta”).
Com efeito, assim teríamos a correta transcrição da frase: “Deveis informar
por que chegastes atrasado, esquecendo-se de vossa missão.” Para evitar
o inconveniente de um texto moderno escrito na segunda pessoa do
plural – bem como, visando a atender o que preceitua a Portaria n.º
CGC/021/09/91, publicada no BGO n.º 177, de 20 de setembro de 1991,
a qual extingue o tratamento de segunda pessoa do plural (vós) e os
pronomes possessivos (vossos) e oblíquo (vos) nas correspondências
oficiais da PMBA (v., no cap. V, “Concordância com os pronomes de
tratamento”) –, em vez do “deveis”, prefira as formas: recomendo, determino,
requisito, solicito, etc.: “Assunto: Recomendação” / “Recomendo-lhe informar
por que chegou atrasado, esquecendo-se de sua missão.” (certo).

Passagem de serviço: “Fí-la” ao meu substituto


legal...(errado)
O vocábulo fi-la não leva acento agudo no “i” em face de uma regra bem
elementar: palavras oxítonas terminadas em “i” ou “u”, seguidas ou não
de “s”, não se acentuam (aqui, caju, etc.), salvo quando o “i” ou “u”
tônicos não formarem ditongo com a vogal anterior, ocorrendo, pois, o
hiato (distribuí-lo, baú, etc.).
Nos relatórios de serviço, portanto, escrevamos: “Passagem de serviço:
fi-la ao meu substituto legal...” (certo).

“Desta” OPM ou “dessa” OPM?


Desta (pronome demonstrativo de 1ª pessoa) refere-se à OPM que
transmite a mensagem; dessa (pronome demonstrativo de 2ª pessoa)
concerne à OPM destinatária da mensagem. O mesmo entendimento
vale para esta, essa e variações: “Este btl. seguiu várias normas
desse Departamento.”
Manual de Redação Policial-Militar 129

A “soldadesca” já está em forma. (errado)


Soldadesca182 é uma palavra de sentido pejorativo, depreciativo, evite-a,
pois, optando por formas mais simples como: “Os soldados já estão em
forma.” (certo). Já soldadesco183 é um adjetivo que designa aquilo que é
relativo aos soldados ou próprio deles.

“(...) Atravessaram da pátria as fronteiras ‘suas’


armas,‘sua’glória,‘seu’fanal...”(errado)
Esse é um conhecido trecho da canção Força Invicta da PMBA. Entretanto,
o verso correto é: “(...) Atravessaram da pátria as fronteiras tuas armas, tua
glória, teu fanal...”, com os pronomes possessivos empregados na segunda
pessoa do singular (v., no cap. X, “Breve comentário à canção Força Invicta”).
Vale lembrar, também, que a oração em estudo está na ordem inversa,
ou seja, o predicado antecede o sujeito. A ordem direta seria: “Tuas armas,
tua glória, teu fanal atravessaram as fronteiras da pátria”. A inversão é um
recurso estilístico muito usado na composição poética.

“Órgão Correcional184 ” ou “Órgão Correicional”?


No dizer de Adalberto Kaspary185 , “ao substantivo correição (inspeção,
pelo corregedor dos órgãos judiciários, com o objetivo de corrigir
ou emendar erros, irregularidades, omissões, abusos, negligências ou
faltas das autoridades judiciárias e seus auxiliares) corresponde o adjetivo
correcional.”
Nesse sentido, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP),
da Academia Brasileira de Letras (ABL), edição de 1981, e os bons

182
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1877.
183
Cf. FERREIRA, loc. cit.
184
Costuma-se designar, na PMBA, a Corregedoria de Órgão Correcional. Atente-se, porém, que correcional
refere-se: 1. à correção; 2. ao tribunal em que se julgam, sem júri, causas criminas de menor importância;
3. a pena que se aplica a contravenções e delitos de pequena monta. Designa, também, a jurisdição de
tribunais correcionais (cf. FERREIRA, op. cit., p. 561).
185
Cf. KASPARY, Adalberto J. Habeas verba: português para juristas. 5. ed. rev. e ampl. Porto Alegre,
Livraria do Advogado, 1999, p. 62.
130 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

dicionários não registram a forma correicional, embora a nossa Constituição


Federal vigente se utilize desse vocábulo em um de seus artigos186 .

O comportamento do PM revelou nítida


“infringência” ao art. 13 do RDPM. (errado)
Sabe-se que o verbo infringir187 significa “quebrantar”, “violar”, “transgredir”,
porém o substantivo correspondente não é “infringência”, e sim infração.
Logo, a frase correta é “O comportamento do PM revelou nítida infração
ao art. 13 do RDPM.”

Duas “rádio-patrulhas” chegaram ao local


do evento. (errado)
Embora o substantivo rádio-patrulha, escrito com hífen, seja de uso co-
mum no círculo militar, principalmente em virtude de sua abreviatura ser
RP, o que dá a idéia de duas palavras absolutamente distintas, a sua grafia
correta é radiopatrulha188 , junto, sem hífen e sem o acento agudo: “Duas
radiopatrulhas chegaram ao local do evento.” (certo).

Aquele sargento é “rádio-operador”. (errado)


Escreve-se radioperador189 , junto, sem hífen e sem o acento, tal como no
caso anterior: “Aquele sargento é radioperador.” (certo).

186
Cf. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, op. cit., p. 63:
“Art. 96. Compete privativamente:
I – aos Tribunais:
...........................................................................................................................................................
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados,
velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;” (grifamos)
187
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1110; FERNANDES, op. cit., p. 385.
188
Cf. FERREIRA, op. cit., p. 1699.
189
Cf. FERREIRA, loc. cit.
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Expressões
VII Latinas

Sua utilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133


A lista de expressões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Manual de Redação Policial-Militar 133

Sua utilização
Optamos por apresentar uma pequena lista de palavras e locuções latinas
mais usuais, tendo em vista que, no rol de atividades dos policiais militares
(notadamente os oficiais, subtenentes e sargentos), também há o encargo
de apurar ou participar da apuração de feitos investigatórios, como, p.
ex., sindicâncias e inquéritos policiais-militares.
Nesses procedimentos investigatórios, nos deparamos, às vezes, com
expressões em latim, cuja significação desconhecemos, ou mesmo neces-
sitamos de sua correta grafia, quando da confecção de um relatório ou
de um parecer, de forma a deixá-los o mais técnico possível.
Com aplicação vasta na área do Direito, essa lista tem justificável utilidade
para os componentes da Corregedoria da Polícia Militar, como também
para os integrantes das Corregedorias Setoriais das diversas OPMs e a
todos os demais, ligados à área jurídico-disciplinar.
Convém lembrar, no entanto, que o uso imoderado das expressões latinas
torna o texto obscuro, ininteligível. Por isso uti, non abuti. Lembre-se,
antes de usá-las, quem será o público alvo de sua mensagem; se possível,
aponha a tradução do excerto latino entre parênteses. Isso contribuirá
para a clareza da redação.
Não esqueça, também, de grifar as expressões. É uma forma de destacá-
las do corpo do texto e indicar que elas pertencem a outro idioma.
O destaque pode ser dado por meio de “aspas dúplices”, ou grafando-se
a palavra em negrito ou em itálico.
Nas páginas seguintes, a lista de expressões latinas mais usuais.
134 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

A Ad cautelam
Para cautela.
A contrario sensu
Ad corpus
Pela razão contrária, em sentido contrário.
Por inteiro.
A posteriori
Ad domum
Do que vem depois, para depois.
Em casa.
A priori
Ad exemplum
Do que vem antes, prova fundada na
Para exemplo.
razão e não na experiência.
Ad extrenum denique
A quo
Ao final.
De onde. Juiz ou Tribunal de instância
inferior de onde provém o processo; dia Ad hoc
ou turno inicial de um prazo (cf. ad quem). Substituição temporária para
o caso específico.
A rogo
A pedido de (assina a rogo pessoa Ad infinitum
autorizada em nome daquela que Infinitamente, até o fim dos tempos.
deveria, de fato, assinar). Ad libitum
Ab initio À vontatde.
Desde o começo. Ad litteram
Ab irato Conforme a letra, ao pé da letra.
No ímpeto da ira. Ad locum
Aberratio delicti De repente.
Erro na execução do crime. Ad mensuram
Aberratio ictus Por medida ou peso.
Erro de alvo, de golpe, de tino. Ad negotia
Aberratio rei Para os negócios. Diz-se de procuração
Erro de coisa. outorgada para a efetivação de negócio;
extrajudicial.
Abolitio criminis
Abolição do crime. Ad nutum
Demissível, não estável.
Accessorium sequitur principale
O acessório segue o principal. Ad perpetuam rei memoriam
Diligências requeridas e promovidas com
Acidente in itinere
caráter perpétuo, quando haja receio de
Aquele ocorrido no trajeto que o
que a prova possa desaparecer; para a
empregado utiliza para ir ao trabalho e voltar.
perpétua memória da coisa.
Actio arbitraria
Ad quem
Ação arbitrária.
Para quem. Juiz ou Tribunal de instância
Ad argumentadum tantum superior para onde se encaminha o
Apenas para argumentar. processo; dia ou termo final da
Ad causam contagem de um prazo (cf. a quo).
Para a causa.
Manual de Redação Policial-Militar 135

Ad referendum Animus confidendi


Na dependência de aprovação de Intenção de confiar.
autoridade competente, sob condição Animus confitendi
de consulta. Intenção de confessar.
Ad rem Animus consulendi
Afirmativa diretamente à coisa. Intenção de consultar.
Ad summam Animus corrigendi
Em suma. Intenção de corrigir, educar.
Ad valorem Animus corrumpendi
Segundo o valor. Intenção de corromper.
Ad verbum Animus criticandi
Palavra por palavra. Intenção criticar.
Ad vindictam Animus custodiendi
Por vingança. Intenção de guardar.
Agenda Animus decipiendi
Que deve ser feito. Intenção de enganar.
Alibi Animus defendendi
Em outro lugar (prefira a forma Intenção de defender.
aportuguesada álibi).
Animus delinquendi
Alter ego Intenção de delinqüir.
Outro eu, amigo íntimo.
Animus derelinquendi
Animus Intenção de abandonar.
Ânimo, intenção, vontade.
Animus detinendi
Animus abandonandi Intenção de deter.
Intenção de abandonar.
Animus difamandi
Animus abutendi Intenção de difamar.
Intenção de abusar.
Animus dolandi
Animus acquirendi (ou adquirendi) Intenção dolosa, de prejudicar.
Intenção de adquirir.
Animus domini
Animus adiuvandi Intenção de agir como dono.
Intenção de ajudar.
Animus donandi
Animus aemulendi Intenção de doar.
Intenção de imitar.
Animus fallandi
Animus calumniandi Intenção de enganar.
Intenção de caluniar.
Animus fraudandi
Animus celandi Intenção de fraudar.
Intenção de ocultar, esconder.
Animus furandi
Animus compensandi Intenção de furtar.
Intenção de compensar.
136 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Animus injuriandi Animus transgredendi


Intenção de injuriar. Intenção de transgredir.
Animus infringendi Animus vendendi
Intenção de infringir. Intenção de vender.
Animus jocandi Animus violandi
Intenção de brincar, gracejar. Intenção de violar.
Animus laedendi Animus vulnerandi
Intenção de ferir, lesar. Intenção de ferir.
Animus lucrandi Apud
Intenção de lucrar. Junto de (à vista de).
Animus ludendi Apud acta
Intenção de brincar. Nos autos, junto aos autos.
Animus manendi Avis rara
Intenção de fixar residência definitiva, Ave rara, o inusitado.
intenção de permanecer.
Animus narrandi B
Intenção de narrar, relatar. Bens pro diviso
Animus necandi Bens divisíveis.
Intenção de matar. Bens pro indiviso
Animus nocendi Bens indivisíveis.
Intenção de prejudicar; ser nocivo a
Bis in idem
(substituir uma obrigação por uma nova).
Incidência sobre a mesma coisa.
Animus offendendi Duas vezes no mesmo assunto.
Intenção de ofender. Bona fides
Animus oppugnandi Boa-fé.
Intenção de lutar, atacar. Boni homines
Animus possidendi Homem de bem.
Intenção de possuir. Boni modo
Animus reponendi Com boas maneiras.
Intenção de repor. Boni mores
Animus resistendi Bons costumes.
Intenção de resistitr.
Animus retorquendi C
Intenção de revidar. Caput
Animus simulandi Cabeça.
Intenção de simular.
Caso sub judice
Animus solvendi Caso sob julgamento.
Intenção de pagar.
Causa cognita
Causa conhecida.
Manual de Redação Policial-Militar 137

Causa detentionis Debitum conjugale


Causa da detenção. Débito conjugal.
Causa petendi De consilii sententia
Causa de pedir. Segundo o parecer do conselho.
Citra petita De cujus (ou de cuius)
Aquém do pedido (cf. extra petita Morto; falecido.
e ultra petita). Debellatio
Cogito, ergo sum Derrota.
penso, logo existo. Decisum
Contra legem Sentença.
Contra a lei. Dedere se patriae
Coram lege Dedicar-se à pátria.
Ante a lei. Defensa
Corpus delicti Defesa.
Corpo do delito. Dolo res ipsa
Corpus iuris civilis Dolo presumido.
Trabalhos legislativos elaborados Dolus bonus
durante o reinado do imperador Dolo bom.
romano Justiniano (Institutas, Pandectas,
Códigos e Novelas). Dolus malus
Dolo mau.
Culpa in comitendo
Culpa em cometer. Dormientibus non sucurrit ius
O direito não socorre aos que dormem.
Culpa in custodiendo
Culpa em guardar. Dura lex, sed lex
A lei é dura, mas é a lei.
Culpa in eligendo
Culpa em escolher.
E
Culpa in omittendo
Culpa em omitir. Erga omnes
Contra todos.
Culpa in vigilando
Culpa em vigiar. Errare humanum est
Errar é humano.
Curriculum vitae
Dados pessoais, carreira profissional, Error facit
Carreira da vida. Erro de fato.
Error in objecto
D Erro sobre o objeto.
Dano ex delicto Error in persona
Dano causado por ilícito penal com Erro sobre a pessoa.
repercussão na área cível. Error iuris
Data venia Erro de direito.
Com o devido consentimento.
138 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Ex abrupto F
De súbito.
Fac simile
Ex adverso Fazer coisa semelhante. Reprodução fiel
Do lado contrário. de um original.
Ex bona fide Facultas agendi
De boa-fé. Faculdade de agir.
Ex cathedra Fumus boni iuris
De cátedra. Fumaça (aparência) do bom direito.
Ex industria
De improviso. G
Ex inopinato Gratia argumentandi
Inopinadamente. Para argumentar.
Ex iure
Conforme o direito. H
Ex lege Habeas corpus
De acordo com a lei, por lei. Remédio jurídico para assegurar
Ex more liberdade de locomoção ou movimentar
De acordo com o costume, o corpo sem constrangimento jurídico.
conforme costume. Habeas data
Ex nunc Concede-se para obter informações
De agora. Que não retroage. atinentes à pessoa nos bancos de dados
e para a sua retificação.
Ex officio
De ofício (aquilo que é feito em razão Hic et nunc
da função ou do cargo). Aqui e agora, imediatamente.
Ex positis Homo sapiens
Do exposto. Homem como único animal
inteligente, racional.
Ex tunc
Desde então. Que retroage. Honoris causa
Por causa de honra. Título honorífico
Ex vi
universitário conferido em homenagem.
Por força; por determinação de; em
decorrência do que preceitua a lei.
I
Ex vi legis
Por efeito da lei. Id est
Isto é.
Exceptio non adimpleti contractus
Exceção do não-cumprimento Imperium
do contrato. Poder.
Extra petita In articulo mortis
Fora ou além do pedido. (cf. ultra petita No momento da morte.
e citra petita) In casu
No caso.
Manual de Redação Policial-Militar 139

In continenti Iter criminis


Imediatamente (prefira a forma Itinerário do crime.
aportuguesada incontinenti). Iuris et de iure
In dubio pro misero De direito e por direito.
Em dúvida, a favor do pobre. Iuris tantum
In dubio pro reo De direito; o que decorre do próprio direito.
Em dúvida, a favor do réu. Ius
In extremis Direito (também se escreve Jus e variantes).
Nos últimos momentos. Ius fruendi
In fine Direito de gozar.
No fim. Ius iudicandi
In infinitum Direito de julgar.
Até o infinito. Ius non scriptum
In limine Direito não escrito.
Preliminarmente, no começo. Ius persequendi
In loco Direito de perseguir.
No lugar. Ius possessionis
In loco citato Direito de posse.
No lugar citado. Ius possidendi
In totum Direito de possuir.
Em geral. Ius postulandi
In verbis Direito de postular.
Nestes termos. Ius primae noctis
Interpretatio cessat in claris Direito da primeira noite (diz-se do
A interpretação cessa quando a lei é clara. direito dos senhores feudais de ter
Inter vivos relação com as esposas de seus vassalos
Entre vivos. ou dependentes na primeira noite de
núpcias, embora não se tenha prova da
Intuitu personae veracidade desse fato).
Em consideração à pessoa.
Ius privatum
Ipsis litteris Direito privado.
Textualmente; com as mesmas letras.
Ius publicum
Ipsis verbis Direito público.
Sem tirar nem pôr; com as mesmas
palavras; com as próprias palavras. Ius puniendi
Direito de punir.
Ipso facto
Só pelo mesmo fato; por isso mesmo; Ius sanguinis
conseqüentemente. Direito de sangue.

Ipso iure Ius scriptum


Pelo mesmo direito. Direito escrito.
140 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

L N
Lato sensu Neminem laedere
No sentido geral. A ninguém ofender.
Legitimatio ad causam Nihil obstat
Legitimação ou legitimidade para a causa. Nada obsta.
Legitimatio ad processum Nomen iuris
Legitimação ou legitimidade para o processo. Denominação legal.
Lex Non bis in idem
Lei. Não incidência de duas vezes sobre a
Libertas quae sera tamen mesma coisa.
Liberdade, ainda que tardia. Non dominus
Não dono.
M Norma agendi
Mala fide Norma de agir.
Por má-fé. Notitia criminis
Manu militari Notícia ou conhecimento do crime.
Com mão militar (com firmeza). Nula poena sine lege
Mens legis Não há pena sem lei.
Espírito da lei. Nullum crime sine lege
Não há crime sem lei.
Mens sana in corpore sano
Espírito sadio em corpo são. Numerus clausus
Meritum causae Número restrito.
Mérito da causa.
Modus acquirendi
O
Modo de adquirir. Obligatio dandi
Modus faciendi Obrigação de dar.
Modo de fazer. Obligatio faciendi
Modus operandi Obrigação de fazer.
Modo de trabalhar. Obligatio in solidum
Modus probandi Obrigação solidária.
Modo de provar. Obligatio non faciendi
Modus vivendi Obrigação de não fazer.
Modo de viver. Onus probandi
More uxorio Ônus da prova.
Concubinato. Oratio
Mutatis mutandis Oração, discurso.
Mude-se o que deve ser mudado.
Manual de Redação Policial-Militar 141

P Prima facie
À primeira vista.
Pacta sunt servanda
Os pactos (contratos) devem ser cumpridos. Pro forma
Por formalidade; para salvar aparências.
Pari passu
No mesmo passo. Pro labore
Pelo trabalho (remuneração que se dá
Passim pelo serviço prestado).
Aqui e ali, de todos os lados, sem ordem.
Pro lege vigilanda
Patria potestas Em vigilância da lei.
Pátrio poder.
Pro rata
Per capita Em proporção.
Por cabeça.
Pro soluto
Periculum in mora Para pagamento.
Perigo de mora (perigo da demora).
Pro solvendo
Permissa venia Para pagar; em pagamento.
Com o devido respeito.
Pro tempore
Persecutio criminis Temporariamente.
Persecução do crime.
Persona Q
Pessoa.
Quid juris?
Persona grata Qual a solução dada pelo Direito?
Pessoa bem aceita.
Quid pro quo
Persona non grata Equívoco, mal-entendido; uma coisa por
Pessoa não grata. outra (sua forma aportuguesada é
Petitum qüiprocó).
Pedido. Quo vadis?
Pleno iure Aonde vais?
Pleno direito. Quorum
Post mortem De quantos.
Depois da morte.
Post scriptum (P.S.) R
Depois do escrito. Ratione auctoritatis
Praeter legem Em razão da autoridade.
Fora da lei. Ratione legis
Presunção iuris et de iure Em razão da lei.
Presunção absoluta, não admite prova Ratione loci
em contrário. Em razão do lugar.
Presunção iuris tantum Ratione materiae
Presunção relativa, que admite prova Em razão da matéria.
em contrário.
142 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Ratione officii Sic


Em razão do cargo ou da função. Assim.
Ratione personae Sine die
Em razão da pessoa. Sem data fixa; sem dia.
Ratione temporis Sine dubio
Em razão do tempo. Sem dúvida.
Ratione valoris Sine iure
Em razão do valor. Sem direito.
Rebus sic stantibus Sine qua non (conditio)
Mesmo estado de coisas. Sem a qual não; condição essencial para
Repudium a realização de um ato.
Repúdio. Si vis pacem para bellum
Res Se queres a paz, prepara-te
Coisa. para a guerra.

Res aliena Status


Coisa alheia. Estado.

Res communis Status quo


Coisa comum. Estado em que se encontra.

Res deperdita Status quo ante


Coisa perdida. Estado em que se encontrava.

Res derelictae Stricto sensu


Coisa abandonada. Entendimento estrito.

Res furtiva Stuprum


Coisa furtada. Estupro.

Res in commercio Sub iudice


Coisa em comércio, Pendente do Juiz.
sucetível de negociação. Sui generis
Res iudicata Especial; singular; sem igual.
Coisa julgada. Suum cuique tribuere
Res nullius Dar a cada um o que é seu.
Coisa de ninguém, sem dono.
Res publicae
T
Coisa pública. Testis unus, testis nullus
Testemunha única, testemunha nula; uma
S só testemunha, nenhuma testemunha.

Secundum ius Totum continens


Segundo o direito. Que contém tudo.

Secundum legem
Segundo a lei.
Manual de Redação Policial-Militar 143

U
Ubi societas, ibi ius
Onde (há) a sociedade, aí (há) o direito.
Ultimatum
Ultimato.
Ultra petita
Fora ou além do pedido; decisão que
vai além do teor do pedido (cf. citra
petita e extra petita).
Usque
Até.
Uti, non abuti
Usar, não abusar; use, não abuse.

V
Vacatio legis
Vacância da lei; período compreendido
entre a publicação e o início de vigência
da lei.
Veni, vidi, vici
Vim, vi e venci.
Verbi gratia (v.g.)
Por exemplo, a saber.
Verba legis
As palavras da lei.
Vice
Em lugar de.
Vox populi, vox Dei
A voz do povo é a voz de Deus.
144 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Expressões
VIII queconfundem

Em que consistem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147


A lista de expressões
Manual de Redação Policial-Militar 147

Em que consistem
Neste capítulo, apresentamos um rol de preciosidades da Língua
Portuguesa: são palavras e expressões que, por sua natureza, origem
etimológica ou pela freqüência com que são usadas, provocam dúvidas
quanto à correta grafia, à pronúncia, à concordância, enfim, à perfeita
adequação ao contexto frasal.
Compreendem o resultado de um criterioso trabalho de seleção de
expressões extraídas de grandes manuais de redação – devidamente
ajustadas aos objetivos deste trabalho –, dentre eles, o da Presidência da
República, do Estado de São Paulo, de O Globo, da Folha de São Paulo,
da Editora Abril, e da EGBA, além de outras palavras e expressões, fruto
da nossa vivência na área de revisão de textos.
Esses problemas sintáticos e ortográficos, como sabemos, já foram tratados
no Capítulo VI deste Manual (v. “ Tira-dúvidas de palavras e expressões
castrenses”), porém em menor extensão, em razão de serem específicos
à atividade policial-militar.
Não se esqueça: as expressões incorretas ou de uso pouco recomendável,
vistas a seguir, devem ser evitadas ao máximo, pois elas não se ajustam ao
princípio da redação oficial, anteriormente estudados (v. , no cap. II, “O texto”).

A lista de expressões
A / Há
A: quando significar tempo, refere-se ao futuro: “O novo comandante
chegará daqui a dois dias”; há: usamos quando nos referirmos a tempo
pretérito, podendo ser substituído por faz: “O comandante não vai ao
quartel há dias”.
A sargenta “deu à luz a” gêmeos (errado)
A expressão correta é somente dar à luz: “A sargenta deu à luz gêmeos”.
Não diga também: “deu a luz a gêmeos”, pois está igualmente errado.
À custa/as custas
À custa: é uma expressão invariável, salvo quando se referir a custas judiciais:
“Aquele homem vivia à custa do pai.”, “O réu foi obrigado a pagar as
custas processuais.”
148 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

A fim de/Afim
A fim de: é invariável, significando “com a finalidade de”, “com o objetivo
de”: “Os recrutas treinaram com muito garbo, a fim de serem liberados
mais cedo”; afim: é uma palavra variável, designando “afinidade”: “Os
bons policiais possuem conceitos afins”.
À medida que/na medida em que
À medida que: corresponde a uma locução proporcional (“à proporção
que”, “ao passo que”, “conforme”, etc.): “À medida que os policiais treinam,
mais preparados ficam”; na medida em que: corresponde a uma locução
causal (“em razão de que”, “uma vez que”, etc.): “Os policiais deixam de
treinar diariamente, na medida em que se tornam exímios atiradores”.
Evite expressões como “na medida que”, “à medida em que”, etc.
A ocorrência não tem nada “haver” com este fato
O correto é: “A ocorrência não tem nada a ver (ou nada que ver) com
este fato.
A par/a ponto
Ambas são locuções invariáveis: “O Comando ficou a par da situação”
(e não “ao par”); “Atirou tanto a ponto de ficar sem munição” (e não “ao
ponto”); ao par usa-se, financeiramente, para câmbio: “O real nunca mais
ficou ao par do dólar”.
A partir de
O mesmo que a começar de. Indica que um período ou prazo se inicia.
Não se diz, portanto, que algo se iniciará “a partir do próximo mês”, pois
é redundância. O certo é dizer-se que algo se iniciará no “próximo mês”.
A princípio
Significa “no início”. Convém não confundir com em princípio (que significa
“segundo os princípios”).
Aquele/aquela/aquilo
Referem-se: a) à pessoa de quem se fala: “Aquele é o tenente de quem
lhe falei.”; b) um afastamento remoto de tempo: “A PMBA foi criada
naquele ano de 1825, com a denominação de Corpo de Polícia”.
A temperatura baixou para zero “graus” (errado)
Zero refere-se a singular: zero grau, zero hora, etc.
Manual de Redação Policial-Militar 149

À toa/à-toa
À toa (sem o hífen) quer dizer em vão: “Disparou os tiros à toa, já que
não havia oponente.”; à-toa (com hífen) quer dizer sem valor: “Ele prestou
declarações à-toa, de forma que ninguém lhe deu ouvidos.” Algumas outras
locuções adverbiais, quando funcionam como substantivos ou adjetivos,
também passam a ser ligados por hífen, tais como: sem-cerimônia, à-vontade
e dia-a-dia.
Abordagem
Além da significação original (ato de encostar à borda ou abalroar
embarcação), significa, também, o ato de quem se aproxima de alguém
ou propõe tratar de algum assunto. Não empregue o vocábulo como
sinônimo de proposta ou sugestão: “Os recrutas fizeram ao instrutor uma
série de abordagens sobre o assunto.” (errado).
Acabar em
É o que acontece com um processo, um movimento, sendo diferente,
pois, de causar: “O uso imoderado de armas acabou em mortes.” (errado);
“O uso imoderado de armas causou mortes.” (certo).
Acender/ascender
Acender: atear (fogo), inflamar; ascender: subir, elevar.
Acento/assento
Acento: sinal gráfico, inflexão vocal: “Palavra sem acento”; assento: cadeira:
“Tomar assento num cargo”.
Acerca de/a cerca de/há cerca de
Acerca de: sobre, a respeito de: “Indagou acerca de sua promoção”; a
cerca de: a uma distância aproximada de: “O alvo localizava-se a cerca de
vinte metros do atirador.”; há cerca de: faz (indicação aproximada de
tempo): “Há cerca de treze anos, o capitão foi promovido.”
Aduzir/induzir
Aduzir: expor; induzir: sugerir, levar a.
Adiamento/adiar
Uma determinada data pode ser trocada por outra, porém só se adia o
evento propriamente dito; note que as datas não mudam de posição no
calendário: uma festa é adiada, e não a sua data, como, p. ex.: “a data da
festa foi adiada” (errado). A mesma regra vale para os prazos: eles podem
ser ampliados ou encurtados, mas nunca adiados.
150 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Adivinhar
Não se esqueça de que este vocábulo tem “i” em seguida do “d”.
Aids
Dizer que fulano pegou Aids é errado; diga que fulano pegou ou contraiu
o vírus da Aids”. Da mesma forma, é errado dizer que este ou aquele
teste detecta o vírus da Aids; o que ele faz é identificar o anticorpo
produzido pelo organismo para tentar combater o vírus.
Aleatório/alheatório
Aleatório: causal, fortuito, acidental; alheatório: que alheia, alienante, que
desvia ou perturba.
Alegado
Emprega-se este termo para referir-se a afirmações, argumentos, razões.
Quando se tratar de pessoas, objetos e lugares, a palavra é suposto.
Veja: “Os familiares da vítima não aceitaram a alegada inocência do
suposto assassino.”
Além/também
“Além da solenidade, também haverá o coquetel” é redundância. Cancele
o também: “Além da solenidade, haverá o coquetel.”
Algarismos
São símbolos empregados na representação de números. De zero a nove,
confundem-se: o algarismo sete representa o número sete. A partir de
dez, a diferença se torna clara: o número 94 é formado pelos algarismos
nove e quatro. Diz-se, p. ex., que uma placa de automóvel é formada por
três letras e quatro algarismos, não “quatro números”.
Alguns comandados “receiaram” cumprir a missão (errado)
A grafia correta é sem o “i”: “Alguns comandados recearam cumprir a
missão.” De igual modo: passeamos, cearam, etc.
Alternativa/opção/dilema
Alternativa: há apenas duas opções; opção: há duas ou mais escolhas; dilema:
há duas saídas, ambas difíceis ou penosas. Observe que não é correto
que se pergunte qual a alternativa correta, num universo de cinco, p. ex.;
o certo é perguntar qual a proposição correta, dentre as cinco
apresentadas. Bem assim, a expressão “outra alternativa” é redundante:
“Não restou outra alternativa.”(errado); “Não restou alternativa.” (certo).
Manual de Redação Policial-Militar 151

“Aluga-se” casas (errado)


O verbo é transitivo direto, concordando com o sujeito: “Alugam-se casas”
(certo). Transformando a frase para a voz passiva, temos: “Casas são
alugadas”; por isso dizemos que a partícula “se” é um pronome apassivador.
Por outro lado, na frase: “Precisa-se de policiais militares”, o verbo precisar
é transitivo indireto e o sujeito não está determinado na frase; assim,
dizemos que o pronome “se” é um índice de indeterminação do sujeito,
não sofrendo o verbo, conseqüentemente, qualquer tipo de flexão.
Amigo
A expressão “amigo pessoal” é redundante, uma vez que a amizade é,
por definição, uma relação pessoal; pode ser íntima ou não.
Amoral/imoral
Amoral: Indiferente à moral; imoral: contrário à moral.
Ampliar
Não escreva que “um prazo foi ampliado por mais 15 dias”; ampliar é
sempre aumentar. Logo, diga que “um prazo foi ampliado em 15 dias”.
Anexo/em anexo
Anexo (adjetivo): concorda em gênero e número com o substantivo ao
qual se refere: “Seguem, anexas, as cópias dos termos de declarações dos
denunciantes.”; em anexo (locução adverbial): não sofre variação: “Seguem,
em anexo, as cópias dos termos de declarações dos denunciantes.”
Ao
Dizemos que um lugar fica, p. ex., ao sul de outro quando ele está fora do
outro; e no sul quando está dentro do outro.
Ao meu ver (errado)
Não há artigo em expressões como: a meu ver, a seu ver, a nosso ver.
Ao nível/em nível
Ao nível é uma locução que tem como sentido “à mesma altura de”:
“Salvador, a terra do axé, está situada ao nível do mar.”; em nível: evite o
seu uso no sentido de: “com relação a”, “no que se refere a”, haja vista
significar “nessa instância”: “A decisão foi tomada em nível de Comando
Geral.” (na instância do Comando Geral); A nível (de): seu emprego
constitui modismo; evite-o.
152 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

“Aonde” a vaca vai, o boi vai atrás (certo)


“Onde a vaca vai, o boi vai atrás.” (errado). O motivo é simples:
empregamos aonde junto a verbos de movimento, tal como o verbo ir
(vai); não o sendo, empregamos onde: “Onde fiquei ontem?”.
Aparte/à parte
Aparte: interrupção, comentário à margem; à parte: em separado,
isoladamente, de lado.
Apreçar/apressar
Apreçar: avaliar, pôr preço; apressar: dar pressa a, acelerar.
Apreender/aprender
Apreender: assimilar; aprender: estudar, instruir-se.
Aquela modelo “pousou” muito bem (errado)
Modelo posa (de pose); avião é quem pousa.
Área/ária
Área: superfície delimitada, região; ária: canto, melodia; trecho de ópera.
Armas
São as subdivisões do Exército (Cavalaria, Infantaria, Artilharia); Marinha,
Exército e Aeronáutica não são armas, e sim Forças Armadas.
As vítimas da ocorrência “esperavam-o” (errado)
Nos verbos terminados em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as assumem
a forma de no, na, nos e nas: “As vítimas da ocorrência esperavam-no.”
Aspirava “o” cargo de comandante (errado)
Aspirar, no sentido de “desejar”, “almejar”, é transitivo indireto: “Aspirava
ao cargo de comandante.” (certo). A mesma regra vale para o verbo
visar: “Visava ao cargo de comandante.” (certo).
Assistir
É um verbo transitivo direto no sentido de “dar assistência”, “ajudar”:
“Os bombeiros assistiram os acidentados.” No sentido de “ver”, “ser
espectador”, é transitivo indireto: “Os bombeiros assistiram ao acidente
estupefatos.”
Atrasos “implicarão em” punição (errado)
O verbo implicar é transitivo direto no sentido de “acarretar”, “pressupor”,
portanto, não vem acompanhado da preposição em: “Atrasos implicarão
punição.” (certo).
Manual de Redação Policial-Militar 153

Através
De lado a lado, pelo meio de alguma coisa. Não se deve confundir com
por meio de, que significa “por intermédio de”, “mediante”, assim, não
diga: “O policial comunicou o fato através de ofício.” (errado).
Atravessar/percorrer
Atravessar: ir de um lado a outro; percorrer: ir de uma ponta a outra.
Atravessar a rua é mudar de calçada; percorrê-la é do começo ao fim.
Atuar/autuar
Atuar: agir; autuar: lavrar em auto, processar.
Auferir/aferir
Auferir: obter: “auferir lucros, vantagens”; aferir: avaliar, medir, conferir.
Avaliar
Cuidado, pois avaliar não é sinônimo de “escolher”, “concluir”
ou “comentar”. Não se diz: “O comandante avaliou que...”, e sim
“O comandante avaliou a situação e concluiu que...”.
Avocar/invocar/evocar
Avocar: atribuir-se, chamar: “Avocou a si o comando da tropa.”; invocar:
pedir, chamar: “No momento crucial, o soldado invocou a ajuda de Deus.”;
evocar: lembrar, invocar: “Evocou na homenagem o seu tempo de recruta.”
Barbado/barbudo
Barbado: aquele que usa barba ou que está com a barba por fazer;
barbudo: refere-se unicamente ao homem com muita barba. Logo, o
mais provável é encontrarmos um policial barbado (com a barba por
fazer) e não “barbudo”.
Bem/bom
Bem: É advérbio, invariável, pois; vindo ao lado de verbos, adjetivos e
outros advérbios; bom: adjetivo (variável); vem ao lado de nomes: “Um
bom soldado, que sabe atirar bem de pistola”.
Beneficência
É errada a grafia beneficiência; de igual forma, o correto é beneficente e
não beneficiente.
Biografia
Diz da história de uma vida. Constitui redundância falar em “narrativa da
biografia” ou em “biografia da vida”.
154 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Bimensal/bimestral
Bimensal: diz-se do evento que acontece ou aparece duas vezes por
mês; bimestral: é o intervalo de dois meses.
Blitz
Palavra alemã incorporada ao vocabulário português. Em razão de essa
palavra ter um plural em alemão pedante (“blitze”), recomendamos usar,
no plural, palavras nossas, como operações, incursões, diligências, etc.
Boicote/embargo
Boicote: é o ato de se recusar a procurar ou ter qualquer relação com alguém;
embargo: não deve ser confundido com boicote; constitui uma proibição.
Bomba de fabricação caseira
Clichê. Praticamente todas as bombas usadas em ilícitos são de
fabricação caseira.
Bugingangas (errado)
O certo: bugigangas.
Cabelereiro (errado)
O certo é cabeleireiro.
Cada
Pronome indefinido que deve ser usado em função adjetiva: “No con-
cernente aos policiais de trânsito, foram entregues um colete refletivo e
um apito a cada um.” (certo). Evite a construção coloquial: “... foram
entregues um colete refletivo e um apito a cada.” (errado).
Camioneiro (errado)
O certo é caminhoneiro; da mesma forma, diga caminhonete, palavra que
o uso manda preferir à variante camionete.
Carangueijo (errado)
A grafia correta é caranguejo.
Carrear/cariar/carear
Carrear: carregar; cariar: criar cárie; carear: atrair, ganhar.
Cassar/caçar
Cassar: tornar nulo ou sem efeito, suspender, invalidar; caçar: perseguir, procurar.
Causal/casual
Causal: relativo à causa; casual: fortuito, ocasional, aleatório.
Manual de Redação Policial-Militar 155

“Causou-me” preocupação os atos seus (errado)


Observe que o verbo está anteposto ao sujeito (a frase está na ordem
inversa): “Causaram-me preocupação os atos seus.” (certo). Na ordem
direta, teríamos: “Os seus atos causaram-me preocupação.”
Cavaleiro/cavalheiro190
Cavaleiro: que anda a cavalo; cavalheiro: homem nobre, gentil, distinto.
Cerca de trinta e quatro pessoas foram atingidas no acidente (errado)
Cerca indica arredondamento, não podendo figurar com números exatos:
“Cerca de trinta pessoas foram atingidas no acidente.” (certo).
Chá/xá
Chá: planta, infusão; xá: antigo soberano persa.
Champanhe
Sempre masculino e com esta grafia: o champanhe.
Cheque/xeque
Cheque: ordem de pagamento à vista; xeque: lance de jogo de xadrez;
dirigente árabe; perigo (gíria).
Chimpanzé
Preferível a “chipanzé”.
“Ciclo” vicioso (errado)
Essa expressão não existe, o certo é: círculo vicioso.
Coca
É a planta. A droga é cocaína.
Codinome/apelido
Codinome: Nome falso, criado para esconder a verdadeira identidade;
apelido: pode ser criado para atender a outro objetivo. Portanto, nem
todo apelido é um codinome.
Colidir/coligir
Colidir: chocar, trombar; coligir: colecionar, juntar.
Colocar
Com o sentido de “declarar” ou “argumentar”, é um modismo. “Aquele
aluno fez uma colocação interessante durante o seminário.” (errado).
No sentido literal, significa “pôr em algum lugar”. “O PM colocou a arma
no coldre.” (certo).
190
Alguns dicionários reconhecem cavalheiro e cavaleiro como palavras sinônimas.
156 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Com direito a
Clichê do tipo: “foi um roubo com direito a tiros e correria”. Também é
clichê a expressão: com tudo a que tem direito.
Complacência (certo)
“Complascência” (errado).
Comprou uma TV “a cores” (errado)
O correto é: “Comprou uma TV em cores.” (observe que não dizemos
TV a preto e branco). Da mesma forma: “Transmissão em cores”,
“desenho em cores.”
Comunicar
É o fato que é comunicado e não as pessoas; estas são informadas do
fato. É errado dizer que alguém “foi comunicado”.
Comprei “ele” para você (errado)
Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto, pois são pronomes
subjetivos (exercem função de sujeito): “Comprei-o para você.” (certo).
No mesmo sentido: “Deixe-os partir”, “mandou-nos dormir”, etc.
Comprometido
Preferível ao neologismo compromissado.
Consenso
Só pode ser usado quando indica consentimento da totalidade. Logo, é
redundante falar em “consenso geral”.
Conserto/concerto
Conserto: restauração, reparo; concerto: composição, combinação, acerto;
apresentação de orquestra.
Considerações
São reflexões, opiniões. Não se confundem com recomendações ou
propostas: “Fazer um considerando sobre determinado assunto.” (errado).
Considerar
Não use como sinônimo de afirmar, em situações como “Fulano considerou
o aumento ilegal”. O certo seria “Fulano considera o aumento ilegal.”.
O mesmo vale para o sinônimo acreditar.
Consta “que recusaram-se” a depor (errado)
“Consta que se recusaram a depor.” (certo). Independentemente de qual
função esteja exercendo, o “que” sempre atrairá o pronome oblíquo
Manual de Redação Policial-Militar 157

para junto de si. A esta ocorrência, dá-se o nome de próclise. Também há


próclise nas frases negativas, nas frases com conjunções subordinativas e
com advérbios: “Não o culpei por isso.”, “Todos calaram, quando lhe
apontaram o chefe.”, “Aqui se implantou um novo modelo de policiamento.”
Contar com
Significa “ter a favor”. Não se diz, pois, que uma idéia “conta com objeções
de Fulano”, e sim que sofre objeções de Fulano.
Controvérsia
Na existência de mais de uma versão sobre um único fato, existe uma
única controvérsia, não controvérsias.
Convalescença (certo)
Convalescência (errado).
Corpo a corpo
É redundante falar em corpo a corpo entre pessoas.
Coser/cozer
Coser: costurar; cozer: cozinhar.
Credibilidade/crédito
Credibilidade: é a confiança recebida; crédito: é a confiança dada. Deste
modo, a credibilidade de alguém é o grau de confiança dos outros nele;
e não o grau de confiança que ele deposita nos outros, assim: “A Polícia
Militar tem credibilidade perante a comunidade”, ou “A comunidade tem
crédito na Polícia Militar.”
Cumprimento/comprimento
Cumprimento: saudação; comprimento: extensão.
Cumprido/comprido
Cumprido: concretizado; comprido: extenso.
Curinga
Com “u”. Não existe coringa.
Custear
Sinônimo de “pagar”, não de “sustentar” ou “manter”.
Dado/visto/haja vista
Dado/visto: Os particípios dado e visto têm valor passivo e concordam
em gênero e número com o substantivo a que se referem: Dados os
158 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

índices de criminalidade... “Vistas as provas apresentadas...”; haja vista: com


o sentido de “uma vez que” ou “seja considerado”, “veja-se”, é invariável:
“Aquele comandante é muito competente, haja vista o seu interesse em
reestruturar o quartel.” A expressão haja visto é um modismo; não use.
De forma que, de modo que/de forma a, de modo a
De forma (ou maneira, modo) que: emprega-se nas orações desenvolvidas:
“Explicou todo o plano, de forma que ninguém teve dúvidas.”; de forma
(maneira ou modo) a: emprega-se nas orações reduzidas de infinitivo:
“Explicou todo o plano, de forma a não deixar dúvidas.” São descabidas,
na língua escrita, as pluralizações orais vulgares de formas (maneiras ou
modos) que, etc.
De mais/demais
De mais: quer dizer “a mais”; demais: quer dizer “muito”.
Declarou a mulher, “a grosso modo”, que era inocente. (errado)
A expressão correta é grosso modo, sem a preposição “a”: “Declarou a
mulher, grosso modo, que era inocente.” (certo).
Defensiva
Esse vocábulo é um adjetivo. Portanto, ninguém fica “na defensiva”, e sim
“em posição defensiva” ou “na defesa”.
Degradar/degredar
Degradar: desgastar, deteriorar, rebaixar; degredar: banir, desterrar.
Derrogar/derrocar
Derrogar: revogar parcialmente uma lei, anular; derrocar: destruir, arrasar.
Desalojar
Pessoas são desalojadas. Bens são desapropriados ou expropriados.
Descrição/discrição
Descrição: ato de descrever, definição; discrição: discernimento, reserva,
prudência.
Descriminar/discriminar
Descriminar: deixar de considerar algo como crime; inocentar; discriminar:
distinguir, diferençar.
Desencadear
Desencadeia-se um processo, nunca um fato isolado.
Manual de Redação Policial-Militar 159

Desova
Em referência a cadáveres, é gíria e deve ser evitada tal acepção na
redação oficial.
Despacho
Em geral, é o ato administrativo ou a reunião do comandante, chefe,
diretor ou coordenador com o seu subordinado, para dar andamento às
atividades administrativas. Diz-se, comumente, que o servidor público
despacha com o seu superior. Quando, porém, não há relação hierárquica
entre visitante e visitado, a palavra é audiência.
Despensa/dispensa
Despensa: depósito de mantimentos; dispensa: liberação; demissão.
Dessecar/dissecar
Dessecar: enxugar, tornar seco; dissecar: análise com minúcias; dividir de
forma anatômica.
Destratar/distratar
Destratar: insultar; distratar: desfazer um trato.
Destruição
Via de regra, destruição não tem gradação: nada é muito ou pouco
destruído. Todavia, não é incorreto dizer que algo foi destruído de forma
parcial: trata-se da destruição de uma parte; é o mesmo que danificado.
Por outro lado, a forma redundante totalmente destruído é aceitável
quando há necessidade de enfatizar uma determinada ocorrência.
Desvendar
O mistério é desvendado (solucionado), e não a pessoa responsável por
ele. Não diga, pois, que o criminoso foi desvendado, mas que ele foi
identificado, sendo o seu nome revelado.
Diferir/deferir
Diferir: diferenciar, discordar; retardar, dilatar; deferir: conceder, atender.
Digladiar (certo)
“Degladiar” (errado).
Dignitário (certo)
“Dignatário” (errado).
Dilatar/delatar
Dilatar: alargar; adiar, diferir; delatar: denunciar, acusar, dedurar (gíria).
160 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Dinamite
Consiste no nome da substância; não faz plural.
Discrição
É a qualidade de quem é discreto. Discreção é um termo inexistente.
Disse tudo o que “quiz” (errado)
Não existe “z”, mas apenas “s”, nas pessoas de querer e pôr: quis, quisesse,
quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos.
Divisa/fronteira/limites
Estados são separados por divisas; países são demarcados por fronteiras;
cidades têm limites.
Editar
Não empregue com o sentido de baixar ou assinar leis, decretos
regulamentos, etc., e sim, de publicar (livros, periódicos, etc.).
Ela é “de menor” (errado)
Esse “de” não existe: “Ela é menor.” (certo). Lembre-se de que o menor
compreende a criança (até doze anos incompletos) e o adolescente (de
doze a dezoito anos incompletos), nos termos do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA).
Ela estava “meia” arrependida (errado)
Meio, funcionando como advérbio, não varia: “meio arrependida”, “meio
misteriosa”, etc. Quando, porém, significar metade (numeral fracionário),
sofre flexão no feminino: “Ela comeu meia maçã.” (metade de uma maçã).
Ela “mesmo” cometeu o crime (errado)
Mesmo, significando próprio, sofre variação: “Ela mesma (própria)
cometeu o crime.”
Ele é “um dos que cometeu” o crime (errado)
Um dos que faz a concordância no plural: “Ele foi um dos que cometeram o
crime.” (certo), ou seja, daqueles que cometeram o crime, ele foi um deles.
Ele “intermedia” a negociação com os seqüestradores (errado)
Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: “Ele intermedeia (ou medeia)
a negociação”. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma:
“Eles remedeiam”, “que eles anseiem”, “eu incendeio”.
Manual de Redação Policial-Militar 161

Eles “tem” várias fardas guardadas (errado)


O verbo ter, no plural, vem com acento: “Eles têm várias fardas guardadas.
(certo); tem é a grafia do singular. Observe que acontece o mesmo com
vem e vêm: “Ele tem, eles têm”; “ele vem, eles vêm”191.
Elidir/ilidir
Elidir: eliminar; ilidir: contestar, desmentir.
Elucubração (certo)
“Elocubração” (errado).
Em fuga, o bandido “ingressou” no ônibus
Nem sempre ingressar é sinônimo de entrar. É mais erudito dizer:
“Em fuga, o bandido entrou no ônibus.”
Em função de
Diz de uma coisa que tem relação funcional com outra. Não empregue tal
expressão, então, para significar relação de causa e efeito, como: “O soldado
foi punido em função de faltar o serviço.”, preferindo-se as formas “em
razão de”, em virtude de”, “em conseqüência de”, “devido a”, e similares.
Em rota de colisão
Frase-feita.
Em vez/ao invés
Em vez: em lugar de, em substituição a; ao invés: ao contrário.
Embriagar-se (certo)
“Embreagar-se” (errado).
Emenda/ementa
Emenda: correção de um ato; remendo; ementa: apontamento, súmula.
Emergente/emergencial
Emergente: emprega-se a algo que está surgindo; não tem qualquer
parentesco com urgente; emergencial: alquilo que tem caráter de emergência.
Emergir/imergir
Emergir: vir à tona, manifestar-se; imergir: mergulhar, entrar.

191
Para saber mais, consulte a observação da 7a regra do item 43 do Capítulo XII (v. “Formulário Ortográfico
de 1943”).
162 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Emigrante/imigrante
Emigrante: aquele que parte; imigrante: aquele que chega.
Eminente/iminente
Eminente: aquele que se destaca, sublime, notável; iminente: o que está
para acontecer a qualquer instante.
Empatar
“A e B empataram” é a forma mais imparcial. Se dissermos que “A empatou
com B”, estamos indiretamente sugerindo que A é mais importante para
quem está escrevendo ou para quem vai ler ou falar, assim: “O time do
Bahia empatou com o do Vitória.” (o Bahia é mais importante); “O time
do Vitória empatou com o time do Bahia.” (agora o Vitória é mais
importante). Portanto, para evitar confusão e desentendimentos
generalizados entre torcedores fanáticos, digamos: “O Bahia e o Vitória
empataram.” ou “O Vitória e o Bahia empataram.” Atenção: quem empata,
empata por e não, empata em: “O Bahia e o Vitória empataram por dois a
dois.” (certo); em contrapartida, jamais diga que “O Bahia e o Vitória
empataram em dois a dois.” (errado); ora, se o Bahia (ou o Vitória) venceu
por ou perdeu por, é evidente que ele também empatou por.
Empossar/empoçar
Empossar: tomar posse, dar posse a; empoçar: formar poça.
Encapuzado (certo)
“Encapuçado” (errado).
Encontrar
Quando se refere a alguma coisa móvel, encontrar é preferível a localizar
(que, geralmente, designa coisas imóveis). Assim: “O carro dos bandidos
foi encontrado, embora o seu esconderijo não tenha sido localizado”.
Enquanto
Consiste numa conjunção proporcional, equivalente a “ao passo que”, “à
medida que”, empregada em referência à passagem de tempo: “Uma
sentinela vigiava o quartel, enquanto a tropa dormia.” Evite a construção
coloquial enquanto (como modismo), no sentido de “sob o aspecto de”
ou “considerando”, como, p. ex.: “Os policiais militares, enquanto cidadãos,
merecem respeito e dignidade.” (errado).
Entre “eu” e você (errado)
Usamos os pronomes oblíquos tônicos “mim”e “ti” depois de preposição:
Manual de Redação Policial-Militar 163

“Entre mim e você.”, “Entre eles e ti.”


Errata
Consiste na correção de mais de um erro; o singular é erratum.
Escalada
É redundante dizer “escalada crescente”: não se escala para baixo. O seu
antônimo é desescalada.
Esdrúxulo (certo)
“Exdrúxulo” (errado).
Espectador/expectador
Espectador: aquele que assiste a alguma coisa; expectador: que espera ou
tem expectativa.
Espero que as tropas “viagem” hoje (errado)
Viagem, com “g”, é o substantivo: “Nossa viagem é amanhã.” Já a forma
verbal é grafada com “j”: “Espero que as tropas viajem hoje.” (certo).
Esperto/experto
Esperto: inteligente, astuto; experto: perito.
Esse/essa/isso
Referem-se: a) à pessoa a quem se fala; b) o tempo passado ou futuro
com relação à época em que se coloca a pessoa que fala.
Estada/estadia
Deve-se preferir estada a estadia (reserve esta palavra para a permanência
de navio em porto).
Estatal/estadual
Estatal é aquilo que pertence ao Estado na significação mais abrangente
do termo (União e membro da Federação), como, p. ex., uma empresa
que pertence ao Estado da Bahia é simultaneamente estatal e estadual.
Uma empresa da União é somente estatal.
Este fato passou “desapercebido”
Na verdade, o fato passou despercebido (não foi notado). Desapercebido
significa “desprevenido”.
Este/esta/isto
Referem-se à: a) pessoa que fala; b) o tempo presente em relação à
pessoa que fala.
164 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Este relatório é “três vezes menor” do que o outro (errado)


É correto dizer que uma coisa é “tantas vezes maior” do que outra; porém,
nada pode ser “tantas vezes menor”, em razão de que “uma vez menor” já
é igual a nada. “Este relatório é igual a um terço do outro.” (certo).
Estória
Desnecessário. Use história.
Estratégia/táticas
Estratégia: é uma política global, na qual são fixadas metas e uma linha
geral de ação; táticas: são decisões e planos específicos subordinados a
uma estratégia.
Evidência
Qualidade do que é evidente. Atenção: não é sinônimo de prova ou indício.
Ex
Use para indicar mudança de situação ou condição, em lugar de
desaparecimento ou troca de nome. Dessa maneira, não falamos ou
escrevemos “a ex-URSS”, mas “a antiga URSS” ou “a extinta URSS”. Note-
se também que a morte não confere a condição de ex a ninguém.
O deputado que morreu durante o mandato não passa a ser ex-deputado,
assim como não é ex-adversário o adversário que morreu sem reconciliação.
Excrescência (certo)
“Excrecência” (errado).
“Existe” várias versões para esse fato (errado)
Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: “Existem
várias versões para esse fato.” (certo).
Expectativa “futura” (errado)
Descarte o adjetivo futura, pois não há expectativas referentes ao passado.
O mesmo acontece com “esperança”, “promessa”, “previsão”, e similares.
Expiar/Espiar
Expiar: purgar, cumprir pena; espiar: olhar, espreitar.
Explicar/justificar
Explicar: expor o motivo; justificar: implica demonstrar que o motivo é
justo. Em conseqüência, se uma pessoa afirma que alguém justificou uma
ação, ela está, pela escolha do termo, concordando com esse alguém.
Manual de Redação Policial-Militar 165

Explodir
O que explode é a bomba, o artefato, não a pessoa que provoca a
explosão. Assim, é incorreta a frase: “O criminoso explodiu um carro”.
O correto é: “O terrorista fez explodir um carro.”
Extorquir
Muita atenção, pois o objeto de uma extorsão não é a sua vítima, e sim o
que alguém tentar tirar dela. Nesse sentido, não diga: “Ele extorquiu o
comerciante.” (errado); “Ele extorquiu tantos reais do comerciante.” (certo).
Extrato/estrato
Extrato: pagamento, cópia, resumo; aroma; coisa que se extraiu de outra;
estrato: as camadas das rochas estratificadas; tipo de nuvem.
Face a (errado)
“Em face de” (certo).
Familiar/parente
Familiar: o agregado ou amigo da família; parente: pessoa da família.
Fato “verídico” (errado)
Redundância, pois notícias e informações podem ser falsas; fatos são
sempre verídicos.
Fatos que “acontecem”
São aqueles imprevistos, surpreendentes, fortuitos. Desta forma, uma
operação policial que está devidamente marcada não “acontece”. Ela se
realiza. Só aconteceria se fosse casual e improvisada.
Favoreceu “ao” melhor soldado (errado)
Favorecer, nesse sentido, é transitivo direto, não aceitando preposição:
“Favoreceu o melhor soldado.”
Fax
É o meio, não a mensagem. Também não use no plural: “Joaquina enviava
vários textos por fax” (certo); “Joaquina enviava vários faxes.” (errado).
“Fazem” quatro anos de comando (errado)
Fazer, referindo-se a tempo, não sofre flexão, é impessoal: “Faz quatro
anos de comando.” (certo).
Ficar de fora
Prefira a expressão “ficar fora”.
166 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Filósofo
Qualifica o estudioso de filosofia, capaz de pensamento original, e não
quem apenas se formou em filosofia.
Fim de semana/final-de-semana
Fim de semana: é o final da semana; fim-de-semana: é descanso.
Fiquei fora de “si” (errado)
Se fiquei é um verbo flexionado na 1ª pessoa do singular, assim deve ser
o pronome oblíquo: “Fiquei fora de mim.” (certo).
Flagrante/fragrante
Flagrante: diz-se da pessoa que é presa durante ou logo após realização
de conduta criminosa; ardente; fragrante: que contém fragrância; cheiroso.
Fluorescente/florescente
Fluorescente: aquilo que possui propriedade de fluorescência; florescente:
que floresce; próspero.
Fórum
Tem o acento que não existe em quorum (fórum passou para o português
e quorum ainda é considerada palavra latina).
Fugiram todos, “posto que” a cela estava aberta (errado)
A locução conjuntiva posto que não tem sentido explicativo ou causal,
contrariando o que muitos pensam, e sim concessivo. Deve, pois, ser
utilizada no sentido de “embora”, “ainda que”, etc., e não no sentido de
“porque”, “já que”, “visto que”, “porquanto” e outros, pois só tem esse
sentido na língua espanhola: “Fugiram todos, já que a cela estava aberta.”
(certo); Os policiais militares, posto que (embora) preparados fisicamente,
suavam bastante.” 192 (certo).
Garantir
Afiançar, dar como certo. Usá-lo como sinônimo de “insistir” ou “jurar”,
não é conveniente, como, p. ex.: “Garantiu que não mais seria
indisciplinado.” (melhor não usar).
Garçom
Preferível a garçon e garção.

192
Para saber mais: KASPARI, op. cit., p. 181-3; RODRÍGUEZ, op. cit., p. 391-2.
Manual de Redação Policial-Militar 167

Gerar
Prefira não usar como sinônimo de “causar” e “produzir”. Empregue-o
para referir-se a reprodução das espécies e a atividade específica de
dínamos e motores.
Geminada/germinada
Casas são geminadas. Sementes são germinadas.
Grama
Significando peso, é substantivo masculino: “Comprei duzentos gramas
de café.”
Gravatas “cremes” (errado)
Os nomes de cor, quando expresso por um substantivo (creme, p. ex.),
não varia: “gravatas creme” (certo). No caso de adjetivo (azul, p. ex.), o
plural é o normal: “gravatas azuis” (certo).
Grupo de risco
No que se refere à Aids, esta não é uma expressão adequada; o certo é
comportamento de risco, pois o risco não está associado ao que a pessoa
é, mas ao que ela faz.
“Há” dez mil anos “atrás” (redundância)
Há e atrás são termos que indicam tempo pretérito na frase. Apenas é
necessário usarmos “há dez mil anos” ou “dez mil anos atrás”.
Honorabilidade/honradez
Honorabilidade: qualidade de quem é merecedor de honra; honradez:
honestidade.
Houve “superfaturamento” de “preços” (errado)
“Houve superfaturamento dos produtos.” (certo). Os preços podem ser
excessivos; ao que superfaturados são os produtos comprados. Bem assim,
não diga que o preço de um produto “passará a custar”, e sim que ele
passará a ser ou o produto passará a custar. Também não existem “preços
mais caros” ou “mais baratos”. Os produtos, sim, são mais caros ou mais
baratos; preços só podem ser mais altos ou mais baixos.
“Houveram” várias reclamações (errado)
Haver, no sentido de “existir”, é impessoal, não sofrendo flexão, tampouco
ao verbo auxiliar que o acompanha: “Houve várias reclamações.” / “Pode
haver mais reclamantes.” (frases corretas).
168 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Ilegal
É o ato, o comportamento, a situação; e não a pessoa ou a coisa. Logo, é
errado dizer que alguém “estava ilegal”. O mesmo vale para irregular.
Imitir/emitir
Imitir: entrar, investir; emitir: expedir, publicar.
Implosão
Explosão de fora para dentro.
Impugnar
Requerer a anulação de algo. Portanto, é redundante falar em “pedido
de impugnação” ou chamar de impugnação o ato de anulação.
Incêndio
Atinge uma casa, uma praça, uma vila, imóveis em geral; pessoas e objetos
não são incendiados, mas queimados.
Incerto/inserto
Incerto: duvidoso, indeterminado, variável; inserto: inserido, introduzido.
Incidente/acidente
Incidente: evento sem grandes proporções; acidente: desastre ou
acontecimento fortuito.
Incontinenti/incontinente
Incontinenti: imediatamente; incontinente: que não se contém; descontrolado.
Incrustar/encrostar
Incrustar: arraigar-se, revestir, cobrir de crosta; encrostar: criar crosta.
Independente/independentemente
Independente: adjetivo que se associa a um substantivo: “Aquele é um
oficial independente.”; independentemente: advérbio: “Atirou
independentemente de comando.”
Indicação
Ato anterior à nomeação; via de regra, quem indica, não nomeia e vice-
versa, haja vista que quem indica apenas propõe, e quem nomeia, decide.
Infarto
Também se emprega enfarte, mas não “enfarto”.
Inflação/infração
Inflação: aumento persistente de preços; ato de inflar; infração: ato ou
Manual de Redação Policial-Militar 169

efeito de infringir ou violar uma norma.


Infligir/infringir
Infligir: aplicar ou determinar punição; infringir: violar, transgredir. Atenção:
não diga “infrigir” (sem o segundo “n”).
Inquéritos
São instaurados, não “instalados”. Também não são “contra” uma ou mais
pessoas, e sim “sobre” alguma coisa: “O Corregedor Chefe instaurou um
inquérito sobre o homicídio daquele miliciano.”
Inquirir/inquerir
Inquirir: indagar, investigar; inquerir: apertar, encilhar.
Insipiente/incipiente
Insipiente: ignorante; incipiente: principiante.
Instância/estância
Instância: foro, jurisdição; pedido; estância: morada, recinto.
Insuspeito/insuspeitado
Insuspeito: aquele que está acima de suspeitas; insuspeitado: é aquilo que
não se sabia que existia.
Intemerato/intimorato
Intemerato: puro, imaculado; intimorato: destemido, sem temor.
Interdição
Ato legal, que parte de uma autoridade. Para os demais casos, usa-se
bloqueio, fechamento.
Intercessão/interseção
Intercessão: ato de interceder; interseção: cortar; ponto em que se
encontram duas linhas ou superfícies.
Invasão
Ato de invadir. Chamar de invasão o lugar invadido é modismo.
Invólucro
Cobertura. “Envólucro” não existe.
Já é a vez “dele” pagar (errado)
Não contraia a preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos
de verbo no infinitivo (p. ex.: pagar): “Já é a vez de ele pagar.” (certo).
170 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Jus
“Fazer jus” é merecer. “Juz” é errado.
Justiçar
Em verdade, não significa “fazer justiça”, mas punir de forma extrema.
Sinônimo de linchamento.
“Justo” no dia do exame, ele se acidentou (errado)
Justo é adjetivo; a palavra correta é o advérbio justamente, que corresponde
a logo: “Justamente (logo) no dia do exame, ele se acidentou.”
Laudo
É o resultado de um exame. Portanto, é redundância dizer “resultado
do laudo”.
Líder
Tem sentido positivo esse vocábulo, o que recomenda não usá-lo para
designar elementos que comandam ações anti-sociais, como chefes de
quadrilhas de traficantes.
Liderança
Qualidade de quem lidera. Não use como substitutivo de líder: “quem
são as lideranças desse partido?” (errado); “Quem são os líderes desse
partido?” (certo).
Linchamento
Execução sumária, à margem de qualquer processo legal; ele não se
caracteriza sem a morte da vítima.
Listra/lista
Listra: risca de cor diferente num tecido; lista: relação.
Locador/locatário
Locador: que dá de aluguel, arrendador; locatário: inquilino.
Lustro/lustre
Lustro: qüinqüênio; polimento; lustre: brilho, fama; abajur.
“Luta corporal”
Clichê; prefira apenas luta ou briga.
Lute pelo “meio-ambiente” (errado)
Meio ambiente não tem hífen. O mesmo se diz para “hora extra”, “ponto de
vista”, “mala direta”, etc. Com o hífen, grafamos, entretanto, “mão-de-obra”,
“matéria-prima”, “infra-estrutura”, “primeira-dama”, “vale-refeição”, etc.
Manual de Redação Policial-Militar 171

Magistrado/magistral
Magistrado: juiz, desembargador, ministro; magistral: perfeito; relativo
a mestre.
Mal/mau
Mal: advérbio (não varia): “Garotas mal educadas” (para saber se é
advérbio, basta substituir por bem; mau: adjetivo (sofre variação; para
identificá-lo, substitua-o por bom): “Eles são maus meninos.”
Mandado/mandato
Mandado: ato de mandar; ordem escrita expedida por autoridade judicial
ou administrativa; mandato: procuração; delegação; autorização que alguém
confere a outrem para praticar atos em seu nome.
Manifestações “políticas-partidárias” (errado)
Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: “manifestações
político-partidárias” (certo). Nesse sentido, as expressões: “bandeiras verde-
amarelas”, “crises econômico-financeiras”, etc.
Massivo
Anglicismo. Em português, o vocábulo correto é maciço.
Maus-tratos (certo)
“Maltrato” (errado). Contudo, maltratado, do verbo maltratar, está correto.
Meteorologia (correto)
“Metereologia” (errado).
Militância
É o “ato de militar”; e não o conjunto ou coletivo de militantes.
Morador
Casas, ruas, bairros, cidades têm moradores. Estados, regiões, países,
continentes e corpos celestes em geral têm habitantes.
Morreu “por conta de” uma bala perdida193 (errado)
“Por conta de” não é sinônimo de por causa de: “Morreu por causa de
uma bala perdida.” (certo).
Mulher
Preferível a “esposa”. No entanto, preferira senhora sempre que, no
contexto, houver risco de ofensa ou desrespeito.
193
Cf., neste capítulo, “em função de”.
172 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Não há regra sem “excessão” (errado)


“Não há regra sem exceção.” (certo). Veja outras grafias erradas e, entre
parênteses, a forma correta: “paralizar” (paralisar), “xuxu” (chuchu),
“previlégio” (privilégio), “frustado” (frustrado), “calcáreo” (calcário), “benvido”
(bem-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impecilho” (empecilho).
Não havia “qualquer” perigo de vida (errado)
Em lugar de “qualquer”, grafe nenhum, pois é este que se emprega depois
de palavras negativas: “Não havia nenhum perigo de vida.” (certo).
Nem um/nenhum
Nem um: quer dizer “nem sequer um”; nenhum: opõe-se a algum.
Nomeado para diretor (errado)
A expressão correta é “nomeado diretor” ou “nomeado para a direção”.
Nosso manual está “em vias” de conclusão (errado)
A expressão fica invariável: “Nosso manual está em via de conclusão.” (certo).
Nossos soldados “sequer” foram trabalhar (errado)
Sequer deve ser usado com negativa: “Nossos soldados nem sequer foram
trabalhar.” (certo); e mais: “Não disse sequer se iria trabalhar.”
Naquele acidente, houve um “saldo” de dois mortos e vinte feridos
Não use a palavra saldo para expressar o resultado de acidentes: “Naquele
acidente, houve um total de dois mortos e vinte feridos.” (certo).
Da mesma forma, evite dizer que uma determinada conduta criminosa
“rendeu”, “produziu lucro”, “deixou saldo”, etc.
Nunca “lhe” vi (errado)
O pronome “lhe” substitui a ele, a eles, a ela, a elas, a você e a vocês.
Desta forma, o “lhe” não pode ser usado como complemento direto do
verbo. A frase correta é: “Nunca o vi.” Nesse sentido: “Eu a amo.”
O ladrão roubou o garoto (errado)
“O ladrão roubou o relógio do garoto.” (certo). Furtar tem a mesma
regência. Note que o objeto é aquilo que o ladrão leva, não a sua vítima.
O moral/a moral
O moral: ânimo, disposição; a moral: conjunto de normas de comportamento.
O “nome” do nosso coronel foi o escolhido para o cargo (errado)
Para cargos e funções, escolhem-se pessoas, não os seus nomes.
Assim: “O nosso coronel foi escolhido para o cargo.” (certo).
Manual de Redação Policial-Militar 173

O peixe tem muito “espinho” (errado)


“O peixe tem muita espinha.” (certo). Não confunda, também, “cabeçário”
(errado) com cabeçalho (certo), “fusil queimado” (errado) com “fusível
queimado” (certo).
O personagem/a personagem
Possui os dois gêneros.
O policial militar “possue” muita coragem (errado)
“O policial militar possui muita coragem.” (certo). Verbos em “uir” (possuir,
p. ex.) só têm a terminação “ui”: “inclui”, “atribui”, “polui”. Verbos em
“uar” é que admitem a terminação “ue”: “continue”, “recue”, “atue”194 .
O processo deu entrada “junto ao” STF (errado)
“O processo deu entrada no STF” (certo). Igualmente: “Aumentou a
credibilidade daquela revista entre os (e não “junto aos”) leitores.” /
“Ela tinha uma dívida com o (e não “junto ao”) banco.”
O rapaz sentou “na” mesa para comer (errado)
“O rapaz sentou-se à mesa para comer.” (certo). Sentar-se (ou sentar)
em é “sentar-se em cima de”. Nesse sentido, sentou ao piano, à máquina,
ao computador.
O relatório “onde” foi constatada sua falta não está aqui (errado)
Emprega-se onde apenas para designar lugar: “O casarão onde ele se
refugiou é aquele”. Nos demais casos, use em que, no qual, etc.: “O relatório
em que foi constada a sua falta não está aqui.” (certo).
O sargento “interviu” na ocorrência (errado)
Intervir conjuga-se como vir: “O sargento interveio na ocorrência.” (certo).
De modo igual: “intervinha”, “interviemos”, “intervieram”. Outros verbos
derivados: “entretinha”, “mantivesse”, “reteve”, “predisse”, “conviesse”, etc.
O transporte é “gratuíto” (errado)
A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito
(atenção: o acento não existe, é apenas um recurso para indicarmos a
sílaba tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro.

194
Para saber mais, consulte o Capítulo XII, em “Formulário Ortográfico de 1943”, na observação do item
26 e no item 31.
174 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Objetivar/ter por objetivo


Objetivar: “materializar”, “tornar objetivo”; ter por objetivo: sinônimo de
“pretender”, “ter por fim”, “ter em mira”, “no intuito de”, “com o fito de”, etc.
“Obrigado”, disse a moça (errado)
Obrigado concorda com a pessoa: “Obrigada, disse a moça.” (certo).
Obsessão/obcecação
Obsessão: idéia fixa; perseguição; obcecação: ato ou efeito de obcecar; teimosia.
Obter
Implica sempre conseguir algo que se deseja. Dizemos, então, que um
time de futebol obteve duas vitórias, mas não que obteve duas vitórias
“e uma derrota.”
Óculos
Use sempre no plural: os óculos, meus óculos, uns óculos. O mesmo para:
meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.
A regra também vale para binóculos, monóculos e nasóculos.
Olimpíada/Olimpíadas
Olimpíada: é a competição criada em Olímpia, na Grécia Antiga, para
homenagear os deuses do Olimpo; também é o período de quatro anos
entre os atuais Jogos Olímpicos; Olimpíadas: é a forma abreviada dos
Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Operacionalizar
Neologismo verbal de que se tem abusado. Alterne entre realizar, fazer,
executar, e similares.
Oportunista
Aquele que se aproveita de uma oportunidade; tem sentido pejorativo.
Se o sentido é outro, diz-se que a pessoa tem senso de oportunidade.
Ordinal/ordinário
Ordinal: numeral que indica ordem ou série; ordinário: comum, vulgar.
Os trabalhadores “sobrevivem” com o salário que ganham (errado)
“Os trabalhadores subsistem (vivem, sustentam-se) com o salário que
ganham.” (certo). Sobreviver não tem sentido de “viver com dificuldade”,
e sim de continuar vivendo depois de alguém ou de algum fato: “João
sobreviveu a Maria”, “Ele sobreviveu ao incêndio.”
Manual de Redação Policial-Militar 175

Para “mim” fazer (errado)


“Para eu fazer” (certo). O pronome oblíquo não pode ser sujeito de infinitivo.
Passo/paço
Passo: etapa; ato ou efeito de avançar ou recuar um pé para andar; verbo
flexionado na 1ª pessoa; paço: palácio.
Pedágio
É tributo ou taxa, e não preço.
Penalizar
Não significa “punir”, mas ter pena.
Preciso de uma “lapiseira” para apontar o meu lápis.” (errado)
Lapiseira, embora seja confundida com o “apontador de lápis”, significa
porta-lápis ou o tubo de metal ou plástico, onde se encaixa o estilete de
grafita (já este é erroneamente chamado de “grafite”): “Preciso de um
apontador para o meu lápis.” (certo); “Empreste-me sua lapiseira para eu
poder escrever o bilhete.” (certo).
Pertinente/pertencer
Pertinente: significa “pertencente” ou “oportuno”. É derivado do verbo
latino pertinere; pertencer: origina-se do latim pertinescere, derivado sufixal
de pertinere. Esta forma não sobreviveu em português; não empregue,
pois, formas inexistentes como “no que pertine ao projeto”; nesse
contexto, use “no que diz respeito”, “no que respeita”, “no tocante”, etc.
Pleito/preito
Pleito: eleição, debate, litígio; preito: homenagem.
Popular
O seu uso abusivo transformou-o num clichê. Evite esse vocábulo,
substituindo-o por passante, transeunte, pessoa, espectador, etc.
“Porisso” que nós aprendemos (errado)
“Por isso que nós aprendemos.” (certo).
Posição/posicionamento
Posição: pode ser alternado com “postura”, “ponto de vista”, “atitude”,
“maneira”, “modo”; posicionamento: significa “disposição”, “arranjo”, e não
deve ser confundido com posição.
176 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Possuir
Palavra que é ligada à idéia de propriedade. Desta forma, não diga que
um objeto inanimado possui outro: “A casa possui dois quartos.” (errado).
Postar-se/prostrar-se
Postar-se: colocar-se; prostrar-se: humilhar-se, abater-se.
Prazeroso (certo)
“Prazeiroso” (errado).
Preceder/proceder
Preceder: anteceder; proceder: originar-se; executar.
Precursor/pioneiro
Precursor: aquele que abre caminho para que uma determinada atividade
se inicie; pioneiro: é um dos primeiros a percorrer o caminho aberto
pelo precursor.
Preferia sorrir “do que” chorar (errado)
Prefere-se sempre uma coisa a outra: “Preferia sorrir a chorar.” (certo). A
expressão “é preferível” segue a mesma norma: “É preferível sorrir a chorar.”
Presar/prezar
Presar: capturar, agarrar; prezar: respeitar, estimar, acatar.
Presidenciável
É aquele que “pode ser” candidato à presidência; quem “já é” candidato
não é mais chamado assim.
Previdência/providência
Previdência: qualidade de previdente, antevidência; instituição da Previdência
Social; providência: a suprema sabedoria, o próprio Deus; prudência; atitude.
Proeminente/preeminente
Proeminente: alto, saliente; preeminente: nobre, distinto.
Proposição/preposição
Proposição: ato de propor; sentença; afirmativa; preposição: ato de prepor,
preferência; palavra invariável que liga constituintes na frase.
Proscrever/prescrever
Proscrever: abolir, proibir; desterrar; prescrever: fixar limites, determinar;
perder efeito, anular-se.
Manual de Redação Policial-Militar 177

Provaremos que ela namorou “com” você um dia (errado)


Namorar é verbo transitivo direto; assim, o “com” não existe: “Provaremos
que ela namorou você um dia.” (certo).
Provir/prover/prever
Provir: originar-se; resultar; prover: providenciar, dotar, nomear para cargo;
prever: antever.
Quem se “adequa” à nova escala de serviço? (errado)
Não existem as formas “adequa”, “adeque”, etc. Existem apenas aquelas
em que o acento cai no “a”(a sílaba tônica é “qua” e não “de”) ou “o”
(“quo”): adequaram, adequou, adequasse, etc.
Questionar
Significa pôr em dúvida. Não o empregue como sinônimo de “perguntar”
ou “interrogar”.
Reincidir/rescindir
Reincidir: repetir, recair; rescindir: dissolver, invalidar, romper.
Reivindicar (certo)
“Reinvindicar” (errado).
Remição/remissão
Remição: ato de remir, resgate, quitação; remissão: ato de remitir, intervalo;
perdão, expiação.
Retificar/ratificar
Retificar: emendar, consertar; ratificar: confirmar.
Ritmo (certo)
“Ritimo” (errado).
Ruço/russo
Ruço: pardacento ou, em gíria, complicado; Russo: originário da Rússia.
Sansão/sanção
Sansão: personagem bíblico; tipo de guindaste; sanção: pena; confir-
mação, aprovação.
Se eu “ver” os infratores, eu os prenderei (errado)
“Se eu vir os infratores, eu os prenderei.” (certo). Dá-se a mesma
conjugação para os verbos “rever” (revir), “prever” (previr). Outras
178 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

conjugações: Se eu vier (de vir), se eu tiver (de ter), mantiver; se ele


puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos
(de dizer), predissermos.
Se não/senão
Havendo possibilidade de substituição pela expressão “caso não”, grafamos
se não (separado); não existindo essa possibilidade, grafamos senão (junto).
Seção/sessão/cessão
Seção (ou secção): parte, segmento, ato de seccionar, cortar;
departamento; sessão: programa, duração de reunião; cessão: ato de ceder.
Sei que ainda “reavejo” minha dignidade (errado)
O verbo reaver não comporta as conjugações “reavejo”, “reavê”, etc.,
mas sim “reavemos”, “reouve”, “reaverá”, “reouvesse”, etc.
Senso/censo
Senso: juízo; censo: contagem, recenseamento.
Serrar/cerrar
Serrar: cortar com serra; cerrar: fechar, unir.
Sevícias
Palavra usada no plural, significando maus-tratos físicos; necessariamente,
não é sinônimo de violências sexuais.
Sob/sobre
Sob: abaixo de, debaixo de; sobre: acima de; a respeito de.
Sobrescritar/subscritar
Sobrescritar: endereçar; destinar; subscritar: assinar, subscrever.
Sol/lua
Grafamos com inicial maiúscula (nome próprio) quando a referência é
ao corpo celeste; quando, porém, indica claridade ou calor, sol e lua são
substantivos comuns.
Soprano/contralto
Empregue ambas as palavras sempre no masculino; a referência é a um
registro de voz, e não ao sexo de quem canta.
Soropositivo
É a grafia imprecisa para o infectado pelo vírus da Aids. A grafia correta é
Manual de Redação Policial-Militar 179

seropositivo para o HIV, haja vista que soropositivo refere-se ao portador


de um vírus qualquer, podendo ser ou não o da Aids.
Sortir/surtir
Sortir: variar, combinar; surtir: causar, originar, produzir efeito.
Subentender/subintender/subtender
Subentender: supor; perceber o que não estava claramente exposto;
subintender: exercer função de subintendente, dirigir; subtender: estender
por baixo.
Suicida
Refere-se a quem se matou; não servindo para designar aquele que apenas
tentou o suicídio.
Surpresa
A expressão “surpresa inesperada” é redundante, porque todas as
surpresas o são; evite-a.
Tampouco/tão pouco
Tampouco: também não; tão pouco: muito pouco.
Tampar/tapar
Tampar: pôr tampa em; tapar: fechar, cobrir, tampar.
Tão só/tão somente (errado)
Grafe com hífen: tão-só, tão-somente (certo).
Telefone
Fala-se ao telefone, não no telefone.
Telefonemas
São dados, e não “feitos”.
Temeroso/temerário
Temeroso: medroso; temerário: audacioso.
Tempestivo/tempestuoso
Tempestivo: oportuno, conveniente; tempestuoso: que traz tempestade
ou é sujeito a ela.
Tensão/tenção
Tensão: estado de tenso; diferencial elétrico; tenção: intenção, plano; assunto.
180 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Tetraplégico/hemiplégico
Tetraplégico: quem não tem movimentos nos quatro membros; hemiplégico:
paralítico de um lado do corpo (o direito ou o esquerdo).
Tilintar/tiritar
Tilintar: soar; tiritar: tremer.
Toda/toda a
Toda cidade: quer dizer todas as cidades, qualquer cidade; toda a cidade: é
a cidade inteira.
Todos querem que a bomba “expluda” (errado)
Explodir só tem as pessoas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explode,
explodiam, etc. Assim sendo, jamais escreva ou fale “exploda” ou “expluda”,
etc. Repare que precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas.
Desta forma, não existem as formas “precavejo”, “precavém”,
“precavenho”, “precavenha”, etc.
Tosquiar (certo)
“Tosquear” (errado).
Traçar
Políticas e táticas são traçadas; alianças e pactos são feitos, costurados, armados.
Tráfego/tráfico
Tráfego: trânsito; tráfico: comércio ilícito.
Ultimato
Como a própria palavra indica, significa uma última ameaça, e não
qualquer ameaça.
Vaga-lume (certo)
“Vagalume” (errado).
Venha “por” a munição no revólver (errado)
O verbo pôr tem acento diferencial: “Venha pôr a munição no revólver.”
(certo). De igual forma: pôde (passado): pêlo e pêlos (cabelo, cabelos),
pára (verbo parar), péla (bola ou verbo pelar), pólo e pólos. Todavia,
deixaram de ter o sinal: “ele”, “toda”, “ovo”, “selo”, “almoço”, dentre outros.
Vestiário/vestuário
Vestiário: guarda-roupa; local em que as roupas são trocadas; vestuário: as
roupas que são vestidas, traje.
Manual de Redação Policial-Militar 181

Viajarei “consigo” (errado)


Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode
substituir as expressões “com você”, “com o senhor”, e similares: “Viajarei
com você.” (certo).
Vítima “fatal”
Não use essa expressão por ser inadequada: fatal é o acidente, não a vítima.
Vívido/vivido
Vívido: ardente, intenso; vivido: quem viveu muito; experiente.
Vultoso/vultuoso
Vultoso: elevado; vultuoso: atacado de vultuosidade (congestão na face).
Zumbido/zunido
Zumbido: ruído de insetos; zunido: som agudo do vento.
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Exercitando
I
X osseus
conhecimentos

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
O exercício
Manual de Redação Policial-Militar 185

Apresentação
Depois de tudo que foi visto no decorrer desses nove capítulos, exercite
os seus conhecimentos, adquiridos pela leitura deste Manual,
transcrevendo para uma folha de papel em branco o texto a seguir, que
é uma história fictícia – representando uma comunicação firmada por
um policial militar, informando ao seu comandante que um determinado
soldado havia-se envolvido em uma ocorrência policial –, realizando as
necessárias correções dos erros que já foram por nós estudados. Atenção:
não leve em consideração a forma; apenas se preocupe com o conteúdo.
Para conferir os seus acertos, consulte o Capítulo XII (v. “Conferindo
o exercício”).

O exercício
Ilustríssimo Sr. Comandante,
Comunico à V.S.a , que envolveu-se em uma ocorrência policial, na
área de competência desse quartel, o SD PM 1a CL BELTRANO DE
TAL, Mat. N. 30.100.000-0, lotado no B P Gda, por volta das 22:54Hs do
dia 02 de Fevereiro de 2000.
No que pertine ao fato, a referida praça narrou que saíra do serviço
de rádio-patrulha às 00:00H do dia supra-citado, a paisana, depois de
receber o seu contra-cheque, deslocando-se a casa de seus pais, sem,
contudo, descarguear o revólver, as respectivas munições e o colete
refletivo, na sala de meios do BTL, haja visto o adiantado da hora e posto
que não dispunha de automóvel.
Contou que acordou cedo e foi a festa do Rio Vermelho levar alguns
presentes a Yemanjá e assistir o cortejo. Lá chegando, entusiasmou-se
com os festejos e com o empate de seu time em dois a dois, justo o que
precisava para sagrar-se campeão, começando a beber, até embreagar-se
completamente, às custas de uns amigos seus, os quais o mesmo sequer
cumprimentou eles.
Já era noite, quando houveram vários tumultos em torno de algumas
barracas próximas ao L. da Mariquita. Numa delas, estava o SD em
comento que, segundo ele, precisou deflagrar sua arma (a mesma que
não foi descargueada no BTL) por cinco vezes, afim de tentar reprimir
186 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

cerca de oito homens truculentos que avançavam em sua direção e que


havia tentado extorquir o proprietário da barraca.
Não conseguindo atingir ninguém, face a estar embreagado, e
evitando uma possível luta corporal, o mesmo, não tendo outra alternativa,
adentrou ao banheiro público, através de um atalho, para tentar esconder-
se, caindo e quebrando o óculos. Por conta do mal cheiro, saiu e continuou
a fuga, até que deparou-se, há cerca de cem metros do banheiro, com
uma patrulha, a qual, incontinente, interviu e deteve ele.
Deste modo o SD BELTRANO DE TAL, foi conduzido a
Corregedoria Geral, conforme mensagem transmitida pelo rádio-
operador, aonde foi concedido ao mesmo o direito de fazer um
telefonema, porém o mesmo não conseguiu falar no telefone, em função
de está bêbado.
Foi, então, a grosso modo, questionado pelo oficial de serviço sobre
seu comportamento – principalmente o por que dele estar armado na
festa do Rio Vermelho – e cientificado de que transgredira alguns incisos
do RDPM, podendo até ser excluído, sem chances de ser reintegrado às
fileiras da Corporação, independente da instalação de um possível
processo, relativo a infringência ao Código Penal.
Durante a sua estadia no supra-mencionado Órgão Correicional,
foi o seu depoimento protocolado no Cartório da mesma, permanecendo
a indigitada praça sob a vigilância de um sentinela.
Apresento a V. S.ª os meus protestos de elevada estima e distinta
consideração.
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Brevecomentário
X àcanção
ForçaInvicta

A canção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
O comentário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
Manual de Redação Policial-Militar 189

A canção

Canção Força Invicta


Letra: Maj PM José L. Modesto
Música: Maj PM Eduardo F. Ramos

Canção da PM
Centenária milícia de bravos
Altaneira na fé e no ideal
Atravessaram da pátria as fronteiras
Tuas armas, tua glória, teu fanal
Força invicta da terra brasileira
Na Bahia irrompeu varonil
Desfraldando do império a bandeira
Das primeiras a surgir no Brasil.

Pelejastes no Brasil e no estrangeiro


Sob o império e na república também
Jamais derrotas sofreram tuas armas
Quer aqui ou em plagas além.

No sul do país, norte, ou centro


Memorados são os teus brasões
Teu heroísmo cantaram os pampas
Teu denodo proclamam os sertões.

Da pátria é também tua história


Criada fostes com a emancipação
O teu sangue regou o nosso solo
Ajudaste a edificar a nação.

Centenária milícia de bravos... etc.


(grifos nossos)
190 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

O comentário
Analisando-se os pronomes possessivos grifados (teu, tua, teus, tuas),
podemos observar que a canção Força Invicta, da PM baiana, foi escrita
na segunda pessoa do singular (tu) – embora já tenhamos observado, em
algumas solenidades, que a tropa insiste em empregar os possessivos seu,
sua, seus, suas: “Suas armas, sua glória, seu fanal” (errado). Cuidado, não
incorra também nesse erro195 .
Entretanto, ainda que escrita a canção na segunda pessoa do singular,
também notamos que houve uma mudança de tratamento do sujeito
falante em relação ao ouvinte, ou seja, em duas passagens, o verbo está
empregado na segunda pessoa do plural, quando deveria estar flexionado
na segunda pessoa do singular: “Pelejastes no Brasil e no estrangeiro”
(vós pelejastes) / “Criada fostes com a emancipação” (vós fostes). A sintaxe
lógica exigiria as construções: “Pelejaste no Brasil e no estrangeiro” (tu
pelejaste) / “Criada foste com a emancipação” (tu foste).
Veja que na construção: “Ajudaste a edificar a nação.”, o verbo grifado já
está flexionado dentro dos cânones sintáticos (tu ajudaste). Com efeito,
para que os verbos permanecessem flexionados na segunda pessoa do
plural, os pronomes possessivos deveriam com estes concordar, grafando-
se, então: vosso, vossa, vossos, vossas.
Estamos diante de um caso de estilística sintática, i. é, um recurso menos
ajustado aos rigores sintáticos do que à eufonia e à afetividade traduzidas
num excerto poético. Rocha Lima196 nos traz um belo exemplo, extraído
do poema O Fantasma e a Canção, de Castro Alves, onde há alternância
dos tratamentos tu e vós. Aquele, representando a fala piedosamente
acolhedora; este, indicando mudança de comportamento do falante,
negando-lhe o pedido. Deste modo, o poeta emprega tu, quando o
fantasma se apresenta, humildemente, a pedir abrigo:
“– Mendigo, podes passar!” (tu podes)
Todavia, emprega vós, quando o fantasma – falando de seu passado – lhe
revela que já fora rei:
“ – Meu cajado – já foi cetro”,
Meus trapos – manto real!
– Senhor, minha casa é pobre...
Ide bater a um solar!” (vós ide).
195
Sobre o assunto, cf., no cap. VI, “Tira-dúvidas de palavras e expressões castrenses”.
196
Cf. ROCHA LIMA, op. cit., p. 488-9.
Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

Conferindo
X
I oexercício

Como conferir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189


A resposta do exercício
Manual de Redação Policial-Militar 193

Como conferir
Basta verificar as expressões em negrito, as quais correspondem às
respostas do exercício apresentado no Capítulo IX (v. “Exercitando os
seus conhecimentos”).

A resposta do exercício
Senhor Comandante,
Comunico a V. S.a que se envolveu em uma ocorrência policial, na
área de competência deste quartel, o Sd 1a Cl PM BELTRANO DE TAL,
Mat. n.º 30.100.000-0, ora servindo no BPGd, por volta das 23 horas do
dia 2 de fevereiro de 2000.
Com relação ao fato, o referido praça narrou que saíra do serviço
de radiopatrulha à zero hora do dia supracitado, à paisana, depois de
receber o seu contracheque, deslocando-se à casa de seus pais, sem,
contudo, descarregar o revólver, a respectiva munição e o colete refletivo,
na sala de meios do btl., haja vista o adiantado da hora e porque não
dispunha de automóvel.
Contou que acordou cedo e foi à festa do Rio Vermelho levar alguns
presentes a Yemanjá e assistir ao cortejo. Lá chegando, entusiasmou-se
com os festejos e com o empate de seu time por dois a dois, justamente
o que precisava para sagrar-se campeão, começando a beber, até
embriagar-se completamente, à custa de uns amigos seus, os quais ele
nem sequer cumprimentou.
Já era noite, quando houve vários tumultos em torno de algumas
barracas próximas ao Largo da Mariquita. Numa delas, estava o soldado
em comento que, segundo ele, precisou disparar sua arma (a mesma
que não foi descarregada no btl.) por cinco vezes, a fim de tentar reprimir
a ação de cerca de dez homens que avançavam em sua direção e que
haviam tentado extorquir dinheiro do proprietário da barraca.
Não conseguindo atingir ninguém, em face de estar embriagado, e
evitando uma possível luta, o dito miliciano, não tendo alternativa,
adentrou-se no banheiro público, por meio de um atalho, para tentar
esconder-se, caindo e quebrando os óculos. Por causa do mau cheiro,
saiu e continuou a fuga, até que se deparou, a cerca de cem metros do
194 Gramática Aplicada à Redação Policial-Militar

banheiro, com uma patrulha, a qual, incontinenti, interveio e o deteve.


Deste modo, o Sd 1a Cl PM BELTRANO DE TAL foi conduzido à
Corregedoria, conforme mensagem transmitida pelo radioperador, onde
lhe foi concedido o direito de dar um telefonema, porém ele não
conseguiu falar ao telefone, em virtude de estar bêbado.
Foi, então, grosso modo, indagado pelo oficial de serviço sobre o
seu comportamento – principalmente o porquê de ele estar armado na
festa do Rio Vermelho – e cientificado de que agira de acordo com
alguns incisos do RDPM, podendo até ser excluído, sem chances de ser
reintegrado nas fileiras da Corporação, independentemente da
instauração de um possível processo, relativo à infração ao Código Penal.
Durante a sua estada na supramencionada Corregedoria, foi o seu
depoimento protocolizado no Cartório, permanecendo o indigitado
praça sob a vigilância de uma sentinela.

Atenciosamente,
Textos Oficiais

TextosOficiais
XII (comanotaçõesdoautor)

Lei n.º 5.765, de 18 de dezembro de 1971 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197


Lei n.º 2.623, de 21 de outubro de 1955 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
Formulário Ortográfico de 1943 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
Manual de Redação Policial-Militar 197

Lei n.º 5.765, de 18 de dezembro de 1971

Aprova alterações na ortografia da língua portuguesa e dá outras providências.

O Presidente da República

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:
Art. 1.º De conformidade com o parecer conjunto da Academia
Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, exarado a 22
de abril de 1971, segundo o disposto no artigo III da Convenção
Ortográfica celebrada a 29 de dezembro de 1943 entre o Brasil e Portugal,
fica abolido o trema nos hiatos átonos; o acento circunflexo diferencial
na letra e e na letra o da sílaba tônica das palavras homógrafas de outras
em que são abertas a letra e e a letra o, exceção feita da forma pôde,
que se acentuará por oposição a pode, o acento circunflexo e o grave
com que se assinala a sílaba subtônica dos vocábulos derivados em que
figura o sufixo mente ou sufixos iniciados por z.
Art. 2.º A Academia Brasileira de Letras promoverá, dentro do prazo
de 2 (dois) anos, a atualização do Vocabulário Comum, a organização do
Vocabulário Onomástico e a republicação do Pequeno Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa nos termos da presente Lei.
Art. 3.º Conceder-se-á às empresas editoras de livros e publicações
o prazo de 4 anos para o cumprimento do que dispõe esta Lei.
Art. 4.º Esta Lei entrará em vigor 30 dias após a sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 18 de dezembro de 1971; 150.º da Independência e 83.º da República.


Emílio G. Médici
Jarbas G. Passarinho
[Publicada no Diário Oficial da União de 20.12.1971.]
198 Textos Oficiais da Ortografia

Lei n.º 2.623, de 21 de outubro de 1955

Restabelece o sistema ortográfico do “Pequeno Vocabulário Ortográfico


da Língua Portuguesa” e revoga o Decreto-lei n.º 8.286, de 5 de
dezembro de 1945.

O Presidente da República:

Faço saber que o Congresso Nacional manteve e eu promulgo, nos


termos do Art. 70, § 3º, da Constituição Federal, a seguinte Lei:
Art. 1.º - É restabelecido o sistema ortográfico do “Pequeno
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, organizado em 1943
pela Academia Brasileira de Letras.
Art. 2.º - O sistema, referido no artigo anterior, vigorará até que
seja dado cumprimento ao Art. II da Convenção Ortográfica, assinada
em Lisboa, pelo Brasil e Portugal, em 29 de novembro de 1943.
Art. 3.º - É revogado o Decreto-lei n.º 8.286, de 5 de dezembro de 1945.
Art. 4.º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, 21 de outubro de 1955; 134.º da Independência


e 67.º da República.
João Café Filho
[Publicada no Diário Oficial da União de 22.10.1955.]
Manual de Redação Policial-Militar 199

Formulário Ortográfico de 1943


INSTRUÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DO VOCABULÁRIO
ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.197
[Texto já adaptado à Lei 5.765, de 18.12.1971. – CPL]

Aprovadas unanimemente pela Academia Brasileira de Letras, na sessão


de 12 de agosto de 1943.

O VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA terá


por base o VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA
PORTUGUESA da Academia das Ciências de Lisboa, edição de 1940,
consoante a sugestão do Sr. Ministro da Educação e Saúde, aprovada
unanimemente pela Academia Brasileira de Letras, em 29 de janeiro de
1942. Para a sua organização se obedecerá rigorosamente aos itens seguintes:
1.º Inclusão dos brasileirismos consagrados pelo uso.
2.º Inclusão de estrangeirismos e neologismos de uso corrente no Brasil
e necessários à língua literária.
3.º Substituição de certas formas usadas em Portugal pelas
correspondentes formas usadas no Brasil, consoante a pronúncia e a
morfologia consagradas.
4.º Fixação da grafia de vocábulos cuja etimologia ainda não está perfeitamente
demonstrada, consignado-se em primeiro lugar a de uso mais generalizado.
5.º Fixação das grafias de vocábulos sincréticos e dos que têm uma ou
mais variantes, tendo-se em vista o étimo e a história da língua, e registro
de tais vocábulos um a par do outro, de maneira que figure em primeira
plana, como preferível, o de uso mais generalizado.
6.º Evitar duplicidade gráfica ou prosódica de qualquer natureza, dando-
se a cada vocábulo uma única forma, salvo se nele há consoante que
facultativamente se profira, ou se há mais de uma pronúncia legitimada
pelo uso ou pela etimologia, casos em que se registrarão as duas formas,
uma em seguida à outra, colocando-se em primeiro lugar a de uso mais
generalizado.
197
O emprego de ponto nos finais de títulos não é usual atualmente, embora utilizado no Vocabulário oficial.
200 Textos Oficiais da Ortografia

7.º Registro de um significado ou da definição de todos os vocábulos


homófonos não homógrafos, bem como dos homógrafos heterofônicos,
– mas não nos homógrafos perfeitos, – fazendo-se remissão de um
para outro.
8.º Registro, entre parênteses, da vogal ou sílaba tônica de todo e qualquer
vocábulo cuja pronúncia é duvidosa, ou cuja grafia não mostra claramente
a sua ortoépia; não sendo, porém, indicada a sílaba tônica dos infinitos
dos verbos, salvo se forem homógrafos heterofônicos.
9.º Registro, entre parênteses, do timbre da vogal tônica de palavras sem
acento diacrítico, bem como da vogal da sílaba pretônica ou postônica,
sempre que se faça mister, em especial quando há metafonia, tanto no
plural dos nomes e adjetivos quanto em formas verbais.
Não será indicado, porém, o timbre aberto das vogais e e o nem o
timbre fechado das dos vocábulos compostos ligados por hífen.
10.º Fixação dos femininos e plurais irregulares, que serão inscritos em
seguida ao masculino singular.
11.º Registro de formas irregulares dos verbos mais usados em ear e iar,
especialmente das do presente do indicativo, no todo ou em parte.
12.º Todos os vocábulos devem ser escritos e acentuados graficamente
de acordo com a ortoépia usual brasileira e sempre seguidos da indicação
da categoria gramatical a que pertencem.
Para acentuar graficamente as palavras de origem grega, ou indicar-lhes a
prosódia entre parênteses, cumpre atender ao uso brasileiro: registra-se
a pronúncia consagrada, embora esteja em desacordo com a primordial;
mas, se ela é de uso apenas em certa arte ou ciência, e ainda esteja em
tempo de se corrigir, convém seja corrigida, inscrevendo-se a forma
etimológica em seguida à usual.
O Vocabulário conterá:
a. o formulário ortográfico, que são estas instruções;
b. o vocabulário comum;
c. registro de abreviaturas.
O Vocabulário Onomástico será publicado separadamente, depois de
aprovado por decreto especial.
Manual de Redação Policial-Militar 201

Alfabeto.
1.O alfabeto português consta fundamentalmente de vinte e três letras:
a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, x, z.
2. Além dessas letras, há três que só se podem usar em casos especiais: k, w, y.

K,W,Y.
3. O k é substituído por qu antes de e, i, e por c antes de outra qualquer
letra: breque, caqui, caulim, faquir, níquel, etc.
4. Emprega-se em abreviaturas e símbolos, bem como em palavras
estrangeiras de uso internacional: K. = potássio; Kr. = criptônio; kg =
quilograma; km = quilômetro; kw = quilowatt; kwh = quilowatt-hora; etc.
5. Os derivados portugueses de nomes próprios estrangeiros devem
escrever-se de acordo com as formas primitivas: frankliniano, kantismo,
kepleriano, perkinismo, etc.
6. O w substitui-se em palavras portuguesas ou aportuguesadas, por u ou
v, conforme o seu valor fonético: sanduíche, talvegue, visigodo, etc.
7. Como símbolo e abreviatura, usa-se em kw = quilowatt; W. = oeste ou
tungstênio; w = watt; ws = watt-segundo, etc.
8. Nos derivados vernáculos de nomes próprios estrangeiros, cumpre
adotar as formas que estão em harmonia com a primitiva: darwinismo,
wagneriano, zwinglianista, etc.
9. O y, que é substituído pelo i, ainda se emprega em abreviaturas e
como símbolo de alguns termos técnicos e científicos: Y = ítrio; yd =
jarda, etc.
10. Nos derivados de nomes próprios estrangeiros devem usar-se as
formas que se acham de conformidade com a primitiva; byroniano,
maynardina, taylorista, etc.

H.
11. Esta letra não é propriamente consoante, mas um símbolo que, em
razão da etimologia e da tradição escrita do nosso idioma, se conserva
no princípio de várias palavras e no fim de algumas interjeições: haver,
hélice, hidrogênio, hóstia, humildade; hã!, hem?, puh!; etc.
202 Textos Oficiais da Ortografia

12. No interior do vocábulo, só se emprega em dois casos: quando faz


parte do ch, do lh e do nh, que representam fonemas palatais, e nos
compostos em que o segundo elemento, com h inicial etimológico, se
une ao primeiro por meio de hífen: chave, malho, rebanho; anti-higiênico,
contra-haste, pré-história, sobre-humano; etc.
Observação – Nos compostos sem hífen, elimina-se o h do segundo elemento: anarmônico,
biebdomadário, coonestar, desarmonia, exausto, inabilitar, lobisomem, reaver, etc.

13. No futuro do indicativo e no condicional, não se usa o h no último


elemento, quando há pronome intercalado: amá-lo-ei, dir-se-ia, etc.
14. Quando a etimologia o não justifica, não se emprega: arpejo
(substantivo), ombro, ontem, etc. E mesmo que o justifique, não se escreve
no fim de substantivos nem no começo de alguns vocábulos que o uso
consagrou sem este símbolo: andorinha, erva, felá, inverno, etc.
15. Não se escreve h depois de c (salvo o disposto em o n.º 12) nem
depois de p, r e t: o ph é substituído por f, o ch (gutural) por qu antes de
e ou i e por c antes de outra qualquer letra: corografia, cristão, querubim,
química; farmácia, fósforo; ruibarbo; teatro, turíbulo; etc.

Consoantes mudas.
16. Não se escrevem as consoantes que se não proferem: asma, assinatura,
ciência, diretor, ginásio, inibir, inovação, ofício, ótimo, salmo, e não asthma,
assignatura, sciencia, director gymnasio, inhibir, innovação officio, optimo, psalmo.
Observação – Escreve-se, porém, o s em palavras como descer, florescer, nascer, etc., e o x em
vocábulos como exceto, excerto, etc., apesar de nem sempre se pronunciarem essas consoantes.

17. Em sendo mudo o p no grupo mpc ou mpt, escreve-se nc ou nt:


assuncionista, assunto, presunção, prontificar, etc.
18. Devem-se registrar os vocábulos cujas consoantes facultativamente
se pronunciam, pondo-se em primeiro lugar o de uso mais generalizado,
e em seguida o outro. Assim, serão consignados, além de outros, estes:
aspecto e aspeto, característico e caraterístico, circunspecto e circunspeto,
conectivo e conetivo, contacto e contato, corrupção e corrução, corruptela e
corrutela, dactilografia e datilografia, espectro e espetro, excepcional e
excecional, expectativa e expetativa, infecção e infeção, optimismo e otimismo,
respectivo e respetivo, secção e seção, sinóptico e sinótico, sucção e sução,
sumptuoso e suntuoso, tacto e tato, tecto e teto.
Manual de Redação Policial-Militar 203

SC.
19. Elimina-se o s do grupo inicial sc: celerado, cena, cenografia, ciência,
cientista, cindir, cintilar, ciografia, cisão, etc.
20. Os compostos dessa classe de vocábulos, quando formados em nossa
língua, são escritos sem o s antes do c: anticientífico, contracenar, encenação,
etc.; mas, quando vieram já formados para o vernáculo, conservam o s:
consciência, cônscio, imprescindível, insciente, inscio, multisciente, néscio,
presciência, prescindir, proscênio, rescindir, rescisão, etc.

Letras dobradas.
21. Escreve-se rr e ss quando, entre vogais, representam os sons simples
do r e s iniciais; e cc ou cç quando o primeiro soa distintamente do
segundo: carro, farra, massa, passo; convicção, occipital; etc.
22. Duplicam-se o r e o s todas as vezes que há um elemento de
composição terminado em vogal se segue, sem interposição do hífen,
palavra começada por uma daquelas letras: albirrosado, arritmia, altíssono,
derrogar, prerrogativa, pressentir, ressentimento, sacrossanto, etc.

Vogais nasais.
23. As vogais nasais são representadas no fim dos vocábulos por ã(ãs),
im(ins), om(nos), um(uns): afã, cãs, flautim, folhetins, semitom, tons, tutum,
zuzuns, etc.
24. O ã pode figurar a sílaba tônica, pretônica ou átona: ãatá, cristãmente,
maçã, órfã, romãzeira, etc.
25. Quando aquelas vogais são iniciais ou mediais, a nasalidade é expressa
por m antes de b e p, e por n antes de outra qualquer consoante:
ambos, campos; contudo, enfim, enquanto, homenzinho, nuvenzinha,
vintenzinho; etc.

Ditongos.
26. Os ditongos orais escrevem-se com a subjuntiva i ou u: aipo, cai,
cauto, degrau, dei, fazeis, idéia, mausoléu, neurose, retorquiu, rói, sois, sou,
souto, uivo, usufrui, etc.
204 Textos Oficiais da Ortografia

Observação. – Escrevem-se com i, e não com e, a forma verbal fui, a 2.ª e 3.ª pessoa do singular
do presente do indicativo e a 2.ª do singular do imperativo dos verbos terminados em uir: aflui,
fruis, retribuis, etc.198

27. O ditongo ou alterna, em numerosos vocábulos, com oi: balouçar e


baloiçar, calouro e caloiro, dourar e doirar, etc. Cumpre registrar em primeiro
lugar a forma que mais se usa, e em seguida a variante.
28. Escrevem-se assim os ditongos nasais: ãe, ãi, ão, am, em, en(s), õe, ui
~
(proferido ui): mãe, pães, cãibra, acórdão, irmão, leãozinho, amam, bem,
bens, devem, põe, repões, muito, etc.
Observação 1.ª - Dispensa-se o til do ditongo nasal ui em mui e muito.
Observação 2.ª - Com o ditongo nasal ão se escrevem os monossílabos, tônicos ou não, e os
polissílabos oxítonos: cão, dão grão, não quão, são tão; alcorão, capitão, cristão, então, irmão, senão,
sentirão, servirão, viverão, etc.

Observação 3.ª - Também se escrevem com o ditongo ão os substantivos e adjetivos paroxítonos,


acentuando-se, porém, a sílaba tônica: órfão, órgão, sótão, etc.
Observação 4.ª - Nas formas verbais anoxítonas se escreve am: amaram, deveram, partiram, etc.

Observação 5.ª - Com o ditongo nasal ãe se escrevem os vocábulos oxítonos e os seus derivados;
e os anoxítonos primitivos grafam-se com o ditongo ãi: capitães, mães, pãezinhos; cãibo, zãibo;
etc.

Observação 6.ª - O ditongo nasal ei(s) escreve-se em ou en(s) assim nos monossílabos como
nos polissílabos de qualquer categoria gramatical: bem, cem, convém, convéns, mantém, manténs,
nem, sem, virgem, virgens, voragem, voragens, etc.

29. Os encontros vocálicos átonos e finais que podem ser pronunciados


como ditongos crescentes escrevem-se da seguinte forma: ea(áurea),
eo(cetáceo), ia(colônia) ie(espécie), io(exímio), oa(nódoa), ua(contínua),
eu(tênue), uo(tríduo), etc.

Hiatos.
30. A 1.ª, 2.ª e 3.ª pessoa do singular do presente do conjuntivo e a 3.ª do
singular do imperativo dos verbos em oar escrevem-se com oe, e não oi:
abençoe, amaldições, perdoe, etc.

198
Sobre o assunto, cf., também, o Capítulo VIII, “Palavras que confundem”, na frase: “O policial militar
possue muita coragem”.
Manual de Redação Policial-Militar 205

31. As três pessoas do singular do presente do conjuntivo199 e a 3.ª do


singular do imperativo dos verbos em uar escrevem-se com ue, e não ui:
cultue, habitues, preceitue, etc.200

Parônimos e vocábulos de grafia dupla.


32. Deve-se fazer a mais rigorosa distinção entre os vocábulos parônimos
e os de grafia dupla que se escrevem com e ou com i, com o ou com u,
com c ou q, com ch ou x, com g ou j, com s, ss ou c, ç, com s ou x, com s
ou z, e com os diversos valores do x.
33. Deve-se registrar a grafia que seja mais conforme à etimologia do
vocábulo e à sua história, mas que esteja em harmonia com a prosódia
geral dos brasileiros, nem sempre idêntica à lusitana. E quando há dois
vocábulos diferentes, v.g., um escrito com e e outro escrito com i, é
necessário que ambos sejam acompanhados da sua definição ou do seu
significado mais vulgar, salvo se forem de categorias gramaticais diferentes,
porque, neste caso, serão acompanhados da indicação dessas categorias.
Ex.: censório, adj. Cf. sensório, adj. e s. m.
Assim, pois, devem ser inscritos vocábulos como: antecipar, criador, criança,
criar, diminuir, discricionário, dividir, filintiano, filipino, idade, igreja, igual, imiscuir-
se, invés, militar, ministro, pior, quase, quepe, tigela, tijolo, vizinho, etc.
34. Palavras como cardeal e cardial, desfear e desfiar, descrição e discrição,
destino e distinto, meado e miado, recrear e recriar, se e si serão consignadas
com o necessário esclarecimento e a devida remissão. Por exemplo:
descrição201 , s. f.: ação de descrever. Cf. discrição/Discrição, s. f.: qualidade
do que é discreto. Cf. descrição.
35. Os verbos mais usados em ear e iar serão seguidos das formas do
presente do indicativo, no todo ou em parte.
36. De acordo com o critério exposto, far-se-á rigorosa distinção entre
os vocábulos que se escrevem:
a. com o ou com u: frágua, lugar, mágoa, manuelino, polir, tribo, urdir,
veio (v. ou subst.), etc.

199
Nos termos da NGB, significa subjuntivo.
200
O mesmo constante da nota n.º 3.
201
Cf. no Capítulo VIII: “Expressões que confundem”, no tópico referente à descrição/discrição.
206 Textos Oficiais da Ortografia

b. com c ou q: quatorze (seguido de catorze), cinqüenta, quociente


(seguido de cociente), etc.
c. com ch ou x: anexim, bucha, cambaxirra, charque, chimarrão, coxia,
estrebuchar, faxina, flecha, tachar (notar: censurar), taxar (determinar
a taxa; regular), xícara, etc.
d. com g ou j: estrangeiro, jenipapo, genitivo, gíria, jeira, jeito, jibóia, jirau,
laranjeira, lojista, majestade, viagem (subst.), viajem (do v. viajar), etc.
e. com s, ss ou c, ç: ânsia, anticéptico, boça (cabo de navio), bossa
(protuberância; aptidão), bolçar (vomitar), bolsar (fazer bolsos), caçula,
censual (relativo a censo), sensual (lascivo), etc.
Observação – Não se emprega ç em início de palavra.

f. com s ou x; espectador202 (testemunha), expectador (pessoa que


tem esperança), experto (perito; experimentado), esperto (ativo;
acordado), esplêndido, esplendor, extremoso, flux (na locução a flux),
justafluvial, justapor, misto, etc.
g. com s ou z: alazão, alcaçuz (planta), alisar (tornar liso), alizar (s. m.),
anestesiar, autorizar, bazar, blusa, brasileiro, buzina, coliseu, comezinho,
cortês, dissensão, empresa, esfuziar, esvaziamento, frenesi (seguido de
frenesim), garcês, guizo (s. m.), improvisar, irisar (dar as cores do íris a),
irizar (atacar [o iriz] o cafezeiro), lambuzar, luzidio, mazorca, nacisar-
se, obséquio, pezunho, prioresa, rizotônico, sacerdotisa, sazão, tapiz,
trânsito, xadrez, etc.
Observação 1.ª - É sonoro o s de obséquio e seus derivados, bem como o do prefixo trans, em
se lhe seguindo vogal, pelo que se deverá indicar a sua pronúncia entre parênteses: quando,
porém, a esse prefixo se segue palavra iniciada por s, só se escreve um, que se profere como
se fora dobrado: obsequiar (ze), transoceânico (zo); transecular (se), transubstanciação (su); etc.

Observação 2.ª - No final de sílaba átona, seja no interior, seja no fim do vocábulo, emprega-se
o s em lugar do z; asteca, endes, mesquita, etc.

37. O x continua a escrever-se com os seus cinco valores, bem como


nos casos em que pode ser mudo, qual em exceto, excerto, etc. Tem, pois,
o som de:
1.º - ch, no princípio e no interior de muitas palavras: xairel, xerife, xícara,
ameixa, enxoval, peixe, etc.
202
Cf., também, no mesmo capítulo anteriormente referido: espectador/expectador e esperto/experto.
Manual de Redação Policial-Militar 207

Observação – Quando tem esse valor, não será indicada a sua pronúncia entre parênteses.

2.º cs, no meio e no fim de várias palavras: anexo, complexidade, convexo,


bórax, látex, sílex, etc.
3.º z, quando ocorre no prefixo exo, ou ex seguido de vogal: exame, êxito,
êxodo, exosmose, exotérmico, etc.
4.º ss: aproximar, auxiliar, máximo, proximidade, sintaxe, etc.
5.º s final de sílaba: contexto, fênix, pretextar, sexto, textual, etc.
38. No final de sílabas iniciais e interiores se deve empregar o s em vez
do x, quando não o precede a vogal e: justafluvial, justaposição, misto,
sistino, etc.

Nomes próprios.
39. Os nomes próprios personativos, locativos e de qualquer natureza,
sendo portugueses ou aportuguesados, estão sujeitos às mesmas regras
estabelecidas para os nomes comuns.
40. Para salvaguardar direitos individuais, quem o quiser manterá em sua
assinatura a forma consuetudinária. Poderá também ser mantida a grafia
original de quaisquer firmas, sociedades, títulos e marcas que se achem
inscritos em registro público.
41. Os topônimos de origem estrangeira devem ser usados com as formas
vernáculas de uso vulgar; e quando não têm formas vernáculas,
transcrevem-se consoante as normas estatuídas pela Conferência de
Geografia de 1926203 que não contrariarem os princípios estabelecidos
nestas Instruções.
42. Os topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração
alguma na sua grafia, quando já esteja consagrada pelo consenso diuturno
dos brasileiros. Sirva de exemplo o topônimo “Bahia”, que conservará
esta forma quando se aplicar em referência ao Estado e à cidade que
têm esse nome.
Observação – Os compostos e derivados desses topônimos obedecerão às normas gerais do
vocábulo comum.204

203
Essa Conferência já foi citada no Capítulo V, “Regras para a correta composição das abreviaturas e siglas”.
204
Como exemplo, temos o vocábulo côco-da-baía (sem o h).
208 Textos Oficiais da Ortografia

Acentuação gráfica.
43. A fim de que a acentuação gráfica satisfaça às necessidades do ensino,
– precípuo escopo da simplificação e regularização da ortografia nacional
–, e permita que todas as palavras sejam lidas corretamente, estejam ou
não marcadas por sinal diacrítico, no Vocabulário será indicada, entre
parênteses, a sílaba ou a vogal tônica e o timbre desta em todos os
vocábulos cuja pronúncia possa dar azo a dúvidas.
A acentuação gráfica obedecerá às seguintes regras:
1.ª Assinalam-se com o acento agudo os vocábulos oxítonos que
terminam em a, e, o abertos, e com o acento circunflexo os que acabam
em e, o fechados, seguidos, ou não, de s: cajá, hás, jacaré, pés, seridó, sós;
dendê, lês, pôs, trisavô; etc.
Observação – Nesta regra se incluem as formas verbais em que, depois de a, e, o, se assimilaram
o r, o s e o z ao l do pronome lo, la, las, caindo depois o primeiro l: dá-lo, contá-la, fálo-á, fê-los,
movê-las-ia, pô-los, qué-los, sabê-lo-emos, trá-lo-ás, etc.

2.ª Todas as palavras proparoxítonas devem ser acentuadas graficamente205 :


recebem o acento agudo as que têm na antepenúltima sílaba as vogais a,
e, o abertas ou i, u; e levam acento circunflexo as em que figuram na
sílaba predominante as vogais e, o fechadas ou a, e, o seguidas de m ou n:
árabe, exército, gótico, límpido, louvaríamos, público, úmbrico; devêssemos,
fôlego, lâmina, lâmpada, lêmures, pêndula, quilômetro, recôndito; etc.
Observação – Incluem-se neste preceito os vocábulos terminados em encontros vocálicos que
podem ser pronunciados como ditongos crescentes: área, espontâneo, ignorância, imundície, lírio,
mágoa, régua, tênue, vácuo, etc.

3.ª Os vocábulos paroxítonos finalizados em i ou u, seguidos, ou não de


s, marcam-se com acento agudo quando na sílaba tônica figuram a, e, o
abertos, i ou u; e com acento circunflexo quando nela figuram e, o fechados
ou a, e, o seguidos de m ou n: beribéri, bônus, dândi, íris, júri, lápis, miosótis,
tênis, etc.
Observação 1.ª - Os paroxítonos terminados em um, uns têm acento agudo na sílaba tônica:
álbum, álbuns, etc.
Observação 2.ª - Não se acentuam os prefixos paroxítonos acabados em i: semi-histórico, etc.

205
Vale dizer que performance não se acentua, embora seja uma palavra proparoxítona, por ser
um estrangeirismo.
Manual de Redação Policial-Militar 209

4.ª Põe-se o acento agudo no i e no u tônicos que não formam ditongo


com a vogal anterior: aí, balaústre, cafeína, caís, contraí-la, distribuí-lo, egoísta,
faísca, heroína, juízo, país, peúga, saía, saúde, timboúva, viúvo, etc.
Observação 1.ª - Não se coloca o acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que
com eles não forma ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z que não iniciam sílabas e, ainda, nh:
adail, contribuinte, demiurgo, juiz, paul, retribuirdes, ruim, tainha, ventoinha, etc.
Observação 2.ª - Também não se assinala com acento agudo a base dos ditongos tônicos iu e ui,
quando precedidos de vogal: atraiu, contribuiu, pauis, etc.206
5.ª Assinala-se com o acento agudo o u tônico precedido de g ou q e
seguido de e ou i: argúi, argúis, averigúe, obliqúe, obliqúes, etc.
6.ª Põe-se o acento agudo na base dos ditongos abertos éi, éu, ói, quando
tônicos: assembléia, bacharéis, chapéu, jibóia, lóio, paranóico, rouxinóis, etc.
7.ª Marca-se com o acento agudo o e da terminação em ou ens das
palavras oxítonas de mais de uma sílaba: alguém, armazém; convém, convéns,
detém-lo, mantém-na, parabéns, retém-no, também, etc.
Observação 1.ª - Não se acentuam graficamente os vocábulos paroxítonos finalizados por ens:
imagens, jovens, nuvens, etc.

Observação 2.ª - A 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos ter, vir e seus
compostos recebe acento circunflexo no e da sílaba tônica: (eles) contêm, (elas) convêm, (eles)
têm, (elas) vêm, etc.207
Observação 3.ª - Conserva-se, por clareza gráfica, o acento circunflexo do singular crê, dê, lê, vê
no plural crêem, dêem, lêem, vêem e nos compostos desses verbos, como descrêem, desdêem,
relêem, revêem, etc.

8.ª Sobrepõe-se o acento agudo ao a, e, o abertos e ao i ou u da penúltima


sílaba dos vocábulos paroxítonos que acabam em l, n, r e x; e o acento
circunflexo ao e, o fechados e ao a, e, o seguidos de m ou n em situação
idêntica: açúcar, afável, alúmen, córtex, éter, hífen; aljôfar, âmbar, cânon, êxul,
fênix, vômer, etc.
Observação – Não se acentuam graficamente os prefixos paroxítonos terminados em r: inter-
helênico, super-homem, etc.
9.ª Marca-se com o competente acento, agudo ou circunflexo, a vogal da
sílaba tônica dos vocábulos paroxítonos acabados em ditongo oral: ágeis,

206
Poderíamos dizer que haveria uma terceira observação para o outro caso em que não se acentuam o i e
o u tônicos precedidos de vogal. Seria, notadamente, nas seqüências ii e uu, como, p. ex., vadiice.
207
Cf., no cap. VIII, “Palavras que confundem”, referente à frase “Eles tem várias fardas guardadas”.
210 Textos Oficiais da Ortografia

devêreis, escrevêsseis, faríeis, férteis, fósseis, fôsseis, imóveis, jóquei, pênseis,


pusésseis, quisésseis, tínheis, túneis, úteis, variáveis, etc.
10.ª Recebe acento circunflexo o penúltimo o fechado do hiato oo, seguido,
ou não, de s, nas palavras paroxítonas: abençôo, enjôos, perdôo, vôos, etc.
11.ª Usa-se o til para indicar a nasalização e vale como acento tônico
se outro acento não figura no vocábulo: afã, capitães, coração, devoções,
põem, etc.208
Observação – Se é átona a sílaba onde figura o til, acentua-se graficamente a predominante:
acórdão, bênção, órfã, etc.

12.ª Emprega-se o trema no u que se pronuncia depois de g ou q e


seguido de e ou i: agüentar, argüição, eloqüente, tranqüilo, etc.
Observação 1.ª - Não se põe acento agudo na sílaba tônica das formas verbais terminadas em
qüe, qüem: apropinqüe, delinqüem, etc.

Observação 2.ª - É lícito o emprego do trema quando se quer indicar que um encontro de
vogais não forma ditongo, mas hiato: saudade, vaidade (com quatro sílabas), etc.

13.ª Mantém-se o til do primeiro elemento nos advérbios em mente e


nos derivados em que figuram sufixos precedidos do infixo209 z (zada,
zal, zeiro, zinho, zista, zito, zona, zorro, zudo, etc.): chãmente, cristãzinha,
leõezinhos, mãozada, romãzeira, etc.
14.ª Emprega-se o acento circunflexo como diferencial ou distintivo no o
fechado da palavra pôde (perf. ind.), distinta de pode (pres. ind.).
Observação – Emprega-se também o acento circunflexo para distinguir de certos homógrafos
inacentuados as palavras que têm e ou o fechados: pêlo (s. m.) e pelo (per e lo); pêra (s. f.) e
pera (prep. ant.); pôlo, pôlos (s. m.) e polo, polos (por e lo ou los); pôr (v.) e por (prep.); porquê
(quando é subst. ou quando vem no fim da frase)210 e porque (conj.); quê (s. m., interj., ou pron.
no fim da frase) e que (adv., conj., pron. ou part. expletiva).

15.ª Recebem acento agudo os seguintes vocábulos, que estão em


homografia com outros: ás (s. m.), cf. às (contr. da prep. a com o art. ou

208
O til só acumula a função de acento tônico quando em sílaba final de palavra: crista, cristã. Em exemplos
como mãozinha, percebemos que o til não funciona como acento tônico.
209
Consoante de ligação.
210
Essa regra é injustificável, em virtude de sabermos que em fim de frase tanto pode ocorrer porquê como
por quê, conforme estudamos no Capítulo VI, na parte respeitante ao emprego do porquê (v.
“Porque você não foi promovido?”).
Manual de Redação Policial-Militar 211

pron. as); pára (v.), cf. para (prep.); péla, pélas (s. f. e v.), cf. pela, pelas (agl.
da prep. per com o art. ou pron. la, las); pélo (v.), cf. pelo (agl. da prep. per
com o art. ou pron. lo); péra (el. do s. f. comp. péra-fita), cf. pera (prep.
ant.); pólo, pólos (s. m.), cf. polo, polos (agl. da prep. por com o art. ou pron.
lo, los); etc.
Observação – Não se acentua graficamente a terminação amos do pretérito perfeito do indicativo
dos verbos da 1.ª conjugação.

16.ª O acento grave assinala as contrações da preposição a com o artigo


a e com os adjetivos ou pronomes demonstrativos a, aquele, aqueloutro,
aquilo, os quais se escreverão assim: à, às, àquele, àquela, àqueles, àquelas,
àquilo, àqueloutro, àqueloutra, àqueloutros, àqueloutras.

Apóstrofo:
44. Limita-se o emprego do apóstrofo aos seguintes casos:
1.º Indicar a supressão de uma letra ou letras no verso, por exigência da
metrificação: c’roa, esp’rança, of’recer, ’star, etc.
2.º Reproduzir certas pronúncias populares: ’tá, ’teve, etc.
3.º Indicar a supressão da vogal, já consagrada pelo uso, em certas palavras
compostas ligadas pela preposição de: copo-d’água (planta; lanche), galinha-
d’água, mãe-d’água, olho-d’água (árvore; ébrio), pau-d’alho, pau-d’arco, etc.
Observação – Restringindo-se o emprego do apóstrofo a esses casos, cumpre não se use dele
em nenhuma outra hipótese. Assim, não será empregado:

a. nas contrações das preposições de e em com artigos, adjetivos ou


pronomes demonstrativos, indefinidos, pessoais e com alguns advérbios:
del (em aqui-del-rei); dum, duma (a par de um, de uma), num, numa (a par de
em um, em uma); dalgum, dalguma (a par de algum, de alguma); nalgum,
nalguma (a par de em algum, em alguma); dalguém, nalguém (a par de de
alguém, em alguém); doutrem, noutrem (a par de de outrem, em outrem);
dalgo, dalgures (a par de de algo, de algures); daquém, dalém, dacolá (a par de
de aquém, de além, de acolá); doutro, noutro (a par de de outro, em outro);
dele, dela, nele, nela; deste, desta, neste, nesta, daquele, daquela, naquele, naquela;
disto, nisto, daquilo, naquilo; daqui, daí, dacolá, donde, dantes, dentre; doutrora
(a par de de outrora), noutrora; doravante (a par de de ora avante); etc.
212 Textos Oficiais da Ortografia

b. nas combinações dos pronomes pessoais: mo, ma, mos, mas, to, ta, tos, tas,
lho, lha, lhos, lhas, no-lo, no-la, no-lo, no-los, no-las, vo-lo, vo-la, vo-los, vo-las.
c. nas expressões vocabulares que se tornaram unidades fonéticas e
semânticas: dessarte, destarte, homessa, tarrenego, tesconjuro, vivalma, etc.
d. nas expressões de uso constante e geral na linguagem vulgar: co, coa,
ca, cos, cas, coas ( = com o, com a, com os, com as), plo, pla, plos, plas ( =
pelo, pela, pelos, pelas), pra ( = para), pro, pra, pros, pras ( = para o, para
a, para os, para as), etc.

Hífen.
45. Só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que
se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras
compostas que mantêm a sua independência fonética, conservando cada
um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita
unidade de sentido.
46. Dentro desse princípio, deve-se empregar o hífen nos seguintes casos:
1.º Nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação
própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação,
mas o conjunto constitui uma unidade semântica: água-marinha, arco-íris,
galinha-d’água, couve-flor, guarda-pó, pé-de-meia (mealheirio, pecúlio), pára-
choque, porta-chapéus, etc.
Observação 1.ª - Incluem-se nesta norma os compostos em que figuram elementos
foneticamente reduzidos: bel-prazer, és-sueste, mal-pecado, su-sueste, etc.

Observação 2.ª - O antigo artigo el, sem embargo de haver perdido o seu primitivo sentido e
não ter vida à parte na língua, une-se por hífen ao substantivo rei, por ter este elemento
evidência semântica.

Observação 3.ª - Quando se perde a noção do composto, quase sempre em razão de um dos
elementos não ter vida própria na língua, não se escreve com hífen, mas aglutinadamente:
abrolhos, bancarrota, fidalgo, vinagre, etc.
Observação 4.ª - Como as locuções não têm unidade de sentido, os seus elementos não
devem ser unidos por hífen, seja qual for a categoria gramatical a que elas pertençam. Assim,
escreve-se, v. g., vós outros (locução pronominal), a desoras (locução adverbial), a fim de (locução
prepositiva), contanto que (locução conjuntiva), porque essas combinações vocabulares não
são verdadeiros compostos, não formam perfeitas unidades semânticas. Quando, porém, as
locuções se tornam unidades fonéticas, devem ser escritas numa só palavra: acerca (adv.),
afinal, apesar, debaixo, decerto, defronte, depressa, devagar, deveras, resvés, etc.
Manual de Redação Policial-Militar 213

Observação 5.ª - As formas verbais com pronomes enclíticos ou mesoclíticos e os vocábulos


compostos cujos elementos são ligados por hífen conservam seus acentos gráficos: amá-lo-á,
amáreis-me, amásseis-vos, devê-lo-ia, fá-la-emos, pô-las-íamos, possuí-las, provêm-lhes, retêm-
nas; água-de-colônia, pão-de-ló, pára-sóis, pesa-papéis; etc.

2.º Nas formas verbais com os pronomes enclíticos ou mesoclíticos: ama-


lo (amas e lo), amá-lo (amar e lo), dê-se-lhe, fá-lo-á, oferecê-la-ia, repô-lo-
eis, serenou-se-te, traz-me, vendou-te, etc.
Observação – Também se unem por hífen as enclíticas lo, la, los, las aos pronomes nos, vos e à
forma eis: no-lo, no-las, vo-lo, vo-los, ei-lo, etc.

3.º Nos vocábulos formados pelos prefixos que representam formas


adjetivas, como anglo, greco, histórico, ínfero, latino, lusitano, luso, póstero,
súpero, etc.: anglo-brasileiro, greco-romano, histórico-geográfico, ínfero-
anterior, latino-americano, lusitano-castelhano, luso-brasileiro, póstero-
palatal, súpero-posterior, etc.
Observação – Ainda que esses elementos prefixais sejam reduções de adjetivos, não perdem a
sua individualidade morfológica, e por isso devem unir-se por hífen, como sucede com austro
( = austríaco), dólico ( = dolicocéfalo), euro ( = europeu), telégrafo ( = telegráfico), etc.: austro-
húngaro, dólico-louro, euro-africano, telégrafo-postal, etc.

4.º Nos vocábulos formados por sufixos que representam formas adjetivas,
como açu, guaçu e mirim, quando o exige a pronúncia e quando o primeiro
elemento acaba em vogal acentuada graficamente: andá-açu, amoré-guaçu,
anajá-mirim, capim-açu, etc.
5.º Nos vocábulos formados pelos prefixos:
a. auto, contra211, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo, semi e ultra, quando se
lhes seguem palavras começadas por vogal, h, r ou s: auto-educação, contra-
almirante, extra-oficial, infra-hepático, intra-ocular, neo-republicano, proto-
revolucionário, pseudo-revelação, semi-selvagem, ultra-sensível, etc.
Observação – A única exceção a esta regra é a palavra extraordinário, que já está consagrada
pelo uso.

b. ante, anti, arqui e sobre212, quando seguidos de palavras iniciadas por h,


r ou s: ante-histórico, anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-saia, etc.

211
Cf. o Capítulo VI (“Será que já chegaram os contra-cheques?”).
212
Também o prefixo entre.
214 Textos Oficiais da Ortografia

c. supra213 , quando se lhe segue palavra encetada por vogal, r ou s: supra-


axilar, supra-renal, supra-sensível, etc.
d. super214 , quando seguido de palavra principiada por h ou r: super-homem,
super-requintado, etc.
e. ab, ad, ob, sob e sub, quando seguidos de elementos iniciados por r: ab-
rogar, ad-renal, ob-reptício, sob-roda, sub-reino, etc.
f. pan e mal, quando se lhes segue palavra começada por vogal ou h: pan-
asiático, pan-helenismo, mal-educado, mal-humorado, etc.
g. bem, quando a palavra que lhe segue tem vida autônoma na língua ou
quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança, etc.
h. sem, sota, soto, vice, vizo, ex (com o sentido de cessamento ou estado
anterior), etc.: sem-cerimônia, sota-piloto, soto-ministro, vice-reitor, vizo-rei,
ex-diretor, etc.
i. pós, pré e pró, que têm acento próprio, por causa da evidência dos seus
significados e da sua pronunciação, ao contrário dos seus homógrafos
inacentuados, que, por diversificados foneticamente, se aglutinam com o
segundo elemento: pós-meridiano, pré-escolar, pró-britânico; mas pospor,
preanunciar, procônsul; etc.

Divisão silábica.
47. A divisão de qualquer vocábulo, assinada pelo hífen, em regra se faz
pela soletração, e não pelos seus elementos constitutivos segundo
a etimologia.
48. Fundadas neste princípio geral, cumpre respeitar as seguintes normas:
1.ª A consoante inicial não seguida de vogal permanece na sílaba que a
segue: cni-do-se, dze-ta, gno-ma, mne-mô-ni-ca, pneu-má-ti-co, etc.
2.ª No interior do vocábulo, sempre se conserva na sílaba que a precede
a consoante não seguida de vogal: ab-di-car, ac-ne, bet-sa-mi-ta, daf-ne,
drac-ma, ét-ni-co, nup-ci-al, ob-fir-mar, op-ção, sig-ma-tis-mo, sub-por,
sub-ju-gar, etc.

213
Cf. o Capítulo VI (“O supra-citado PM”).
214
Faltaram os prefixos hiper e inter.
Manual de Redação Policial-Militar 215

3.ª Não se separam os elementos dos grupos consonânticos iniciais de


sílaba nem dos digramas215 ch, lh e nh: a-blu-cão, a-bra-sar, a-che-gar, fi-lho,
ma-nhão, etc.
Observação – Nem sempre formam grupos articulados as consonâncias bl e br: nalguns casos
o l e o r se pronunciam separadamente, e a isso se atenderá na partição do vocábulo; e as
consoantes dl, a não ser no termo onomatopéico dlim, que exprime toque de campainha,
proferem-se desligadamente, e na divisão silábica ficará o hífen entre essas duas letras. Ex.: sub-
lin-gual, sub-rogar, ad-le-ga-ção, etc.

4.ª O sc no interior do vocábulo biparte-se, ficando o s numa sílaba, e o


c na sílaba imediata: a-do-les-cen-te, com-va-les-cer, des-cer, ins-ci-en-te, pres-
cin-dir, res-ci-são, etc.
Observação – Forma sílaba com o prefixo antecedente o s que precede consoante: abs-tra-ir, ads-
cre-ver, ins-cri-ção, ins-pe-tor, ins-tru-ir, in-ters-tí-cio, pers-pi-caz, subs-cre-ver, subs-ta-be-le-cer, etc.

5.ª O s dos prefixos bis, cis, des, dis, trans e o x do prefixo ex não se
separam quando a sílaba seguinte começa por consoante; mas, se principia
por vogal, formam sílaba com esta e separam-se do elemento prefixal:
bis-ne-to, cis-pla-ti-no, des-li-gar, dis-tra-ção, trans-por-tar, ex-tra-ir; bi-sa-vô,
ci-san-di-no, de-ses-pe-rar, di-sen-té-ri-co, tran-sa-tlân-ti-co, e-xér-ci-to; etc.
6.ª As vogais idênticas e as letras cc, cç, rr e ss separam-se, ficando uma
na sílaba que as precede, e outra na sílaba seguinte: ca-a-tin-ga, co-or-
de-nar, du-ún-vi-ro, fri-ís-si-mo, ge-e-na, in-te-lec-ção, oc-ci-pi-tal, pror-ro-
gar, res-sur-gir, etc.
Observação – As vogais de hiatos, ainda que diferentes uma da outra, também se separam: a-
ta-ú-de, cai-ais, ca-í-eis, ca-ir, do-er, du-e-lo, fi-el, flu-iu, fru-ir, gra-ú-na, je-su-í-ta, le-al, mi-ú-do, po-ei-ra,
ra-i-nha, sa-ú-de, vi-ví-eis, vo-ar, etc.

7.ª Não se separam as vogais dos ditongos – crescentes e decrescentes


– nem as dos tritongos: ai-ro-so, a-ni-mais, au-ro-ra, a-ve-ri-güeis, ca-iu, cru-
éis, en-jei-tar, fo-ga-réu, fu-giu, gló-ria, guai-ar, i-guais, já-mais, jói-as, ó-dio,
quais, sá-bios, sa-guão, sa-guões, su-bor-nou, ta-fuis, vá-rio, etc.
Observação – Não se separa do u precedido de g ou q a vogal que o segue, acompanhada, ou
não, de consoante: am-bí-guo, e-qui-va-ler, guer-ra, u-bí-quo, etc.

215
O mesmo que dígrafos.
216 Textos Oficiais da Ortografia

Emprego das iniciais maiúsculas.


Emprega-se letra inicial maiúscula:
1.º No começo do período, verso ou citação direta: Disse o Padre Antônio
Vieira: “Estar com Cristo em qualquer lugar, ainda que seja no Inferno, é
estar no Paraíso”.
“Auriverde pendão de minha terra.
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra
As promessas divinas da Esperança...”
(Castro Alves.)
Observação – Alguns poetas usam, à espanhola, a minúscula no princípio de cada verso, quando
a pontuação o permite, como se vê em Castilho:

“Aqui, sim, no meu cantinho,


vendo rir-me o candeeiro,
gozo o bem de estar sozinho
e esquecer o mundo inteiro.”
2.º Nos substantivos próprios de qualquer espécie – antropônimos,
topônimos, patronímicos, cognomes, alcunhas, tribos e castas, designações
de comunidades religiosas e políticas, nomes sagrados e relativos a religiões,
entidades mitológicas e astronômicas, etc.: José, Maria, Macedo, Freitas,
Brasil, América, Guanabara, Tietê, Atlântico, Antoninos, Afonsinhos, Conquistador,
Magnânimo, Coração de Leão, Sem Pavor, Deus, Jeová, Alá, Assunção,
Ressurreição, Júpiter, Baco, Cérbero, Via-Láctea216 , Canopo, Vênus, etc.
Observação 1.ª – As formas onomásticas que entram na composição de palavras do vocabulário
comum escrevem-se com inicial minúscula quando constituem, com os elementos a que se
ligam por hífen, uma unidade semântica; quando não constituem unidade semântica, devem ser
escritas sem hífen e com inicial maiúscula: água-de-colônia, joão-de-barro, maria-rosa (palmeira),
etc.: além Andes, aquém Atlântico,217 etc.
Observação 2.ª – Os nomes de povos escrevem-se com inicial minúscula, não só quando designam
habitantes ou naturais de um estado, província, cidade, vila ou distrito, mas ainda quando representam
coletivamente uma nação: amazonenses, baianos, estremenhos, fluminenses, guarapuavanos,
jequieenses, paulistas, pontalenses, romenos, russos, suíços, uruguaios, venezuelanos, etc.

216
A forma correta é sem hífen: Via Láctea.
217
Como anteriormente dito, o ponto-e-vírgula não é coerente. Melhor seria empregar a vírgula.
Manual de Redação Policial-Militar 217

3.º Nos nomes próprios de eras históricas e épocas notáveis: Héjira218 ,


Idade Média, Quinhentos (o século XVI), Seiscentos (o século XVII), etc.
Observação – Os nomes dos meses devem escrever-se com inicial minúscula: janeiro, fevereiro,
março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro.219

4.º Nos nomes de vias e lugares públicos: Avenida de Rio Branco, Beco do
Carmo, Largo da Carioca, Praia do Flamengo, Praça da Bandeira, Rua Larga,
Rua do Ouvidor, Terreiro de São Francisco, Travessa do Comércio, etc.
5.º Nos nomes que designam altos conceitos religiosos, políticos ou
nacionalistas: Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Nação, Estado,
Pátria, Raça, etc.
Observação – Esses nomes se escrevem com inicial minúscula quando são empregados em
sentido geral ou indeterminado.

6.º Nos nomes que designam artes, ciências ou disciplinas, bem como
nos que sintetizam, em sentido elevado, as manifestações do engenho e
do saber: Agricultura, Arquitetura, Educação Física, Filologia Portuguesa, Direito,
Medicina, Engenharia, História do Brasil, Geografia, Matemática, Pintura, Arte,
Ciência, Cultura, etc.
Observação – Os nomes idioma, idioma pátrio, língua, língua portuguesa, vernáculo e outros
análogos escrevem-se com inicial maiúscula quando empregados com especial relevo.

7.º Nos nomes que designam altos cargos, dignidade ou postos: Papa,
Cardeal, Arcebispo, Bispo, Patriarca, Vigário, Vigário-Geral, Presidente da
República, Ministro da Educação, Governador do Estado, Embaixador,
Almirantado, Secretário de Estado, etc.220
8.º Nos nomes de repartições, corporações ou agremiações, edifícios e
estabelecimentos públicos ou particulares: Diretoria Geral do Ensino,
Inspetoria do Ensino Superior, Ministério das Relações Exteriores, Academia
Paranaense de Letras, Círculo de Estudos “Bandeirantes”, Presidência da
República, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Tesouro do Estado,
Departamento Administrativo do Serviço Público, Banco do Brasil, Imprensa
Nacional, Teatro de São José, Tipografia Rolandiana, etc.
218
A boa forma é com g e não j, como grafado no corpo do texto: hégira.
219
Cf. o tópico, no cap. II, “O local e a data”.
220
Na prática, nos grandes jornais e revistas do país, a designação das profissões e dos ocupantes de
cargos, ao revés das suas respectivas instituições, vem em minúsculas. Assim teríamos: presidente do Brasil,
secretária da Segurança Pública, comandante-geral (com o hífen) da Polícia Militar, etc. Cf. O ESTADO DE
SÃO PAULO, op. cit., p. 171.
218 Textos Oficiais da Ortografia

9.º Nos títulos de livros, jornais, revistas, produções artísticas, literárias e


científicas: Imitação de Cristo, Horas Marianas, Correio da Manhã, Revista
Filológica, Transfiguração (de Rafael), Norma (de Bellini), Guarani (de Carlos
Gomes), O Espírito das Leis (de Montesquieu), etc.
Observação – Não se escrevem com maiúscula inicial as partículas monossilábicas que se
acham no interior de vocábulos compostos ou de locuções ou expressões que têm iniciais
maiúsculas: Queda do Império, O Crepúsculo dos Deuses, Histórias sem Data, A Mão e a Luva,
Festas e Tradições Populares no Brasil, etc.

10.º Nos nomes de fatos históricos e importantes, de atos solenes e de


grandes empreendimentos públicos: Centenário da Independência do Brasil,
Descobrimento da América, Questão Religiosa, Reforma Ortográfica, Acordo
Luso-Brasileiro, Exposição Nacional, Festa das Mães, Dia do Município,
Glorificação da Língua Portuguesa, etc.
Observação – Os nomes das festas pagãs ou populares escrevem-se com inicial minúscula:
carnaval, entrudo, saturnais, etc.221

11.º Nos nomes de escolas de qualquer espécie ou grau de ensino:


Faculdade de Filosofia, Escola Superior de Comércio, Ginásio do Estado, Colégio
de Pedro II, Instituto de Educação, Grupo Escolar de Machado de Assis, etc.
12.º Nos nomes comuns, quando personificados ou individuados, e de
seres morais ou fictícios: A Capital da República, a Transbrasiliana, moro
na Capital222, o Natal de Jesus, o Poeta (CAMÕES), a ciência da Antiguidade,
os habitantes da Península, a Bondade, a Virtude, o Amor, a Ira, o Medo, o
Lobo, o Cordeiro, a Cigarra, a Formiga, etc.
Observação – Incluem-se nesta norma os nomes que designam atos das autoridades da República,
quando empregados em correspondência ou documentos oficiais: A Lei de 13 de maio, o
Decreto-lei223 n.º 292, o Decreto n.º 20.108, a Portaria de 15 de junho, o Regulamento n.º 737, o
Acórdão de 3 de agosto, etc.

13.º Nos nomes dos pontos cardeais, quando designam regiões: Os povos
do Oriente; o falar do Norte é diferente do falar do Sul; a guerra do
Ocidente; etc.
221
Inobstante a existência dessa regra, é muito comum encontrarmos, principalmente na Bahia, os vocábulos
carnaval e micareta grafados com a inicial maiúscula. Nesse sentido, Celso Cunha também faz uso da
maiúscula (cf.: CUNHA, op. cit., p. 213).
222
Daí porque preferimos, nos expedientes, escrever Capital com maiúscula inicial.
223
Não se justifica essa grafia. O correto é Decreto-Lei (com l maiúsculo), pois nas composições hifenizadas
os elementos possuem independência gráfica, mórfica e fonética. Repare que o próprio texto da lei se
referira, acertadamente, a Capitão-de-Mar-e-Guerra (v. observação do item 14).
Manual de Redação Policial-Militar 219

Observação – Os nomes dos pontos cardeais escrevem-se com inicial minúscula quando designam
direções ou limites geográficos: Percorrí224 o país de norte a sul e de leste a oeste.

14.º Nos nomes, adjetivos, pronomes e expressões de tratamento ou


reverência: D. (Dom ou Dona), Sr. (Senhor), Sr.ª (Senhora), DD. ou Dig.mo
(Digníssimo)225 , MM. ou M.mo (Meritíssimo), Rev.mo (Reverendíssimo), V. Rev.ª
(Vossa Reverência), S. E. (Sua Eminência), V. M. (Vossa majestade), V. ª (Vossa
Alteza), V. S.ª (Vossa Senhoria), V. Ex.ª (Vossa Excelência), V. Ex.as (Vossas
Excelências), etc.
Observação – As formas que se acham ligadas a essas expressões de tratamento devem ser
também escritas com iniciais maiúsculas: D. Abade; Ex.ma Sr.ª Diretora, Sr. Almirante, Sr. Capitão-
de-Mar-e-Guerra, MM. Juiz de Direito, Ex. mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Primaz, Magnífico Reitor,
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Eminentíssimo Senhor Cardeal, Sua Majestade
Imperial, Sua Alteza Real, etc.

15.º Nas palavras que, no estilo epistolar, se dirigem a um amigo, a um


colega, a uma pessoa respeitável, as quais, por deferência, consideração
ou respeito, se queira realçar por esta maneira: meu bom Amigo, caro
Colega, meu prezado Mestre, estimado Professor, meu querido Pai, minha
amorável Mãe, meu bom Padre, minha distinta Diretora, caro Dr., prezado
Capitão, etc.

Sinais de pontuação.
50. Aspas.
Quando a pausa coincide com o final da expressão ou sentença que se
acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois
delas, se encerram apenas uma parte da proposição; quando porém, as
aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou expressão, a respectiva
notação fica abrangida por elas:
“Aí temos a lei”, dizia Florentino.
“Mas quem as há de segurar? Ninguém.” (Rui Barbosa.)
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
“Por que não nasci eu um simples vaga-lume?” (Machado de Assis.)

224
Foi erroneamente grafado (lapso de revisão) com o acento, o certo é percorri.
225
Conforme já dito, essa expressão foi abolida, nas correspondências oficiais, pelo Manual de Redação
da Presidência da República (cf., no cap. IV, “As formas de tratamento”).
220 Textos Oficiais da Ortografia

51. Parênteses.
Quando uma pausa coincide com o início da construção parentética, o
respectivo sinal de pontuação deve ficar depois dos parênteses; mas,
estando a proposição ou a frase inteira encerrada pelos parênteses, dentro
deles se põe a competente notação:
“Não, filhos meus (deixai-me experimentar, uma vez que seja,
convosco, este suavíssimo nome); não: o coração não é tão frívolo,
tão exterior, tão carnal, quanto se cuida.” (Rui Barbosa.)
“A imprensa (quem o contesta?) é o mais poderoso meio que se
tem inventado para a divulgação do pensamento.” – “(Carta inserta
nos Anais da Biblioteca Nacional, vol. I.)” (Carlos de Laet.)
52. Travessão
Emprega-se o travessão, e não hífen, para ligar palavras ou grupos de
palavras que formam, pelo assim dizer, uma cadeia na frase: O trajeto
Mauá – Cascadura; a estrada de ferro Rio – Petrópolis; a linha aérea Brasil
– Argentina; o percurso Barcas – Tijuca; etc.
53. Ponto final.
Quando o período, oração ou frase termina por abreviatura, não se
coloca o ponto final adiante do ponto abreviativo, pois este, quando
coincide com aquele, tem dupla serventia. Ex.: “O ponto abreviativo
põe-se depois das palavras indicadas abreviadamente por suas iniciais
ou por algumas das letras com que se representam: v. g.: V. S.ª; Il. mo 226 ;
Ex.ª; etc.” (Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro.)

Aprovadas unanimemente na sessão de 12 de agosto de 1943.

José Carlos de Macedo Soares


Presidente da Academia Brasileira de Letras.

226
id.ibid.
Manual de Redação Policial-Militar 221

Bibliografia
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BAHIA. Constituição do Estado da Bahia. 1. ed. Salvador, Empresa Gráfica
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CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa:
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222 Bibliografia

COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES OFICIAIS BRASILEIRAS. Subcomissão


de Política Editorial e Normalização. Editoração de publicações oficiais.
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CRUZ, Josemar Silva da. Do sordé ao coroné: dicionário (completamente
fora de alinhamento e cobertura) de termos e expressões afins usadas
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CUNHA, Celso Ferreira da. e Luís F. Lindley Cintra. Nova gramática do
Português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985.
EDITORA ABRIL. Manual de estilo Editora Abril: como escrever bem
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Este manual foi composto em Gill Sans Serif,
com títulos em Garamond BE Regular.
Edição gráfica SOLISLUNA DESIGN E
EDITORA. Fotolito e Impressão Gráfica
Santa Helena. Tiragem de 2000 exemplares.

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