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TEORIA E

EXERCÍCIOS

PC-RJ
Polícia Civil do Rio de Janeiro

INVESTIGADOR
Língua Portuguesa
Conhecimentos Básicos de
Informática
Noções de Direito Constitucional
Noções de Direito Administrativo
Noções de Direito Penal
Noções de Direito
Processual Penal (On-line)
Leis Extravagantes (On-line)

EDITAL DE 23 DE SETEMBRO DE 2021

CONTEÚDO
ON-LINE
CURSO COM 10H
DE VIDEOAULAS
Polícia Civil do Rio de Janeiro

PC-RJ
Investigador

NV-005-ST-21
Cód.: 7908428801021
Obra

PC-RJ – Polícia Civil do Rio de Janeiro


Investigador

Autores

LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares, Giselli Neves, Paloma da Silveira Leite,
Gabriela Coelho e Isabella Ramiro

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA • Fernando Nishimura

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL • Samara Kich

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO • Fernando Paternostro Zantedeschi e Jonatas Albino

NOÇÕES DE DIREITO PENAL • Rodrigo Gonçalves, Jonatas Albino e Renato Philippini

LEIS ESPECIAIS (ON-LINE) • Samantha Rodrigues , Renato Philippini, Ana Philippini, Nathan Pilonetto e
Antônio Pequeno

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL (ON-LINE) • Renato Philippini, Eduardo Gigante, Samantha
Rodrigues, Nathan Pilonetto, Antônio Pequeno e Adenilton Almeida

Edição:

Setembro/2021

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
editora Nova Concursos.

Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso Dúvidas


de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site
www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e www.novaconcursos.com.br/contato
Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. sac@novaconcursos.com.br
APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento é determinante para a sua preparação
de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen-
sando no máximo aproveitamento de seus estudos, esse livro
foi organizado de acordo com os itens exigidos no Edital de 23
de setembro de 2021 da PC-RJ, para o cargo de Investigador.

O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário,


facilitando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sem-
pre a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em
uma sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abordan-
do todos os itens do edital e reorganizando-os quando necessá-
rio, de uma maneira didática para que você realmente consiga
aprender e otimizar os seus estudos.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobra-
dos nas provas e a seção Hora de Praticar, trazendo exercícios
gabaritados da banca FGV, organizadora do certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensan-
do no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Ago-
ra é com você!

Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os con-


teúdos complementares disponíveis on-line para este livro em
nossa plataforma: Leis Extravagantes e Noções de Direito Pro-
cessual Penal além do Curso Bônus com 10 horas de videoaulas.
Para acessar, basta seguir as orientações na próxima página.
CONTEÚDO ON-LINE

Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on-
line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta
deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente.

BÔNUS:

• Curso On-line.

à Língua Portuguesa - Introdução A Leitura de Textos e Tipologia Textual



à Conhecimentos Básicos de Informática - Sistema Operacional Windows 10

à Noções de Direito Constitucional - Conceitos Iniciais dos Direitos e Garantias

Fundamentais
à Noções de Direito Administrativo - Responsabilidade Civil do Estado

à Noções de Direito Penal - Homicídio e Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio e

Automutilação
à Leis Extravagantes - Lei 10.826, de 2003: Estatuto do Desarmamento

à Noções de Direito Processual Penal - Inquérito Policial

CONTEÚDO COMPLEMENTAR:

• Leis Extravagantes
• Noções de Direito Processual Penal

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VERSO DA APOSTILA
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................11
ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO E SEU SENTIDO.......................................................... 11

GÊNERO DO TEXTO (LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO, NARRATIVO, DESCRITIVO E ARGUMENTATIVO)......11

INTERPRETAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTERNA................................................................................................15

SEMÂNTICA ........................................................................................................................................ 17

SENTIDO E EMPREGO DOS VOCÁBULOS........................................................................................................17

CAMPOS SEMÂNTICOS....................................................................................................................................19

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS DOS VERBOS EM PORTUGUÊS................................................................20

MORFOLOGIA...................................................................................................................................... 21

RECONHECIMENTO, EMPREGO E SENTIDO DAS CLASSES GRAMATICAIS.................................................21

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS...................................................................................................39

MECANISMOS DE FLEXÃO DOS NOMES E VERBOS ......................................................................................42

SINTAXE............................................................................................................................................... 45

FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO.............................................................................................................................45

TERMOS DA ORAÇÃO........................................................................................................................................45

PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO.....................................................................................51

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL............................................................................................................53

TRANSITIVIDADE E REGÊNCIA DE NOMES E VERBOS...................................................................................58

PADRÕES GERAIS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS...........................................................59

MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL.............................................................................................. 60

ORTOGRAFIA....................................................................................................................................... 63

ACENTUAÇÃO GRÁFICA.................................................................................................................... 64

EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE.................................................................................. 64

PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 66

REESCRITA DE FRASES...................................................................................................................... 68

SUBSTITUIÇÃO, DESLOCAMENTO, PARALELISMO........................................................................................68

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: NORMA CULTA.......................................................................................................71


CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA.................................................77
COMPONENTES DE UM COMPUTADOR........................................................................................... 77

PROCESSADORES, MEMÓRIA E PERIFÉRICOS MAIS COMUNS....................................................................77

DISPOSITIVOS DE ARMAZENAGEM DE DADOS; PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS...........................89

ARQUIVOS DIGITAIS........................................................................................................................... 92

DOCUMENTOS, PLANILHAS, IMAGENS, SONS, VÍDEOS; PRINCIPAIS PADRÕES E CARACTERÍSTICAS.......92

ARQUIVOS PDF.................................................................................................................................... 94

CONHECIMENTOS SOBRE SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS 10............................................. 95

CONCEITOS GERAIS, FUNCIONAMENTO, PRINCIPAIS APLICATIVOS E FERRAMENTAS, COMANDOS


E CONFIGURAÇÕES...........................................................................................................................................95

EDITORES DE TEXTO (MS OFFICE 2010 BR OU SUPERIOR E LIBREOFFICE WRITTER 4.X OU


SUPERIOR).........................................................................................................................................108

RECURSOS E FUNÇÕES DE FORMATAÇÃO E EDITORAÇÃO, BUSCAS E COMPARAÇÕES, RECURSOS


ESPECIAIS, CORRETORES ORTOGRÁFICOS; MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS: LEITURA E GRAVAÇÃO;
CONTROLE DE ALTERAÇÕES; USO DE SENHAS PARA PROTEÇÃO; FORMATOS PARA GRAVAÇÃO;
RECURSOS PARA IMPRESSÃO.......................................................................................................................108

PLANILHAS (MICROSOFT EXCEL 2010 BR OU SUPERIOR E LIBREOFFICE CALC 4.X OU


SUPERIOR).........................................................................................................................................127

FUNÇÕES DE FORMATAÇÃO; UTILIZAÇÃO DE FUNÇÕES MATEMÁTICAS, DE BUSCA, E OUTRAS DE USO


GERAL; CRIAÇÃO E MANIPULAÇÃO DE FÓRMULAS; GRÁFICOS MAIS COMUNS; MANIPULAÇÃO DE
ARQUIVOS: LEITURA E GRAVAÇÃO; RECURSOS PARA IMPRESSÃO; IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE
DADOS; PROTEÇÃO DE DADOS
E PLANILHAS...................................................................................................................................................127

INTERNET: CONCEITOS GERAIS E FUNCIONAMENTO.................................................................148

ENDEREÇAMENTO DE RECURSOS.................................................................................................................149

NAVEGAÇÃO SEGURA......................................................................................................................151

CUIDADOS NO USO DA INTERNET E AMEAÇAS............................................................................................151

USO DE SENHAS E CRIPTOGRAFIA; TOKENS E OUTROS DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA; SENHAS


FRACAS E FORTES..........................................................................................................................................159

NAVEGADORES (BROWSERS) E SUAS PRINCIPAIS FUNÇÕES....................................................168

SITES E LINKS; BUSCAS; SALVA DE PÁGINAS..............................................................................................168

GOOGLE CHROME, FIREFOX, INTERNET EXPLORER....................................................................................170

CACHE E COOKIES...........................................................................................................................................171

E-MAIL: UTILIZAÇÃO, CAIXAS DE ENTRADA, ENDEREÇOS, CÓPIAS E OUTRAS


FUNCIONALIDADES. WEBMAIL.......................................................................................................171
TRANSFERÊNCIA DE ARQUIVOS E DADOS: UPLOAD, DOWNLOAD, BANDA, VELOCIDADES DE
TRANSMISSÃO..................................................................................................................................175

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................. 181


DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS............................................................................181

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS.......................................................................................181

DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................................................187

NACIONALIDADE.............................................................................................................................................194

CIDADANIA E DIREITOS POLÍTICOS..............................................................................................................196

PARTIDOS POLÍTICOS.....................................................................................................................................198

GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS, COLETIVOS, SOCIAIS E POLÍTICOS................................199

DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO......................................................................................................201

DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA........................................................................................201

Repartição de Competências ........................................................................................................................ 206

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...........................................................................................................................211

Servidores Públicos Civis............................................................................................................................... 219

DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES..................................................................................................223

PODER EXECUTIVO.........................................................................................................................................234

Forma e Sistema de Governo ....................................................................................................................... 237


Chefia de Estado e Chefia de Governo.......................................................................................................... 237

DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS................................................238

SEGURANÇA PÚBLICA....................................................................................................................................240

DA ORDEM SOCIAL...........................................................................................................................242

DISPOSIÇÃO GERAL:.......................................................................................................................................242

Bases e Objetivos da Ordem Social............................................................................................................... 242

SEGURIDADE SOCIAL......................................................................................................................................242

MEIO AMBIENTE..............................................................................................................................................247

DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM E DO IDOSO....................................................248

DOS ÍNDIOS......................................................................................................................................................249

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO........................................................................249

Da Família, Criança, Adolescente e Idoso..................................................................................................... 252


DA SEGURANÇA PÚBLICA..............................................................................................................................255

DA ORDEM SOCIAL:.........................................................................................................................................258

Bases e Objetivos da Ordem Social............................................................................................................... 258

DA SEGURIDADE SOCIAL................................................................................................................................258

DOS ÍNDIOS......................................................................................................................................................263

DA ORDEM ECONÔMICA FINANCEIRA E DO MEIO AMBIENTE:...................................................................263

Do Meio Ambiente.......................................................................................................................................... 263

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO.............................................................. 275


CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA....................................................................................275

NOÇÕES DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA............................................................................275

ADMINISTRAÇÃO DIRETA ..............................................................................................................................278

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA...........................................................................................................................279

Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista........................................279

CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO...................................................................................................283

CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO ...................................................................................................284

REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ...........................................................................................284

CONCEITO .......................................................................................................................................................284

PRINCÍPIOS EXPRESSOS E IMPLÍCITOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..................................................284

PODERES ADMINISTRATIVOS.........................................................................................................287

PODER HIERÁRQUICO.....................................................................................................................................287

PODER DISCIPLINAR ......................................................................................................................................288

PODER REGULAMENTAR................................................................................................................................289

PODER DE POLÍCIA..........................................................................................................................................290

Divisão de Polícia............................................................................................................................................ 291


Limitações do Poder de Polícia..................................................................................................................... 291

USO E ABUSO DO PODER ...............................................................................................................................291

ATO ADMINISTRATIVO ....................................................................................................................292

CONCEITO........................................................................................................................................................292

REQUISITOS.....................................................................................................................................................292

ATRIBUTOS......................................................................................................................................................293
CLASSIFICAÇÃO..............................................................................................................................................294

ESPÉCIES.........................................................................................................................................................295

AGENTES PÚBLICOS........................................................................................................................297
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS..........................................................................................297

DISPOSIÇÕES DOUTRINÁRIAS.......................................................................................................................297

Conceito.......................................................................................................................................................... 297

ESPÉCIES.........................................................................................................................................................298

SERVIDOR PÚBLICO........................................................................................................................................298

CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA........................................................................................................298

ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO PODER EXECUTIVO DO RIO DE


JANEIRO (DECRETO-LEI Nº 220/1975) E SEU REGULAMENTO (DECRETO Nº 2.479/1979).....306

ESTATUTO DOS POLICIAIS CIVIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (DECRETO-LEI Nº


218/1975) E SEU REGULAMENTO (DECRETO Nº 3.044/1979)....................................................323

LICITAÇÃO.........................................................................................................................................338
PRINCÍPIOS .....................................................................................................................................................340

CONTRATAÇÃO DIRETA .................................................................................................................................339

Dispensa e Inexigibilidade..............................................................................................................................339

MODALIDADES.................................................................................................................................................342

PROCEDIMENTO..............................................................................................................................................345

CRITÉRIOS DE JULGAMENTO.........................................................................................................................347

CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..................................................................................353


CONTROLE EXERCIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...........................................................................353

CONTROLE JUDICIAL......................................................................................................................................354

CONTROLE LEGISLATIVO...............................................................................................................................354

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO........................................................................................356


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO DIREITO BRASILEIRO.............................................................356

Responsabilidade por Ato Comissivo do Estado.......................................................................................... 357


Responsabilidade por Omissão do Estado................................................................................................... 357

NOÇÕES DE DIREITO PENAL..................................................................................... 365


PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL......................................................................................................365

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO..................................................................365

TEORIA GERAL DO CRIME ...............................................................................................................372

CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS..................................................................................................372


Fato Típico....................................................................................................................................................... 373
Dolo e Culpa.................................................................................................................................................... 373
Consumação e Tentativa................................................................................................................................ 375

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ........................................................377

CRIME IMPOSSÍVEL..........................................................................................................................378

ILICITUDE E SUAS CAUSAS DE EXCLUSÃO....................................................................................378

CULPABILIDADE E SUAS CAUSAS DE EXCLUSÃO.........................................................................379

ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO...........................................................................................................380

CONCURSO DE PESSOAS.................................................................................................................382

ESPÉCIES DE PENAS........................................................................................................................387

APLICAÇÃO DA PENA.......................................................................................................................388

CONCURSO DE CRIMES....................................................................................................................390

PUNIBILIDADE E SUAS CAUSAS DE EXTINÇÃO............................................................................394

CRIMES CONTRA A PESSOA...........................................................................................................395

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO...................................................................................................421

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL.......................................................................................446

CRIMES CONTRA A FAMÍLIA...........................................................................................................453

CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA ............................................................................459

CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA..................................................................................................475

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA.....................................................................................................477

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................490


sentido conotativo das palavras. Apresenta o fantásti-
co que precisa ser descoberto através de uma leitura
atenta. Já a linguagem não literária é aquela própria
para a transmissão de saberes, da informação, no

LÍNGUA PORTUGUESA
âmbito das necessidades da comunicação social,
podendo ser encontrada na ciência, na técnica, no jor-
nalismo e na conversação entre os falantes.
Podemos estabelecer o seguinte confronto entre as
duas formas:
ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO
TEXTO E SEU SENTIDO LINGUAGEM NÃO
LINGUAGEM LITERÁRIA
LITERÁRIA
GÊNERO DO TEXTO (LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO,
NARRATIVO, DESCRITIVO E ARGUMENTATIVO) Intralinguística Extralinguística

Ambígua Clara/exata
Prosa e Poesia
Conotação Denotação
Os textos literários dividem-se em duas partes:
prosa e poesia. Neste tópico estudaremos a definição Sugestão Precisão
de cada uma. Transfiguração da realidade Realidade
A poesia é a linguagem subjetiva, metafísica, vaga
com o mundo interior do poeta. Quanto a sua forma, é Subjetiva Objetiva
um texto curto com orações e períodos curtos, em que
sobressaem a estética, a harmonia e o ritmo. Trata-se Ordem inversa Ordem direta
da mais antiga composição do mundo. Antes do surgi-
mento do papel, já existiam os textos literários. Com Gêneros Literários
os livros de argila e o uso de poemas, seria possível
transmitir muita coisa com pouco material. Na teoria literária, o estudo dos gêneros literários
A prosa, por sua vez, é a linguagem objetiva, usual, ocupa-se em agrupar as diversas modalidades de
veículo natural do pensamento humano. Ela possui expressão literária pelas suas características de forma
diversas formas, as quais são chamadas de subgê- e conteúdo. Cada gênero possui uma técnica, um estilo
neros literários (ex.: romance; crítica; novela; conto; e uma função.
etc.). Vale destacar que a distinção entre os gêneros é
Vejamos as diferenças entre um texto em forma de bem flexível, sendo possível, às vezes, a mistura deles.
poesia e outro em forma de prosa: Para classificar uma obra, então, é necessário verifi-
car a predominância de um gênero. A classificação
Poema básica dos gêneros compreende: o lírico, o épico e o
dramático.
z Frases curtas.
z Destaque para a beleza dos versos. z Gênero Lírico – A poesia lírica surgiu na Grécia
z De rimas: Porta/importa, minha/vizinha. Antiga, sendo originalmente declamada ao som da
z Uso de métrica - contagem de sílabas poéticas. lira (daí a origem da palavra lírico). A lira, pela tra-
z escrito em forma de versos. dição literária, passou a simbolizar a poesia.
Prosa
No gênero lírico predomina o sentimento, a emo-
ção, a subjetividade, a expressão do “eu”. Trata-se da
z Frases longas.
manifestação do mundo interior através de uma visão
z Não há beleza no texto, somente a informação.
pessoal do mundo.
z Texto objetivo: transmitir uma mensagem.
z Não há métrica, nem rima, nem ritmo. Quanto à temática, o tema lírico por excelência é
z Texto escrito em forma de parágrafos. o amor, sendo que a solidão, a angústia, a saudade, a
tristeza, entre outros, lhe são correlatos.
A linguagem lírica mostra-se densamente metafó-
Dica
rica, sendo predominante a exploração da sonoridade
Embora os nomes sejam parecidos, você deve se e o arranjo das palavras.
LÍNGUA PORTUGUESA

atentar para o fato de que poema e poesia não Aqui, estamos falando especificamente do lirismo
são a mesma coisa. Poema é um texto literário na Literatura, mas o lirismo se identifica com outras
composto de versos, estrofes e, às vezes, rima. formas de arte, podendo ser encontrado na poesia, em
Já a  poesia  é a própria manifestação artística, um romance, em um filme ou, ainda, em um quadro.
baseada na linguagem subjetiva e estética. Observe neste poema as características do gênero
lírico, o espírito subjetivo que aparece embalado por
A Linguagem Literária e a Não Literária emoções e sentimentos.

Antes de mais nada, é preciso saber que existem a Eu cantarei de amor tão docemente,
linguagem literária e a linguagem não literária, e elas Por uns termos em si tão concertados,
são bem diferentes. A linguagem literária é emotiva Que dois mil acidentes namorados
e sentimental, e abarca as figuras de linguagem e o Faça sentir ao peito que não sente. 11
Farei que amor a todos avivente, simbolizam as virtudes, os pecados, ou represen-
Pintando mil segredos delicados, tam anjos, demônios e santos. Um dos autos mais
Brandas iras, suspiros magoados, famosos na língua portuguesa é o  “Monólogo do
Temerosa ousadia e pena ausente.
Vaqueiro ou Auto da Visitação”,  de Gil Vicente.
Modernamente, encontramos textos notáveis que
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa, revelam certa influência medieval, como é o caso
Contentar-me-ei dizendo a menor parte. do “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.

Porém, pera cantar de vosso gesto c) Gênero Épico ou Narrativo – O gênero narrativo
A composição alta e milagrosa estrutura-se pela narração, sendo característico a
Aqui falta saber, engenho e arte. narração das ações dos personagens em determi-
nado tempo e espaço.
Luís de Camões

A forma narrativa consagrada na antiguidade era


Importante! a épica em que se faziam relatos de versos sobre as
origens das nacionalidades, os acontecimentos histó-
Para a compreensão dos gêneros literários, pre- ricos que mudaram o curso da humanidade. Os heróis
cisamos saber que o lirismo, a subjetividade, não das epopeias eram personagens históricas ou semi-
são exclusividade do gênero lírico, podendo apa- deuses, isto é, pessoas que se destacaram por excep-
recer nos demais. Também é preciso saber sepa- cionais façanhas. Cumpre ressaltar as mais célebres
rar a participação do “eu-lírico”, ou seja, a própria epopeias: a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero; a “Enei-
voz que fala no poema do artista (o poeta).
da”, de Vergílio; “Os Lusíadas”, de Camões.
Modernamente, as formas narrativas resultam da
z Gênero Dramático – Do grego, a palavra “drama” evolução do gênero épico, a saber: o romance, o conto, a
significa “ação”. Trata-se de um modo específico novela e a crônica. O romance e a novela possuem uma
de texto, baseado na performance, sendo assim, o estrutura de múltiplos conflitos, em que se caracteriza
gênero dramático abrange os textos em forma de a pluralidade de ações. De modo contrário, o conto gira
diálogo destinados à encenação. em torno de um único conflito, decorre disso a unidade
de ações. A crônica, por sua vez, que nasceu das colunas
No gênero dramático, não há a narração de fatos, dos jornais, explora fatos da atualidade.
como existe no romance, tendo em vista que os per-
sonagens assumem seus papéis diante de um público
Texto Narrativo
que assim é envolvido com os acontecimentos.
Vale destacar que uma peça é uma obra literária,
enquanto texto destinado à leitura. Por outro lado, Os textos compostos predominantemente por
como espetáculo teatral, depende dos meios técnicos sequências narrativas cumprem o objetivo de contar
empregados na apresentação, como: maquilagem, ilu- uma história, narrar um fato. Por isso, precisam man-
minação, imposição de voz, cenário e figurino. ter a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão
de algumas estratégias, como a organização dos fatos
Exemplos de Textos Dramáticos a partir de marcadores temporais e espaciais, a inclu-
são de um momento de tensão (chamado de clímax)
z Tragédia: acontecimentos trágicos, temas deri- e um desfecho que poderá ou não apresentar uma
vados das paixões humanas do qual fazem parte moral.
personagens nobres e heroicas, sejam deuses ou Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati-
semideuses. Os finais são sempre nefastos. Como vo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles:
exemplo, podemos citar “Édipo Rei”, de Sófocles;
“Romeu e Julieta”, de Shakespeare.
z Situação inicial: Envolve a “quebra” de um equilí-
z Comédia: textos humorísticos de caráter crítico,
irônico, jocoso e satírico, podendo ser até mes- brio, o que demanda uma situação conflituosa;
mo obsceno, cuja temática são ações cotidianas z Complicação: Desenvolvimento da tensão apre-
das quais fazem parte personagens humanos e sentada inicialmente;
estereotipados, geralmente o povo e a nobreza. O z Ações (para o clímax): Acontecimentos que
objetivo era fazer sátiras políticas, críticas sociais, ampliam a tensão;
fazer paródias com o intuito de causar o riso. z Resolução: Momento de solução da tensão;
z Tragicomédia: textos que trazem a junção de ele- z Situação final: Retorno da situação equilibrada;
mentos trágicos e cômicos na representação teatral. z Avaliação: Apresentação de uma “opinião” sobre
z Farsa: surgida por volta do século XIV, a farsa a resolução;
caracteriza-se pela crítica social. É um texto cur-
z Moral: Apresentação de valores morais que a his-
to, formado por diálogos simples e representado
tória possa ter apresentado.
por personagens caricaturais em ações corriquei-
ras, cômicas, burlescas. Como exemplo famoso na
língua portuguesa, podemos citar “A farsa de Inês Esses sete passos podem ser encontrados no
Pereira”, de Gil Vicente. seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como
z Auto: surgido na Idade Média, os autos são textos eu...”. Vamos lê-la e identificar essas características,
curtos, de linguagem simples, com elementos cômi- bem como aprender a identificar outros pontos do
12 cos e intenção moralizadora. Suas personagens tipo textual narrativo.
coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais
Era um garoto que como eu Amava
e espaciais: Atualmente, naquele dia, nesse momento,
os Beatles e os Rolling Stones
aqui, ali, então...
Girava o mundo sempre a cantar
Outro indicador do texto narrativo é a presença do
As coisas lindas da América Situação inicial:
Não era belo, mas mesmo assim predomínio de narrador da história. Por isso, é importante apren-
Havia mil garotas afim equilíbrio dermos a identificar os principais tipos de narrador
Cantava Help and Ticket to Ride de um texto:
Oh Lady Jane e Yesterday
Cantava viva à liberdade Narrador: Também conhecido como foco narrativo, é o
responsável por contar os fatos que compõem o texto
Mas uma carta sem esperar
Da sua guitarra, o separou Narrador personagem: Verbos flexionados em 1ª pes-
Complicação:
Fora chamado na América soa. O narrador participa dos fatos
início da tensão
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pes-
soa. O narrador tem propriedade dos fatos contados,
Mandado foi ao Vietnã porém, não participa das ações
Clímax
Lutar com vietcongs
Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados na
Era um garoto que como eu 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e
Amava os Beatles e os Rolling Stones não participa das ações, porém, o fluxo de consciência
Resolução
Girava o mundo, mas acabou do narrador pode ser exposto, levando o texto para a
Fazendo a guerra no Vietnã 1ª pessoa
Cabelos longos não usa mais
Não toca a sua guitarra e sim Alguns gêneros conhecidos por suas marcas pre-
Um instrumento que sempre dá dominantemente narrativas são notícia, diário, conto,
A mesma nota, fábula, entre outros. É importante reafirmar que o
ra-tá-tá-tá Situação final / fato de esses gêneros serem essencialmente narrati-
Não tem amigos, não vê garotas Avaliação vos não significa que não possam apresentar outras
Só gente morta caindo ao chão sequências em sua composição.
Ao seu país não voltará Para diferenciar os tipos textuais e proceder na
Pois está morto no Vietnã
classificação correta, é sempre essencial atentar-se às
[...]
marcas que predominam no texto.
No peito, um coração não há Após demarcarmos as principais características do
Moral tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as mar-
Mas duas medalhas sim
cas mais importantes da sequência textual classifica-
da como descritiva.
Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do-
hawaii/12886/. Acesso em: 30 ago. 2021.
Texto Descritivo
Essas sete marcas que definem o tipo textual nar-
rativo podem ser resumidas em marcas de organiza- O tipo textual descritivo é marcado pelas formas
ção linguística que são caracterizadas por: nominais que dominam o texto. Os gêneros que uti-
lizam esse tipo textual geralmente utilizam a sequên-
z Presença de marcadores temporais e espaciais; cia descritiva como suporte para um propósito maior.
z Verbos, predominantemente, utilizados no São exemplos de textos cujo tipo textual predominan-
passado; te é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio,
z Presença de narrador e personagens. classificados, lista de compras.
Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha,
que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito
Importante! de alguns aspectos do território que viria a ser chama-
do de Brasil.
Os gêneros textuais que são predominantemen-
te narrativos apresentam outras tipologias tex-
“Ali veríeis galantes, pintados de preto e verme-
tuais em sua composição, tendo em vista que lho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas
nenhum texto é composto exclusivamente por
LÍNGUA PORTUGUESA

pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também


uma sequência textual. Por isso, devemos sem- andavam entre eles quatro ou cinco mulheres,
pre identificar as marcas linguísticas que são pre- novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre
dominantes em um texto, a fim de classificá-lo. elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o
quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura
preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra tra-
Para sua compreensão, também é necessário saber zia ambos os joelhos com as curvas assim tintas,
o que são marcadores temporais e espaciais. São e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão
formas linguísticas como advérbios, pronomes, locu- nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que
ções etc. utilizados para demarcar um espaço físico não havia nisso desvergonha nenhuma.”
ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos,
esses elementos são essenciais para marcar o equi- Disponível em: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-
líbrio e a tensão da história, além de garantirem a de-caminha/. Acesso em: 30 ago. 2021. 13
Note que apesar da presença pontual da sequência narrativa, há predominância da descrição do cenário e dos
personagens, evidenciada pela presença de adjetivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, descobertas etc.).
A carta de Pero Vaz constitui uma espécie de relato descritivo utilizado para manter a comunicação entre a Corte
Portuguesa e os navegadores.
Considerando as emergências comunicativas do mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos usual e,
aos poucos, substituído por outros gêneros, como, por exemplo, o e-mail.
A sequência descritiva também pode se apresentar de forma esquemática em alguns gêneros, como podemos
ver no cardápio a seguir:

Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-divulgar-cardapio-e-


14 ajudar-o-pai-a-vender-na-web.ghtml. Acesso em: 30 ago. 2021.
Note que há a presença de muitos adjetivos, locu- Por isso, é preciso compreender como podemos
ções, substantivos, que buscam levar o leitor a ima- interpretar um texto mediante estratégias de leitura.
ginar o objeto descrito. O gênero mostrado apresenta Muitos pesquisadores já se debruçaram sobre o tema,
a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne que é intrigante e de grande profundidade acadêmi-
etc.) com uso de adjetivos ou locuções adjetivas (de ca; neste material, selecionamos as estratégias mais
queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele eficazes que podem contribuir para sua aprovação
está organizado de forma esquematizada em seções em seleções que avaliam a competência leitora dos
(salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a candidatos.
facilitar a leitura (o pedido, no caso) do cliente. A partir disso, apresentamos estratégias de leitura
Texto Argumentativo que focam nas formas de inferência sobre um texto.
Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre
O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais o processo de inferência, que se dá por dedução
complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificul- ou por indução. Para entender melhor, veja esse
dade na identificação, bem como em sua análise. exemplo:
O texto argumentativo tem por objetivo a defesa
de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa O marido da minha chefe parou de beber.
de uma tese e a apresentação de argumentos que
visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de tex- Observe que é possível inferir várias informa-
tos argumentativos são artigos, monografias, ensaios ções a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do
científicos e filosóficos, dentre outros.
enunciador é casada (informação comprovada pela
Outro aspecto importante dos textos argumentati-
expressão “marido”), a segunda é que o enuncia-
vos é que eles são compostos por estruturas linguís-
dor está trabalhando (informação comprovada pela
ticas conhecidas como operadores argumentativos,
que organizam as orações subordinadas, estruturas expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido
mais comuns nesse tipo textual. da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
A seguir, apresentamos um quadro sintético com pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
algumas estruturas linguísticas que funcionam como contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
operadores argumentativos e que facilitam a escrita e interpretar essas informações.
a leitura de textos argumentativos: Tratando-se de interpretação textual, os processos
de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
OPERADORES ARGUMENTATIVOS tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
É incontestável que... texto junto da articulação com as informações acessa-
Tal atitude é louvável / repudiável / notável... das pelo leitor do texto.
É mister / é fundamental / é essencial... A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
senta como ocorre a relação desses processos:
Observe o exemplo a seguir:

“O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR


tratamento das mais diversas doenças relacionadas INFERÊNCIA
ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de
INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA
longe compensam o dinheiro gasto com essas doen-
ças. Além disso, as empresas têm grandes prejuízos
por causa de afastamentos de trabalhadores devido A partir desse esquema, conseguimos visualizar
aos males causados pelo fumo. Portanto, é mis-
melhor como o processo de interpretação ocorre. Agora,
ter que sejam proibidas quaisquer propagandas de
iremos detalhar esse processo, reconhecendo as estra-
cigarros em todos os meios de comunicação.”
tégias que compõem cada maneira de inferir informa-
Disponível em: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/ ções de um texto. Por isso, vamos apresentar nos tópicos
texto-argumentativo/argumentacao.html. Acesso em: 30 ago. 2021. seguintes como usar estratégias de cunho dedutivo, indu-
Adaptado.
tivo e, ainda, como articular a isso o nosso conhecimento
Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen- de mundo na interpretação de textos.
te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor,
ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin- A indução
do a estrutura argumentativa desse tipo textual. As estratégias de interpretação que observam
métodos indutivos analisam as “pistas” que o texto
INTERPRETAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTERNA
LÍNGUA PORTUGUESA

oferece e, posteriormente, reconhecem alguma certe-


za na interpretação. Dessa forma, é fundamental bus-
Interpretar é buscar ideias, pistas do autor do tex- car uma ordem de eventos ou processos ocorridos no
to, nas linhas apresentadas. Porém, apesar de, aparen- texto e que variam conforme o tipo textual.
temente, parecer algo subjetivo, existem “regras” para Sendo assim, no tipo textual narrativo, podemos
se buscar essas pistas. identificar uma organização cronológica e espacial no
A primeira e mais importante delas é identificar a desenvolvimento das ações marcadas, por exemplo,
orientação do pensamento do autor do texto, que fica pelo uso do pretérito imperfeito; na descrição, pode-
perceptível quando identificamos como o raciocínio mos organizar as ideias do texto a partir da marcação
dele foi exposto, se de maneira mais racional, a partir de adjetivos e demais sintagmas nominais; na argu-
da análise de dados, informações com fontes confiáveis mentação, esse encadeamento de ideias fica marcado
ou se de maneira mais empirista, partindo dos efeitos, pelo uso de conjunções e elementos que expõem uma
das consequências, a fim de se identificar as causas. ideia/ponto de vista. 15
No processo interpretativo indutivo, as ideias são O processo de interpretação por estratégias de dedu-
organizadas a partir de uma especificação para uma ção envolve a articulação de três tipos de conhecimento:
generalização. Vejamos um exemplo:
z Conhecimento Linguístico;
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa z Conhecimento Textual;
espécie de animal. O que observei neles, no tempo em
z Conhecimento de Mundo.
que estive na redação do O Globo, foi o bastante para
não os amar, nem os imitar. São em geral de uma las-
timável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de O conhecimento de mundo, por tratar-se de um
receitas, só capazes de colher fatos detalhados assunto mais abrangente, será abordado mais adiante.
e impotentes para generalizar, curvados aos for- Os demais, iremos abordar detalhadamente a seguir.
tes e às ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um
infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos Conhecimento Linguístico
obsoletos e um pueril e errôneo critério de beleza.
(BARRETO, 2010, p. 21) Esse é o conhecimento basilar para compreensão
e decodificação do texto, envolve o reconhecimento
O trecho em destaque na citação do escritor Lima das formas linguísticas estabelecidas socialmente por
Barreto, em sua obra “Recordações do escrivão Isaías uma comunidade linguística, ou seja, envolve o reco-
Caminha” (1917), identifica bem como o pensamento nhecimento das regras de uma língua.
indutivo compõe a interpretação e decodificação de É importante salientar que as regras de reconhe-
um texto. Para deixar ainda mais evidente as estraté- cimento sobre o funcionamento da língua não são,
gias usadas para identificar essa forma de interpretar, necessariamente, as regras gramaticais, mas as regras
deixamos a seguir dicas de como buscar a organiza- que estabelecem, por exemplo, no caso da língua por-
ção cronológica de um texto.
tuguesa, que o feminino é marcado pela desinência -a,
que a ordem de escrita respeita o sistema sujeito-ver-
A propriedade vocabular leva bo-objeto (SVO) etc.
o cérebro a aproximar as pa- Ângela Kleiman (2016) afirma que o conhecimento
PROCURE SINÔNIMOS
lavras que têm maior asso- linguístico é aquele que “abrange desde o conhecimento
ciação com o tema do texto sobre como pronunciar português, passando pelo conhe-
Os conectivos (conjunções, cimento de vocabulário e regras da língua, chegando até
preposições, pronomes) o conhecimento sobre o uso da língua” (2016, p. 15).
ATENÇÃO AOS
são marcadores claros de Um exemplo em que a interpretação textual é preju-
CONECTIVOS
opiniões, espaços físicos e dicada pelo conhecimento linguístico é o texto a seguir:
localizadores textuais

A dedução

A leitura de um texto envolve a análise de diversos


aspectos que o autor pode colocar explicitamente ou de
maneira implícita no enunciado.
Em questões de concurso, as bancas costumam
procurar nos enunciados implícitos do texto aspectos
para abordar em suas provas.
No momento de ler um texto, o leitor articula seus
conhecimentos prévios a partir de uma informação
que julga certa, buscando uma interpretação; assim,
ocorre o processo de interpretação por dedução. Con-
forme Kleiman (2016, p. 47):

Ao formular hipóteses o leitor estará predizendo


temas, e ao testá-las ele estará depreendendo o tema;
ele estará também postulando uma possível estru-
tura textual; na predição ele estará ativando seu
conhecimento prévio, e na testagem ele estará enri-
quecendo, refinando, checando esse conhecimento.

Atente-se a essa informação, pois é uma das pri-


meiras estratégias de leitura para uma boa inter-
pretação textual: formular hipóteses, a partir da
Fonte: https://bit.ly/3kCyWoI. Acesso em: 22/09/2020.
macroestrutura textual; ou seja, antes da leitura ini-
cial, o leitor deve buscar identificar o gênero textual
ao qual o texto pertence, a fonte da leitura, o ano, Como é possível notar, o texto é uma peça publici-
entre outras informações que podem vir como “aces- tária escrita em inglês, portanto, somente os leitores
sórios” do texto e, então, formular hipóteses sobre a proficientes nessa língua serão capazes de decodificar
leitura que deverá se seguir. Uma outra dica impor- e entender o que está escrito; assim, o conhecimento
tante é ler as questões da prova antes de ler o texto, linguístico torna-se crucial para a interpretação. Essas
pois, assim, suas hipóteses já estarão agindo conforme são algumas estratégias de interpretação em que
16 um objetivo mais definido. podemos usar métodos dedutivos.
Conhecimento Textual uma hierarquia e uma conexão entre o que deseja emi-
tir. A segunda diz respeito ao intérprete do texto, como
Esse tipo de conhecimento atrela-se ao conheci- interpretar, compreender e responder corretamente às
mento linguístico e se desenvolve pela experiência questões de interpretação textual.
leitora. Quanto maior exposição a diferentes tipos de Para compreender bem um texto, é necessário
textos, melhor se dá a sua compreensão. Nesse conhe- conseguir interpretar a articulação entre as ideias
cimento, o leitor desenvolve sua habilidade porque dele. Uma leitura eficiente compreende a ideia geral
prepara sua leitura de acordo com o tipo de texto que que o texto deseja transmitir, e não somente decodifi-
ca os signos (letras) a fim de formar palavras e frases.
está lendo. Não se lê uma bula de remédio como se lê
Cada texto apresenta uma intenção e, por trás
uma receita de bolo ou um romance. Não se lê uma
dela, uma ideia principal – que pode estar implícita
reportagem como se lê um poema.
ou explícita – e algumas ideias secundárias, que dão
Em outras palavras, esse conhecimento relaciona- suporte à ideia principal. Além disso, é necessário
-se com a habilidade de reconhecer diferentes tipos de identificar a progressão das ideias ao longo do texto e
discursos, estruturas, tipos e gêneros textuais. como elas se conectam.

Conhecimento de Mundo „ Ideias Principais: Apresentam o núcleo do tex-


to, a mensagem primordial que o remetente/
O uso dos conhecimentos prévios é fundamental emissor deseja transmitir. Não há nenhum texto
para a boa interpretação textual, por isso, é sempre sem uma ideia principal, ou seja, um núcleo que
importante que o candidato a cargos públicos reserve norteia todo o restante da mensagem. Sem uma
um tempo para ampliar sua biblioteca e buscar fontes ideia principal, o texto não terá sentido e será
de informações fidedignas, para, dessa forma, aumen- incoerente. A ideia principal não precisa estar
tar seu conhecimento de mundo. explícita no texto, e necessariamente não é a pri-
meira a ser exposta, mas ela é compreendida ao
Conforme Kleiman (2016), durante a leitura, nosso
longo da leitura através de recursos linguísticos
conhecimento de mundo que é relevante para a com-
e dos sinais que o emissor coloca no texto. Ela
preensão textual é ativado; por isso, é natural ao nosso dá lógica ao texto e permite a construção deste;
cérebro associar informações, a fim de compreender „ Ideias Secundárias: Ao longo do discurso, o emis-
o novo texto que está em processo de interpretação. sor utiliza recursos e argumentos para apresen-
A esse respeito, a autora propõe o seguinte exer- tar a ideia principal; esses recursos são as ideias
cício para atestarmos a importância da ativação do secundárias. Elas são ligadas por conectores,
conhecimento de mundo em um processo de interpre- como advérbios e conjunções, e seguem uma
tação. Leia o texto a seguir e faça o que se pede: ideia lógica e sequencial ao longo do texto. Quan-
to mais ideias secundárias são apresentadas, mais
Como gemas para financiá-lo, nosso herói desa- fácil torna-se compreender a ideia principal e a
fiou valentemente todos os risos desdenhosos que intencionalidade do discurso, pois as ideias secun-
tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enga- dárias levam o leitor à ideia principal.
nam” disse ele, “um ovo e não uma mesa tipificam
corretamente esse planeta inexplorado.” Então as As ideias secundárias podem ser apresentadas por
três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de alguns meios. Entre eles, temos:
provas, abrindo caminho, às vezes através de imen-
sidões tranquilas, mas amiúde através de picos e „ Apresentação de sinônimos ou ideias sinôni-
vales turbulentos (KLEIMAN, 2016, p. 24). mas: Por meio de ideias ou palavras correlacio-
nadas, é possível reforçar a ideia principal;
Agora, tente responder às seguintes perguntas „ Antônimos: A apresentação de antônimos ou
ideias contrárias reforça no entendimento do
sobre o texto:
leitor o que não é a ideia principal e no que ela
Quem é o herói de que trata o texto?
consiste;
Quem são as três irmãs?
„ Exemplificação: Por meio de exemplos, casos
Qual é o planeta inexplorado? reais ou dados estatísticos, o leitor pode com-
Certamente, você não conseguiu responder nenhu- preender melhor do que se trata a ideia principal.
ma dessas questões, porém, ao descobrir o título des-
se texto, sua compreensão sobre essas perguntas será
afetada. O texto se chama “A descoberta da América
por Colombo”. Agora, volte ao texto, releia-o e busque SEMÂNTICA
responder às questões; certamente você não terá mais
as mesmas dificuldades. SENTIDO E EMPREGO DOS VOCÁBULOS
Ainda que o texto não tenha sido alterado, ao vol-
LÍNGUA PORTUGUESA

tar seus olhos por uma segunda vez a ele, já sabendo Denotação
do que se trata, seu cérebro ativou um conhecimen-
to prévio que é essencial para a interpretação de O sentido denotativo da linguagem compreende
questões. o significado literal da palavra independente do seu
contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais
Organização e hierarquia das ideias objetivo e literal associado ao significado que aparece
nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar
z Ideia Principal e Ideias Secundárias
ênfase à informação que se quer passar para o recep-
Em se tratando da organização das ideias em um tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por
texto, podemos seguir por duas linhas de pensamento e isso, é muito utilizada em textos informativos, como
estudo: a primeira refere-se ao produtor de um texto, a notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá-
como o emissor deve organizar suas ideias, estabelecer ticos, entre outros. 17
Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo:
chamas)
O coração é um músculo que bombeia sangue para
o corpo. (coração: parte do corpo)

Conotação

O sentido conotativo compreende o significado


figurado e depende do contexto em que está inserido.
A conotação põe em evidência os recursos estilísticos
dos quais a língua dispõe para expressar diferen-
tes sentidos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e
poética. A conotação tem como finalidade dar ênfase
à expressividade da mensagem de maneira que ela
possa provocar sentimentos ou diferentes sensações
no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe-
sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios Fonte: https://bit.ly/3kETkpl. Acesso em: 16/10/2020.
publicitários e outros.
Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”. A relação de sentido estabelecida na tirinha é
Você mora no meu coração. construída a partir dos sentidos opostos das palavras
“prende” e “solta”, marcando o uso de antônimos, nes-
O significado das palavras se contexto.

Quando escolhemos determinadas palavras ou z Homonímia


expressões dentro de um conjunto de possibilidades
de uso, estamos levando em conta o contexto que Homônimos são palavras que têm a mesma pro-
influencia e permite o estabelecimento de diferentes núncia ou grafia, porém apresentam significados dife-
relações de sentido. Essas relações podem se dar por rentes. É importante estar atento a essas palavras e a
meio de: sinonímia, antonímia, homonímia, paroní- seus dois significados. A seguir, listamos alguns homô-
mia, polissemia, hiponímia e hiperonímia. nimos importantes:

acender (colocar fogo) ascender (subir)


Importante! acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta)
Léxico: Conjunto de todas as palavras e expres- acerto (ato de acertar) asserto (afirmação)
sões de um idioma. apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido)
Vocabulário: Conjunto de palavras e expressões bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto)
que cada falante seleciona do léxico para se bucho (estômago) buxo (arbusto)
comunicar. caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito)
cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar)
sela (forma do verbo selar;
z Sinonímia cela (pequeno quarto)
arreio)
censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo)
São palavras ou expressões que, empregadas em
céptico (descrente) séptico (que causa infecção)
um determinado contexto, têm significados seme-
lhantes. É importante entender que a identidade dos cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar)
sinônimos é ocasional, ou seja, em alguns contextos cerrar (fechar) serrar (cortar)
uma palavra pode ser empregada no lugar de outra, cervo (veado) servo (criado)
o que pode não acontecer em outras situações. O chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã)
uso das palavras “chamar”, “clamar” e “bradar”, por cheque (ordem de xeque (lance no jogo de
exemplo, pode ocorrer de maneira equivocada se uti- pagamento) xadrez)
lizadas como sinônimos, uma vez que a intensidade círio (vela) sírio (natural da Síria)
de suas significações é diferente. cito (forma do verbo citar) sito (situado)
O emprego dos sinônimos é um importante recur- concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir)
so para a coesão textual, uma vez que essa estratégia concerto (sessão musical) conserto (reparo)
revela, além do domínio do vocabulário do falante, a coser (costurar) cozer (cozinhar)
capacidade que ele tem de realizar retomadas coesi-
exotérico (que se expõe em
vas, o que contribuiu para melhor fluidez na leitura esotérico (secreto)
público)
do texto.
espectador (aquele que expectador (aquele que tem
assiste) esperança, que espera)
z Antonímia esperto (perspicaz) experto (experiente, perito)
espiar (observar) expiar (pagar pena)
São palavras ou expressões que, empregadas em
espirar (soprar, exalar) expirar (terminar)
um determinado contexto, têm significados opostos.
estático (imóvel) extático (admirado)
As relações de antonímia podem ser estabelecidas em
gradações (grande/pequeno; velho/jovem); reciproci- esterno (osso do peito) externo (exterior)
dade (comprar/vender) ou complementaridade (ele é extrato (o que se extrai de
estrato (camada)
18 casado/ele é solteiro). Vejamos o exemplo a seguir: algo)
estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar) „ Em muitos países se discute sobre descrimi-
incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido) nar o uso de algumas drogas. (descriminalizar,
incipiente (principiante) insipiente (ignorante)
inocentar)
laço (nó) lasso (frouxo) Fonte: https://www.normaculta.com.br/palavras-par onimas/.
ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia) Acessado em 17/10/2020.
tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo)
tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa) Polissemia (Plurissignificação)

Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6.php. Multiplicidade de sentidos encontradas em algu-


Acessado em: 17/10/2020.
mas palavras, dependendo do contexto. As palavras
polissêmicas guardam uma relação de sentido entre
Parônimos
si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis-
semia é encontrada no exemplo a seguir:
Parônimos são palavras que apresentam sentido
diferente e forma semelhante, conforme demonstra-
mos nos exemplos a seguir:

z Absorver/absolver

„ Tentaremos absorver toda esta água com


esponjas. (sorver)
„ Após confissão, o padre absolveu todos os fiéis
Fonte: https://bit.ly/3jynvgs. Acessado em: 17/10/2020.
de seus pecados. (inocentar)
z Hipônimo e Hiperônimo
z Aferir/auferir
Relação estabelecida entre termos que guardam
„ Realizaremos uma prova para aferir seus relação de sentido entre si e mantêm uma ordem gra-
conhecimentos. (avaliar, cotejar) dativa. Exemplo: Hiperônimo – veículo; Hipônimos –
„ O empresário consegue sempre auferir lucros carro, automóvel, moto, bicicleta, ônibus...
em seus investimentos. (obter)
CAMPOS SEMÂNTICOS
z Cavaleiro/cavalheiro
Estudar os campos semânticos quer dizer enten-
„ Todos os cavaleiros que integravam a cava- der o que cada palavra significa, tanto individual-
laria do rei participaram na batalha. (homem mente quanto em um determinado contexto. Aqui,
que anda de cavalo) trataremos de contexto porque há situações nas quais
„ Meu marido é um verdadeiro cavalheiro, abre uma palavra pode ter mudança de significado pela
sempre as portas para eu passar. (homem edu- influência de outras. A semântica classifica as pala-
cado e cortês) vras em relação ao contexto e em relação ao sentido
da palavra isolada.
z Cumprimento/comprimento Podemos relacionar campos semânticos ao con-
ceito de polissemia. No entanto, não se trata da mes-
„ O comprimento do tecido que eu comprei é de ma coisa. Polissemia é quando uma mesma palavra
3,50 metros. (tamanho, grandeza) é capaz de assumir diversos significados, a depender
„ Dê meus cumprimentos a seu avô. (saudação) do contexto de uso. Podemos citar como exemplo de
palavras polissêmicas:
z Delatar/dilatar
z Banco:
„ Um dos alunos da turma delatou o colega que
chutou a porta e partiu o vidro. (denunciar) „ Local que administra recursos financeiros: On-
„ Comendo tanto assim, você vai acabar dilatan- tem, os bancos entraram em greve;
do seu estômago. (alargar, estender) „ Objeto para sentar: Os bancos da praça vão ser
trocados por modelos mais novos;
LÍNGUA PORTUGUESA

z Dirigente/diligente „ Verbo bancar no presente: Eu banco as contas


da minha família.
„ O dirigente da empresa não quis prestar decla-
rações sobre o funcionamento da mesma. (pes- z Boca:
soa que dirige, gere)
„ Minha funcionária é diligente na realização de „ Parte do corpo: Um beijo é um segredo que se
suas funções. (expedito, aplicado) diz na boca e não no ouvido. (Jean Rostand);
„ Abertura da garrafa: Quero saber onde está a
z Discriminar/descriminar tampa pra essa boca;
„ Metonímia para indicar quantidade de pessoas
„ Ela se sentiu discriminada por não poder que vão comer: Na minha casa comem seis
entrar naquele clube. (diferenciar, segregar) bocas. 19
z Folha: EMPREGO DE TEMPOS E MODOS DOS VERBOS EM
PORTUGUÊS
„ Papel: Preciso comprar uma resma de folhas;
„ Partes das árvores na natureza: No outono, a Tempos
cidade fica cheia de folhas nas ruas.
O tempo designa o recorte temporal em que a ação
z Letra: verbal foi realizada. Basicamente, podemos indicar
o tempo dessa ação no passado, presente ou futuro.
„ Caligrafia: A letra dessa menina é muito bonita!; Existem, entretanto, ramificações específicas. Observe
„ Símbolo do alfabeto: O alfabeto brasileiro so- a seguir:
freu alterações no número de letras;
„ Sequência de frases (letra de música): A letra z Presente:
dessa canção é muito profunda.
Pode expressar não apenas um fato atual, como
também uma ação habitual. Ex.: Estudo todos os dias
z Manga:
no mesmo horário.
Uma ação passada. Ex.: Vargas assume o cargo e
„ Fruta: Preciso comprar manga para a salada de instala uma ditadura.
frutas do lanche; Uma ação futura. Ex.: Amanhã, estudo mais!
„ Parte de uma roupa: Prefiro camisas de manga (equivalente a estudarei).
curta.
z Passado:
Assim, é possível estabelecer conjuntos de pala-
vras que juntas significam a mesma coisa, ou seja, „ Pretérito perfeito: Ação realizada plenamente
pertencem ao mesmo campo semântico. Isso significa no passado.
que essas palavras podem ser usadas dentro de deter-
minado contexto como sinônimos. Ex.: Estudei até ser aprovado;

„ Pretérito imperfeito: Ação inacabada, que


Importante! pode indicar uma ação frequentativa, vaga ou
É relevante destacar que o campo semântico durativa.
está sempre “aberto”, ou seja, novas palavras
podem ser incorporadas a qualquer momento a Ex.: Estudava todos os dias;
um campo semântico, desde que faça sentido a
este. „ Pretérito mais-que-perfeito: Ação anterior à
outra mais antiga.

A seguir, veremos exemplos de campos semânticos Ex.: Quando notei (passado), a água já transborda-
de algumas palavras da língua portuguesa: ra (ação anterior) da banheira.

z Brincadeira: Divertimento, distração, piada, goza- z Futuro:


ção, palhaçada, zoação;
z Breve: Rápido, curto, ligeiro, resumido, conciso, „ Futuro do presente: indica um fato que deve
abreviado, pouca duração; ser realizado em um momento vindouro.
z Cansaço: Canseira, fadiga, esgotado, pregado, lom-
beira, prostrado, exausto; Ex.: Estudarei bastante ano que vem.
z Conta: Fatura, cálculo, consideração, nota, estima-
tiva, avaliação, estima; „ Futuro do pretérito: Expressa um fato poste-
rior em relação a outro fato já passado.
z Fabricar: Construir, montar, criar, projetar, edifi-
car, confeccionar, fazer, elaborar;
Ex.: Estudaria muito, se tivesse me planejado.
z Natureza: Espécie, meio ambiente, natural, tipo,
A partir dessas informações, podemos também
temperamento, caráter, gênio;
identificar os verbos conjugados nos tempos simples
z Nota: Bilhete, dinheiro, grana, som, anotação,
e nos tempos compostos. Os tempos verbais simples
cédula, comentário; são formados por uma única palavra, ou verbo, conju-
z Partir: Sair, ir embora, dar o fora, sumir, morrer, gado no presente, passado ou futuro.
quebrar, espatifar; Já os tempos compostos são formados por dois
z Expressões relacionadas à morte: Bater as botas, verbos, um auxiliar e um principal; nesse caso, o ver-
passou dessa para melhor, não está mais entre nós, bo auxiliar é o único a sofrer flexões.
falecer, apagar, bater as botas, passar para um pla-
no superior, apagar, foi para o céu etc. Modos

Podemos concluir, portanto, que o campo semânti- Indica a atitude da ação/do sujeito frente a uma
co de determinada palavra ou expressão é um conjun- relação enunciada pelo verbo.
to de palavras que podem ser utilizadas para alcançar
o objetivo comunicativo. Essas palavras, por vezes, z Indicativo: O modo indicativo exprime atitude de
estão no nosso conhecimento prévio da língua. Utili- certeza.
zando esses conjuntos, torna-se mais simples a comu-
20 nicação cotidiana. Ex.: Estudei muito para ser aprovado.
z Subjuntivo: O modo subjuntivo exprime atitude Podemos encontrar ainda os numerais coletivos,
de dúvida, desejo ou possibilidade. isto é, designam um conjunto, porém expressam uma
quantidade exata de seres/conceitos. Veja:
Ex.: Se eu estudasse, seria aprovado.
Dúzia: conjunto de doze unidades;
z Imperativo: O modo imperativo designa ordem, Novena: período de nove dias;
convite, conselho, súplica ou pedido. Década: período de dez anos;
Século: período de cem anos;
Ex.: Estuda! Assim, serás aprovado. Bimestre: período de dois meses.

Um: numeral ou artigo?

MORFOLOGIA A forma um pode assumir na língua a função de


artigo indefinido ou de numeral cardinal; então, como
RECONHECIMENTO, EMPREGO E SENTIDO DAS podemos reconhecer cada função? É preciso observar
CLASSES GRAMATICAIS o contexto em uso. Observe:

Artigos z Durante a votação, houve um deputado que se


posicionou contra o projeto.
Os artigos devem concordar em gênero e número
com os substantivos. São, por isso, considerados deter- z Durante a votação, apenas um deputado se posi-
minantes dos substantivos. cionou contra o projeto.
Essa classe está dividida em artigos definidos e
artigos indefinidos. Os definidos funcionam como Na primeira frase, podemos substituir o termo um
determinantes objetivos, individualizando a palavra, por uma, realizando as devidas alterações sintáticas, e
já os indefinidos funcionam como determinantes o sentido será mantido, pois o que se pretende defen-
imprecisos. der é que a espécie do indivíduo que se posicionou
O artigo definido — o — e o artigo indefinido — contra o projeto é um deputado e não uma deputada,
um — variam em gênero e número, tornando-se “os, por exemplo.
a, as”, para os definidos, e “uns, uma, umas”, para os Já na segunda oração, a alteração do gênero não
indefinidos. Assim, temos: implicaria em mudanças no sentido, pois o que se
pretende indicar é que o projeto foi rejeitado por UM
z Artigos definidos: o, os; a, as; deputado, marcando a quantidade.
z Artigos indefinidos: um, uns; uma, umas. Outra forma de notarmos a diferença é ficarmos
atentos com a aparição das expressões adverbiais, o
Os artigos podem ser combinados às preposições. que sempre fará com que a palavra “um” seja numeral.
São as chamadas contrações. Algumas contrações Ainda sobre os numerais, atente-se às dicas a
comuns na língua são: seguir:

z em + a = na; z Sobre o numeral milhão/milhares, é importante


z a + o = ao;
destacar que sua forma é masculina. Logo, a con-
z a + a = à;
cordância com palavras femininas é inaceitável
z de + a = da.
pela gramática.

Dica Errado: As milhares de vacinas chegaram hoje.


Toda palavra determinada por um artigo torna- Correto: Os milhares de vacina chegaram hoje.
-se um substantivo. Ex.: o não, o porquê, o cuidar
etc. z A forma 14 por extenso apresenta duas formas
aceitas pela norma gramatical: catorze e quatorze.
Numerais
Substantivos
São palavras que se relacionam diretamente ao
substantivo, inferindo ideia de quantidade ou posi- Os substantivos classificam os seres em geral. Uma
ção. Os numerais podem ser: característica básica dessa classe é admitir um deter-
minante — artigo, pronome etc. Os substantivos fle-
xionam-se em gênero, número e grau.
LÍNGUA PORTUGUESA

z Cardinais: Indicam quantidade em si. Ex.: Dois


potes de sorvete; zero coisas a comprar; ambos os
meninos eram bons em português; Tipos de Substantivos
z Ordinais: Indicam a ordem de sucessão de uma
série. Ex.: Foi o segundo colocado do concurso; che- A classificação dos substantivos admite nove tipos
gou em último/penúltimo/antepenúltimo lugar; diferentes. São eles:
z Multiplicativos: Indicam o número de vezes pelo
qual determinada quantidade é multiplicada. Ex.: z Simples: Formados a partir de um único radical.
Ele ganha o triplo no novo emprego; Ex.: vento, escola;
z Fracionários: Indicam frações, divisões ou dimi- z Composto: Formados pelo processo de justaposi-
nuições proporcionais em quantidade. Ex.: Tomou ção. Ex.: couve-flor, aguardente;
um terço de vinho; o copo estava meio cheio; ele z Primitivo: Possibilitam a formação de um novo
recebeu metade do pagamento. substantivo. Ex.: pedra, dente; 21
z Derivado: Formados a partir dos derivados. Ex.: Atente-se ao seguinte: Em palavras com hífen,
pedreiro, dentista; pode-se optar pelo uso de maiúsculas ou minúsculas.
z Concreto: Designam seres com independência Portanto, são aceitas as formas Vice-Presidente, Vice-
ontológica, ou seja, um ser que existe por si, inde- -presidente e vice-presidente; porém, é preciso man-
pendentemente de sua conotação espiritual ou ter a mesma forma em todo o texto. Já nomes próprios
real. Ex.: Maria, gato, Deus, fada, carro; compostos por hífen devem ser escritos com as iniciais
z Abstrato: Indicam estado, sentimento, ação, qua- maiúsculas, como em Grã-Bretanha e Timor-Leste.
lidade. Os substantivos abstratos existem apenas
em função de outros seres. A feiura, por exemplo, Adjetivos
depende de uma pessoa, um substantivo concreto
a quem esteja associada. Ex.: chute, amor, cora- Os adjetivos associam-se aos substantivos, garan-
gem, liberalismo, feiura; tindo a estes um significado mais preciso. Os adjetivos
z Comum: Designam todos os seres de uma espécie. podem indicar:
Ex.: homem, cidade;
z Próprio: Designam uma determinada espécie. Ex.: z Qualidade: professor chato;
Pedro, Fortaleza; z Estado: aluno triste;
z Coletivo: Usados no singular, designam um con- z Aspecto, aparência: estrada esburacada.
junto de uma mesma espécie. Ex.: pinacoteca,
manada. Locuções Adjetivas

É importante destacar que a classificação de um As locuções adjetivas apresentam o mesmo valor


substantivo depende do contexto em que ele está inse- dos adjetivos, indicando as mesmas características
rido. Vejamos: deles.
Judas foi um apóstolo. (Judas como nome de uma Elas são formadas por preposição + substantivo,
pessoa = Próprio); referindo-se a outro substantivo ou expressão subs-
O amigo mostrou-se um judas (judas significando tantivada, atribuindo-lhe o mesmo valor adjetivo.
traidor = comum). A seguir, colocamos diferentes locuções adjeti-
vas ao lado da forma adjetiva, importantes para seu
O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas estudo:

O novo acordo ortográfico estabelece novas regras z Voo de águia / aquilino;


para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso da z Poder de aluno / discente;
inicial maiúscula. z Conselho de professores / docente;
Dessa forma, devemos usar com letra maiúscula as z Cor de chumbo / plúmbea;
inicias das palavras que designam: z Luz da lua / lunar;
z Sangue de baço / esplênico;
z Nomes, sobrenomes e apelidos de pessoas z Nervo do intestino / celíaco ou entérico;
reais ou imaginárias. Ex.: Gabriela, Silva, Xuxa, z Noite de inverno / hibernal ou invernal.
Cinderela;
z Nomes de cidades, países, estados, continentes É importante destacar que, mais do que “decorar”
etc., reais ou imaginários. Ex.: Belo Horizonte, formas adjetivas e suas respectivas locuções, é fun-
Ceará, Nárnia, Londres; damental reconhecer as principais características de
z Nomes de festividades. Ex.: Carnaval, Natal, Dia uma locução adjetiva: caracterizar o substantivo e
das Crianças; apresentar valor de posse.
z Nomes de instituições e entidades. Ex.: Embai-
xada do Brasil, Ministério das Relações Exteriores, Ex.: Viu o crime pela abertura da porta;
Gabinete da Vice-presidência, Organização das
Nações Unidas; A abertura de conta pode ser realizada on-line.
z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás Quando a locução adjetiva é composta pela prepo-
Cubas. Caso a obra apresente em seu título um sição “de”, pode ser confundida com a locução adver-
nome próprio, como no exemplo dado, este tam- bial. Nesse caso, para diferenciá-las, é importante
bém deverá ser escrito com inicial maiúscula; perceber que a locução adjetiva apresenta valor de
z Nomenclatura legislativa especificada. Ex.: Lei posse, pois, nesse caso, o meio usado pelo sujeito para
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB); ver “o crime”, indicado na frase, foi pela abertura da
z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da porta. Além disso, a locução destacada está caracteri-
Vacina, Guerra Fria, Segunda Guerra Mundial; zando o substantivo “abertura”.
z Nome dos pontos cardeais e equivalentes. Ex.: Já na segunda frase, a locução destacada é adver-
Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Sudeste, Oriente, bial, pois quem sofre a “ação” de ser aberta é a “con-
Ocidente. Importante: os pontos cardeais são gra- ta”, o que indica o valor de passividade da locução,
fados com maiúsculas apenas quando utilizados demonstrando seu caráter adverbial.
indicando uma região. Ex.: Este ano vou conhecer As locuções adjetivas também desempenham fun-
o Sul (O Sul do Brasil); quando utilizados indican- ção de adjetivo e modificam substantivos, pronomes,
do uma direção, devem ser escritos com minúscu- numerais e orações substantivas.
las. Ex.: Correu a América de norte a sul;
z Siglas, símbolos ou abreviaturas. Ex.: ONU, INSS, Ex.: Amor de mãe; Café com açúcar.
22 Unesco, Sr., S (Sul), K (Potássio). Subst. / loc. adj.
Já as locuções adverbiais desempenham função de advérbio. Modificam advérbios, verbos, adjetivos e orações
adjetivas com esses valores.

Ex.: Morreu de fome; Agiu com rapidez.


Verbo / loc. adv.

Adjetivo de Relação

No estudo dos adjetivos, é fundamental conhecer o aspecto morfológico designado como “adjetivo de relação”,
muito cobrado por bancas de concursos.
Para identificar um adjetivo de relação, observe as seguintes características:

z Seu valor é objetivo, não podendo, portanto, apresentar meios de subjetividade. Ex.: Em “Menino bonito”, o
adjetivo não é de relação, já que é subjetivo, pois a beleza do menino depende dos olhos de quem o descreve;
z Posição posterior ao substantivo: Os adjetivos de relação sempre são posicionados após o substantivo. Ex.:
Casa paterna, mapa mundial.
z Derivado do substantivo: Derivam-se do substantivo por derivação prefixal ou sufixal. Ex.: paternal — pai;
mundial — mundo;
z Não admitem variação de grau: os graus comparativo e superlativo não são admitidos. Ex.: Não pode ser
mapa “mundialíssimo” ou “pouco mundial”.

Alguns exemplos de adjetivos relativos: Presidente americano (não é subjetivo; posicionado após o substan-
tivo; derivado de substantivo; não existe a forma variada em grau “americaníssimo”); plataforma petrolífera;
economia mundial; vinho francês; roteiro carnavalesco.

Formação dos Adjetivos

Os adjetivos podem ser primitivos, derivados, simples ou compostos.

z Primitivos: Adjetivos que não derivam de outras palavras. A partir deles, é possível formar novos termos. Ex.:
útil, forte, bom, triste, mau etc.;
z Derivados: São palavras que derivam de verbos ou substantivos. Ex.: bondade, lealdade, mulherengo etc.;
z Simples: Apresentam um único radical. Ex.: português, escuro, honesto etc.;
z Compostos: Formados a partir da união de dois ou mais radicais. Ex.: verde-escuro, luso-brasileiro, amarelo-
-ouro etc.

Dica
O plural dos adjetivos simples é realizado da mesma forma que o plural dos substantivos.

Plural dos Adjetivos Compostos

O plural dos adjetivos compostos segue as seguintes regras:

z Invariável:

„ Adjetivos compostos por azul-marinho, azul-celeste, azul-ferrete;


„ Locuções formadas de cor + de + substantivo, como em cor-de-rosa, cor-de-cáqui;
„ Adjetivo + substantivo, como tapetes azul-turquesa, camisas amarelo-ouro.

z Varia o último elemento:

„ Primeiro elemento é palavra invariável, como em mal-educados, recém-formados;


LÍNGUA PORTUGUESA

„ Adjetivo + adjetivo, como em lençóis verde-claros, cabelos castanho-escuros.

Adjetivos Pátrios

Os adjetivos pátrios, também conhecidos como gentílicos, designam a naturalidade ou nacionalidade de seres
e objetos.
O sufixo -ense, geralmente, designa a origem de um ser relacionada a um estado brasileiro. Ex.: amazonense,
fluminense, cearense.
Curiosidade: O adjetivo pátrio “brasileiro” é formado com o sufixo -eiro, que é costumeiramente usado para
designar profissões. O gentílico que designa nossa nacionalidade teve origem com as pessoas que comercializa-
vam o pau-brasil; esse ofício dava-lhes a alcunha de “brasileiros”, termo que passou a indicar os nascidos em
nosso país. 23
Veja a seguir alguns dos adjetivos pátrios de nosso país:

Advérbios

Advérbios são palavras invariáveis que modificam um verbo, adjetivo ou outro advérbio. Em alguns casos, os
advérbios também podem modificar uma frase inteira, indicando circunstância.
As gramáticas da língua portuguesa apresentam listas extensas com as funções dos advérbios; porém, decorar
as funções dos advérbios, além de desgastante, pode não ter o resultado esperado na resolução de questões de
concurso.
Dessa forma, sugerimos que você fique atento às principais funções designadas aos advérbios para, a partir
delas, conseguir interpretar a função exercida nos enunciados das questões que tratem dessa classe de palavras.
Ainda assim, julgamos pertinente apresentar algumas funções basilares exercidas pelo advérbio:

z Dúvida: Talvez, caso, porventura, quiçá etc.;


z Intensidade: Bastante, bem, mais, pouco etc.;
z Lugar: Ali, aqui, atrás, lá etc.;
z Tempo: Jamais, nunca, agora etc.;
z Modo: Assim, depressa, devagar etc.

Novamente, chamamos sua atenção para a função que o advérbio deve exercer na oração. Como dissemos,
essas palavras modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio; por isso, para identificar com mais pro-
24 priedade a função denotada pelos advérbios, é preciso perguntar: Como? Onde? Por quê?
As respostas sempre irão indicar circunstâncias adverbiais expressas por advérbios, locuções adverbiais ou
orações adverbiais.
Vejamos como podemos identificar a classificação/função adequada dos advérbios:

z O homem morreu... de fome (causa) com sua família (companhia) em casa (lugar) envergonhado (modo).
z A criança comeu... demais (intensidade) ontem (tempo) com garfo e faca (instrumento) às claras (modo).

Locuções Adverbiais

Conjunto de duas ou mais palavras que pode desempenhar a função de advérbio, alterando o sentido de um
verbo, adjetivo ou advérbio.
A maioria das locuções adverbiais é formada por uma preposição e um substantivo. Há também as que são
formadas por preposição + adjetivos ou advérbios. Veja alguns exemplos:

z Preposição + substantivo: de novo. Ex.: Você poderia me explicar de novo? (de novo = novamente);
z Preposição + adjetivo: em breve. Ex.: Em breve, o filme estará em cartaz (em breve = brevemente);
z Preposição + advérbio: por ali. Ex.: Acho que ele foi por ali.

As locuções adverbiais são bem semelhantes às locuções adjetivas. É importante saber que as locuções adver-
biais apresentam um valor passivo.
Ex.: Ameaça de colapso. Nesse exemplo, o termo em negrito é uma locução adverbial, pois o valor é de passi-
vidade, ou seja, se invertemos a ordem e inserirmos um verbo na voz passiva, a frase manterá seu sentido. Veja:
Colapso foi ameaçado. Essa frase faz sentido e apresenta valor passivo, logo, sem o verbo, a locução destaca-
da anteriormente é adverbial.
Ainda sobre esse assunto, perceba que em locuções como esta: “Característica da nação”, o termo destacado
não terá o mesmo valor passivo, pois não aceitará a inserção de um verbo com essa função:
Nação foi característica*. Essa frase quebra a estrutura gramatical da língua portuguesa, que não admite voz
passiva em termos com função de posse (caso das locuções adjetivas). Isso torna tal estrutura agramatical; por
isso, inserimos um asterisco para indicar essa característica.

Dica
Locuções adverbiais apresentam valor passivo.
Locuções adjetivas apresentam valor de posse.

Com essas dicas, esperamos que você seja capaz de diferenciar essas locuções em questões. Buscamos desen-
volver seu aprendizado para que não seja preciso gastar seu tempo decorando listas de locuções adverbiais.
Lembre-se: o sentido está no texto.

Advérbios Interrogativos

Os advérbios interrogativos são, muitas vezes, confundidos com pronomes interrogativos. Para evitar essa
confusão, devemos saber que os advérbios interrogativos introduzem uma pergunta, exprimindo ideia de tempo,
modo ou causa.
Ex.: Como foi a prova?
Quando será a prova?
Onde será realizada a prova?
Por que a prova não foi realizada?
De maneira geral, as palavras como, onde, quando e por que são advérbios interrogativos, pois não substi-
tuem nenhum nome de ser (vivo), exprimindo ideia de modo, lugar, tempo e causa.

Grau do Advérbio
LÍNGUA PORTUGUESA

Assim como os adjetivos, os advérbios podem ser flexionados nos graus comparativo e superlativo.
Vejamos as principais mudanças sofridas pelos advérbios quando flexionados em grau:

NORMAL SUPERIORIDADE INFERIORIDADE IGUALDADE


Bem Melhor (mais bem*) - Tão bem

GRAU COMPARATIVO Mal Pior (mais mal*) - Tão mal


Muito Mais - -
Pouco Menos - -

Obs.: As formas “mais bem” e “mais mal” são aceitas quando acompanham o particípio verbal. 25
ABSOLUTO ABSOLUTO
NORMAL RELATIVO
SINTÉTICO ANALÍTICO
Inferioridade
Bem Otimamente Muito bem
GRAU -
SUPERLATIVO Superioridade
Mal Pessimamente Muito mal
-
Muito Muitíssimo - Superioridade: o mais
Pouco Pouquíssimo - Superioridade: o menos

Advérbios e Adjetivos

O adjetivo é uma classe de palavras variável. Porém, quando se refere a um verbo, ele fica invariável, confun-
dindo-se com o advérbio.
Nesses casos, para ter certeza de qual é a classe da palavra, basta tentar colocá-la no feminino ou no plural;
caso a palavra aceite uma dessas flexões, será adjetivo.
Ex.: O homem respondeu feliz à esposa.
Os homens responderam felizes às esposas.
Como “feliz” aceitou a flexão para o plural, trata-se de um adjetivo.
Agora, acompanhe o seguinte exemplo:
Ex.: A cerveja que desce redondo.
As cervejas que descem redondo.
Nesse caso, como a palavra continua invariável, trata-se de um advérbio.

Palavras Denotativas

São termos que apresentam semelhança com os advérbios; em alguns casos, são até classificados como tal, mas
não exercem função modificadora de verbo, adjetivo ou advérbio.
Sobre as palavras denotativas, é fundamental saber identificar o sentido a elas atribuído, pois, geralmente, é
isso que as bancas de concurso cobram.

z Eis: Sentido de designação;


z Isto é, por exemplo, ou seja: Sentido de explicação;
z Ou melhor, aliás, ou antes: Sentido de ratificação;
z Somente, só, salvo, exceto: Sentido de exclusão;
z Além disso, inclusive: Sentido de inclusão.

Além dessas expressões, há, ainda, as partículas expletivas ou de realce, geralmente formadas pela forma
ser + que (é que). A principal característica dessas palavras é que elas podem ser retiradas sem causar prejuízo
sintático ou semântico à frase.
Ex.: Eu é que faço as regras / Eu faço as regras.
Outras palavras denotativas expletivas são: lá, cá, não, é porque etc.

Algumas Observações Interessantes

z O adjunto adverbial sempre deve vir posicionado após o verbo ou complemento verbal. Caso venha deslocado,
em geral, separamos por vírgulas. Ex.: Na reunião de ontem, o pedido foi aprovado (O pedido foi aprovado
na reunião de ontem);
z Em uma sequência de advérbios terminados com o sufixo -mente, apenas o último elemento recebe a termi-
nação destacada. Ex.: A questão precisa ser pensada política e socialmente.

Pronomes

Pronomes são palavras que representam ou acompanham um termo substantivo. Dessa forma, a função dos
pronomes é substituir ou determinar uma palavra. Eles indicam pessoas, relações de posse, indefinição, quanti-
dade, localização no tempo, no espaço e no meio textual, entre outras funções.
Os pronomes exercem papel importante na análise sintática e também na interpretação textual, pois colabo-
ram para a complementação de sentido de termos essenciais da oração, além de estruturar a organização textual,
contribuindo para a coesão e também para a coerência de um texto.

Pronomes Pessoais

Os pronomes pessoais designam as pessoas do discurso. Acompanhe a tabela a seguir, com mais informações
26 sobre eles:
PESSOAS PRONOMES DO CASO RETO PRONOMES DO CASO OBLÍQUO
1ª pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2ª pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
Se, si, consigo
3ª pessoa do singular Ele/Ela
o, a, lhe
1ª pessoa do plural Nós Nos, conosco
2ª pessoa do plural Vós Vos, convosco
Se, si, consigo
3ª pessoa do plural Eles/Elas
os, as, lhes

Os pronomes pessoais do caso reto costumam substituir o sujeito.


Ex.: Pedro é bonito / Ele é bonito.
Já os pronomes pessoais oblíquos costumam funcionar como complemento verbal ou adjunto.
Ex.: Eu a vi com o namorado; Maura saiu comigo.

z Os pronomes que estarão relacionados ao objeto direto são: O, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Ex.: Informei-o
sobre todas as questões;
z Já os que se relacionam com o objeto indireto são: Lhe, lhes, (me, te, se, nos, vos – complementados por pre-
posição). Ex.: Já lhe disse tudo (disse tudo a ele).

Lembre-se de que todos os pronomes pessoais são pronomes substantivos.


Além disso, é importante saber que “eu” e “tu” não podem ser regidos por preposição e que os pronomes
“ele(s)”, “ela(s)”, “nós” e “vós” podem ser retos ou oblíquos, dependendo da função que exercem.
Os pronomes oblíquos tônicos são precedidos de preposição e costumam ter função de complemento:

z 1ª pessoa: Mim, comigo (singular); nós, conosco (plural);


z 2ª pessoa: Ti, contigo (singular); vós, convosco (plural);
z 3ª pessoa: Si, consigo (singular ou plural); ele(s), ela(s).

Não devemos usar pronomes do caso reto como objeto ou complemento verbal, como em “mate ele”. Contudo,
o gramático Celso Cunha destaca que é possível usar os pronomes do caso reto como complemento verbal, desde
que antecedidos pelos vocábulos “todos”, “só”, “apenas” ou “numeral”.
Ex.: Encontrei todos eles na festa. Encontrei apenas ela na festa.
Após a preposição “entre”, em estrutura de reciprocidade, devemos usar os pronomes oblíquos tônicos.
Ex.: Entre mim e ele não há segredos.

Pronomes de Tratamento

Os pronomes de tratamento são formas que expressam uma hierarquia social institucionalizada linguistica-
mente. As formas de pronomes de tratamento apresentam algumas peculiaridades importantes:

z Vossa: Designa a pessoa a quem se fala (relativo a 2ª pessoa). Apesar disso, os verbos relacionados a esse pro-
nome devem ser flexionados na 3ª pessoa do singular.

Ex.: Vossa Excelência deve conhecer a Constituição;

z Sua: Designa a pessoa de quem se fala (relativo a 3ª pessoa).

Ex.: Sua Excelência, o presidente do Supremo Tribunal, fará um pronunciamento hoje à noite.
Os pronomes de tratamento estabelecem uma hierarquia social na linguagem, ou seja, a partir das formas
usadas, podemos reconhecer o nível de discurso e o tipo de poder instituídos pelos falantes.
Por isso, alguns pronomes de tratamento só devem ser utilizados em contextos cujos interlocutores sejam
LÍNGUA PORTUGUESA

reconhecidos socialmente por suas funções, como juízes, reis, clérigos, entre outras.
Dessa forma, apresentamos alguns pronomes de tratamento, seguidos de sua abreviatura e das funções sociais
que designam:

z Vossa Alteza (V. A.): Príncipes, duques, arquiduques e seus respectivos femininos;
z Vossa Eminência (V. Ema.): Cardeais;
z Vossa Excelência (V. Exa.): Autoridades do governo e das Forças Armadas membros do alto escalão;
z Vossa Majestade (V. M.): Reis, imperadores e seus respectivos femininos;
z Vossa Reverendíssima (V. Rev. Ma.): Sacerdotes;
z Vossa Senhoria (V. Sa.): Funcionários públicos graduados, oficiais até o posto de coronel, tratamento cerimo-
nioso a comerciantes importantes;
z Vossa Santidade (V. S.): Papa;
z Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Revma.): Bispos. 27
Os exemplos apresentados fazem referência a pro- z Bastante (adjetivo): Será variável e equivalente
nomes de tratamento e suas respectivas designações ao termo “suficiente”.
sociais, conforme indica o Manual de Redação oficial
da Presidência da República. Portanto, essas designa- Ex.: A comida e a bebida não foram bastantes para
ções devem ser seguidas com atenção quando o gêne- a festa.
ro textual abordado for um gênero oficial.
Ainda sobre o assunto, veja algumas observações: z Bastante (pronome indefinido): Concorda com
o substantivo, indicando grande, porém incerta,
z Sobre o uso das abreviaturas das formas de tra- quantidade de algo.
tamento é importante destacar que o plural de
Ex.: Bastantes bancos aumentaram os juros.
algumas abreviaturas é feito com letras dobradas,
como: V. M. / VV. MM.; V. A. / VV. AA. Porém, na Pronomes Demonstrativos
maioria das abreviaturas terminadas com a letra
a, o plural é feito com o acréscimo do s: V. Exa. / V. Os pronomes demonstrativos indicam a posição e
Exas.; V. Ema. / V.Emas.; apontam elementos a que se referem as pessoas do
z O tratamento adequado a Juízes de Direito é Meri- discurso (1ª, 2ª e 3ª). Essa posição pode ser designa-
tíssimo Juiz; da por eles no tempo, no espaço físico ou no espaço
z O tratamento dispensado ao Presidente da Repú- textual.
blica nunca deve ser abreviado.
z 1ª pessoa: Este, estes / Esta, estas;
Pronomes Indefinidos z 2ª pessoa: Esse, esses / Essa, essas;
z 3ª pessoa: Aquele, aqueles / Aquela, aquelas;
Os pronomes indefinidos indicam quantidade de z Invariáveis: Isto, isso, aquilo.
maneira vaga e sempre devem ser utilizados na 3ª
pessoa do discurso. Os pronomes indefinidos podem Usamos este, esta, isto para indicar:
variar e podem ser invariáveis. Observe a seguinte
tabela: z Referência ao espaço físico, indicando a proximi-
dade de algo ao falante.
PRONOMES INDEFINIDOS1
Ex.: Esta caneta aqui é minha. Entreguei-lhe isto
Variáveis Invariáveis
como prova.
Algum, alguma, alguns, algumas Alguém
z Referência ao tempo presente.
Nenhum, nenhuma, nenhuns, Ninguém
nenhumas
Ex.: Esta semana começarei a dieta. Neste mês,
Todo, toda, todos, todas Quem pagarei a última prestação da casa.
Outro, outra, outros, outras Outrem
z Referência ao espaço textual.
Muito, muita, muitos, muitas Algo
Pouco, pouca, poucos, poucas Tudo Ex.: Encontrei Joana e Carla no shopping; esta pro-
curava um presente para o marido (o pronome refere-
Certo, certa, certos, certas Nada
-se ao último termo mencionado).
Vários, várias Cada Este artigo científico pretende analisar... (o prono-
Quanto, quanta, quantos, quantas Que me “este” refere-se ao próprio texto).
Tanto, tanta, tantos, tantas Usamos esse, essa, isso para indicar:
Qualquer, quaisquer z Referência ao espaço físico, indicando o afasta-
Qual, quais mento de algo de quem fala.
Um, uma, uns, umas
Ex.: Essa sua gravata combinou muito com você.

As palavras certo e bastante serão pronomes z Indicar distância que se deseja manter.
indefinidos quando vierem antes do substantivo, e
serão adjetivos quando vierem depois. Ex.: Não me fale mais nisso. A população não con-
Ex.: Busco certo modelo de carro (pronome fia nesses políticos.
indefinido).
z Referência ao tempo passado.
Busco o modelo de carro certo (adjetivo).
A palavra bastante frequentemente gera dúvida Ex.: Nessa semana, eu estava doente. Esses dias
quanto a ser advérbio, adjetivo ou pronome indefini- estive em São Paulo.
do. Por isso, atente-se ao seguinte:
z Referência a algo já mencionado no texto/ na fala.
z Bastante (advérbio): Será invariável e equivalen-
te ao termo “muito”. Ex.: Continuo sem entender o porquê de você ter
falado sobre isso. Sinto uma energia negativa nessa
Ex.: Elas são bastante famosas. expressão utilizada.
1  Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/pronomes-indefinidos-e-interrogativos-nenhum-outro-qualquer-quem-
28 quanto-qual.htm>. Acesso em: 14 jul. de 2020.
Usamos aquele, aquela, aquilo para indicar: z Emprego do relativo quanto: Seu antecedente
deve ser um pronome indefinido ou demonstrati-
z Referência ao espaço físico, indicando afastamen- vo; pode sofrer flexões.
to de quem fala e de quem ouve.
Ex.: Esqueci-me de tudo quanto foi me ensinado.
Ex.: Margarete, quem é aquele ali perto da porta? Perdi tudo quanto poupei a vida inteira.

z Referência a um tempo muito remoto, um passa- z Emprego do relativo cujo: Deve ser empregado
do muito distante. para indicar posse e aparecer relacionando dois
termos que devem ser um possuidor e uma coisa
Ex.: Naquele tempo, podíamos dormir com as por- possuída.
tas abertas. Bons tempos aqueles!
Ex.: A matéria cuja aula faltei foi Língua portugue-
z Referência a um afastamento afetivo. sa — o relativo cuja está ligando aula (possuidor) à
matéria (coisa possuída).
Ex.: Não conheço mais aquela mulher. O relativo cujo deve concordar em gênero e núme-
ro com a coisa possuída.
z Referência ao espaço textual, indicando o pri- Jamais devemos inserir um artigo após o pronome
meiro termo de uma relação expositiva. cujo: Cujo o, cuja a
Não podemos substituir cujo por outro pronome
Ex.: Saí para lanchar com Ana e Beatriz. Esta prefe- relativo.
riu beber chá; aquela, refrigerante. O pronome relativo cujo pode ser preposicionado.
Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri.
Dica Para encontrar o possuidor, faça-se a seguinte per-
gunta: “de quem/do que?”
O pronome “mesmo” não pode ser usado em fun- Ex.: Vi o filme cujo diretor ganhou o Óscar (Diretor
ção demonstrativa referencial. Veja: do que? Do filme).
Errado: O candidato fez a prova, porém o mesmo Vi o rapaz cujas pernas você se referiu (Pernas de
esqueceu de preencher o gabarito. quem? Do rapaz).
Correto: O candidato fez a prova, porém esque-
ceu de preencher o gabarito. z Emprego do pronome relativo onde: Empregado
para indicar locais físicos.
Pronomes Relativos
Ex.: Conheci a cidade onde meu pai nasceu.
Uma das classes de pronomes mais complexas, os Em alguns casos, pode ser preposicionado, assu-
pronomes relativos têm função muito importante na mindo as formas aonde e donde.
língua, refletida em assuntos de grande relevância Ex.: Irei aonde você for.
em concursos, como a análise sintática. Dessa forma, O relativo “onde” pode ser empregado sem
é essencial conhecer adequadamente a função desses antecedente.
elementos, a fim de saber utilizá-los corretamente. Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém.
Os pronomes relativos referem-se a um substantivo
ou a um pronome substantivo mencionado anterior- z Emprego de o qual: O pronome relativo “o qual”
mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio- e suas variações (os quais, a qual, as quais) é usa-
nado anteriormente) chamamos de antecedente. do em substituição a outros pronomes relativos,
São pronomes relativos: sobretudo o “que”, a fim de evitar fenômenos lin-
guísticos, como o “queísmo”.
z Variáveis: O qual, os quais, cujo, cujos, quanto,
quantos / A qual, as quais, cuja, cujas, quanta, Ex.: O Brasil tem um passado do qual (que) nin-
quantas; guém se lembra.
z Invariáveis: Que, quem, onde, como. O pronome “o qual” pode auxiliar na compreensão
z Emprego do pronome relativo que: Pode ser asso- textual, desfazendo estruturas ambíguas.
ciado a pessoas, coisas ou objetos.
Pronomes Interrogativos
Ex.: Encontrei o homem que desapareceu. O
cachorro que estava doente morreu. A caneta que São utilizados para introduzir uma pergunta ao
LÍNGUA PORTUGUESA

emprestei nunca recebi de volta. texto.


Em alguns casos, há a omissão do antecedente do Apresentam-se de formas variáveis (Que? Quais?
relativo “que”. Quanto? Quantos?) e invariáveis (Que? Quem?).
Ex.: Não teve que dizer (não teve nada que dizer). Ex.: O que é aquilo? Quem é ela? Qual sua idade?
Quantos anos tem seu pai?
z Emprego do relativo quem: Seu antecedente deve O ponto de interrogação só é usado nas interroga-
ser uma pessoa ou objeto personificado. tivas diretas. Nas indiretas, aparece apenas a intenção
interrogativa, indicada por verbos como perguntar,
Ex.: Fomos nós quem fizemos o bolo. indagar etc. Ex.: Indaguei quem era ela.
O pronome relativo quem pode fazer referência a Atenção: Os pronomes interrogativos que e quem
algo subentendido: Quem cala consente (aquele que são pronomes substantivos, pois substituem os subs-
cala). tantivos, dando fluidez à leitura. 29
Ex.: O tempo, que estava instável, não permitiu a realização da atividade (O tempo não permitiu a realização
da atividade. O tempo estava instável).2

Pronomes Possessivos

Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do discurso e indicam posse. Observe a tabela a seguir:

1ª pessoa Meu, minha / meus, minhas


SINGULAR 2ª pessoa Teu, tua / teus, tuas
3ª pessoa Seu, sua / seus, suas
1ª pessoa Nosso, nossa / nossos, nossas
PLURAL 2ª pessoa Vosso, vossa / vossos, vossas
3ª pessoa Seu, sua / seus, suas

Os pronomes pessoais oblíquos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos) também podem atribuir valor possessivo a uma
coisa.
Ex.: Apertou-lhe a mão (a sua mão). Ainda que o pronome esteja ligado ao verbo pelo hífen, a relação do pro-
nome é com o objeto da posse.
Outras funções dos pronomes possessivos:

z Delimitam o substantivo a que se referem;


z Concordam com o substantivo que vem depois dele;
z Não concordam com o referente;
z O pronome possessivo que acompanha o substantivo exerce função sintática de adjunto adnominal.

Verbos

Os verbos são classificados quanto a sua forma de conjugação e podem ser divididos em: regulares, irregula-
res, anômalos, abundantes, defectivos, pronominais, reflexivos, impessoais e auxiliares, além das formas nomi-
nais. Vamos conhecer as particularidades de cada um a seguir:

z Regulares: Os verbos regulares são os mais fáceis de compreender, pois apresentam regularidade no uso das
desinências, ou seja, das terminações verbais. Da mesma forma, os verbos regulares mantêm o paradigma
morfológico com o radical, que permanece inalterado. Ex.: Verbo cantar:

PRESENTE — INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO — INDICATIVO


Eu canto Cantei
Tu cantas Cantaste
Ele/ você canta Cantou
Nós cantamos Cantamos
Vós cantais Cantastes
Eles/ vocês cantam Cantaram

z Irregulares: Os verbos irregulares apresentam alteração no radical e nas desinências verbais. Por isso, rece-
bem esse nome, pois sua conjugação ocorre irregularmente, seguindo um paradigma próprio para cada grupo
verbal.

Perceba a seguir como ocorre uma sutil diferença na conjugação do verbo estar, que utilizamos como exem-
plo. Isso é importante para não confundir os verbos irregulares com os verbos anômalos. Ex.: Verbo estar:

PRESENTE — INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO — INDICATIVO


Eu estou Estive
Tu estás Estiveste
Ele/ você está Esteve
Nós estamos Estivemos
Vós estais Estivestes
Eles/ vocês estão Estiveram

30 2  Exemplo disponível em: https://www.todamateria.com.br/pronomes-substantivos/. Acesso em: 30. jul. 2021.


z Anômalos: Esses verbos apresentam profundas alterações no radical e nas desinências verbais, consideradas
anomalias morfológicas; por isso, recebem essa classificação. Um exemplo bem usual de verbo dessa categoria
é o verbo “ser”. Na língua portuguesa, apenas dois verbos são classificados dessa forma: os verbos ser e ir.

Vejamos a conjugação o verbo “ser”:

PRESENTE — INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO — INDICATIVO


Eu sou Fui
Tu és Foste
Ele / você é Foi
Nós somos Fomos
Vós sois Fostes
Eles / vocês são Foram

Os verbos ser e ir são irregulares, porém, apresentam uma forma específica de irregularidade que ocasiona
uma anomalia em sua conjugação. Por isso, são classificados como anômalos.

z Abundantes: São formas verbais abundantes os verbos que apresentam mais de uma forma de particípio acei-
tas pela norma culta gramatical. Geralmente, apresentam uma forma de particípio regular e outra irregular.
Vejamos alguns verbos abundantes:

INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR


Absolver Absolvido Absolto
Abstrair Abstraído Abstrato
Aceitar Aceitado Aceito
Benzer Benzido Bento
Cobrir Cobrido Coberto
Completar Completado Completo
Confundir Confundido Confuso
Demitir Demitido Demisso
Despertar Despertado Desperto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Encher Enchido Cheio
Entregar Entregado Entregue
Morrer Morrido Morto
Expelir Expelido Expulso
Enxugar Enxugado Enxuto
Findar Findado Findo
Fritar Fritado Frito
Ganhar Ganhado Ganho
Gastar Gastado Gasto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
LÍNGUA PORTUGUESA

Isentar Isentado Isento


Juntar Juntado Junto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Omitir Omitido Omisso
Pagar Pagado Pago
Prender Prendido Preso
Romper Rompido Roto
Salvar Salvado Salvo 31
INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR
Secar Secado Seco
Submergir Submergido Submerso
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Torcer Torcido Torto

INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR


Aceitar Eu já tinha aceitado o convite. O convite foi aceito.
Entregar Aviso quando tiver entregado a encomenda. Está entregue!
Morrer Havia morrido há dias. Quando chegou, encontrou o animal morto.
Expelir A bala foi expelida por aquela arma. Esta é a bala expulsa.
Enxugar Tinha enxugado a louça quando o programa começou. A roupa está enxuta.
Findar Depois de ter findado o trabalho, descansou. Trabalho findo!
Imprimir Se tivesse imprimido tínhamos como provar. Onde está o documento impresso?
Limpar Eu tinha limpado a casa. Que casa tão limpa!
Omitir Dados importantes tinham sido omitidos por ela. Informações estavam omissas.
Submergir Após ter submergido os legumes, reparou no amigo. Deixe os legumes submersos por alguns minutos.
Suspender Nunca tinha suspendido ninguém. Você está suspenso!

z Defectivos: São verbos que não apresentam algumas pessoas conjugadas em suas formas, gerando um “defei-
to” na conjugação (por isso, o nome). Alguns exemplos de defectivos são os verbos colorir, precaver, reaver etc.

Esses verbos não são conjugados na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, bem como: aturdir,
exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder, fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colorir, carpir, banir,
brandir, bramir, soer.
Verbos que expressam onomatopeias ou fenômenos temporais também apresentam essa característica, como
latir, bramir, chover.

z Pronominais: Esses verbos apresentam um pronome oblíquo átono integrando sua forma verbal. É importan-
te lembrar que esses pronomes não apresentam função sintática. Predominantemente, os verbos pronominas
apresentam transitividade indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se.

PRESENTE — INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO — INDICATIVO


Eu me sento Sentei-me
Tu te sentas Sentaste-te
Ele/ você se senta Sentou-se
Nós nos sentamos Sentamo-nos
Vós vos sentais Sentastes-vos
Eles/ vocês se sentam Sentaram-se

z Reflexivos: Verbos que apresentam pronome oblíquo átono reflexivo, funcionando sintaticamente como obje-
to direto ou indireto. Nesses verbos, o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao mesmo tempo. Ex.: Ela se veste
mal. Nós nos cumprimentamos friamente.
z Impessoais: Verbos que designam fenômenos da natureza, como chover, trovejar, nevar etc.

O verbo haver, com sentido de existir ou marcando tempo decorrido, também será impessoal. Ex.: Havia mui-
tos candidatos e poucas vagas. Há dois anos, fui aprovado em concurso público.
Os verbos ser e estar também são verbos impessoais quando designam fenômeno climático ou tempo. Ex.:
Está muito quente! / Era tarde quando chegamos.
O verbo ser para indicar hora, distância ou data concorda com esses elementos.
O verbo fazer também poderá ser impessoal, quando indicar tempo decorrido ou tempo climático. Ex.: Faz
anos que estudo pintura. Aqui faz muito calor.
Os verbos impessoais não apresentam sujeito; sintaticamente, classifica-se como sujeito inexistente.
O verbo ser será impessoal quando o espaço sintático ocupado pelo sujeito não estiver preenchido: “Já é
natal”. Segue o mesmo paradigma do verbo fazer, podendo ser impessoal, também, o verbo ir: “Vai uns bons anos
32 que não vejo Mariana”.
z Auxiliares: Os verbos auxiliares são empregados z Recíproca: O sujeito é agente e paciente ao mes-
nas formas compostas dos verbos e também nas mo tempo, porém há uma ação compartilhada
locuções verbais. Os principais verbos auxiliares entre dois indivíduos. A ação pode ser comparti-
dos tempos compostos são ter e haver. lhada entre dois ou mais indivíduos que praticam
e sofrem a ação.
Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a
concordância verbal; porém, o verbo principal deter- Ex.: Os bandidos se olharam antes do julga-
mina a regência estabelecida na oração. mento. / Apesar do ódio mútuo, os candidatos se
Apresentam forte carga semântica que indica cumprimentaram.
modo e aspecto da oração. São importantes na forma- A voz passiva é realizada a partir da troca de fun-
ção da voz passiva analítica. ções entre sujeito e objeto da voz ativa. Só podemos
transformar uma frase da voz ativa para a voz passiva
z Formas Nominais: Na língua portuguesa, usamos se o verbo for transitivo direto ou transitivo direto e
três formas nominais dos verbos: indireto. Logo, só há voz passiva com a presença do
objeto direto.
„ Gerúndio: Terminação -ndo. Apresenta valor
durativo da ação e equivale a um advérbio ou Importante! Não confunda os verbos pronomi-
nais com as vozes verbais. Os verbos pronominais
adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando.
que indicam sentimentos, como arrepender-se, quei-
„ Particípio: Terminações -ado, -ido, -do, -to, -go,
xar-se, dignar-se, entre outros, acompanham um
-so. Apresenta valor adjetivo e pode ser classi-
pronome que faz parte integrante do seu significado,
ficado em particípio regular e irregular, sendo diferentemente das vozes verbais, que acompanham
as formas regulares finalizadas em -ado e -ido. o pronome “se” com função sintática própria.
A norma culta gramatical recomenda o uso do par- Outras Funções do “se”
ticípio regular com os verbos “ter” e “haver”. Já com
os verbos “ser” e “estar”, recomenda-se o uso do par- Como vimos, o “se” pode funcionar como item
ticípio irregular. essencial na voz passiva. Além dessa função, esse ele-
Ex.: Os policiais haviam expulsado os bandidos / mento também acumula outras atribuições:
Os traficantes foram expulsos pelos policiais.
z Partícula apassivadora: A voz passiva sintética
„ Infinitivo: Marca as conjugações verbais. é feita com verbos transitivos direto (TD) ou tran-
sitivos direto indireto (TDI). Nessa voz, incluímos
AR: Verbos que compõem a 1ª conjugação (Amar, o “se” junto ao verbo, por isso, o elemento “se” é
passear); designado partícula apassivadora, nesse contexto.
ER: Verbos que compõem a 2ª conjugação (Comer,
pôr); Ex.: Busca-se a felicidade (voz passiva sintética) —
IR: Verbos que compõem a 3ª conjugação (Partir, “Se” (partícula apassivadora).
O “se” exercerá essa função apenas:
sair).
„ Com verbos cuja transitividade seja TD ou TDI;
Dica „ Com verbos que concordam com o sujeito;
O verbo “pôr” corresponde à segunda conjuga- „ Com a voz passiva sintética.
ção, pois origina-se do verbo “poer”. Atenção: Na voz passiva nunca haverá objeto dire-
O mesmo acontece com verbos que que deste to (OD), pois ele se transforma em sujeito paciente.
derivam.
z Índice de indeterminação do sujeito: O “se” fun-
Vozes Verbais cionará nessa condição quando não for possível
identificar o sujeito explícito ou subentendido.
As vozes verbais definem o papel do sujeito na Além disso, não podemos confundir essa função
oração, demonstrando se o sujeito é o agente da ação do “se” com a de apassivador, já que, para ser índi-
verbal ou se ele recebe a ação verbal. Dividem-se em: ce de indeterminação do sujeito, a oração precisa
estar na voz ativa.
z Ativa: O sujeito é o agente, praticando a ação Outra importante característica do “se” como índi-
verbal. ce de indeterminação do sujeito é que isso ocorre em
verbos transitivos indiretos, verbos intransitivos ou
Ex.: O policial deteve os bandidos. verbos de ligação. Além disso, o verbo sempre deverá
estar na 3ª pessoa do singular.
LÍNGUA PORTUGUESA

z Passiva: O sujeito é paciente, ou seja, sofre a ação Ex.: Acredita-se em Deus.


verbal.
z Pronome reflexivo: Na função de pronome refle-
Ex.: Os bandidos foram detidos pelo policial — xivo, a partícula “se” indicará reflexão ou reci-
passiva analítica; procidade, auxiliando a construção dessas vozes
verbais, respectivamente. Nessa função, suas prin-
Detiveram-se os criminosos — passiva sintética.
cipais características são:
z Reflexiva: O sujeito é agente e paciente ao mes- „ Sujeito recebe e pratica a ação;
mo tempo, pois pratica e recebe a ação verbal. „ Funcionará, sintaticamente, como objeto direto
ou indireto;
Ex.: Os bandidos se entregaram à polícia. / O „ O sujeito da frase poderá estar explícito ou
menino se agrediu. implícito. 33
Ex.: Ele se via no espelho (explícito). Deu-se um Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral-
presente de aniversário (implícito). mente são irregulares e apresentam alguma modifi-
cação no radical ou nas desinências. Acompanhe a
z Parte integrante do verbo: Nesses casos, o “se” conjugação do verbo “passear”:
será parte integrante dos verbos pronominais,
acompanhando-o em todas as suas flexões. Quan- PRESENTE — INDICATIVO
do o “se” exerce essa função, jamais terá uma fun- Eu Passeio
ção sintática. Além disso, o sujeito da frase poderá Tu Passeias
estar explícito ou implícito.
Ele/Você Passeia
Ex.: (Ele/a) Lembrou-se da mãe, quando olhou a Nós Passeamos
filha. Vós Passeais
Eles/Vocês Passeiam
z Partícula de realce: Será partícula de realce o
“se” que puder ser retirado do contexto sem pre-
juízo no sentido e na compreensão global do texto. Conjugação de Alguns Verbos
A partícula de realce não exerce função sintática,
pois é desnecessária. Vamos agora conhecer algumas conjugações de
verbos irregulares importantes, que sempre são obje-
Ex.: Vão-se os anéis, ficam-se os dedos. to de questões em concursos.
Observe o verbo “aderir” no presente do indicativo:
z Conjunção: O “se” será conjunção condicional
PRESENTE — INDICATIVO
quando sugerir a ideia de condição. A conjunção
“se” exerce função de conjunção integrante, ape- Eu Adiro
nas ligando as orações, e poderá ser substituído Tu Aderes
pela conjunção “caso”.
Ele/Você Adere
Ex.: Se ele estudar, será aprovado. (Caso ele estu- Nós Aderimos
dar, será aprovado). Vós Aderis
Eles/Vocês Aderem
Conjugação de Verbos Derivados

Verbo derivado é aquele que deriva de um ver- A seguir, acompanhe a conjugação do verbo “por”.
São conjugados da mesma forma os verbos dispor,
bo primitivo; para trabalhar a conjugação desses
interpor, sobrepor, compor, opor, repor, transpor,
verbos, é importante ter clara a conjugação de seus entrepor, supor.
“originários”.
Atente-se à lista de verbos irregulares e de algu- PRESENTE — INDICATIVO
mas de suas derivações a seguir, pois são assuntos
relevantes em provas diversas: Eu Ponho
Tu Pões
z Pôr: Repor, propor, supor, depor, compor, expor; Ele/Você Põe
z Ter: Manter, conter, reter, deter, obter, abster-se;
Nós Pomos
z Ver: Antever, rever, prever;
z Vir: Intervir, provir, convir, advir, sobrevir. Vós Pondes
Eles/Vocês Põem
Vamos conhecer agora alguns verbos cuja conjuga-
ção apresenta paradigma derivado, auxiliando a com-
Preposições
preensão dessas conjugações verbais.
O verbo criar é conjugado da mesma forma que os São palavras invariáveis que ligam orações ou
verbos “variar”, “copiar”, “expiar” e todos os demais outras palavras. As preposições apresentam funções
que terminam em -iar. Os verbos com essa termina- importantes tanto no aspecto semântico quanto no
ção são, predominantemente, regulares. aspecto sintático, pois complementam o sentido de
verbos e/ou palavras cujo sentido pode ser alterado
PRESENTE — INDICATIVO sem a presença da preposição, modificando a transiti-
vidade verbal e colaborando para o preenchimento de
Eu Crio
sentido de palavras deverbais3.
Tu Crias As preposições essenciais são: a, ante, até, após,
Ele/Você Cria com, contra, de, desde, em, entre, para, per, peran-
te, por, sem, sob, trás.
Nós Criamos Existem, ainda, as preposições acidentais, assim
Vós Criais chamadas pois pertencem a outras classes grama-
ticais, mas funcionam, ocasionalmente, como pre-
Eles/Vocês criam posições. Eis algumas: afora, conforme (quando
3  Palavras deverbais são substantivos que expressam, de forma nominal e abstrata, o sentido de um verbo com o qual mantêm relação.
Exemplo: a filmagem, o pagamento, a falência etc. Geralmente, os nomes deverbais são acompanhados por preposições e, sintaticamente, o
34 termo que completa o sentido desses nomes é conhecido como complemento nominal.
equivaler a “de acordo com”), consoante, durante, “Desde”
exceto, salvo, segundo, senão, mediante, que, visto
(quando equivaler a “por causa de”). z Distância: Dormiu desde o acampamento até aqui;
Acompanhe a seguir algumas preposições e exem- z Tempo: Desde ontem ele não aparece.
plos de uso em diferentes situações:
“Em”
“A”
z Preço: Avaliou a propriedade em milhares de
z Causa ou motivo: Acordar aos gritos das crianças; dólares;
z Conformidade: Escrever ao modo clássico; z Meio: Pagou a dívida em cheque;
z Destino (em correlação com a preposição de): De z Limitação: Aquele aluno em Química nunca foi
Santos à Bahia; bom;
z Meio: Voltarei a andar a cavalo; z Forma ou semelhança: As crianças juntaram as
z Preço: Vendemos o armário a R$ 300,00;
mãos em concha;
z Direção: Levantar as mãos aos céus;
z Transformação ou alteração: Transformou dóla-
z Distância: Cair a poucos metros da namorada;
res em reais;
z Exposição: Ficar ao sol por um longo tempo;
z Lugar: Ir a Santa Catarina; z Estado ou qualidade: Foto em preto e branco;
z Modo: Falar aos gritos; z Fim: Pedir em casamento;
z Sucessão: Dia a dia; z Lugar: Ficou muito tempo em Sorocaba;
z Tempo: Nasci a três de maio; z Modo: Escrever em francês;
z Proximidade: Estar à janela. z Sucessão: De grão em grão;
z Tempo: O fogo destruiu o edifício em minutos;
“Após” z Especialidade: João formou-se em Engenharia.
z Lugar: Permaneça na fila após o décimo lugar; “Entre”
z Tempo: Logo após o almoço descansamos.
z Lugar: Ele ficou entre os aprovados;
“Com” z Meio social: Entre as elites, este é o comportamento;
z Causa: Ficar pobre com a inflação; z Reciprocidade: Entre mim e ele sempre houve
z Companhia: Ir ao cinema com os amigos; discórdia.
z Concessão: Com mais de 80 anos, ainda tem pla-
“Para”
nos para o futuro;
z Instrumento: Abrir a porta com a chave; z Consequência: Você deve ser muito esperto para
z Matéria: Vinho se faz com uva;
não cair em armadilhas;
z Modo: Andar com elegância;
z Fim ou finalidade: Chegou cedo para a conferência;
z Referência: Com sua irmã aconteceu diferente;
z Lugar: Em 2011, ele foi para Portugal;
comigo sempre é assim.
z Proporção: As baleias estão para os peixes assim
“Contra” como nós estamos para as galinhas;
z Referência: Para mim, ela está mentindo;
z Oposição: Jogar contra a seleção brasileira; z Tempo: Para o ano irei à praia;
z Direção: Olhar contra o sol; z Destino ou direção: Olhe para frente!
z Proximidade ou contiguidade: Apertou o filho
contra o peito. “Perante”
“De” z Lugar: Ele negou o crime perante o júri.
z Causa: Chorar de saudade; “Por”
z Assunto: Falar de religião;
z Matéria: Material feito de plástico; z Modo ou conformidade: Vamos escolher por
z Conteúdo: Maço de cigarro; sorteio;
z Origem: Você descende de família humilde; z Causa: Encontrar alguém por coincidência;
z Posse: Este é o carro de João; z Conformidade: Copiar por original;
z Autoria: Esta música é de Chopin; z Favor: Lutar por seus ideais;
z Tempo: Ela dorme de dia;
LÍNGUA PORTUGUESA

z Medida: Vendia banana por quilo;


z Lugar: Veio de São Paulo;
z Meio: Ir por terra;
z Definição: Pessoa de coragem;
z Modo: Saber por alto o que ocorreu;
z Dimensão: Sala de vinte metros quadrados;
z Fim ou finalidade: Carro de passeio; z Preço: Comprar um livro por vinte reais;
z Instrumento: Comer de garfo e faca; z Quantidade: Chocar por três vezes;
z Meio: Viver de ilusões; z Substituição: Comprar gato por lebre;
z Medida ou extensão: Régua de 30 cm; z Tempo: Viver por muitos anos.
z Modo: Olhar alguém de frente;
z Preço: Caderno de 10 reais; “Sem”
z Qualidade: Vender artigo de primeira;
z Semelhança ou comparação: Atitudes de pessoa z Ausência ou desacompanhamento: Estava sem
corajosa. dinheiro. 35
“Sob” Combinações e Contrações

z Tempo: Houve muito progresso no Brasil sob D. As preposições podem se ligar a outras palavras de
Pedro II; outras classes gramaticais por meio de dois processos:
z Lugar: Ficar sob o viaduto; combinação e contração.
z Modo: Saiu da reunião sob pretexto não
convincente. Combinação: Quando se ligam sem sofrer nenhu-
ma redução.
“Sobre” a + o = ao
a + os = aos
z Assunto: Não gosto de falar sobre política;
z Direção: Ir sobre o adversário; Contração: Quando, ao se ligarem, sofrem
z Lugar: Cair sobre o inimigo. redução.

Locuções Prepositivas Veja a lista a seguir5, que apresenta as preposições


que se contraem e suas devidas formas:
São grupos de palavras que equivalem a uma
preposição. z Preposição “a”:
Ex.: Falei sobre o tema da prova. (preposição) /
Falei acerca do tema da prova. (locução prepositiva) „ Com o artigo definido ou pronome demonstra-
A locução prepositiva na segunda frase substitui tivo feminino:
perfeitamente a preposição “sobre”. As locuções pre-
positivas sempre terminam em uma preposição (há a + a= à
apenas uma exceção: a locução prepositiva com senti-
a + as= às
do concessivo “não obstante”).
Veja alguns exemplos:
„ Com o pronome demonstrativo:
z Apesar de. Ex.: Apesar de terem sumido, volta-
a + aquele = àquele
ram logo.
a + aqueles = àqueles
z A respeito de. Ex.: Nossa reunião foi a respeito
a + aquela = àquela
de finanças.
a + aquelas = àquelas
z Graças a. Ex.: Graças ao bom Deus, não aconteceu
nada grave. a + aquilo = àquilo
z De acordo com. Ex.: De acordo com W. Hamboldt,
a língua é indispensável para que possamos pen- z Preposição “de”:
sar, mesmo que estivéssemos sempre sozinhos.
z Por causa de. Ex.: Por causa de poucos pontos, „ Com artigo definido masculino e feminino:
não passei no exame.
z Para com. Ex.: Minha mãe me ensinou ter respeito de + o/os = do/dos
para com os mais velhos. de + a/as = da/das
z Por baixo de. Ex.: Por baixo do vestido, ela usa
um short. „ Com artigo indefinido:

Outros exemplos de locuções prepositivas: de + um= dum


Abaixo de; acerca de; acima de; devido a; a despeito de + uns = duns
de; adiante de; defronte de; embaixo de; em frente de; de + uma = duma
junto de; perto de; por entre; por trás de; quanto a; a de + umas = dumas
fim de; por meio de; em virtude de.
„ Com pronome demonstrativo:

Importante! de + este(s)= deste, destes


Algumas locuções prepositivas apresentam de + esta(s)= desta, destas
semelhanças morfológicas, mas significa- de + isto= disto
dos completamente diferentes. Observe estes de + esse(s) = desse, desses
exemplos4: de + essa(s)= dessa, dessas
A opinião dos diretores vai ao encontro do plane- de + isso = disso
jamento inicial = Concordância. de + aquele(s) = daquele, daqueles
As decisões do público foram de encontro à pro- de + aquela(s) = daquela, daquelas
posta do programa = Discordância. de + aquilo= daquilo
Em vez de comer lanches gordurosos, coma fru-
tas = Substituição. „ Com o pronome pessoal:
Ao invés de chegar molhado, chegou cedo =
Oposição. de + ele(s) = dele, deles
de + ela(s) = dela, delas
4  Disponível em: instagram.com/academiadotexto. Acesso em: 20 nov. 2020.
36 5  Disponível em: <https://www.preparaenem.com/portugues/combinacao-contracao-das-preposicoes.htm>. Acesso em: 20 nov. 2020.
„ Com o pronome indefinido: Ex.: Concordo com o advogado (preposição exigida
pela regência do verbo concordar).
de + outro(s)= doutro, doutros Tenho medo da queda (preposição exigida pelo
de + outra(s) = doutra, doutras complemento nominal).
Estou desconfiado do funcionário (preposição exi-
„ Com advérbio: gida pelo adjetivo).
Fui favorável à eleição (preposição exigida pelo
de + aqui= daqui advérbio).
de + aí= daí Em todos esses casos, a preposição mantém uma
de + ali= dali relação sintática com a classe de palavras a qual se
liga, sendo, portanto, obrigatória a sua presença na
z Preposição “em”: sentença.
De modo oposto, as preposições cujo valor nocio-
„ Com artigo definido: nal é preponderante apresentam uma modificação
no sentido da palavra à qual se liga. Elas não são
componentes obrigatórios na construção da senten-
em + a(s)= na, nas
ça, divergindo das preposições de valor relacional.
em + o(s)= no, nos
As preposições de valor nocional estabelecem uma
noção de posse, causa, instrumento, matéria, modo
„ Com pronome demonstrativo:
etc. Vejamos algumas na tabela a seguir:
em + esse(s)= nesse, nesses VALOR NOCIONAL DAS
em + essa(s)= nessa, nessas SENTIDO
PREPOSIÇÕES
em + isso = nisso
Posse Carro de Marcelo
em + este(s) = neste, nestes
em + esta(s) = nesta, nestas Lugar O cachorro está sob a mesa
em + isto = nisto Votar em branco / Chegar aos
Modo
em + aquele(s) = naquele, naqueles gritos
em + aquela(s) = naquelas Causa Preso por agressão
em + aquilo = naquilo Assunto Falar sobre política
Origem Descende de família simples
„ Com pronome pessoal:
Olhe para frente! / Iremos a
Destino
em + ele(s) = nele, neles Paris
em + ela(s) = nela, nelas
CONJUNÇÕES
z Preposição “per”:
Assim como as preposições, as conjunções também
„ Com as formas antigas do artigo definido (lo, são invariáveis e também auxiliam na organização
la): das orações, ligando termos e, em alguns casos, ora-
ções. Por manterem relação direta com a organização
per + lo(s) = pelo, pelos das orações nas sentenças, as conjunções podem ser
per + la(s) = pela, pelas coordenativas ou subordinativas.

z Preposição “para” (pra): Conjunções Coordenativas

„ Com artigo definido: As conjunções coordenativas são aquelas que


ligam orações coordenadas, ou seja, orações que não
para (pra) + o(s) = pro, pros fazem parte de uma outra; em alguns casos, ainda,
para (pra) + a(s)= pra, pras essas conjunções ligam núcleos de um mesmo termo
da oração. As conjunções coordenadas podem ser:
Algumas Relações Semânticas Estabelecidas por
Preposições z Aditivas: Somam informações. E, nem, bem como,
não só, mas também, não apenas, como ainda,
senão (após não só).
Antes de entrarmos neste assunto, vale relembrar
LÍNGUA PORTUGUESA

o que significa Semântica. Semântica é a área do


Ex.: Não fiz os exercícios nem revisei.
conhecimento que relaciona o significado da palavra
ao seu contexto.
O gato era o preferido, não só da filha, senão de
É importante ressaltar que as preposições podem toda família.
apresentar valor relacional ou podem atribuir um
valor nocional. z Adversativa: Colocam informações em oposição,
As preposições que apresentam um valor rela- contradição. Mas, porém, contudo, todavia, entre-
cional cumprem uma relação sintática com verbos tanto, não obstante, senão (equivalente a mas).
ou substantivos, que, em alguns casos, são chamados
deverbais, conforme já mencionamos. Essa mesma Ex.: Não tenho um filho, mas dois.
relação sintática pode ocorrer com adjetivos e advér- A culpa não foi a população, senão dos vereadores
bios, os quais também apresentarão função deverbal. (equivale a “mas sim”). 37
Importante: A conjunção “e” pode apresentar z Conformativa: Expressam a conformidade de
valor adversativo, principalmente quando é antecedi- uma ideia com a da oração principal. Conforme,
da por vírgula: Estava querendo dormir, e o barulho como, segundo, de acordo com, consoante etc.
não deixava.
Ex.: Tudo ocorreu conforme o planejado.
z Alternativas: Ligam orações com ideias que não Amanhã chove, segundo informa a previsão do
acontecem simultaneamente, que se excluem. Ou, tempo.
ou...ou, quer...quer, seja...seja, ora...ora, já...já.
z Concessiva: Iniciam uma oração com uma ideia
Ex.: Estude ou vá para a festa. contrária à da oração principal. Embora, conquanto,
Seja por bem, seja por mal, vou convencê-la. ainda que, mesmo que, em que pese, posto que etc.
Importante: A palavra “senão” pode funcionar
como conjunção alternativa: Saia agora, senão cha- Ex.: Teve que aceitar a crítica, conquanto não tives-
marei os guardas! (pode-se trocá-la por “ou”). se gostado.
Trabalhava, por mais que a perna doesse.
z Explicativas: Ligam orações, de forma que em
uma delas explica-se o que a outra afirma. Que, por- z Condicional: Iniciam uma oração com ideia de
que, pois, (se vier no início da oração), porquanto. hipótese, condição. Se, caso, desde que, contanto
que, a menos que, somente se etc.
Ex.: Estude, porque a caneta é mais leve que a
enxada! Ex.: Se eu quisesse falar com você, teria respondido
Viva bem, pois isso é o mais importante. sua mensagem.
Importante: “Pois” com sentido explicativo ini- Posso lhe ajudar, caso necessite.
cia uma oração e justifica outra. Ex.: Volte, pois sinto
z Proporcional: Ideia de proporcionalidade. À pro-
saudades.
porção que, à medida que, quanto mais...mais,
“Pois” conclusivo fica após o verbo, deslocado
quanto menos...menos etc.
entre vírgulas: Nessa instabilidade, o dólar voltará,
pois, a subir. Ex.: Quanto mais estudo, mais chances tenho de
ser aprovado.
z Conclusiva: Ligam duas ideias, de forma que a
Ia aprendendo, à medida que convivia com ela.
segunda conclui o que foi dito na primeira. Logo,
portanto, então, por isso, assim, por conseguinte, z Final: Expressam ideia de finalidade. Final, para
destarte, pois (deslocado na frase). que, a fim de que etc.
Ex.: Estava despreparado, por isso, não fui Ex.: A professora dá exemplos para que você aprenda!
aprovado. Comprou um computador a fim de que pudesse
Está na hora da decolagem; deve, então, apressar-se. trabalhar tranquilamente.

Dica z Temporal: Iniciam a oração expressando ideia de


tempo. Quando, enquanto, assim que, até que, mal,
As conjunções “e”, “nem” não devem ser empre- logo que, desde que etc.
gadas juntas (“e nem”). Tendo em vista que
ambas indicam a mesma relação aditiva, o uso Ex.: Quando viajei para Fortaleza, estive na Praia
concomitante acarreta em redundância. do Futuro.
Mal cheguei à cidade, fui assaltado.
Conjunções Subordinativas

Tal qual as conjunções coordenativas, as subor- Importante!


dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias
Os valores semânticos das conjunções não se
apresentadas em um texto. Porém, diferentemente
prendem às formas morfológicas desses elemen-
daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações
tos. O valor das conjunções é construído contex-
subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra
para terem o sentido apreendido.
tualmente, por isso, é fundamental estar atento
aos sentidos estabelecidos no texto.
z Causal: Iniciam a oração dando ideia de causa. Ex.: Se Mariana gosta de você, por que você não a
Haja vista, que, porque, pois, porquanto, visto que, procura? (Se = causal = já que)
uma vez que, como (equivale a porque) etc. Por que ficar preso na cidade, quando existe tanto
ar puro no campo? (Quando = causal = já que).
Ex.: Como não choveu, a represa secou.

z Consecutiva: Iniciam a oração expressando ideia


Conjunções Integrantes
de consequência. Que (depois de tal, tanto, tão), de
modo que, de forma que, de sorte que etc. As conjunções integrantes fazem parte das orações
subordinadas; na realidade, elas apenas integram uma
Ex.: Estudei tanto que fiquei com dor de cabeça.
oração principal à outra, subordinada. Existem apenas
z Comparativa: Iniciam orações comparando ações dois tipos de conjunções integrantes: “que” e “se”.
e, em geral, o verbo fica subtendido. Como, que
nem, que (depois de mais, menos, melhor, pior, z Quando é possível substituir o “que” pelo pronome
maior), tanto... quanto etc. “isso”, estamos diante de uma conjunção integrante.

Ex.: Corria como um touro. Ex.: Quero que a prova esteja fácil. (Quero. O quê?
38 Ela dança tanto quanto Carlos. Isso).
z Sempre haverá conjunção integrante em orações � Radical;
substantivas e, consequentemente, em períodos z Desinência;
compostos. z Vogal temática;
z Afixos;
Ex.: Perguntei se ele estava em casa. (Perguntei. O z Consoantes e vogais de ligação.
quê? Isso).
O radical, também chamado de semantema, é o
z Nunca devemos inserir uma vírgula entre um ver- núcleo da palavra. Trata-se, portanto, de um elemento
bo e uma conjunção integrante. formador fixo, ao qual se anexam os demais morfe-
mas, criando-se, assim, as palavras derivadas (tema
Ex.: Sabe-se, que o Brasil é um país desigual que será abordado mais adiante).
(errado). Ainda, vale mencionar que o radical é também
Sabe-se que o Brasil é um país desigual (certo). conhecido como morfema lexical, uma vez que ele
revela a significação dos vocábulos, isto é, designa a
Interjeições
natureza lexical.
As interjeições também fazem parte do grupo de
palavras invariáveis, tal como as preposições e as z Radical é o elemento básico, que carrega o signi-
conjunções. Sua função é expressar estado de espíri- ficado das palavras. Trata-se de uma “peça” fixa
to e emoções; por isso, apresentam forte conotação independentemente das possíveis variações da
palavra;
semântica. Uma interjeição sozinha pode equivaler a
z Morfema é o menor elemento significativo da
uma frase. Ex.: Tchau!
palavra; corresponde às partes constituintes de
As interjeições indicam relações de sentido diversas.
um vocábulo.
A seguir, apresentamos um quadro com os sentimentos
e sensações mais expressos pelo uso de interjeições:
As palavras dispostas a seguir apresentam realce
VALOR SEMÂNTICO INTERJEIÇÃO em seu radical. Analise-as, buscando reconhecer as
características já estudadas relativas a esse elemento.
Advertência Cuidado! Devagar! Calma!
Alívio Arre! Ufa! Ah! z Pastel — pastelaria — pasteleiro;
z Pedra — pedreiro — pedregulho;
Alegria/Satisfação Eba! Oba! Viva!
z Terra — aterrado — enterrado — terreiro.
Desejo Oh! Tomara! Oxalá!
Repulsa Irra! Fora! Abaixo! Atenção! As palavras da mesma família etimoló-
gica, ou seja, que apresentam o mesmo radical e, por
Dor/Tristeza Ai! Ui! Que pena! isso, guardam o mesmo valor semântico são conheci-
Espanto Oh! Ah! Opa! Putz! das como cognatas.
Saudação Salve! Viva! Adeus! Tchau!
Afixos ou Morfemas Derivacionais
Medo Credo! Cruzes! Uh! Oh!
Os afixos ou morfemas derivacionais são estrutu-
É salutar lembrar que o sentido exato de cada ras morfológicas que se anexam ao radical das pala-
interjeição só poderá ser apreendido diante do con- vras, desempenhando, pois, um papel fundamental
texto. Por isso, em questões que abordem essa classe no processo de formação de novos vocábulos. Ainda,
de palavras, o candidato deve reler o trecho em que a vale notar que algumas bancas organizadoras deno-
interjeição aparece, a fim de se certificar do sentido minam tais elementos de infixos.
expresso no texto. Na língua portuguesa, os afixos são de duas cate-
Isso acontece pois qualquer expressão exclamati- gorias. Vejamos:
va que expresse sentimento ou emoção pode funcio-
nar como uma interjeição. Lembre-se dos palavrões, z Prefixos: afixos que são anexados na parte ante-
por exemplo, que são interjeições por excelência, mas rior do radical
que, dependendo do contexto, podem ter seu sentido
alterado. „ Exemplos:
Antes de concluirmos, é importante ressaltar o
papel das locuções interjetivas, conjunto de palavras In-: infeliz
que funciona como uma interjeição, como: Meu Deus! Anti-: antipatia
Ora bolas! Valha-me Deus! Pos-: posterior
LÍNGUA PORTUGUESA

Bis-: bisavô
PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS Contra-: contradizer

As palavras são compostas por estruturas que z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste-
constituem formas básicas de sentido. Há, pois, uma rior do radical
vasta gama de combinações possíveis. Essas estrutu-
ras, ao se unirem, são capazes de modificar e criar „ Exemplos:
novos sentidos aos enunciados em contextos diversos.
Imagine que uma palavra é como uma peça de um -mente: Felizmente
quebra-cabeça, a que podemos unir outras peças para -dade: Lealdade
formar uma estrutura maior. Neste sentido, pode-se -eiro: Blogueiro
afirmar que as peças que formam as palavras da lín- -ista: Dentista
gua portuguesa possuem os seguintes nomes: -gudo: Narigudo 39
É importante destacar que essa pequena amostra, „ Exemplos:
objetivando explicitar alguns sufixos e prefixos da lín-
gua portuguesa, é meramente ilustrativa e serve ape- Amar – 1ª conjugação
nas para que você tenha consciência do quão rico é Comer – 2ª conjugação
o processo de formação de palavras por afixos. Além Partir – 3ª conjugação
disso, não é interessante que você decore esses morfe-
mas derivacionais, mas, sim, que compreenda o valor
Importante!
semântico que cada um deles estabelece na língua.
Como exemplo, podem-se citar os sufixos -eiro e � Não ocorre vogal temática em palavras que
-ista, que são usados, a depender do contexto, para apresentam flexão de gênero. Por exemplo, as
criar uma relação com o ambiente profissional de vogais finais o e a das palavras gato e gata, res-
alguma área, como nas palavras padeiro, costureiro, pectivamente, constituem desinências e, não,
blogueiro, dentista, escafandrista, equilibrista, entre vogais temáticas;
outras. � As palavras terminadas em vogais tônicas não
apresentam vogais temáticas (ex.: cajá, Pelé,
Desinências ou Morfemas Flexionais bobó, café, cupuaçu, filó etc.).

Os morfemas flexionais, mais conhecidos como Tema


desinências, são morfemas acrescentados ao final
das palavras, para indicar suas flexões. Deste modo, O tema é a união do radical com a vogal temática.
são elementos que marcam, por exemplo, as relações Vejamos alguns exemplos, a fim de melhor compreen-
de gênero (feminino e masculino) e de número (sin- der esse conceito
gular e plural), bem como os tempos e conjugações Vendesse – vend (radical) + -e (vogal temática) =
verbais. vende (tema)
Podem ser de dois tipos: Mares – mar (radical) + -e (vogal temática) = mare
(tema)
Cumpre destacar novamente a questão de que nem
z Desinência verbal: indica as flexões de pessoa,
toda palavra nominal apresenta vogal temática. Desta
número, modo e tempos verbais
forma, as palavras nominais que não apresentam essa
vogal em sua estrutura também não possuem tema.
„ Exemplo:
Vogais e Consoantes de Ligação
Eu como / Tu comes / Ele come (flexão de pessoa
e tempo) As vogais e consoantes de ligação possuem função
eufônica, ou seja, são elementos relacionados à Fono-
z Desinência nominal: indica as flexões de gênero, logia do idioma e servem para facilitar a pronúncia de
número e grau das palavras nominais palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais
de ligação e as vogais temáticas: estas unem as desi-
„ Exemplos: nências ao radical e aquelas facilitam a pronúncia.

Menino / Menina (flexão de gênero) „ Exemplos:


Garoto / Garotos (flexão de número)
Gas + -ô + -metro
Pe + -z + -inho
Vogal Temática
Cafe + -t + -eira
Pau + -l + -ada
A vogal temática é o morfema responsável por ligar Cha + -l + -eira
o radical às desinências, a fim de formar palavras. Na Inset + -i + -cida
língua portuguesa, ela favorece o reconhecimento das Pobre + -t + -ão
classes gramaticais nominal e verbal. Assim, existem Paris + -i + -ense
as vogais temáticas nominais e verbais. Vejamos: Gira + -s + -sol

� Vogais temáticas nominais: são as vogais a, e e o Após compreender como as palavras se estruturam,
átonas das palavras nominais pode-se avançar para o estudo relativo aos processos
de formação das palavras. Tais processos se referem
„ Exemplos: à maneira da qual os morfemas se organizam, a fim
de formarem as palavras. Conforme mencionado ante-
riormente, há diversas possibilidades de organização
Leite: leit + -e
de morfemas, algo que se tornará mais nítido para você
Casa: cas + -a
a partir do conteúdo disposto neste tópico.
Amor: am + -o + -r
Processos de Derivação
z Vogais temáticas verbais: são as vogais a, e, e i,
que marcam as conjugações verbais, isto é, indi- Por meio dos processos de derivação, formam-se
cam se determinado verbo pertence a 1ª, a 2ª ou a novas palavras, as quais são denominadas de pala-
40 3ª conjugação. vras derivadas.
„ Exemplos:
Importante!
infelizmente (prefixo in- / sufixo -mente)
Não confunda palavras primitivas com palavras
deslealdade (prefixo des- / sufixo -dade)
derivadas. Vejamos alguns exemplos: ultrapassagem (prefixo ultra- / sufixo -agem)
Água (palavra primitiva) — aguaceiro, aguado, reconsideração (prefixo -re / sufixo -ção)
aguador (palavras derivadas);
Bicicleta (palavra primitiva) — bicicletaria, bici- Obs.: Ao retirar um dos afixos da palavra reconsi-
cletário (palavras derivadas); deração, por exemplo, tem-se “consideração” e “recon-
Flor (palavra primitiva) — floricultura, florista siderar” (a consoante final -r indica desinência verbal
(palavras derivadas); — modo infinitivo impessoal). Tais palavras possuem
Pedra (palavra primitiva) — pedreiro, pedraria, significado no idioma.
pedregulho (palavras derivadas).
z Derivação Parassintética

Tais processos podem ser classificados a partir de Na derivação parassintética, há um acréscimo


seis categorias, quais sejam: simultâneo de prefixos e sufixos a uma estrutura
primitiva de forma dependente, isto é, esses afixos
z Prefixal ou prefixação; devem ser usados ao mesmo tempo, pois sem um
z Sufixal ou sufixação; deles a palavra não se reveste de significado.
Para não confundir o processo de derivação paras-
z Prefixal e sufixal;
sintética com o processo de derivação prefixal e sufi-
z Parassintética ou parassíntese;
xal, basta retirar um dos afixos da palavra em análise.
z Regressiva;
Se, ao fazer isso, a palavra perder o sentido, está-se
z Imprópria ou conversão. diante de um vocábulo formado a partir do processo
de derivação parassintética.
A seguir, estudaremos cada uma dessas classes,
buscando identificar suas peculiaridades e as diferen- „ Exemplos:
ças existentes entre elas.
Anoitecer: prefixo a- + radical noit + sufixo -ecer
z Derivação Prefixal Emagrecer: prefixo e- + radical magr + sufixo -ecer

Como o próprio nome indica, as palavras forma- Obs.: Ao retirar um dos afixos da palavra ema-
das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci- grecer, por exemplo, tem-se “emagr” e “magrecer”,
mo de um prefixo à estrutura primitiva. ambas sem significado na língua portuguesa.

„ Exemplos: z Derivação Regressiva

Pré-vestibular (prefixo pré-) Na derivação regressiva, uma nova palavra é for-


Disposição (prefixo dis-) mada pela subtração de um elemento da estrutura
Deslealdade (prefixo des-) primitiva da palavra.
Super-homem (prefixo super-)
Infeliz (prefixo in-) „ Exemplo:
Refazer (prefixo re-)
Ataque
z Derivação Sufixal
Conforme se observa, trata-se de uma palavra
A formação de palavras por derivação sufixal derivada de atacar (atac + a + -r). Note a subtração de
refere-se ao acréscimo de um sufixo à estrutura parte da estrutura primitiva.
primitiva.
z Derivação Imprópria
„ Exemplos:
A derivação imprópria ocorre pela simples con-
versão da classe gramatical de determinada palavra.
Lealdade (sufixo -dade)
Isso significa dizer que uma mesma palavra pode fun-
Francesa (sufixo -esa) cionar de maneiras diferentes a depender do contexto
Belíssimo (sufixo -íssimo) em que foi inserida.
LÍNGUA PORTUGUESA

Inquietude (sufixo -tude)


Sofrimento (sufixo -mento) „ Exemplo:
Harmonizar (sufixo -izar)
Gentileza (sufixo -eza) O almoço estava na mesa quando cheguei.
Lotação (sufixo -ção) (substantivo)
Assessoria (sufixo -ria) Eu almoço todos os dias no restaurante do bairro.
(verbo)
z Derivação Prefixal e Sufixal
Pequena Listagem de Afixos
Neste caso, juntam-se à palavra primitiva tanto um
sufixo quanto um prefixo de forma independente, ou Nas tabelas a seguir, foram apresentados alguns
seja, mesmo sem a presença de um desses afixos, a afixos (prefixos e sufixos) utilizados em nosso idio-
palavra continua tendo significado. ma. Cumpre salientar que essas listas não devem ser 41
encaradas como uma “tabuada” a ser decorada, mas „ Exemplos: Couve-flor, guarda-sol, criado-mudo etc.
como um método para visualizar e entender melhor
os processos inerentes à formação de palavras. Já as palavras derivadas são aquelas que provêm
de uma palavra primitiva. Nesse caso, um mesmo
PREFIXO EXEMPLO radical forma uma ou mais palavras.
ante- anteontem
bi-/bis - bicampeão/bisavô
„ Exemplo:

contra- contracapa
Morte (palavra primitiva) — morto, mortífero,
de- decair mortal, imortal, mortuário (palavras derivadas).
extra- extraconjugal
A partir das palavras primitivas, o falante pode
in-/im- infiltrar/imigrar
anexar afixos (sufixos e prefixos), formando as pala-
pre-/pré- prever/pré-eleitoral vras derivadas, assim chamadas, pois derivam de um
re- renascer dos seis processos derivacionais. Já as palavras com-
trans- transdisciplinar postas guardam sua independência semântica e orto-
gráfica, unindo-se a outras palavras para a formação
sub-/so- sublingual/soterrar de um novo sentido.
A seguir, separamos uma lista com alguns exem-
plos de palavras compostas. É importante conhecê-las,
SUFIXO EXEMPLO
mas não se preocupe em decorá-las. Tente identificar
-ada papelada os dois radicais presentes nas palavras. Vejamos:
-aria/-eria carpintaria/cafeteria
-eiro/-eira cabeleireiro/laranjeira Amor-perfeito Cavalo-marinho Roda-viva
Arco-íris Guarda-roupa Passatempo
-dade umidade
Beija-flor Peixe-espada Pontapé
-ez/-eza estupidez/fraqueza Bem-me-quer Fim de semana Vaivém
-dor/-tor/-sor vendedor/tradutor/professor Cachorro-quente Sala de jantar Varapau
-mento instrumento Segunda-feira Decreto-lei Cão de guarda
Arco-íris Café com leite Cor de vinho
-ino cristalino
-oso venenoso
MECANISMOS DE FLEXÃO DOS NOMES E VERBOS
-inho(a)/-zinho(a) sapatinho/casinha
Flexão de Gênero nos Substantivos
Processos de Composição
Os gêneros do substantivo são masculino e
Pelos processos de composição, forma-se uma feminino.
nova palavra a partir da junção de dois ou mais radi- Porém, alguns deles admitem apenas uma forma
cais. Essa nova palavra, por sua vez, estabelece um para os dois gêneros. São, por isso, chamados de uni-
sentido novo na língua, uma vez que, nesse processo, formes. Os substantivos uniformes podem ser:
há a junção de duas palavras que já existem para a
formação de um novo termo com um novo sentido.
z Comuns-de-dois-gêneros: Designam seres huma-
A formação de palavras por composição pode
nos e sua diferença é marcada pelo artigo. Ex.: O
ocorrer de duas formas. Vejamos:
pianista / a pianista; O gerente / a gerente; O clien-
te / a cliente; O líder / a líder;
z Composição por justaposição: os radicais, ao se
z Epicenos: Designam geralmente animais que
unirem, não sofrem alterações.
apresentam distinção entre masculino e feminino,
mas a diferença é marcada pelo uso do adjetivo
„ Exemplos: pé de moleque, dia a dia, faz de con-
ta, navio-escola, malmequer, guarda-chuva, macho ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea;
girassol, passatempo, pé de galinha etc. onça macho / onça fêmea; gambá macho / gambá
fêmea; girafa macho / girafa fêmea;
z Composição por aglutinação: ao se unirem, um z Sobrecomuns: Designam seres de forma geral e
dos radicais sofre alteração. não são distinguidos por artigo ou adjetivo; o gêne-
ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.:
„ Exemplos: petróleo (petra + óleo); aguardente A criança; O monstro; A testemunha; O indivíduo.
(água + ardente); vinagre (vinho + agre); você
(vossa + mercê); planalto (plano + alto); embora Já os substantivos biformes designam os substan-
(em + boa + hora) etc. tivos que apresentam duas formas para os gêneros
masculino ou feminino. Ex.: professor/professora.
Palavras Compostas e Derivadas Destacamos que alguns substantivos apresentam
formas diferentes nas terminações para designar for-
Recapitulando o conteúdo estudado até aqui, cabe- mas diferentes no masculino e no feminino:
-nos distinguir os conceitos de palavras compostas e Ex.: Ator/atriz; Ateu/ ateia; Réu/ré.
palavras derivadas. Outros substantivos modificam o radical para
As palavras compostas são aquelas que possuem designar formas diferentes no masculino e no femini-
mais de um radical, podendo ou não ser separadas no. Estes são chamados de substantivos heteroformes:
42 por hífen. Ex.: Pai/mãe; Boi/vaca; Genro/nora.
Gênero e Significação dos Substantivos z Variam os dois elementos:

Alguns substantivos uniformes podem aparecer Substantivo + substantivo. Ex.: mestre-sala / mes-
com marcação de gênero diferente, ocasionando uma tres -salas;
modificação no sentido. Veja, por exemplo: Substantivo + adjetivo. Ex.: guarda-noturno / guar-
das -noturnos;
z A testemunha: Pessoa que presenciou um crime; Adjetivo + substantivo. Ex.: boas-vindas;
z O testemunho: Relato de experiência, associado a Numeral + substantivo. Ex.: terça-feira / terças
religiões. -feiras.

Algumas formas substantivas mantêm o radical e z Varia apenas um elemento:


a pequena alteração no gênero do artigo interfere no
significado: Substantivo + preposição + substantivo. Ex.:
canas-de-açúcar;
z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo; Substantivo + substantivo com função adjetiva.
z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais; Ex.: navios-escola.
z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão. Palavra invariável + palavra invariável. Ex.:
abaixo-assinados.
Além disso, algumas palavras na língua causam Verbo + substantivo. Ex.: guarda-roupas.
dificuldade na identificação do gênero, pois são usa- Redução + substantivo. Ex.: bel-prazeres.
das em contextos informais com gêneros diferentes. Destacamos, ainda, que os substantivos compostos
Alguns exemplos são: a alface; a cal; a derme; a libido; formados por
a gênese; a omoplata / o guaraná; o formicida; o tele- verbo + advérbio
fonema; o trema. verbo + substantivo plural
Algumas formas que não apresentam, necessaria- ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os saca-rolha.
mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no
masculino quanto no feminino: O personagem / a per- Variação de Grau nos Substantivos
sonagem; O laringe / a laringe; O xerox / a xerox.
A flexão de grau dos substantivos exprime a varia-
Flexão de Número nos Substantivos ção de tamanho dos seres, indicando um aumento ou
uma diminuição.
Os substantivos flexionam-se em número, de
maneira geral, pelo acréscimo do morfema -s. Ex.: z Grau aumentativo: Quando o acréscimo de sufi-
Casa / casas. xos aos substantivos indicar um aumento de
Porém, podem apresentar outras terminações: tamanho.
males, reais, animais, projéteis etc.
Ex.: bocarra, homenzarrão, gatarrão, cabeçorra,
Geralmente, devemos acrescentar -es ao singular
fogaréu, boqueirão, poetastro;
das formas terminadas em R ou Z, como: flor / flores;
paz / pazes. Porém, há exceções, como a palavra mal, z Grau diminutivo: Exprime, ao contrário do
terminada em L e que tem como plural “males”. aumentativo, a diminuição do tamanho/proporção
Já os substantivos terminados em AL, EL, OL, UL do ser.
fazem plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral /
corais; papel / papéis; anzol / anzóis. Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta,
Entretanto, também há exceções. Ex.: a forma pequenina, papelucho.
mel apresenta duas formas de plural aceitas: meles
e méis. Dica
Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem O emprego do grau aumentativo ou diminutivo
plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es. dos substantivos pode alterar o sentido das pala-
Ex.: capelães, capitães, escrivães.
vras, podendo assumir um valor:
Contudo, há substantivos que admitem até três
Afetivo: filhinha / mãezona;
formas de plural, como os seguintes:
Pejorativo: mulherzinha / porcalhão.
z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães; Variação de Grau nos Adjetivos
LÍNGUA PORTUGUESA

z Ancião: anciãos, anciões, anciães;


z Vilão: vilãos, vilões, vilães. O adjetivo pode variar em dois graus: compara-
tivo ou superlativo. Cada um deles apresenta suas
Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas respectivas categorias.
que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão /
z Grau comparativo: Exprime a característica de
órgãos; órfão / órfãos.
um ser, comparando-o com outro da mesma classe
nos seguintes sentidos:
Plural dos Substantivos Compostos
„ Igualdade: Compara elementos colocando-os
Os substantivos compostos são aqueles formados em um mesmo patamar. Igual a, como, tanto
por justaposição. O plural dessas formas obedece às quanto, tão quanto. Ex.: Somos tão complexos
seguintes regras: quanto simplórios; 43
„ Superioridade: Compara, evidenciando um elemento como superior ao outro. Mais do que, melhor do que.
Ex.: O amor é mais suficiente do que o dinheiro;
„ Inferioridade: Compara, evidenciando um elemento como inferior ao outro. Menos do que, pior do que.
Ex.: Homens são menos engajados do que mulheres.

z Grau superlativo: Em relação ao grau superlativo, é importante considerar que o valor semântico desse grau
apresenta variações, podendo indicar:

„ Característica de um ser elevada ao último grau: Superlativo absoluto, que pode ser analítico (associado
ao advérbio) ou sintético (associação de prefixo ou sufixo ao adjetivo).

Ex.: O candidato é muito humilde (Superlativo absoluto analítico).


O candidato é humílimo (Superlativo absoluto sintético);

„ Característica de um ser relacionada com outros indivíduos da mesma classe: Superlativo relativo,
que pode ser de superioridade (o mais) ou de inferioridade (o menos).

Ex.: O candidato é o mais humilde dos concorrentes? (Superlativo relativo de superioridade).


O candidato é o menos preparado entre os concorrentes à prefeitura (Superlativo relativo de inferioridade).

Importante! Ao compararmos duas qualidades de um mesmo ser, devemos empregar a forma analítica (mais
alta, mais magra, mais bonito etc.).
Ex.: A modelo é mais alta que magra.
Porém, se uma mesma característica referir-se a seres diferentes, empregamos a forma sintética (melhor,
pior, menor etc.).
Ex.: Nossa sala é menor que a sala da diretoria.

Flexões Verbais

z Flexões Modo-temporais — Tempos Simples

TEMPO MODO INDICATIVO MODO SUBJUNTIVO


Presente * -e (1ª conjugação) e -a (2ª e 3ª conjugações)
Pretérito perfeito -ra (3ª pessoa do plural) *
Pretérito imperfeito -va (1ª conjugação) -ia (2ª e 3ª conjugações) -sse
Pretérito mais-que-perfeito -ra *
Futuro -rá e -re -r
Futuro do pretérito -ria *

*Nem todas as formas verbais apresentam desinências modo-temporais.

z Flexões Modo-temporais — Tempos Compostos (Indicativo)

„ Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (presente do indicativo) + verbo principal particípio.

Ex.: Tenho estudado.

„ Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (pretérito imperfeito do indicativo) + verbo
principal no particípio.

Ex.: Tinha passado.

„ Futuro composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro do indicativo) + verbo principal no particípio.

Ex.: Terei saído.

„ Futuro do pretérito composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro do pretérito simples) + verbo principal no
particípio.

Ex.: Teria estudado.

z Flexões Modo-temporais — Tempos Compostos (Subjuntivo)

„ Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: Ter (presente do subjuntivo) + Verbo principal particípio.

44 Ex.: (que eu) Tenha estudado.


„ Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo
auxiliar: Ter (pretérito imperfeito do subjunti- SINTAXE
vo) + verbo principal no particípio.
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
Ex.: (se eu) Tivesse estudado
Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre
„ Futuro composto: Verbo auxiliar: Ter (futuro os grandes grupos de palavras existentes na língua,
simples do subjuntivo) + verbo principal no como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são gru-
particípio. pos morfológicos. Ao combinar as palavras em frases,
nós construímos um painel morfológico.
Ex.: (quando eu) Tiver estudado. As palavras normalmente recebem uma dupla
classificação: a morfológica, que está relacionada à
z Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela-
cionada à função específica que assumem em deter-
As formas nominais do verbo são as formas no minada frase.
infinitivo, particípio e gerúndio que eles assumem em
determinados contextos. São chamadas nominais pois Frase
funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios.
Frase é todo enunciado com sentido completo.
„ Gerúndio: Marcado pela terminação -ndo. Pode ser formada por apenas uma palavra ou por um
Seu valor indica duração de uma ação e, por conjunto de palavras.
vezes, pode funcionar como um advérbio ou Ex.: Fogo!
um adjetivo. Silêncio!
“A igreja, com este calor, é fornalha...” (Graciliano
Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se Ramos)
compadeceu.
Oração
„ Particípio: Marcado pelas terminações mais
comuns -ado, -ido, podendo terminar também Enunciado que se estrutura em torno de um verbo
em -do, -to, -go, -so, -gue. Corresponde nomi-
(explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu-
nalmente ao adjetivo; pode flexionar-se, em
ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen-
alguns casos, em número e gênero.
tá-lo completo ou incompleto.
Ex.: Você é um dos que se preocupam com a
Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses.
poluição.
Quando cheguei, ela já tinha partido.
“A roda de samba acabou” (Chico Buarque)
Ele tinha aberto a janela.
Ela tinha pago a conta.
Período
„ Infinitivo: Forma verbal que indica a própria
Período é o enunciado constituído de uma ou mais
ação do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenôme-
orações.
no designado. Pode ser pessoal ou impessoal:
Classifica-se em:
„ Pessoal: O infinitivo pessoal é passível de con-
jugação, pois está ligado às pessoas do discurso. � Simples: possui apenas uma oração.
É usado na formação de orações reduzidas. Ex.: Ex.: O sol surgiu radiante.
Comer eu. Comermos nós. É para aprenderem Ninguém viu o acidente.
que ele ensina. � Composto: possui duas ou mais orações.
„ Impessoal: Não é passível de flexão. É o nome
Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.”
do verbo, servindo para indicar apenas a con-
(Chico Buarque)
jugação. Ex.: Estudar - 1ª conjugação; Comer - 2ª
Chegou em casa e tomou banho.
conjugação; Partir - 3ª conjugação.
TERMOS DA ORAÇÃO
O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou
orações reduzidas. Os termos que formam o período simples são dis-
Locuções verbais: sequência de dois ou mais ver-
LÍNGUA PORTUGUESA

tribuídos em: essenciais (Sujeito e Predicado), inte-


bos que funcionam como um verbo. grantes (complemento verbal, complemento nominal
Ex.: Ter de + verbo principal no infinitivo: Ter de e agente da passiva) e acessórios (adjunto adnominal,
trabalhar para pagar as contas. adjunto adverbial e aposto).
Haver de + verbo principal no infinitivo: Havemos
de encontrar uma solução. Termos Essenciais da Oração

Dica São aqueles indispensáveis para a estrutura básica


da oração. Costuma-se associar esses termos a situa-
Não confunda locuções verbais com tempos ções analógicas, como um almoço tradicional brasi-
compostos. O particípio formador de tempo leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por
composto na voz ativa não se flexiona. Ex.: O exemplo. São eles: Sujeito e Predicado. Veremos a
homem teria realizado sua missão. seguir cada um deles. 45
Sujeito
Simples
É o elemento que faz ou sofre a ação determinada DETERMINADO Composto
pelo verbo.
O sujeito pode ser: Elíptico

� o termo sobre o qual o restante da oração diz algo; Com verbos flexionados na 3ª
pessoa do plural
� o elemento que pratica ou recebe a ação expressa
pelo verbo; INDETERMINADO Com verbos acompanhados do
se (índice de indeterminação do
� o termo que pode ser substituído por um pronome
sujeito)
do caso reto;
� o termo com o qual o verbo concorda. Usado para fenômenos da
INEXISTENTE natureza ou com verbos
Ex.: A população implorou pela compra da vacina
impessoais
da COVID-19.

No exemplo anterior a população é: z Determinado: quando se identifica a pessoa, o


lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em:
z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo-
rou pela compra da vacina); „ Simples: quando há apenas um núcleo.
z O elemento que pratica a ação de implorar; Ex.: O [aluguel] da casa é caro.
Núcleo: aluguel
z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo
Sujeito simples: O aluguel da casa
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular);
z O termo que pode ser substituído por um pronome „ Composto: quando há dois núcleos ou mais.
do caso reto. Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
Núcleos: sons, cores.
(Ele implorou pela compra da vacina da COVID-19.)
Sujeito composto: Os sons e as cores
Núcleo do Sujeito „ Elíptico, oculto ou desinencial: quando não
aparece na oração, mas é possível de ser identifi-
O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal
cado devido à flexão do verbo ao qual se refere.
porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O
Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: (Eu)
núcleo indica a palavra que realmente está exercen-
do determinada função sintática, que atua ou sofre
z Indeterminado: quando não é possível identificar
a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan- o sujeito na oração, mas ainda sim está presente.
tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa-
pronome. do por um índice de indeterminação do sujeito, a
partícula “se”.
z O sujeito simples contém apenas um núcleo.
Ex.: O povo pediu providências ao governador.
„ Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural,
Sujeito: O povo
não se referindo a nenhuma palavra determi-
Núcleo do sujeito: povo
nada no contexto.
z Já no sujeito composto, o núcleo será constituído Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje.
de dois ou mais termos. Entende-se que alguém passou cedo.
As luzes e as cores são bem visíveis.
Sujeito: As luzes e as cores „ Colocando-se verbos sem complemento direto
Núcleo do sujeito: luzes/cores (intransitivos, transitivos diretos ou de ligação)
na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro-
Dica nome se, que atua como índice de indetermina-
ção do sujeito.
Para determinar o sujeito da oração, colocam-se Ex.: Não se vê com a neblina.
as expressões interrogativas quem? ou o quê? Entende-se que ninguém consegue ver nessa
antes do verbo. condição.
Ex.: A população pediu uma providência ao
governador. Sujeito Inexistente ou Oração sem Sujeito
Quem pediu uma providência ao governador?
Resposta: A população (sujeito). Esse tipo de situação ocorre quando uma oração
Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o não tem sujeito mas tem sentido completo. Os verbos
outro. são impessoais e normalmente representam fenôme-
nos da natureza. Pode ocorrer também o verbo fazer
O que iria de um lado para o outro?
ou haver no sentido de existir.
Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito).
Geia no Paraná.
Tipos de Sujeito Fazia um mês que tinha sumido.
Basta de confusão.
46 Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se em: Há dois anos esse restaurante abriu.
Classificação do Sujeito Quanto à Voz O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação.
O predicado nominal tem por núcleo um nome
z Voz ativa (sujeito agente) (substantivo, adjetivo ou pronome).
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo
Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado. Mendes)
Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer- Predicado: são mais bonitas.
ce a ação na frase. Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo
Bilac)
z Voz passiva sintética (sujeito paciente) Predicado: estão cheias de calafrios.
Ex.: Corta-se cabelo.
Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito É importante não confundir:
“cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do
item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação,
da oração. mas um estado momentâneo ou permanente que
relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é
Importante notar que não há preposição entre o predicativo do sujeito.
o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo, z Predicativo do sujeito: função exercida por subs-
“de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri-
sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal. buem uma condição ou qualidade ao sujeito.
Precisa-se de cabelo. Ex.: O garoto está bastante feliz.
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal, Verbo de ligação: está.
e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é Predicativo do sujeito: bastante feliz.
indeterminado, marcado pelo índice de indetermina- Ex.: Seu batom é muito forte.
ção “-se”. Verbo de ligação: é.
Predicativo do sujeito: muito forte.
z Voz passiva analítica (sujeito paciente)
Ex.: A minha saia azul está rasgada. Predicado Verbal
O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen-
ça da partícula -se. Ocorre quando há dois núcleos significativos: um
verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi-
Predicado cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do
objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os
É o termo que contém o verbo e informa algo sobre demais termos do predicado.
o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter- O verbo do predicado pode ser classificado em
mos essenciais na oração, há casos em que a oração transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi-
não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em tivo direto e indireto ou verbo intransitivo.
torno de um verbo e ele está contido no predicado, é
impossível existir uma oração sem sujeito. z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi-
O predicado pode ser: ge um complemento não preposicionado, o objeto
direto.
z Aquilo que se declara a respeito do sujeito. Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.”
Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.” Noel Rosa
(José de Alencar) Verbo Transitivo Direto: Fazer.
Predicado: seguem sua marcha Ex.: Ele trouxe os livros ontem.
z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei- Verbo Transitivo Direto: trouxe.
to (oração sem sujeito): z Verbo transitivo indireto (VTI): o verbo transiti-
Ex.: Chove pouco nesta época do ano. vo indireto tem como necessidade o complemen-
Predicado: Chove pouco nesta época do ano. to acompanhado de uma preposição para fazer
sentido.
Para determinar o predicado, basta separar o Ex.: Nós acreditamos em você.
sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica- Verbo transitivo indireto: acreditamos
do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo Preposição: em
é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita: Ex.: Frida obedeceu aos seus pais.
Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves Verbo transitivo indireto: obedeceu
Dias) Preposição: a (a + os)
LÍNGUA PORTUGUESA

Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida. Ex.: Os professores concordaram com isso.
Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias) Verbo transitivo indireto: concordaram
Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores. Preposição: com
z Verbo transitivo direto e indireto (VTDI): é o
Classificação do Predicado verbo de sentido incompleto que exige dois com-
plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto
A classificação do predicado depende do significa- indireto (com preposição).
do e do tipo de verbo que apresenta. Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou-
tras.” (Machado de Assis)
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig- Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
nificativo se concentra em um nome (corresponde Objeto direto 1: anedotas
a um predicativo do sujeito). Objeto indireto 1: lhe 47
Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre-
Objeto direto 2: outras dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de
Objeto indireto 2: lhe. ligação (foi e era, respectivamente).
z Verbo intransitivo (VI): É aquele capaz de cons-
Termos Integrantes da Oração
truir sozinho o predicado, que não precisa de com-
plementos verbais, sem prejudicar o sentido da
São vocábulos que se agregam a determinadas
oração.
estruturas para torná-las completas. De acordo com
Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam.
a gramática da língua portuguesa, esses termos são
Verbo intransitivo: adormeciam.
divididos em:
Predicado Verbo-Nominal
Complementos Verbais
Ocorre quando há dois núcleos significativos:
São termos que completam o sentido de verbos
um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um
transitivos diretos e transitivos indiretos.
nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo
transitivo, predicativo do objeto).
z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom-
panhado de preposição.
Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes)
Ex.: Examinei o relógio de pulso.
Verbo intransitivo: parou
Gostaria de vê-lo no topo do mundo.
Predicativo do sujeito: atento
O técnico convocou somente os do Brasil. (os =
aqueles)
Repare que no primeiro exemplo o termo “atento”
está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é
Pronomes e sua relação com o objeto direto
considerado predicativo do sujeito.
Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas
Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo Bilac)
variações lo(s), la(s), no(s), na(s), “que” quase sem-
Verbo intransitivo: marchou
pre exercem função de objeto direto, os pronomes
Predicativo do sujeito: desorientado
oblíquos me, te, se, nos, vos também podem exercer
essa função sintática.
No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi-
ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei- Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram
to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito. quem? A minha pessoa”)
Nunca vos tomeis como grandes personalidades.
Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha- (= “Nunca tomeis quem? Vós”)
do de Assis) Convidaram-na para o almoço de despedida. (=
Verbo transitivo direto: achou “Convidaram quem? Ela”)
Objeto direto: o raciocínio Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (=
Predicativo do objeto: exato “Receberam quem? Nós”)

No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza um Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem


julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”, que é o ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do
objeto direto dessa oração. Com isso, podemos concluir pronome relativo que.
que temos um caso de predicativo do objeto, visto que
“exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é o sujeito. Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo:
esse algo é o objeto direto)
O que é o predicativo do objeto? Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome
feminino definido)
É o termo que confere uma característica, uma
qualidade, ao que se refere. z Objeto direto preposicionado

A formação do predicativo do objeto se dá por um Mesmo que o verbo transitivo direto não exija
adjetivo ou por um substantivo. preposição no seu complemento, algumas palavras
requerem o uso da preposição para não perder o sen-
Ex.: Consideramos o filme proveitoso. tido de “alvo” do sujeito.
Predicativo do objeto: proveitoso Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros
Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas. facultativos.
Predicativo do objeto: vitoriosa
Exemplos com ocorrência obrigatória de
Para facilitar a identificação do predicativo do preposição:
objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres- Não entendo nem a ele nem a ti.
centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí- Respeitava-se aos mais antigos.
fica é relacionar o predicativo ao nome. Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
Amavam-se um ao outro.
O filme foi proveitoso. “Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
48 Ela era vitoriosa. feita.” (Ciro dos Anjos)
Exemplos com ocorrência facultativa de Complemento Nominal
preposição:
Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- Completa o sentido de substantivos, adjetivos e
le templo. advérbios. É uma função sintática regida de preposi-
A escultura atrai a todos os visitantes. ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A
Não admito que coloquem a Sua Excelência num presença de um complemento nominal nos contextos
pedestal. de uso é fundamental para o esclarecimento do senti-
Ao povo ninguém engana. do do nome.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles. Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado.
No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des- Estou longe de casa e tão perto do paraíso.
sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre-
sente para indicar parte de um todo, quando assim Para melhor identificar um complemento nomi-
for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa nal, siga a instrução:
bebeu uma porção da água, e não ela toda. Nome + preposição + quem ou quê
Como diferenciar complemento nominal de com-
plemento verbal?
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração.
dessa função sintática na mesma oração, a fim de
(complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se
enfatizar um único significado.
diretamente ao verbo “obedecia”)
Naquela época, a obediência ao meu coração pre-
Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora-
Andrade) ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”).

z Objeto direto interno: Representado por palavra Agente da Passiva


que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta
mesmo significado. É o complemento de um verbo na voz passiva ana-
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais
Ex.: Riu um riso aterrador. raramente, da preposição de.
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares
Dormiu o sono dos justos. ser, estar, viver, andar, ficar.

Como diferenciar objeto direto de sujeito? Termos Acessórios da Oração


Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto) Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu-
O objeto direto pode ser passado para a voz passi- ra básica da oração, são importantes para compreen-
va analítica e se transforma em sujeito. são do enunciado porque trazem informações novas.
Os jogos da seleção foram ignorados. Esses termos são chamados acessórios da oração.

z Objeto indireto: É complemento verbal regido de Adjunto Adnominal


preposição obrigatória, que se liga diretamente a
verbos transitivos indiretos e diretos. Representa São termos que acompanham o substantivo,
o ser beneficiado ou o alvo de uma ação. núcleo de outra função, para qualificar, quantificar,
especificar o elemento representado pelo substantivo.
Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da Categorias morfológicas que podem funcionar
casa 260. como adjunto adnominal:
Gosto de ti, meu nobre.
Não troque o certo pelo duvidoso. z Artigos
Vamos insistir em promover o novo romance de z Adjetivos
ficção. z Numerais
z Pronomes
z Locuções adjetivas
Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais
Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo
Pode ser representado pelos seguintes pronomes
ficaram esquecidos no quarto.
oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro-
Iam cheios de si.
nomes o, a, os, as não exercerão essa função.
LÍNGUA PORTUGUESA

Estava conquistando o respeito dos seus.


Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor. O novo regulamento originou a revolta dos
funcionários.
Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim, O doutor possuía mil lembranças de suas viagens.
comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
indireto, já que sempre ocorrem com preposição. z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto
Ex.: Você escreveu esta carta para mim? adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes
exercem essa função sintática quando assumem
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida valor de pronomes possessivos.
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo).
uma mensagem.
z Como diferenciar adjunto adnominal de com-
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda. plemento nominal? 49
Quando o adjunto adnominal for representado Aposto: filha de D. Raimunda
por uma locução adjetiva, ele pode ser confundido Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran-
com complemento nominal. Para diferenciá-los, siga des obras.
a dica: Aposto: Machado de Assis.

„ Será adjunto adnominal: se o substantivo ao Classifica-se nas seguintes categorias:


qual se liga for concreto.
Ex.: A casa da idosa desapareceu. z Explicativo: usado para explicar o termo anterior.
Separa-se do substantivo a que se refere por uma
Se indicar posse ou o agente daquilo que
pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões
expressa o substantivo abstrato.
ou dois-pontos.
Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada.
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram
„ Será complemento nominal: se indicar o alvo ontem, acabaram de voltar de férias.
daquilo que expressa o substantivo. Jéssica, uma ótima pessoa, conseguiu apoio de
Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não todos.
foi respeitada.
Notava-se o amor pelo seu trabalho. � Enumerativo: usado para desenvolver ideias que
foram resumidas ou abreviadas em um termo ante-
Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio: rior. Mostra os elementos contidos em um só termo.
Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos. Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e
riachos.
Adjunto Adverbial Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber,
preconceito, antipatia e arrogância.
Termo representado por advérbios, locuções
adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio- z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado
na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas para resumir termos anteriores. É expresso, nor-
circunstâncias. malmente, por um pronome indefinido.
Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos
z Tempo: Quero que ele venha logo;
estavam empolgados com a feira.
z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida; Irei a Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné-
z Modo: O dia começou alegremente; -Bissau, países africanos onde se fala português.
z Intensidade: Almoçou pouco;
z Causa: Ela tremia de frio; � Comparativo: Estabelece uma comparação
implícita.
z Companhia: Venha jantar comigo;
Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem
z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as rumo.
roupas;
z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo; � Circunstancial: Exprime uma característica
z Finalidade: Vivia para o trabalho; circunstancial.
z Meio: Viajou de avião devido à rapidez; Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas
apropriadas.
z Assunto: Falávamos sobre o aluguel;
z Negação: Não permitirei que permaneça aqui; � Especificativo: É o aposto que aparece junto a um
z Afirmação: Sairia sim naquela manhã; substantivo de sentido genérico, sem pausa, para
z Origem: Descendia de nobres. especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por
substantivos próprios.
Não confunda! Exs.: O mês de abril.
Para conseguir distinguir adjunto adverbial de O rio Amazonas.
adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio- Meu primo José.
nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que
o sentido seja parecido. z Aposto da oração: É um comentário sobre o
Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui fato expresso pela oração, ou uma palavra que
é um adjunto adnominal)
condensa.
Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua
adjunto adverbial)
preocupação.
Aposto O noticiário disse que amanhã fará muito calor –
ideia que não me agrada.
Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes
ou orações. O aposto tem como propósito explicar, z Distributivo: Dispõe os elementos equitativamente.
identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon- Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra
tar algo, alguém ou um fato. para as perguntas.
Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma Sua presença era inesperada, o que causou
50 bicicleta. surpresa.
Dica Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
(Fernando Pessoa)
� O aposto pode aparecer antes do termo a que Oração coordenada 1: Deus quer
se refere, normalmente antes do sujeito. Oração coordenada 2: o homem sonha
Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen- Oração coordenada 3: a obra nasce.
na marcou uma geração. Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da
� Segundo o gramático Cegalla, quando o apos- sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis)
to se refere a um termo preposicionado, pode ele Oração coordenada assindética: Subi devagarinho
vir igualmente preposicionado. Oração coordenada assindética: colei o ouvido à
Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de porta da sala de Damasceno
tudo ele tinha medo. Oração coordenada sindética: mas nada ouvi
� O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial. Conjunção adversativa: mas nada
Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas.
(adjetivos, apostos do predicativo do sujeito) Orações Coordenadas Sindéticas
Falou comigo deste modo: calma e maliciosa-
mente. (advérbios, aposto do adjunto adverbial As orações coordenadas podem aparecer ligadas
de modo). às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra-
vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome
sindética. Veremos agora cada uma delas:
z Diferença de aposto especificativo e adjunto
adnominal: Normalmente, é possível retirar a
preposição que precede o aposto. Caso seja um z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou
adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura simultaneidade.
fica prejudicada. Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam-
Ex.: A cidade Fortaleza é quente. bém, mas ainda, bem como, como também, se-
(aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade) não também, que (= e).
O clima de Fortaleza é quente. Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos.
(adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?) Os convidados não compareceram nem explica-
ram o motivo.
z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O
aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con-
adjetivo. traste ou ressalva em relação ao fato anterior.

Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle. Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia,
(predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad- contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs-
jetivo) tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso.
Homem desesperado, João sempre perde o con- Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas.
trole. “A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a
(aposto; núcleo: homem – substantivo) morte.” (Laurindo Rabelo)
z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou
Vocativo se excluem.
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ...
O vocativo é um termo que não mantém relação ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez
sintática com outro termo dentro da oração. Não per- ... talvez).
tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para Ex.: Ora responde, ora fica calado.
chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese- Você quer suco de laranja ou refrigerante?
ja se comunicar. É um termo independente, pois
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica
não faz parte da estrutura da oração.
sobre um raciocínio.
Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha consulta.
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con-
Ela te diz isso desde ontem, Fábio.
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início
de frase).
z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-
Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima
vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
semana.
outro termo da oração.
“Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo
Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
Mendes Campos)
O aposto se relaciona sintaticamente com outro
termo da oração. z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem
LÍNGUA PORTUGUESA

A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impecável. expressa. Conjunções constitutivas: que, porque,
Sujeito: a cozinha de lufe. porquanto, pois.
Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao sujeito). Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale
a “pois”)
PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO Vamos almoçar de novo porque ainda estamos
com fome.
Período Composto por Coordenação
Período Composto por Subordinação
As orações são sintaticamente independentes. Isso
significa que uma não possui relação sintática com Formado por orações sintaticamente dependentes,
verbos, nomes ou pronomes das demais orações no considerando a função sintática em relação a um ver-
período. bo, nome ou pronome de outra oração. 51
Tipos de orações subordinadas: z Orações subordinadas adjetivas: desempenham
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais
z Substantivas; raramente, aposto explicativo). São introduzidas
z Adjetivas; por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os
z Adverbiais. quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As
orações subordinadas adjetivas classificam-se em:
Orações Subordinadas Substantivas
explicativas e restritivas.
São classificadas nas seguintes categorias: z Orações subordinadas adjetivas explicativas:
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen-
z Orações subordinadas substantivas conectivas: tam uma explicação sobre o termo antecedente.
são introduzidas pelas conjunções subordinativas São consideradas termo acessório no período,
integrantes que e se. podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola-
Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de das por vírgulas.
impostos. Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos,
Não sei se poderei sair hoje à noite. cria trinta gatos.
z Orações subordinadas substantivas justapos- z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
tas: introduzidas por advérbios ou pronomes especificam ou limitam a significação do termo
interrogativos (onde, como, quando, quanto, antecedente, acrescentando-lhe um elemento
quem etc.) indispensável ao sentido. Não são isoladas por
z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias vírgulas.
roubadas. Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é
Não sei quem lhe disse tamanha mentira. incurável.

z Orações subordinadas substantivas reduzidas: Dica


não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica
no infinitivo. Como diferenciar as orações subordinadas adje-
Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras. tivas restritivas das orações subordinadas adjeti-
vas explicativas?
z Orações subordinadas substantivas subjetivas:
Ele visitará o irmão que mora em Recife.
exercem a função de sujeito. O verbo da oração
principal deve vir na voz ativa, passiva analítica (restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai
ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe- visitar apenas o que mora em Recife)
rir a nenhum termo na oração. Ele visitará o irmão, que mora em Recife.
Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito) (explicativa, pois ele tem apenas um irmão que
Foi importante que você regressasse. (sujeito ora- mora em Recife)
cional) (or. sub. subst. subje.)
� Orações subordinadas adverbiais: exprimem
z Orações subordinadas substantivas objetivas uma circunstância relativa a um fato expresso em
diretas: exercem a função de objeto direto de um outra oração. Têm função de adjunto adverbial.
verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi- São introduzidas por conjunções subordinativas
reto da oração principal. (exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin-
Ex.: Desejo o seu regresso. (OD) tes grupos:
Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
subst. obj. dir.) � Orações subordinadas adverbiais causais: são
introduzidas por: como, já que, uma vez que, por-
z Orações subordinadas substantivas completi- que, visto que etc.
vas nominais: exercem a função de complemento Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por-
nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio que ficamos sem gasolina.
da oração principal.
Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple- � Orações subordinadas adverbiais comparati-
mento nominal) vas: são introduzidas por: como, assim como, tal
Tenho necessidade de que você me apoie. (com- qual, como, mais etc.
plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com- Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do)
pl. nom.) que a importada.

z Orações subordinadas substantivas predicati- � Orações subordinadas adverbiais concessivas:


vas: funcionam como predicativos do sujeito da indica certo obstáculo em relação ao fato expres-
oração principal. Sempre figuram após o verbo de so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São
ligação ser. introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que,
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do por mais que, se bem que etc.
sujeito) Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã.
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do � Orações subordinadas adverbiais condicionais:
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.) são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se,
z Orações subordinadas substantivas apositivas: contanto que, a menos que etc.
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para tal.
de dois-pontos ou entre vírgulas. � Orações subordinadas adverbiais conformati-
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (aposto) vas: são introduzidas por: como, conforme, segun-
Só quero uma coisa: que você volte imediata- do, consoante.
52 mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.) Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos.
� Orações subordinadas adverbiais consecutivas: Há casos em que o adjetivo concordará apenas
são introduzidas por: que (precedido na oração com o nome mais próximo, quando a qualidade per-
anterior de termos intensivos como tão, tanto, tencer somente a este.
tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira.
que, sem que. Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho.
Ex.: A garota rio tanto, que se engasgou.
“Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per- Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno-
fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles) minal e estiver antes dos substantivos, poderá con-
cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.:
� Orações subordinadas adverbiais finais: indi- Existem complicadas regras e conceitos.
cam um objetivo a ser alcançado. São introduzidas Quando houver apenas um substantivo qualifica-
por: para que, a fim de que, porque e que (= para do por dois ou mais adjetivos pode-se:
que). Colocar o substantivo no plural e enumerar o ad-
Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos jetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas inglesa,
tivessem bom estudo. francesa e alemã.
Colocar o substantivo no singular e, ao enumerar
� Orações subordinadas adverbiais proporcio-
os adjetivos (também no singular), antepor um artigo
nais: são introduzidas por: à medida que, à pro-
a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele estuda a
porção que, quanto mais, quanto menos etc.
língua inglesa, a francesa e a alemã.
Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a
aprecio.
z Com função de predicativo do sujeito
� Orações subordinadas adverbiais temporais:
são introduzidas por: quando, enquanto, logo que, Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará
depois que, assim que, sempre que, cada vez que, com a soma dos elementos.
agora que etc. Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados.
Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor. Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su-
jeito acompanhará a concordância do verbo, que por
Para separar as orações de um período composto, é sua vez concordará tanto com a soma dos elementos
necessário atentar-se para dois elementos fundamen- quanto com o nome mais próximo.
tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta-
(conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar vam abandonados a casa e o quintal.
esses elementos, deve-se contar quantas orações ele Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun-
to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os
representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
substantivos por um pronome:
ções verbais. Exs.:
Ex.: Existem conceitos e regras complicados.
[“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª oração (substitui-se por “eles”)
[para fixar outros] – 2ª oração Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles
[que os rodeiam] – 3ª oração existem complicados”.
[e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora- Como o adjetivo desapareceu com a substituição,
ção (M. de Assis) então é um adjunto adnominal.

Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo z Com função de predicativo do objeto


basta, pertencente à 1ª (oração principal).
A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém Recomenda-se concordar com a soma dos substan-
ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração. tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor-
dância com o termo mais próximo.
CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados.
Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e
seus subordinados.
Concordância Nominal
Algumas Convenções
Define-se como a adaptação em gênero e número
que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como
� Obrigado / próprio / mesmo
o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes,
Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”.
adjetivos, numerais).
A própria enfermeira virá para o debate.
O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em
LÍNGUA PORTUGUESA

Elas mesmas conversaram conosco.


gênero e número com o nome a que se referem.
Ex.: Parede alta. / Paredes altas.
Muro alto. / Muros altos. Dica
O termo mesmo no sentido de “realmente” será
Casos com Adjetivos invariável.
Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação.
z Com função de adjunto adnominal: quando o
adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti- z Só / sós
ver após os substantivos, poderá concordar com Variáveis quando significarem “sozinho” /
as somas desses ou com o elemento mais próximo. “sozinhos”.
Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. / Invariáveis quando significarem “apenas,
Encontrei colégios e faculdades ótimos. somente”. 53
Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas � Possível
apenas queriam ficar sozinhas.) Concordará com o artigo, em gênero e número, em
A locução “a sós” é invariável. frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”.
Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. /
ficar a sós. Conheci crianças as mais belas possíveis.
� Quite / anexo / incluso
Concordam com os elementos a que se referem. Plural de Substantivos Compostos
Ex.: Estamos quites com o banco.
Seguem anexas as certidões negativas. O adjetivo concorda com o substantivo referen-
Inclusos, enviamos os documentos solicitados. te em gênero e número. Se o termo que funciona
� Meio como adjetivo for originalmente um substantivo, fica
Quando significar “metade”: concordará com o invariável.
elemento referente. Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola
Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa. também é um substantivo; mantém-se no singular)
Quando significar “um pouco”: será invariável. Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é
Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora). um substantivo; mantém-se no singular)
� Grama
Plural de Adjetivos Compostos
Quando significar “vegetação”, é feminino; quan-
do significar unidade de medida, é masculino.
Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha. Quando houver adjetivo composto, apenas o últi-
“A grama do vizinho sempre é mais verde.” mo elemento concordará com o substantivo referente.
Os demais ficarão na forma masculina singular.
� É proibido entrada / É proibida a entrada Se um dos elementos for originalmente um subs-
Se o sujeito vier determinado, a concordância do
tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável.
verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou
Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo.
seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda-
No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o
rão com o determinante.
Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami- plural, pois ambos são adjetivos.
nhada está boa. No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no
É proibido entrada de crianças. / É proibida a singular, assim como “verde”, por ser substantivo.
entrada de crianças. Nesse caso, o termo composto não concorda com o
Pimenta é bom? / A pimenta é boa? plural do substantivo referente, “folhas”.
Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar.
� Menos / pseudo
O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam-
São invariáveis.
Ex.: Havia menos violência antigamente. bém pode ser um substantivo.
Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen- O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma
to é pseudo-objetivo. lógica de “musgo” do exemplo anterior.

� Muito / bastante
Quando modificam o substantivo: concordam com Dica
ele. Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual-
Quando modificam o verbo: invariáveis. quer adjetivo composto iniciado por “cor-de” são
Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito
sempre invariáveis.
irritados.
Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas- O adjetivo composto pele-vermelha tem os dois ele-
tante irritados. mentos flexionados no plural (peles-vermelhas).
Se ambos os termos puderem ser substituídos por
“vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi- Lista de Flexão dos Dois Elementos
tuídos por “bem”, ficarão invariáveis.
� Nos substantivos compostos formados por pala-
� Tal qual
vras variáveis, especialmente substantivos e
Tal concorda com o substantivo anterior; qual,
adjetivos:
com o substantivo posterior.
Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os segunda-feira – segundas-feiras;
pais. matéria-prima – matérias-primas;
Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais couve-flor – couves-flores;
quais os pais. guarda-noturno – guardas-noturnos;
primeira-dama – primeiras-damas.
z S
ilepse (também chamada concordância figurada)
� Nos substantivos compostos formados por
É a que se opera não com o termo expresso, mas o
temas verbais repetidos:
que está subentendido.
Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é corre-corre – corres-corres;
linda!) pisca-pisca – piscas-piscas;
Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos pula-pula – pulas-pulas.
com o estabelecimento aberto no final de semana.) Nestes substantivos também é possível a flexão
Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi- apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca-
54 leiros, estamos esperançosos.) -piscas, pula-pulas.
Flexão Apenas do Primeiro Elemento Esse período, apesar de extenso, constitui-se de
um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor-
z Nos substantivos compostos formados por subs- respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no
tantivo + substantivo em que o segundo termo singular.
limita o sentido do primeiro termo: Destrinchando o período, temos que os termos
decreto-lei – decretos-lei; essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas
cidade-satélite – cidades-satélite; “[...] o Brasil [...]” – sujeito – e “[...] ganha [...]” – predi-
público-alvo – públicos-alvo; cado verbal.
elemento-chave – elementos-chave. Veja um caso de uso de verbo bitransitivo:
Nesses substantivos, também é possível a flexão Ex.: Prefiro natação a futebol.
dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites, Verbo bitransitivo: Prefiro
públicos-alvos, elementos-chaves. Objeto direto: natação
z Nos substantivos compostos preposicionados: Objeto indireto: a futebol
cana-de-açúcar – canas-de-açúcar;
Concordância Verbal com o Sujeito Simples
pôr do sol – pores do sol;
fim de semana – fins de semana; Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do
pé de moleque – pés de moleque. sujeito.
Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário
Flexão Apenas do Segundo Elemento exorbitante.

� Nos substantivos compostos formados por tema Diferentes situações:


verbal ou palavra invariável + substantivo ou
adjetivo: z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de
bate-papo – bate-papos; sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A
quebra-cabeça – quebra-cabeças; multidão gritou entusiasmada.
arranha-céu – arranha-céus; z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o ver-
ex-namorado – ex-namorados; bo posterior ao pronome relativo concorda com o
vice-presidente – vice-presidentes. antecedente do relativo. Ex.: Quais os limites do
� Nos substantivos compostos em que há repeti- Brasil que se situam mais próximos do Meridiano?
ção do primeiro elemento: z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o
zum-zum – zum-zuns; verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós
tico-tico – tico-ticos; quem resolveu a questão.
lufa-lufa – lufa-lufas;
reco-reco – reco-recos.
Por questão de ênfase, o verbo pode também con-
� Nos substantivos compostos grafados ligada- cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos
mente, sem hífen: nós quem resolvemos a questão.
girassol – girassóis;
pontapé – pontapés; z Quando o sujeito é um pronome interrogativo,
mandachuva – mandachuvas; demonstrativo ou indefinido no plural + de nós /
fidalgo – fidalgos. de vós, o verbo pode concordar com o pronome no
plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol-
� Nos substantivos compostos formados com
viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos
grão, grã e bel:
essa questão.
grão-duque – grão-duques;
grã-fino – grã-finos; z Quando o sujeito é formado por palavras plurali-
bel-prazer – bel-prazeres. zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias,
Não flexão dos elementos Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou-
ver artigo definido antes de uma palavra plura-
� Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos
lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse
formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor-
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados
re em frases substantivadas e em substantivos
Unidos continuam uma potência.
compostos por um tema verbal e uma palavra
Estados Unidos continua uma potência.
invariável ou outro tema verbal oposto:
Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida-
o disse me disse – os disse me disse;
de de Santos fica em São Paulo.”)
o leva e traz – os leva e traz;
LÍNGUA PORTUGUESA

o cola-tudo – os cola-tudo.

Concordância Verbal
Importante!
Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o
É a adaptação em número – singular ou plural – verbo fica no singular ou no plural.
e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram Camões.
sujeito.
“De todos os povos mais plurais culturalmente, o
Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as quais z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais
insistem em desmentir que nosso país é cheio de ‘bra- de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de,
sis’ – digamos assim –, ganha disparando dos outros, obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.:
pois houve influências de todos os povos aqui: euro- Mais de um aluno compareceu à aula.
peus, asiáticos e africanos.” Mais de cinco alunos compareceram à aula. 55
A expressão mais de um tem particularidades: � Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo mitivo (nada, tudo, ninguém)
recíproco se), se houver coletivo especificado ou se Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu.
a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.:
� Sujeito constituído pelas expressões um e outro,
Mais de um irmão se abraçaram.
nem um nem outro
Mais de um grupo de crianças veio/vieram à festa. Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui.
Mais de um aluno, mais de um professor esta- � Núcleos do sujeito ligados por nem... nem
vam presentes. Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu
foco nos estudos.
z Quando o sujeito é formado por um número per-
centual ou fracionário, o verbo concorda com o � Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras
numerado ou com o número inteiro, mas pode como, menos, inclusive, exceto ou as expressões
concordar com o especificador dele. Se o numeral bem como, assim como, tanto quanto
vier precedido de um determinante, o verbo con- Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na
cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3 final.
das pessoas do mundo sabe o que é viver bem.
z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas
Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é
aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim
viver bem.
como; não só... mas também etc.)
Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem.
Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem.
popularidade em alta.
Os 30% da população não sabem o que é viver mal
z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni-
� Os verbos bater, dar e soar concordam com o co núcleo, o verbo fica no singular concordando
número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a com o núcleo único. Mas, se houver determinante
palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o
chegou. (Duas horas deram...) sujeito passa a ser composto.
Bateu o sino duas vezes. (O sino bateu) Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis
Soaram dez badaladas no relógio da sala. (Dez aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos
badaladas soaram) combustíveis aumentaram.
Soou dez badaladas o relógio da escola. (O relógio
da escola soou dez badaladas) Concordância Verbal do Verbo Ser

z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o � Concorda com o sujeito


verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven- Ex.: Nós somos unha e carne.
dem-se casas de veraneio aqui.
� Concorda com o sujeito (pessoa)
Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão
Ex.: Os meninos foram ao supermercado.
interessada.
� Em predicados nominais, quando o sujeito for
z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
representado por um dos pronomes tudo, nada,
verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor-
Majestade está preocupada?
dará com o predicativo (preferencialmente) ou
Suas Excelências precisam de algo?
com o sujeito
z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou Ex.: No início, tudo é/são flores.
exclamativas. Ex.: Vivam os campeões!
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for
Concordância Verbal com o Sujeito Composto que ou quem
Ex.: Quem foram os classificados?
� Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama-
� Em indicações de horas, datas, tempo, distância
ticais diferentes
(predicativo), o verbo concorda com o predicativo
Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos.
Ex.: São nove horas.
� Núcleos do sujeito ligados pela preposição com É frio aqui.
Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che- Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
garam ontem.
� O verbo fica no singular quando precede termos
� Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais,
ou nenhum menos etc. junto a especificações de preço, peso,
Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man- quantidade, distância, e também quando seguido
ter o espírito esportivo. do pronome o
Ex.: Cem metros é muito para uma criança.
� Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no
Divertimentos é o que não lhe falta.
singular
Dez reais é nada diante do que foi gasto.
Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju-
davam. (preferencialmente no singular) � Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora-
ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser
� Gradação entre os núcleos do sujeito
ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o
Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para
verbo concordará com o termo não preposiciona-
me acalmar. (preferencialmente no singular)
do entre eles.
� Núcleos do sujeito no infinitivo Ex.: Eles é que sempre chegam cedo.
56 Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde. São eles que sempre chegam cedo.
É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons- Casos mais Frequentes em Provas
trução adequada)
São nessas horas que a gente precisa de ajuda. Veja agora uma lista com os casos mais abordados
(construção inadequada) em concursos:

Concordância do Infinitivo � Sujeito posposto distanciado


Ex.: Viviam no meio de uma grande floresta tropi-
z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal: cal brasileira seres estranhos.
Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei-
to esclarecido) � Verbos impessoais (haver e fazer)
Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte.
implícito “nós”) Havia problemas no setor.
Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site. Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir
(dois pronomes implícitos: eu, nós) vai ter sujeito “problemas”, e vai ser variável)
Até me encontrarem, vocês terão de procurar
muito. (preposição no início da oração) � Verbo na voz passiva sintética
Para nós nos precavermos, precisaremos de luz. Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta.
(verbos pronominais) � Verbo concordando com o antecedente correto
Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser
do pronome relativo ao qual se liga
indicando tempo)
Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que
Estudo para me considerarem capaz de aprova-
ção. (pretensão de indeterminar o sujeito) tinham experiência.
Para vocês terem adquirido esse conhecimento, � Sujeito coletivo com especificador plural
foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com- Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram.
posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no
particípio) � Sujeito oracional
Ex.: Convém a eles alterar a voz. (verbo no
z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal:
singular)
Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu-
ção verbal) � Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun-
Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono to ou complemento no plural
sendo sujeito do infinitivo) Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar
atrito. (verbo no singular)
Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo
no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
Casos Facultativos
impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”.
z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o
Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
estádio.
com valor genérico)
São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece- z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/
dido de preposição de ou para) fizeram rir.
Soldados, recuar! (infinitivo com valor de imperativo)
z Fui eu quem faltou/faltei à aula.
� Concordância do verbo parecer
Flexiona-se ou não o infinitivo. z Quais de vós me ajudarão/ajudareis?
Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o
z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura
equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta-
vam confiantes”, portanto o infinitivo é flexionado brasileira.
de acordo com o sujeito, no plural) z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a
Eles parecem estudar bastante. (locução verbal, ciência. (1,5% corresponde ao singular)
logo o infinitivo será impessoal)
z Chegaram/Chegou João e Maria.
� Concordância dos verbos impessoais
São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram
sempre na 3ª pessoa do singular. aqui.
Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
Fazia quinze anos que ele havia se formado. z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política
Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo brasileira.
LÍNGUA PORTUGUESA

auxiliar fica no singular) z O problema do sistema é/são os impostos.


Trata-se de problemas psicológicos.
Geou muitas horas no sul. z Hoje é/são 22 de agosto.
� Concordância com sujeito oracional z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos
Quando o sujeito é uma oração subordinada, o a aprovação.
verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do
singular. z Deixei os rapazes falar/falarem tudo.
Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos.
Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados. Silepse de Número e de Pessoa
Ficou combinado que sairíamos à tarde.
Urge que você estude. Conhecida também como “concordância irregular,
Era preciso encontrar a verdade ideológica ou figurada”. Vejamos os casos: 57
z Silepse de número: usa-se um termo discordando Objeto direto: os favores recebidos.
do número da palavra referente, para concordar Aquela moça não se esquecia dos favores recebidos.
com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem V. T. I.: se esquecia
vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali- Objeto indireto: dos favores recebidos.
dade: todas as flores)
No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos
z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do
que, mudando-se a regência, mudam de sentido,
processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu-
alterando seu significado.
ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de
diversas etnias, somos multiculturais.
Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos.
(aspiramos = sorvemos)
TRANSITIVIDADE E REGÊNCIA DE NOMES E
V. T. D.: aspiramos
VERBOS
Objeto direto: ar poluídos.
Os funcionários aspiram a um mês de férias.
Regência Nominal
(aspiram = almejam)
V. T. I.: aspiram
Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér-
Objeto indireto: a um mês de férias
bios) exigem complementos preposicionados, exceto
quando vêm em forma de pronome oblíquo átono.
A seguir, uma lista dos principais verbos que
geram dúvidas quanto à regência:
Advérbios Terminados em “mente”
� Abraçar: transitivo direto
Os advérbios derivados de adjetivos seguem a
Ex.: Abraçou a namorada com ternura.
regência dos adjetivos:
O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço
análoga / analogicamente a � Agradar: transitivo direto; transitivo indireto
contrária / contrariamente a Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire-
compatível / compativelmente com to com sentido de “acariciar”)
diferente / diferentemente de A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto
favorável / favoravelmente a no sentido de “ser agradável a”)
paralela / paralelamente a
� Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto;
próxima / proximamente a/de
transitivo direto e indireto
relativa / relativamente a
Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não
personificado)
Preposições Prefixos Verbais
Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto
personificado)
Alguns nomes regem preposições semelhantes a
Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi-
seus “prefixos”:
reto: refere-se a coisas e pessoas)
dependente, dependência de � Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto
inclusão, inserção em Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da
inerente em/a preposição a, rege indiferentemente objeto direto
descrente de/em e objeto indireto.
desiludido de/com Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo direto)
desesperançado de Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
desapego de/a indireto)
convívio com Se o infinitivo preposicionado for intransitivo,
convivência com rege apenas objeto direto:
demissão, demitido de Ajudaram o ladrão a fugir.
encerrado em Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto
enfiado em direto:
imersão, imergido, imerso em Ajudei-o muito à noite.
instalação, instalado em
interessado, interesse em � Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto
intercalação, intercalado entre Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran-
supremacia sobre sitivo direto com sentido de “angustiar”)
Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com
Regência Verbal sentido de “desejar muito” – não admite “lhe”
como complemento)
Relação de dependência entre um verbo e seu
� Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto
complemento. As relações podem ser diretas ou indi-
Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti-
retas, isto é, com ou sem preposição.
vo direto com sentido de “respirar”)
Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo
Há verbos que admitem mais de uma regência
indireto no sentido de “desejar”)
sem que o sentido seja alterado.
� Assistir: transitivo direto; transitivo indireto
Ex.: Aquela moça não esquecia os favores recebidos. Ex.: - Transitivo direto ou indireto no sentido de
58 V. T. D: esquecia “prestar assistência”
O médico assistia os acidentados. � Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos
O médico assistia aos acidentados. Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito.
- Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar” Não desobedeçam à sinalização de trânsito.
Não assisti ao final da série.
� Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi-
O verbo assistir não pode ser empregado no particípio. tivo direto e indireto
É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha- Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto)
res de pessoas.” Você pagou ao dono do armazém? (transitivo
indireto)
� Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo
direto e indireto direto e indireto)
Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo) � Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto;
A jovem não queria casar com ninguém. (transiti- transitivo direto e indireto
vo indireto) Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire- A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto)
to e indireto)
Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e
� Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de indireto)
predicativo do objeto
� Suceder: intransitivo; transitivo direto
Ex.: Chamou o filho para o almoço. (transitivo dire-
Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no
to com sentido de “convocar”)
sentido de “ocorrer”)
Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre-
dicativo do objeto com sentido de “denominar, A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido
qualificar”) de “vir depois”)

� Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi- PADRÕES GERAIS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL
reto; intransitivo NO PORTUGUÊS
Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo
indireto com sentido de “ser difícil”) Estudo da posição dos pronomes na oração.
A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti-
vo direto e indireto: sentido de “acarretar”) z Próclise: Pronome posicionado antes do verbo.
Este vinho custou trinta reais. (intransitivo) Casos que atraem o pronome para próclise:
� Esquecer: admite três possibilidades
Ex.: Esqueci os acontecimentos. „ Palavras negativas: Nunca, jamais, não. Ex.:
Esqueci-me dos acontecimentos. Não me submeto a essas condições.
Esqueceram-me os acontecimentos. „ Pronomes indefinidos, demonstrativos, rela-
tivos. Ex: Foi ela que me colocou nesse papel.
� Implicar: transitivo direto; transitivo indireto;
„ Conjunções subordinativas. Ex.: Embora se
transitivo direto e indireto
Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria. apresente como um rico investidor, ele nada
(transitivo direto com sentido de “acarretar”) tem.
Mamãe sempre implicou com meus hábitos. „ Gerúndio, precedido da preposição em. Ex:
(transitivo indireto com sentido de “mostrar má Em se tratando de futebol, Maradona foi um
disposição”) ídolo.
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo „ Infinitivo pessoal preposicionado. Ex.: Na
direto e indireto com sentido de envolver-se”) esperança de sermos ouvidos, muito lhe
agradecemos.
� Informar: transitivo direto e indireto „ Orações interrogativas, exclamativas, opta-
Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à tivas (exprimem desejo). Ex.: Como te iludes!
coisa: objeto indireto, com as preposições de ou
sobre
z Mesóclise: Pronome posicionado no meio do ver-
Informaram o réu de sua condenação.
bo. Casos que atraem o pronome para mesóclise:
Informaram o réu sobre sua condenação.
Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi-
„ Os pronomes devem ficar no meio dos verbos
sa: objeto indireto, com a preposição a
Informaram a condenação ao réu. que estejam conjugados no futuro, caso não
haja nenhum motivo para uso da próclise. Ex.:
LÍNGUA PORTUGUESA

� Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi- Dar-te-ei meus beijos agora... / Orgulhar-me-ei
reto, com as preposições em e por dos nossos estudantes.
Ex.: Ela interessou-se por minha companhia.
� Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi- z Ênclise: Pronome posicionado após o verbo. Casos
tivo direto e indireto que atraem o pronome para ênclise:
Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran-
sitivo com sentido de “cortejar”) „ Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me mui-
Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo to honrada com esse título.
indireto com sentido de “desejar muito”) „ Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por
“Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar- favor.
ret) (transitivo direto e indireto com sentido de „ Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o
“encantar-se”) quanto sou importante. 59
Casos proibidos: [...] Não está no texto em si; não nos é possível
apontá-la, destacá-la ou sublinha-la. Ela se constrói
„ Início de frase: Me dá esse caderno! (errado) / [...] numa dada situação comunicativa, na qual o
Dá-me esse caderno! (certo). leitor, com base em seus conhecimentos sociocogni-
„ Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lem- tivos e interacionais e na materialidade linguística,
brou de nada (errado) / Falou pouco; lembrou- confere sentido ao que lê (2013, p.31).
-se de nada (correto).
„ Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato A seguir iremos nos deter aos processos de coesão
(errado) / Tinha se lembrado do fato (correto). importantes para uma boa compreensão e elaboração
textual. É importante destacar que esses processos
de coesão não podem ser dissociados da construção
de sentidos implícita no processo de organização da
MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL coerência. No entanto, como nossa finalidade é tornar
seu aprendizado mais fácil, separamos esses conceitos
Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi- com fins estritamente didáticos.
zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e
coerente. Porém, como fazer para que essa organiza-
COESÃO REFERENCIAL
ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro
é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência
e por que buscar esse padrão é importante. A coesão é marcada por processos referenciais de
Os textos não são somente um aglomerado de pala- modo a relacionar termos e ideias a partir de meca-
vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula- nismos que inserem ou retomam uma porção textual.
das e organizadas harmoniosamente de maneira que Os processos marcados pela referenciação caracteri-
o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela- zam-se pela construção de referentes em um texto, os
ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se quais se relacionam com as ideias defendidas no texto.
chama de coesão textual. Os articuladores responsá- Esse processo é marcado por vocábulos gramaticais e
veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto pode ser reconhecido pelo uso de algumas classes de
são conhecidos como recursos coesivos que devem ser palavras, das quais falaremos a seguir.
articulados de forma que garanta uma relação lógica Antes, porém, faz-se mister reconhecer os proces-
entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli- sos referenciais que envolvem o uso de expressões
gível e faça sentido em determinado contexto. A res- anafóricas e catafóricas. Conforme Cavalcante (2013),
peito disso, temos a coerência textual, que está ligada “as expressões que retomam referentes já apresenta-
diretamente à significação do texto, aos sentidos que dos no texto por outras expressões são chamadas de
ele produz para o leitor. anáforas”. Vejamos o exemplo a seguir:

COESÃO COERÊNCIA
O Rocky Balboa era um humilde lutador de bair-
Utiliza-se de elementos su- Subjacente ao texto, enfa- ro, que vivia de suas discretas lutas, no início de
perficiais, dando-se ênfase tiza-se o conteúdo e a pro- sua carreira. Segundo seu treinador Mickey, Rocky
na forma e na articulação dução de sentido/relação era um jovem promissor, mas nunca se interessou
entre as ideias lógica realmente em evoluir, preferiu trabalhar para um
agiota italiano chamado Tony Gazzo, com quem
Podemos usar uma metáfora muito interessante manteve uma certa amizade. Gazzo gostava de
quando se trata de compreender os processos de coe- Rocky por ele ser descendente de italiano e o aju-
são e coerência. dou dando US$ 500,00 para o seu treinamento, na
Essa metáfora nos leva a comparar um texto com um primeira luta que fez com Apollo Creed.
prédio, tal qual uma boa construção precisa de um bom Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocky_Balboa. Acessado em:
alicerce para manter-se em pé; um texto bem construí- 30/09/2020. Adaptado.
do depende da organização das nossas ideias, da forma
como elas estão dispostas no texto. Isso significa que pre- A partir da leitura, podemos perceber que todos os
cisamos utilizar adequadamente os processos coesivos, termos destacados fazem referência a um mesmo refe-
a fim de defendermos nossas ideias adequadamente. rente: Rocky Balboa. O processo de referenciação utiliza-
Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin- do foi o uso de anáforas que assumem variadas formas
cipais formas de marcação, em um texto, de processos
gramaticais e buscam conectar as ideias do texto.
que buscam organizar as ideias em um texto, princi-
Já os processos referenciais catafóricos apontam
palmente, os processos de coesão que, como dissemos,
para porções textuais que ainda não foram mencio-
apresentam um apelo mais forte às formas linguísti-
cas que os processos envolvendo a coerência. nadas anteriormente no texto, conforme o exemplo
Antes, porém, faz-se mister indicar mais algumas a seguir: “Os documentos requeridos para os candi-
características da coerência em um texto e como esse datos são estes: Identidade, CPF, Título de eleitor e
processo liga-se não apenas às formas gramaticais, reservista”.
mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em
vista que a coerência é construída, tal qual o sentido, Dica
coletivamente, não por acaso, o grande linguista e
estudioso da língua portuguesa, Luis Antonio Marcus- Em provas de concursos e seleções, ainda se
chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico encontra a terminologia “expressões referenciais
que se encontra mais na mente que no texto”. catafóricas”, remetendo ao uso já indicado no
Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013) material. No entanto, é importante salientar que,
para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e para linguistas e estudiosos, as anáforas são os
passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe- processos referenciais que recuperam e/ou apon-
60 são. A autora afirma que a coerência: tam para porções textuais.
Uso de Pronomes ou Pronominalização processos coesivos visa analisar a capacidade do can-
didato de reconhecer qual elemento está construindo
Utilizar pronomes para manter a coesão de um as referências textuais.
texto é essencial, evitando-se repetições desnecessá-
rias que tornam o texto cansativo para o leitor. Como Uso de Numerais
a classe de pronomes é vasta, vamos enfatizar neste
estudo os principais pronomes utilizados em recursos Conforme mencionamos anteriormente, o uso de
textuais para manter a coesão. categorias gramaticais concorre para a progressão tex-
A pronominalização é a base de recursos anafóri- tual; uma das classes gramaticais que auxilia esse pro-
cos e recuperam porções textuais ou ainda um nome cesso é o uso de numerais.
específico a que o autor faz referência no texto. Veja- Neste subtópico, iremos focar no valor coesivo que
mos dois exemplos: essa classe promove, auxiliando na ligação de ideias
em um texto. Dessa forma, as expressões quantitati-
vas, em algumas circunstâncias, retomam dados ante-
O primeiro debate entre Donald Trump e Joe riores numa relação de coesão.
Biden foi quente, com diversas interrupções e acu- Ex.: Foram deixados dois avisos sobre a mesa: o pri-
sações pesadas. […] O primeiro ponto discutido foi meiro era para os professores, o segundo para os alunos.
a indicação de Trump da juíza conservadora Amy As formas destacadas são numerais ordinais que
Barrett para a Suprema Corte, depois da morte de recuperam informação no texto, evitando a repetição
Ruth Bader Ginsburg. O presidente defendeu que de termos e auxiliando no desenvolvimento textual.
tem esse direito, pois os republicanos têm maioria
no Senado [Casa que ratifica essa escolha] e criticou Uso de Advérbios
os democratas, dizendo “que eles ainda não aceita-
ram que perderam a eleição”. […]. Muitos advérbios auxiliam no processo de recupe-
O segundo ponto discutido foi a covid-19. Os ração e instauração de ideias no texto, auxiliando o
EUA são o país mais atingido pela pandemia - são processo de coesão. As formas adverbias que marcam
7 milhões de casos e mais de 200 mil mortos. O tempo e espaço podem também ser denominadas de
âncora Chris Wallace perguntou aos dois o que eles marcadores dêiticos, caso dos seguintes elementos:
fariam até que uma vacina aparecesse. Biden ata- Hoje, aqui, acolá, amanhã, ontem...
cou o republicano dizendo que Trump “não tem um Percebam que esses advérbios só podem ser asso-
plano para essa tragédia”. Já Trump começou sua ciados a um referente se forem instaurados no discur-
resposta atacando a China - “deveriam ter fechado so, isto é, se mantiverem associação com as pessoas
suas fronteiras no começo” -, colocou em dúvida as que produzem as falas. Assim, uma pessoa que lê
estatísticas da Rússia e da própria China e, com pou- “hoje não haverá aula” em um cartaz na porta de uma
ca modéstia, disse que fez um “excelente trabalho” sala compreenderá que a marcação temporal refere-
nesse momento dos EUA. -se ao momento em que a leitura foi realizada. Por
isso, esses elementos são conhecidos como dêiticos.
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/eleicoes-eua- Independentemente de como são chamados, esses
debate-025314998.html. Acessado em: 30/09/2020. Adaptado.
elementos colaboram para a ligação de ideias no tex-
to, auxiliando também a construção da coesão textual.
Após a leitura do texto, é possível notar que a recu-
peração da informação apresentada é feita a partir de
Uso de Nominalização
muitos processos de coesão, porém, o uso dos prono-
mes destacados recupera o assunto informado e ajuda
As expressões que retomam ideias e nomes, já apre-
o leitor a construir seu posicionamento. É importante
sentados no texto, mediante outras formas de expressão,
buscar sempre o elemento a que o pronome faz refe- podem ser analisadas como processos nominalizado-
rência; por exemplo, o primeiro pronome pessoal res, incluindo substantivos, adjetivos e outras classes
destacado no texto refere-se ao termo “republicanos”, nominais.
já o segundo, faz referência aos presidenciáveis que Essas expressões recuperam informações median-
participavam do debate. Nota-se, com isso, que esses te novos nomes inseridos no texto, ou ainda, com o
pronomes apontam para uma parcela objetiva do tex- uso de pronomes, conforme vimos anteriormente.
to, diferente do pronome “essa”, associado ao subs- Vejamos um exemplo:
tantivo “tragédia”, que recupera uma parcela textual
maior, fazendo referência ao momento de pandemia
pelo qual o mundo passa. Antonio Carlos Belchior, mais conhecido como Bel-
O uso de pronomes pode ser um aliado na construção chior foi um cantor, compositor, músico, produtor,
artista plástico e professor brasileiro. Um dos mem-
LÍNGUA PORTUGUESA

da coesão, porém, o uso inadequado pode gerar ambi-


guidades, ocasionando o efeito oposto e prejudicando bros do chamado Pessoal do Ceará, que inclui Fagner,
a coesão. Veja o segundo exemplo: Encontrei Matheus, Ednardo, Amelinha e outros. Bel foi um dos primeiros
Pedro e sua mulher. cantores de MPB do nordeste brasileiro a fazer sucesso
Não é possível saber qual dos homens estava internacional, em meados da década de 1970.
acompanhado. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Belchior. Acessado em:
Por fim, destacamos que as classes de palavras 30/09/2020. Adaptado.
relacionadas neste capítulo com os processos de coe-
são não podem ser vistas apenas sob a ótica descriti- Todas as marcações em negrito fazem referência
va-normativa, amplamente estudada nas gramáticas ao nome inicial Antônio Carlos Belchior; os termos
escolares. O interesse das principais bancas de con- que se referem a esse nome inicial são expressões
cursos públicos é avaliar a capacidade interpretativa nominalizadores que servem para ligar ideias e cons-
e racional dos candidatos, dessa feita, a análise de truir o texto. 61
Uso de Adjetivos promover a evolução do debate assumido pelo autor.
Essa coesão pode ser garantida, em um texto, a partir
Os adjetivos também são considerados expressões de locuções que marcam tempo, conjunções, desinên-
nominalizadoras que fazem referência a uma porção cias e modos verbais.
textual ou a uma ideia referida no texto. No exemplo
acima, a oração “Belchior foi um cantor, compositor, COESÃO RECORRENCIAL
músico, produtor, artista plástico e professor” apre-
senta seis nomes que funcionam como adjetivos de Uso de Repetições
Belchior e, ao mesmo tempo, acrescentam informações
sobre essa personalidade, referida anteriormente. As recorrências de repetições em textos são comu-
É importante recordar que não podemos identifi- mente recusadas pelos mestres da língua portuguesa.
car uma classe de palavra sem avaliar o contexto em Sobretudo, quando o assunto é redação, muitos pro-
que ela está inserida. No exemplo mencionado, as fessores recomendam em uníssono: evite repetir pala-
palavras cantor, compositor, músico, produtor, artis- vras e expressões!
ta, professor são substantivos que funcionam como No entanto, a repetição é um recurso coesivo
adjetivos e colaboram na construção textual. essencial para manter a progressão temática do texto,
isto é, para que o tema debatido no texto não seja per-
Uso de Verbos Vicários dido, levando o escritor a fugir da temática.
Embora também não recomendemos as repetições
O vocábulo vicário é oriundo do latim vicarius e exageradas no texto, sabemos valorizar seu uso ade-
significa “fazer as vezes”; assim, os verbos vicários quado em um texto; por isso, apresentamos, a seguir,
são verbos usados em substituição de outros que já alguns usos comuns dessa estratégia coesiva.
foram muito utilizados no texto.
Ex.: A disputa aconteceu, mas não foi como nós
esperávamos. CONTEXTOS DE USO ADEQUADO DE REPETIÇÕES
O verbo “acontecer” foi substituído na segunda
O candidato foi encontra-
oração pelo verbo “foi”.
do com duzentos milhões
Marcar ênfase
de reais na mala, duzen-
ALGUNS VERBOS VICÁRIOS IMPORTANTES tos milhões!
Ser - “Ele trabalha, porém não é tanto assim” Marcar contraste Existem Políticos e políticos.
Fazer - “Poderíamos concordar plenamente, mas não o
fizemos” “Agora que sentei na minha
Aceitar - “Se ele não acatar a promoção, não aceita por cadeira de madeira, junto à
falta de interesse” minha mesa de madeira,
Foi - “Se desistiu da vaga, foi por motivos pessoais” colocada em cima deste
assoalho de madeira, olho
Marcar a continuidade
Uso de Elipse minhas estantes de ma-
temática
deira e procuro um livro
A elipse é uma forma de omissão de uma informa- feito de polpa de madeira
ção já mencionada no texto. É importante salientar as para escrever um artigo
propriedades recategorizadoras e referenciais da elip- contra o desmatamento
se, com o propósito de manter a coesão textual. florestal” Millôr Fernandes.
Conforme Antunes (2005, p. 118), a elipse como
recurso coesivo “corresponde à estratégia de se omitir Uso de Paráfrase
um termo, uma expressão ou até mesmo uma sequên-
cia maior (uma frase inteira, por exemplo) já introdu- A paráfrase é um recurso de reiteração que propor-
zidos anteriormente em outro segmento do texto, mas ciona maior esclarecimento sobre o assunto tratado no
recuperável por marcas do próprio contexto verbal”. texto. A paráfrase é utilizada para voltar a falar sobre
Vejamos como ocorre, a partir do segmento a seguir: algo utilizando-se de outras palavras. Conforme Antu-
nes (2005, p. 63), “alguma coisa é dita outra vez, em
“O Brasil evoluiu bastante desde o iní- outro ponto do texto, embora com palavras diferentes”.
cio do século XXI. O país proporcionou Vejamos o seguinte exemplo:
a inclusão social de muitas pessoas. A
SEM ELIPSE
nação obteve notoriedade internacional Ceará goleia Fortaleza no Fortaleza é goleado pelo
por causa disso. A pátria, porém, ainda Castelão. Ceará no Castelão.
enfrenta certas adversidades...”
“O Brasil evoluiu bastante desde o início Os textos acima poderiam ser manchetes de jornais
do século XXI e proporcionou a inclusão da capital cearense. A forma como o texto se apresen-
social de muitas pessoas, por causa disso COM ELIPSE ta indica que a ênfase dada ao nome dos times, em
obteve notoriedade internacional, porém posições diferentes, cumpre um papel importante na
ainda enfrenta certas adversidades...” progressão temática do texto.
Além dessa função, a paráfrase pode ser marcada pelo
COESÃO SEQUENCIAL uso de expressões textuais bem características, como: em
outras palavras, em outros termos, isto é, quer dizer, em
A coesão sequencial é responsável por organi- resumo, em suma, em síntese etc. Essas expressões indi-
zar a progressão temática do texto, isto é, garantir a cam que algo foi dito e passará a ser ressignificado no tex-
62 manutenção do tema tratado pelo texto de maneira a to, garantindo a informatividade do texto.
z Com as vogais “o” e “u”, usa-se Ç:
ORTOGRAFIA „ Ex.: Açougue, açúcar, caçula.

A ortografia é o ramo que estuda a forma corre- m início de palavras, o Ç e o SS não são usados.
z E
ta da escrita das palavras. Veja, por meio de algumas O “S” inicia palavras quando seguido de qualquer
regras, como acabar com suas dúvidas e escrever uma das vogais:
corretamente.
„ Ex.: Sapato, segurança, solteiro, sucesso.
Emprego do X e do CH
z O
“C” inicia palavras (possuindo o mesmo som de
O “X” é utilizado: “S”) apenas com as vogais “e” e “i”:
„ Ex.: Cenoura, cela, cigarro, cinema.
� Após os ditongos (encontro de duas vogais).
Ex.: peixe, faixa, caixa, ameixa, queixo, baixo, z O
“S” tem sempre som de /z/ quando está entre
encaixe, paixão, rouxa, frouxo vogais. Sendo assim, palavras compostas deriva-
Exceção: recauchutar (e seus derivados) e caucho; das de uma palavra com “S” no início passam a ser
escritas com “SS”, mantendo o som de /s/:
� Após as sílabas “en” e “me”.
„ E
x.: Sala – Antessala / Sol – Girassol / Seguir
Ex.: enxada, enxame, enxaqueca, enxergar,
– Prosseguir.
enxugar, mexerica, mexilhão, mexer, mexicano,
enxovalho.
z O “SS” é utilizado somente entre vogais:
Algumas palavras formadas por prefixação (pre- „ Ex.: Passagem, pessoa, posse, possível.
fixo “en” + radical) são escritas com “ch” (enchente,
encharcar etc.). Emprego do C e QU
Exceção: mecha (de cabelo);
É comum encontrarmos algumas palavras que nos
� Em palavras de origem indígena e africana e pala- colocam na dúvida: usar C ou QU?
vras inglesas aportuguesadas. Existem palavras que podem ser escritas tanto de
Ex.: xampu, xerife, xará, xingar, xavante; uma forma, como de outra. Veja:
� Outras palavras escritas com “X”: bexiga, laxativo, Catorze/ quatorze; cociente / quociente; cotidiano /
caxumba, xenofobia, xícara, xarope, lixo, capixa- quotidiano; cotizar / quotizar.
ba, xereta, faxina, maxixe, bruxa, relaxar, roxo, As seguintes palavras só podem ser escritas de
graxa, puxar, rixa. uma forma:
Cinquenta, cinquentenário, cinquentão, cinquentona.
Algumas palavras com “CH”: chicória, ficha, chi-
marrão, churrasco, chinelo, chicote, cachimbo, fanto- Emprego do K, W e Y
che, penacho, broche, salsicha, apetrecho, bochecha,
brecha, pechincha, inchar, flecha, chute, deboche, Símbolos e siglas
mochila, pichar, lincha, fechar, fachada, comichão,
chuchu, charque, cochicho. � Kg – quilograma;
� Km – quilômetro;
z Há, ainda, algumas palavras homófonas, que � k – potássio;
podem ser escritas das duas formas, porém têm z Nomes próprios e seus derivados originados de
significados diferentes. Veja algumas: língua estrangeira;
� Kelly, Darwin, Wilson, darwinismo;
„ Brocha (pequeno prego); z Palavras estrangeiras não adaptadas para o
„ Broxa (pincel para caiação de paredes); português;
„ Chá (planta para preparo de bebida); � Feedback, hardware, hobby.
„ Xá (título do antigo soberano do Irã);
„ Chalé (casa campestre de estilo suíço);
Emprego do G e do J
„ Xale (cobertura para os ombros);
„ Chácara (propriedade rural); O “G” é utilizado em:
„ Xácara (narrativa popular em versos);
„ Cheque (ordem de pagamento); z Palavras terminadas em “–gio”;
LÍNGUA PORTUGUESA

„ Xeque (jogada do xadrez). � Estágio, relógio, refúgio, presságio;


z Substantivos terminados em “-em”;
Emprego do C, Ç, S e SS � ferrugem, carruagem, passagem, viagem.

Por possuírem o mesmo som, o uso de C, Ç, S e SS O “J” é utilizado:


costuma causar bastante confusão. Porém, existem
algumas regrinhas que nos ajudam a saber quando z Em palavras de origem indígena:
usar cada uma das letras. Veja:
„ Pajé, canjica, jerimum.
z O C só é usado com valor de “s” com as vogais “e” e
z Em palavras de origem africana:
“i”:
„ Ex.: acém, ácido, aceso, macio. „ Jiló, jagunço, jabá. 63
É importante saber:
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE
z A conjugação do verbo “viajar”, no Presente do
Subjuntivo, escreve-se com j: Que eles(as) viajem. CRASE
z Verbos no infinitivo escritos com “G” antes de “e”
ou “i” têm o “G” substituído por “J” em algumas fle- Outro assunto que causa grande dúvida é o uso da
xões, para manter o mesmo som: crase, fenômeno gramatical que corresponde à junção
da preposição a + artigo feminino definido a, ou da
„ Afligir: aflija, aflijo; junção da preposição a + os pronomes relativos aque-
„ Agir: ajam, ajo; le, aquela ou aquilo. Representa-se graficamente pela
„ Eleger: elejam, elejo. marcação (`) + (a) = (à).

Ex.: Entregue o relatório à diretoria.


Refiro-me àquele vestido que está na vitrine.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA
Regra geral: haverá crase sempre que o termo
Muitas são as regras de acentuação das palavras antecedente exija a preposição a e o termo conse-
da língua portuguesa; para compreender essas regras, quente aceite o artigo a.
faz-se necessário saber identificar a tonicidade das Ex.: Fui à cidade (a + a = preposição + artigo)
sílabas de cada palavra e respeitar sua divisão silábica. Conheço a cidade (verbo transitivo direto: não exi-
ge preposição).
Regras de Acentuação Vou a Brasília (verbo que exige preposição a +
palavra que não aceita artigo).
z Palavras monossílabas: Acentuam-se os monossí- Essas dicas são facilitadoras quanto à orientação
labos tônicos terminados em: A, E, O. Ex.: pá, vá, no uso da crase, mas existem especificidades que aju-
chá; pé, fé, mês; nó, pó, só. dam no momento de identificação:
z Palavras oxítonas: acentuam-se as palavras oxíto-
nas terminadas em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: cajá, gua- Casos Convencionados
raná; Pelé, você; cipó, mocotó; também, parabéns.
z Palavras paroxítonas: acentuam-se as paroxíto- z Locuções adverbiais formadas por palavras
nas que não terminam em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: femininas:
bíceps, fórceps; júri, táxis, lápis; vírus, úteis, lótus; Ex.: Ela foi às pressas para o camarim.
abdômen, hímen. Entregou o dinheiro às ocultas para o ministro.
Espero vocês à noite na estação de metrô.
Estou à beira-mar desde cedo.
Importante!
Acentuam-se as paroxítonas terminadas em z Locuções prepositivas formadas por palavras
ditongo. femininas:
Ex.: imóveis, bromélia, história, cenário, Brasília, Ex.: Ficaram à frente do projeto.
rádio etc. z Locuções conjuntivas formadas por palavras
femininas:
Ex.: À medida que o prédio é erguido, os gastos vão
z Palavras proparoxítonas: A regra mais simples e
aumentando.
fácil de lembrar: todas as proparoxítonas devem
ser acentuadas! � Quando indicar marcação de horário, no plural
Ex.: Pegaremos o ônibus às oito horas.
Porém, esse grupo de palavras divide uma polê- Fique atento ao seguinte: entre números teremos
mica com as palavras paroxítonas, pois, em alguns que de = a / da = à, portanto:
vocábulos, o Vocabulário Ortográfico da Língua Por- Ex.: De 7 as 16 h. De quinta a sexta. (sem crase)
tuguesa (VOLP) aceita a classificação em paroxítona Das 7 às 16 h. Da quinta à sexta. (com crase)
ou proparoxítona.
São as chamadas proparoxítonas aparentes. Essas � Com os pronomes relativos aquele, aquela ou
palavras apresentam um ditongo crescente no final de aquilo:
suas sílabas; esse ditongo pode ser aceito ou pode ser Ex.: A lembrança de boas-vindas foi reservada
considerado hiato. É o que ocorre com as palavras: àquele outono.
Por favor, entregue as flores àquela moça que está
HIS-TÓ-RIA/ HIS-TÓ-RI-A sentada.
VÁ-CUO/ VA-CU-O Dedique-se àquilo que lhe faz bem.
PÁ-TIO/ PÁ-TI-O
� Com o pronome demonstrativo a antes de que ou
Antes de concluir, é importante mencionar o uso de:
do acento nas formas verbais TER e VIR: Ex.: Referimo-nos à que está de preto.
Referimo-nos à de preto.
Ele tem / Eles têm
Ele vem / Eles vêm � Com o pronome relativo a qual, as quais:
Ex.: A secretária à qual entreguei o ofício acabou
Percebam que, no plural, essas formas admitem o de sair.
uso de um acento (^); portanto, atente-se à concordân- As alunas às quais atribuí tais atividades estão de
64 cia verbal quando usar esses verbos. férias.
Casos Proibitivos Vocês o observaram a distância.

Em resumo, seguem as dicas abaixo para melhor Crase Facultativa


orientação de quando não usar a crase.
Nestes casos, podemos escrever as palavras das
� Antes de nomes masculinos duas formas: utilizando ou não a crase. Para entender
Ex.: “O mundo intelectual deleita a poucos, o mate- detalhadamente, observe as seguintes dicas:
rial agrada a todos.” (MM)
O carro é movido a álcool. � Antes de nomes de mulheres comuns ou com quem
Venda a prazo. se tem proximidade
Ex.: Ele fez homenagem a/à Bárbara.
� Antes de palavras femininas que não aceitam
artigos � Antes de pronomes possessivos no singular
Ex.: Iremos a Portugal. Ex.: Iremos a/à sua residência.
� Após preposição até, com ideia de limite
Macete de crase:
Ex.: Dirija-se até a/à portaria.
Se vou a; Volto da = Crase há!
“Ouvindo isto, o desembargador comoveu-se até
Se vou a; Volto de = Crase pra quê?
às (ou “as”) lágrimas, e disse com mui estranho
Ex.: Vou à escola / Volto da escola.
afeto.” (CBr. 1, 67)
Vou a Fortaleza / Volto de Fortaleza.
Casos Especiais
� Antes de forma verbal infinitiva
Ex.: Os produtos começaram a chegar.
Veremos a seguir alguns casos que fogem à regra.
“Os homens, dizendo em certos casos que vão falar
Quando se relacionar a instrumentos cujos nomes
com franqueza, parecem dar a entender que o
forem femininos, normalmente a crase não será utili-
fazem por exceção de regra.” (MM)
zada. Porém, em alguns casos, utiliza-se a crase para
� Antes de expressão de tratamento evitar ambiguidades.
Ex.: O requerimento foi direcionado a Vossa Ex.: Matar a fome. (Quando “fome” for objeto direto)
Excelência. Matar à fome. (Quando “fome” for advérbio de
instrumento)
� No a (singular) antes de palavra no plural, quando
Fechar a chave. (Quando “chave” for objeto direto)
a regência do verbo exigir preposição
Fechar à chave. (Quando “chave” for advérbio de
Ex.: Durante o filme assistimos a cenas chocantes.
instrumento)
� Antes dos pronomes relativos quem e cuja
Ex.: Por favor, chame a pessoa a quem entregamos Quando Usar ou Não a Crase em Sentenças com
o pacote. Nomes de Lugares
Falo de alguém a cuja filha foi entregue o prêmio.
z Regidos por preposições de, em, por: não se usa crase
� Antes de pronomes indefinidos alguma, nenhu- Ex.: Fui a Copacabana. (Venho de Copacabana,
ma, tanta, certa, qualquer, toda, tamanha moro em Copacabana, passo por Copacabana)
Ex.: Direcione o assunto a alguma cláusula do
� Regidos por preposições da, na, pela: usa-se crase
contrato.
Ex.: Fui à Bahia. (Venho da Bahia, moro na Bahia,
Não disponibilizaremos verbas a nenhuma ação
passo pela Bahia)
suspeita de fraude.
Eles estavam conservando a certa altura.
Macetes
Faremos a obra a qualquer custo.
A campanha será disponibilizada a toda a comunidade.
z Haverá crase quando o “à” puder ser substituído
� Antes de demonstrativos por ao, da, na, pela, para a, sob a, sobre a, contra
Ex.: Não te dirijas a essa pessoa a, com a, à moda de, durante a;
� Antes de nomes próprios, mesmo femininos, de z Quando o de ocorre paralelo ao a, não há crase.
personalidades históricas Quando o da ocorre paralelo ao à, há crase;
Ex.: O documentário referia-se a Janis Joplin.
z Na indicação de horas, quando o “à uma” puder
� Antes dos pronomes pessoais retos e oblíquos ser substituído por às duas, há crase. Quando o a
Ex.: Por favor, entregue as frutas a ela. uma equivaler a a duas, não ocorre crase;
LÍNGUA PORTUGUESA

O pacote foi entregue a ti ontem.


z Usa-se a crase no “a” de àquele(s), àquela(s) e àqui-
� Nas expressões tautológicas (face a face, lado a lo quando tais pronomes puderem ser substituídos
lado) por a este, a esta e a isto;
Ex.: Pai e filho ficaram frente a frente no tribunal
z Usa-se crase antes de casa, distância, terra e
de justiça.
nomes de cidades quando esses termos estiverem
� Antes das palavras casa, Terra ou terra, distância acompanhados de determinantes. Ex.: Estou à dis-
sem determinante tância de 200 metros do pico da montanha.
Ex.: Precisa chegar a casa antes das 22h.
Astronauta volta a Terra em dois meses. A compreensão da crase vai muito além da estética
Os pesquisadores chegaram a terra depois da gramatical, pois serve também para evitar ambigui-
expedição marinha. dades comuns, como o caso seguinte: Lavando a mão. 65
Nessa ocasião, usa-se a forma “Lavando a mão”, � Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre-
pois “a mão” é o objeto direto, e, portanto, não exi- dicativo do sujeito:
ge preposição. Usa-se a forma “à mão” em situações Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica-
como “Pintura feita à mão”, já que “à mão” seria o ção. (errado)
advérbio de instrumento da ação de pintar. Os alunos precisam de, que os professores os aju-
dem. (errado)
Os alunos entenderam, toda aquela explicação.
(errado)
PONTUAÇÃO � Entre um substantivo e seu complemento nominal
ou adjunto adnominal.
Uso de Vírgula Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida
pelos alunos. (errado)
A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três
funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da � Entre locução verbal de voz passiva e agente da
voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e passiva:
orações; e esclarecer o significado da frase, afastando Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele
qualquer ambiguidade. professor para a feira. (errado)
Quando se trata de separar termos de uma mesma � Entre o objeto e o predicativo do objeto:
oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos: Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado)
Considero interessantes, as suas aulas. (errado)
� Para separar os termos de mesma função
Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta. Uso de Ponto e Vírgula

z Usa-se a vírgula para separar os elementos de É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto
enumeração. e vírgula (;):
Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi
arrastado pelo tsunami. � Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas
Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu,
� Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que ficou triste.
já apareceu na frase) do verbo
Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate. � No lugar das conjunções coordenativas deslocadas
Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado, Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan-
filmes de terror. to, exausto.

� Para separar palavras ou locuções explicativas, � No lugar do e seguido de elipse do verbo (= zeugma)
retificativas Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o
Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15 ouvinte.
anos. Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai,
sorvete.
� Para separar datas e nomes de lugar
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985. � Em enumerações, portarias, sequências
Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal:
� Para separar as conjunções coordenativas, exceto o Procurador-Geral da República;
e, nem, ou. o Colégio de Procuradores da República;
Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem. o Conselho Superior do Ministério Público Federal.

A vírgula também é facultativa quando a expres- Dois-pontos


são de tempo, modo e lugar não for uma expressão,
mas uma palavra só. Exemplos:
Marcam uma supressão de voz em frase que ainda
Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar.
não foi concluída.
Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço Servem para:
em casa.
Ontem choveu o esperado para o mês todo. / � Introduzir uma citação (discurso direto):
Ontem, choveu o esperado para o mês todo. Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um
Ela acordou muito cedo. Por isso ficou com sono homem mais pelas suas perguntas que pelas suas
durante a aula. / Ela acordou muito cedo. Por isso, respostas”.
ficou com sono durante a aula.
Irei à praia amanhã se não chover. / Irei à praia � Introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
amanhã, se não chover. distributivo ou uma oração subordinada substan-
tiva apositiva
Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes-
sores, jornalistas, médicos.
� Entre o sujeito e o verbo � Introduzir uma explicação ou enumeração após
Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende- expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a
ram a explicação. (errado) saber, como.
Muitas coisas que quebraram meu coração, con- Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens,
66 sertaram minha visão. (errado) Filosofia, Ciências...
z Marcar uma pausa entre orações coordenadas Usa-se:
(relação semântica de oposição, explicação/causa
ou consequência) � Em frase interrogativa direta:
Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia?
homem culto.
� Entre parênteses para indicar incerteza:
Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com
Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho
cautela.
que havia palavra melhor no contexto.
� Marcar invocação em correspondências
� Junto com o ponto de exclamação, para denotar
Ex.: Prezados senhores:
surpresa:
Comunico, por meio deste, que...
Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou !?)
Travessão � E interrogações retóricas:
Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro
� Usado em discursos diretos, indica a mudança de que não jogaremos comida fora à toa”).
discurso de interlocutor: Ex.:
— Bom dia, Maria! Ponto de Exclamação

— Bom dia, Pedro! � É empregado para marcar o fim de uma frase com
entonação exclamativa:
� Serve também para colocar em relevo certas Ex.: Que linda mulher!
expressões, orações ou termos. Pode ser subs- Coitada dessa criança!
tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou � Aparece após uma interjeição:
colchetes: Ex.: Nossa! Isso é fantástico.
Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario-
ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) � Usado para substituir vírgulas em vocativos enfáticos:
Ex.: “Fernando José! onde estava até esta hora?”
Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que
vamos jantar. (oração intercalada) � É repetido duas ou mais vezes quando se quer
marcar uma ênfase:
Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui- Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50
na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”. metros em 20 segundos!!!

Parênteses Reticências

Têm função semelhante à dos travessões e das São usadas para:


vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter-
mos, expressões ou orações. � Assinalar interrupção do pensamento:
Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca) Ex.: ― Estou ciente de que...
vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) ― Pode dizer...
Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos � Indicar partes suprimidas de um texto:
jantar. (oração intercalada) Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois
desceu as escadas apressadamente. (Também pode
Ponto-final ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e
depois desceu as escadas apressadamente.)
É o sinal que denota maior pausa.
Usa-se: � Para sugerir prolongamento da fala:
Ex.: ―O que vocês vão fazer nas férias?
― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar...
� Para indicar o fim de oração absoluta ou de
período. � Para indicar hesitação:
Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.” Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha
Carlos Drummond de Andrade vergonha.
� Nas abreviaturas � Para realçar uma palavra ou expressão, normal-
Ex.: apart. ou apto. = apartamento mente com outras intenções:
sec. = secretário Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...!
LÍNGUA PORTUGUESA

a.C. = antes de Cristo


Uso das Aspas
Dica
São usadas em citações ou em algum termo que
Símbolos do sistema métrico decimal e elemen- precisa ser destacado no texto. Pode ser substituído
tos químicos não vêm com ponto final: por itálico ou negrito, que têm a mesma função de
Exemplos: km, m, cm, He, K, C destaque.
Usam-se nos seguintes casos:
Ponto de Interrogação
� Antes e depois de citações:
Marca uma entonação ascendente (elevação da Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”,
voz) em tom questionador. afirma Dad Squarisi, 64. 67
� Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaís- Uso da Barra
mos, gírias e expressões populares ou vulgares,
conotativas: A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado:
Ex.: O home, “ledo” de paixão, não teve a fortuna
� Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser
que desejava.
substituída pela conjunção “ou”:
Não gosto de “pavonismos”.
Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta.
Dê um “up” no seu visual. Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta.
� Para realçar uma palavra ou expressão imprópria, � Para indicar inclusão, quando utilizada na separa-
às vezes com ironia ou malícia ção das conjunções e/ou.
Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão. Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais
Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não” e/ou escritos.
sonoro.
� Para indicar itens que possuem algum tipo de rela-
� Para citar nomes de mídias, livros etc. ção entre si.
Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”. Ex.: A palavra será classificada quanto ao número
(plural/singular).
Colchetes O carro atingiu os 220 km/h.
� Para separar os versos de poesias, quando escritos
Representam uma variante dos parênteses, porém
seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas
têm uso mais restrito. barras para indicar a separação das estrofes.
Usam-se nos seguintes casos: Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que
passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon-
� Para incluir num texto uma observação de nature- te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi-
za elucidativa: te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles
Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de � Na escrita abreviada, para indicar que a palavra
Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”. não foi escrita na sua totalidade:
Ex.: a/c = aos cuidados de;
� Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”),
s/ = sem
a fim de indicar que, por mais estranho ou errado
que pareça, o texto original é assim mesmo: � Para separar o numerador do denominador nos
Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga- números fracionários, substituindo a barra da
do.” (Machado de Assis) fração:
Ex.: 1/3 = um terço
� Para indicar os sons da fala, quando se estuda
Fonologia: � Nas datas:
Ex.: mel: [mɛw]; bem: [bẽy] Ex.: 31/03/1983

� Para suprimir parte de um texto (assim como � Nos números de telefone:


parênteses) Ex.: 225 03 50/51/52
Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois � Nos endereços:
desceu as escadas apressadamente. ou Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232
Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des-
ceu as escadas apressadamente. (caso não preferí- � Na indicação de dois anos consecutivos:
vel segundo as normas da ABNT) Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso.
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua:
Asterisco Ex.: /s/

� É colocado à direita e no canto superior de uma Embora não existam regras muito definidas sobre
palavra do trecho para se fazer uma citação ou a existência de espaços antes e depois da barra oblí-
comentário qualquer sobre o termo em uma nota qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu-
de rodapé: lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo.
Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo
triste acrescido do sufixo -eza*.
*-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti- REESCRITA DE FRASES
vo, o que origina um novo substantivo.
� Quando repetido três vezes, indica uma omissão SUBSTITUIÇÃO, DESLOCAMENTO, PARALELISMO
ou lacuna em um texto, principalmente em substi-
A substituição pode ser realizada por meio de
tuição a um substantivo próprio:
recursos, como sinônimos, antônimos, locução verbal,
Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami-
voz verbal, conectivos, a troca de verbos por substan-
nhado aos responsáveis.
tivos e vice-versa, entre outros.
� Quando colocado antes e no alto da palavra, repre-
senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto Sinônimos
é, cuja existência é provável, mas não comprovada:
Palavras ou expressões que possuem significados
Ex.: Parecer, do latim *parescere.
iguais ou semelhantes.
� Antes de uma frase para indicar que ela é agrama- Ex.:
tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras
da gramática. z O carro está com algum problema / O automóvel
68 * Edifício elaborou projeto o engenheiro. apresentou defeitos.
Antônimos
Importante!
Palavras que possuem significados diferentes, ou
Identifique a relação de sentido que cada conec-
seja, significados opostos que podem ser usados para
tor indica, pois, ao substituir um conector por
substituir a palavra anterior.
outro que não possui relação semântica, pode
Ex.: ocorrer mudança no sentido do texto.
Ao usar um conectivo para substituir outro, é
z O homem estava nervoso e inquieto / O homem
necessário que ambos estabeleçam o mesmo
não estava calmo.
tipo de relação.
Locução Verbal
A seguir, relembraremos algumas das principais
Em vez de usar a forma única do verbo, é possível
relações que os conectores expressam:
substituir o verbo por uma locução verbal e vice-versa.
Exs.: z Adição: E, também, além disso, mas também;
z Oposição: Mas, porém, contudo, entretanto, no
z Vou solicitar os documentos amanhã / Solicitarei entanto;
os documentos amanhã. z Causa: Por isso, portanto;
z Tempo: Atualmente, nos dias de hoje, na sociedade
Verbo por Substantivo e Vice-versa atual, depois, antes disso, em seguida, logo, até que;
z Consequência: Logo, consequentemente, por con-
Pode-se usar um substantivo correspondente no sequência;
lugar de um verbo ou vice-versa, desde que isso faça z Confirmação / Reafirmação: Ou seja, nesse sen-
sentido dentro do contexto. tido, nessa perspectiva, em suma, em outras pala-
Exs.: vras, dessa forma;
z Hipótese / Probabilidade: A menos que, mesmo
z Caminhar: caminho; que, supondo que;
z Semelhança: Do mesmo modo, assim como, bem
z Resolver: resolução;
como;
z Trabalhar: trabalho;
z Finalidade: Afim de, para, para que, com a finali-
z Necessitar: necessidade; dade de, com o objetivo de;
z Estudar: estudos; z Exemplificação: Por exemplo, a exemplo de, isto é;
z Beijar: beijo; z Ênfase: Na verdade, efetivamente, certamente,
z O trabalho enobrece o homem / Trabalhar eno- com efeito;
brece o homem. z Dúvida: Talvez, por ventura, provavelmente,
possivelmente;
Voz Verbal z Conclusão: Portanto, logo, enfim, em suma.

É possível mudar a voz verbal sem mudar a men- Dentro de cada um dos grupos de conjunções cita-
dos é possível haver substituição entre as conjunções
sagem do enunciado.
sem que haja prejuízo no entendimento final do tre-
Exs.: cho reescrito.
z Eu fiz todo o trabalho / Todo o trabalho foi feito Deslocamento
por mim.
Deslocamento é um recurso linguístico bastante
Palavra por Locução Correspondente utilizado na atividade de reescrita, que consiste em
mudar de posição determinados elementos de um tex-
Pode-se, na reescrita, trocar uma palavra por locu- to, sem alterar seu sentido.
ção que corresponda a ela, ou vice-versa. Podemos citar como exemplo os períodos a seguir:
Ex.:
z Faleceu, em São Paulo, o jornalista Ricardo Boechat;
z O jornalista Ricardo Boechat faleceu em São Paulo.
z O amor materno é singular / O amor de mãe é
singular. Para reescrever frases utilizando o deslocamen-
to, é necessário observar se há mudança de sentido
LÍNGUA PORTUGUESA

Conectivos com Mesmo Valor Semântico e se a correção gramatical foi mantida. Do mesmo
modo, para analisar uma questão de reescritura, é
Os conectivos são palavras ou expressões que necessário observar qual elemento foi deslocado e
se esse deslocamento provocou mudança de sentido
têm a função de ligar termos, frases e orações em um
ou inadequação gramatical.
período. Esse papel é desempenhado, principalmente,
É possível deslocar os seguintes termos em uma
pelas preposições, conjunções e advérbios (ou locu- oração:
ções adverbiais), recursos linguísticos responsáveis
por promover relação entre as partes de um texto. z Adjunto Adverbial
Por meio da substituição de conectivos, é possí- Ex.: Participei de todas as aulas da faculdade na
vel modificar e reescrever um trecho sem que haja semana passada. / Na semana passada, partici-
mudança de sentido. pei de todas as aulas da faculdade. 69
Note que o texto, ao ser reescrito, apresenta o mes- Paralelismo
mo sentido do original. No entanto, a fim de preservar
a correção gramatical, foi necessário utilizar a vírgu- Paralelismo é o estudo do uso adequado de estru-
la logo após o trecho deslocado. turas sintáticas e semânticas na língua portuguesa.
Isso se deve à mudança na ordem canônica da lín- Um texto deve ser compreendido como um todo coe-
gua portuguesa, isto é, na ordem natural em que os rente e coeso; dessa forma, as ideias debatidas devem
elementos são apresentados em nosso idioma — sujei- ser apresentadas, relacionando-se entre si e manten-
to, verbo, complementos verbais e adjuntos adver- do a devida correspondência.
biais. Todas as vezes que essa ordenação de elementos Ao organizar as ideias por meio de palavras, as
sofre alterações será preciso operar a vírgula. normas da gramática normativa prescrevem que
No exemplo dado, o uso da vírgula justifica-se pelo devemos coordenar frases que tenham os mesmos
deslocamento do adjunto adverbial na semana pas- tipos de constituintes, assim, correlacionando adje-
sada para o início do período. Portanto, vale a pena tivos com adjetivos; substantivos com substantivos;
frisar a importância das regras de pontuação na ativi- termos preposicionados com termos preposicionados;
dade de reescritura. orações desenvolvidas com orações desenvolvidas etc.
Dessa forma, tornam-se errados os seguintes exem-
z Adjetivo plos, por quebra de paralelismo sintático:

Ex.: Meu novo namorado trabalha com vendas. / “Tenho uma prima inteligente e que tem muito
Meu namorado novo trabalha com vendas. dinheiro.”
“Leio para me informar e porque objetivo me
Na frase original, o adjetivo “novo” está antes do tornar mais inteligente.”
substantivo “namorado” e, na segunda frase, depois
dele. No entanto, é possível perceber que não houve A primeira oração quebra o paralelismo sintático,
mudança de sentido e que a correção gramatical foi pois mistura constituintes diferentes, apresentando um
mantida, já que essa mudança não implica necessida- adjetivo e uma oração adjetiva. Devemos sempre man-
de de vírgula nem provoca erro gramatical. ter a relação de paralelo entre os constituintes, assim, a
Na língua portuguesa, os adjuntos adnominais forma correta é: “Tenho uma prima inteligente e rica.”
(artigos, adjetivos e locuções adjetivas, numerais e A segunda oração quebra o paralelismo pelo mes-
pronomes) estabelecem relação com o núcleo do sujei- mo motivo, pois apresenta constituintes diferentes;
to, que é sempre um substantivo, de modo que sua primeiro, uma oração reduzida seguida de uma ora-
ção desenvolvida. Para manter o paralelismo, deve-
posição não interfere na ordem canônica do idioma,
mos manter um único tipo de oração: “Leio para me
o que justifica a ausência da vírgula no texto reescrito.
informar e para me tornar mais inteligente”.
z Pronome Indefinido z Paralelismo sintático
Ex.: Não quero que alguma situação tire nossa paz. O paralelismo sintático observa as relações entre os
/ Não quero que situação alguma tire nossa paz. constituintes das orações, que devem manter uma estru-
tura semelhante, como vimos nos exemplos anteriores.
Neste caso, não há mudança de sentido e a cor- Os principais elementos coordenativos que estabe-
reção gramatical foi mantida, pois essa mudança não lecem a boa relação de paralelismo são:
implica necessidade de vírgula nem provoca erro
gramatical. „ Conectivos aditivos: e, nem.
Observe o quadro a seguir para sanar suas dúvidas Ex.: “É necessário que você estude e que estipu-
sobre as diferenças entre os recursos: le um horário de estudos”.
„ Correlação de valor aditivo: não só/somente;
DIFERENÇAS ENTRE OS RECURSOS mas/como também tanto/quanto.
Ex.: “Não só corrigiu os erros, como também
Deslocamento Substituição
ajudou a todos”.
Substitui determinado termo „ Correlação de valor alternativo: ou...ou;
Muda um termo de lugar den-
do trecho, mantendo o mes- quer...quer; seja...seja.
tro do próprio enunciado
mo sentido Ex.: “Seja na alegria, seja na tristeza, estarei ao
Antes seu lado”.
Ex.: Dessa forma, todos poderemos ir juntos ao local do evento
Vejamos alguns exemplos de quebra do paralelis-
Depois mo sintático:
Depois
Ex.: Todos poderemos, dessa
Ex.: Assim, todos poderemos „ “Não gosto de calor nem de que faça frio” (pri-
forma, ir juntos ao local do
ir juntos ao local do evento
evento meiro objeto indireto é um substantivo, segun-
do uma oração);
„ “João enriqueceu com investimentos arrisca-
Este tema da reescrita de textos pode ser aplicado dos, isto é, negociando day trade. (o comple-
tanto a questões de concursos quanto à produção de mento de enriquecer é uma expressão nominal,
redações e textos diversos. logo, a explicação após a partícula expletiva,
Nas questões, é necessário analisar as opções deve ser da mesma natureza);
dadas para encontrar aquela na qual a escrita esteja „ “Não só corrigiu os erros e ajudou a todos” (a
gramaticalmente correta e o sentido original do tex- correlação não só estabelece que o complemen-
to esteja presente, sem mudanças na compreensão. to seja mas/como também);
Já nas redações, a reescrita é essencial para corri- „ “Lamentei não ter feito nada pelo cãozinho e
gir erros e escrever de forma mais clara. Ela auxilia, que ele saísse tão humilhado” (mistura de ora-
também, para poder utilizar o texto-base como sub- ções reduzida e desenvolvida);
sídio para a escrita, fazendo modificações de alguns „ “Aspirei e gostei do ar” (o verbo aspirar é regido
70 trechos e adaptando-os para a sua escrita. pela preposição “a”, diferente do verbo gostar).
z Paralelismo semântico
HORA DE PRATICAR!
Assim como o paralelismo deve ser mantido entre
termos equivalentes, ele deve também ser observado 1. (FGV —2019) “Causam menos dano cem delinquen-
entre as ideias do texto, a fim de garantir a coerência tes do que um mau juiz”; no caso dessa frase, o
global do conteúdo. vocábulo MAU está corretamente grafado; a frase
Para cumprir com a organização das ideias tex- abaixo em que esse mesmo vocábulo deveria ser gra-
tuais, o conteúdo deve ser apresentado de forma fado com a forma mal é:
coerente; nesse aspecto, o paralelismo tem função
primordial. a) Mau é o juiz, se má é a sentença;
Ex.: Encontrei duas pessoas na rua: uma era sua b) O castigo é mau, se não é justo;
irmã, a outra estava de muletas. c) O crime é sempre mau feito;
A frase acima desrespeita o paralelismo, pois não d) Todos devem combater o mau juiz;
se direciona o enunciado para saber sobre o estado e) Nem sempre um mau homem é um mau jurado.
físico das pessoas encontradas na rua, mas sim sobre
possíveis parentescos entre elas e o falante. 2. (FGV — 2021) “É minha opinião que não se deve dizer
Para que as frases apresentem uma boa estrutura mal de ninguém, e ainda menos da polícia. A polícia é
paralela, é preciso buscar uma coordenação entre as uma instituição necessária à ordem e à vida da cida-
ideias defendidas no texto. de.” (Machado de Assis, A Semana – 1871)
A seguir, apresentamos algumas estruturas com o Ao redigirmos um texto devemos ter cuidado com a
paralelismo semântico prejudicado e algumas suges- grafia das palavras empregadas; no caso do pensa-
tões de correção. mento de Machado, há o emprego graficamente cor-
reto da palavra mal.
„ O coronel da polícia militar fez duas operações: A frase abaixo em que o emprego da mesma palavra
a primeira no Morro do sacramento, a segunda está incorreto é:
no pulmão. (errado)
„ Motivo: As ideias não mantêm relação de coor- a) O mal é combatido pela polícia;
denação. O correto seria relacionar dois locais b) O mal-educado nunca é bem-vindo;
ou dois órgãos. c) Desrespeitar as leis é um mal hábito;
„ O coronel da polícia militar fez uma operação d) Mal chegou a polícia, todos se retiraram;
no Morro do sacramento, posteriormente, pas- e) Não há mal que sempre dure.
sou por uma cirurgia no pulmão. (correto)
„ Maciel tem um carro a diesel e outro importa- 3. (FGV — 2021)
do. (errado)
„ Motivo: Não podemos relacionar a origem do ATENÇÃO: A QUESTÃO DEVE SER RESPONDIDA A
carro e o tipo de combustível. PARTIR DO TEXTO III.
„ Maciel tem um carro movido a diesel, ele pos-
sui um outro carro, importado. (correto) TEXTO III

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: NORMA CULTA À proporção que alguns locatários abandonavam a


estalagem(a), muitos pretendentes surgiam dispu-
Norma Culta tando os cômodos desalugados. Delporto e Pom-
peo foram varridos pela febre amarela e três outros
A norma culta da língua portuguesa é estabelecida italianos estiveram em risco de vida. O número dos
pelos padrões definidos conforme a classe social mais hóspedes crescia, os casulos subdividiam-se em
abastada, detentora de poder político e cultural. As cubículos do tamanho de sepulturas, e as mulheres
pessoas cujo padrão social lhes permite gozar de pri- iam despejando crianças com uma regularidade de
vilégios na sociedade têm o poder de ditar, inclusive, gado procriador. Uma família, composta de mãe viúva
as regras da língua, direcionando o que é considerado e cinco filhas solteiras, das quais destas a mais velha
permitido e aquilo que não é. tinha trinta anos e a mais moça quinze, veio ocupar a
casa que Dona Isabel esvaziou poucos dias depois do
Norma Padrão casamento de Pombinha(c).

A norma padrão diz respeito às regras organizadas Agora, na mesma rua, germinava outro cortiço ali
nas gramáticas, estabelecendo um conjunto de regras perto, o “Cabeça-de-Gato”. Figurava como seu dono
LÍNGUA PORTUGUESA

e preceitos que devem ser respeitados na utilização um português que também tinha venda, mas o legíti-
da língua. Essa norma apresenta um caráter mais abs- mo proprietário era um abastado conselheiro, homem
trato, tendo em vista que também considera fatores de gravata lavada(b), a quem não convinha, por deco-
sociais, como a norma culta. ro social, aparecer em semelhante gênero de especu-
lações(d). E João Romão, estalando de raiva, viu que
Língua Formal aquela nova república da miséria prometia ir adiante
e ameaçava fazerlhe à sua perigosa concorrência.
A língua formal não está, diretamente, associada Pôs-se logo em campo, disposto à luta, e começou
a padrões sociais; embora saibamos que a influência a perseguir o rival por todos os modos, peitando fis-
social exerce grande poder na língua, a língua formal cais e guardas municipais, para que o não deixassem
busca formalizar em regras e padrões as suas normas respirar um instante com multas e exigências vexató-
a fim de estabelecer um preceito mais concreto sobre rias; enquanto pela sorrelfa* plantava no espírito dos
a linguagem. seus inquilinos um verdadeiro ódio de partido, que os 71
incompatibilizava com a gente do “Cabeça- de-Ga- 5. (FGV — 2019) O vocábulo “maior” se refere prioritaria-
to(e)”. Aquele que não estivesse disposto a isso ia mente a realidades que tenham uma extensão física;
direitinho para a rua, “que ali se não admitiam meias nesse caso, a frase abaixo em que esse vocábulo foi
medidas a tal respeito! Ah! ou bem peixe ou bem car- bem empregado é:
ne! Nada de embrulho!”.
a) Para maiores informações, leia o Código Penal;
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço, 1890. Disponível em: http://www.
dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf. Acesso em b) Um dos maiores freios aos delitos não é a crueldade
27 jul. 2020. das penas;
c) Não é a intensidade da pena, mas sua extensão, que
* sorrelfa: dissimulação silenciosa para enganar ou traz os maiores resultados;
iludir. d) A maior punição de um crime não provém da lei;
Assinale a opção que apresenta, em destaque, um e) Já está lotada a maior prisão do país.
vocábulo formado por derivação imprópria e outro
formado por derivação prefixal, respectivamente. 6. (FGV — 2021) “Não sei ver nada do que vejo; vejo bem
a) À proporção que alguns locatários abandonavam a apenas o que relembro.”
estalagem (…) A mesma relação entre as formas verbais sublinhadas
b) (…) mas o legítimo proprietário era um abastado con- se repete de forma correta em
selheiro, homem de gravata lavada (…)
c) (…) a casa que Dona Isabel esvaziou poucos dias a) fazer / faço.
depois do casamento de Pombinha. b) prover / provo.
d) (…) a quem não convinha, por decoro social, aparecer c) comprar / comprei.
em semelhante gênero de especulações. d) trazer / trazia.
e) (…) um verdadeiro ódio de partido, que os incompati- e) dizer / diz.
bilizava com a gente do “Cabeça-de-Gato”.
7. (FGV — 2019)
4. (FGV — 2021)

Texto associado “Em linhas gerais a arquitetura brasileira sempre con-


servou a boa tradição da arquitetura portuguesa. De
Texto 5 – História da lenda do Bumba meu boi Portugal, desde o descobrimento do Brasil, vieram para
aqui os fundamentos típicos da arquitetura colonial.
“No nordeste, a história do Bumba meu boi foi inspira- Não se verificou, todavia, uma transplantação integral
da na lenda da Mãe Catirina e do Pai Francisco (Chico). de gosto e de estilo, porque as novas condições de
Nessa versão, Mãe Catirina e Pai Francisco são um vida em clima e terras diferentes impuseram adapta-
casal de negros trabalhadores de uma fazenda. Quan- ções e mesmo improvisações que acabariam por dar
do Mãe Catirina fica grávida, ela tem desejo de comer à do Brasil uma feição um tanto diferente da arquitetu-
a língua de um boi. ra genuinamente portuguesa ou de feição portuguesa.
E como arquitetura portuguesa, nesse caso, cumpre
Empenhado em satisfazer a vontade de Catirina, Chi-
reconhecer a de característica ou de estilo barroco”.
co mata um dos bois do rebanho, que, no entanto, era
um dos preferidos do fazendeiro. (Luís Jardim, Arquitetura brasileira. Cultura, SP: 1952)

Ao notar a falta do boi, o fazendeiro pede para que As preposições, em língua portuguesa, ora são empre-
todos os empregados saiam em busca dele. gadas por uma exigência gramatical de um termo
Eles encontram o boi quase morto, mas com a ajuda de anterior, ora por necessidades semânticas, não sendo
um curandeiro ele se recupera. Noutras versões, o boi já de emprego obrigatório.
está morto e com o auxílio de um pajé, ele ressuscita.
No texto, o único exemplo de emprego obrigatório, exi-
A lenda, dessa maneira, está associada ao conceito
gido gramaticalmente, é:
de milagre do catolicismo ao trazer de volta o animal.
Ao mesmo tempo, mostra a presença de elementos
indígenas e africanos, tal como a cura pelo pajé ou a) “boa tradição da arquitetura portuguesa”;
curandeiro e a ressurreição. b) “ De Portugal, desde o descobrimento do Brasil”;
c) “fundamentos típicos da arquitetura colonial”;
A festa do Bumba meu boi é celebrada para comemo- d) “transplantação integral de gosto”;
rar esse milagre.” e) “uma feição um tanto diferente da arquitetura genuina-
“Empenhado em satisfazer a vontade de Catirina, Chi- mente portuguesa”.
co mata um dos bois do rebanho, que, no entanto, era
um dos preferidos do fazendeiro.” 8. (FGV — 2019)
Nesse segmento do texto 5 há uma relação vocabular
“O universo não é hostil nem amigável.
correta, ao escrever-se “um dos bois do rebanho”, já
É simplesmente indiferente.”
que “rebanho” é o vocábulo coletivo adequado para
“boi”. A opção abaixo em que o emprego do coletivo é
INADEQUADO é: As palavras sublinhadas exemplificam

a) uma das abelhas do enxame; a) antônimos.


b) um dos mosquitos da nuvem; b) homônimos homógrafos.
c) um dos elefantes da manada; c) sinônimos.
d) uma das cabras do fato; d) parônimos.
72 e) um dos porcos do chiqueiro. e) homônimos homófonos.
9. (FGV — 2019) Uma reportagem que abordava a delin- Nesse segmento do texto 1, a pontuação mais ade-
quência juvenil trazia a seguinte frase: “A maioria des- quada seria:
ses jovens vivem à custa dos pais”.
A palavra custa traz sentido diferente de custas no a) A pesquisa histórica revela que, no dia 20 de novem-
plural, empregada na linguagem jurídica; o exemplo bro de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas ações,
abaixo em que a possível mudança de sentido NÃO promovendo justiça e organizando os serviços de
ocorre com a passagem do singular para o plural é: ordem pública, como melhor entendesse, nas terras
conquistadas do Brasil.
a) ferro / ferros; b) A pesquisa histórica revela: que no dia 20 de novem-
b) féria / férias; bro de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas ações,
c) cobre / cobres; promovendo justiça e organizando os serviços de
d) humanidade / humanidades; ordem pública, como melhor entendesse, nas terras
e) motivo / motivos. conquistadas do Brasil.
c) A pesquisa histórica revela que no dia 20 de novembro
10. (FGV — 2021) Leia a seguinte frase: de 1530 a polícia brasileira iniciava as suas ações, pro-
movendo justiça, e organizando os serviços de ordem
“A história é testemunha do passado, luz da verdade, pública, como melhor entendesse nas terras conquis-
vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tadas do Brasil.
tempos antigos.” d) A pesquisa histórica revela que, no dia 20 de novem-
bro de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas ações:
Assinale a opção que mostra os dois termos que são promovendo justiça e organizando os serviços de
complementos do vocábulo anterior. ordem pública, como melhor entendesse, nas terras
conquistadas do Brasil.
a) da memória / da vida. e) A pesquisa histórica revela, que no dia 20 de novem-
b) do passado / da verdade. bro de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas ações,
c) da verdade / da memória. promovendo justiça, e organizando os serviços de
d) da vida / dos tempos antigos. ordem pública, como melhor entendesse, nas terras
e) dos tempos antigos / da verdade. conquistadas do Brasil.

11. (FGV — 2019) Na tentativa de dar concisão, muitas 13. (FGV — 2021) “É minha opinião que não se deve dizer
orações adjetivas podem ser substituídas por adje- mal de ninguém, e ainda menos da polícia. A polícia é
tivos; a opção abaixo em que essa substituição foi uma instituição necessária à ordem e à vida da cida-
corretamente realizada é: de.” (Machado de Assis, A Semana – 1871)
Nesse texto, Machado emprega corretamente o acen-
a) Não há bem que sempre dure / efêmero; to grave indicativo da crase; a frase abaixo em que
b) Nem tudo que reluz é ouro / iluminado; esse mesmo acento está empregado de forma ade-
c) Fatos que se repetem são cansativos / frequentes; quada é:
d) Sentimentos que duram pouco trazem dor / passageiros;
e) Muitas moedas que são guardadas perdem valor / a) Os clientes pagaram a compra à crédito;
resguardadas. b) A ordem é necessária à todo grupo social;
c) Ninguém abandonou o local à correr;
12. (FGV — 2021) d) O motorista deu à documentação ao policial;
e) Todos os policiais saíram à mesma hora.
Texto 1
14. (FGV — 2020) Atribuições do oficial de justiça: “Cum-
“A instituição policial brasileira, segundo documenta- prir mandados judiciais; preparar salas com livros e
ção existente no Museu Nacional do Rio de Janeiro, materiais necessários ao funcionamento das sessões
data de 1530, quando da chegada de Martim Afonso de julgamento; buscar, na Secretaria e nos Gabine-
de Sousa enviado ao Brasil – Colônia por D. João III. A tes, os processos de cada Relator, separando-os
pesquisa histórica revela que no dia 20 de novembro e ordenando-os, colhendo assinaturas, quando for
de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas ações, o caso; atender e dar informações aos advogados,
promovendo justiça e organizando os serviços de partes e estagiários presentes na sessão, anotando
ordem pública, como melhor entendesse nas terras os pedidos de preferência pela ordem de chegada dos
conquistadas do Brasil. A partir de então a institui- interessados; auxiliar na manutenção da ordem e efe-
LÍNGUA PORTUGUESA

ção policial brasileira passou por seguidas reformula- tuar prisões, quando determinado; auxiliar o Secretá-
ções nos anos de 1534, 1538, 1557, 1565, 1566, 1603, rio de Câmara, quando solicitado o auxílio; cumprir as
e, assim, sucessivamente. Somente em 1808, com demais atribuições previstas em lei ou regulamento”.
a chegada do príncipe Dom João ao Brasil, a polícia Em cada opção a seguir foi destacado um substantivo
começou a ser estruturada, comandada por um dele- do texto acima; a opção em que o adjetivo referente
gado e composta por escrivães e agentes.” ao substantivo destacado está incorreto é:

“A pesquisa histórica revela que no dia 20 de novem- a) livros e materiais / necessários;


bro de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas b) advogados, partes e estagiários / presentes;
ações, promovendo justiça e organizando os servi- c) pedidos / interessados;
ços de ordem pública, como melhor entendesse nas d) auxílio / solicitado;
terras conquistadas do Brasil.” e) atribuições / previstas 73
15. (FGV — 2021) 17. (FGV — 2019) Analise a charge a seguir.

ATENÇÃO: A QUESTÃO DEVE SER RESPONDIDA A


PARTIR DO TEXTO II.

TEXTO II

Assinale a opção que indica uma manchete adequada


a seu conteúdo.

a) Balas perdidas matam crianças nas escolas.


b) A educação é uma arma contra a violência.
c) Todos contra a liberação das armas.
d) Estudantes reagem com violência contra os cortes.
e) Escolas públicas em perigo.
GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. www1.folha.uol.com.br.
05/2020. 18. (FGV — 2019)

Ao longo do Texto II, encontram-se as seguintes figu- “Nunca serei juiz. Neste grande vale onde a espécie
ras de linguagem: humana nasce, vive, morre, se reproduz, se cansa, e
depois volta a morrer, sem saber como nem por quê,
a) onomatopeia e prosopopeia. distingo apenas felizardos e desventurados”.
b) antítese e comparação.
c) metáfora e eufemismo. Nessa frase do escritor italiano Ugo Foscolo, a função
d) catacrese e ironia. do segundo período é:
e) sinestesia e hipérbole.
a) contradizer o primeiro;
16. (FGV — 2021) b) explicar melhor o que é dito antes de forma vaga;
c) repetir o mesmo pensamento já dito;
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver pros- d) justificar a declaração anterior;
perar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de e) argumentar contra o primeiro período.
tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos
maus, // o homem chega a desanimar da virtude, a rir- 19. (FGV — 2021) A frase abaixo que não se refere a uma
-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.“ — Ruy outra frase bastante conhecida (intertextualidade) é:
Barbosa, político, escritor e jurista brasileiro (1849
– 1923). a) “A justiça tarda, mas não chega”;
b) “Depois da impunidade vem a bonança”;
Fonte: https://citacoes.in/citacoes-de-justica/?page=2 c) “Assim tropeça a humanidade”;
d) “Não existe o herói sem a plateia”;
Esse famoso texto de Ruy Barbosa pode ser segmen- e) “Saio da História para cair na vida”.
tado em duas partes, como indicam as duas barras
inclinadas. 20. (FGV — 2021) “O pessimismo, depois que você se acos-
Sobre essa segmentação, é correto afirmar que: tuma com ele, é tão agradável quanto o otimismo.”
Assinale a opção que mostra a maneira de reescrever
a) enquanto o primeiro segmento mostra aspectos nega- essa frase que modifica o seu sentido original.
tivos, o segundo segmento mostra aspectos positivos
opostos; a) O pessimismo, após acostumar-se com ele, é tão
b) o primeiro segmento mostra a situação política cau- agradável quanto o otimismo.
sada pelas atitudes do homem citadas no segundo b) Tão agradável quanto o otimismo é o pessimismo,
segmento; após acostumar-se com ele.
c) o segundo segmento indica as consequências negati- c) O pessimismo é tão agradável quanto o otimismo,
vas das causas citadas no primeiro segmento; depois que você se acostuma com ele.
d) o primeiro segmento apresenta várias explicações d) O pessimismo é tão agradável quanto o otimismo,
para os fatos citados no segundo segmento; desde que você se acostume com ele.
e) o segundo segmento enumera conclusões retiradas e) Depois que você se acostuma com o pessimismo, ele
74 dos pensamentos expressos no primeiro segmento. é tão agradável quanto o otimismo.
9 GABARITO

1 C

2 C

3 E

4 E

5 E

6 A

7 D

8 A

9 E

10 D

11 D

12 A

13 E

14 C

15 A

16 C

17 B

18 D

19 D

20 D

ANOTAÇÕES

LÍNGUA PORTUGUESA

75
ANOTAÇÕES

76
Em concursos públicos de cargos relacionados com
educação, é comum encontrar questões que tratam
deste aspecto histórico do computador e o seu impac-
to na sociedade. A maioria dos concursos de nível

CONHECIMENTOS médio envolvem o conhecimento dos fundamentos da


computação e nos cargos de nível superior, os deta-

BÁSICOS DE
lhes técnicos e aplicações das diferentes arquiteturas
computacionais.
Os equipamentos computacionais são apresentados
INFORMÁTICA em diferentes construções, como desktop, notebook,
tablet e smartphone, porém mantendo os princípios de
funcionamento fundamentais.

COMPONENTES DE UM COMPUTADOR Organização e Arquitetura de Computadores

PROCESSADORES, MEMÓRIA E PERIFÉRICOS MAIS O computador é um dispositivo eletrônico forma-


COMUNS do por componentes altamente integrados. Ele é a
evolução de uma máquina mecânica, que no passa-
A informática, ou computação, é uma área do do foi usada para a realização de tarefas repetitivas,
conhecimento que foi desenvolvida baseada em envolvendo cálculos matemáticos.
máquinas, inicialmente com válvulas e depois com O computador apresenta alto grau de precisão
transistores, englobando as áreas de software (progra- e previsibilidade. Se foi programado para somar os
mas) e hardware (equipamentos). valores A e B, apresentando C como resultado, sempre
Os computadores como conhecemos e usamos que forem informados A e B, o resultado será C.
atualmente, surgiram no final da década de 70, como Diversos textos identificam épocas diferentes para
PC (Personal Computer – computador pessoal), em um o surgimento de equipamentos relacionados com a
período dominado pelos mainframes (computadores história do computador. A história antiga é uma dis-
de grande porte) e terminais nas empresas. ciplina em constante atualização a cada nova desco-
Os mainframes eram computadores de grande berta. Vamos nos deter aos elementos essenciais dos
porte com sistemas próprios, hardware dedicado e dispositivos, que foram importantes para o computa-
vendido por milhares de dólares por empresas his- dor da atualidade.
tóricas como a IBM, chegando a ocupar salas e até O ábaco é um instrumento de cálculo que combi-
andares inteiros de prédios. Concentravam o proces- na posições de pedras em linhas sequenciais, usado
samento de dados dos programas desenvolvidos espe- desde o surgimento das operações básicas de cálcu-
cificamente para aquele dispositivo, em linguagens de lo até os dias de hoje por estudantes e entusiastas. O
programação específicas para aquele tipo de trabalho. sequenciamento das posições numéricas é usado nos
Os terminais nas empresas operavam basicamen- processadores para operação bit a bit.
te como entrada e saída de dados, reunindo informa- O mecanismo de Anticítera era usado para calcu-
ções coletadas de entradas ou digitações, enviando lar a partir de calendários as posições astronômicas,
para o mainframe da empresa por uma conexão de eclipses e astrologia. A previsibilidade dos resultados
rede padronizada para aquele equipamento, e rece-
é usada nos processadores para validação do resulta-
bendo o resultado do processamento que foi realizado
do obtido nas operações.
remotamente.
Blaise Pascal, notável matemático na Idade Média
Pois é, a informática era muito técnica e sob o pon-

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


desenvolveu a Pascalina (Le pascaline), um instru-
to de vista da atualidade, engessada e cheia de regras,
mento matemático considerado a primeira calculado-
limitações e proibições.
ra mecânica do mundo, para realização de adição e
Criou-se uma aura técnica quase indecifrável na
subtração. Os processadores utilizam adições suces-
área, que perdurou por muito tempo e ainda assusta
sivas para realização de multiplicação, e adição com
alguns novos usuários.
negativos para realização de subtrações, inspirados
nos princípios da antiga Pascalina.
Dica Mas foi ele quem inventou o sistema binário? Não.
As questões de informática nos concursos Foi outro inventor contemporâneo, o matemático
públicos são direcionadas para a interpretação alemão Gottfried Wilhelm Leibniz quem criou um
de conceitos e aplicação prática do uso de pro- modelo capaz de multiplicar, dividir e extrair raízes
gramas. Contexto histórico, decoreba de datas e quadradas. Nascia o sistema binário, utilizado até
nomes não costumam ser questionados em pro- hoje nos dispositivos computacionais.
vas atualmente. Dos teares da França veio uma contribuição rele-
vante para a computação atual, que eram os cartões
Com a popularização dos computadores na déca- metálicos perfurados dos teares de Jacquard. A pro-
da de 80 e a abertura da Internet, tudo começou a gramação dos teares a partir de comandos automá-
mudar. A chamada Revolução Digital mudou o mundo ticos das operações repetitivas, gravadas em cartões
mais rapidamente do que qualquer outra revolução metálicos “de memória” furados ou não, determinava
anterior. o que a máquina iria realizar.
77
Como podemos observar, cada dispositivo contribuiu com um detalhe importante para o computador moderno.
O grande salto em direção ao computador veio com a máquina diferencial (e analítica) de Charles Babbage.
Com ela, o cálculo sucessivo de diferenças entre conjuntos de números, combinando o princípio dos cartões per-
furados do Tear de Jacquard com o sistema binário de Leibniz.
As propostas anteriores foram melhoradas e Herman Holerith apresentou no final do século 19 a máquina
de Holerith, para o processamento das perfurações dos cartões do censo demográfico nos Estados Unidos. Ele
fundou a empresa que, associada a outras, se tornou a gigante IBM.
Nos anos 30, o engenheiro alemão Konrad Zuse construiu o computador Z1. A mudança em relação aos inven-
tos anteriores se deu pela flexibilidade de cálculos, usando o sistema binário para calcular qualquer operação
matemática e armazenar os resultados em uma memória. O princípio de funcionamento por luzes foi utilizado a
seguir pelos ingleses na Inglaterra da Segunda Guerra Mundial.
Os ingleses construíram o Colossus e os americanos o Mark I. Basicamente eram computadores destinados a
decodificar o código secreto dos inimigos de guerra. Derivado deles, surgiu o ENIAC (Eletronic Numeral Integrator
e Calculator) para cálculos matemáticos, dispensando o trabalho de centenas de pessoas.
O modelo de construção do ENIAC, que usava válvulas, resistências e interruptores foi rapidamente superado
pela novidade chamada de transistor. A redução do tamanho foi acompanhada da principal mudança interna
de sua arquitetura, proposta pelo matemático John von Neuman, que sugeriu que o computador armazenasse e
executasse programas diferentes.
A arquitetura de von Neuman se tornou o modelo do computador moderno, e o EDVAC (1949) foi o primeiro
computador com programa armazenado em memória.
A arquitetura de von Neumann é o padrão atual para os dispositivos computacionais. Já existem estudos e
projetos de computadores quânticos, usados por grandes empresas como a Google, mas que estão longe de nossas
residências por questões de preços proibitivos.
A seguir, de acordo com as características tecnológicas dos computadores, foram organizadas as ‘gerações’,
listadas na tabela a seguir.

QUINTA
PRIMEIRA GE- SEGUNDA GE- TERCEIRA GE- QUARTA GE-
GERAÇÃO
RAÇÃO (1940 RAÇÃO (1956 RAÇÃO (1964 RAÇÃO (1971
(1985-ATUAL-
- 1956) - 1963) - 1971) - 1985)
MENTE)

Transistores são
Transistores
Utilizavam válvu- miniaturizados Surgem os
substituem as
Construção las para realizar e agrupados em microprocessa- Redes e Internet
válvulas nos
computação Circuitos Integra- dores
circuitos
dos (CIs)

Interação com Interfaces gráfi-


Interação monitor e cas e mouse são Multimídia
teclado usados

Máquina enor- A CPU do com-


Dimensões mes, ocupavam putador toda em Mobilidade
salas inteiras um único chip!

Utilizavam car-
Mainframe da
Tambores mag- tões perfurados Magnético e
UFPB usou car- Eletrônico e
Armazenamento néticos para para entrada de ótico, sequencial
tão perfurado até remoto
memória dados e impres- e aleatório
1987
soras para saída

Consumo de Consumiam mui- Consumo


Consumo alto Consumo alto Consumo baixo
energia ta energia mediano

Preço do compu-
Utilizados tador despenca
Automatização Inteligência
Aplicação apenas para Computação em-
de processos artificial
cálculos barcada (carros,
mísseis etc.)

Programados
Surgem os
em linguagem Programação em Softwares de
Programação Sistemas App’s pessoais
de máquina, em Assembly alto nível
Operacionais
binário

Primeiras lingua-
gens de alto nível
Programação Instaladas e
Linguagens surgem: Fortran Nanotecnologia
gráfica remotas
(56), Cobol (59) e
Algol(58)
78
QUINTA
PRIMEIRA GE- SEGUNDA GE- TERCEIRA GE- QUARTA GE-
GERAÇÃO
RAÇÃO (1940 RAÇÃO (1956 RAÇÃO (1964 RAÇÃO (1971
(1985-ATUAL-
- 1956) - 1963) - 1971) - 1985)
MENTE)

ENIAC, EDVAC,
MIT TX0, PDP-1 e IBM/360, Guia da Apple II, IBM-PC, Internet das
Exemplos UNIVAC e
IBM 1401 Apolo 11 Z-80, Xerox Alto coisas
Colossus

Características das gerações de dispositivos computacionais

A evolução do hardware impulsiona o desenvolvimento de novos softwares, e o desenvolvimento de novos


softwares impulsiona a criação de novos hardwares. A informática está em constante atualização.
As gerações possuem características tecnológicas bem definidas, mas como o usuário viu esta evolução?
Na tabela a seguir veja um comparativo das gerações, sob a ótica do utilizador.

QUINTA
QUARTA GE-
PRIMEIRA GERA- SEGUNDA GERAÇÃO TERCEIRA GERAÇÃO GERAÇÃO
RAÇÃO (1971
ÇÃO (1940 - 1956) (1956 - 1963) (1964 - 1971) (1985-ATUAL-
- 1985)
MENTE)
Utilizavam válvulas
Tecnologia dos Utilizavam Circuitos Integrados (de dezenas a centenas de mi-
(muita energia e Utilizavam transistores
Circuitos lhões de transistores num chip)
calor)
Tambores magnéti-
Núcleos magnéticos
Memória cos e linhas de retar- Circuitos integrados de memória volátil
de ferrite
do de mercúrio
Linguagem de
máquina direto na Linguagem de monta-
Forma de
CPU (sem programa gem (Assembly), For- Linguagens de alto nível de vários estilos
Programar
armazenado em tran e Cobol
memória)
SOs multiusuário,
Não havia, o progra- SOs em mainframes per- SOs monou- multitarefa com
Sistema ma em execução Apenas um programa mitiam vários programas suário (DOS, interface gráfica
Operacional tinha domínio total executava por vez executando simultanea- Windows) e em PCs (Linux,
do hardware mente a CPU monotarefa Windows 95, Mac
OS etc)
Diversos outros
dispositivos mul-
timídia (caixa de
Periféricos de Cartões perfurados para entrada som, mouse, tela
Teclado e Monitor, depois mouse
E/S Impressora para saída dos resultados touch)
Integração com
outros dispositi-
vos de E/S
Centenas de milhares Dezenas de milhares de Milhares de Centenas de

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Custo Milhões de dólares
de dólares dólares dólares dólares

Comparativo das gerações de dispositivos computacionais e sua operação

Atualmente, estamos utilizando equipamentos de 5ª geração, com foco em mobilidade e destaque para as
câmeras dos smartphones, cada vez mais potentes.
Você saberia dizer o que é que todas estas gerações possuem em comum? Elas seguem a arquitetura de von
Neumann, que se caracteriza por um dispositivo que armazena no mesmo espaço de memória os programas e
os dados. Seja um desktop no escritório da empresa ou o smartphone do funcionário da empresa, passando pelo
notebook do aluno na escola on-line ou pelo tablet de coleta de dados do censo do IBGE, todos eles seguem a arqui-
tetura de von Neumann.
Ela utiliza bits com valores declarados de 0 ou 1.
Uma nova tendência, que vem de encontro à inteligência artificial, são os computadores quânticos, que assu-
mem valores além dos bits 0 e 1.
Os computadores quânticos estão sendo desenvolvidos para executarem cálculos por meio da superposição e
interferência, que são propriedades da mecânica quântica. Enquanto o computador convencional da arquitetura
de von Neumann tem os valores de bits definidos como zero ou um, nos computadores quânticos a medida é o
qubit que poderá assumir vários valores de zero ou vários valores de um, acelerando exponencialmente a velo-
cidade de processamento. 79
Unidade Central de Processamento
Dados e
instruções
Registradores
Contador de
programa
Memória
Principal

ULA Unidade de Endereços


Controle

Sistema de Entrada e Saída

Arquitetura de von Neumann

Vamos conhecer o funcionamento desta arquitetura.


O usuário introduz dados no dispositivo computacional por meio do sistema de entrada e saída, como o teclado e
o mouse.
Os dados são armazenados na memória, em endereços que identificam a localização da informação.
Quando o processador (UCP ou CPU) precisa realizar um cálculo, busca na memória principal os dados e instruções.
A unidade de controle controla o que será calculado. Os valores calculados pela Unidade Lógico Aritmética (ULA) são
armazenadas nos registradores, que guardam os resultados até o final do processamento.
Com o cálculo realizado, os resultados são armazenados na memória e/ou apresentados em um dispositivo de
saída.
Parece até um computador desktop, certo? Pois é. Computador desktop, portátil como notebook, tablet e smartphone
são construções fabricadas com o modelo da arquitetura de von Neumann.
O computador pessoal surgiu na década de 70, oferecido pela IBM com o sistema operacional MS-DOS da Microsoft.
Na década de 80 ganhou o mundo, quando diversos fabricantes passaram a oferecer equipamentos compatíveis
com o padrão PC. A Apple desenvolveu uma interface gráfica, e a IBM e Microsoft também.
No começo dos anos 90, com a abertura de mercado realizada pelo então presidente Fernando Collor, o Brasil pas-
sou a adquirir equipamentos de primeiro mundo, e acessar a rede mundial de computadores (a Internet).
De lá para cá, o nível de integração dos equipamentos só cresceu, e hoje podemos ter um computador inteiro na
palma da mão (tablets), ou com peso reduzido (notebooks), assim como os tradicionais desktops em nossas mesas.
O modelo de construção amplamente questionado em provas de concursos é o desktop (computador de mesa).

Computador Desktop

Computador desktop com impressora

Com componentes internos (instalados na unidade de sistema) e componentes externos (periféricos), os com-
putadores desktop evoluíram em capacidade de processamento, memória, armazenamento e recursos.
Os anúncios de computadores costumam seguir uma padronização de informações: processador, memória
principal (RAM) e memória de armazenamento de massa (HD ou SSD).
Algumas bancas organizadoras de concursos costumam pedir a identificação de um dos componentes listados
no anúncio.
“Computador Intel Core I5 8GB 240GB SSD” indica um computador com processador “Intel Core i5”, que possui
8GB de memória RAM, com 240GB de armazenamento de massa no modelo SSD (Solid State Disk).
“Computador ICC IV2361KM19 Intel Core I3 3.20 GHz 6GB HD 500GB” indica um computador com processador
Intel Core i3 de 3,20 GHz de velocidade máxima (sem overclock), 6 GB de memória RAM e disco rígido com 500GB
80 de capacidade.
Notebook

Com alto nível de integração dos componentes, um notebook reúne em um conjunto fabril os componentes de
entrada de dados (teclado e touch pad) com a tela de saída de dados, que também poderá ser do tipo touchscreen.
Possui bateria para garantir mobilidade, além de recursos de conectividade para qualquer tipo de trabalho,
seja estudantil, corporativo ou para lazer.
As unidades de disco óptico (CD, DVD, BD) caíram em desuso por causa do armazenamento removível via USB
(pendrives), que, por sua vez, caíram em desuso por causa do armazenamento de dados na nuvem. Entretanto,
mesmo sendo consideradas tecnologias ultrapassadas para os dias de hoje, continuam sendo questionadas em
provas de concursos.

Tablets e Smartphones

Os tablets são computadores completos, com recursos específicos (conexão 3G, expansão de memória com
memory card), teclado virtual, câmera fotográfica, câmera de vídeo conferência, sensor de luminosidade etc.
A Apple tem o seu próprio modelo iPad, a Samsung tem a linha Galaxy Tab e Galaxy Note, a Acer tem o Iconia,
a Lenovo tem o Yoga Tablet, e os demais fabricantes também oferecem suas opções.
Os smartphones, em relação aos computadores desktop, apresentam a vantagem da conectividade móvel para
acesso às redes de telefonia.

Tablet iPad e smartphone iPhone, ambos da Apple

Os modelos portáteis, por causa da constante e frenética atualização de recursos, não costumam ser questio-
nados em provas de concursos. Sobre os dispositivos portáteis, os aplicativos e sistemas operacionais são mais
questionados.

Componentes de Um Computador (Hardware e Software)

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Existem várias formas de classificação do hardware, seja por meio da conexão, da natureza do componente, da
utilização etc. Veja a seguir uma tabela, item por item, com os componentes de um computador, focando na conexão
do componente e dicas relacionadas.
O processador do computador é o item mais questionado de hardware por todas as bancas organizadoras.

COMPONENTE
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
INTERNO
Cérebro do computador, composto de 3 unidades: Unidade
Principal item do computador. Ins-
Processador lógica e aritmética1, a unidade de controle2 e a unidade de
talado na placa mãe.
registradores3.

Cache L1 Memória rápida nível 1 (level 1). Próximo ao núcleo do processador.

Cache L2 Memória rápida nível 2 (level 2). Na borda do processador, próximo à memória RAM4.

1 – ULA, unidade matemática, unidade lógico aritmética, co-processador matemático.


2 – Responsável pela busca da próxima instrução (que será executada) e decodificação.
3 – Armazena os valores de entrada e saída das operações.
4 – RAM – Random Access Memory – memória de acesso aleatório ou randômico. Conhecida como memória principal. 81
COMPONENTE
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
INTERNO
Na borda do processador, próximo à memória RAM. Alguns
Cache L3 Memória rápida nível 3 (level 3)
processadores novos possuem cache L3

Adicionada nos slots de expansão da placa mãe, banco de


Memória RAM Memória principal
memórias. Ela é temporária, volátil, de acesso aleatório

Processador
Memória RAM
Unidade de Registradores

Cache L1
Unidade
Unidade de Cache L2 Discos de
Lógico
Controle armazenamento
Aritmética
Cache L3

Imagem 4 – o processador e seus componentes internos

COMPONENTE INTERNO DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA

Recebe os componentes internos Motherboard. A velocidade do barramento determi-


Placa mãe
instalados no computador na quais componentes podem ser adicionados

Chip de memória CMOS5


BIOS Memória ROM (Read Only Memory)
Contém informações para o boot

Northbridge – ponte norte, memórias e processa-


Chip com informações para o fun-
dor (componentes eletrônicos);
cionamento da placa mãe. Contro-
Chipset Southbridge – ponte sul, periféricos e dispositivos
lam o tráfego de dados entre os
mecânicos
componentes internos e externos
Responsável pelo barramento (BUS) do computador

Motherboard – placa mãe

Memória RAM

Processador
chipset

Northbridge

Memória ROM

BIOS

Chipset

Southbridge

Imagem 5 – a placa mãe e seus principais componentes

82 5 – CMOS - complementary metal-oxide-semiconductor – tipo de componente eletrônico.


COMPONENTE
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
INTERNO

Responsável por construir as imagens. Poderá VGA, SVGA, XGA, conector DB15, via PCI/AGP
Placa de vídeo
ser onboard ou off-board são os padrões antigos
Responsável por construir as imagens. Possui As aceleradores de vídeo oferecem HDMI, DVI e
Aceleradora de vídeo mais memória e é mais rápida que a placa de RCA como conexão
vídeo padrão HDMI vídeo/áudio e S/PDIF para áudio

RJ-45, cabo de rede 8 fios.


Permite conectar a uma rede (roteador, hub,
FTTH, fibra óptica.
Placa de rede switch, bridge). Opera como entrada e saída
Wi-Fi, wireless.
de dados
Usada para conexão a uma rede (PAN, LAN)

RJ-11, cabo telefônico 2 ou 4 fios


Permite conectar a linha telefônica, para envio
Modem Linha telefônica necessita de modem para co-
e recebimento de informações
nexão ao provedor de Internet

Permite conexão via rede móvel (celular), USB6;


Modem 4G
pela linha telefônica celular Funciona igual ao modem convencional

RJ-11, cabo telefônico;


Fax Permite o envio de imagens na linha telefônica
Caiu em desuso por causa do e-mail

Em breve a tecnologia 5G será a opção para a comunicação móvel em nosso país, substituindo a tecnologia 4G.
Os periféricos de entrada e saída de dados, com interação direta do usuário, são os mais conhecidos e mais
questionados em provas.

COMPONENTE
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
EXTERNO
CRT (tubo), LCD, LED, Plasma. Podem utili-
Responsável por exibir as imagens. É um perifé-
Monitor de vídeo zar conexões DB15 (VGA) até HDMI (mais
rico de saída de dados
moderna)
Responsável por exibir as imagens e receber a
Monitor de vídeo CRT (tubo), LCD, LED, Plasma
entrada de dados. É um periférico misto, de en-
touchscreen Tela capacitiva7 ou resistiva8
trada e saída de dados
Teclado Principal periférico de entrada de dados Layout ABNT2 via conexão USB ou Bluetooth
Dispositivo apontador, também para entrada de Conexão Serial via USB ou Bluetooth
Mouse
dados Existem modelos óticos, sem fio (wireless)
Matricial (impacto), jato de tinta, laser (toner), Conexão LPT (paralela), COM (serial), USB,
Impressora
cera ou térmica. Periférico de saída de dados RJ-45, wireless9 (Wi-Fi10)
Para digitalização de imagens. Periférico de en- COM (serial), USB
Scanner
trada de dados Reconhece textos com filtro OCR

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Impressora, copiadora, scanner e opcionalmen- Possui diferentes tipos de conexões, como
Multifuncional te fax. Periférico misto, de entrada e saída de USB, RJ-45, wireless (Wi-Fi) e é o modelo mais
dados popular atualmente

Saiba:
As impressoras possuem diferentes modelos de impressão de acordo com a tecnologia utilizada. Confira no
capítulo sobre Dispositivos de Entrada e Saída detalhes sobre cada um dos modelos de impressoras disponíveis
no mercado.
Conforme estudado em Arquitetura de Computadores, o modelo von Neumann indica que o computador
moderno utiliza o armazenamento para guardar os programas (instruções) e os dados. Vejamos algumas formas
de armazenamento permanente de dados.
6 – USB – Universal Serial Bus – Barramento serial universal. Padrão atual de conexões para periféricos.
7 – A tela capacitiva, utilizada no iPhone e iPad, por exemplo, uma película é alimentada por uma tensão, e reage com a energia presente no
corpo humano, e a troca de elétrons produz um distúrbio de capacitância no local, sendo rápida e corretamente identificado. Tecnologia mais
cara e difícil de ser construído, presente em modelos topo de linha.
8 – A tela resistiva, presente em modelos de baixo custo de celulares, smartphones e tablets, com precisão em torno de 85%, resiste melhor
a quedas e variações de temperatura, necessitam de contato físico para determinar a posição do toque, ao coincidir os pontos de diferentes
camadas sobrepostas.
9 – Wireless – toda conexão sem fio é uma conexão wireless, incluindo o Wi-Fi, infravermelho, rádio, via satélite etc.
10 – Wi-Fi – Wireless Fidelity – conexão confiável sem fios. 83
COMPONENTE DE
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
ARMAZENAMENTO
Memória secundária de armazenamento IDE, SATA, USB
Disco rígido
magnético11 Permanente, não-volátil, “unidade C:”, hard disk (HD)
SATA II, USB
Memória secundária de armazenamento me-
Disco rígido Permanente, não-volátil, “unidade C:”, SSD (Solid State
mória flash12
Disk)
Memória ‘terciária’, destinada a backup (có- IDE, SATA, USB
Disco óptico
pia de segurança. CD, DVD, BD
Conexão USB é expansível por hub USB para até 127
Memória portátil, e os pendrives são memória
Discos removíveis conexões
flash com conexão USB
Pen-drive, cartão de memória, HD externo

O fornecimento de energia para o dispositivo computacional precisa ser contínuo e estável. Quando o dis-
positivo não possui bateria própria, alguns equipamentos externos de apoio são altamente recomendados na
instalação.

COMPONENTE EXTERNO
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
DE APOIO
Recebe corrente alternada, entrega corrente estabilizada.
Usa baterias que alimentarão o dispositivo por um período
No-break Fornece energia em caso de falha da rede
de tempo suficiente para encerrar os processos abertos
com segurança
Elimina picos de tensão da rede elétrica. Estabiliza a cor-
Estabilizador Estabiliza o sinal elétrico
rente elétrica
‘Limpa o sinal elétrico’;
Filtro de linha Elimina ruídos da rede elétrica Ruídos são interferências, como motores e campos
magnéticos

Importante!
Os dispositivos de apoio já foram questionados no passado. Atualmente não têm aparecido em provas
de concursos, mas fica a recomendação: tenha pelo menos um filtro de linha para ligar o seu dispositivo
computacional.

As Unidades de Medida do Sistema Internacional

De acordo com a arquitetura de von Neumann, os dados e programas estão armazenados na memória. Eles
são acessados pelo barramento, que localiza a informação no endereço de memória informado, e entrega para o
processador realizar o processamento.
Tanto o armazenamento de dados como a transferência de informações são medidas com siglas que identifi-
cam a quantidade de informação.
O bit é o sinal elétrico que armazena uma informação, com valor 0 ou 1. O conjunto de 8 bits forma um dado,
que é um byte.

Exabyte
Petabyte (EB)
Terabyte (PB)
Gigabyte (TB)
(GB) trilhão
Megabyte
(MB) bilhão
Kilobyte
(KB) mil milhão
Byte (B)

Medidas do sistema internacional aplicadas ao armazenamento de dados

11 – Existem modelos de disco rígido sem disco, como os SSD (Solid State Drive), que é uma memória flash, armazenamento eletrônico.
12 – A memória flash permite que a troca de informação seja mais rápida, e quando o dispositivo é desligado, poderá voltar rapidamente onde
84 estava antes.
1 Byte representa uma letra, ou número, ou símbolo. Ele é formado por 8 bits, que são sinais elétricos (que vale
zero ou um). Os dispositivos eletrônicos utilizam o sistema binário para representação de informações.
Portanto, quando um arquivo tem 15 KB, ele possui 15.000 bytes (de forma genérica) ou exatos 15.360 bytes.
Qual é a diferença?
O bit representa dois possíveis valores. Desta forma, os valores do sistema binário são em base 2.
Quando dizemos 1000 bytes, na verdade são 1024 bytes (2 elevado a 10).
Um quilobyte (1KB) é exatamente 1024 bytes.
Um megabyte (1MB) é exatamente 1.048.576 bytes (2 elevado a 20).
Um gigabyte (1GB) é exatamente 1.073.741.824 bytes (2 elevado a 30).
Um terabyte (1TB) é exatamente 1.099.511.627.776 bytes (2 elevado a 40).
E assim por diante.
Algumas bancas organizadoras de concursos pedem o valor exato, que será calculado multiplicando ou divi-
dindo por 1.024.

Gráfico – convertendo os valores do sistema internacional de medidas

A conversão de medidas dentro do sistema internacional é simples e fácil, bastando dividir para ‘subir’ na
escala ou multiplicar para ‘descer’ na escala.

E na transmissão de dados, como funciona? São as mesmas unidades, mas em bits.

Se a sua conexão Wi-Fi opera em 150 ‘megas’, são 150 Mbps (megabits por segundo). Um modem para trans-
missão e recepção de dados pela linha telefônica convencional nos anos 90, operava em 56.6 Kbps (kilobits por
segundo). A porta USB 2.0 tem taxa de transmissão de 480 Mbps (megabits por segundo) e o USB 3.0 opera em 5
Gbps (gigabits por segundo).
Da mesma forma que na convenção do armazenamento de dados, as medidas de velocidades são múltiplas de
1024 (ou divisores de 1024 para ‘subir’ na escala).

Software

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Software é um programa de computador, um aplicativo, um sistema operacional, um driver, um arquivo. Toda
a parte virtual do sistema, que não pode ser tocada, é o software. Existem várias categorias e naturezas para os
softwares, que estão na tabela a seguir:

SOFTWARE ONDE QUANDO


Está gravado no chip ROM-BIOS e armazena as
13
No momento em que ligamos o computador, as
informações sobre a configuração de hardware pre- informações são lidas, checadas, e caso estejam
Inicialização
sente no equipamento. Este procedimento chama- corretas, é passado o controle para o sistema
-se POST14. operacional.
Após a realização com sucesso do POST os dri-
Carregamento de informações sobre o sistema
Sistema vers16 são carregados. O kernel17 é acionado e o
operacional, armazenadas na trilha zero15 do disco
Operacional controle entregue ao usuário. O usuário interage
de inicialização (boot).
com o computador por meio da GUI18.

13 – ROM-BIOS – Read Only Memory – Basic Input Output System – sistema básico de entrada e saída, armazenado em uma memória somente leitura.
14 – POST – Power On Self Test – auto teste no momento em que for ligado.
15 – Trilha zero – primeira trilha do disco de inicialização. Toda numeração em computação inicia em zero.
16 – Drivers – arquivos do sistema operacional responsáveis pela comunicação com o hardware.
17 – Kernel – núcleo do sistema operacional com as rotinas para execução dos aplicativos.
18 – Graphics User Interface – Interface gráfica do usuário 85
SOFTWARE ONDE QUANDO
Após o carregamento do sistema operacional,
uma SHELL é exibida (interface). Os aplicativos
poderão ser executados, como editores de tex-
Aplicativos No computador.
tos, planilhas de cálculos, ferramentas de siste-
ma, além de programas desenvolvidos em uma
linguagem de programação.

Existem aplicativos pagos (proprietários, como o Microsoft Office), gratuitos (open source, ou de código aberto,
como o Mozilla Firefox), alpha (aplicação para testes da equipe de desenvolvimento), beta (aplicações de teste
distribuídas para beta-testers), freewares (gratuitos, porém de código fechado), sharewares (proprietários, que
poderá ser trial ou demo), trial (shareware, recursos completos por tempo limitado para avaliação), demo (sha-
reware, com recursos limitados por tempo indeterminado), e adwares (gratuitos, com propagandas obrigatórias
exibidas durante o uso).
Os softwares de inicialização são pouco questionados em provas. Já Sistemas Operacionais (software básico) e
Aplicativos, estes possuem editais totalmente dedicados a estes temas.
Os softwares instalados no computador, podem ser classificados de formas diferentes, de acordo com o ponto
de vista e sua utilização.
Vamos conhecer algumas delas.

CATEGORIA CARACTERÍSTICA EXEMPLO


Sistemas Operacionais, que oferecem uma pla-
Básico Windows e Linux.
taforma para execução de outros softwares.
Programas que permitem ao usuário criar e
Aplicativo Microsoft Office e LibreOffice, reprodutores de mídias.
manipular seus arquivos.
Softwares que realizam uma tarefa para a qual Compactador de arquivos, Desfragmentador de Dis-
Utilitários
fora projetado. cos, Gerenciadores de Arquivos.
Software malicioso, que realiza ações que Vírus de computador, worms, cavalo de Troia, spywa-
Malware
comprometem a segurança da informação. res, phishing, pharming, ransomware etc.

No software básico, o sistema operacional, contém divisões para os arquivos componentes do sistema, como:

CATEGORIA CARACTERÍSTICA EXEMPLO


Drivers para instalação de impressora, leitura de pendri-
Drivers Arquivos para comunicação com o hardware.
ves, novos dispositivos adicionados etc.
Arquivo oculto usado para trocas com a No Windows, arquivo PAGEFILE.SYS.
Paginação
memória RAM. No Linux, partição de troca (SWAP).
Arquivos com extensão DLL, com recursos Caixa de diálogo, botões, padrões de janelas, teclas de
Bibliotecas
compartilhados com vários programas. comandos etc.
Programas integrantes do sistema opera-
Acessórios Bloco de Notas, WordPAD, Paint.
cional em sua instalação padrão.
Apps Programas disponíveis na loja de apps. Calculadora (Windows 10)

Os aplicativos são geralmente identificados pela característica de produzir arquivos para o usuário, como o
Microsoft Word, que produz documentos de textos com formatação no formato DOCX.

APLICATIVOS CARACTERÍSTICA EXEMPLO


Desenvolvidos para um propósito específico, produzem arquivos
Individuais Corel Draw, para arquivos CDR.
de formato proprietário.
Integrados para produção de arquivos, compartilham recursos e
Pacote Microsoft Office e LibreOffice.
funcionalidades.

Os utilitários podem ser do sistema operacional (ferramentas) ou de terceiros.

UTILITÁRIOS EXEMPLO AÇÃO REALIZADA


Organizar os clusters onde estão gravados os dados dos arquivos, oti-
Sistema Desfragmentador de Discos.
mizando a leitura para a memória.
Agrupam em um arquivo, diminuindo o tamanho dos arquivos indivi-
Sistema Compactadores de Arquivos.
86 duais, facilitando o armazenamento e transferência.
UTILITÁRIOS EXEMPLO AÇÃO REALIZADA
Localiza informações que podem ser removidas com segurança, libe-
Sistema Limpeza de Disco.
rando espaço em disco.
Localiza erros de gravação nos clusters ou entradas inválidas do siste-
Sistema Verificação de Erros.
ma de arquivo, corrigindo-as.
Efetua a leitura dos dados gravados em clusters, reconstruindo a tabela
Terceiros Desformatador de disco.
de arquivos que foi formatada
Efetua a leitura dos dados gravados em clusters, reconstruindo o arqui-
Terceiros Recuperação de arquivos
vo e a entrada na tabela de arquivos.

Sistemas de Entrada, Saída e Armazenamento

Os periféricos, importantes na arquitetura de Von Neumann que descreve o funcionamento do computador,


serão conectados na CPU e barramento de memória por meio de conectores.
Cada conector possui uma aplicação, velocidade e limitação, sendo destinado especificamente para cada
desenvolvimento.
De acordo com o tipo de transmissão da informação do periférico para o barramento de dados, eles podem ser
classificados em:

z Dispositivos de caractere - sua comunicação é feita por meio do envio e recebimento de um fluxo de carac-
teres. As operações não são bufferizadas, porque são enviadas em sequência, em fluxo. Impressoras e mouses
são exemplos de dispositivos com esta característica de comunicação;
z Dispositivos de bloco - modo de transmissão dos dados, que é feita na forma de blocos. As operações são buf-
ferizadas, para otimizar o desempenho, como nas unidades de armazenamento e conexões com redes.

O protocolo TCP/IP, que será estudado na parte de Redes de Computadores, utiliza o envio e recebimento de
dados em pacotes, que são blocos de informações enviados e recebidos por meio de um dispositivo como o modem
ou a placa de rede.
A comunicação dentro do computador, da CPU para os periféricos, e dos dispositivos com outros dispositivos
nas redes, é realizada por meio de padrões. No computador, o gerador de clock cuida da comunicação entre os
componentes internos e os protocolos de comunicação cuidam da comunicação com os dispositivos externos.

CONECTOR USO QUAIS DISPOSITIVOS UTILIZAM?


Placa de rede, modem ADSL, roteador, hub, switch, brid-
RJ-45 Conexão de rede
ge, e demais itens de redes.
Placa de fax/modem, aparelho de fax, multifuncional
RJ-11 Conexão do modem/fax
com fax, telefone.
Pendrive, HD externo, impressoras, teclado, mouse, e pe-
USB Dispositivos em geral riféricos em geral. Possui diferentes velocidades e for-
matos de conector.
Placas de vídeo simples, monitor de vídeo simples, proje-
VGA (DB15) Transmissão de vídeo
tores (datashow) multimídia

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Placas de vídeo modernas, aceleradoras de vídeo, apa-
DVI Transmissão de vídeo
relhos de DVD, BluRay, TV LCD, LED, Plasma, datashow.
Placas de vídeo modernas, aceleradoras de vídeo, apa-
Transmissão de vídeo e áudio
HDMI relhos de DVD, BluRay, TV LCD, LED, Plasma, datashow.
digital
Semelhante visualmente ao USB.
Placas multimídias e aparelhos que usam som digital
S/PDIF Transmissão de áudio digital
(Dolby) como DVD, BluRay, TVs, HomeTheater etc.
Placas de vídeo modernas e aparelhos de imagem. For-
S-Vídeo Transmissão de vídeo digital
mato muito parecido com o OS/2
Transmissão de vídeo e áudio
RCA Placas de captura/edição de vídeo e aparelhos de imagem.
analógico
RGB Transmissão de vídeo analógico Placas de captura/edição de vídeo e aparelhos de imagem.
External SATA. Alguns computa-
Disco rígido externo SATA, 5 vezes mais rápido (300Mbps)
eSATA dores aceitam disco rígido externo
que o disco rígido externo USB padrão (60Mbps).
SATA
São as saídas de áudio do computador. As configurações mais comuns são as com três
JACK DE ÁUDIO conectores e as com seis. As cores de cada conector têm funções diferentes: verde (caixas
(três conectores e 5.1) frontais/fone), azul (entrada de linha), rosa (microfone), laranja (subwoofer e central) e cinza
(caixas laterais). 87
CONECTOR USO QUAIS DISPOSITIVOS UTILIZAM?
Caiu em desuso por causa do novo conector PS/2
DIN Teclados
(mini-DIN)
Está caindo em desuso, por causa do USB.
PS/2 Mouses e teclados
Conhecido como mini-DIN.
Porta serial (DB9) Mouses e scanners Está caindo em desuso, por causa do USB.
Porta serial (DB25) Scanners Está caindo em desuso, por causa do USB.
Portal serial (DB15) Está caindo em desuso, por causa do USB e joystick sem
Joystick
Game port fio.
Produtos da Apple, e alguns produtos Canon, JVC, Sony (es-
Firewire Conexão de alta velocidade
pecialmente câmeras). Parece com o conector USB
Paralela Transferência de dados paralelos Impressoras e scanner mais antigos.
Transferência de dados do HD/
IDE Discos rígidos e discos óticos, modelos antigos.
DVD para placa mãe
Transferência de dados do HD/
PATA Discos rígidos e discos óticos, modelos antigos.
DVD para placa mãe
Transferência de dados do HD/
SATA Discos rígidos e discos óticos, modelos mais novos.
DVD para placa mãe
Fornecer energia para os compo- Placa mãe, drive de disquete, disco rígido, disco ótico,
Conectores ATX
nentes internos no gabinete cooler (sobre o processador).
Fornecer energia para o no-break,
Conexão elétrica Todos dispositivos ligados na rede elétrica.
estabilizador e filtro de linha.
Conexão de Internet pela rede Usada em alguns locais do Brasil, permite conexão com
PLC
elétrica a Internet usando a rede elétrica.

Tipos e uso de impressoras

Um dos principais periféricos do computador é a impressora, que possui diferentes configurações de hardware
e software.

Importante!
Depois dos processadores, as impressoras são um dos itens de hardware mais questionados em provas de
concursos.

TIPO CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES E USO


Impressora de impacto. Imprime em formulário contínuo, em várias vias, possui
Matricial
alto nível de ruído.
Impressão monocromática ou colorida. Conhecida pela
Laser Impressora de toner
marca Xerox.
Impressão monocromática ou colorida, aspergindo tinta
Jato de Tinta Impressora de tinta líquida.
sobre o material.
Transferência do estado sólido para o gasoso. Impres-
Cera Impressora térmica de sublimação.
são resistente à água e sol. Impressão fotográfica.
Em papel reativo, o aquecimento grava a informação.
Impressora de aquecimento do papel Máquinas de cartões de crédito, emissor de senha de
Térmica
(semelhante ao fax). atendimento bancário, extrato do caixa de auto atendi-
mento, nota fiscal de supermercado etc.
Plotter Impressora para grandes dimensões. Impressão de plantas (AutoCAD), banners, outdoors.
Equipamento que transforma uma im-
Existem modelos LPT (paralelo) para RJ-45 (rede), COM
Print Server pressora simples em uma impressora
(serial), e até wireless.
compartilhada, via hardware.
Reúne a impressora e scanner em um
Multifuncional Oferece recursos de copiadora e faz em alguns modelos.
único aparelho.

z Impressora padrão – quando um sistema operacional possui diversas impressoras instaladas, a impressora prefe-
88 rencial é conhecida como impressora padrão, e é a primeira na lista da caixa de diálogo Imprimir dos aplicativos;
z Impressora compartilhada – quando uma Disco Rígido
impressora está instalada em um único local, e está
compartilhada, poderá ser instalada nos demais O disco rígido é uma mídia de armazenamento de
computadores da rede de computadores. No Windo- dados magnética, que se popularizou nos anos 90 por
ws 7 aparecerá com o símbolo de grupo (usuários). sua capacidade e velocidade de acesso aos dados. Os
Nas outras versões de Windows, aparecerá com primeiros modelos populares não ofereciam contro-
uma mão sobre o dispositivo compartilhado. No le de erros e, caso ocorressem problemas na mídia,
Linux é com uma conexão BNC (cabo coaxial) abai- alguns softwares específicos seriam executados para
xo do ícone. Opcionalmente, ela será instalada no
o isolamento dos problemas.
servidor da rede de computadores, e acessada por
todos os computadores daquela rede diretamente; O disco rígido “clássico” possui um ou mais discos
z Impressora local – Impressora que está conec- metálicos com superfície magnetizável, que giram em
tada e instalada em um computador, que poderá velocidades de 5.400 rpm (rotações por minuto) em
ser compartilhada em rede caso seja configurada. torno de um eixo central. Os braços de leitura e gra-
A conexão poderá ser LPT (paralela), COM (serial), vação são posicionados acima da superfície do disco,
USB (atual e popular), Wi-Fi (sem fio), Bluetooth efetuando a coleta dos bits registrados ou gravando
(curto alcance); novas informações a cada giro do disco.
z Impressora de rede – impressora com conexão Os braços de leitura e gravação possuem atuadores
RJ-45 ou Wi-Fi que pode ser conectada diretamen-
que identificam a posição na qual a informação está ou
te ao hub ou switch da rede, sendo compartilhada
deverá ser gravada, girando os respectivos discos (ou
entre todos os computadores daquela rede;
z Impressora remota – É a impressora de rede que pratos) para o correto posicionamento. Quando posi-
não está instalada localmente. cionado no local correto, a cabeça de gravação trans-
fere as informações que precisam ser armazenadas, as
DISPOSITIVOS DE ARMAZENAGEM DE DADOS; quais permanecerão disponíveis por um bom tempo,
PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS mesmo sem o fornecimento de energia, tornando o
Fita disco rígido uma forma de armazenamento de dados
permanente por não ser volátil, como a memória RAM.
A fita de armazenamento de dados (ou, atualmen-
te, Fita DAT – Digital Audio Tape) é uma forma de
armazenamento magnético sequencial, que grava os
dados em uma mídia inserida em um leitor/gravador.
Muito usada no passado, em servidores de dados,
devido a sua alta capacidade de armazenamento de
dados e velocidade de leitura/gravação, atualmente
está obsoleta. Os servidores com discos rígidos ofere-
cem maior proteção às mídias de armazenamento se
comparados com as fitas magnéticas removíveis.
As fitas de armazenamento de dados, assim como
as fitas cassetes de áudio, populares nos anos 70 e 80,
demandam manutenção constante das mídias e de
seus leitores. Por serem cobertas por um composto
magnético, as cabeças de leitura e gravação tendem Figura 5 – Disco Rígido (sem a proteção externa).
a “sujar” com resíduos deste composto, prejudicando Fonte: Overbr. Disponível em <https://overbr.com.br > Acesso: 26
as novas leituras/gravações se os cabeçotes não forem mar. 2021.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


regularmente limpos.
Devido às demandas de segurança e manutenção, Os primeiros modelos trabalhavam com softwares
elas começaram a desaparecer no início dos anos exclusivos para cada fabricante, que efetuavam a gra-
2000. Atualmente, algumas empresas ainda mantém vação dos dados, manutenção dos discos e até o “esta-
fitas DAT, mas por outros motivos, especialmente,
cionamento” das cabeças de leitura/gravação para
para a operação de servidores legados (sistemas aban-
transporte do equipamento desligado.
donados que não são mais atualizados e só oferecem o
recurso de cópias de segurança via fita DAT). Os discos são divididos, logicamente, em setores,
trilhas e clusters. Um cluster é uma unidade de arma-
zenamento de dados, localizado em determinado
setor do disco, em determinada trilha.
A divisão lógica de um disco rígido segue o padrão
que foi definido para os primeiros discos flexíveis,
com definição no momento da formatação ou particio-
namento. A formatação consiste em definir o sistema
de arquivos, divisões e endereçamentos para o arma-
Figura 4 – fita D2 e DAT comparadas a um smartphone.
zenamento de dados. O particionamento consiste em
Fonte: Wikimedia. Disponível em < https://commons.wikimedia. dividir o disco em divisões lógicas distintas, que pos-
org/wiki/File:D-2_tape_vers._DAT_audio_tape_(6498603845).jpg>
sibilitam reduzir o espaço físico para endereçamento
Acesso: 26 mar. 2021.
e redução do tempo de latência das cabeças de leitura
e gravação (tempo que o sistema permanece parado). 89
Disco Flexível
A
C Com baixa capacidade e facilidade de manuseio,
B os discos flexíveis ou disquetes foram muito popula-
res até meados dos anos 2000. Com novos meios de
armazenamento disponíveis, como os discos ópticos
Discos: e os pendrives, conectados em portas USB, eles caíram
em desuso.
Trilhas (A) A capacidade de armazenamento dos discos flexí-
Setores (B)
veis era de 180KB (modelo 5 ¼ de face simples) até
Cluster (C e D)
2.88 MB (modelo 3 ½ de última geração).
Os discos ZIP (ZIP Drive) foram oferecidos no come-

ço dos anos 2000, com capacidade de 100 MB, operan-
do de forma semelhante às fitas DAT, com cartuchos
próprios para uso em leitoras dedicadas. Apesar de
D
sua capacidade aumentada em relação ao disquete,
Figura 6 – Disco Rígido outras mídias de armazenamento já ofereciam maior
Representação da divisão lógica. espaço para dados se comparadas aos “disquetes ZIP”.
O armazenamento de dados em discos flexíveis
Os discos rígidos externos são usados para cópia tornou-se impossível atualmente, pois as mídias dei-
de segurança de dados, especialmente, pelos usuários xaram de ser fabricadas e o tamanho dos arquivos
domésticos e pequenas empresas, dada a facilidade
supera vários megabytes (milhões de bytes) facilmente
de compra e praticidade de uso ao conectar em uma
nos dias de hoje.
porta USB, disponível em, praticamente, todos os dis-
positivos computacionais da atualidade.

COMPONENTE DE
DESCRIÇÃO CONEXÃO E DICA
ARMAZENAMENTO
IDE, SATA, USB
Memória se-
Permanente,
cundária de
Disco rígido não-volátil, “uni-
armazenamen-
dade C:”, hard
to magnético19.
disk (HD).
SATA II, USB
Memória se-
Permanente,
cundária de
não-volátil,
Disco rígido armazenamen-
“unidade C:”,
to memória
SSD (Solid State
flash20.
Disk).

Os discos SSD operam como discos rígidos, porém com


velocidade superior para leitura e gravação de dados, por Figura 7 – Disco flexível 3 ½ desmontado.
serem construídos com chips de memória. Para os pro- Fonte: Wikitionary. Disponível em < https://es.wiktionary.org/wiki/
gramas de backup, não muda nada. disquete> Acesso em 26 mar. 2021.
Os discos rígidos e SSDs podem ter mais de uma par- Disco Óptico
tição, como letra C: e D:. Entretanto, copiar dados da par-
tição C: para a partição D: não é considerado como um Com a popularização das mídias ópticas, especial-
backup. mente, por substituírem as fitas cassetes, os discos de
O primeiro motivo é que a origem e o destino estão
vinil e as fitas de vídeo, com qualidade de imagem
no mesmo local, portanto, em caso de sinistro no disco
superior, os usuários enxergaram a possibilidade de
de origem, perde-se a cópia de segurança na partição de
reutilizá-los como cópias de segurança.
destino, que está no mesmo disco de origem. E o segun-
do motivo é que as partições podem ser desfeitas com a No início dos anos 2000, CDs, DVDs e o Blu-Ray
mesma rapidez com que são criadas, através do Geren- eram os queridinhos para o armazenamento de
ciamento de Discos do Windows. dados. Suas durabilidade, rapidez para leitura e gra-
Os Discos Rígidos possuem capacidades elevadas, de vação e grande capacidade (para os padrões da época)
240 GB (gigabytes, bilhões de bytes), 320 GB, 500 GB, 1 TB fizeram das mídias ópticas as preferidas para a cópia
(terabyte, trilhão de bytes), 2 TB etc. Possuem um baixo de segurança.
custo de aquisição por megabyte se comparados as outras O HD-DVD usava luz azul-violeta e acabou sendo
mídias de armazenamento de dados da atualidade. superado pelo Blu-Ray devido às restrições de grava-
ções e baixa capacidade, sendo fabricado por cerca de
cinco anos pela Toshiba, sem adesão de muitos outros
fabricantes.
19 Existem modelos de disco rígido sem disco, como os SSD (Solid State Drive), que é uma memória flash, armazenamento eletrônico.
20 A memória flash permite que a troca de informação seja mais rápida e, quando o dispositivo é desligado, poderá voltar, rapidamente, para onde
90 estava antes.
CAPACIDADE USO

CD – COMPACT DISC 700 MB Usado para música

DVD – DIGITAL VIDEO DISC 4.7 GB Usado para vídeo

HD-DVD - HIGH DENSITY DIGITAL


15 GB Usado para vídeo de alta definição
VERSATILE DISC

BLU-RAY 25 GB Usado para vídeo de alta definição

O CD veio para substituir as fitas cassetes de áudio e os discos de vinil, com a gravação digital do áudio em uma
mídia durável de alta qualidade. Com capacidade de 700 MB e algumas características de construção específicas, rapi-
damente se tornaram o padrão para distribuição de instaladores de softwares, substituindo inúmeros disquetes.
Os drives leitores de CD do final dos anos 90 eram substituídos por drives gravadores de CD, permitindo a gravação
de áudio digital e arquivos em computadores domésticos equipados com o “kit multimídia”.
Unidades 12x, 24x, 48x e 52x se popularizaram, indicando, com os números, a velocidade de rotação do disco e,
consequentemente, maior velocidade de leitura/gravação em relação aos outros modelos semelhantes.

TIPO USO

CD ROM Somente leitura Gravado pelo distribuidor de software ou música

CD R Gravável Poderia gravar uma vez, ou várias vezes de forma incremental

CD RW Regravável Poderia gravar várias vezes, como um disquete

O DVD foi desenvolvido para substituir as fitas de vídeo, com maior qualidade de imagem e som, permitindo a
inclusão de vários conteúdos extras. Assim como os CDs, também existiram modelos ROM, R e RW de mídia DVD.
Na época dos DVDs, as mídias removíveis do tipo USB começaram a aparecer no mercado, oferecendo capa-
cidade semelhante ou superior aos DVDs. Pendrives com 512 MB (megabyte – milhão de bytes), 1 GB, 2 GB, 4 GB, 8
GB, 16 GB etc, rapidamente, se tornaram os preferidos dos usuários para o armazenamento portátil de dados em
detrimento das mídias ópticas do tipo DVD.
O padrão HD-DVD oferecia gravação de dados em mídias ópticas com densidade superior ao DVD e próximo
do Blu-Ray, mas nem chegou a “emplacar” no mercado.
O Blu-Ray foi desenvolvido para substituir o DVD, com maior capacidade de armazenamento de dados e a
possibilidade de gravações de vídeos em alta resolução (HD – High Definition), que ocupavam mais espaço que um
CD poderia armazenar.
Ainda foram propostos outros novos padrões de mídias ópticas, como o HVD (Holographic Versatile Disc), mas
a era dos discos refletivos já estava acabando.
Eles chegaram tarde, pois armazenavam 25 GB e os pendrives já estavam em 128 GB. Poucos usuários utiliza-
ram Blu-Ray em seus computadores, sendo mais usados em aparelhos leitores para a reprodução de filmes em
alta resolução.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

Figura 8 – Comparativo entre as mídias ópticas.

Fonte: Wikipedia.
Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/File:Comparison_CD_DVD_HDDVD_BD.svg> Acesso em 26 mar. 2021. 91
O armazenamento de dados em discos ópticos foi a opção ideal no momento errado. A demora na populariza-
ção das mídias com o público e o surgimento de outras formas de armazenamento de maior praticidade ou capa-
cidade tornaram as mídias ópticas as preferidas para o armazenamento de cópias de segurança por quase uma
década nas pequenas e médias empresas, porém sem tanta utilização pelos usuários domésticos.

ARQUIVOS DIGITAIS
DOCUMENTOS, PLANILHAS, IMAGENS, SONS, VÍDEOS; PRINCIPAIS PADRÕES E CARACTERÍSTICAS

No sistema Windows, a extensão do arquivo determina o seu tipo. Assim como a extensão, o ícone que repre-
senta o conteúdo é outra forma de conhecer e lembrar o significado e funcionalidade do arquivo.
Acompanhe na tabela a seguir as principais extensões usadas (e solicitadas) em concursos:

EXTENSÃO CARACTERÍSTICAS

.avi Audio Video Interleave. Arquivo compatível com Windows, contém tanto vídeo como áudio

Backup = cópia de segurança. Alguns editores de textos produzem arquivos com informações dos
.bak
documentos que não estão gravados no disco, permitindo a recuperação

Formato de imagem popular e antigo. Ele foi usado amplamente como papel de parede em versões
.bmp do Windows. Possui até 16.7 milhões de cores sem compactação (que poderia reduzir o tamanho
do arquivo, como o JPG faz)

.cdr Formato de imagem do software de edição Corel Draw

Arquivo executável de comandos em ambiente DOS, executados via Prompt de Comandos ou por
.com
atalhos no ambiente gráfico. Esta extensão pode conter comandos maliciosos, e ser bloqueada

Iniciais de “Comma Separated Values” (valores separados por vírgulas). Arquivos de texto que po-
.csv dem ser usados em diferentes programas e permitem a troca de informações entre documentos,
planilhas e até correio eletrônico

Arquivo de texto capaz de armazenar dados referentes ao formato do texto que contém. Para editá-
.doc
-lo, é preciso ter o Microsoft Word, o acessório Wordpad ou o LibreOffice Writer

Arquivo de texto capaz de armazenar dados referentes ao formato do texto que contém. Para editá-
.docx -lo, é preciso ter o Microsoft Word 2007 ou superior, LibreOffice Writer ou pacote de compatibilidade
instalado nas versões do Office 2002 (XP) e 2003

Arquivo executável. Qualquer programa que executa uma série de comandos para o qual foi programa-
.exe do. Acionando clique duplo sobre um arquivo com esta extensão, iniciamos um processo de instalação
ou a execução de um programa. Esta extensão pode conter comandos maliciosos, e ser bloqueada

Formato de imagem com 256 cores que permite uso de escala de cinza, interpolação e sequencia-
.gif
mento de imagens (GIFs animados)

Hiper Text Markup Language. Formato de páginas web. É capaz de dar formato a texto, acrescentar
.htm ou .html
vínculos a outras páginas, exibir imagens, reproduzir sons, entre muitas formatações

Arquivo de imagem com 16.7 milhões de cores e comprimido, que pode ser editado em qualquer
.jpg ou .jpeg
editor de imagens. Formato popular de fotos

Formato de áudio que utiliza compressão em vários níveis. Quanto maior a compressão, menor a
.mp3 qualidade e o tamanho do arquivo. Pode ser reproduzido pelo Windows Media Player e por uma
infinidade de outros aplicativos

.mpg ou .mpeg Moving Picture Experts Group. Arquivo de vídeo comprimido, reproduzido em qualquer programa multimídia

Open Document Format. Formato de documento aberto que é o padrão do pacote OpenOffice e
.odf
usado pelo BrOffice e LibreOffice

Open Document Presentation. Formato de documento de apresentações de slides usado pelo Im-
.odp press, que é um software do pacote OpenOffice e disponível no BrOffice e LibreOffice. Pode ser
editado pelo Microsoft PowerPoint

Open Document Sheet. Formato de pasta de planilha de cálculos usado pelo Calc, que é um software
.ods
do pacote OpenOffice, e disponível no BrOffice e LibreOffice. Pode ser editado pelo Microsoft Excel

Open Document Text. Formato de documento de texto usado pelo Writer, que é um software do pa-
.odt
cote OpenOffice, e disponível no BrOffice e LibreOffice. Pode ser editado pelo Microsoft Word
92
EXTENSÃO CARACTERÍSTICAS

Documento eletrônico do padrão do programa Adobe Acrobat Reader, que é o preferido para distri-
.pdf
buição de conteúdo

Arquivo de imagem vetorial. Armazena informações que permitem a ampliação da imagem sem
.png
perda significativa de qualidade

.ppt Arquivo de apresentações de slides do Microsoft PowerPoint (versões anteriores ao 2007)

.pptx Arquivo de apresentações de slides do Microsoft PowerPoint 2007 ou superior

.psd Formato de arquivo do programa de edição de gráficos Photoshop

.rar Formato de compressão de dados popular, mas que não possui suporte nativo no Windows

Rich Text Format (“formato de texto rico”). Desenvolvido pela Microsoft, é o padrão do acessório
.rtf
Wordpad e pode ser aberto pela maioria dos editores de textos

.tif Arquivo de imagem

Arquivo de texto sem formatação padrão do acessório Bloco de Notas que pode ser editado por
.txt
qualquer editor de texto

.xls Pasta de Trabalho do Microsoft Excel 2003 ou anterior, que contém planilhas de cálculos

.xlsx Pasta de Trabalho do Microsoft Excel 2007 ou superior, que contém planilhas de cálculos

.wav Arquivo de áudio

.wma Windows Media Audio. Arquivo de áudio padrão do Windows

.wmv Windows Media Video. Arquivo de vídeo padrão do Windows

O formato para comprimir e descomprimir arquivos que é o formato padrão do Windows na compac-
.zip
tação automática de arquivos e pastas

A extensão do arquivo é uma forma usada para identificar a informação gravada. Para o computador (equi-
pamento), todas as informações armazenadas são “dados”. As extensões são úteis para os usuários identificarem
o conteúdo existente no arquivo.

Dica
A maioria das questões sobre arquivos digitais envolve a identificação correta de suas extensões. Para pra-
ticar, ative a visualização de extensões de arquivos em seu Windows. No Explorador de Arquivos, guia Exibir,
assinale “Extensões de nomes de arquivos” no grupo Mostrar/ocultar.

O sistema operacional Windows não costuma exibir as extensões dos arquivos, procurando mostrar ícones
(desenhos e símbolos) que indicam o conteúdo ou o programa associado para visualização e edição.
No sistema operacional, ao clicar duas vezes em um ícone XLSX, por exemplo, o aplicativo associado será acio-

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


nado (Microsoft Excel), exibindo o conteúdo do arquivo.
O Windows permite a escolha do programa que será usado para abrir um arquivo de três formas.
A primeira forma será usando o menu de contexto, opção “Abrir com”. Será escolhido um programa diferente
a cada vez que o arquivo for acessado para visualização ou edição, usando o menu de contexto.

Abrir com Bloco de notas


LibreOffice
Opera Internet Browser
Word
WordPad
Procurar na Microsoft Store
Escolher outro aplicativo

93
Imagem: menu de contexto exibido ao clicar com o botão secundário do mouse em um arquivo, para escolha
de um programa diferente do programa padrão, que será usado para visualizar ou editar o item
Outra forma de escolha é através do menu de contexto, item “Abrir com” e na sequência “Escolher outro apli-
cativo”. O usuário poderá escolher outro programa para ser associado com a extensão do arquivo, e definir que
ele se tornará o “programa oficial” para as próximas vezes que for acionada aquela extensão de arquivo. Essa é
uma alteração do item “Programas Padrão”, do painel de Configurações (Painel de Controle).

Imagem: menu de contexto exibido ao clicar com o botão secundário do mouse em um arquivo, para escolha
de um programa diferente do programa padrão, que será usado para visualizar ou editar o item
O usuário poderá também escolher outro programa diferente, localizando uma opção na Microsoft Store. A
loja de aplicativos do Windows oferece programas de terceiros que desempenham funções específicas e extras.
Em concursos públicos, o que vale é a configuração padrão do sistema operacional; assim, a loja de aplicativos
não costuma ser questionada, por sua diversidade de opções e mudanças contínuas.
Quando o arquivo é baixado da Internet (download — transferência de um servidor remoto para o computa-
dor local), os aplicativos poderão alertar o usuário sobre a origem “não segura” da informação, exigindo que ele
habilite a edição antes de iniciar as alterações no seu conteúdo.
As Bibliotecas do Windows (Documentos, Imagens, Músicas e Vídeos) organizam os arquivos mais questiona-
dos em provas. A tabela apresentada no início do tópico está resumida na próxima tabela, separada por categorias:

DOCUMENTOS IMAGENS MÚSICAS VÍDEOS

DOCX, DOC BMP


MPG ou MPEG
XLSX, XLS GIF MP3
MP4
Extensões PPTX, PPT JPG ou JPEG WAV
AVI
PDF, RTF, TXT PNG WMA
WMV
ODF, ODT, ODS e ODP TIF

ARQUIVOS PDF

O PDF é um arquivo somente para leitura do Adobe Acrobat. As letras PDF são as iniciais de “Portable Docu-
ment Format” (formato portável de documento). Portável significa que o arquivo poderá ser usado em diferentes
sistemas operacionais, sem nenhuma adaptação extra.
O formato PDF é o preferido para distribuição de conteúdo e também em questões de provas de concursos.
Muitas empresas usam o formato PDF como padrão para seus documentos, como os processos eletrônicos nos
sistemas do judiciário brasileiro. Professores distribuem conteúdo em plataformas digitais em formato PDF, ope-
radoras financeiras compartilham extratos em formato PDF, e diversos outros exemplos de aplicação do formato.
O formato PDF pode ser visualizado pelo Adobe Acrobat Reader, por outros programas e também por navega-
dores de Internet.
Originalmente, esses arquivos não podem ser editados (modificados). Entretanto, através do Adobe Acrobat
Reader DC — a última versão disponível para download no site da Adobe — é possível editar o conteúdo e inserir
marcações e comentários no documento.

94
No Explorador de Arquivos do Windows 10, arqui- Arquivo, Propriedades, é possível consultar quais são as
vos com extensão PDF poderão ser mostrados na opções permitidas ou bloqueadas para o documento.
forma de ícones ou com a miniatura da primeira pági-
na, de acordo com as configurações do computador. OPÇÃO ARQUIVO PDF
Quando as configurações gráficas estão desativadas,
apenas o ícone será exibido. Pode ser visualizado, editado e
Sem restrições impresso em qualquer programa
compatível com o formato

Pode-se imprimir ou apenas vi-


Impressão
sualizar em telas

Cópia de Pode-se copiar o conteúdo ou


conteúdo apenas visualizar em telas

Atribuição de senha para visua-


Senhas lização do PDF ou abertura em
qualquer programa

O conteúdo será “embaralhado”,


Criptografia impedindo a leitura sem a res-
pectiva chave de descriptografia

Existem restrições que podem ser atribuídas ao PDF, Operações com pdfs
tornando-o somente leitura, proibindo a impressão, a
cópia do conteúdo, inserindo a atribuição de senhas etc. Além das ações básicas que esperamos de um
Apesar das restrições relacionadas ao formato PDF, é pos- documento, o formato PDF permite a realização de
sível liberar alguns bloqueios através de sites especializa- outras ações, que tornam o formato muito prático.
dos ou de programas desenvolvidos para essa finalidade. Confira algumas:
O formato PDF é muito popular para a distribuição
de conteúdo digital. Se você está usando este material em OPERAÇÃO AÇÕES
formato digital, certamente é um arquivo PDF que está
sendo visualizado. Unir dois ou mais arquivos PDF em
Juntar PDF
Suas características robustas para visualização do um novo arquivo
conteúdo tornaram-se o padrão quando se pensa em
Separar as páginas do arquivo, ex-
divulgar informações. O conteúdo do documento é “dese- Separar PDF
traindo intervalos específicos
nhado” pelo programa, exibindo alta qualidade mesmo
quando é ampliado. Apesar de ser um formato com-
Ao contrário das imagens que podem granular (per- pacto, os arquivos PDFs podem
der qualidade quando ampliadas) e dos documentos que Comprimir PDF reduzir a qualidade para redução
podem ficar sem formatação (quando abertos em dis- do tamanho, facilitando algumas
positivos ou programas diferentes), o PDF supera essas operações, como anexos de e-mail
limitações, garantindo a distribuição do conteúdo com
qualidade e fidelidade ao original. A formatação aplicada Adicionar senhas para a abertura
Proteger PDF
ao conteúdo do PDF será exibida em qualquer tela, inde- dos arquivos PDF
pendentemente do programa usado.
Para a criação de um arquivo PDF, o usuário pode Adicionar assinatura digital para
usar um programa especializado, como o Adobe Acrobat, Assinar PDF proteção do conteúdo e validação

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


converter arquivos que já possui através de conversores da autenticidade do documento
ou salvá-lo como PDF nos principais softwares. Como as páginas funcionam como
Confira algumas soluções para criação dos seus PDFs: imagens, elas podem mudar de
Girar páginas
orientação de Retrato para Paisa-
PROBLEMA COMO FAZER gem e vice-versa

Converter com progra-


Já tenho arquivos de
mas especializados ou
documentos
sites online
CONHECIMENTOS SOBRE SISTEMA
Procurar pela opção “Sal- OPERACIONAL WINDOWS 10
Estou editando meus
var como PDF” ou “Expor-
documentos
tar PDF” no programa CONCEITOS GERAIS, FUNCIONAMENTO,
PRINCIPAIS APLICATIVOS E FERRAMENTAS,
Com o navegador Google
O conteúdo está em uma COMANDOS E CONFIGURAÇÕES
Chrome, Imprimir a pági-
página web na Internet
na “Salvar como PDF”
O sistema operacional Windows foi desenvolvido
Características dos pdfs pela Microsoft para computadores pessoais (PC) em
meados dos anos 80, oferecendo uma interface gráfi-
Os arquivos PDF podem ser produzidos sem nenhu- ca baseada em janelas, com suporte para apontadores
ma restrição ou com vários níveis de restrições. Com o como mouses, touch pad (área de toque nos portáteis),
arquivo aberto em um visualizador de PDF, no menu canetas e mesas digitalizadoras. 95
Atualmente, o Windows é oferecido na versão 10, atualizações do sistema operacional. Atalho de tecla-
que possui suporte para os dispositivos apontadores do: Windows+A (Action). A Central de Ações não
tradicionais, além de tela touch screen e câmera (para precisa ser carregada pelo usuário, ela é carregada
acompanhar o movimento do usuário, como no siste- automaticamente quando o Windows é inicializado;
ma Kinect do videogame X – Box). z Mostrar área de trabalho – visualizar rapida-
Em concursos públicos, as novas tecnologias e mente a área de trabalho, ocultando as janelas
suportes avançados são raramente questionados. As que estejam em primeiro plano. Atalho de teclado:
questões aplicadas nas provas envolvem os concei- Windows+D (Desktop);
tos básicos e o modo de operação do sistema opera- z Bloquear o computador – com o atalho de tecla-
cional em um dispositivo computacional padrão (ou do Windows+L (Lock), o usuário pode bloquear o
tradicional). computador. Poderá bloquear pelo menu de con-
O sistema operacional Windows é um software trole de sessão, acionado pelo atalho de teclado
proprietário, ou seja, não tem o núcleo (kernel) dispo- Ctrl+Alt+Del;
nível e o usuário precisa adquirir uma licença de uso z Gerenciador de Tarefas – para controlar os apli-
da Microsoft. cativos, processos e serviços em execução. Atalho
O Windows 10 apresenta algumas novidades em de teclado: Ctrl+Shift+Esc;
relação às versões anteriores, como assistente virtual, z Minimizar todas as janelas – com o atalho de
navegador de Internet, locais que centralizam infor- teclado Windows+M (Minimize), o usuário pode
mações etc. minimizar todas as janelas abertas, visualizando
a área de trabalho;
z Botão Iniciar – permite acesso aos aplicativos ins- z Criptografia com BitLocker – o Windows oferece
talados no computador, com os itens recentes no o sistema de proteção BitLocker, que criptografa os
início da lista e os demais itens classificados em dados de uma unidade de disco, protegendo contra
ordem alfabética. Combina os blocos dinâmicos e acessos indevidos. Para uso no computador, uma
estáticos do Windows 8 com a lista de programas chave será gravada em um pendrive, e para aces-
do Windows 7. sar o Windows, ele deverá estar conectado;
z Pesquisar – com novo atalho de teclado, a opção z Windows Hello – sistema de reconhecimento
pesquisar permite localizar, a partir da digitação facial ou biometria, para acesso ao computador
de termos, itens no dispositivo, na rede local e na sem a necessidade de uso de senha;
Internet. Para facilitar a ação, tem-se o seguinte z Windows Defender – aplicação que integra recur-
atalho de teclado: Windows+S (Search). sos de segurança digital, como o firewall, antivírus
z Cortana – assistente virtual. Auxilia em pesquisas e antispyware.
de informações no dispositivo, na rede local e na
Internet. O botão direito do mouse aciona o menu de con-
texto, sempre.

Importante! CONCEITO DE PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E


A assistente virtual Cortana é uma novidade do ATALHOS
Windows 10 que está aparecendo em provas
de concursos com regularidade. Semelhante No Windows 10, os diretórios são chamados de pas-
ao Google Assistente (Android), Siri (Apple) e tas e algumas pastas são especiais, contendo coleções
Alexa (Amazon), essa integra recursos de aces- de arquivos que são chamadas de Bibliotecas. Ao todo
sibilidade por voz para os usuários do sistema são quatro Bibliotecas: Documentos, Imagens, Músi-
cas e Vídeos. O usuário poderá criar Bibliotecas para
operacional.
sua organização pessoal, uma vez que elas otimizam
a organização dos arquivos e pastas, inserindo apenas
z Visão de Tarefas – permite alternar entre os pro- ligações para os itens em seus locais originais.
gramas em execução e abre novas áreas de traba-
lho. Seu atalho de teclado é: Windows+TAB;
z Microsoft Edge – navegador de Internet padrão do
Windows 10. Ele está configurado com o buscador
padrão Microsoft Bing, mas pode ser alterado.
z Microsoft Loja – loja de app’s para o usuário baixar
novos aplicativos para Windows;
z Windows Mail – aplicativo para correio eletrôni-
co, que carrega as mensagens da conta Microsoft
e pode se tornar um hub de e-mails com adição de Pasta com Pasta sem Pasta vazia
outras contas; subpasta subpasta
z Barra de Acesso Rápido – ícones fixados de pro-
gramas para acessar rapidamente; O sistema de arquivos NTFS (New Technology File
z Fixar itens – em cada ícone, ao clicar com o botão System) armazena os dados dos arquivos em locali-
direito (secundário) do mouse, será mostrado o zações dos discos de armazenamento. Por sua vez, os
menu rápido, que permite fixar arquivos abertos arquivos possuem nome e podem ter extensões.
recentemente e fixar o ícone do programa na bar- O sistema de arquivos NFTS suporta unidades de
ra de acesso rápido; armazenamento de até 256 TB (terabytes, trilhões de bytes)
z Central de Ações – centraliza as mensagens de O FAT32 suporta unidades de até 2 TB.
96 segurança e manutenção do Windows, como as Antes de prosseguir, vamos conhecer estes conceitos.
TERMO SIGNIFICADO OU APLICAÇÃO
Unidade de disco de armazenamento permanente, que possui um sistema de arquivos e
Disco de armazenamento
mantém os dados gravados
Estruturas lógicas que endereçam as partes físicas do disco de armazenamento. NTFS,
Sistema de Arquivos
FAT32, FAT são alguns exemplos de sistemas de arquivos do Windows.
Trilhas Circunferência do disco físico (como um hard disk HD ou unidades removíveis ópticas)
Setores São ‘fatias’ do disco, que dividem as trilhas
Clusters Unidades de armazenamento no disco, identificado pela trilha e setor onde se encontra.
Pastas ou diretórios Estrutura lógica do sistema de arquivos para organização dos dados na unidade de disco
Arquivos Dados. Podem ter extensões.
Pode identificar o tipo de arquivo, associando com um software que permita visualização
Extensão
e/ou edição. As pastas podem ter extensões como parte do nome.
Arquivos especiais, que apontam para outros itens computacionais, como unidades, pas-
Atalhos tas, arquivos, dispositivos, sites na Internet, locais na rede etc. Os ícones possuem uma
seta, para diferenciar dos itens originais.

O disco de armazenamento de dados tem o seu tamanho identificado em Bytes. São milhões, bilhões e até
trilhões de bytes de capacidade. Os nomes usados são do Sistema Internacional de Medidas (SI), já apresentados
anteriormente.

Importante!
O tamanho dos arquivos no Windows 10 é exibido em modo de visualização de Detalhes, nas Propriedades
(botão direito do mouse, menu de contexto) e na barra de status do Explorador de Arquivos. Poderão ter as
unidades KB, MB, GB, TB, indicando quanto espaço ocupam no disco de armazenamento.

Quando os computadores pessoais foram apresentados para o público, a árvore foi usada como analogia para
explicar o armazenamento de dados, criando o termo “árvore de diretórios”.

Documentos
Imagens Folhas
Músicas Flores
Vídeos Frutos

Pastas e subpastas Tronco e galhos

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Diretório raiz Raiz

Figura 4. Árvore de diretórios

No Windows 10, a organização segue a seguinte definição:

z Pastas

„ Estruturas do sistema operacional: Arquivos de Programas (Program Files), Usuários (Users), Windows.
A primeira pasta da undiade é chamada raiz (da árvore de diretórios), representada pela barra inverti-
da: Documentos (Meus Documentos), Imagens (Minhas Imagens), Vídeos (Meus Vídeos), Músicas (Minhas
Músicas) – bibliotecas;
„ Estruturas do Usuário: Documentos (Meus Documentos), Imagens (Minhas Imagens), Vídeos (Meus Vídeos),
Músicas (Minhas Músicas) – bibliotecas;
„ Área de Trabalho: Desktop, que permite acesso à Lixeira, Barra de Tarefas, pastas, arquivos, programas e
atalhos;
„ Lixeira do Windows: Armazena os arquivos de discos rígidos que foram excluídos, permitindo a recupe-
ração dos dados. 97
z Atalhos

„ Arquivos que indicam outro local: Extensão LNK, podem ser criados arrastando o item com ALT ou CTR-
L+SHIFT pressionado.

z Drivers

„ Arquivos de configuração: Extensão DLL e outras, usadas para comunicação do software com o hardware

O Windows 10 usa o Explorador de Arquivos (que antes era Windows Explorer) para o gerenciamento de pastas
e arquivos. Ele é usado para as operações de manipulação de informações no computador, desde o básico (formatar
discos de armazenamento) até o avançado (organizar coleções de arquivos em Bibliotecas).
O atalho de teclado Windows+E pode ser acionado para executar o Explorador de Arquivos.
Como o Windows 10 está associado a uma conta Microsoft (e-mail Live, ou Hotmail, ou MSN, ou Outlook), o
usuário tem disponível um espaço de armazenamento de dados na nuvem Microsoft OneDrive. No Explorador de
Arquivos, no painel do lado direito, o ícone OneDrive sincroniza os itens com a nuvem. Ao inserir arquivos ou
pastas no OneDrive, eles serão enviados para a nuvem e sincronizados com outros dispositivos que estejam conec-
tados na mesma conta de usuário.
Os atalhos são representados por ícones com uma seta no canto inferior esquerdo, e podem apontar para um
arquivo, pasta ou unidade de disco. Os atalhos são independentes dos objetos que os referenciam, portanto, se
forem excluídos, não afetam o arquivo, pasta ou unidade de disco que estão apontando.
Podemos criar um atalho de várias formas diferentes:

z Arrastar um item segurando a tecla Alt no teclado, e ao soltar, o atalho é criado;


z No menu de contexto (botão direito) escolha “Enviar para... Área de Trabalho (criar atalho);
z Um atalho para uma pasta cujo conteúdo está sendo exibido no Explorador de Arquivos pode ser criado na
área de trabalho arrastando o ícone da pasta, mostrado na barra de endereços e soltando-o na área de trabalho.

Arquivos ocultos, arquivos de sistema, arquivos somente leitura... os atributos dos itens podem ser definidos
pelo item Propriedades no menu de contexto. O Explorador de Arquivos pode exibir itens que tenham o atributo
oculto, desde que ajuste a configuração correspondente.

ÁREA DE TRABALHO

A interface gráfica do Windows é caracterizada pela Área de Trabalho, ou Desktop. A tela inicial do Windows
exibe ícones de pastas, arquivos, programas, atalhos, barra de tarefas (com programas que podem ser executados
e programas que estão sendo executados) e outros componentes do Windows.
A área de trabalho do Windows 10, também conhecida como Desktop, é reconhecida pela presença do papel de
parede ilustrando o fundo da tela. É uma imagem, que pode ser um bitmap (extensão BMP), uma foto (extensão
JPG), além de outros formatos gráficos. Ao ver o papel de parede em exibição, sabemos que o computador está
pronto para executar tarefas.

Lixeira Microsoft Google Mozilla Kaspersky Firefox


Edge Chrome Thunderbird Secure Co..

Provas Dawnloads caragua.docx Lista de Extra - dicas


Anteriores e-mails par.. Ebook-Curs. concursos.txt

Figura 1. Imagem da área de trabalho do Windows 10.

Na área de trabalho podemos encontrar Ícones e estes podem ser ocultados se o usuário escolher ‘Ocultar
ícones da área de trabalho’ no menu de contexto (botão direito do mouse, Exibir). Os ícones representam atalhos,
arquivos, pastas, unidades de discos e componentes do Windows (como Lixeira e Computador).
No canto inferior esquerdo encontraremos o botão Iniciar, que pode ser acionado pela tecla Windows ou pela
combinação de teclas Ctrl+Esc. Ao ser acionado, o menu Iniciar será apresentado na interface de blocos que sur-
98 giu com o Windows 8, interface Metro.
A ideia do menu Iniciar é organizar todas as opções instaladas no Windows 10, como acessar Configurações
(antigo Painel de Controle), programas instalados no computador, apps instalados no computador a partir da
Windows Store (loja de aplicativos da Microsoft) etc.
Ao lado do botão Iniciar encontramos a caixa de pesquisas (Cortana). Com ela, poderemos digitar ou ditar o
nome do recurso que estamos querendo executar e o Windows 10 apresentará a lista de opções semelhantes na
área de trabalho e a possibilidade de buscar na Internet. Além da digitação, podemos falar o que estamos queren-
do procurar, clicando no microfone no canto direito da caixa de pesquisa.
A seguir, temos o item Visão de Tarefas sendo uma novidade do Windows 10, que permite visualizar os dife-
rentes aplicativos abertos (como o atalho de teclado Alt+Tab clássico) e alternar para outra Área de Trabalho. O
atalho de teclado para Visão de Tarefas é Windows+Tab.
Enquanto no Windows 7 só temos uma Área de Trabalho, o Windows 10 permite trabalhar com várias áreas de
trabalho independentes, onde os programas abertos em uma não interfere com os programas abertos em outra.
A seguir, a tradicional Barra de Acesso Rápido, que organiza os aplicativos mais utilizados pelo usuário, per-
mitindo o acesso rápido, tanto por clique no mouse, como por atalhos (Windows+1 para o primeiro, Windows+2
para o segundo programa etc.) e também pelas funcionalidades do Aero (como o Aero Peek, que mostrará minia-
turas do que está em execução, e consequente transparência das janelas).
A Área de Notificação mostrará a data, hora, mensagens da Central de Ações (de segurança e manutenção),
processos em execução (aplicativos de segundo plano) etc. Atalho de teclado: Windows+B.
Por sua vez, em “Mostrar Área de Trabalho”, o atalho de teclado Windows+D mostrará a área de trabalho ao
primeiro clique e mostrará o programa que estava em execução ao segundo clique. Se a opção “Usar Espiar para
visualizar a área de trabalho ao posicionar o ponteiro do mouse no botão Mostrar Área de Trabalho na extremida-
de da barra de tarefas” estiver ativado nas Configurações da Barra de Tarefas, não será necessário clicar. Bastará
apontar para visualizar a Área de Trabalho.
Uma novidade do Windows 10 foi a incorporação dos Blocos Dinâmicos (que antes estavam na interface Metro
do Windows 8 e 8.1) no menu Iniciar. Os blocos são os aplicativos fixados no menu Iniciar. Se quiser ativar ou
desativar, pressione e segure o aplicativo (ou clique com o botão direito do mouse) que mostra o bloco dinâmico
e selecione Ativar bloco dinâmico ou Desativar bloco dinâmico.

Navegador padrão
do Windows 10 Atalhos

Itens Excluídos

Lixeira Microsoft Google Mozilla Kaspersky


Pastas de Firefox Arquivos
Edge Chrome Thunderbird Secure Co..
Arquivos

Provas Dawnloads caragua.docx Lista de Extra - dicas


Anteriores e-mails par.. Ebook-Curs. concursos.txt

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Central de
Botão Iniciar Barra de Área de
Visão de Tarefas Ações
Cortana Acesso rápido Notificação

Barra de Tarefas

Figura 2. Elementos da área de trabalho do Windows 10.

Mostrar área de trabalho agora está no canto inferior direito, ao lado do relógio, na área de notificação da
Barra de Tarefas. O atalho continua o mesmo: Win+D (Desktop)

99
Aplicativos fixados na Barra de Tarefas são ícones que permanecem em exibição todo o tempo.

Aplicativo que está em execução 1 vez possui um pequeno traço azul abaixo do ícone.

Aplicativo que está em execução mais de 1 vez possui um pequeno traço segmentado azul no ícone.

1 +1 não está em
execução execução execução

ÁREA DE TRANSFERÊNCIA

Um dos itens mais importantes do Windows não é visível como um ícone ou programa. A Área de Transfe-
rência é um espaço da memória RAM, que armazena uma informação de cada vez. A informação armazenada
poderá ser inserida em outro local, e ela acaba trabalhando em praticamente todas as operações de manipulação
de pastas e arquivos.
No Windows 10, se quiser visualizar o conteúdo da Área de Transferência, acione o atalho de teclado Windo-
ws+V (View).
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+C (Copiar), estamos copiando o item para a memória RAM, para ser inse-
rido em outro local, mantendo o original e criando uma cópia.
Ao acionar o atalho de teclado PrintScreen, estamos copiando uma “foto da tela inteira” para a Área de Trans-
ferência, para ser inserida em outro local, como em um documento do Microsoft Word ou edição pelo acessório
Microsoft Paint.
Ao acionar o atalho de teclado Alt+PrintScreen, estamos copiando uma ‘foto da janela atual’ para a Área de
Transferência, desconsiderando outros elementos da tela do Windows.
Ao acionar o atalho de teclado Ctrl+V (Colar), o conteúdo que está armazenado na Área de Transferência será
inserido no local atual.

Dica
As três teclas de atalhos mais questionadas em questões do Windows são Ctrl+X, Ctrl+C e Ctrl+V, que acio-
nam os recursos da Área de Transferência.

As ações realizadas no Windows, em sua quase totalidade, podem ser desfeitas ao acionar o atalho de teclado
Ctrl+Z imediatamente após a sua realização. Por exemplo, ao excluir um item por engano, e pressionar Del ou
Delete, o usuário pode acionar Ctrl+Z (Desfazer) para restaurar ele novamente, sem necessidade de acessar a
Lixeira do Windows.
E outras ações podem ser repetidas, acionando o atalho de teclado Ctrl+Y (Refazer), quando possível.
Para obter uma imagem de alguma janela em exibição, além dos atalhos de teclado PrintScreen e Alt+PrintS-
creen, o usuário pode usar o recurso Instantâneo, disponível nos aplicativos do Microsoft Office.
Outra forma de realizar esta atividade é usar a Ferramenta de Captura (Captura e Esboço), disponível no
Windows.
Mas se o usuário quer apenas gravar a imagem capturada, poderá fazer com o atalho de teclado Windo-
ws+PrintScreen, que salva a imagem em um arquivo na pasta “Capturas de Tela”, na Biblioteca de Imagens.
A área de transferência é um dos principais recursos do Windows, que permite o uso de comandos, realização
100 de ações e controle das ações que serão desfeitas.
MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS E PASTAS

Ao nomear arquivos e pastas, algumas regras precisam ser conhecidas para que a operação seja realizada com
sucesso.

z O Windows não é case sensitive. Ele não faz distinção entre letras minúsculas ou letras maiúsculas. Um arqui-
vo chamado documento.docx será considerado igual ao nome Documento.DOCX;
z O Windows não permite que dois itens tenham o mesmo nome e a mesma extensão quando estiverem arma-
zenados no mesmo local;
z O Windows não aceita determinados caracteres nos nomes e extensões. São caracteres reservados, para outras
operações, que são proibidos na hora de nomear arquivos e pastas. Os nomes de arquivos e pastas podem ser
compostos por qualquer caractere disponível no teclado, exceto os caracteres * (asterisco, usado em buscas),
? (interrogação, usado em buscas), / (barra normal, significa opção), | (barra vertical, significa concatenador
de comandos), \ (barra invertida, indica um caminho), “ (aspas, abrange textos literais), : (dois pontos, significa
unidade de disco), < (sinal de menor, significa direcionador de entrada) e > (sinal de maior, significa direcio-
nador de saída);
z Existem termos que não podem ser usados, como CON (console, significa teclado), PRN (printer, significa
impressora) e AUX (indica um auxiliar), por referenciar itens de hardware nos comandos digitados no Prompt
de Comandos. (por exemplo, para enviar para a impressora um texto através da linha de comandos, usamos
TYPE TEXTO.TXT > PRN).

Entre os caracteres proibidos, o asterisco é o mais conhecido. Ele pode ser usado para substituir de zero à N
caracteres em uma pesquisa, tanto no Windows como nos sites de busca na Internet.
As ações realizadas pelos usuários em relação à manipulação de arquivos e pastas pode estar condicionada ao
local onde ela é efetuada, ou ao local de origem e destino da ação. Portanto, é importante verificar no enunciado
da questão, geralmente no texto associado, estes detalhes que determinarão o resultado da operação.
As operações podem ser realizadas com atalhos de teclado, com o mouse, ou com a combinação de ambos. As
bancas organizadoras costumam questionar ações práticas nas provas e, na maioria das vezes utilizam imagens
nas questões.

OPERAÇÕES COM TECLADO


Atalhos de teclado Resultado da operação
Ctrl+X e Ctrl+V
Não é possível recortar e colar na mesma pasta. Será exibida uma mensagem de erro.
na mesma pasta
Ctrl+X e Ctrl+V
Recortar (da origem) e colar (no destino). O item será movido
em locais diferentes
Ctrl+C e Ctrl+V Copiar e colar. O item será duplicado. A cópia receberá um sufixo (Copia) para diferenciar
na mesma pasta do original.
Ctrl+C e Ctrl+V Copiar (da origem) e colar (no destino). O item será duplicado, mantendo o nome e
em locais diferentes extensão.
Tecla Delete em um item do Deletar, apagar, enviar para a Lixeira do Windows, podendo recuperar depois, se o item
disco rígido estiver em um disco rígido local interno ou externo conectado na CPU.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Tecla Delete em um item do Será excluído definitivamente. A Lixeira do Windows não armazena itens de unidades
disco removível removíveis (pendrive), ópticas ou unidades remotas.
Shift+Delete Independentemente do local onde estiver o item, ele será excluído definitivamente
Renomear. Trocar o nome e a extensão do item. Se houver outro item com o mesmo
F2 nome no mesmo local, um sufixo numérico será adicionado para diferenciar os itens. Não
é permitido renomear um item que esteja aberto na memória do computador.

Lixeira

Um dos itens mais questionados em concursos públicos é a Lixeira do Windows. Ela armazena os itens que
foram excluídos de discos rígidos locais, internos ou externos conectados na CPU.
Ao pressionar o atalho de teclado Ctrl+D, ou a tecla Delete (DEL), o item é removido do local original e arma-
zenado na Lixeira.
Quando o item está na Lixeira, o usuário pode escolher a opção Restaurar, para retornar ele para o local
original. Se o local original não existe mais, pois suas pastas e subpastas foram removidas, a Lixeira recupera o
caminho e restaura o item.
Os itens armazenados na Lixeira poderão ser excluídos definitivamente, escolhendo a opção “Esvaziar Lixeira” no
menu de contexto ou faixa de opções da Lixeira.
Quando acionamos o atalho de teclado Shift+Delete, o item será excluído definitivamente. Pelo Windows, itens
excluídos definitivamente ou apagados após esvaziar a Lixeira não poderão ser recuperados. É possível recuperar
com programas de terceiros, mas isto não é considerado no concurso, que segue a configuração padrão. 101
Os itens que estão na Lixeira podem ser arrastados com o mouse para fora dela, restaurando o item para o
local onde o usuário liberar o botão do mouse.
A Lixeira do Windows tem o seu tamanho definido em 10% do disco rígido ou 50 GB. O usuário poderá alterar o
tamanho máximo reservado para a Lixeira, poderá desativar ela excluindo os itens diretamente e configurar Lixeiras
individuais para cada disco conectado.

OPERAÇÕES COM MOUSE


AÇÃO DO USUÁRIO RESULTADO DA OPERAÇÃO
Clique simples no botão principal Selecionar o item
Clique simples no botão secundário Exibir o menu de contexto do item
Executar o item, se for executável. Abrir o item, se for editável, com
Duplo clique o programa padrão que está associado. Nos programas do com-
putador, poderá abrir um item através da opção correspondente.
Renomear o item. Se o nome já existe em outro item, será sugeri-
Duplo clique pausado
do numerar o item renomeado com um sufixo.
Arrastar com botão principal pressionado e soltar na
O item será movido
mesma unidade de disco
Arrastar com botão principal pressionado e soltar
O item será copiado
em outra unidade de disco
Arrastar com botão secundário do mouse pressio- Exibe o menu de contexto, podendo “Copiar aqui” (no local onde
nado e soltar na mesma unidade soltar)
Arrastar com botão secundário do mouse pressio- Exibe o menu de contexto, podendo “Copiar aqui” (no local onde
nado e soltar em outra unidade de disco soltar) ou “Mover aqui”

Arrastar na mesma unidade, será movido. Arrastar entre unidades diferentes, será copiado.

OPERAÇÕES COM TECLADO E MOUSE

AÇÃO DO USUÁRIO RESULTADO DA OPERAÇÃO

Arrastar com o botão principal pressionado um item com O item será copiado, quando a tecla CTRL for liberada, inde-
a tecla CTRL pressionada pendente da origem ou do destino da ação

Arrastar com o botão principal pressionado um item com O item será movido, quando a tecla SHIFT for liberada, inde-
a tecla SHIFT pressionada pendente da origem ou do destino da ação

Arrastar com o botão principal pressionado um item com Será criado um atalho para o item, independente da ori-
a tecla ALT pressionada (ou CTRL+SHIFT) gem ou do destino da ação

Clique em itens com o botão principal, enquanto mantém


Seleção individual de itens
a tecla CTRL pressionada

Seleção de vários itens. O primeiro item clicado será o iní-


Clique em itens com o botão principal, enquanto mantém
cio, e o último item será o final, de uma região contínua de
a tecla SHIFT pressionada
seleção

Modos de Exibição do Windows 10

z ícones extras grandes: ícones extra grandes com nome (e extensão);


z ícones grandes: ícones grandes com nome (e extensão);
102 z ícones médios: ícones médios com nome (e extensão) organizados da esquerda para a direita;
z ícones pequenos: ícones pequenos com nome (e extensão) organizados da esq. para a direita;
z Listas: ícones pequenos com nome (e extensão) organizados de cima para baixo;
z Detalhes: ícones pequenos com nome, data de modificação, tipo e tamanho;
z Blocos: ícones médios com nome, tipo e tamanho, organizados da esq. para a direita;
z Conteúdo: ícones médios com nome, autores, data de modificação, marcas e tamanho.

Um dos temas mais questionado em provas anteriores são os modos de exibição do Windows. Se tem um
computador com Windows 10, procure visualizar os modos de exibição no seu Explorador de Arquivos. Praticar
a disciplina no computador, ajuda na memorização dos recursos.

2. Barra ou linha de título


3. Minimizar 4. Maximizar 5. fechar

1. Barra de menus

Área de trabalho do aplicativo

6. Barra de Rolagem

Figura 3. Elementos de uma janela do Windows 10.

1. Barra de menus: são apresentados os menus com os respectivos serviços que podem ser executados no
aplicativo.
2. Barra ou linha de título: mostra o nome do arquivo e o nome do aplicativo que está sendo executado na jane-
la. Através dessa barra, conseguimos mover a janela quando a mesma não está maximizada. Para isso, clique
na barra de título, mantenha o clique e arraste e solte o mouse. Assim, você estará movendo a janela para a
posição desejada. Depois é só soltar o clique.
3. Botão minimizar: reduz uma janela de documento ou aplicativo para um ícone. Para restaurar a janela para
seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes na barra de títulos.
4. Botão maximizar: aumenta uma janela de documento ou aplicativo para preencher a tela. Para restaurar a
janela para seu tamanho e posição anteriores, clique neste botão ou clique duas vezes na barra de títulos.
5. Botão fechar: fecha o aplicativo ou o documento. Solicita que você salve quaisquer alterações não salvas antes
de fechar. Alguns aplicativos, como os navegadores de Internet, trabalham com guias ou abas, que possui o seu
próprio controle para fechar a guia ou aba. Atalho de teclado Alt+F4.
6. Barras de rolagem: as barras sombreadas ao longo do lado direito (e inferior de uma janela de documento).
Para deslocar-se para outra parte do documento, arraste a caixa ou clique nas setas da barra de rolagem.

USO DOS MENUS

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


No Windows 10, tanto pelo Explorador de Arquivos como pelo menu Iniciar, encontramos as opções para gerencia-
mento de arquivos, pastas e configurações.
O Windows 10 disponibiliza listas de atalho como recurso que permite o acesso direto a sítios, músicas, documentos
ou fotos. O conteúdo dessas listas está diretamente relacionado com o programa ao qual elas estão associadas. O recurso
de Lista de Atalhos, novidade do Windows 7 que foi mantida nas versões seguintes, possibilita organizar os arquivos
abertos por um aplicativo ao ícone do aplicativo, com a possibilidade ainda de fixar o item na lista.
No Explorador de Arquivos do Windows 10, os menus foram trocados por guias, semelhante ao Microsoft Office. Ao
pressionar ALT, nenhum menu escondido será mostrado (como no Windows 7), mas os atalhos de teclado para as guias
Arquivo, Início, Compartilhar e Exibir.

O botão direito do mouse exibe a janela pop-up chamada “Menu de Contexto”. Em cada local que for clicado,
uma janela diferente será mostrada.
As opções exibidas no menu de contexto contém as ações permitidas para o item clicado naquele local. 103
Através do menu de contexto da área de trabalho, podemos criar nova pasta (Ctrl+Shift+N), novo Atalho, ou
novos arquivos (Imagem de bitmap [BMP Paint], Documento do Microsoft Word [DOCX Microsoft Word], Formato
Rich Text [RTF WordPad], Documento de Texto [TXT Bloco de Notas], Planilha do Microsoft Excel [XLSX Microsoft
Excel], Pasta Compactada [extensão ZIP], entre outros).

Dica
Arquivos de imagens são editados pelo acessório do Windows Microsoft Paint, que no Windows 10 oferece
a versão Paint 3D.

Cada item (pasta ou arquivo) armazena uma série de informações relacionadas a si próprio. Estas informa-
ções podem ser consultadas em Propriedades, acessado no menu de contexto, exibido quando clicar com o botão
direito do mouse sobre o item.
Ao clicar com o botão direito sobre o ícone da Lixeira, será mostrado o menu de contexto, e escolhendo ‘Esva-
ziar Lixeira’, os itens serão removidos definitivamente, utilizando o Windows, não haverá meio de recuperá-los.

PROGRAMAS E APLICATIVOS

Os programas associados ao Windows 10 podem ser classificados em:

z Componentes do sistema operacional;


z Aplicativos e Acessórios;
z Ferramentas de Manutenção e Segurança.
z App’s – aplicativos disponíveis na Loja (Windows Store) para instalação no computador do usuário.

Os acessórios do Windows são aplicativos nativos do sistema operacional, que estão disponíveis para utiliza-
ção mesmo que não existam outros programas instalados no computador. Os acessórios oferecem recursos bási-
cos para anotações, edição de imagens e edição de textos.
Na primeira categoria encontramos o Configurações (antigo Painel de Controle). Usado para realizar as confi-
gurações de software (programas) e hardware (dispositivos), permite alterar o comportamento do sistema opera-
cional, personalizando a experiência no Windows 7. No Windows 10 o Painel de Controle chama-se Configurações,
e pode ser acessado pelo atalho de teclado Windows+X no menu de contexto, ou diretamente pelo atalho de tecla-
do Windows+I.
Na segunda categoria, temos programas que realizam atividades e outros que produzem mais arquivos. Por
exemplo, a calculadora. É um acessório do Windows 10 que inclui novas funcionalidades em relação às versões
anteriores, como o cálculo de datas e conversão de medidas. Temos também o Notas Autoadesivas (como peque-
nos post its na tela do computador).
Outros acessórios são o WordPad (para edição de documentos com alguma formatação), Bloco de Notas (para
edição de arquivos de textos), MSPaint (para edição de imagens) e Visualizador de Imagens (que permite ver uma
imagem e chamar o editor correspondente).
E finalmente, as ferramentas do sistema. Desfragmentar e Otimizar Unidades21 (antigo Desfragmentador de
Discos, para organizar clusters22), Verificação de Erros (para procurar por erros de alocação), Backup do Windows
(para cópia de segurança dos dados do usuário) e Limpeza de Disco (para liberar espaço livre no disco).

Desfragmentar e Otimizar Unidades


Aplicativo da área de trabalho

Otimizar e desfragmentar unidade


A otimização das unidades do computador pode
ajudá-lo a funcionar com mais eficiência.

Otimizar

21  Em cada local do Windows, o item poderá ter um nome diferente. “Desfragmentar e Otimizar Unidades” é o nome do recurso. “Otimizar e
desfragmentar unidade” é o nome da opção.
104 22  Unidades de alocação. Quando uma informação é gravada no disco, ela é armazenada em um espaço chamado cluster.
No menu Iniciar, em Ferramentas Administrativas do Windows, encontraremos os outros programas, como
por exemplo: Agendador de Tarefas, Gerenciamento do Computador, Limpeza de Disco etc. Na parte de segurança
encontramos o Firewall do Windows, um filtro das portas TCP do computador, que autoriza ou bloqueia o acesso
para a rede de computadores, e de acesso externo ao computador.

Firewall do Windows
Painel de controle

A tabela a seguir procura resumir os recursos e novidades do Windows 10. Confira.

WINDOWS 10 O QUE
Explorador de Arquivos Gerenciamento de arquivos e pastas do computador.
Referência ao local no gerenciador de arquivos e pastas para unidades de discos
Este Computador
e pastas Favoritas.
Ferramenta de sistema para organizar os arquivos e pastas do computador, me-
Desfragmentar e Otimizar Unidades
lhorando o tempo de leitura dos dados.
Win+S Pesquisar
Envia imediatamente Pressionar DEL em um item selecionado.
Configurações Permite configurar software e hardware do computador.
Home, Pro, Enterprise, Education. Edições do Windows
Integração com xBox, modo multiplayer gratuito, streaming de jogos do xBox
xBox (Games, músicas = Groove)
One.
Com blocos dinâmicos (live tiles) Menu Iniciar
Hyperboot & InstantGo Inicialização rápida
Menu Iniciar, Barra de Tarefas e Blo-
Fixar aplicativos
cos Dinâmicos
Windows Hello Autenticação biométrica permite logar no sistema sem precisar de senhas.
Acessar os documentos do OneDrive diretamente do Windows Explorer e Explo-
OneDrive integrado
rador de Arquivos
Permite alternar de maneira fácil entre os modos de desktop e tablet, sendo
Continuum
ideal para dispositivos conversíveis.
Microsoft Edge O novo navegador da Microsoft está disponível somente no Windows 10.
Com funcionamento análogo à Google Play Store e à Apple Store, o ambiente
Windows Store
permite comprar jogos, apps, filmes, músicas e programas de TV.
Desktops virtuais O recurso permite visualizar dados de vários computadores em uma única tela.
Windows Update, Windows Update
Fornecimento do Windows como um serviço, para manter o Windows atualizado
for Business, Current Branch for Bu-
Windows as a Service – WaaS

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


siness e Long Term Servicing Branch
Intregração com Windows Phone Aplicativos Fotos aprimorado
O modo tablet deixa o Windows mais fácil e intuitivo de usar com touch em dis-
Modo tablet
positivos tipo conversíveis.
Email, Calendário, Notícias, entre
Executar aplicativos Metro (Windows 8 e 8.1) em janelas
outros – também foram melhorados.
Compartilhar Wi-Fi Compartilhar sua rede Wi-Fi com os amigos sem revelar a senha
Complemento para Telefone Sincronizar dados entre seu PC e smartphone ou tablete, seja iOs ou Android.
Configurações > Sistema >
Analisar o espaço de armazenamento em seu PC
Armazenamento
Prompt de Comandos Usar o comando Ctrl + V no prompt de comando
Assistente pessoal semelhante a Siri da Apple, que já está disponível em
Cortana
português.
Na área de notificações do Windows 10, a Central de Notificações reúne as men-
Central de Notificações
sagens do e-mail, do computador, de segurança e manutenção, entre outras.

105
Quando você clica duas vezes em um arquivo, como por exemplo, uma imagem ou documento, o arquivo
é aberto no programa que está definido como o “programa padrão” para esse tipo de arquivo no Windows 10.
Porém, se você gosta de usar outro programa para abrir o arquivo, você pode defini-lo como padrão. Disponível
em Configurações, Sistema, Aplicativos Padrão.

O Bloco de Notas (notepad.exe): é um acessório do Windows para edição de arquivos de texto sem formatação,
com extensão TXT.

O WordPad (wordpad.exe) é um acessório do Windows para edição de arquivos de texto com alguma formata-
ção, com extensão RTF e DOCX.
O WordPad se assemelha ao Microsoft Word, com recursos simplificados.

O Paint (mspaint.exe) é o acessório do Windows para edição de imagens BMP, GIF, JPG, PNG e TIF.

106
A Ferramenta de Captura é um aplicativo da área de trabalho do Windows 10, que permite copiar parte de
alguma tela em exibição.

Notas Autoadesivas (que agora se chama Stick Notes) é um aplicativo do Windows 10, que permite a inserção
de pequenas notas de texto na área de trabalho do Windows, como recados do tipo Post-It.
As Anotações podem ser vinculadas ao Microsoft Bing e assistente virtual Cortana. Assim, ao anotar um ende-
reço, o mapa é exibido. Ao anotar um número de voo, as informações serão mostradas sobre a partida.
O aplicativo “Filmes e TV” pode ser usado para visualização de vídeos, assim como o “Windows Media Player”.
O Prompt de Comandos (cmd.exe) é usado para digitar comandos em um terminal de comandos.
O Microsoft Edge é o navegador de Internet padrão do Windows 10 . Podemos usar outros navegadores, como
o Internet Explorer 11 , Mozilla Firefox , Google Chrome , Apple Safari, Opera Browser, etc.
O Windows Update (verificar se há atualizações) é o recurso do Windows para manter ele sempre atualizado.
Está em Configurações (atalho de teclado Windows+I), Atualização e segurança.

INTERAÇÃO COM O CONJUNTO DE APLICATIVOS MS-OFFICE 2010

z Os documentos de texto produzidos pelo Microsoft Word 2010 possuem a extensão DOCX;
z Os documentos de texto habilitados para macros23, possuem a extensão DOCM;
z Um modelo24 de documento é um arquivo que pode ser usado para criar novos arquivos a partir de uma forma-
tação pré-estabelecida. A extensão é DOTX;
z Um modelo de documento habilitado para macros contém além da formatação básica para criação de outros
documentos, comandos programados para automatização de tarefas. A extensão é DOTM;.
z As pastas de trabalho produzidas pelo Microsoft Excel 2010 possuem a extensão XLSX;
z As pastas de trabalho habilitadas para macros possuem a extensão XLSM;
z As pastas de trabalho do tipo modelo, possuem a extensão XLTX;
z As pastas de trabalho do tipo modelo habilitadas para macros possuem a extensão XLTM;
z O arquivo do Excel que contém os dados de uma planilha que não foi salva, que pode ser recuperada pelo
usuário, possui a extensão XLSB. (binário);

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


z O arquivo com extensão CSV (Comma Separated Values) contém textos separados por vírgula, que podem ser
importados pelo Excel, podem ser usados em mala direta do Word, incorporados a um banco de dados, etc.;
z Um arquivo com a extensão. contact é um contato, que pode ser usado no Outlook 2016;
z Arquivos compactados com extensão ZIP podem armazenar outros arquivos e pastas;
z Os arquivos compactados podem ser criados pelo menu de contexto, opção Enviar para, Pasta Compactada;
z Os arquivos de Internet, como páginas salvas, recebem a extensão HTML e uma pasta será criada para os
arquivos auxiliares (imagens, vídeos, etc.);
z O conteúdo de arquivos do Office pode ser transferido para outros arquivos do próprio Office através da Área
de Transferência do Windows;
z O conteúdo formatado do Office poderá ser transferido para outros arquivos do Windows, mas a formatação
poderá ser perdida.

Atalhos de teclado – Windows 10

Dica
Os atalhos de teclado do Windows são de termos originais em inglês. Por serem atalhos de teclado do siste-
ma operacional, são válidos para os programas que estiverem sendo executados no Windows.
23  Macros são pequenos programas desenvolvidos dentro de arquivos do Office, para automatização de tarefas. Os códigos dos programas
são escritos em linguagem VBA – Visual Basic for Applications. Arquivos com macros podem conter vírus, e no momento da abertura, o
programa perguntará se o usuário deseja ativar ou não as macros.
24  Template = modelo de documento, planilha ou apresentação, com a formatação básica a ser usada no novo arquivo. 107
ATALHO AÇÃO
Alt+Esc Alterna para o próximo aplicativo em execução
Alt+Tab Exibe a lista dos aplicativos em execução
Backspace Volta para a pasta anterior, que estava sendo exibida no Explorador de Arquivos.
Ctrl+A Selecionar tudo
Ctrl+C Copia o item (os itens) para a Área de Transferência
Ctrl+Esc Botão Início
Ctrl+E / Ctrl+F Pesquisar
Ctrl+Shift+Esc Gerenciador de Tarefas
Ctrl+V Cola o item (os itens) da Área de Transferência no local do cursor
Ctrl+X Move o item (os itens) para a Área de Transferência
Ctrl+Y Refazer
Desfaz a última ação. Se acabou de renomear um arquivo, ele volta ao nome original. Se acabou
Ctrl+Z
de apagar um arquivo, ele restaura para o local onde estava antes de ser deletado.
Del Move o item para a Lixeira do Windows
F1 Exibe a ajuda
F11 Tela Inteira
Renomear, trocar o nome: dois arquivos com mesmo nome e mesma extensão não podem estar
F2 na mesma pasta, se já existir outro arquivo com o mesmo nome, o Windows espera confirmação,
símbolos especiais não podem ser usados, como / | \ ? * “ < > :
F3 Pesquisar, quando acionado no Explorador de Arquivos. Win+S fora dele.
F5 Atualizar
Shift+Del Exclui definitivamente, sem armazenar na Lixeira
Win Abre o menu Início
Win+1 Acessa o primeiro programa da barra de tarefas
Win+2 Acessa o segundo programa da barra de tarefas
Win+B Acessa a Área de Notificação
Win+D Mostra o desktop (área de trabalho)
Win+E Abre o Explorador de Arquivos.
Win+F Feedback – hub para comentários sobre o Windows.
Win+I Configurações (Painel de Controle)
Win+L Bloquear o Windows (Lock, bloquear)
Win+M Minimiza todas as janelas e mostra a área de trabalho, retornando como estavam antes.
Selecionar o monitor/projetor que será usado para exibir a imagem, podendo repetir, estender ou
Win+P
escolher
Win+S Search, para pesquisas (substitui o Win+F)
Win+Tab Exibe a lista dos aplicativos em execução em 3D (Visão de Tarefas)
Win+X Menu de acesso rápido, exibido ao lado do botão Iniciar

EDITORES DE TEXTO (MS OFFICE 2010 BR OU SUPERIOR E LIBREOFFICE WRITTER 4.X


OU SUPERIOR)
RECURSOS E FUNÇÕES DE FORMATAÇÃO E EDITORAÇÃO, BUSCAS E COMPARAÇÕES, RECURSOS ESPECIAIS,
CORRETORES ORTOGRÁFICOS; MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS: LEITURA E GRAVAÇÃO; CONTROLE DE
ALTERAÇÕES; USO DE SENHAS PARA PROTEÇÃO; FORMATOS PARA GRAVAÇÃO; RECURSOS PARA IMPRESSÃO

MS – WORD

Estrutura Básica dos Documentos

Os documentos produzidos com o editor de textos Microsoft Word possuem a seguinte estrutura básica:

z Documentos: arquivos DOCX criados pelo Microsoft Word 2007 e superiores. Os documentos são arquivos
108 editáveis pelo usuário, que podem ser compartilhados com outros usuários para edição colaborativa;
z Os Modelos (Template), com extensão DOTX contém formatações que serão aplicadas aos novos documentos
criados a partir dele. O modelo é usado para a padronização de documentos;
z O modelo padrão do Word é NORMAL.DOTM (Document Template Macros – modelo de documento com macros).
Os macros são códigos desenvolvidos em Visual Basic for Applications (VBA) para a automatização de tarefas;
z Páginas: unidades de organização do texto, segundo a orientação, o tamanho do papel e margens. As princi-
pais definições estão na guia layout, mas é possível encontrar algumas definições na guia design;
z Seção: divisão de formatação do documento, onde cada parte tem a sua configuração. Sempre que forem usa-
das configurações diferentes, como margens, colunas, tamanho da página, orientação, cabeçalhos, numeração
de páginas, entre outras, as seções serão usadas;
z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formatação. Finalizado com a tecla Enter, contendo formata-
ção independente do parágrafo anterior e do parágrafo seguinte;
z Linhas: sequência de palavras que pode ser um parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for finalizado com
quebra de linha, a configuração atual permanece na próxima linha;
z Palavras: formado por letras, números, símbolos, caracteres de formatação etc.

Os arquivos produzidos nas versões anteriores do Word são abertos e editados nas versões atuais. Arquivos de
formato DOC são abertos em Modo de Compatibilidade, todavia alguns recursos são suspensos. Para usar todos os
recursos da versão atual, é necessário “Salvar como” (tecla de atalho F12) no formato DOCX.
Os arquivos produzidos no formato DOCX poderão ser editados pelas versões antigas do Office, desde que instale
um pacote de compatibilidade, disponível para download no site da Microsoft.
Os arquivos produzidos pelo Microsoft Office podem ser gravados no formato PDF. O Microsoft Word, desde a ver-
são 2013, possui o recurso “Refuse PDF”, que permite editar um arquivo PDF como se fosse um documento do Word.
Durante a edição de um documento, o Microsoft Word:

z Faz a gravação automática dos dados editados enquanto o arquivo não tem um nome ou local de armazenamento
definidos. Depois, se necessário, o usuário poderá “Recuperar documentos não salvos”;
z Faz a gravação automática de auto recuperação dos arquivos em edição que tenham nome e local definidos,
permitindo recuperar as alterações que não tenham sido salvas;
z As versões do Office 365 oferecem o recurso de “Salvamento automático”, associado à conta Microsoft, para
armazenamento na nuvem Microsoft OneDrive. Como na versão on-line, a cada alteração, o salvamento será
realizado;
z O formato de documento RTF (Rich Text Format) é padrão do acessório do Windows chamado WordPad, e por
ser portável, também poderá ser editado pelo Microsoft Word.

Dica
Em questões de informática, as extensões dos arquivos produzidos pelo usuário costumam ser questionadas
com regularidade.

z Ao iniciar a edição de um documento, o modo de exibição selecionado na guia Exibir é “Layout de Impressão”.
O documento será mostrado na tela da mesma forma que será impresso no papel;
z O Modo de Leitura permite visualizar o documento sem outras distrações, como, por exemplo, a Faixa de
Opções com os ícones. Neste modo, parecido com Tela Inteira, a barra de título continua sendo exibida;
z O modo de exibição “Layout da Web” é usado para visualizar o documento como ele seria exibido se estivesse
publicado na Internet como página web;

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


z Em “Estrutura de Tópicos” apenas os estilos de Títulos serão mostrados, auxiliando na organização dos blocos
de conteúdo;
z O modo “Rascunho”, que antes era modo “Normal”, exibe o conteúdo de texto do documento sem os elementos
gráficos (imagens, cabeçalho, rodapé) existentes nele;
z Os modos de exibição estão na guia “Exibir”, que faz parte da Faixa de Opções. Ela é o principal elemento da
interface do Microsoft Office;

109
z Para mostrar ou ocultar a Faixa de Opções, o atalho de teclado Ctrl+F1 poderá ser acionado;
z A Faixa de Opções contém guias, que organizam os ícones em grupos, como será mostrado na tabela a seguir:

GUIA GRUPO ITEM ÍCONE

Recortar

Copiar
Área de Transferência
Colar

Página Inicial Pincel de Formatação

Nome da fonte Calibri (Corp

Tamanho da fonte 11
Fonte
Aumentar fonte A
Diminuir fonte A
Folha de Rosto

Páginas Página em Branco

Quebra de Página

Inserir Tabelas Tabela

Imagem

Ilustrações Imagens Online

Formas

Importante!
As bancas priorizam o conhecimento do candidato acerca do uso dos recursos para a produção de arquivos
(parte prática dos programas). Nas questões de editores de textos, a produção de documentos formatados
com imagens ilustrativas no formato antes/depois são os assuntos mais abordados.

z As guias possuem uma organização lógica sequencial das tarefas que serão realizadas no documento, desde o
início até a visualização do resultado final, como veremos na tabela a seguir:

BOTÃO/GUIA DICA
Arquivo Comandos para o documento atual: Salvar, salvar como, imprimir, salvar e enviar
Tarefas iniciais: O início do documento, acesso à área de transferência, formatação de fontes,
Página Inicial
parágrafos e formatação do conteúdo da página
Tarefas secundárias: Adicionar um objeto que ainda não existe no documento, tabela, ilustrações
Inserir
e instantâneos
Layout da Página Configuração da página: Formatação global do documento e formatação da página
Design Reúne formatação da página e plano de fundo
Referências Índices e acessórios: Notas de rodapé, notas de fim, índices, sumários etc.
Correspondências Mala direta: Cartas, envelopes, etiquetas, e-mails e diretório de contatos
Correção do documento: Ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle de
Revisão
alterações, comentários, comparar, proteger etc.
Exibir Visualização: Podemos ver o resultado de nosso trabalho. Será que ficou bom?
110
EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEXTOS

A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos pará-
grafos e nas páginas.
Os estilos fornecem configurações padronizadas para serem aplicadas aos parágrafos. Estas formatações
envolvem as definições de fontes e parágrafos, sendo úteis para a criação dos índices ao final da edição do docu-
mento. Os índices são gerenciados por meio das opções da guia referências, que estão disponíveis, na Microsoft
Word, na guia Página Inicial.
Com a ferramenta Pincel de Formatação, o usuário poderá copiar a formatação de um local e aplicar em outro
local no mesmo documento, ou em outro arquivo aberto. Para usar a ferramenta, selecione o “modelo de formata-
ção no texto”, clique no ícone da guia Página Inicial e clique no local onde deseja aplicar a formatação. O conteúdo
não será copiado, somente a formatação. Se efetuar duplo clique no ícone, poderá aplicar a formatação em vários
locais até pressionar a tecla Esc ou iniciar uma digitação.

Seleção

Utilizando-se do teclado e do mouse, como no sistema operacional, podemos selecionar palavras, linhas, pará-
grafos e até o documento inteiro.

Dica
Assim como no Windows, as operações com mouse e teclado também são questionadas nos programas do
Microsoft Office. Entretanto, por terem conteúdos distintos (textos, planilhas e apresentações de slides), a
seleção poderá ser diferente para algumas ações.

MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+T Selecionar tudo Seleciona o documento

Botão principal - 1 clique na palavra Posiciona o cursor

Botão principal - 2 cliques na palavra Seleciona a palavra

Botão principal - 3 cliques na palavra Seleciona o parágrafo

Botão principal - 1 clique na margem Selecionar a linha

Botão principal - 2 cliques na margem Seleciona o parágrafo

Botão principal - 3 cliques na margem Seleciona o documento

- Shift+Home Selecionar até o início Seleciona até o início da linha

- Shift+End Selecionar até o final Seleciona até o final da linha

- Ctrl+Shift+Home Selecionar até o início Seleciona até o início do documento

- Ctrl+Shift+End Selecionar até o final Seleciona até o final do documento

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Botão principal Ctrl Seleção individual Palavra por palavra

Botão principal Shift Seleção bloco Seleção de um ponto até outro local

Botão principal
Ctrl+Alt Seleção bloco Seleção vertical
pressionado

Botão principal Seleção vertical, iniciando no local do


Alt Seleção bloco
pressionado cursor

Dica
Teclas de atalhos e seleção com mouse são importantes, tanto nos concursos como no dia a dia. Experimen-
te praticar no computador. No Microsoft Word, se você digitar =rand(10,30) no início de um documento em
branco, ele criará um texto “aleatório” com 10 parágrafos de 30 frases em cada um. Agora você pode praticar
à vontade.

111
CABEÇALHOS

Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, grupo Cabeçalho e Rodapé25.
Poderá ser igual em toda a extensão do documento, diferente nas páginas pares e ímpares (para frente e verso),
mesmo que a seção anterior, diferente para cada seção do documento, não aparecer na primeira página, entre
várias opções de personalização.
Os cabeçalhos aceitam elementos gráficos, como tabelas e ilustrações.
A formatação de cabeçalho e rodapé, é diferente entre os programas do Microsoft Office. No Microsoft Word o
cabeçalho tem 1 coluna. No Excel, são 3 colunas. No Microsoft PowerPoint... depende, podendo ter 2 ou 3 colunas.
A numeração de páginas poderá ser inserida no cabeçalho e/ou rodapé.

(Digite aqui)

(Digite aqui) (Digite aqui) (Digite aqui)

PARÁGRAFOS

Edição e Formatação de Parágrafos

Os parágrafos são estruturas do texto que são finalizadas com Enter. Um parágrafo poderá ter diferentes for-
matações. Confira:

z Marcadores: símbolos no início dos parágrafos;


z Numeração: números ou algarismos romanos ou letras, no início dos parágrafos;
z Aumentar recuo: aumentar a distância do texto em relação à margem;
z Diminuir recuo: diminuir a distância do texto em relação à margem;
z Alinhamento: posicionamento em relação às margens esquerda e direita. São 4 alinhamentos disponíveis:
Esquerda, Centralizado, Direita e Justificado;
z Espaçamento entre linhas: distância entre as linhas dentro do parágrafo;
z Espaçamento antes: distância do parágrafo em relação ao anterior;
z Espaçamento depois: distância do parágrafo em relação ao seguinte;
z Sombreamento: preenchimento atrás do parágrafo;
z Bordas: linhas ao redor do parágrafo.

Recuo especial de primeira linha –


apenas a primeira linha será deslocada
em relação à margem
Margem esquerda Margem direita

Recuo deslocamento – as linhas serão


Recuo esquerdo – todas as linhas deslocadas em relação à margem
serão deslocadas em relação esquerda, exceto a primeira linha Recuo direito – todas as linhas
à margem esquerda serão deslocadas em relação
à margem direita

25  O grupo Cabeçalho e Rodapé permite a inserção de um Cabeçalho (na margem superior), Rodapé (na margem inferior) e Número de Página
112 (no local do cursor, na margem superior, na margem inferior, na margem direita/esquerda)
Os editores de textos, recursos que conhecemos no dia a dia possuem nomes específicos. Confira alguns exemplos:

z Recuo: distância do texto em relação à margem;


z Realce: marca-texto, preenchimento do fundo das palavras;
z Sombreamento: preenchimento do fundo dos parágrafos;
z Folha de Rosto: primeira página do documento, capa;
z SmartArt: diagramas, representação visual de dados textuais;
z Orientação: posição da página, que poderá ser Retrato ou Paisagem;
z Quebras: são divisões, de linha, parágrafo, colunas ou páginas;
z Sumário: índice principal do documento.

Muitos recursos de formatação não são impressos no papel, mas estão no documento. Para visualizar os carac-
teres não imprimíveis e controlar melhor o documento, você pode acionar o atalho de teclado Ctrl+* (Mostrar tudo).

CARACTERES NÃO IMPRIMÍVEIS NO EDITOR MICROSOFT WORD


Tecla(s) Ícone Ação Visualização

Quebra de Parágrafo: muda de parágrafo e pode mudar a


Enter -
formatação

Quebra de Linha: muda de linha e mantém a formatação


Shift+Enter -
atual

Quebra de página: muda de página, no local atual do cur-


Ctrl+Enter ou sor. Disponível na guia Inserir, grupo Páginas, ícone Que-
Ctrl+Return bra de Página, e na guia Layout, grupo Configurar Página,
ícone Quebras
Quebra de coluna: indica que o texto continua na próxima
Ctrl+Shift+Enter coluna. Disponível na guia Layout, grupo Configurar Pági-
na, ícone Quebras

Separador de Estilo – usado para modificar o estilo no


Ctrl+Alt+ Enter -
documento

Insere uma marca de tabulação (1,25cm). Se estiver no


TAB
início de um texto, aumenta o recuo

- - Fim de célula, linha ou tabela

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Espaço Espaço em branco

Ctrl+Shift+
Espaço em branco não separável
Espaço

- - Texto oculto (definido na caixa Fonte, Ctrl+D)

- - Hifens opcionais

- - Âncoras de objetos

- - Selecionar toda a tabela

- - Campos atualizáveis pelo Word

113
FONTES

Edição e Formatação de Fontes

As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows, e aparecem para todos os
programas do computador.
As formatações de fontes estão disponíveis no grupo Fonte, da guia Página Inicial.

Nomes de fontes como Calibri (fonte padrão do Word), Arial, Times New Roman, Courier New, Verdana, são os
mais comuns. Para facilitar o acesso a essas fontes, o atalho de teclado é: Ctrl+Shift+F.
A caixa de diálogo Formatar Fonte poderá ser acionada com o atalho Ctrl+D.
Ao lado, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente. Se quiser, digite o
valor específico para o tamanho da letra.
Vejamos, agora, alguns atalhos de teclado:

z Pressione Ctrl+Shift+P para mudar o tamanho da fonte pelo atalho. E diretamente pelo teclado com Ctrl+Shift+<
para diminuir fonte e Ctrl+Shift+> para aumentar o tamanho da fonte;
z Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho Ctrl+N), itálico (atalho Ctrl+I) e
sublinhado (atalho Ctrl+S). Já os efeitos modificam a fonte em si, como texto tachado (riscado simples sobre as
palavras), subscrito (como na fórmula H2O – atalho Ctrl + igual), e sobrescrito (como em km2 – atalho Ctrl+Shift+mais)

A diferença entre estilos e efeitos é que, os estilos podem ser combinados, como negrito-itálico, itálico-subli-
nhado, negrito-sublinhado, negrito-itálico-sublinhado, enquanto os efeitos são concorrentes entre si.
Concorrentes entre si, significa que você escolhe o efeito tachado ou tachado duplo, nunca os dois simultanea-
mente. O mesmo para o efeito TODAS MAIÚSCULAS e Versalete. Sobrescrito e subscrito.
Por sua vez, Sombra é um efeito independente, que pode ser combinado com outros. Já as opções de efeitos
Contorno, Relevo e Baixo Relevo não, devendo ser individuais.
Para finalizar esse assunto, temos o sublinhado. Ele é um estilo simples, mas comporta-se como efeito dentro
de si mesmo. Temos, então, Sublinhado simples, Sublinhado duplo, Tracejado, Pontilhado, Somente palavras (sem
considerar os espaços entre as palavras) etc. São os estilos de sublinhados, que se comportam como efeitos.

Dica
As questões sobre Fontes são práticas. Portanto, se puder praticar no seu computador, será melhor para a
memorização do tema. As questões são independentes da versão, portanto poderá usar o Word 2007 ou
Word 365, para testar as questões de Word 2016.

COLUNAS

O documento inicia com uma única coluna. Em Layout da Página podemos escolher outra configuração, além
de definir opções de personalização.
As colunas poderão ser definidas para a seção atual (divisão de formatação dentro do documento) ou para o
documento inteiro. Assim como os cadernos de provas de concursos, que possuem duas colunas, é possível inserir
uma “Linha entre colunas”, separando-as ao longo da página.

114
MARCADORES SIMBÓLICOS E NUMÉRICOS

• Usados por parágrafos, apresentam símbolos no início de cada, do lado esquerdo;


o Podem ser círculos preenchidos (linha acima), ou círculos vazios, como esta
 Outra forma de apresentação são os quadrados, ou então...
• O desenho do Office;
 Um símbolo neutro;
 Setas;
 Check ou qualquer símbolo que o usuário deseja personalizar.

Biblioteca de Marcadores

Nenhum

Marcadores de Documento

Alterar Nível de Lista

Definir Novo Marcador...

Ao pressionar duas vezes “Enter”, sairá da formatação dos marcadores simbólicos, retornando ao Normal.
Os marcadores numéricos são semelhantes aos marcadores simbólicos, mas com números, letras ou algaris-
mos romanos. Podem ser combinados com os Recuos de parágrafos, surgindo o formato Múltiplos Níveis.

NÚMEROS LETRAS ROMANOS MÚLTIPLOS NÍVEIS


1. Exemplo a. Exemplo i. Exemplo 1) Exemplo
2. Exemplo b. Exemplo ii. Exemplo a) Exemplo
3. Exemplo c. Exemplo iii. Exemplo 2) Exemplo
4. Exemplo d. Exemplo iv. Exemplo a) Exemplo

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Para trabalhar com a formatação de marcadores Múltiplos níveis, o digitador poderá usar a tecla “TAB” para
aumentar o recuo, passando os itens do primeiro nível para o segundo nível. E também pelo ícone “Aumentar
recuo”, presente na guia Página Inicial, grupo Parágrafo. Usando a régua, pode-se aumentar o recuo também.

Dica
Ao teclar “Enter” em uma linha com marcador ou numeração, mas sem conteúdo, você sai do recurso, voltan-
do à configuração normal do parágrafo. Se forem listas numeradas, itens excluídos dela provocam a renume-
ração dos demais itens.

CORRETORES ORTOGRÁFICOS

Para iniciar uma verificação de ortografia e gramática no seu arquivo pressione F7 ou siga as seguintes etapas:
Abra a maioria dos programas do Office e clique na guia Revisão na faixa de opções.

z Clique em Ortografia ou Ortografia e Gramática;


z Botão Ortografia e Gramática na faixa de opções Revisão;
z Se o programa encontrar erros de ortografia, uma caixa de diálogo é exibida mostrando a primeira palavra
incorreta encontrada pelo verificador ortográfico;
z Depois de você decidir como resolver o erro de ortografia (ignorá-lo, adicioná-lo ao dicionário do programa ou
alterá-lo), o programa segue para a próxima palavra incorreta. 115
CONTROLE DE ALTERAÇÕES

Na guia Revisão, vá para Controle e selecione Controlar Alterações. Feito isso, tudo que for mudado no arquivo
aparecerá destacado e deverá ser aceito para que o arquivo incorpore as mudanças.

TABELAS

As tabelas são estruturas de organização muito utilizadas para um layout adequado do texto, semelhante a
colunas, com a vantagem que estas não criam seções exclusivas de formatação.
As tabelas seguem as mesmas definições de uma planilha de Excel, ou seja, tem linhas, colunas, é formada por
células, podendo conter, também, fórmulas simples.
Ao inserir uma tabela, seja ela vazia, a partir de um desenho livre, ou convertendo a partir de um texto, uma
planilha de Excel, ou um dos modelos disponíveis, será apresentada a barra de ferramentas adicional na Faixa de
Opções.
Um texto poderá ser convertido em Tabela, e voltar a ser um texto, se possuir os seguintes marcadores de for-
matação: ponto e vírgula, tabulação, enter (parágrafo) ou outro específico.
Algumas operações são exclusivas das Tabelas, como Mesclar Células (para unir células adjacentes em uma
única), Dividir células (para dividir uma ou mais células em várias outras), alinhamento do texto combinando
elementos horizontais tradicionais (esquerda, centro e direita) com verticais (topo, meio e base).
O editor de textos Microsoft Word oferece ferramentas para manipulação dos textos organizados em tabelas.
O usuário poderá organizar as células nas linhas e colunas da tabela, mesclar (juntar), dividir (separar), visua-
lizar as linhas de grade, ocultar as linhas de grade, entre outras opções.
E caso a tabela avance em várias páginas, temos a opção Repetir Linhas de Cabeçalho, atribuindo no início da
tabela da próxima página, a mesma linha de cabeçalho que foi usada na tabela da página anterior.
As tabelas do Word possuem algumas características que são diferentes das tabelas do Excel. Geralmente esses
itens são aqueles questionados em provas de concursos.
Por exemplo, no Word, quando o usuário está digitando em uma célula, ocorrerá mudança automática de
linha, posicionando o cursor embaixo. No Excel, o conteúdo “extrapola” os limites da célula, e precisará alterar as
configurações na planilha ou a largura da coluna manualmente.

Confira, na tabela a seguir, algumas das diferenças do Word para o Excel.

WORD EXCEL
Tabela, Mesclar Todos os conteúdos são mantidos Somente o conteúdo da primeira célula será mantido
Em inglês, com referências direcionais
Tabela, Fórmulas Em português, com referências posicionais =SOMA(A1:A5)
=SUM(ABOVE)
Tabelas, Fórmulas Não recalcula automaticamente Recalcula automaticamente e manualmente (F9)

116 Tachado Texto Não tem atalho de teclado Atalho: Ctrl+5


WORD EXCEL
Quebra de linha
Shift+Enter Alt+Enter
manual
Pincel de Copia apenas a primeira formatação da
Copia várias formatações diferentes
Formatação origem
Ctrl+D Caixa de diálogo Fonte Duplica a informação da célula acima
Ctrl+E Centralizar Preenchimento Relâmpago
Ctrl+G Alinhar à Direita (parágrafo) Ir para...
Ctrl+R Repetir o último comando Duplica a informação da célula à esquerda
F9 Atualizar os campos de uma mala direta Atualizar o resultado das fórmulas
F11 - Inserir gráfico
Finaliza a entrada na célula e mantém o cursor na célula
Ctrl+Enter Quebra de página manual
atual
Alt+Enter Repetir digitação Quebra de linha manual
Finaliza a entrada na célula e posiciona o cursor na cé-
Shift+Enter Quebra de linha manual
lula acima da atual, se houver
Shift+F3 Alternar entre maiúsculas e minúsculas Inserir função

RECURSOS PARA IMPRESSÃO

Disponível no menu Arquivo e pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Alt+I, Visualizar Impressão), a impressão
permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do Painel de Controle.
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Imprimir Seleção,
Imprimir Página Atual, imprimir as Propriedades), quais serão as páginas (números separados com ponto e vírgula/
vírgula indicam páginas individuais, separadas por traço uma sequência de páginas, com a letra s uma seção específi-
ca, e com a letra p uma página específica).
Havendo a possibilidade, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso automático, ou manual. O agru-
pamento das páginas permite que várias cópias sejam impressas uma a uma, enquanto Desagrupado, as páginas são
impressas em blocos.
As configurações de Orientação (Retrato ou Paisagem), Tamanho do Papel e Margens, podem ser escolhidas no
momento da impressão, ou antes, na guia Layout da Página. A última opção em Imprimir possibilita a impressão de
miniaturas de páginas (várias páginas por folha) em uma única folha de papel.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

117
CONTROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS

As quebras são divisões e podem ser do tipo Página ou de Seção.


Além disso, elas podem ser automáticas, como quando formatamos um texto em colunas, todavia, elas tam-
bém podem ser manuais, como Ctrl+Enter para quebra de página, Shift+Enter para quebra de linha, Ctrl+Shift+En-
ter para quebra de coluna, e outras.

Dica
Se envolvem configurações diferentes, temos Quebras.
Cabeçalhos diferentes... quebras inseridas. Colunas diferentes... quebras inseridas. Tamanho de página dife-
rente... quebra inserida.

Numeração de Páginas

Disponível na guia Inserir permite que um número seja apresentado na página, informando a sua numeração
em relação ao documento.
Combinado com o uso das seções, a numeração de página pode ser diferente em formatação a cada seção do
documento, como no caso de um TCC.

118
Conforme observado na imagem acima, o número de página poderá ser inserido no Início da Página (cabeça-
lho), ou no Fim da página (rodapé), ou nas margens da página, e na posição atual do cursor.

LEGENDAS

Uma legenda é uma linha de texto exibida abaixo de um objeto para descrevê-lo. Podem ser usadas em Figuras
(que inclui Ilustrações) ou Tabelas.
Disponível na guia Referências (índices), as legendas podem ser inseridas na configuração padrão ou persona-
lizadas. Depois, podemos criar um índice específico para elas, que será o Índice de Ilustrações.
No final do grupo Legendas, da guia Referências, no Word, encontramos o ícone “Referência Cruzada”. Em
alguns textos, é preciso citar o conteúdo de outro local do documento. Assim, ao criar uma referência cruzada, o
usuário poderá ir para o local desejado pelo autor e a seguir retornar ao ponto em que estava antes.

ÍNDICES

Basicamente, é todo o conjunto disponível na guia Referências.


Os índices podem ser construídos a partir dos Estilos usados na formatação do texto, ou posteriormente por
meio da adição de itens manualmente.

z Sumário: principal índice do documento;


z Notas de Rodapé: inseridas no final de cada página, não formam um índice, mas ajudam na identificação de
citações e expressões;
z Notas de Fim: inseridas no final do documento, semelhante a Notas de Rodapé;
z Citações e Bibliografia: permite a criação de índices com as citações encontradas no texto, além das Referên-
cias Bibliográficas segundo os estilos padronizados;
z Legendas: inseridas após os objetos gráficos (ilustrações e tabelas), podem ser usadas para criação de um
Índice de Ilustrações;
z Índice: para marcação manual das entradas do índice;
z Índice de Autoridades: formato próprio de citação, disponível na guia Referências.

Os índices serão criados a partir dos Estilos utilizados durante o texto, como Título 1, Título 2, e assim por dian-

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


te. Se não forem usados, posteriormente o usuário poderá ‘Adicionar Texto’ no índice principal (Sumário), Marcar
Entrada (para inserir um índice) e até remover depois de inserido.
Os índices suportam Referências Cruzadas, que permitem o usuário navegar entre os links do documento de
forma semelhante ao documento na web. Ao clicar em um link, o usuário vai para o local escolhido. Ao clicar no
local, retorna para o local de origem.

Dica
A guia Referências é uma das opções mais questionadas em concursos públicos por dois motivos: envolvem
conceitos de formatação do documento exclusivos do Microsoft Word e é utilizado pelos estudantes na for-
matação de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

INSERÇÃO DE OBJETOS

Disponíveis na guia Inserir, os objetos que poderiam ser inseridos no documento estão organizados em
categorias:

z Páginas: objetos em forma de página, como a capa (Folha de Rosto), uma Página em Branco ou uma Quebra de
Página (divisão forçada, quebra de página manual, atalho Ctrl+Enter);
z Tabela: conforme comentado anteriormente, organizam os textos em células, linhas e colunas;
z Ilustrações: Imagem (arquivos do computador), ClipArt (imagens simples do Office), Formas (geométricas),
SmartArt (diagramas), Gráfico e Instantâneo (cópia de tela ou parte da janela). 119
Na sequência dos objetos para serem inseridos em um documento, encontramos:

z Links: indicado para acessar a Internet via navegador ou acionar o programa de e-mail ou criação de referên-
cia cruzada;
z Cabeçalho e Rodapé;
z Texto: elementos gráficos como Caixa de Texto, Partes Rápidas (com organizador de elementos do documen-
to), WordArt (que são palavras com efeitos), Letra Capitular (a primeira letra de um parágrafo com destaque),
Linha de Assinatura (que não é uma assinatura digital válida, dependendo de compra via Office Marketplace),
Data e Hora, ou qualquer outro Objeto, desde que instalado no computador;
z Símbolos: inserção de Equações ou Símbolos especiais.

CAMPOS PREDEFINIDOS

Estes campos são objetos disponíveis na guia Inserir que são predefinidos. Após a configuração inicial, são
inseridos no documento.
Além da configuração da Linha de Assinatura, existem outras opções, como Data e Hora, Objeto e dentro do
item Partes Rápidas, no grupo Texto, da guia Inserir, a opção Campo.
Entre as categorias disponíveis, encontramos campos para automação de documento, data e hora, equações e
fórmulas, índices, informação sobre o documento, informações sobre o usuário, mala direta, numeração, vínculos
e referências.

120
CAIXAS DE TEXTO

Possibilita a inserção de caixas de textos pré-formatadas, ou desenhar no documento, aceitando configurações


de direção de texto (semelhante a uma tabela) e também configurações de bordas e sombreamento, semelhante
a uma Forma.
Qualquer forma geométrica composta poderá ser caixa de texto.
Uma nova guia de opções será apresentada após a última, denominada Ferramentas de Caixa de Texto, permi-
tindo Formatar os elementos de Texto e do conteúdo da Caixa de Texto.
Nas opções disponibilizadas, será possível controlar o texto (direção do texto), definir estilos de caixa de texto
(preenchimento da forma, contorno da forma, alterar forma, estilos pré-definidos), efeitos de sombra e efeitos 3D.

Nova Concursos

Atalhos de Teclado – Word 2016 ou Superior

ATALHO AÇÃO

Ctrl+A Abrir: carrega um arquivo da memória permanente para a memória RAM

Salvar: grava o documento com o nome atual, substituindo o anterior. Caso não tenha nome, será
Ctrl+B
mostrado “Salvar como”

Ctrl+C Copiar: o texto selecionado será copiado para a Área de Transferência

Ctrl+D Formatar Fonte

Ctrl+E Centralizar: alinhamento de texto entre as margens

Ctrl+F Limpar formatação do parágrafo.

Ctrl+G Alinhar à direita: alinhamento de texto na margem direita

Ctrl+I Estilo Itálico

Ctrl+J Justificar: alinhamento do texto distribuído uniformemente entre as margens esquerda e direita.

Ctrl+L Localizar: procurar uma ocorrência no documento

Ctrl+M Aumentar recuo

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Ctrl+N Estilo Negrito

Ctrl+O Novo documento

Ctrl+P Impressão rápida (imprimir na impressora padrão)

Ctrl+Q Alinhar à esquerda: alinhamento de texto na margem esquerda

Ctrl+R Refazer

Ctrl+S Estilo Sublinhado simples

Ctrl+Shift+ > Aumentar o tamanho da fonte

Ctrl+Shift+ < Reduzir o tamanho da fonte

Pincel de Formatação: para copiar a formatação de um local e aplicá-la a outro, seja no mesmo
Ctrl+Shift+C
documento ou outro aberto. Para colar a formatação copiada, use Ctrl+Shift+V.

Ctrl e = Formatação de Fonte = Subscrito

Ctrl e Shift e + Formatação de Fonte = Sobrescrito

Ctrl+T Selecionar tudo: seleciona todos os itens

Ctrl+U Substituir: procurar uma ocorrência e trocar por outra


121
ATALHO AÇÃO

Ctrl+V Colar: o conteúdo da Área de Transferência é inserido no local do cursor

Ctrl+X Recortar: o selecionado será movido para a Área de Transferência

Ctrl+Z Desfazer

F1 Ajuda

F5 Ir para (navegador de páginas, seção etc)

F7 Verificar ortografia e gramática: procurar por erros ou excesso de digitação no texto

Shift+F1 Revelar formatação

Shift+F3 Alternar entre maiúsculas e minúsculas

SENHA NO DOCUMENTO

z Vá para Arquivo >Informações > Proteger Documentos > Criptografar com Senha;
z Digite uma senha e digite-a novamente para confirmá-la;
z Salve o arquivo para garantir que a senha entre em vigor.

LIBREOFFICE WRITER

A interface da versão 6 é mais ‘leve’ que a interface da versão 5. O fundo cinza escuro deu lugar a um fundo
cinza claro, com redesenho dos ícones, ficando mais parecido com o Word 2016.
A versão 7 adaptou alguns ícones para o padrão Português Brasil (antes o negrito era B, agora é N).
O LibreOffice Writer é integrado com os demais programas do pacote, permitindo a inserção de fórmulas avan-
çadas de cálculos do LibreOffice Calc em uma tabela do documento de textos, por exemplo.
O LibreOffice Writer grava documentos com a extensão ODT, mas também poderá gravar em outros formatos
como DOCX, RTF, TXT e PDF. Os formatos que são gravados pelo programa, também poderão ser abertos por ele.

Importante!
O que você faz no Word, você faz no Writer. Quase tudo tem correspondente entre os aplicativos. Alguns atalhos
de teclado são diferentes, alguns nomes de comandos são diferentes, mas a maioria dos itens são iguais.

abc
O botão é usado para fazer a verificação ortográfica (atalho F7). Para realizar a auto verificação ortográfi-
ca o atalho é Shift+F7. A auto verificação ortográfica é para correção automática de todos os erros do documento
segundo as configurações pré-determinadas pelo editor de textos Writer.
O recurso de Ortografia e Gramática, acionado pela tecla F7, permite identificar erros de ortografia (uma pala-
vra de cada vez, sublinhado ondulado vermelho) ou gramática (várias palavras, sublinhado ondulado verde). Já
a autocorreção é um recurso diferente, que permite substituir erros comuns, como a ausência de maiúscula no
início de uma frase, corrigir o uso acidental da tecla CapsLock (invertendo a digitação entre maiúscula e minúscu-
la), acentuação na palavra não (quando digitamos naõ), e principalmente a substituição de símbolos por palavras,
definidos pelo usuário, no menu Ferramentas, Opções de Autocorreção.

Estrutura Básica dos Documentos

Os documentos do LibreOffice Writer possuem a seguinte estrutura básica, semelhante aos conceitos do Micro-
soft Word e conceitos:

z Documentos: arquivos ODT (Open Document Text). Os documentos são arquivos editáveis pelo usuário. Os
Modelos, com extensão OTT (Open Template Text), contém formatações que serão aplicadas aos novos documen-
tos criados a partir dele;
z Páginas: unidades de organização do texto, segundo o tamanho do papel e margens. Definições estão no menu
Formatar, item Estilo da Página..., guia Página.

A4

122
z Seção: divisão de formatação do documento, onde cada parte tem a sua configuração. Sempre que forem
usadas configurações diferentes, como margens, colunas, tamanho, etc., as seções serão usadas. Disponível no
menu Inserir, item Seção;
z Parágrafos: formado por palavras e marcas de formatação. Finalizado com Enter, contém formatação indepen-
dente do parágrafo anterior, e do parágrafo seguinte;
z Linhas: sequência de palavras que pode ser um parágrafo, ocupando uma linha de texto. Se for finalizado com
Quebra de Linha, a configuração de formatação atual permanece na próxima linha;
z Palavras: formado por letras, números, símbolos, caracteres de formatação, etc. Podemos definir a formata-
ção do texto no menu Formatar, item Texto (nas versões anteriores era Caractere). E podemos escolher em Tex-
to. A novidade na versão 5 é que o menu Texto já exibe na lista todos os estilos e efeitos disponíveis no editor.

Edição e Formatação de Textos

A edição e formatação de textos consiste em aplicar estilos, efeitos e temas, tanto nas fontes, como nos parágrafos e
nas páginas. O LibreOffice Writer tem todos estes recursos, como o Microsoft Word.
A seguir, conheça alguns exemplos. Cada texto contém a explicação sobre o efeito, ou estilo, ou configuração aplicada.

Edição e Formatação de FONTES.

As fontes são arquivos True Type Font (.TTF) gravadas na pasta Fontes do Windows, e aparecem para todos os
programas do computador.
Nomes de fontes como Liberation Serif (fonte padrão do Writer 7), Arial, Times New Roman, Courier New, Ver-
dana, são os mais comuns.
Ao lado do nome da fonte, um número indica o tamanho da fonte: 8, 9, 10, 11, 12, 14 e assim sucessivamente.
Se quiser, digite o valor específico que deseja.
Maiúsculas e Minúsculas, é chamado de “Circular Caixa”.
Shift+F3 para alternar pelo teclado.
As formatações de fontes e parágrafos podem ser removidas pelo ícone “Limpar Formatação Direta (Ctrl+M), disponível
na barra de formatação de Caracteres.
E na sequência temos os estilos e efeitos de textos.
Assim como no Microsoft Word, os estilos podem ser combinados e os efeitos são concorrentes entre si. Dife-
rem nos atalhos de teclado (em inglês) e o nome de alguns recursos.
Estilos são formatos que modificam a aparência do texto, como negrito (atalho de teclado Ctrl+B - Bold), itálico (atalho
de teclado Ctrl+I), sublinhado (atalho de teclado Ctrl+U - Underline) e sublinhado duplo (atalho de teclado Ctrl+D – Doub-
le, que não possui correspondente no Microsoft Word). Já os efeitos modificam a fonte em si, como texto tachado (riscado
simples sobre as palavras), subscrito (como na fórmula H2O – atalho de teclado Ctrl+Shift+B), e sobrescrito (como em km2 – atalho
de teclado Ctrl+Shift+P)
O LibreOffice Writer faz o mesmo que o Microsoft Word, mas com comandos diferentes e atalhos de teclado de
palavras em inglês.
O LibreOffice Writer tem algumas opções diferenciadas em relação ao Word. No Writer, acesse o menu Formatar,
Texto. Confira na tabela a seguir alguns exemplos comparativos entre o Writer e o Word.

ATALHO WORD ATALHO WRITER RESULTADO

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Negrito Ctrl+N Ctrl+B (Bold) Exemplo de Texto

Itálico Ctrl+I Ctrl+I (Italic) Exemplo de Texto

Sublinhado (simples) Ctrl+S Ctrl+U (Underline) Exemplo de Texto

Sublinhado duplo - - Ctrl+D (Double) Exemplo de Texto

Tachado (simples) - - Exemplo de Texto

Tachado duplo Fonte (Ctrl+D) Formatar, Texto Exemplo de Texto

Sobrelinha - - - Exemplo de Texto

Sobrescrito Ctrl+Shift+mais Ctrl+Shift+P Exemplo de Texto

Subscrito Ctrl+ igual Ctrl+Shift+B Exemplo de Texto


123
ATALHO WORD ATALHO WRITER RESULTADO

Sombra - - Exemplo de Texto

Contorno - - Exemplo de Texto

Aumentar tamanho Ctrl+Shift+ponto Ctrl + ] Exemplo de Texto

Diminuir tamanho Ctrl+Shift+vírgula Ctrl + [ Exemplo de Texto

Maiúsculas EXEMPLO DE TEXTO

Minúsculas exemplo de texto

Alternar (Circular caixa) Shift+F3 Shift+F3 Exemplo de Texto

Versalete - Ctrl+Shift+K - Exemplo de Texto

Limpar formatação - Ctrl+M Exemplo de Texto

Cor da Fonte - - Exemplo de Texto

Realce de Texto - - Exemplo de Texto

Os atalhos de teclado usados no LibreOffice Writer para alinhamentos de parágrafos são: Ctrl+L (Left = Esquer-
da), Ctrl+E (Centralizado), Ctrl+R (Right = Direita) e Ctrl+J (Justificado).

Atalhos de Teclado dos Editores de Textos

Uma dúvida muito comum entre os candidatos que prestam provas de concursos públicos, está relacionada
com os atalhos de teclado. Afinal, qual é a lógica que existe por trás destas combinações de teclas?
Os atalhos de teclado do Microsoft Office são próprios e em português. No LibreOffice, como em aplicações na
Internet (coloquei a opção do Google Documentos), os atalhos são em inglês.
Alguns atalhos não possuem exatamente a mesma inicial do comando, por estar sendo usado em outra situa-
ção. Centralizado, por exemplo, do inglês Center. A letra C já está sendo usada em Ctrl+C (Copiar), e a próxima
letra está disponível. Assim, o atalho de teclado para centralizar um texto é Ctrl+E, tanto no Word como no Writer.

ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS

Ctrl+A Abrir Selecionar tudo (All) Selecionar tudo (All)

Ctrl+B Salvar Negrito (Bold) Negrito (Bold)

Ctrl+D26 Formatar Fonte Sublinhado Duplo (Double) -

Ctrl+E Centralizar Centralizar Ctrl+Shift+E

Ctrl+F - Localizar (Find) Localizar na página

Ctrl+G27 Alinhar texto à direita Ir para (Go To) Ctrl+Shift+R

Ctrl+H Localizar e Substituir

Ctrl+I Itálico Itálico Itálico

Ctrl+J28 Justificado Justificado Ctrl+Shift+J

26 O atalho de teclado Ctrl+D, quando acionado no navegador de Internet, permite adicionar a página atual em Favoritos, que são os sites
preferidos do usuário.
27 O atalho de teclado Ctrl+G, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
28 O atalho de teclado Ctrl+J, quando acionado no navegador de Internet, permite visualizar as transferências de arquivos em andamento e consultar os
124 arquivos que foram baixados (Downloads).
ATALHO MICROSOFT WORD LIBREOFFICE WRITER GOOGLE DOCUMENTOS

Barra de endereços do
Ctrl+K Inserir hiperlink Inserir hiperlink
navegador

Ctrl+L29 Localizar Alinhar texto à esquerda (Left) Ctrl+Shift+L

Ctrl+M Aumentar recuo30 Limpar formatação direta Ctrl+\

Ctrl+N31 Negrito Novo documento (New) -

Ctrl+O Novo documento Abrir documento (Open) Abrir documento (Open)

Ctrl+Q Alinhar texto à esquerda Sair do LibreOffice (Quit) -

Ctrl+R Repetir último comando Alinhar texto à direita (Right) Recarregar a página (Reload)

Ctrl+S Sublinhado Salvar documento (Save) Salvar página web

Ctrl+U Localizar e Substituir Sublinhado (Underline) Sublinhado (Underline)

Ctrl+Y Ir para Repetir último comando Repetir último comando

Ctrl+igual32 Subscrito Ctrl+Shift+B Ctrl+vírgula

Ctrl+Shift+mais Sobrescrito Ctrl+Shift+P Ctrl+ponto final

Ctrl+Shift+V Colar Especial Colar Especial Colar sem formatação

Ctrl+Alt+Shift+V Colar sem formatação

Shift+F333 Maiúsculas e Minúsculas Maiúsculas e Minúsculas -

Importante!
Um dos comandos que mais confunde candidatos na prova é o Navegador, do LibreOffice. Não tem nenhuma relação
com o browser de Internet e é usado para navegar dentro do documento em edição.

No LibreOffice Writer, o atalho F5 aciona o Navegador, que permite a navegação para:

z Página;
z Títulos;
z Tabelas;
z Quadros;
z Objetos OLE;
z Marca-páginas;
z Seções;
z Hiperlinks;
z Referências;

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


z Índices;
z Anotações;
z Objetos de Desenho;
z Controle;
z Fórmula de tabela;
z Fórmula de tabela incorreta;

A seleção no LibreOffice Writer tem uma sutil diferença em relação ao Microsoft Word. É a possibilidade de uso
de 4 cliques na seleção. Confira:

MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+A Selecionar tudo Seleciona o documento

Botão principal - 1 clique na palavra Posiciona o cursor

Botão principal - 2 cliques na palavra Seleciona a palavra

29 O atalho de teclado Ctrl+L, quando acionado no navegador de Internet, permite localizar uma informação na página atual.
30 Recuo é a distância do texto em relação à margem da página. O atalho de teclado Ctrl+M no Microsoft Word, aumenta o recuo esquerdo do parágrafo.
31 O atalho de teclado Ctrl+N, quando acionado no navegador de Internet, abre uma nova janela de navegação.
32  O atalho de teclado Ctrl+igual, quando acionado no navegador de Internet, aumenta o zoom de exibição da página.
33  O atalho F3 no navegador aciona a pesquisa, e Shift+F3 também. 125
MOUSE TECLADO AÇÃO SELEÇÃO

- Ctrl+A Selecionar tudo Seleciona o documento

Botão principal - 3 cliques na palavra Selecionar a frase

Botão principal - 4 cliques na palavra Seleciona o parágrafo

Cabeçalhos

Localizado na margem superior da página, poderá ser configurado em Inserir, Cabeçalho e rodapé.
Assim como no Word, é possível trabalhar com configurações diferentes dentro do mesmo documento. Para
isto, use as seções para dividir a formatação do documento.
Esta região aceitará qualquer elemento que seria usado no documento, como textos, imagens, tabelas, campos,
formas geométricas, hiperlinks, entre outros.

Inserir

Cabeçalho e rodapé Cabeçalho

Diferentemente da interface do Microsoft Word, que é baseada na Faixa de Opções com guias, grupos e ícones,
o LibreOffice tem a interface baseada em menus. Na tabela a seguir, confira algumas dicas para compreender a
sequência de comandos e menus do Writer. As dicas são válidas para o LibreOffice Calc e LibreOffice Impress.

MENU SIGNIFICADO

Permitem acesso às configurações de arquivo sobre o documento atual (novo, abrir, fechar, salvar,
Arquivo
imprimir, propriedades).

Permite acesso à Área de Transferência, além das opções temporárias (localizar, substituir, selecio-
Editar
nar) e área de transferência do Windows/Linux,

Permite a configuração dos objetos que serão exibidos na tela do aplicativo. Modos de visualização,
Exibir
interface do usuário, elementos da tela de edição, Marcas de Formatação, Barra Lateral e Zoom

Permite adicionar um item que não existe no documento atual. Adicionar qualquer objeto no arquivo
Inserir atualmente editado. Se este objeto é atualizável, será um campo. Elementos da página, elementos
gráficos, elementos visuais, referências e índices, elementos de mala direta e cabeçalho e rodapé.

Formatar significa dar um formato a um objeto que já existe. Parágrafo, estilos, marcadores e nume-
Formatar
ração, tabulações, etc. Permite alterar elementos editáveis do documento.

Os estilos são formatações pré-definidas para serem usadas no texto. Posteriormente poderão ser
Estilos
organizadas em um índice.

Disponibilizam ferramentas para o trabalho com tabelas, segundo as convenções próprias do recur-
Tabelas
so. Ao incluir uma tabela no documento, a barra de ícones Tabela será exibida.

Permite a edição e programação de formulários diretamente no documento aberto, para entrada de


Formulários
dados padronizados.

Oferece comandos para o gerenciamento do aplicativo, alterando as configurações em todos os pró-


Ferramentas
ximos arquivos editados pelo aplicativo.

Janela Oferece opções para organizar as janelas dos documentos em edição.


126
Impressão

Disponível no menu Arquivo, e também pelo atalho Ctrl+P (e também pelo Ctrl+Shift+O, Visualizar Impressão),
a impressão permite o envio do arquivo em edição para a impressora. A impressora listada vem do Windows, do
Painel de Controle (ou Configurações, no caso do Windows 10).
Podemos escolher a impressora, definir como será a impressão (Imprimir Todas as Páginas, ou Seleção, Páginas especí-
ficas), quais serão as páginas (números separados com ponto e vírgula/vírgula indicam páginas individuais, separadas por
traço uma sequência de páginas).

Havendo a possibilidade disponível na impressora, serão impressas de um lado da página, ou frente e verso
automático, ou manual. Ao contrário do Word, que exibe tudo em uma única tela do Backstage, o Writer divide
em guias as opções da impressão.

PLANILHAS (MICROSOFT EXCEL 2010 BR OU SUPERIOR E LIBREOFFICE CALC 4.X OU


SUPERIOR)
FUNÇÕES DE FORMATAÇÃO; UTILIZAÇÃO DE FUNÇÕES MATEMÁTICAS, DE BUSCA, E OUTRAS DE USO GERAL;
CRIAÇÃO E MANIPULAÇÃO DE FÓRMULAS; GRÁFICOS MAIS COMUNS; MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS: LEITURA
E GRAVAÇÃO; RECURSOS PARA IMPRESSÃO; IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE DADOS; PROTEÇÃO DE DADOS
E PLANILHAS

MS-EXCEL

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


As planilhas de cálculos são amplamente utilizadas nas empresas para as mais diferentes tarefas. Desde a cria-
ção de uma agenda de compromissos, passando pelo controle de ponto dos funcionários e folha de pagamento, ao
controle de estoque de produtos e base de clientes. Diversas funções internas oferecem os recursos necessários
para a operação.
O Microsoft Excel apresenta grande semelhança de ícones com o Microsoft Word. O Excel “antigo” usava os
formatos XLS e XLT em seus arquivos, atualizado para XLSX e XLTX, além do novo XLSM contendo macros. A
atualização das extensões dos arquivos ocorreu com o Office 2007, e permanece até hoje.
O Microsoft 365 é o pacote de aplicações para escritório que possui a versão online acessada pelo navegador de
Internet e a versão de instalação no dispositivo. O Microsoft 365, ou Office 365 como era nomeado até pouco tempo
atrás, é uma modalidade de aquisição da licença de uso mediante pagamentos recorrentes. O usuário assina o ser-
viço, disponibilizado na nuvem da Microsoft, e enquanto perdurarem os pagamentos, poderá utilizar o software.

Importante!
As planilhas de cálculos não são bancos de dados. Muitos usuários armazenam informações (dados) em
uma planilha de cálculos como se fosse um banco de dados, porém o Microsoft Access é o software do
pacote Microsoft Office desenvolvido para esta tarefa. Um banco de dados tem informações armazenadas
em registros, separados em tabelas, conectados por relacionamentos, para a realização de consultas.
127
Guias – Excel

BOTÃO/GUIA LEMBRETE

Arquivo Comandos para o documento atual: Salvar, salvar como, imprimir, Salvar e enviar

Página Inicial Tarefas iniciais: O início do trabalho, acesso à Área de Transferência (Colar Especial),
formatação de fontes, células, estilos etc

Inserir Tarefas secundárias: Adicionar um objeto que ainda não existe. Tabela, Ilustrações, Instantâ-
neos, Gráficos, Minigráficos, Símbolos etc

Layout da Página Configuração da página: Formatação global da planilha, formatação da página

Fórmulas Funções: Permite acesso a biblioteca de funções, gerenciamento de nomes, auditoria de


fórmulas e controle dos cálculos

Dados Informações na planilha: Possibilitam obter dados externos, classificar e filtrar, além de ou-
tras ferramentas de dados

Revisão Correção do documento: Ele está ficando pronto... Ortografia e gramática, idioma, controle
de alterações, comentários, proteger etc

Exibição Visualização: Podemos ver o resultado de nosso trabalho. Será que ficou bom?

Atalhos de Teclado – Excel

Os atalhos de formatação (Ctrl+N para negrito, Ctrl+I para itálico, entre outros) são os mesmos do Word.

ATALHO AÇÃO ÍCONE

Ctrl+1 Formatar células


CTRL+PgDn Alterna entre guias da planilha, da direita para a esquerda
CTRL+PgUp Alterna entre guias da planilha, da esquerda para a direita
Ctrl+R Repetir o conteúdo da célula que está à esquerda
Ctrl+G Ir Para (o mesmo que F5) tanto no Word como Excel

Ctrl+J Mostrar fórmulas (guia Fórmulas, grupo Auditoria)

F2 Edita o conteúdo da célula atual

F4 Refazer

F9 Calcular planilha manualmente

MS-EXCEL - ESTRUTURA BÁSICA DAS PLANILHAS

128
A planilha em Excel, ou folha de dados, poderá ser impressa em sua totalidade, ou apenas áreas definidas pela Área
de Impressão, ou a seleção de uma área de dados, ou uma seleção de planilhas do arquivo, ou toda a pasta de trabalho.
Ao contrário do Microsoft Word, o Excel trabalha com duas informações em cada célula: dados reais e dados formatados.
Por exemplo, se uma célula mostra o valor 5, poderá ser o número 5 ou uma função/fórmula que calculou e
resultou em 5 (como =10/2)

CONCEITOS DE CÉLULAS, LINHAS, COLUNAS, PASTAS E GRÁFICOS

z Célula: unidade da planilha de cálculos, o encontro entre uma linha e uma coluna. A seleção individual é com
a tecla CTRL e a seleção de áreas é com a tecla SHIFT (assim como no sistema operacional);
z Coluna: células alinhadas verticalmente, nomeadas com uma letra;
z Linha: células alinhadas horizontalmente, numeradas com números;

Barra de Acesso Rápido Coluna


Barra de Fórmulas
Faixa de
Opções

Célula

Linha

z Planilha: o conjunto de células organizado em uma folha de dados. Na versão atual são 65546 colunas (nomea-
das de A até XFD) e 1048576 linhas (numeradas);
z Pasta de Trabalho: arquivo do Excel (extensão XLSX) contendo as planilhas, de 1 a N (de acordo com quanti-
dade de memória RAM disponível, nomeadas como Planilha1, Planilha2, Planilha3);
z Alça de preenchimento: no canto inferior direito da célula, permite que um valor seja copiado na direção
em que for arrastado. No Excel, se houver 1 número, ele é copiado. Se houver 2 números, uma sequência será
criada. Se for um texto, é copiado, mas texto com números é incrementado. Dias da semana, nome de mês e
datas são sempre criadas as continuações (sequências);
z Mesclar: significa simplesmente “Juntar”. Havendo diversos valores para serem mesclados, o Excel manterá
somente o primeiro destes valores, e centralizará horizontalmente na célula resultante;

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

E após a inserção dos dados, caso o usuário deseje, poderá juntar as informações das células.
Existem 4 opções no ícone Mesclar e Centralizar, disponível na guia Página Inicial:

z Mesclar e Centralizar: Une as células selecionadas a uma célula maior e centraliza o conteúdo da nova célula;
Este recurso é usado para criar rótulos (títulos) que ocupam várias colunas;
z Mesclar através: Mesclar cada linha das células selecionadas em uma célula maior;
z Mesclar células: Mesclar (unir) as células selecionadas em uma única célula, sem centralizar;
z Desfazer Mesclagem de Células: desfaz o procedimento realizado para a união de células. 129
ELABORAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICO

A tabela de dados, ou folha de dados, ou planilha de dados, é o conjunto de valores armazenados nas células.
Estes dados poderão ser organizados (classificação), separados (filtro), manipulados (fórmulas e funções), além de
apresentar em forma de gráfico (uma imagem que representa os valores informados).
Para a elaboração, poderemos:

z Digitar o conteúdo diretamente na célula. Basta iniciar a digitação, e o que for digitado é inserido na célula;
z Digitar o conteúdo na barra de fórmulas. Disponível na área superior do aplicativo, a linha de fórmulas é o
conteúdo da célula. Se a célula possui um valor constante, além de mostrar na célula, este aparecerá na barra
de fórmulas. Se a célula possui um cálculo, seja fórmula ou função, esta será mostrada na barra de fórmulas;
z O preenchimento dos dados poderá ser agilizado através da Alça de Preenchimento ou pelas opções automá-
ticas do Excel;
z Os dados inseridos nas células poderão ser formatados, ou seja, continuam com o valor original (na linha de
fórmulas) mas são apresentados com uma formatação específica;
z Todas as formatações estão disponíveis no atalho de teclado Ctrl+1 (Formatar Células);
z Também na caixa de diálogo Formatar Células, encontraremos o item Personalizado, para criação de máscaras
de entrada de valores na célula.

Formatos de Números, Disponível na Guia Página Inicial

123 Geral: Sem formato específico


12 Número: Ex.: 4,00

Moeda: Ex.: R$4,00

Contábil: E.: R$4,00

Data Abreviada: Ex.: 04/01/1900

Data Completa: Ex.: Quarta-feira, 4 de janeiro de 1900

Hora: Ex.: 00:00:00

Porcentagem: Ex.: 400,00 %

1 Fração: Ex.: 4
2
102 Cientifico. Ex.: 4,00E + 00

ab Texto: Ex.: 4

Dica
As informações existentes nas células poderão ser exibidas com formatos diferentes. Uma data, por exem-
plo, na verdade é um número formatado como data. Por isto conseguimos calcular a diferença entre datas.

Os formatos Moeda e Contábil são parecidos entre si, mas possuem exibição diferenciada. No formato de Moe-
da, o alinhamento da célula é respeitado e o símbolo R$ acompanha o valor. No formato Contábil, o alinhamento
é ‘justificado’ e o símbolo de R$ fica posicionado na esquerda, alinhando os valores pela vírgula decimal.

Moeda Contábil
R$4,00 R$4,00

130
O ícone é para mostrar um valor com o formato de porcentagem. Ou seja, o número é multiplicado por 100.
Exibe o valor da célula como percentual (Ctrl+Shift+%)

VALOR FORMATO PORCENTAGEM % PORCENTAGEM E 2 CASAS % ,0 0


ß,0

1 100% 100,00%

0,5 50% 50,00%

2 200% 200,00%

100 10000% 10000,00%

0,004 0% 0,40%

O ícone 000 é o Separador de Milhares. Exibir o valor da célula com um separador de milhar. Este comando
alterará o formato da célula para Contábil sem um símbolo de moeda.

VALOR FORMATO CONTÁBIL SEPARADOR DE MILHARES 000

1500 R$1.500,00 1.500,00

16777418 R$16.777.418,00 16.777.418,00

1 R$1,00 1,00

400 R$400,00 400,00

27568 R$27.568,00 27.568,00

,00
Os ícones ß,0
,00 à,0 são usados para Aumentar casas decimais (Mostrar valores mais precisos exibindo mais
casas decimais) ou Diminuir casas decimais (Mostrar valores menos precisos exibindo menos casas decimais).
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele é mostrado ao aumentar
casas decimais. Se não possuir, então será acrescentado zero.
Quando um número na casa decimal possui valor absoluto diferente de zero, ele poderá ser arredondado para
cima ou para baixo, de ao diminuir as casas decimais. É o mesmo que aconteceria com o uso da função ARRED,
para arredondar.

Simbologia Específica

Cada símbolo tem um significado, e nas tabelas a seguir, além de conhecer o símbolo, conheça o significado e
alguns exemplos de aplicação.

OPERADORES ARITMÉTICOS OU MATEMÁTICOS

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Símbolo Significado Exemplo Comentários

+ (mais) Adição = 18 + 2 Faz a soma de 18 e 2

- (menos) Subtração = 20 – 5 Subtrai 5 do valor 20

* (asterisco) Multiplicação =5*4 Multiplica 5 (multiplicando) por 4 (multiplicador)

/ (barra) Divisão = 25 / 10 Divide 25 por 10, resultando em 2,5

% (percentual) Percentual = 20% Faz 20 por cento, ou seja, 20 dividido por 100

Exponenciação Cálculo Faz 3 elevado a 2, 3 ao quadrado = 9


^(circunflexo) =3^2=8^(1/3)
de raízes Faz 8 elevado a 1/3, ou seja, raiz cúbica de 8

Ordem das Operações Matemáticas

z ( ) – parênteses;
z ^ – exponenciação (potência, um número elevado a outro número);
z * ou / – multiplicação (função MULT) ou divisão;
z + ou - – adição (função SOMA) ou subtração. 131
Importante!
Como resolver as questões de planilhas de cálculos?
Leitura atenta do enunciado (português e interpretação de textos);
Identificar a simbologia básica do Excel (informática);
Respeitar as regras matemáticas básicas (matemática);
Realizar o teste, e fazer o verdadeiro ou falso (raciocínio lógico).

OPERADORES RELACIONAIS, USADOS EM TESTES

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Se o valor de A1 for maior que 5, então mostre 15,


> (maior) Maior que = SE (A1 > 5 ; 15 ; 17 )
senão mostre 17

Se o valor de A1 for menor que 3, então mostre 20,


< (menor) Menor que = SE (A1 < 3 ; 20 ; 40 )
senão mostre 40

Se o valor de A1 for maior ou igual a 7, então


Maior ou
>= (maior ou igual) = SE (A1 >= 7 ; 5 ; 1 ) mostre 5, senão
igual a
mostre 1

Se o valor de A1 for menor ou igual a 5, então


Menor ou
<= (menor ou igual) = SE (A1 <= 5 ; 11 ; 23 ) mostre 11, senão
igual a
mostre 23

Se o valor de A1 for diferente de 1, então mostre


<> (menor e maior) Diferente = SE (A1 <> 1 ; 100 ; 8 )
100, senão mostre 8

Se o valor de A1 for igual a 2, então mostre 10,


= (igual) Igual a = SE (A1 = 2 ; 10 ; 50 )
senão mostre 50

Princípios dos Operadores Relacionais

z Um valor jamais poderá ser menor e maior que outro valor ao mesmo tempo;
z Uma célula vazia é um conjunto vazio, ou seja, não é igual a zero, é vazio;
z O símbolo matemático ≠ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <>
z O símbolo matemático ≥ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use >=
z O símbolo matemático ≤ não poderá ser escrito diretamente na fórmula, use <=

OPERADORES DE REFERÊNCIA

Símbolo Significado Exemplo Comentários

=$A1 Trava a célula na coluna A


$ (cifrão) Travar uma célula =A$1 Trava a célula na linha 1
=$A$1 Trava a célula A1, ela não mudará

Obtém o valor de A3 que está na planilha


! (exclamação) Planilha = Planilha2!A3
Planilha2

Informa o nome de outro arquivo do Excel,


[ ] (colchetes) Pasta de Trabalho =[Pasta2]Planilha1!$A$2
onde deverá buscar o valor

=’C:\FernandoNishimura\ Informa o caminho de outro arquivo do Excel,


‘ (apóstrofe) Caminho [pasta2.xlsx] onde deverá encontrar o arquivo para buscar
Planilha1’!$A$2 o valor

; (ponto e vírgula) Significa E = SOMA (15 ; 4 ; 6 ) Soma 15 e 4 e 6, resultando em 25

Soma de A1 até B4, ou seja, A1, A2, A3, A4,


: (dois pontos) Significa ATÉ = SOMA (A1:B4)
B1, B2, B3, B4

Executa uma operação sobre as células em


Espaço Intersecção ($) =SOMA(F4:H8 H6:K10)
comum nos intervalos

Princípios dos Operadores de Referência

z O símbolo de cifrão transforma uma referência relativa ( A1 ) em uma referência mista ( A$1 ou $A1 ) ou em
132 referência absoluta ( $A$1 );
z O símbolo de exclamação busca o valor em outra planilha, na mesma pasta de trabalho ou em outro arquivo.
Ex.: =[Pasta2]Planilha1!$A$2.

Importante!
O símbolo de cifrão é um dos mais importantes na manipulação de fórmulas de planilhas de cálculos. Todas
as bancas organizadoras questionam fórmulas com e sem eles nas referências das células.

SÍMBOLOS USADOS NAS FÓRMULAS E FUNÇÕES

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Início de fórmu- = 15 + 3 Faz a soma de 15 e 3


= (igual) la, função ou = SOMA ( 15 ; 3 ) Compara o valor de A1 com 5, e caso seja verda-
comparação =SE ( A1 = 5 ; 10 ; 11 ) deiro, mostra 10, caso seja falso, mostra 11

Identifica uma
= HOJE ( ) Retorna a data atual do computador
função ou os valo-
( ) parênteses = SOMA (A1;B1) Faz a soma de A1 e B1
res de uma opera-
= (3+5) / 2 Faz a soma de 3 e 5 antes de dividir por 2
ção prioritária

; (ponto e Separador de A função SE tem 3 partes, e estas estão separa-


=SE ( A1 = 5 ; 10 ; 11 )
vírgula) argumentos das por ponto e vírgula

Executa uma operação sobre as células em co-


Espaço Intersecção =SOMA(F4:H8 H6:K10)
mum nos intervalos

As fórmulas e funções começam com o sinal de igual. Outros símbolos podem ser usados, mas o Excel substi-
tuirá pelo sinal de igual.

SÍMBOLOS PARA TEXTOS

Símbolo Significado Exemplo Comentários

Apresenta o texto Nova


“ (aspas duplas) Texto exato = “Nova”
Se usado em testes, é “igual a”

Exibe os zeros não significativos, 0001 como texto (ex:


‘ (apóstrofe) Número como texto ‘0001
placa de carro)

= “Nova”&” Exibe “Nova Concursos” (sem as aspas), o resultado da


& (“E” comercial) Concatenar
Concursos” junção dos textos individuais

O símbolo & é usado para concatenar dois conteúdos, como por exemplo: =”15”&”A45” resulta em 15A45. Pode-
remos usar a função CONCATENAR, ou a função CONCAT, para obter o mesmo resultado do símbolo &.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


CORRESPONDÊNCIA DE SÍMBOLOS E FUNÇÕES NO EXCEL

Símbolo Função Operação Exemplos

+ (sinal de mais) SOMA Adição =15+7 é o mesmo que =SOMA(15;7)

* (asterisco) MULT Multiplicação =12*3 é o mesmo que =MULT(12;3)

^ (circunflexo) POTÊNCIA Exponenciação =2^3 é o mesmo que =POTÊNCIA(2;3)

RAIZ Raiz quadrada =4^(1/2) é o mesmo que =RAIZ(4)

& (E comercial) CONCATENAR Juntar textos =A1&A2&A3 é igual a


=CONCATENAR(A1;A2;A3)

“ (aspas) TEXTO Converte em texto =”150144” é o mesmo que =TEXTO(150144)

Erros

Quando trabalhamos com planilhas de cálculos, especialmente no início dos estudos, é comum aparecerem men-
sagens de erros nas células, decorrente da falta de argumentos nas fórmulas, referências incorretas, erros de digita-
ção, entre outros. Vamos ver algumas das mensagens de erro mais comuns que ocorrem nas planilhas de cálculos. 133
As planilhas de cálculos oferecem o recurso “Rastrear precedentes”, dentro do conceito de Auditoria de Fór-
mulas. Com este recurso, muito questionado em concursos, o usuário poderá ver setas na planilha indicando a
relação entre as células, e identificar a origem das mensagens de erros.
A seguir, os erros mais comuns que podem ocorrer em uma planilha de cálculos no Microsoft Excel:

z #DIV/0! indica que a fórmula está tentando dividir um valor por 0;


z #NOME? indica que a fórmula possui um texto que o Excel 2007 não reconhece;
z #NULO! a fórmula contém uma interseção de duas áreas que não se interceptam;
z #NUM! a fórmula apresenta um valor numérico inválido;
z #REF! indica que na fórmula existe a referência para uma célula que não existe;
z #VALOR! indica que a fórmula possui um tipo errado de argumento;
z ##### indica que o tamanho da coluna não é suficiente para exibir seu valor.

USO DE FÓRMULAS, FUNÇÕES E MACROS

Funções Básicas

z SOMA(valores): realiza a operação de soma nas células selecionadas.

No Microsoft Excel, a função SOMA efetua a adição dos valores numéricos informados em seus argumentos. Se
existirem células com textos, elas serão ignoradas. Células vazias não são somadas.

=SOMA(A1;A2;A3) Efetua a soma dos valores existentes nas células A1, A2 e A3;
=SOMA(A1:A5) Efetua a soma dos 5 valores existentes nas células A1 até A5;
=SOMA(A1;34;B3) Efetua a soma dos valores da célula A1, com 34 (valor literal) e B3;
=SOMA(A1:B4) Efetua a soma dos 8 valores existentes, de A1 até B4. O Excel não faz ‘triangulação’, operando
apenas áreas quadrangulares;
=SOMA(A1;B1;C1:C3) Efetua a soma dos valores A1 com B1 e C1 até C3;
=SOMA(1;2;3;A1;A1) Efetua a soma de 1 com 2 com 3 e o valor A1 duas vezes.

z SOMASE(valores;condição): realiza a operação de soma nas células selecionadas, se uma condição for atendida.

A sintaxe é =SOMASE(onde;qual o critério para que seja somado):

=SOMASE(A1:A5;”>15”) Efetuará a soma dos valores de A1 até A5 que sejam maiores que 15;

=SOMASE(A1:A10;”10”) Efetuará a soma dos valores de A1 até A10 que forem iguais a 10.

z MÉDIA(valores): realiza a operação de média nas células selecionadas e exibe o valor médio encontrado.

=MEDIA(A1:A5) Efetua a média aritmética simples dos valores existentes entre A1 e A5. Se forem 5 valores,
serão somados e divididos por 5. Se existir uma célula vazia, serão somados e divididos por 4. Células vazias não
entram no cálculo da média.

z MED(valores): informa a mediana de uma série de valores.

Mediana é o ‘valor no meio’. Se temos uma sequência de valores com quantidade ímpar, eles serão ordenados e
o valor no meio é a sua mediana. Por exemplo, para os valores (5,6,9,3,4), ordenados são (3,4,5,6,9) e a mediana é 5.

Se temos uma sequência de valores com quantidade par, a mediana será a média dos valores que estão no
meio. Por exemplo, para os valores (2,13,4,10,8,1), ordenados são (1,2,4,8,10,13), e no meio temos 4 e 8. A média de
4 e 8 é 6 ((4+8)/2).

z MÁXIMO(valores): exibe o maior valor das células selecionadas.

=MAXIMO(A1:D6) Exibe qual é o maior valor na área de A1 até D6. Se houver dois valores iguais, apenas um
será mostrado.

z MAIOR(valores;posição): exibe o maior valor de uma série, segundo o argumento apresentado.

Valores iguais ocupam posições diferentes.

=MAIOR(A1:D6;3) Exibe o 3º maior valor nas células A1 até D6.

z MÍNIMO(valores): exibe o menor valor das células selecionadas.

=MINIMO(A1:D6) Exibe qual é o menor valor na área de A1 até D6.

z MENOR(valores;posição): exibe o menor valor de uma série, segundo o argumento apresentado.

Valores iguais ocupam posições diferentes.

134 =MENOR(A1:D6;3) Exibe o 3º menor valor nas células A1 até D6.


z SE(teste;verdadeiro;falso): avalia um teste e retorna um valor caso o teste seja verdadeiro ou outro caso seja falso.

Esta função é muito solicitada em todas as bancas. A sua estrutura não muda, sendo sempre o teste na primeira
parte, o que fazer caso seja verdadeiro na segunda parte, e o que fazer caso seja falso na última parte. Verdadeiro
ou falso. Uma ou outra. Jamais serão realizadas as duas operações, somente uma delas, segundo o resultado do teste.
A função SE usa operadores relacionais (maior, menor, maior ou igual, menor ou igual, igual, diferente) para
construção do teste. As aspas são usadas para textos literais.

„ =SE(A1=10;”O valor da célula A1 é 10”;”O valor da célula A1 não é 10”)


„ =SE(A1<0;”O valor da célula A1 é negativo”;”O valor não é negativo”)
„ =SE(A1>0;”O valor da célula A1 é positivo”;”O valor não é positivo”)

É possível encadear funções, ampliando as áreas de atuação. Por exemplo, um número pode ser negativo,
positivo ou igual a zero. São 3 resultados possíveis.

„ =SE(A1=0;”Valor é igual a zero”;SE(A1<0;”Valor é negativo”;”Valor é positivo”))

Neste exemplo, se for igual a zero (primeiro teste), exibe a mensagem e finaliza a função, mas se não for igual
a zero, poderá ser menor do que zero (segundo teste), e exibe a mensagem “Valor é negativo”, encerrando a fun-
ção. Por fim, se não é igual a zero, e não é menor que zero, só poderia ser maior do que zero, e a mensagem final
“Valor é positivo” será mostrada.
Obs.: o sinal de igual, para iniciar uma função, é usado somente no início da digitação da célula.
As funções CONT são usadas para informar a quantidade de células, que atendem às condições especificadas.

z CONT.NÚM: para contar quantas células possuem números;


z CONT.VALORES: quantidade de células que estão preenchidas;
z CONTAR.VAZIO: quantidade de células que não estão preenchidas;
z CONT.SE: quantidade de células que atendem à uma condição específica;
z CONT.SES: quantidade de células que atendem a várias condições simultaneamente.

„ CONT.VALORES(células): esta função conta todas as células em um intervalo, exceto as células vazias.

=CONT.VALORES(A1:A10) Informa o resultado da contagem, informando quantas células estão preenchidas


com valores, quaisquer valores.

„ CONT.NÚM (células): conta todas as células em um intervalo, exceto células vazias e células com texto.

=CONT.NÚM(A1:A8) Informa quantas células no intervalo A1 até A8 possuem valores numéricos.

„ CONT.SE(células;condição): Esta função conta quantas vezes aparece um determinado valor (número ou
texto) em um intervalo de células (o usuário tem que indicar qual é o critério a ser contado)

=CONT.SE(A1:A10;”5”) Efetua a contagem de quantas células existem no intervalo de A1 até A10 contendo o
valor 5.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


„ CONT.SES(células1;condição1;células2;condição2): Esta função conta quantas vezes aparece um deter-
minado valor (número ou texto) em um intervalo de células (o usuário tem que indicar qual é o critério a
ser contado), atendendo a todas as condições especificadas.

=CONT.SES(A1:A10;”5”;B1:B10;”7”) Efetua a contagem de quantas células existem no intervalo de A1 até A10


contendo o valor 5 e ao mesmo tempo, quantas células existem no intervalo de B1 até B10 contendo o valor 7.

„ CONTAR.VAZIO (células): conta as células vazias de um intervalo.

=CONTAR.VAZIO(A1:A8) Informa quantas células vazias existem no intervalo A1 até A8.

„ SOMASE(células para testar;teste;células para somar)

Efetua um teste nas células especificadas, e soma as correspondentes nas células para somar.
Os intervalos de teste e de soma podem ser os mesmos.

=SOMASE(A1:A10;”>6”;A1:A10) somará os valores de A1 até A10 que sejam maiores que 6.


=SOMASE(A1:A10;”<3”;B1:B10) somará os valores de B1 até B10 quando os valores de A1 até A10 forem menores que 3.

„ SOMASES (células para somar; células1; teste1;células2;teste2)

Verifica as células que atendem aos testes e soma as células correspondentes. 135
Os intervalos de teste e de soma podem ser os mesmos.

„ MÉDIASE(células para testar; teste; células para calcular a média)

Efetua um teste nas células especificadas, e calcula a média das células correspondentes.
Os intervalos de teste e de média podem ser os mesmos.

„ PROCV(valor_procurado; matriz_tabela; núm_índice_coluna; [intervalo_pesquisa])

A função PROCV é utilizada para localizar o valor_procurado dentro da matriz_tabela, e quando encontrar,
retornar a enésima coluna informada em núm_índice_coluna. A última opção, que será VERDADEIRO ou FALSO, é
usada para identificar se precisa ser o valor exato (F) ou pode ser valor aproximado (V).

Por exemplo: =PROCV(105;A2:C7;2;VERDADEIRO) e =PROCV(“Monte”;B2:E7;2;FALSO)

A função PROCV é um membro das funções de pesquisa e Referência, que incluem a função PROCH.

Use a função TIRAR ou a função ARRUMAR para remover os espaços à esquerda nos valores da tabela.

„ ESQUERDA(texto;quantidade)

Extrai de uma sequência de texto, uma quantidade de caracteres especificados, a partir do início (esquerda).

=ESQUERDA(“Nova Concursos”;8) exibe “Nova”

„ DIREITA(texto;quantidade)

Extrai de uma sequência de texto, uma quantidade de caracteres especificados, a partir do final.

=DIREITA(“Nova Concursos”;7) exibe “Concursos”.

„ CONCATENAR(texto1;texto2; ... )

Junta os textos especificados em uma nova sequência.

Esta função foi mantida por compatibilidade com as versões anteriores. Ela concatena apenas células individuais.

=CONCATENAR(“Apostila “;”Nova “;”Concursos”) exibe “Apostila Nova Concursos”.

„ CONCAT(intervalo)

Junta os textos especificados em um intervalo de células para uma nova sequência.

=CONCAT(A1:A5) junta o conteúdo das células A1 até A5 em uma nova célula. Esta função não funciona nas
versões antigas do Office.

„ NÚM.CARACT(célula)

Informa a quantidade de caracteres existentes em uma célula.


Datas contém 5 caracteres, pois o Microsoft Excel armazena datas como números.

=NÚM.CARACT(“Nova Concursos”) resultado 14

=NÚM.CARACT(HOJE()) resultado 5 (a função HOJE retorna a data de hoje registrada no computador)

=NÚM.CARACT(AGORA()) resultado 15 (a função AGORA retorna a data de hoje registrada no computador e a


hora atual, como 01/08/2021 09:51)

„ INT(valor)

Extrai a parte inteira de um número.

=INT(PI()) parte inteira do valor de PI – valor 3,14159 exibe 3.

„ TRUNCAR(valor;casas decimais)

Exibe um número com a quantidade de casas decimais, sem arredondar.

=TRUNCAR(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas decimais – valor 3,14159 exibe 3,141.

„ ARRED(valor;casas decimais)

Exibe um número com a quantidade de casas decimais, arredondando para cima ou para baixo.

136 =ARRED(PI();3) exibir o valor de PI com 3 casas decimais – valor 3,14159 exibe 3,142.
„ HOJE() Exibe a data atual do computador;
„ AGORA() Exibe a data e hora atuais do computador;
„ DIA(data)Extrai o número do dia de uma data;
„ MÊS(data) Extrai o número do mês de uma data;
„ ANO(data) Extrai o número do ano de uma data;
„ DIAS(data1;data2) Informa a diferença em dias entre duas datas;
„ DIAS360(data1;data2) Informa a diferença em dias entre duas datas (ano contábil, de 360 dias);
„ POTÊNCIA(base;expoente).

Eleva um número (base) ao expoente informado.

=POTÊNCIA(2;4) 2 elevado à 4, 24, 2x2x2x2 = 16

„ MULT(número;número;número; ... ) Multiplica os números informados nos argumentos.

FUNÇÕES LÓGICAS

E (Função E) Retorna VERDADEIRO se todos os seus argumentos forem VERDADEIROS

OU (Função OU) Retorna VERDADEIRO se um dos argumentos for VERDADEIRO

NÃO (Função NÃO) Inverte o valor lógico do argumento

FALSO (Função FALSO) Retorna o valor lógico FALSO

VERDADEIRO (Função VERDADEIRO) Retorna o valor lógico VERDADEIRO

Retornará um valor que você especifica se uma fórmula for avaliada para
SEERRO (Função SEERRO)
um erro; do contrário, retornará o resultado da fórmula

Importante!
Foram apresentadas muitas funções neste material, não é verdade? Existem milhares de funções no Micro-
soft Excel e LibreOffice Calc. Em concursos públicos, estas são as mais questionadas.

IMPRESSÃO

A impressão no Excel é semelhante ao Word. Difere ao oferecer o item Área de Impressão, que permite ao
usuário escolher uma área de uma planilha para ser impressa.
Outro item que o Excel oferece que é exclusiva, a possibilidade de imprimir os títulos das colunas e linhas,
fazendo com que a impressão seja muito parecida com a tela que está sendo visualizada.
Ambos estão na guia Layout da Página.
E na caixa de diálogo de impressão (Ctrl+P) temos o ajuste da impressão (zoom), permitindo ajustar para caber em
uma página, ajustar apenas as linhas, apenas as colunas, e mudar as quebras de páginas arrastando a divisão na tela.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

137
INSERÇÃO DE OBJETOS

A inserção de objetos contém os mesmos itens do Microsoft Word, mas o destaque são os Gráficos.

A tabela e o gráfico dinâmico possibilitam resumir os dados rapidamente, a partir de critérios padronizados no Excel.

Os gráficos são representações visuais de dados da planilha. De acordo com a opção escolhida, teremos uma
forma de apresentação. Alguns gráficos são indicados para situações específicas. Outros gráficos são generalistas.

Gráficos

Além da produção de planilhas de cálculos, o Microsoft Excel (e o LibreOffice Calc) produz gráficos com os
dados existentes nas células.
Gráficos são a representação visual de dados numéricos, e poderão ser inseridos na planilha como gráficos
‘comuns’ ou gráficos dinâmicos.
Os gráficos dinâmicos, assim como as tabelas dinâmicas, são construídos com dados existentes em uma ou
várias pastas de trabalho, associando e agrupando informações para a produção de relatórios completos.

z Os gráficos de Colunas representam valores em colunas 2D ou 3D. São opções do gráfico de Colunas: Agrupada,
Empilhada, 100% Empilhada, 3D Agrupada, 3D Empilhada, 3D 100% Empilhada, e 3D.

138
z Os gráficos de Linhas representam valores com linhas, pontos ou ambos. São opções do gráfico de Linhas:
Linha, Linha Empilhada, 100% Empilhada, com Marcadores, Empilhada com Marcadores, 100% Empilhada
com Marcadores, e 3D.

z Os gráficos de Pizza representam valores proporcionalmente. São opções do gráfico de Pizza: Pizza, Pizza 3D,
Pizza de Pizza, Barra de Pizza, e Rosca.

z Os gráficos de Barras representam dados de forma semelhante ao gráfico de Colunas, mas na horizontal. São
opções dos gráficos de Barras: Agrupadas, Empilhadas, 100% Empilhadas, 3D Agrupadas, 3D Empilhadas, e 3D
100% Empilhadas.

z Os gráficos de Área representam dados de forma semelhante ao gráfico de Linhas, mas com preenchimento
até a base (eixo X). São opções dos gráficos de Área: Área, Área Empilhada, Área 100% Empilhada, Área 3D,
Área 3D Empilhada, e Área 3D 100% Empilhada.

z Os gráficos de Dispersão representam duas séries de valores em seus eixos. São opções dos gráficos de Disper-
são: Dispersão, com Linhas Suaves e Marcadores, com Linhas Suaves, com Linhas Retas e Marcadores, com
Linhas Retas, Bolhas e Bolhas 3D.

z O gráfico do tipo Mapa, exibe a informação de acordo com cada região. Sua única opção é o Mapa Coroplético. CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

z Os gráficos de Ações necessitam que os dados estejam organizados em preço na alta, preço na baixa e
preço no fechamento. Datas ou nomes das ações serão usados como rótulos. São exemplos de gráficos
de Ações: Alta-Baixa-Fechamento, Abertura-Alta-Baixa-Fechamento, Volume-Alta-Baixa-Fechamento, e
Volume-Abertura-Alta-Baixa-Fechamento.

139
z Os gráficos de Superfície parecem com os gráficos de Linhas, e preenchem a superfície com cores. São exem-
plos de gráficos de Superfície: 3D, 3D Delineada, Contorno e Contorno Delineado.

z Os gráficos de Radar são usados para mostrar a evolução de itens. São exemplos de gráficos de Radar: Radar,
Radar com Marcadores, e Radar Preenchido.

z O gráfico do tipo Mapa de Árvore é usado para mostrar proporcionalmente a hierarquia dos valores.

z O gráfico do tipo Explosão Solar se assemelha ao gráfico de Rosca, mas o maior valor será o primeiro da série
de dados.

z Os gráficos do tipo Histograma são usados para séries de valores com evolução, como idades da população. São
exemplos de gráficos do tipo Histograma: Histograma e Pareto.

z O gráfico do tipo Caixa Estreita é usado para projeção de valores.

z O gráfico do tipo Cascata, exibe e destaca as variações dos valores ao longo do tempo.

z O gráfico do tipo Funil alinha os valores em ordem decrescente.

140
z Os gráficos do tipo Combinação permitem combinar dois tipos de gráficos para a exibição de séries de dados. São
exemplos de gráficos do tipo Combinação: Coluna Clusterizada-Linha, Coluna Clusterizada-Linha no Eixo Secun-
dário, Área Empilhada-Coluna Clusterizada, e a possibilidade de criação de uma Combinação Personalizada.

CAMPOS PREDEFINIDOS

Semelhante ao Word, o Excel poderá operar com os mesmos campos. Campos são variáveis inseridas na plani-
lha de dados, que serão atualizadas segundo a necessidade.
Data e Hora, Linha de Assinatura, Cabeçalho e Rodapé, entre muitos.
Uma das principais diferenças entre o editor de textos e o editor de planilhas, é o Cabeçalho e Rodapé. Enquan-
to no editor de textos eles são únicos, no Excel estão dividido em 3 partes.

CONTROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS

O Excel é mais simples em relação ao Word, quando o assunto são as Quebras.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

E para habilitar esta visualização, basta ativar o item na guia Exibição.

141
A numeração de páginas está associada ao Cabeçalho e Rodapé.

OBTENÇÃO DE DADOS EXTERNOS

O Excel poderá trabalhar com as informações inseridas pelo usuário na planilha, e com dados provenientes
de outros locais. Disponível na guia Dados, o grupo ‘Obter Dados Externos’, apesar de figurar no edital de alguns
concursos, nunca foi questionado em provas de Noções de Informática, tanto nível médio como nível superior.

De Arquivo

Da Pasta de Trabalho De JSON

De Text/CSV Da Pasta

Do XML Da Pasta SharePoint

De banco de dados

Do Banco de Dados SQL Server Do Banco de Dados MySQL

Do Banco de Dados do Microsoft Access Do Banco de Dados PostgreSQL

Do Analysis Services Do Banco de Dados Sybase

Do Banco de Dados do SQL Server Do Banco de Dados Teradata


Analysis Services(Importar)

De um Banco de Dados SAP HANA


Do Banco de Dados do Oracle

Do Banco de Dados IBM DB2


142
Do Azure

Do Banco de Dados SQL do Azure Do Armazenamento de Blob do Azure

Do SQL Data Warehouse do Azure Do Armazenamento de Tabela do Azure

Do Azure HD Insight (HDFS) Do Azure Data Lake Store

De serviços online

Da Lista Online do SharePoint Do Facebook

Do Microsoft Exchange Online De Objetos do Salesforce

De Relatórios do Salesforce
Do Dynamics 365 (online)

De outras fontes

Da Tabela/Intervalo Do Active Directory

Do Web Do Microsoft Exchange

Do ODBC

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Do Microsoft Query

De OLEDB
Da Lista do SharePoint

Do Feed OData Consulta Em Branco

Do Arquivo do Hadoop(HDFS)

CLASSIFICAÇÃO DE DADOS

A classificação de dados é uma parte importante da análise de dados.


Você pode classificar dados por texto (A a Z ou Z a A), números (dos menores para os maiores ou dos maiores
para os menores) e datas e horas (da mais antiga para a mais nova e da mais nova para a mais antiga) em uma ou
mais colunas. Você também poderá classificar por uma lista de clientes (como Grande, Médio e Pequeno) ou por
formato, incluindo a cor da célula, a cor da fonte ou o conjunto de ícones. A maioria das operações de classificação
é identificada por coluna, mas você também poderá identificar por linhas. 143
Disponível na guia Dados, e na guia Página Inicial, a classificação poderá ser de texto, números, datas ou horas,
por cor da célula, cor da fonte ou ícones, por uma lista personalizada, linhas, por mais de uma coluna ou linha, ou
por uma coluna sem afetar as demais.

CLASSIFICAÇÃO COMENTÁRIOS

A classificação de dados alfanuméricos poderá se ‘Classificar de A a Z’ em


Classificar texto ordem crescente, ou ‘Classificar de Z a A’ em ordem decrescente. É possível
diferenciar letras maiúsculas e minúsculas.

Quando a coluna possui números, podemos ‘Classificar do menor para o maior’


Classificar números
ou ‘Classificar do maior para o menor’

Se houver datas ou horas, podemos ‘Classificar da mais antiga para a mais nova’
Classificar datas ou horas
ou ‘Classificar da mais nova para a mais antiga’, resumindo, cronologicamente

Se você tiver formatado manual ou condicionalmente um intervalo de células ou


Classificar por cor de célula, cor de uma coluna de tabela, por cor de célula ou cor de fonte, poderá classificar por es-
fonte ou ícones sas cores. Também será possível classificar por um conjunto de ícones criados
ao aplicar uma formatação condicional

Você pode usar uma lista personalizada para classificar em uma ordem definida
Classificar por uma lista
pelo usuário. Por exemplo, uma coluna pode conter valores pelos quais você
personalizada
deseja classificar, como Alta, Média e Baixa

Na caixa de diálogo Opções de Classificação, em Orientação, clique em Classifi-


Classificar linhas
car da esquerda para a direita e, em seguida, clique em OK

Classificar por mais de uma


Na caixa de diálogo Classificar, adicione mais de um critério para ordenação
coluna ou linha

Classificar uma coluna em um inter- Basta selecionar a coluna desejada, e na janela de diálogo, manter o item “Con-
valo de células sem afetar as demais tinuar com a seleção atual”

PROTEÇÃO DE DADOS E PLANILHAS

A proteção da planilha é um processo de duas etapas: a primeira etapa é desbloquear células que outras pes-
soas possam editar,e a segunda é proteger a planilha com ou sem uma senha.

z Etapa 1: Desbloquear células que precisam ser editáveis

No arquivo do Excel, escolha a guia de planilhas que você deseja proteger.


Escolha as células que outras pessoas poderão editar.Você pode selecionar várias células não contíguas pres-
144 sionando o botão esquerdo do mouse mantendo pressionada a tecla Ctrl.
Clique com o botão direito do mouse em qualquer lugar na planilha e escolha Formatar Células (ou use Ctrl+1
ou Command+ 1 no Mac) e, em seguida, vá para a guia Proteção e desmarque Bloqueado.

z Etapa 2: Proteger a planilha

Em seguida, selecione as ações que os usuários devem ter permissão para fazer na planilha, como inserir ou
excluir colunas ou linhas, editar objetos, classificar ou usar AutoFilter, para nomear alguns. Além disso, você tam-
bém pode especificar uma senha para bloquear sua planilha. Uma senha impede que outras pessoas removam a
proteção da planilha — ela precisa ser inserida para desproteger a planilha.
Veja abaixo as etapas para proteger sua planilha.
Na guia Revisão, clique em Proteger Planilha.
Na lista Permitir que todos os usuários desta planilha possam, escolha os elementos que você deseja que os
usuários possam alterar.
Se desejar, digite uma senha na caixa Senha para desproteger a planilha e clique em OK. Digite novamente a
senha na caixa de diálogo Confirmar Senha e clique em OK.

LIBREOFFICE CALC

Impressão

O Apache OpenOffice Calc e o LibreOffice Calc possuem a opção Formatar/Intervalos de Impressão, que é exclu-
siva do aplicativo editor de planilhas de cálculos. Com essa opção, o usuário poderá definir um trecho de células
adjacentes de um intervalo para que sejam impressas, ignorando as demais.
O intervalo definido poderá ter novas células adicionadas, poderá ser removido (voltando a imprimir toda a
planilha) ou editado.

Figura: Apache OpenOffice Calc, menu Formatar, opção “Intervalos de impressão”

Importante!

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


O item Impressão, em planilhas de cálculos, não está relacionado apenas ao atalho de teclado Ctrl+P, que per-
mite o envio da planilha para a impressora. Nas planilhas de cálculos, o item Impressão define os elementos
e intervalos que serão impressos, como o conteúdo do Cabeçalho e Rodapé.

Ao editar o intervalo de impressão, é possível escolher as linhas que serão repetidas em todas as páginas
impressas e as colunas que serão repetidas na impressão. Essas opções são especialmente úteis em planilhas com
muito conteúdo, por permitirem a identificação das informações impressas nas diversas páginas. Na planilha em
edição, isso não mudará a visualização, somente na impressão.

Figura: Caixa de diálogo “Editar intervalos de impressão”, para escolha dos elementos que serão impressos (células, linhas de título, colunas de título) 145
Inserção de Objetos

Assim como no Microsoft Excel, os intervalos e as células poderão ser nomeados. Portanto, ao invés de usar
o endereço ou referência da célula, será possível usar um nome. Essa opção não é muito comum em concursos
públicos, sendo mais utilizada no dia a dia de um colaborador em uma empresa ou repartição.
Outro elemento que é diferente do editor de textos é a opção Tabela Dinâmica. Uma tabela dinâmica é uma
tabela construída com elementos dinâmicos, como linhas, colunas e células, que poderão ser adicionados para a
elaboração de um novo cenário.

Figura: Caixa de diálogo para escolha da origem dos dados da Tabela Dinâmica

Para a criação de uma tabela dinâmica, o usuário poderá usar uma seleção da planilha atual, um interva-
lo nomeado (pela opção do menu Inserir, Intervalo nomeado) ou uma fonte de dados externa registrada no
LibreOffice/OpenOffice.
Com a atualização das informações nos locais de origem, a tabela dinâmica será atualizada “em tempo real”.
As demais opções do menu Inserir, para a adição de objetos no documento (planilha) em edição, são seme-
lhantes ao Writer.

Figura: Com “Intervalo nomeado ou expressão”, nomes são associados ao conteúdo

Campos pré-definidos

No Writer, editor de textos do pacote de aplicativos, as opções de campos incluem elementos do documento como
informações exclusivas da edição. Nas planilhas de cálculos, os campos são restritos a Título, Nome da planilha e Data.
Como o Calc não considera algumas informações como campos, elas poderão ser adicionadas na planilha em
edição por atalhos de teclado ou comandos do menu Inserir. A hora do computador é um exemplo. Ela poderá ser
adicionada com o atalho de teclado Ctrl + Shift + vírgula e se torna um campo atualizável.

146 Figura: Menu Inserir, opção “Campo”


Controle de Quebras e Numeração de Páginas

Com menos opções, o controle de quebras no Calc envolve apenas a “Quebra manual de linha” para inserir
várias linhas de textos em uma célula e a “Quebra manual de coluna”.
A numeração de páginas é muito diferente do Writer. Enquanto no editor de textos temos várias opções para
controle da numeração de páginas, inserindo no local desejado, no Calc (planilha de cálculos), ela é um elemento
dentro da Formatação de Página.
Após acessar o menu Formatar, opção Página, o usuário deve escolher a guia na qual deseja inserir o conteúdo
(Cabeçalho ou Rodapé), clicar no botão Editar e escolher o local para inserção do número da página.
O usuário poderá escolher a exibição do texto “Página x” ou “Página X de Y” com o total de páginas existentes,
ou ainda combinar a numeração de páginas com outro identificador (como o nome da planilha).

Figura: Caixa de diálogo Rodapé, para inserir número de página na planilha impressa

Obtenção de Dados Externos

Disponível no menu Exibir, Fonte de Dados (atalho de teclado F4, no OpenOffice) e no menu Exibir, Fontes de
Dados (atalho de teclado Ctrl + Shift + F4, no LibreOffice), permite a escolha de um banco de dados externo para
fornecer informações para a planilha em edição.

Importante!
Quando o edital do concurso solicita Banco de Dados, Computação na Nuvem ou BigData (Transformação
Digital), o item “Obter dados externos” é questionado com exemplos práticos. Em outros editais, serão ape-
nas conceitos nas questões da prova.

Uma área de trabalho será exibida na parte superior da planilha, permitindo a escolha de banco de dados,
campos, tabelas e consultas que serão reutilizados na planilha atual. Antes da inserção dos registros, o usuário
poderá trabalhar com os dados, ordenando, filtrando, incluindo ou excluindo informações.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA

Figura: Painel de dados exibido abaixo da barra de ferramentas e antes da planilha

147
Observe a tabela a seguir, que mostra recursos semelhantes com nome ou localização diferenciados:

LIBREOFFICE CALC APACHE OPENOFFICE CALC MICROSOFT EXCEL


Totalização Dados, Subtotais Dados, Subtotais Página Inicial, Subtotal
Página Inicial, Formatação
Formatação Condicional Formatar, Condicional Formatar, Formatação Condicional
Condicional
Filtro de valores Dados, Mais filtros Dados, Filtro Dados, Filtro
Agrupar valores Dados, Esquema, Agrupar Dados, Esquema, Agrupar Dados, Agrupar
Classificação Dados, Ordenar Dados, Classificar Dados, Classificar

Classificação de Dados

Conforme observado na tabela comparativa, enquanto o LibreOffice chama de Ordenar, o OpenOffice chama de
Classificar. Entretanto, é a mesma opção, com os mesmos comandos.
Ao classificar, é possível escolher três chaves de ordenação. A chave de ordenação é a coluna, que poderá ser
ordenada de forma crescente (ou ascendente) e decrescente (ou descendente).
Nas opções, é possível diferenciar maiúsculas de minúsculas.
Na opção “O intervalo contém rótulos de coluna”, a primeira linha não entrará na ordenação, por ser conside-
rado o título de cada coluna.
A Direção define se ela será vertical (de cima para baixo por linhas) ou horizontal (da esquerda para a direita
por colunas).

Figura: Caixa de diálogo Ordenar, no Calc, para classificação dos dados

Um pouco diferente do Microsoft Excel, a classificação de dados no Calc ordenará primeiro os valores lógicos
(Falso, Verdadeiro), depois os valores numéricos, as datas e, por último, os textos existentes nas células.

INTERNET: CONCEITOS GERAIS E FUNCIONAMENTO


A Internet é a rede mundial de computadores que surgiu nos Estados Unidos com propósitos militares, para
proteger os sistemas de comunicação em caso de ataque nuclear durante a Guerra Fria.
148
Na corrida atrás de tecnologias e inovações, Estados Unidos e União Soviética lançavam projetos que procura-
vam proteger as informações secretas de ambos os países e seus blocos de influência.
ARPANET, criada pela ARPA, sigla para Advanced Research Projects Agency, era um modelo de troca e com-
partilhamento de informações que permitia a descentralização das mesmas, sem um “nó central”, garantindo a
continuidade da rede mesmo que um nó fosse desligado.
A troca de mensagens começou antes da própria Internet. Logo, o e-mail surgiu primeiro, e depois veio a Inter-
net como a conhecemos e a usamos.
Ela passou a ser usada também pelo meio educacional (universidades) para fomentar a pesquisa acadêmica.
No início dos anos 90, ela se tornou aberta e comercial, permitindo o acesso de todos.

Usuário Modem
Internet
Provedor de Acesso
Para acessar a Internet, o usuário utiliza um modem que se conecta a um provedor de acesso através de uma linha telefônica

ENDEREÇAMENTO DE RECURSOS

A navegação na Internet é possível através da combinação de protocolos, linguagens e serviços, operando nas
camadas do modelo OSI (7 camadas) ou TCP (5 camadas ou 4 camadas).
A Internet conecta diversos países e grandes centros urbanos através de estruturas físicas chamadas de
backbones. São conexões de alta velocidade que permitem a troca de dados entre as redes conectadas. O usuário
não consegue se conectar diretamente no backbone. Ele deve acessar um provedor de acesso ou uma operadora
de telefonia através de um modem e a empresa se conecta na “espinha dorsal”.
Após a conexão na rede mundial, o usuário deve utilizar programas específicos para realizar a navegação e o
acesso ao conteúdo oferecido pelos servidores.

CONCEITO USO COMENTÁRIOS

Conhecido como nuvem e também como World Wide Web, ou WWW, a In-
Internet Conexão entre computadores ternet é um ambiente inseguro, que utiliza o protocolo TCP para conexão
em conjunto a outros para aplicações específicas.

Ambiente seguro que exige identificação, podendo estar restrito a um


Intranet Conexão com autenticação local, que poderá acessar a Internet ou não. A Intranet utiliza o mesmo
protocolo da Internet, o TCP, podendo usar o UDP também.

Conexão remota segura, protegida com criptografia, entre dois dispo-


Conexão entre dispositivos ou
Extranet sitivos, ou duas redes. O acesso remoto é geralmente suportado por
redes
uma VPN.

Os editais costumam explicitar Internet e Intranet, mas também questionam Extranet. A conexão remota segu-
ra que conecta Intranet’s através de um ambiente inseguro que é a Internet é naturalmente um resultado das
redes de computadores.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Internet, Intranet e Extranet
Redes de
computadores

Internet Intranet Extranet

Rede mundial de Rede local de Acesso remoto


computadores acesso restrito seguro

Utiliza os mesmos
Protocolos TCP/IP protocolos da Protocolos seguros
Internet
Padrão de Criptografia em
Família TCP/IP
comunicação VPN

A Internet é transparente para o usuário. Qualquer usuário poderá acessá-la sem ter conhecimento técnico dos
equipamentos que existem para possibilitar a conexão.
Na Internet, as informações (dados) são armazenadas em arquivos nos servidores de Internet. Os servidores
são computadores, que utilizam pastas ou diretórios para o armazenamento de arquivos. Ao acessarmos uma
informação na Internet, estamos acessando um arquivo. Aqui, cabe-nos alguns questionamentos: como é a identi-
ficação desse arquivo? Como acessamos essas informações? Isso ocorre através de um endereço URL. O endereço 149
URL (Uniform Resource Locator) que define o endereço de um recurso na rede. Na sua tradução literal, é Localiza-
dor Uniforme de Recursos, e possui a seguinte sintaxe:

protocolo://máquina/caminho/recurso

“Protocolo” é a especificação do padrão de comunicação que será usado na transferência de dados. Poderá
ser http (Hyper Text Transfer Protocol – protocolo de transferência de hipertexto), ou https (Hyper Text Transfer
Protocol Secure – protocolo seguro de transferência de hipertexto), ou ftp (File Transfer Protocolo – protocolo de
transferência de arquivos), entre outros.
“://” faz parte do endereço URL, para identificar que é um endereço na rede, e não um endereço local como “/”
no Linux ou ‘:\’ no Windows.
“Máquina” é o nome do servidor que armazena a informação que desejamos acessar.
“Caminho” são as pastas e diretórios onde o arquivo está armazenado.
“Recurso” é o nome do arquivo que desejamos acessar.

Vamos conferir os endereços URL a seguir e suas características.

ENDEREÇO
CARACTERÍSTICAS
URL FICTÍCIO
Usando o protocolo http, acessaremos o servidor abc, que é comercial (.com), no Brasil (.br). Acessaremos
h t t p : // w w w .
a divisão multimídia (www) com arquivos textuais, vídeos, áudios e imagens. O recurso acessado é o index.
abc.com.br/
html, entendido automaticamente pelo navegador, por não ter nenhuma especificação de recurso no fim.
h t t p s : // m a i l . Usando o protocolo https, acessaremos o servidor abc, que é comercial (.com) e pode estar registra-
abc.com/caixa do nos Estados Unidos. Acessaremos o diretório caixas, subdiretório inbox. Acessaremos o serviço
s/inbox/ mail no servidor.
ftp://ftp.abc.g Usando o protocolo de transferência de arquivos ftp, acessaremos o servidor ftp da instituição go-
ov.br/edital.pdf vernamental (gov) brasileira (br) chamada abc, que disponibiliza o recurso edital.pdf.

Outra forma de analisar um endereço URL é na sua sintaxe expandida. Quando navegamos em sites na Inter-
net, nos deparamos com aquelas combinações de símbolos que não parecem legíveis. No entanto, como tudo na
Internet está padronizado, vamos ver as partes de um endereço URL “completão”.

Confira:

esquema://domínio:porta/caminho/recurso? querystring#fragmento

Onde “esquema” é o protocolo que será usado na transferência.


“Domínio” é o nome da máquina, o nome do site.
“:” e “porta”, indica qual, entre as 65536 portas TCP será usada na transferência.
“Caminho” indica as pastas no servidor, que é um computador com muitos arquivos em pastas.
“Recurso” é o nome do arquivo que está sendo acessado.
“?” é para transferir um parâmetro de pesquisa, usado especialmente em sites seguros.
“#” é para especificar qual é a localização da informação dentro do recurso acessado (marcas)
Exemplo: https://outlook.live.com:5012/owa/hotm ail?path=/mail/inbox#open
esquema: https://
domínio: outlook.live.com
porta: 5012
caminho: /owa/
recurso: hotmail
querystring: path=/mail/inbox
fragmento: open

Quando o usuário digita um endereço URL no seu navegador, um servidor DNS (Domain Name Server – servi-
dor de nomes de domínios) será contactado para traduzir o endereço URL em número de IP. A informação será
localizada e transferida para o navegador que solicitou o recurso.

Servidor DNS

Internet
Endereço URL
Usuário
Os endereços URL’s são reconhecíveis pelos usuários, mas os dados são armazenados em servidores web com números de IP. O servidor DNS
traduz um URL em número de IP, permitindo a navegação na Internet.

150
NAVEGAÇÃO SEGURA
CUIDADOS NO USO DA INTERNET E AMEAÇAS

Sabe-se que ameaças e riscos de segurança estão presentes no mundo virtual. Assim como existem pessoas
boas e más no mundo real, existem usuários com boas ou más intenções no mundo virtual.
Os criminosos virtuais são genericamente denominados como hackers, porém o termo mais adequado seria
cracker. Um hacker é um usuário que possui muitos conhecimentos sobre tecnologia, podendo ser nomeado como
White Hat – hacker ético que usa suas habilidades com propósitos éticos e legais –, Gray Hat – aquele que comete
crimes, mas sem ganho pessoal (geralmente, para exposição de falhas nos sistemas) – e Black Hat – aquele que
viola a segurança dos sistemas para obtenção de ganhos pessoais.
Amadores ou inexperientes, profissionais ou experientes, todo usuário está sujeito aos riscos inerentes ao uso
dos recursos computacionais. São riscos de segurança digital:

z Ameaças: vulnerabilidades que existem e podem ser exploradas por usuários;


z Falhas: vulnerabilidades existentes nos sistemas, sejam elas propositais ou acidentais;
z Ataques: ação que procura denegrir ou suspender a operação de sistemas.

Devido à crescente integração entre as redes de comunicação, conexão com novos e inusitados dispositivos
(IoT – Internet das Coisas) e criminosos com acesso de qualquer lugar do mundo, as redes de informações torna-
ram-se particularmente difíceis de se proteger. Profissionais altamente qualificados são formados e contratados
pelas empresas com a única função de proteger os sistemas informatizados.
Em concursos públicos, as ameaças e os ataques são os itens mais questionados.

Dica
Você conhece a Cartilha de Segurança CERT? Disponível gratuitamente na Internet, ela é a fonte oficial de
informações sobre ameaças, ataques, defesas e segurança digital. Ela pode ser acessada pelo link: <https://
cartilha.cert.br/>. (Acesso em: 13 nov. 2020).

Ameaças

As ameaças são identificadas como aquelas que possuem potencial para comprometer a oferta ou existência
dos ativos computacionais, tais como: informações, processos e sistemas. Um ransomware – software que seques-
tra dados, utilizando-se de criptografia e solicita o pagamento de resgate para a liberação das informações seques-
tradas – é um exemplo de ameaça.
É importante entender que, apesar de a ameaça existir, se não ocorrer uma ação deliberada para sua execução
ou se medidas de proteção forem implementadas, ela é eliminada e não se torna um ataque. As ameaças à segu-
rança da informação podem ser classificadas como:

� Tecnológicas: quando ocorre mudança no padrão ou tecnologia, sem a devida atualização ou upgrade;
z Humanas: intencionais ou acidentais, que exploram vulnerabilidades nos sistemas;
z Naturais: não intencionais, relacionadas ao ambiente, como as catástrofes naturais.

As empresas precisam fazer uma avaliação das ameaças que possam causar danos ao ambiente computacio-

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


nal dela mesma (Gerenciamento de Risco), implementar sistemas de autenticação (Controlar o Acesso), definir
os requisitos de senha forte (Política de Segurança), manter um inventário e realizar o rastreamento de todos os
ativos (Gerenciamento de Recursos), além de utilizar sistemas de backup e restauração de dados (Gerenciamento
de Continuidade de Negócios).

Falhas

As falhas de segurança nos sistemas de informação poderão ser propositais ou involuntárias. Se o programa-
dor insere, no código do sistema, uma falha que produza danos ou permita o acesso sem autenticação, temos um
exemplo de falha proposital. Já se uma falha for descoberta após a implantação do sistema, sem que tenha sido
uma falha proposital, e tenha sido explorada por invasores, temos um exemplo de falha involuntária, inerente
ao sistema.
Quando identificadas, as falhas são corrigidas pelas empresas que desenvolveram o sistema por meio da dis-
tribuição de notificações e correções de segurança. O Windows Update, serviço da Microsoft para atualização do
Windows, distribui, mensalmente, os patches (pacotes) de correções de falhas de segurança.

Ataques

Sem dúvidas, o assunto de maior destaque, tanto em concursos como no mundo real, são os ataques. Coor-
denados ou isolados, os ataques procuram romper as barreiras de segurança definidas na Política de Segurança,
com o objetivo de anular o sistema ou capturar dados.
Os ataques podem ser classificados como: 151
z Baixa complexidade: exploram falhas de segurança de forma isolada e são facilmente identificados e anulados;
z Média complexidade: combinam duas ou mais ferramentas e técnicas, para obter acesso aos dados, sendo de
média complexidade para a solução, gerando impactos na operação dos sistemas, como a indisponibilidade;
z Alta complexidade: refinados e avançados, os ataques combinam o acesso às falhas do sistema, novos códigos
maliciosos desconhecidos e a distribuição do ataque com redes zumbis, tornando difícil a resolução do problema.

Dica
� Ameaças existem e podem afetar ou não os sistemas computacionais;
� Falhas existem e podem ser exploradas ou não pelos invasores;
� Ataques são realizados todo o tempo contra todos os tipos de sistemas.

Vírus de Computador

O vírus de computador é a ameaça digital mais popular. Tem esse nome por se assemelhar a um vírus orgâ-
nico ou biológico. O vírus biológico é um organismo que possui um código viral que infecta uma célula de outro
organismo. Quando a célula infectada é acionada, o código viral é duplicado e se propaga para outras células
saudáveis do corpo. Quanto mais vírus existirem no organismo, menor será o seu desempenho, fazendo com que
recursos vitais sejam consumidos, podendo levar o hospedeiro à morte.
O vírus de computador é um código malicioso que infecta arquivos em um dispositivo. Quando o arquivo é
executado, o código do vírus é duplicado, propagando-se para outros arquivos do computador. Quanto mais vírus
existirem no dispositivo, menor será o seu desempenho, fazendo com que recursos computacionais sejam consu-
midos, podendo levar o hospedeiro a uma falha catastrófica.

1. E-mail com vírus de computador é enviado para o usuário

E-mail com vírus Usuário Arquivo

2. E-mail é aberto e o arquivo anexo infectado é executado.

E-mail com vírus Usuário Arquivo

3. O código do vírus é copiado para arquivos do computador

E-mail com vírus Usuário Arquivo

152
4. Ao executar o arquivo infectado, novos arquivos serão infectados

E-mail com vírus Usuário Arquivo Arquivo

O vírus de computador poderá entrar no dispositivo do usuário por meio de um arquivo anexado em uma
mensagem de e-mail, ou por cópia de arquivos existentes em uma mídia removível, como o pen drive, recebidos
por alguma rede social, baixados de sites na Internet, entre outras formas de contaminação.

VÍRUS DE COMPUTADOR CARACTERÍSTICAS


� Infectam o setor de boot do disco de inicialização
Vírus de boot
� Cada vez que o sistema é iniciado, o vírus é executado
Armazenados em sites na Internet, são carregados e executados quando o usuário
Vírus de script
acessa a página, usando um navegador de Internet
� As macros são desenvolvidas em linguagem Visual Basic for Applications (VBA) nos
Vírus de macro arquivos do Office, para a automatização de tarefas
� Quando desenvolvido com propósitos maliciosos, é um vírus de macro
O vírus “mutante” ou “polimórfico”, a cada nova multiplicação, o novo vírus mantém
Vírus do tipo mutante
traços do original, mas é diferente dele
São programados para agir em uma determinada data, causando algum tipo de dano no
Vírus time bomb
dia previamente agendado
� Um vírus stealth é um código malicioso muito complexo, que se esconde depois de
infectar um computador
Vírus stealth
� Ele mantém cópias dos arquivos que foram infectados para si e, quando um software an-
tivírus realiza a detecção, apresenta o arquivo original, enganando o mecanismo de proteção
� O vírus Nimda explora as falhas de segurança do sistema operacional
Vírus Nimda � Ele se propaga pelo correio eletrônico e, também, pela web, em diretórios comparti-
lhados, pelas falhas de servidor Microsoft IIS e nas trocas de arquivos

Todos os sistemas operacionais são vulneráveis aos vírus de computador. Quando um vírus de computador
é desenvolvido por um hacker, este procura elaborá-lo para um software que tenha uma grande quantidade de
usuários iniciantes, o que aumenta as suas chances de sucesso.
O Windows, por exemplo, possui muitos usuários e a maioria deles não tem preocupações com segurança. Por
isso, grande parte dos vírus de computadores são desenvolvidos para atacarem sistemas Windows.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


O Linux, por sua vez, tem poucos usuários, se comparado ao Windows, e a maioria deles possui muito conhe-
cimento sobre Informática, tornando a ação de vírus nesse sistema uma ocorrência rara.
Já o Android, software operacional dos smartphones populares, é uma variação do sistema Linux original.
Apesar de possuir essa origem nobre, é alvo de milhares de vírus, por causa dos seus usuários, que, na maioria
das vezes, não têm rotinas de proteção e segurança de seus aparelhos.
Um vírus de computador poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na Internet, compartilhado em
arquivos, através do uso de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e por mensagens instantâneas. Vale
lembrar, no entanto, que um vírus necessita ser executado para que entre em ação, pois ele tem um hospedeiro
definido e um alvo estabelecido. Ele se propaga, inserindo cópias de si em outros arquivos, alterando ou removen-
do arquivos do dispositivo para propagação e autoproteção, a fim de não ser detectado pelo antivírus.

Worms

O worm é um verme que explora de forma independente as vulnerabilidades nas redes de dispositivos. Geralmente,
eles deixam a comunicação na rede lenta, por ocuparem a conexão de dados ao enviarem cópias de seu código malicioso.
Um verme biológico parasita um organismo, consumindo seus recursos e deixando o corpo debilitado. Um
verme tecnológico parasita um dispositivo, consumindo seus recursos de memória e conexão de rede, deixando o
aparelho e a rede de dados lentos.
Os worms não precisam ser executados pelo usuário como os vírus de computador e a sua propagação será
rápida caso não existam barreiras de proteção que os impeçam. 153
1. Dispositivo infectado se conecta na rede do usuário

Smartphone com worm Roteador do Usuário Impressora

2. Roteador infectado envia o worm para a impressora

Smartphone com worm Roteador do Usuário Impressora

3. Impressora infectada demora muito para imprimir

Smartphone com worm Roteador do Usuário Impressora

4. Um novo dispositivo se conecta e é infectado

Roteador do Usuário Impressora


Smartphone com worm

Smartphone

154
Dica
Os worms infectam dispositivos e propagam-se para outros dispositivos de forma autônoma, sem interferên-
cia do usuário.

Os worms podem ser recebidos automaticamente pela rede, inseridos por um invasor ou por ação de outro códi-
go malicioso. Assim como os vírus, ele poderá ser recebido por e-mail, transferido de sites na Internet, compartilhado
em arquivos, por meio do uso de mídias removíveis infectadas, nas redes sociais e por mensagens instantâneas.
Com o objetivo de explorar as vulnerabilidades dos dispositivos, os worms enviam cópias de si mesmos para
outros dispositivos e usuários conectados. Por serem autoexecutáveis, costumam consumir grande quantidade de
recursos computacionais, promovendo a instalação de outros códigos maliciosos e iniciando ataques na Internet
em busca de outras redes remotas.

Pragas Virtuais

As diversas pragas virtuais são, genericamente, chamadas de malwares (softwares maliciosos), por apresen-
tarem características semelhantes: oferecem alguma vantagem para o usuário, mas realizam ações danosas que
acabarão prejudicando-o.

� Cavalo de Troia ou Trojan

É um código malicioso que realiza operações mal-intencionadas enquanto realiza uma operação desejada pelo
usuário, como um jogo on-line ou reprodução de um vídeo. Ele é enviado com o conteúdo desejado e, ao ser exe-
cutado, desativa as proteções do dispositivo, para que o invasor tenha acesso aos arquivos e dados.
Esse nome está, justamente, relacionado com a história do presente dado pelos gregos aos troianos, consis-
tindo em um cavalo de madeira, com soldados em seu interior. Após entrar nas fortificações de Troia, os gregos
desativaram as defesas e permitiram o acesso do seu exército.

Importante!
O Trojan ou Cavalo de Troia é apresentado, no enunciado de algumas questões de concursos, como um tipo
de vírus de computador.

1. E-mail com Cavalo de Troia é enviado para o usuário

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


E-mail com vírus Usuário

2. E-mail é aberto e o link do jogo on-line é acessado

E-mail com vírus Usuário Jogo on-line

155
3. Enquanto o usuário joga, o trojan desativado as proteções

E-mail com vírus Usuário Jogo on-line

4. Enquanto o usuário joga, o invasor consegue acesso

Usuário Jogo on-line

z Spyware

É um programa malicioso que procura monitorar as atividades do sistema e enviar os dados capturados
durante a espionagem para terceiros. Existem softwares espiões considerados legítimos (instalados com o consen-
timento do usuário) e maliciosos (que executam ações prejudiciais à privacidade do usuário).
Os softwares espiões podem ser especializados na captura de teclas digitadas (keylogger), nas telas e cliques efe-
tuados (screenlogger) ou para apresentação de propagandas alinhadas com os hábitos do usuário (adware). Eles,
geralmente, são instalados por outros programas maliciosos, para aumentar a quantidade de dados capturados.

z Bot

É um programa malicioso que mantém contato com o invasor, permitindo que comandos sejam executados remo-
tamente. O dispositivo controlado por um bot poderá integrar uma rede de dispositivos zumbis, a chamada botnet.
Quando o invasor deseja atacar sites para provocar Negação de Serviço, ele aciona os bots que estão distri-
buídos nos dispositivos do usuário, para que façam a ação danosa. Além de esconder os rastros da identidade do
verdadeiro atacante, os bots poderão continuar sua propagação através do envio de cópias para outros contatos
do usuário afetado.

z Backdoor

É um código malicioso semelhante ao bot, mas que, além de executar comandos recebidos do invasor, realiza
ações para desativação de proteções e aberturas de portas de conexão. O invasor, ciente das portas TCP que estão
disponíveis, consegue acesso ao dispositivo para a instalação de outros códigos maliciosos e roubo de informações.
Assim como os spywares, existem backdoors legítimos (adicionados pelo desenvolvedor do software para fun-
156 cionalidades administrativas) e ilegítimos (para operarem independente do consentimento do usuário).
z Rootkit

É um código malicioso especializado em esconder e assegurar a presença de outros códigos maliciosos para o
invasor acessar o sistema. Essas pragas virtuais podem ser incorporadas em outras pragas, para que o código que
camufla a presença seja executado, escondendo os rastros do software malicioso.
Após a remoção de um rootkit, o sistema afetado não se recupera dos dados apagados, sendo necessária uma
cópia segura (backup) para restauração dos arquivos.

Dica
Cavalo de Troia, Spyware, Bot, Backdoor e Rootkit são as pragas digitais mais questionadas em concursos públicos.

Confira, na tabela a seguir, outras pragas digitais que ameaçam a Segurança da Informação e a privacidade
dos usuários de sistemas computacionais.

CÓDIGO MALICIOSO CARACTERÍSTICAS


Gatilho para a execução de outros códigos maliciosos que permanece inativa até que um
Bomba lógica
evento acionador seja executado
Sequestrador de dados que criptografa pastas, arquivos e discos inteiros, solicitando o
Ransomware
pagamento de resgate para liberação
� Simulam janelas do sistema operacional, induzindo o usuário a acionar um comando,
Scareware fazendo a operação continuar normalmente
� O comando iniciará a instalação de códigos maliciosos
Fraude que engana o usuário, induzindo-o a informar seus dados pessoais em páginas de
Phishing
captura de dados falsas
Ataque aos servidores de DNS para alteração das tabelas de sites, direcionando a navega-
Pharming
ção para sites falsos
Ataques na rede que simulam tráfego acima do normal com pacotes de dados formatados
Negação de Serviço incorretamente, fazendo o servidor remoto ocupar-se com os pedidos e erros, negando
acesso para outros usuários
� Código que analisa ou modifica o tráfego de dados na rede, em busca de informações
Sniffing relevantes como login e senha
� Enquanto o spyware não modifica o conteúdo, o sniffing pode alterar
Falsifica dados de identificação, seja do remetente de um e-mail (e-mail Spoofing), do en-
Spoofing
dereço IP, dos serviços ARP e DNS, escondendo a real identidade do atacante
Man-In-The-Midle Intercepta as comunicações da rede para roubar os dados que trafegam na conexão.
Intercepta as comunicações do aparelho móvel, para roubar os dados que trafegam na
Man-In-The-Mobile
conexão do aparelho smartphone
Enquanto uma falha não é corrigida pelo desenvolvedor do software, invasores podem ex-
Ataque de dia zero
plorar a vulnerabilidade identificada antes da implantação da proteção
Modificam páginas na Internet, alterando a sua apresentação (face) para os usuários
Defacement
visitantes

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Sequestrador de navegador que pode desde alterar a página inicial do browser, até realizar
HiJacker
mudanças do mecanismo de pesquisas e direcionamento para servidores DNS falsos

Uma das ações mais comuns que procuram comprometer a segurança da informação é o ataque Phishing. O
usuário recebe uma mensagem (por e-mail, rede social ou SMS no telefone) e é induzido a clicar em um link mali-
cioso. O link acessa uma página que pode ser semelhante ao site original, induzindo o usuário a fornecer dados
pessoais, como login e senha. Em ataques mais elaborados, as páginas capturam dados bancários e de cartões de
crédito. O objetivo é simples: roubar dinheiro das contas do usuário.
1. O usuário recebe um e-mail do “banco”, mas é falso

Usuário

157
2. O link direciona o usuário para um site falso

Usuário

3. Ele informa os seus dados pessoais

Usuário

4. Seus dados são enviados para o invasor, que rouba $$$ das contas bancárias ou faz compras
no seu cartão de crédito

Usuário

Outra ação mais elaborada tecnicamente é o Pharming. O invasor ataca um servidor DNS, modificando as
tabelas que direcionam o tráfego de dados e o usuário acessa uma página falsa. Da mesma forma que o Phishing,
esse ataque procura capturar dados bancários do usuário e roubar o seu dinheiro.

1. O atacante modifica a tabela de um servidor DNS

Usuário

158
2. O link alterado direciona o usuário para um site falso

Usuário

3. Ele informa os seus dados pessoais

Usuário

4. Seus dados são enviados para o invasor, que rouba $$$ das contas bancárias ou faz compras
no seu cartão de crédito

Usuário

USO DE SENHAS E CRIPTOGRAFIA; TOKENS E OUTROS DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA; SENHAS FRACAS E


FORTES

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


As senhas são essenciais para o acesso às informações em qualquer ambiente digital. Elas estão sendo combi-
nadas com outros mecanismos, como tokens e autenticações em duas etapas.
Elas são usadas em tudo. Abertura de documentos com senhas, autenticação do usuário ao acessar sistemas,
validação de operações etc.
Vamos falar inicialmente sobre as senhas.
As senhas poderão ser simples ou complexas, e no ambiente digital são denominadas fracas ou fortes. Senhas
são fracas ou fortes, dependendo do grau de dificuldade que um hacker, ou software malicioso, teria para quebrá-la.
Uma senha numérica “1234” é uma senha fraca. Ela tem uma sequência de números facilmente identificável
quando olhamos alguém digitando no teclado e é uma das primeiras que será testada para tentar acesso a qual-
quer sistema.
Uma senha alfanumérica como “dAtkOz40#849@” é uma senha forte. Ela combina letras maiúsculas e minús-
culas, números e símbolos. A chance de ser descoberta, deduzida ou quebrada, serão mínimas.
Segundo a Cartilha de Segurança para Internet (http://cartilha.cert.br/senhas/), uma senha boa, bem elaborada,
é aquela que é difícil de ser descoberta e fácil de ser lembrada.
Vejamos algumas combinações de senhas que não são recomendáveis.

z Sequências de teclas do teclado, como 123456 ou qwerty;


z Palavras populares, como nomes de artistas, times de futebol, nomes de músicas e nomes de parentes próxi-
mos (filhos);
z Datas de nascimento, casamento, comemorações, feriados etc.;

159
z Placa de carro. Mesmo sendo uma placa de car- As senhas procuram proteger de forma passiva a
ro padrão Mercosul, ainda é uma senha previsí- informação.
vel dentro das combinações possíveis de letras e Os tokens procuram proteger de forma ativa a
números (além de estar publicamente divulgada transação.
quando você anda de carro pelas ruas); Bancos, aplicativos de delivery, sites na internet e
z Números de documentos. O acesso a vazamento de empresas com acesso virtual utilizam os tokens para
dados na Internet permite o acesso aos documen- proteger a transação. E não é nada de outro mundo,
tos das pessoas. Se a senha usada é um número de ao contrário, fazem parte de nosso dia a dia. Confira
documento, ela será facilmente quebrada. alguns exemplos:

Alguns sistemas possuem requisitos de senhas, z Aplicativo de delivery: um código é enviado para
que definem como elas deverão ser. Exigências como o smartphone do cliente. Ele deve informar este
“uso de maiúsculas e minúsculas”, comprimento código quando receber o pedido. O entregador tem
mínimo de 8 caracteres, uso de caracteres especiais e a garantia de que este é o cliente que fez o pedido e
proibição de uso repetido de senhas nas atualizações o cliente tem a garantia de que este é o entregador
são algumas das mais conhecidas. que está sendo informado no seu pedido;
Vejamos algumas combinações de senhas que são z Aplicativo de transporte: um código é enviado
recomendáveis. para o motorista do aplicativo. Ao chegar em seu
destino, quando o cliente embarcar, deve infor-
z Substituições de caracteres. Onde é zero, usar mar o código que está sendo exibido em seu smar-
letra O maiúscula, e vice-versa. Onde é letra, usar tphone. O motorista tem a garantia de que este é o
um número “parecido”. Exemplo: termo original usuário que solicitou o transporte, e o cliente tem
“monitores10S” terá uma senha “m0n1tOr3sl0$”; a garantia de que este é o motorista que está sendo
z Palavras grafadas propositalmente erradas. Exem- informado para a sua corrida;
plo: termo original “segurança54S” terá uma senha z Sites na internet: alguns sites oferecem a auten-
“Çegur4nSSa54$” ticação em duas etapas. Um dos mais usados é o
WhatsApp Web. Ao abrir o aplicativo no smart-
phone, pode ser solicitado um PIN ou realizado o
Dica reconhecimento biométrico do usuário. Ao acessar
A maioria das questões sobre senhas são práti- o aplicativo pelo navegador, um QR Code é exibido
cas. Procuram avaliar se o candidato reconhece para sincronizar o aparelho e conta;
senhas fracas e fortes. Use senhas fortes em z Bancos: um dos ativos mais protegidos é o dinhei-
ro. E, atualmente, o dinheiro está predominante-
suas contas e acertará as questões do tema nas
mente sendo transacionado em meio digital. Ao
provas de concursos.
realizar transações bancárias, é comum o envio de
um código por SMS, ou a leitura de um QR Code
Com os ataques às contas de usuários, seja por para a transação, ou informando uma validação
aplicativos de quebra de senhas por força bruta ou adicional;
por acesso à senha original decorrente de um descui- z Empresas: o acesso remoto dos colaboradores a
do do usuário, os sites implementaram outros níveis partir de suas residências se tornou uma realidade
de segurança. em muitos locais do mundo. Ao acessar o webmail
A “verificação em duas etapas”, adotada por ban- corporativo, o serviço pode solicitar uma contras-
cos na confirmação de operação bancária via internet, senha que identificará o dispositivo como seguro.
consiste em associar a transação ou acesso à um códi- Vamos comentar sobre o Microsoft Outlook corpo-
go aleatório enviado no momento da solicitação. rativo: o colaborador acessa o navegador de Inter-
Assim, em outro dispositivo do usuário, ele rece- net e entra no webmail da empresa. Após fornecer
berá o código exigido para continuar com a operação login e senha, é solicitado que execute o app Micro-
iniciada em outro aparelho. soft Autenticator em seu smartphone e informe o
Como é possível observar, as senhas são essenciais código gerado. O dispositivo é confirmado e o aces-
para a proteção do acesso às informações. E as infor- so é permitido;
mações armazenadas (arquivos) podem ter senhas? z E-mail pessoal: até serviços pessoais de correio
Sim e não. eletrônico como o Gmail já oferecem a autentica-
Alguns arquivos aceitam atribuição de senhas ção em duas etapas. Ao acessar o serviço em qual-
para abertura, leitura e edição. Outros arquivos não quer dispositivo pelo navegador, é solicitado que
possuem este tipo de suporte. o usuário execute o app Gmail em seu smartpho-
Para arquivos sem suporte nativo para senhas, ne, para obter o código de acesso. No navegador
outros mecanismos poderão ser usados para prote- de internet, deve informar o código que visualizou
ção, como a compactação com senhas e a criptogra- em seu app.
fia. Para compactar arquivos com senhas, acione o
programa (como o WinZIP ou WinRAR), selecione os Senhas nos arquivos, compactação de dados,
arquivos, defina a senha, e compacte. Para descom- tokens, entre outros, também se destaca um método,
pactar, a senha será solicitada. usado para proteção de dados, que opera com arqui-
vos em geral, com ou sem senha. É a criptografia.
MAIS SEGURANÇA: TOKENS
O QUE É CRIPTOGRAFIA?
Mesmo com o uso das senhas, a proteção poderá
ser quebrada e a informação acessada. Nas transações A criptologia é a ciência de “criar e violar os códi-
160 digitais, os tokens entram em ação. gos secretos”. É a maneira segura para armazenar e
transmitir dados, de forma que somente o destinatário possa ler ou processá-los. A criptografia usa algoritmos
seguros para manter as informações protegidas.
Ao ativá-la, os dados legíveis que contêm texto claro ou texto não criptografado, serão “embaralhados” para
produzir um texto criptografado ou texto codificado. A descriptografia reverterá o processo, tornando o texto
claro ou não criptografado.
A cifragem criptográfica pode proporcionar confidencialidade à comunicação, incorporando várias ferramen-
tas e protocolos que protegem os dados, as identidades e as conexões entre os usuários.
As chaves criptográficas codificam e decodificam os dados.
Alguns sistemas de criptografia usam a criptografia simétrica. Provavelmente você já viu estas siglas quando
configurou seu roteador wireless.
Padrões de criptografia comuns que usam criptografia simétrica:

z 3DES (triplo DES): Digital Encryption Standard (DES). O Triplo DES criptografa três vezes os dados e usa uma
chave diferente;
z IDEA: O Algoritmo de Criptografia de Dados (IDEA);
z AES: O Advanced Encryption Standard (AES).

Chave de criptografia Chave de criptografia

Chave pré-compartilhada

Fernando %kjrlnal Fernando


Criptografar Descriptografar
Nishimura $ko#&asd Nishimura

A mesma chave usada para codificar os dados é usada para decodificar depois.

Na criptografia assimétrica, um par de chaves independentes torna esses algoritmos mais seguros que na
criptografia simétrica.
Os algoritmos assimétricos incluem:

z RSA (Rivest-Shamir-Adleman);
z Diffie-Hellman;
z ElGamal;
z Criptografia de curva elíptica (ECC).

Protocolos que usam algoritmos de chave assimétrica.

z Internet Key Exchange (IKE);


z Secure Socket Layer (SSL);
z Secure Shell (SSH);
z Pretty Good Privacy (PGP).

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Chave de criptografia Chave de criptografia
Duas chaves separadas
que não são
compartilhadas

Fernando %kjrlnal Fernando


Criptografar Descriptografar
Nishimura $ko#&asd Nishimura

Uma chave é usada para codificar os dados, e outra chave será usada para decodificar.

COMPARAÇÃO DE TIPOS DE CRIPTOGRAFIA

Algoritmo de criptografia simétrica Algoritmo de criptografia assimétrica

Mais conhecidos como algoritmos de chave de segredo


Mais conhecidos como algoritmos de chave pública
compartilhado

O comprimento de chave normal é de 80 a 256 bits O comprimento de chave normal é de 512 a 4.096 bits
161
COMPARAÇÃO DE TIPOS DE CRIPTOGRAFIA

Algoritmo de criptografia simétrica Algoritmo de criptografia assimétrica

Remetente e destinatário devem compartilhar uma cha- Remetente e destinatário não compartilham uma chave
ve secreta secreta

Geralmente, os algoritmos são bem rápidos (velocidade


Os algoritmos são relativamente lentos porque baseiam-
máxima de transmissão de dados) porque baseiam-se
-se em algoritmos computacionais difíceis
em simples operações matemáticas

DES, 3DES, AES, IDEA, RC2/4/5/6 e Blowfish são alguns RSA, ElGamal, curvas elípticas e DH são alguns
exemplos exemplos

CARACTERÍSTICAS

Criptografia simétrica Criptografia assimétrica

Compartilha uma chave comum para criptografia e Normalmente requer um processamento de chaves
descriptografia de terceiros

Mais rápido e usa menos recursos de processamento Usado por aplicativos como IKE, SSH, PGP e SSL

O gerenciamento de chave pode ser um problema à medida Use uma chave pública para criptografar e uma
que o número de usuários aumenta chave privada para descriptografar

Usa o Digital Encryption Standard (DES) Usa o RSA (Rivest-Shamir-Adleman)

O sistema operacional Windows oferece dois níveis de proteção de arquivos com criptografia:

z NTFS: através do sistema de arquivos do Windows, os arquivos são protegidos e exibidos com cores/ícones
diferentes no Explorador de Arquivos;
z BitLocker: criptografia que protege os dados em um disco com o armazenamento de chaves em outro disco. A
unidade C pode ser protegida e a chave armazenada em um pendrive. Toda vez que for ler os dados na unidade
C, o pendrive com a chave precisa estar conectado no dispositivo.

O conceito do BitLocker parece familiar, certo?

A certificação digital com o uso de cartões com chip ou aplicativos de certificação trabalham com a mesma sis-
temática. Para autenticar uma transação, o cartão com chip que contém a assinatura digital ou certificado digital
deverá estar conectado no leitor. Para autenticar uma operação, o aplicativo da Autoridade Certificadora deve ser
aberto e confirmada a transação.

ASSINATURA DIGITAL

As assinaturas de próprio punho e selos carimbados autenticam o conteúdo de um documento. As assinaturas


digitais podem oferecer a mesma funcionalidade que as assinaturas “manuais” de próprio punho.
Uma assinatura digital pode determinar se alguém modificou um documento após a assinatura autenticada do
usuário que enviou a informação. Uma assinatura digital é um método matemático utilizado para verificação da
autenticidade e integridade de uma mensagem eletrônica, arquivo digital ou programa de computador.
Uma assinatura digital ajuda a estabelecer a autenticidade, a integridade e o não repúdio.

z A assinatura é autêntica;
z A assinatura não pode ser alterada;
z A assinatura não pode ser reutilizada;
z A assinatura não pode ser repudiada, ou seja, não se pode negar que um documento foi alterado.

CERTIFICADO DIGITAL

O certificado digital autentica e verifica se o emissor de uma mensagem é realmente quem ele diz ser. Os certi-
ficados digitais poderão proporcionar confidencialidade para o destinatário, ao criptografar a resposta recebida.
Caso alguém intercepte a informação, não conseguirá decodificar, sem as devidas chaves de decodificação.

162
Servidor remoto

Dispositivo do usuário Loja Virtual


Passo 2 - certificado enviado

Passo 1 - conexão pedida

Passo 3 - verificado
Certificado
Digital
Passo 4 - gerar chave de sessão
Passo 6 - dados serão
trocados de forma
segura
Passo 5 - sessão criptografada

Imagem – negociação entre o dispositivo do usuário e o servidor remoto que armazena uma loja virtual (com certificado digital)

Na imagem acima, podemos acompanhar a negociação inicial entre o dispositivo do usuário e o servidor
remoto, que hospeda uma loja virtual, onde o usuário pretende realizar uma compra. Com o certificado digital a
negociação entre os dispositivos será realizada, e o usuário poderá comprar de forma segura, pois a Loja Virtual
se identificou através do certificado digital, dizendo que ela é realmente quem ela diz ser.

z Passo 1 – o usuário digita em seu navegador o endereço URL do servidor remoto que armazena a Loja Virtual;
z Passo 2 – a Loja Virtual envia para o dispositivo do usuário (navegador de Internet) uma cópia do seu certificado
digital. Ela está dizendo: eu sou esta Loja Virtual, e o certificado digital garante que estou dizendo a verdade;
z Passo 3 – o certificado digital será verificado. Como? Ao consultar a entidade certificadora que emitiu o certifi-
cado, poderá verificar a sua autenticidade;
z Passo 4 – certificado verificado, será criada uma chave para a sessão. A chave será usada nas trocas de infor-
mações criptografadas;
z Passo 5 – o certificado é enviado com a chave para a loja virtual, identificando aquela sessão do usuário. As pró-
ximas trocas de informações serão realizadas de forma criptografada entre o servidor e o dispositivo do usuário;
z Passo 6 – as informações criptografadas são enviadas e recebidas. O servidor e o destinatário conhecem a cha-
ve de sessão. Somente eles podem descriptografar a mensagem trocada.

Quais são as informações que existem em um certificado digital?

z Número da versão;
z Número de série;
z Identificador de algoritmo de certificado;
z Nome do remetente;
z Período de validade;

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


z Nome do assunto;
z Informações da chave pública do assunto;
z Identificador único do remetente;
z Ramais;
z Assinatura digital da Autoridade Certificadora.

Ao acessar um site seguro, basta clicar no cadeado exibido na barra de endereços para visualizar as informa-
ções do Certificado Digital.

Microsoft Bing Certificado

Geral Detalhes Caminho de Certificação

Mostrar: <Todas>

Imagem – dados do certificado digital do site https://www.bing.com


163
Antivírus

Os vírus de computadores, como conhecemos no tópico anterior, infecta um arquivo e propaga-se para outros
arquivos quando o hospedeiro é executado. O código que infecta o arquivo é chamado de assinatura do vírus.
Os programas antivírus são desenvolvidos para detectarem a assinatura do vírus existente nos arquivos do
computador. O antivírus precisa estar atualizado, com as últimas definições da base de assinaturas de vírus, para
que seja eficiente na remoção dos códigos maliciosos.

1. O usuário tem um vírus de computador instalado

2. Um software antivírus é acionado para detecção

Usuário Arquivo

3. Ele compara o código com sua base de assinaturas

Usuário Arquivo

4. Ele poderá eliminar o vírus, isolar ou excluir o arquivo

Arquivo Arquivo
desinfectado excluído
Usuário

Quarentena

164
Quando o antivírus encontra um código malicioso em algum arquivo, que tenha correspondência com a base
de assinaturas de vírus, ele poderá:

z Remover o vírus que infecta o arquivo;


z Criptografar o arquivo infectado e mantê-lo na pasta Quarentena, isolado;
z Excluir o arquivo infectado.

Assim, o antivírus poderá proteger o dispositivo através de três métodos de detecção: assinatura dos vírus
conhecidos, verificação heurística e comportamento do código malicioso quando é executado.
O que fazer quando o código malicioso do vírus não está na base de assinaturas?
A base de assinaturas é atualizada pelo fabricante do antivírus, com as informações conhecidas dos vírus
detectados. Entretanto, novos vírus são criados diariamente. Para a detecção desses novos códigos maliciosos, os
programas oferecem a Análise Heurística.

z Análise Heurística

O software antivírus poderá analisar os arquivos do dispositivo através de outros parâmetros, além da base
de assinaturas de vírus conhecidos, para encontrar novos códigos maliciosos que ainda não foram identificados.
Se o código enviado para análise for comprovadamente um vírus, o fabricante inclui sua assinatura na base
de vírus conhecidos. Assim, na próxima atualização do antivírus, todos poderão reconhecer e remover o novo
código descoberto.

1. Ele compara o código com sua base de assinaturas, mas não encontra correspondência com vírus conhecidos

Usuário Arquivo

2. O arquivo será isolado e uma cópia enviada para análise pelo fabricante do software antivírus

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Quarentena

Usuário

Fabricante

165
Windows Defender

Em concursos públicos, as soluções de antivírus de terceiros, como Avast, AVG, Avira e Kaspersky raramente
são questionadas. Nós as usamos em nosso dia a dia, mas, em provas de concursos, as bancas trabalham com as
configurações padrões dos programas.
O Windows 10 possui uma solução integrada de proteção, que é o Windows Defender. Na época do Windows 7,
a Microsoft adquiriu e disponibilizou o programa Microsoft Security Essentials como antivírus padrão do sistema
operacional.
A seguir, foi desenvolvida a solução Windows Defender, para detecção e remoção de outros códigos maliciosos,
como os worms e Cavalos de Troia. Além disso, o Windows sempre ofereceu o firewall, um filtro de conexões para
impedir ataques oriundos das redes conectadas.
No Windows 10, o Windows Defender faz a detecção de vírus de computador, códigos maliciosos e opera o fire-
wall do sistema operacional, impedindo ataques e invasões.

Firewall

O firewall é um filtro de conexões que poderá ser um software, instalado em cada dispositivo, ou um hardware,
instalado na conexão da rede, protegendo todos os dispositivos da rede interna. O sistema operacional disponibi-
liza um firewall pré-configurado com regras úteis para a maioria dos usuários.
A maioria das portas comuns estão liberadas e a maioria das portas específicas estão bloqueadas.

Usuário

.
Figura 13. O firewall controla o tráfego proveniente de outras redes

O firewall não analisa o conteúdo do tráfego, portanto ele permite que códigos maliciosos, como os vírus de
computadores, infectem o computador ao chegarem como anexos de uma mensagem de e-mail. O usuário deve
executar um antivírus e antispyware nos anexos antes de executá-los.

E-mail com vírus E-mail com vírus

Firewall Usuário

E-mail com trojan E-mail com trojan

Figura 14. O firewall não analisa o conteúdo do tráfego, então mensagens com anexos maliciosos passarão pela barreira e chegarão até o
usuário.

O firewall impede um ataque, seja de um hacker, de um vírus, de um worm, ou de qualquer outra praga digital
que procure acessar a rede ou o computador por meio de suas portas de conexão. Apenas o conteúdo liberado,
como e-mails e páginas web, não serão bloqueados pelo firewall.

166
E-mail Página web

Invasor Ataque de vírus Firewall Usuário

Propagação de worm Malware

Figura 15. O firewall não analisa o conteúdo do tráfego, mas impede os ataques provenientes da rede.

O firewall não é um antivírus e nem um antispyware. Ele permite ou bloqueia o tráfego de dados nas portas
TCP do dispositivo. Sendo assim, sua utilização não dispensa o uso de outras ferramentas de segurança, como o
antivírus e o antispyware.

Importante!
O firewall não é um antivírus, mas ele impede um ataque de vírus. Ele impedirá, por ser um ataque e, não, por
ser um vírus.

Antispyware

Da mesma forma que existe a solução antivírus contra vírus de computadores, existe uma solução que procura
detectar, impedir a propagação e remover os códigos maliciosos que não necessitam de um hospedeiro.
Genericamente, malware é um software malicioso. Genericamente, spyware é um software espião. Assim,
quando os softwares maliciosos ganharam destaque e relevância para os usuários dos sistemas operacionais, os
spywares ganharam destaque. Comercialmente, tornou-se interessante nomear a solução como antispyware.
Na prática, um antispyware, ou um antimalware, detecta e remove vários tipos de pragas digitais.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Worm Malware

Usuário Antispyware

Trojan Spyware

Figura 16. O antispyware é usado para evitar pragas digitais no dispositivo do usuário.

Para proteção, o usuário deverá:

z Manter o firewall ativado;


z Manter o antivírus atualizado e ativado;
z Manter o antispyware atualizado e ativado;
z Manter os programas atualizados com as correções de segurança;
z Usar uma senha forte para acesso aos sistemas e optar pela autenticação em dois fatores quando disponível. 167
Usuário

Firewall Antivírus Antispyware Atualizações Senha forte

Figura 17. Para proteção: firewall ativado, antivírus atualizado e ativado, antispyware atualizado e ativado, atualizações de softwares instaladas
e uso de senha forte.

UTM

Unified Threat Management (UTM), ou “Gerenciamento Unificado de Ameaças”, são soluções abrangentes que
integram diferentes mecanismos de proteção em apenas um programa. Elas realizam, em tempo real, a filtragem
de códigos acessados, otimizam o tráfego de dados nas conexões, controlam a execução das aplicações, protegem
o dispositivo com um firewall, estabelecem uma conexão VPN segura para navegação e entregam relatórios de
fácil compreensão para o usuário.

Defesa Contra Ataques

Quando o ataque é direcionado ao e-mail e navegador de Internet, os filtros antispam e filtros antiphishing aten-
dem aos requisitos de proteção. Se o ataque chega disfarçado, medidas de prevenção devem ser adotadas, como:

z Nunca fornecer informações confidenciais ou secretas por e-mail;


z Resistir à tentação de cliques em links das mensagens;
z Observar os downloads automáticos ou não iniciados;
z Dentro das políticas de segurança para os funcionários, destacar que não se deve submeter à pressão de pes-
soas desconhecidas.

Quando os ataques procuram atingir um servidor da empresa, como ataques DoS (negação de serviço), DDos
(ataque distribuído de negação de serviços) ou spoofing (fraude de identidade), uma das formas de proteção é o blo-
queio de pacotes externos não convencionais. Se o usuário está utilizando um dispositivo móvel e sofre um ataque,
ele deve aumentar o nível de proteção do aparelho e as senhas precisam ser redefinidas o mais breve possível.
Por fim, os ataques contra aplicativos poderão ser minimizados ou anulados se o usuário mantiver os progra-
mas atualizados em seu dispositivo, aplicando as correções de segurança tão logo elas sejam disponibilizadas.

Importante!
Quando o usuário é envolvido na perpetração de ataques digitais, ele é considerado o elo mais fraco da cor-
rente de segurança da informação, por estar sujeito a enganos e trapaças dos atacantes. A Engenharia Social
consiste no conjunto de técnicas e atividades que procuram estabelecer confiança mediante dados falsos,
ameaças ou dissimulação.

NAVEGADORES (BROWSERS) E SUAS PRINCIPAIS FUNÇÕES


SITES E LINKS; BUSCAS; SALVA DE PÁGINAS

Sites de Busca e Pesquisa

Na Internet, os sites (sítios) de busca e pesquisa têm, como finalidade, apresentar os resultados de endereços
168 URLs com as informações solicitadas pelo usuário.
Google Buscas, da empresa Google, e Microsoft Bing, da Microsoft, são os dois principais sites de pesquisa da
atualidade. No passado, sites como Cadê, Aonde, Altavista e Yahoo também contribuíram para a acessibilidade das
informações existentes na Internet, indexando em diretórios os conteúdos disponíveis.
Os sites de pesquisas foram incorporados aos navegadores de Internet e, na configuração dos browsers, temos a
opção “Mecanismo de pesquisa”, que permite a busca dos termos digitados diretamente na barra de endereços do
cliente web. Essa funcionalidade transforma a nossa barra de endereços em uma omnibox (caixa de pesquisa inteligen-
te), que preenche com os termos pesquisados anteriormente e oferece sugestões de termos para completar a pesquisa.
O Microsoft Edge tem o Microsoft Bing como buscador padrão. O Mozilla Firefox e o Google Chrome têm o Goo-
gle Buscas como buscador padrão. As configurações podem ser personalizadas pelo usuário.
Os sites de pesquisas incorporam recursos para operações cotidianas, como pesquisa por textos, imagens,
notícias, mapas, produtos para comprar em lojas on-line, efetua cálculos matemáticos, traduz textos de um idioma
para outro, entre inúmeras funcionalidades, ignoram pontuação, acentuação e não diferenciam letras maiúsculas
de letras minúsculas, mesmo que sejam digitadas entre aspas.
Além de todas essas características, os sites de pesquisa permitem o uso de caracteres especiais (símbolos)
para refinar os resultados e comandos para selecionar o tipo de resultado da pesquisa. Nos concursos públicos,
esses são os itens mais questionados.
Ao contrário de muitos outros tópicos dos editais de concursos públicos, essa parte você consegue praticar até
no seu smartphone. Comece a usar os símbolos e comandos nas suas pesquisas na Internet e visualize os resulta-
dos obtidos.

SÍMBOLO USO EXEMPLO


Aspas duplas Pesquisa exata, na mesma ordem que forem digitados os termos “Nova Concursos”

Menos ou traço Excluir termo da pesquisa concursos –militares

Til (acento) Pesquisar sinônimos concursos ~públicos

Substituir termos na pesquisa, para pesquisar “inscrições encerra-


Asterisco inscrições *
das”, e “inscrições abertas”, e “inscrições suspensas” etc

Cifrão Pesquisar por preço celulares $1000

Dois pontos Intervalo de datas ou preço campeão 1980..1990

@Instagram
Arroba Pesquisar em redes sociais
novaconcursos

Hashtags Pesquisar nas marcações de postagens #informática

COMANDO USO EXEMPLO


site: Resultados de apenas um site livro site:www.uol.com.br
filetype: Somente um tipo de arquivo apostila filetype:pdf
define: Definição de um termo define:smtp
intitle: No título da página intitle:concursos
inurl: No endereço URL da página inurl:nova

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


time: Pesquisa o horário em determinado local time:japan
related: Sites relacionados related:uol.com.br
cache: Versão anterior do site cache:uol.com.br
link: Páginas que contenham link para outras link: novaconcursos
location: Informações de um determinado local location:méxico terremoto

Os comandos são seguidos de dois pontos e não possuem espaço com a informação digitada na pesquisa.
O site de pesquisas Google também oferece respostas para pedidos de buscas. O site Microsoft Bing oferece
mecanismos similares.
As possibilidades são quase infinitas, pois os assistentes digitais (Alexa, Google Assistent, Siri, Cortana) permi-
tem a pesquisa por voz. Veja alguns exemplos de pedidos de buscas nos sites de pesquisas.

PEDIDO USO EXEMPLO


traduzir ... para ... Google Tradutor traduzir maçã para japonês
lista telefônica:número Páginas com o telefone Lista telefônica:99999-9999
código da ação Cotação da bolsa de valores GOOG
clima localidade Previsão do tempo clima são paulo
código do voo Status de um voo (viagens) ba247 169
Os resultados apresentados pelas pesquisas do site z Modo Normal: sem estar conectado na conta Goo-
são filtrados pelo SafeSearch. O recurso procura filtrar gle, o navegador armazena localmente as informa-
os resultados com conteúdo adulto, evitando a sua ções da navegação para o perfil atual do sistema
exibição. Quando desativado, os resultados de conteú- operacional. Todos os usuários do perfil, poderão
do adulto serão exibidos normalmente. consultar as informações armazenadas;
z Modo Normal conectado na conta Google: o nave-
No Microsoft Bing, na página do buscador www.
gador armazena localmente as informações da
bing.com, acesse o menu no canto superior direito e
navegação e sincroniza com outros dispositivos
escolha o item Pesquisa Segura. conectados na mesma conta Google;
No Google, na página do site do buscador www. z Modo Visitante: o navegador acessa a Internet,
google.com, acesse o menu Configurações no can- mas não acessa as informações da conta Google
to inferior direito e escolha o item Configurações de registrada;
Pesquisa. z Modo de Navegação Anônima: o navegador aces-
sa a Internet e apaga os dados acessados quando a
janela é fechada.
Importante!
O navegador Google Chrome, quando conectado em
As bancas costumam questionar funcionalida- uma conta Google, permite que a exclusão do histórico
des do Microsoft Bing que são idênticas às fun- de navegação seja realizada em todos os dispositivos
cionalidades do Google Buscas, com o intuito conectados. Essa funcionalidade não estará disponível
de confundir os candidatos acerca do recurso caso não esteja conectado na conta Google.
questionado. Um dos atalhos de teclado diferente no Google
Chrome, em comparação aos demais navegadores,
é F6. Para acessar a barra de endereços nos outros
Para salvar uma página da Web, abra a janela navegadores, pressione F4. No Google Chrome, o ata-
“Salvar página como”. Essa função está disponível lho de teclado é F6.
em todos os navegadores web. Para abrir rapidamen- Para verificar a versão atualmente instalada do
te essa janela, pressione Ctrl+S ou faça o seguinte Chrome, acesse no menu a opção “Ajuda” e, depois,
procedimento: “Sobre o Google Chrome”. Se houver atualizações pen-
dentes, elas serão instaladas. Se as atualizações foram
instaladas, o usuário poderá reiniciar o navegador.
z Chrome: clique no botão Menu e selecione “Salvar
Caso o navegador seja reiniciado, ele retornará nos
página como”;
mesmos sites que estavam abertos antes do reinício,
z Internet Explorer: clique no botão da engrenagem,
com as mesmas credenciais de login.
selecione a opção “Arquivo” e, em seguida, clique
O Google Chrome permite a personalização com
em “Salvar como”. Caso não encontre a engrena- temas, que são conjuntos de imagens e cores combina-
gem, pressione Alt para exibir a barra de menu, das para alterar a visualização da janela do aplicativo.
clique em “Arquivo” e selecione “Salvar como”;
z Firefox: clique no botão Menu e selecione “Salvar Mozilla Firefox
página”.
O Mozilla Firefox é o navegador de Internet que, como
GOOGLE CHROME, FIREFOX, INTERNET EXPLORER os demais browsers, possibilita o acesso ao conteúdo
armazenado em servidores remotos, tanto na Internet
Google Chrome como na Intranet. É um navegador com código aber-
to, software livre, que permite download para estudo e
O navegador mais utilizado pelos usuários da modificações. Possui suporte ao uso de applets (comple-
Internet é oferecido pela Google, que mantém servi- mentos de terceiros), que são instalados por outros pro-
ços, como Buscas, E-mail (Gmail), vídeos (Youtube), gramas no computador do usuário, como o Java.
entre muitos outros. Uma das pequenas diferenças Oferece o recurso Firefox Sync, para sincronização
desse navegador em relação aos outros navegadores de dados de navegação, semelhante ao Microsoft Con-
é a tecla de atalho para acesso à Barra de Endereços, tas e Google Contas dos outros navegadores. Entretan-
que, nos demais, é F4 e, nele, é F6. Outra diferença é o to, caso utilize o modo de navegação privativa, esses
acesso ao site de pesquisas Google, que oferece a pes- dados não serão sincronizados.
quisa por voz se você acessar pelo Google Chrome. Assim como nos outros navegadores, é possível
Outro recurso especialmente útil do Chrome é o definir uma página inicial padrão, uma página inicial
Gerenciador de Tarefas, acessado pelo atalho de tecla- escolhida pelo usuário (ou várias páginas) e continuar
a navegação das guias abertas na última sessão.
do Shift+Esc. Quando guias ou processos do navegador
No navegador Firefox, o recurso Captura de Tela
não estiverem respondendo, o gerenciador de tarefas
permite copiar, para a Área de Transferência do com-
poderá finalizar, sem finalizar todo o programa.
putador, parte da imagem da janela que está sendo
Alguns recursos do navegador são “emprestados” acessada. A seguir, em outro aplicativo o usuário
do site de buscas, como a tradução automática de poderá colar a imagem capturada ou salvar direta-
páginas pelo Google Tradutor. mente pelo navegador.
É possível compartilhar o uso do navegador com Snippets fazem parte do navegador Firefox. Eles
outras pessoas no mesmo dispositivo, de modo que oferecem pequenas dicas para que você possa apro-
cada uma tenha as próprias configurações e arquivos. veitar ao máximo o Firefox. Também pode aparecer
O navegador Google Chrome possui níveis diferentes novidades sobre produtos Firefox, missão e ativismo
de acessos, que podem ser definidos quando o usuário da Mozilla, notícias sobre integridade da internet e
170 conecta ou não em sua conta Google. muito mais.
Microsoft Edge

Substituindo o Internet Explorer como navegador multiplataforma da Microsoft, padrão no Windows 10, atual-
mente é desenvolvido sobre o kernel (núcleo) Google Chromium, o que traz uma série de itens semelhantes ao Goo-
gle Chrome. Integrado com o filtro Microsoft Defender SmartScreen, permite o bloqueio de sites que contenham
phishing (códigos maliciosos que procuram enganar o usuário, como páginas que pedem login/senha do cartão
de crédito).
Outro recurso de proteção é usado para combater vulnerabilidades do tipo XSS (cross-site-scripting), que favo-
recem o ataque de códigos maliciosos ao compartilhar dados entre sites sem permissão do usuário. Ele substi-
tuiu o aplicativo Leitor, tornando-se o visualizador padrão de arquivos PDFs no Windows 10. Foram adicionados
recursos que permitem “Desenhar” sobre o conteúdo do PDF.
Além disso, mantém as características dos outros navegadores de Internet, como a possibilidade de instalação
de extensões ou complementos, também chamados de plugins ou add-ons, que permitem adicionar recursos espe-
cíficos para a navegação em determinados sites.
As páginas acessadas poderão ser salvas para acessar off-line, marcadas como preferidas em Favoritos, consul-
tadas no Histórico de Navegação ou salvas como PDF no dispositivo do usuário.
Coleções, no Microsoft Edge, é um recurso exclusivo que permite que a navegação inicie em um dispositivo
e continue em outro dispositivo logado na mesma conta Microsoft. Semelhante ao Google Contas, mas nomeado
como Coleções, no Edge, permite adicionar sugestões do Pinterest.
Outro recurso específico do navegador é a reprodução de miniaturas de vídeos ao pesquisar no site Microsoft
Bing (buscador da Microsoft).

CACHE E COOKIES

z Os cookies são arquivos criados pelos sites que você visita. Eles facilitam sua experiência on-line salvando
dados de navegação;
z O cache lembra partes de páginas, como imagens, para ajudar a abri-las mais rapidamente durante sua pró-
xima visita.

E-MAIL: UTILIZAÇÃO, CAIXAS DE ENTRADA, ENDEREÇOS, CÓPIAS E OUTRAS


FUNCIONALIDADES. WEBMAIL
O e-mail (Electronic Mail, correio eletrônico) é uma forma de comunicação assíncrona, ou seja, mesmo que o
usuário não esteja on-line, a mensagem será armazenada em sua caixa de entrada, permanecendo disponível até
ela ser acessada novamente.
O correio eletrônico (popularmente conhecido como e-mail) tem mais de 40 anos de existência. Foi um dos
primeiros serviços que surgiu para a Internet, mantendo-se usual até os dias de hoje.

PROGRAMA CARACTERÍSTICAS

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


O Mozilla Thunderbird é um cliente de e-mail gratuito com código aberto que poderá ser usado em
diferentes plataformas

O eM Client é um cliente de e-mail gratuito para uso pessoal no ambiente Windows e Mac. Facilmen-
te configurável. Tem a versão Pro, para clientes corporativos

O Microsoft Outlook, integrante do pacote Microsoft Office, é um cliente de e-mail que permite a inte-
gração de várias contas em uma caixa de entrada combinada

O Microsoft Outlook Express foi o cliente de e-mail padrão das antigas versões do Windows. Ainda
aparece listado nos editais de concursos, porém não pode ser utilizado nas versões atuais do siste-
ma operacional

Webmail. Quando o usuário utiliza um navegador de Internet qualquer para acessar sua caixa de
mensagens no servidor de e-mails, ele está acessando pela modalidade webmai

171
O Microsoft Outlook possui recursos que permitem Os protocolos de e-mails são usados para a troca
o acesso ao correio eletrônico (e-mail), organização de mensagens entre os envolvidos na comunicação. O
das mensagens em pastas, sinalizadores, acompanha- usuário pode personalizar a sua configuração, mas, em
mento e também recursos relacionados a reuniões e concursos públicos, o que vale é a configuração padrão,
compromissos. a qual foi apresentada neste material.
Os eventos adicionados ao calendário poderão ser SMTP (Simple Mail Transfer Protocol) é o Protocolo
enviados na forma de notificação por e-mail para os para Transferência Simples de E-mails usado pelo clien-
participantes. te de e-mail para enviar para o servidor de mensagens
O Outlook possui o programa para instalação no e entre os servidores de mensagens do remetente e do
computador do usuário e a versão on-line. A versão destinatário.
on-line poderá ser gratuita (Outlook.com, antigo Hot- POP3 ou apenas POP (Post Office Protocol 3) é o Pro-
mail) ou corporativa (Outlook Web Access – OWA, inte- tocolo de Correio Eletrônico usado pelo cliente de e-mail
grante do Microsoft Office 365). para receber as mensagens do servidor remoto, remo-
vendo-as da caixa de entrada remota.
IMAP4 ou IMAP (Internet Message Access Protocol) é
o Protocolo de Acesso às Mensagens via Internet, o qual
Usuário
é usado pelo navegador de Internet (sobre os protocolos
HTTP e HTTPS) na modalidade de acesso webmail, para
transferir cópias das mensagens para a janela do nave-
gador, mantendo as originais na caixa de mensagens do
@
servidor remoto.
Para acessar as mensagens armazenadas em um servidor de
e-mails, o usuário pode usar um cliente de e-mail ou o navegador de
Internet
Servidor Exchange Enviar e Receber Servidor Gmail
Formas de Acesso ao Correio Eletrônico SMTP

Enviar – SMTP
Podemos usar um programa instalado em nosso Enviar e Receber
dispositivo (cliente de e-mail) ou qualquer navegador Receber – POP3 IMAP4
de Internet para acessarmos as mensagens recebi-
das. A escolha por uma ou por outra opção vai além
da preferência do usuário. Cada forma de acesso tem Remetente Destinatário
Cliente
suas características e protocolos. Confira: Webmail

FORMA DE O remetente está usando o programa Microsoft Outlook (cliente)


CARACTERÍSTICAS para enviar um e-mail. Ele usa o seu e-mail corporativo (Exchange).
ACESSO
O e-mail do destinatário é hospedado no servidor Gmail e ele utiliza
Protocolo SMTP para enviar mensa- um navegador de Internet (webmail) para ler e responder os e-mails
gens e POP3 para receber. As men- recebidos.
Cliente de E-mail sagens são transferidas do servidor
para o cliente e são apagadas da Uso do correio eletrônico
caixa de mensagens remota
Protocolo IMAP4 para enviar e para Para utilizar o serviço de correio eletrônico, o
receber mensagens. As mensagens usuário deve ter uma conta cadastrada em um serviço
Webmail são copiadas do servidor para a ja- de e-mail. O formato do endereço foi definido inicial-
nela do navegador e são mantidas mente pela RFC822, redefinida pela RFC2822, e atuali-
na caixa de mensagens remota zada na RFC5322.

Dica
RFC é Request for Comments, um documento
de texto colaborativo que descreve os padrões
Servidor de e-mails
Servidor de e-mails de cada protocolo, linguagem e serviço para ser
usado nas redes de computadores.

De forma semelhante ao endereço URL para recur-


Receber IMAP4
Receber – POP3 sos armazenados em servidores, o correio eletrônico
também possui o seu formato.
Existem bancas organizadoras que consideram o
formato reduzido usuário@provedor, no enunciado
Usuário Usuário das questões, em vez do formato detalhado usuário@
provedor.domínio.país. Ambos estão corretos.

Cliente de e-mail Navegador de Internet

Usando o protocolo POP3, a mensagem é transferida para o


programa de e-mail do usuário e removida do servidor. Usando
o protocolo IMAP4, a mensagem é copiada para o navegador de
Internet e mantida no servidor de e-mails.
172
CAMPOS DE UM ENDEREÇO DE E-MAIL – USUÁRIO@ CAMPOS DE UMA MENSAGEM DE E-MAIL
PROVEDOR.DOMÍNIO.PAÍS CAMPO CARACTERÍSTICAS
COMPONENTE CARACTERÍSTICAS Identifica os destinatários da men-
sagem que receberão uma cópia do
Antes do símbolo de @, identifica um e-mail. CC é o acrônimo de Carbon
Usuário CC (com cópia ou
único usuário no serviço de e-mail Copy (cópia carbono)
cópia carbono)
Todos que receberem a mensagem
Significa AT (lê-se “em” ou “no”) e é usa- conhecerão os outros destinatários
do para separar a parte esquerda, que informados nesse campo
@ identifica o usuário, da parte a sua direi-
ta, que identifica o provedor do serviço Identifica os destinatários da men-
de mensagens eletrônicas sagem que receberão uma cópia do
BCC (CCO – com có- e-mail. BCC é o acrônimo de Blind
Imediatamente após o símbolo de @, pia oculta ou cópia Carbon Copy (cópia carbono oculta).
identifica a empresa ou provedor que ar- carbono oculta) Todos que receberem a mensagem
Nome do domínio mazena o serviço de e-mail (o servidor não conhecerão os destinatários infor-
de e-mail executa softwares como o mados nesse campo
Microsoft Exchange Server por exemplo)
Identifica o conteúdo ou título da men-
SUBJECT (assunto)
Identifica o tipo de provedor, por exem- sagem. É um campo opcional
plo: COM (comercial), .EDU (educa- Anexar Arquivo: Identifica o(s) arqui-
cional), REC (entretenimento), GOV vo(s) que está(ão) sendo enviado(s)
Categoria do
(governo), ORG (organização não gover- junto com a mensagem. Existem res-
domínio ATTACH (anexo)
namental) etc., de acordo com as defi- trições quanto ao tamanho do anexo e
nições de Domínios de Primeiro Nível tipo (executáveis são bloqueados pelos
(DPN) na Internet webmails). Não são enviadas pastas

Informação que poderá ser omitida, quan- O conteúdo da mensagem de e-mail


do o serviço está registrado nos Estados Mensagem poderá ter uma assinatura associada
País Unidos. O país é informado por duas letras, inserida no final
como: BR, Brasil; AR; Argentina; JP; Japão;
CN; China; CO; Colômbia; etc.
As mensagens enviadas, recebidas, apagadas ou
salvas estarão em pastas do servidor de correio ele-
Dica trônico, nominadas como “caixas de mensagens”.
A pasta Caixa de Entrada contém as mensagens
Quando o símbolo @ é usado no início, antes recebidas, lidas e não lidas.
do nome do usuário, identifica uma conta em A pasta Itens Enviados contém as mensagens efe-
rede social. Para o endereço URL do Instagram tivamente enviadas.
A pasta Itens Excluídos contém as mensagens
https://www.instagram.com/novaconcursos/, o
apagadas.
nome do usuário é @novaconcursos. A pasta Rascunhos contém as mensagens salvas e
não enviadas.
Ao redigir um novo e-mail, o usuário poderá preen- A pasta Caixa de Saída contém as mensagens que
cher os campos disponíveis para destinatário(s), título o usuário enviou, mas que ainda não foram transfe-
da mensagem, entre outros. Para enviar a mensagem, ridas para o servidor de e-mails. Semelhante ao que
é preciso que exista um destinatário informado em ocorre quando enviamos uma mensagem no app
um dos campos de destinatários. WhatsApp, mas estamos sem conexão com a Internet.
Se um destinatário informado não existir no servi- A mensagem permanece com um ícone de relógio
dor de e-mails do destino, a mensagem será devolvida. enquanto não for enviada.

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


Se a caixa de entrada do destinatário não puder rece- Lixo Eletrônico ou SPAM é um local para onde
ber mais mensagens, a mensagem será devolvida. Se são direcionadas as mensagens sinalizadas como
o servidor de e-mails do destinatário estiver ocupado, lixo. Spam é o termo usado para referir-se aos e-mails
a mensagem tentará ser entregue depois. não solicitados, que geralmente são enviados para
Conheça os elementos e seu papel na criação de um grande número de pessoas. Quando o conteúdo
é exclusivamente comercial, esse tipo de mensagem
uma nova mensagem de e-mail:
é chamado de UCE (do inglês Unsolicited Commercial
E-mail – e-mail comercial não solicitado). Essas men-
CAMPOS DE UMA MENSAGEM DE E-MAIL
sagens são marcadas pelo filtro AntiSpam e procuram
CAMPO CARACTERÍSTICAS identificar mensagens enviadas para muitos destina-
Identifica o usuário que está enviando tários ou com conteúdo publicitário irrelevante para
a mensagem eletrônica, o remetente. o usuário.
FROM (De)
É preenchido automaticamente pelo
sistema
Outras Operações com o Correio Eletrônico
Identifica o (primeiro) destinatário da
mensagem. Poderão ser especificados
vários endereços de destinatários nesse
O usuário poderá sinalizar as mensagens, tanto
campo e serão separados por vírgula as recebidas como as enviadas. Ele poderá solicitar
TO (Para)
ou ponto e vírgula (segundo o serviço). confirmação de entrega e confirmação de leitura. Vale
Todos que receberem a mensagem co- dizer que as mensagens recebidas podem ser impres-
nhecerão os outros destinatários infor- sas, ignoradas ou, ainda, podem ter seu código-fonte
mados nesse campo
exibido. 173
Confira, a seguir, operações extras para o uso do correio eletrônico com mais habilidade e profissionalismo,
facilitando a organização do usuário.

Ação e Características

z Alta prioridade: Quando marca a mensagem como Alta Prioridade, o destinatário verá um ponto de exclama-
ção vermelho no destaque do título;
z Baixa prioridade: Quando o remetente marca a mensagem como Baixa Prioridade, o destinatário verá uma
seta azul apontando para Baixo no destaque do título;
z Imprimir mensagem: O programa de e-mail ou navegador de Internet prepara a mensagem para ser impressa,
sem as pastas e opções da visualização do e-mail;
z Ver código fonte da mensagem: As mensagens possuem um cabeçalho com informações técnicas sobre o e-mail
as quais podem ser visualizadas pelo usuário;
z Ignorar: Disponível no cliente de e-mail e em alguns webmails, ao ignorar uma mensagem, as próximas men-
sagens recebidas do mesmo remetente serão excluídas imediatamente ao serem armazenadas na Caixa de
Entrada;
z Lixo Eletrônico: Sinalizador que move a mensagem para a pasta Lixo Eletrônico e instrui o correio eletrônico
para fazer o mesmo com as próximas mensagens recebidas daquele remetente;
z Tentativa de Phishing: Sinalizador que move a mensagem para a pasta Itens Excluídos e instrui o serviço
de e-mail sobre o remetente da mensagem estar enviando links maliciosos que tentam capturar dados dos
usuários;
z Confirmação de Entrega: O servidor de e-mails do destinatário envia uma confirmação de entrega, informando
que a mensagem foi entregue na Caixa de Entrada dele com sucesso;
z Confirmação de Leitura: O destinatário pode confirmar ou não a leitura da mensagem que foi enviada para ele.

A confirmação de entrega é independente da confirmação de leitura. Quando o remetente está elaborando


uma mensagem de e-mail, ele poderá marcar as duas opções simultaneamente. Se as duas opções forem mar-
cadas, o remetente poderá receber duas confirmações para a mensagem que enviou, sendo uma do servidor de
e-mails do destinatário e outra do próprio destinatário.

Servidor Exchange Servidor Gmail


Enviar e-mail
com confirmação O servidor confirma a
de entrega entrega do e-mail na caixa
de entreda do destinatário

Recebendo a
confirmação de entrega

Destinatário
Webmail
Remetente
Cliente

Quando uma mensagem é enviada com Confirmação de Entrega, o remetente recebe a confirmação do servidor de e-mails do destinatário,
informando que ela foi armazenada corretamente na Caixa de Entrada do e-mail do destinatário.

Enviar e-mail

Servidor Exchange Servidor Gmail


Enviar e-mail
com confirmação O destinatário
de leitura confirma a leitura
da mensagem
Recebendo a
confirmação de leitura

Remetente Destinatário
Cliente
Webmail

Quando uma mensagem é enviada com Confirmação de Leitura, o destinatário poderá confirmar (ou não) que fez a leitura do conteúdo do
e-mail.

174
TRANSFERÊNCIA DE ARQUIVOS E DADOS: UPLOAD, DOWNLOAD, BANDA,
VELOCIDADES DE TRANSMISSÃO
A transferência de informação e arquivos baseia-se no paradigma cliente-servidor. As informações armazena-
das em servidores são transferidas para os clientes, como na internet. Um servidor web hospeda arquivos que são
transferidos para um cliente web (browser ou navegador) acionado pelo usuário.

Servidor web
Servidor e-maill Servidor FTP Servidor VoIP

Cliente Web Cliente e-maill Cliente FTP Cliente VoIP

Todas as redes utilizam os mesmos protocolos, linguagens e serviços.


Alguns dos principais protocolos de transferência de arquivos são:

z HTTP (Hyper Text Transfer Protocol): Protocolo de transferência de hipertextos;


z HTTPS (Hyper Text Transfer Protocol Secure): Protocolo seguro de transferência de hipertextos;
z FTP (File Transfer Protocol): Protocolo de transferência de arquivos;
z SMTP (Simple Mail Transfer Protocol): Protocolo simples de transferência de e-mail.

A conexão de banda larga oferece altas taxas de envio (upload) e recebimento (download), sendo balanceada
pela operadora de telefonia.
A conexão dedicada oferece altas taxas de envio e recebimento em valores contratados e fixos.
Quando uma pessoa envia um arquivo de seu computador para um site na internet, a operação de transferên-
cia que está sendo executada é conhecida como upload.
Quando uma pessoa recebe um arquivo em seu computador proveniente de um site na internet, a operação de
transferência que foi executada é conhecida como download.
A transferência de dados poderá ser com o protocolo TCP, que possui controle da transmissão e retransmite
em caso de erro no pacote de dados, e com o protocolo UDP, que não possui conexão contínua e não faz retrans-
missão em caso de erro.
O TCP é usado nos sites de internet e o UDP é usado em transmissões ao vivo.
Quando enviamos ou recebemos informações da rede mundial, a taxa de transferência é um índice que infor-

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


ma a velocidade de transmissão e o tempo necessário para conclusão. A velocidade poderá ser informada em B/s
(bytes por segundo), KB/s (kilobytes por segundo), MB/s (megabytes por segundo), GB/s (gigabytes por segundo) etc.
Uma forma comum é medir em bits por segundo; para converter em bytes, basta dividir por 8. Por exemplo: a
taxa de 80 Mbps (80 megabits por segundo) é o mesmo que 10 MB/s (10 megabytes por segundo). A taxa de 1 GB/s
(1 gigabyte por segundo) é o mesmo que 8 Gbps (8 gigabits por segundo).

Abri quando estiver concluído


Sempre abrir arquivos deste tipo

Pausar
Mostrar na pasta

Cancelar
13563. zip
4,6/102 Mb, 3 minutos restantes

ENVIO DE ARQUIVOS COMPACTADOS

O envio de arquivos pela internet poderá apresentar limitação quanto ao tamanho da informação ou quanto
ao tempo que será dedicado para a transferência. Os e-mails, por exemplo, enviam arquivos anexos, mas com
limite de tamanho. 175
Uma das formas mais práticas para o envio de arquivos grandes é compactar em um formato ZIP ou RAR. A
compactação do arquivo reduz o seu tamanho; depois disso, em muitos casos, será possível anexar no e-mail.
Arquivos que, ainda depois de compactados, são maiores que o limite do e-mail, podem ser divididos em partes
e enviados separadamente. Entretanto, assim, quem envia tem mais trabalho para montar o arquivo compactado
separado e, do outro lado, o destinatário terá o mesmo problema para montar o arquivo com as partes recebidas.
Existem sites na internet que permitem o envio de arquivos grandes, sem ser por anexo de e-mail. Por exemplo:
o Microsoft OneDrive trabalha junto com o Hotmail (Outlook). Quando tentamos enviar um arquivo muito grande
por e-mail, o Hotmail sugere armazenar o arquivo na nuvem do OneDrive, e segue para o destinatário um link de
acesso ao arquivo.

Como deseja compartilhar estes arquivos?


i Estes arquivos são muito grandes para serem enviados como anexos. O tamanho máximo que você pode enviar é de 33 MB. Tente compartilhar com OneDrive.

Carregar e compartilhar como links do OneDrive


Carregue para a pasta Anexos de email no seu OneDrive, para que qualquer pessoa possa ver as alterações mais recentes e trabalhar em conjunto em tempo real

Anexar Como uma Cópia


Os destinatários recebem uma cópia para revisão

Lembrar da minha escolha para arquivos do meu computador e anexá-los da mesma forma no futuro i

O Google Drive (que está mudando de nome para Google One) trabalha com o Gmail. Assim como no Hotmail,
ao tentar enviar um anexo muito grande pelo Gmail, ele sugere armazenar o arquivo na nuvem do Google, e segue
para o destinatário um link de acesso ao arquivo.

x
Anexando os arquivos
Seus arquivos tem mais de 25 MB. Eles serão enviados como links do Google Drive.

01 Informática de Concursos... 21.7M x

02 Informática de Concursos... 15.7M x

Cancelar

As aplicações multimídia utilizam o fluxo de dados com áudio, vídeo e metadados.


Os metadados são usados para diferentes funções, como identificação da fonte, dados sobre duração da trans-
missão, verificação da qualidade etc. Quando usados separadamente, o usuário pode baixar apenas o áudio de
um vídeo, ou modificar os metadados do MP3 para exibir as informações editadas sobre autor, disco, nome da
música etc.
Os fluxos de dados devem ser analisados na forma de contêiner (pacote encapsulado), a fim de mensurar a
qualidade e quantidade de dados trafegados.
Stream é um fluxo de dados com pacotes de vídeo e áudio transferidos de um servidor remoto para o disposi-
tivo local. Popularizado pelo serviço Netflix de filmes e séries, o formato stream fragmenta o conteúdo em pacotes
de dados para serem enviados pelo canal com protocolos TCP. Esses pacotes de dados são os contêineres.

A transferência de arquivos poderá ser realizada de três formas:

z Fluxo contínuo;
z Modo blocado;
z Modo comprimido.

176
Na transferência por fluxo contínuo, os dados são I. Arquivos downloaded pelo navegador;
transmitidos como um fluxo contínuo de caracteres. II. Cookies;
III. Histórico de navegação;
IV. Imagens e arquivos armazenados no cache do navegador;
V. Páginas gravadas pelo comando “salvar como...”.

No caso do Chrome, especificamente, as opções ofe-


recidas na limpeza de dados de navegação cobrem,
dessa lista, apenas os casos:

a) I, II, IV, V;
b) I, III, V;
c) II, III, IV;
No modo blocado, o arquivo é transferido como
d) II, III, V;
uma série de blocos precedidos por um cabeçalho
e) III, IV, V.
especial. Esse cabeçalho é constituído por um conta-
dor (2 bytes) e um descritor (1 byte).
3. (FGV — 2019) O Chrome é um dos navegadores mais
utilizados na Internet, e oferece uma operação pela
qual uma página é “adicionada às favoritas”. Conside-
re as seguintes afirmativas sobre essa operação.

I. A página é gravada localmente e, quando resgatada


da lista de favoritas, exibe sempre o mesmo conteú-
do original. Eventuais alterações ocorridas poste-
riormente na página de origem não são levadas em
consideração.
II. Na lista de favoritas, cada página é identificada pelo
seu título original. Não é possível armazená-la sob um
nome diferente, escolhido pelo operador.
No modo comprimido, a técnica de compressão III. A lista de favoritas pode ser organizada com a ajuda
utilizada caracteriza-se por transmitir uma sequência de pastas e subpastas.
de caracteres iguais repetidos. Os dados normais, os
dados comprimidos e as informações de controle são Está correto somente o que se afirma em:
os parâmetros dessa transferência.
a) I;
b) II;
c) III;
d) I e II;
e) II e III.

4. (FGV — 2019) O Pincel de Formatação disponível na


guia Página Inicial do MS Word 2010 destina-se a:

a) copiar a formatação de um trecho e aplicá-la a outro;


b) preencher uma forma desenhada com uma determi-

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


nada cor;
c) colorir o fundo de um parágrafo;
d) criar desenhos a partir do movimento do mouse;
d) colorir as células de uma tabela.
HORA DE PRATICAR!
5. (FGV — 2019) João está preparando um documento
1. (FGV — 2021) Nas configurações do Google Chrome, no MS Word 2010 BR que foi organizado em capítu-
na seção de Privacidade e Segurança, a opção Limpar los. A numeração de páginas deve ser contínua a par-
dados de navegação não permite remover: tir da página 1, e cada novo capítulo deve iniciar numa
nova página, de número ímpar.
a) arquivos provenientes de download; Para obter esse efeito de modo automático, João
b) cookies e outros dados do site; deve, para cada capítulo, usar uma quebra de:
c) histórico de download;
d) histórico de navegação; a) cabeçalho;
e) imagens e arquivos armazenados no cache. b) coluna;
c) página;
2. (FGV — 2019) O navegador Google Chrome é ampla- d) rodapé;
mente utilizado e, como seus similares, oferece a e) seção.
possibilidade de limpar dados de navegação que são
acumulados ao longo do uso.Considere a lista a seguir. 6. (FGV — 2019) Observe, a seguir, um trecho do docu-
mento que está sendo editado por Maria no MS Word
2010 BR. O maior time do mundo. 177
Nesse trecho, Maria realizou as operações que maiúsculas. Quando Maria, sua irmã, viu João fazer
seguem, na ordem: isso, deu-lhe a seguinte dica:
– João, para que todas as letras do título do seu texto
0. Pressionou a opção Controlar Alterações na guia apareçam em maiúsculas, pressione apenas uma vez
Revisão; a tecla:
1. Selecionou a palavra “time”;
2. Pressionou a tecla “Delete”; a) Page Up;
3. Digitou a palavra “herói”, seguida de um espaço; b) Tab;
4. Selecionou a palavra “maior”; c) Ctrl;
5. Clicou no ícone “N” de negrito na guia Página Inicial; d) Scroll Lock;
6. Clicou no ícone “Desfazer digitação” na Barra de e) Caps Lock.
Ferramentas de Acesso Rápido (no alto da tela, à
esquerda). 11. (FGV — 2020) No contexto da segurança em redes de
computadores, o termo firewall pode ser considerado
Realizadas essas operações, o trecho é exibido como: uma espécie de:

a) O maior time herói do mundo. a) mecanismo de autenticação;


b) O maior herói do mundo. b) programa de transferência de arquivos seguro;
c) O maior time herói do mundo. c) mecanismo que verifica e bloqueia spam de correio
d) O maior time do mundo. eletrônico;
e) O maior do mundo. d) antivírus, que pesquisa os arquivos em busca de pro-
gramas malignos;
7. (FGV — 2021) No Windows 10, o Gerenciador de Tare- e) filtro, que restringe o tráfego de mensagens com sites
fas permite o monitoramento da utilização de recur- e outros recursos.
sos do sistema em termos de utilização e atividade.
A lista que contém apenas recursos monitorados por 12. (FGV — 2021) Nas vendas do varejo, o termo impres-
meio da guia Desempenho é: sora multifuncional refere-se aos equipamentos que,
além de imprimir, permitem
a) Arquivos, CPU, Energia, Firewall;
b) Arquivos, CPU, Energia, Memória virtual; a) copiar e ler códigos de barras.
c) CPU, Disco, Ethernet, Memória; b) escanear e copiar documentos.
d) Disco, Ethernet, Memória, Impressão; c) escanear e ler códigos de barras.
e) Disco, Firewall, Ethernet, Memória. d) comunicação remota por meio de Wi-Fi.
e) operar com múltiplos graus de resolução.
8. (FGV — 2019) Um usuário tem rodando em sua
máquina o Windows 10 BR com somente o pacote 13. (FGV — 2019) Assinale a opção que contém somente
de idioma Português (Brasil) instalado. Em viagem dispositivos que podem ser utilizados para carga do
aos Estados Unidos, este usuário adquiriu um novo sistema operacional.
teclado para o computador, mas, ao retornar e instalar
o novo teclado, ao pressionar a tecla ponto e vírgula a) Disco óptico, disco rígido e pen drive.
surge na tela uma cedilha. b) Disco óptico, pen drive e plotter.
Para solucionar esse problema o usuário deve c) Disco óptico, pen drive e scanner.
d) Disco rígido, plotter e scanner.
a) adicionar o teclado apropriado nas Opções de Idioma e) Pen drive, plotter e scanner.
do Português (Brasil).
b) alterar o idioma de exibição do Windows. 14. (FGV — 2019) O texto a seguir foi utilizado no LibreOf-
c) instalar um adaptador de teclado na porta USB. fice Writer para gerar uma tabela por meio do recurso
d) baixar um novo driver para o teclado da página do “Converter de texto para tabela”.
fabricante.
e) instalar um novo pacote de idiomas e, em seguida, Fundo;mar/19;abr/19
alterar o idioma de exibição do Windows. Devant Solidus Cash;0,50%;0,48%
AF Invest Geraes 30;0,63%;0,54%
9. (FGV — 2019) O uso de estilos no MS Office 2016 BR Quasar Advantage FIRF LP;0,53%;0,47%
permite ARX Hedge Deb Inc;0,52%;0,43%

a) alterar rapidamente a formatação de partes de um A tabela resultante é mostrada a seguir.


documento baseadas em um mesmo estilo.
b) aplicar um conjunto predefinido de cores, fontes Fundo mar/19 abr/19
e plano de fundo aos slides de um documento do Devant Solidus Cash 0,50% 0,48%
PowerPoint.
AF Invest Geraes 30 0,63% 0,54%
c) controlar todas as alterações feitas em um documento.
d) inserir um índice de autoridades no documento. Quasar Advantage FIRF LP 0,53% 0,47%
e) utilizar conteúdo e elementos de design como ponto ARX Hedge Deb Inc 0,52% 0,43%
de partida para criar um documento.
A opção do diálogo “Converter texto em tabela” utiliza-
10. (FGV — 2019) Em sua casa, ao digitar um documen- da foi:
to, João manteve a tecla SHIFT pressionada para que
178 todas as letras do título do texto aparecessem em a) Separar texto em: Tabulações.
b) Separar texto em: Ponto e vírgula. 20. (FGV — 2021) João preparou uma planilha que con-
c) Separar texto em: Parágrafo. tém, nas colunas F e G, uma lista de códigos e nomes
d) Separar texto em: Outra (espaço em branco). correspondentes. Os códigos das células F6, F7 e F8
e) Separar texto automaticamente.
são M001, M010 e M999, respectivamente. Nas célu-
las G6, G7 e G8, os nomes são Pedro, João e Maria,
15. (FGV — 2021) As planilhas eletrônicas MS Excel e
LibreOffice Calc permitem a especificação de fórmu- respectivamente.
las que incluem referências às células. João deseja construir uma fórmula na célula A12 de
Nesse contexto, a fórmula localizada na célula A1 que modo que nesta seja exibido o nome correspondente
estaria indevidamente construída é: ao código que tenha sido digitado na célula A11. Essa
fórmula deve ser:
a) =soma(X1; D2:E4)
b) =soma(B1; Y2; T3; 10) a) =PROCH(A11;F6:F8;2;0)
c) =soma(10;20)
b) =PROC(A11;F6:G8;2;0)
d) =soma(Z12:X10)
e) =A10 c) =PROC(F6:G8;2,A11)
d) =PROCV(A11;F6:G8;2;0)
16. (FGV — 2020) Certificados Eletrônicos, no Brasil, são e) =PROCV(F6:G8;2; A11;0)
emitidos:
9 GABARITO
a) por autoridades certificadoras;
b) pela Receita Federal;
c) pela Polícia Federal; 1 A
d) pelas prefeituras;
e) pelos cartórios. 2 C

17. (FGV — 2021) Matheus está preparando um volumo- 3 C


so relatório no MS Word, no qual os cabeçalhos são 4 A
diferentes entre si em pelo menos dez trechos do
documento. 5 E
O recurso de edição que permite preparar o texto des-
sa forma é: 6 C

7 C
a) formatação condicional;
b) inserção de formas; 8 A
c) pincel de formatação;
d) quebras de seção; 9 A
e) referência cruzada.
10 E
18. (FGV — 2021) No contexto das interfaces de servido- 11 E
res de e-mail, assinale a opção que descreve correta-
mente o significado do termo rascunho. 12 B

a) Uma mensagem deletada. 13 A


b) Uma mensagem caraterizada como spam. 14 B
c) Uma mensagem que ainda não foi enviada.
d) Uma mensagem contendo pendências ortográficas. 15 D

CONHECIMENTOS BÁSICOS DE INFORMÁTICA


e) Uma mensagem recebida que tenha sido marcada
como no reply. 16 A

17 D
19. (FGV — 2021) Uma prática comum no MS Excel é a
definição de intervalos de células para uso em fórmu- 18 C
las. Nesse contexto, considere os intervalos exibidos
a seguir, definidos de acordo com a notação usada no 19 D
MS Excel. 20 D

B3:D9
C5:$C$7
A6:E6
A$1:G10 ANOTAÇÕES
Assinale o intervalo de células que está incluído em
todos os intervalos acima.

a) A6:C6
b) B5:D6
c) B:C6
d) C6:C6
e) C5:C7 179
ANOTAÇÕES

180
Note que, a constituição ao determinar o direito à
vida, possui dois aspectos, direito à integridade física
e psíquica.
Importante mencionar que o STF já se posicionou

NOÇÕES DE DIREITO
sobre gravidez de feto anencéfalo, decidindo, em
julgamento de grande repercussão, que não constitui
crime a interrupção da gravidez nestes casos. Ainda, o
CONSTITUCIONAL julgamento somente autorizou a interrupção da gravi-
dez de feto portador de anencefalia, não se estenden-
do a nenhuma outra deficiência.1
É importante ressaltar também que o STF decidiu
DOS DIREITOS E GARANTIAS pela legitimidade da realização de pesquisas com
a utilização de células-tronco2 embrionárias, obti-
FUNDAMENTAIS das de embriões humanos produzidos por fertilização
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,
atendidas as condições estipuladas no art. 5º da Lei
Os direitos fundamentais estão localizados no títu- 11.105, de 25 de março de 2005, que estabelece as
lo II da CF/88, do art. 5º ao art. 17, e estão classifica- normas de segurança e maneiras de fiscalização das
dos em cinco grupos: direitos individuais e coletivos, atividades que envolvam organismos geneticamen-
direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos te modificados. Nesse sentido, o STF considerou que
políticos e direitos relacionados à existência, organi- as mencionadas pesquisas não violam direito à vida,
zação e participação em partidos políticos. vejamos o dispositivo mencionado:
Também são classificados em três dimensões de
direito, pois surgiram em épocas diferentes.
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia,
DIREITOS DIREITOS DIREITOS a utilização de células-tronco embrionárias obtidas
FUNDAMENTAIS FUNDAMENTAIS FUNDAMENTAIS de embriões humanos produzidos por fertilização
DE 1º DIMENSÃO DE 2º DIMENSÃO DE 3º DIMENSÃO in vitro e não utilizados no respectivo procedimen-
to, atendidas as seguintes condições:
Direitos civis e po- Direitos sociais, eco-
Fraternidade I – sejam embriões inviáveis; ou
líticos nômicos e culturais
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou
mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já
Conforme prevê o art. 5º da CF/88 todos são iguais congelados na data da publicação desta Lei, depois
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, de completarem 3 (três) anos, contados a partir da
garantindo aos brasileiros direito à vida, à liberdade, data de congelamento.
à igualdade, à segurança e à propriedade. § 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimen-
to dos genitores.
Direito à Vida § 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde
que realizem pesquisa ou terapia com células-tron-
A Constituição protege a vida, extrauterina e co embrionárias humanas deverão submeter seus
intrauterina – neste caso, com a proibição do aborto. projetos à apreciação e aprovação dos respectivos
Entretanto, o art. 128 do Código Penal prevê a autori- comitês de ética em pesquisa.
zação do aborto como exceção em duas hipóteses; são § 3º É vedada a comercialização do material bioló-
elas como único meio para salvar a vida da mulher e gico a que se refere este artigo e sua prática implica
no caso de gravidez resultante de estupro. o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434, de 4 de
fevereiro de 1997.
Art. 128 Não se pune o aborto praticado por
médico:
Importante!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
z Aborto Necessário
As decisões do STF também são objeto de ques-
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; tionamento em provas.

z Aborto no Caso de Gravidez Resultante de


Direito à Liberdade
Estupro
Trata-se de direito fundamental de primeira
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando dimensão, ou seja, são os direitos fundamentais que
incapaz, de seu representante legal estão ligados ao valor liberdade, sendo eles: os direi-
tos civis e os direitos políticos.
Subentende-se direito à saúde, na vedação à pena Liberdade de pensamento, prevista no inciso IV
de morte, proibição do aborto e, por fim, direito às da CF, determina a livre manifestação do pensamento,
condições mínimas necessárias para uma existência porém, é importante se atentar à parte final do inciso,
digna, conforme também prevê o princípio da digni- que veda o anonimato, por exemplo: um indivíduo vai
dade da pessoa humana, apresentado no inciso III, até uma manifestação nas ruas com panos no rosto e
art. 1° da CF/88. comete atos ilícitos (como furto).
1 ADPF 54/DF Min Marco Aurélio, julgado em 11.04.2012, DJe 24.04.2013.
2 ADI 3.510/DF, rel. Min. Carlos Brito, julgamento em 29.05.2008, DJe em 05.06.2008 181
Questão muito cobrada em provas. No caso da Covid-19, em 18 de março de 2020, foi
Ainda sobre a liberdade de pensamento, é impor- aprovado pelo Congresso Nacional o decreto que colo-
tante mencionar que no Brasil a denúncia anônima ca o país em estado de calamidade pública, tendo em
é permitida. Contudo, o poder público não pode ini- vista a situação excepcional de emergência de saúde.
ciar o procedimento formal tendo como base única Para você entender melhor, vamos estudar por etapas.
uma denúncia anônima.
O STF considerou desnecessária a utilização O que é Calamidade Pública?
de diploma de jornalismo e registro profissional no
Ministério do Trabalho como condição para o exercí- O dicionário Aurélio assim define calamidade:
cio da profissão de jornalista, pois tem na sua essên- “desgraça pública; grande infortúnio; catástrofe”. Ou
cia a manifestação do pensamento.3 seja, é um estado anormal resultante de um desastre
Liberdade de consciência e crença está localiza- de natureza, pandemia ou até financeiro, situações
em que o Governo Federal deve intervir nos outros
do nos incisos VI, VII e VIII do art. 5º da CF. É impor-
Entes Federativos (entenda entes: Estados - DF e Muni-
tante mencionar que o Brasil não tem religião oficial,
cípios) para auxiliar no combate à situação.
sendo considerado um Estado laico que tem como
Conforme o Governo Federal, o reconhecimento
base o pluralismo político.
do estado de calamidade pública estava previsto para
durar até 31 de dezembro de 2020, prologando-se
Art. 5° [...]
até o início de 2021. Ele é necessário “em virtude do
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
monitoramento permanente da pandemia Covid-19,
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cul-
da necessidade de elevação dos gastos públicos para
tos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote-
proteger a saúde e os empregos dos brasileiros e da
ção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
perspectiva de queda de arrecadação”.4
assistência religiosa nas entidades civis e militares
Entenda a explicação sobre calamidade pública:
de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por moti- z D ecretado estado de Calamidade Pública, através
vo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou de aprovação das duas casas: Senado Federal e
política, salvo se as invocar para eximir-se de obri- Câmara dos Deputados. Permite que o Executivo
gação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir gaste mais do que o previsto e desobedeça às metas
prestação alternativa, fixada em lei; fiscais para custear ações de combate à pandemia;
z O Governo Federal já pode determinar quais medi-
Liberdade de locomoção, localizado no inciso das de apoio serão tomadas, com base na lei com-
XV da CF, é um tópico muito importante e está ligado plementar 101/2020;
ao direito de ir e vir. Esse não é um direito absolu- z Governo Federal poderá:
to, pois temos os casos de prisão previstos na lei, ou
„ Liberar recursos; enviar defesa civil militar;
seja, as diversas situações em que prisões são necessá-
enviar kits emergenciais.
rias deixam claro que o direito a locomoção não é um
direito absoluto.
z Estados podem:
Atualidade! Direito de Ir e Vir x Coronavírus
„ Parcelar dívidas; atrasar execução de gastos;
(Covid-19)
não precisa fazer licitações.

Aqui temos um tema muito comentado, o isola- Agora que entendemos como funciona o estado
mento, ou seja, a proibição das pessoas de abrirem de calamidade pública, vamos à análise do direito de
suas próprias empresas, de permanecerem em pra- locomoção que foi restringido.
ças, lugares públicos, isto é, seu direito de ir e vir limi- Primeiramente, é importante mencionar que
tado. Entenda: nenhum direito fundamental pode ser considerado
absoluto (quando dizemos isso, significa que esse
Somente grupo de risco deve
direito pode ser violado, desde que se cumpra
ficar isolado em casa. (idosos alguns requisitos), e a proporcionalidade de cada
Vertical
e pessoas com problemas de situação deve ser observada.
saúde)
O interesse da coletividade deve ser sempre
Isolamento observado e ter preferência em relação ao direito
do particular, com o objetivo de aplicar o denomina-
Toda população deve ficar do princípio da supremacia do interesse público
Horizontal isolada em casa e empresas
fechadas sobre o particular, que inclusive é um dos principais
princípios do direito administrativo.
Aqui cabe mencionar também o art. 196 da CF, que
Se o direito à liberdade de locomoção é um direito prevê o direito à saúde como sendo um dever do Esta-
fundamental de ir e vir, pode-se proibir que a pessoas do (no sentido de nação politicamente organizada, ou
se locomovam? Mas e a constituição? seja, é um dever do País/Governo Federal).
3 STF RE/511961, Min. Gilmar Mendes, 17.06.2009.
4 Disponível em <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/notas-oficiais/2020/copy_of_nota-a-imprensa> Acesso em: 10 out
182 2020.
Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Esta- z Igualdade na Lei x Igualdade Perante a Lei
do, garantido mediante políticas sociais e econômi-
cas que visem à redução do risco de doença e de A igualdade na lei obriga o legislador a tratar
outros agravos e ao acesso universal e igualitário todos da mesma forma ao criar as normas; já a igual-
às ações e serviços para sua promoção, proteção e dade perante a lei significa que quem administra o
recuperação. Estado também deve observar o princípio da igual-
dade, por exemplo, o poder executivo ao adminis-
Ainda, cabe mencionar o princípio da propor- trar e o poder judiciário ao julgar. Importante frisar
cionalidade, que tem como finalidade equilibrar os que o princípio da igualdade também tem efeitos aos
direitos individuais com os da sociedade, exatamente particulares.
como no caso que aqui estamos analisando.
Ou seja, no caso em tela, pode-se proibir, confor- z Igualdade Formal x Igualdade Material
me os requisitos demonstrados na situação atual para
provas: direito de ir e vir é um direito fundamen- A igualdade formal, também chamada de igual-
tal, mas fique atento: não é um direito absoluto! No dade jurídica, significa que todos devem ser tratados
caso da violação desse direito em face do covid-19, da mesma forma. Já a igualdade material significa
foi observado o princípio da proporcionalidade tratar igual os iguais e os desiguais com desigualda-
e o princípio da supremacia do interesse público de, na medida de suas desigualdades, ou seja, é uma
sobre o particular. forma de proteção a certos grupos sociais, certos gru-
Lembrando que o desrespeito a qualquer medida pos de pessoas que foram discriminadas ao longo da
imposta configura como crime contra a saúde públi- história do Brasil. Isso ocorre por meio das chamadas
ca prevista no art. 268 do código penal, que pune cri- ações afirmativas, que visam, por meio da política
minalmente a conduta de “infringir determinação do pública, reduzir os prejuízos.
poder público, destinada a impedir introdução ou pro- Por exemplo, temos o sistema de cotas para os
pagação de doença contagiosa”. afrodescendentes nas universidades públicas. Sobre
A liberdade de reunião, prevista no inciso XVI o tema, o STF já se posicionou pela constitucionalida-
do art. 5º da CF, deve ser pacífica e sem armas, bem de, e a decisão foi tomada no julgamento do Recurso
como não deve frustrar outra reunião anteriormente Extraordinário (RE 597.285), com repercussão geral,
convocada para aquele local. Tem preferência quem em que um estudante questionava os critérios adota-
avisar primeiro, chamado o aviso prévio à autoridade dos pela UFRGS para reserva de vagas.5
competente, o que é diferente de autorização, pois a
z Igualdade nos Concursos Públicos
reunião não depende de autorização.
Liberdade de associação tem previsão no inci-
Tem como base o também chamado princípio da
so XVII até o XXI do art. 5º da CF. É importante men-
isonomia, o qual deve ser rigorosamente observado
cionar que todos esses incisos já foram cobrados em
sob pena de nulidade da prova a ser realizada pelo
provas em geral. Cuidado com o texto constitucional,
respectivo concurso público.
como por exemplo:
Entretanto, alguns concursos exigem, por exem-
plo, idade, altura etc. Note que todas as exigências
Art. 5º [...]
contidas no edital que façam distinção entre as pes-
XVII - é plena a liberdade de associação para fins
soas somente serão lícitas e constitucionais desde
lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
que preencham dois requisitos:
A expressão “plena”, utilizada no dispositivo, tem
„ Deve estar previsto em lei – igualdade formal;
o mesmo sentido de ser considera livre a liberdade de
„ Deve ser necessário ao cargo.
associação, desde que para fins lícitos.
Por conseguinte, o texto constitucional prevê a
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Como por exemplo, concurso para contratação de
possibilidade de criação de associações e cooperati-
agente penitenciário para presídio feminino e o edi-
vas, independente de autorização. Ainda, só pode-
tal constar que é permitido somente mulheres para
rão ser dissolvidas ou ter suspensas as atividades
investidura do cargo.
por decisão judicial. Ninguém pode ser obrigado a
Exemplo muito comentado também é sobre a proi-
associar-se ou permanecer associado. Por fim, o tex- bição de tatuagem contida nos editais de concurso
to constitucional autoriza, desde que expressamente público. Sobre o tema o STF assim entendeu:
autorizada, a representação dos associados pelas enti-
dades associativas. Editais de concurso público não podem estabelecer
restrição a pessoas com tatuagem, salvo situa-
Igualdade ções excepcionais, em razão de conteúdo que vio-
le valores constitucionais.6
Princípio da igualdade, previsto também no caput
do art. 5º da CF, é muito importante, e, deste princípio, Entenda: como situação excepcional tatuagem que
inúmeros outros decorrem diretamente, conforme viole os princípios constitucionais e os princípios do
veremos a seguir. Estado brasileiros. Ex.: Tatuagem de suástica nazista.
5 RE 597285, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 09.05.2012, DJe 21.05.2012.
6 Recurso Extraordinário 898450. 183
z União Estável Homoafetiva
Importante!
Tema muito comentado e, em 2011, o STF se posi- Memorize que como dia entende-se o período
cionou sobre o reconhecimento da união estável para das 6h às 18h.
casais do mesmo sexo, decisão tomada sob o argumen-
to que o inciso IV, art. 3° da CF veda qualquer discri-
minação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse Note que existem exceções à inviolabilidade: fla-
sentido, ninguém pode ser diminuído ou discrimi- grante delito, desastre, prestação de socorro e deter-
nado em função de sua orientação sexual. “O sexo minação judicial. Convém lembrar também que, de
das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta acordo com o magistério jurisprudencial do STF, o
para desigualação jurídica”: conclui-se, portanto, que conceito de “casa” é amplo, abarcando qualquer com-
qualquer depreciação da união estável homoafetiva partimento habitado (casa, apartamento, trailer ou
barraca); qualquer aposento ocupado de habitação
colide com o inciso IV do art. 3º da CF.7
coletiva (hotel, apart-hotel ou pensão), bem como
qualquer compartimento privado onde alguém exerça
Legalidade profissão ou atividade, incluindo as pessoas jurídicas.
O STF, em relevante julgamento com repercussão
Princípio da legalidade está previsto no inciso II, geral (§ 3°, art. 102 da CF), firmou compreensão no
art. 5° da CF, e preceitua que “ninguém será obrigado a sentido de que pode ocorrer a inviolabilidade mes-
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude mo no período noturno – fundamentada e devi-
de lei”. Note que, quando se fala em princípio da lega- damente justificada, se indicado que no interior na
lidade, se está falando no âmbito particular e não da casa se está praticando algum crime, ou seja, em esta-
administração pública. do de flagrante delito.
No tocante aos particulares, o princípio da lega- É importante frisar que, se o agente policial entrar
lidade quer dizer que apenas a lei tem legitimidade na residência e não constatar a ocorrência de crime
em flagrante, não haverá ilicitude na conduta dos
para criar obrigações de fazer, também chamadas de
agentes policiais se forem apresentadas fundadas
obrigações positivas, e também as chamadas obriga-
razões que os levaram a invadir aquela casa, o que,
ções de não fazer, chamadas obrigações negativas, e, sem dúvida, deve ser objeto de controle – mesmo que
nos casos em que a lei não dispuser obrigação algu- posterior – por parte da própria polícia e, claro, pelo
ma, é dado ao particular fazer o que bem entender, Ministério Público (a quem compete exercer o contro-
ou seja, não havendo qualquer proibição disposta em le externo da atividade policial, nos termos do inci-
lei, o particular está livre para agir, vigorando nesse so VII, art. 129 da CF) ou mesmo pelo Judiciário, ao
ponto o princípio da autonomia da vontade. analisar-se a legitimidade de eventual prova colhida
Em refêrencia ao poder público, o conteúdo do durante essa entrada à residência.
princípio da legalidade é outro: tem a ideia de que o Sobre a entrada forçada em domicílio, o STF assim
Estado se sujeita às leis e, ao mesmo tempo, de que considerou:
governar é atividade cuja realização exige a edição A entrada forçada em domicílio sem mandado
judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
de leis; assim, o poder público não pode atuar nem
quando amparada em fundadas razões, devida-
contrário às leis, nem na ausência da lei.
mente justificadas “a posteriori”, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante
Inviolabilidade delito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade, e de nuli-
Inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da dade dos atos praticados.8
honra e da imagem das pessoas tem previsão no inci- Essa a orientação do Plenário, que reconheceu a
so X, art. 5° da CF; vejamos: repercussão geral do tema e, por maioria, negou pro-
vimento ao recurso extraordinário em que se discutia,
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, à luz do dos incisos XI, LV e LVI, art. 5º da Constitui-
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o ção, a legalidade das provas obtidas mediante invasão
direito a indenização pelo dano material ou moral de domicílio por autoridades policiais sem o devido
decorrente de sua violação; mandado de busca e apreensão. O acórdão impugna-
do assentou o caráter permanente do delito de tráfico
Essa proteção se refere às pessoas físicas ou jurí- de drogas e manteve condenação criminal fundada
em busca domiciliar sem a apresentação de mandado
dicas, abrangendo inclusive a proteção necessária à
de busca e apreensão. A Corte asseverou que o texto
própria imagem frente aos meios de comunicação em
constitucional trata da inviolabilidade domiciliar e de
massa (televisão, jornais etc.). suas exceções no inciso XI, art. 5° (“a casa é asilo invio-
Inviolabilidade domiciliar tem previsão no inciso lável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
XI do art. 5º da CF: consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
Art. 5º [...] o dia, por determinação judicial”). Seriam estabeleci-
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém das, portanto, quatro exceções à inviolabilidade:
nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou a - flagrante delito;
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o b -desastre;
dia, por determinação judicial; c) - prestação de socorro; e

7 STF. ADI 4277 e ADPF 132, rel. Min. Ayres Britto, julgado em 05.05.2011, DJe 06.05.2011.
184 8 Recurso Extraordinário 603616.
d) - determinação judicial. Já o último requisito refere-se a uma lei que deve
prever as hipóteses e a forma em que pode ocorrer a
A interpretação adotada pelo STF seria no sentido interceptação telefônica, obrigatoriamente no âmbi-
de que, se dentro da casa estivesse ocorrendo um cri- to de investigação criminal ou instrução processual
me permanente, seria viável o ingresso forçado pelas penal.
forças policiais, independentemente de determinação A regulamentação deste dispositivo veio com a
judicial. Isso se daria porque, por definição, nos cri- Lei 9.296, de 1996, que legitimou a interceptação das
mes permanentes haveria um interregno entre a con- comunicações como meio de prova, estendendo tam-
sumação e o exaurimento. Nesse interregno, o crime bém a sua regulamentação à interceptação de fluxo
estaria em curso. Assim, se dentro do local protegido o de comunicações em sistemas de informática e tele-
crime permanente estivesse ocorrendo, o perpetrador mática (combinação de meios eletrônicos de comuni-
estaria cometendo o delito. Caracterizada a situação cação com informática, e-mail e outros).
de flagrante, seria viável o ingresso forçado no domi-
cílio. (RE 603.616/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
Direito de Propriedade
em 5.11.2015 e DJe 13.11.2015)
A inviolabilidade das correspondências e comu-
Está amparado junto ao caput e inciso XXII do art.
nicações tem como previsão o inciso XII do art. 5º da
5º, bem como no inciso II do art. 170, ambos da CF.
CF, vejamos.
Art. 5º [...]
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comuni- XXII - é garantido o direito de propriedade;
cações telefônicas, salvo, no último caso, por Art. 170 A ordem econômica, fundada na valoriza-
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei ção do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
estabelecer para fins de investigação criminal ou por fim assegurar a todos existência digna, con-
instrução processual penal; forme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
As correspondências são invioláveis, com exce- [...]
ção nos casos de decretação de estado de defesa II - propriedade privada;
e de sítio (arts. 136 e seguintes da CF). É importante
mencionar também que o STF já reconheceu a possi- O direito de propriedade assegurado na constitui-
bilidade de interceptar carta de presidiário, pois a ção como direito constitucional abrange tanto os bens
inviolabilidade de correspondência não pode ser usa- corpóreos quanto os incorpóreos.
da como defesa para atividades ilícitas.9 Bens corpóreos Os bens possuidores de existência
Possibilidade de interceptação telefônica: inter- física, concretos e visíveis, como por exemplo, uma
ceptação telefônica é a captação e gravação de conver- casa, um automóvel etc. Já os bens incorpóreos são
sa telefônica, no momento em que ela se realiza, por bens abstratos que não possuem existência física, ou
terceira pessoa, sem o conhecimento de qualquer um seja, não são concretos, mas possuem um valor eco-
dos interlocutores, conforme prevê exceção do inciso nômico, como por exemplo, propriedade intelectual,
XII do art. 5º da CF mencionado, que para ser lícita direitos do autor etc.
deve obedecer três requisitos: Em relação à propriedade de bens incorpóreos,
existe a específica proteção constitucional denomina-
Ordem Judicial; da propriedade intelectual, que abrange os direitos de
Para fins de investigação autor e os direitos relativos à propriedade industrial,
Interceptação telefônica criminal; como a proteção de marcas e patentes.
Hipóteses e formas que a
lei estabelecer.
Desapropriação

Ainda, a interceptação telefônica dependerá de Como característica dos direitos fundamentais, o

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


ordem judicial, conforme art. 1º da Lei 9.296, de 1996. direito de propriedade também não é um direito abso-
luto. Apesar da exigência de que a propriedade aten-
Art. 1º A interceptação de comunicações telefôni- da uma função social, há outras hipóteses em que
cas, de qualquer natureza, para prova em investi- o interesse público pode justificar a imposição de
gação criminal e em instrução processual penal, limitações.
observará o disposto nesta Lei e dependerá de Ao elaborar a Constituição, o legislador se preo-
ordem do juiz competente da ação principal, sob
cupou em atribuir tratamento especial à política de
segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à
desenvolvimento urbano. Referente à desapropria-
interceptação do fluxo de comunicações em siste- ção de imóvel rural, somente é lícita para fins de
mas de informática e telemática. interesse social, ou seja, imóvel rural que não esti-
ver cumprindo sua função social é desapropriado.
O segundo requisito necessário exige que a pro- Nesse sentido, é importante verificar a importân-
dução desse meio de prova seja dirigida para fins de cia do inciso XXIV, art. 5°, que determina o poder geral
investigação criminal ou instrução processual penal; de desapropriação por interesse social. Ora, desde
assim, não é possível a autorização da interceptação que seja paga a indenização mencionada neste artigo,
telefônica em processos civis, administrativos, disci- qualquer imóvel poderá ser desapropriado por inte-
plinares etc. resse social para fins de reforma agrária.
9 STF. HC 70.814-5/SP, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24.06.1994. 185
Defesa do Consumidor Direito Adquirido, Coisa Julgada e Ato Jurídico
Perfeito
Conforme prevê o inciso XXXII, art. 5° da CF “o
estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consu- Assim prevê o inciso XXXVI do art. 5º da CF: “a lei
midor”. Tema também mencionado no art. 170, inciso não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico per-
V da CF, que estabeleceu como princípio fundamental feito e a coisa julgada”. Entenda:
de nossa ordem econômica a “defesa do consumidor”. Direito adquirido é aquele direito que cumpriu
todos os requisitos previstos em lei, como por exem-
Art. 170 A ordem econômica, fundada na valoriza- plo, o homem que cumpriu todos os requisitos exi-
ção do trabalho humano e na livre iniciativa, tem gidos para concessão da aposentadoria por idade,
por fim assegurar a todos existência digna, con- conforme determina o inciso I, § 7°, art. 201 da CF, tem
forme os ditames da justiça social, observados os o direito adquirido para requerer seu benefício.
seguintes princípios: [...]
V - defesa do consumidor; § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral
de previdência social, nos termos da lei, obedecidas
Assim que foi promulgada a Constituição em 1988, as seguintes condições:
o legislador se preocupou em estipular um prazo de I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e
cento e vinte dias para que fosse elaborado o Código 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, obser-
de Defesa do Consumidor, exigência estipulada por vado tempo mínimo de contribuição;
meio do nº 48 da ADCT. (Ato das Disposições Consti-
tucionais Transitórias. São regras que estabelecem Ato jurídico perfeito é o ato já realizado, confor-
a harmonia da transição do regime constitucional me a lei vigente ao tempo que se realizou, pois nes-
anterior – 1969, para o novo regime - 1988). te caso já cumpriu todos os requisitos conforme a lei
Entretanto, o prazo exigido não foi observado e o vigente na época, tornando-se, portanto, completo.
Código de Defesa do Consumidor foi publicado ape- Coisa julgada ocorre no âmbito do processo judi-
nas dois anos após a publicação da Constituição – Lei cial, decisão judicial a qual não cabe mais recurso, tor-
8.078, de 1990. nando-a imutável e indiscutível.

Direito de Informação Júri Popular

Instrumento de natureza administrativa derivado A nossa carta magna reconhece no seu inciso XXX-
do princípio da publicidade da atuação da adminis- VIII a instituição do júri, que é visto como uma prerro-
tração pública, tem como objetivo a atuação transpa- gativa democrática do cidadão, e que exige que o réu
rente em decorrência da própria indisponibilidade deve ser julgado pelos seus semelhantes.
do interesse público, disciplinado nos incisos XXXIII e O tribunal é composto por um juiz togado e vinte
LXXII do art. 5º da CF e Lei 9.507, de 1997, que regula cinco jurados que serão sorteados dentre os alistados.
o direito de acesso a informações e disciplina o rito
processual do habeas data. XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos a) a plenitude de defesa;
públicos informações de seu interesse parti- b) o sigilo das votações;
cular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão c) a soberania dos veredictos;
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabi- d) a competência para o julgamento dos crimes
lidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja impres- dolosos contra a vida;
cindível à segurança da sociedade e do Estado;
Destarte, a competência mencionada na alínea “d”
Direito de Certidão não é absoluta, pois não abrange os crimes pratica-
dos contra a vida perpetrados por detentores de foro
O Estado é obrigado a fornecer as informações especial por prerrogativa de função, que deverão ser
solicitadas, com exceção nas hipóteses de proteção julgados por tribunais específicos conforme previsto
por sigilo. Caso haja uma violação desse direito, que na Constituição.
é líquido e certo, o remédio constitucional cabível é o Ainda, o foro especial por prerrogativa de fun-
mandado de segurança, tema que também será abor- ção se refere ao órgão competente para julgar ações
dado no título Garantias Constitucionais. penais contra certas autoridades públicas, levando-se
O direito de certidão tem previsão no inciso XXXIV, em conta o cargo ou a função que elas ocupam, de
“b” do art. 5º da CF, e assegura a todos, independente modo a proteger a função e a coisa pública, ou seja,
do pagamento de taxas, o seguinte: por ligar-se à função e não à pessoa, essa forma de
determinar o órgão julgador competente não acompa-
XXXIV - são a todos assegurados, independente- nha a pessoa após o fim do exercício do cargo.
mente do pagamento de taxas: [...]
b) a obtenção de certidões em repartições públi- Princípio da Legalidade Penal e da Retroatividade da
cas, para defesa de direitos e esclarecimento de Lei
situações de interesse pessoal;
Princípio da legalidade penal, com previsão no
Importante frisar aqui que, conforme entendi- inciso XXXIX do art. 5º da CF, também chamado de
mento dos Tribunais, já se consolidou o entendimen- princípio da reserva legal, refere-se à aplicação do
to no sentido de que não se exige do administrado a princípio da legalidade, de forma mais específica no
186 demonstração da finalidade específica do pedido. âmbito do direito penal.
Nesse sentido, crime será a conduta delituosa pre- XLIV - constitui crime inafiançável e impres-
vista exclusivamente em lei, da mesma forma que a critível a ação de grupos armados, civis ou mili-
cominação da pena, que não é admissível à configura- tares, contra a ordem constitucional e o Estado
ção de crime baseado nos costumes. Democrático;

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, Entenda: prescrição é a perda do direito de punir
nem pena sem prévia cominação legal; do Estado pelo seu não exercício em determinado lap-
so de tempo.
Princípio da retroatividade da lei tem previsão no Em 2015, duas leis incluíram, no rol de cri-
inciso XL do art. 5º da CF, consiste em analisar um fato mes hediondos, o assassinato de policiais e o
passado à luz de um direito presente, estabelece que feminicídio.
os fatos sejam apreciados com base na lei em vigor no Em 2019, houve alterações na legislação penal e
tempo do crime. Assim, a lei aplicável é a lei do tem- processual diante da aprovação da Lei nº 13.964, tam-
po do crime, ou seja, na regra geral, as normas penais bém chamada de Pacote Anticrime; nessa oportuni-
não retroagem, salvo se trouxerem algum tipo de dade houve a inclusão de crimes no rol dos crimes
benefício para o réu. hediondos.
Veja quais foram os crimes incluídos:
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para benefi-
ciar o réu; II – roubo:
a) circunstanciado pela restrição de liberdade
Cuidado, aqui temos um exemplo de “exceção da da vítima (inciso V, § 2°, art. 157);
exceção”: b) circunstanciado pelo emprego de arma de
Crimes praticados durante a vigência de lei tempo- fogo (inciso I, § 2° -A, art. 157) ou pelo emprego
rária ou excepcional não podem ser beneficiados pela de arma de fogo de uso proibido ou restrito (§
retroatividade da lei mais benéfica. 2° -B, art. 157);
Lei excepcional é a lei criada para regular fatos III – extorsão qualificada pela restrição da liber-
ocorridos dentro de uma situação irregular, a qual dade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
perde seus efeitos após findar situação irregular que morte (§ 3°, art. 158);
IX – furto qualificado pelo emprego de explo-
a motivou.
sivo ou de artefato análogo que cause perigo
Lei temporária vigorou até extinguir-se o prazo
comum (§ 4° -A, art. 155).
de duração fixado pelo legislador, por exemplo, uma
III – o crime de comércio ilegal de armas de
lei que fixa a tabela de preços de artigos de consumo.
fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003;
Crimes IV – o crime de tráfico internacional de arma de
fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18
O legislador originário também se preocupou em da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
mencionar e observar crimes de tortura, tráfico ilíci- V – o crime de organização criminosa, quando
to de drogas, terrorismo e a ação de grupos armados direcionado;
contra ordem constitucional.
Fique atento com os artigos mencionados acima
XLII - a prática do racismo constitui crime e as novidades legislativas, pois são temas utilizados
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de com frequência pelas bancas examinadoras.
reclusão, nos termos da lei;
DIREITOS SOCIAIS
A pena de reclusão é a pena prevista para os casos
mais graves, o qual o regime inicial será fechado, em Os direitos sociais estão disciplinados nos arts. 6º
prisão de segurança máxima. a 11 da CF/88. Esses direitos se dividem em direitos
sociais propriamente ditos (art. 6º), direitos trabalhis-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e tas (art. 7º) e direitos sindicais (art. 8º a 11). Vejamos:
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tor-
tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas Art. 6º São direitos sociais a educação, a saú-
afins, o terrorismo e os definidos como crimes de, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os transporte, o lazer, a segurança, a previdência
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta
Crimes hediondos são aqueles que a legislação Constituição.
entende que geram maior reprovação por parte da
sociedade, assim merecem uma rigidez maior. Não Os direitos sociais encontram-se estabelecidos no
são necessariamente crimes cometidos com alto grau art. 6º da CF. Tratam-se de direitos ligados à concepção
de violência ou crueldade, mas sim os crimes previs- de que é dever do Estado a garantia, através das polí-
tos expressamente no art. 1º da Lei 8.072, de 1990. ticas públicas, da igualdade de oportunidades a todos.
O homicídio qualificado é o primeiro mencionado O dispositivo assegura alguns dos direitos deno-
na legislação, ou seja, quando praticado em circuns- minados de segunda geração/dimensão, tais como o
tância que revele perversidade – por exemplo, se o direito à educação, trazendo a ideia de que a instrução
crime é praticado por motivo fútil ou torpe. é o meio adequado para que o indivíduo possa exer-
O homicídio praticado por grupo de extermínio cer outros direitos, tais como a liberdade de expres-
também está no rol dos crimes hediondos, mesmo que são, a liberdade de associação, os direitos políticos,
cometido por uma só pessoa do grupo. entre outros. 187
Usa-se tanto o termo “geração” como “dimensão” Importante!
— alguns doutrinadores consideram o termo “dimen-
são” mais adequado, uma vez que “geração” exprime Ainda não foi elaborada lei complementar dis-
a ideia de que uma substitui a outra, ao passo que o ciplinando o assunto. Por essa razão, aplica-se
termo “dimensão” transmite a ideia de ampliação, a o disposto no art. 10, do Ato das Disposições
qual uma complementa a outra. Constitucionais Transitórias, que fixa como
Trata-se de uma classificação elaborada por Karel indenização o valor de 40% do depositado no
Vasak para classificar os direitos em categorias con- Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
forme o contexto histórico que surgiram. Didatica- como a quantia devida a título de indenização
mente, o jurista atrelou as três categorias dos direitos compensatória.
humanos aos princípios da Revolução Francesa: liber-
dade, igualdade e fraternidade. Assim, os direitos de
Art. 7º [...]
primeira geração/dimensão são os direitos de liberda-
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
de; os de segunda, de igualdade; e os de terceira, de
involuntário;
fraternidade.
Garante, também, o acesso dos indivíduos a um O inciso II trata do seguro-desemprego, que tem
sistema de saúde, além da assistência e proteção eco- como finalidade assegurar assistência financeira, de
nômica em determinados momentos, tais como na modo temporário, ao trabalhador que foi dispensado
incapacidade temporária ou definitiva, velhice, entre involuntariamente, ou seja, sem justa causa.
outros. Trata-se, pois, de um programa de proteção
social para amparar as pessoas em determinados Art. 7º [...]
eventos. III - fundo de garantia do tempo de serviço;
Do art. 6º é que advém a ideia de reserva do pos-
sível, pois o Estado deve garantir os direitos em con- O FGTS encontra-se estabelecido no inciso III.
formidade com seus recursos. Esse dispositivo traz a Seu objetivo é resguardar o trabalhador nos casos
ideia de mínimo existencial, ou seja, de um padrão de desemprego involuntário, aposentadoria, entre
mínimo de condições materiais aceitáveis para uma outras situações, de modo que o trabalhador possa
vida com dignidade. sacar esses valores.
Neste sentido, o Estado deve assegurar que a quan- De acordo com a atual orientação do STF, o prazo
tidade de alimento seja suficiente para o indivíduo e prescricional para o trabalhador reclamar valores do
sua família, que ele possa se vestir, ter moradia, aces- FGTS é de cinco anos (prescrição quinquenal), tendo,
so aos serviços médicos, sociais e de segurança em como base, o princípio da segurança jurídica (ARE nº
casos de imprevistos. Além disso, devem-se assegurar 709.212, STF).
os cuidados e assistência devidos à maternidade e à
infância. Art. 7º [...]
O referido artigo assegura, ainda, o direito ao tra- IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmen-
balho. Para tanto, o art. 7º estipula as condições neces- te unificado, capaz de atender a suas necessidades
sárias para a realização do trabalho e adota medidas vitais básicas e às de sua família com moradia, ali-
de proteção ao trabalhador nos seguintes termos: mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higie-
ne, transporte e previdência social, com reajustes
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo,
e rurais, além de outros que visem à melhoria de sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
sua condição social:
O inciso IV estabelece a existência de uma remu-
Esse dispositivo trata tanto dos trabalhadores neração mínima, justa e suficiente para assegurar ao
urbanos como dos rurais e funda-se no princípio da trabalhador e a sua família uma vida digna. Assim, o
igualdade. Por essa razão, a CF/88 veda, por exemplo, salário mínimo deve ter a capacidade de atender às
a diferenciação de salários, o exercício de funções e necessidades tanto do trabalhador como de sua famí-
critérios de admissão que tenham como base a idade, lia. Cumpre mencionar que o valor deve ser fixado
o sexo ou o estado civil etc. Vejamos as proteções tra- em lei, ou seja, faz-se necessário a edição de lei para a
zidas nele: fixação do valor do salário mínimo.
Vale destacar que o STF entende não ser necessá-
Art. 7º [...] rio que o percentual de reajuste seja fixado em lei (em
I - relação de emprego protegida contra despedida sentido estrito), podendo a definição de tais valores
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei ser feita por meio de decreto presidencial. Sobre o
complementar, que preverá indenização compen- tema, existem quatro Súmulas Vinculantes importan-
satória, dentre outros direitos; tes, as quais é importante conhecer:

Súmula Vinculante nº 4 Salvo nos casos previs-


A CF/88, do mesmo modo que estipula as condi-
tos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
ções necessárias para a realização do trabalho, adota
usado como indexador de base de cálculo de vanta-
medidas de proteção ao trabalhador contra a despe- gem de servidor público ou de empregado, nem ser
dida arbitrária ou sem justa causa, com o objetivo substituído por decisão judicial.
de resguardar o trabalhador contra as incertezas do Súmula Vinculante nº 6 Não há violação à CF no
mercado de trabalho. Assim, o inciso I prevê que uma estabelecimento de remuneração inferior ao míni-
lei complementar estabelecerá indenização compen- mo em relação ao soldo dos recrutas, prestadores
188 satória, dentre outros direitos. do serviço militar inicial.
Súmula Vinculante nº 15 O cálculo de gratifica- Art. 7º [...]
ções e outras vantagens do servidor público não IX - remuneração do trabalho noturno superior
incide sobre o abono utilizado para se atingir o à do diurno;
salário mínimo.
Súmula Vinculante nº 16 Os artigos 7º, IV, e 39, O inciso IX trata do trabalho noturno. De acordo
§ 3º (redação da EC n. 19/1998), da Constituição com o dispositivo, a remuneração deve ser superior
referem-se ao total da remuneração percebida pelo ao trabalho no período diurno.
servidor público. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ao
regular a matéria, estabelece, no art. 73, como perío-
Art. 7º [...]
V - piso salarial proporcional à extensão e à com-
do noturno, o trabalho desenvolvido entre as 22h de
plexidade do trabalho; um dia e as 5h do dia seguinte. Assim, durante esse
período, o adicional é de, pelo menos, 20% sobre a
O inciso V assegura contraprestação mínima aos hora diurna. Além disso, o cômputo da hora também
trabalhadores pertencentes à mesma categoria pro- é realizado de forma diferente, uma vez que cada
fissional, como, por exemplo, professores, metalúrgi- hora noturna possui cinquenta e dois minutos e trinta
cos, farmacêuticos, entre outros. O piso deve levar em segundos.
consideração a extensão e a complexidade do trabalho Com relação ao trabalho rural, na lavoura, consi-
e não pode ser fixado em múltiplos do salário mínimo. dera-se noturno o trabalho executado entre 21h de
Diferentemente do salário mínimo, que é nacional- um dia e 5h do dia seguinte. Já na pecuária, inicia-se
mente unificado, é possível que os Estados e o Distrito às 20h de um dia e encerra-se às 4h do dia posterior.
Federal instituam piso salarial estadual diferente do Acresce que o adicional é de 25% e que não há previ-
nacional, em conformidade com o parágrafo único, do são de cômputo diferenciado para a hora noturna.
art. 22, da CF/88, e Lei Complementar nº 103, de 2000.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] X - proteção do salário na forma da lei, consti-
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto tuindo crime sua retenção dolosa;
em convenção ou acordo coletivo;
O inciso X estabelece a criminalização da condu-
O inciso VI traz a regra de que o salário do traba- ta de retenção do salário como uma das formas de
lhador não pode ser reduzido. A redução somente é proteção ao trabalhador. Salienta-se que a condu-
admitida por meio de negociação coletiva com a par- ta somente será considerada como crime se houver
ticipação obrigatória do sindicato. dolo, ou seja, quando o empregador não paga por-
A Medida Provisória (MP) nº 936, de 2020, que foi que não quer. Cumpre esclarecer que esse inciso
editada em razão da pandemia da COVID-19, passou a possui eficácia constitucional limitada e carece de lei
permitir a redução salarial por meio de acordo indi- regulamentadora.
vidual firmado entre o empregador e o empregado,
ou seja, sem a participação do sindicato. Consideran- Art. 7º [...]
do que o texto constitucional estabelece que o acordo XI - participação nos lucros, ou resultados, des-
seja coletivo, a MP foi submetida ao STF, que mante- vinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
ve a eficácia da regra (acordo individual) de redução participação na gestão da empresa, conforme
temporária do salário por, no máximo, 90 (noventa) definido em lei;
dias, sob o fundamento de que se trata de momento
excepcional e que o acordo individual seria razoável A participação nos lucros ou resultados, em
por preservar o vínculo de emprego durante o perío- caráter excepcional, na gestão da empresa encon-
do, bem como a atuação do sindicato demandaria tra-se prevista no inciso XI. Trata-se de um valor des-
demora, gerando insegurança jurídica e aumentando vinculado da remuneração e definido em lei. Esse
o risco de desemprego. inciso também possui eficácia limitada, porém é regu-
lamentado pela Lei nº 10.101, de 2000.
Art. 7º [...]
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
VII - garantia de salário, nunca inferior ao míni- Art. 7º [...]
mo, para os que percebem remuneração variável; XII - salário-família pago em razão do depen-
dente do trabalhador de baixa renda nos termos
O inciso VII é um desdobramento do inciso IV ao da lei;
estabelecer que todo trabalhador tem o direito a rece-
ber uma remuneração justa e satisfatória que lhe asse- O inciso XII estabelece o salário-família. Trata-se
gure existência compatível com a dignidade humana. de um benefício regulamentado pelos arts. 65 a 70, da
Lei nº 8.213, de 1991, concedido aos trabalhadores que
Art. 7º [...] possuem filhos ou equiparados de até 14 anos, ou com
VIII - décimo terceiro salário com base na remu- algum tipo de deficiência. Para ter direito ao valor, o
neração integral ou no valor da aposentadoria; trabalhador deve enquadrar-se no limite máximo de
renda estipulado pela Administração Pública.
O inciso VIII estabelece o décimo terceiro salá- Até a Emenda Constitucional nº 20, de 1998, o
rio ou gratificação de Natal aos trabalhadores. Para benefício era pago a todos os trabalhadores. Após sua
os servidores públicos, a gratificação recebe o nome edição, o salário-família ficou restrito ao trabalhador
de adicional natalino. Tal gratificação foi introduzida de baixa renda. Para o ano de 2021, a tabela do Gover-
pela Lei nº 4.090, de 1962, garantindo ao trabalhador no Federal fixou o valor do salário-família em R$ 51,27
formal e com carteira assinada o correspondente a e limitou o benefício aos trabalhadores que recebem
1/12 de sua remuneração ou aposentadoria. até R$ 1.503,25. 189
Art. 7º [...] XVII - gozo de férias anuais remuneradas com,
XIII - duração do trabalho normal não superior pelo menos, um terço a mais do que o salário
a oito horas diárias e quarenta e quatro sema- normal;
nais, facultada a compensação de horários e a
redução da jornada, mediante acordo ou conven- O inciso XVII estabelece o direito às férias. Tra-
ção coletiva de trabalho; ta-se do descanso anual do trabalhador, que deve ser
remunerado e acrescido de, pelo menos, 1/3 a mais do
O inciso XIII fixa a jornada de trabalho diária que o salário normal.
em até 8 horas e a semanal em 44 horas, permitida,
porém, a compensação de horários e a redução da jor- Art. 7º [...]
nada, por meio de acordo ou convenção coletiva de XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do empre-
trabalho. Trata-se dos denominados bancos de horas go e do salário, com a duração de cento e vinte
e as escalas de revezamento. dias;
No Brasil, são admitidas as jornadas inglesa e
espanhola. Na jornada inglesa, existe uma diluição A licença à gestante encontra-se prevista no inci-
de 4 horas no intervalo entre segunda e sexta-feira, so XVIII. Trata-se do direito dos filhos recém-nascidos
de modo a possibilitar que o trabalhador cumpra jor- ou adotados de permanecerem com suas genitoras no
nada de 9 ou 8 horas durante esses dias, de modo a momento inicial de sua vida ou na casa da adotante,
totalizar 44 horas. Na jornada espanhola, há uma da nova vida, com o objetivo de desenvolver vínculos
alternância na prestação de 48 horas em uma semana de afeto e cuidados necessários para o desenvolvimen-
e 40 horas em outra, como, por exemplo, trabalhando to saudável da criança. Constitucionalmente, o prazo
sábados alternados. Assim, haveria uma média de 44 de duração é de 120 dias, porém a Lei nº 11.770, de
horas semanais, o que evitaria o pagamento de hora 2008 estendeu, para determinados casos, esse período
extra. de licença para 180 dias.
A Lei nº 12.010, de 2009, (Lei da Adoção) estendeu
Art. 7º [...] às adotantes o mesmo prazo de licença das gestantes,
XIV - jornada de seis horas para o trabalho reali- passando a ser de, no mínimo, 120 dias. Antes, a dura-
zado em turnos ininterruptos de revezamento, ção da licença variava conforme a idade do filho.
salvo negociação coletiva;
Art. 7º [...]
Assim como o inciso anterior, o inciso XIV tam- XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em
bém prevê limite para a jornada de trabalho. Esse lei;
dispositivo se aplica aos casos de jornada de trabalho
com turnos ininterruptos e de revezamento, ou seja, O inciso XIX trata da licença-paternidade, que,
aqueles locais que funcionam 24 horas por dia. Nesses ao contrário do que ocorre com a licença à gestante,
casos, o empregado não poderá trabalhar mais de 6 não possui prazo fixado pela CF/88. Refere-se, tam-
horas. Ressalta-se, por fim, a possibilidade de negocia- bém, ao direito do filho de ter o genitor ao seu lado no
ção coletiva para aumentar a jornada. momento inicial de sua vida.

Art. 7º [...] Art. 7º [...]


XV - repouso semanal remunerado, preferencial- XX - proteção do mercado de trabalho da
mente aos domingos; mulher, mediante incentivos específicos, nos ter-
mos da lei;
O inciso XV garante o descanso do trabalhador.
Trata-se do repouso semanal remunerado, também O inciso XX estabelece a criação, por meio de lei,
denominado descanso semanal remunerado (DSR), de normas de proteção do mercado de trabalho da
que é a possibilidade de o trabalhador ausentar-se mulher. O dispositivo tem por objetivo proporcionar
de seu trabalho por 24 (vinte e quatro) horas, man- a efetiva igualdade entre homens e mulheres. Tais
tendo-se a remuneração respectiva. Para o descanso regras foram introduzidas pela CLT e tratam de temas
e recomposição do empregado, a CF/88 estabelece, como duração e condições de trabalho, a discrimina-
como preferência, os domingos. ção, o trabalho noturno, a proteção à maternidade,
entre outros.
Art. 7º [...]
XVI - remuneração do serviço extraordinário Art. 7º [...]
superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de
normal; serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos ter-
mos da lei;
O pagamento de horas extras encontra-se previs-
to no inciso XVI. A CF/88, além de fixar a duração da O aviso prévio está estabelecido no inciso XXI.
jornada de trabalho, com o objetivo de evitar abusos Trata-se do direito que tem o trabalhador de não ser
por parte do empregador, garante ao trabalhador que surpreendido com o seu desligamento e poder pro-
os serviços prestados que excedam a jornada normal gramar-se para voltar a enfrentar à concorrência do
de trabalho sejam considerados extraordinários e mercado de trabalho. Por esse motivo, o aviso prévio
pagos com o valor de, no mínimo, 50% a mais que o é proporcional, ou seja, quanto maior o tempo de ser-
valor normal. viço prestado à empresa, maior a sua permanência
antes do desligamento. O prazo mínimo previsto na
190 Art. 7º [...] CF/88 é de 30 (trinta) dias.
De acordo com o STF, o inciso XXI é uma norma O inciso XXV trata da assistência em creche e pré-
constitucional híbrida, uma vez que possui uma parte -escola devida aos filhos e dependentes dos trabalha-
de eficácia plena (mínimo de 30 dias) e outra limitada dores desde o nascimento até os 5 anos.
(nos termos da lei). Nos termos da Lei nº 12.506, de Com a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, o pri-
2011, a esses 30 dias serão acrescidos três dias por ano meiro ano do ensino fundamental passou a ser cursa-
de serviço prestado na mesma empresa até o total de do a partir dos 6 anos de idade. É por essa razão que
60 dias. Portanto, a duração máxima do aviso prévio é o auxílio creche ou auxílio pré-escola é devido até os
5 anos (cessa ao completar 6 anos quando pode fre-
de 90 dias (30 dias assegurados pela CF/88 e outros 60
quentar a escola).
previstos na lei).
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] XXVI - reconhecimento das convenções e acordos
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, coletivos de trabalho;
por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
O inciso XXVI ressalta a importância das entida-
O inciso XXII traz a obrigação do empregador de des sindicais nas negociações coletivas, de modo a
permitir que se incrementem as condições sociais dos
preservar a saúde do trabalhador por meio da ado-
trabalhadores.
ção de medidas, quer individuais quer coletivas, que
o previnam e o protejam dos riscos ambientais do Art. 7º [...]
trabalho. XXVII - proteção em face da automação, na forma
da lei;
Art. 7º [...]
XXIII - adicional de remuneração para as ativida- A proteção em face da automação é assegurada
des penosas, insalubres ou perigosas, na forma no inciso XXVII. Trata-se de um mecanismo de prote-
da lei; ção do trabalhador que perdeu seu posto de trabalho
para a automação, ou seja, pela máquina, de modo
que a lei possa criar meios, tais como cursos e treina-
O inciso XXIII estabelece os adicionais de ativi-
mentos, que possibilitem sua recolocação no mercado
dades penosas, insalubres e perigosas. Atividade
de trabalho.
penosa é aquela exercida em zonas de fronteira ou
aquela que exige, para a sua realização, esforços físi- Art. 7º [...]
cos repetivos e intensos, de modo a causar esgotamen- XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a
to ou desgaste excessivo. Nessa atividade, não há um cargo do empregador, sem excluir a indenização
dano efetivo à saúde do trabalhador, mas exige um a que este está obrigado, quando incorrer em dolo
ou culpa;
maior grau de atenção ou sacrifício físico ou mental,
como, por exemplo, serviços industriais em que o tra- O seguro contra acidentes de trabalho encon-
balhador é submetido a uma altura superior a três tra-se previsto no inciso XXVIII. O seguro é de com-
metros. petência do empregador e não exclui a indenização
Por outro lado, na atividade insalubre, há um com- a que este está obrigado no caso de incorrer em dolo
prometimento à saúde do trabalhador devido a seu ou culpa.
ambiente de trabalho, como, por exemplo, o traba-
lhador que é submetido a calor ou a frio intenso ou Súmula Vinculante nº 22 A Justiça do Trabalho
é competente para processar e julgar as ações
a ruído contínuo e intermitente. Por fim, atividade
de indenização por danos morais e patrimoniais
perigosa é aquela que pode ameaçar a vida do traba- decorrentes de acidente de trabalho propostas por
lhador, como, por exemplo, a exercida em instalações empregado contra empregador, inclusive aquelas
elétricas de grandes voltagens. que ainda não possuíam sentença de mérito em
primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional 45/2004.
Importante!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 7º [...]
De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das
(TST), não é possível a percepção cumulativa relações de trabalho, com prazo prescricional
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
dos adicionais de insalubridade e periculosidade.
rurais, até o limite de dois anos após a extinção
do contrato de trabalho;
a) (Revogada).
Art. 7º [...]
b) (Revogada).
XXIV - aposentadoria;
O inciso XXIX trata da prescrição das verbas tra-
A aposentadoria está estabelecida no inciso XXIV, balhistas. O prazo para que o trabalhador ingresse
de modo a assegurar ao trabalhador o afastamento de com ação trabalhista é de 2 (dois) anos contados da
suas atividades após o cumprimento dos requisitos extinção do contrato de trabalho. Já com relação aos
previstos em lei, tais como idade e tempo de contri- créditos, a prescrição é de 5 (cinco) anos. Exemplo:
buição, bem como por motivo de incapacidade. trabalhador que exerceu atividade na empresa entre
os períodos de 2010 a 2020. Ele terá até 2022 (dois anos
Art. 7º [...] da extinção do contrato de trabalho) para promover a
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen- açao e poderá cobrar os créditos dos últimos 5 anos,
tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida- ou seja, se ingressou em 2020, poderá pleitear os cré-
de em creches e pré-escolas; ditos de 2015 em diante. 191
Quanto às nomenclaturas “prescrição relativa” e Acerca do trabalho insalubre, a Consolidação da
“prescrição total”, é importante distinguir que pres- Leis do Trabalho assim dispõe:
crição relativa é a interna, ou seja, aquela que ocorre
dentro do contrato de trabalho, tendo como prazo 5 Art. 405 Ao menor não será permitido o trabalho:
anos. Já a prescrição total é aquela que ocorre após I - nos locais e serviços perigosos ou insalubres,
o fim do contrato de trabalho, ou seja, de 2 anos. Caso constantes de quadro para êsse fim aprovado pelo
o empregado não ingresse com a ação em até dos 2 Diretor Geral do Departamento de Segurança e
anos após a extinção do contrato, ele não terá direito Higiene do Trabalho;
de receber nenhuma verba, pois houve a prescrição II - em locais ou serviços prejudiciais à sua
total. moralidade.

Art. 7º [...]
XXX - proibição de diferença de salários, de Importante!
exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; Não há previsão expressa do trabalho penoso
aos menores de 18 anos.
O inciso XXX decorre do princípio da igualdade e
foi tratado anteriormente quando explanado acerca
do salário. Art. 7º [...]
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalha-
Art. 7º [...] dor com vínculo empregatício permanente e o
XXXI - proibição de qualquer discriminação no trabalhador avulso
tocante a salário e critérios de admissão do traba-
lhador portador de deficiência; O inciso XXXIV também decorre do princípio da
igualdade. Por ele, depreende-se a igualdade de direi-
Também em decorrência do princípio da igualda- tos entre os trabalhadores com vínculo empregatício
de, a CF/88 veda qualquer tipo de discriminação do e os trabalhadores avulsos. Entende-se por trabalha-
trabalhador com deficiência. A proibição estende-se dor avulso aquele que, de forma sindicalizada ou não,
desde a sua admissão. Assim sendo, o fato de o tra-
presta serviços tanto de natureza urbana como rural,
balhador possuir uma limitação, quer física, psíquica
sem possuir vínculo empregatício e a diversas empre-
ou intelectual, não tem o condão de permitir que o
sas, com intermediação obrigatória do sindicato da
empregador pague uma contraprestação diversa dos
demais funcionários por exemplo. categoria ou, quando se tratar de atividade portuária,
com intermediação do Órgão Gestor de Mão-de-Obra
Art. 7º [...] (OGMO).
XXXII - proibição de distinção entre trabalho
manual, técnico e intelectual ou entre os profis- Art. 7º [...]
sionais respectivos; Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos
Mais um dispositivo que decorre do princípio nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII,
da igualdade e veda a distinção entre as atividades XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
desempenhadas, ou seja, a atividade manual não XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
poderá ser tida como mais ou menos importante que lei e observada a simplificação do cumprimento
a intelectual por exemplo. das obrigações tributárias, principais e acessórias,
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiari-
Art. 7º [...] dades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigo- e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
so ou insalubre a menores de dezoito e de qual- social.
quer trabalho a menores de dezesseis anos,
salvo na condição de aprendiz, a partir de qua- Por fim, o parágrafo único trata dos direitos dos
torze anos; trabalhadores domésticos. Considera-se doméstico
o trabalhador que presta serviços de natureza contí-
O inciso XXX estabelece os limites etários para o
nua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à famí-
desempenho do trabalho. Aos menores de 16 anos não
lia no âmbito residencial destas, como, por exemplo,
é possível o desempenho da atividade laboral, exceto
cozinheiro residencial, jardineiro, babá, entre outros.
no caso de aprendiz, que poderá desenvolver a ativi-
dade entre 14 e 24 anos. O dispositivo remete a determinados incisos, que já
Atenção! Aprendiz não se confunde com estagiá- foram trabalhados anteriormente, cuja leitura na
rio. Aprendiz é o jovem contratado por entes de coo- íntegra é imprescindível para a sua aprovação.
peração governamental, como, por exemplo, o SENAC Os direitos sindicais encontram-se disciplinados
e o SENAI, para aprender uma profissão, ou seja, a nos art. 8º a 11. Vejamos cada um deles:
formação profissional é desenvolvida no ofício. Por
outro lado, estagiário é o estudante que complemen- Art. 8º É livre a associação profissional ou sin-
ta, por meio do trabalho, o ensino do curso que está dical, observado o seguinte:
desenvolvendo. Estagiário não é empregado nem está I - a lei não poderá exigir autorização do Estado
submetido a limite de idade. para a fundação de sindicato, ressalvado o regis-
Além disso, o dispositivo veda o trabalho noturno, tro no órgão competente, vedadas ao Poder Públi-
perigoso ou insalubre aos maiores de 16 e menores co a interferência e a intervenção na organização
192 de 18 anos, por se tratarem de pessoas em formação. sindical;
O inciso I traz o princípio da liberdade sindical. Art. 8º [...]
Pelo dispositivo, é possível observar duas situações V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a man-
distintas. A primeira refere-se à relação entre o Esta- ter-se filiado a sindicato;
do e o sindicato. Já a segunda, entre o sindicato e o
sindicalizado. Portanto, essa liberdade de associação O inciso V é um desdobramento do direito à liber-
sindical possui dupla dimensão, de modo a assegurar dade de associação, previsto no art. 5º, da CF/88.
o direito dos trabalhadores em geral de criarem enti-
dades sindicais, como também a liberdade de aderi- Art. 8º [...]
rem ou não ao sindicato, assim como se desfiliarem VI - é obrigatória a participação dos sindicatos
conforme sua vontade. nas negociações coletivas de trabalho;
De acordo com o STF, para que um sindicato possa
defender a categoria, não é preciso estar registrado As entidades sindicais possuem a denominada
no órgão competente (Ministério do Trabalho), bas-
função negocial. Assim, com o objetivo de assegurar
tando o registro no Cartório de Registro das Pessoas
melhores condições e direitos aos trabalhadores, o
Jurídicas.
inciso IV estabelece como obrigatória a participação
Art. 8º [...] dos sindicatos nas negociações coletivas.
II - é vedada a criação de mais de uma organi-
zação sindical, em qualquer grau, representativa Art. 8º [...]
de categoria profissional ou econômica, na mesma VII - o aposentado filiado tem direito a votar e
base territorial, que será definida pelos trabalha- ser votado nas organizações sindicais;
dores ou empregadores interessados, não podendo
ser inferior à área de um Município; O inciso VII cuida do direito de votar e ser votado
do aposentado filiado à entidade sindical.
O inciso II traz o princípio da unicidade sindical,
ou seja, a regra pela qual é vedada a criação de mais Art. 8º [...]
de uma organização sindical na mesma base territo- VIII - é vedada a dispensa do empregado sin-
rial. Por essa razão, a CF/88 definiu a base territorial dicalizado a partir do registro da candidatura
mínima, ou seja, o Município. No entanto, não especi- a cargo de direção ou representação sindical
ficou a base máxima, de modo que pode haver um sin- e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o
dicato para a defesa da categoria no âmbito estadual final do mandato, salvo se cometer falta grave
ou nacional. nos termos da lei.

Art. 8º [...]
A estabilidade do dirigente sindical encontra-se
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e inte-
resses coletivos ou individuais da categoria, prevista no inciso VIII. Seu objetivo é permitir que
inclusive em questões judiciais ou administrativas; seus dirigentes atuem sem medo de represálias, ou
seja, de serem desligados do emprego devido à atua-
A representação e substituição do sindicato na ção. Trata-se, portanto, da regra que proíbe a dispen-
defesa dos direitos e interesses de seus membros está sa do empregado sindicalizado a partir do registro da
disciplinada no inciso III. candidatura a cargo de direção ou representação sin-
dical. No caso dos eleitos, mesmo que na condição de
Art. 8º [...] suplentes, a estabilidade perdura até um ano após o
IV - a assembleia geral fixará a contribuição final do mandato.
que, em se tratando de categoria profissional, será Observa-se, no entanto, que a estabilidade não é
descontada em folha, para custeio do sistema
absoluta, uma vez que é possível a demissão em caso
confederativo da representação sindical respec-
tiva, independentemente da contribuição prevista de cometimento de falta grave. Ainda, cabe destacar
em lei; que, de acordo com a alínea “a”, do inciso II, do art.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


10, do ADCT, os membros da Comissão Interna para
O inciso IV trata da contribuição confederativa Prevenção de Acidentes (CIPA) eleitos pelos trabalha-
sindical. Cumpre esclarecer, no entanto, que nenhu- dores também possuem estabilidade; já os indicados
ma das contribuições relativas à atividade sindical pelo empregador não a possuem.
é obrigatória, de modo a depender de autorização
expressa e prévia do destinatário. Portanto, somente Art. 8º [...]
quem é filiado ao respectivo sindicato deve pagar a Parágrafo único. As disposições deste artigo apli-
contribuição confederativa prevista nesse dispositivo. cam-se à organização de sindicatos rurais e de
colônias de pescadores, atendidas as condições
Art. 579 (CLT) O desconto da contribuição sindical que a lei estabelecer.
está condicionado à autorização prévia e expressa
dos que participem de uma determinada categoria Por fim, o parágrafo único estabelece que essas
econômica ou profissional, ou de uma profissão
regras também são aplicadas aos sindicatos rurais e
liberal, em favor do sindicato representativo da
mesma categoria. de pescadores.

Súmula Vinculante nº 40 A contribuição con- Art. 9º É assegurado o direito de greve, competin-


federativa de que trata o art. 8º, IV, da Constitui- do aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
ção Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato de exercê-lo e sobre os interesses que devam por
respectivo. meio dele defender. 193
O direito de greve dos trabalhadores encontra-se z Nacionalidade derivada é aquela que decorre de
assegurado no art. 9º, da CF/88. Inicialmente, há de se qualquer outro fator que não o nascimento, como,
esclarecer que a expressão “trabalhadores” refere-se por exemplo, passar a residir em um país ou casar-
aos empregados da iniciativa privada, geralmente -se com um estrangeiro e adquirir a nacionalidade
regidos pela CLT. Em síntese, greve é a suspensão tem- deste (essa hipótese não existe no direito brasi-
porária das atividades laborais desenvolvidas e tem leiro, pois o casamento com brasileiro, por si só,
como causa o interesse dos trabalhadores. não dá o direito à nacionalidade brasileira). Para
adquirir a nacionalidade derivada, é necessário
Art. 9º [...] um procedimento chamado de naturalização e, em
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen-
regra, ao se adquirir uma nova nacionalidade, por
ciais e disporá sobre o atendimento das necessida-
des inadiáveis da comunidade. ser esta voluntária, perde-se a nacionalidade ante-
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis rior (direito de opção).
às penas da lei.
Os direitos de nacionalidade estão disciplinados
No que se refere aos serviços essenciais, tais como nos arts. 12 e 13, da CF/88. Vejamos cada um deles:
transporte público, serviços de fornecimento de luz, Art. 12 São brasileiros:
água, entre outros, o direito de greve é assegurado, mas I - natos:
sofre restrições. A lei que disciplina a greve dos traba- a) os nascidos na República Federativa do Brasil,
lhadores dos serviços essenciais é a Lei nº 7.783, de 1989. ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país;
Art. 10 É assegurada a participação dos traba- b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou
lhadores e empregadores nos colegiados dos mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a
órgãos públicos em que seus interesses profissio-
serviço da República Federativa do Brasil;
nais ou previdenciários sejam objeto de discussão
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou
e deliberação.
de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a resi-
O art. 10 decorre do direito a uma gestão dir na República Federativa do Brasil e optem, em
democrática, ou seja, de participação junto aos qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,
colegiados dos órgãos públicos que gerenciam os inte- pela nacionalidade brasileira;
resses profissionais ou os valores aplicados nos fun-
dos previdenciários.
No que se refere à nacionalidade originária, a
Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos CF/88 adota, no inciso I, do art. 12, um sistema misto
empregados, é assegurada a eleição de um de definição da nacionalidade, uma vez que os dois
representante destes com a finalidade exclusiva critérios estão inseridos em seu dispositivo para defi-
de promover-lhes o entendimento direto com os nir brasileiro nato.
empregadores. A alínea “a” adota o critério territorial ao con-
siderar brasileiro o nascido em solo brasileiro, tanto
Por fim, o art. 11 estabelece, como mecanismo de
de pais brasileiros como estrangeiros, desde que estes
promover o entendimento e facilitar o diálogo entre
não estejam a serviço de seus países.
empregados e empregador em empresas maiores
(com mais de 200 funcionários), a formação de uma A alínea “b” adota o critério sanguíneo aliado
comissão de representação. ao trabalho, ao considerar brasileiro aquele que nas-
Atenção! Os representantes não se confundem ceu fora do solo brasileiro, porém possuindo pai ou
mãe brasileiros e um destes esteja a serviço do Bra-
com os dirigentes sindicais.
sil, como, por exemplo, filho de diplomata brasileiro a
NACIONALIDADE serviço no Japão.
Por fim, a alínea “c” adota o critério sanguí-
O direito à nacionalidade é a garantia de ter um neo aliado à opção ou registro do nascimento em
vínculo político-jurídico com um país, uma vez que repartição competente, considerando como brasilei-
todas as pessoas têm direito de vincular-se a um Esta- ro aquele que nasceu fora do território brasileiro, sen-
do Soberano para que este possa assegurar a proteção do filho de pai ou mãe brasileiros sem que qualquer
dos seus direitos fundamentais. um deles estivesse a serviço do Brasil, e foi registrado
A ausência de vínculo enseja a condição de apátri- na repartição brasileira competente no exterior (Con-
da e impede que o indivíduo pleiteie proteção jurídi- sulado). Também é considerado brasileiro nato por
ca básica por não estar vinculado a nenhum estatuto essa alínea aquele que nasceu fora do território bra-
pessoal. Deste modo, ter uma nacionalidade significa sileiro, sendo filho de pai ou mãe brasileiros sem que
ter direito à proteção jurídica e política por parte de qualquer um deles estivesse a serviço do Brasil, e veio
um Estado. a residir no Brasil, tendo optado pela nacionalidade
A nacionalidade pode ser originária ou derivada. brasileira após atingida a maioridade. Exemplo: filha
Vejamos: de alemã com brasileiro nascida na Alemanha, mas se
mudou para o Brasil e, tendo completado 18 (dezoito)
z Nacionalidade originária é aquela que decor- anos, tenha optado pela nacionalidade brasileira.
re do nascimento e, a depender do Estado, pode
seguir o critério de vínculo biológico (jus sangui- Art. 12 [...]
nis), ou o critério do local do nascimento (jus solis), II - naturalizados:
ou os dois. Nesse tipo de nacionalidade, é possível a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionali-
a coexistência de mais de uma nacionalidade (ex.: dade brasileira, exigidas aos originários de países
filho de italiano nascido no Brasil é italiano por de língua portuguesa apenas residência por um
194 sangue e brasileiro por solo); ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, Os cargos elencados no § 3º não podem ser preen-
residentes na República Federativa do Brasil há chidos por brasileiros naturalizados, nem por estran-
mais de quinze anos ininterruptos e sem con- geiros. Observa-se que os quatro primeiros incisos se
denação penal, desde que requeiram a nacionali- referem ao Chefe de Estado e àqueles que estão em
dade brasileira.
sua ordem sucessória. O inciso V refere-se àqueles
que irão representar o Estado brasileiro no exterior,
Conforme vimos, a naturalização é o meio pelo
enquanto os incisos VI e VII têm relação com a segu-
qual se adquire a nacionalidade por outro motivo que
rança nacional.
não o nascimento. Trata-se do ato pelo qual um país
concede a um estrangeiro a qualidade de nacional Vale destacar que o brasileiro naturalizado poderá
desse Estado. A naturalização pressupõe pedido da ser senador ou deputado, só não poderá ser presiden-
parte interessada. te das casas.
O inciso II estabelece, como critério para que se
adquira a naturalização, o lapso temporal. No caso Art. 12 [...]
dos estrangeiros originários de países de língua portu- § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do
guesa, tais como Portugal, Cabo Verde, Moçambique, brasileiro que:
entre outros, a Norma Constitucional prevê residência I - tiver cancelada sua naturalização, por senten-
de apenas um ano ininterrupta e idoneidade moral. Já ça judicial, em virtude de atividade nociva ao
para os demais estrangeiros, faz-se necessário residir interesse nacional;
por mais de 15 (quinze) anos e não possuir condena- II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos
ção penal. casos:
Note que, além do prazo de residência, enquan- a) de reconhecimento de nacionalidade originária
to, para um, basta a idoneidade, para os demais, não pela lei estrangeira;
deve existir condenação penal. b) de imposição de naturalização, pela norma
estrangeira, ao brasileiro residente em estado
Art. 12 [...] estrangeiro, como condição para permanência em
§ 1º Aos portugueses com residência permanente seu território ou para o exercício de direitos civis;
no País, se houver reciprocidade em favor de brasi-
leiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao bra- Por fim, o § 4º traz as hipóteses de perda da
sileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. nacionalidade. A primeira possibilidade é a perda
da nacionalidade derivada (aquela adquirida pela
O § 1º estabelece a possibilidade de reciprocida- naturalização), que ocorrerá quando houver sentença
de para os portugueses residentes de forma perma- judicial determinando seu cancelamento, em decor-
nente no Brasil. Trata-se de benefícios decorrentes do rência do envolvimento do naturalizado em atividade
Estatuto da Igualdade no que se refere aos direitos e nociva ao interesse do Estado.
obrigações civis e políticos sem a perda da naciona- A segunda possibilidade decorre do denominado
lidade originária. Esse Estatuto encontra respaldo no princípio da vassalagem, isto é, a aquisição de nacio-
Decreto nº 3.927, de 2001, que promulgou o Tratado nalidade derivada implica a perda da nacionalidade
de Amizade, Cooperação e Consulta entre Brasil e de origem.
Portugal.
A perda da nacionalidade originária aplica-se ape-
nas aos naturalizados. Aqueles que possuem mais de
Art. 12 [...]
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre
uma nacionalidade originária podem manter todas
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos as nacionalidades de forma concomitante. Exemplo:
casos previstos nesta Constituição. filho de japonês que nasce em solo brasileiro é bra-
sileiro pelo critério territorial e japonês pelo critério
De acordo com o § 2º, independentemente de a sanguíneo.
nacionalidade ter sido adquirida de modo originário Observa-se que a perda da nacionalidade pelo
ou derivado, todos os brasileiros são iguais em direi- naturalizado também comporta uma exceção: imposi-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


tos e obrigações. Trata-se, portanto, de um desdobra- ção de naturalização como condição para permanên-
mento do direito à igualdade. cia em território estrangeiro ou para o exercício de
Como nenhum direito é absoluto, a CF/88 pode direitos civis, como, por exemplo, um brasileiro que
estabelecer tratamento diferente aos natos e natu- vai trabalhar em outro país.
ralizados. A única distinção constitucional existente O brasileiro que perdeu sua nacionalidade por ter
encontra-se no parágrafo seguinte: se naturalizado poderá readquirir a nacionalidade
brasileira ou ter revogado o ato que declarou a sua
Art. 12 [...] perda, retornando à condição de brasileiro nato por
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
expressa previsão da Lei nº 13.445, de 2017 (Lei de
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; Migração). Exemplo: brasileira que se casa com ale-
III - de Presidente do Senado Federal; mão e naturaliza-se alemã, porém se divorcia de seu
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; marido e volta ao Brasil.
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas. Art. 13 A língua portuguesa é o idioma oficial
VII - de Ministro de Estado da Defesa. da República Federativa do Brasil.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Bra-
Observa-se que os brasileiros naturalizados pos- sil a bandeira, o hino, as armas e selo nacionais.
suem todos os direitos dos brasileiros natos, salvo o § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
acesso a determinadas funções públicas. poderão ter símbolos próprios. 195
O art. 13 não é um direito de nacionalidade, mas Dica
estabelece regras com relação ao Estado brasileiro.
A primeira regra diz respeito ao idioma oficial, que Para ajudar na memorização da diferença entre
é a língua portuguesa. Trata-se, portanto, da língua o plebiscito e o referendo, associe:
que toda a população brasileira deve utilizar em suas Plebiscito com PREbiscito: o termo pre remete
ações oficiais, ou seja, nas suas relações com as insti- para algo que ocorre previamente/antes/ante-
tuições do Estado. A outra regra diz respeito aos sím- rior, tal como o plebiscito que a consulta popular
bolos do Brasil. é prévia.
Para memorizar os símbolos, utilize o mnemônico Referendo com REFERIR: o termo referir remete
BAHIAS: para algo que “diz respeito” ou “que tem relação”,
ou seja, que já aconteceu/falou/fez/existe, tal
BAndeira como no referendo que a consulta é posterior à
HIno criação do ato administrativo ou da lei.
Armas
Selo nacional A Iniciativa Popular é um instrumento de demo-
cracia direta que permite aos cidadãos a apresentação
de proposta de lei, desde que preenchidos os seguintes
A última regra diz respeito ao fato de os Estados-
requisitos previstos no § 2º, do art. 61, da CF:
-membros, Distrito Federal e Municípios possuírem
símbolos próprios. Alguns Estados-membros possuem Art. 61 [...]
símbolos diferentes, como, por exemplo, o Estado de § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
São Paulo, que, de acordo com o art. 7º, de sua Cons- apresentação à Câmara dos Deputados de projeto
tituição Estadual, tem, como símbolos, a bandeira, o de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
brasão de armas e o hino. Não constam o selo e as eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por
armas, estando, portanto, de forma diversa da CF/88.
cento dos eleitores de cada um deles.
CIDADANIA E DIREITOS POLÍTICOS
Da leitura do dispositivo acima, extrai-se os seguin-
tes pontos:
Os direitos políticos encontram-se disciplinados
nos arts. 14 a 16 da Constituição Federal. São direi-
z Deve ser proposto na Câmara de Deputados;
tos relacionados com a participação popular, funda- z É necessário a assinatura de, no mínimo, 1% (um
dos na ideia de que os cidadãos possuem o direito de por cento) do eleitores brasileiros;
influenciar as decisões do Estado, bem como de influir z Este 1% (um por cento) deve ser composto de elei-
na formação da vontade deste. tores de, pelos menos, 05 (cinco) Estados-membros.
Os direitos políticos conferidos à população brasi- z Cada um dos Estados-membros referidos acima
leira são exercidos através do sufrágio universal, que deve possuir no mínimo 0,3% (três décimos) do seu
é compreendido pela: próprio eleitorado estadual.

z Capacidade eleitoral ativa: direito de votar; Direitos Políticos Ativos


z Capacidade eleitoral passiva: direito de ser
votado. É o que confere ao cidadão a capacidade de votar,
participar de plebiscitos ou referendos, subscrever
De acordo com o art. 14 da CF, a soberania popular projeto de iniciativa popular, bem como de propor
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto dire- ação popular para anular ato lesivo ao patrimônio
to e secreto, mediante: público ou de entidade de que o Estado participe ou,
ainda, acautelar a moralidade administrativa, o meio
z Plebiscito; ambiente e patrimônio histórico e cultural brasileiro.
z Referendo; Essa capacidade é conferida ao cidadão por meio
z Iniciativa popular. do alistamento eleitoral. São inalistáveis os estran-
geiros e os conscritos (durante serviço militar obriga-
tório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e
Antes de prosseguir no estudo dos direitos polí-
foram convocados a prestar serviço militar).
ticos, faz-se importante conceituar e diferenciar os
mecanismos de democracia direta elencados acima,
Alistamento Eleitoral e o Voto
quais sejam: o plebiscito, o referendo e a iniciativa
popular. Nos termos do § 1º, do art. 14, da Constituição
Tanto o plebiscito quanto o referendo são instru- Federal, o alistamento eleitoral e do voto são:
mentos que se destinam à consulta popular sobre
determinado assunto (ato administrativo ou lei). z Obrigatórios
A principal diferença entre eles está atrelada ao
momento da consulta. „ Para os maiores de dezoito anos;
No plebiscito, a consulta é prévia, ou seja, antes da
criação do ato administrativo ou da lei, convocam-se z Facultativos
os cidadãos para responderem à consulta. Ao passo
que, no referendo, primeiro cria-se o ato administra- „ Os analfabetos;
196 tivo ou a lei, e depois se autoriza a consulta ao povo. „ Os maiores de setenta anos;
„ Os maiores de dezesseis e menores de dezoito Art. 14 [...]
anos. § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou
Condições de Elegibilidade afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pre-
sidente da República, de Governador de Estado ou
Conforme § 3°, do art. 14, da CF, são condições de Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de
quem os haja substituído dentro dos seis meses
elegibilidade, isto é, condições para se eleger a deter-
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato
minado cargo político:
eletivo e candidato à reeleição.

z Nacionalidade brasileira; Acerca do assunto, é importante conhecer o texto


z O pleno exercício de direitos da Súmula nº 6 do TSE:
políticos;
Elegibilidade z Alistamento eleitoral; Súmula 6-TSE: São inelegíveis para o cargo de che-
z Domicilio eleitoral na circuns- fe do Executivo o cônjuge e os parentes, indicados
crição correspondente; no § 7º do art. 14 da Constituição Federal, do titular
z Filiação partidária. do mandato, salvo se este, reelegível, tenha faleci-
do, renunciado ou se afastado definitivamente do
cargo até seis meses antes do pleito.:
A constituição também define a idade mínima que
cada candidato deve ter, a depender do cargo que
deseja se eleger: Na mesma temática, veja a redação da Súmula Vin-
culante nº 18 do STF (de observância obrigatória):
z Presidente e Vice-Presidente da República e Sena-
Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da socie-
dor: 35 anos;
dade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato,
z Governador e Vice-Governador dos Estados-mem-
não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do arti-
bros e do Distrito Federal : 30 anos;
go 14 da ConstituiçãoFederal
z Deputado Federal, Deputador Estadual ou Distri-
tal, Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de Paz: 21 anos;
Todo inalistável é inelegível, mas nem todo inele-
z Vereador: 18 anos.
gível é inalistável. Assim, quem não pode votar, como
os estrangeiros e os conscritos durante serviço mili-
A condição de nacional é um pressuposto para a de tar obrigatório, não pode ser votado, assim como os
cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status de analfabetos. No entanto, isso não significa que os que
nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o poder não podem ser votados, necessariamente, não possam
participar do processo governamental, sobretudo pelo votar. Ex.: o analfabeto é inelegível, mas não é inalis-
voto. Assim, a nacionalidade é condição necessária, tável, logo, pode votar, embora seu voto não seja obri-
mas não suficiente para o exercício da cidadania. gatório, mas não pode ser votado.
Quanto à reeleição e desincompatibilização, a
Dica Emenda Constitucional nº 16 trouxe a possibilidade
de reeleição para o chefe dos Poderes Executivos fede-
Nacional é diferente de cidadão, logo cidadania é
ral, estadual, distrital e municipal. Ao contrário do sis-
diferente de nacionalidade!
tema americano de reeleição, que permite apenas a
recondução por um período somente, no Brasil, após
Inelegibilidades
o período de um mandato, o governante pode voltar a
se candidatar para o posto.
A Constituição não menciona exaustivamente
todas as hipóteses de inelegibilidade, apenas fixa
Art. 14 [...]
algumas, deixando reservado que lei complementar § 5º O Presidente da República, os Governadores de
poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade. Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído no curso dos man-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 14 [...] datos poderão ser reeleitos para um único período
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de subsequente.
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presi-
de proteger a probidade administrativa, a morali- dente da República, os Governadores de Estado e
dade para exercício de mandato considerada vida do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimi- aos respectivos mandatos até seis meses antes do
dade das eleições contra a influência do poder eco- pleito.
nômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.
Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos
alguns requisitos:
Em regra:
Art. 14 [...]
Art. 14 [...] § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
Há também a inelegibilidade derivada do casa- afastar-se da atividade;
mento ou do parentesco com o Presidente da Repú- II - se contar mais de dez anos de serviço, será agre-
blica, com os Governadores de Estado e do Distrito gado pela autoridade superior e, se eleito, passará
Federal e com os Prefeitos, ou com quem os haja subs- automaticamente, no ato da diplomação, para a
tituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. inatividade. 197
O Mandato eletivo pode ser impugnado: PARTIDOS POLÍTICOS

Art. 14 [...] Os partidos políticos estão previstos no art. 17 da


§ 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante Constituição Federal. Tratam-se de intituições essen-
a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias conta- ciais à manuntenção e preservação do Estado demo-
dos da diplomação, instruída a ação com provas de crativo de direito.
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude;
§ 11 A ação de impugnação de mandato tramitará
Art. 17 É livre a criação, fusão, incorporação e
em segredo de justiça, respondendo o autor, na for-
extinção de partidos políticos, resguardados a
ma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
soberania nacional, o regime democrático, o pluri-
partidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
Perda e Suspensão dos Direitos Políticos humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
A perda e a suspensão dos direitos políticos II - proibição de recebimento de recursos finan-
podem se dar, respectivamente, de forma definitiva ceiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
ou temporária. subordinação a estes;
Ocorrerá a perda quando: houver cancelamento III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
da naturalização por sentença transitada em julga- IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
do e no caso de recusa de cumprir obrigação a todos § 1º É assegurada aos partidos políticos autono-
imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço mia para definir sua estrutura interna e estabelecer
militar obrigatório). regras sobre escolha, formação e duração de seus
Já a suspensão ocorre enquanto persistirem os órgãos permanentes e provisórios e sobre sua orga-
motivos desta, ou seja, enquanto o indivíduo não o nização e funcionamento e para adotar os critérios
retomar a capacidade civil ele terá seus direitos políti- de escolha e o regime de suas coligações nas eleições
cos suspensos. Readquirindo-a, alcançará, novamente majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições
o status de cidadão. Também são passíveis de suspen- proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação
são os condenados criminalmente (com sentença tran- entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual,
sitado em julgado). Cumprida a pena, readquirem os distrital ou municipal, devendo seus estatutos esta-
direitos políticos; no caso de improbidade administra- belecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
tiva, a suspensão será, da mesma forma, temporária. § 2º Os partidos políticos, após adquirirem perso-
nalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão
Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos, seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: § 3º Somente terão direito a recursos do fundo
I - cancelamento da naturalização por sentença partidário e acesso gratuito ao rádio e à televi-
transitada em julgado; são, na forma da lei, os partidos políticos que
II - incapacidade civil absoluta; alternativamente:
III - condenação criminal transitada em julgado, I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Depu-
enquanto durarem seus efeitos; tados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta válidos, distribuídos em pelo menos um terço das
ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, unidades da Federação, com um mínimo de 2%
VIII; (dois por cento) dos votos válidos em cada uma
V - improbidade administrativa, nos termos do art. delas; ou
37, § 4º. II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados
Federais distribuídos em pelo menos um terço das
Acerca da suspensão de direitos políticos importa unidades da Federação.
destacar o seguinte: § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos
de organização paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os
Súmula 9 do TSE: A suspensão de direitos políticos
decorrente de condenação criminal transitada em requisitos previstos no § 3º deste artigo é assegu-
julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da rado o mandato e facultada a filiação, sem perda
pena, independendo de reabilitação ou de prova de do mandato, a outro partido que os tenha atingi-
reparação dos danos. do, não sendo essa filiação considerada para fins
de distribuição dos recursos do fundo partidário e
de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.
Ainda, acerca da suspensão de direitos políticos, o
Supremo Tribunal Federal manifesta:
Acerca dos direitos políticos, importante citar a
A suspensão de direitos políticos prevista no art. Emenda Constitucional nº 97, de 2017, que altera a
15, III, da Constituição Federal, aplica-se no caso CF com o fim de proibir as coligações partidárias nas
de substituição da pena privativa de liberdade pela eleições proporcionais, estabelecer normas acerca
restritiva de direitos. STF. Plenário. RE 601182/MG, do acesso dos partidos políticos aos recursos do fun-
Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexan- do partidário, regulamentar o tempo de propaganda
dre de Moraes, julgado em 8/5/2019 (repercussão gratuito no rádio e na televisão, além de dispor sobre
geral) (Info 939). regras de transição.
Veja o que dispõe o art. 3º da referida Emenda
Por fim, concluindo o assunto de direitos políticos, Constitucional:
veja o que dispõe o art. 16 da CF:
Art. 3º O disposto no § 3º do art. 17 da Constituição
Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral entra- Federal quanto ao acesso dos partidos políticos aos
rá em vigor na data de sua publicação, não se apli- recursos do fundo partidário e à propaganda gra-
cando à eleição que ocorra até um ano da data de tuita no rádio e na televisão aplicar-se-á a partir
198 sua vigência. das eleições de 2030.
Parágrafo único. Terão acesso aos recursos do fun- Habeas Corpus também pode ser impetrado por
do partidário e à propaganda gratuita no rádio e na estrangeiro (desde que na língua portuguesa) contra
televisão os partidos políticos que: particular.
I - na legislatura seguinte às eleições de 2018: Não cabe Habeas Corpus contra punição disciplinar
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos militar, salvo se imposta pela autoridade competente.
Deputados, no mínimo, 1,5% dos votos válidos, Destacamos a seguir algumas Súmulas importan-
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da tes do STF sobre o tema:
Federação, com um mínimo de 1% dos votos váli-
dos em cada uma delas; ou Súmula 395 Não se conhece de recurso de habeas
b) tiverem elegido pelo menos 9 Deputados Fede- corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das
rais distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades custas, por não estar mais em causa à liberdade de
locomoção.
da Federação;
Súmula 431 É nulo o julgamento de recurso crimi-
II - na legislatura seguinte às eleições de 2022:
nal, na segunda instância, sem prévia intimação, ou
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Depu- publicação da pauta, salvo em habeas corpus.
tados, no mínimo, 2% dos votos válidos, distribuí- Súmula 692 Não se conhece de habeas corpus con-
dos em pelo menos 1/3 das unidades da Federação, tra omissão de relator de extradição, se fundado em
com um mínimo de 1% dos votos válidos em cada fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava
uma delas; ou dos autos, nem foi ele provocado a respeito.
b) tiverem elegido pelo menos 11 Deputados Fede- Súmula 693 Não cabe habeas corpus contra deci-
rais distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades são condenatória a pena de multa, ou relativo a
da Federação; processo em curso por infração penal a que a pena
III - na legislatura seguinte às eleições de 2026: pecuniária seja a única cominada.
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Súmula 694 Não cabe habeas corpus contra a
imposição da pena de exclusão de militar ou de per-
Deputados, no mínimo, 2,5% dos votos válidos,
da de patente ou de função pública.
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
Súmula 695 Não cabe habeas corpus quando já
Federação, com um mínimo de 1,5% dos votos
extinta a pena privativa de liberdade.
válidos em cada uma delas; ou
b) tiverem elegido pelo menos 13 Deputados Fede-
Habeas Data
rais distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades
da Federação. A previsão no inciso LXXII, art. 5° da CF e Lei 9.507,
de 1997, regula o direito de acesso às informações e
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS, disciplina o rito processual do habeas data têm o obje-
COLETIVOS, SOCIAIS E POLÍTICOS tivo de acessar e retificar informações do impetrante
que estão em um órgão público ou de caráter público,
É importante não confundir direitos fundamentais como por exemplo: entidade privada de caráter públi-
com garantias fundamentais. Os direitos fundamen- co = SPC/SERASA.
tais são vantagens, proteção em favor das pessoas, Note que, neste caso, precisa ser demonstrado
como por exemplo o direito de informação. Já as que foram solicitadas as informações em um pri-
garantias fundamentais são instrumentos processuais meiro momento, ou seja, precisa-se esgotar a via
para defesa daqueles direitos, conhecidos como ações administrativa.
ou remédios constitucionais, como por exemplo: A doutrina e jurisprudência admitem que cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão podem impetrar
habeas data, habeas corpus, Mandado de Segurança,
habeas data em favor de terceiro, caso este esteja inca-
Mandado de Injunção e a Ação Popular, conforme
pacitado ou ausente.
veremos a seguir.
Mandado de Segurança
Habeas Corpus
Agora passaremos à análise do mandado de segu-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Tem como objetivo proteger o direito de ir e vir, rança, sendo que este pode ser individual ou coletivo:
ou seja, pode ser requerido sempre que alguém sofrer
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação z Mandado de Segurança Individual
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
abuso de poder; está fundamentado no inciso LXVIII, Previsto no inciso LXIX, art. 5° da CF e Lei 12.016,
art. 5° da CF e art. 647 a 667 do CPP, de 2009, tem o objetivo de proteger direito líquido e
Pode ser habeas corpus preventivo para evitar certo (requerido no prazo de 120 dias do conhecimen-
uma futura violação à liberdade, ou habeas corpus to da lesão), devidamente comprovado com provas
repressivo, o qual busca o fim de uma coação já documentais; não há prova testemunhal nem pericial.
cometida. Importante frisar também que não existe a Tem caráter subsidiário, ou seja, quando não for caso
de habeas corpus e nem habeas data.
necessidade de um advogado para entrar com a ação.
Cabível quando existe abuso ou ilegalidade de
autoridade pública. A súmula 625 do STF dispõe que
z Sujeito ativo (impetrante): qualquer pessoa; “Controvérsia sobre matéria de direito não impede con-
z Vítima (paciente): qualquer pessoa, brasileiro ou cessão de mandado de segurança”, ou seja, caso houver
estrangeiro; dúvida a respeito de interpretação da lei não impede
z Sujeito passivo (coator): autoridade ou agen- o deferimento do mandado de segurança.
te público que cometeu ilegalidade ou abuso de Não cabe Mandado de segurança nos seguintes
poder contra particular. casos: 199
„ Atos meramente informativos; Súmula 629 do STF: A impetração de mandado de
„ Atos que transitaram em julgado; segurança coletivo por entidade de classe em favor
„ Ato administrativo que comporte recurso com dos associados independe da autorização destes.
efeito suspensivo; e Súmula 630 do STF: A entidade de classe tem legi-
timação para o mandado de segurança ainda quan-
„ Ato judicial em fase recursal.
do a pretensão veiculada interesse apenas a uma
parte da respectiva categoria.
Cuidado! Referente aos atos que transitaram em
julgado hoje, a jurisprudência entende por uma possí- Mandado de Injunção
vel mitigação da súmula 268 do STF. Vejamos:
Tem previsão no inciso LXXI, art. 5° da CF e Lei
No entanto, sendo a impetração do mandado de 13.300, de 2016 (lei do mandando de Injução) e é cabí-
segurança anterior ao trânsito em julgado da vel nas hipóteses em que não tem lei específica regu-
decisão questionada, mesmo que venha a acon- lamentando o direito. É importante frisar que, alémda
tecer, posteriormente, não poderá ser invocado o Lei 13.300, devem ser observadas as normas da lei do
seu não cabimento ou a sua perda de objeto, mas Mandado de Segurança,conforme prevê o parágrafo
preenchidas as demais exigências jurídico-proces- único, art. 24, da Lei 8.038, de 1990.
suais, deverá ter seu mérito apreciado. (EDcl no MS
22.157/DF, Rel. Ministro Herman Benjamin, Rel. p/ Art. 24 [...]
Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em Parágrafo único - No mandado de injunção e no
14.03.2019, DJe 11.06.2019) habeas data, serão observadas, no que couber, as
normas do mandado de segurança, enquanto
„ Agente ativo: Pessoa física ou jurídica. Agentes não editada legislação específica.
políticos podem ser sujeitos ativo ou passivo;
„ Agente passivo: autoridade, pessoa física z Aplicabilidade: falta de uma norma regulamen-
revestida de poder público. União, Estados e tadora de direito, liberdade constitucional e das
DF ingressarão como litisconsortes necessá- prerrogativas inerentes a nacionalidade, sobera-
rios, por meio de seus procuradores; no caso do nia e cidadania. Buscar o exercício do direito para
município, através de seu Prefeito; uma pessoa ou certo grupo de pessoas.
„ Liminar: cabimento conforme inciso III, art. Exemplo: Conseguir se aposentar ou exercer o
direito de greve;
7° da Lei 12.016/2009, o juiz poderá determi-
z Agente ativo: Qualquer pessoa;
nar a suspensão do ato (que causou a violação
z Liminar: Mandado de Injunção não tem liminar.
do direito), desde que exista motivo relevante,
vejamos:
Ação Popular
Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
É um direito fundamental e individual de todo
[...]
cidadão, fundamentado no inciso LXXIII, art. 5° e
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao
regulado pela lei 4.717, de 1965 e tem como objetivo
pedido, quando houver fundamento relevante e
a proteção do patrimônio público (erário), histórico,
do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
cultural, do meio ambiente e da moralidade admi-
medida, caso seja finalmente deferida, sendo facul-
nistrativa. Protege o patrimônio público contra, por
tado exigir do impetrante caução, fiança ou depósi-
exemplo, obras superfaturadas.
to, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à
Ação popular pode ter duas formas, a preventi-
pessoa jurídica.
va, que é ajuizada antes da consumação dos efeitos
do ato, e repressiva, que visa corrigir os atos danosos
z Mandado de Segurança Coletivo consumados.

Previsto no inciso LXX art. 5° da CF e no art. 21 da z Agente ativo: Qualquer cidadão brasileiro. Se este
Lei 12.016, de 2009, tem o objetivo de proteger certo abandonar ação, outro cidadão poderá assumir.
grupo de pessoas (corporativo). Os requisitos e o pra-
zo decadencial são os mesmos do Mandado de Segu- O Ministério Público não pode propor, mas
rança individual. pode assumir andamento e dar execução à decisão
da ação popular (legitimidade extraordinária ou
„ Agente ativo: Partido político com represen- superveniente).
tação no Congresso Nacional; ou organização
sindical, entidade de classe ou associação legal- z Agente passivo: administrador da entidade que
mente constituída e em funcionamento há pelo lesionou.
menos um ano, em defesa de seus membros
ou associados; deve demonstrar pertinência Lei 4.717, de 1965:
temática;
„ Agente passivo: autoridade coatora; [...]
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas
„ Liminar: cabimento conforme inciso III, art.
públicas ou privadas e as entidades referidas no
7° e § 2°, art. 22 da Lei 12.016, de 2009. Basta
art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
representar os requisitos “fumus boni iuris” e administradores que houverem autorizado, apro-
“periculum in mora”. vado, ratificado ou praticado o ato impugnado,
ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à
200 Súmulas importantes do STF sobre o tema: lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
A descentralização é basicamente quando as fun-
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para plei- ções que antes eram atribuídas a um só poder passam
tear a anulação ou a declaração de nulidade de atos a ser repartidas, como, por exemplo, por meio da dele-
lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
gação das competências.
Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de
Conforme § 1°, do art. 18, da CF, atualmente Bra-
sociedades de economia mista (Constituição, art. 141,
sília é a Capital Federal, trata-se de uma inovação do
§ 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União
legislador constituinte de 1988. Conforme preleciona
represente os segurados ausentes, de empresas públicas,
de serviços sociais autônomos, de instituições ou funda-
José Afonso da Silva (2017) Brasília tem uma posição
ções para cuja criação ou custeio o tesouro público haja jurídica específica no conceito de cidade até porque
concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cen- não se enquadra no conceito geral de cidade pelo fato
to do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incor- de não ser sede de um Município.10
poradas ao patrimônio da União, do Distrito Federal,
dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas UNIÃO
jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres
públicos. A União é a entidade federativa autônoma e exerce
as atribuições de soberania do Estado brasileiro. Confor-
z Liminar: Basta representar os requisitos “fumus me preleciona Pedro Lenza (2020) a União possui “dupla
boni iuris” e “periculum in mora”. personalidade” assumindo um papel internamente
como pessoa de direito público interno, componente da
Súmula 101 do STF: O mandado de segurança não Federação e detentora de autonomia financeira, admi-
substitui a ação popular. nistrativa e política e um papel internacionalmente,
Súmula 365 do STF: Pessoa jurídica não tem legiti- quando representa a República Federativa do Brasil11.
midade para propor ação popular. Neste último caso, a União representa o Estado bra-
sileiro nas relações internacionais perante os Estados
A Ação popular é isenta de custas judiciais e do estrangeiros. Neste caso, ela rege-se pelo princípio da
ônus de sucumbência. independência nacional, prevalência dos direitos huma-
Sobre o tema, vejamos também o § 4°, art. 5° da Lei nos, autodeterminação dos povos, não-intervenção,
4.717, de 1965: igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pací-
fica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo,
Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é cooperação entre os povos para o progresso da humani-
competente para conhecer da ação, processá-la e dade e concessão de asilo político (art. 4º, CF/88).
julgá-la o juiz que, de acordo com a organização As competências da União estão elencadas no texto
judiciária de cada Estado, o for para as causas que constitucional, organizadas pelo legislador originário
interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado com base no chamado princípio da predominância
ou ao Município.
do interesse público pelo particular. Neste sentido, as
[...]
atribuições de interesse nacional são de competência
§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá à sus-
pensão liminar do ato lesivo impugnado. da União, por exemplo: declarar guerra e celebrar paz.
As competências da União são classificadas como
competências administrativas e legislativas, a pri-
Ainda, é possível requerer a condenação por per-
meira se relaciona com as funções de organização do
das e danos dos responsáveis pela lesão. Cabe a todos
Estado e a segunda consiste na competência de legis-
os cidadãos a fiscalização da vida pública, auxiliando
lar. Vejamos os exemplos:
o Estado na boa gestão da vida pública.
z Competência administrativa: é competência de
a União elaborar e executar planos nacionais e
regionais de ordenação do território e de desen-
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO volvimento econômico e social;
z Competência legislativa: é competência de a
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA União legislar sobre nacionalidade, cidadania e
naturalização.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS
E TERRITÓRIOS O estudo das competências será abordado de for-
ma mais aprofundada em tópico específico na sequên-
Federação é a organização política, administrativa cia deste material.
e jurídica formada por uma população em um territó- Cuidado para não confundir União com República
rio determinado. Federativa do Brasil:
O Estado federado é constituído por um conjunto
de Estados-membros, que são autônomos e unidos z A República Federativa do Brasil é um Estado
por uma Constituição. Federado, ou seja, é constituído por um conjunto
Os Estados-membros são autonômos, mas não de Estados-Membros. Vale ressaltar que os Esta-
soberanos, pois somente a Federação que é conside- dos-Membros são autônomos, pois são dotados de
rada soberana. autonomia e autogoverno, por outro lado, não são
Cada Estado membro é considerado uma unida- soberanos, uma vez que soberana é somente a Fede-
de federativa que possui poder político descentrali- ração como um todo. No nosso pacto federativo, o
zado. Sendo assim, são componentes da República poder é descentralizado, pois a Constituição prevê
Federativa: a União, os Estados, o Distrito Federal e os núcleos de poder e concede autonomia para os seus
Municípios. entes (União, Estados, Municípios e Distrito Federal);
10  SILVA, op. cit, p. 476.
11  LENZA, Pedro; Direito Constitucional Esquematizado. 24ª ed. São Paulo, 2020, p. 497. 201
z A União é uma entidade federativa (pessoa jurídi- II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
ca de direito público interno) que integra a Repú- fronteiras, das fortificações e construções milita-
blica Federativa do Brasil. É através da União que o res, das vias federais de comunicação e à preserva-
Brasil é representado nas relações internacionais. ção ambiental, definidas em lei;

Os bens da União estão enumerados no art. 20 da As terras devolutas são terras que não tem destina-
Constituição Federal, que compreende: ção pública e também não integram o patrimônio de
um particular. Exemplo: as terras devolutas situadas
z Terrenos de marinha: Nos termos do Decreto nº na Amazônia.
9.760, de 05 de setembro de 1946:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundi- terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
dade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizon- um Estado, sirvam de limites com outros países, ou
talmente, para a parte da terra, da posição da linha se estendam a território estrangeiro ou dele prove-
do preamar-médio de 1831: nham, bem como os terrenos marginais e as praias
a) os situados no continente, na costa marítima e fluviais;
nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sen-
tir a influência das marés; Exemplo: o Rio Uruguai, que banha o estado de
b) os que contornam as ilhas situadas em zona Santa Catarina e o estado do Rio Grande do Sul.
onde se faça sentir a influência das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limí-
influência das marés é caracterizada pela oscilação trofes com outros países; as praias marítimas; as
periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as
nível das águas, que ocorra em qualquer época do que contenham a sede de Municípios, exceto aque-
ano. las áreas afetadas ao serviço público e a unidade
ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;     
z Terreno acrescido de marinha: são  terrenos
acrescidos de marinha  os que se tiverem forma- Exemplo: a Ilha do Bananal, situada no estado de
do, natural ou artificialmente, para o lado do mar Tocantins, considerada a maior ilha fluvial do Brasil,
ou dos rios e lagoas, em seguimento nos  terre- com 25.000 km².
nos de marinha (art. 2º da Lei nº 3.438, de 1941);
z Mar territorial: é a faixa de doze milhas náuticas V - os recursos naturais da plataforma continental
de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar e da zona econômica exclusiva;
do litoral continental e insular, no Brasil a costa é
banhada pelo oceano Atlântico; Exemplo: recursos minerais, como, por exemplo, o
z Zona contígua: é a faixa do mar que se estende petróleo extraído da plataforma continental.
das doze às vinte e quatro milhas marítimas, con-
tadas a partir das linhas de base que servem para VI - o mar territorial;
medir a largura do mar territorial;
z Zona econômica exclusiva: compreende uma Exemplo: os navios estrangeiros no mar territorial
faixa que se estende das doze às duzentas milhas brasileiro estão sujeitos aos regulamentos estabeleci-
marítimas, contadas a partir das linhas de base que dos pelo Brasil.
servem para medir a largura do mar territorial (da
faixa territorial do Atlântico). O Brasil tem sobe- VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
rania para fins de exploração e aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos Exemplo: os imóveis situados à beira-mar (até 33
ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do metros para a parte da terra).
mar, do leito do mar e seu subsolo (arts. 6º e 7º da
Lei 8.617, de 1993); e; VIII - os potenciais de energia hidráulica;
z Plataforma continental: é a faixa de terra do
fundo do mar, que vai até 200m de profundidade, Para efeito de exploração, os potencias hidráuli-
ou seja, compreende o leito e o subsolo das áreas cos dos rios pertencem à União, por exemplo, a Usina
submarinas que se estendem além do seu mar Hidrelétrica de Santo Antônio, que está localizada na
territorial, é uma importante área de exploração cidade de Porto Velho, no Estado de Rondônia.
e pesquisa de petróleo (art. 11 da Lei nº 8.617, de
1993). IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Vejamos o art. 20 do texto constitucional que enu- Exemplo: ferro, ouro, cobre etc.
mera os bens da União:
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vie- arqueológicos e pré-históricos;
rem a ser atribuídos;
Exemplo: Sítio Arqueológico do Parque Nacional
Exemplo: as ilhas, rios, mar territorial, entre do Catimbau, localizado no Estado de Pernambuco.
outros, com exceção das terras de aldeamentos extin-
tos, ainda que ocupadas por indígenas em passado XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos
202 remoto, conforme dispõe a Súmula nº 650 do STF. índios.
Exemplo: a terra tradicionalmente ocupada pelos I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
indígenas no Oeste de Santa Catarina, localizada entre emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso,
os rios Chapecó e Chapecósinho, a 70 km de Chapecó, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
denominada como terra indígena Xapecó. II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que
Ainda, a redação do § 1º do mencionado dispositi- estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
vo foi modificada pela Emenda Constitucional nº 102, domínio da União, Municípios ou terceiros;
de 2019, conforme a atual redação, a Constituição pre- III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à
União;
vê possibilidade da participação da União, dos Esta-
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
dos, do Distrito Federal e dos Municípios no resultado
as da União.
da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos
Art. 27 O número de Deputados à Assembléia Legis-
hídricos para fins de geração de energia elétrica e de lativa corresponderá ao triplo da representação
outros recursos minerais. do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o
A Constituição consagra, ainda, a terra designada número de trinta e seis, será acrescido de tantos
como faixa de fronteira, que consiste na faixa de até quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
cento e cinquenta quilômetros de largura ao longo das § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputa-
fronteiras terrestres. Esta área é considerada funda- dos Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta
mental para defesa do território nacional, por isso o Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilida-
texto constitucional determina que a sua ocupação e de, imunidades, remuneração, perda de mandato,
utilização devem ser reguladas em lei (§ 2°, do art. 20). licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas.
ESTADOS § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixa-
do por lei de iniciativa da Assembléia Legislativa,
Os estados possuem autonomia para se orga- na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento
daquele estabelecido, em espécie, para os Deputa-
nizarem (auto-organização), que é composta pela
dos Federais, observado o que dispõem os arts. 39,
capacidade de autogoverno, autoadministração e
§ 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
autolegislação. No autogoverno o povo escolhe dire- § 3º Compete às Assembléias Legislativas dispor
tamente os seus representantes no poder legislativo e sobre seu regimento interno, polícia e serviços
executivo local, sem que haja subordinação por parte administrativos de sua secretaria, e prover os res-
da União (arts. 27, 28 e 125 da CF). Como a democracia pectivos cargos.
brasileira é semidireta o povo escolhe os governantes § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no pro-
e estes governam. cesso legislativo estadual.
Art. 28 A eleição do Governador e do Vice-Gover-
z Autogoverno: autonomia política para eleger seus nador de Estado, para mandato de quatro anos,
representantes, por exemplo, eleição de Governa- realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em
dor (arts.27 e 28 da CF/88); primeiro turno, e no último domingo de outubro,
z Autoadministração:decorre das competências em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do
administrativas conferidas aos Estados, por exem- término do mandato de seus antecessores, e a posse
plo, os Estados poderão, mediante lei complemen- ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subseqüen-
tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações te, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupa-
outro cargo ou função na administração pública
mentos de municípios limítrofes, para integrar a
direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude
organização, o planejamento e a execução de fun-
de concurso público e observado o disposto no art.
ções públicas de interesse comum (§ 3°, art. 25 da 38, I, IV e V.
CF); § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governa-
z Autolegislação: por meio da autolegislação, os dor e dos Secretários de Estado serão fixados por
Estados-mebros possuem a competência de elabo- lei de iniciativa da Assembléia Legislativa, obser-
rar sua própria Constituição Estadual, entretanto vado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II,
esta deve sempre observar à lei maior — Constitui- 153, III, e 153, § 2º, I.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


ção Federal de 1988.
Formação de Novos Estados
Assim, os Estados organizam-se e regem-se pelas
Constituições e leis que adotarem. Neste sentido, o art. Na forma prevista do art. 18 e inciso VI, do art.
25 da CF consagra aos Estados federados autonomia 48, da CF, a estrutura territorial do Brasil poderá ser
política e administrativa, com capacidade de elaborar modificada por meio de alteração dos limites terri-
suas próprias Constituições estaduais, obedecendo às toriais dos diferentes entes federados existentes. Por
diretrizes da Constituição Federal 1988. exemplo, em 1988 o norte do estado de Goiás foi des-
membrado, formando o estado de Tocantins.
AUTOGOVERNO
Art. 18 A organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil compreende a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição. [...]
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, sub-
dividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a
LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Assembleia Legislativa Governador do Estado Tribunais e Juízes
Federais, mediante aprovação da população direta-
mente interessada, através de plebiscito, e do Con-
Art. 26 Incluem-se entre os bens dos Estados: gresso Nacional, por lei complementar. 203
FUSÃO CISÃO DESMEMBRAMENTO
z Desmembramento anexação:
Juntar dois Estados e formar Dividir um Estado e formar dois Desmembrar parte de um Estado para anexar a outro
um terceiro Estado ou mais novos Estados z Desmembramento Formação:
Desmembrar parte de um Estado para formar outro Estado

Art. 48 Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado
nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:
[...]
VI - Incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas
Assembleias Legislativas;

Acerca do tema, o art. 235 da CF, assim dispõe:

Art. 235 Nos dez primeiros anos da criação de Estado, serão observadas as seguintes normas básicas:
I - a Assembléia Legislativa será composta de dezessete Deputados se a população do Estado for inferior a seiscentos
mil habitantes, e de vinte e quatro, se igual ou superior a esse número, até um milhão e quinhentos mil;
II - o Governo terá no máximo dez Secretarias;
III - o Tribunal de Contas terá três membros, nomeados, pelo Governador eleito, dentre brasileiros de comprovada
idoneidade e notório saber;
IV - o Tribunal de Justiça terá sete Desembargadores;
V - os primeiros Desembargadores serão nomeados pelo Governador eleito, escolhidos da seguinte forma:
a) cinco dentre os magistrados com mais de trinta e cinco anos de idade, em exercício na área do novo Estado ou do
Estado originário;
b) dois dentre promotores, nas mesmas condições, e advogados de comprovada idoneidade e saber jurídico, com dez
anos, no mínimo, de exercício profissional, obedecido o procedimento fixado na Constituição;
VI - no caso de Estado proveniente de Território Federal, os cinco primeiros Desembargadores poderão ser escolhi-
dos dentre juízes de direito de qualquer parte do País;
VII - em cada Comarca, o primeiro Juiz de Direito, o primeiro Promotor de Justiça e o primeiro Defensor Público
serão nomeados pelo Governador eleito após concurso público de provas e títulos;
VIII - até a promulgação da Constituição Estadual, responderão pela Procuradoria-Geral, pela Advocacia-Geral e
pela Defensoria-Geral do Estado advogados de notório saber, com trinta e cinco anos de idade, no mínimo, nomea-
dos pelo Governador eleito e demissíveis “ad nutum”;
IX - se o novo Estado for resultado de transformação de Território Federal, a transferência de encargos financeiros
da União para pagamento dos servidores optantes que pertenciam à Administração Federal ocorrerá da seguinte
forma:
a) no sexto ano de instalação, o Estado assumirá vinte por cento dos encargos financeiros para fazer face ao paga-
mento dos servidores públicos, ficando ainda o restante sob a responsabilidade da União;
b) no sétimo ano, os encargos do Estado serão acrescidos de trinta por cento e, no oitavo, dos restantes cinqüenta
por cento;
X - as nomeações que se seguirem às primeiras, para os cargos mencionados neste artigo, serão disciplinadas na
Constituição Estadual;
XI - as despesas orçamentárias com pessoal não poderão ultrapassar cinqüenta por cento da receita do Estado.

Considerando o disposto, temos:

z Fusão: quando dois ou mais Estados se unem e formam outro Estado, com outro nome e personalidade jurí-
dica própria.

Ex.: o Estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul resolvem se fundir, gerando o Estado X.

z Cisão: quando um Estado se divide em dois ou mais Estados, todos estes com nome e personalidade jurídicas
diferentes.

Ex.: o Estado do Rio Grande do Sul cinde em dois novos Estados, deixando de existir o Rio Grande do Sul para
criar os Estados X e Y.

z Desmembramento: o desmembramento pode-se dar por duas formas:

„ Anexação: aqui, parte de um ou mais Estados é desmembrada para ser anexada a um Estado já existente,
ou seja, aqui não haverá a criação de um novo Estado, mas tão somente um realocamento.

Ex.: determinada cidade, situada no Rio Grande do Sul, especificamente na divisa entre os Estados do Rio
Grande do Sul e de Santa Catarina, não mais deseja fazer parte do Rio Grande do Sul, desejando, pois, anexar-se
à Santa Catarina. Neste caso, não houve a criação de um novo Estado, mas tão somente a diminuição de território
do Rio Grande do Sul e o consequente aumento em Santa Catarina.

204 „ Formação: neste caso, parte de um ou mais Estados é desmembrada para criar um novo Estado.
Ex.: a cidade de Chapecó, localizada no Estado de Os Municípios têm autonomia política, que confe-
Santa Catarina, se desmembra de Santa Catarina para re a eles a capacidade de eleger Prefeito, Vice-Prefei-
formar o Estado X. to e Vereadores, sem a intervenção do Estado ou da
Vejamos os requisitos e procedimento para a fusão, União.Possuem, ainda, autonomia administrativa, ou
cisão e o desmembramento do estado (§ 3°, do art. 18 seja, a capacidade de atuar sobre assuntos de interes-
da CF): se local. Ex.: cabe ao município promover a proteção
do patrimônio histórico-cultural local.
FAVORÁVEL
Formação de Novos Municípios
1º 2º
Os municípios também têm autorização cons-
Plebiscito Propositura de Projeto de Lei titucional para criação, incorporação, fusão e des-
Complementar membramento de municípios. Veja os requisitos e
Consulta prévias às popula- procedimentos para a incorporação, a subdivisão e o
ções diretamente interessadas. Caso a população seja favorável
(Expressão da vontade e da ao plebiscito, será proposto pro- desmembramento de município (§ 4°, do art. 18, da
opinião do povo, demonstrada jeto de lei complementar perante CF):
através de votação); qualquer uma das casas do Con-
Atenção! O plebiscito é condição gresso Nacional.
prévia, caso não houver aprova-
ção, não passará para a próxima 1º 2º
fase.

Lei Complementar Plebiscito + Estudo de


3º 4º viabilidade
Lei complementar fixando o
período dentro do qual poderá Consulta prévia, mediante plebisci-
Oitiva da Assembleia Lei Complementar
ocorrer a criação, incorporação, to, às populações dos municípios
fusão e o desmembramento; envolvidos, após divulgação dos
Oitiva das assembleias legisla- Aprovação de lei complementar
tivas dos Estados interessados; estudos de viabilidade municipal,
pelo Congresso Nacional.
Atenção! Mesmo que a assem- apresentados e publicados na for-
O Congresso Nacional não é obri-
bleia seja desfavorável, pode ma da lei;
gado a aprovar, mas caso assim
continuar o processo de for- decida, o ato deverá ocorrer con-
mação do novo estado, não é forme determina o art. 69 da CF,
vinculativo. pelo quórum de absoluta. 3º
Quórum é a quantidade de
votos exigida para aprovação de Lei Estadual
uma lei. No caso do quórum de
maioria absoluta, a apuração é Aprovação de lei ordinária estadual formalizando a criação, incorpora-
realizada pelo número imediata- ção, fusão, ou desmembramento do município.
mente superior à metade do total
de membros.
DISTRITO FEDERAL
Aprovado pelo Congresso Nacional, o projeto de lei
A Constituição Federal de 1988 conferiu ao Dis-
complementar seguirá para fase de sanção e veto, que é
trito Federal natureza de ente federativo autônomo,
atribuição do Presidente da República. Sendo aprovado
com capacidade de auto-organização, autogoverno e
pelo Presidente, a lei será publicada no Diário Oficial.
autoadministração, contudo, proibiu a subdivisão em
Municípios (art. 32).
MUNICÍPIOS
A exemplo da autonomia do Distrito Federal pode-
-se citar a capacidade que este possui de criar a sua
No Brasil não só os Estados membros têm autono-
lei orgânica, bem como de eleger o seu Governador e
mia, mas também os Municípios, ou seja, o nosso pac-
Vice-Governador, sem interferência da União.
to federativo é formado pela União, Estados, Distrito
A sede do governo do Distrito Federal é Brasília-DF,
Federal e Municípios. Tal autonomia está prevista no
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
conforme consagra a Lei Orgânica do DF no seu art.
caput do art. 18 da CF/88, vejamos.
6º.
Conforme o § 1°, do art. 32, da CF, ao Distrito Fede-
Art. 18 A organização político-administrativa
da República Federativa do Brasil compreende ral são atribuídas às competências legislativas reser-
a União, os Estados, o Distrito Federal e os vadas aos Estados e Municípios, cumulativamente.
Municípios, todos autônomos, nos termos desta Entretanto, conforme o § 4º do dispositivo em comen-
Constituição. to, lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo
do DF, da polícia civil, da polícia penal, da polícia mili-
Como exemplo da autonomia municipal, podemos tar e do corpo de bombeiros militar, ou seja, estes são
citar a capacidade de normatização, que consiste na mantidos diretamente pela União.
capacidade do município de elaborar a sua própria lei
orgânica e demais legislações municipais. TERRITÓRIOS FEDERAIS
Conforme o art. 30 do texto constitucional, os
municípios têm competência legislativa local, ou Os Territórios Federais são divisões administrati-
seja, podem legislar sobre assuntos de interesse local, vas da União, que não pertencem a nenhum Estado;
suplementando a legislação federal e estadual no que podem surgir por meio de cisão ou desmembramento.
couber. Ex. é de competência do município a fixa- Os Territórios possuem personalidade e autono-
ção do horário de funcionamento do comércio local. mia administrativa, mas não política, ou seja, não pos-
(Súmula 645 do STF). suem capacidade de eleger os seus governantes. 205
Conforme já dito no tópico relativo aos Estados- z Horizontal: quando a Constituição confere a atri-
-membros, os Estados podem subdividir-se ou des- buição a um único ente, para exercê-la de maneira
membrar-se para formarem Territórios Federais, exclusiva ou privativa, sendo exclusiva quando a
mediante aprovação da população diretamente inte- CF proíbe que ela seja repassada (delegada) para
ressada por meio de plebiscito e do Congresso Nacio- que outro a exerça, e privativa quando é possível
nal, através de lei complementar. delegá-la.
Nos termos da Lei Complementar nº 20, de 1º de z Vertical: quando a CF atribui a mais de ente fede-
julho de 1974: rado o exercício da atribuição (com execeção de
algumas hipóteses legais, cada ente exercerá a atri-
Art. 6º Poderão ser criados Territórios Federais: buição no seu âmbito. Ex. União: em âmbito nacio-
I - pelo desmembramento de parte de Estado já nal; Município: local etc). Neste caso, diz-se que a
existente, no interesse da segurança nacional, ou competência é concorrente.
quando a União haja de nela executar plano de
desenvolvimento econômico ou social, com recur- z Espécies de competências
sos superiores, pelo menos, a um terço do orçamen-
to de capital do Estado atingido pela medida; Na nossa Carta Magna a repartição das compe-
II - pelo desmembramento de outro Território tências tem previsão nos arts. 21, 22, 23 e 24 e tem o
Federal. objetivo de partilhar entre os entes federados as ativi-
dades do Estado. As competências podem ser classifi-
Os Territórios, por constituirem mera subdivisão cadas como administrativas e legislativas.
da União, não são considerados entes federativos. Em
suma, eles permitem que a União administre as áreas Competência da União Federal
que não possuem um governo estadual. Assim, os Ter-
ritórios são autarquias federais em regime especial z Competência Administrativa (art. 21 da CF)
criados para administrar parcela de determinado ter-
ritório do país. Também conhecida como material ou não legisla-
Atualmente não existem mais Territórios Federais tiva, a competência administrativa — como o próprio
no Brasil, inclusive a própria Constituição Federal nome diz — é aquela que, diferente da competência
1988 no Ato das Disposições Gerais Transitórias art. para legislar (legislativa), trata da organização do
14 transformou os Territórios Federais de Roraima e Estado com vistas a efetuar tarefas e realizar funções
do Amapá em Estados Federados. de governamentais. Podem ser exclusivas da União
Atualmente no Brasil não existem mais Territórios ou comum a todos os Entes Federados:
Federais, entretanto conforme § 2°, do art. 18, da CF, a Como dito anteriormente, a competência exclusiva
sua criação ainda é possível, nas hipóteses reguladas da União é indelegável, ou seja, não pode ser delegada
em lei complementar. (transferida) a outro ente federativo, ela está prevista
no art. 21 da CF.
Art. 18 A organização político-administrativa da Atenção! O art. 21 da CF é muito cobrado em pro-
República Federativa do Brasil compreende a União, vas, recomenda-se a leitura do dispositivo reiteradas
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos vezes!
autônomos, nos termos desta Constituição. Perceba que os incisos fazem menção à atuação e
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
ação, vejamos:
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e
sua criação, transformação em Estado ou reinte-
Art. 21 Compete à União:
gração ao Estado de origem serão reguladas em lei
I - manter relações com Estados estrangeiros e par-
complementar. ticipar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
Repartição de Competências III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complemen-
Competência consiste na atribuição conferida pela tar, que forças estrangeiras transitem pelo território
Constituição Federal aos Entes federados, podendo ser nacional ou nele permaneçam temporariamente;
de natureza administrativa ou legislativa. V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a
intervenção federal;
O legislador se preocupou em dividir essas atri-
buições (competências), baseando-se no chamado
A exemplo disto, em 2018 foi decretada a interven-
princípio da predominância do interesse, no qual as
ção federal no estado do Rio de Janeiro (Decreto nº
atribuições de interesse nacional são de competên-
9.288, de 2018), uma medida excepcional de natureza
cia da União. Ex. declarar guerra e celebrar paz; as de
militar com o objetivo de reestabelecer a ordem públi-
interesse estadual, obviamente, são de competência
ca e resolver algumas questões de segurança pública
dos Estados. Ex. exploração de serviço de transporte de
principalmente nas comunidades.
passageiros intermunicipal; e, por fim, as atribuições
de interesse local, de competência dos municípios. Ex.
Art. 21 [...]
expedição de alvará de estabelecimento comercial. VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio
Importante salientar que inexiste hierarquia entre de material bélico;
entes da federação. Assim, a divisão de competências VII - emitir moeda;
existe com objetivo de única e exclusivamente facili- VIII - administrar as reservas cambiais do País e fis-
tar a gestão político-administrativa. A divisão de com- calizar as operações de natureza financeira, espe-
petência pode ocorrer de duas formas, por meio do cialmente as de crédito, câmbio e capitalização,
206 modelo horizontal ou vertical: bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regio- d) a responsabilidade civil por danos nucleares
nais de ordenação do território e de desenvolvimen- independe da existência de culpa;   
to econômico e social; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do
X - manter o serviço postal e o correio aéreo trabalho;
nacional; XXV - estabelecer as áreas e as condições para o
XI - explorar, diretamente ou mediante autoriza- exercício da atividade de garimpagem, em forma
ção, concessão ou permissão, os serviços de teleco- associativa.
municações, nos termos da lei, que disporá sobre a
organização dos serviços, a criação de um órgão z Competência Privativa (art. 22 da CF)
regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autoriza- O art. 22 da CF traz as competências privativas da
ção, concessão ou permissão: União. Todavia, antes de adentrar no conteúdo delas,
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e cumpre salientar que elas possuem natureza legisla-
imagens;
tiva e são privativas.
b) os serviços e instalações de energia elétrica e
o aproveitamento energético dos cursos de água,
em articulação com os Estados onde se situam os
„ Legislativa: A competência legislativa da
potenciais hidroenergéticos; União, como o próprio nome já nos remete, é a
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estru- competência para elaborar leis.
tura aeroportuária; „ Privativa: é a competência da União para legis-
d) os serviços de transporte ferroviário e aqua- lar sobre determinados assuntos de interesse
viário entre portos brasileiros e fronteiras nacio- nacional, com a edição de normas de interesse
nais, ou que transponham os limites de Estado ou processual, normas de direito material e admi-
Território; nistrativo. É classificada como privativa, pois,
e) os serviços de transporte rodoviário interesta- diferentemente da competência exclusiva, ela
dual e internacional de passageiros; pode ser delegada. Com relação às atribuições
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; da União, tem-se que se restringem à edição de
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o normas de caráter geral e abstrato;
Ministério Público do Distrito Federal e dos Territó-
rios e a Defensoria Pública dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia PROCESSUAL
penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros mili- Normas de processo civil, processo penal e processo
tar do Distrito Federal, bem como prestar assistên- do trabalho.
cia financeira ao Distrito Federal para a execução
de serviços públicos, por meio de fundo próprio;  MATERIAL
XV - organizar e manter os serviços oficiais de esta- Normas de direito civil, comercial, penal, político-elei-
tística, geografia, geologia e cartografia de âmbito toral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
nacional; trabalho.
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo,
ADMINISTRATIVO
de diversões públicas e de programas de rádio e
televisão; Demais matérias, como requisições civis e militares,
XVII - conceder anistia; tempo de guerra, trânsito, transporte etc.
XVIII - planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas, especialmente as Art. 22 Compete privativamente à União legislar
secas e as inundações; sobre:
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento I - direito civil, comercial, penal, processual, eleito-
de recursos hídricos e definir critérios de outorga ral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
de direitos de seu uso trabalho;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento II - desapropriação;
urbano, inclusive habitação, saneamento básico e III - requisições civis e militares, em caso de iminen-
transportes urbanos; te perigo e em tempo de guerra;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o siste- IV - águas, energia, informática, telecomunicações
ma nacional de viação; e radiodifusão;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, V - serviço postal;
aeroportuária e de fronteiras; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares garantias dos metais;
de qualquer natureza e exercer monopólio estatal VII - política de crédito, câmbio, seguros e transfe-
sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e repro- rência de valores;
cessamento, a industrialização e o comércio de VIII - comércio exterior e interestadual;
minérios nucleares e seus derivados, atendidos os IX - diretrizes da política nacional de transportes;
seguintes princípios e condições: X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial,
a) toda atividade nuclear em território nacional marítima, aérea e aeroespacial;
somente será admitida para fins pacíficos e median- XI - trânsito e transporte;
te aprovação do Congresso Nacional; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e
b) sob regime de permissão, são autorizadas a metalurgia;
comercialização e a utilização de radioisóto- XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
pos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e XIV - populações indígenas;
industriais; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e
c) sob regime de permissão, são autorizadas a pro- expulsão de estrangeiros;
dução, comercialização e utilização de radioisóto- XVI - organização do sistema nacional de emprego
pos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;      e condições para o exercício de profissões; 207
XVII - organização judiciária, do Ministério Público Competência Comum à União, Estados, Distrito
do Distrito Federal e dos Territórios e da Defenso- Federal e Municípios
ria Pública dos Territórios, bem como organização
administrativa destes;              z Competência Administrativa
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de
geologia nacionais; Agora, passaremos à análise das competências
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da comuns administrativas (material, administrativa
poupança popular; ou gerencial), estas que — como já informa o nome
XX - sistemas de consórcios e sorteios; — são comuns a todos os entes federados e visam faci-
litar a gestão político-administrativa.
No que tange à competência comum, também
Importante! conhecida como competência paralela, concorren-
te ou cumulativa, tem-se que todos os Entes podem
Em relação ao inciso XX, do art. 22, da CF. Veja o
agir de forma independente dentro do seu âmbito de
que dispõe a Súmula Vinculante nº 2, do STF (de atuação. A competência comum da União, Estados,
observação obrigatória): Distrito Federal e Munícipios está consagrada no art.
Súmula Vinculante nº 2: é inconstitucional a lei 23 da CF. Vejamos:
ou ato normativo Estadual ou Distrital que dis-
ponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, Art. 23 É competência comum da União, dos Esta-
inclusive bingos e loterias. dos, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
instituições democráticas e conservar o patrimônio
Art.22 público;
[...] II - cuidar da saúde e assistência pública, da
XXI - normas gerais de organização, efetivos, mate- proteção e garantia das pessoas portadoras de
rial bélico, garantias, convocação, mobilização, deficiência;
inatividades e pensões das polícias militares e dos III - proteger os documentos, as obras e outros bens
corpos de bombeiros militares; de valor histórico, artístico e cultural, os monu-
XXII - competência da polícia federal e das polícias mentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
rodoviária e ferroviária federais;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracte-
XXIII - seguridade social;
rização de obras de arte e de outros bens de valor
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
histórico, artístico ou cultural;
XXV - registros públicos; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, inovação;
em todas as modalidades, para as administrações VI - proteger o meio ambiente e combater a polui-
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da ção em qualquer de suas formas;
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obe- VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
decido o disposto no art. 37, XXI, e para as empre- VIII - fomentar a produção agropecuária e organi-
sas públicas e sociedades de economia mista, nos zar o abastecimento alimentar;
termos do art. 173, § 1°, III; IX - promover programas de construção de mora-
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defe- dias e a melhoria das condições habitacionais e de
sa marítima, defesa civil e mobilização nacional; saneamento básico;
XXIX - propaganda comercial. X - combater as causas da pobreza e os fatores de
Parágrafo único. Lei complementar poderá marginalização, promovendo a integração social
autorizar os Estados a legislar sobre ques- dos setores desfavorecidos;
tões específicas das matérias relacionadas neste XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as conces-
artigo. sões de direitos de pesquisa e exploração de recur-
sos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação
Conforme dispõe o parágrafo único, do art. 22, para a segurança do trânsito.
da CF, a delegação ocorrerá por meio de Lei Comple- Parágrafo único. Leis complementares fixarão nor-
mentar editada pelo Congresso Nacional. Além disso, mas para a cooperação entre a União e os Estados,
importante frisar que, apesar do mencionado disposi- o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista
tivo falar em “autorizar aos Estados”, a interpretação o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em
é que pode ser delegada também a Distrito Federal. (§ âmbito nacional.
1°, art. 32 da CF.)
O parágrafo único do mencionado dispositivo estabe-
Art. 32 [...] lece que, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as com- e do bem-estar em âmbito nacional, as leis complemen-
petências legislativas reservadas aos Estados e tares fixarão normas para a cooperação entre a União e
Municípios. os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Não confunda!
Não confunda a competência exclusiva da União
com a competência privativa da União: COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA, GERENCIAL OU
MATERIAL
EXCLUSIVA ART. 21 PRIVATIVA ART. 22 Art. 21 da CF Art. 23 da CF
DA CF DA CF
z Exclusiva Da União z Delegável
Administrativa Legislativa z Indelegável z Comum(União, Esta-
Indelegável Delegável dos, DF e Municípios).
208
Competência Concorrente à União, Estados e Distrito § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Federal Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.       
z Competência Legislativa § 4º A superveniência de lei federal sobre normas
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que
A competência legislativa possui fundamento lhe for contrário.
no art. 24 da CF e consiste na atribuição de legislar
sobre determinados assuntos de interesse nacional,
estadual ou distrital, por meio da edição de normas Importante!
de interesse processual, material ou administrativo. Os Municípios não foram contemplados pelo art.
Cada um dos destinatários deste artigo, em regra, den-
23 da CF, pois as suas competências legislativas
tro do seu âmbito de atuação.
estão elencadas em artigo próprio.
„ A União se limita a estabelecer normas de cará-
ter geral; Competência dos Estados
„ Os Estados e o Distrito Federal se limitam a
legislar normas suplementares às gerais da A competência dos Estados é considerada, dou-
União, de maneira concorrentemente. trinariamente, como residual ou remanescente, isto
porque a Constituição Federal elencou de maneira
Vamos à leitura das competências concorrentes: exaustiva as competências da União e dos Municípios,
mas com relação aos Estados-membros ela, de forma
Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito
genérica, disse apenas que as competências do Estado
Federal legislar concorrentemente sobre:
são aquelas que não vedadas pela CF.
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
nômico e urbanístico;    
As competências dos Estados estão no art. 25 da CF.
II - orçamento; Vejamos:
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses; Art. 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas
V - produção e consumo; Constituições e leis que adotarem, observados os
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da princípios desta Constituição.
natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, § 1º São reservadas aos Estados as compe-
proteção do meio ambiente e controle da poluição; tências que não lhes sejam vedadas por esta
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, Constituição.
artístico, turístico e paisagístico; § 2º Cabe aos Estados explorar diretamen-
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, te, ou mediante concessão, os serviços locais
ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, de gás canalizado, na forma da lei, vedada
estético, histórico, turístico e paisagístico; a edição de medida provisória para a sua
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, regulamentação.
tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;    § 3º Os Estados poderão, mediante lei complemen-
X - criação, funcionamento e processo do juizado de tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações
pequenas causas; urbanas e microrregiões, constituídas por agrupa-
XI - procedimentos em matéria processual; mentos de municípios limítrofes, para integrar a
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; organização, o planejamento e a execução de fun-
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; ções públicas de interesse comum.
XIV - proteção e integração social das pessoas por-
tadoras de deficiência; Observe que a única competência administrativa
XV - proteção à infância e à juventude; que a Constituição Federal preocupou-se em citar foi
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das
a exploração dos serviços de gás canalizado.
polícias civis.

Competência dos Municípios


NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
As regras de aplicação da competência concor-
rente estão elencadas nos § 1º ao 4º, do art. 24, da CF;
elas determinam que a União limitar-se-á a estabele- z Competência Legislativa
cer normas gerais. Entretanto, a omissão de normas
gerais estabelecidas pela União não obsta ou exclui a Os municípios podem legislar sobre temas da com-
competência suplementar dos Estados e DF. É por isso petência legislativa concorrente, desde que seja no
que, excepcionamente, os Estados e o Distrito Federal interesse local, e excepcionalmente suplementando a
exercerão a competência plena (geral e suplementar). legislação federal ou estadual, no que couber.
Neste caso, consagra o texto constitucional que Ex. O município pode legislar sobre o tema de pes-
sobrevindo lei federal estabelecendo normas gerais, ca se atividade econômica pescaria for predominan-
haverá a suspensão da eficácia da lei estadual, tão te no município, conforme os incisos I e II, do art. 30
somente no que lhe for contrário.  combinado com o § 2°, do art. 24, da CF.
Em relação ao Art. 30, da CF, considere:
Art. 24 [...]
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a compe- Art. 30 Compete aos Municípios:
tência da União limitar-se-á a estabelecer normas I - legislar sobre assuntos de interesse local;
gerais.    II - suplementar a legislação federal e a estadual no
§ 2º A competência da União para legislar sobre que couber;
normas gerais não exclui a competência suplemen- Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito
tar dos Estados.          Federal legislar concorrentemente sobre: 209
[...] § 2º A competência da União para legislar sobre § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislati-
normas gerais não exclui a competência suplemen- va aplica-se o disposto no art. 27.
tar dos Estados.  § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo
Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da
„ Competência Local: Temas de competência polícia penal, da polícia militar e do corpo de bom-
legislativa concorrentes, desde que seja de inte- beiros militar. 
resse local.
Considerações Importantes
Vamos à leitura na íntegra das competências
municipais: Acerca da organização administrativa, conhecere-
mos, agora, alguns assuntos para o seu certame.
Art. 30 Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local; z A  superveniência de lei federal  sobre normas
II - suplementar a legislação federal e a estadual no gerais suspende a eficácia da lei estadual/distrital,
que couber; no que lhe for contrária;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua compe- z Regulamento de motoristas Uber (exemplo) deve
tência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuí- ser feito através de lei federal, mas quem fiscali-
zo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar za é o município, pois compete à lei federal regu-
balancetes nos prazos fixados em lei; lamentar transporte de pessoas que utilizam o
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada aplicativo;12
a legislação estadual; z STF considerou que lei estadual não pode isentar
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime cobrança de estacionamento de estabelecimen-
de concessão ou permissão, os serviços públicos de tos comerciais13. Da mesma forma, considerou
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que lei estadual não pode alterar data de venci-
que tem caráter essencial; mento de mensalidades escolares;14
VI - manter, com a cooperação técnica e financei- z STF também já considerou que compete aos muni-
ra da União e do Estado, programas de educação cípios legislar sobre tempo de fila em banco.
infantil e de ensino fundamental; (Redação (Tema de Repercussão Geral nº 272).15
dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financei- Veja algumas Súmulas Vinculantes16 importantes
ra da União e do Estado, serviços de atendimento à sobre o tema abordado:
saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordena- Súmula Vinculante 2: É inconstitucional a lei ou
mento territorial, mediante planejamento e contro- ato normativo Estadual ou Distrital que disponha
le do uso, do parcelamento e da ocupação do solo sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
urbano; bingos e loterias.
IX - promover a proteção do patrimônio histórico- Súmula Vinculante 38: É competente o Município
-cultural local, observada a legislação e a ação fis- para fixar o horário de funcionamento de estabele-
calizadora federal e estadual. cimento comercial.
Súmula Vinculante 39: Compete privativamente à
Competência do Distrito Federal União legislar sobre vencimentos dos membros das
polícias civil e militar e do corpo de bombeiros mili-
z Competência legislativa (local e estadual) tar do Distrito Federal.
Súmula Vinculante 46: A definição dos crimes de
É sempre bom lembrar que o legislador estabele- responsabilidade e o estabelecimento das respecti-
vas normas de processo e julgamento são de com-
ceu ao Distrito Federal competência cumulativa local
petência legislativa privativa da União.
e estadual, ou seja, a lei distrital pode ter conteúdo
estadual e/ou municipal.
Veja, ainda, algumas decisões importantes:
Art. 32 O Distrito Federal, vedada sua divisão em
Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em
z Repartição de Competências e as Decisões Fren-
dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e te ao Coronavírus – ADI 926/2020
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa,
que a promulgará, atendidos os princípios estabe- Em março de 2020, determinado partido político
lecidos nesta Constituição. ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as com- 6.341) para questionar a Medida Provisória (MP) 926,
petências legislativas reservadas aos Estados e de 2020 – de autoria do Governo Federal, que dispõe
Municípios. medidas para o enfrentamento da emergência de saú-
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governa- de pública decorrente do coronavírus.
dor, observadas as regras do art. 77, e dos Deputa- Os legitimados da ADI sustentaram que a redis-
dos Distritais coincidirá com a dos Governadores tribuição de poderes de polícia sanitária introduzida
e Deputados Estaduais, para mandato de igual pela MP, na Lei Federal 13.979, de 2020, interferiu no
duração. regime de cooperação entre os entes federativos.
12  Lei 13.640 de 26 de março de 2018.
13 ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18.08.2016, DOU 07.02.2017.
14 ADI 1007/PE, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 31.08.2005, DOU 16.03.2016.
15  RE 610221RG, rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 29.04.2010, DOU 20.08.2010.
210 16  Súmula Vinculante é decisão editada pelo STF, por reiteradas decisões em matéria constitucional.
Alegaram, ainda, que essa centralização de Art. 37 A administração pública direta e indire-
competência esvazia a responsabilidade consti- ta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
tucional de estados e municípios para cuidar da Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin-
saúde, dirigir o Sistema Único de Saúde e executar cípios de legalidade, impessoalidade, moralida-
ações de vigilância sanitária e epidemiológica. de, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
Assim, ao apreciar o caso em tela, o Ministro Mar-
co Aurélio, em decisão monocrática, considerou que a Conforme se observa do caput, do art. 37, a Admi-
redistribuição de atribuições pela MP 926, de 2020, não nistração Pública divide-se em Administração
afasta a competência concorrente dos entes fede- Pública Direta, que é composta pelos quatro entes
rativos, ou seja, entendeu que a distribuição de atri- federativos (União, Estados, Municípios e Distrito
buições prevista na Medida Provisória não contraria a Federal), e Administração Pública Indireta, compos-
Constituição Federal, pois as providências não afasta- ta pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de
ram atos a serem praticados pelos demais entes fede- economia mista e empresas públicas.
rativos no âmbito da competência comum para legislar Via de regra, a Administração Pública submete-se
sobre saúde pública (inciso II, do art. 23, da CF). a um regime jurídico de direito público, ou seja, a sua
Outra decisão importante relacionada ao vírus atuação independe da concordância dos administra-
covid-19: dos, pois se funda na própria soberania estatal.
O regime jurídico de direito público faz com que a
Saúde – Crise – Coronavírus – Medida Provisó- Administração se sujeite a limites, que, por vezes, são
ria – Providências – Legitimação Concorrente mais estritos do que aqueles a que estão submetidos
– ADI 6.341/2020 os particulares. Como exemplo, pode-se citar o dever
Surgem atendidos os requisitos de urgência e neces- de observância da finalidade pública.
sidade, no que medida provisória dispõe sobre pro- Esse regime de prerrogativas e sujeições para a
vidências no campo da saúde pública nacional, sem Administração Pública encontra-se expresso em for-
prejuízo da legitimação concorrente dos Estados, ma de princípios. De acordo com o dispositivo, são
do Distrito Federal e dos Municípios. (ADI 6341, rel.
princípios que regem a Administração Pública direta
Min. Marco Aurélio, decisão em 24.03.2020, DJe em
e indireta: legalidade, impessoalidade, moralidade,
26.03.2020)
publicidade e eficiência.
O Princípio da Legalidade estabelece a sujeição da
No caso em questão, o Ministro do STF considerou
Administração Pública aos mandamentos da lei. A lega-
possível a Medida Provisória, com fundamento no inci-
lidade traduz o sentido de que a Administração Pública
so II, art. 23, da CF, que dispõe da competência de todos
somente pode fazer o que a lei manda ou permite.
os entes cuidarem da saúde e assistência pública.
O Princípio da Impessoalidade traz a neutrali-
É oportuno mencionar também o inciso I, do art.
dade necessária para o exercício da atividade admi-
198, da CF. Vejamos os dispositivos mencionados.
nistrativa. Destinado tanto ao administrador como ao
Art. 23 É competência comum da União, dos
administrado, esse princípio impõe a objetividade e
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: a isonomia da conduta administrativa, além de vedar
[...] a autopromoção de nome de servidor. Ex. Servidor,
II - cuidar da saúde e assistência pública, da para se autopromover, diz que foi ele quem criou
proteção e garantia das pessoas portadoras de determinada ponte. De acordo com este princípio esta
deficiência; conduta é vedada, pois quem, em verdade, criou a
[...] ponte foi o Estado.
Art. 198 As ações e serviços públicos de saúde O Princípio da Moralidade diz respeito à moral
integram uma rede regionalizada e hierarquizada e administrativa. Segundo ele, os atos da administra-
constituem um sistema único, organizado de acor- ção pública devem ser balizados nas matrizes éticas
do com as seguintes diretrizes: dominantes. A finalidade do princípio é fixar limites
I - descentralização, com direção única em cada à atuação da Administração, evitando, por exemplo, o
esfera de governo; excesso de poder ou desvio de finalidade.
O Princípio da Publicidade exige a divulgação dos
Outro exemplo: Em 11 de maio de 2020, o Presi-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
atos da Administração Pública com o objetivo de per-
dente da República definiu academias, salões de bele- mitir o conhecimento e o controle por toda a sociedade,
za e barbearias como serviço essencial. Entretanto, pois ao administrador compete agir com transparência.
com base no entendimento do STF e art. 23 da CF, cada Por fim, o Princípio da Eficiência impõe à Admi-
Estado-membro pôde optar por receber e implantar nistração a obrigação de realizar suas atribuições com
ou não as regras contidas no Decreto do Presidente. rapidez, perfeição e rendimento. Como o administra-
Neste sentido, cada Governador pôde ou não dor público está fazendo a gestão de algo que pertence
receber este decreto e decidir sobre a sua aplica- à sociedade, cabe a ele zelar pelos interesses públicos
ção, observando, in caso, o princípio da proporciona-
com plena satisfação do administrado e com o menor
lidade e razoabilidade, bem como o da supremacia do
custo para a sociedade.
interesse público sobre o particular17. Para memorizar os princípios, utilize o mnemôni-
co LIMPE:
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Legalidade;
Disposições Gerais Impessoalidade;
Moralidade;
A Administração Pública tem suas regras discipli- Publicidade;
nadas nos arts. 37 a 41, da CF/88. Eficiência.
17 Decreto Nº 10.344, de 11 de maio de 2020. 211
Art. 37 [...] Cabe consignar que os concursos públicos podem
I - os cargos, empregos e funções públicas são ser de provas ou de provas e títulos. Deste modo,
acessíveis aos brasileiros que preencham os não se admite concurso apenas de títulos nem admis-
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos são sem concurso público. Observa-se, no entanto,
estrangeiros, na forma da lei; que existem exceções à regra relativa aos concur-
sos públicos para os seguintes casos:
O inciso I estabelece os requisitos e a forma de
z Cargos de mandato eletivo;
preenchimento dos cargos, empregos e funções, tanto
z Cargo comissionado;
por brasileiros como por estrangeiros:
z Contratação temporária por excepcional interesse
público;
z Previsão obrigatória em lei; z Ex-combatente que tenha efetivamente participa-
z Observância do princípio da isonomia e do de operações bélicas durante a Segunda Guerra
razoabilidade; Mundial (inciso I, art. 53, ADCT);
z Compatibilidade com a natureza das atribuições z Outras hipóteses: Ministros ou Conselheiros dos
do cargo a ser preenchido. Tribunais de Contas; Ministros do STF, do STJ, TSE,
TST e STM; integrantes do quinto Constitucional
No que se refere à forma de acesso, há de se escla- dos Tribunais Judiciários.
recer, inicialmente, que se tratam dos cargos não pri-
Art. 37 [...]
vativos de brasileiros natos, uma vez que, conforme III - o prazo de validade do concurso público será
já explanado anteriormente, os cargos privativos de de até dois anos, prorrogável uma vez, por
brasileiro nato constam expressamente do § 3º, art. igual período;
12, da CF/88.
Observa-se que os cargos não privativos de bra- O inciso III traz o prazo de validade do concurso
sileiros natos podem ser preenchidos por brasileiros público, que é de até 2 (dois) anos. Assim sendo, cabe
(natos ou naturalizados) de forma ampla. Vale frisar ao edital definir qual o prazo do concurso, não poden-
que pode a lei estabelecer requisitos limitadores, do, no entanto, ser superior a 2 (dois) anos.
Além disso, é possível a prorrogação do prazo de
tais como formação escolar, idade, entre outros. Em
validade por uma única vez e por igual período, ou seja,
contrapartida, para que o estrangeiro possa ter aces-
se o prazo de validade do edital é de 1 (um) ano, ele
so a tais cargos, a lei deve especificar as hipóteses de somente poderá ser prorrogado por mais 1 (um) ano.
admissibilidade. Aqui, cabe uma observação importante: a prorrogação
Há que se fazer, aqui, duas observações quanto à só é possível enquanto não expirado o prazo inicial.
aplicabilidade da norma. O candidato que for aprovado em concurso públi-
Com relação aos brasileiros, a norma constitucio- co dentro do número de vagas previstas no edital,
nal é de eficácia contida (que pode ter sua aplicabi- estando tal concurso dentro do prazo de validade,
lidade restringida), ou seja, todos os brasileiros têm possui o direito subjetivo de ser nomeado, assim como
acesso aos cargos, empregos e funções públicas. Con- a prioridade na nomeação. Em contrapartida, o candi-
tudo, a norma infraconstitucional pode conter tais dato aprovado fora do número de vagas possui mera
efeitos, estabelecendo critérios diferenciados. Portan- expectativa de direito à nomeação, devendo subme-
to, estão disponíveis aos brasileiros todos os cargos, ter-se ao juízo de conveniência e oportunidade da
empregos e funções desde que a norma não restrinja. Administração.
Já para os estrangeiros, a norma constitucional é Art. 37 [...]
de eficácia limitada, ou seja, para que o estrangeiro IV - durante o prazo improrrogável previsto no edi-
tenha acesso, faz-se necessária norma infraconstitu- tal de convocação, aquele aprovado em concurso
cional regulando a hipótese. Deste modo, estão dispo- público de provas ou de provas e títulos será con-
níveis aos estrangeiros somente os cargos, empregos e vocado com prioridade sobre novos concursa-
funções públicos que a lei autorizar. dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;

O inciso IV regula a hipótese de novo concurso


Art. 37 [...] para o mesmo cargo enquanto os candidatos aprova-
II - a investidura em cargo ou emprego públi- dos em certame anterior e com prazo de validade não
co depende de aprovação prévia em concurso expirado ainda não foram convocados. Assim, estabe-
público de provas ou de provas e títulos, de lece a prioridade de convocação destes em face dos
acordo com a natureza e a complexidade do cargo novos aprovados.
ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas Segundo entendimento do STF, para gozar da prio-
as nomeações para cargo em comissão declarado ridade na nomeação, não basta ao candidato a mera
em lei de livre nomeação e exoneração; aprovação, sendo necessário que ele tenha sido classi-
ficado dentro do número de vagas disponibilizadas no
O inciso II estabelece a necessidade de procedi- concurso, ou seja, se o edital previu uma vaga e foram
mento administrativo destinado à seleção das pessoas aprovados dois candidatos, somente o primeiro tem
que irão ocupar empregos públicos ou cargos públicos prioridade de nomeação.
de provimento efetivo ou vitalício. Trata-se, portanto,
de uma forma de escolha para atender aos princípios Art. 37 [...]
da igualdade e da moralidade administrativa, evitan- V - as funções de confiança, exercidas exclusiva-
mente por servidores ocupantes de cargo efeti-
do-se, com isso, que o ingresso no serviço público se dê
vo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos
por critérios de favorecimento pessoal ou nepotismo. por servidores de carreira nos casos, condições
Os concursos públicos devem ser abertos a todos e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-
os interessados. Portanto, não se admite que a seleção -se apenas às atribuições de direção, chefia e
212 ocorra de forma interna (concursos internos). assessoramento;
O inciso V trata de duas situações distintas: a fun- Vejamos, a seguir, o texto da Súmula Vinculante nº
ção de confiança e o cargo de confiança (em comis- 13, do STF, relativa ao tema:
são). Cargo público é a unidade estrutural e funcional
em que o servidor exerce suas atribuições e responsa- Súmula Vinculante nº 13 A nomeação de cônju-
bilidades, ou seja, é o local dentro da estrutura orga- ge, companheiro, ou parente, em linha reta, cola-
nizacional que deve ser atribuído a um servidor. Já teral ou por afinidade, até o 3º grau, inclusive, da
função é a própria atribuição e responsabilidade. autoridade nomeante ou de servidor da mesma pes-
soa jurídica, investido em cargo de direção, chefia
Em regra, os cargos públicos somente podem ser
ou assessoramento, para o exercício de cargo em
criados, transformados ou extintos por lei. Assim, comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gra-
cabe ao Poder Legislativo, com a sanção do chefe do tificada na administração pública direta e indireta,
Poder Executivo, dispor sobre a criação, transforma- em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
ção e extinção de cargos, empregos e funções públicas. Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o
A iniciativa da lei que cria, extingue ou transforma ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF.
cargos varia conforme o caso. Por exemplo, no caso
dos cargos do Poder Judiciário, dos Tribunais de Con- A Súmula Vinculante nº 13 aplica-se apenas aos
tas e do Ministério Público, a lei será de iniciativa dos cargos de natureza administrativa, estando de
respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais. fora do seu âmbito as nomeações para cargos políti-
Excepciona a regra quando os cargos ou funções cos. Exemplo: o STF considerou válida a nomeação
se encontrarem vagos, uma vez que a Emenda Cons- para o cargo de Secretário Estadual de Transportes
titucional nº 32, de 2001, possibilitou a extinção por de irmão de Governador de Estado sob a alegação de
meio de decreto do Presidente da República. Com rela- que o cargo em questão possuía natureza política (Rcl
ção aos Governadores e Prefeitos, a extinção do cargo 6.650-MC-AgR).
vago é possível se houver semelhante previsão nas Por fim, para o exercício da função de confiança,
respectivas Constituições Estaduais ou Leis Orgânicas o pressuposto é que o nomeado já exerça cargo efeti-
(princípio da simetria). vo na Administração. Exemplo: um escrevente técnico
é nomeado para a função de assessor do juiz.
No que se refere às garantias e características
especiais, os cargos podem ser classificados em vitalí-
cios, efetivos e comissionados. Cargo vitalício é aque-
le com a maior garantia em relação à permanência.
Importante!
Trata-se daquele destinado a receber o ocupante em Função de confiança: deve ser agente público;

caráter permanente, como no caso dos magistrados Cargo em confiança: pode ou não ser agente

(inciso I, do art. 95, da CF), os de membros do Ministé- público.
rio Público (alínea “a”, do inciso I, do § 5º, do art. 128,
da CF) e os de ministros do Tribunal de Contas (§ 3º,
do art. 73, da CF). A vitaliciedade é adquirida após 2 Art. 37 [...]
(dois) anos de efetivo exercício no cargo e tais servi- VI - é garantido ao servidor público civil o direito à
livre associação sindical;
dores só poderão ser demitidos por sentença judicial
transitada em julgado.
Já cargo efetivo é aquele provido por concurso O inciso VI decorre do direito à liberdade, previsto
no art. 5º da CF. Lembrem-se: ninguém é obrigado a se
público, cujos integrantes possuem a estabilidade; ou
associar ou a se manter associado.
seja, após 3 (três) anos de efetivo exercício, só poderão
ser demitidos por decisão judicial transitada em jul-
Art. 37 [...]
gado, processo administrativo disciplinar ou processo VII - o direito de greve será exercido nos termos e
de avaliação periódica de desempenho. nos limites definidos em lei específica;
Por fim, cargo em comissão é aquele preenchido
de acordo com a confiança. Como regra, ele deve ser O direito de greve dos servidores públicos é dife-
preenchido preferencialmente por servidores de car- rente dos demais trabalhadores da iniciativa priva-
reira. Portanto, para os demais casos (pessoal de fora da. Enquanto os trabalhadores da iniciativa privada
da Administração), a nomeação deve ser exceção.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
podem interromper completamente suas atividades,
Além disso, é importante frisar que a nomeação aos o servidor público precisa garantir que pelo menos os
cargos em comissão somente é possível para os cargos serviços essenciais sejam mantidos. Trata-se da apli-
de chefia, direção ou assessoramento. Portanto, para cação do princípio da continuidade, uma vez que não
as atribuições de execução e, não, para as atribuições é possível a interrupção total destas atividades por
técnicas e operacionais. Exemplo: cabe a nomeação serem essenciais e necessárias à coletividade. Para
para cargo em comissão de Secretário de Transportes, tanto, a Norma Constitucional prevê que os termos e
por demandar conhecimento específico e confiança. Já limites devem ser estabelecidos em lei.
para o motorista, isto não é cabível, pois, diferentemen- Ainda não foi elaborada lei para dar aplicabilidade
te do Secretário, sua atribuição é meramente operacio- ao inciso VII. Por essa razão, o STF proferiu a seguinte
nal e não demanda a relação de confiança. decisão nos autos do Mandado de Injunção 670-ES:
Como regra, os cargos em comissão são de livre
nomeação e exoneração (ad nutum). A exceção a essa STF, MI 670-ES: Mandado de injunção. Garantia
regra é o que se intitula de nepotismo (favorecimento fundamental (CF, Art. 5º, inciso LXXI). Direito de
greve dos servidores públicos civis (CF, Art. 37,
de parentes em detrimento de pessoas mais qualifi-
inciso VII). Evolução do tema na jurisprudência
cadas). Importante salientar que essa prática também do Supremo Tribunal Federal (STF). Definição dos
pode ocorrer de forma cruzada. Por exemplo: quando parâmetros de competência constitucional para
autoridades, a fim de omitir o nepotismo, nomeiam apreciação no âmbito da justiça federal e da justiça
para determinado cargo parentes um do outro de estadual até a edição da legislação específica perti-
maneira recíproca. nente, nos termos do art. 37, VII, da CF. 213
Em observância aos ditames da segurança jurídica z Integrantes das carreiras pertencentes à Advocacia
e à evolução jurisprudencial na interpretação da Geral da União, à Procuradoria-Geral da Fazenda
omissão legislativa sobre o direito de greve dos ser- Nacional, às Procuradorias dos Estados e do Dis-
vidores públicos civis, fixação do prazo de 60 (ses- trito Federal e às Defensorias Públicas da União,
senta) dias para que o Congresso Nacional legisle DF e Territórios e Defensorias Públicas Estaduais
sobre a matéria. Mandado de injunção deferido
(Art. 135, CF);
para determinar a aplicação das Leis 7.701/1988 e
z Servidores policiais integrantes da Polícia Fede-
7.783/1989.
Art. 37 [...] ral, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos
empregos públicos para as pessoas portado- de Bombeiros Militares.
ras de deficiência e definirá os critérios de sua
admissão; Vejamos, a seguir, o texto da Súmula nº 679, do STF:

O inciso VIII estabelece a reserva de vagas para Súmula 679 (STF) A fixação de vencimentos dos
pessoas com deficiência. Trata-se de uma norma servidores públicos não pode ser objeto de conven-
constitucional de eficácia limitada, ou seja, que depen- ção coletiva.
de da edição de lei infraconstitucional para poder
gerar os efeitos. No que se refere à revisão, o dispositivo trata ape-
Com relação à reserva, cumpre salientar que as nas da revisão geral, ou seja, ao reajuste anual genéri-
atribuições do cargo devem ser compatíveis com a co, que tem por objetivo repor as perdas inflacionárias
deficiência. Ainda, a reserva é de até 20% (vinte por do período, sendo aplicável a todos os servidores. Por-
cento) das vagas oferecidas no concurso, conforme o tanto, não a confunda com reajuste específico, que é
§2º, do art. 5º da Lei 8.112, de 1990. aquele aplicado apenas a alguns cargos ou carreiras
funcionais, com a finalidade de evitar a defasagem
Art. 37 [...] remuneratória.
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por
tempo determinado para atender a necessidade Art. 37 [...]
temporária de excepcional interesse público; XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de
cargos, funções e empregos públicos da administra-
A contratação de servidor temporário encontra- ção direta, autárquica e fundacional, dos membros
-se disciplinada no inciso IX. Trata-se de uma catego- de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
ria à parte, uma vez que não titulariza cargo público Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores
nem possui qualquer vínculo trabalhista regido de mandato eletivo e dos demais agentes políticos
pela CLT, sendo regida por regime especial veiculado e os proventos, pensões ou outra espécie remu-
por meio de lei específica de cada ente da federação. neratória, percebidos cumulativamente ou não,
O servidor público exerce funções públicas sem incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
ocupar cargos ou empregos públicos e sua contra- outra natureza, não poderão exceder o subsídio
tação é por tempo determinado e para atender mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
necessidade temporária de excepcional interesse Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos
público. Por exemplo: agente sanitário em caso de Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Esta-
surto de dengue. dos e no Distrito Federal, o subsídio mensal do
Governador no âmbito do Poder Executivo, o
Art. 37 [...] subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais
X - a remuneração dos servidores públicos e no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio
o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente dos Desembargadores do Tribunal de Justiça,
poderão ser fixados ou alterados por lei especí- limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centési-
fica, observada a iniciativa privativa em cada caso, mos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito
data e sem distinção de índices; do Poder Judiciário, aplicável este limite aos
membros do Ministério Público, aos Procura-
O inciso X trata da remuneração dos servidores dores e aos Defensores Públicos;
públicos. Cumpre esclarecer, no entanto, que remu-
neração é o gênero, do qual salário, vencimentos e Com relação ao teto do funcionalismo público,
subsídios são espécies. Salário é a contraprestação a CF estabeleceu duas regras. A primeira é a do teto
pecuniária paga aos empregados públicos, regidos geral, ou seja, o limite máximo de remuneração
pela CLT. Vencimentos são a modalidade remunera- que é o valor dos subsídios dos Ministros do Supre-
tória da maioria dos servidores submetidos a regime mo Tribunal Federal. Já a segunda regra trata do
jurídico estatutário, englobando o vencimento-base e denominado subteto, ou seja, o teto para os Estados,
as vantagens pecuniárias. Já subsídio é uma parcela Municípios e Distrito Federal.
única, sem qualquer acréscimo, obrigatória para as Vale destacar que o dispositivo previu duas hipóte-
seguintes categorias: ses de subtetos: o teto único e o teto por Poder. O teto
único tem, como base, a fixação de um valor máximo
z Membros de Poder (chefes dos Poderes Executivos, estabelecido para fins remuneratórios.
senadores, deputados, vereadores, magistrados), Já o teto por Poderes faz com que cada ente político
detentores de mandato eletivo, Ministros de Esta- adote um subteto próprio para a fixação dos subsídios.
do e Secretários Estaduais e Municipais;
z Ministros ou Conselheiros dos Tribunais de Contas; z O Executivo tem, como subteto, os subsídios do
214 z Membros do Ministério Público; Governador.
z O Legislativo tem, como subteto, os subsídios dos Art. 37 [...]
deputados estaduais, que, por sua vez, não pode- XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes
rão exceder 75% dos subsídios dos deputados de cargos e empregos públicos são irredutíveis, res-
federais. salvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e
z O Judiciário tem como subteto os subsídios dos nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
Desembargadores do Tribunal de Justiça ( limitado ao
valor de 90,25% dos subsídios do Supremo Tribu- A irredutibilidade dos subsídios e dos venci-
nal Federal). Ressalva-se que esse subteto se aplica mentos dos ocupantes de cargos, funções e empregos
públicos encontra-se estabelecida no inciso XV. Trata-
tão somente aos seus servidores e, não, aos mem-
-se da impossibilidade de redução do valor nominal,
bros da Magistratura, pois a estes é aplicado o teto
ou seja, se a remuneração é de R$ 5.000,00, não pode-
do Supremo Tribunal Federal.
rá reduzi-lo para valor inferior. No entanto, é possível
z Aos membros do Ministério Público, Procura-
que ocorra a redução real, ou seja, que o poder aquisi-
dores e Defensores o subsídio dos servidores do
tivo desse valor seja atingido pela inflação.
Judiciário.
Art. 37 [...]
Art. 37 [...] XVI - é vedada a acumulação remunerada de
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legis- cargos públicos, exceto, quando houver compa-
lativo e do Poder Judiciário não poderão ser tibilidade de horários, observado em qualquer
superiores aos pagos pelo Poder Executivo; caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
A isonomia dos vencimentos dos servidores dos b) a de um cargo de professor com outro técni-
três Poderes está disciplinada no inciso XII. É impor- co ou científico;
tante o texto da Súmula Vinculante nº 37, do STF: c) a de dois cargos ou empregos privativos
de profissionais de saúde, com profissões
Súmula Vinculante nº 37 Não cabe ao Poder Judi- regulamentadas;
ciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamen- O inciso XVI trata da vedação de acumulação de
to de isonomia. cargos. Como regra, é vedada a acumulação remu-
nerada de cargos públicos. No entanto, é possível a
Art. 37 [...] acumulação se houver compatibilidade de horários
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de entre os cargos e somente em três hipóteses.
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito A primeira refere-se ao magistério e traz a possibili-
de remuneração de pessoal do serviço público; dade de acumular dois cargos de professor (ex.: cargo
de professor da rede municipal no período matutino e
A vedação à vinculação e à equiparação de cargo de professor da rede estadual no período noturno).
remunerações encontra-se prevista no inciso XIII. A segunda hipótese é a acumulação de um cargo
Sobre isso, vejamos o texto da Súmula nº 681: de professor com outro técnico ou científico (ex.:
cargo técnico em enfermagem em hospital estadual
Súmula nº 681 (STF) É inconstitucional a vincula- com carga horária compatível com cargo de professor
ção do reajuste de vencimentos de servidores esta- de ensino médio estadual).
duais ou municipais a índices federais de correção Por fim, é possível a acumulação de dois cargos
monetária. privativos de profissionais da saúde, com profissões
regulamentadas (ex.: cargo de dentista, em um muni-
cípio, durante o período matutino com outro cargo de
Atenção! Há duas exceções à regra de não vincu-
dentista, em outro município, no período vespertino).
lação, quais sejam:

z A equiparação de vencimentos e vantagens entre


os Ministros do TCU e do STJ (§ 3º, do art. 73, da CF);
Importante!
z A vinculação entre o subsídio dos Ministros dos Cargos burocráticos não são considerados como

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


Tribunais Superiores e o subsídio mensal fixado técnicos. Para ser enquadrado como cargo téc-
para os Ministros do STF (Inciso V, do art. 93, da nico passível de acumulação, é necessária for-
CF). mação específica na área de atuação. Portanto,
cargo técnico é aquele que requer conhecimento
Art. 37 [...] específico na área de atuação do profissional,
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por com habilitação específica de grau universitário
servidor público não serão computados nem ou profissionalizante (Ensino Médio).
acumulados para fins de concessão de acréscimos
ulteriores;
Em síntese:
O inciso XIV trata da vedação ao efeito-repicão
ou efeito cascata, ou seja, veda-se que a mesma van- z Regra: Não acumulação de cargos públicos
tagem seja repetidamente computada para o cálculo remunerados;
das demais vantagens. A finalidade do dispositivo é z Exceção: Acumulação de cargos públicos remune-
evitar que, na base de cálculo de uma vantagem remu- rados, quando há compatibilidade de horários e
neratória, seja acrescida outra vantagem. Por exem- nas seguintes hipóteses:
plo: se o servidor faz jus e recebe um adicional por
tempo de serviço, não é possível inseri-lo na base de „ Dois cargos de professor;
cálculo para a concessão de outra gratificação, como, „ Um cargo de professor com outro técnico ou
por exemplo, uma gratificação de produtividade. científico; 215
„ Dois cargos privativos de profissionais de saú- Outra regra contida na Constituição Federal é a
de, com profissões regulamentadas. exigência de licitação pública para contratação de
obras, serviços, compras e alienações, ressalvados
Art. 37 [...] os casos de dispensa e inexigibilidade previstos
XVII - a proibição de acumular estende-se a em lei. Vale frisar, aqui, que é assegurada a todos a
empregos e funções e abrange autarquias, fun- igualdade de condições, com cláusulas que estabele-
dações, empresas públicas, sociedades de eco-
çam obrigações de pagamento, mantidas as condições
nomia mista, suas subsidiárias, e sociedades
controladas, direta ou indiretamente, pelo poder efetivas da proposta, nos termos da lei, a qual somen-
público; te permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento
O inciso XVII estende a regra da não acumulação das obrigações.
para a Administração Indireta. Portanto, a proibição
aplica-se às autarquias, fundações, empresas públicas Art. 37 [...]
e sociedades de economia mista, bem como às suas XXII - as administrações tributárias da União,
subsidiárias, além das sociedades controladas direta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
ou indiretamente pelo poder público. atividades essenciais ao funcionamento do Estado,
exercidas por servidores de carreiras específicas,
Art. 37 [...] terão recursos prioritários para a realização
XVIII - a administração fazendária e seus servi- de suas atividades e atuarão de forma integrada,
dores fiscais terão, dentro de suas áreas de com- inclusive com o compartilhamento de cadastros e
petência e jurisdição, precedência sobre os demais de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
setores administrativos, na forma da lei;
O inciso XXII traz mais uma regra de prioridade
O inciso XVIII trata da precedência da Administra- da parte fiscal e de arrecadação. Assim, a Adminis-
ção Fazendária e seus servidores fiscais aos demais tração tributária de qualquer dos entes da federação
setores administrativos. Isso significa dizer que, den- possui recurso prioritário para a realização de suas
tro da estrutura da Administração Pública, esta deverá atividades.
dar prioridade para os serviços atinentes à arrecada-
ção dos tributos, por se tratarem dos recursos essen-
Art. 37 [...]
ciais ao seu funcionamento.
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras,
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá
Art. 37 [...]
ter caráter educativo, informativo ou de orien-
XIX - somente por lei específica poderá ser criada
autarquia e autorizada a instituição de empre- tação social, dela não podendo constar nomes,
sa pública, de sociedade de economia mista e símbolos ou imagens que caracterizem promoção
de fundação, cabendo à lei complementar, neste pessoal de autoridades ou servidores públicos.
último caso, definir as áreas de sua atuação;
O § 1º trata das regras de publicidade dos atos,
Para que uma autarquia seja criada, faz-se neces- programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
sária a autorização legislativa (lei específica), de modo públicos. Esse dispositivo é consequência direta do
a adquirir a personalidade jurídica com a própria lei. princípio da impessoalidade, pois tal publicidade deve
Em contrapartida, é preciso lei que autorize a criação ser de caráter informativo, educativo ou de orienta-
das empresas públicas, sociedades de economia mista ção social, ou seja, a propaganda pública não pode ser
e fundações, devendo, posteriormente, serem regis- meio para promoção pessoal. É por esse motivo que
tradas, a fim de adquirirem a personalidade jurídica. não é permitido ao Governador ou ao Prefeito, por
Ressalta-se, por fim, que para as fundações, uma lei exemplo, continuar a utilizar o slogan de campanha
complementar deve definir as áreas de sua atuação. após ser eleito, uma vez que vincularia aquela ativi-
dade pública a sua pessoa.
Art. 37 [...]
XX - depende de autorização legislativa, em
cada caso, a criação de subsidiárias das enti- Art. 37 [...]
dades mencionadas no inciso anterior, assim § 2º A não observância do disposto nos incisos II
como a participação de qualquer delas em empresa e III implicará a nulidade do ato e a punição da
privada; autoridade responsável, nos termos da lei.

Assim como no inciso anterior, também depende O § 2º traz a responsabilidade do agente público
de autorização legislativa a criação de subsidiárias da pela não observância da regra de que, para contrata-
Administração indireta, assim como a participação de ção de pessoal, o concurso público é indispensável.
qualquer delas em empresa privada. Consequentemente, se houver ingresso de pessoal
sem o devido processo de seleção, haverá nulidade da
Art. 37 [...] nomeação, devendo a autoridade sofrer as punições
XXI - ressalvados os casos especificados na legisla- em conformidade com a norma infraconstitucional.
ção, as obras, serviços, compras e alienações Além disso, o prazo de validade do concurso também
serão contratados mediante processo de licitação
implica em nulidade da nomeação e responsabilidade
pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que esta- do agente.
beleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o Art. 37 [...]
qual somente permitirá as exigências de qualifica- § 3º A lei disciplinará as formas de participação
ção técnica e econômica indispensáveis à garantia do usuário na administração pública direta e
216 do cumprimento das obrigações. indireta, regulando especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos servi- Portanto, o Estado é responsável quando um de
ços públicos em geral, asseguradas a manutenção seus agentes, no desempenho da função, gera dano a
de serviços de atendimento ao usuário e a avalia- um terceiro, independentemente da comprovação
ção periódica, externa e interna, da qualidade dos de dolo ou culpa, sendo necessário, apenas, demons-
serviços;
trar o nexo causal da atividade do agente e o dano
II - o acesso dos usuários a registros administrati-
vos e a informações sobre atos de governo, obser- de terceiro.
vado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; Cumpre mencionar, por necessário, que é possível
III - a disciplina da representação contra o exercí- ao Estado ingressar com ação regressiva para cobrar
cio negligente ou abusivo de cargo, emprego ou fun- do agente o valor que pagou a esse terceiro. No entan-
ção na administração pública. to, ao contrário do que ocorre com o Estado, a respon-
sabilidade do agente é subjetiva, ou seja, para que ele
O § 3º remete à preocupação do legislador para que seja responsabilizado civilmente, é preciso demons-
haja um controle social, de modo a estabelecer meios trar que houve dolo ou culpa.
para que qualquer pessoa comunique as irregularida- Entende-se por pessoa jurídica de direito privado
des ou ilegalidades praticadas pelos agentes públicos. prestadora de serviços públicos as empresas públicas,
Trata-se, portanto, da possibilidade de controle para
sociedades de economia mista e as concessionárias e
evitar os atos de improbidade administrativa, ou seja,
permissionárias, isto é, aquelas empresas seleciona-
de condutas ilegais, desonestas, abusivas e incorretas.
das por procedimento licitatório para desempenhar
Art. 37 [...] serviço público. Por exemplo: serviço de transporte
§ 4º Os atos de improbidade administrativa público urbano.
importarão a suspensão dos direitos políticos,
a perda da função pública, a indisponibilidade Art. 37 [...]
dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restri-
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação ções ao ocupante de cargo ou emprego da adminis-
penal cabível. tração direta e indireta que possibilite o acesso a
informações privilegiadas.
De acordo com o § 4º, as penalidades para os atos
de improbidade são as seguintes: suspensão dos O § 7º pressupõe a existência de regras éticas de
direitos políticos; perda de função pública; indispo- conduta das autoridades da Administração Pública,
nibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, sem de modo a tentar minimizar a possibilidade de con-
prejuízo da ação penal cabível, ou seja, aplica-se a flito entre o interesse privado e o dever funcional.
penalidade administrativa cumulativamente com a Ainda, objetiva-se a criação de mecanismos, a fim de
sanção penal (se o fato constituir crime).
regulamentar o acesso às informações.
Para memorizar os atos de improbidade adminis-
trativa, memorize o mnemônico PARIS:
Art. 37 [...]
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e
Perda de função pública;
financeira dos órgãos e entidades da admi-
Ação penal cabível (sem prejuízo);
nistração direta e indireta poderá ser amplia-
Ressarcimento ao erário;
da mediante contrato, a ser firmado entre seus
Indisponibilidade de bens;
administradores e o poder público, que tenha por
Suspensão dos direitos políticos.
objeto a fixação de metas de desempenho para o
órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
Art. 37 [...]
I - o prazo de duração do contrato;
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição
II - os controles e critérios de avaliação de desem-
para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, penho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


Nos termos do § 5º, os prazos prescricionais e as
ações de ressarcimento serão disciplinadas em lei. O § 8º busca alcançar melhores resultados na
Vale lembrar que a lei que disciplina as regras apli- Administração Pública por meio da criação de novos
cáveis aos agentes públicos nos casos de improbidade instrumentos no âmbito do Direito Público, de modo
administrativa é a Lei nº 8.429, de 1992. a conferir maior autonomia ou estabelecer parcerias
com entidades privadas sem fins lucrativos. Dessas
Art. 37 [...] medidas, atente-se para o contrato de gestão.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e Entende-se por contrato de gestão o contrato admi-
as de direito privado prestadoras de serviços nistrativo firmado pelo Poder Público na condição de
públicos responderão pelos danos que seus
contratante e entidade privada ou da Administração
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o respon-
Indireta, no qual é instrumentalizada parceria.
sável nos casos de dolo ou culpa.
Art. 37 [...]
O § 6º trata da responsabilidade civil objetiva § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empre-
do Estado, o que significa que o Estado é responsável sas públicas e às sociedades de economia mis-
civilmente pelos atos praticados por seus agentes ou ta, e suas subsidiárias, que receberem recursos
pelos prestadores de serviço público de forma obje- da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
tiva, isto é, independentemente de culpa. Trata-se da Municípios para pagamento de despesas de pes-
chamada Teoria do Risco Administrativo. soal ou de custeio em geral. 217
As regras com relação ao teto e subteto da remu- Art. 37 [...]
neração são estendidas aos empregados das empresas § 12 Para os fins do disposto no inciso XI do caput
públicas e sociedades de economia mista, bem como deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distri-
às suas subsidiárias. No entanto, conforme o dispos- to Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda
to no § 9º, incidirá sobre as remunerações de direto- às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
res de empresas estatais que receberem recursos dos limite único, o subsídio mensal dos Desembarga-
entes da federação para pagamento de despesas de dores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado
pessoal ou de custeio em geral, como, por exemplo, a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento do subsídio mensal dos Ministros do Supre-
nos casos da EMBRAPA e da Radiobras.
mo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto
O modo pelo qual a Lei Complementar nº 101, de
neste parágrafo aos subsídios dos Deputados
2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) denomina as
Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
empresas públicas e sociedades de economia mis-
ta encaixa-se como “empresa estatal dependente”, O dispositivo regulamenta a possibilidade de fixa-
expressão disposta no § 9º. ção do subteto de forma única. Nesse caso, o valor
máximo da remuneração para todo e qualquer servi-
Art. 37 [...] dor corresponderá ao subsídio dos desembargadores
§ 10 É vedada a percepção simultânea de pro- do Tribunal de Justiça, ficando de fora desse subteto
ventos de aposentadoria decorrentes do art. 40
apenas o subsídio dos deputados estaduais e distritais
ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de car-
e os vereadores.
go, emprego ou função pública, ressalvados os
cargos acumuláveis na forma desta Constitui- Art. 37 [...]
ção, os cargos eletivos e os cargos em comissão § 13 O servidor público titular de cargo efetivo
declarados em lei de livre nomeação e exoneração. poderá ser readaptado para exercício de cargo
cujas atribuições e responsabilidades sejam com-
O § 10 veda a percepção simultânea de proventos patíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
de aposentadoria com remuneração de cargo, empre- capacidade física ou mental, enquanto permanecer
go ou função pública, ressalvada a hipótese de cargos nesta condição, desde que possua a habilitação e
acumuláveis, na forma da Constituição, cargos eleti- o nível de escolaridade exigidos para o cargo de
vos e cargos em comissão. Esse dispositivo foi acres- destino, mantida a remuneração do cargo de origem.
centado pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998,
que também resguardou o direito daqueles servidores O § 13 trata da possibilidade de readaptação do
aposentados que, até a data da promulgação da Emen- servidor público. A readaptação é o provimento deri-
da, retornaram à atividade antes da proibição. vado que consiste na investidura do servidor em cargo
de atribuições e responsabilidades compatíveis com
a limitação que tenha sofrido em sua capacidade
Importante! física ou mental verificada em inspeção médica.
Deste modo, o servidor será efetivado em cargo
A proibição aplica-se aos servidores públicos com atribuições semelhantes, respeitando-se a habili-
efetivos e aos militares, tanto das Forças Arma- tação exigida, assim como o nível de escolaridade e a
das como das Polícias Militares e Corpos de equivalência de vencimentos.
Bombeiros Militares. No caso de inexistir cargo vago, o servidor exer-
cerá suas atribuições como excedente, permanecen-
do nessa situação até a ocorrência de vaga no cargo
Vejamos a repercussão geral reconhecida com compatível.
mérito julgado pelo STF:
Art. 37 [...]
Há remansosa jurisprudência desta Corte nesse § 14 A aposentadoria concedida com a utiliza-
sentido, afirmando a impossibilidade da acumula- ção de tempo de contribuição decorrente de
ção tríplice de cargos públicos, ainda que os provi- cargo, emprego ou função pública, inclusive do
mentos nestes tenham ocorrido antes da vigência Regime Geral de Previdência Social, acarretará o
da EC 20/1998. [...] o art. 11 da EC 20/1998 possi- rompimento do vínculo que gerou o referido
bilita a acumulação, apenas, de um provento de tempo de contribuição.
aposentadoria com a remuneração de um cargo
na ativa, no qual se tenha ingressado por concurso O § 14 disciplina o rompimento do vínculo quan-
público antes da edição da referida emenda, ainda do o agente público solicita aposentadoria e utiliza-se
que inacumuláveis os cargos. Em qualquer hipóte- do tempo de contribuição decorrente daquele cargo,
se, é vedada a acumulação tríplice de remunera- emprego ou função pública. Assim, o servidor será
ções, sejam proventos, sejam vencimentos. (ARE desligado da Administração Pública.
848.993 RG) Neste sentido, o agente público que pretende se
aposentar não poderá mais continuar a trabalhar no
Art. 37 [...] local em que utilizou o tempo para comprovação de
§ 11 Não serão computadas, para efeito dos limi-
contribuição.
tes remuneratórios de que trata o inciso XI do
caput deste artigo, as parcelas de caráter inde- Art. 37 [...]
nizatório previstas em lei. § 15 É vedada a complementação de aposenta-
dorias de servidores públicos e de pensões por
O § 11 traz uma regra com relação ao teto e subte- morte a seus dependentes que não seja decorrente
to do funcionalismo público. Trata-se do não cômputo do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não
no limite remuneratório das verbas indenizatórias, seja prevista em lei que extinga regime próprio de
218 tais como diárias, ajuda de custo, entre outras. previdência social.
O § 15 proíbe toda espécie de complementação que não seja aquela decorrente de Regime de Previdência Com-
plementar, como, por exemplo, as complementações com base na Lei Estadual (São Paulo) nº 200, de 1974, pagas
a ex-empregados e a seus dependentes da Nossa Caixa, BANESPA, SABESP, VASP e FEPASA.

Art. 37 [...]
§ 16 Os órgãos e entidades da administração pública, individual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das
políticas públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados alcançados, na forma da lei.

O § 16 foi acrescido pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021, e tem como objetivo aprimorar o mecanismo
de participação da sociedade na Administração Pública.

Art. 38 Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo,
aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua
remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo,
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada
a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será conta-
do para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente
federativo de origem.

O art. 38 estabelece regras relativas ao servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional que
passar a desempenhar cargo eletivo, ou seja, for eleito para o Poder Executivo ou Legislativo.

SERVIDOR PÚBLICO
Eleito para cargo federal, estadual ou distrital Eleito para os Cargos
Prefeito Vereador
Com compatibilidade de horário:

Afastamento do cargo público e remuneração Afastamento do cargo e opção não se afasta do cargo, podendo
do cargo eletivo entre a remuneração eletiva ou receber as duas remunerações
do cargo Sem compatibilidade de horário: apli-

ca-se a mesma regra do prefeito

Para que a Administração Pública possa desempenhar suas atividades, ela necessita de pessoas que exerçam
as atribuições dos órgãos públicos, ou seja, de agentes públicos. A expressão agente público é utilizada como
gênero, designando toda e qualquer pessoa que exerça uma função pública, quer de forma remunerada
ou gratuita, quer de natureza política ou administrativa, quer com investidura definitiva ou transitória.
Os agentes públicos dividem-se em quatro categorias, quais sejam:

Agente políticos

Servidores públicos
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Agentes Públicos

Particulares em
colaboração

Militares

Servidores Públicos Civis

Os servidores da Administração Pública direta, das autarquias e das fundações públicas estão sujeitos ao regi-
me jurídico de direito público administrativo, instituído em lei, a qual também instituirá planos de carreira. O
regime adotado é o estatutário. Não obstante, lei assegurará aos servidores isonomia de vencimentos para cargos
de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, excetuadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. 219
Vale destacar que as regras sobre os servidores Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
públicos estão estabelecidas nos arts. 39 a 41, da CF/88. Municípios instituirão, no âmbito de sua competên-
Vejamos os dispositivos: cia, regime jurídico único e planos de carreira para
os servidores da administração pública direta, das
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os autarquias e das fundações públicas.
Municípios instituirão conselho de política de admi-
nistração e remuneração de pessoal, integrado por A CF/88 estabelece regras para a fixação dos
servidores designados pelos respectivos Poderes. padrões de vencimento e dos demais componentes
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos do sistema remuneratório, que deverá observar: a
demais componentes do sistema remuneratório natureza, o grau de responsabilidade e a comple-
observará: xidade dos cargos que compõem cada carreira;
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a os requisitos para a investidura nos cargos e as
complexidade dos cargos componentes de cada demais peculiaridades dos cargos. Tais requisitos
carreira; poderão influenciar na fixação dos vencimentos e
II - os requisitos para a investidura; dependem de aprovação de lei específica, assim como
III - as peculiaridades dos cargos. para o seu aumento, alteração ou criação de nova
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal man- vantagem pecuniária. Por lei, também serão estabe-
terão escolas de governo para a formação e lecidos os reajustes diferenciados para corrigir equí-
o aperfeiçoamento dos servidores públicos, vocos, como no caso de servidores que desempenham
constituindo-se a participação nos cursos um atividades semelhantes, mas percebem valores muito
dos requisitos para a promoção na carreira, diferentes. Salienta-se que a revisão geral da remune-
facultada, para isso, a celebração de convênios ou ração dos servidores públicos, sem distinção de índi-
contratos entre os entes federados. ces entre civis e militares, será feita.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de car- Com objetivo de garantir o aperfeiçoamento do
go público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, profissional, o dispositivo estabelece a realização de
XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, cursos oficiais como requisito obrigatório para promo-
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados ção na carreira, sendo facultada, para tanto, a celebra-
de admissão quando a natureza do cargo o exigir. ção de convênios com os demais entes da federação.
§ 4º O membro de Poder, o detentor de manda- Outra regra de extrema importância é a que
to eletivo, os Ministros de Estado e os Secretá- assegura ao servidor público civil da Administração
rios Estaduais e Municipais serão remunerados Pública direta, autárquica e fundacional os direitos
exclusivamente por subsídio fixado em parcela previstos nos incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,
única, vedado o acréscimo de qualquer gratifica- XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, art. 7º, da
ção, adicional, abono, prêmio, verba de representa- CF/88 e aos direitos que, nos termos da lei, visem à
ção ou outra espécie remuneratória, obedecido, em melhoria de sua condição social e da produtividade
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. e da eficiência no serviço público, em especial o prê-
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e mio por produtividade e o adicional de desempenho.
dos Municípios poderá estabelecer a relação entre Atente-se aos limites de remuneração de
a maior e a menor remuneração dos servido- servidores:
res públicos, obedecido, em qualquer caso, o dis-
posto no art. 37, XI. z Mínimo: salário mínimo;
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário z Máximo: vide XI, art. 37, da CF (EC 41/2003).
publicarão anualmente os valores do subsí-
dio e da remuneração dos cargos e empregos É importante conhecer o texto da Súmula Vincu-
públicos. lante nº 6 do STF:
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Fede-
Súmula Vinculante nº 6 Não viola a Constituição
ral e dos Municípios disciplinará a aplicação
o estabelecimento de remuneração inferior ao salá-
de recursos orçamentários provenientes da
rio mínimo para as praças prestadoras de serviço
economia com despesas correntes em cada órgão,
militar inicial.
autarquia e fundação, para aplicação no desenvol-
vimento de programas de qualidade e produtivida- Art. 40 O regime próprio de previdência social
de, treinamento e desenvolvimento, modernização, dos servidores titulares de cargos efetivos terá
reaparelhamento e racionalização do serviço públi- caráter contributivo e solidário, mediante contri-
co, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de buição do respectivo ente federativo, de servidores
produtividade. ativos, de aposentados e de pensionistas, observa-
§ 8º A remuneração dos servidores públicos orga- dos critérios que preservem o equilíbrio financeiro
nizados em carreira poderá ser fixada nos termos e atuarial.
do § 4º. § 1º O servidor abrangido por regime próprio de
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de previdência social será aposentado:
caráter temporário ou vinculadas ao exercício I - por incapacidade permanente para o tra-
de função de confiança ou de cargo em comis- balho, no cargo em que estiver investido, quando
são à remuneração do cargo efetivo. insuscetível de readaptação, hipótese em que será
obrigatória a realização de avaliações periódicas
para verificação da continuidade das condições que
No que tange ao art. 39, a primeira observação a
ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma
ser feita é que o caput foi alterado pela Emenda Cons- de lei do respectivo ente federativo;
titucional nº 19, de 1998. No entanto, como sua eficá- II - compulsoriamente, com proventos propor-
cia encontra-se suspensa devido à decisão do STF na cionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
ADI nº 2.135-4, é a redação original que se encontra anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de
220 em vigor. Vejamos: idade, na forma de lei complementar;
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) § 9º O tempo de contribuição federal, estadual,
anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e distrital ou municipal será contado para fins
cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito de aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e 9º A do art. 201, e o tempo de serviço correspon-
na idade mínima estabelecida mediante emenda às dente será contado para fins de disponibilidade.
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, obser- § 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma
vados o tempo de contribuição e os demais de contagem de tempo de contribuição fictício.
requisitos estabelecidos em lei complementar do § 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
respectivo ente federativo. total dos proventos de inatividade, inclusive quando
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão decorrentes da acumulação de cargos ou empregos
ser inferiores ao valor mínimo a que se refere o § públicos, bem como de outras atividades sujeitas
2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo esta- a contribuição para o regime geral de previdência
belecido para o Regime Geral de Previdência Social, social, e ao montante resultante da adição de pro-
observado o disposto nos §§ 14 a 16. ventos de inatividade com remuneração de cargo
§ 3º As regras para cálculo de proventos de acumulável na forma desta Constituição, cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exo-
aposentadoria serão disciplinadas em lei do res-
neração, e de cargo eletivo.
pectivo ente federativo.
§ 12 Além do disposto neste artigo, serão observa-
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou crité-
dos, em regime próprio de previdência social, no
rios diferenciados para concessão de benefícios
que couber, os requisitos e critérios fixados para o
em regime próprio de previdência social, ressalva-
Regime Geral de Previdência Social.
do o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º.
§ 13 Aplica-se ao agente público ocupante, exclusi-
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei comple- vamente, de cargo em comissão declarado em lei de
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo livre nomeação e exoneração, de outro cargo tem-
de contribuição diferenciados para aposentadoria porário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego
de servidores com deficiência, previamente sub- público, o Regime Geral de Previdência Social.
metidos a avaliação biopsicossocial realizada por § 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
equipe multiprofissional e interdisciplinar. Municípios instituirão, por lei de iniciativa do res-
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei comple- pectivo Poder Executivo, regime de previdência
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo complementar para servidores públicos ocupantes
de contribuição diferenciados para aposentadoria de cargo efetivo, observado o limite máximo dos
de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de benefícios do Regime Geral de Previdência Social
agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de para o valor das aposentadorias e das pensões em
que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso regime próprio de previdência social, ressalvado o
XIII do caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput disposto no § 16.
do art. 144. § 15 O regime de previdência complementar de que
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei comple- trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo na modalidade contribuição definida, observará o
de contribuição diferenciados para aposentadoria disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio
de servidores cujas atividades sejam exercidas com de entidade fechada de previdência complementar
efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio- ou de entidade aberta de previdência complementar.
lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses § 16 Somente mediante sua prévia e expressa opção,
agentes, vedada a caracterização por categoria o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao
profissional ou ocupação. servidor que tiver ingressado no serviço público até
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão ida- a data da publicação do ato de instituição do cor-
de mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação respondente regime de previdência complementar.
às idades decorrentes da aplicação do disposto § 17 Todos os valores de remuneração considera-
no inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo dos para o cálculo do benefício previsto no § 3º
de efetivo exercício das funções de magistério na serão devidamente atualizados, na forma da lei.
educação infantil e no ensino fundamental e médio § 18 Incidirá contribuição sobre os proventos de
aposentadorias e pensões concedidas pelo regime
fixado em lei complementar do respectivo ente

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


de que trata este artigo que superem o limite máxi-
federativo.
mo estabelecido para os benefícios do regime geral
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos
de previdência social de que trata o art. 201, com
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é
percentual igual ao estabelecido para os servidores
vedada a percepção de mais de uma aposentado-
titulares de cargos efetivos.
ria à conta de regime próprio de previdência social,
§ 19 Observados critérios a serem estabelecidos em
aplicando-se outras vedações, regras e condições lei do respectivo ente federativo, o servidor titular
para a acumulação de benefícios previdenciários de cargo efetivo que tenha completado as exigên-
estabelecidas no Regime Geral de Previdência cias para a aposentadoria voluntária e que opte
Social. por permanecer em atividade poderá fazer jus a um
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quan- abono de permanência equivalente, no máximo, ao
do se tratar da única fonte de renda formal auferida valor da sua contribuição previdenciária, até com-
pelo dependente, o benefício de pensão por morte pletar a idade para aposentadoria compulsória.
será concedido nos termos de lei do respectivo ente § 20 É vedada a existência de mais de um regime
federativo, a qual tratará de forma diferenciada a próprio de previdência social e de mais de um órgão
hipótese de morte dos servidores de que trata o § ou entidade gestora desse regime em cada ente
4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e
em razão da função. entidades autárquicas e fundacionais, que serão
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefí- responsáveis pelo seu financiamento, observados
cios para preservar-lhes, em caráter permanente, o os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. definidos na lei complementar de que trata o § 22. 221
§ 21 (Revogado). No caso dos professores dos ensinos infantil, fun-
§ 22 Vedada a instituição de novos regimes pró- damental e médio, conta-se com a redução de 5 anos
prios de previdência social, lei complementar do requisito etário, ou seja, 60 anos para os homens e
federal estabelecerá, para os que já existam, nor- 57 anos para as mulheres. Atenção! Essa regra não se
mas gerais de organização, de funcionamento e de aplica aos professores do ensino superior.
responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre Vejamos o texto da Súmula nº 726, do STF:
outros aspectos, sobre:
I - requisitos para sua extinção e consequente Súmula nº 726 Para efeito de aposentadoria espe-
migração para o Regime Geral de Previdência cial de professores, não se computa o tempo de ser-
Social; viço prestado fora da sala de aula.
II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utili-
zação dos recursos; z Involuntária: quando se dá independentemente
III - fiscalização pela União e controle externo e da vontade do servidor, em virtude de:
social;
IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; „ Incapacidade permanente, sendo necessário
V - condições para instituição do fundo com finali- que se proceda a readaptação do servidor antes
dade previdenciária de que trata o art. 249 e para do procedimento para a aposentadoria;
vinculação a ele dos recursos provenientes de con-
„ Adimplemento de idade limite (aposentadoria
tribuições e dos bens, direitos e ativos de qualquer
compulsória aos 70 ou aos 75 anos de idade, na
natureza;
forma da Lei Complementar nº 152, de 2015).
VI - mecanismos de equacionamento do deficit
atuarial;
VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do
A CF estabelece, ainda, o direito de utilizar, para
regime, observados os princípios relacionados com fins de aposentadoria, o tempo de serviço desempe-
governança, controle interno e transparência; nhado em outro ente da Federação ou na iniciativa
VIII - condições e hipóteses para responsabilização privada. Por exemplo: uma pessoa que trabalhou 8
daqueles que desempenhem atribuições relacio- (oito) anos em uma empresa antes de ser aprovada
nadas, direta ou indiretamente, com a gestão do em concurso público estadual pode considerar esse
regime; tempo no cálculo final do tempo de serviço.
IX - condições para adesão a consórcio público;
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e z Regra: Veda-se a aposentadoria especial;
definição de alíquota de contribuições ordinárias e z Exceção: vide §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º, art. 40. Em
extraordinárias. síntese:

O art. 40, da CF/88, regulamenta o Regime Previ- „ Servidores com deficiência;


denciário Próprio de Previdência Social. Em sínte- „ Agente penitenciário;
se, o sistema previdenciário do servidor público foi „ Agente socioeducativo;
alterado com a EC nº 103, de 2019, da seguinte forma: „ Policial das carreiras do art. 144 (Segurança
Pública) e policiais da Câmara e do Senado
z Desconstitucionalização das regras de previdência, Federal;
de modo que vários regramentos sobre aposenta- „ Atividades que prejudiquem à saúde (aquelas
exercidas com efetiva exposição a agentes quí-
doria e pensão passaram a ser de competência de
micos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde,
lei infraconstitucional;
ou associação desses agentes).
z Nova mudança no cálculo da pensão;
z Maior aproximação do RGPS e RPPS;
Art. 41 São estáveis após três anos de efetivo
z Modificações no abono de permanência; exercício os servidores nomeados para cargo de
z Previsão de readaptação antes de aposentadoria provimento efetivo em virtude de concurso público.
por incapacidade permanente; § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
z Inclusão dos agentes políticos ocupantes de man- I - em virtude de sentença judicial transitada
dato eletivo nas regras do RGPS; em julgado;
z Exclusão da aposentadoria apenas por tempo de II - mediante processo administrativo em que lhe
contribuição; seja assegurada ampla defesa;
z Regras especiais para carreiras policiais previstas III - mediante procedimento de avaliação perió-
na CF. dica de desempenho, na forma de lei complemen-
tar, assegurada ampla defesa.
No que tange à aposentadoria, suas modalidades § 2º Invalidada por sentença judicial a demis-
são: são do servidor estável, será ele reintegrado, e o
eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzi-
z Voluntária: quando se dá por livre e espontânea do ao cargo de origem, sem direito a indenização,
vontade desde que cumpridos os requisitos dispos- aproveitado em outro cargo ou posto em disponi-
tos a seguir: bilidade com remuneração proporcional ao tempo
de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desne-
HOMEM MULHER cessidade, o servidor estável ficará em disponi-
IDADE 65 anos 62 anos bilidade, com remuneração proporcional ao
tempo de serviço, até seu adequado aproveita-
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO 25 anos 25 anos
mento em outro cargo.
TEMPO NO SERVIÇO § 4º Como condição para a aquisição da esta-
10 anos 10 anos
PÚBLICO bilidade, é obrigatória a avaliação especial de
desempenho por comissão instituída para essa
222 TEMPO NA CARREIRA 5 anos 5 anos finalidade.
Por fim, o art. 41, da CF/88, trata da estabilidade, O poder legislativo tem o poder de fazer emendas,
que prevê a regra de que a estabilidade é adquirida alterar e revogar leis, já o poder executivo, função de
após três anos de efetivo exercício. Trata-se de uma administrar o Estado, e por fim, o poder judiciário é
garantia constitucional de permanência no serviço quem tem a função jurisdicional, por exemplo, a apli-
público outorgada ao servidor aprovado em concurso cação do Direito em um caso concreto, através de um
público e nomeado a cargo de provimento efetivo, que processo judicial.
tenha transposto o período de estágio probatório e
aprovado na avaliação especial de desempenho. Uma LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO
vez efetivo, o servidor só perderá o cargo em três
hipóteses: sentença judicial transitada em julgado; Administra o
Elabora as leis Aplica as leis
Estado
processo administrativo e procedimento de avaliação
periódica de desempenho. Senadores e Deputados;
Presidente da
Supremo Tribunal
Explicando melhor, para a contratação de pessoal República;
Federais; Federal;
na Administração Pública, é realizado concurso públi- Governadores
Deputados Estaduais; Tribunais;
co para preenchimento de cargos públicos. Com isso, do Estado;
Vereadores. Juízes.
Prefeitos.
a pessoa que foi aprovada dentro do número de vagas
previstas no certame tem o direito de ser nomeada
para o cargo público. Com a nomeação, essa pessoa PODER LEGISLATIVO
assina o termo de posse e pode, a partir de então, exer-
cer efetivamente o cargo público. Nos primeiros três É o poder de fazer, emendar, alterar e revogar leis,
anos de exercício, esse servidor passa por um período consagrado do art. 44 a 75 da Constituição. Assim, a
de avaliação. Trata-se do estágio probatório, ou seja, função típica do Poder Legislativo é legislar, ou seja,
tem a função de elaborar as normas jurídicas gerais e
um período que será analisado seu desempenho fun-
abstratas, bem como, tem como função atípica admi-
cional. Completados três anos de serviço público e
nistrar e julgar.
aprovado no estágio probatório, o servidor adquire a
Exemplo de função atípica: Controle de contas
denominada estabilidade.
públicas, autorização para instauração de processos
O dispositivo estabelece, ainda, a possibilidade de
contra certas autoridades, julgamento de crimes de
reintegração, ou seja, o retorno, por meio de decisão responsabilidade e etc.
judicial, do servidor público ilegalmente desligado Fiscalização contábil conta com o auxílio do Tribu-
ao cargo de origem ou ao cargo resultante de sua nal de Contas da União (art. 70 a 74 CF).
transformação. Salienta-se que ele fará jus ao rece- Tribunal de contas nos Estados e Distrito Federal
bimento de todas as vantagens que teria auferido no (art. 75 da CF/88).
período em que ficou desligado, inclusive das promo-
ções por antiguidade que teria conquistado. Federal
É possível, também, que decisão administrativa
invalide a demissão. No âmbito nacional temos o Congresso Nacional que é
No caso de o cargo anteriormente ocupado pelo denominado bicameral, pois é composto pelas duas casas,
servidor ter sido extinto, ele será reintegrado ao ser- a Câmara dos Deputados e Senado Federal, também cha-
viço público, porém ficará em disponibilidade remu- mado de bicameralismo federativo, pois é composto por
nerada até seu adequado aproveitamento em outro representantes dos estados e do Distrito Federal.
cargo. Já no caso de o cargo provido ter sido ocupado
por outro servidor, o ocupante será reconduzido ao Câmara dos Deputados
cargo de origem, sem direito à indenização, ou apro-
veitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponi- Composto por representantes do povo, eleitos
bilidade enquanto o servidor reintegrado voltará a pelo sistema proporcional para mandatos de quatro
exercer o seu cargo. anos, permitindo sucessivas reeleições.
Sistema proporcional: o eleitor escolhe ser repre-
sentado por determinado partido e preferencialmente
pelo candidato escolhido. Entretanto, caso o candida-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


to escolhido não seja eleito, o voto será somado aos
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES demais votos da legenda, compondo a votação do par-
tido ou coligação.
A Constituição Federal, visando, principalmente, Cada estado será representado de acordo com a
evitar o arbítrio e o desrespeito aos direitos funda- sua população, ou seja, quanto mais populoso, maior
mentais do homem, previu a existência dos Poderes será o número de representantes do ente federado
do Estado e da Instituição do Ministério Público, inde- nesta casa. Ainda, conforme art. 45, §1° da CF, nenhu-
pendentes e harmônicos entre si, repartindo entre ma unidade da federação terá menos de oito ou mais
eles as funções estatais e prevendo prerrogativas e de setenta deputados, exceção territórios (que atual-
imunidades para que bem pudessem exercê-las, bem mente não existem mais, mas se voltarem a existir)
como criando mecanismos de controles recíprocos, poderão eleger quatro Deputados Federais.
sempre como garantia da perpetuidade do Estado
democrático de Direito (MORAES, 2019). Senado Federal
Ainda para Moraes (2019), a divisão, à luz do que
estabelece o critério funcional é a separação dos Composto por representantes dos Estados e Distri-
poderes, que consiste em distinguir as três funções to Federal, eleitos pelo sistema majoritário simples.
do Estado, quais sejam, legislação, administração e Cada Estado e o Distrito Federal elege o número fixo
jurisdição, que devem ser atribuídas a três órgãos de três Senadores, com mandato de oito anos. Ainda,
distintos, que as exerceram com exclusividade. São os cada Senador será eleito com dois suplementes (art.
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 46 da CF). 223
Cada Estado elege o número fixo de três Senadores. z Mesas do Congresso Nacional
Cada Senador terá dois Suplentes.
As mesas são os órgãos diretivos da Câmara dos
z Funcionamento do Congresso Nacional Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacio-
nal. As mesas têm responsabilidade de administrar
Conforme art. 57 da CF, o Congresso Nacional reu- sua casa, eleitos pelos próprios parlamentares.
nir-se-á na Capital Federal de 2 de fevereiro a 17 de A composição da mesa do Congresso Nacional pode
julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, período ser alterada por regimentos, com mandato de dois
denominado como sessão legislativa, ou seja, é o anos, devendo ser presidida pelo Presidente do Senado
período em que o congresso se reúne anualmente. e os demais cargos serão exercidos, alternadamente,
Entenda: Período denominado sessão legislativa pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos
é o período em que o congresso se reúne para ativida- Deputados e no Senado Federal, conforme determina o
des anualmente. § 5°, art. 57 da CF. Ainda, a presidência é exercida pelo
Sessão legislativa presidente do Senado. Vejamos as atribuições para as
02 de fevereiro a 17 de julho mesas nos seguintes artigos da CF: § § 1° e 2°, art. 50 / §
01 de agosto a 22 de dezembro § 2° e 3°, art. 55 / incisos II e II, art. 103

„ Sessão legislativa ordinária: período de ativida- Art. 50 A Câmara dos Deputados e o Senado Fede-
de normal do Congresso (mencionado acima). ral, ou qualquer de suas Comissões, poderão con-
„ Sessão legislativa extraordinária: trabalho rea- vocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares
lizado durante o recesso parlamentar, median- de órgãos diretamente subordinados à Presidência
te convocação. da República para prestarem, pessoalmente, infor-
mações sobre assunto previamente determinado,
Recesso importando crime de responsabilidade a ausência
sem justificação adequada.
18 de julho a 31 de julho
§ 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer
23 de dezembro a 01 de fevereiro
ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados,
ou a qualquer de suas Comissões, por sua ini-
ciativa e mediante entendimentos com a Mesa
Importante! respectiva, para expor assunto de relevância de
Não confundir sessão legislativa com legislatu- seu Ministério.
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do
ra: legislatura é o período de quatro anos de exe-
Senado Federal poderão encaminhar pedidos
cução das atividades do Congresso Nacional. escritos de informações a Ministros de Estado ou
Vide § único, artigo 44 da CF. a qualquer das pessoas referidas no caput deste
artigo, importando em crime de responsabilidade a
recusa, ou o não - atendimento, no prazo de trinta dias,
Art. 44 O Poder Legislativo é exercido pelo Con-
bem como a prestação de informações falsas.  
gresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Art. 55 Perderá o mandato o Deputado ou
Deputados e do Senado Federal.
Senador:
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração
I - que infringir qualquer das proibições esta-
de quatro anos.
belecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompa-
Cuidado com o § 3° do art. 57 da CF, que dispõe tível com o decoro parlamentar;
sobre as reuniões – referente à sessão Conjunta, o III - que deixar de comparecer, em cada sessão
qual ocorrerá em quatro casos, vejamos. legislativa, à terça parte das sessões ordiná-
rias da Casa a que pertencer, salvo licença ou
Art. 57 O Congresso Nacional reunir-se-á, anual- missão por esta autorizada;
mente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de IV - que perder ou tiver suspensos os direitos
julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. políticos;
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos
transferidas para o primeiro dia útil subseqüen- casos previstos nesta Constituição;
te, quando recaírem em sábados, domingos ou VI - que sofrer condenação criminal em sentença
feriados. transitada em julgado.
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar,
sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes além dos casos definidos no regimento interno, o
orçamentárias. abuso das prerrogativas asseguradas a membro do
§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constitui- Congresso Nacional ou a percepção de vantagens
ção, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal indevidas.
reunir-se-ão em sessão conjunta para: § 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do
I - inaugurar a sessão legislativa; mandato será decidida pela Câmara dos Deputa-
I - inaugurar a sessão legislativa; dos ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
II - elaborar o regimento retirar sublinhado e mediante provocação da respectiva Mesa ou de
colocar comum e regular a criação de serviços partido político representado no Congresso Nacio-
comuns às duas Casas; nal, assegurada ampla defesa.      
III - receber o compromisso do Presidente e do Vice- § 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a
-Presidente da República; perda será declarada pela Mesa da Casa res-
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar. pectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político
Em relação ao guarde o seguinte: a sessão acontece representado no Congresso Nacional, assegurada
224 no primeiro ano do mandato do Presidente. ampla defesa.  
Art. 103 Podem propor a ação direta de incons- Por exemplo, determinado Senador, ao discutir
titucionalidade e a ação declaratória de temas políticos com outro parlamentar, profere pala-
constitucionalidade: vras de injuria e acusa o parlamentar de praticar
I - o Presidente da República; fatos definidos como crime. Nesse caso, o parlamentar
II - a Mesa do Senado Federal;
ofendido não pode mover processo contra o Senador,
III - a Mesa da Câmara dos Deputados
pois as ofensas proferidas estão relacionadas ao exer-
O Presidente da mesa é o Presidente da sua res- cício da atividade parlamentar.
pectiva casa, cabe a este declarar a perda de mandato Parlamentar não pode renunciar à imunidade par-
(art. 55 da CF). lamentar e abrir mão do foro privilegiado.
Conforme o inciso VIII, art. 29 da CF/88, os verea-
Estadual e Distrital dores tem essa proteção, mas somente na circunscri-
ção do Município.
O âmbito Estadual e Distrital é composto pela
Assembleia Legislativa, através dos Deputados esta- Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica,
duais, eleitos pelo sistema proporcional (26 Deputados votada em dois turnos, com o interstício mínimo de
por Estado), com mandato de quatro anos, aplicando dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
de mandato, licença, impedimentos e incorporação Constituição do respectivo Estado e os seguintes
às Forças Armadas. Ainda, o subsídio dos Deputados preceitos:
Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assem- [...]
bleia Legislativa (art. 27 da CF). VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opi-
niões, palavras e votos no exercício do mandato e
Municipal na circunscrição do Município;

Na esfera municipal temos os Vereadores eleitos Imunidade Formal: Relativa propriamente dita.
pelo sistema proporcional, com mandato de quatro Na imunidade formal, há a possibilidade de sus-
anos – Unicameral. O número de vereadores que ocu- pensão da prisão e do processo para a maioria abso-
pam a Câmara Municipal é definido de acordo com o luta dos membros da respectiva casa, consiste no
número de habitantes da respectiva cidade, conforme julgamento pelo STF, desde a expedição do Diploma.
inciso IV, art. 29 da CF. Note que os vereadores não podem ser presos, salvo
Os vereadores apenas gozam da imunidade em flagrante de crime inafiançável.
material. A diplomação ocorre antes da posse, é um ato que
comprova que o candidato foi eleito e está apto para
Imunidade Parlamentar tomar a posse no respectivo cargo. É neste ato que
ocorre a entrega do documento (diploma) pela justiça
A imunidade parlamentar é também conheci- eleitoral.
da como imunidade legislativa, pode ser imunidade
material ou imunidade formal, vejamos: Imunidade Art. 53 Os Deputados e Senadores são invioláveis,
Material: absoluta inviolabilidade. civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
Parlamentares são imunes civil e penalmente para palavras e votos. 
suas opiniões, palavras e votos, desde que no exer- [...]
cício da atividade parlamentar. Sendo que, não § 3º Recebida à denúncia contra o Senador ou
cometem no exercício da atividade parlamentar: inju- Deputado, por crime ocorrido após a diploma-
ria calúnia e difamação. Todos os parlamentares pos- ção, o Supremo Tribunal Federal dará ciência
suem essa imunidade. à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido
A imunidade material está consagrada no art. 53 do político nela representado e pelo voto da maioria de
texto constitucional, que prevê que Deputados e Sena- seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
dores são invioláveis civis e penalmente, vejamos. andamento da ação.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa
Art. 53 Os Deputados e Senadores são invioláveis, respectiva no prazo improrrogável de quarenta e
civil e penalmente, por quaisquer de suas opi-
cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
niões, palavras e votos.
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição,
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedi-
ção do diploma, serão submetidos a julgamento enquanto durar o mandato.
perante o Supremo Tribunal Federal. § 6º Os Deputados e Senadores não serão obriga-
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do dos a testemunhar sobre informações recebidas ou
Congresso Nacional não poderão ser presos, prestadas em razão do exercício do mandato, nem
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nes- sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles rece-
se caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e beram informações.
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputa-
da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.   dos e Senadores, embora militares e ainda que em
tempo de guerra, dependerá de prévia licença da
A imunidade é uma espécie de proteção aos par- Casa respectiva.
lamentares no exercício de suas funções, para que § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores
estes tenham ampla liberdade de expressão e debate subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
de ideias nas questões de interesse de seus represen- ser suspensas mediante o voto de dois terços dos
tados. Ainda, a imunidade material é absoluta, sen- membros da Casa respectiva, nos casos de atos pra-
do que as palavras e opiniões do parlamentar ficam ticados fora do recinto do Congresso Nacional, que
excluídas de ação condenatória. sejam incompatíveis com a execução da medida.   225
Caso seja determinada a prisão de algum Depu- § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que
tado ou Senador após a diplomação, os autos serão terão poderes de investigação próprios das
enviados para a respectiva casa, para que, pelo voto autoridades judiciais, além de outros previstos
da maioria de seus membros, a casa resolva sobre nos regimentos das respectivas Casas, serão cria-
das pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
a prisão, a qual poderá determinada a sustação do
Federal, em conjunto ou separadamente, mediante
andamento da ação até o final do mandato (Neste requerimento de um terço de seus membros, para
caso, fica suspensa a prescrição). a apuração de fato determinado e por prazo certo,
sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas
Comissões ao Ministério Público, para que promova a respon-
sabilidade civil ou criminal dos infratores. (grifo
Comissões são os grupos de parlamentares reuni- nosso)
dos para discutir sobre diversos assuntos, por exem-
plo, cabe às comissões convocar Ministros de Estado A seguir, organizamos um quadro explicativo refe-
para prestar informações sobre assuntos inerentes a rente ao que pode e o que não pode ser realizado pela
suas atribuições. Vejamos o art. 58 da CF. CPI.

Art. 58 O Congresso Nacional e suas Casas terão CPI Pode


comissões permanentes e temporárias, consti-
tuídas na forma e com as atribuições previstas no z Convocar ministro de Estado;
respectivo regimento ou no ato de que resultar sua z Tomar depoimento de autoridade federal, estadual
criação. ou municipal;
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, z Ouvir suspeitos (que têm direito ao silêncio para
é assegurada, tanto quanto possível, a representa- não se auto incriminar) e testemunhas (que têm o
ção proporcional dos partidos ou dos blocos parla- compromisso de dizer a verdade e são obrigadas a
mentares que participam da respectiva Casa. comparecer);
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua com- z Ir a qualquer ponto do território nacional para
petência, cabe: investigações e audiências públicas;
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, z Prender em flagrante delito;
na forma do regimento, a competência do Plenário, z Requisitar informações e documentos de reparti-
salvo se houver recurso de um décimo dos mem- ções públicas e autárquicas;
bros da Casa; z Requisitar funcionários de qualquer poder para
II - realizar audiências públicas com entidades ajudar nas investigações, inclusive policiais;
da sociedade civil; z Pedir perícias, exames e vistorias, inclusive busca
III - convocar Ministros de Estado para prestar e apreensão (vetada em domicílio);
informações sobre assuntos inerentes a suas z Determinar ao Tribunal de Contas da União (TCU)
atribuições; a realização de inspeções e auditorias; e
IV - receber petições, reclamações, representa- z Quebrar sigilo bancário, fiscal e de dados (inclusi-
ções ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou ve telefônico, ou seja, extrato de conta e não escuta
omissões das autoridades ou entidades públicas; ou grampo).
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade
ou cidadão; CPI Não Pode
VI - apreciar programas de obras, planos nacio-
nais, regionais e setoriais de desenvolvimento e z Não pode condenar;
sobre eles emitir parecer. z Não pode determinar medida cautelar, como pri-
sões, indisponibilidade de bens, arresto, sequestro;
Comissão parlamentar de inquérito – CPI z Não pode determinar interceptação telefônica e
quebra de sigilo de correspondência;
É uma investigação conduzida pelo poder legislati- z Não pode impedir que o cidadão deixe o território
vo, que serve para ouvir depoimentos e esclarecimen- nacional e determinar apreensão de passaporte;
tos sobre fatos relevantes da vida pública, também z Não pode expedir mandado de busca e apreensão
pode ocorrer durante o recesso parlamentar, ou seja, domiciliar; e
apura fato certo por prazo determinado. A CPI tem z Não pode impedir a presença de advogado do
depoente na reunião (advogado pode: ter acesso a
prazo de duração de 120 dias, se for o caso, pode ser
documentos da CPI; falar para esclarecer equívo-
prorrogado por até 60 dias mediante deliberação do
co ou dúvida; opor a ato arbitrário ou abusivo; ter
Plenário.
manifestações analisadas pela CPI até para impug-
Para criação tem que ter um terço dos votos (ou
nar prova ilícita).
seja, pelo voto favorável de pelo menos 171 Deputa-
dos Federais ou de 27 Senadores) dos Deputados ou Sobre a admissibilidade da instauração de CPI, em
Senadores, em conjunto ou separadamente. Depois 2020 determinado deputado federal insurgiu contra
de encerrado, se for o caso, é enviado para o Minis- ato, por meio do qual o Presidente da Câmara dos
tério Público para que promova a responsabilização Deputados indeferiu pedido de instauração de CPI
civil e criminal dos infratores. destinada a investigar a metodologia de elaboração e
Conforme § 3º, art. 58 da CF, as comissões terão divulgação de pesquisas e os reflexos no resultado das
poderes de investigação próprios das autoridades eleições. Assim, ao analisar o Mandado de Segurança,
226 judiciais, vejamos: o STF considerou que:
É atribuição do Presidente da Câmara aferir o � Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade
preenchimento dos requisitos atinentes à instaura- de despesa ou irregularidade de contas, as sanções
ção de comissão parlamentar de inquérito. previstas em lei:
(MS 33.521, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15.05.2020, Dje em
24.06.2020)
„ E
xemplo: Verificada fraude comprovada à lici-
tação, o Tribunal poderá proibir o sancionado
Tribunais de Conta de participar de licitação na Administração
pública Federal por até cinco anos;
O Tribunal de contas da União tem como função
auxiliar o Congresso Nacional no controle externo,
� Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote
referente à fiscalização. É um órgão independente,
as providências necessárias ao exato cumprimen-
composto por nove ministros, aos quais competem as
to da lei, se verificada ilegalidade:
seguintes funções (art. 71 da CF):
„ E
xemplo: Verificada a ilegalidade de uma lici-
z Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre-
sidente da República; tação, o Tribunal determina o prazo de quinze
É função do TCU, mediante parecer prévio (deve ser dias para que o responsável adote as providên-
elaborado no prazo de 60 dias), analisar as contas cias necessárias (alegações de defesa ou, se for
anuais do Presidente da República, por exemplo, o caso, adequar o contrato a lei);
análise das demonstrações contábeis consolidadas
da União (também chamados de balanços gerais � Sustar se não atendido, a execução do ato impug-
da União); nado, comunicando a decisão à Câmara dos Depu-
z Julgar as contas dos administradores e demais res- tados e ao Senado Federal:
ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos
da administração direta e indireta: „ E
xemplo: caso verificada a ilegalidade de uma
licitação e o responsável não responder no pra-
„ E
xemplo: é função do TCU julgar as contas das zo as alegações de sua defesa ou, se for o caso,
autarquias; não adequar o contrato a lei, o TCU pode sustar
a execução ato impugnado, entretanto, o TCU
z Apreciar, para fins de registro, a legalidade dos não tem poder para anular contrato admi-
atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na nistrativo, mas, se for o caso, pode comunicar
administração direta e indireta: a autoridade administrativa para que anule o
contrato ou a licitação;
„ Exemplo: apreciar a legalidade de ato de admis-
são da empresa brasileira de Correios, median- � Representar ao Poder competente sobre irregula-
te a prorrogação de concurso público; ridades ou abusos apurados:

� Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos „ E


xemplo: Conforme abordado acima, o TCU
Deputados, do Senado Federal, de Comissão téc- comunica ao Congresso Nacional sobre as irre-
nica ou de inquérito, inspeções e auditorias de gularidades e abusos apurados para que, se for
natureza contábil, financeira, orçamentária, ope- o caso, anule o contrato administrativo ou a
racional e patrimonial, nas unidades administrati- licitação.
vas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário:
Do Processo Legislativo
„ E
xemplo: apurar denúncias referente à legali-
dade de atos administrativos;
É o conjunto de atos a serem observados para a
produção, criação, modificação ou revogação de nor-
� Fiscalizar as contas nacionais das empresas supra-
mas, realizado pelos órgãos competentes.
nacionais de cujo capital social a União participe:
A iniciativa pode ser parlamentar (quando outor-
gada aos Membros do Congresso Nacional – Câmara
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
„ E
xemplo: o Brasil tem acordo realizado com o
dos Deputados ou Senado Federal) ou extraparlamen-
Governo do Iraque, nesse sentido, a União par-
tar (quando conferida aos demais órgãos ou pessoas
ticipa do denominado Banco Brasileiro Iraquia-
que não integram o Congresso Nacional, por exemplo,
no S. A (BBI);
através da iniciativa popular)
� Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repas- No processo legislativo de elaboração e criação de
sados pela União mediante convênio, acordo, ajus- normas, o Senado Federal só será a casa iniciadora,
te ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao se o projeto for apresentado por Senadores ou suas
Distrito Federal ou a Município: comissões.

„ E
xemplo: fiscalização do repasse dos recursos z Medida provisória: tem iniciativa na Câmara dos
Federais transferidos aos Estados; Deputados, § 8°, art. 62 da CF;
z Iniciativa popular: a CF exige a subscrição de no
� Prestar as informações solicitadas pelo Congresso mínimo 1% do eleitorado, nacional, distribuído
Nacional: por pelo menos cinco estados, com não menos de
0,3% dos eleitores, cada um deles, e será apresen-
„ E
xemplo: emitir pronunciamento conclusivo tado perante a Câmara dos Deputados, art. 61, §2°
sobre os projetos de lei relativos ao plano plu- da CF. A tramitação é a mesma do projeto de lei
rianual, diretrizes orçamentárias e ao orça- ordinária. Exemplo de iniciativa popular para lei
mento anual; complementar – lei da ficha limpa. 227
Os projetos de lei começam a tramitar na Câmara z Sanção: concordância com o projeto de lei apre-
dos Deputados, com exceção de quando são apresen- sentado, podendo ser expressa (assinatura) ou
tados por Senador ou comissão do senado, nesses tácita (quando o Presidente não se manifesta sobre
dois casos, começam pelo Senado. Caso o projeto seja no prazo de 15 dias). Vide § 1°, art. 66 da CF.
aprovado por uma Casa, ele será revisto pela outra,
em um só turno de discussão e votação (em cada casa). „ Sanção expressa: se ocorrer a subscrição do
projeto de lei. Ou seja, quando o Presidente da
z Se tiver iniciado a tramitação na Câmara (regra), República manifestar concordância ao Projeto
o projeto segue para o Senado, onde será analisa- de Lei aprovado pelo Congresso Nacional, no
do e votado. Se for alterado, volta para a Câma- prazo de 15 dias úteis;
ra, que analisa apenas as alterações, podendo „ Sanção tácita: caso não ocorra veto (discor-
mantê-las ou recuperar o texto original; dância) no prazo de 15 dias. Ou seja, o Presiden-
z Em seguida, vai para sanção ou veto do presidente te não se manifestou dentro do prazo, inerte,
da República. entende pela sua concordância com o Projeto
de Lei aprovado.
Atenção! Se tiver vindo do Senado (exceção) e for
aprovado sem alterações, segue para sanção ou veto z Veto: é a discordância do Presidente com o projeto
do presidente da República. de lei aprovado, este deve ser manifestado obri-
gatoriamente de maneira expressa (diferente da
z Se for alterado, volta para o Senado, que analisa as sanção tácita que ocorre com a inércia do Presi-
mudanças da Câmara, podendo mantê-las ou recu- dente dentro do prazo de 15 dias), pode ser total
perar o texto original; ou parcial. Tem prazo de 15 dias para se apresen-
z Em seguida, vai para sanção ou veto do Presidente tar, ainda, deve no prazo de 48 horas comunicar os
da República. motivos do veto ao Presidente do Senado Federal:

Entenda: Na casa revisora, o projeto pode ser „ Veto será expresso, motivado, formalizado,
rejeitado (arquivado), se aprovado (depois de ser superável e supressivo;
enviado para o Presidente dar a sanção ou veto), ou „ O veto pode ser total, que atinge todo o pro-
emendado. jeto, ou parcial, que atinge somente alguns
dispositivos.
Iniciativa
Art. 66 A Casa na qual tenha sido concluída a vota-
ção enviará o projeto de lei ao Presidente da Repú-
Casa iniciadora blica, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º Se o Presidente da República considerar o
Câmara dos
Deputados projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou
contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, conta-
Aprovado
dos da data do recebimento, e comunicará, dentro
Aprovado
de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado
Presidente da
Casa revisora Federal os motivos do veto.
República
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto inte-
Senado Federal gral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
15 dias
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do
Presidente da República importará sanção.
Art. 66 da CF
Alterado
Veto pode ser derrubado:
Volta para Câmara SANÇÃO Veto

48 horas § 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, den-


Analisa apenas as
alterações:
tro de trinta dias a contar de seu recebimento, só
Pode mantê-las ou recu- Pode ser podendo ser rejeitado pelo voto da maioria abso-
Promulgação derrubado pela luta dos Deputados e Senadores. (grifo nosso)
perar o texto original.
e posterior Câmara dos
Em seguida, vai para § 5º Se o veto não for mantido, será o projeto envia-
publicação Deputados e
sanção ou veto
Senado Federal do, para promulgação, ao Presidente da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido
no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da
Lei ordinária: a votação para aprovação será por sessão imediata, sobrestadas as demais proposi-
maioria simples; ções, até sua votação final.     
Lei Complementar: a votação para aprovação § 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta
será por maioria absoluta; e oito horas pelo Presidente da República, nos casos
Emenda Constitucional: a votação para aprova- dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulga-
ção será por três quintos dos membros. rá, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao
Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
Deliberação
O veto pode ser “derrubado” pelo Congresso
A deliberação é a competência exclusiva do Pre- Nacional, em sessão conjunta, no prazo de 30 dias, só
sidente da República, após concluída a votação. podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta
Ocorre apenas no processo das leis ordinárias e dos Deputados e Senadores, após, o projeto será reen-
228 complementares. viado ao presidente para a promulgação.
Art. 60 A Constituição poderá ser emendada
Veto
mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câma-
ra dos Deputados ou do Senado Federal;
Presidente Senado Federal II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembléias Legisla-
30 dias tivas das unidades da Federação, manifestando-
Sessão Conjunta -se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na
Deputado Federal vigência de intervenção federal, de estado de defesa
+ ou de estado de sítio.
Senadores § 2º A proposta será discutida e votada em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, con-
siderando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
O Congresso Nacional deve apreciar o veto dentro
quintos dos votos dos respectivos membros.
do prazo máximo de 30 dias em sessão conjunta,
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada
podendo rejeitá-lo pelo voto secreto da maioria
pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
absoluta dos Deputados e Senadores
Federal, com o respectivo número de ordem.
Congresso Nacional decide não manter o Veto –
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de
Envia novamente o texto ao Presidente
emenda tendente a abolir
I - a forma federativa de Estado;
Promulgação e Publicação II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
z Promulgação: Competência do Presidente da IV - os direitos e garantias individuais.
República, deve ser realizado no prazo de 48 horas § 5º A matéria constante de proposta de emen-
após a sanção ou depois de derrubado o veto; da rejeitada ou havida por prejudicada não pode
z Publicação: realizada no Diário Oficial, o qual é ser objeto de nova proposta na mesma sessão
obrigatório para levar a conhecimento geral a legislativa.
existência da lei.
As Cláusulas Pétreas a seguir são direitos que não
Espécies Normativas podem ser alterados.

Agora, vamos ao estudo de cada uma das espécies I - a forma federativa de Estado;
normativas enumeradas no art. 59 da Constituição II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
Federal. III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
I - Emenda Constitucional
A emenda constitucional é um mecanismo para
Conforme art. 60 da CF/88, a emenda constitucio- alteração da Constituição. Sendo que, as emendas pos-
nal é um mecanismo para alteração da Constituição. suem a mesma hierarquia que a Constituição Federal
Assim, as emendas possuem a mesma hierarquia que no ordenamento jurídico e necessitam de um procedi-
a Constituição Federal, sendo que as emendas são a mento especial para aprovação, até porque a CF/1988
única maneira de modificar a Constituição. é de difícil mudança, ou seja, também classificada
Bem como, o § 1º do mencionado dispositivo deter- como uma constituição rígida.
mina que a Constituição não poderá ser emendada na
Conforme o art. 60 da CF/88, a Constituição pode-
vigência de intervenção federal, de estado de defesa
rá ser emendada mediante proposta de um terço,
ou de estado de sítio.
Ainda, não pode ser objeto de deliberação as pro- no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
posta de emenda constitucional que objetivem abolir ou do Senado Federal, do Presidente da República e

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


as denominadas cláusulas pétreas, consagradas no § de mais da metade das Assembleias Legislativas das
4°, art. 60 da CF/88, vejamos. unidades da Federação, manifestando-se, cada uma
delas, pela maioria relativa de seus membros.
4º Não será objeto de deliberação a proposta de No que tange à votação da emenda constitucio-
emenda tendente a abolir nal, o § 2°, art. 60 da CF dispõe que para a norma ter
I - a forma federativa de Estado; status de emenda constitucional (consequentemente
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; obter hierarquia das demais normas e estar ao lado
III - a separação dos Poderes;
da Constituição) é necessário um procedimento de
IV - os direitos e garantias individuais.
votação junto ao Congresso Nacional, nesse caso, cada
Conforme estudamos no início desse material, casa vai votar e deve ter um número mínimo de par-
no tópico poder constituinte derivado de reforma, a lamentares que aprovem a emenda.
matéria constante de proposta de emenda rejeitada
ou havida por prejudicada não pode ser objeto de § 2º A proposta será discutida e votada em cada
nova proposta na mesma sessão legislativa. Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, con-
Note que este assunto é muito cobrado em provas, siderando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
pelo fato do art. 60 da CF/88 determinar os critérios de quintos dos votos dos respectivos membros.
elaboração e votação de uma emenda constitucional.
É nesse artigo, também, que estão localizadas as cha- O Congresso Nacional é composto por duas casas: a
madas cláusulas pétreas, vejamos: Câmara dos Deputados e o Senado Federal. 229
II - Lei Complementar
Câmara dos Deputados:
Composição: 513 É a lei criada para complementar as normas cons-
Deputados titucionais, as hipóteses de regulamentação estão
Congresso Nacional taxativamente previstas na Constituição Federal.
Senado Federal:
Aprovadas por maioria absoluta, em apenas um tur-
Composição: 81 no de votação nas duas casas do Congresso Nacional.
Senadores Conforme o art. 69 da CF.

Art. 69 As leis complementares serão aprovadas


Ou seja, se a Câmara dos Deputados é composta por maioria absoluta.
por 513 Deputados, para fins de resultado de votação,
quando a Constituição menciona 3/5 dos votos, enten-
Dica
da se refere ao voto de 308 deputados. Já o Senado
Federal, como é composto por 81 Senadores, logo 3/5 A Lei complementar só vai existir quando já for
se refere ao voto de 49 senadores. autorizada pela Constituição Federal.

CÂMARA DOS DEPUTADOS SENADO FEDERAL III - Lei Ordinária


1º Turno de votação 1º Turno de votação
3/5 = 60% dos votos: 3/5 = 60% dos votos: É um ato normativo relativo às normas gerais e
308 Deputados 49 Senadores tem incidência quando não há previsão específica.
Trata sobre matéria não abrangida pela lei comple-
2° Turno de votação 2° Turno de votação
3/5 = 60% dos votos: 3/5 = 60% dos votos:
mentar, sua aprovação se dá por maioria simples, ora,
308 Deputados 49 Senadores maioria dos votos de cada casa, em um turno de vota-
ção, presente a maioria dos seus membros.
Entenda: A apresentação do projeto de lei, qual seja, a inicia-
tiva pode ser reservada ou geral, devidamente funda-
z 3/5 é o mesmo que 60% dos votos; mentado e justificado.
z 3/5 em dois turnos = duas votações na Câmara dos Projeto de iniciativa geral, como por exemplo a
Deputados e duas votações no Senado Federal; iniciativa popular, é uma matéria não reservada a
z Duas casas = votação no Senado e na Câmara. órgãos (autoridades).
Projeto de iniciativa reservada é o projeto apre-
Por fim, a emenda à Constituição será promulgada sentado por determinadas autoridades, como por
pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado exemplo, o § 1° do art. 61 da CF, a qual dispõe as leis
Federal, com o respectivo número de ordem. que serão de iniciativa do Presidente da República.
Conforme art. 67 da CF/88
IV - Medida Provisória
A matéria constante de projeto de lei rejeitado
somente poderá constituir objeto de novo projeto, Espécie normativa com força de lei. No caso de
na mesma sessão legislativa, mediante proposta relevância e urgência, o Presidente da República
da maioria absoluta dos membros de qualquer das poderá editá-las. Sendo editadas com o prazo máximo
Casas do Congresso Nacional. de 60 dias (prorrogando uma vez só pelo mesmo pra-
zo + 60 dias), de acordo com o art. 62 da CF e EC 32,
Iniciativa Da PEC de 2001.
O Congresso Nacional poderá aprovar com ou sem
z 1/3 da Câmara dos Deputados ou do Senado alteração do texto, rejeição expressa ou rejeição tácita
Federal; (rejeitado perde seu efeito). Deve ser apreciada pela
z Presidente da República; Câmara dos Deputados em 45 dias. Caso não seja apre-
z Mais da metade das Assembleias Legislativas das ciada dentro do prazo, entra em regime de urgência.
unidades da Federação, manifestando-se a maioria Aprovado tem prazo determinado de 60 dias,
relativa de seus membros. podendo prorrogar uma vez + 60 dias

Câmara dos Senado Se não for


Câmara dos
Deputados Federal
Aprovada
Editada pelo Deputados deve apreciada em
Presidente da apreciar no 45 dias, entra
Votação em dois turnos, Votação em dois turnos,
necessária aprovação de 3/5 necessário aprovação de República máximo em 45 em regime de
dos membros 3/5 dos membros dias urgência

Não cabe medida provisória de matéria reservada


à lei complementar. Ainda, há um rol de matérias que
PEC Rejeitada PEC Aprovada não podem ser objeto de edição de medida provisória,
conforme o § 1º do art. 62 da CF, vejamos:
Se rejeitada, será Segue para promulgação
arquivada e não poderá pela Mesa da Câmara
Art. 62 Em caso de relevância e urgência, o Pre-
ser objeto de nova dos Deputados e Senado
sidente da República poderá adotar medidas pro-
proposta na mesma Federal
visórias, com força de lei, devendo submetê-las de
sessão legislativa
230 imediato ao Congresso Nacional.      
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias VII - Resolução
sobre matéria:         
I - relativa a:      Trata-se das competências privativas de cada casa
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, par- do Congresso Nacional. É importante ressaltar que
tidos políticos e direito eleitoral;       
essa não está sujeita à sanção ou veto, sendo promul-
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério gada pela própria Mesa da Casa que a editou.
Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, PODER JUDICIÁRIO
orçamento e créditos adicionais e suplementares,
ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;    O poder judiciário está consagrado no texto cons-
II - que vise à detenção ou sequestro de bens, de pou- titucional do art. 92 ao 126 da CF, tem o objetivo de
pança popular ou qualquer outro ativo financeiro; exercer a jurisdição (administrar justiça, aplicar o
III - reservada a lei complementar;    direito com o objetivo de solucionar conflito de inte-
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo
resses), bem como, no âmbito de sua função atípica
Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto
do Presidente da República. administrativa, como exemplo, podemos citar o inciso
I-A, art. 92 da CF, incluído pela emenda Constitucional
V - Lei Delegada nº 45, de 2004, criando como órgão do poder judiciá-
rio também o “Conselho Nacional de Justiça”.
O Presidente da República solicita ao Congresso
Art. 92 São órgãos do Poder Judiciário:
Nacional delegação para legislar sobre determina-
I-A o Conselho Nacional de Justiça
do tema, a qual se dará por resolução do Congresso
Nacional. Tal resolução fixará os limites, por exem-
De acordo com a Constituição Federal, compete ao
plo, a lei nº 13, de 1992, que institui gratificações de
CNJ zelar pela autonomia do  Poder Judiciário  e pelo
atividade para os servidores civis do Poder Executivo.
cumprimento do Estatuto da Magistratura, definir os
Entenda: quando se fala em solicitar delegação
planos, metas e programas de avaliação institucional
ao Congresso Nacional, isso significa que o Presi-
do Poder Judiciário, receber reclamações, petições
dente da República pede autorização ao Congresso
eletrônicas e representações contra membros ou
Nacional para legislar sobre determinados assuntos. órgãos do Judiciário, julgar processos disciplinares
Não serão delegados os atos de competência e melhorar práticas e celeridade, publicando semes-
exclusiva do Congresso Nacional e os de Com- tralmente relatórios estatísticos referentes à atividade
petência privativa da Câmara dos Deputados e jurisdicional em todo o país18, composto por membros
Senado Federal, pois é matéria reservada a Lei do Ministério Público, Advogados e representantes da
Complementar. Vejamos § 1°, art. 68 da CF. sociedade civil. O Poder judiciário é dividido em duas
esferas: Justiça Federal e a Justiça Estadual.
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo
Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional. Poder Judiciário
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de
competência exclusiva do Congresso Nacional,
os de competência privativa da Câmara dos Depu-
tados ou do Senado Federal, a matéria reservada Justiça Federal Justiça Estadual
à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério
Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, Comum Especializada
políticos e eleitorais; Art. 109 da CF
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos. (grifo nosso)

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


VI - Decreto Legislativo Trabalho Eleitoral Militar Juizados Especiais
Art. 111 Art. 118 Art. 124 Incisos I e II, art. 98
Autorização cons-
Matérias de competência exclusiva do Congresso titucional para a
Nacional, como por exemplo, resolver sobre tratados, criação dos Juizados
acordos ou atos internacionais que acarretem encar- Especiais e a Justiça
de paz.
gos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacio-
nal. Vide § 3°, art. 62 da CF.
Órgãos do Poder Judiciário
Art. 62 Em caso de relevância e urgência, o Pre-
sidente da República poderá adotar medidas pro- Como previsão no art. 92 da CF/88, vejamos os
visórias, com força de lei, devendo submetê-las de órgãos que compõem o Poder Judiciário:
imediato ao Congresso Nacional.      
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o dispos-
z STF: Supremo Tribunal Federal;
to nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição,
se não forem convertidas em lei no prazo de sessen- z CNJ: Conselho Nacional de Justiça;
ta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez z STJ: Superior Tribunal de Justiça;
por igual período, devendo o Congresso Nacional z TJ: Tribunal de Justiça (Estados);
disciplinar, por decreto legislativo, as relações z TRF: Tribunal Regional Federal (Justiça Federal);
jurídicas delas decorrentes.  z TST: Tribunal Superior do Trabalho;
18 Disponível em <http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj>. Acesso em 20 de set. de 2020. 231
z TRT: Tribunal Regional do Trabalho; A Emenda Constitucional 45, de 2004, inseriu o
z TSE: Tribunal Superior Eleitoral; quinto constitucional na Justiça do Trabalho, nos Tri-
z TRE: Tribunal Regional Eleitoral; bunais Regionais do trabalho (inciso I, art. 115 da CF)
z STM: Superior Tribunal Militar. e no Tribunal Superior de Justiça (art. 111-A da CF).

Órgãos do Poder Judiciário Garantias Constitucionais dos Magistrados

STF CNJ A Constituição Federal em seu art. 95 assegura aos


magistrados as garantias da vitaliciedade, inamovibi-
lidade e irredutibilidade de subsídios.
Justiça Comum

z Vitaliciedade: só pode ser demitido depois do


STF Justiça Especializada trânsito em julgado da decisão judicial.

Estadual Federal TST TSE STM „ No primeiro grau de jurisdição somente é


adquirida depois de dois anos de estágio pro-
TJ TRF TRT TRE Juízes batório, que se inicia com o efetivo exercício da
Militares
posse;
„ No segundo grau de jurisdição, esse benefício se
Juízes Juízes Juízes do Juiz
Estaduais Federais Trabalho Eleitoral
dá com o efetivo exercício (quando nome deste
Magistrado já está no quinto constitucional).

Conforme dispõe o art. 93 da CF, o ingresso na z Inamovibilidade: proibição de remoção do magis-


carreira da magistratura é feito através de concurso trado de um cargo para outro, salvo por motivo
público de provas e títulos, inicialmente no cargo de de interesse público, mediante voto da maioria
juiz substituto, a qual exige do Bacharel em Direito no absoluta do respectivo tribunal, assegurada ampla
mínimo três anos de atividade jurídica. defesa;
z Irredutibilidade de subsídios: Assegura que o
magistrado não tenha diminuído o valor de seus
Importante!
subsídios, salvo imposição constitucional.
CNJ não tem competência jurisdicional.
Vale lembrar que tais garantias são asseguradas
também aos membros do Ministério Público e Conse-
Quinto Constitucional
lheiros e Ministros dos Tribunais de Contas.
Além disso, cabe ressaltar que os magistrados, por
Conforme art. 94 da CF, um quinto dos lugares dos
sua vez, também possuem foro especial por prerro-
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Esta-
gativa de função, sendo julgados originalmente por
dos, e do Distrito Federal e Territórios são compostos
tribunais indicados na Constituição Federal. Vejamos:
de membros do Ministério Público e Advogados. Com-
posto por membros:
ÓRGÃO
AUTORIDADE INFRAÇÃO
TJ
JULGADOR
Ministério Público:
1/5 com + 10 anos de carreira Juízes Estaduais Comum/ TJ
TRF e do DF responsabilidade III, art. 96
Juízes Fede-
Justiça Especializada Advogados: notó- rais, bem como
rio saber jurídico e reputação Comum/ TRF
ilibada + 10 anos de efetiva atividade Juízes da Jus-
responsabilidade I -a, art. 108
jurídica tiça Militar e do
Trabalho

Como é feita a indicação destes profissionais:


Membros:
Por meio de indicações dos nomes feitas através Comum/ STJ
TJ, TRF, TER e
de uma lista (lista sêxtupla) pelos órgãos de repre- responsabilidade I -a, art. 105
TRT
sentação das respectivas classes. Enviada esta lista
para o Tribunal, este escolherá três nomes (lista trípli-
Membros
ce) de sua preferência, e enviará ao Poder Executivo.
dos Tribunais
Entenda: Comum/ STF
Superiores:
responsabilidade I -c, art. 102
STJ, TST, TSE e
Lista Tríplice
Chefe do Poder STM
Lista Sêxtupla Executivo decide
qual dos três STF
Tribunal Escolhe três Ministros STF Comum
OAB indica
nomes e exclui os
nomes será I -b, art. 102
seis nomes escolhido no prazo
demais Senado Federal
de 20 dias
Ministros STF Responsabilidade
II, art. 52
232
O foro especial por prerrogativa de função não se b) nas infrações penais comuns, o Presidente da
estende a magistrados aposentados19. Conforme Súmu- República, o Vice-Presidente, os membros do Con-
la nº 451 do STF, a competência especial por prerroga- gresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procu-
tiva de função não se estende ao crime cometido após rador-Geral da República;
a cessação definitiva do exercício funcional. c) nas infrações penais comuns e nos crimes de
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas responsabilidade, os Ministros de Estado e os
aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero-
náutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os mem-
relacionados às funções desempenhadas.
bros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Note que, após o final da instrução processual, com
Contas da União e os chefes de missão diplomática
a publicação do despacho de intimação para apresen-
de caráter permanente;
tação de alegações finais, a competência para proces- d) o  habeas corpus  , sendo paciente qualquer das
sar e julgar ações penais não será mais afetada em pessoas referidas nas alíneas anteriores; o man-
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou dado de segurança e o  habeas data  contra atos
deixar o cargo que ocupava por qualquer que seja o do Presidente da República, das Mesas da Câmara
motivo.20 dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de
Contas da União, do Procurador-Geral da Repúbli-
Supremo Tribunal Federal ca e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou orga-
Órgão máximo do Poder Judiciário, também deno- nismo internacional e a União, o Estado, o Dis-
minado como guardião da Constituição. Composto por trito Federal ou o Território;
onze membros, nomeados pelo Presidente da Repúbli- f) as causas e os conflitos entre a União e os
ca, conforme o art. 101, parágrafo único, da CF, após Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre
aprovação por maioria absoluta do Senado Federal. uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
administração indireta;
Composto por onze Ministros do Supremo Tribu-
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
nal Federal, os quais devem ser brasileiros natos, com
i) o habeas corpus , quando o coator for Tribu-
idade entre 35 e 65 anos, cidadão em pleno gozo dos
nal Superior ou quando o coator ou o paciente for
direitos e possuir notável saber jurídico e reputação autoridade ou funcionário cujos atos estejam
ilibada. sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tri-
bunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma
Art. 101 O Supremo Tribunal Federal compõe-se jurisdição em uma única instância;
de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus
mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco julgados;
anos de idade, de notável saber jurídico e reputação l) a reclamação para a preservação de sua compe-
ilibada. tência e garantia da autoridade de suas decisões;
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribu- m) a execução de sentença nas causas de sua
nal Federal serão nomeados pelo Presidente da competência originária, facultada a delegação de
República, depois de aprovada a escolha pela maio- atribuições para a prática de atos processuais;
ria absoluta do Senado Federal. n) a ação em que todos os membros da magistra-
tura sejam direta ou indiretamente interessados,
Dica para memorizar: lembre-se que 11 ministros e aquela em que mais da metade dos membros do
é o mesmo nº de jogadores de um time de futebol. tribunal de origem estejam impedidos ou sejam
direta ou indiretamente interessados;
Competência do Supremo Tribunal Federal o) os conflitos de competência entre o Superior
Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre
A competência está prevista nos arts. 102 e 103 Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer
da Constituição, sendo dividida em competência ori- outro tribunal;
ginária e competência recursal, sendo que, na com- p) o pedido de medida cautelar das ações dire-
petência originária, o STF processa e julga em única tas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elabora-
instância, e na competência recursal, o STF aprecia
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
ção da norma regulamentadora for atribuição
a matéria a ele chegada por meio de recurso ordinário
do Presidente da República, do Congresso Nacional,
ou extraordinário. da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
A seguir será exposto o art. 102 da CF. Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribu-
Observe que os incisos destacados são os mais nal de Contas da União, de um dos Tribunais Supe-
cobrados em provas, bem como, observe os demais riores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
grifos com aspectos importantes para memoriza- r) as ações contra o Conselho Nacional de Jus-
ção. É de suma importância a leitura deste artigo para tiça e contra o Conselho Nacional do Ministé-
auxiliar na memorização. rio Público;
II - julgar, em recurso ordinário:
Art. 102 Compete ao Supremo Tribunal Fede- a) o habeas corpus , o mandado de segurança,
ral, precipuamente, a guarda da Constituição, o habeas data e o mandado de injunção decidi-
cabendo-lhe: dos em única instância pelos Tribunais Superiores,
I - processar e julgar, originariamente: se denegatória a decisão;
a) a ação direta de inconstitucionalidade de b) o crime político;
lei ou ato normativo federal ou estadual e a III - julgar, mediante recurso extraordinário,
ação declaratória de constitucionalidade de as causas decididas em única ou última ins-
lei ou ato normativo federal; tância, quando a decisão recorrida:

19  RE 549.560, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22.3.2012, DJe 30.5.2014.


20  AP 937 QO, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03.05.2018, DJe 11.12.2018. 233
a) contrariar dispositivo desta Constituição; 2° Turno: último domingo de outubro.
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou Bem como, conforme alínea “a”, do inciso VI, do §
lei federal; 3°, do art. 14 da CF/88, o Presidente da República deve
c) julgar válida lei ou ato de governo local contesta- ter a idade mínima de 35 anos e ser brasileiro nato
do em face desta Constituição. (inciso I, do § 3°, do art. 12 da CF/88).
d) julgar válida lei local contestada em face de
lei federal.          Art. 14. A soberania popular será exercida pelo
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com
fundamental, decorrente desta Constituição, será valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na for- § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
ma da lei I - a nacionalidade brasileira;
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas II - o pleno exercício dos direitos políticos;
pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas III - o alistamento eleitoral;
de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
de constitucionalidade produzirão eficácia contra V - a filiação partidária;    
todos e efeito vinculante, relativamente aos demais VI - a idade mínima de:
órgãos do Poder Judiciário e à administração públi- a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-
ca direta e indireta, nas esferas federal, estadual e -Presidente da República e Senador; (grifo nosso)
municipal.    
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente A Constituição consolidou o direito do povo para
deverá demonstrar a repercussão geral das ques- eleger seus representantes, pelo sufrágio universal e
tões constitucionais discutidas no caso, nos termos voto secreto.
da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão Por conseguinte, ainda se tratando do art. 14, esse
do recurso, somente podendo recusá-lo pela mani- consagra que é possível uma reeleição para um perío-
festação de dois terços de seus membros.  (grifos do subsequente. Entretanto, atualmente não é mais
nosso) possível um terceiro mandato seguido. Sobre esse
aspecto, é importante frisar que a reeleição não é uma
Súmula Vinculante cláusula pétrea, podendo ser retirada da Constituição.

A súmula vinculante é um instrumento que rela- § 5º O Presidente da República, os Governadores de


ciona as principais e reiteradas decisões do Supremo Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído no curso dos man-
Tribunal Federal em matéria constitucional, tem pre-
datos poderão ser reeleitos para um único perío-
visão no art. 103-A da CF (incluído pela EC 45, de 2004) do subsequente.  
e na Lei 11.417, de 2006. Vejamos o que dispõe a Cons-
tituição sobre o tema: O § 3°, art. 12 da CF relaciona os cargos privativos
de brasileiro nato:
PODER EXECUTIVO
Art. 12 [...]
O poder executivo está consagrado no art. 76 a 91 § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
da Constituição e tem como função a solução e admi- I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
nistração de casos concretos e individualizados, de II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
acordo com as leis gerais e abstratas elaboradas pelo III - de Presidente do Senado Federal;
legislativo, ou seja, tem a função típica de adminis- IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
trar e gerenciar o Estado. Entretanto, também pode V - da carreira diplomática;
exercer atipicamente as funções legislativas através VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa.
das medidas provisórias e leis delegadas.
Estadual e Distrital
Federal
No âmbito estadual, o chefe do Executivo é o
Conforme já abordado anteriormente, o nosso país
Governador do respectivo Estado membro, com man-
é regido pelo sistema presidencialista, em que as fun-
dato de quatro anos, também eleito pelo sistema
ções de chefe de Estado estão na figura do Presiden-
majoritário absoluto, e tem como auxiliar direto os
te da República, conforme o art. 76 da CF. No âmbito secretários estaduais e, no Distrito Federal, os secre-
Federal, o Poder Executivo é representado pelo Pre- tários distritais.
sidente da República com o auxílio dos Ministros de O Governador de estado deve ser cidadão brasilei-
Estado. ro, com idade mínima de 30 anos, conforme determi-
na o inciso VI -b, § 3°, art. 14 da CF/88.
Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presi-
dente da República, auxiliado pelos Ministros de Art. 14 [...]
Estado. VI - a idade mínima de:
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador
O Presidente da República e seu vice têm um man- de Estado e do Distrito Federal;
dato de quatro anos e são eleitos pelo sistema majori-
tário absoluto. Municipal
Majoritário absoluto: ganha a eleição o candida-
to que conseguir a maioria de votos (o primeiro núme- No âmbito municipal, o Poder Executivo é coman-
ro inteiro, depois da metade do total) avaliados em 1° dado pelo Prefeito, o qual deve ser cidadão brasileiro
ou em 2° turno. e, conforme inciso VI, § 3°, art. 14 da CF, deve ter idade
234 1° Turno: realizado no 1° domingo de outubro; mínima de 21 anos.
O mandato é de quatro anos, contando com o auxílio dos secretários municipais. Eleito pelo sistema majori-
tário absoluto, para município com mais de 200 mil eleitores, e sistema majoritário simples ou relativo, para
municípios com até 200 mil eleitores.
Majoritário simples ou relativo: ganha a eleição o candidato que conseguir a maioria dos votos válidos, ou
seja, ganha o mais votado em um só turno.
Exemplo: 100.000 votos válidos.
Realizado no 1° domingo de outubro.
Cuidado! Se houver empate, ganha o mais idoso.
Sistema também usado para eleição de Senadores.

Município com mais de Município com até 200 mil


200 mil eleitores eleitores
Sistema de eleição majori- Sistema de eleição majori-
tário absoluto tário simples ou relativo

PODER EXEUTIVO
FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL
Presidente da República + Vice = Mandato de qua- Governador do Estado + Vice = Mandato de qua- Prefeito + Vice = Mandato de quatro anos
tro anos tro anos Auxiliar direto: Secretários Municipais. Sistema de
Auxiliar direto: Ministros do Estado Auxiliar direto: Estados - Secretários Estaduais eleição majoritário absoluto, para município com
Sistema de eleição majoritário absoluto Distrito Federal: Secretários Distritais mais de 200 mil eleitores
Sistema de eleição majoritário absoluto Sistema de eleição majoritário simples ou relativo,
para município com até 200 mil eleitores

Ordem de substituição ou sucessão Presidencial

O Presidente será eleito com um Vice-Presidente, companheiro de chapa. A eleição do Presidente implica na
eleição do Vice com ele registrado.
O Vice-Presidente tem função de auxiliar o Presidente sempre que convocado para missões especiais, bem
como, no caso de impedimento, o substituirá (art. 79 da CF).
Ainda, conforme determina o art. 80 da CF, em caso de impedimento concomitante do Presidente e do Vice, ou
vacância dos respectivos cargos, serão chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputa-
dos, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal, sucessivamente, nessa ordem.

ORDEM DE SUBSTITUIÇÃO OU SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Temporário Definitivo

Presidente da Câmara
Vice-Presidente
dos Deputados
Definitivamen-
Presidente do Senado
te ou temporário
Federal
- interinamente
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Presidente do STF

Conforme consagra o art. 81 da CF, vagando os cargos de Presidente e Vice, far-se-á eleição noventa dias para
complementar o mandato, depois de aberta a última vaga. Ainda, caso ocorra à vacância nos últimos dois anos
do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita em trinta dias depois da última vaga, pelo
Congresso Nacional.
Importante atentar que o dispositivo em comento só é aplicado se não houver definitivamente Presidente e
nem Vice-Presidente.
Linha do tempo da sucessão Presidencial:

ELEIÇÃO DIRETA ELEIÇÃO INDIRETA


Primeiros 2 ANOS Últimos 2 ANOS

Eleição direta até 90 dias da Eleição Indireta feita pelo


última vaga Congresso Nacional, em até
30 dias da última vaga
235
Nos dois casos, serão eleitos novo Presidente e Importante lembrar que o Presidente não dispõe
novo Vice-Presidente para completar o mandato, cha- da imunidade material, a qual somente se estende
mado como mandato tampão. aos membros do Poder Legislativo, ou seja, o Presi-
É possível eleição indireta nas demais esferas fede- dente não é inviolável por suas palavras e opiniões,
rativas (ex.: Governador - Prefeito). mesmo que no exercício de suas funções.

Crimes de Responsabilidade Processo de Impeachment

Os crimes de responsabilidade têm previsão nos O processo de impeachment é previsto na Constitui-


arts. 85 e 52 da CF, bem como na Lei 1.079, de 1950, ção Federal nos arts. 86, 52 e na Lei nº 1.079, de 1950,
que define os crimes de responsabilidade e regula o que define os crimes de responsabilidade e regula o
respectivo processo de julgamento, por exemplo, o respectivo processo de julgamento.
Presidente da República cometeu improbidade admi- O processo de impeachment tem duas fases: a pri-
nistrativa ou não obedeceu a decisão do STF. meira fase é o chamado juízo de admissibilidade e a
A Lei 1.709, de 1950, foi recepcionada pela ADPF segunda fase é o julgamento, vejamos:
378 (estudaremos o que é uma ADPF no tópico Contro-
le de Constitucionalidade). z 1º Fase – Juízo de admissibilidade
ADPF 378: teve por objeto central analisar a com-
patibilidade do rito de impeachment de Presidente Acusação: Significa estabelecer autoria e materia-
da República, previsto na Lei nº 1.079, de 1950, com a lidade – Quem fez o que?
Constituição de 1988. Exemplo: Presidente da República cometeu crime
O crime de responsabilidade trata-se de um ilícito de responsabilidade ao realizar a improbidade admi-
político administrativo definido em lei especial fede- nistrativa/pedaladas fiscais, ou o Presidente da Repú-
ral, que podem ser cometidos no desempenho de suas blica cometeu improbidade administrativa ao não
funções, e como consequência pode resultar no impe- obedecer à decisão do STF.
dimento para o exercício de suas funções públicas. Recebimento: Câmara dos Deputados por dois
Trata-se de um resultado obtido através do processo terços dos membros (Dois terços = 63% = 342
de impeachment. Deputados);
O art. 85 da CF dispõe sobre crimes de responsa-
bilidade, ou seja, os atos do Presidente da República z 2º Fase - Julgamento
que atentem contra a Constituição Federal e, especial-
mente, contra a existência da União, livre exercício do Julgamento é feito pelo Senado Federal, por dois
Ministério Público e dos Poderes constitucionais dos terços dos membros (Dois terços = 64 Senadores).
Estados e DF, direitos políticos, individuais e sociais, Recebida a acusação, inicia a segunda fase (julga-
segurança interna do país, probidade na administra- mento): o Presidente da República fica suspenso por
ção, lei orçamentária, cumprimento das leis e deci- 180 dias de suas funções.
sões judiciais. O julgamento é presidido pelo Presidente do
Qualquer cidadão é legitimado ativo para pro- Supremo Tribunal Federal e caso decorra o prazo de
por a acusação contra o Presidente da República 180 dias, e o julgamento não estiver concluído, cessará
na Câmara dos Deputados pela prática de crime de o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
responsabilidade. prosseguimento do processo.
Condenado, o Presidente perderá o cargo e fica-
Art. 85 São crimes de responsabilidade os atos rá inabilitado por oito anos para exercício de função
do Presidente da República que atentem contra a pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
Constituição Federal e, especialmente, contra: cabíveis (parágrafo único do art. 52 da CF).
I - a existência da União; Condenado o Presidente, nem função honorífica
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder pode exercer, por exemplo, mesário de eleições e jura-
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes do de júri.
constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais; 1º Fase Início da fase
2º Fase
IV - a segurança interna do País; Admissibilidade de criação
Julgamento
e instalação
V - a probidade na administração;
Recebimento da de comissão
VI - a lei orçamentária; Plenário do
denúncia pelo especial para
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Senado Federal
Presidente da analisar a
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em para votação
Câmara denúncia
lei especial, que estabelecerá as normas de proces-
so e julgamento.
Para ficar mais fácil a compreensão, vejamos na
Crimes comuns cometidos pelo Presidente da tabela a seguir o esquema de memorização referente
República aos crimes cometidos pelo Presidente da República,
conforme dispõe o art. 86 da CF.
Os crimes comuns cometidos pelo Presidente da
República abrangem todas as infrações penais, por Art. 86 Admitida a acusação contra o Presidente
exemplo, caso o Presidente da República venha a da República, por dois terços da Câmara dos Depu-
cometer crime de homicídio. tados, será ele submetido a julgamento perante o
Sendo que, dependerá de autorização pela Câmara Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
dos Deputados, que aprovará o recebimento ou não comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes
236 da denúncia pelo Supremo Tribunal Federal. de responsabilidade.
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções: As funções de Chefe de Estado estão previstas nos
I - nas infrações penais comuns, se recebida à incisos VII, VIII e XIX, do art. 84 da CF. Vejamos:
denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal
Federal; Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da
II - nos crimes de responsabilidade, após a instau- República:
ração do processo pelo Senado Federal.
VII - manter relações com Estados estrangeiros e
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o
acreditar seus representantes diplomáticos;
julgamento não estiver concluído, cessará o afasta-
VIII - celebrar tratados, convenções e atos interna-
mento do Presidente, sem prejuízo do regular pros-
seguimento do processo. cionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenató- XIX - declarar guerra, no caso de agressão estran-
ria, nas infrações comuns, o Presidente da Repúbli- geira, autorizado pelo Congresso Nacional ou
ca não estará sujeito a prisão. referendado por ele, quando ocorrida no intervalo
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu das sessões legislativas, e, nas mesmas condições,
mandato, não pode ser responsabilizado por atos decretar, total ou parcialmente, a mobilização
estranhos ao exercício de suas funções. nacional.

CRIME DE
As funções de Chefe de governo, por sua vez, estão
CRIME COMUM previstas nos incisos I, II, III, IV, V, VI, IX a XXVII, do
RESPONSABILIDADE
art. 84 da CF.
Caso seja ação penal
DENÚNCIA Qualquer cidadão
pública, será o PGR
Art. 84 [...]
Dois terços da Dois terços da I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
QUEM
Câmara dos Câmara dos II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a
RECEBE
Deputados Deputados
direção superior da administração federal;
JULGAMENTO Senado Federal STF III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos
casos previstos nesta Constituição;
Forma e Sistema de Governo IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis,
bem como expedir decretos e regulamentos para
z Forma de Estado sua fiel execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
O federalismo refere-se a uma forma de Estado, VI - dispor, mediante decreto, sobre:
denominada federação ou Estado Federal, que é a a) organização e funcionamento da administração
forma de organização e de distribuição do poder esta- federal, quando não implicar aumento de despesa
tal em que a existência de um governo central não nem criação ou extinção de órgãos públicos;
impede que sejam divididas as responsabilidades e b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
competências entre ele e os Estados-membros. A Cons- vagos;
tituição brasileira determina quais as competências IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
de cada uma das partes que compõem a Federação X - decretar e executar a intervenção federal;
(União, Estados, Municípios e Distrito Federal). XI - remeter mensagem e plano de governo ao Con-
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão
legislativa, expondo a situação do País e solicitan-
z Sistema de Governo
do as providências que julgar necessárias;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiên-
O Brasil adota um sistema de governo presidencia-
cia, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
lista. O presidencialismo pode ser definido como um
XIII - exercer o comando supremo das Forças
sistema de governo cujo chefe de estado e governo se
Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do
concentram na figura do presidente, o qual possui um Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-
mandato fixo. Vejamos: -generais e nomeá-los para os cargos que lhes são
privativos;
„ O Presidente da República é chefe de estado e XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal,
Governo;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos
„ O cargo de Presidente é unipessoal; Tribunais Superiores, os Governadores de Territó-
„ O presidente é eleito pelo povo; rios, o Procurador-Geral da República, o presidente
„ O Presidente terá mandato temporário de 4 e os diretores do banco central e outros servidores,
anos, podendo se reeleger uma única vez; quando determinado em lei;
„ Há a possibilidade de responsabilização XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os
política. Ministros do Tribunal de Contas da União;
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos
Chefia de Estado e Chefia de Governo nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República,
Na composição da estrutura do Poder Executivo, é nos termos do art. 89, VII;
possível verificar a existência de duas funções indis- XVIII - convocar e presidir o Conselho da República
pensáveis, quais sejam, a de Chefe de Estado e Chefe e o Conselho de Defesa Nacional;
de Governo.21 XIX - declarar guerra, no caso de agressão estran-
A Constituição Federal de 1988 adotou de maneira geira, autorizado pelo Congresso Nacional ou
expressa o sistema de governo presidencialista, pro- referendado por ele, quando ocorrida no intervalo
clamando a junção das funções de Chefe de Estado e das sessões legislativas, e, nas mesmas condições,
Chefe de Governo, a serem realizadas pelo Presidente decretar, total ou parcialmente, a mobilização
da República. nacional;

21 Moraes, de Alexandre. Direito constitucional / Alexandre de Moraes. – 36. ed. – São Paulo: Atlas, 2020 237
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da
do Congresso Nacional; República:
XXI - conferir condecorações e distinções [...]
honoríficas; IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei com- Art. 136 O Presidente da República pode, ouvidos
plementar, que forças estrangeiras transitem o Conselho da República e o Conselho de Defesa
pelo território nacional ou nele permaneçam Nacional, decretar estado de defesa para preservar
temporariamente; ou prontamente restabelecer, em locais restritos
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plu- e determinados, a ordem pública ou a paz social
rianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentá- ameaçadas por grave e iminente instabilidade ins-
rias e as propostas de orçamento previstos nesta titucional ou atingidas por calamidades de grandes
Constituição; proporções na natureza.
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacio-
nal, dentro de sessenta dias após a abertura da 3º: Controle Político feito pelo Congresso Nacional:
sessão legislativa, as contas referentes ao exercício
anterior; z Confirma: inciso IV, art. 49 da CF/88;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos fede- z Rejeita: § 4º, art. 136 da CF/88.
rais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei,
Controle político imediato – ocorre na decreta-
nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta ção ou caso persistirem as razões que justificaram o
Constituição. estado de defesa, este poderá ser prorrogado por mais
30 dias, então o Presidente da República no prazo de
Desta forma, o Chefe de Governo (Presidente da 24 horas submete a decisão ao Congresso Nacional,
República) exercerá a liderança da política nacional, que deverá decidir pelo voto da maioria absoluta e
pela orientação das decisões gerais e pela direção da mediante decreto legislativo, sobre a aprovação ou
máquina administrativa. 22 suspensão.
Caso o Congresso estiver em recesso, será convoca-
do no prazo de cinco dias – Sessão Legislativa Extraor-
dinária. Deverá, também, apreciar o decreto no prazo
de dez dias do seu recebimento (§§ 5º e 6º, art. 136, da
DA DEFESA DO ESTADO E DAS CF/88).
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS Controle político concomitante (ao mesmo
tempo) - Neste caso, cinco membros da mesa do Con-
ESTADO DE DEFESA gresso Nacional têm que acompanhar e fiscalizar as
medidas tomadas.
O Estado de Defesa e Estado de Sítio são legalida- Controle político sucessivo (no final) – Ocorre
des extraordinárias temporárias, criadas por Decreto nos termos do art. 141, parágrafo único da CF, o qual
do Presidente da República, consagrados no Título V determina que após cessar o estado de defesa as medi-
da Constituição Federal. das aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo
O estado de defesa tem o objetivo de preservar ou Presidente da República em mensagem ao Congresso
reestabelecer em locais restritos à ordem pública e a Nacional.
paz social ameaçada por grave e iminente instabilida- Caso o Congresso Nacional não aceite a justifica-
de institucional ou atingidas por calamidade de gran- tiva relada pelo Presidente da República no controle
de proporção da natureza, conforme dispõe art. 136 político sucessivo e se, caracterizado algum crime de
da CF/88. responsabilidade, poderá o Presidente ser submetido
É obrigatória análise pelo Conselho da República e ao processo, conforme a Lei 1.079, de 1956, e art. 85 da
pelo Conselho de Defesa Nacional (art. 89 a 91 da CF/88), CF/88. (controle jurídico)
ainda que a opinião dos Conselhos não seja vinculante.
O controle político ocorre após a decretação do Presi- ESTADO DE SÍTIO
dente deve no prazo de 24 horas enviar ao Congresso
Nacional para análise, para ser autorizado depende da O estado de sítio está consagrado no art. 137 a 139
autorização da maioria absoluta de seus membros. da CF/88 e será decretado diante da ineficácia do esta-
O tempo de duração não será superior a 30 dias, do de defesa, diante de comoção de grave repercus-
podendo ser prorrogado uma única vez, por igual são nacional. E não pode ser decretado por mais de 30
período. Nesse período será limitado o direto de reu- dias, porém, se necessário, pode ser prorrogado por
nião, mesmo que exercida junto às associações, sigilo mais 30, se necessário de novo, mais 30, e assim por
de correspondência e sigilo de comunicação telegráfi- diante.
ca e telefônica. No caso de declaração de estado de guerra ou res-
Procedimento: posta a agressão armada estrangeira, o estado de sítio
poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar
1º: Presidente da República consulta dois conselhos. a guerra ou a agressão armada estrangeira.
Procedimento:
z Conselho da República;
z Conselho da Defesa Nacional. 1º: Presidente da República consulta dois conselhos.

2º: Presidente da República decreta Estado de Defesa z Conselho da República;


(Art. 84 IX e 136 caput da CF) z Conselho da Defesa Nacional.
238 22 Moraes, de Alexandre. Direito constitucional / Alexandre de Moraes. – 36. ed. – São Paulo: Atlas, 2020
2º: Controle político prévio - Presidente da República solicita autorização ao Congresso Nacional par a decreta-
ção ou prorrogação do estado de sítio (art. 137, parágrafo único da CF/88).

Autorização será por maioria absoluta e por decreto legislativo (inciso IV, do art. 49 da CF/88).

3º: Presidente da República decreta estado de sítio. Inciso XI, do art. 84 e caput do art. 137, da CF.
4º: Controle Político feito pelo Congresso Nacional:

Controle político concomitante (ao mesmo tempo) – A partir do momento que o estado de sítio é autorizado,
o Congresso designa cinco membros da mesa do Congresso Nacional para acompanhar e fiscalizar as execuções
das medidas referente ao estado de sítio. Inciso IV, do art. 49 e art. 140 da CF/88.
Controle político sucessivo (no final) - Ocorre nos termos do art. 141, parágrafo único da CF, o qual determi-
na que após cessar o estado de defesa as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da
República em mensagem ao Congresso Nacional.
O direito de reunião pode ser limitado por decreto presidencial no estado de defesa e estado de sítio. A censura
também se torna possível no estado de sítio.
Ainda, caso decretado estado de sítio por comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medida
tomada durante o estado de defesa, só poderão ser tomadas contra as pessoas as medidas consagradas no art. 139
da CF, vejamos:

Art. 139 [...]


I - obrigação de permanência em localidade determinada;
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informa-
ções e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados
em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.

ESTADO DE DEFESA ESTADO DE SÍTIO


TÍTULO V Seção I Seção II
ART. 136 A 141 Art. 136 da CF Art. 137 da CF
Preservar ou reestabelecer ordem pública e a paz Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medi-
social ameaçada por grave e iminente instabilida- da tomada durante o estado de defesa;
PRESSUPOSTOS
de institucional; Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão arma-
Calamidade de grande proporção da natureza da estrangeira
Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia da medi-
da tomada durante o estado de defesa;
30 dias podendo ser prorrogado somente uma 30 dias podendo se for o caso ser prorrogado sucessivamente
PRAZO vez por igual período 30 + 30 + 30 [...]
Exemplo: 30 + 30 Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão arma-
da estrangeira
Decretado pelo tempo que durar a guerra ou agressão armada
COMPETÊNCIA Presidente da República Presidente da República
Posterior:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Prévio:
CONTROLE Depois de decretado estado de defesa o Presi-
Presidente da República depende de autorização pelo Congres-
POLÍTICO dente da República comunica congresso nacio-
so Nacional para decretar o estado de sítio
nal que pode confirmar ou cessar

FORÇAS ARMADAS

As forças armadas estão consagradas no título V da Constituição Federal, conforme art. 142, as forças armadas
são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, a qual são instituições nacionais permanentes e regula-
res, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob autoridade do Presidente da República. As funções das
forças armadas, além da defesa da pátria, também englobam a defesa do estado e das instituições democráticas
(garantidoras da lei e da ordem).

Dica
As forças armadas estão inseridas na estrutura do Poder Executivo.

Os membros das forças armadas são denominados como militares e tem função subsidiária, ou seja, desem-
penham funções que originalmente são de competência das forças da segurança pública (polícia federal, civil e
militar dos estados e DF). 239
Ainda, conforme dispõe o art. 142 do texto cons- A Constituição também prevê o serviço militar
titucional, as forças armadas estão sob a autoridade obrigatório, conforme art. 143, entretanto o inciso
suprema do Presidente da República, e destinam-se à VIII do art. 5º desobriga o alistado do serviço militar
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucio- por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou
nais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da política, desde que cumpra prestação alternativa, que
ordem. é de competência das forças armadas atribuir.

Art. 143 O serviço militar é obrigatório nos termos


FORÇAS ARMADAS da lei.
PRESIDENTE DA REPÚBLICA É AUTORIDADE § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei,
SUPREMA atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de
paz, após alistados, alegarem imperativo de cons-
MARINHA EXÉRCITO AERONÁUTICA ciência, entendendo-se como tal o decorrente de
crença religiosa e de convicção filosófica ou políti-
Internamente são subordinadas aos seus respecti- ca, para se eximirem de atividades de caráter essen-
vos comandantes, integrados no Ministério da Defesa cialmente militar.
com obediência ao Presidente da República. Assim, as § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
patentes são conferidas pelo Presidente da República, serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujei-
tos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.  
entretanto a perda desta só ocorrerá se for julgado
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por
Exemplo prático de uso das Forças Armadas:
decisão de tribunal militar de caráter permanente,
Em 20 de outubro de 2020 foi publicado no DOU
em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo
decreto presidencial que autoriza o uso das Forças
de guerra, conforme incisos I e VI do art. 142 da CF/88.
Armadas nas eleições municipais de 2020.
Aos militares é proibida a sindicalização e greve.
O objetivo é garantir a ordem pública durante a
Ainda, no serviço ativo não pode estar filiado a parti-
votação e segurança do processo eleitoral.
do político.
DECRETO Nº 10.522, DE 19 DE OUTUBRO DE 2020
STF já se posicionou sobre o tema:
Autoriza o emprego das Forças Armadas para a
garantia da ordem pública durante a votação e a apu-
z O exercício do direito de greve, sob qualquer for- ração das eleições de 2020. O PRESIDENTE DA REPÚ-
ma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e BLICA , no uso das atribuições que lhe confere o art.
a todos os servidores públicos que atuem direta- 84, caput , incisos IV e XIII, da Constituição, e tendo em
mente na área de segurança pública; vista o disposto no art. 15 da Lei Complementar nº 97,
z É obrigatória a participação do poder público em de 9 de junho de 1999, e no art. 23, caput , inciso XIV, da
mediação instaurada pelos órgãos classistas das Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral,
carreiras de segurança pública, nos termos do art. DECRETA:
165 do CPC, para vocalização dos interesses da
categoria. (STF. ARE 654.432, rel. Min. Alexandre Art. 1º Fica autorizado o emprego das Forças
de Moraes, j. 5-4-2017, P, DJE de 11.60.2018, Tema Armadas para a garantia da ordem pública duran-
541) te a votação e a apuração das eleições de 2020.
Art. 2º As localidades e o período de emprego das
Conforme dispõe o § 2º do art. 142 da CF, não Forças Armadas serão definidos conforme os ter-
cabe habeas corpus em caso de punição militar, sen- mos de requisição do Tribunal Superior Eleitoral.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua
do que este segue as próprias regras de hierarquia e
publicação.
disciplina.
Cuidado! A doutrina e jurisprudência entende que
SEGURANÇA PÚBLICA
se aplica o mencionado dispositivo quanto ao mérito
das punições militares, ou seja, quando for o caso
A segurança pública é dever do Estado, direito e
de ilegalidade dos pressupostos, como competência e
responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva-
cumprimento de regras estabelecidas no regulamento
ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e
militar é cabível a impetração de habeas corpus para
do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto
análise do poder judiciário.
constitucional.
É exercido por meio de órgãos federais e esta-
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMI-
duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede-
NAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há
ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se
militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias
a concessão de habeas corpus, impetrado con-
tra punição disciplinar militar, volta-se tão-so-
penais federal, estadual e distrital, esta última acres-
mente para os pressupostos de sua legalidade, centada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019.
excluindo a apreciação de questões referentes Conforme o § 8º do art. 144 da CF os municípios
ao mérito. Concessão de ordem que se pautou pela podem constituir guardas municipais destinados à
apreciação dos aspectos fáticos da medida punitiva proteção de seus bens, serviços e instalações (deve
militar, invadindo seu mérito. A punição disciplinar atuar somente na municipalidade). Cuidado! Esse
militar atendeu aos pressupostos de legalidade, órgão não integra a estrutura de segurança pública
quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar, o ato para exercer a função de polícia ostensiva.
ligado à função e a pena susceptível de ser aplica- Para o STF os órgãos que compõe a segurança
da disciplinarmente, tornando, portanto, incabível pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art.
a apreciação do habeas corpus. Recurso conhecido 144 da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
e provido. (STF. RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie, os municípios ou estados criarem outros órgãos para
240 Segunda Turma, DJ de 12.09.2003) integrarem à segurança pública.
Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, Conforme considerações do STF, na busca e apreen-
direito e responsabilidade de todos, é exercida para são de tráfico de drogas o cumprimento da ordem
a preservação da ordem pública e da incolumidade judicial pela polícia militar não contamina o flagrante
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes e a busca e apreensão realizadas.
órgãos:
I - polícia federal; III - exercer as funções de polícia marítima, aero-
II - polícia rodoviária federal; portuária e de fronteiras;         
III - polícia ferroviária federal; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polí-
IV - polícias civis; cia judiciária da União.
V - polícias militares e corpos de bombeiros
militares. z Polícia Rodoviária Federal (§ 2º, art. 144 da CF)
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.     é órgão permanente, organizado e mantido pela
União, tem como função o patrulhamento ostensi-
Sobre o Departamento de Trânsito o STF já vo das rodovias federais;
manifestou: z Polícia Ferroviária Federal (§ 3º, art. 144 da CF)
Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede- é órgão permanente, organizado e mantido pela
ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da Cons- União, tem como função o patrulhamento ostensi-
tituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da vo das ferrovias federais.
segurança pública. Entre eles não está o Departamen-
to de Trânsito. Resta, pois, vedada aos Estados-mem- A Polícia Ferroviária Federal surgiu no Brasil em
bros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte 1852 por Decreto Imperial, nessa época era denomi-
já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Depar- nada como “Polícia dos Caminhos de Ferro” e tinha o
tamento de Trânsito. objetivo de cuidar das riquezas que eram transporta-
[ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11- das pelos trilhos de ferro.
2005, P, DJ de 10-3-2006.] Entretanto, apesar de ter autorização na atual
Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9- constituição, hoje essa polícia não existe de fato.
2010, P, DJE de 6-4-2011
Serviços da segurança pública são custeados z Polícias Civis (§ 4º, art. 144 da CF) são dirigidas
mediante impostos, sendo que não é permitida a cria- por delegados de carreiras e subordinadas aos
ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remunera- Governadores dos estados ou DF têm função de
ção dos servidores será exclusivamente por subsídio polícia judiciária (exercício da segurança pública)
fixado em parcela única, na forma do § 4º do art. 39 e apuração de infrações penais, salvo as militares.
da CF/88.
Art. 144 [...]
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
Municípios instituirão conselho de política de admi- polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
nistração e remuneração de pessoal, integrado por tência da União, as funções de polícia judiciária e a
servidores designados pelos respectivos Poderes.     apuração de infrações penais, exceto as militares.
[...]
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato Fique atento que o § 4º, do art. 144, não menciona a
eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários atividade penitenciária como atividade da polícia civil.
Estaduais e Municipais serão remunerados exclu- A Constituição do Brasil – § 4º, do art. 144 – defi-
sivamente por subsídio fixado em parcela úni- ne incumbirem às polícias civis “as funções de polícia
ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
adicional, abono, prêmio, verba de representação militares”. Não menciona a atividade penitenciária,
ou outra espécie remuneratória, obedecido, em que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais;
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. não atribui essa atividade específica à polícia civil.
(STF. ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, DJE de 14-5-2010)
z Polícia Federal (§ 1º, art. 144 da CF) é órgão per-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


manente, organizado e mantido pela União. Exer- z Polícias militares e Corpo de Bombeiros Militar
ce a função de polícia judiciária da União, que está (§ 5º, art. 144 da CF): as polícias militares cabem
disposto nos incisos I ao IV, vejamos: à polícia ostensiva sendo atribuído a preservação
da ordem pública e ao corpo de bombeiros milita-
Art. 144 [...] res objetivam a execução das atividades de defesa
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão civil, prevenção e combate a incêndios, buscas e
permanente, organizado e mantido pela União e
salvamentos públicos.
estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem polí-
Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF
tica e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárqui-
ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias civis
cas e empresas públicas, assim como outras infra- e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governado-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual res dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
ou internacional e exija repressão uniforme, segun-
do se dispuser em lei; z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de (§ 5º-A, do art. 144): foi incluído pela Emenda
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e Constitucional nº 104 de 2019, às polícias penais
o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e cabe à segurança dos estabelecimentos penais,
de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de vinculadas ao órgão administrador do sistema
competência; penal da unidade federativa a que pertencem. 241
III - seletividade e distributividade na prestação dos
DA ORDEM SOCIAL benefícios e serviços;

DISPOSIÇÃO GERAL Ou seja, deve-se atingir maior número possível de


pessoas necessitadas de acordo com a possibilidade
Bases e Objetivos da Ordem Social econômica do sistema da seguridade social.

FUNDAMENTOS E OBJETIVOS DA ORDEM SOCIAL IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

A ordem social está consagrada no Título VIII da Todos os benefícios decorrentes da seguridade
Constituição, e tem como base o princípio do trabalho social devem ser irredutíveis;
e como objetivo o bem estar e a justiça sociais, é uma
extensão dos direitos fundamentais previstos no Títu- V - equidade na forma de participação no custeio;
lo II da Constituição.
A ideia é valorizar o trabalho humano e preservar Em suma, é a participação que cada contribuin-
a livre iniciativa, buscando um equilíbrio para as rela- te deve fazer com a seguridade social conforme sua
ções sociais, garantindo a todos uma existência digna. capacidade contributiva.
O conteúdo da ordem social foi relacionado em
oito Capítulos na Constituição, são temas que abor- VI - diversidade da base de financiamento, identifi-
dam diversos outros ramos do direito. Nesse sentido, cando-se, em rubricas contábeis específicas para
o professor José Afonso da Silva preleciona: cada área, as receitas e as despesas vinculadas a
ações de saúde, previdência e assistência social, pre-
A Constituição deu bastante realce à ordem social. servado o caráter contributivo da previdência social;
Forma ela com o título dos direitos fundamentais o
núcleo substancial do regimento democrático instituí- A seguridade será financiada por toda a sociedade,
do. Mas é preciso convir que o título da ordem social sendo que não terá apenas uma fonte de renda.
misturou assuntos que não se afinam com essa natu-
reza. Jogaram-se aqui algumas matérias que não tem VII - caráter democrático e descentralizado da admi-
um conteúdo típico de ordem social. (Curso de Direito nistração, mediante gestão quadripartite, com par-
Constitucional Positivo, 2017, p. 844). ticipação dos trabalhadores, dos empregadores, dos
aposentados e do Governo nos órgãos colegiados;
Os assuntos abordados no Título VIII são: segurida-
de social (art. 194 a 204); educação, cultura e deporto Desta maneira, a seguridade terá a participação
(art. 205 a 217); ciência e tecnologia (art. 218 e 219); democrática e uma gestão descentralizada.
comunicação social (art. 220 a 224); meio ambiente Conforme dispõe o art. 195, a seguridade social
(art. 225); família, criança, adolescente, jovem e idoso será financiada por toda a sociedade, nos termos da
(art. 226 a 230) e dos índios (art. 231 a 232). Passaremos
lei, sendo direta (mediante o pagamento das contribui-
à análise desses assuntos ao decorrer deste capítulo.
ções sociais) ou indireta (previsão na lei orçamentária
anual) e mediante recursos provenientes da União,
SEGURIDADE SOCIAL
estados, DF e municípios e das contribuições sociais:
A seguridade social assegura os direitos relativos à
Art. 195 [...]
saúde, à previdência e à assistência social, é um con- I - do empregador, da empresa e da entidade a ela
junto de ações dos poderes públicos e da sociedade, equiparada na forma da lei, incidentes sobre:  
consagrada nos arts. 194 a 204 da CF. a) a folha de salários e demais rendimentos do
trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à
SEGURIDADE SOCIAL pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vín-
culo empregatício;
Saúde Previdência Assistência b) a receita ou o faturamento; 
Art. 196 a 200 Social Social c) o lucro;  
Art. 201 a 202 Art. 203 a 204 II - do trabalhador e dos demais segurados da pre-
vidência social, podendo ser adotadas alíquotas
Os objetivos da seguridade social são de observân- progressivas de acordo com o valor do salário de
cia obrigatória e estão enumerados nos incisos do art. contribuição, não incidindo contribuição sobre
194 da CF. A seguir segue os dispositivos mencionados aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime
seguido de breve explicação. Geral de Previdência Social;
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
Art. 194 [...] IV - do importador de bens ou serviços do exterior,
I - universalidade da cobertura e do atendimento; ou de quem a lei a ele equiparar. (grifos nossos)

Deste modo, todas as pessoas devem ter acesso à


FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL
saúde, previdência e assistência social.
DIRETA INDIRETA
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e Contribuições Sociais Recursos Orçamentários
serviços às populações urbanas e rurais; NOS TERMOS DA LEI

Em resumo, não é possível discriminar ou retirar Recursos provenientes Contribuições sociais


242 direitos sociais do indivíduo; dos orçamentos Art. 195, I e II, III e IV da CF
z Considerações do STF sobre o Coronavírus: ADI
z Empregador, da empre-
926 e ADPF 672
sa e da entidade a ela
equiparada na forma
da lei Sobre o tema, vamos relembrar conforme estuda-
z Trabalhador e dos mos no decorrer deste material sobre a ADI 926, de
� União 2020, e ADPF 672, ações que deram origem as conside-
demais segurados da
� Estados rações do STF sobre a repartição das competências em
previdência social
� Distrito Federal face da pandemia do covid-19.
z Sobre a receita de con-
� Municípios
cursos de prognósticos
z Importador de bens ou Os legitimados da ADI 926, de 2020, sustentaram
serviços do exterior, que a redistribuição de poderes de polícia sanitária
ou de quem a lei a ele introduzida pela MP na Lei Federal 13.979, de 2020,
equiparar    interferiu no regime de cooperação entre os entes
federativos. Ainda, alegaram que essa centraliza-
Saúde ção de competência esvazia a responsabilidade
constitucional de estados e municípios para cuidar
A Saúde é direito de todos e dever do Estado, regu- da saúde, dirigir o Sistema Único de Saúde e execu-
lamentada no art. 196 da CF e pela Lei nº 8.80, de tar ações de vigilância sanitária e epidemiológica.
1990, dispositivos que visam garantir mediante políti- Assim, ao apreciar o caso em tela, o Ministro Marco
cas sociais e econômicas conjunto de ações do Estado Aurélio, em decisão monocrática, considerou que a
destinados à redução de riscos relativos de doenças e redistribuição de atribuições pela MP 926, de 2020,
suas consequências. A saúde não tem natureza contri- não afasta a competência concorrente dos entes
butiva, ou seja, deverá ser prestada a quem precisar e federativos, ou seja, entendeu que a distribuição de
independe de pagamento, desse modo ficam sujeitos atribuições prevista na Medida Provisória não contra-
ao controle, fiscalização e regulamentação do poder ria a Constituição Federal, pois as providências não
público, ou seja, são de relevância pública. afastaram atos a serem praticados pelos demais entes
O poder público cumpre seu dever na relação federativos no âmbito da competência comum para
jurídica da saúde através do sistema único de saúde, legislar sobre saúde pública (art. 23, II da CF) (ADI
sendo um conjunto de ações e serviços organizado de 6341, rel. Min. Marco Aurélio, decisão em 24.03.2020,
acordo com a descentralização, atendimento integral DJe em 26.03.2020).
e com a participação da comunidade. Bem como, na ADPF 672 proposta pelo Conselho
Ainda, conforme art. 200 da CF, compete ao siste- Federal da OAB em face dos atos omissivos e comis-
ma único de saúde o controle de substancias de inte- sivos praticados pelo Poder Executivo federal decor-
resse para a saúde e outras destinadas à prestação rente da pandemia, o Ministro do STF, Alexandre de
sanitária, em sua área da atuação, a Emenda Consti- Moraes em decisão monocrática considerou que no
tucional 85, de 2015, passou a incluir também como caso de crise, como a que vivenciamos pela pandemia
competência, o desenvolvimento científico e tecnoló- da covid-19 a cooperação entre os entes federativos
gico e a inovação. são de suma importância para a defesa do interesse
Conforme o § 1º, art. 198 da CF, o sistema único de público. Assim, reconheceu e assegurou que os Esta-
saúde será financiado com orçamentos da seguridade dos e Municípios tem competência para manutenção
social dos entes da Federação, além de outras fontes. das medidas restritivas durante a pandemia, como
Nesse sentido, o STF considerou que a responsabilida- por exemplo, a suspensão das atividades de ensino
de dos entes da Federação deve ser solidária, vejamos. e as restrições às atividades do comércio. (ADPF 672,
rel. Min. Alexandre de Moraes, decisão em 08.04.2020,
EMENTA DIREITO CONSTITUCIONAL  E  ADMI- Dje em 15.04.2020)
NISTRATIVO DIREITO À SAÚDE. TRATAMEN- O texto constitucional autoriza gestores locais
TO MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA admitir agentes comunitários de saúde e agentes de
DOS ENTES FEDERADOS. CONSONÂNCIA DA combate às epidemias através de processo seletivo
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
DECISÃO RECORRIDA COM  A  JURISPRUDÊNCIA público, de acordo com os requisitos específicos para
CRISTALIZADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDE- sua atuação. Desse modo, o regime jurídico, piso sala-
RAL.  RECURSO EXTRAORDINÁRIO  QUE NÃO rial e as diretrizes para o plano de carreira serão dis-
MERECE TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOL- postos em lei federal.
DURA FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA O servidor que exerça funções equivalentes aos
INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. ACÓRDÃO RECOR- agentes comunitários de saúde e agentes de combate às
RIDO PUBLICADO EM 11/07/2014. 1. O entendi- epidemias poderá perder o cargo em caso de descum-
mento adotado pela Corte de origem, nos moldes primento de requisitos específicos (§ 6º, do art. 198).
do assinalado na decisão agravada, não diverge
Como forma de complementar o sistema único de
da jurisprudência firmada no âmbito deste Supre-
saúde, é livre a iniciativa privada a assistência à saú-
mo Tribunal Federal. Entender de modo diverso
de mediante contrato de direito público ou convênio,
demandaria a reelaboração da moldura fática deli-
neada no acórdão de origem, o que torna oblíqua tendo preferência às entidades filantrópicas e as sem
e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de fins lucrativos. O § 2º, do art. 199, veda a destinação
viabilizar o conhecimento do  recurso extraordi- de recursos públicos para auxílios ou subvenções às
nário. 2. As razões do agravo regimental não se instituições privadas com fins lucrativos. Bem como,
mostram aptas a infirmar os fundamentos que las- conforme § 3º, é vedada também a participação direta
trearam a decisão agravada. 3. Agravo regimental ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na
conhecido e não provido. (RE 855.178-RG, rel. min. assistência à saúde no País, com exceção dos casos
Luiz Fux, j. 5-3-2015, P, DJE de 16-3-2015, Tema 793). previstos em lei. 243
Previdência Social Homem - 60 (sessenta)
anos de idade
A emenda constitucional nº 103 de 2019, também Mulher - 55 anos de idade
chamada como reforma da previdência, trouxe diver- Também se aplica para
sas modificações ao texto constitucional, alterou o TRABALHADORES Art. 201, os que exerçam suas ati-
RURAIS § 7º, II da CF vidades em regime de
sistema de previdência social e estabeleceu regras de economia familiar, nestes
transição e disposição transitórias. incluídos o produtor rural,
Conforme o art. 201 da CF, a previdência social o garimpeiro e o pescador
será organizada sob forma de regime geral, de filiação artesanal
obrigatória. Ainda, a previdência social tem nature-
za contributiva, ou seja, destinada apenas para quem Referente ao tempo de serviço militar exercido
contribui, devendo ser observado os critérios que pre- pelos membros das polícias militares, corpo de bom-
servem o equilíbrio financeiro e atuarial. beiro militar, da marinha, exército, aeronáutica e ao
A previdência social é uma espécie de seguro, serviço militar obrigatório, terão contagem recíproca
que protege seus segurados de eventos como morte, para fins de inativação militar ou aposentadoria, e a
invalidez, reclusão ou desemprego, ou seja, dos riscos compensação financeira será devida entre as receitas
sociais, são prestações pecuniárias aos segurados e às de contribuição referentes aos militares e as receitas
pessoas que contribuam para previdência. de contribuição aos demais regimes, conforme deter-
mina o § 9º-A, art. 201 da CF.
Para os trabalhadores de baixa renda o texto
PREVIDÊNCIA SOCIAL constitucional também prevê a inclusão de alíquotas
Benefícios Serviços diferenciadas, bem como aos que se encontram em
situação de informalidade e ao trabalho doméstico no
âmbito de sua residência, estes serão concedidas apo-
É por meio do Instituto Nacional do Seguro Social
sentadorias no valor de um salário-mínimo.
– INSS que o segurado pode receber os benefícios pre-
Serão aposentados compulsoriamente os empre-
videnciários relacionados nos incisos do art. 201 da
gados dos consórcios públicos, das empresas públicas,
CF, são os seguintes:
das sociedades de economia mista e das suas subsidiá-
rias, desde que observado o cumprimento do tem-
Art. 201 [...]
po mínimo de contribuição ao atingir 70 anos de
I - cobertura dos eventos de incapacidade tem-
idade, ou aos 75 anos de idade, os servidores titu-
porária ou permanente para o trabalho e idade
avançada;
lares de cargos efetivos da União, dos Estados, do
II - proteção à maternidade, especialmente à Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas
gestante; autarquias e fundações, os membros do Poder
III - proteção ao trabalhador em situação de desem- Judiciário, do Ministério Público, das Defensorias
prego involuntário; Públicas e dos Tribunais e dos Conselhos de Con-
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os tas, na forma da lei complementar nº 152 de 2015.
dependentes dos segurados de baixa renda; Ainda, conforme consagra o art. 202 da CF o regi-
V - pensão por morte do segurado, homem ou me de previdência privada é facultativo e de caráter
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, complementar, deve ser organizado de forma autôno-
observado o disposto no § 2º. ma e será regulamentado por lei complementar. 

O § 2º, mencionado no inciso V, determina que Assistência Social


benefícios que substituem o salário de contribuição
ou o rendimento do trabalho do segurado não podem Assistência social se refere às políticas sociais vol-
ter valor mensal inferior ao salário mínimo. tadas a prover as necessidades básicas do cidadão que
A emenda constitucional nº 103 de 2019, dentre dela necessitar. Consagrada na Constituição Federal
outras modificações, alterou os requisitos necessários no art. 203 e 204 e regulamentada pela Lei 8.742, de
para requerimento de aposentadoria presentes no 2013, tem os seguintes objetivos:
§ 7º, art. 201 da Constituição. Vejamos no quadro expli-
Art. 203 A assistência social será prestada a quem
cativo os requisitos necessários para requerimento de
dela necessitar, independentemente de contribui-
aposentadoria após a reforma da previdência.
ção à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à
Homem - 65 anos de idade; adolescência e à velhice;
Mulher - 62 anos de idade; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
Observado tempo mínimo III - a promoção da integração ao mercado de
de contribuição
trabalho;
Exceção: Professor que
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas porta-
comprove tempo de efeti-
TRABALHADORES Art. 201,
vo exercício das funções doras de deficiência e a promoção de sua integra-
URBANOS § 7º, I da CF
de magistério na educação ção à vida comunitária;
infantil e no ensino funda- V - a garantia de um salário mínimo de benefício
mental e médio fixado em mensal à pessoa portadora de deficiência e ao ido-
lei complementar: será re- so que comprovem não possuir meios de prover à
duzido em 5 anos o requi- própria manutenção ou de tê-la provida por sua
sito de idade
244 família, conforme dispuser a lei.
Como visto, a Constituição Federal prevê a possi- III - atendimento educacional especializado aos
bilidade de um pagamento assistencial ao deficiente portadores de deficiência, preferencialmente na
físico ou idoso que não possa prover suas próprias rede regular de ensino;
necessidades ou pelos seus familiares. IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às
É financiada com recursos do orçamento da segu- crianças até 5 (cinco) anos de idade; 
ridade social e tem natureza não contributiva, ou seja, V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
não é um seguro social, pois não depende de contri- pesquisa e da criação artística, segundo a capaci-
buição do beneficiário. dade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas
Educação da educação básica, por meio de programas suple-
mentares de material didático escolar, transporte,
Consagrada no art. 205 da Constituição, a educação alimentação e assistência à saúde.      
é direito de todos e dever do Estado, promovida com
colaboração da sociedade, com o objetivo de preparar
Assim sendo, o acesso ao ensino obrigatório e
o indivíduo para o exercício da cidadania e sua quali-
gratuito é direito público subjetivo, sendo que o não
ficação para o trabalho.
oferecimento ou sua oferta irregular importa respon-
Os princípios do ensino estão consagrados no texto
constitucional no art. 206, os seguintes: sabilidade da autoridade competente.
Antes da Emenda Constitucional nº 59, de 2009,
Art. 206 [...] a gratuidade do ensino apenas se aplicava ao ensino
I - igualdade de condições para o acesso e perma- fundamental. A EC 59, de 2009, inovou ao estender a
nência na escola; obrigatoriedade do ensino gratuito a toda à educação
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e básica (infantil, fundamental e médio).
divulgar o pensamento, a arte e o saber; O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógi- condições de cumprimento das normas gerais da edu-
cas, e coexistência de instituições públicas e priva- cação e autorização de qualidade pelo Poder Público.
das de ensino; Conforme alínea “e”, inciso VII, art. 34 da CF,
IV - gratuidade do ensino público em estabeleci-
constitui princípio sensível à aplicação do mínimo
mentos oficiais;
exigido da receita resultante de impostos estaduais,
V - valorização dos profissionais da educação esco-
lar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira,
compreendida a proveniente de transferências, na
com ingresso exclusivamente por concurso público manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações
de provas e títulos, aos das redes públicas; e serviços públicos de saúde.    Nesse sentido, deter-
VI - gestão democrática do ensino público, na for- mina o art. 212 da CF que a União anualmente deve
ma da lei; aplicar, não menos de dezoito, e os Estados, o DF e
VII - garantia de padrão de qualidade. os Municípios no mínimo vinte e cinco por cento, da
VIII - piso salarial profissional nacional para os receita resultante de impostos, compreendida a pro-
profissionais da educação escolar pública, nos ter- veniente de transferências, na manutenção e desen-
mos de lei federal. volvimento do ensino.
IX - garantia do direito à educação e à aprendiza- Determina o texto constitucional que a lei estabe-
gem ao longo da vida.     lecerá o plano nacional de educação com o objetivo de
articular o sistema nacional de educação em regime
Ainda, o parágrafo único do mencionado disposi- de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e
tivo determina que a lei deve dispor sobre os profis- estratégias para assegurar a manutenção e o desen-
sionais da educação e adequação de seus planos de volvimento do ensino.
carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.
Cultura
As universidades devem obediência ao princípio
de indissociabilidade23 entre ensino, pesquisa e exten-
são. Bem como, tem autonomia didático-científica, A cultura é um direito fundamental de terceira

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


administrativa e de gestão financeira e patrimonial. geração. Segundo o texto constitucional, no art. 215, é
dever do Estado garantir a todos o pleno exercício dos
direitos culturais, apoiando e incentivando a valoriza-
Dica ção e a difusão das manifestações culturais.
Conforme Súmula Vinculante nº 12, a cobrança Os parágrafos do dispositivo mencionado preveem
de taxa de matrícula nas universidades públicas a proteção pelo Estado às manifestações das culturas
viola o inciso IV, art. 206 da Constituição Federal. populares, indígenas, afro-brasileiras e as de outros
grupos participantes do processo civilizatório nacional.
Conforme art. 208 da CF, o dever do Estado com a O Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitu-
educação será efetivado mediante garantia de: cional n. 48, de 2006, para determinar que a lei esta-
beleça o Plano Nacional de Cultura com o objetivo do
Art. 208 [...] desenvolvimento cultural e à integração das ações do
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 poder público para que conduzam (§ 3º, art. 215 da CF):
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegu-
rada inclusive sua oferta gratuita para todos os que Art. 215 [...]
a ela não tiveram acesso na idade própria;          I- defesa e valorização do patrimônio cultural
II - progressiva universalização do ensino médio brasileiro;
gratuito;  II- produção, promoção e difusão de bens culturais;

23- Não pode ser separado nem desunido. 245


III- formação de pessoal qualificado para a gestão Assim, a Constituição determina que seja dever
da cultura em suas múltiplas dimensões;        do Estado fomentar as práticas desportivas formais e
IV- democratização do acesso aos bens de cultura;          não formais, devendo ser observada a autonomia das
V- valorização da diversidade étnica e regional.  
entidades desportivas dirigentes e associações (orga-
nização e funcionamento), a destinação de recursos
O art. 216 e seus incisos dispõem sobre o conceito
públicos para a promoção prioritária do desporto
de forma ampla de patrimônio cultural, que abrange
educacional e, em casos específicos, para a do des-
os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de refe- porto de alto rendimento, o tratamento diferenciado
rência à identidade, à ação, à memória dos diferentes para o desporto profissional e o não profissional e a
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais proteção e o incentivo às manifestações desportivas
se incluem: de criação nacional (art. 217 da CF).
Pedro Lenza (2020), em Direito Constitucional
Art. 216 [...] Esquematizado, preleciona [...]
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver; [...] se, por um lado, o papel do Estado é de fomen-
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; to, por outro, o papel de prestação foi atribuído às
IV - as obras, objetos, documentos, edificações entidades desportivas dirigentes e associações com
e demais espaços destinados às manifestações autonomia para sua organização e funcionamento
artístico-culturais;
(art. 217, I), significando importante desdobramento
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor históri-
da regras contidas nos arts. 5.º, XVII, e 8.º da CF/88.
co, paisagístico, artístico, arqueológico, paleon-
tológico, ecológico e científico. (grifos nossos)
A Constituição reconheceu a justiça desportiva ao
Patrimônio este que deve ser protegido pelo Poder estabelecer que o Poder Judiciário só admitirá ações
Público, com a colaboração da comunidade, por exem- referentes a competições esportivas após esgotar as
plo, através de tombamento, desapropriação, além de possibilidades na justiça desportiva. Para José Afonso
outras formas de acautelamento e preservação. da Silva (2017) foi o momento em que a Constituição
A Emenda Constitucional nº 71, de 2012, acrescen- valorizou a justiça desportiva.
tou ao texto constitucional o art. 216-A, que estabelece
o denominado Sistema Nacional de Cultura, que ins- CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
titui um processo de gestão e promoção conjunta de
políticas públicas de cultura organizadas em regime Conforme a Constituição Federal, o Estado pro-
de colaboração, de forma descentralizada e participa- moverá e incentivará o desenvolvimento científico,
tiva. O § 1º, por sua vez, consagra os princípios orien-
ainda, estabelece duas espécies, a pesquisa científica
tadores do Sistema Nacional de Cultura, vejamos.
básica e tecnológica e a pesquisa tecnológica.
Determina o § 1º, art. 218 da CF, que a pesquisa
Art. 216-A [...]
I - diversidade das expressões culturais;        científica básica e tecnológica receberá tratamento
II - universalização do acesso aos bens e serviços prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e
culturais;        o progresso das ciências. 
III - fomento à produção, difusão e circulação de
conhecimento e bens culturais;         
IV - cooperação entre os entes federados, os agentes CIÊNCIA E TECNOLOGIA
públicos e privados atuantes na área cultural; Pesquisa tecnológica:
V - integração e interação na execução das políti-
Pesquisa científica básica
Volta-se para solução dos
cas, programas, projetos e ações desenvolvidas; e tecnológica:
problemas do país e para
VI - complementaridade nos papéis dos agentes Volta-se para o bem pú-
desenvolvimento do sis-
culturais;  blico e o progresso das
tema produtivo nacional e
VII - transversalidade das políticas culturais;        ciências
regional
VIII - autonomia dos entes federados e das institui-
ções da sociedade civil;
IX - transparência e compartilhamento das Na execução das atividades de pesquisa científica,
informações;   tecnológica e de inovação o Estado promoverá articu-
X - democratização dos processos decisórios com lação entre entes, tanto privados como públicos, nas
participação e controle social;      diversas esferas do governo (§ 6º, art. 218 da CF).
XI - descentralização articulada e pactuada da ges- O Estado promoverá a atuação no exterior das ins-
tão, dos recursos e das ações;       tituições públicas de ciências, com vistas à execução
XII - ampliação progressiva dos recursos contidos das atividades de desenvolvimento científico, a pes-
nos orçamentos públicos para a cultura.    
quisa, a capacitação científica e tecnológica e a inova-
ção (§ 7º, art. 218 da CF).
Ainda, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
pios deverão organizar seus respectivos sistemas de Mais adiante, no art. 219-A, dispositivo incluído
cultura em leis próprias (§ 4º, art. 216-A da CF). pela Emenda Constitucional n. 85, de 2015, os entes
da Federação poderão firmar instrumentos de coo-
Desporto peração com órgãos e entidades públicos e entidades
privadas, para a execução de projetos de pesquisa, de
O desporto consagrado no texto constitucional não desenvolvimento científico e tecnológico e de inova-
se refere somente ao esporte, mas também como for- ção, inclusive para o compartilhamento de recursos
246 ma de lazer incentivado pelo Poder Público. humanos especializados e capacidade instalada.
COMUNICAÇÃO SOCIAL II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo
à produção independente que objetive sua divulgação;
O art. 220 da CF trata da liberdade de informar III - regionalização da produção cultural, artística
e da liberdade de ser informado e garante da mani- e jornalística, conforme percentuais estabelecidos
em lei;
festação de pensamento, da criação e expressão e da
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa
informação, dispositivo em consonância com a garan-
e da família.
tia fundamental do inciso IX, art. 5º da CF, que prevê
a livre a expressão da atividade intelectual, artística,
Ainda, conforme consagra o inciso II, § 3º, art. 220
científica e de comunicação, independentemente de cen- da CF, a lei federal deverá estabelecer os meios legais
sura ou licença. que garantam à pessoa e à família a possibilidade de
Nenhuma lei poderá conter dispositivo que res- se defenderem de programas ou programações de
trinja a plena liberdade de informação jornalística rádio e televisão que contrariem os princípios consa-
em qualquer veículo de comunicação. Por conseguin- grados no art. 221, bem como da propaganda de pro-
te, no § 2º, art. 220 da CF prevê a vedação a toda e dutos, práticas e serviços que possam ser nocivos à
qualquer censura de natureza política, ideológica e saúde e ao meio ambiente.
artística. Nesse sentido, as propagandas comerciais de bebi-
O STF entende que é desnecessária a utilização de das alcoólicas, tabaco, agrotóxico e medicamentos deve-
diploma de jornalismo como condições para o exer- rão mencionar os malefícios decorrentes de seu uso,
cício da profissão, considera que exercer a profissão conforme também consagra o art. 9º da Lei nº 8.078, de
de jornalista tem na sua essência a manifestação do 1990 (código de defesa do consumidor), vejamos.
pensamento.
Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços poten-
EMENTA: JORNALISMO. EXIGÊNCIA DE DIPLO- cialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segu-
MA DE CURSO SUPERIOR, REGISTRADO PELO rança deverá informar, de maneira ostensiva e
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, PARA O EXERCÍCIO adequada, a respeito da sua nocividade ou periculo-
DA PROFISSÃO DE JORNALISTA. LIBERDADES DE sidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas
PROFISSÃO, DE EXPRESSÃO E DE INFORMAÇÃO. cabíveis em cada caso concreto.
CONSTITUIÇÃO DE 1988 (ART. 5°, IX E XIII, E ART.
220, CAPUT E § 1°). NÃO RECEPÇÃO DO ART. 4°, Conforme art. 222, da Constituição, é privativa de
INCISO V, DO DECRETOLEI N° 972, DE 1969. brasileiro nato, naturalizado (mais de 10 anos) ou de
pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras
As liberdades de expressão e de informação e, (com sede no país) a propriedade de empresa jornalís-
especificamente, a liberdade de imprensa, somente tica e de radiodifusão sonora e de sons e imagens.
podem ser restringidas pela lei em hipóteses excepcio- Também é privativo de brasileiro nato ou natu-
nais, sempre em razão da proteção de outros valores ralizado (mais 10 anos) a  responsabilidade editorial
e interesses constitucionais igualmente relevantes, e as atividades de seleção e direção da programação
como os direitos à honra, à imagem, à privacidade e veiculada em qualquer meio de comunicação.
à personalidade em geral. Precedente do STF: ADPF Ainda, é de competência do Poder Executivo outor-
n° 130, Rel. Min. Carlos Britto. A ordem constitucional gar e renovar concessão, permissão e autorização
apenas admite a definição legal das qualificações pro- para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e ima-
fissionais na hipótese em que sejam elas estabelecidas gens (art. 223 da CF).
para proteger, efetivar e reforçar o exercício profis-
Art. 223 [...]
sional das liberdades de expressão e de informação
§ 1º O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do
por parte dos jornalistas. Fora desse quadro, há paten-
art. 64, § 2º e § 4º, a contar do recebimento da mensagem.
te inconstitucionalidade da lei. A exigência de diplo-
§ 2º A não renovação da concessão ou permissão
ma de curso superior para a prática do jornalismo - o dependerá de aprovação de, no mínimo, dois quin-
qual, em sua essência, é o desenvolvimento profissio- tos do Congresso Nacional, em votação nominal.
nal das liberdades de expressão e de informação - não § 3º O ato de outorga ou renovação somente pro-
está autorizada pela ordem constitucional, pois cons- duzirá efeitos legais após deliberação do Congresso

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


titui uma restrição, um impedimento, uma verdadeira Nacional, na forma dos parágrafos anteriores.
supressão do pleno, incondicionado e efetivo exercí- § 4º O cancelamento da concessão ou permissão,
cio da liberdade jornalística, expressamente proi- antes de vencido o prazo, depende de decisão judicial.
bido pelo § 1º, art. 220 da Constituição (RE 511.961, § 5º O prazo da concessão ou permissão será de dez
rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17.06.2019, DJe anos para as emissoras de rádio e de quinze para
13.11.2009). as de televisão.
Compete à lei federal regular as diversões, espe- Art. 224 Para os efeitos do disposto neste capítulo,
táculos públicos e estabelecer os meios legais que o Congresso Nacional instituirá, como seu órgão
garantam à pessoa e à família a possibilidade de se auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na for-
defenderem de programas ou programações de rádio ma da lei
e televisão que viole os princípios relacionados no art.
221 da CF, bem como da divulgação de produtos que MEIO AMBIENTE
podem ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
O meio ambiente tem previsão no texto constitucio-
Art. 221 A produção e a programação das emis- nal no art. 225, que define o meio ambiente ecologica-
soras de rádio e televisão atenderão aos seguintes mente equilibrado como bem de uso comum do povo,
princípios: sendo dever do Poder Público e da coletividade defen-
[...] der e preservar para as presentes e futuras gerações.
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, O § 1º, do art. 225, prevê as medidas para assegu-
culturais e informativas; rar a efetividade deste direito, vejamos: 247
Art. 225 [...] O texto constitucional também se preocupou em decla-
I - preservar e restaurar os processos ecológicos rar como patrimônio nacional a Floresta Amazônica, a
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense
e ecossistemas; e a Zona Costeira, sua utilização será na forma da lei.
II - preservar a diversidade e a integridade do patri- Ainda, conforme o § 5º, do art. 225, são indispo-
mônio genético do País e fiscalizar as entidades dedi- níveis as terras devolutas (terras que pertencem ao
cadas à pesquisa e manipulação de material genético; poder público sem destinação pública) ou arrecada-
III - definir, em todas as unidades da Federação, das pelos Estados, por ações discriminatórias, neces-
espaços territoriais e seus componentes a serem sárias à proteção dos ecossistemas naturais.
especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, veda-
DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO
da qualquer utilização que comprometa a integri-
JOVEM E DO IDOSO
dade dos atributos que justifiquem sua proteção;         
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra
ou atividade potencialmente causadora de signifi-
O termo “família” ao longo dos anos foi se transmu-
cativa degradação do meio ambiente, estudo prévio
dando. Trata-se, por sinal, de um tema que vem sen-
de impacto ambiental, a que se dará publicidade;   
do discutido constantemente. A mais revolucionária
V - controlar a produção, a comercialização e o
mudança veio com a promulgação da Constituição Fede-
emprego de técnicas, métodos e substâncias que
ral de 1988, que ampliou o conceito de família e passou
comportem risco para a vida, a qualidade de vida
a proteger todos os seus membros de forma igualitária.
e o meio ambiente;
É inegável a transformação da estrutura familiar,
VI - promover a educação ambiental em todos os
identificada na Carta Republicana, que se ergue como
níveis de ensino e a conscientização pública para a
a nova tábua valorativa das relações familiares.
preservação do meio ambiente;
Até o advento da constituição de 1988, o reconheci-
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
mento da família estava intimamente ligado ao casa-
da lei, as práticas que coloquem em risco sua fun-
mento. Segundo a maioria dos estudiosos, a família
ção ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
era conceituada como o conjunto de pessoas que se
submetam os animais a crueldade. (grifo nosso)  
achavam vinculadas entre si pelo matrimônio, pela
filiação e pela adoção.
O STF considerou que a prática de exercício cultural A partir da constituição de 1988, passou-se a reco-
que submeta aos animais à crueldade viola o inciso VII nhecer outras formas de constituição de família, que
do art. 225 é inconstitucional, por exemplo, foi declara- não exclusivamente pelo casamento, ampliando o
da inconstitucional a Lei nº 15.299, de 2013, do estado rol de entidades familiares, considerando também a
do Ceará que regulamentava a vaquejada, vejamos: união estável e a família monoparental24, ainda, o tex-
to constitucional consagra a família como a base da
VAQUEJADA – MANIFESTAÇÃO CULTURAL – ANI- sociedade, com especial proteção do Estado.
MAIS – CRUELDADE MANIFESTA – PRESERVAÇÃO A família monoparental, por exemplo, é a família
DA FAUNA E DA FLORA – INCONSTITUCIONALI- formada só pela mãe ou só pelo pai e seus respectivos
DADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o filhos, conforme o § 4º, art. 226 da CF.
pleno exercício de direitos culturais, incentivando Conforme o § 4º, art. 225 da CF, que reconhece a
a valorização e a difusão das manifestações, não família monoparental. Pedro Lenza (2020) preleciona
prescinde da observância do disposto no inciso VII que, sendo assim, o Estado também deverá assegurar
do artigo 225 da Carta Federal, o qual veda práti- proteção especial às famílias instituídas por insemi-
ca que acabe por submeter os animais à crueldade. nação artificial, produção independente e etc.25
Discrepa da norma constitucional a denominada Destarte, o Supremo Tribunal Federal, em 2011, no
vaquejada. (ADI 4.983, rel. min. Marco Aurélio, j. julgamento da ADPF nº 132/RJ e ADI nº 4.277/DF, reco-
6-10-2016, P, DJE de 27-4-2017) nheceu a união homoafetiva como família sob análi-
se do art. 1.723 do código civil em consonância com
Posteriormente, a Emenda Constitucional n. 96, de a Constituição Federal, ou seja, reconheceu a união
2017, inovou ao acrescentar o § 7º ao art. 225, não con- homoafetiva como constitucional, vejamos a ementa
siderando cruel a utilização de animais em práticas do julgamento (Considerações do STF do julgamento
desportivas de manifestação cultural, mas para tanto mencionado já foi objeto de pergunta da banca Cespe).
exige a regulamentação por lei específica que assegu-
re o bem-estar dos animais envolvidos. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓDIGO
CIVIL EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUI-
Art. 225 [...] ÇÃO FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII CONFORME”). RECONHECIMENTO DA UNIÃO
do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práti- HOMOAFETIVA COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA
cas desportivas que utilizem animais, desde que sejam DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de interpretação
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 em sentido preconceituoso ou discriminatório do
desta Constituição Federal, registradas como bem de art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei especí- “interpretação conforme à Constituição”. Isso para
excluir do dispositivo em causa qualquer significa-
fica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
do que impeça o reconhecimento da união contí-
nua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo
Ainda, além do meio de atuação relacionado nos
sexo como família. Reconhecimento que é de ser
incisos do art. 225, a Constituição também prevê con- feito segundo as mesmas regras e com as mesmas
dutas a serem observadas, por exemplo, aquele que consequências da união estável heteroafetiva. (ADI
explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o 4277 / DF, rel. Min. Ayres Brito, data do julgamento
meio ambiente degradado (§ 2º, art. 225 da CF). 05.05.2011, DJe 14.10.2011)

24 - Família monoparental,
248 25 LENZA, Pedro; Direito Constitucional Esquematizado. 24ª ed. São Paulo, 2020, p. 1512.
O casamento civil é de celebração gratuita, sen- DOS ÍNDIOS
do que, o religioso terá efeito civil, nos termos da lei.
No que tange à dissolução do casamento civil, o texto Ordenamento jurídico brasileiro valoriza as dife-
constitucional foi modificado pela Emenda Constitu- renças culturais, garantindo e respeitando o modo de
cional nº 66, de 2010, que então permitiu a dissolu- vida das comunidades indígenas. O texto constitucional
ção do casamento civil pelo divórcio, que antes só se foi um grande avanço referente os direitos indígenas,
dava após o cumprimento de alguns requisitos, agora garantindo a eles a preservação da sua organização
é imediato. social, costumes, crenças, língua e tradições.
É dever do Estado, da família e da sociedade asse- A Constituição também garantiu o direito origi-
gurar com prioridade os direitos fundamentais da nário sobre as terras que os índios tradicionalmente
ocupavam, cabendo à União demarcá-las e garantir
criança, do adolescente, do jovem, com prioridade na
que seus bens sejam respeitados, sendo inalienáveis
vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissiona-
e indisponíveis, bem como, os direitos sobre elas,
lização, cultura, dignidade, ao respeito, à liberdade e
imprescritíveis.
à convivência familiar e comunitária (art. 227 da CF).
Determina o § 6º, art. 231 da CF, que são nulos e
A Constituição também determina a promoção extintos os atos que tenham por objeto a ocupação, o
de programas de assistência à criança, adolescente e domínio e a posse das terras indígenas, ou a explora-
jovem, vejamos. ção das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes, com exceção ao relevante interesse
Art. 227 [...] público da União.
§ 1º O Estado promoverá programas de assistên-
cia integral à saúde da criança, do adolescente e do
jovem, admitida a participação de entidades não Importante!
governamentais, mediante políticas específicas e
obedecendo aos seguintes preceitos: É de competência exclusiva do Congresso
I - aplicação de percentual dos recursos públicos Nacional autorizar, em terras indígenas, a explo-
destinados à saúde na assistência materno-infantil; ração e o aproveitamento de recursos hídricos e
II - criação de programas de prevenção e atendi- a pesquisa e lavra de riquezas minerais (art. 49,
mento especializado para as pessoas portadoras de XVI da CF).
deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente e do jovem porta-
dor de deficiência, mediante o treinamento para o O art. 232 da CF, autoriza a participação dos índios
trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso e as suas comunidades e organizações como partes
aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de legítimas para ingressar em juízo para defender seus
obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de interesses, com a participação do Ministério Público
discriminação.          em todos os atos do processo.

Ainda, consagra a igualdade de direitos e qualifi-


cação aos filhos havidos ou não do casamento ou por
adoção (§ 6º, art. 227 da CF). CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE
O art. 228 da CF, determina que os menores de
dezoito anos são penalmente inimputáveis, ou seja, JANEIRO
não podem responder criminalmente, sendo que,
A Constituição do Estado do Rio de Janeiro foi pro-
após verificada prática de ato infracional, estarão
mulgada em 5 de outubro de 1989, exatamente um
sujeitos às medidas previstas em legislação especial.
ano após a Constituição Federal (CF) de 1988. Por ela,
Mais adiante, o texto constitucional também ampa-
foi constituído o Estado fluminense em conformidade
ra as pessoas idosas: com o novo ordenamento jurídico. Sua função foi ser-
vir de pressuposto de validade de todo ordenamen-
Art. 230 A família, a sociedade e o Estado têm o to jurídico estadual, ou seja, de norma base da qual
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
dever de amparar as pessoas idosas, assegurando decorrem todas as demais normas estaduais.
sua participação na comunidade, defendendo sua O Estado do Rio de Janeiro é um dos entes fede-
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito rativos do Estado brasileiro. Isso significa dizer que,
à vida.
como no Brasil existe uma divisão interna do poder, o
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão exe-
Estado fluminense goza de autonomia político-admi-
cutados preferencialmente em seus lares.
nistrativa, assim como os demais entes. É fato que a
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garanti-
CF, de 1988, estabeleceu como seus entes federativos a
da a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
União Federal, os Estados-Membros, o Distrito Federal
e os Municípios, cada qual com autonomia e discricio-
Idoso é considerado pessoa com idade igual ou nariedade, além de possibilidade de se organizarem e
superior a 60 anos, conforme Lei nº 8.842, de 1994 legislarem. Desse modo, compete à União estabelecer
(Política Nacional do Idoso) e a Lei nº 10.741, de 2003 as regras do Estado brasileiro como um todo, tendo
(Estatuto do idoso). Por conseguinte, a Lei nº 13.466, de como parâmetro a CF, de 1988.
2017 determina a prioridade especial ao idoso maior Se à União cabem as diretrizes de âmbito nacional,
de 80 anos, devendo este ter prioridade e atendimento aos Estados compete traçar as normas regionais, ten-
preferencial, por exemplo, nos casos de atendimento do como norma fundamental a Constituição Estadual
à saúde. (CE).26
26  Art. 25, da CF/88: “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição”. 249
Já a incumbência do Distrito Federal são regras Considerando que se trata de uma norma extensa,
distritais e, dos Municípios, as regras locais, ambos o presente estudo será voltado para os pontos princi-
tendo como norma base a Lei Orgânica. Assim, ao pais da Constituição Estadual, tendo como parâmetro
se organizarem por meio da Constituição Estadual e o concurso almejado.
Lei Orgânica Distrital, os Estados e o Distrito Federal Antes de iniciar o estudo, é preciso ter em men-
devem respeitar os ditames da Constituição Federal, te que, para melhor compreendê-la, é primordial
entender sua estrutura e identificar as ideias mais
ao passo que os Municípios deverão observar tanto a
importantes da legislação. No entanto, trata-se de
Constituição Federal como a Constituição Estadual do
um assunto que costuma ser cobrado na literalidade
Estado-Membro ao qual se encontram vinculados. de seus artigos pelas bancas. Por essa razão, é extre-
Por conseguinte, a Constituição Estadual tem como mamente importante ler o texto de lei e tentar com-
parâmetro a CF, de 1988, para estabelecer as normas preender os pontos mais importantes dos artigos, sem
atinentes às peculiaridades regionais. precisar, contudo, decorá-los.
A Constituição do Rio de Janeiro é composta por Para facilitar o estudo, as partes mais cobradas
três partes: preâmbulo, disposições constitucionais em concurso público estarão sinalizadas com as pala-
e Ato das Disposições Constitucionais Transitórias vras-chaves em destaque no próprio texto legal. Feitas
(ADCT). essas considerações iniciais, bons estudos!

Art. 1° Art. 369 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS


Preâmbulo Disposições
Constitucionais ADCT
Os princípios fundamentais compreendem os sete
Art. 1° Art. 97
primeiros artigos da CE fluminense. Em síntese, esta-
belecem os mandamentos nucleares que regem o Rio
de Janeiro. Vejamos os dispositivos:
O preâmbulo é a parte que precede o texto arti-
culado da Constituição. É nele que o legislador consti- Art. 1º O povo é o sujeito da Vida Política e da
tuinte apresenta suas intenções e seus compromissos. História do Estado do Rio de Janeiro.
Sua função é servir de interpretação e integração
da própria norma constitucional ao reafirmar as O art. 1º traz o elemento humano do Estado do Rio
intenções do Estado-membro com a elaboração da de Janeiro, ou seja, o povo. Por povo, entende-se aque-
Constituição. le indivíduo que possui vínculo político-jurídico com o
O texto do preâmbulo é uma espécie de intenção Estado, de modo com que este possa lhe assegurar a pro-
política, e não jurídica. Ele reflete o momento e o teção aos seus direitos fundamentais. Portanto, é o povo
desígnio do legislador quando elaborou a constitui- o titular de direitos e obrigação disciplinados na CE.
ção. Por essa razão, é a expressão “promulgamos, sob
Art. 2º Todo o poder emana do povo, que o exer-
a proteção de Deus” contida no preâmbulo, dizendo
ce por meio de representantes eleitos ou direta-
respeito à crença do próprio legislador, e não à do mente, nos termos desta Constituição.
Estado-membro, que é laico.
Após o preâmbulo, encontram-se as disposições O art. 2º decorre do parágrafo único, do art. 1º, da
constitucionais, ou seja, o próprio corpo da Consti- CF, de 1988. Nele, consta o regime de governo, ou seja,
tuição. Trata-se de 369 (trezentos e sessenta e nove) a Democracia, uma vez que o povo é a única fonte de
artigos divididos em dez títulos. legitimidade do poder, ou seja, todo poder emana do
Na sequência, encontra-se o Ato das Disposições povo. Trata-se, assim, de um direito político.
Constitucionais Transitórias, destinado a auxi- O regime democrático pode ser exercido de três
liar na transição de uma constituição para outra, de formas:
modo a neutralizar os efeitos de um possível confli-
to de normas de igual hierarquia (Constituição nova z De forma direta — pelo próprio povo;
e Constituição velha). Trata-se, portanto, de regras z De forma indireta — pelos representantes do povo;
de transição entre o antigo sistema e o novo, provi- z De forma semidireta ou participativa — pela com-
binação dos dois critérios.
denciando a acomodação e a transição das normas. A
Constituição do Estado do Rio de Janeiro estabeleceu
Art. 3º A soberania popular, que se manifesta
97 (noventa e sete) artigos de transição, que se apre- quando a todos são asseguradas condições dignas
sentam de forma destacada da Constituição Estadual, de existência, será exercida:
inclusive com numeração e promulgação autônoma. I - pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto com valor igual para todos;
II - pelo plebiscito;
Importante! III - pelo referendo;
IV - pela iniciativa popular do processo
Desde a sua promulgação em 1989, até junho legislativo.
de 2021, a Constituição Estadual foi modificada
89 vezes por meio de emendas constitucionais Complementando o art. 2º, o art. 3º explicita as for-
(EC). A emenda constitucional é atualmente a mas de exercício da soberania popular. Considerando
que, no regime democrático de governo, os indivíduos
única forma permitida de se alterar o texto cons-
são os titulares da soberania, esta pode ser exercida
titucional. Cada alteração recebe uma numera- de duas maneiras: participação direta no governo
ção em algarismo árabe, sendo a primeira a EC (democracia direta) ou indiretamente, por meio de
nº 1, de junho de 1991, e a última a EC nº 89, de seus representantes escolhidos pelo voto (democracia
250 junho de 2021. indireta).
Desse modo, indiretamente, o poder do povo é Ainda, o dispositivo traz os fundamentos estaduais,
manifestado por meio do voto. Trata-se do direito que são denominados de valores supremos. Tratam-se
de votar e ser votado. Observe que a CE repete a CF, dos seguintes valores: soberania, dignidade da pessoa
de 1988, ao falar em voto universal, direto e secreto, humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciati-
porém, não menciona a periodicidade do voto. va e pluralismo político.
No Brasil, não é possível alterar as regras com rela-
ção ao voto direto, secreto, universal e periódico, por-
que são cláusulas pétreas, ou seja, matérias que não
Dica
podem ser objeto de alteração (no sentido de abolir Observe que existe apenas um fundamento
tais direitos). Já a obrigatoriedade do voto pode ser diferente daqueles que estão no art. 1º, da CF,
alterada (tornar-se facultativo).
de 1988 (Mnemônico SO CI DI VA PLU), que é a
Diretamente, o povo exerce o seu poder por meio
cidadania. Porém, esta se encontra disciplinada
de plebiscito, referendo e iniciativa em processo legi-
lativo (povo como titular de projeto de lei). no art. 4º, da CE.
A diferença entre o plebiscito e o referendo é que,
no plebiscito, a população é chamada para se mani- Ressalta-se que o dispositivo repete, ainda, um dos
festar antes de o Estado elaborar a lei. Exemplo: no objetivos do Brasil disciplinados no art. 3º, da CF, de
plebiscito de 1993, a população escolheu entre monar- 1988, que é de construir uma sociedade livre, justa e
quia e república e entre parlamentarismo e presiden- solidária, isenta do arbítrio e de preconceitos de qual-
cialismo. Por outro lado, no referendo, o Estado faz a quer espécie.
legislação e depois a submete à população. Exemplo:
Estatuto do Desarmamento. Art. 6º O Estado do Rio de Janeiro rege-se por esta
Constituição e pelas leis que adotar, observados
Art. 4º O Estado do Rio de Janeiro é o instrumento os princípios constitucionais da República Federati-
e a mediação da soberania do povo fluminen- va do Brasil.
se e de sua forma individual de expressão, a
cidadania. Trata-se de mais uma norma de repetição, agora
do art. 25, da CF, de 1988, que garante aos Estados-
O art. 4º, da CE, é um dispositivo socioideológico,
-membros o direito de organizarem e serem regidos
por trazer o discurso social da cidadania. Explicando
por suas constituições e leis estaduais.
melhor: a CE, ao mesmo tempo em que traz os direitos
ligados às prerrogativas inerentes ao indivíduo, como
Art. 7º São Poderes do Estado, independentes e
a vida, a liberdade, a propriedade, denominados de
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
direitos civis ou individuais, contempla os direitos
e o Judiciário.
de cidadania, que envolvem o direito de votar e ser
votado, de ocupar cargos ou funções políticas e de
permanecer nesses cargos, os denominados direitos Finalizando o primeiro título da CE, o art. 7º trata
políticos, com os direitos ligados à concepção de que é de uma regra de organização política-administrativa
dever do Estado garantir igualdade de oportunidades do Estado do Rio de Janeiro. Ele traz a separação dos
a todos através de políticas públicas, sendo os denomi- três poderes, ou seja, Poder Legislativo, Poder Execu-
nados direitos econômicos, sociais e culturais. tivo e Judiciário. Cada um desses poderes possui com-
petências previstas na CE, e, por sua vez, nada mais
Art. 5º O Estado do Rio de Janeiro, integrante, são do que repetições da própria CF, de 1988. Os três
com seus municípios, da República Federativa poderes devem observar dois princípios básicos: inde-
do Brasil, proclama e se compromete a assegurar pendência e harmonia.
em seu território os valores que fundamentam a A independência dos três poderes não é absoluta,
existência e a organização do Estado Brasileiro,
pois existem na própria Constituição mecanismos que
quais sejam: além da soberania da Nação e de seu
povo, a dignidade da pessoa humana, os valo- possibilitam a interferência de um no outro com o
objetivo de garantir o princípio da harmonia. Trata-se
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
res sociais do trabalho e da livre iniciativa,
o pluralismo político; tudo em prol do regime do denominado mecanismo de freios e contrapesos
democrático, de uma sociedade livre, justa e (checks and balances).
solidária, isenta do arbítrio e de preconceitos
de qualquer espécie. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

O art. 5º também decorre do decorre do art. 1º, da Os direitos e garantias fundamentais estão discipli-
CF, de 1988. Nele, consta a forma de Estado e a forma nados no Título II da CE. Em síntese, a norma constitu-
de governo, ou seja, Federação e República. cional divide os direitos e garantias fundamentais em
Conforme mencionado, adota-se a forma federa-
cinco grupos: direitos individuais e coletivos; direitos
tiva de Estado, sendo o Rio de Janeiro e seus municí-
sociais; família, criança, adolescente e idoso e defesa
pios entes da Federação. Já como forma de governo,
do consumidor. Portanto, direitos fundamentais são o
adota-se a forma republicana, tendo como carac-
terísticas a eletividade, a temporariedade dos mem- gênero do qual os direitos da família, criança, adoles-
bros do Poder Legislativo e Executivo e um regime cente e idoso são espécies.
de responsabilidade das pessoas que ocupam cargos A CF, de 1988, também divide os direitos e garan-
públicos. Desse modo, o Estado do Rio de Janeiro é tias fundamentais em grupos. No caso da CF, de 1988,
um dos entes políticos da República, razão pela qual são: direitos individuais e coletivos; direitos sociais;
lhe é garantida autonomia e o exercício de diversas direitos de nacionalidade; direitos políticos e partidos
competências. políticos. 251
É importante lembrar que direitos e garantias não Exemplo: mesmo possuindo o direito de locomo-
se confundem. Enquanto direitos são bens e vanta- ção, não é possível ingressar em uma propriedade
gens prescritos na norma constitucional, como, por alheia fora das hipóteses previstas da CF, de 1988
exemplo, o direito de ir e vir (liberdade de locomoção), (convite, desastre, flagrante delito, prestar socorro ou
as garantias são os instrumentos através dos quais se ordem judicial durante o dia), podendo isso, inclusive,
assegura o exercício do referido direito, tanto preven- caracterizar o crime de invasão de domicílio.
tivamente, como, por exemplo, o habeas corpus, como Passaremos, agora, a análise dos seus artigos pedi-
repressivamente, quando, por exemplo, busca assegu- dos pelo edital.
rar a sua reparação no caso de violação.
Antes de adentrar ao estudo dos direitos e garan- Da Família, Criança, Adolescente e Idoso
tias fundamentais propriamente ditos, é importante
estudar suas características. Sua primeira característi- O terceiro capítulo dos direitos e garantias funda-
ca é a universalidade, ou seja, os direitos e garantias mentais engloba os arts. 45 a 62, da CE, e disciplina
fundamentais se aplicam a todos os indivíduos. as regras acerca da família, criança, do adolescente e
Do seu caráter universal, decorre a garantia da dig- idoso. Vejamos os dispositivos:
nidade da pessoa humana, uma vez que o direito de
possuir condições mínimas para ter uma vida plena Art. 45 É dever da família, da sociedade e do
e digna é inerente a todos os indivíduos. Observa-se, Estado assegurar à criança, ao adolescente, ao
ainda, que o reconhecimento da dignidade traz con- jovem e ao idoso, com absoluta prioridade, o
sigo o fundamento da igualdade, por não comportar direito à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
distinções relacionadas a raça, sexo, língua, religião, ção, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
origem social ou nacional, entre outras. dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
Outra característica importante é a historicida- cia familiar e comunitária, além de colocá-los a
de, uma vez que tais direitos e garantias são frutos salvo de toda forma de negligência, discriminação,
de um desenvolvimento histórico, ou seja, são traça- exploração, violência, crueldade e opressão.
dos e estruturados de acordo com o desenvolvimento
da própria sociedade. Por isso, entender o contexto O art. 45 reproduz, em parte, o art. 227, da CF, de
histórico é extremamente importante para entender 1988. Trata-se da proteção que deve ser implemen-
o porquê da proteção dada pelos direitos fundamen- tada pela família, sociedade e pelo Estado, para
tais. Exemplo: políticas afirmativas, como a política de garantir os direitos fundamentais de crianças, ado-
cotas em concursos públicos. lescentes, jovens e idosos. Cumpre esclarecer que é
Além disso, eles têm como característica a ina- da família que advém os indivíduos, ou seja, ela é o
lienabilidade, uma vez que, por terem como fun- núcleo natural e fundamental de onde emana a pró-
damento a liberdade, justiça e paz, não podem ser pria sociedade.
transferidos ou negociados. Os direitos são conferidos Salienta-se, ainda, que a proteção deve ser exerci-
a todos os indivíduos, que deles não podem se desfa- da de forma prioritária.
zer, porque são indisponíveis, tendo em vista a prote-
ção da pessoa humana. Dica
Os direitos fundamentais também têm como carac-
terística a imprescritibilidade, visto que não deixam De acordo com o Estatuto da Criança e do Ado-
de ser exigíveis em razão da falta de uso, ou seja, não lescente (ECA), criança é a pessoa com até 12
prescrevem. Exemplo: o fato de determinada pessoa anos de idade incompletos e adolescente é
passar grande parte de sua vida sem ter uma religião aquele entre 12 e 18 anos de idade. Já jovem é a
específica não a impede de optar por uma ou outra, pessoa com idade entre 15 e 29 anos de idade,
ou, até mesmo, por nenhuma, pois seu direito à liber- segundo o Estatuto da Juventude. Por fim, idoso
dade de crença e exercício de culto não se perde em é a pessoa que tenha completado 60 anos, em
razão do tempo. conformidade com o Estatuto do Idoso.
Verifica-se, ainda, a irrenunciabilidade como
outra característica importante, na medida em que Art. 46 É reconhecida como entidade familiar a
nenhum ser humano pode abrir mão de possuir direi- união estável entre homem e mulher e a comu-
tos fundamentais. Portanto, pode até não os utilizar nidade formada por pai, mãe ou qualquer dos
adequadamente, mas não se pode renunciar à possi- ascendentes ou descendentes.
bilidade de exercê-los.
Outra característica dos direitos fundamentais é O art. 46 é inspirado nos parágrafos 3º e 4º, do art.
a indivisibilidade desses direitos, ou seja, não existe 226, da CF, de 1988. A norma constitucional assegurou
hierarquia entre os direitos fundamentais, pois todos ampla proteção à unidade familiar, por ser esta a base
possuem o mesmo valor como direitos. Consequente- da sociedade. Observa-se que o conceito de família foi
mente, eles são indivisíveis na medida em que para a ampliado pelo próprio texto da CF, de 1988, de modo
garantia de um pressupõe a observância dos demais. a englobar no conceito de família, além da entida-
Portanto, quando um deles é violado, os outros tam- de constituída pelo casamento (civil ou religioso), a
bém o são. união estável e família monoparental.
Por fim, outra característica importante é a limi- Importa salientar que família biparental é o mode-
tabilidade, isto é, os direitos fundamentais não são lo de família constituído pelos filhos do mesmo pai
absolutos, de modo que podem ser limitados sem- e da mesma mãe. Já família monoparental é aque-
pre que houver uma hipótese de colisão de direitos la constituída por qualquer um dos pais e seu filho,
fundamentais. Da limitabilidade advém regra de que como, por exemplo, no caso de pai ou mãe divorciados
252 nenhum direito é absoluto. vivendo apenas com seus filhos ou de pais solteiros.
Atenção: embora a CE fale expressamente em Art. 49 A lei disporá sobre a criação de mecanis-
entidade constituída entre homem e mulher, é asse- mos que facilitem o trânsito e as atividades da
gurada proteção à família homoafetiva, seja esta gestante em qualquer local.
decorrente de união estável ou de casamento, em
decorrência do princípio da dignidade da pessoa O art. 49 estabelece que a proteção à gestante deve
humana. ser disciplinada por meio de lei.

Art. 47 Os filhos havidos ou não da relação de Art. 50 As pessoas jurídicas de direito público,
casamento, ou por adoção, terão os mesmos poderão receber menores de 14 a 18 anos incom-
direitos ou qualificações, proibidas quaisquer pletos, para estágio supervisionado, educativo e
profissionalizante.
designações discriminatórias relativas à filiação,
§ 1º Considera-se estágio supervisionado, educati-
garantindo o Estado o acesso gratuito aos meios ou
vo e profissionalizante, a atividade realizada sob
recursos necessários à determinação da paternida-
forma de iniciação, treinamento e encaminhamen-
de ou da maternidade.
to profissional do menor estagiário.
§ 2º À criança e ao adolescente trabalhadores,
O art. 47 decorre do princípio da igualdade. inclusive àqueles na condição de aprendiz, ficam
Importante mencionar que, antes da CF, de 1988, a assegurados todos os direitos sociais previstos na
proteção aos filhos concebidos no casamento era Constituição da República.
diferente dos gerados fora do matrimônio. É por essa
razão, por exemplo, que uma pessoa casada não pode- O art. 50 trata do estágio supervisionado promo-
ria registrar filhos havidos fora desse casamento (sen- vido pelas pessoas jurídicas de direito público, ou
do por essa razão chamados de bastardos) e que os seja, pelo Estado do Rio de Janeiro, seus Municípios,
filhos adotivos herdavam metade do valor herdado bem como suas autarquias e fundações públicas, aos
pelos filhos biológicos, entre outros exemplos. adolescentes entre 14 e 18 anos incompletos de ida-
Desse modo, assim como na CF, de 1988, a CE reco- de. Por estagiário, entende-se o estudante que com-
nhece que todos os filhos possuem os mesmos direi- plementa, por meio do trabalho, o ensino do curso
tos e as mesmas proteções. Consequentemente, não que está desenvolvendo. Assim sendo, estagiário não
deve existir distinção entre irmãos bilaterais, ou seja, é empregado e, por essa, razão não está submetido ao
nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, filhos uni- limite de idade previsto na CF, de 1988.
laterais, isto é, ligados somente por um dos genitores De acordo com a CF, de 1988, não é possível o
(pai ou mãe) e filhos adotivos. desempenho da atividade laboral aos menores de 16
A Lei Estadual nº 3.693, de 2001, e a Lei nº 12.010, anos, exceto na condição de aprendiz. Por aprendiz,
de 2009 (Lei da Adoção), estendem aos adotantes os entende-se o jovem entre 14 e 24 anos contratado por
mesmos direitos dos pais biológicos com relação às entes de cooperação governamental, como, por exem-
plo, o SENAC e SENAI, para aprender uma profissão, ou
licenças maternidade e paternidade.
seja, a formação profissional é desenvolvida no ofício.
Esse dispositivo encontra-se regulamentado pela Lei
Art. 48 Os direitos e deveres referentes à socie-
nº 1.752, de 1990, que estabelece as regras referentes aos
dade conjugal são exercidos igualmente pelo
homem e pela mulher.
estágios supervisionados em empresas estaduais.

Art. 51 A Administração punirá o abuso, a vio-


O art. 48 também decorre do direito à igualdade:
lência e a exploração, especialmente sexual,
trata-se da igualdade entre homens e mulheres. da criança, do adolescente, do idoso e também
Há de se esclarecer que os direitos das mulheres são do desvalido, sem prejuízo das sanções penais
relativamente recentes, de modo que grande parte cabíveis.
das legislações anteriores à CF, de 1988, estabeleciam Parágrafo único. A lei disporá sobre criação e o
situações diferenciadas entre homens e mulheres, funcionamento de centros de recebimento e
como, por exemplo, a necessidade de autorização encaminhamento de denúncias referentes a vio-

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


marital para que a esposa ocupasse cargo público ou lências praticadas contra crianças e adolescentes,
exercesse profissão fora do lar e o fato de o marido ser inclusive no âmbito familiar, e sobre as providên-
tido como o chefe da sociedade conjugal, competindo cias cabíveis.
a ele, entre outras funções, a administração dos bens
do casal. O art. 51 estabelece o dever do Estado de criar
Assim sendo, o dispositivo foi direcionado tanto mecanismos para coibir a violência no âmbito das
relações familiares. Trata-se do dever de assistência e
ao legislador, para que corrigisse tais desigualdades
proteção contra abusos, violência e exploração prati-
legais, como aos operadores do direito, para que não
cados contra crianças, adolescentes, idosos e pessoas
fossem mais estabelecidos critérios discriminatórios.
desamparadas ou indefesas.
Existem dois tipos de igualdade: a formal e a mate-
Em âmbito estadual, o atendimento às vítimas de
rial. A igualdade formal consiste em tratar a todos de
violência sexual e o atendimento hospitalar diferen-
maneira igual, independentemente de qualquer con-
ciado multidisciplinar às crianças e mulheres vítimas
dição. Já a igualdade material busca a igualdade de de violência em geral é disciplinado pela Lei nº 4.158,
fato para que todos tenham os mesmos direitos e obri- de 2003.
gações. Trata-se, portanto, da igualdade efetiva, real,
concreta ou situada. Assim, a igualdade consiste em Art. 52 Serão elaborados programas de preven-
tratar igualmente os iguais, com os mesmos direitos ção e atendimento especializado à criança e
e obrigações, e desigualmente os desiguais, na medi- ao adolescente dependente de entorpecentes e
da de sua desigualdade. drogas afins. 253
O art. 52 trata do dever do Estado do Rio de Janeiro A CE coloca a obrigatoriedade de criação da vara
de elaborar programa de prevenção e atendimento especializada apenas para as comarcas de mais de
especializado às crianças e aos adolescentes usuários duzentos mil habitantes. Nas demais, o atendimento
de drogas. Por essa razão, foi editada a Lei Estadual é feito pelas varas locais.
nº 4.074, de 2003, estabelecendo os meios de preven-
ção, de tratamento e os direitos fundamentais dos Art. 56 O acesso ao crédito público somente se
usuários de drogas. É importante mencionar que a permitirá a pessoas jurídicas que comprovarem
Lei Estadual nº 4.074, de 2003, trata dos usuários de prestar assistência, através de creche, aos
entorpecentes e drogas afins de um modo geral, não filhos dos seus trabalhadores, atendidos os
se limitando apenas às crianças e adolescentes. requisitos da lei.

Art. 53 É vedada ao Poder Público a transferên- Com relação ao art. 56 da CE, cabem algumas
cia compulsória, para outros Estados e Muni- observações. O inciso XXV, do art. 7º, da CF, de 1988,
cípios que não o de sua origem, de crianças e traz como direito do trabalhador a assistência em cre-
adolescentes atendidos direta ou indiretamente
che e pré-escola aos seus filhos ou dependentes desde
por instituições oficiais, visando garantir a uni-
o nascimento até os 5 anos. Além disso, o art. 208 da
dade familiar.
CF, de 1988, estabelece como dever do Estado o ensino
infantil em creche (de zero a 3 anos) e pré-escola (de 4
O art. 53 trata do direito de permanência da
criança e adolescente na sua família de origem até os 5 anos de idade).
(família natural). Assim, as instituições oficiais, tais Com a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, o pri-
como de saúde e educação, deverão mantê-los próxi- meiro ano do Ensino Fundamental passou a ser cursa-
mos a sua entidade familiar para atenção e cuidado. do a partir dos 6 anos de idade. É por essa razão que o
Para tanto, é proibida a sua transferência compulsó- auxílio creche ou auxílio pré-escola é devido até os 5
ria para outros locais que não o de sua origem. Desse anos (cessa ao completar 6 anos, quando a criança já
dispositivo decorre, por exemplo, o direito de acesso pode frequentar a escola).
e permanência em escolas, de modo a assegurar que Por conseguinte, com o objetivo de implementar a
o aluno ingresse na escola sem distinção de qualquer norma constitucional, a CE estabelece crédito públi-
natureza, bem como nela permaneça. Consequente- co às empresas que fornecerem creche aos filhos de
mente, não se admite a exclusão da escola, por exem- seus funcionários.
plo, do aluno indisciplinado.
Art. 57 À criança e ao adolescente é garantido o
Art. 54 Cabe ao Poder Público estimular, através pleno e formal conhecimento de infração que
de assistência jurídica e incentivos fiscais, o lhes seja atribuída e a ampla defesa por profissio-
acolhimento de crianças ou adolescentes, sob a nais habilitados, na forma da lei.
forma de guarda, feito por pessoa física.
O art. 57 decorre de uma das proteções especiais
O art. 54 decorre de uma das proteções especiais trazidas pelo § 3º, do art. 227, da CF, de 1988. Trata-
trazidas pelo § 3º, do art. 227, da CF, de 1988. Assim, -se, também, de um dos desdobramentos do direito à
é dever da Administração Pública estimular o aco- segurança, por envolver as garantias processuais do
lhimento de crianças e adolescentes em famílias contraditório e da ampla defesa.
substitutas. Tal estímulo é feito por meio de incen- O princípio do contraditório e da ampla defesa
tivos fiscais e subsídios, bem como por meio de assis- objetiva garantir a igualdade das partes de uma rela-
tência jurídica. ção processual, uma vez que assegura à parte contrá-
Para que haja o acolhimento, o instituto utilizado é ria o direito de ser ouvida (audiatur et altera pars),
o da guarda, uma vez que a criança ou o adolescente pois não podem ser atribuídas a uma parte vantagens
são colocados em família substituta após os pais terem de que a outra não disponha. Como consequência, as
sido suspensos ou destituídos do poder familiar, ou
partes têm acesso a tudo que consta dos autos, como,
como meio preparatório para outros dois institutos: a
por exemplo, todas as provas produzidas pela outra
tutela (cuja finalidade é suprir a ausência dos genito-
parte, podendo se manifestar ou não. Além disso, a
res no caso de falecimento, declaração de ausência ou
defesa pode ser exercida de forma ampla (por exem-
quando estes decaíram do poder familiar) ou adoção
plo: é possível ao indivíduo optar pela autodefesa,
(medida excepcional e irrevogável em que a criança
ou adolescente passam a ter nova filiação adotiva). quando permitido, ou pela defesa técnica). Assim, a
ampla defesa garante ao agente a possibilidade de se
defender sem qualquer impedimento aos seus direi-
Dica tos constitucionais.
O ECA disciplina a colocação em família substi-
tuta em seus arts. 28 e seguintes. Art. 58 A família ou entidade familiar será sempre
o espaço preferencial para o atendimento da
Art. 55 Às crianças e aos adolescentes assegurar- criança, do adolescente e do idoso.
-se-á direito a juizado de proteção, com especia-
lização e competência exclusiva, nas comarcas De acordo com o art. 58, o sistema de garantia e
de mais de duzentos mil habitantes. direitos de crianças, adolescentes e idosos deve partir
da família, entendida esta em todos os seus conceitos,
O art. 55 decorre dos arts. 145 e seguintes do ECA, uma vez que é a família a base da sociedade.
que tratam da Justiça da Infância e da Juventude,
ou seja, de uma justiça especializada responsável por Art. 59 O Estado eliminará, progressivamente, à
cuidar de todos os casos que envolvam adoção, vagas medida que criar meios adequados que os substi-
em creches, julgamento de todos os atos infracionais, tuam, o sistema de internato para as crianças
254 entre outros. e adolescentes carentes.
Antes da edição do ECA, a legislação que discipli- Art. 62 O Estado garantirá na forma da lei a parti-
nava as crianças e adolescentes era o Código de Meno- cipação de entidades de defesa dos direitos da
res. Nele, existia a ideia de que as famílias carentes criança, do adolescente e do idoso na fiscaliza-
não dispunham de condições para cuidar de seus ção do cumprimento dos dispositivos previstos nes-
te capítulo, através da organização de Conselhos de
filhos, razão pela qual estes deveriam ser entregues Defesa dos seus direitos.
aos cuidados do Estado. Por esse motivo, existiam ins-
tituições chamadas de orfanatos, reformatórios, inter- Por fim, o art. 62 estabelece que o Sistema de
natos ou educandários, que eram caracterizadas por Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente
esse acolhimento. Muitas vezes, crianças possuíam constitui-se em uma rede formada pelos órgãos e ser-
pai e mãe, mas eram impossibilitadas de conviver viços governamentais e não governamentais.
com suas famílias em razão de suas condições econô-
micas. Ao ingressarem nessas instituições, entendia- DA SEGURANÇA PÚBLICA
-se que essas crianças necessitavam ser “reformadas”
por meio de rotina e educação rígidas. Com o advento Para traçar as regras mais importantes e a estrutu-
do ECA, as regras para o acolhimento de crianças e ra funcional da segurança pública no Estado do Rio de
adolescentes foram modificadas, passando a se pauta- Janeiro, a CE estabeleceu o Título V, que compreende
rem no cuidado e na garantia de direitos desses seres os arts. 183 a 191.
em desenvolvimento. Como consequência, o art. 59 da Cumpre esclarecer que na CF, de 1988, a prestação
CE trata da substituição e eliminação desse sistema. da segurança pública está prevista no art. 144, sendo
um dos deveres do Estado brasileiro. Por essa razão, a
Art. 60 Em caso de conduta anti-social, a criança Constituição Federal disciplina os órgãos encarrega-
e o adolescente deverão ser conduzidos a órgão dos de preservação da ordem pública e da incolumi-
especializado, que conte com a permanente assis- dade das pessoas e do patrimônio, que são:
tência de psicólogo e assistente social, atendo-
-se sempre à sua peculiar condição de pessoa em z Polícia Federal;
desenvolvimento, garantida a convocação imediata z Polícia Rodoviária Federal;
dos pais ou responsáveis, se houve, e, na falta des- z Polícia Ferroviária Federal;
tes, a notificação do Conselho Estadual de Defe- z Polícias Civis;
sa da Criança e do Adolescente. z Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares;
z Polícias Penais federal, estaduais e distrital.
O art. 60 decorre do Sistema de Garantia dos Direi-
tos da Criança e do Adolescente. Trata-se do direito de Assim, repetindo a norma constituicional, o art.
passar por um órgão especializado que disponha de 183 dispõe:
condições de ampará-las tanto psicologicamente como
Art. 183 A segurança pública, que inclui a vigi-
socialmente. Observa-se que a CE não conceitua nem
lância intramuros nos estabelecimentos penais,
exemplifica o que se entende por conduta anti-social. dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem
Dica pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, pelos seguintes órgãos estaduais:
O Conselho Estadual de Defesa da Criança e do I - Polícia Civil;
Adolescente (CEDCA/RJ) foi criado pela Lei nº II - Polícia Penal;
1.697, de 1990. Trata-se de um órgão normativo, III - Polícia Militar;
IV - Corpo de Bombeiros Militar.
consultivo, deliberativo, fiscalizador e formula- V - Departamento Geral de Ações Socioeducativas.
dor das políticas públicas de promoção e defesa
dos direitos da criança e do adolescente no Esta-
do do Rio de Janeiro. Importante!
Art. 61 A família, a sociedade e o Estado têm o A expressão “que inclui a vigilância intramuros
nos estabelecimentos penais”, presente no art.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
dever de amparar as pessoas idosas, assegu-
rando-lhes participação na comunidade, defen- 183, foi declarada inconstitucional pelo STF na
dendo-lhes a dignidade e o bem-estar, garantido o ADIN - 236-8/600, de 1990, por ser incompatível
direito à vida. com o art. 144, da CF/88.
Parágrafo único. Lei disporá sobre programas de
atendimento aos idosos, executados preferencial-
mente em seus lares, referentes à integração fami- Observa-se que, se no âmbito federal são seis os
liar e comunitária, saúde, habitação e lazer. órgãos de Segurança Pública, no âmbito estadual, a
CE faz menção a três dos órgãos constitucionais, ou
O art. 61 repete o art. 230, da CF, sendo decorren- seja, a Polícia Civil, a Polícia Militar e Corpo de Bom-
beiro Militar e a Polícia Penal (incisos I, II, III e IV, do
te dos princípios da solidariedade e proteção à
art. 183, da CE) e acrescenta o Departamento Geral de
família. Assim, é obrigação tanto da família quanto
Ações Socioeducativas.
da sociedade e do Estado garantir o envelhecimento,
Em termos gerais, enquanto compete à Polícia Civil
que é um direito personalíssimo de todas as pessoas. exercer as funções de polícia judiciária e a apuração
Como consequência, deve-se garantir a essas pessoas de infrações penais, exceto as infrações militares, ou
os direitos à vida, saúde, dignidade, participação e seja, investigar as infrações penais (crime e contra-
bem-estar, por meio de políticas públicas que permi- venções) após a sua ocorrência, cabe à Polícia Militar
tam o seu envelhecimento saúdavel e com dignidade. a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública,
É por essa razão que o programa de amparo ao idoso isto é, atuar preventivamente (por isso, a denominação
deve ser executado, de preferência, em seu lar. “ostensiva”) para que as infrações penais não ocorram. 255
Já aos Corpos de Bombeiros Militares compete O parágrafo 6º autoriza a criação do Fundo Esta-
a execução de atividades de defesa civil, e à Polícia dual de Investimentos e Ações de Segurança Pública e
Penal, antigamente denominada de Polícia Peniten- Desenvolvimento Social por meio de lei complemen-
ciária, incumbe a segurança dos estabelecimentos tar. O Fundo tem como finalidade apoiar os programas
penais. e projetos na área de segurança pública, de prevenção
à violência e desenvolvimento social. O Fundo Esta-
§ 1º Os municípios poderão constituir guardas dual de Investimentos e Ações de Segurança Pública
municipais destinadas à proteção de seus bens, e Desenvolvimento Social (FISED) foi criado por meio
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. da Lei Complementar nº 178, de 2017.

§ 7º Constituirá recurso para o fundo de que tra-


O parágrafo 1º estabelece a faculdade dos Municí-
ta o § 6° deste artigo, entre outros, 5% (cinco por
pios de constituir guardas municipais com o objetivo cento) da compensação financeira a que se refere o
de proteger seus bens, serviços e instalações, confor- art. 20, § 1°, da Constituição Federal, calculados na
me disposição legal. Trata-se, portanto, de atividade forma da lei complementar, a que faz jus o Estado
complementar que não faz parte do rol dos órgãos do Rio de Janeiro, quando se tratar de petróleo e
responsáveis pela segurança pública do Estado do Rio gás extraído da camada do pré-sal.
de Janeiro, ou seja, a guarda municipal não é órgão de
segurança pública. O parágrafo 7º trata do custeio do FISED. De acor-
do com o dispositivo, uma de suas formas de recursos
§ 2º Os órgãos de segurança pública serão é a utilização de 5% (cinco por cento) da compensação
assessorados pelo Conselho Comunitário de financeira na participação no resultado da exploração
Defesa Social, estruturado na forma da lei, guar- de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para
dando-se a proporcionalidade relativa à respectiva fins de geração de energia elétrica e de outros recur-
representação. sos minerais no respectivo território, plataforma con-
tinental, mar territorial ou zona econômica exclusiva
a que faz jus o Estado do Rio de Janeiro, quando se tra-
O parágrafo 2º traz a preocupação do legislador
tar de petróleo e gás extraído da camada do pré-sal. A
constituinte estadual de que haja um controle social, Lei Complementar nº 178, de 2017, elenca outras for-
ou seja, a participação da comunidade nas decisões mas de custeio do FISED.
tomadas pelos órgãos de segurança pública. A partici-
pação popular na elaboração das políticas de seguran- § 8º O preenchimento do quadro de servidores
ça pública é um dos meios de garantir a promoção e a de polícia penal será feito por meio da transfor-
efetividade dos direitos humanos. mação dos cargos atuais inspetores de seguran-
ça e administração penitenciária em policiais
§ 3º Os membros do Conselho referido no pará- penais e, também, por meio de concurso público.
grafo anterior serão nomeados pelo Governa-
dor do Estado, após indicação pelos órgãos e Como a Polícia Penal foi criada apenas em 2019, o
entidades diretamente envolvidos na prevenção parágrafo 8º traz uma regra de transição a respeito do
e combate à criminalidade, bem como pelas insti- preenchimento de seu quadro. Trata-se do aproveita-
tuições representativas da sociedade, sem qual- mento dos inspetores de segurança e administração
quer ônus para o erário ou vínculo com o serviço penitenciária, cujos cargos foram extintos.
público.

Conforme mencionado, o Conselho Comunitário de Importante!


Defesa Social reflete a participação popular na Admi- Aproveitamento é uma das formas de provimen-
nistração estadual. Se sua função é prestar assessoria to derivado por reingresso em que o servidor
aos órgãos de segurança pública do Estado do Rio de público que foi posto em disponibilidade em
Janeiro, por decorrer do direito à gestão democrática, razão da extinção ou da declaração de desne-
o Conselho, que é estruturado por lei, deve guardar cessidade do seu cargo retorna à atividade ao
a proporcionalidade relativa à respectiva represen- ser aproveitado em cargo de atribuições e venci-
tação. Assim, seus membros serão nomeados pelo mentos compatíveis.
Governador do Estado após a indicação dos órgãos
e entidades diretamente envolvidos na prevenção e
combate à criminalidade, bem como das instituições O parágrafo 8º traz, ainda, a regra a ser utilizada
representativas da sociedade, sem qualquer ônus para o recrutamento dos novos integrantes da Polícia
Penal, ou seja, por meio de concurso público.
para o erário ou vínculo com o serviço público.
Os parágrafos 4º e 5º foram declarados inconstitu-
§ 9º A lei definirá a estrutura da polícia penal e seus
cionais pelo STF nas ADINs nº 244-9/600 e 3.644/600. quadros.
Portanto, não os abordaremos aqui.
O parágrafo 9º estabelece que a Polícia Penal
§ 6° Fica autorizada a criação, na forma da lei será disciplinada por lei, conforme será analisado
complementar, do Fundo Estadual de Investi- posteriormente.
mentos e ações de Segurança Pública e Desen-
volvimento Social, destinado à implementação Art. 184 A Polícia Militar e o Corpo de Bom-
de programas e projetos nas áreas de seguran- beiros Militar, forças auxiliares e reserva do
ça pública e de desenvolvimento social a ela Exército, subordinam-se, com a Polícia Civil e a
256 associadas. Polícia Penal, ao Governador do Estado.
O art. 184 traz a regra de que os órgãos de segu- O art. 187 estabelece a possibilidade de desenvol-
rança pública estadual se encontram subordinados ao vimento de pesquisa e investigação científica voltadas
Governador do Estado do Rio de Janeiro. Assim, com- para a especialização e o aprimoramento das polícias
pete ao Governador prover, por exemplo, os cargos da (civis, penais e militares e Corpo de Bombeiros Mili-
estrutura administrativa de cada órgão. tar) por meio de convênio com as universidades.
Além disso, o dispositivo estabelece que a Polícia
Art. 188 À Polícia Civil, dirigida por Delegados
Militar e o Corpo de Bombeiro Militar são considera-
de Polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
dos como força auxiliar e reserva do Exército, o que
competência da União, as funções de Polícia Judi-
significa dizer que podem ser empregados em missões ciária e a apuração das infrações penais, exce-
de natureza estritamente militar nas situações que to as militares.
imponham a necessidade de mobilização e convo-
cação das instituições militares estaduais em auxílio O art. 188, da CE, trata da Polícia Civil. A Polícia
das Forças Armadas, como, por exemplo, nos casos de Civil, que é uma instituição permanente e auxiliar da
estado de sítio ou de defesa. função jurisdicional do Estado, tem como atribuição
exercer as funções de polícia judiciária e a apuração
Art. 185 O exercício da função policial é priva- de infrações penais, exceto as militares. Portanto,
tivo do policial de carreira, recrutado exclusi- cabe a ela a investigação das infrações penais (crime e
vamente por concurso público de provas ou de contravenções) e a repressão do crime.
provas e títulos, submetido a curso de formação A Polícia Civil é dirigida por Delegados de Polícia de
policial. carreira, ou seja, por aquele que ingressou mediante
Parágrafo único. Os integrantes dos serviços poli- concurso público de provas ou provas e títulos, que foi
ciais serão reavaliados periodicamente, afe- nomeado, tomou posse e entrou em exercício do cargo, de
rindo-se suas condições físicas e mentais para o forma a poder ascender a todas as promoções possíveis.
exercício do cargo, na forma da lei.
Art. 188 [...]
O art. 185, da CE, estabelece a necessidade de rea- § 1º A carreira de Delegado de Polícia faz parte
da carreira única da polícia civil, dependendo o
lização de concurso público de provas ou de provas e
respectivo ingresso de classificação em concurso
títulos para ingresso nas carreiras de segurança públi- público de provas e títulos e, por ascensão, sendo
ca estadual, frisando, ainda, que a função policial é que metade das vagas será reservada para cada
privativa de policial de carreira, ou seja, daquele que uma dessas formas de provimento, podendo ser
foi aprovado em exame de seleção e posteriormente aproveitadas para concurso público as vagas que
nomeado para o cargo, tendo tomado posse e entrado não forem preenchidas pelo instituto de ascensão.
em seu exercício. § 2º Aos delegados de polícia de carreira aplica-se
Quando a CE fala da necessidade de concurso o princípio de isonomia de vencimentos previsto no
público de provas ou provas e títulos, a intenção é artigo 82, § 1º, correspondente às carreiras discipli-
vedar o ingresso por meio de concurso público ape- nadas no artigo 182, ambos desta Constituição, na
forma do artigo 241 da Constituição da República.
nas de títulos, como no caso de análise de currículo de
candidato, ou a nomeação sem a aprovação em exame
O parágrafo 1º foi declarado inconstitucional pelo
de seleção. STF na ADIN nº 245-7, de 1990 e o parágrafo 2º foi
Além disso, o dispositivo fixa a obrigatoriedade de declarado inconstitucional pelo STF na ADIN nº 138-
reavaliação periódica das condições físicas e mentais 8/600, de 1989. Portanto, não se preocupe com eles.
para o exercício do cargo dos integrantes dos órgãos
de segurança pública, como, por exemplo, com exa- Art. 188-A A Polícia Penal é instituição permanen-
mes de aptidão física e inspeção médica anuais. te e vinculada ao órgão administrador do Sistema
Penal, com atribuições de segurança, vigilância
Art. 186 Para atuar em colaboração com orga- e custódia dos estabelecimentos penais do Esta-
nismos federais, deles recebendo assistência téc- do do Rio de Janeiro, fixadas em lei complementar
nica, operacional e financeira, poderá ser criado de iniciativa do Poder Executivo.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


órgão especializado para prevenir e reprimir o trá- § 1º A Polícia Penal será dirigida, exclusivamente,
fico e a facilitação do uso de entorpecentes e por policial penal de carreira de último nível,
tóxicos. nomeado pelo Governador do Estado, dentre os
policiais penais do Estado do Rio de Janeiro.
§ 2º A Escola de Gestão Penitenciária será trans-
O art. 186 traz como possibilidade de colaboração
formada em Academia Especializada de Polícia
com organismos federais a criação de órgão especiali- Penal e deverá ser dirigida, a partir de 31/12/2022,
zado para prevenir e reprimir o tráfico e a facilitação por policial penal de carreira nomeado pelo Secre-
do uso de entorpecentes e tóxicos. Atenção: trata-se tário do órgão administrador do Sistema Penal, a
de atividade de colaboração e não de novo órgão de qual compete a formação e aperfeiçoamento dos
segurança pública, ou seja, forma de especializar o policiais penais do Estado do Rio de Janeiro.
serviço prestado para auxiliar de melhor maneira na
prevenção e repressão do tráfico de drogas. O art. 188-A foi acrescentado à CE por meio da
Emenda Constitucional nº 77, de 2020. Nos termos
Art. 187 A pesquisa e a investigação científica do dispositivo, a Polícia Penal encontra-se vinculada
aplicadas, a especialização e o aprimoramento de ao órgão administrativo do Sistema Penal fluminen-
policiais civis, penais e militares e dos inte- se, competindo-lhe a segurança dos estabelecimentos
grantes do Corpo de Bombeiros Militar serão penais. Suas regras devem ser fixadas por meio de lei
orientados para contar com a cooperação das complementar, cuja iniciativa para elaboração do pro-
universidades, por intermédio de convênio. jeto de lei compete exclusivamente ao Governador. 257
No que tange à direção da Polícia Penal, esta com- Dica
pete ao policial penal do último nível da carreira, ou
seja, por aquele que ingressou mediante concurso O parágrafo 3º foi declarado inconstitucional
público de provas ou provas e títulos, foi nomeado e pelo STF na ADIN nº 237-6/600, de 1989. Portan-
ascendeu por meio de todas as promoções possíveis to, não se preocupe com ele.
até o nível máximo da carreira.
O dispositivo estabelece a transformação da Esco- Art. 190 Na divulgação pelas entidades policiais aos
la de Gestão Penitenciária em Academia Especializa- órgãos de comunicação social dos fatos pertinentes
da de Polícia Penal, estabelecendo que, a partir de 31 à apuração das infrações penais é assegurada a
de dezembro de 2022, sua direção compete a policial preservação da intimidade, da vida privada, da
penal de carreira nomeado pelo Secretário do órgão honra e da imagem das vítimas envolvidas por
administrador do Sistema Penal. aqueles fatos, bem como das testemunhas destes.

Art.188-B A Lei Orgânica da Polícia Penal dis- O art. 190 estabelece como forma de assegurar
porá sobre: a intimidade, vida privada, honra e imagem dos
I - estrutura, organização, funcionamento, carrei- envolvidos no crime, que a divulgação destes fatos
ra, formação, direitos e deveres, proibições e pro- e dos dados sejam feitos de modo a preservar tanto a
cesso disciplinar; vítima como as testemunhas do delito.
II - atribuições de segurança dos estabelecimentos
penais, fiscalização de medidas alternativas à pena Art. 191 Ao abordar qualquer cidadão no cum-
de prisão e outras correlatas ao sistema penal; primento de suas funções, o servidor policial
III - o Conselho de Polícia Penal e a Corregedoria de deverá, em primeiro lugar, identificar-se pelo
Polícia Penal. nome, cargo, posto ou graduação e indicar o órgão
onde esteja lotado.
O art. 188-B, que também foi acrescentado à CE por
meio da Emenda Constitucional nº 77, de 2020, esta- Por fim, o art. 191 impõe ao servidor policial o
belece quais as regras que devem obrigatoriamente dever de se identificar quando realizar qualquer
constar da Lei Orgânica da Polícia Penal. abordagem no cumprimento de suas funções. A fina-
lidade do dispositivo é evitar abusos de policiais no
Art. 189 Cabem à Polícia Militar a polícia osten-
exercício de sua atividade.
siva e a preservação da ordem pública; ao Cor-
po de Bombeiros Militar, além das atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades DA ORDEM SOCIAL
de defesa civil.
§ 1º A lei disporá sobre os limites de competência Bases e Objetivos da Ordem Social
dos órgãos policiais mencionados no caput deste
artigo. O Título VIII da CE trata da Ordem Social. Nele, são
§ 2º As corporações militares do Estado serão encontradas as disposições relativas à Seguridade
comandadas por oficial combatente da ativa, Social e aos Índios. Acompanhe o seu estudo detalha-
do último posto dos respectivos quadros, salvo no do a seguir. Vejamos o que diz o art. 283 da Constitui-
caso de mobilização nacional. ção Estadual do Rio de Janeiro:
§ 3º É assegurada aos servidores militares esta-
duais isonomia de vencimentos com os servidores Art. 283 A ordem social tem como base o primado do
militares federais. trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.

As regras atinentes a Polícia Militar e Corpo de DA SEGURIDADE SOCIAL


Bombeiro Militar encontram-se no art. 189, da CE. A
Polícia Militar é instituição permanente estruturada A Seguridade Social está disciplinada no segundo
nos ditames da hierarquia e disciplina. A ela compete capítulo da Ordem Social, englobando os arts. 284 a
a polícia ostensiva e a preservação da ordem públi- 305, da CE. Trata-se de um direito fundamental que
ca. O comando da Polícia Militar fluminense cabe ao decorre do dever do Estado de garantir direitos de
Comandante-Geral da Polícia Militar, escolhido pelo oportunidade iguais aos indivíduos por meio de polí-
Governador entre os oficiais da ativa do quadro de ticas públicas.
combatentes e no último posto (Coronel). Assim, o Poder Público assegura aos indivíduos
Em contrapartida, ao Corpo de Bombeiros Militar um sistema de assistência e proteção econômica em
compete a execução da defesa civil, como, por exem- determinados momentos, tais como incapacidade
plo, a prevenção e combate de incêndio, além de temporária ou definitiva, velhice, maternidade, entre
outras atividades. Trata-se, também, de força auxiliar, outros, ou seja, um programa de proteção social para
reserva do Estado e instituição permanente baseada amparar as pessoas em determinados eventos, com
na hierarquia e disciplina, assim como ocorre com o objetivo de garantir as condições indispensáveis a
a Polícia Militar. O comando do Corpo de Bombeiros uma vida com dignidade. Vejamos os dispositivos:
Militar do Rio de Janeiro compete ao Comandante-
-Geral do Corpo de Bombeiros Militar, escolhido pelo Art. 284 O Estado e os Municípios, com a União,
Governador entre os oficiais na ativa do quadro de integram um conjunto de ações e iniciativas dos
combatentes e no último posto (Coronel). Poderes Públicos e da sociedade, destinado a asse-
O dispositivo estabelece, também, que lei deverá gurar os direitos relativos à saúde, à previdên-
disciplinar os limites de competência dos órgãos cia e assistência sociais, de conformidade com as
258 policiais. disposições da Constituição da República e das leis.
A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da socie-
dade com objetivo de assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. O quadro a
seguir sistematiza como esses três assuntos aparecem na CE:

PREVIDÊNCIA SOCIAL SAÚDE ASSISTÊNCIA SOCIAL


Arts. 284 a 286, CE Arts. 287 a 304, CE Art. 305, CE
Direito de quem contribui Direito de todos e dever do Estado Prestada a quem necessita
Sistema contributivo Sistema não contributivo Sistema não contributivo

§ 1º As receitas do Estado e dos Municípios, destinados a seguridade social, constarão dos respectivos
orçamentos.

O parágrafo 1º estabelece que as receitas para o custeio da Seguridade Social no âmbito estadual e municipal
devem constar na lei orçamentária.

§ 2º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na adminis-


tração pública e na atividade privada, rural e urbana, inclusive na condição de autônomo, hipótese em que
os diversos sistemas de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.

O parágrafo 2º traz a possibilidade de utilização do tempo de contribuição de um regime previdenciário


em outro regime. Exemplo: uma pessoa que trabalhou na iniciativa privada e, portanto, foi vinculada ao Regime
Geral (INSS) e depois ingressou como servidor público estadual e passou a ser vinculada à um Regime Próprio
pode realizar a contagem desses dois tempos para obtenção da aposentadoria.

SISTEMA PREVIDENCIÁRIO
Regime Público Regime Privado
Regime Geral da Previ- Regime Próprio da Previdên- Regime Próprio da Previ-
Previdência Complementar
dência Social cia Social dos Servidores Civis dência Social dos Militares

Art. 285 Será garantida pensão por morte de servidor, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes.
Parágrafo único. A pensão mínima a ser paga aos pensionistas do Instituto de Previdência do Estado do Rio de Janei-
ro - IPERJ, não poderá ser de valor inferior ao de 1 (um) salário mínimo.

O art. 285 trata da pensão por morte do servidor público, que é gerenciada pelo Instituto de Previdência do
Estado do Rio de Janeiro (IPERJ), e que não pode ter valor inferior a um salário mínimo.

Art. 286 É facultado ao servidor público que não tenha cônjuge, companheiro ou dependente, legar a pensão por
morte a beneficiários de sua indicação, respeitadas as condições e a faixa etária previstas em lei para a concessão
do benefício a dependentes.

Dica
O art. 286 foi declarado inconstitucional pelo STF na ADIN nº 240-6/600, de 1990. Portanto, não se preocupe
com ele.

Art. 287 A saúde é direito de todos e dever do Estado, assegurada mediante políticas sociais, econômicas e NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
ambientais que visem a prevenção de doenças físicas e mentais, e outros agravos, o acesso universal e igualitário
às ações de saúde e a soberana liberdade de escolha dos serviços, quando esses constituírem ou complementarem
o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, guardada a regionalização para sua promoção, proteção e
recuperação.

O art. 287, da CE, é inspirado no art. 196 da CF, de 1988, de modo a colocar a saúde como um direito de todas
as pessoas e uma obrigação do Estado, sendo assegurada por meio de ações que visem a redução dos riscos de
doença e seus agravamentos. Cumpre mencionar que o acesso a esses programas de Saúde Pública devem, neces-
sariamente, seguir os princípios da igualdade e universalidade do atendimento.

Art. 288 As ações e serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da
lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita com prioridade, diretamente
ou através de terceiros, preferencialmente por entidades filantrópicas e, também, por pessoa física ou jurídica de
direito privado.

Do art. 197, da CF, de 1988, advém o art. 288, da CE, que reflete a importância das ações e dos serviços de
saúde. 259
Art. 289 As ações e serviços públicos de saúde inte- § 2º Aos serviços de saúde de natureza privada, que
gram uma rede regionalizada e hierarquizada descumpram as diretrizes do sistema único de saú-
e constituem um sistema único de saúde, de acor- de, ou os termos previstos nos contratos firmados
do com as seguintes diretrizes: com o Poder Público, aplicar-se-ão as sanções pre-
I - integração das ações e serviços de saúde dos vistas em lei.
Municípios ao Sistema Único de Saúde; § 3º É vedada a participação direta ou indireta de
II - descentralização político-administrativa, empresas estrangeiras ou de empresas brasileiras
com direção única em cada nível, respeitada a de capital estrangeiro na assistência à saúde no
autonomia municipal, garantindo-se os recursos Estado, salvo nos casos previstos em lei.
necessários; § 4º É vedada a destinação de recursos públicos
III - atendimento integral, universal e igualitário, para auxílios ou subvenções às instituições priva-
com acesso a todos os níveis dos serviços de saú- das com fins lucrativos.
de da população urbana e rural, contemplando
as ações de promoção, proteção e recuperação de O art. 291 reproduz o art. 199, da CF, de 1988, para
saúde individual e coletiva, com prioridade para as
disciplinar a participação da iniciativa privada nas
atividades preventivas e de atendimento de emer-
ações do SUS. Atenção: essas ações complementam as
gência e urgência, sem prejuízo dos demais serviços
assistenciais;
atividades do SUS, e não o substituem. Exemplo: pes-
IV - participação na elaboração e controle das soa que, necessitando de atendimento especializado, é
políticas e ações de saúde de membros de entida- atendida em um hospital ou clínica particular, porém
des representativas de usuários e de profissionais tal atendimento é custeado pelo SUS (pago com recur-
de saúde, através de conselho estadual de saú- sos públicos).
de, deliberativo e paritário, estruturado por lei
complementar; Dica
V - municipalização dos recursos, tendo como parâ-
metros o perfil epidemiológico e demográfico, e a Em geral, a participação do setor privado no SUS
necessidade de implantação, expansão e manuten- ocorre por meio de chamada pública ou creden-
ção dos serviços de saúde de cada Município; ciamento, ou seja, por meio de contratações de
VI - elaboração e atualização periódicas do Pla- serviços.
no Estadual de Saúde, em termos de prioridade e
estratégias regionais, em consonância com o Plano
Art. 292 O sistema único de saúde será finan-
Nacional de Saúde e de acordo com as diretrizes do
ciado com recursos do orçamento do Estado,
conselho estadual;
da seguridade social, da União e dos Municípios,
VII - outras, que venham a ser adotadas em legisla-
ção complementar. garantidos a destinação de 25% (vinte e cinco por
cento) dos recursos provenientes dos royalties de
petróleo, quando oriundos da produção realizada
Assim como ocorre na CF, de 1988, a CE não se limi- no horizonte geológico denominado pré-sal, decor-
tou apenas a estabelecer a criação de uma estrutura rentes de áreas cuja declaração de comercialidade
organizacional para garantir o direito à saúde. Assim, tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012,
o art. 289 estabeleceu como seria a atuação desse além de outras fontes.
órgão e quais seriam os objetivos a atingir. Parágrafo único. Os recursos financeiros do sistema
Observa-se do dispositivo que há a expressão “rede de saúde serão administrados, em cada esfera, por
regionalizada e hierarquizada”, cujo objetivo é reme- fundos de natureza contábil, criados na forma da lei.
ter à descentralização do poder de decidir sobre o pla-
nejamento e a atuação nas ações e serviços de saúde, O art. 292 trata do financiamento do SUS, ou seja,
bem como a divisão simultânea de responsabilidades de como são obtidos os recursos financeiros para que
aos entes da federação. ele possa desempenhar as suas funções.
O artigo traça, ainda, as diretrizes que devem ser
seguidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 293 Ao sistema único de saúde compete,
além de outras atribuições estabelecidas na Lei
Art. 290 É assegurada, na área de saúde, a liberda- Orgânica da Saúde:
de de exercício profissional e de organização I - ordenar a formação de recursos humanos na
de serviços privados, na forma da lei, de acordo área de saúde, bem como a capacitação técnica e
com os princípios da política nacional de saúde e reciclagem permanente;
das normas gerais estabelecidas pelo conselho II - garantir aos profissionais da área de saúde um
estadual de saúde. plano de cargos e salários único, o estímulo ao regi-
me de tempo integral e condições adequadas de tra-
O art. 290 decorre do direito fundamental à balho em todos os níveis;
liberdade para assegurar a liberdade do exercício III - promover o desenvolvimento de novas tecno-
profissional daqueles que desempenham funções da logias e a produção de medicamentos, matérias-
área de saúde. -primas, insumos imunobiológicos e contraceptivos
de barreira por laboratórios oficias do Estado,
Art. 291 As instituições privadas poderão par- abrangendo também a homeopatia, a acupuntura,
ticipar de forma complementar do sistema a fitoterapia e outras práticas de comprovada base
único de saúde, mediante o contrato de direito científica, que serão adotadas pela rede oficial de
público ou convênio, tendo preferência as entidades assistência à população;
filantrópicas e as sem fins lucrativos. IV - criar e implantar sistema estadual público de
§ 1º A decisão sobre a contratação de serviços pri- sangue, componentes e derivados, para garantir a
vados deverá ser precedida de audiência dos conse- auto-suficiência do Estado no setor, assegurando a
lhos municipais de saúde, quando de abrangência preservação da saúde do doador e do receptor de
municipal, e do conselho estadual de saúde, quando sangue, bem como a manutenção de laboratórios e
260 de abrangência estadual. hemocentros regionais;
V - dispor sobre a fiscalização e normatização da XIV - implantar política de atendimento à saú-
remoção de órgãos, tecidos e substâncias, para fins de das pessoas consideradas doentes mentais, de
de transplantes, pesquisa, especialmente sobre a forma a garantir-lhes autonomia, inclusão social
reprodução humana e tratamento, vedada a sua e cidadania, devendo ser observados os seguintes
comercialização; princípios:
VI - participar na elaboração e atualização de pla- a) rigoroso respeito aos direitos humanos dos
no estadual de alimentação e nutrição; doentes;
VII - controlar, fiscalizar e inspecionar procedi- b) integração dos serviços de emergência psiquiá-
mentos, produtos e substâncias que compõem os tricos e psicológicos aos serviços de emergência
medicamentos, contraceptivos, imunobiológicos, geral;
alimentos, compreendido o controle de seu teor c) prioridade na atenção extra-hospitalar, incluin-
nutricional, bem como bebidas e águas para con- do atendimento ao grupo familiar e a políticas de
sumo humano, cosméticos, perfumes, produtos de desinstitucionalização de pacientes em situação de
higiene, saneantes, domissanitários, agrotóxicos, internação de longa permanência, bem como ênfa-
biocidas, produtos agrícolas, drogas veterinárias, se na abordagem interdisciplinar, sendo a interna-
sangue, hemoderivados, equipamentos médico- ção, em qualquer de suas modalidades, tratamento
-hospitalares e odontológicos, insumos, e outros de derradeiro e, quando necessário, será estruturada,
interesse para a saúde; exclusivamente, de forma a oferecer assistência
VIII - manter laboratório de referência de controle integral à pessoa portadora de transtornos mentais,
de qualidade; incluindo serviços médicos, de assistência social,
IX - participar na fiscalização das operações de pro- psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros;
d) ampla informação aos doentes, familiares e à
dução, transporte, guarda e utilização, executadas
sociedade organizada sobre os métodos de trata-
com substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
mento a serem utilizados;
radioativos;
e) garantia da destinação de recursos materiais e
X - desenvolver ações visando à segurança e à saú-
humanos para a proteção e tratamento adequado
de do trabalhador, integrando sindicatos e asso-
às pessoas em sofrimento mental através da Rede de
ciações técnicas, compreendendo a fiscalização,
Atenção Psicossocial, em especial na atenção psicos-
normatização e coordenação geral na prevenção,
social especializada, nas suas diferentes modalidades;
prestação de serviços e recuperação, mediante:
f) o desenvolvimento da política de saúde mental,
a) medidas que visem à eliminação de riscos de aci- a assistência e a promoção de ações de saúde aos
dentes, doenças profissionais e do trabalho, e que portadores de transtornos mentais, com a devida
ordenem o processo produtivo, para esse fim; participação da sociedade e da família.
b) informações aos trabalhadores a respeito de ati- XV - garantir destinação de recursos materiais e
vidades que comportem riscos à saúde e dos méto- humanos na assistência às doenças crônicas e à
dos para o seu controle; terceira idade, na forma da lei;
c) controle e fiscalização dos ambientes e processos XVI - estabelecer cooperação com a rede pública
de trabalhos nos órgãos ou empresas públicas e pri- de ensino, de modo a promover acompanhamento
vadas, incluindo os departamentos médicos; constante às crianças em fase escolar, prioritaria-
d) direito de recusa ao trabalho em ambientes sem mente aos estudantes do primeiro grau;
controle adequado de riscos, assegurada a perma- XVII - incentivar, através de campanhas promocio-
nência no emprego; nais educativas e outras iniciativas, a doação de
e) promoção regular e prioritária de estudos e pes- órgãos;
quisas em saúde do trabalho; XVIII - prover a criação de programa suplementar
f) proibição do uso de atestado de esterilização e que garanta fornecimento de medicação às pessoas
de teste gravidez como condição para admissão ou portadoras de necessidades especiais, no caso em
permanência no trabalho; que seu uso seja imprescindível à vida.
g) notificação compulsória, pelos ambulatórios Parágrafo único. O Estado, na forma da lei, con-
médicos dos órgãos ou empresas públicas ou pri- cederá estímulos especiais às pessoas que doarem
vadas, das doenças profissionais e dos acidentes de órgãos possíveis de serem transplantados, quando
trabalho; de sua morte, com o propósito de restabelecerem
h) intervenção, interrompendo as atividades em funções vitais à saúde.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
local de trabalho em que haja risco iminente ou
naqueles em que tenham ocorrido graves danos à Complementando o art. 289, o art. 293 traça um
saúde do trabalhador; esboço para a atuação do Sistema Único de Saúde
XI - coordenar e estabelecer diretrizes e estraté- (SUS), estabelecendo algumas de suas atribuições e
gias das ações de vigilância sanitária e epidemio- competências.
lógica e colaborar no controle do meio ambiente e
saneamento; Art. 294 O Estado garantirá assistência integral
XII - determinar que todo estabelecimento, público à saúde da mulher em todas as fases de sua
ou privado, sob fiscalização de órgãos do sistema vida através da implantação de política adequada,
único de saúde, seja obrigado a utilizar coletor sele- assegurando:
tivo de lixo hospitalar; I - assistência à gestação, ao parto e ao aleitamento;
XIII - formular e implantar política de atendimen- II - direito à auto-regulação da fertilidade como
to à saúde de portadores de deficiência, bem como livre decisão da mulher, do homem ou do casal, tan-
coordenar e fiscalizar os serviços e ações específi- to para exercer a procriação quanto para evitá-la;
cas, de modo a garantir a prevenção de doenças ou III - fornecimento de recursos educacionais, cientí-
condições que favoreçam o seu surgimento, asse- ficos e assistenciais, bem como acesso gratuito aos
gurando o direito à habilitação, reabilitação e inte- métodos anticoncepcionais, esclarecendo os resul-
gração social, com todos os recursos necessários, tados, indicações e contra-indicações, vedada qual-
inclusive o acesso aos materiais e equipamentos de quer forma coercitiva ou de indução por parte de
reabilitação; instituições públicas ou privadas; 261
IV - assistência à mulher, em caso de aborto, pro- O art. 299 trata da assistência farmacêutica como
vocado ou não, como também em caso de violência parte do sistema de saúde. A assistência farmacêu-
sexual, asseguradas dependências especiais nos tica é constituída por um conjunto de ações voltadas
serviços garantidos direta ou indiretamente pelo à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto
Poder Público; individual como coletiva, por meio do medicamento,
V - adoção de novas práticas de atendimento rela- de modo a considerá-lo insumo essencial à efetivação
tivas ao direito da reprodução mediante conside- do direito à saúde. Portanto, de nada adianta fornecer
ração da experiência dos grupos ou instituições de o atendimento médico-hospitalar se não é oferecida
defesa da saúde da mulher. também a medicação para o tratamento.

O art. 294 disciplina as políticas de assistência à Art. 300 O Estado só poderá adquirir medica-
mentos e soros imunobiológicos produzidos
saúde da mulher. Trata-se de um dispositivo voltado
pela rede privada, quando a rede pública, prio-
para as peculiaridades que envolvem a gestação. ritariamente a estadual, não estiver capacitada
a fornecê-lo.
Art. 295 O Estado, através dos órgãos competentes, Parágrafo único. O Estado garantirá o investimen-
determinará a fluoretização do cloreto de sódio, to permanente na produção estatal de medicamen-
na proporção fixada pela autoridade responsável. tos à qual serão destinados recursos especiais.

O art. 295 é voltado à saúde bucal coletiva por tra- O art. 300 traz a regra de que é a rede pública a
tar do processo de fluoretização ou fluoretação da responsável pelo fornecimento de medicamentos e
água. Tal processo envolve a adição controlada de um soros imunobiológicos. Tal obrigação incumbe prio-
composto de flúor na água distribuída à população do ritariamente o ente estadual. Assim sendo, a rede pri-
vada somente poderá fornecer esses insumos no caso
Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de auxiliar
de a rede pública não poder fornecê-los.
na saúde bucal.
Art. 301 O Poder Público, mediante ação conjunta
Art. 296 Será fiscalizado a produção, distribui- de suas áreas de educação e saúde, garantirá aos
ção e comercialização de processos químicos alunos da rede pública de ensino acompanha-
ou hormonais e artefatos de contracepção, mento médico-odontológico, e às crianças que
proibindo-se a comercialização e uso em fase de ingressem no pré-escolar exames e tratamentos
experimentação. oftalmológico e fonoaudiológico.

O art. 296 buscar traçar regras a respeito dos O art. 301 busca assegurar o acesso à saúde dos
meios contraceptivos, sendo eles químicos ou hor- alunos das redes públicas de ensino, tanto infantil
monais (exemplos: pílula ou adesivo contraceptivo e como fundamental e médio.
espermicida) e mecânicos ou de barreira (exemplos:
Art. 302 Os municípios deverão no âmbito de sua
preservativo, dispositivo intra-ulterino e diafragma).
competência, estabelecer medidas de proteção
à saúde dos cidadãos não fumantes em esco-
Art. 297 O Estado regulamentará em relação ao las, restaurantes, hospitais, transportes coletivos,
sangue, coleta, processamento, estocagem, tipa- repartições públicas, cinemas, teatros e demais
gem, sorologia, distribuição, transporte, descarte, estabelecimentos de grande afluência de público.
indicação e transfusão, bem como sua procedência
e qualidade ou componente destinado à industria- O art. 302 traz a política antitabagista dos locais
lização, seu processamento, guarda, distribuição e públicos como meio de proteção à saúde daqueles que
aplicação. não fumam.

O art. 297 estabelece a necessidade do Poder Públi- Art. 303 O Estado instituirá mecanismos de
co de regulamentação dos processos relacionados controle e fiscalização adequados para coibir
a imperícia, a negligência, a imprudência e a
ao sangue, tais como a tipagem, sorologia, coleta e
omissão de socorro nos estabelecimentos hospi-
distribuição. talares oficiais e particulares, cominando penalida-
des severas para os culpados.
Art. 298 O Estado assegurará a todo cidadão o Parágrafo único. Quando se tratar de estabeleci-
fornecimento de sangue, componentes e deriva- mento particular, as penalidades poderão variar
dos, bem como obter informações sobre o produto da imposição de multas pecuniárias à cassação da
do sangue humano que lhe tenha sido aplicado. licença de funcionamento.

Complementando o artigo anterior, o art. 298 O art. 303 decorre do direito à vida e visa garantir
decorre do direito à liberdade, tanto de informação a integridade física das pessoas que realizam aten-
como de doação de seu sangue. dimentos nos estabelecimentos hospitalares, quer
públicos quer privados.
Art. 299 A assistência farmacêutica faz parte
Art. 304 As empresas privadas prestadoras de
da assistência global à saúde, e as ações a ela
serviços de assistência médica, administra-
correspondentes devem ser integradas ao sistema
doras de planos de saúde, deverão ressarcir
único de saúde, garantindo-se o direito de toda a o Estado e os Municípios das despesas com o
população aos medicamentos básicos, que constem atendimento dos segurados respectivos em uni-
de lista padronizada dos que sejam considerados dades de saúde pertencentes ao poder público esta-
262 essenciais. dual ou municipal.
§ 1º O pagamento será de responsabilidade das empre- DA ORDEM ECONÔMICA FINANCEIRA E DO MEIO
sas a que estejam associadas as pessoas atendidas em AMBIENTE
unidades de saúde do Estado ou dos Municípios.
§ 2º Fica vedada, sob pena de responsabilidade, o O Título VII da CE trata da Ordem econômica,
tratamento preferencial, diferenciado ou exclu-
financeira e do meio ambiente, As regras acerca do
sivo dos pacientes de planos de saúde ou particu-
lar, inclusive quando efetuados por Organizações meio ambiente estão disciplinadas em seu Capítulo
Sociais, Organizações da Sociedade Civil de Interes- VIII, compreendendo os arts. 261 a 282, da CE.
se Público ou Fundações Públicas ou Privadas.
Do Meio Ambiente
Embora a saúde seja direito de todos e dever do
Estado, no caso de o indivíduo ser vinculado a uma Art. 261 Todos têm direito ao meio ambiente
empresa privada voltada a saúde, esta deverá ressar- ecologicamente saudável e equilibrado, bem de
cir os gastos despendidos pelo Poder Público com as uso comum do povo e essencial à qualidade de
despesas médicas de seus segurados. vida, impondo-se a todos, e em especial ao Poder
Público, o dever de defendê-lo, zelar por sua recupe-
Art. 305 O Estado e os Municípios prestarão ração e proteção, em benefício das gerações atuais
assistência social a quem dela necessitar, obe- e futuras.
decidos os princípios e normas da Constituição da
República. O art. 261, da CE, repete o caput do art. 225, da CF,
Parágrafo único. Será assegurada, nos termos da de 1988, ao trazer o direito ao equilíbrio ecológico,
lei, a participação da população, por meio de orga- uma vez que o meio ambiente é essencial para se ter
nizações representativas, na formulação das polí- qualidade de vida. O regime jurídico aplicado ao meio
ticas e no controle das ações de assistência social. ambiente é o regime jurídico de direito público, pois
se trata de um bem público de uso comum, essencial
O art. 305 trata da assistência social, ou seja, do à qualidade de vida de todos os seres humanos, ou
meio de proteção social que visa a garantia da vida, seja, o meio ambiente pertence à coletividade, de
a redução de danos e a prevenção da incidência de
modo que ele não integra o patrimônio disponível do
riscos, através da proteção à família, à maternidade,
Estado. É por essa razão que o dever de o preservar
à infância, à adolescência e à velhice, bem como aos
compete tanto ao Poder Público como a toda a cole-
deficientes e à reintegração ao mercado de trabalho
tividade, em um caráter eminentemente solidário e
daqueles que necessitarem. participativo. A titularidade do direito ao equilíbrio
ecológico pertence ao povo, tanto para as gerações
DOS ÍNDIOS presentes como para as futuras.

O Capítulo IV do Título VIII trata dos índios e com- § 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
preende o art. 330, da CE. Vejamos o dispositivo: incumbe ao Poder Público:
I - fiscalizar e zelar pela utilização racional e
Art. 330 O Estado contribuirá, no âmbito da sua sustentada dos recursos naturais;
competência, para o reconhecimento, aos índios, II - proteger e restaurar a diversidade e a inte-
de sua organização social, costumes, línguas, gridade do patrimônio genético, biológico, eco-
crenças e tradições, e os direitos originários lógico, paisagístico, histórico e arquitetônico;
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, III - implantar sistema de unidades de conserva-
sua demarcação, proteção e o respeito a todos ção, representativo dos ecossistemas originais do
os seus bens, obedecendo-se ao que dispõe a Cons- espaço territorial do Estado, vedada qualquer utili-
tituição da República. zação ou atividade que comprometa seus atributos
essenciais;
A CE estabelece a responsabilidade do Estado flu- IV - proteger e preservar a flora e a fauna, as
minense no reconhecimento dos direitos dos índios. espécies ameaçadas de extinção, as vulneráveis e
No entanto, observa-se que o artigo não conceitua raras, vedadas as práticas que submetam os ani-
índio nem povos indígenas, o que dificulta a proteção, mais à crueldade, por ação direta do homem sobre
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
uma vez que ainda existe uma visão estereotipada os mesmos;
de índio como sendo um habitante da mata, “ser sel- V - estimular e promover o reflorestamento
vagem que vive isolado do mundo”, “sem roupas ou ecológico em áreas degradadas, objetivando
qualquer contato com a civilização”. especialmente a proteção de encostas e dos recur-
Em razão disso, surge um problema para a efeti- sos hídricos, a consecução de índices mínimos de
vação da proteção, uma vez que tais conceitos, por cobertura vegetal, o reflorestamento econômico em
serem generalizados, fundamentam-se mais na sua áreas ecologicamente adequadas visando a suprir
etimologia do que na antropologia. a demanda de matéria-prima de origem florestal e
O processo de miscigenação não tem o condão de a preservação das florestas nativas;
retirar das comunidades indígenas a qualidade de VI - apoiar o reflorestamento econômico inte-
índio ou comunidade, muito menos de desprovê-los grado, com essências diversificadas, em áreas eco-
de sua cultura. Desse modo, é importante saber que a logicamente adequadas, visando suprir a demanda
auto atribuição da identidade étnica é o meio de orga- de matérias-primas de origem vegetal;
nização política para que os grupos étnicos reivindi- VII - promover, respeitada a competência da União,
quem o reconhecimento dos seus direitos. Para tanto, o gerenciamento integrado dos recursos
tem-se o processo de etnogênese, ou seja, a autoatri- hídricos, na forma da lei, com base nos seguintes
buição de rótulos étnicos por grupos que, até determi- princípios:
nado momento, eram tomados indistintamente como a) adoção das áreas das bacias e sub-bacias hidro-
“sertanejos” ou “caboclos”, para que a proteção ao gráficas como unidades de planejamento e execu-
índio possa ser efetivada. ção de planos, programas e projetos; 263
b) unidade na administração da quantidade e da XIX - acompanhar e fiscalizar as concessões de
qualidade das águas; direitos de pesquisa e exploração de recursos
c) compatibilização entre os usos múltiplos, efeti- hídricos e minerais efetuadas pela União no ter-
vos e potenciais; ritório do Estado;
d) participação dos usuários no gerenciamento e XX - promover a conscientização da população
obrigatoriedade de contribuição para recuperação e a adequação do ensino de forma a incorporar
e manutenção da qualidade em função do tipo e da os princípios e objetivos de proteção ambiental;
intensidade do uso; XXI - implementar política setorial visando a
e) ênfase no desenvolvimento e no emprego de coleta seletiva, transporte, tratamento e dis-
método e critérios biológicos de avaliação da qua- posição final de resíduos urbanos, hospitala-
lidade das águas; res e industriais, com ênfase nos processos que
f) proibição do despejo nas águas de caldas ou envolvam sua reciclagem;
vinhotos, bem como de resíduos ou dejetos capazes XXII - criar o Conselho Estadual do Meio Ambien-
de torná-las impróprias, ainda que temporariamen- te, de composição paritária, no qual participarão os
te, para o consumo e a utilização normais ou para a Poderes Executivo e Legislativo, comunidades cientí-
sobrevivência das espécies; ficas e associações civis, na forma da lei;
VIII - promover os meios defensivos necessários XXIII - instituir órgãos próprios para estudar,
para evitar a pesca predatória; planejar e controlar a utilização racional do
IX - controlar e fiscalizar a produção, a estoca- meio ambiente;
gem, o transporte, a comercialização e a uti- XXIV - aprimorar a atuação na prevenção, apu-
lização de técnicas, métodos e instalações que ração e combate nos crimes ambientais, inclu-
comportem risco efetivo ou potencial para a sive através da especialização de órgãos;
qualidade de vida e o meio ambiente, incluindo XXV - fiscalizar e controlar, na forma da lei, a
formas geneticamente alteradas pela ação humana; utilização de áreas biologicamente ricas de
X - condicionar, na forma da lei, a implantação manguezais, estuários e outros espaços de
de instalações ou atividades, efetiva ou potencial- reprodução e crescimento de espécies aquáti-
mente causadoras de alterações significativas do cas, em todas as atividades humanas capazes de
meio ambiente à prévia elaboração de estudo de comprometer esses ecossistemas;
impacto ambiental, a que se dará publicidade; XXVI - criar, no Corpo de Bombeiros Militar, unida-
XI - determinar a realização periódica, preferencial- de de combate a incêndios florestais, asseguran-
mente por instituições científicas e sem fins lucrati- do a prevenção, fiscalização, combate a incêndios e
vos, de auditorias nos sistemas de controle de controle de queimadas.
poluição e prevenção de riscos de acidentes
das instalações e atividades de significativo O parágrafo 1º traz as incumbências do Poder
potencial poluidor, incluindo a avaliação deta- Público em assegurar a efetividade do direito ao
lhada dos efeitos de sua operação sobre a qualidade equilíbrio ecológico. Ele repete em parte o § 1º, do
física, química e biológica dos recursos ambientais; art. 225, da CF, de 1988. Trata-se de ferramentas e
XII - estabelecer, controlar e fiscalizar padrões de condutas com o objetivo de assegurar o direito a um
qualidade ambiental, considerando os efeitos ambiente ecologicamente saudável e equilibrado.
sinérgicos e cumulativos da exposição às fontes
Grande parte dessas incumbências está regula-
de poluição, incluída a absorção de substâncias
mentada por leis específicas. Alguns exemplos dessas
químicas através da dieta alimentar, com especial
atenção para aquelas efetiva ou potencialmente leis:
cancerígenas, mutagênicas e teratogênicas;
z Lei nº 9.985, de 2000, que cuida da preservação
XIII - garantir o acesso dos interessados às infor-
mações sobre as fontes e causas da degrada-
da integridade e da diversidade do patrimônio
ção ambiental; genético;
XIV - informar sistematicamente à população sobre z Lei nº 11.105, de 2005, que traz as normas de segu-
os níveis de poluição, a qualidade do meio rança e mecanismos de fiscalização de atividades
ambiente, as situações de risco de acidentes e a que envolvam organismos geneticamente modifi-
presença de substâncias potencialmente dano- cados (OGM) e seus derivados;
sas à saúde na água potável e nos alimentos; z Lei nº 9.985, de 2000, que regulamenta e institui o
XV - promover medidas judiciais e administra- Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
tivas de responsabilização dos causadores de Natureza;
poluição ou de degradação ambiental, e dos z Lei nº 9.795, de 1999, que trata da Educação
que praticarem pesca predatória; Ambiental e a Política Nacional de Educação
XVI - buscar a integração das universidades, cen- Ambiental;
tros de pesquisa, associações civis, organizações z Lei nº 9.605, de 1998, que dispõe sobre as sanções
sindicais para garantir e aprimorar o controle da
penais e administrativas derivadas de condutas e
poluição;
atividades lesivas ao meio ambiente.
XVII - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e
a utilização de tecnologias poupadoras de energia,
bem como de fontes energéticas alternativas que
Importante!
possibilitem, em particular nas indústrias e nos veí-
culos, a redução das emissões poluentes. Estudos mais famosos com relação ao impacto
XVIII - estabelecer política tributária visando ambiental: Estudo Prévio de Impacto Ambiental
à efetivação do princípio poluidor-pagador e o (EIA) e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente
estímulo ao desenvolvimento e implantação de tec-
(RIMA). Atenção: o EIA e o RIMA não são exi-
nologias de controle e recuperação ambiental mais
aperfeiçoadas, vedada a concessão de financiamen- gíveis para todas as obras ou atividades poten-
tos governamentais e incentivos fiscais às ativida- cialmente causadoras de degradação do meio
des que desrespeitem padrões e normas de proteção ambiente, mas apenas para aquelas em que é
264 ao meio ambiente; significativa essa degradação.
§ 2º As condutas e atividades comprovadamen- § 1º Aos municípios que tenham seus recursos
te lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infrato- hídricos utilizados para abastecer de água potá-
res a sanções administrativas, com a aplicação vel a população do Estado do Rio de Janeiro é
de multas diárias e progressivas nos casos de con- assegurada participação na arrecadação tari-
tinuidade da infração ou reincidência, incluídas a fária ou compensação financeira em face da
redução do nível de atividade e a interdição, além exploração econômica dos mencionados recursos,
da obrigação de reparar, mediante restauração os devendo os respectivos resultados serem processa-
danos causados. dos separadamente em favor de cada um daqueles
Municípios, por volume de água fornecida, e calcu-
O parágrafo 2º reproduz o § 3º, do art. 225, da CF, lados em proporção compatível com os valores dos
de 1988, ao tratar da responsabilidade ambiental. royaltes pagos à outros Municípios pela exploração
Trata-se de responsabilidade fundamentada na teo- de petróleo e de gás natural.
ria do risco integral, ou seja, o poluidor é obrigado, § 2º Os resultados financeiros que venham a ser
obtidos em decorrência do disposto no parágrafo
independentemente da existência de culpa, a indeni-
anterior deverão ser aplicados integralmente
zar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e
em programas conjuntos com o Estado para tra-
aos terceiros afetados por essa atividade. tamento de despejos urbanos e industriais e de
Basta a existência do dano e do nexo de causali- resíduos sólidos, de proteção e de utilização
dade entre a conduta e o dano para que surja a obri- racional de água e de outros programas que
gação de indenizar, sem a possibilidade de alegar as garantam a fiscalização, a recuperação e a manu-
excludentes de sua responsabilidade (caso fortuito ou tenção dos padrões de qualidade ambiental nos
força maior e culpa exclusiva de terceiro). Municípios de que cogitam o artigo anterior.
A responsabilidade ambiental pode se efetivar nas § 3º Aos Municípios de Nova Iguaçú, Japeri, Quei-
três esferas: civil, penal e administrativa. mados, Belford Roxo, Mesquita, Nilópolis, São João
de Meriti, Duque de Caxias, Guapimirim, Magé e
§ 3º Aquele que utilizar recursos ambientais outros que venham a integrar a Baixada Fluminen-
fica obrigado, na forma da lei a realizar progra- se, abrangendo inclusive os Municípios de Niterói,
mas de monitoragem a serem estabelecidos pelos São Gonçalo, Itaboraí e o Bairro de Paquetá, no
órgãos competentes. Município do Rio de Janeiro, integrantes do sis-
tema de abastecimento de água denominado
O parágrafo 3º é inspirado no § 2º, do art. 225, da IMUNA - LARANJAL, fica assegurada, no sistema
CF, de 1988. No entanto, a CF fala em exploração de de abastecimento de água à população do Estado
do Rio de Janeiro, uma distribuição prioritária
recursos minerais, enquanto a CE amplia para todos
correspondente a 30% (trinta por cento) do
os tipos de recursos. Além disso, a CF, de 1988, obriga a
volume de recursos hídricos provenientes dos
reparação do meio ambiente degradado, enquanto na
dois primeiros e do Município de Magé no pre-
CE a obrigação é apenas de monitoramento. sente referido.

§ 4º A captação em cursos d’água para fins


O art. 262 tem como objetivo estabelecer um equi-
industriais será feita a jusante do ponto de
líbrio entre a política desenvolvimentista e a prote-
lançamento dos efluentes líquidos da própria
ção do meio ambiente. A finalidade do dispositivo é
indústria, na forma da lei.
proteger o meio ambiente, sem que a proteção repre-
sente um obstáculo ao desenvolvimento econômico e
O parágrafo 4º estabelece que a captação de água
financeiro.
para fins industriais deve ser disciplinada por lei.
Sobre o tema, a Lei nº 3.239, de 1999, institui a política
estadual de recursos hídricos; cria o sistema estadual Dica
de gerenciamento de recursos hídricos e regulamenta A Política de Proteção ao Meio Ambiente é dis-
a CE, em especial o inciso VII, do § 1º, e o § 4º, do art. ciplinada pela Lei nº 6.938, de 1981, que introdu-
261.
ziu um microssistema legal de proteção do meio
ambiente.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 5º Os servidores públicos encarregados da exe-
cução da política estadual do meio ambiente, que
Art. 263 Fica autorizada a criação, na forma da
tiverem conhecimento de infrações persisten-
lei, do Fundo Estadual de Conservação Ambien-
tes, intencionais ou por omissão, dos padrões
tal e Desenvolvimento Urbano – FECAM, desti-
e normas ambientais deverão, imediatamente,
nado à implementação de programas e projetos
comunicar o fato ao Ministério Público, indi-
de recuperação e preservação do meio ambiente,
cando os elementos de convicção, sob pena de res-
bem como de desenvolvimento urbano, vedada sua
ponsabilidade administrativa, na forma da lei.
utilização para pagamento de pessoal da adminis-
tração pública direta e indireta ou de despesas de
Por fim, o parágrafo 5º trata do dever do servidor custeio diversas de sua finalidade.
público de comunicar ao Ministério Público fato lesivo § 1º Constituirão recursos para o fundo de que
ao meio ambiente, por ser este o titular da ação penal trata o caput deste artigo, entre outros:
ambiental. Caso o servidor não efetue a comunicação, I - 5% (cinco por cento) da compensação financeira
ele pode ser responsabilizado administrativamente. a que se refere o art. 20, § 1º, da Constituição da
República e a que faz jus o Estado do Rio de Janeiro.
Art. 262 A utilização dos recursos naturais II - O produto das multas administrativas e de
com fins econômicos será objeto de taxas cor- condenações judiciais por atos lesivos ao meio
respondentes aos custos necessários à fiscaliza- ambiente;
ção, à recuperação e à manutenção dos padrões III - dotações e créditos adicionais que lhe forem
de qualidade ambiental. atribuídos; 265
IV - empréstimos, repasses, doações, subvenções, XVI - reforço dos sistemas de fiscalização
auxílios, contribuições, legados ou quaisquer trans- ambiental;
ferências de recursos, excepcionados os recursos XVII - programas de proteção à fauna, incluin-
privados referidos no §4º do presente artigo; do centros de triagem de animais, prevenção e
V - rendimentos provenientes de suas operações ou fiscalização;
aplicações financeiras. XVIII - reforço de equipamentos e instalações do
VI - 5% (cinco por cento) da compensação financei- BPFMA, DPMA e Corpo de Bombeiros do Estado do
ra, a que se refere o Art. 20, § 1º, da Constituição Rio de Janeiro;
Federal, calculados na forma da lei, a que faz jus o XIX - utilização de recursos como contraparti-
Estado do Rio de Janeiro, quando se tratar de petró- da a programas com financiamento interna-
leo e gás extraído da camada do pré-sal, não se apli- cional, tais como, Programa de Despoluição da
cando, nesse caso, o disposto no inciso I. Baía de Guanabara e/ou de Despoluição da Baía de
§ 2º O disciplinamento da utilização dos recur- Sepetiba;
sos do Fundo de que trata este artigo caberá a XX - programa de divulgação em mídia de
um Conselho de que participarão, necessaria- campanhas publicitárias, tais como o combate
mente, o Ministério Público e representantes da aos balões e pela reciclagem de pilhas e garrafas
comunidade, na forma a ser estabelecida em lei. plásticas;
§ 3º Os programas e projetos ambientais a XXI - programa de ecologia urbana, tais como
que se refere o “caput” deste artigo incluem, entre ciclovias, implantação de combustíveis menos
outros, os seguintes: poluentes nos transportes e nas indústrias, defesa
I - implantação de sistema de coleta e trata- das encostas;
mento de esgotos domésticos; XXII - recomposição e manutenção de mangue-
II - implantação de sistemas de coleta de lixo, com zais e áreas protegidas;
ênfase na coleta seletiva e destinação final adequa- XXIII - monitoragem e melhoria da qualidade do
das de resíduos sólidos urbanos e sua reciclagem; ar e da água potável e da balneabilidade;
III - programas de conservação, reaproveita- XXIV - programa para equipar e capacitar as coo-
mento, reciclagem de energia, co-geração e efi- perativas de catadores;
ciência energética, e desenvolvimento de energias XXV - programas de relocalização (quando cou-
alternativas, como a solar e eólica, entre outras; ber) de populações que ocupem áreas de pre-
IV - programas e projetos de educação ambiental
servação ambiental, incluindo habitação digna e
na rede pública estadual, incluindo intervenção
reinstalação;
desta na preservação das áreas do entorno das
XXVI - desenvolvimento de programas de
escolas, na forma da lei;
eco-turismo;
V - programas de desenvolvimento urbano
XXVII - implantação do Centro de Referência de
integrados aos projetos locais e regionais de
Segurança e Crimes Ambientais;
desenvolvimento que contemplem soluções para
XXVIII - implantação do Centro de Referência
os problemas ambientais locais;
da Saúde do Trabalhador em Ambientes de
VI - programas de despoluição dos ambientes de
Trabalho;
trabalho com monitoramento da qualidade ambien-
XXIX - campanhas e programas de orientação
tal das empresas e desenvolvimento e implantação
do consumidor aos custos do desperdício e às
de tecnologias alternativas não poluentes que pre-
qualidades e riscos ambientais dos produtos;
servem a saúde do trabalhador;
VII - programas de defesa dos recursos hídri- XXX - mapeamento das áreas e atividades de
cos, incluindo a implantação dos comitês de bacias risco, na forma da Lei.
hidrográficas, na forma da lei; § 4º É considerado recurso privado, e não constitui
VIII - programas de monitoragem e fiscalização receita do FECAM (Fundo Estadual de Conservação
da presença de agrotóxicos nos alimentos e de Ambiental e Desenvolvimento Urbano), o montante
implementação de sistemas agrícolas integrados e de recursos devido pelos empreendedores nos
não poluentes, como os da agricultura biológica e casos de licenciamento ambiental de empreen-
orgânica; dimentos de significativo impacto ambiental
IX - programas de fiscalização e inibição da pes- decorrentes da compensação ambiental esta-
ca predatória e de estimulo à piscicultura e belecida no âmbito do Sistema Nacional de Unida-
maricultura; des de Conservação da Natureza - SNUC.
X - programas de recuperação de áreas degradadas § 5º Os passivos não liquidados, cuja compe-
e de reflorestamento ecológico, incluindo a produ- tência tenha ocorrido a partir do ano de 2015 até
ção de mudas; dezembro de 2019, poderão ser extintos, salvo
XI - fiscalização e recuperação da Mata Atlân- se for o caso de despesas de exercícios anteriores,
tica e proteção da biodiversidade. nos termos da Lei 4.320, de 17 de março de 1964.
XII - demarcação da faixa marginal de proteção § 6º O percentual não aplicado no Fundo Esta-
das lagoas e lagunas; dual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento
XIII - programas de prevenção e combate a Urbano – FECAM –, a partir do exercício de 2015,
incêndios em Florestas; não se converterá em obrigação de aplicação
XIV- implantação das unidades de conservação em exercícios posteriores ao Estado.
da natureza, como parques, reservas e área de § 7º Os municípios fluminenses deverão, no prazo
preservação ambiental, incluindo plano diretor, máximo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da
plano de manejo, demarcação, sede e educação vigência da presente Emenda Constitucional, insti-
ambiental das populações dos entornos, sem pre- tuir Fundo Especial com parcela dos recursos
juízo do que dispõe a disciplina específica prevista a que fazem jus da compensação financeira de
no § 4° do presente artigo; que trata o artigo 20, § 1º da Constituição Federal,
XV - programas de tratamento e destinação final de cabendo a cada Lei Orgânica estabelecer o percen-
266 lixo químico; tual a ser destinado ao respectivo Fundo.
O art. 263 estabelece o Fundo Estadual de Con- Complementando o artigo anterior, o art. 265 trata
servação Ambiental e Desenvolvimento Urbano das exigências que devem ser cumpridas pelo Poder
(FECAM), com a finalidade de atender às necessidades Público nos projetos de remoção da população.
financeiras de projetos e programas ambientais, bem
como de desenvolvimento urbano. Tal Fundo foi cria- Art. 266 O Estado promoverá, com a participação
do por meio da Lei nº 1.060, de 1986. dos Municípios e das comunidades, o zoneamento
Os recursos do FECAM são constituídos de diversas ambiental de seu território.
fontes, tais como dos royalties do petróleo atribuídos § 1º A implantação de áreas ou pólos industriais,
ao Rio de Janeiro (cabe ao Fundo 5% do valor relativo bem como as transformações de uso do solo, depen-
à extração na camada pós-sal e 5% na camada pré-sal) derão de estudo de impacto ambiental, e do corres-
e das multas administrativas aplicadas e condenações pondente licenciamento.
judiciais por irregularidades constatadas pelos órgãos § 2º O registro dos projetos de loteamento depende-
rá do prévio licenciamento na forma da legislação
fiscalizadores do meio ambiente.
de proteção ambiental.
No que se refere à utilização desses recursos, a CE
§ 3º Os proprietários rurais ficam obrigados, na
atribuiu a responsabilidade a um Conselho de gestão
forma da lei, a preservar e a recuperar, com espé-
democrática, com a participação tanto da comunidade cies nativas suas propriedades.
como do Ministério Público. No entanto, foi ajuizada
no STF a ADIN 3161, sob a fundamentação de que, ao
O art. 266 estabelece como forma de ordenar o
determinar a participação do Ministério Público, a CE
desenvolvimento das funções sociais do Estado flumi-
extrapola as responsabilidades instituídas ao órgão
nense e de seus municípios o estabelecimento de uma
pela CF, de 1988.
política urbana de zoneamento ambiental.
Há de se mencionar, ainda, que o FECAM financia
O zoneamento ambiental, também chamado de
diversos projetos e programas ambientais, bem como
zoneamento ecológico-econômico (ZEE), está disci-
para o desenvolvimento urbano estadual, de modo a
plinado na Lei nº 6.938, de 1981, e regulamentado
englobar diversas áreas como, por exemplo, gestão
pelo Decreto (Federal) nº 4.297, de 2002. Seu objetivo
ambiental e biodiversidade, infraestrutura verde,
é viabilizar o desenvolvimento sustentável por meio
saúde e educação ambientais e fortalecimento às ins-
da compatibilização do desenvolvimento socioeconô-
tituições de controle ambiental.
mico com a conservação ambiental. Para atingir tal
objetivo, é preciso uma gestão ambiental que delimite
Art. 264 A implantação e a operação de instala-
algumas zonas ambientais e atribua a elas usos e ativi-
ções que utilizem ou manipulem materiais
radioativos, estarão sujeitas ao estabelecimento
dades compatíveis com suas características.
e à implementação de plano de evacuação da O zoneamento ambiental divide o território em
população das áreas de risco e a permanente zonas em conformidade com a necessidade de pro-
monitoragem de seus efeitos sobre o meio ambien- teção, conservação e recuperação dos recursos natu-
te e a saúde da população. rais e do desenvolvimento sustentável. São zonas
Parágrafo único. As disposições deste artigo não se ambientais: Zoneamento ambiental urbano; Zona de
aplicam à utilização de radioisotopos previstos no uso industrial; Zona de uso estritamente industrial;
artigo 21, XXIII, “b”, da Constituição da República. Zona de uso predominantemente industrial; Zona de
uso diversificado; Zoneamento agrícola; Zoneamento
O art. 264 traz a preocupação com a utilização de costeiro. O zoneamento urbano é regulado pela Lei nº
energia nuclear, oriunda tanto da geração de energia 10.257, de 2001 (Estatuto da Cidade).
elétrica como em práticas médicas, industriais e de
pesquisa. Assim, para que a sociedade possa se bene- Art. 267 A extinção ou alteração das finalida-
ficiar das vantagens que a tecnologia nuclear pode des das áreas das unidades de conservação depen-
oferecer, é preciso implementar ações de segurança derá de lei específica.
e proteção relacionadas ao emprego dos materiais
radioativos, tais como planos de evacuação da popu- O art. 267 estabelece a regra de que para extinguir
lação em áreas de risco. ou alterar uma área das unidades de conservação é
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
preciso lei específica. Por unidades de conservação
Art. 265 Os projetos governamentais da entende-se as áreas legalmente instituídas pelo Poder
administração direta ou indireta, que exijam a Público com objetivo de conservação de espaços
remoção involuntária de contingente da popu- ambientais especiais.
lação, deverão cumprir, dentre outras, as seguintes A Lei nº 9.985, de 2000 instituiu o Sistema Nacio-
exigências: nal de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e
I - pagamento prévio e em dinheiro de indeniza- estabeleceu critérios e normas para a criação, implan-
ção pela desapropriação, bem como dos custos de tação e gestão das unidades de conservação.
mudança e reinstalação, inclusive, neste caso, para Para que uma área seja caracterizada como unida-
os não-proprietários, nas áreas vizinhas às do pro-
de de conservação, é preciso:
jeto, de residências, atividades produtivas e equipa-
mentos sociais.
II - implantação, anterior à remoção, de programas
z Relevância ecológica da área para manutenção do
sócio-econômicos que permitam às populações equilíbrio ecológico (ciclo hidrológico, manuten-
atingidas restabelecerem seu sistema produtivo ção da cobertura térmica, qualidade de vida no
garantindo sua qualidade de vida; planeta);
III - implantação prévia de programas de defesa z Criação acompanhada de ato oficial, pois todas as
ambiental que reduzam ao mínimo os impactos do unidades de conservação (públicas ou privadas)
empreendimento sobre a fauna, a flora e as rique- submetem-se a um regime especial delimitado por
zas naturais e arqueológicas. órgão oficial; 267
z Delimitação territorial de acordo com a proteção do bem ambiental;
z Constar o objetivo de proteção do meio ambiente;
z Regime especial de proteção e afetação em razão do interesse público que justifique a sua criação.

Art. 268 São áreas de preservação permanente:


I - os manguezais, lagos, lagoas e lagunas e as áreas estuarinas;
II - as praias, vegetação de restingas quando fixadoras de dunas, as dunas, costões rochosos e as cavidades naturais
subterrâneas-cavernas;
III - as nascentes e as faixas marginais de proteção de águas superficiais;
IV - as áreas que abriguem exemplares ameaçados de extinção, raros, vulneráveis ou menos conhecidos, na fauna e
flora, bem como aquelas que sirvam como local de pouso, alimentação ou reprodução;
V - as áreas de interesse arqueológico, histórico, científico, paisagístico e cultural;
VI - aquelas assim declaradas por lei;
VII - a Baía de Guanabara.

As unidades de conservação dividem-se em dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso
sustentável. Às unidades de proteção integral compete preservar a natureza, de modo a admitir somente o uso
indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei. Em contrapartida, às unidades
de uso sustentável cabe compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus
recursos naturais.
Atenção: a Lei nº 9.985, de 2000, estabelece que:

UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL


Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental
Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Nacional Floresta Nacional
Monumento Natural Reserva Extrativista
Refúgio de Vida Silvestre Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural

Observa-se, portanto, que o art. 268 elenca uma das unidades de uso sustentável: as áreas de conservação
permanente do Estado do Rio de Janeiro, que são áreas destinadas à preservação dos recursos ambientais como
fauna, flora, solo e recursos hídricos.
Veja o que dispõe a Lei nº 9.985, de 2000, em seu art. 15:

Art. 15 A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e
o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
§ 1º A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas.
§ 2º Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma
propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental.
§ 3º As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão
estabelecidas pelo órgão gestor da unidade.
§ 4º Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo
público, observadas as exigências e restrições legais.
§ 5º A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração
e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente,
conforme se dispuser no regulamento desta Lei.

Voltando ao estudo da Constituição Estadual do Rio de Janeiro, acompanhe o texto do art. 269:

Art. 269 São áreas de relevante interesse ecológico, cuja utilização dependerá de prévia autorização dos órgãos
competentes, preservados seus atributos essenciais:
I - as coberturas florestais nativas;
II - a zona costeira;
III - o Rio Paraíba do Sul;
IV - a Ilha Grande;
V - a Baía da Guanabara;
VI - a Baía de Sepetiba.

O art. 269, por sua vez, elenca outra unidade de uso sustentável: as áreas de relevante interesse ecológico do
Estado do Rio de Janeiro. A área de relevante interesse ecológico, ao contrário da área de preservação ambiental,
é uma área de pequena extensão e com pouca ou nenhuma ocupação humana, que é protegida por comportar
características naturais singulares ou por abrigar exemplares importantes da fauna e flora de uma região. Assim,
268 seu objetivo é preservar os ecossistemas naturais e regular o uso admissível dessas áreas.
Nesse sentido, o art. 16, da Lei nº 9.985, de 2000, O art. 274 estende a obrigatoriedade de atender ao
dispõe que: disposto na CE às pessoas jurídicas de direito privadas
prestadoras de serviço público, como, por exemplo,
Art. 16 A Área de Relevante Interesse Ecológico é uma concessionária de uma rodovia estadual ou uma
uma área em geral de pequena extensão, com pouca permissionária de transporte público.
ou nenhuma ocupação humana, com característi-
cas naturais extraordinárias ou que abriga exem- Art. 275 Fica proibida a introdução no meio
plares raros da biota regional, e tem como objetivo ambiente de substâncias cancerígenas, mutagê-
manter os ecossistemas naturais de importância nicas e teratogênicas, além dos limites e das con-
regional ou local e regular o uso admissível dessas dições permitidas pelos regulamentos dos órgãos
áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos do controle ambiental.
de conservação da natureza.
§ 1º A Área de Relevante Interesse Ecológico é cons- O art. 275 decorre do princípio da precaução e tem
tituída por terras públicas ou privadas. como objetivo banir o uso de substâncias químicas
§ 2º Respeitados os limites constitucionais, podem classificadas como poluentes orgânicos persistentes.
ser estabelecidas normas e restrições para a utili-
zação de uma propriedade privada localizada em
uma Área de Relevante Interesse Ecológico..
Importante!
Continuando os estudos, observe o art. 271, da CE: Dois princípios importantes em matéria
ambiental:
Art. 271 A iniciativa do Poder Público de cria- � Princípio da prevenção: Relacionado à ideia da
ção de unidades de conservação, com a finali- existência de um perigo antevisto e comprovado
dade de preservar a integridade de exemplares
(perigo concreto), o qual deve ser evitado. Tra-
dos ecossistemas, será imediatamente segui-
da dos procedimentos necessários a regulariza-
ta-se, portanto, de adotar medidas para evitar a
ção fundiária, demarcação e implantação da atividade lesiva ao meio ambiente;
estrutura de fiscalização adequadas. � Princípio da precaução: Relacionado à uma
ação antecipada diante do risco ou perigo des-
A Lei nº 3.443, de 2000, é a norma que regulamenta conhecido (perigo abstrato). Trata-se, assim, de
o art. 271, da CE, e estabelece a criação dos conselhos providências acautelatórias relativas à atividade.
gestores para as unidades de conservação estaduais.

Art. 272 O Poder Público poderá estabelecer res- Art. 276 A implantação e a operação de ativi-
dades efetiva ou potencialmente poluidoras
trições administrativas de uso de áreas priva-
dependerão de adoção das melhores tecnolo-
das para fins de proteção de ecossistemas.
gias de controle para proteção do meio ambiente,
Parágrafo único. As restrições administrativas de
na forma da lei.
uso a que se refere este artigo deverão ser averba-
Parágrafo único. O Estado e os Municípios mante-
das no registro imobiliário no prazo máximo de
rão permanente fiscalização e controle sobre os
um ano a contar de seu estabelecimento.
veículos, que só poderão trafegar com equipamen-
tos antipoluentes, que eliminem ou diminuam ao
O art. 272 trata das limitações administrativas máximo o impacto nocivo da gaseificação de seus
como forma de a Administração Pública intervir na combustíveis.
propriedade e nas ações dos particulares para pro-
teção do meio ambiente. Tais restrições sujeitam ou O art. 276 decorre do poder de polícia ambien-
restrigem o pleno direito de propriedade, como, por tal, ou seja, do dever do Poder Público de disciplinar e
exemplo, aquelas que obrigam o proprietário a não restringir parte dos direitos individuais a fim de possi-
se utilizar economicamente de parte de sua proprie- bilitar a proteção efetiva do meio ambiente. Em razão
dade. Devido às restrições impostas, estas devem ser disso, criam-se ferramentas para o gerenciamento dos
averbadas no registro do imóvel para conhecimento riscos, com o uso de tecnologia para controle e fisca-
público da limitação e de modo a evitar, por exemplo, lização, como na emissão de gazes ao meio ambiente
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
que a propriedade seja vendida e que o novo proprie- pelos veículos automotores, por exemplo.
tário deixe de cumprir com a restrição imposta sob a
alegação de que a desconhecia. Art. 277 Os lançamentos finais dos sistemas públi-
cos e particulares de coleta de esgotos sanitários
Art. 273 As coberturas florestais nativas exis- deverão ser precedidos, no mínimo, de trata-
tentes no Estado são consideradas indispensáveis mento primário completo, na forma da lei.
ao processo de desenvolvimento equilibrado e à § 1º Fica vedada a implantação de sistemas de cole-
sadia qualidade de vida de seus habitantes e não ta conjunta de águas pluviais e esgotos domésticos
poderão ter suas áreas reduzidas. ou industriais.
§ 2º As atividades poluidoras deverão dispor de
O art. 273 tem como objetivo proteger a cober- bacias de contenção para as águas de drenagem,
tura florestal nativa por ser esta importante para na forma da lei.
o meio ambiente, uma vez que protege o solo contra
erosão, resguarda a flora e a fauna ali existentes, além O art. 277 trata do tratamento primário comple-
de equilibrar a temperatura. to de esgoto sanitário, ou seja, da separação e remo-
ção de sólidos em suspensão para seu processamento
Art. 274 As empresas concessionárias ou per- e disposição adequados. Para disciplinar tais exigên-
missionárias de serviços públicos deverão aten- cias mínimas de tratamento de esgoto e regulamentar
der aos dispositivos de proteção ambiental em o dispositivo, foi editada a Lei Estadual nº 2.661, de
vigor. 1996. 269
Art. 278 É vedada a criação de aterros sanitá- qualidade da água distribuída à população. A lei que
rios à margem de rios, lagos, lagoas, manguezais regulamenta o monitoramento e as ações relaciona-
e mananciais. das ao controle da potabilidade da água no Estado do
Rio de Janeiro é a Lei Estadual nº 4.930, de 2006.
O art. 278 traz a vedação de aterros sanitários
em áreas que envolvam margens de rios, lagos, man-
guezais e mananciais. Aterro sanitário é um local
desenvolvido por meio de uma obra de engenharia,
destinado ao depósito dos resíduos sólidos gerados por
HORA DE PRATICAR!
residências, indústrias, comércios, construções, entre
1. (FGV — 2019) Maria procurou atendimento no órgão da
outros. Seu objetivo é tratar a decomposição final des-
Defensoria Pública, pretendendo ajuizar ação de revi-
ses resíduos de forma ambientalmente correta.
são de alimentos, para majorar o valor da pensão ali-
Art. 279 O Estado exercerá o controle de utiliza- mentícia que seu ex- marido Mário paga para os filhos
ção de insumos químicos na agricultura e na menores em comum. Para provar que o pai das crian-
criação de animais para alimentação huma- ças possui elevada renda não declarada, Maria apre-
na, de forma a assegurar a proteção do meio sentou ao Defensor Público pen- drive contendo áudio
ambiente e a saúde pública. de ligação telefônica interceptada diretamente por ela,
Parágrafo único. O controle a que se refere este no qual Mário conversa com uma mulher, confessando
artigo será exercido, tanto na esfera da produ- auferir 50 mil reais por mês mediante trabalho informal.
ção quanto na de consumo, com a participação
do órgão encarregado da execução da política de No caso em tela, com base no texto constitucional, o
proteção ambiental. Defensor Público:
O art. 279 também decorre do poder de polícia
a) deve elaborar petição inicial com o pleito de Maria de
ambiental. Trata-se dos mecanismos criados para
majoração dos alimentos, com fundamento no áudio
promover a segurança química dos alimentos de ori-
trazido, que será imediatamente juntado aos autos,
gem animal e vegetal produzidos no Brasil.
para fins de comprovação do alegado, diante da indis-
Art. 280 A lei instituirá normas para coibir a polui- ponibilidade do direito dos filhos menores;
ção sonora. b) deve elaborar petição inicial com o pleito de Maria de
majoração dos alimentos, e requerer ao Juízo de Famí-
O art. 280 cuida da poluição sonora. Por poluição lia a interceptação de futuras comunicações telefô-
entende-se a degradação da qualidade ambiental que nicas de Mário, para tentar obter nova prova de sua
seja resultado direta ou indiretamente de atividades ampla possibilidade de prestar alimentos aos filhos
que prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar menores;
da população ou que afetem de forma desfavorável c) deve elaborar petição inicial com o pleito de Maria de
a biota ou criem condições desfavoráveis às ativida- majoração dos alimentos, e requerer ao Juízo de Famí-
des sociais e econômicas ou às condições estéticas ou lia a juntada do áudio contendo a interceptação feita
sanitárias, bem como lancem matérias ou energia em por ela da conversa telefônica em que Mário confes-
desacordo com o estabelecido. sou possuir renda extra não contabilizada;
Desse modo, considera-se poluição sonora o exces- d) não deve requerer a juntada do áudio ao processo,
so de ruídos que possa afetar a saúde física e mental por se tratar de prova ilícita, eis que a Constituição da
da população. É importante pontuar que a conduta de República de 1988 garante a inviolabilidade do sigilo
causar poluição, inclusive a sonora, está tipificada na das comunicações telefônicas, salvo por prévia ordem
Lei nº 9.605, de 1998 como crime ambiental. judicial, para fins de instrução de qualquer tipo de
processo;
Art. 281 Nenhum padrão ambiental do Estado e) não deve requerer a juntada do áudio ao processo,
poderá ser menos restritivo do que os padrões
por se tratar de prova ilícita, eis que a Constituição da
fixados pela Organização Mundial de Saúde.
República de 1988 garante a inviolabilidade do sigilo
O art. 281 estabelece como padrão a ser observado das comunicações telefônicas, salvo por prévia ordem
pelo Estado fluminense aquele fixado pela Organiza- judicial, para fins de investigação criminal ou instrução
ção Mundial de Saúde (OMS), de modo a vedar que processual penal.
as normas estaduais fixem padrões de menor prote-
ção ao meio ambiente. 2. (FGV — 2019) Pedro, morador de uma área carente,
recebeu uma carta informando-o que estava em débito
Art. 282 As empresas concessionárias do servi- com a anuidade da associação de moradores do seu
ço de abastecimento público de água deverão bairro. Ressalte-se que Pedro, no fim do ano anterior,
divulgar, semestralmente, relatório de moni- tinha solicitado o seu desligamento da associação, o
toragem da água distribuída à população, a ser que foi indeferido sob o argumento de que a associa-
elaborado por instituição de reconhecida capacida- ção atuava em benefício dos moradores.
de técnica e científica.
Parágrafo único. A monitoragem deverá incluir a À luz do ocorrido, Pedro procurou a Defensoria Pública
avaliação dos parâmetros a serem definidos pelos
e solicitou orientação, sendo-lhe informado, correta-
órgãos estaduais de saúde e meio ambiente.
mente, que o seu requerimento foi indeferido de:
O art. 282 traz uma obrigação às empresas pri-
a) modo correto, pois todos os moradores devem perma-
vadas prestadoras de serviço público de abasteci-
necer vinculados à referida associação;
mento de água (concessionárias). Trata-se do dever
b) forma equivocada, pois ninguém pode ser obrigado a
de divulgar, semestralmente, relatório a respeito da
270 permanecer associado;
c) modo correto, pois, como Pedro se associou de modo d) apenas a aquisição da cidadania lhe permitiria fruir os
voluntário, não poderia desligar-se da associação; direitos políticos e os direitos fundamentais;
d) forma equivocada, pois a associação de moradores e) por ser estrangeira, não lhe seriam assegurados direi-
deveria demonstrar que atuou em benefício de Pedro tos políticos ou direitos fundamentais.
durante o ano;
e) modo correto, pois o pedido de desligamento só teria 6. (FGV — 2021) João, brasileiro nato, e Pedro, brasileiro
eficácia 2 (dois) anos depois. naturalizado, foram acusados e condenados pela prá-
tica de um crime no País Beta, que solicitou a extradi-
3. (FGV — 2019) Antônio, pessoa hipossuficiente no ção de ambos ao Estado brasileiro.
plano econômico e morador de uma área carente do
Estado, procurou a Defensoria Pública e solicitou que À luz da sistemática constitucional vigente:
fosse ajuizada uma ação judicial para obrigar o Poder
Público a lhe fornecer certo medicamento indispensá- a) apenas Pedro pode ser extraditado, caso se trate de
vel à sua sobrevivência. crime comum praticado antes da naturalização ou de
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na for-
À luz da sistemática constitucional, a ação a ser ajui- ma da lei;
zada buscará tutelar: b) João pode ser extraditado, caso se trate de tráfico ilíci-
to de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei, ou
a) um direito social; de crimes contra a humanidade;
b) um direito coletivo; c) apenas Pedro pode ser extraditado, caso se trate de
c) uma garantia coletiva; crime comum praticado antes da naturalização;
d) uma garantia individual; d) João e Pedro não podem ser extraditados, qualquer
e) uma liberdade individual. que seja o crime praticado;
e) João e Pedro podem ser extraditados, qualquer que
4. (FGV — 2020) Joana, servidora ocupante de cargo de seja o crime praticado.
provimento efetivo no âmbito do Poder Judiciário de
determinado Estado da Federação, foi comunicada 7. (FGV — 2019) Pedro, após o trâmite do processo
pelo sindicato da categoria que seriam iniciadas as judicial de interdição, teve a sua incapacidade civil
negociações coletivas de trabalho e era obrigatória
absoluta reconhecida. Apesar disso, tinha o sonho
a participação do sindicato. Por tal razão, era igual-
de infância de concorrer ao cargo eletivo de vereador.
mente obrigatória a filiação de todos os servidores ao
Por tal razão, procurou o seu advogado e perguntou
sindicato, de modo que a categoria não fosse sub-re-
se haveria óbice a que se candidatasse nas próximas
presentada em seus interesses.
eleições.
A narrativa afigura-se:
À luz da sistemática constitucional, o advogado res-
pondeu corretamente que Pedro:
a) incorreta em relação a Joana, pois a filiação é faculta-
tiva, e correta quanto ao sindicato, pois a sua partici-
a) somente poderia concorrer se tivesse autorização
pação é imposta pela Constituição;
expressa do seu curador;
b) correta em relação a Joana, por força do princípio da
b) poderia concorrer, pois as instâncias civil e política
solidariedade social, e incorreta quanto ao sindicato,
são independentes;
por ferir o princípio da liberdade de gestão;
c) correta em relação a Joana, já que a filiação dos ser- c) embora pudesse votar, não poderia concorrer nas elei-
vidores do Poder Judiciário é obrigatória, e incorreta ções, pois estava inelegível;
quanto ao sindicato, que tem autonomia gerencial; d) embora pudesse votar, não poderia concorrer nas elei-
d) incorreta em relação a Joana, pois os servidores do ções, pois estava inabilitado;
Poder Judiciário não podem filiar-se a sindicato, e cor- e) não poderia concorrer nas eleições, pois não estava
reta quanto ao sindicato, desde que haja determina- no exercício dos seus direitos políticos.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL


ção judicial;
e) incorreta em relação a Joana, que somente pode ser 8. (FGV — 2019) Maria, esposa do Prefeito João, que
obrigada a exercer cargo de direção no sindicato, não exercia a chefia do Poder Executivo no Município
a sindicalizar-se, e correta quanto ao sindicato, que Gama, foi informada pelo advogado da família que,
defende a categoria. de acordo com a ordem constitucional, não poderia
candidatar-se ao cargo eletivo de Vereador no mesmo
5. (FGV — 2021) Marie, integrante de uma tradicional Município.
família francesa, nascida e criada em Paris, deseja viver
no Brasil e seguir a carreira política. Para decidir que Essa vedação é denominada:
planos traçaria, estabeleceu contato com um advogado
brasileiro, que lhe informou corretamente que: a) perda dos direitos políticos;
b) vedação eleitoral;
a) não teria direitos políticos, mas poderia fruir os direi- c) inabilitação;
tos fundamentais compatíveis com sua condição de d) suspensão dos direitos políticos;
estrangeira; e) inelegibilidade.
b) poderia fruir os direitos políticos que somente exigiam
a condição de cidadão, não a nacionalidade brasileira; 9. (FGV — 2021) Os partidos políticos Alfa e Beta decidi-
c) apenas a aquisição da nacionalidade lhe permitiria ram celebrar uma coligação para as eleições, de modo
fruir os direitos políticos e os direitos fundamentais; a potencializar as chances dos seus candidatos. 271
Suas assessorias jurídicas, considerando a sistemáti- c) permite que lei complementar federal estabeleça cri-
ca constitucional vigente, ressaltaram que essas coli- térios diferenciados para a concessão de benefícios
gações poderiam ser celebradas: em regime próprio de previdência social aos policiais
civis; logo, a pretensão poderia ser atendida;
a) nas eleições majoritárias e nas proporcionais, com d) permite que lei complementar estadual estabeleça cri-
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas
térios diferenciados para a concessão de benefícios
em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal;
em regime próprio de previdência social aos policiais
b) apenas nas eleições majoritárias, com obrigatorieda-
de de vinculação entre as candidaturas em âmbito civis; logo, a pretensão poderia ser atendida;
nacional, estadual, distrital ou municipal; e) já estabelece critérios diferenciados para a concessão
c) apenas nas eleições proporcionais, com obrigatorie- de benefícios, aos policiais civis, no regime próprio de
dade de vinculação entre as candidaturas em âmbito previdência social; logo, a associação não tem verda-
nacional, estadual, distrital ou municipal; deiro interesse em sua pretensão.
d) apenas nas eleições majoritárias, sem obrigatorieda-
de de vinculação entre as candidaturas em âmbito 13. (FGV — 2019) Maria, recém-empossada Ministra de
nacional, estadual, distrital ou municipal; Estado, foi informada por um assessor próximo que
e) apenas nas eleições proporcionais, sem obrigatorie- lhe competiria (1) expedir instruções para a execu-
dade de vinculação entre as candidaturas em âmbito ção das leis, (2) exercer a coordenação dos órgãos e
nacional, estadual, distrital ou municipal. entidades da Administração Indireta e (3) nomear os
membros do Conselho da República.
10. (FGV — 2019) Na sistemática constitucional, exis-
tem matérias que podem ser disciplinadas por leis da
União, dos Estados e do Distrito Federal. Nesse caso, À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar,
a União se limita à edição de normas gerais. em relação às competências acima descritas, que:

Trata-se de competência legislativa: a) todas devem ser exercidas pelo Ministro de Estado;
b) apenas a referida em (1) não deve ser exercida pelo
a) concorrente; Ministro de Estado, pois é privativa do Presidente da
b) privativa; República;
c) exclusiva; c) apenas a referida em (2) não deve ser exercida pelo
d) livre;
Ministro de Estado, pois é privativa do Presidente da
e) partilhada.
República;
11. (FGV — 2021) A Assembleia Legislativa do Estado Alfa d) apenas a referida em (3) não deve ser exercida pelo
aprovou e o governador sancionou e promulgou a Lei Ministro de Estado, pois é privativa do Presidente da
nº XX, que fixou a competência do Tribunal de Justiça República;
para o processo e o julgamento de mandados de segu- e) nenhuma delas deve ser exercida pelo Ministro de
rança impetrados contra atos de certas autoridades. Estado, pois são privativas do Presidente da República.

A Lei nº XX é: 14. (FGV — 2021) Pedro, na época em que era Chefe do


a) inconstitucional, pois as competências do Tribunal de Poder Executivo Federal, foi condenado em um pro-
Justiça apenas podem estar previstas na lei de organi- cesso por crime de responsabilidade, daí decorrendo
zação judiciária; a aplicação da sanção de inabilitação para o exercício
b) inconstitucional, pois as competências do Tribunal de de função pública.
Justiça somente podem estar previstas em seu regi-
mento interno; A sanção sofrida por Pedro:
c) inconstitucional, pois as competências do Tribunal de
Justiça devem ser previstas na Constituição do Estado; a) restringe a cidadania em suas acepções ativa e passiva;
d) constitucional, desde que seja observado o princípio da b) equivale à proibição de contratar com o Poder Público;
simetria em relação à Constituição da República de 1988; c) acarreta restrições mais amplas que a inelegibilidade;
e) constitucional, desde que a iniciativa do respectivo d) se identifica com a perda da função pública;
projeto de lei tenha sido do Tribunal de Justiça. e) acarreta a suspensão dos direitos políticos.
12. (FGV — 2021) A associação dos policiais civis do
Estado Alfa iniciou um grande movimento para que 15. (FGV — 2021) O diretor da recém criada unidade pri-
fossem estabelecidos critérios diferenciados para a sional XX, vinculada ao Estado Alfa, expediu ofício ao
concessão de benefícios, aos policiais civis, pelo regi- Secretário de Estado de Administração Penitenciária,
me próprio de previdência social existente no referido seu superior hierárquico, solicitando a designação de
Estado. Ao tomar conhecimento dessa pretensão, um agentes da área de segurança pública para realizarem
parlamentar solicitou que sua assessoria jurídica se a segurança da unidade, isso em razão do risco de que
manifestasse sobre a possibilidade de atendê-la. fosse atacada por forças hostis.

A assessoria jurídica respondeu corretamente que a À luz da sistemática constitucional, os referidos agen-
Constituição da República de 1988: tes devem integrar a:
a) veda a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
para a concessão de benefícios em regime próprio de pre- a) polícia militar, e a solicitação foi corretamente dire-
vidência social; logo, a pretensão não poderia ser atendida; cionada ao Secretário de Estado de Administração
b) só permite a adoção dos critérios diferenciados que Penitenciária;
ela própria estabeleceu, os quais não podem ser b) polícia penal, e a solicitação foi corretamente dire-
ampliados pela legislação infraconstitucional; logo, a cionada ao Secretário de Estado de Administração
272 pretensão não poderia ser atendida; Penitenciária;
c) polícia penal, mas a solicitação deveria ser direciona- c) não atenta contra a Constituição da República de 1988,
da ao Secretário de Estado de Segurança Pública; a emenda à Constituição que, objetivando adequar o
d) polícia civil, mas a solicitação deveria ser direcionada texto constitucional às variações ocorridas nos cam-
ao Secretário de Estado de Segurança Pública; pos político, econômico e social, retire os pisos míni-
e) polícia militar, mas a solicitação deveria ser direciona- mos de custeio das ações e serviços públicos de saúde,
da ao Governador. uma vez que permanece hígida a previsão constitucio-
nal (artigos 5º, 6º e 196) do dever do Estado de prote-
16. (FGV — 2021) O governador do Estado solicitou à sua ção ao direito fundamental à saúde e à vida;
assessoria que priorizasse, na proposta orçamentária d) a União aplicará, anualmente, em ações e serviços
para o próximo exercício financeiro, as áreas de atua- públicos de saúde no mínimo 15% da receita corrente
ção afetas à seguridade social. líquida do respectivo recurso financeiro. Os Estados e
os Municípios, por sua vez, aplicarão, anualmente, em
A assessoria, corretamente, priorizou as áreas de: ações e serviços públicos de saúde, 12% e 25%, respec-
tivamente, da receita vinculada prevista na Constitui-
a) saúde, educação, previdência social, segurança públi- ção da República de 1988, deduzidas, no primeiro caso,
ca e assistência social; as parcelas que forem transferidas aos Municípios. O
b) saúde, educação, segurança pública e assistência repasse dos recursos correspondentes ao piso mínimo
social; de custeio das ações e serviços públicos de saúde será
c) saúde, educação, previdência social e segurança
feito diretamente ao Fundo de Saúde do respectivo ente
pública;
da Federação e, no caso da União, também às demais
d) saúde, previdência social e assistência social;
unidades orçamentárias do Ministério da Saúde;
e) segurança pública.
e) com esteio no modelo de determinação social do
processo saúde-doença e para fins de apuração da
17. (FGV — 2021) Com o objetivo de conter o elevado défi-
aplicação dos recursos mínimos em saúde, consi-
cit orçamentário, foi editada a Lei Federal nº XX/2021,
que determinou, em seu Art. 1º, a redução, por um derar-se-ão como despesas com ações e serviços
período de doze meses, dos benefícios da segurida- públicos de saúde aquelas (i) destinadas às ações
de social. O Art. 2º dispôs que os benefícios pagos e serviços públicos de acesso universal, igualitário e
às populações rurais seriam inferiores, em 10%, àque- gratuito; (ii) que estejam em conformidade com objeti-
les pagos às populações urbanas, considerando a vos e metas explicitados nos Planos de Saúde de cada
demonstração de que ocorrera redução do custo de ente da Federação; e (iii) que sejam de responsabili-
vida nessas localidades. Por fim, o Art. 3º consagrou dade do setor de saúde, incluindo as despesas rela-
a gestão centralizada como forma de ganhos, em eco- cionadas a outras políticas públicas que atuam sobre
nomia de escala, nas decisões a serem tomadas. determinantes sociais e econômicas incidentes sobre
as condições de saúde da população.
À luz dos princípios constitucionais da seguridade
social, é correto afirmar que: 19. (FGV — 2021) Edna, Deputada Federal, foi procurada
por um grupo de ativistas políticas, que pretendiam a
a) apenas os Arts. 1º e 2º são constitucionais; alteração da legislação previdenciária, de modo que
b) todos os artigos são inconstitucionais; a outorga de pensão por morte, em razão do faleci-
c) todos os artigos são constitucionais; mento de servidor público do sexo feminino, sendo
d) apenas o Art. 3º é constitucional; devida ao cônjuge ou companheiro supérstite, do sexo
e) apenas o Art. 2º é constitucional. masculino, estivesse condicionada à comprovação de
invalidez e de dependência econômica desse último.
18.
(FGV — 2021) Nos últimos meses, os meios de Isso, no entanto, não ocorreria na hipótese inversa,
comunicação divulgaram amplamente que a versão vale dizer, quando o falecido fosse do sexo masculino
preliminar do relatório da PEC (Proposta de Emenda e o beneficiário do sexo feminino.
à Constituição) Emergencial previa a extinção dos
valores mínimos a serem aplicados em saúde e edu- Em razão da consulta formulada, a assessoria de Edna,
cação pela União, Estados e Municípios. à luz da sistemática constitucional, respondeu, correta-
Sobre o financiamento da saúde e a jurisprudência
mente, que a fruição da pensão por morte, pelo cônjuge NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
ou companheiro varão, deve se dar em condições:
aplicável sobre o tema, é correto afirmar que:
a) idênticas às do cônjuge ou companheiro supérstite do
a) os planos de saúde são a base das atividades e pro-
sexo feminino, salvo permissivo veiculado em lei com-
gramações de cada nível de direção do SUS, e seu
plementar editada pela União;
financiamento será previsto na respectiva proposta
b) necessariamente distintas, mais restritivas, em rela-
orçamentária. É vedada a transferência de recursos
para o financiamento de ações não previstas nos pla- ção às do cônjuge ou companheiro supérstite do sexo
nos de saúde, exceto em situações emergenciais ou feminino, com o que se alcança a igualdade material;
de calamidade pública, na área da saúde; c) idênticas às do cônjuge ou companheiro supérstite do
b) os recursos destinados ao custeio de ações e serviços sexo feminino, o que decorre da necessária igualdade
públicos de saúde transferidos pela União aos Esta- formal que deve prevalecer entre ambos;
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios, e pelos Esta- d) necessariamente distintas, mais restritivas, em rela-
dos a seus respectivos Municípios, são considerados ção às do cônjuge ou companheiro supérstite do sexo
transferência obrigatória. Por isso, é vedado o condi- feminino, enquanto verdadeira ação afirmativa;
cionamento dessas transferências à instituição e ao e) necessariamente distintas, mais favoráveis, em rela-
funcionamento do Fundo e do Conselho de Saúde no ção às do cônjuge ou companheiro supérstite do sexo
âmbito do ente da Federação e à elaboração do Plano feminino, o que decorre do fato de homens se aposen-
de Saúde; tarem mais tarde. 273
20. (FGV — 2021) Após um amplo estudo, as autoridades
competentes constataram que uma extensa área de
terras públicas, pertencente ao Estado Alfa e sem des-
tinação específica, mostrava-se indispensável à pre-
servação de um importante ecossistema natural.

À luz da sistemática constitucional, as terras assim


descritas são consideradas:

a) suscetíveis de discriminação, tornando-se indisponí-


veis com a averbação no registro de imóveis;
b) abandonadas, podendo ser alienadas pelo Estado,
mas sendo insuscetíveis de usucapião;
c) afetadas a um fim público, somente podendo ser alie-
nadas após a sua desafetação;
d) de uso especial, não podendo ser alienadas;
e) devolutas, sendo indisponíveis.

9 GABARITO

1 E

2 B

3 A

4 A

5 A

6 A

7 E

8 E

9 D

10 A

11 C

12 D

13 D

14 C

15 B

16 D

17 B

18 A

19 C

20 E

ANOTAÇÕES

274
Art. 12 Um órgão administrativo e seu titular pode-
rão, se não houver impedimento legal, delegar par-
te da sua competência a outros órgãos ou titulares,
ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
subordinados, quando for conveniente, em razão de
NOÇÕES DE DIREITO circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
jurídica ou territorial.

ADMINISTRATIVO Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo


aplica-se à delegação de competência dos órgãos
colegiados aos respectivos presidentes.

O resultado do ato administrativo é o objeto, ou


seja, é aquilo que o ato decide, por exemplo, a puni-
CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO ção decorrente de uma multa de trânsito. O elemento
PÚBLICA motivo são as razões de fato e de direito que levaram
a Administração Pública a praticar determinado ato,
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA por exemplo, é a infração de trânsito que deu origem
a multa. A finalidade deve objetivar alcançar sempre
Segundo José Afonso da Silva (2017), adminis- o interesse público (definido em lei), é o resultado
tração pública é o conjunto de meios institucionais, que a Administração Pública pretende alcançar com
financeiros e humanos destinados à execução das determinado ato, por exemplo, a desapropriação por
decisões políticas1. utilidade pública. Por fim, a forma é manifestação do
ato, por exemplo, publicar no Diário Oficial da União
NATUREZA E ELEMENTOS a nomeação do Servidor Público.

O Título III, da Constituição Federal, refere-se às COMPETÊNCIA Atribuição legal para praticar o ato.
normas das orientações de atuação dos agentes admi-
OBJETO Resultado do ato, o que o ato decide.
nistrativos, empregos públicos, responsabilidade
civil etc., ou seja, trata-se da administração de bens MOTIVO Razões fáticas e jurídicas.
e interesse público; assim, conclui-se que a adminis- Resultado que o ato deseja (interesse
FINALIDADE
tração pública tem natureza de “múnus público”. Por público).
exemplo, os agentes públicos são obrigados a velar FORMA Manifestação do ato.
pela estrita observância dos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos
assuntos que lhe são afetos, caso contrário o agente
estará cometendo ato de improbidade administrativa
sujeito as sanções e penalidades previstas na Lei nº NOÇÕES DE ORGANIZAÇÃO
8.429, de 1992. ADMINISTRATIVA

Dica CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO

A palavra múnus tem origem no latim e signifi- Administração vem do latim administrare, que
ca dever, obrigação etc. O múnus público é uma significa direcionar ou gerenciar negócios, pessoas e
obrigação imposta por lei, em atendimento ao recursos, tendo sempre como objetivo alcançar metas
poder público, que beneficia a coletividade e não específicas. A noção de gestão de negócios está intima-
pode ser recusado, exceto nos casos previstos mente ligada com o ramo de Direito Administrativo.
em lei. Por exemplo: dever de votar, depor como Primeiramente, ressalta-se que na legislação brasi-
testemunha, atuar como mesário eleitoral, servi- leira inexiste uma codificação específica para o Direi-
to Administrativo. Este, por sua vez, é regulamentado
ço militar, entre outros.2
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
por leis infraconstitucionais e esparsas, sendo que
cada delas dispões sobre matérias específicas, por
Toda vez que a administração pública pratica uma
exemplo, a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, que
ação que produz um efeito jurídico, chamamos de ato
trata da improbidade administrativa; a Lei nº 8.666,
administrativo que produz efeitos que podem criar, de 21 de junho de 1993, que institui normas sobre
modificar ou extinguir direitos. licitações e contratos da Administração Pública; Lei
Os elementos dos atos administrativos são com- nº 10.520, de 17 de julho de 2002, que institui o pre-
petência, objeto, motivo, finalidade e forma. Toda gão como modalidade de licitação para a aquisição
vez que um ato é praticado deve se observar qual é a de bens e serviços comuns etc. Estas leis são apenas
competência da pessoa que o praticou, ou seja, a com- algumas do vasto aparato legislativo que normatiza-
petência é a função atribuída a cada órgão ou autori- mo Direito Administrativo.
dade por lei, tem como característica ser irrenunciável, Isso se deve a própria lógica do sistema federalis-
imprescritível, inderrogável e improrrogável. ta, uma vez que os Estados possuem autonomia para
O art. 12 da   Lei nº 9.784, de 1999 (Lei que regula criar as próprias leis. Assim, as normas de Direito
o processo administrativo no âmbito da administração Administrativo podem apresentar-se em vários âmbi-
pública), permite a delegação de competência, vejamos: tos da Federação.
1  SILVA, op. cit, p. 665.
2 Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/munus-publico.> Acesso
em: 12 out 2020. 275
O ramo de Direito Administrativo, no Brasil, conta NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO
com um ponto positivo: a doutrina e a jurisprudência ADMINISTRATIVO
que são bastante amplas e muito bem detalhadas.
A doutrina possui divergências quanto ao concei- Determinar a natureza jurídica de um ramo do
to de Direito Administrativo. Enquanto uma corrente Direito significa, de modo geral, estabelecer em qual
doutrinária define Direito Administrativo tendo como grupo ele pertence. Podemos classificar os ramos de
Direito brasileiro em dois grandes grupos: os ramos
base a ideia de função administrativa, outros prefe-
de Direito Público e os de Direito Privado. Quanto à
rem destacar o objeto desse ramo jurídico, isso é, o
natureza jurídica, não há dúvida de que o Direito
Estado, a figura pública composta por seus órgãos e Administrativo é ramo de Direito Público. Isso por-
agentes. Há também uma terceira corrente de dou- que o Direito Administrativo regula as atividades esta-
trinadores que, ao conceituar Direito Administrativo, tais na gestão de seus negócios, recursos e pessoas. A
destacam as relações jurídicas estabelecidas entre as simples presença do Poder Público faz com que ele
pessoas e os órgãos do Estado. não se enquadre no grupo do Direito Privado, que são
Embora haja essa diferença de posições na doutri- os ramos jurídicos cujas regras disciplinam as ativida-
na, não há exatamente uma corrente predominante. des dos particulares.
Todos os elementos apontados fazem parte do Direito
Administrativo. Por isso, vamos conceituá-lo utilizan- ORIGEM HISTÓRICA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
do todos esses aspectos em comum.
A origem histórica do Direito Administrativo se dá
Podemos definir Direito Administrativo como o
durante o fim do período conhecido como Absolutis-
conjunto de princípios e regras que regulam o exercí-
mo. Essa era uma época marcada pela concentração
cio da função administrativa exercida pelos órgãos e de todo o poder político nas mãos de uma única pes-
agentes estatais, bem como as relações jurídicas entre soa, o Rei ou o Monarca.
eles e os demais cidadãos. O Rei enquanto supostamente o “representante de
Não devemos confundir Direito Administrativo Deus na Terra”, tomava todas as decisões de ordem
com a Ciência da Administração. Apesar da nomen- política, e não podia ser questionado. Ele era intocável
clatura ser parecida, são dois campos bastante distin- e, por isso, a Lei era fruto de sua vontade.
tos. A administração, como ciência propriamente dita, Dessa forma, o Direito Administrativo não poderia
não é ramo jurídico. Consiste no estudo de técnicas e surgir se não com o fim do Absolutismo e a introdu-
estratégias de controle da gestão governamental. Suas ção de um Estado de Direito. A noção de Estado de
regras não são independentes, estão subordinadas Direito é bastante simples: significa que o governo, o
qual cria as suas próprias Leis, deve a elas estar sub-
às normas de Direito Administrativo. Os concursos
metido. A ideia do Estado de Direito é a de atribuir
públicos não costumam exigir que o candidato tenha
limitações ao Poder de Império do Estado. Para tanto,
conhecimentos de técnicas administrativas para res- todo Estado de Direito deve conter algumas caracte-
ponder questões de direito administrativo, mas reque- rísticas essenciais:
rem que conheçam a Administração como entidade
governamental, com suas prerrogativas e prestando z Ter uma Constituição: a Constituição é a base de
serviços para a sociedade. todo o ordenamento jurídico do Estado de Direi-
No momento, estamos nos referindo ao Direi- to e sua principal função é a de atribuir direitos,
to Administrativo, que é o ramo jurídico que regula liberdades e garantias para os cidadãos, de modo
as relações entre a Administração Pública e os seus que o Estado se absteria de agir de modo a pre-
cidadãos ou “administrados”. Administração Pública judicar esses direitos. Houve um crescimento das
é uma noção totalmente distinta, podendo ter uma constituições escritas. Outro aspecto importante
das constituições é que elas devem ser rígidas, o
acepção subjetiva e orgânica, ou objetiva e material.
que significa que a sua possibilidade de alteração
Na sua acepção subjetiva, orgânica e formal,
deve advir de um processo bastante longo e com-
a Administração Pública confunde-se com a própria
plexo. Óbvio, se a Constituição é a base de todas as
pessoa de seus agentes, órgãos, e entidades públicas outras Leis, então o seu processo de alteração deve
que exercem a função administrativa, o que signifi- ser mais difícil do que o processo de alteração de
ca que somente algumas pessoas e entes podem ser uma lei comum;
considerados como Administração Pública. É, por isso, z Separação dos Poderes: Outro ponto que está
uma acepção que tende a restringir sua definição. presente em todo Estado de Direito é que o Poder
Já na sua acepção objetiva e material da pala- do Estado não se encontra concentrado em uma
vra, podemos definir a administração pública (alguns pessoa/órgão, mas ele está dividido em Funções ou
doutrinadores preferem colocar a palavra em letras Poderes distintos. O modelo mais aceito da Separa-
minúsculas para distinguir melhor suas concepções), ção dos Poderes, e que é o mais utilizado, é a teoria
de Montesquieu, que busca separar o Poder Estatal
como a atividade estatal de promover concretamente
em três vertentes, ou Funções. Uma função é encar-
o interesse público. O caráter subjetivo da administra-
regada de criar as leis que vigoram no País (Poder
ção é irrelevante, pois o que realmente importa não
Legislativo), outra função tem o dever de promo-
é a pessoa, e sim a atividade que tal pessoa executa. ver a fiel execução das leis, bem como de gerir os
É, por isso, uma acepção mais abrangente, pois qual- negócios em que o Estado faz parte (Poder Execu-
quer pessoa que venha a exercer uma função típica tivo). Por último, há uma terceira função, encar-
da Administração será considerada uma pessoa que regada de dirimir os conflitos e as controvérsias
276 integra a mesma. presentes dentro da sociedade (Poder Judiciário);
z A legalidade como princípio fundamental: a Isso significa que todas as questões administrati-
ideia de que todos devem respeitar a vontade da vas podem ser apreciadas na esfera judicial sempre
Lei está contida na Declaração de Direitos Indi- que o processo administrativo não se mostrar sufi-
viduais do Homem e do Cidadão. Trata-se de um ciente para atender às demandas da sociedade.
documento de origem francesa muito importante, Utiliza-se bastante a noção de segurança jurídica
pois ele confere a todos os indivíduos (e não só ao para impedir que os atos da Administração possam
povo francês), uma maior proteção contra os atos intervir com os direitos e garantias dos cidadãos. A
abusivos do Estado. Pelo princípio da legalidade,
segurança jurídica, no Brasil, é um princípio de Direi-
o Estado só pode agir nos termos da Lei, porque é
to Administrativo, pois as decisões emitidas na esfera
esta que lhe dá forma e lhe confere seus Poderes.
administrativa, ou até mesmo as decisões proferidas
pelo Poder Judiciário, não podem prejudicar o ato
Importante! jurídico perfeito, o direito adquirido, bem como a
matéria que já foi objeto de discussão em outro pro-
Dissemos que o modelo mais aceito da Separa- cesso (coisa julgada).
ção dos Poderes é o modelo disposto na Teoria
de Montesquieu. Todavia, ele não foi o primeiro OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
a apresentar a ideia de separar o Poder Estatal
em diferentes Funções. Essa é uma noção errô- A determinação de um objeto de estudo do Direito
nea que pode aparecer em uma questão de pro- Administrativo possui grande importância para a sua
va como “pegadinha”. Podemos encontrar outras conceituação, bem como para estabelecê-lo como um
metodologias de Separação do Poder presentes ramo jurídico autônomo. Em sua obra3, o jurista e pro-
nas obras de Aristóteles, por exemplo. fessor Alexandre Mazza aponta que várias correntes
surgiram na tentativa de criar um conceito próprio de
Direito Administrativo, bem como a definição de seu
São esses contextos, considerando os princípios e
objeto. Essas correntes são:
as normas promulgadas nessa época, que servem de
bases do Direito Administrativo. Assim, esse ramo
jurídico vem como um conjunto de normas que regu- z Corrente legalista: o Direito Administrativo seria
lam as relações entre os indivíduos e o Estado. E, por o conjunto de normas administrativas existente
mais que o Estado ainda possua diversas prerrogati- dentro do país. Tal critério é bastante reducionis-
vas quando do exercício de suas funções, é importante ta, porque ele desconsidera a atuação da doutrina,
frisar que o seu poder não é mais absoluto: ele encon- que é muito importante para identificar princípios
tra limites dentro da esfera de liberdade de cada indi- desse ramo jurídico;
víduo, e também dentro da lei, a qual ele concorda em z Corrente do Poder Executivo: é o critério que
respeitar e se submeter a ela. Logo, o fato do Estado identifica o Direito Administrativo como o con-
ter prerrogativas não descaracteriza a sua noção de junto de normas que disciplinam a atuação do
um Estado de Direito. Poder Executivo. Também não é aceito, uma vez
Essa é a origem, de modo geral, do Direito Admi- que ignora o fato de que os órgãos dos Poderes
nistrativo. Porém, é evidente que alguns Estados Legislativos e Judiciários também exercem fun-
acabaram desenvolvendo o seu ramo de Direito Admi-
ções administrativas (funções atípicas), bem como
nistrativo de uma forma diferente dos demais, para
alguns particulares por meio da delegação de com-
melhor se ajustarem às necessidades de seus cidadãos.
petências, como é o caso dos concessionários e
Na França, por exemplo, o povo francês tinha uma
grande desconfiança de seus Juízes. Isso ocorria por- permissionários;
que muitos dos cargos públicos, naquela época, eram z Corrente das relações jurídicas: é a corrente que
herdados de pai para filho. Assim, como uma forma de destaca o Direito Administrativo como a disciplina
tentar “burlar” esse nepotismo do Judiciário, o direito das relações jurídicas estabelecidas entre a Admi-
francês acabou criando um contencioso administrati- nistração Pública e o particular. Todavia, essa não
vo. Isso significa que, dentro do direito francês, havia é uma característica única e singular do Direito

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


órgãos especializados em julgar os casos e controvér- Administrativo: outros ramos de Direito Público
sias envolvendo a Administração Pública. Assim, a possuem relações semelhantes;
função jurisdicional (que “diz o direito no caso con- z Corrente do serviço público: para esses doutrina-
creto”), na França, era dividida em duas: a jurisdição dores, o que evidencia o Direito Administrativo é o
comum e a jurisdição administrativa. fato dele ter como objeto a disciplina dos serviços
No caso do Brasil, nós não adotamos o modelo fran- públicos. Atualmente esse critério também é insa-
cês de Administração, mas isso não significa que um tisfatório, uma vez que o papel da Administração
modelo é melhor ou pior do que outro. A justiça brasi-
Pública evoluiu de forma que passou a desempe-
leira apenas não apresenta um contencioso adminis-
nhar atividades que não podem ser consideradas
trativo. Não existem órgãos brasileiros especializados
como prestação de serviço público;
em dirimir os conflitos em que a nossa Administração
Pública é parte. z Corrente teleológica: o Direito Administrativo
O direito administrativo brasileiro possui como deve ser conceituado a partir da ideia de que cer-
uma maior fonte de inspiração o direito alemão, pois tas atividades desempenhadas devem alcançar um
em ambos os Países a jurisdição é una, é uma coisa só, fim administrativo. Muito pouco utilizado, pelo
e apesar do processo administrativo coexistir com o fato de que muitas vezes há grande dificuldade
processo judicial, somente o último é capaz de profe- em estabelecer qual é, exatamente, a finalidade do
rir decisões que transitam em julgado. Estado;
3 MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 8ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2018. 277
z Corrente negativista: pelo fato de ser uma árdua ADMINISTRAÇÃO DIRETA
tarefa, muitos autores decidem utilizar critério
negativo ao conceituar Direito Administrativo, defi- A Administração Direta é o conjunto de órgãos que
nindo que pertence a esse ramo do Direito todas as integram as pessoas políticas ou federativas (União,
questões que não pertencem a nenhum outro ramo Estados, Distrito Federal e Municípios), aos quais foi
jurídico. Esse critério por exclusão é bastante frágil atribuída a competência para o exercício das ativida-
e pobre e, por isso, não é muito utilizado; des administrativas do Estado de forma centralizada.
z Corrente funcional: é o critério predominante Trata-se, portanto, dos serviços prestados direta-
entre os demais doutrinadores administrativos no mente pelas entidades políticas, utilizando-se, para
Brasil. Ele define o Direito Administrativo como o tanto, de seus órgãos internos, que são centros de
ramo jurídico que estuda o aspecto legal da função competências despersonalizados.
administrativa, independentemente de quem este- Conquanto a função administrativa seja exercida
ja encarregado de exercê-la (Administração Públi- com predominância pelo Poder Executivo, devemos-
ca, Poder Legislativo, concessionário etc). saber que existem órgãos da Administração Direta em
todos os Poderes e em todas as esferas da federação.
Com base no critério funcional, convém fazer uma É possível extrair este entendimento diretamente do
divisão do objeto do Direito Administrativo. Assim, caput do art. 37, da Constituição Federal, que dispõe:
o objeto imediato do Direito Administrativo são os “A administração pública direta e indireta de qualquer
princípios e regras que regulam a função adminis- dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
trativa. Por outro lado, temos como objeto mediato e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalida-
do Direito Administrativo a disciplina das atividades, de, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiên-
agentes, pessoas e órgãos que compõem a Administra- cia [...]”.
ção Pública, o principal ente que exerce tal função. Assim, é possível afirmar que existem órgãos da
Administração Direta atuando na administração fede-
FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO ral, estadual, distrital e municipal, nos Poderes Execu-
tivo, Legislativo e Judiciário.
As fontes do Direito são os elementos que dão ori- No entanto, o que nos interessa é estudar o Poder
gem ao próprio direito. O Direito Administrativo tem Executivo, uma vez que quase todos os órgãos da
algumas peculiaridades em relação a suas fontes que Administração Direta encontram-se subordinados a
são importantes para nossos estudos. este Poder.
Relembrando que o Direito Administrativo não é O art. 4º, do Decreto-Lei nº 200, de 1967, definiu
ramo jurídico codificado. A matéria encontra-se de a administração direta e indireta em âmbito federal,
um modo muito mais amplo. É possível verificar nor- vejamos:
mas administrativas presentes, como exemplos, na
Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, que esta- Art. 4° A Administração Federal compreende:
belece os membros da Administração Pública e seus I - A Administração Direta, que se constitui dos
princípios; na Lei nº 8.666, de 1993, que dispõe sobre serviços integrados na estrutura administrativa da
normas de licitações e contratos administrativos; na Presidência da República e dos Ministérios.
Lei nº 8.987, de 1995, que regulamenta as concessões II - A Administração Indireta, que compreende
e permissões de serviços públicos para entidades pri- as seguintes categorias de entidades, dotadas de
vadas; entre outros. personalidade jurídica própria:
É costume dividir as fontes de Direito Administrati- a) Autarquias;
vo em fontes primárias e fontes secundárias. As fontes b) Empresas Públicas;
primárias são aquelas de caráter principal, capazes de c) Sociedades de Economia Mista.
originar normas jurídicas por si só. Já as fontes secun- d) fundações públicas.
dárias são derivadas das primeiras, por isso possuem Parágrafo único. As entidades compreendidas na
caráter acessório. Elas ajudam na compreensão, inter- Administração Indireta vinculam-se ao Ministério
em cuja área de competência estiver enquadrada
pretação e aplicação das fontes de direito primárias.
sua principal atividade.
São fontes de Direito Administrativo:
Por fim, é importante ressaltarmos uma pequena
desatualização do dispositivo acima, que não traz o
z Legislação em sentido amplo, seja na Constituição,
consórcio público de direito público (também conhe-
seja nas Leis esparsas, nos Princípios, em qualquer
cidas por associações públicas), também entidade
veículo normativo.
integrante da administração indireta, conforme cons-
z Doutrina, todo o trabalho científico realizado por
ta no Código Civil.
um renomado autor, seja uma obra, ou um parecer
jurídico, com o objetivo de divulgar conhecimento;
Art. 41 São pessoas jurídicas de direito público interno:
z Jurisprudência, o conjunto de diversos julgados
I - a União;
num mesmo sentido;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
z Costumes jurídicos, tudo que for considerado III - os Municípios;
uma conduta que se repete no tempo. IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
V - as demais entidades de caráter público criadas
Importante frisar que, das fontes mencionadas, por lei.
apenas a Lei é fonte primária do Direito Administra- Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as
tivo, sendo o único veículo habilitado para criar dire- pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha
tamente obrigações de fazer e não fazer. A doutrina, a dado estrutura de direito privado, regem-se, no que
jurisprudência e os costumes jurídicos são considera- couber, quanto ao seu funcionamento, pelas nor-
278 das fontes secundárias. mas deste Código.
Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direi- Podemos fazer alguns comentários sobre o concei-
to público interno. Mas há características peculariares to apresentado. Ao dizer que as autarquias são criadas
distintivas que fazem com que afirmá-lo apenas como “para executar atividades típicas da Administração
pessoa jurídica de direito público interno seja correto, Pública”, o texto legal faz referência àquelas ativida-
mas não suficiente. Pela peculiaridade da função que des características do Poder Público, e que só podem
desempenha, o Estado é verdadeira pessoa adminis- ser executadas pelo mesmo, em regra. São atividades
trativa, eis que concentra para si o exercício das ativi- em que deve haver a prevalência do interesse públi-
dades da administração pública.
co sobre o privado e, por isso mesmo, as autarquias
gozam de diversas prerrogativas para executar tais
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
tarefas. É por isso que as autarquias são pessoas jurí-
dicas de direito público. Com isso, tais entidades são
A Administração Pública Indireta é composta pelas
entidades administrativas. Estas, por sua vez, pos- proibidas de exercer qualquer atividade econômica,
suem personalidade jurídica própria e são responsá- o que lhes proporciona uma grande vantagem: não
veis por executar atividades administrativas de forma pode ser decretada sua falência e também goza de
descentralizada. São elas: as autarquias, as fundações imunidade tributária.
públicas e as empresas estatais (empresas públicas e A sua criação depende de lei específica. Isso signi-
sociedades de economia mista). fica que a sua existência é condicionada apenas pelo
As entidades da Administração Indireta não pos- trabalho realizado pelo legislador, não há outros atos
suem autonomia política e estão vinculadas à Admi- subsequentes que condicionam sua existência, como
nistração Direta. A vinculação não é subordinação, acontece com as pessoas jurídicas de direito privado.
mas apenas uma forma de controle finalístico para O regime de pessoal das autarquias é o estatu-
fins de enquadramento da instituição no programa tário. Significa que a autarquia não pode contratar
geral do Governo e para garantir que sejam atingidas quem ela quiser, como se fosse um empregador: seus
as finalidades da entidade controlada. funcionários devem ser servidores públicos, pre-
viamente aprovados em prova de concurso público.
Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Assim, todas as questões referentes ao regime laboral
Sociedades de Economia Mista desses servidores devem ser resolvidas, tendo como
base a Lei nº 8.112, de 1990, conhecida também como
As entidades da Administração Indireta podem ter Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União.
personalidade jurídica de Direito Público ou de Direi- O patrimônio das autarquias consiste em bens
to Privado. Tal diferença é bastante relevante no que
públicos, que gozam da garantia de serem inalie-
diz respeito ao procedimento de criação dessas enti-
náveis e impenhoráveis. Se o patrimônio é público,
dades autônomas.
significa que ele é utilizado, de forma a atender uma
As pessoas jurídicas de direito público são cria-
das por lei (inciso XIX, do art. 37, da CF/1988) e a sua finalidade pública. Logo, não pode a autarquia abrir
personalidade jurídica advém no momento em que mão desses bens, e nem dá-los em garantia.
tal legislação entra em vigor no âmbito jurídico, não As autarquias somente podem celebrar contratos
havendo necessidade de registro em cartório. As pes- públicos, isso é, são contratos típicos da Administra-
soas jurídicas de direito privado, todavia, são autori- ção Pública, que a colocam em posição mais vantajosa
zadas pela lei (inciso XX, do art. 37, da CF/1988), ou em relação ao particular interessado.
seja, a legislação deve permitir que ela exista, para Pode-se afirmar que vigora o princípio da espe-
que o Poder Executivo regulamente suas funções cialidade no regime das autarquias. Isso significa que
mediante a expedição de decretos. Sua personalidade cada entidade é criada para atender a uma finalidade
jurídica, dessa forma, está condicionada ao seu regis- individual e específica. Exemplificando: para tratar
tro em cartório. de questões do regime de previdência social, temos o
São pessoas jurídicas de Direito Público, membros INSS, que é a única autarquia responsável pela con-
da Administração Indireta: as autarquias, as funda-
cessão de benefícios previdenciários. É o próprio INSS
ções públicas, agências reguladoras e associações
que responde em juízo, havendo uma ação previden-
públicas. São pessoas jurídicas de Direito Privado: as
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
empresas públicas, as sociedades de economia mista, ciária pleiteada por particular, e não a União/Estado.
as fundações governamentais com estrutura de pes- Devido à multiplicidade de assuntos temos, consequen-
soa jurídica de Direito Privado, as subsidiárias e os temente, uma multiplicidade de autarquias. A doutrina
consórcios públicos de Direito Privado. tende a classificar as autarquias nos seguintes grupos:

z Autarquias z Administrativas: são as autarquias comuns, apre-


sentam regime jurídico ordinário. Exemplo: Insti-
As autarquias são pessoas jurídicas de Direito Públi- tuto Nacional de Seguridade Social (INSS);
co interno, criadas por legislação própria, que tem por z Especiais: possuem maior autonomia em relação
escopo exercer as funções típicas da Administração às autarquias administrativas devido à presença
Pública. As autarquias possuem um conceito definido de certas características, como a presença de diri-
em lei, mais especificamente no inciso I, do art. 5º, do gentes com mandato fixo. Podem se subdividir em:
Dec-Lei nº 200/1967: para os fins desta lei, considera-se:
„ Especiais stricto sensu (Banco Central);
“I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei,
„ Agências reguladoras (Anatel, Anvisa).
com personalidade jurídica, patrimônio e receita
próprios, para executar atividades típicas da Admi-
nistração Pública, que requeiram, para seu melhor z Corporativas: são as corporações profissionais,
funcionamento, gestão administrativa e financeira que promovem o controle e a fiscalização de cate-
descentralizada”. gorias profissionais. Exemplos: CREA, CRO, CRM; 279
z Fundacionais: são as fundações públicas, entidades importante frisar que, mesmo as fundações de regime
que arrecadam patrimônio para o cumprimento de um jurídico privado devem obediência às normas públi-
objetivo específico. Exemplos: Funai, Procon, Funasa; cas, e não à legislação civil.
z Territoriais: são as autarquias de controle da As fundações de direito privado, para sua criação,
União, também denominadas territórios federais precisam de autorização por lei. É diferente de uma
(art. 33, da CF, de 1988). A atual Constituição aboliu autarquia, que é criada por lei. Aqui, a fundação já
os territórios federais remanescentes; existe, mas para atuar no mercado privado deve, além
z Associativas: são as autarquias criadas pelo de possuir autorização legislativa, obter registro em
resultado de uma celebração de consórcio públi- cartório para adquirir sua personalidade jurídica,
co, também denominadas associações públicas. como se fosse uma empresa.
Se o contrato de consórcio público envolver múl- Por conseguinte, seu patrimônio consiste em bens
tiplos entes da Federação, tais autarquias podem privados, que não gozam das garantias de inalienabili-
ser transfederativas. Exemplo: associação criada dade e impenhorabilidade presente nos bens públicos.
entre União, Estados e Municípios para a constru- Importante, também, destacar que as fundações
ção de um teatro. privadas podem celebrar contratos privados, os ins-
trumentos contratuais típicos da esfera privada como
compra e venda, locação de imóvel etc.
Importante! Como o patrimônio se destaca do seu instituidor, o
controle desse referido patrimônio é feito por órgão
Curioso é o caso da Ordem dos Advogados do especial, denominado curadoria das fundações. No
Brasil. A OAB sempre foi considerada uma autar- caso das fundações de direito público, o controle fiscal
quia de regime comum. Todavia, durante o julga- é exercido pelo Ministério Público.
mento da ADI nº 3.026, o STF decidiu mudar seu
entendimento, ao decidir que a OAB é um serviço z Agências reguladoras: características e
independente e de natureza especial e que, por classificação; O surgimento das agências regu-
isso mesmo, não pode sofrer controle específico ladoras possui fortes relações com a época das pri-
das autarquias. Assim, a OAB seria considerada vatizações na segunda metade dos anos 1990. Neste
uma entidade própria sui generis, e não é mais contexto, as agências reguladoras foram introduzi-
uma autarquia. das, sobretudo pelas ECs nos 8 e 9, ambas de 1995,
para atuar como órgãos reguladores, fiscalizadores
e controladores da iniciativa privada, que passaram
z Fundações Públicas a desenvolver as tarefas originalmente atribuídas ao
Estado. Alguns exemplos de agências reguladoras:
As fundações públicas são consideradas espécies Aneel, Anatel, Ancine, ANP, entre outros.
de autarquias, possuindo diversas características
similares. Fundação pública é, nos termos do inciso As agências reguladoras também são autarquias
IV, do art. 5º, do Dec-Lei nº 200, de 1967: sob um regime especial, diferenciando-se das autar-
quias comuns em dois aspectos:
[...] a entidade dotada de personalidade jurídica de
direito privado, sem fins lucrativos, criada em vir- „ Estabilidade: os dirigentes das agências regula-
tude de autorização legislativa, para o desenvolvi- doras não podem ser exonerados por qualquer
mento de atividades que não exijam execução por motivo, ao contrário das autarquias, em que
órgãos ou entidades de direito público, com autono-
seus dirigentes atuam em cargos de comissão.
mia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos
Assim, os dirigentes das agências têm maior pro-
respectivos órgãos de direção, e funcionamento cus-
teção contra o desligamento forçado, promoven-
teado por recursos da União e de outras fontes.
do maior estabilidade no exercício de seu cargo;
„ Mandato fixo: os dirigentes não possuem car-
A Funai (Fundação Nacional do Índio), Funasa
go vitalício. Mas a existência de mandato fixo
(Fundação Nacional de Saúde) e o IBGE (Instituto Bra-
garante também maior estabilidade no seu car-
sileiro de Geografia e Estatística), são alguns exemplos
go, visto que ele tem prazo determinado para se
de fundações públicas.
encerrar. A duração dos mandatos pode variar
Pelo conceito disposto na legislação, percebe-se
dependendo de cada agência, podendo ser de 3
que o referido Decreto-Lei dispõe serem as funda-
anos como na Anvisa, 4 anos como na Aneel, ou
ções entidades com personalidade jurídica de Direito
até 5 anos como na Anatel.
Privado. Tal conceituação não foi recepcionada pela
Constituição de 1988 que, no inciso XIX, art. 37, deci-
As agências reguladoras podem ser classificadas:
diu não fazer tal distinção:

Art. 37 [...] z Quanto à sua origem:


XIX - somente por lei específica poderá ser criada
autarquia e autorizada a instituição de empresa „ Agências federais;
pública, de sociedade de economia mista e de fun- „ Estaduais;
dação, cabendo à lei complementar, neste último „ Municipais;
caso, definir as áreas de sua atuação. „ Distritais.

Dessa forma, concluímos que as fundações podem z Quanto à atividade preponderante:


ser tanto de Direito Público como de Direito Priva-
do, dependendo do que a lei instituidora da funda- „ Agências de serviço, que exercem as funções
280 ção delimitar quanto as suas competências. Todavia, típicas;
„ Agências de polícia, que exercem fiscalização As empresas públicas e as sociedades de economia
das atividades econômicas; mista apresentam características em comum:
„ Agências de fomento, que ajudam a desenvol-
ver o setor privado; „ Atuação na prestação de serviços públicos
„ Agências de uso de bens públicos. ou no desenvolvimento de atividade eco-
nômica: as empresas exploradoras de ativi-
z Quanto à previsão constitucional: dade econômica geralmente recebem menor
controle pela Administração, embora também
„ Agências com referência constitucional (a Anatel apresentem certas desvantagens, como não
tem previsão no inciso XI, art. 21, da CF, de 1988); ter imunidade a impostos, e seus bens não tem
„ Agências sem referência constitucional, são a natureza pública, podendo ser penhorados.
grande maioria. „ Sofrem controle pelo Tribunal de Contas da
União: também podendo sofrer controle pelo
z Quanto ao momento de sua criação: Poder Judiciário, no que couber.
„ Contratação de bens e serviços mediante
prévia licitação: a licitação é processo utili-
„ Agências de primeira geração (1996 a 1999) na
zado a fim de promover uma competição justa
época das privatizações;
com as empresas privadas do mesmo setor. Tal
„ De segunda geração, de 2000 a 2004;
imposição não é exigida para as empresa públi-
„ De terceira geração, que adveio com as agên-
cas e sociedades de economia mista explorado-
cias pluripotenciárias (2005 em diante), exer-
ras de atividade econômica.
cendo múltiplas funções simultaneamente. „ Obrigatoriedade de realização de concur-
so público: trata-se de uma forma de avaliar
z Associações públicas: a criação de consórcio; A os melhores funcionários dentro de um grupo
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios seleto de candidatos.
são os entes responsáveis pela regulamentação dos „ Contratação de pessoal pelo regime celetista:
consórcios públicos e dos convênios de coopera- seus membros são denominados empregados
ção, autorizando a gestão associada de serviços públicos, salvo as hipóteses de contratação para
públicos, bem como a transferência total ou parcial cargo comissionado. Todas as controvérsias
de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à envolvendo o regime laboral dos empregados
continuidade dos serviços transferidos (art. 241, da públicos deve ser resolvida com base na CLT.
CF, de 1988). Apesar disso, a vedação de acumular dois car-
gos públicos também se estende aos empregos
Essas pessoas jurídicas autônomas, criadas pelos públicos.
entes federados, e que têm por objeto medidas de
mútua cooperação, denominam-se consórcio públi- z Impossibilidade de decretar sua falência: no
cos. Os consórcios públicos são disciplinados pela Lei caso das estatais prestadoras de serviços públicos,
nº 11.107, de 2005. Uma das características mais dis- nos termos do inciso I, do art. 2º, da Lei nº 11.101,
tintas dos consórcios é a possibilidade de eles possuí- de 2005.
rem natureza de Direito Público ou de Direito Privado.
Consórcios de Direito Privado obedecem às As empresas públicas são pessoas jurídicas de
normas da legislação civil. Possuem regime celetista, Direito Privado, cuja criação depende de autorização
embora não possam ter fins lucrativos. Por isso, não legal. Sua personalidade é concedida pelo registro de
integram a Administração Pública. Já os consórcios de seus atos constitutivos em cartório, com a totalidade
direito público são as associações públicas propria- de seu capital público e regime organizacional livre
mente ditas, podendo ser inclusive transfederativas se (inciso II, art. 5º, do Dec-Lei nº 200, de 1967), poden-
integrarem todas as esferas das pessoas consorciadas do ser organizadas como sociedade anônima, ou de
responsabilidade limitada, ou ainda sociedade por
(federal, estadual, municipal).
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
comandita de ações. São empresas públicas: o Ban-
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
z Empresas do Estado: as Empresas Públicas e
(BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Empresa
Sociedades de Economia Mista. Passemos a ana-
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
lisar o grupo de pessoas jurídicas denominado de
As sociedades de economia mista têm seu concei-
Empresas do Estado (ou empresas estatais). São as
to legal previsto no inciso III, do art. 5º, do Dec-Lei nº
pessoas jurídicas de Direito Privado pertencentes 200, de 1967. São pessoas jurídicas de direito privado,
à Administração Indireta e comportam duas espé- cuja criação também depende de autorização legal e
cies: as empresas públicas e as sociedades de eco- registro em cartório, possui a maioria de seu capital
nomia mista. público e devem ser obrigatoriamente organizadas
como sociedades anônimas. São sociedades de econo-
Muitas das características apresentadas pelas fun- mia mista: Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás.
dações privadas aplicam-se às empresas estatais, isso Percebemos algumas diferenças entre as empresas
é, sua criação depende de autorização legislativa além públicas e as sociedades de economia mista. A primei-
do registro em cartório; seu patrimônio constitui em ra diz respeito ao capital constitutivo: enquanto nas
bens privados; sua atividade principal consiste em empresas públicas, todo o seu capital deve ser público
exercer uma atividade econômica; e a aptidão para (o Dec-Lei nº 200, de 1967, dispõe que seu capital deve
celebrar contratos privados. advir totalmente “da União”, mas admite-se também o
capital de origem estadual e municipal), as sociedades 281
de economia mista admitem a presença do capital de cargo do agente responsável (Ministro de Esta-
origem privada, mas pelo menos 50% mais uma de suas do), considerando critérios de conveniência e
ações com direito a voto devem pertencer ao Estado. oportunidade, conceder ou não tal qualificação.
Além disso, outra diferença relevante é em relação
à forma de sua organização: as sociedades de econo- O instrumento de formalização da parceria entre a
mia mista devem obrigatoriamente ter a estrutura de Administração e a organização social é o contrato de
sociedade anônima, trata-se de disposição legal do gestão, cuja aprovação deve ser submetida ao Minis-
próprio Dec-Lei nº 200, de 1967. As empresas públi- tro de Estado ou outra autoridade supervisora da área
cas, por sua vez, não sofrem essa imposição, podendo de atuação da entidade.
adotar a estrutura que desejar.
As organizações sociais representam uma espécie
de parceria entre a Administração e a iniciativa pri-
DAS ENTIDADES DE COLABORAÇÃO E SEU REGIME
vada, exercendo atividades que, antes da Emenda 19,
JURÍDICO
de 1998, eram desempenhadas por entidades públicas.
Por isso, seu surgimento no Direito Brasileiro está rela-
Por fim, convém explanar sobre algumas pessoas
jurídicas que, apesar de não integrarem a Administra- cionado com um processo de privatização lato sensu
ção Pública, seja Direta ou Indireta, ainda assim são a realizado por meio da abertura de atividades públicas
elas aplicáveis as normas gerais de Direito Adminis- à iniciativa privada.
trativo. Essas são as entidades paraestatais.
As entidades paraestatais são entidades privadas z Organização da Sociedade Civil de Interesse
que realizam atividades de interesse coletivo, sem Público
fins lucrativos que recebem incentivos de entidades
públicas. Tais empresas privadas cujos objetivos são As Organizações da Sociedade Civil de Interesse
a execução de serviços de relevante interesse público Público (OSCIPs) são também pessoas jurídicas de direi-
são denominadas entidades do Terceiro Setor. Tradi- to privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa
cionalmente considera-se “entidade paraestatal” sinô- dos particulares e qualificadas pelo Estado, para desem-
nimo de entidades da Administração Indireta. penhar serviços não exclusivos do Estado, com fiscaliza-
As entidades paraestatais, por serem regidas pelo direi-
ção pelo Poder Público, formalizando a parceria com a
to privado, não têm os privilégios concedidos constitucio-
Administração Pública por meio de termo de parceria.
nalmente às entidades de direito público. Essas entidades
paraestatais podem se apresentar sob as seguintes formas: A lei que disciplina as OSCIPs é a Lei nº 9.790, de
1999, sendo regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de
z Organização Social: A organização social (OS) não 1999. Seu art. 3º dá uma noção mais ampla e geral
é uma pessoa jurídica especial, mas uma qualificação sobre as entidades que podem ser qualificadas como
especial outorgada pelo governo federal a entidades OSCIPs, in verbis:
da iniciativa privada, sem fins lucrativos, cuja outor-
ga autoriza a fruição de vantagens peculiares, como Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, obser-
isenções fiscais, destinação de recursos orçamentá- vado em qualquer caso, o princípio da universaliza-
rios, repasse de bens públicos, bem como emprésti- ção dos serviços, no respectivo âmbito de atuação
mo temporário de servidores governamentais. das Organizações, somente será conferida às pes-
soas jurídicas de direito privado, sem fins lucrati-
A Lei nº 9.637, de 1998, é a lei que regulamenta essa vos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma
qualificação das OS, e seu art. 1º é bastante claro ao deli- das seguintes finalidades:
mitar a área de atuação de tais entidades privadas: de I - promoção da assistência social;
modo geral, a OS será concedida a empresas cujas prin- II - promoção da cultura, defesa e conservação do
cipais atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa patrimônio histórico e artístico;
científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção III - promoção gratuita da educação, observando-se
e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, a forma complementar de participação das organi-
Desempenham, portanto, atividades de interesse público, zações de que trata esta Lei;
mas que não se caracterizam como serviços públicos stric- IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a
to sensu, razão pela qual é incorreto afirmar que as orga- forma complementar de participação das organiza-
nizações sociais são concessionárias ou permissionárias. ções de que trata esta Lei;
O art. 2º da referida Lei dispõe sobre os requisitos V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
para a outorga da qualificação como OS: São requisi- VI - defesa, preservação e conservação do meio
tos específicos para que as entidades privadas referi- ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
das no art. anterior habilitem-se à qualificação como VII - promoção do voluntariado;
organização social: VIII - promoção do desenvolvimento econômico e
social e combate à pobreza;
„ Comprovar o registro de seu ato constitutivo, IX - experimentação, não lucrativa, de novos mode-
incluindo a sua natureza social, seus objetivos, los sócio-produtivos e de sistemas alternativos de
suas finalidades devem ser não lucrativas, a produção, comércio, emprego e crédito;
composição dos membros de sua diretoria etc; X - promoção de direitos estabelecidos, construção
„ Haver aprovação, quanto à conveniência e opor- de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de
tunidade de sua qualificação como organização interesse suplementar;
social, do Ministro ou titular de órgão supervi- XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos
sor ou regulador da área de atividade corres- humanos, da democracia e de outros valores universais;
pondente ao seu objeto social e do Ministro de XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnolo-
Estado da Administração Federal e Reforma do gias alternativas, produção e divulgação de informa-
Estado. Importante ressaltar que a concessão de ções e conhecimentos técnicos e científicos que digam
282 tal qualificação é ato discricionário, ficando a respeito às atividades mencionadas neste artigo.
XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilização e a implementação de tecnologias voltadas à
mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte. 

Como já mencionamos, o instrumento que regula essa relação do Poder Público com a OSCIP é o termo de par-
ceria, que discriminará direitos, responsabilidades e obrigações das partes signatárias, prevendo especialmente
metas a serem alcançadas, prazo de duração, direitos e obrigações das partes e formas de fiscalização. Além disso,
outra diferença marcante entre a OSCIP da OS é que sua concessão é ato vinculado (§ 2º , do art. 1º, da Lei nº 9.790,
de 1999), podendo-se falar em um “direito adquirido” da empresa privada em obter a qualificação de OSCIP. O
requerimento deve ser encaminhado ao Ministro da Justiça, na forma do art. 5º da referida Lei.
Esquematicamente, podemos estabelecer as principais diferenças entre a OS e a OSCIP:

PRINCIPAIS DISTINÇÕES OS OSCIP


Lei nº 9.790/1999 + Decreto nº
Quanto à legislação Lei nº 9.637/1998
3.100/1999
Atividades de interesse público ante- Atividades não exclusivas do Estado,
Quanto ao exercício de funções riormente desempenhadas pelo Estado mas de relevante interesse público
(mais restrito) (mais abrangente)
Quanto ao Instrumento que formali-
Contrato de Gestão Termo de Parceria
za a relação
Ato discricionário; conveniência e
Quanto à vinculação da qualificação Ato vinculado; disposição legal
oportunidade
Quanto ao ente público outorgante Ministro de Estado Ministro da Justiça
Quanto à possibilidade de direito
Não há tal possibilidade Há direito adquirido sobre a outorga
adquirido

CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

A descentralização é a técnica em que a Administração Pública atribui suas competências a pessoas jurídicas
autônomas, criadas por ela própria para esse fim. É considerada um princípio fundamental da própria Administração,
nos termos do inciso III, do art. 6º, do Dec-Lei nº 200, de 1967.
Art. 6º As atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios fundamentais:
[...]
III - Descentralização.

Por outro lado, a centralização é o fenômeno inverso, em que ocorre uma absorção de competências, de uma
pessoa jurídica autônoma sobre outra.
Na centralização/descentralização, costuma-se utilizar com bastante frequência o termo entidade. Nos termos
do inciso II, do § 2º , do art. 1º, da Lei nº 9.784/1999: “Para os fins desta Lei, consideram-se: II – entidade - a unidade
de atuação dotada de personalidade jurídica”. Entidade da Administração, assim, é qualquer pessoa jurídica autô-
noma cujo serviço público foi outorgado pela entidade federativa, isso é, pelas pessoas jurídicas de Direito Público
interno (União, Estados, Municípios, Distrito Federal etc.). Os membros federais, nesses casos, realizam apenas
uma tarefa de controle e fiscalização do serviço prestado pela entidade outorgada.

Formas de Descentralização

A descentralização poderá ocorrer por meio de três formas diferentes. Vejamos quais são:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
z Por outorga, por serviços, técnica ou funcional: ocorre quando o Estado cria entidade da administração
indireta para exercício de determinado serviço público. A criação da nova entidade é realizada por meio
de lei. Vejamos alguns exemplos: a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é uma autarquia, criada
pela Lei nº 9.472, de 1997, vinculada ao Ministério das Comunicações, com a função de órgão regulador das
telecomunicações; a Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL) é uma empresa pública, cuja criação foi
autorizada pela Lei nº 12.404, de 2011, vinculada ao Ministério da Infraestrutura, com o objetivo de planejar e
promover o desenvolvimento do serviço de transporte ferroviário de alta velocidade de forma integrada com
as demais modalidades de transporte.
z Delegação ou colaboração: realizada por meio de contrato ou ato unilateral, ocorrendo a transferência de
determinadas atribuições para o setor privado. Aqui, ocorre a transferência apenas da execução, permanecen-
do a competência com o ente público devido à imposição do texto constitucional. Trata-se de uma modalidade
de descentralização que acontece nas autorizações, concessões ou permissões, como serviços de telefonia
prestados pelas operadoras Tim, Oi, Claro e Vivo, por exemplo.
z Geográfica ou territorial: é uma das modalidades de descentralização prevista no § 2º, do art. 18, da Consti-
tuição Federal.

Art. 18 A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o


Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. 283
[...] „ Agências de primeira geração (1996 a 1999) na
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e época das privatizações;
sua criação, transformação em Estado ou reinte- „ De segunda geração, de 2000 a 2004;
gração ao Estado de origem serão reguladas em lei „ De terceira geração, que adveio com as agên-
complementar. cias pluripotenciárias (2005 em diante), exer-
cendo múltiplas funções simultaneamente.
Os Territórios possuem personalidade jurídica de
direito público mesmo não integrando a federação.
Ressalta-se que não existem territórios federais no
Brasil, mas, como vimos, existe a possibilidade de sua REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO
criação.
Portanto, de forma esquemática temos o seguinte: CONCEITO

O regime jurídico pode ser definido como conjunto


DESCENTRALIZAÇÃO de normas que irá orientar uma determinada relação
DMINISTRATIVA jurídica. Vejamos dois exemplos para, desde já, seja
possível ter em mente que esse conjunto de normas
poderá variar de acordo com a situação.
O primeiro deles seria um desentendimento seu com
Por outorga, por Por delegação Geográfica ou seu vizinho em uma eventual construção irregular, que
serviços, técnica ou colaboração territorial
ou funcional extrapola o direito de um e invade o direito do outro.
Num segundo momento, imagine que você foi fla-
grado por uma viatura policial ao avançar um sinal
CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO vermelho em alta velocidade.
Veja que, em que pese caber discussões de defesa
A concentração e a desconcentração estão liga- de direitos em ambos os exemplos, as normas apli-
das ao surgimento ou extinção de órgãos públicos ou cáveis aos casos não são as mesmas. No primeiro
exemplo há uma clara igualdade, o que não ocorre no
administrativos.
segundo momento.
Desconcentração é a técnica utilizada para o Para começar a entender o regime jurídico-admi-
exercício de competências administrativas, median- nistrativo, ou seja, o regime jurídico ao qual se submete
te órgãos públicos despersonalizados e vinculados a Administração Pública quando da sua atuação, deve-
hierarquicamente aos entes da Federação. Há a remos entender dois princípios, chamados pela doutri-
repartição das atribuições entre os órgãos públicos na em Direito Administrativo de supraprincípios:
pertencentes a uma mesma pessoa jurídica, por isso
sua vinculação hierárquica. z Supremacia do interesse público;
Ou seja, a desconcentração nada mais é do que z Indisponibilidade do interesse público.
uma técnica administrativa que ocorre dentro de uma
mesma pessoa jurídica na distribuição de competên- Com base na supremacia do interesse público serão
cias internas. criadas prerrogativas para proteger o interesse públi-
O inverso, isso é, a concentração, é o fenômeno co diante do interesse particular. Exemplo: presunção
de veracidade e legitimidade dos atos administrativos.
em que temos uma absorção ou avocação de compe-
Já a indisponibilidade do interesse público irá im-
tências de um órgão sobre outro. por restrições ao uso da coisa pública, também com in-
Difere-se da descentralização justamente nesse tuito de proteção: inalienabilidade condicionada dos
aspecto: os órgãos públicos, ao contrário das autar- bens públicos.
quias, fundações etc., não têm personalidade jurídica Importante ressaltar que a Administração Pública
própria, e por isso, não possuem a mesma autonomia nem sempre estará atuando sob este regime jurídi-
dos entes descentralizados, permanecendo vincula- co-administrativo, apesar de esta ser a regra. Have-
dos hierarquicamente ao Estado. rá situações em que a Administração Pública estará
Em relação às modalidades de desconcentração, a atuando de igual para igual com o particular, sujeita
doutrina tende a classificar a desconcentração em três a um regime de direito privado. Portanto, dito isso,
espécies distintas: vamos organizar essa parte do raciocínio.

z Desconcentração territorial ou geográfica: é z Regime jurídico de direito público: conceito restri-


aquela em que todos os órgãos recebem as mes- to (regime jurídico-administrativo);
mas competências em relação à matéria, a diferen- z Regime jurídico de direito privado.
ça encontra-se apenas nas regiões em que devem
atuar. É o caso da Delegacias de Polícia; PRINCÍPIOS EXPRESSOS E IMPLÍCITOS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
z Desconcentração material ou temática: é a que dis-
tribui as competências administrativas tendo em vista
Noção Geral de Princípio
a especialização de cada órgão em um assunto especí-
fico. Exemplo: o Ministério da Cultura da União;
Os princípios são a base de um ordenamento jurí-
z Desconcentração hierárquica ou funcional: dico, anteriores até mesmo à existência das normas,
o elemento diferenciador é a relação de subor- pois influenciam no próprio processo legislativo.
dinação e hierarquia entre os órgãos públicos. Podem constar expressamente ou não, tendo como
Exemplo: os tribunais administrativos possuem característica terem enunciados genéricos, para apli-
284 subordinação em relação aos órgãos de primeira cação num máximo possível de situações.
Os princípios possuem alto nível de abstração, Em um Estado de Direito, a vida das pessoas, assim
outra característica que irá permitir a sua aplicabili- como também do Estado, será pautada no que cons-
dade a um grande número de situações. tar da lei. No entanto, a interpretação do princípio da
Também poderão ser utilizados para análise da legalidade terá abordagens diferentes quando olhar-
validade de normas constantes do ordenamento jurí- mos para o particular ou para o agente público.
dico, assim como a sua correta interpretação. Vejamos a legalidade aplicável ao particular, cons-
Não há hierarquia na aplicação dos princípios. tante do art. 5º da Carta Magna.
Eles devem ser interpretados de forma harmônica. No
entanto, isso não impede que um ou outro esteja mais Art. 5º (...)
presente quando da análise de uma situação concre- II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
ta. Nesse ponto, não falaremos de hierarquia, mas da fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
mera aplicabilidade do princípio à situação concreta
trazida à análise.
Veja que o mandamento para o particular é permis-
Vamos enumerar as características dos princípios
sivo. Ele poderá fazer tudo que não estiver proibido em
colocadas até então:
lei. Será obrigado a algo apenas quando da lei constar.
Essa não é a interpretação do princípio da legalidade
z Generalidade;
para o agente público. Aqui já cabe falar em legalidade
z Abstração;
administrativa. Ao agente público será permitido tudo
z Ausência de hierarquia entre si;
que a lei autorizar ou mandar. Ou seja, a relação é opos-
z Interpretação e validação de regras.
ta. Não é um mandamento permissivo, mas restritivo.
Vejamos agora sobre as regras. Elas serão menos
Impessoalidade
genéricas e abstratas. Ainda que aplicáveis eventual-
mente a várias situações correlatas, elas já procuram
O princípio da impessoalidade, também conhecido
se aproximar da realidade dos fatos, apresentando
como princípio da finalidade, tem como objetivo maxi-
comandos mais claros e concretos.
mizar os resultados da Administração Pública para a
No Brasil temos alguns critérios que podem ser uti-
sociedade como um todo. Ele irá impedir, por meio de
lizados para a solução do conflito entre regras:
cada uma de suas facetas, o direcionamento da atuação
do Estado tanto para o interesse de um particular ou
z Hierárquico: prevalece a de maior hierarquia. Ex.:
um grupo específico de particulares, como para o pró-
CF, de 1988, sobre qualquer norma interna;
prio interesse do agente público tomador de decisão.
z Cronológico: prevalecerá a lei mais nova sobre o
A partir disso temos algumas leituras possíveis
tema;
para o princípio. Uma delas é a aplicação do princípio
z Especialidade: prevalecerá a lei mais específica
da impessoalidade por meio da ausência de qualquer
sobre o tema.
tipo de promoção pessoal do agente público cometen-
te, buscando apenas o interesse público.
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS COM PREVISÃO
Outra leitura possível passará pelo tratamento iso-
CONSTITUCIONAL
nômico dos administrados. A isonomia permite o tra-
tamento diferenciado de acordo com diferenças entre
Vamos começar a conhecer cada um dos princí-
os administrados. É o que você na reserva de vagas
pios. Conheceremos os princípios expressos da Cons-
para idosos, por exemplo.
tituição Federal. É importante que você saiba que há
Portanto, temos dois tipos de isonomia, a saber:
princípios expressos em várias outras normas que não
são a CF, de 1988. Conheceremos aqui apenas os cons-
tantes do caput do art. 37. Vejamos a sua literalidade. z Isonomia horizontal: pessoas em situações seme-
lhantes devem ser tratadas da mesma forma;
Art. 37 A administração pública direta e indireta z Isonomia vertical: pessoas em situações diferentes
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, podem ter tratamentos distintos.
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, Moralidade
moralidade, publicidade e eficiência e, também, NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
ao seguinte: A moralidade administrativa estará intimamente
ligada ao conceito de certo e errado, honesto e deso-
Veja que a aplicabilidade do caput é bastante am- nesto, extrapolando a letra fria da lei. No entanto, não
pla: todos os poderes, todas as esferas, administração para desobedecê-la, mas para complementar com um
direta e indireta. conteúdo moral que muitas vezes não consta expres-
Você deve decorar esses princípios, fazendo uso do sa e claramente do texto legal, mas deve ser aplicado
famoso LIMPE, que traz a inicial de cada um dos prin- pelo agente público quando da sua atuação.
cípios constantes do caput. Importante citar que a moralidade se aplica tanto
ao agente público, quanto ao particular que defende
Legalidade seu interesse diante da Administração Pública.
Há na Constituição outro mandamento que expõe
O princípio da legalidade tem sua origem no pró- a importância do princípio da moralidade, constante
prio estado de Direito. Vejamos o art. 1º da Constituição. do art. 5º. Vejamos.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo- ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
crático de Direito e tem como fundamentos: bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, 285
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS DA ADMINISTRAÇÃO
(...) PÚBLICA
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise a anular ato lesi- O princípio implícito ao ordenamento jurídico é
vo ao patrimônio público ou de entidade de que o aquele que não está escrito em norma alguma, mas se
Estado participe, à moralidade administrativa, ao pode depreender do conjunto das normas deste orde-
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
namento. Em Direito Administrativo, a doutrina nos
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
trará inúmeros princípios. Uns são, naturalmente, mais
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
citados e importantes, e serão analisados a seguir.
Publicidade
Princípio da Autotutela
A importância do princípio da publicidade está na
Segundo o princípio da autotutela, a Administra-
própria existência e exercício da democracia. Como
ção Pública poderá rever seus atos, podendo revogá-
poderiam os cidadãos fiscalizar a atuação do Estado e
-los ou anulá-los conforme o caso.
seus governantes sem saber o que está acontecendo?
Esse direito não é irrestrito, encontrando limite no
A publicidade trará a transparência necessária para
art. 54, da Lei nº 9.784, de 1999, Processo Administrativo
que os administrados possam exercer a democracia.
Federal.
No entanto, devemos saber que tal princípio não
tem aplicação absoluta. Há situações em que o sigilo,
Art. 54 O direito da Administração de anular os
a título de exceção, deverá prevalecer.
atos administrativos de que decorram efeitos favo-
É o caso, por exemplo, de operações sigilosas de inves-
ráveis para os destinatários decai em cinco anos,
tigações de ilícitos ou mesmo inquéritos cuja publicidade contados da data em que foram praticados, salvo
possa ofender a privacidade de uma eventual vítima. comprovada má-fé.
Há, por outro lado, atos que devem ser publicados
para que gerem efeitos, pois como poderiam ser os Os efeitos causados por essa revisão podem variar.
particulares cobrados a respeito de determinado ato Caso seja uma anulação, pois era viciado o ato admi-
ou norma do qual não tiveram a devida ciência? nistrativo, os efeitos serão, em regra, retroativos.
Nesse raciocínio, temos três tipos de atos conforme No caso de se tratar de revogação, que é quando
a necessidade ou não da sua publicidade. o ato não é viciado, mas se tornou inconveniente, os
efeitos não serão retroativos.
z Atos sigilosos: não podem ser publicados; Por fim, a revisão pode resultar em manutenção
z Atos internos: não precisam ser publicados, pois do ato anteriormente praticado, sendo mero exercício
não causam impacto nos administrados; da autotutela e poder hierárquico da estrutura admi-
z Atos externos: precisam ser publicados para ciên- nistrativa em questão.
cia dos interessados.
Princípio da Veracidade e da Legitimidade
Há ainda a possibilidade de obtenção de informa-
ções por parte dos administrados, trazida no art. 5º da
Visto também em atos administrativos, o princípio
CF, de 1988:
da veracidade e da legitimidade informa que a atua-
ção da Administração Pública estará conforme a lei e
Art. 5º [...]
conforme a verdade dos fatos.
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos
Trata-se de presunções relativas, ou seja, o par-
públicos informações de seu interesse particular,
ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta- ticular que se julgar prejudicado poderá se insurgir
das no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, contra os atos da Administração Pública. No entanto,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível tais presunções têm como consequência a inversão
à segurança da sociedade e do Estado; do ônus da prova, devendo o particular provar que a
XXXIV - são a todos assegurados, independente- Administração Pública está errada, seja em processo
mente do pagamento de taxas: administrativo ou judicial.
b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situa- Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade
ções de interesse pessoal;
Não há unanimidade na doutrina na forma como
Eficiência se correlacionam esses dois princípios. No entanto,
passaremos aqui a leitura que nos parece mais fre-
O princípio da eficiência foi introduzido no caput quente em provas.
do art. 37, da CF, de 1988, por meio da Emenda Cons- Entenderemos a proporcionalidade como um sub-
titucional de 1998, tendo como objetivo, juntamente princípio da razoabilidade. A proporcionalidade é
com a mudança de outros dispositivos, aumentar a fácil de ser entendida quando falamos da duração de
eficiência do Estado brasileiro. um processo judicial ou administrativo. Aliás, direito
A atuação da Administração Pública dentro desse constante do art. 5º da CF, de 1988.
contexto, tentando se aproximar do conceito de admi-
nistração gerencial, deverá buscar a maximização das Art. 5º [...]
receitas do Estado, economicidade do gasto público, LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo,
corte de gastos desnecessários etc. são assegurados a razoável duração do processo e os
286 meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Já para entender a proporcionalidade eu vou pedir
que você imagine um outro cenário. Imagine uma mul- PODERES ADMINISTRATIVOS
tidão de manifestantes que possuem alguns objetos
que podem causar danos ou ferimentos, mas sabe-se NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
que não possuem arma de fogo. Caso haja necessidade
de conter os manifestantes, seria razoável por parte do A Administração Pública tem vários objetivos a
policiamento o uso de armamentos não letais. cumprir, sempre buscando o interesse público, sob
No entanto, dentro dessa escolha correta o agente diversas formas diferentes. Para o alcance desses
público deverá medir o correto uso desse meio. Não objetivos, lançará mão de instrumentos. Os atos admi-
poderá usar indiscriminadamente o material, uma nistrativos são, sem dúvida, um desses instrumentos.
vez que ele é adequado. O uso desproporcional de Neste material, veremos uma outra forma de
um material adequado àquela situação poderá trazer entender como a Administração Pública causa
problemas aos administrados. mudanças no mundo real. Os poderes administrativos
instrumentos dotados de prerrogativas, para que a
Princípio da Continuidade do Serviço Público Administração Pública possa executar determinadas
tarefas. Não são absolutos, pois encontram limitações
Os serviços públicos garantem serviços essenciais nos direitos dos particulares. Por outro lado, são mar-
à população, por isso não podem, como regra, serem cados pela irrenunciabilidade e pela obrigatorieda-
interrompidos, mas fornecidos permanentemente. de de exercício.
Tal importância traz impacto inclusive no direito Uma vez que eles são de exercício obrigatório, a
de greve de servidores públicos. doutrina vê esse poder como um poder-dever. Pois,
ao mesmo tempo em que há neles possibilidades de
Art. 37 [...] imposição perante o particular, há também a impo-
VII - o direito de greve será exercido nos termos e sição ao agente público competente do seu exercício
nos limites definidos em lei específica; para que seja alcançado o interesse público.
Passemos agora a conhecer os diferentes poderes
A Lei nº 8.987, de 1995, que trata de concessão administrativos.
de serviços públicos, traz a mitigação da exceção do
contrato não cumprido (exceptio non adimpleti con- PODER VINCULADO
tractus). Um concessionário que tenha perante si uma
Administração Pública inadimplente, só poderá rom- O poder vinculado se exterioriza quando a Adminis-
per o contrato depois da apreciação da Justiça, dife- tração Pública deve se manifestar diante de determina-
rentemente do que permite a lei entre particulares. da situação. Aqui não haverá margem de escolha para o
agente competente. Em outros termos, o mérito adminis-
trativo (margem de escolha) é reduzido ou inexistente.
Dica
Exceptio non adimpleti contractus: princípio PODER DISCRICIONÁRIO
decorrente do estudo de contratos em Direito
Civil que permite a uma parte contratante não Em oposição às características do poder vinculado,
cumprir seu contrato diante da inadimplência do aqui a manifestação da Administração Pública terá
outro contratante. margem de escolha, portanto teremos a manifestação
do mérito administrativo. Dentro das possibilidades
Segundo o mesmo diploma normativo, teremos colocadas pela lei ou ato normativo aplicável, haverá
três situações em que não restará caracterizada a des- margem de escolha para o agente competente.
continuidade dos serviços:
z Poder discricionário: há margem de escolha para a
z Interrupções ocasionadas por situações de atuação da Administração Pública;
emergência; z Poder vinculado: há pouca ou nenhuma margem de
escolha para a atuação da Administração Pública.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
z Interrupções após aviso prévio por razões técnicas
ou segurança das instalações;
PODER HIERÁRQUICO
z Interrupção após aviso prévio por inadimplemen-
to do usuário.
Poder hierárquico é o poder de que dispõe o Exe-
cutivo para organizar e distribuir as funções de seus
Princípio da Segurança Jurídica
órgãos, bem como ordenar e rever a atuação de seus
agentes, estabelecendo uma relação de subordinação
O princípio da segurança jurídica tem como obje-
entre os servidores do seu quadro de pessoas. As rela-
tivo conferir estabilidade às relações jurídicas. Por ções de hierarquia são características únicas, existem
meio dele busca-se proteger: somente no âmbito do Poder Executivo, isto é, não
existe hierarquia entre órgãos do Poder Legislativo e
z Direito adquirido; do Judiciário. Além disso, importante frisar que não
z Coisa julgada; existe poder hierárquico entre membros da Adminis-
z Ato jurídico perfeito. tração Indireta, pois estes são entidades autônomas,
que não se subordinam aos entes que o criaram. Pela
Tal princípio do Processo Administrativo Federal, em hierarquia, há a imposição ao subalterno da estrita
que há vedação expressa à aplicação retroativa de nova obediência às ordens e instruções legais superiores,
interpretação de norma, privilegia a estabilidade das além de definir a responsabilidade de cada um de
relações e situações jurídicas previamente estabelecidas. seus agentes e órgãos públicos. 287
Quanto as suas características, diz-se que o poder seu criador, com personalidade jurídica própria, com
hierárquico é interno e permanente. Interno é o patrimônio exclusivo e podendo se responsabilizar
poder que atinge apenas os próprios membros da em juízo sem o auxílio da Administração Direta.
Administração e não tem o condão de atingir as rela- O que existe para as entidades da Administração
ções dos particulares. É também um poder perma- Indireta é uma forma de controle fiscalizatório e fina-
nente porque não é exercido de modo esporádico e lístico de seus atos, o qual denomina-se supervisão
episódico, como acontece no poder disciplinar. ministerial. A supervisão é feita pelo ente controla-
Do poder hierárquico são decorrentes certas facul- dor, geralmente são os entes da Administração Direta
dades implícitas ao superior, tais como dar ordens e (União, Estados, Municípios, Distrito Federal e os seus
fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atri- órgãos, ministérios e secretarias). A supervisão não se
buições, bem como rever atos de seus inferiores. confunde com subordinação, pois entende-se que na
A delegação é a transferência temporária de com- supervisão o ente controlado possui uma maior mar-
petência administrativa de seu titular, a outro órgão gem de liberdade do que os órgãos hierarquicamente
ou agente público. A delegação poderá ser vertical subordinados. A supervisão ministerial não admite,
quando a matéria for outorgada a um outro órgão ou por exemplo, a possibilidade de revisão dos atos pra-
agente público subordinado à autoridade outorgante, ticados pela entidade controlada, pois a revisão é uma
permanecendo na mesma linha hierárquica. forma de controle de mérito dos atos administrativos.
Mas a delegação também poderá ser feita para Isso infere na autonomia garantida constitucional-
mente a essas entidades.
outro órgão ou agente que esteja fora da sua linha hie-
rárquica, hipótese que denominamos de delegação
horizontal.
O art. 12 da Lei n° 9.784, de 1999, dispõe do mesmo Importante!
modo: “Um órgão administrativo e seu titular poderão, Cuidado para não confundir alguns conceitos.
se não houver impedimento legal, delegar parte da sua Quando um ato administrativo é ilícito (contrário
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que à Lei), a hipótese de controle recai sobre a lega-
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
lidade do ato. Se o vício for insanável, a hipótese
quando for conveniente, em razão de circunstâncias
é de anulação, e pode ser realizada tanto pela
de índole técnica, social, econômica, jurídica ou terri-
Administração Pública quanto pelo Poder Judi-
torial”. Essa transferência de competência é sempre
provisória, o que significa que pode ser revogada a ciário. Por outro lado, quando o ato for conside-
qualquer tempo. rado inconveniente e inoportuno, discricionário,
A regra geral é sempre a delegabilidade das compe- o Poder Judiciário não pode exercer controle
tências. Todavia, a própria legislação (art. 13, da Lei nº de mérito, pois essa é uma tarefa exclusiva da
9.784, de 1999) assevera três matérias que não podem Administração, dentro da sua linha hierárquica.
ser delegadas. Assim, são indelegáveis: a edição de ato O método mais correto para o ato inconveniente,
de caráter normativo, pois constituem-se em regras neste caso, é o da revogação.
gerais aplicáveis a todos os órgãos, incompatível com
a delegação; a decisão em recursos administrativos,
para evitar que a mesma autoridade possa julgar o Lembrando que são considerados entes da Admi-
mesmo processo mais de uma vez pela delegação; e nistração Indireta: as autarquias, as fundações, as
as matérias que forem consideradas de competência empresas públicas e as sociedades de economia mista.
exclusiva do órgão ou autoridade. Do mesmo modo, não há que se falar em Poder Hie-
A avocação encontra-se disposta no art. 15, da Lei rárquico quando estamos diante de pessoas e órgãos
nº 9.784, de 1999. Consiste na possibilidade da autori- independentes. Por exemplo: não há uma relação de
dade competente de chamar para si a competência de hierarquia entre as pessoas que ocupam cargos polí-
um agente ou órgão subordinado. Trata-se de medida ticos. Não há hierarquia, também, entre os membros
excepcional e temporária e somente pode ser realiza- dos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário):
da dentro da mesma linha hierárquica, o que significa eles atuam de forma independente e harmônica entre
que a avocação só pode ser vertical, não se admite a si, um não se subordina ao outro.
avocação horizontal. Esquematicamente, temos:
PODER DISCIPLINAR
DELEGAÇÃO AVOCAÇÃO
Distribuição de Absorção de O poder disciplinar consiste na faculdade da Admi-
competências competências nistração de punir seus agentes, nas hipóteses em que
estes tenham cometido alguma infração de ordem
Admite horizontal e funcional. Por exemplo: quando o servidor público se
Admite apenas vertical
vertical apresenta no serviço embriagado, não apenas uma vez,
mas constantemente, isso é uma transgressão discipli-
Por fim, a revisão é a capacidade de rever os atos nar, uma conduta incompatível com a atuação dos ser-
dos inferiores hierárquicos, apreciando todos os seus vidores públicos. Por isso ele deve ser punido, mas essa
aspectos para a análise de sua manutenção ou inva- punição não advém de um processo penal (não enseja
lidação. É somente possível a revisão de atos prati- a prisão), é uma punição aplicável por pessoas de den-
cados pelos órgãos públicos e agentes subordinados tro da própria Administração, e geralmente envolve ou
hierarquicamente. a suspensão ou a demissão do cargo público.
Para as entidades da Administração Indireta, O poder disciplinar é correlato com o poder hierár-
realmente, não há como aplicar o poder hierárqui- quico, mas não se confunde com o mesmo. No poder hie-
co, uma vez que, por definição, elas não integram a rárquico, a Administração Pública distribui e escalona as
288 mesma linha de hierarquia. São entes diferentes do suas funções executivas. Já no uso do poder disciplinar,
a Administração simplesmente controla o desempenho disso, este poder pode ser exercido, por simetria, pelos
de funções e a conduta de seus servidores, responsabili- Governadores e Prefeitos. Assim, para fins didáticos,
zando-os pelas faltas porventura cometidas. costuma-se dizer que o poder regulamentar só pode ser
Em relação as suas características, o poder disci- delegado excepcionalmente, com algumas restrições.
plinar é interno, não-permanente ou temporário O artigo 84 traz, em regra, que as competências do
e discricionário. Assim como o poder hierárquico, a Presidente são exclusivas e indelegáveis. Excepcio-
imposição de sanções pela Administração não se apli- nalmente, a matéria disposta nos seguintes incisos:
ca aos particulares, somente a seus próprios servido-
res, salvo as hipóteses de estes serem contratados pela z VI (dispor mediante decreto sobre a organização e
Administração Pública. Todavia, distingue-se do poder funcionamento da administração federal quando
hierárquico na medida em que é não-permanente, isto não implicar aumento de despesa nem criação ou
é, só será aplicado se e quando o servidor cometer infra- extinção de órgãos públicos; e a extinção de fun-
ção funcional. Percebe-se, então, que o poder disciplinar ções ou cargos públicos, quando vagos);
apresenta caráter punitivo e sancionador, enquanto z XII (conceder indulto e comutar penas, com
o poder hierárquico advém da simples obediência dos audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em
subalternos para com a entidade detentora deste poder. lei);
A discricionariedade do poder disciplinar traduz- z a primeira parte do inciso XXV (prover os cargos
-se na possibilidade da Administração em poder esco- públicos federais, na forma da lei) são competên-
lher qual a punição mais apropriada para cada caso, cias que podem ser transferidas para as pessoas
isto é, ela possui certa margem de liberdade para o públicas previstas no parágrafo único do refe-
seu exercício. rido artigo 84. Observe que a competência para
Claro que, dentre essas escolhas, o administrador extinguir o cargo público enquanto ainda ocupado
não pode escolher “não punir” o agente público. Por não pode ser delegada.
isso, costuma-se dizer que, quanto ao dever de punir,
esse tem natureza vinculada. A discricionariedade O regulamento é um ato administrativo que tem
atinge, somente, quanto à modalidade de punição que por escopo estabelecer detalhes e diretrizes quanto ao
deve ser aplicada. modo de aplicação dos dispositivos legais, dando maior
Os servidores públicos que cometerem qualquer concretude aos comandos gerais e abstratos presentes
infração no exercício de suas funções estão sujeitos na legislação. Não se confunde com o decreto, que é
às seguintes penalidades, dispostas no art. 127, da Lei outro ato administrativo que introduz o regulamento
nº 8.112, de 1990: advertência; suspensão; demissão; em si. Decreto representa a forma do ato administrati-
cassação de aposentadoria ou disponibilidade; desti- vo, enquanto o regulamento representa seu conteúdo.
tuição de cargo em comissão e destituição de função Ambos os decretos e regulamentos são atos em
comissionada. A aplicação de qualquer uma dessas posição de inferioridade em relação as leis e, por
penalidades depende de prévio processo administra- isso, não são capazes de criar direitos e obrigações
tivo, respeitada a garantia de contraditório e ampla aos particulares sem fundamento legal. Suas funções
defesa, sob pena de nulidade da sanção. Sobre qual primordiais, no entanto, são a redução da margem de
sanção será aplicada, isso vai depender de cada caso, interpretação das normas, pois se um decreto dispõe
considerando os danos que sua conduta causarem, se qual é a forma mais correta de aplicação da lei, esta
houve aspectos agravantes ou atenuantes, se o agente perde um pouco de seu caráter geral e abstrato, seu
público é primário ou reincidente, e os seus antece- campo de discricionariedade é reduzido a uma úni-
dentes funcionais (art. 128, Lei n° 8.112, de 1990). ca forma válida de aplicação no âmbito jurídico. Por
O processo disciplinar será visto, em maiores deta- isso, o poder regulamentar apresenta natureza
lhes, no capítulo referente aos Agentes Públicos. vinculada.
Existem diversas espécies de regulamentos
PODER REGULAMENTAR administrativos:

O poder regulamentar consiste na possibilidade do z Regulamentos administrativos ou de organiza-


Chefe do Poder Executivo de cada entidade da Federa- ção: são aqueles que disciplinam questões internas
ção de editar atos administrativos gerais, abstratos ou de estruturação e funcionamento da Administração NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
concretos, expedidos para dar fiel cumprimento à lei. Pública, bem como as relações jurídicas de sujei-
Seu fundamento legal encontra-se disposto no inciso ção especial do Poder Público perante particulares.
IV, do art. 84, da CF, de 1988: Exemplo: regulamento que disciplina organização
e funcionamento da administração federal (alínea
Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da “a”, inciso VI, do art. 84, da CF, de 1988).
Repúbli­ca: [...] z Regulamentos habilitados ou delegados: em
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, alguns países, há a possibilidade de o Poder Legis-
bem como expedir decretos e regulamentos para lativo delegar ao Executivo a disciplina de maté-
sua fiel execução rias reservadas privativamente à lei, havendo
uma transferência de competência legislativa.
O referido artigo afirma que tal ato é de competên- Tais regulamentos não são admitidos no direito
cia exclusiva do Presidente, o que significa que seria administrativo brasileiro.
indelegável a qualquer subordinado. Porém, isso não z Regulamentos executivos: são os regulamentos
é totalmente correto: o parágrafo único do mesmo dis- comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela
positivo constitucional diz que há a possibilidade do legislação, permitindo a fiel execução da norma legal.
Presidente delegar algumas de suas atribuições para É a hipótese do inciso IV, do art. 84, da CF, de 1988.
os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da Repú- z Regulamentos autônomos: são os que dispõem
blica ou ainda para o Advogado-Geral da União. Além sobre tema não disciplinado pela legislação. Há um 289
conjunto de temas que a norma constitucional reti- Tais imposições também podem ser aplicadas ao Esta-
rou da competência do Poder Legislativo e atribuiu do. Isso significa que até mesmo o Poder Público pode
sua disciplina ao Poder Executivo. A EC n° 32, de ter suas liberdades e propriedades sofrendo limita-
2001, elenca dois temas que só podem ser disciplina- ções em face das necessidades do interesse público.
dos por decreto expedido pelo Presidente da Repú- Para o seu exercício, a Administração Pública
blica: a organização da administração federal; e a deve regular a prática dos atos ou a abstenção de
extinção de funções e cargos vagos e não ocupados. fatos. Em regra, o poder de polícia manifesta-se em
obrigações negativas, ou de não fazer, impostas aos
particulares, limitando a esfera de atuação dos seus
PODER DE POLÍCIA
direitos. Excepcionalmente, pode também manifestar-
-se mediante obrigações positivas ou de fazer, como é o
Devemos nos aprofundar mais no Poder de Polícia, caso da imposição da função social da propriedade ao
uma vez que é a espécie de poder da Administração que dono do imóvel, disposta no inciso XXII, do art. 5º, da
tem mais chances de cair em uma questão de prova. CF, de 1988.
A expressão “poder de polícia” pode ser interpre- O poder de polícia se manifesta pela expedição de
tada de duas maneiras: em um sentido amplo, cor- atos normativos, como é o caso das regras sobre o direi-
responde a qualquer limitação estatal à liberdade e to de construir, ou por meio de atos concretos, como a
propriedade privada, de origem administrativa ou obtenção de licença para a reforma de um imóvel, cujo
legislativa. Há também o poder de polícia em senti- interesse é exclusivo do particular (proprietário do imó-
do restrito, mais utilizado pela doutrina, que engloba vel, no caso). Ele se difere do Poder Disciplinar quanto
apenas as restrições impostas pelas limitações admi- ao destinatário da sanção: o Poder de Polícia somente
nistrativas, excluindo as limitações de ordem legal. atinge os particulares, isto é, aquelas pessoas da esfera
Em sentido restrito, envolve atividades administrati- privada que não integram a Administração Pública. O
vas de fiscalização e condicionamento da esfera priva- Poder Disciplinar, por sua vez, é um poder interno que
da de interesses, em prol da coletividade. não atinge particulares, e sim os próprios agentes públi-
O poder de polícia tem grande destaque no exer- cos dentro da Administração.
cício das funções da Administração moderna, junto Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de
com a prestação de serviços públicos e o fomento à polícia: agir em prol do interesse público. Por isso,
iniciativa privada. Porém, essas duas funções repre- o Estado deve conciliar os direitos individuais com
sentam uma atuação estatal ampliativa, enquanto que o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica da
o poder de polícia representa uma atuação restritiva Administração Pública, pois tem como fundamento o
do Estado, limitando a liberdade e a propriedade indi- princípio sistêmico da primazia do interesse público
vidual em favor do interesse público. sobre o privado.
O art. 78, do Código Tributário Nacional (CTN), tem
seu conceito legal de poder de polícia: Natureza Jurídica do Poder de Polícia
Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da
Quanto a sua natureza jurídica, é entendimento
administração pública que, limitando ou discipli-
nando direito, interesse ou liberdade, regula a práti- majoritário que o poder de polícia é discricionário.
ca de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse Na doutrina, muitos autores costumam definir poder
público concernente à segurança, à higiene, à ordem, de polícia utilizando-se da expressão “faculdade que
aos costumes, à disciplina da produção e do merca- o Estado possui de impor limites”. Isso quer dizer que
do, ao exercício de atividades econômicas dependen- não apresenta características de obrigação legal, mas
tes de concessão ou autorização do Poder Público, à de uma permissão. A escolha sobre qual método utili-
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e zar para o exercício do referido poder, e quando, com-
aos direitos individuais ou coletivos.
pete somente à própria Administração Pública.
Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção de
Diante de tudo que foi exposto, podemos conceituar
“poder de polícia” como a atividade da Administra- licença. A licença é ato administrativo relacionado ao
ção Pública, com fundamento na lei e na supremacia poder de polícia, que apresenta previsão legal para a
geral, que consiste na imposição de limites à liberdade sua obtenção, tratando-se, por isso, de ato vinculado.
e à propriedade dos particulares, regulando a prática Com isso, podemos afirmar que a manifestação do
desses atos, ou a abstenção dos mesmos, manifestan- poder de polícia pode ocorrer mediante a expedição
do-se por meio de atos normativos ou concretos, tudo de atos no exercício da competência discricionária da
isso em benefício do interesse público. Administração, ou por meio de atos vinculados, com a
Ao dizer que se trata de atividade da Administra- devida previsão legal.
ção Pública, procuramos enfatizar a concepção stric- O poder de polícia também é em regra indelegá-
to sensu do poder de polícia, que não se confunde com vel, uma vez que pressupõe a posição de superiori-
as limitações à liberdade e ao direito de propriedade dade de quem o exerce, não podendo ser transferido
impostas pelo legislador. Por ser atividade da Admi- a particulares (inciso III, do art. 4º, da Lei nº 11.079,
nistração, deve ser exercido respeitando-se os princí- de 2004). Obviamente, o poder de império é único e
pios da razoabilidade e proporcionalidade. exclusivo do Estado; se ele pudesse ser transferido a
A fundamentação legal é outro aspecto importan-
particulares, tal medida seria um atentado contra a
te do poder de polícia, uma vez que a lei condiciona o
paz social.
exercício de determinadas atividades à obtenção de
licenças ou concessões pelo Poder Público. O legisla- Todavia, isso não impede que o Poder Público pos-
dor deve, então, elaborar os requisitos necessários sa delegar as atividades consideradas preparatórias
para o exercício do poder de polícia pelo Estado. ou sucessivas do poder de polícia. Essa delegação é
O poder de polícia tem por objeto a imposição de possível, desde que esses entes que recebem essa dele-
limitações à liberdade e propriedade dos particu- gação (entes da administração indireta, pessoas jurí-
lares, instituindo condições capazes de compatibili- dicas de direito privado, particulares etc.) tenham um
290 zar seu exercício às necessidades de interesse público. vínculo com a própria Administração.
Divisão de Polícia coerção de que dispõe a Administração ao praticar
atos de polícia. Realmente, não se pode conceber que
A concepção do poder de polícia abrange muito a coerção seja utilizada indevidamente pelos agentes
mais do que a simples promoção de segurança públi- administrativos, o que ocorreria, por exemplo, se usa-
ca. Todavia, é imprescindível destacar as atividades da onde não houvesse necessidade. Em virtude disso,
estatais de prevenção e repressão da criminalidade tem a doutrina moderna mais autorizada erigido à
sob a ótica do poder de polícia. Assim, costuma-se categoria de princípio necessário à legitimidade do
dividir a atuação do Estado para promoção da segu- ato de polícia a existência de uma linha proporcional
rança pública em duas categorias de “polícias” distin- entre os meios e os fins da atividade administrativa.
tas: a polícia administrativa e a polícia judicial. A atuação do poder de polícia quando não respeita
A polícia administrativa tem um caráter pre- os seus limites, transforma-se em grande vilão para o
ventivo. Isso significa que a sua atuação deve ocorrer interesse público, pois retira a eficiência e a confiança
antes da prática do delito, tendo por finalidade evitar a dada a um instrumento de limitação legitimado por sua
sua ocorrência. Submete-se às regras de Direito Admi- condição de priorizar o coletivo versus o individual.
nistrativo. No Brasil, a polícia administrativa é exer-
Outro limitador do poder de polícia diz respeito à
cida por diversos órgãos de fiscalização de diversas
sua finalidade de atuação. Neste sentido, o poder de
áreas, como saúde, educação, trabalho, previdência e
polícia está restringido em função de atender ao inte-
assistência social. A polícia administrativa protege os
resse público. Neste caso, a autoridade que não visa
interesses primordiais da sociedade ao impedir com-
o interesse público na utilização do poder de polícia
portamentos individuais que possam causar prejuízos
maiores à coletividade. está afrontando um de seus limites e poderá acarretar
A polícia judiciária, por sua vez, apresenta cará- em consequências civis, penais e administrativas.4
ter repressivo. Sua atuação ocorre após a constatação
de um crime. Após sua ocorrência, deve a polícia judi- USO E ABUSO DO PODER
ciária abrir um processo de investigação em busca
da autoria e da materialidade do crime. Sua razão de Quando o agente público exerce adequadamente
ser é a punição dos infratores. Rege-se pelas regras de suas competências, atuando em conformidade com a
Direito Processual Penal. Ela incide sobre pessoas, ao legislação, sem excessos ou desvios, diz-se que ele faz
contrário da polícia administrativa, que age sobre a uso regular do poder. Entretanto, havendo hipóteses
atividade das pessoas. A função de polícia judiciária é de exercício de competências fora dos limites legais,
exercida pelas corporações especializadas, denomina- visando apenas interesses alheios, trata-se de clara
das Polícia Civil e Polícia Federal. hipótese de uso irregular do poder, também denomi-
nado abuso de poder.
Limitações do Poder de Polícia O abuso de poder, além de causar a invalidade do
ato, constitui em ilícito ensejador de responsabilidade
É muito grande a importância do Poder de Polí- pela autoridade competente que causou danos com
cia na sociedade. Contudo, da mesma maneira que o seu uso irregular.
Poder de Polícia impõe limites à pratica de determina- Abuso de poder pode se manifestar no exercício
dos atos entre a populção, ela também sofre restriçõe das funções administrativas sob duas formas: pelo
em sua atuação. excesso de poder e pelo desvio de finalidade.
O principal limitador do poder de polícia é a lei, Excesso de poder é a hipótese de uso irregular dos
pois embora seja um poder eminentemente discricio- poderes administrativos pela qual a autoridade prati-
nário, isto não autoriza a Administração a extrapolar ca algum ato desrespeitando os limites impostos, exor-
aquilo que a lei autoriza e em alguns casos incorrer bitando o uso de suas faculdades administrativas. Ao
em excesso ou desvio de poder. exceder sua competência legal, o agente responsável age
Neste contexto, o autor José dos Santos Carvalho com exageros e desproporcionalidade, o que torna o ato
Filho (2009) diz que “a faculdade repressiva não é, entre- praticado por ele absolutamente inválido. Mas o excesso
tanto, ilimitada, estando sujeita a limites jurídicos: direi-
de poder admite convalidação, ou seja, há hipóteses em

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


tos do cidadão, prerrogativas individuais e liberdades
que se pode corrigir vício cometido no ato preservando
públicas asseguradas na Constituição e nas leis.”
sua eficácia, dependendo do caso concreto.
A legalidade, a moralidade e a proporcionalidade
Desvio de finalidade, por sua vez, é vício do ato
também atuam como limitadores do Poder de Polícia.
administrativo, praticado sempre por autoridade com-
Na legalidade, os aplicadores do poder de polícia
só podem atuar nos limites do que é permitido por lei. petente, que tem por fim diverso daquele previsto,
Já a moralidade, por si só, representa um limitador explícita ou implicitamente, nas regras de competên-
natural das ações humanas. Logo, ao atuar com poder cia da legislação (alínea “e”, § único, do art. 2º, da Lei
de polícia, o administrador deve agir de forma moral, nº 4.717, de 1965). A finalidade diversa não macula os
que abarca a conduta de probidade administrativa. requisitos essenciais dos atos administrativos (compe-
Por isso, a conduta do agente ao exteriorizar o poder tência, objeto, forma, motivo), mas tende a macular o
de polícia deve ser manifestada de forma proba, ou ato, tornando-o nulo. O único caminho possível para
seja, moral, de modo a atuar com equidade. esse ato é a anulação, ou seja, não há possibilidade
Quanto à proporcionalidade, o poder de polícia de convalidação. O desvio de finalidade pode ocorrer
deve ser manifestado de maneira a respeitar os lia- tanto nas condutas comissivas, em seu campo de atua-
mes da necessidade e da adequação. Segundo José ção, quanto nas condutas omissivas, isso é, quando o
dos Santos Carvalho Filho (2009), o princípio da pro- agente público se abstém de realizar tarefa legalmente
porcionalidade deriva, de certo modo, do poder de imposta.
4 Karina Costa Freitas, 2015 291
Exemplos de desvio de finalidade são bastan- Competência
te comuns na Administração Pública brasileira: a
construção de estrada cujo trajeto foi elaborado com Competência diz respeito à capacidade do agente
objetivo de valorizar a propriedade rural de um público para o exercício dos atos administrativos. É
governador, a nomeação de réu em ação penal a cargo requisito de validade, haja vista que, no Direito Admi-
público para obter foro privilegiado e transferir seu nistrativo, a lei é quem estabelece as competências
processo para o STF etc. Percebe-se que, em todos os atribuídas a seus agentes para o desempenho de suas
casos, há a sobreposição de um interesse particular
funções. Quando o agente atua fora dos limites da lei,
sobre o interesse da coletividade: os agentes estatais,
diz-se que cometeu ato nulo por excesso de poder. É,
dessa forma, praticam atos visando obter alguma van-
por isso, sempre um ato vinculado.
tagem pessoal, para eles mesmos ou para outrem, con-
cretizando, assim, o desvio de finalidade. A competência possui certas características próprias,
a saber: obrigatória, intransferível, irrenunciável,
imodificável, imprescritível e improrrogável. Vere-
mos de modo mais específico cada uma delas a seguir:
ATO ADMINISTRATIVO
z Obrigatória, porque representa um dever do agen-
CONCEITO te público;
z Intransferível significa que, de modo geral, a com-
Para o Direito, os atos são aqueles capazes de moti- petência é um quesito personalíssimo, não pode
var efeitos jurídicos. Logo, assim como as pessoas na ser transferido para terceiros;
vida privada, a Administração Pública também prati- z Irrenunciável, porque o agente público não pode
ca atos, os quais possuem potencial de produzir efei- abrir mão de sua competência;
tos jurídicos diversos. z Imodificável significa que a competência, uma vez
Para Hely Lopes Meirelles, atos administrativos estabelecida, não pode sofrer alterações posteriores;
são as manifestações de vontade da Administração z Imprescritível, porque a competência perdura ao
Pública que objetivam adquirir, resguardar, transfe- longo do tempo, ela não caduca;
rir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor z Improrrogável significa dizer que se é competente
obrigações aos particulares ou a si própria. Isso signi-
hoje, continuará sendo sempre, exceto por previ-
fica que a Administração, antes mesmo de iniciar sua
são legal expressa em sentido contrário.
atuação, deve expedir uma declaração que exprime a
sua vontade de realizar o referido ato.
No entanto, essas características não vedam a pos-
Importante frisar o caráter infralegal dos atos admi-
nistrativos, pois imprescindível é a submissão da Admi- sibilidade de delegação, quando prevista em lei. Por
nistração Pública, seus agentes e órgãos à soberania isso, pode-se dizer também que a delegabilidade é
popular. outra característica da competência. Porém, atente-se
ao disposto no art. 13, da Lei nº 9.784, de 1999:

Importante! Art. 13 Não podem ser objeto de delegação:


I - a edição de atos de caráter normativo;
É imprescindível, assim, que o ato administrativo II - a decisão de recursos administrativos;
esteja previsto em lei, sendo que seu conteúdo III - as matérias de competência exclusiva do órgão
não pode ser contrário a ela (contra legem), mas ou autoridade. Alguns atos, então, não podem ser
deve complementá-la, apresentando, então, uma delegados a outras autoridades, principalmente se
conformidade (secundum legem). tais atos são de competência exclusiva do agente
público.
REQUISITOS
Objeto
Os requisitos ou elementos dos atos administrati-
vos são assuntos com imensa divergência doutrinária. Objeto é o conteúdo do ato, ou o resultado que
A maioria dos concursos públicos ainda adota a con- pretende ser almejado pela prática do ato administra-
cepção mais clássica dos requisitos dos atos adminis- tivo. Todo ato administrativo tem por objeto a cria-
trativos e, por isso, daremos maior destaque a ela. ção, modificação, ou comprovação de situações
De modo geral, a corrente clássica, defendida por jurídicas concernentes a pessoas, bens, ou atividades
autores, como Hely Lopes Meirelles, tende a dispor sujeitas ao exercício do Poder Público. É por meio dele
cinco requisitos dos atos administrativos para a sua que a Administração exerce seu poder, concede um
formação, utilizando, como inspiração, o preceito legal benefício, aplica uma sanção, declara sua vontade,
disposto no art. 2º da Lei nº 4.717, de 1965. São eles: estabelece um direito do administrado etc.
O objeto pode não estar previsto expressamente
a) competência;
na legislação, cabendo ao agente competente a opção
b) objeto;
c) forma; que seja mais oportuna e conveniente ao interesse
d) motivo; público. A definição de objeto do ato administrativo
e) finalidade. trata-se, por isso, de ato discricionário.

292
Forma Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os
requisitos vinculados, enquanto, no motivo, a finali-
A forma é o modo por meio do qual se exterioriza dade e a formalização são requisitos discricionários.
o ato administrativo, é seu revestimento. O desrespeito
à forma do ato acarreta na sua nulidade. Trata-se de ATRIBUTOS
ato vinculado, quando exigida por Lei, e discricionário
quando a sua escolha couber ao próprio agente público. Atributos são as características dos atos adminis-
Em regra, os atos administrativos são sempre exte- trativos, que os distinguem dos demais atos jurídicos,
riorizados por escrito, mas podem também ser orais, pois estão submetidos ao regime jurídico administrativo.
gestuais, ou até mesmo expedidos por máquinas. O art. Essas características traduzem em prerrogativas concedi-
22, da Lei nº 9.784, de 1999, determina que “os atos do das à Administração Pública para que ela possa atender
processo administrativo não dependem de forma deter- de maneira adequada as necessidades da população.
minada senão quando a lei expressamente a exigir”. A doutrina moderna faz referência a cinco atri-
butos distintos: a) presunção de legitimidade e vera-
Motivo cidade; b) imperatividade; c) exigibilidade; d) auto
executoriedade; e) tipicidade.
O motivo é a circunstância de fato ou de direito que
determina ou autoriza a prática do ato, isto é, a situa- Veremos cada um desses atributos de modo mais
ção fática que justifica a realização do ato. Situação específico a seguir:
de fato é o conjunto de circunstâncias que motivam
a realização do ato; questões de direito é a previsão Presunção de Legitimidade e Veracidade
legal que leva à realização do ato.
O motivo pode ser tanto requisito vinculado como Também pode ser denominado presunção de
discricionário, dependendo do comando legal impos- legalidade. Significa que todo ato administrativo
to aos agentes. Assim, o motivo será vinculado quando é considerado válido no âmbito jurídico até surgir
a lei expressamente obrigar o agente a agir de um cer- prova em contrário. Se, pelo princípio da legalidade,
to modo, como na hipótese de lançamento tributário ao Administrador só cabe fazer o que a lei permite,
(o fiscal da Receita não tem direito de escolha, se deve então, presume-se que o fez respeitando a lei.
ou não fazer o lançamento). Nosso Direito admite duas formas de presunção:
Situação diversa é a do pedido de demissão de ser-
vidor público no caso de incontinência pública (inciso
z Presunção juris et de jure, que significa “de direito
V, do art. 132, da Lei nº 8.112, de 1990), hipótese em
e por direito”, é presunção absoluta, que não admi-
que a autoridade competente tem maior liberdade
te prova em contrário;
para avaliar se a demissão é realmente ato necessário
z Presunção juris tantum, resultante do próprio
ou não, dependendo do caso concreto.
direito e, embora por ele estabelecida como verda-
Não se confunde motivo com motivação; esta é a
deira, admite prova em contrário.
justificativa para a realização de determinado ato.
O motivo ocorre em momento anterior à prática do
ato, enquanto que a motivação, por ser uma série de A presunção dos atos administrativos é juris tan-
explicações que justificam a expedição do ato, ocorre tum. Trata-se, então, de presunção relativa. Cabe ao
sempre em momento posterior. Assim, todo o ato tem particular que alegou a ilegalidade do ato administra-
seu motivo (Teoria dos Motivos Determinantes), mas tivo provar a carência de legitimidade do mesmo.
nem sempre é expedido adjunto com a motivação, A presunção atinge todos os atos, inclusive aqueles
que nada mais é do que a exteriorização dos motivos. praticados pela Administração com base no direito priva-
do. Qualquer que seja o ato, se praticado pela Administra-
Finalidade ção Pública, será presumidamente legítimo e verdadeiro.

Finalidade é o objetivo a ser almejado pela prática Imperatividade


daquele ato administrativo. Em muitos casos, o obje-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tivo almejado é a proteção do interesse público. Sem- Compreendida também como coercibilidade, os
pre que o ato for praticado, tendo em vista o interesse atos administrativos se impõem aos destinatários, inde-
alheio, será nulo por desvio de finalidade. pendentemente de sua concordância, outorgando-lhes
Por exemplo: o trancamento de um estabelecimen- deveres e obrigações. A imperatividade garante ao
to, após constatação de falta de cuidados higiênicos Poder Público a capacidade de produzir atos que geram
com os alimentos, visa a proteção da vida e da saúde consequências perante terceiros. O Estado somente con-
dos cidadãos que frequentam aquele local. Pode-se segue alcançar seus objetivos de forma eficiente se ele
afirmar, de modo geral, que a finalidade de um ato se encontrar em posição superior aos seus governados.
administrativo sempre será a proteção dos direitos e A justificativa da criação unilateral, ainda que contra
garantias fundamentais da pessoa humana. a vontade dos administrados, dos atos administrativos
Além dessa concepção clássica, há também uma é o Poder coercitivo do Estado, também denominado
classificação mais moderna dos requisitos dos atos Poder Extroverso ou Poder de Império. Esse não é um
administrativos, elaborada por autores como Celso atributo comum a todos os atos, mas tão somente aos
Antônio Bandeira de Mello. Por ser pouco utilizada que impõem obrigações aos administrados. Assim, não
em concursos públicos, observaremos apenas os pon- têm essa característica os atos que outorgam direitos
tos essenciais e didáticos da referida classificação. (autorização, permissão, licença), bem como aqueles
Para essa concepção moderna, são requisitos dos meramente administrativos (certidão, parecer).
atos administrativos: a) sujeito; b) motivo; c) requisitos
procedimentais; d) finalidade; e) causa e f) formalização. 293
Exigibilidade CLASSIFICAÇÃO
Consiste no atributo que permite à Administração
Atos administrativos existem dos mais variados tipos.
Pública aplicar sanções aos particulares por violação
Para efeitos didáticos, costuma-se dividir e agrupá-los,
da ordem jurídica, sem a necessidade de recorrer ao
formando-se uma verdadeira classificação desses atos.
processo judicial, que é demasiado longo e repleto de
Portanto, passemos a analisar as diversas modalidades de
solenidades. A exigibilidade permite ao Administrador
atos administrativos, observando os seguintes critérios:
aplicar as sanções administrativas, como multas, adver-
tências e interdição de estabelecimentos comerciais.
Quanto ao Grau de Liberdade
Autoexecutoriedade
z Atos vinculados: são aqueles praticados pela
A autoexecutoriedade permite que a Administra- Administração Pública sem nenhuma liberdade
ção Pública possa realizar a execução material de de atuação. A lei define todas as margens de sua
seus atos. A expressão “auto” advém do fato de que conduta. Havendo vício no ato vinculado, pode-se
o Poder Público não necessita de autorização judicial pleitear a sua anulação, pois trata-se de vício de
para desconstituir a situação irregular e violadora da legalidade. É o caso, por exemplo, da concessão de
ordem jurídica, o que a difere da exigibilidade, que aposentadoria para o contribuinte beneficiário;
não tem o condão de, por si só, desconstituir a irre- z Atos discricionários: a lei também estabelece
gularidade do ato, apenas pune o infrator. Para tanto, uma série de regras para a prática de um ato, mas
necessita da presença de dois requisitos: a previsão deixa certo grau de liberdade ao agente público,
legal, como nos casos de Poder de Polícia; e o caráter que poderá optar por um entre vários caminhos
de urgência, a fim de preservar o interesse coletivo. igualmente válidos. Há uma avaliação subjetiva
Assim, não há necessidade de intervenção judicial prévia à edição do ato. É o caso das permissões
nas hipóteses de: apreensão de mercadorias contra- para o uso de bem público. No caso de o ato dis-
bandeadas, na demolição de construção irregular, na cricionário não ser mais conveniente e oportuno
interdição de estabelecimento comercial irregular, para a Administração Pública, a solução mais cor-
entre outros. Todavia, afirmar que a execução inde- reta para sua extinção é a revogação;
pende de manifestação do Judiciário não significa
dizer que escapa do controle judicial. Quanto à Formação de Vontade
Poderá ser levado ao crivo, mas somente a poste-
riori, depois de seu cumprimento, se houver provoca-
z Atos simples: são aqueles que nascem da manifes-
ção da parte interessada. As medidas judiciais mais
tação de vontade de apenas um órgão, seja ele uni-
adequadas para contestar a força coercitiva adminis-
pessoal (formado só por uma pessoa) ou colegiado
trativa são o mandado de segurança e o habeas data
(incisos LXIX e LXVIII, do art. 5º, da CF, de 1988). (composto por várias pessoas). O ato que altera
Importante ressaltar ainda que os princípios da o horário de atendimento da repartição pública,
razoabilidade e proporcionalidade impõem limites emitido por uma única pessoa, bem como a deci-
na atuação coercitiva dos agentes públicos. A autoe- são administrativa do Conselho de Contribuintes
xecutoriedade (leia-se o uso de força física) deve ser do Ministério da Fazenda, que expressa vontade
utilizada com bom senso e moderação. única apesar de ser órgão colegiado, são exemplos
de atos simples;
Tipicidade z Atos complexos: são aqueles que se formam pela
união de várias vontades, isso é, que necessitam da
A tipicidade diz respeito à necessidade de respei- manifestação de vontade de dois ou mais órgãos
tar as finalidades específicas delimitadas pela lei, para
diferentes para a sua formação. Enquanto todos os
cada espécie de ato administrativo. Dependendo da
órgãos competentes não se manifestarem da for-
finalidade que o Poder Público almeja, existe um ato
ma devida, o ato não estará perfeito;
definido em lei. A lei deve sempre estabelecer os tipos
de atos e suas consequências, promovendo ao particu- z Atos compostos: é aquele que advém de mani-
lar a garantia de que a Administração Pública não fará festação de apenas um órgão. Porém, para que
uso de atos inominados, sem tipificação, que impõe produza efeitos, depende da aprovação, visto,
obrigações cuja previsão legal não existe. É um atri- ou anuência de outro ato, que o homologa, como
buto que deriva do próprio princípio da legalidade. condição para a executoriedade daquele ato. Cos-
tuma-se afirmar que o ato posterior é acessório
do anterior, pois a manifestação do segundo ato
Dica
não possui a mesma matéria do primeiro: ele ape-
A tipicidade é uma característica marcante da nas complementa a aplicação deste. Exemplo: a
expropriação de bens particulares pelo Poder nomeação de servidor público, que deve sempre
Público. É o caso de desapropriação administrati- anteceder a sua aprovação em concurso público.
va, hipótese em que o Poder Público tem a prerro-
gativa de tirar da esfera de alguma pessoa física Quanto aos Destinatários
a titularidade sobre bem imóvel, transformando-o
em bem público. Para tanto, deve realizar um pro- z Atos gerais: são o conjunto de regras de caráter
cedimento envolvendo aspectos mais complexos, abstrato e impessoal. Seus destinatários são mui-
como a declaração de utilidade ou necessidade tos, mas unidos por características em comum, que
pública (inciso XXIV, do art. 5º, da CF, de 1988), os fazem destinatários do mesmo ato. Para pro-
bem como a necessidade de prévia indenização duzirem seus efeitos, já que externos, devem ser
ao particular que teve seu bem expropriado, em publicados na imprensa oficial. Exemplos: os edi-
294 pecúnia (§ 3º, do art. 182, da CF, de 1988). tais de concurso público, as instruções normativas;
z Atos coletivos: são aqueles expedidos a um grupo caso contrário, é considerado um ato ilícito (inváli-
definido de destinatários. É o caso, por exemplo, do), podendo ser anulado;
de alteração de horário de funcionamento de uma z Atos eficazes ou ineficazes: o critério analisado
repartição pública. Tal ato, evidentemente, somen- aqui é a eficácia dos atos administrativos. Ato efi-
te é do interesse daqueles funcionários. A publici- caz é aquele que já está produzindo efeitos concre-
dade é atendida apenas com a comunicação dos tos. São considerados eficazes porque sobre eles
interessados, visto que é um ato interno da Admi- não recai nenhum prazo ou condição suspensiva.
nistração Pública; Já os atos ineficazes são aqueles que não podem
z Atos individuais: são aqueles destinados a ape- produzir seus efeitos, seja por motivos de perfeição,
nas um único destinatário. Exemplo: a promoção seja pela ausência de um outro ato administrativo
de um determinado servidor público. A exigência que o homologue. É o caso, por exemplo, da investi-
da publicidade depende somente da comunicação dura de candidato em um cargo público. Tal ato por
do interessado, não há necessidade de publicação si só é ineficaz, se o candidato não tiver, além de ser
pelo Diário Oficial. aprovado em concurso público, realizado outro ato
que é a assinatura do termo de posse.
Quanto aos Efeitos
Alguns autores, como Celso Antônio Bandeira de
z Atos constitutivos: são aqueles que geram uma Mello, salientam que há uma mescla dessa última
nova situação jurídica aos destinatários. Pode ser classificação, o que significa que o ato administrativo
pela outorga de um novo direito, como permissão de pode se encontrar de diversas formas, tais como: a)
uso de bem público, ou a imposição de uma obriga- perfeito, válido e eficaz; b) perfeito, válido e ineficaz;
c) perfeito, inválido e ineficaz; ou ainda d) imperfeito,
ção, como estabelecer um período de suspensão;
inválido e ineficaz.
z Atos declaratórios: são aqueles que afirmam uma
Os critérios apresentados não são exaustivos: há
situação já existente, seja de fato ou de direito. Não
outras formas de classificação dos atos administrati-
cria, transfere ou extingue situação jurídica, ape-
vos adotadas por diversos autores. Escolhemos apre-
nas a reconhece. É o caso da expedição de uma cer-
sentar aqueles que têm mais chances de aparecer em
tidão de tempo de serviço;
uma questão de prova.
z Atos modificativos: são os que tem capacidade de
alterar a situação já existente, sem que seja extin-
ESPÉCIES
ta. Todavia, não tem o condão de criar direitos e
obrigações. Exemplo: a alteração do horário de
Os atos administrativos tipificados pela legislação
atendimento da repartição; brasileira são diversos. Por isso, também é utilizado,
z Atos extintivos: também denominados atos des- para fins didáticos, uma sistematização dos atos admi-
constitutivos, são aqueles que põem termo a um nistrativos. A doutrina divide os atos administrativos
direito ou dever pré-existentes. Exemplo: a demis- previstos da legislação em cinco espécies distintas:
são de servidor público.
z Atos normativos: são aqueles que apresentam
Quanto ao Objeto comandos gerais e abstratos para o cumprimento da
lei. Alguns autores, inclusive, chegam a considerar
z Atos de império: são aqueles praticados pela tais atos “leis em sentido material”. São atos normati-
Administração em posição de superioridade vos: os decretos e regulamentos; as instruções norma-
perante os particulares, como na imposição de tivas; os regimentos; as resoluções; e as deliberações;
multa por infração administrativa; z Atos ordinatórios: correspondem a manifesta-
z Atos de gestão: são expedidos pela Administração, ções internas da Administração Pública decorren-
em posição de igualdade em relação aos administra- tes do poder hierárquico, estabelecendo regras de
dos. É o caso da alienação de bem público; funcionamento de seus órgãos internos e regras
z Atos de expediente: são atos internos, elaborados de conduta de seus agentes. Tais atos não podem
por autoridade subalterna, que não tem capacida- disciplinar as condutas dos particulares. São atos

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


de decisória. Exemplo: numeração dos autos no ordinatórios: as instruções; as circulares; os avi-
processo judicial. sos; as portarias; os ofícios; as ordens de serviço;
os despachos; entre outros;
Quanto à Exequibilidade z Atos negociais: são aqueles que manifestam a
vontade da Administração em consonância com
o interesse dos particulares. Exemplos: a licença,
z Atos perfeitos ou imperfeitos: a perfeição diz
a autorização, a permissão, a concessão, a apro-
respeito aos atos que completaram seu processo de
vação, a homologação, a renúncia etc. Os atos
formação, isto é, que já apresentam todos os cinco
negociais podem ser vinculados (licença) ou discri-
elementos do ato administrativo (agente, forma, cionários (autorização), definitivos ou precários,
finalidade, objeto e motivo). Por outro lado, atos sendo passíveis de revogação pelo Poder Público
imperfeitos são os que ainda não completaram seu a qualquer tempo. A característica especial desses
processo de formação, seja porque carecem de um atos é que eles não disciplinam direitos, e sim inte-
dos cinco elementos, seja porque recai uma condição resses dos particulares;
suspensiva que impede que o ato se torne perfeito; z Atos enunciativos: também denominados “atos
z Atos válidos ou inválidos: a validade não é sinô- de pronúncia”, são aqueles que certificam, ou ates-
nimo de perfeição, uma vez que possui relação tam a existência de uma situação jurídica peculiar.
com o ordenamento jurídico, e não com os elemen- Tais atos possuem caráter predominantemente
tos constitutivos. Todo ato administrativo válido declaratório. São atos enunciativos: as certidões;
deve ter uma norma jurídica como fundamento, os atestados; os pareceres etc; 295
z Atos punitivos: como o próprio nome supõe, são superveniente, que altera o juízo de conveniência e
os atos que aplicam sanções aos particulares, ou oportunidade sobre a permanência de ato discricioná-
aos servidores que pratiquem condutas irregula- rio, obrigando a Administração a expedir um segundo
res, nos termos da lei. São atos punitivos: as mul- ato capaz de revogar esse ato anterior.
tas, as interdições; e a destruição de coisas. O conceito de revogação tem previsão no art. 53,
da Lei nº 9.784, de 1999:
INVALIDAÇÃO E EXTINÇÃO DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS Art. 53 A Administração deve anular seus próprios
atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
Os atos administrativos possuem um ciclo de vida. revogá-los por motivo de conveniência ou oportuni-
Eles são criados, começam a produzir efeitos e, depois dade, respeitados os direitos adquiridos.
de um tempo, desaparecem. Vamos analisar com mais
detalhes justamente o desaparecimento dos atos admi- Sobre o mesmo assunto, a Súmula nº 473, do STF:
nistrativos, embora seja preferível utilizar o termo
“extinção” (ou “invalidação”) dos atos administrativos. Súmula nº 473 (STF) A administração pode anular
Para melhor compreensão do tema, a doutrina utili- seus próprios atos, quando eivados de vícios que
za-se de uma sistematização das formas de extinção dos os tornam ilegais, porque deles não se originam
atos administrativos. A principal divisão que deve ser direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
feita é em relação à produção de efeitos: existem atos ou oportunidade, respeitados os direitos adquiri-
administrativos eficazes e atos ineficazes. Quando ine- dos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial.
ficaz, o ato pode ser extinto pela retirada, ou pela sua
recusa pelo beneficiário. Tratando-se de atos eficazes,
há quatro formas de extinção dos atos administrativos: Por tratar-se de questão de mérito, a revogação
somente pode ser decretada pela própria Administra-
z Extinção ipsu iure pelo cumprimento dos efei- ção Pública. É, também, decorrência do princípio da
tos: é a extinção que ocorre pelo cumprimento autotutela: a Administração Pública tem competência
integral dos efeitos do ato administrativo. É a para anular e revogar seus atos, sendo descabida a
extinção natural esperada por todo ato adminis- manifestação do Poder Judiciário nos atos adminis-
trativo. Pode ocorrer mediante: trativos discricionários. A revogação é elaborada pela
mesma autoridade que praticou o ato principal.
O ato revocatório é sempre secundário, consti-
„ Esgotamento do conteúdo, como a vacina-
tutivo e discricionário. Seu objeto será sempre o ato
ção de enfermos após expedição de ordem de
administrativo ou a relação jurídica anterior perfei-
entrega das vacinas;
ta e eficaz, destituído de qualquer vício. A revogação
„ Execução da ordem, como o guinchamento de
atinge somente os atos discricionários: para os atos
veículo;
vinculados, a medida cabível é a anulação.
„ Implemento de condição resolutiva ou termo
Por fim, em relação a seus efeitos, a revogação não
final, como o prazo final para renovação da CNH;
pode atingir as situações jurídicas do passado. Isso
significa que a revogação produz efeitos futuros, não
z Extinção ipsu iure pelo desaparecimento da
retroativos, ou ex nunc. Há a possibilidade do particu-
pessoa ou objeto: os atos administrativos podem
lar, que se sentiu prejudicado com a referida medida,
tratar das pessoas ou coisas. Desaparecendo um
ingressar em juízo com pedido de indenização contra
desses elementos, o ato extingue-se automatica-
a Administração.
mente, pois perdeu a sua utilidade. As pessoas
“desaparecem” com seu falecimento, como a mor-
Anulação
te de servidor público que receberia promoção; e
as coisas com a sua ruína ou destruição, como o
É a extinção de ato administrativo defeituoso, pois
desabamento de prédio que recebeu licença para
carece de legalidade, podendo ser expedido pela Admi-
a sua reforma;
nistração Pública, ou até mesmo pelo Poder Judiciário. A
z Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio
anulação deriva do próprio princípio da legalidade e auto-
beneficiário abre mão da situação proporcionada
tutela. Também possui fundamento no art. 53, da Lei nº
pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de
9.784, de 1999, bem como na Súmula nº 473, do STF.
cargo público a pedido do seu ocupante;
A anulação realizada pela própria Administração
z Retirada do ato: é a forma mais importante de ocorre mediante a expedição de ato anulatório. Suas
extinção dos atos administrativos, para os concursos características principais são: é ato secundário, cons-
públicos. É a extinção que se dá pela expedição de um titutivo e vinculado. Tanto a Administração como o
segundo ato, elaborado para extinguir ato adminis- Poder Judiciário podem decretar a anulação de ato
trativo anterior a ele. Comporta cinco modalidades, administrativo. Outra característica importante é o
que serão vistas com maiores detalhes: revogação, prazo definido pelo caput do art. 54, da Lei nº 9.784,
anulação, cassação, caducidade e contraposição. de 1999:

Revogação Art. 54 O direito da Administração de anular os


atos administrativos de que decorram efeitos favo-
Revogação é a extinção de ato administrativo ráveis para os destinatários decai em cinco anos,
que se encontra perfeito e apto a produzir seus efei- contados da data em que foram praticados, salvo
tos, praticado pela própria Administração Pública. comprovada má-fé.
Essa remoção é fundada em razões de conveniência
e oportunidade, sempre almejando a proteção do O prazo decadencial de cinco anos é atributo exclu-
296 interesse público. Nessa hipótese, ocorre uma causa sivo da anulação.
Por fim, em relação a seus efeitos, é importante fri- Essa nomenclatura pode ser um pouco confusa,
sar que o ato nulo (aquele que carece de legalidade) pois, na verdade, a prescrição e a decadência tratam
tem o seu defeito constatado desde a sua concepção. de duas coisas distintas. O correto seria dizer que há
Por isso, a anulação deve desconstituir os efeitos des- um prazo decadencial para a Administração exercer
de a data da prática daquele ato. Podemos afirmar, o seu direito de revisar os seus próprios atos. Ocorre
então, que a anulação possui efeito retroativo, ou ex que, para exercer esse direito, deve a mesma ingres-
tunc. Em regra, não gera ao particular direito à inde- sar com uma ação no Judiciário e, sobre essa ação,
nização pela anulação de ato ilegal, salvo se compro- recai um prazo prescricional. Assim, a prescrição
var ter sofrido dano anormal para ocorrência, do qual atinge somente o direito de exercício da ação cabí-
não tenha participado. vel, enquanto que a decadência atinge o direito em
si. Em suma, não é porque ocorreu a decadência do
Cassação direito da Administração de anular o próprio ato que
ela mesma criou, que esse ato não possa ser anulado
São hipóteses em que o administrado deixa de pelo Poder Judiciário, dentro do processo judicial.
preencher condição necessária para a permanência A decadência existe para proteger os vínculos e
relações jurídicas travados entre a Administração
da referida vantagem. Exemplo: habilitação da CNH
Pública e os particulares, garantindo maior segurança
cassada por ser pessoa enferma.
jurídica, impedindo que o particular seja surpreendi-
do por uma situação que ficou no passado.
Caducidade
E qual é esse prazo da decadência administrativa?
Segundo o já mencionado caput do art. 54, da Lei nº
Também denominada decaimento, consiste na
9.784, de 1999.
modalidade de extinção de ato administrativo em con-
sequência de norma jurídica superveniente, a qual Art. 54 O direito da Administração de anular os
impede a permanência da situação anteriormente atos administrativos de que decorram efeitos favo-
consentida. Como não pode produzir efeitos automati- ráveis para os destinatários decai em cinco anos,
camente, é necessária a prática de um ato secundário, contados da data em que foram praticados, salvo
determinando a extinção do ato decaído. Exemplo: comprovada má-fé.
perda do direito de comercializar em área que passa a
ser considerada exclusivamente residencial. Sobre o prazo da prescrição do processo adminis-
trativo, não há um dispositivo legal que trate sobre o
Contraposição tema. Porém, é entendimento preponderante da juris-
prudência que ocorre a prescrição quando o processo
É o modo de extinção que ocorre com a expedição administrativo fica paralisado por mais de 3 (três) anos.
de um segundo ato, fundado em competência diversa,
cujos efeitos são contrapostos aos do ato inicial. É uma
espécie de revogação praticada por autoridade distinta
da que expediu o ato inicial. Exemplo: nomeação de um
funcionário anteriormente exonerado de seu cargo. AGENTES PÚBLICOS

CONVALIDAÇÃO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DO DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS


ATO ADMINISTRATIVO
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu regras
Apesar de termos visto diversas formas de extin- gerais e preceitos específicos no Capítulo VII do Título
ção dos atos administrativos, isso não significa que III. São normas que tratam da organização, diretrizes,
qualquer vício é capaz de retirar tal ato do seu campo remuneração e atuação dos servidores, acesso aos car-
de atuação. Existe a possibilidade desses atos serem gos públicos etc. Assim, a seguir passaremos a estudar
corrigidos, terem seus vícios sanados, para que vol- regras e preceitos específicos da Administração Pública.
tem a surtir seus efeitos benéficos em toda a socieda-
de. Essa é a hipótese da convalidação (ratificação) dos DISPOSIÇÕES DOUTRINÁRIAS NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
atos administrativos.
A convalidação está prevista no art. 55, da Lei nº Conceito
9.784, de 1999, que assim expõe:
Nas lições de Celso Antônio Bandeira de Mello
Art.55 Em decisão que esteja evidente que não são agentes públicos as pessoas que exercem uma
acarretare lesão ao interesse público nem prejuí- função pública, ainda que em caráter temporário ou
zo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos
sem remuneração. Trata-se de uma expressão ampla
sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração. e genérica, uma vez que engloba todos aqueles que,
dentro da organização da Administração Pública,
Assim, todo ato que contém algum vício, estando exercem determinada função pública.
apto a produzir efeitos, e desde que esse vício não seja Assim, podemos dizer que agente público é gênero,
insanável, pode ser convalidado. Somente os elementos o qual comporta diversas espécies, como os agentes
da forma e da competência podem sofrer convalidação. políticos, os agentes militares, os servidores públi-
Mas a Administração não pode extinguir seus pró- cos estatutários, os empregados públicos, os agentes
prios atos a qualquer tempo, pois existe um prazo honoríficos, entre outros. Por isso, vamos especificar
para tanto, o qual denomina-se prescrição (no senti- cada um deles com maiores detalhes.
do de decadência) administrativa. 297
ESPÉCIES judicial transitada em julgado, processo administrativo
disciplinar, ou a não aprovação em avaliação periódica
Agentes Políticos de desempenho (§ 1º, do art. 41, da CF, de 1988).
Dentre os cargos públicos, ainda, há aqueles que
Os agentes políticos possuem como característica são vitalícios, que se apresentam de forma mais van-
principal o fato de exercerem uma função pública de tajosa, uma vez que o estágio probatório possui um
alta direção do Estado. Seu ingresso é feito mediante tempo menor (2 anos, sendo de 3 anos para os car-
eleições, e atuam em mandatos fixos, os quais têm o gos não-vitalícios), bem como o desligamento ocorrer
condão de extinguir a relação destes com o Estado de apenas mediante sentença condenatória transitada
em julgado. São vitalícios os cargos de: Magistratura,
modo automático pelo simples decurso do tempo. Per-
do Tribunal de Contas, e os cargos dos membros do
cebe-se, dessa forma, que a sua vinculação com o Esta-
Ministério Público.
do não é profissional, mas estatutária ou institucional.
Além da estabilidade, é também assegurado aos
São agentes políticos os parlamentares, o Presidente da
servidores estatutários alguns direitos trabalhistas,
República, os prefeitos, os governadores, bem como seus vejamos aqui os mais importantes, listados no § 3º, do
respectivos vices, ministros de Estado e secretários. art. 39, da CF, de 1988:

Agentes Militares z salário mínimo;


z remuneração de trabalho noturno superior ao
Os agentes militares constituem uma categoria à diurno;
parte dos demais agentes políticos, uma vez que as z repouso semanal remunerado;
instituições militares possuem fortes bases funda- z férias remuneradas;
mentadas na hierarquia e na disciplina. Apesar de z licença à gestante etc.
também apresentarem vinculação estatutária, seu
regime jurídico é disciplinado por legislação especial, Empregado Público
e não aquela aplicável aos servidores civis. São agen-
tes militares os membros das Polícias Militares e dos De modo diferente da contratação dos servidores,
Corpos de Bombeiros militares dos Estados, Distrito os empregados públicos são contratados mediante regi-
Federal e Territórios, bem como os demais militares me celetista, isto é, com aplicação das regras previstas
ligados ao Exército, Marinha e Aeronáutica. Algumas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Trata-se de
características que merecem destaque são: a proibi- uma vinculação contratual. A contratação de emprega-
ção de sindicalização dos militares, a proibição do dos públicos se dá, em regra, pelas pessoas jurídicas de
direito de greve, e a proibição à filiação partidária. direito privado integrantes da Administração Indireta
(empresas públicas, sociedades de economia mista, con-
Agentes Administrativos sórcios etc.). Além disso, o ingresso de tais pessoas tam-
bém depende da sua aprovação em concurso público.
São aqueles que exercem uma atividade sujeita à O regime dos empregados públicos é menos prote-
hierarquia funcional, ocupantes dos cargos públicos, tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato de
empregos públicos e funções públicas na administra- que os empregados públicos não gozam da estabilida-
ção direta ou indireta da Federação. O acesso ao car- de que os servidores possuem. Ao serem empossados,
go ocorrerá a partir de nomeação, concurso público os empregados passam por um período de experiên-
ou designação, cabendo exercer atividade de forma cia de 90 dias. Todavia, mesmo após esse período, os
remunerada e profissional. empregados públicos podem ser dispensados.
A diferença dos empregados públicos para com
SERVIDOR PÚBLICO os demais consiste no fato de que a sua demissão
será sempre motivada, após regular processo admi-
Conceito nistrativo, mediante contraditório e a ampla defesa.
Importante lembrar que, para a Administração Públi-
De modo geral, podemos dizer que a Constituição ca, a motivação de seus atos, bem como o tratamento
Federal de 1988 apresenta dois tipos de regimes para impessoal e a finalidade pública, são princípios nor-
os agentes estatais: o regime estatutário ou de cargos teadores de sua atuação. Uma demissão imotivada de
públicos, e o regime celetista ou de empregos públicos. um empregado público seria absolutamente inadmis-
Os servidores públicos são contratados pelo regi- sível nessas condições.
me estatutário, enquanto os empregados públicos são
contratados pelo regime celetista, que muito se asse-
CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA
melha às regras contidas na CLT.
Atente-se a esse conceito: Servidor público é o
Para todos os efeitos legais, o servidor público está
agente contratado pela Administração Pública, direta
ou indireta, sob o regime estatutário, sendo selecio- intrinsicamente ligado à noção de cargo público. Con-
nado mediante concurso público, para ocupar cargos forme dispõe o art. 3° do Estatuto dos Servidores, cargo
públicos, possuindo vinculação com o Estado de natu- público é o conjunto de atribuições e responsabilidades
reza estatutária e não-contratual. previstas na estrutura organizacional que devem ser
O regime dos cargos públicos é disciplinado pela cometidas a um servidor. Os cargos públicos, acessíveis
Lei Federal n° 8.112, de 1990, também conhecida como a todos os brasileiros, são criados por lei, com denomi-
Estatuto do Servidor Público. nação própria e vencimento pago pelos cofres públicos,
Frente a isso, um ponto relevante a ser ressaltado para provimento em caráter efetivo ou em comissão.
desse regime é o alcance da estabilidade mediante o A criação, transformação, e extinção de cargos,
fim do período de estágio probatório. Tal alcance per- empregos ou funções públicas depende sempre de
mite que o servidor não seja desligado de suas funções, uma lei instituidora (inciso X, do art. 48, da CF, de
298 salvo pelas hipóteses previstas em lei, como a sentença 1988). Porém, havendo um cargo ou função vago, a sua
extinção pode se dar mediante expedição de decreto z Reversão: outra forma de provimento derivado,
pelo Poder Executivo. em que temos o retorno à atividade de um servi-
Para ocupar um cargo público, é necessário haver dor aposentado por invalidez, ou por puro e sim-
o seu devido provimento, ou seja, deve haver um ato ples interesse da Administração, desde que
administrativo constitutivo e hábil para a investidu-
ra do servidor no respectivo cargo. Com relação aos Art. 25 Lei 8.112/1990 [...]
requisitos para a investidura em cargo público, dis- II - [...]
põe o art. 5º, da Lei nº 8.112, de 1990: a) tenha solicitado a reversão;
b) a aposentadoria tenha sido voluntária;
Art. 5º São requisitos básicos para a investidura c) estável quando na atividade;
em cargo público: d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos
I - a nacionalidade brasileira; anteriores à solicitação;
II - o gozo dos direitos políticos; e) haja cargo vago.
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício A reversão far-se-á para o mesmo cargo ou para o
do cargo;
cargo resultante de sua transformação. Em termos de
V - a idade mínima de dezoito anos;
remuneração, o servidor que retornar à atividade por
VI - aptidão física e mental.
interesse da Administração perceberá a remuneração
do cargo que voltar a exercer, em substituição da apo-
Há diversas formas de provimento dos cargos
públicos, podendo ser classificados em dois grupos: sentadoria que recebia (§ 4° , do art. 25, da Lei n° 8.112,
de 1990).
z Quanto à durabilidade: O provimento pode ser de
caráter efetivo, capaz de garantir estabilidade e até z Aproveitamento: mais uma forma de provimen-
mesmo vitaliciedade para o ocupante; ou em comis- to derivado consistente no retorno de servidor em
são, quando o referido cargo não goza de estabilida- disponibilidade, sendo seu regresso obrigatório para
de, podendo o servidor ser destituído ad nutum, isto cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com
é, de forma unilateral, sem a anuência do servidor; os do anteriormente ocupados (art. 30, da Lei nº
z Quanto à preexistência de vínculo: temos o provi- 8.112, de 1990). Será tornado sem efeito o aproveita-
mento originário, que não depende de vinculação mento e cassada a disponibilidade se o servidor não
jurídica anterior com o Estado (nomeação); ou deri- entrar em exercício no prazo legal, salvo comprova-
vado, se o referido servidor já possuía algum víncu- da doença por junta médica oficial (art. 32, idem).
lo com o Estado (promoção, remoção, readaptação). z Reintegração: é a forma de provimento derivado
que ocorre pela reinvestidura do servidor estável no
O art. 8º, da Lei nº 8.112, de 1990, dispõe sobre as cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante
formas de provimento em cargos públicos: de sua transformação, na hipótese de sua demissão
ser invalidada por decisão judicial ou administrativa,
z Nomeação: trata-se da única forma de provimen- tendo direito também ao ressarcimento de todas as
to originário, uma vez que não exige uma relação vantagens (caput do art. 28, da Lei nº 8.112, de 1990).
jurídica prévia do servidor para com o Estado. A
nomeação depende sempre de prévia habilitação Supondo que, em uma situação anterior, o servi-
em concurso público de provas, ou de provas e títu- dor Carlos foi demitido por um motivo injusto. Esse
los. Além disso, a nomeação poderá ser promovi- motivo injusto pode advir de qualquer evento, como
da não somente em caráter efetivo, como também ter sido erroneamente acusado de ter praticado
para os cargos de confiança ou em comissão (inci- uma transgressão (falaremos das transgressões em
sos I e II, dos arts. 9° e 10, da Lei n° 8.112, de 1990); momento posterior). Carlos, então, resolveu ingressar
z Promoção: é uma forma de provimento derivado, em juízo e conseguiu comprovar que a sua demissão
haja vista que ela beneficia somente os servidores foi injusta. Assim, a decisão judicial (pode ser a admi-
que já ingressaram em cargos públicos em caráter
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
nistrativa também) determinou a invalidação de sua
efetivo. Os demais requisitos para o ingresso e o
demissão. Com isso, ele pode ser reintegrado e voltar
desenvolvimento do servidor na carreira, mediante
a trabalhar para a sua repartição pública.
promoção, serão estabelecidos pela lei que fixar as
Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocu-
diretrizes do sistema de carreira na Administração
pante será reconduzido ao cargo de origem, sem direito
Pública Federal e seus regulamentos (parágrafo
único, do art. 10, da Lei nº 8.112, de 1990); à indenização ou aproveitado em outro cargo, ou, ain-
z Readaptação: é, também, uma forma de provimen- da, posto em disponibilidade (§ 2º, do art. 28, idem).
to derivado, pois trata-se de hipótese de atribuição Como estamos buscando salientar, a Administra-
ao servidor para um cargo com funções e respon- ção não pode ficar criando cargos públicos a esmo, ele
sabilidades distintas e compatíveis com a limita- tem um número certo de cargos e de servidores públi-
ção que tenha sofrido em sua capacidade física ou cos ocupantes desses cargos. Logo, o cargo pertence
mental, verificada em inspeção médica. Assim, por originalmente a Carlos. Assim, se por exemplo, duran-
exemplo, um motorista de ônibus que sofre aciden- te o período que esteve fora o servidor, Márcio estava
te e acaba perdendo algum membro essencial para ocupando seu cargo, ele deverá ser ou reconduzido
dirigir poderá ser readaptado para executar uma para o seu cargo de origem, ou se isso não for possível
função similar, mas não idêntica à anterior. Na (porque esse cargo foi extinto durante esse período),
hipótese do servidor readaptando se mostrar com- ele pode ser aproveitado em outro cargo similar.
pletamente inválido para exercer qualquer cargo, Não havendo outro cargo similar, Márcio será pos-
ele será compulsoriamente aposentado; to em disponibilidade 299
z Recondução: por fim, a recondução é a forma de Um direito muito importante do servidor substitu-
provimento derivado consistente no retorno do ser- to é que ele pode optar, entre o cargo que ocupava
vidor público estável ao cargo anteriormente ocupa- antes e o cargo que passa a ocupar pela substituição,
do, e decorrerá de inabilitação em estágio probatório pela remuneração mais vantajosa (§ 2º, do art. 38).
relativo a outro cargo, ou ainda pela reintegração do Seria injusto o substituto ganhar menos do que rece-
anterior ocupante (incisos I e II, do art. 29, da Lei bia antes da substituição.
nº 8.112, de 1990). Uma situação excepcional é a da
extinção do cargo durante o período de estágio pro- Acumulação de Cargo, Emprego, e Função Pública
batório. Nessas condições, segundo a Súmula n° 22
do STF, inexiste direito à recondução, e o servidor Sobre a acumulação de cargos, emprego e funções
será exonerado. públicas, deve-se salientar que o ordenamento jurídi-
co brasileiro, em regra, proíbe a acumulação de car-
É o caso do servidor Márcio, já mencionado duran- gos e empregos públicos. Tal proibição se estende,
te a reintegração do servidor Carlos. A recondução inclusive, para as entidades da Administração Indire-
tem prioridade em relação a pôr o servidor em dis- ta. O caput do art. 118, da Lei nº 8.112, de 1990, dispõe
ponibilidade. Pôr o servidor em disponibilidade é no mesmo sentido: Ressalvados os casos previstos na
considerada uma última medida, pois o correto é a Constituição, é vedada a acumulação remunerada de
Administração fazer com que todos os servidores que cargos públicos. Apesar do referido texto legal dispor
contratou trabalhem para ela deve evitar de ter um sobre agentes públicos no âmbito federal, entendemos
quadro cheio de servidores que recebem remunera- que também possa ser aplicado aos agentes públicos
ção e outros benefícios, mas que ficam “parados” por- dos Estados, Municípios, e Distrito Federal.
que não possuem um cargo para ocupar. Pela leitura do dispositivo, vemos que a própria
Mas a Lei n° 8.112, de 1990, também faz menção Constituição Federal dispõe de um rol de casos excep-
das hipóteses de vacância, isso é, são casos em que cionais em que é permitida a acumulação dessas fun-
temos a extinção do cargo público: ções. Há entendimento praticamente unânime de que
se trata de um rol taxativo, ou seja, são válidas apenas
Art. 33 São formas de vacância dos cargos públicos: aquelas hipóteses de acumulação de cargos.
I – exoneração; Assim, as hipóteses de acumulação de cargos cons-
II - demissão; titucionalmente autorizadas são:
III - promoção;
IV (REVOGADO);
z Dois cargos de professor (alínea “a”, do inciso XVI,
V (REVOGADO);
VI - readaptação;
do art. 37, da CF, de 1988);
VII - aposentadoria; z Um cargo de professor com outro técnico ou cien-
VIII - posse em outro cargo inacumulável; tífico (alínea “b”, do inciso XVI, do art. 37, idem);
IX - falecimento. z Dois cargos ou empregos privativos de profissio-
nais na área da saúde (alínea “c”, do inciso XVI, do
Observe que algumas das hipóteses de vacância são art. 37, idem);
as mesmas das hipóteses de provimento. Isso ocorre z Um cargo de vereador com outro cargo, emprego
porque, como mencionamos, o provimento derivado ou função pública (inciso III, do art. 38);
dos cargos públicos pressupõe uma relação jurídica z Um cargo de magistrado e outro de magistério (ini­
anterior entre o servidor e a Administração Pública. ciso I, § único, do art. 95, idem);
Nessas hipóteses (readaptação, promoção), o Poder z Um cargo de membro do Ministério Público e
Público necessita extinguir um cargo público (uma outro de magistério (alínea “d”, do iniciso II, do §
relação jurídica anterior) para criar um cargo novo. 5°, do art. 128, idem).
Dessas hipóteses, a que merece maiores esclareci-
mentos é a exoneração. Nas linhas do art. 35, a exo- Das Prerrogativas, dos Direitos, Vantagens e
neração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do servidor, Autorizações dos Servidores Públicos
ou de ofício. Quando de ofício, a exoneração será rea-
lizada quando não satisfeitas as condições do estágio Prerrogativa é qualquer situação de vantagem obti-
probatório; ou ainda  quando, tendo tomado posse, o da pela natureza de um cargo ou de uma função. No
servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido. caso dos agentes públicos, existem algumas prerrogati-
A substituição encontra-se disposta no art. 38 do vas que são comuns para todo e qualquer cargo público,
Estatuto. Segundo o caput desse dispositivo, os servi- e existem algumas prerrogativas que são mais restritas,
dores investidos em cargo ou função de direção ou che- exclusivas apenas para alguns cargos. Geralmente essas
fia e os ocupantes de cargo de Natureza Especial terão prerrogativas mais exclusivas são aplicáveis para os car-
substitutos indicados no regimento interno ou, no caso gos militares e para os cargos de natureza política.
de omissão, previamente designados pelo dirigente No momento, é importante focar nas prerrogativas
máximo do órgão ou entidade. que se aplicam para todos os servidores públicos, que
A substituição é, assim, uma troca de um servidor ocupam cargos públicos em geral. A primeira grande
por outro, aplicável somente para os cargos de comis- prerrogativa diz respeito à estabilidade.
são ou função de direção e chefia, bem como cargos A estabilidade é a condição que o servidor público
de Natureza Especial. O servidor substituto indica- atinge após completar alguns requisitos. O seu princi-
do assume, automaticamente, o exercício do cargo, pal efeito é que, uma vez estável no cargo, o servidor
nos casos de afastamentos, impedimentos legais ou público não pode ser demitido por razões de conve-
regulamentares do titular, bem como na hipótese de niência ou oportunidade pela Administração. Ela não
vacância do cargo. pode demitir o servidor estável “porque não quer
300 mais” trabalhar com ele.
Segundo o art. 21, do Estatuto dos Servidores Públi- Das hipóteses de exoneração, apesar de ser um
cos Civis da União, uma vez que o servidor seja habi- aspecto relativo ao Regime de Previdência, é também
litado em concurso público e empossado em cargo de considerada como uma forma de exoneração a apo-
provimento efetivo adquirirá estabilidade no serviço sentadoria compulsória, isso é, a concessão do referido
público ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício. benefício previdenciário quando o servidor estável ou
Interessante observar que a Constituição Federal vitalício completar 75 (setenta e cinco) anos de idade.
de 1988 também prevê a prerrogativa de estabilida- A diferença é que, no caso da aposentadoria compul-
de em seu art. 41. Todavia, os requisitos são distintos: sória, o servidor para de trabalhar, mas continua rece-
para o Texto Constitucional, o servidor público só bendo uma “remuneração”, chamada de provento.
adquire estabilidade após completar 3 (três) anos de A Lei n° 8.112, de 1990, em seus arts. 40 e 41, elen-
efetivo exercício. ca diversos direitos e gratificações aos servidores
Isso não significa que, uma vez o servidor estando públicos, os quais são de grande importância conhe-
estável no seu cargo, ele pode fazer o que quiser e não cer. Vejamos os principais direitos:
sofrerá nenhuma punição. A estabilidade não lhe dá
“carta branca” para agir como bem entender. Por isso o z Vencimentos: vencimentos está para o servidor
conteúdo do art. 22, da Lei nº 8.112, de 1990: O servidor assim como o salário está para o empregado. Con-
estável só perderá o cargo em virtude de sentença judi- siste na retribuição pecuniária pelo exercício do
cial transitada em julgado ou de processo administrati- cargo público, cujo valor é previamente fixado
vo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa. em lei. Os vencimentos de cargos efetivos são, em
O Texto Constitucional vai um pouco além: ele pre- regra, irredutíveis;
vê ao todo, quatro modalidades de demissão de servi- z Remuneração: é mais abrangente. É o vencimen-
dor estável. São elas: to do cargo, somado a todas as outras vantagens
pecuniárias estabelecidas em lei. O menor valor
z Por sentença judicial transitada em julgado: é pago ao servidor público, independentemente de
a forma mais demorada para se demitir um servi- sua vinculação, é o valor do salário mínimo vigen-
dor, considerando todo o aspecto burocrático exis- te (§ 3°, do art. 39, da CF, de 1988).
tente no processo judicial. O trânsito em julgado da
sentença somente ocorre quando esgotados todos O art. 39, da Constituição Federal, apresenta algu-
os recursos cabíveis; mas regras gerais sobre o regime dos servidores públi-
z Mediante processo administrativo em que lhe cos. Dentre as regras constitucionais, o §1° do referido
seja assegurada ampla defesa. As regras referentes dispositivo prevê que a fixação dos padrões de ven-
ao Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD) cimento e dos demais componentes do sistema
serão vistas mais adiante; remuneratório observará três aspectos: a natureza,
z Mediante procedimento de avaliação periódica o grau de responsabilidade e a complexidade dos car-
de desempenho, na forma de lei complementar, gos componentes de cada carreira; os requisitos para
assegurada ampla defesa: quem não for aprovado a investidura; e também as peculiaridades dos cargos.
na avaliação periódica de desempenho, pode ser
exonerado de seu cargo público, independentemen- z Regime de subsídios: trata-se de uma forma espe-
te de ter completado o período de efetivo exercício; cial de remuneração, feita em uma única parcela.
z Por excesso de gasto com pessoal: as hipóteses 1 O regime de subsídios, previsto no § 4°, do art. 39,
a 3 estão previstas nos incisos do art. 41. Todavia, da CF, de 1988, foi introduzido com a finalidade de
essa última hipótese encontra-se disposta no inciso coibir os “supersalários” comumente existentes no
II, § 3º, do art. 169, da CF, de 1988. Sob o aspecto regime de servidores públicos brasileiros. Impor-
orçamentário e financeiro, não pode a Administra- tante ressaltar que recebem por subsídios somen-
ção Pública realizar gastos superiores àqueles pre- te os Chefes do Poder Executivo, parlamentares,
vistos em seu orçamento anual. Com isso, havendo magistrados, ministros de Estado, secretários esta-
a necessidade, é possível, sim, que um servidor duais, membros do Ministério Público e da Advo-
estável seja exonerado de seu cargo, apenas por cacia Pública, entre outros;
motivos de “balancear” as contas públicas. z Indenizações: as indenizações são valores pagos

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


aos servidores, mas que não integram seus ven-
cimentos. O Estatuto prevê algumas hipóteses de
Outra prerrogativa que merece maior destaque é recebimento de indenizações:
a vitaliciedade. É um instituto bastante parecido com
a estabilidade, mas não pode ser confundida com a „ Ajuda de custo por mudança: devida como
mesma. A vitaliciedade não é adquirida por qualquer forma de compensar as despesas de instalação
servidor: ela é somente concedida para alguns cargos de servidor que tiver exercício em nova sede,
públicos especiais. ocorrendo mudança de seu domicílio;
São considerados cargos vitalícios, segundo a pró- „ Ajuda de custo por falecimento: devida à
pria Constituição Federal: os cargos de Magistratu- família do servidor que vier a falecer na nova
ra (inciso I, do art. 95, da CF, de 1988), os membros do sede, sendo devido para custear o transporte
Ministério Público (alínea “a”, § 5°, do art. 128, idem), para a localidade de origem;
e os cargos ocupados pelos membros do Tribunal de „ Diárias por deslocamento: devida ao servidor
que se afastar, por motivos de serviço, da sede
Contas da União ou TCU (§ 3°, do art. 73, idem).
em caráter transitório, para outro local dentro ou
A vitaliciedade é um instituto ainda mais forte do que fora do país, receberá tal indenização como for-
a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocupe um desses ma de ajuda no custeio do processo de mudança;
cargos vitalícios, ela somente pode ser exonerada median- „ Auxílio-moradia: trata-se de ressarcimento das
te sentença judicial transitada em julgado. Essa é a única despesas comprovadamente realizadas pelo ser-
hipótese de exoneração, motivo pelo qual ela garante vidor com aluguel de moradia ou com hospeda-
uma prerrogativa maior do que apenas a estabilidade. gem realizado por algum hotel, dependendo do 301
preenchimento de alguns requisitos, como não
ter um imóvel funcional disponível para uso, LICENÇA AFASTAMENTO
seu cônjuge não ser ocupante de imóvel funcio- Finalidade é de interes- Finalidade é de interesse
nal, ou que nenhuma outra pessoa que resida se exclusivo do agente do agente e da Adminis-
com o servidor receba a mesma indenização etc. público tração Pública
„ Gratificações, Adicionais e Retribuições: O art.
61, do Estatuto dos Servidores Públicos, também Ex: doença do cônjuge/ Ex: realização de espe-
prevê o pagamento das seguintes gratificações: membro da família; para cialização; realização
exercer atividade política; de missão no exterior;
I - retribuição pelo exercício de função de direção, para tratar de interesses para servir a outro órgão/
chefia e assessoramento; particulares entidade
II - gratificação natalina;
IV - adicional pelo exercício de atividades insalu- Possui prazos mais cur- Possui prazos mais lon-
bres, perigosas ou penosas; tos (dias, semanas) gos (meses, anos)
V - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
VI - adicional noturno;
VII - adicional de férias; Uma questão que costuma cair com bastante fre-
VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do quência nas provas de concurso público é sobre a
trabalho; remuneração de servidor afastado para exercício de
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. mandato eletivo (art. 94, Lei n° 8.112, de 1990). A regra
geral é que, para exercer um mandato eletivo, o ser-
O servidor, em relação às férias, fará jus a trin- vidor deve se afastar do cargo e deixar de receber a
ta dias de licença para cada 12 meses de serviço, que remuneração do mesmo. Porém, tratando-se de exercí-
podem ser acumuladas, até o máximo de dois perío- cio de mandato de Prefeito, o servidor afastar pode-
dos, no caso de necessidade do serviço (art. 77, Lei n° rá optar, dentre as duas remunerações, por aquela
8.112, de 1990). Poderão ser parceladas em até três que lhe for mais vantajosa (valores maiores, mais
períodos, desde que assim requeridas pelo servidor, e benefícios etc.). Outro aspecto importante: no caso de
no interesse da administração pública, na forma do § mandato de Vereador, o servidor poderá exercer os
3° do mesmo dispositivo legal. dois cargos e receber ambas as remunerações, des-
As licenças são uma espécie de afastamento com de que comprovada a compatibilidade de horários
algumas características próprias. Estão dispostas nos (atua como Vereador de dia e como agente público de
arts. 81 e seguintes da Lei dos Servidores Públicos noite, e vice-versa). Sendo incompatível o horário dos
Federais. Conceder-se-á licença ao servidor:
dois cargos, o Vereador pode optar pela remuneração
mais vantajosa, igual ao Prefeito. Isso é assim porque,
Art. 81 [...]
muitas vezes, a remuneração dos Prefeitos e Vereado-
I - por motivo de doença em pessoa da família;
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou res de pequenos Municípios costuma ser menor do que
companheiro; a remuneração do cargo público anterior, e ele pode
III - para o serviço militar; facilmente se locomover de um ambiente de trabalho
IV - para atividade política; para outro nesse Municípios de porte menor.
V - para capacitação;
VI - para tratar de interesses particulares; Do Regime Previdenciário (RPPS)
VII - para desempenho de mandato classista.
Servidor público não é empregado. Por isso, não se
Apesar de haver previsão para concessão de licen- aplica a ele o Regime Geral de Previdência, conhecido
ça por prêmio em virtude de assiduidade, tal hipótese também como RGPS. Os servidores possui um regime
acabou sendo revogada pela Lei n° 9.527, de 1997. As próprio denominado Regime Próprio de Previdência
licenças, como se depreende, são hipóteses de desliga- dos Servidores (ou RPPS).
mento temporário do servidor com o seu respectivo Esse regime tem suas políticas elaboradas e executadas
cargo, havendo uma expectativa para o seu retorno.
pela Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda.
As licenças poderão ser concedidas com ou sem remu-
Neste Regime, é compulsório para o servidor público do
neração, a depender de cada situação.
ente federativo que o tenha instituído, com teto e subtetos
Os afastamentos, que não se confundem com as
definidos pela Emenda Constitucional n° 41, de 2003.
licenças, são hipóteses em que há um desligamento
Mas o Regime de Previdência dos Servidores tam-
permanente do servidor com o seu cargo, e, em regra,
bém possui dispositivos previstos em seu Estatuto.
o seu prazo para retorno é bem maior, o que torna
Segundo o art. 184, da Lei nº 8.112, de 1990:
menos provável a sua chance de retorno. Além disso,
quem tem interesse no afastamento do servidor são
Art. 184 O Plano de Seguridade Social visa a dar
ambos o servidor e a própria Administração Pública.
cobertura aos riscos a que estão sujeitos o servidor
Estão previstos nos arts. 93 e seguintes da Lei n° 8.112,
e sua família, e compreende um conjunto de benefí-
de 1990. São quatro hipóteses:
cios e ações que atendam às seguintes finalidades:
I - garantir meios de subsistência nos eventos de
z para servir a outro órgão ou entidade; doença, invalidez, velhice, acidente em serviço, ina-
z para exercício de mandato eletivo; tividade, falecimento e reclusão;
z para estudos ou missões no exterior; II - proteção à maternidade, à adoção e à
z para participação em programa de pós-graduação paternidade;
stricto sensu dentro do País. III - assistência à saúde.

Para compreender melhor a diferença entre licen- De modo geral, pode-se dizer que ao servidor são
302 ças e afastamentos, segue uma tabela explicativa. garantidos os seguintes benefícios previdenciários:
z Aposentadoria: possui previsão tanto na Cons- Importante!
tituição Federal quanto da Lei nº 8.112, de 1990.
O Regime Próprio de Previdência dos Servidores Com a entrada em vigor da Emenda Constitucio-
(RPPS) também sofreu alterações na chamada nal n° 103, de 2019, as regras para a aposenta-
“reforma da previdência”, promulgada pela Emen- doria voluntária dos agentes públicos sofreram
da Constitucional n° 103, de 2019. Com isso, temos algumas alterações. As chances de uma questão
dois textos normativos que, até o presente momen- sobre essas novas regras caírem em uma prova
to, dispõem sobre a aposentadoria. no momento são pequenas, mas é importante
se prevenir. Existem também regras de transição
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servidor mais específicas, as quais devem ser conheci-
será aposentado: das pelo candidato, ao menos um pouco. Por
isso, uma leitura da Emenda Constitucional 103,
„ Por incapacidade permanente para o traba- de 2019, na íntegra, é altamente recomendada.
lho, no cargo em que estiver investido, quando
insuscetível de readaptação. O Texto Constitu-
cional explicita que será obrigatória a realiza- „ Auxílio-natalidade (art. 196): o auxílio-natali-
ção de avaliações periódicas para verificação dade é devido à servidora por motivo de nas-
cimento de filho, em quantia equivalente ao
da continuidade das condições que ensejaram
menor vencimento do serviço público, inclusi-
a concessão da aposentadoria, na forma de lei
ve no caso de natimorto;
do respectivo ente federativo;
„ Salário-Família (art. 197): o salário-família
„ Compulsoriamente, com proventos proporcio-
é devido ao servidor segundo o número de
nais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
dependentes econômicos deste. Para todos os
anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos
efeitos, são considerados dependentes econô-
de idade, na forma da Lei Complementar nº 152,
micos, na forma do parágrafo único, do art. 197:
de 2015. Essa Lei Complementar dispõe sobre
a aposentadoria compulsória com proventos I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive
proporcionais, sendo aplicável aos servidores os enteados até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se
ocupantes de cargos públicos da União, Estados, estudante, até 24 (vinte e quatro) anos ou, se inváli-
Municípios, Distrito Federal e suas autarquias do, de qualquer idade;
e fundações; aos membros do Poder Judiciário; II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, median-
aos membros do Ministério Público; e aos mem- te autorização judicial, viver na companhia e às
bros da Defensoria Pública; expensas do servidor, ou do inativo;
„ Voluntariamente, no âmbito da União, aos 62 III - a mãe e o pai sem economia própria.
(sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos
65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, „ Licença para tratamento de saúde (art. 202),
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e essa licença dependente de perícia médica, sem
dos Municípios, na idade mínima estabelecida prejuízo da remuneração a que fizer jus. O ser-
mediante emenda às respectivas Constituições vidor precisa comprovar que realmente está
e Leis Orgânicas, observados o tempo de contri- doente e não pode trabalhar;
buição e os demais requisitos estabelecidos em „ Licença à gestante, à adotante e licença-pa-
lei complementar do respectivo ente federativo.      ternidade (art. 207): a licença à gestante/ado-
tante/paternidade será concedida por prazo
não superior a 120 dias, sem prejuízo da remu-
Com base no art. 186, da Lei n° 8.112, de 1990, ao
neração. Todavia, a servidora gestante poderá
servidor federal poderá ser concedido aposentadoria:
prorrogar esse prazo, desde que o requeira até
o final do primeiro mês após o parto, e terá
„ Aposentadoria por invalidez permanente, sendo
duração de sessenta dias. Trata-se de uma ino-
os proventos integrais quando decorrente de aci-
vação trazida pelo Decreto n° 6.690, de 2008;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
dente em serviço, moléstia profissional ou doença
„ Licença por acidente em serviço (art. 211): o
grave, contagiosa ou incurável, especificada em
Estatuto considera como acidente em serviço o
lei, e proporcionais nos demais casos; dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que
„ Aposentadoria compulsória, aos setenta anos de se relacione, mediata ou imediatamente, com as
idade, com proventos proporcionais ao tempo de atribuições do cargo exercido;
serviço; ou ainda; „ Pensão por morte (art. 215): esse é um dos
„ Aposentadoria voluntária, de acordo com raros benefícios que não é devido ao servidor
os seguintes critérios de idade e de contribui- (por motivos óbvios), mas a seus dependen-
ções: aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se tes, incluindo nesse grupo o cônjuge, o cônju-
homem, e aos 30 (trinta) se mulher, com pro- ge divorciado ou separado judicialmente ou
ventos integrais; aos 30 (trinta) anos de efetivo de fato; o companheiro ou companheira que
exercício em funções de magistério se profes- comprove união estável como entidade fami-
sor, e 25 (vinte e cinco) se professora, com pro- liar; ou ainda ao filho de qualquer condição, ou
ventos integrais; aos 30 (trinta) anos de serviço, seja, todos os entes equiparados a filho (entea-
se homem, e aos 25 (vinte e cinco) se mulher, do, menor tutelado), desde que preencha as
com proventos proporcionais a esse tempo; aos seguintes condições: a) seja menor de 21 (vinte
65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e um) anos; b) seja inválido; c) tenha deficiên-
e aos 60 (sessenta) se mulher, com proventos cia grave; ou ainda d) tenha deficiência intelec-
proporcionais ao tempo de serviço; tual ou mental; 303
„ Auxílio-reclusão (art. 229): outro benefício atribuição que seja de sua responsabilidade ou de
também devido aos dependentes do servidor, seu subordinado;
cujo valor poderá ser: VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de
filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou
I - dois terços da remuneração, quando afastado a partido político;
por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo
determinada pela autoridade competente, enquan- ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou
to perdurar a prisão; parente até o segundo grau civil;
II - metade da remuneração, durante o afastamen- IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal
to, em virtude de condenação, por sentença defini- ou de outrem, em detrimento da dignidade da fun-
tiva, a pena que não determine a perda de cargo. ção pública;
X - participar de gerência ou administração de
Dos Deveres e Responsabilidades dos Servidores sociedade privada, personificada ou não personifi-
Públicos cada, exercer o comércio, exceto na qualidade de
acionista, cotista ou comanditário;
XI - atuar, como procurador ou intermediário,
Apesar da grande quantidade de direitos e vanta-
junto a repartições públicas, salvo quando se tra-
gens, o Estatuto dos Servidores Públicos também atri- tar de benefícios previdenciários ou assistenciais
bui aos mesmos diversos deveres, com base no regime de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou
disciplinar o qual, se não for atendido, enseja a ins- companheiro;
tauração de processo disciplinar para a apuração de XII - receber propina, comissão, presente ou van-
infrações funcionais. tagem de qualquer espécie, em razão de suas
Nos termos do art. 116, da Lei nº 8.112, de 1990: atribuições;
XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de esta-
Art. 116 São deveres do servidor: do estrangeiro;
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
cargo XV - proceder de forma desidiosa;
II - ser leal às instituições a que servir; XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da
III - observar as normas legais e regulamentares; repartição em serviços ou atividades particulares;
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando XVII - cometer a outro servidor atribuições estra-
manifestamente ilegais; nhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de
V - atender com presteza; emergência e transitórias;
a) ao público em geral, prestando as informações XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam
requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; incompatíveis com o exercício do cargo ou função e
b) à expedição de certidões requeridas para defesa com o horário de trabalho;
de direito ou esclarecimento de situações de inte- XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais
resse pessoal; quando solicitado.
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência Por fim, em relação à responsabilidade dos ser-
em razão do cargo ao conhecimento da autoridade
vidores públicos, o art. 121, da Lei nº 8.112, de 1990,
superior ou, quando houver suspeita de envolvi-
é bastante claro ao dispor que “O servidor responde
mento desta, ao conhecimento de outra autoridade
competente para apuração; civil, penal e administrativamente pelo exercício irregu-
VII - zelar pela economia do material e a conserva- lar de suas atribuições”. Vemos, então, que uma única
ção do patrimônio público; conduta praticada pelo referido servidor pode ense-
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição; jar em responsabilização em três esferas distintas. A
IX - manter conduta compatível com a moralidade responsabilidade civil do servidor público decorre
administrativa; da prática de atos comissivos ou omissivos, que sejam
X - ser assíduo e pontual ao serviço; capazes de causar danos materiais ao erário (patrimô-
XI - tratar com urbanidade as pessoas; nio público), ou a terceiros.
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou A responsabilidade penal do servidor tem seu
abuso de poder. fundamento na apuração de uma conduta criminal,
isso é, a hipótese em que o servidor público possa pra-
Ao mesmo tempo, o art. 117 da mesma Lei impõe ticar um ilícito penal, ou crime. A responsabilidade
aos servidores públicos diversas proibições. Trata- penal é, definitivamente, a mais grave e perigosa, uma
-se de uma matéria que exige grande capacidade de vez que ela pode repercutir nas demais esferas, tanto
memorização, ainda que não necessite de um alonga- pela condenação do servidor condenado, como pela
mento muito detalhado. sua absolvição pela falta de provas materiais ou pela
negação de sua autoria, sendo essas últimas hipóteses
Art. 117 Ao servidor é proibido: apenas exceções.
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem A responsabilidade administrativa, por outro
prévia autorização do chefe imediato; lado, consiste na instauração de processo discipli-
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade
nar (arts. 116 e seguintes, da Lei 8.112, de 1990), pelo
competente, qualquer documento ou objeto da
qual haverá a verificação da conduta delituosa do
repartição;
III - recusar fé a documentos públicos; agente, bem como a aplicação da pena mais adequa-
IV - opor resistência injustificada ao andamento de da. Imprescindível reforçar que a aplicação de qual-
documento e processo ou execução de serviço; quer pena ao servidor público pressupõe um processo
V - promover manifestação de apreço ou desapreço administrativo, sendo assegurado ao acusado direito
no recinto da repartição; ao contraditório e à ampla defesa, sendo obrigatória,
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, inclusive, a presença do advogado em todas as fases
304 fora dos casos previstos em lei, o desempenho de do referido processo (Súmula n° 343 do STJ). Todavia,
tal entendimento vem sofrendo alterações, pois o STF Do Processo Administrativo Disciplinar: Conceito,
já reconheceu em Súmula Vinculante n° 5 entendi- Princípios, Fases e Modalidades
mento de que a falta de defesa técnica no processo
administrativo disciplinar não é inconstitucional. O processo administrativo é o instrumento desti-
Em relação às penalidades administrativas apli- nado a apurar as responsabilidades do servidor por
cáveis aos servidores públicos, a Lei n° 8.112, de 1990 infração praticada no exercício de suas atribuições ou
(art. 127) prevê aplicação das seguintes sanções: relacionada ao cargo que ocupa. O processo pode ocor-
rer em procedimento ordinário ou em sindicância.
z Advertência: é a sanção mais branda, aplicável A sindicância é definida como uma averiguação
por escrito para o servidor que cometer atos como: sumária promovida no intuito de obter informações
ausentar-se do serviço injustificadamente; recusar ou esclarecimentos necessários à determinação do
fé a documento público; retirar qualquer docu- verdadeiro significado dos fatos denunciados. Compa-
mento da repartição sem a devida autorização; rando com o processo penal, pode-se afirmar que a
manter sob sua chefia cônjuge, companheiro ou sindicância é como se fosse a “fase investigativa”, pois
parente até o segundo grau; entre outros; o fim dela não resulta em uma sentença ou decisão:
z Suspensão: aplicável somente quando o servidor ela serve primordialmente para apurar o que ocorreu,
é reincidente nas faltas puníveis por advertên- e se é necessário instaurar o processo posteriormente.
cia, desde que não tipifiquem infrações sujeitas a Segundo o art. 145, da Lei nº 8.112, de 1990, da sin-
demissão do cargo. A suspensão não poderá ser dicância poderá resultar: I - arquivamento do processo;
aplicada por prazo maior a noventa dias; II - aplicação de penalidade de advertência ou suspen-
são de até 30 (trinta) dias;III - instauração de processo
z Demissão: trata-se da penalidade mais grave atri-
disciplinar.
buída ao servidor público, uma vez que tem o con-
Como forma de impedir que o servidor venha
dão de exonerá-lo de seu cargo. A demissão será
interferir de forma negativa durante a investigação
aplicada nos casos em que o servidor: cometer
da apuração de sua conduta, estabelece o art. 147 o
crime contra a administração pública; abandonar
afastamento preventivo do mesmo: Como medida
seu cargo; improbidade administrativa; praticar
cautelar e a fim de que o servidor público não venha
conduta escandalosa na repartição; ofender fisica-
a influir na apuração da irregularidade ao mesmo
mente, em serviço, outro servidor; revelar segre-
atribuída, a autoridade instauradora do processo
do o qual obteve devido a sua função; corrupção; administrativo-disciplinar, verificando a existência de
receber propina, comissão, ou outra vantagem de veementes indícios de responsabilidades, poderá orde-
qualquer espécie em razão de suas atribuições; nar o seu afastamento do exercício do cargo.
etc. Muitas dessas hipóteses impedem que o infra- Uma vez encerrada a sindicância e, constatado
tor retorne ao serviço público federal, por isso tra- uma conduta irregular, temos o início do processo
tar-se de uma das penalidades mais gravosas; administrativo disciplinar (PAD), ou ordinário. Segun-
z Cassação de Aposentadoria ou da Disponibi- do o art. 148, o processo administrativo ordinário é
lidade: o servidor inativo que houver praticado o instrumento destinado a apurar responsabilidade do
falta punível com a demissão terá a sua aposenta- servidor público pela infração praticada no exercício de
doria, ou sua disponibilidade cassada; suas atribuições ou que tenha relação com as atribui-
z Destituição de Cargo em Comissão ou Função ções do cargo em que se encontre investido.
Comissionada: caso o servidor ocupante de car- Segundo o art. 149, o processo será conduzido por
go não efetivo cometa uma das faltas passíveis da Comissão composta de três servidores estáveis desig-
pena de suspensão e demissão, poderá perder o nados pela autoridade competente, observado o dis-
seu cargo de confiança ou função comissionada. posto no §  3°,  do art. 143, que indicará, dentre eles,
o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo
Por fim, é importante ressaltar que ao servidor é efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de
conferido direito de petição, na forma dos arts. 104 e escolaridade igual ou superior ao do indiciado. 
seguintes, da Lei 8.112, de 1990, para requerer direitos Não temos a figura de um Juiz de Direito no proces-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


e interesses próprios em face do Poder Público. so administrativo, e sim uma “autoridade julgadora”.
O requerimento será dirigido à autoridade compe- A Comissão não faz parte da autoridade julgadora, ela
tente para decidi-lo e na sequência encaminhado por fica encarregada de realizar um relatório contendo
intermédio daquela a qual o servidor estiver imedia- todas as provas colhidas e todos os fatos devidamente
tamente subordinado. Deve ser respeitado o princípio investigados.
do contraditório e da ampla defesa, dando espaço para Ao todo, são três as fases do processo adminis-
que tanto o servidor público como o Estado possam trativo disciplinar (art. 151):
impugnar todos os pontos do requerimento, apre-
sentar sua defesa técnica escrita, e interpor recursos I - instauração, com a publicação do ato que cons-
(art. 107, da Lei nº 8.112, de 1990) das decisões que lhe tituir a comissão;
II  -  inquérito administrativo, que compreende ins-
prejudicarem.
trução, defesa e relatório;
O direito de requerer decai: em 5 (cinco) anos,
III - julgamento.
quanto aos atos de demissão e de cassação de apo-
sentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interes- Art. 155 Na fase do inquérito, a comissão promove-
se patrimonial e créditos resultantes das relações de rá a tomada de depoimentos, acareações, investiga-
trabalho; ou em 120 (cento e vinte) dias, nos demais ções e diligências cabíveis, objetivando a coleta de
casos, salvo quando outro prazo for fixado em lei. prova, recorrendo, quando necessário, a técnicos e
peritos, de modo a permitir a completa elucidação
dos fatos. 305
O inquérito administrativo é a fase em que temos a A fase do julgamento tem início com o recebimento
apuração da responsabilidade disciplinar do servidor do relatório da Comissão, e terá prazo máximo de 20
público. Ela compreende a fase instrutória (colheita dias (art. 167) para decidir se acata o relatório ou não.
de provas), a citação e apresentação da defesa do ser- O caput e o parágrafo único do art. 168 dispõem,
vidor que está sendo acusado, além da produção de de modo geral, que a autoridade julgadora não está
um documento chamado relatório. subordinada ao que foi dito no relatório da Comissão.
Importante o conteúdo do art. 156, ao dispor que O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo
quando contrário às provas dos autos. Quando o rela-
Art. 156 É assegurado ao servidor o direito de tório da comissão contrariar as provas dos autos, a
acompanhar o processo pessoalmente ou por inter- autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar
médio de procurador, arrolar e reinquirir testemu- a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servi-
nhas, produzir provas e contraprovas e formular
dor de responsabilidade.
quesitos, quando se tratar de prova pericial.
Art. 172 O servidor que responder a processo
Esse art. 156 trata de um conteúdo muito impor-
disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, ou
tante, por ser a respeito do direito de defesa do servi- aposentado voluntariamente, após a conclusão
dor público. Não é porque não estamos num processo do processo e o cumprimento da penalidade, aca-
judicial (com a figura de um membro do Poder Judi- so aplicada. Ocorrida a exoneração de que trata o
ciário) que não devem ser aplicados os princípios parágrafo único, inciso I do art. 34, o ato será con-
mais básicos e fundamentais do mesmo. É cabível no vertido em demissão, se for o caso.
processo administrativo o respeito ao contraditório e
ampla defesa, a disparidade de armas, o direito de ter A qualquer tempo poderá ser requerida a revisão
ciência e conhecimento do processo, o direito de ser do procedimento administrativo de que resultou sanção
representado por autoridade competente etc. disciplinar, quando se aduzam fatos ou circunstâncias
A seguir temos alguns meios de prova que são que possam justificar a inocência do requerente, men-
admitidos no processo administrativo. São muito
cionados ou não no procedimento original (art. 174).
parecidos, praticamente os mesmos meios de prova
A revisão é uma ferramenta de defesa utilizada
admitidos em processo judicial.
pelo acusado ou seu representante, para que a auto-
As testemunhas estão dispostas no art. 157, e serão
ridade possa realizar um novo julgamento do PAD,
intimadas a depor mediante mandado expedido pelo
porque apareceu um fato ou circunstância nova que
presidente da comissão, devendo a segunda via, com
comprovem a inocência do requerente.
o ciente do interessado, ser anexado aos autos. Quem
A revisão de que trata este art. poderá ser requerida
chama as testemunhas para colher seus respectivos
depoimentos, e quem faz toda a colheita de todos os em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento
meios de prova, é a Comissão e não a autoridade jul- do servidor público, por qualquer pessoa da família;
gadora. Esta somente vai atuar no PAD quando todo o ou ainda em caso de incapacidade mental do servidor
trabalho da Comissão tiver encerrado. público, pelo respectivo curador (§§ 1º e 2º, art. 174).
Se a testemunha for servidor público, a expedição No processo revisional, o ônus da prova recai sem-
do mandado tem que ser imediatamente comunicada pre ao requerente, correndo em apenso ao processo
ao chefe da repartição onde serve, com a indicação do original (arts. 175 e 178).
dia e hora marcados para inquirição. (art. 157, parágra- A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para
fo único). O servidor não pode se ausentar de seu servi- a conclusão dos trabalhos de revisão. O prazo para
ço sem apresentar uma justificativa válida para tanto. julgamento será de 20 (vinte) dias, contados do rece-
Concluída a inquirição das testemunhas, a comis- bimento do processo, no curso do qual a autoridade
são promoverá o interrogatório do acusado, obser- julgadora poderá determinar diligências (parágrafo
vados os procedimentos previstos nos arts. 157 e único, do art. 181).
158.  No caso de mais de um acusado, cada um deles Lembrando que, se da revisão do processo resultar
será ouvido separadamente e, sempre que divergirem a inocência do servidor, ele tem direito de ser reinte-
em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, grado ao cargo que antigamente ocupava.
será promovida a acareação entre eles. A revisão do processo não admite a reformatio in pejus,
A citação do indiciado está disposta no art. 161. o que significa que não poderá resultar agravamento da
Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indi- penalidade já aplicada (parágrafo único, do art. 182).
ciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele
imputados e das respectivas provas.  
O indiciado será citado por mandado expedido pelo
presidente da comissão para apresentar defesa escrita,
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS
no prazo de 10 (dez) dias, sendo assegurado dar vista
do processo na repartição, isso é, olhar página por pági- PÚBLICOS CIVIS DO PODER
na, parágrafo por parágrafo, tudo o que já foi produzi- EXECUTIVO DO RIO DE JANEIRO
do no PAD. (DECRETO-LEI Nº 220/1975) E
Considerar-se-á revel o indiciado que, regular-
mente citado, não apresentar defesa no prazo legal. SEU REGULAMENTO (DECRETO Nº
A revelia será declarada, por termo, nos autos do pro- 2.479/1979)
cesso e devolverá o prazo para a defesa.
Uma vez apuradas todas as provas, a Comissão ela- Como vimos, os servidores públicos são regidos
borará um relatório de tudo que foi constado no pro- por um regime estatutário, o que significa que as
cesso. Não é ainda uma decisão, pois o relatório será regras sobre a sua jornada de trabalho, benefícios e
306 encaminhado para a autoridade julgadora. demais aspectos estão regidas por uma lei especial,
denominada Estatuto. No âmbito federal, os servido- ser aprovado em concurso público. Segundo o § 1º do
res públicos da União são regidos pela Lei nº 8.112, mesmo dispositivo,
de 1990.
Os servidores do Estado do Rio de Janeiro são regidos Art. 2º [...]
por um Estatuto também, o qual compreende o Decreto- § 1º O concurso objetivará avaliar:
-Lei nº 220 de 18 de julho de 1975. Os policiais do Rio de 1) conhecimento e qualificação profissionais,
Janeiro possuem um Estatuto próprio. Entretanto, pelo mediante provas ou provas e títulos;
fato de que eles estão inseridos no grupo de servidores 2) condições de sanidade físico­-mental; e
públicos estaduais, é evidente que as regras dispostas 3) desempenho das atividades do cargo, inclusive
nesse Decreto-Lei (doravante, denominado Estatuto) condições psicológicas, mediante estágio experi-
também se aplicam aos agentes policiais. mental. .
Por isso, antes de focalizar seus estudos na legis-
lação peculiar da Polícia Civil, é importante que você O prazo de validade das provas do concurso públi-
conheça essa legislação, que abrange os servidores co é de 12 meses, podendo ser prorrogado uma única
públicos no geral. vez, não podendo superar a dois anos (art. 2º, § 4º).
O conteúdo do Decreto-Lei é bastante amplo e Uma vez aprovado no concurso público, deve o can-
muito simplificado. Alguns detalhes mais específicos didato assinar termo de posse. O Estatuto apresenta, de
do regime dos servidores públicos do Rio de Janeiro forma confusa, que a assinatura de termo de posse é
serão melhor analisados quando tratarmos do Decre- condição apenas para os cargos em comissão (art. 10).
to que regulamenta esse Estatuto. Na verdade, a posse é o ato pelo qual a pessoa é
Faremos, também, menções à legislação federal, investida em cargo público (não importa se de provi-
sobretudo à Constituição e à Lei nº 8.112, de 1990, mento efetivo ou em comissão), aceitando, expressa-
quando for absolutamente necessário. mente, as atribuições, deveres e responsabilidades,
com o compromisso de bem servir, formalizado com
a assinatura do termo pela autoridade competente e
Importante! pelo empossado.
Dada a multiplicidade de leis, em âmbitos dife-
Art. 10 [...]
rentes da Federação, é comum, ao candidato,
§1º O termo de posse consignará a apresentação de
questionar qual lei ele deve utilizar para respon- declaração de bens.
der às questões de prova. Primeiramente, é
importante ressaltar que lei federal não se sobre- Até a data da posse, o candidato aprovado em con-
põe à lei estadual e vice-versa. curso público deve preencher os seguintes requisitos
Durante a prova, o candidato deve ater-se ao que para tomar posse, todos eles dispostos no § 1º do mes-
a pergunta diz. A grande maioria das questões mo art. 8º. Esses requisitos são:
de prova delineiam a legislação que deve ser
utilizada para responder à questão. Procure por Art. 8º [...]
expressões como “nos termos da Constituição 1) habilitação em exame de sanidade e capacidade
Federal”, “segundo a Lei nº 8.112/1990”, e “com física realizada exclusivamente por órgão oficial do
base no Estatuto dos Servidores estaduais [...]”, Estado;
entre outras. 2) declaração de bens;
3) habilitação em concurso público;
4) bons antecedentes;
Preliminarmente, o parágrafo único, do art. 1º, do 5) prestação de fiança, quando a natureza da fun-
Estatuto, apresenta um conceito inicial de funcionário. ção o exigir;
Funcionário é a pessoa legalmente investida em 6) declaração sobre se detém outro cargo, função
cargo público estadual do Quadro Permanente ou ou emprego, ou se percebe proventos de inativida-
Quadro I. de; e
7) inscrição no Cadastro de Pessoa Física (CPF).
DOS CARGOS PÚBLICOS: PROVIMENTO, EXERCÍCIO
A investidura em cargo de provimento efetivo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
E VACÂNCIA
ocorrerá com o servidor entrando em efetivo exer-
Prover significa “criar”. Logo, quando o Estatuto cício, que, nos casos de nomeação, reintegração, trans-
dispõe sobre normas de provimento e vacância de ferência e aproveitamento, se iniciará no prazo de 30
cargos públicos, significa que a Administração Pública (trinta) dias, contado da publicação do ato de provi-
é competente tanto para criar quanto para extinguir mento (art. 8º). Entrar em efetivo exercício significa
os seus cargos públicos. que o já empossado servidor público deve “sentar na
O referido Estatuto, ao falar das formas de provi- cadeira” e começar a exercer as atribuições que lhe
mento, faz menção à nomeação apenas. De fato, é a foram designadas.
forma mais comum de provimento para cargos públi- O art. 14 passa a tratar da substituição. O cargo
cos, mas não é a única. As outras formas de provi- ou função de confiança poderá ser exercido, eventual-
mento serão melhor analisadas quando tratarmos do mente, em substituição, hipótese em que a investidu-
Decreto que regulamenta o referido Estatuto. ra independerá da posse. A substituição será gratuita,
A nomeação poderá ocorrer de três formas: I. salvo quando o afastamento exceder de 30 (trinta)
nomeação para cargo de provimento efetivo, II. nomea- dias. A substituição também não poderá recair em
ção para cargos em comissão e III. nomeação para car- posse estranha ao serviço público.
gos vitalícios previstos na Constituição Federal. Se a Administração Pública tem competência para
O art. 2º trata do concurso público, dispondo criar cargos públicos, deve, também, ter competência
que, para que o servidor possa ser nomeado para o para extingui-los, deixá-los vagos. Sobre o tema, o arti-
cargo público (de provimento efetivo), deve, antes, go 15 dispõe que a vacância do cargo ou da função se 307
dá na data do fato ou da publicação do ato que implique independentemente de ter completado o período
desinvestidura. de efetivo exercício.
Novamente, a simplicidade do texto do Estatuto acaba z IV. Por excesso de gasto com pessoal: as hipóte-
apenas prevendo a exoneração como forma de vacância ses de I a III estão previstas nos incisos do art. 41.
dos cargos públicos. A exoneração pode ocorrer a pedido Todavia, essa última hipótese encontra-se dispos-
do próprio servidor, ou de ofício (I e II, do art. 16). ta no artigo 169, § 3º, II da CF/1988. Sob o aspecto
No caso da exoneração de ofício, ela será aplicada: orçamentário e financeiro, não pode, a Adminis-
tração Pública, realizar gastos superiores àque-
Art. 16 [...] les previstos em seu orçamento anual. Com isso,
Parágrafo único. [...] havendo a necessidade, é possível, sim, que um
1- no caso de exercício de cargo ou função de servidor estável seja exonerado de seu cargo, ape-
confiança; nas por motivos de “balancear” as contas públicas.
2- no caso de abandono de cargo, quando extinta
a punibilidade por prescrição e o funcionário não Outra prerrogativa que merece maior destaque é
houver requerido a exoneração; e a vitaliciedade. É um instituto bastante parecido com
3- na hipótese prevista no art. 5º, § 4º, que trata do a estabilidade, mas não pode ser confundida com a
funcionário que perdeu o seu cargo em virtude de mesma. A vitaliciedade não é adquirida por qualquer
reintegração de outro servidor, quando não puder servidor: ela é somente concedida para alguns cargos
ser aproveitado em outro cargo. públicos especiais.
São considerados cargos vitalícios, segundo a pró-
DAS PRERROGATIVAS, DOS DIREITOS, VANTAGENS pria Constituição Federal: a) os cargos de Magistratu-
E AUTORIZAÇÕES ra (art. 95, inciso I), os membros do Ministério Público
(art. 128, § 5º, a) e os cargos ocupados pelos membros
Com relação à parte referente aos direitos e van- do Tribunal de Contas da União ou TCU (art. 73, § 3º).
tagens a que o servidor estadual tem direito, enten- A vitaliciedade é um instituto ainda mais for-
demos que se trata de uma matéria que é melhor te do que a estabilidade. Uma vez que a pessoa ocu-
detalhada no Decreto que regulamenta esse Estatuto. pe um desses cargos vitalícios, ela somente pode ser
Entretanto, podemos tratar do assunto, aqui, de uma exonerada mediante sentença judicial transitada em
forma mais ampla e geral. julgado (art. 76). Essa é a única hipótese de exone-
Primeiramente, convém mencionarmos sobre as ração, motivo pelo qual ela garante uma prerrogativa
prerrogativas inerentes aos servidores estaduais. maior do que apenas a estabilidade, vejamos:
Prerrogativa é, como visto em “Das prerrogativas,
Art. 76 O funcionário só poderá ser exonerado a
dos Direitos, Vantagens e Autorizações dos Servidores
pedido após a conclusão do inquérito administrati-
Públicos”, qualquer situação de vantagem obtida pela vo a que responder e do qual não resultar pena de
natureza de um cargo ou de uma função. No caso dos demissão.
agentes públicos, existem algumas prerrogativas que
são comuns para todo e qualquer cargo público, como Sobre os direitos e vantagens, geralmente, a legis-
existem, também, algumas mais restritas, exclusivas lação costuma dividi-los quanto a sua economicidade.
para alguns cargos. Geralmente, essas prerrogativas Existem vantagens de natureza pecuniária (que afe-
mais exclusivas são aplicáveis aos cargos militares tam a quantia que o servidor ganha), e os de natureza
e aos cargos de natureza política. A primeira grande não pecuniária. Vamos tratar, primeiro, das vanta-
prerrogativa, já mencionada em momento anterior, gens de natureza pecuniária. O Estatuto trata das van-
diz respeito à estabilidade. tagens não pecuniárias primeiro.
A estabilidade é a condição em que o servidor O art. 18, do Decreto-Lei 220, de 1975, trata das férias,
público atinge após completar alguns requisitos. O que serão concedidas uma vez para cada ano de efetivo
seu principal efeito é que, uma vez estável no cargo, o exercício por 30 dias. As férias poderão ser acumuladas
servidor público não pode ser demitido por razões de até o máximo de 2 (dois) períodos, em face de imperiosa
conveniência ou oportunidade pela Administração. necessidade do serviço. É vedado levar à conta de férias
Ela não pode demitir o servidor estável “porque não qualquer falta ao serviço.
quer mais trabalhar com ele”. O art. 19, por sua vez, trata das licenças. São uma
O Texto Constitucional vai um pouco mais além: forma especial de afastamento do serviço. Dispõe o
ele prevê, ao todo, quatro modalidades de demissão referido artigo que será concedida licença:
de servidor estável. São elas:
Art. 19 [...]
z I. Por sentença judicial transitada em julgado: é I - para tratamento de saúde, com vencimento e
a forma mais demorada para se demitir um servi- vantagens, pelo prazo máximo de 24 (vinte e qua-
dor, considerando todo o aspecto burocrático exis- tro) meses;
tente no processo judicial. O trânsito em julgado da II - por motivo de doença em pessoa da família, com
sentença somente ocorre quando esgotados todos vencimento e vantagens integrais nos primeiros
os recursos cabíveis. 12 (doze) meses; e, com dois terços, por outros 12
z II. Mediante processo administrativo em que (doze) meses, no máximo;
lhe seja assegurada ampla defesa. As regras, refe- III – à gestante, com vencimentos e vantagens, pelo
rentes ao Processo Administrativo Disciplinar (ou prazo de seis meses, prorrogável, no caso de aleita-
PAD), serão vistas mais adiante. mento materno, por no mínimo trinta e no máximo
z III. Mediante procedimento de avaliação perió- noventa dias, mediante a apresentação de laudo
dica de desempenho, na forma de lei comple- médico circunstanciado emitido pelo serviço de
mentar, assegurada ampla defesa: quem não for perícia médica oficial do Estado, podendo retroagir
aprovado na avaliação periódica de desempe- sua prorrogação até 15 (quinze) dias, a partir da
308 nho, pode ser exonerado de seu cargo público, data do referido laudo.
IV - para serviço militar, na forma da legislação VI - gratificação pelo encargo de auxiliar ou mem-
específica; bro de banca ou de comissão examinadora de con-
V - sem vencimento, para acompanhar o cônju- curso, ou pela atividade temporária de auxiliar ou
ge eleito para o Congresso Nacional ou mandado professor de curso oficialmente instituído; e
servir em outras localidades se militar, servidor VII - adicional por tempo de serviço.
público ou com vínculo empregatício em empresa VIII - gratificação de encargos especiais.
estadual ou particular;
VI - a título de prêmio, pelo prazo de 3 (três) meses; Uma vez extinto o cargo ou declarada sua desne-
com vencimento e vantagens do cargo efetivo, cessidade, o funcionário que adquiriu estabilidade
depois de cada quinquênio ininterrupto de efetivo será posto em disponibilidade e, para tanto, receberá
exercício no serviço público estadual ou autárquico
proventos proporcionais ao tempo de serviço, confor-
do Estado do Rio de Janeiro;
me dispõe o art. 25.
VII - sem vencimento, para desempenho de manda-
Por fim, o art. 31 faz menção ao direito de peti-
to eletivo.
VIII - sem vencimentos, para trato de interesses ção. Dispõe o referido artigo que é assegurado aos
particulares. funcionários o direito de requerer ou representar.
IX - Sem vencimento, pelo prazo de cinco anos, O requerimento será dirigido à autoridade com-
prorrogável uma única vez, ao servidor da área da petente para decidir sobre ele e encaminhá-lo a que
saúde, que for contratado por empresa ou aderir a estiver, imediatamente, subordinado o requerente.
cooperativa que administre hospitais públicos ter- Segundo o parágrafo único do art. 31, o recurso
ceirizados, nos termos fixados em Lei, sendo-lhe não tem efeito suspensivo; seu provimento retroagirá à
garantida a contagem de tempo de serviço para fins data do ato impugnado.
de aposentadoria, se obedecido o que prevê o § 5º Todavia, isso não é totalmente verdadeiro: pode, o
deste artigo. recorrente, desde que esteja expresso e o recurso seja
interposto dentro do prazo corretamente (tempestivo),
Veremos essas licenças, em maiores detalhes, requerer à suspensão da decisão que corre contra ele.
quando tratarmos do Decreto que regulamenta esse O que o texto do dispositivo expõe é que os recursos
Estatuto. Por ora, é importante memorizar que as não têm efeito suspensivo, pelo menos, de ofício. O efei-
licenças são concedidas a interesse exclusivo do pró- to suspensivo deve ser concedido toda vez que houver
prio servidor, ao contrário dos afastamentos em geral, justo receio de prejuízo, de reparação difícil ou incerta.
que são concedidos em interesse comum, tanto do ser- Apenas o pedido de reconsideração é que não pode,
vidor quanto da própria Administração Pública. Além em hipótese nenhuma, suspender a decisão.
disso, os prazos das licenças são, geralmente, mais O art. 32 apresenta a prescrição do direito de
curtos, de dias, semanas ou meses. Já as autorizações requerer. Vejamos:
costumam ter prazos mais longos, em anos.
Essa distinção não é feita pela legislação, mas algu- Art. 32 O direito de requerer prescreverá:
mas bancas de concurso costumam cobrar essas dife- I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão,
renças em questões de prova. de cassação de aposentadoria ou de disponibili-
dade e quanto às questões que envolvam direitos
Em relação às vantagens pecuniárias, temos que
patrimoniais;
tratar da remuneração dos servidores estaduais. Na II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos,
verdade, a remuneração de todos os servidores públi- ressalvados os previstos em leis especiais.
cos segue a mesma estrutura: é a somatória de ven- § 1º O prazo de prescrição contar-se-á da data da
cimentos com as demais vantagens. (Remuneração = ciência do interessado, a qual se presumirá da publi-
Vencimentos + Vantagens). cação do ato.
Vencimento é o que o servidor efetivamente § 2º Não correrá a prescrição enquanto o processo
ganha pelos serviços prestados. Uma garantia incons- estiver em estudo.
titucional conferida à remuneração dos servidores é a § 3º O recurso interrompe a prescrição até duas vezes.
irredutibilidade de seus vencimentos.
Além disso, o art. 23 trata da impenhorabilidade O prazo de prescrição contar-se-á da data da ciência
da remuneração do servidor estadual e as suas hipó- do interessado, a qual se presumirá da publicação do

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


teses excepcionais. O vencimento e as vantagens pecu- ato. A interposição de recurso interrompe a prescrição.
niárias do funcionário não serão objeto de penhora,
salvo quando se tratar: I - de prestação de alimentos; e DO REGIME DISCIPLINAR: ACUMULAÇÃO DE
II - de dívida para com a Fazenda Pública. CARGOS, DEVERES, VEDAÇÕES E PENALIDADES
Já o art. 24 trata das demais vantagens pecuniá-
rias, mas sem adentrar muito em detalhes. Apenas O Estatuto apresenta um regime disciplinar aplicável
menciona que cabe ao Poder Executivo disciplinar a a todos os servidores que deixam de cumprir suas fun-
concessão sobre: ções essenciais, ou ainda que cometem uma infração.
Primeiramente, nós temos a denominada acumu-
Art. 24 [...] lação de cargo, emprego e funções públicas. Segun-
I - ajuda de custo e transporte ao funcionário man- do o texto do art. 34, a acumulação de cargos públicos
dado servir em nova sede; é vedada, salvo nas hipóteses previstas legalmente
II - diárias ao funcionário que, em objeto de serviço, pela Constituição Federal e pelas hipóteses apresenta-
se deslocar eventualmente da sede; das nos incisos do próprio art. 34 (são, praticamente,
III - indenização de representação de gabinete; as mesmas da Constituição Federal).
IV - prêmio por sugestões que visem ao aumento de Assim, a acumulação de cargos públicos é possível,
produtividade e à redução de custos operacionais excepcionalmente, quando houver a acumulação de:
da Administração;
V - gratificação pela participação em órgão de deli- z Um cargo de juiz com outro de professor;
beração coletiva; z Dois cargos de professor; 309
z Um cargo de professor com outro de técnico ou VI - lealdade e respeito às instituições constitucio-
científico; nais e administrativas a que servir;
z Dois cargos privativos de médico. VII - observância das normas legais e regulamentares;
VIII - obediência às ordens superiores, exceto quan-
É importante ressaltar que a acumulação só será do manifestamente ilegais;
permitida quando, além de tratar das hipóteses pre- IX - levar ao conhecimento de autoridade superior
vistas pelos incisos do art. 34, resta comprovada “cor- irregularidades de que tiver ciência em razão do
relação de matérias e compatibilidade de horários”. cargo ou função;
Correlação de matérias significa que o cargo apresen- X - zelar pela economia e conservação do material
ta uma atribuição que não é incompatível com o outro. que lhe for confiado;
Compatibilidade de horários significa, de forma XI - providenciar para que esteja sempre em ordem, no
exemplificada, que um cargo público deve ter a jorna- assentamento individual, sua declaração de família;
da de trabalho em período diurno, e outra em período XII - atender prontamente às requisições para defe-
noturno, para que ambas os períodos de jornada não sa da Fazenda Pública e à expedição de certidões
colidam entre si. para defesa de direito;
XIII - guardar sigilo sobre a documentação e os
assuntos de natureza reservada de que tenha
Art. 34 [...]
conhecimento em razão do cargo ou função;
§ 2 O regime de acumulação abrange cargos fun-
ções e empregos da União, dos Territórios, dos XIV - submeter-se à inspeção médica determinada
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem por autoridade competente, salvo justa causa.
como das Autarquias, das Sociedades de Economia
Mista e das Empresas Públicas. Já o art. 40 trata das proibições. São condutas que
[...] o servidor estadual não pode, jamais, praticar. Caso
Art. 37 Considerada ilegítima, pelo órgão compe- contrário, estará sujeito a uma sanção. Novamente, a
tente, acumulação informada, oportunamente, pelo melhor maneira de memorizar é pela leitura da lei seca:
funcionário, será este obrigado a optar por um dos
cargos. Art. 40 Ao funcionário é proibido:
I - referir-se de modo depreciativo, em informa-
Adentrando ao regime disciplinar, o artigo 38 ção, parecer ou despacho, às autoridades e atos
apresenta uma definição legal de infração discipli- da Administração Pública, ou censurá-los, pela
nar. É toda ação ou omissão do funcionário capaz de imprensa ou qualquer outro órgão de divulgação
comprometer a dignidade e o decoro da função pública, pública, podendo, porém, em trabalho assinado,
ferir a disciplina e a hierarquia, prejudicar a eficiência criticá-los, do ponto de vista doutrinário ou da
do serviço ou causar dano à Administração Pública. organização do serviço;
II - retirar, modificar ou substituir livro ou docu-
Mas o que pode comprometer a figura e a honra da
mento de órgão estadual, com o fim de criar direi-
Administração Pública? O que é considerado infração
to ou obrigação, ou de alterar a verdade dos fatos,
disciplinar?
bem como apresentar documento falso com a mes-
Sobre esse assunto, o Estatuto prevê um grande rol ma finalidade;
de deveres e de vedações, isto é, dispõe sobre as condu- III - valer-se do cargo ou função para lograr provei-
tas que o funcionário público deve seguir e aquelas que to pessoal em detrimento da dignidade da função
ele está proibido de fazer. Neste sentido, tudo o que o pública;
servidor estadual deixar de fazer, sendo isso um dever, IV - coagir ou aliciar subordinados com objetivo de
compreender-se-á uma infração disciplinar. Por outro natureza partidária;
lado, toda conduta que ele pratica, sendo esta uma veda- V - participar de diretoria, gerência, administração,
ção, compreender-se-á, também, infração disciplinar. conselho técnico ou administrativo, de empresa ou
sociedade: 1) contratante, permissionária ou con-
cessionária de serviço público; 2) fornecedora de
Importante! equipamento ou material de qualquer natureza ou
espécie, a qualquer órgão estadual; 3) de consulto-
O que fundamenta essa faculdade da Admi- ria técnica que execute projetos e estudos, inclusive
nistração Pública de aplicar sanções aos seus de viabilidade, para órgãos públicos.
agentes é o denominado Poder Disciplinar. Não VI - praticar a usura, em qualquer de suas formas,
se trata de uma obediência hierárquica, mas, no âmbito do serviço público;
sim, de um poder que aplica sanções. É uma for- VII - pleitear, como procurador ou intermediário,
junto aos órgãos estaduais, salvo quando se tratar
ma de controle interno dos próprios atos, pois a
de percepção de vencimento, remuneração, proven-
Administração pode investigar, apurar a infração to ou vantagem de parente, consanguíneo ou afim,
e aplicar a sanção correspondente, sem a neces- até o segundo grau civil;
sidade de intervenção do Poder Judiciário. VIII - exigir, solicitar ou receber propinas, comis-
sões, presentes ou vantagens de qualquer espécie
em razão do cargo ou função, ou aceitar promessa
O rol de deveres atribuídos aos servidores estaduais de tais vantagens;
está previsto no art. 38. Sua memorização é importante, IX - revelar fato ou informação de natureza sigi-
por isso trouxemos o texto da lei seca, in verbis: losa, de que tenha ciência em razão do cargo ou
função, salvo quando se tratar de depoimento em
Art. 39 São deveres do funcionário: processo judicial, policial ou administrativo;
I - assiduidade; X - cometer a pessoa estranha ao serviço do Estado,
II - pontualidade; salvo nos casos previstos em lei, o desempenho de
III - urbanidade; encargo que lhe competir ou a seus subordinados;
IV - discrição; XI - dedicar-se, nos locais e horas de trabalho, a
310 V - boa conduta; palestras, leituras ou quaisquer outras atividades
estranhas ao serviço, inclusive ao trato de interes- Contudo, essa regra apresenta uma importante
ses de natureza particular; exceção: a responsabilidade patrimonial e adminis-
XII - deixar de comparecer ao trabalho sem causa trativa do servidor será afastada no caso de absolvi-
justificada; ção criminal que dê, como provada, a inexistência
XIII - empregar material ou quaisquer bens do Esta- do fato ou de sua autoria.
do em serviço particular; Podemos dividir as três esferas de responsabilida-
XIV - retirar objetos de órgãos estaduais, salvo de, destacando-se a sua natureza, os tipos de sanções
quando autorizado por escrito pela autoridade que são impostas e da possibilidade delas se comuni-
competente; carem entre si:
XV - fazer cobranças ou despesas em desacordo
com o estabelecido na legislação fiscal e financeira; z Responsabilidade Civil
XVI - deixar de prestar declaração em inquérito
administrativo, quando regularmente intimado; „ Natureza indenizatória (reparação de danos).
XVII - exercer cargo ou função pública antes de „ Sanção: restituição de valores ao erário.
atendido os requisitos legais, ou continuar a exer-
cê-los sabendo-o indevidamente. z Responsabilidade Administrativa

Em seguida, o Estatuto apresenta o que a doutri- „ Natureza disciplinar (apurar transgressões


na gosta de denominar de tríplice responsabilidade disciplinares).
dos servidores públicos. Ela é tríplice, porque o servi- „ Sanção: advertência, repreensão, suspensão,
dor responde civil, penal e administrativamente pelo demissão, cassação de aposentadoria.
exercício irregular de suas atribuições (art. 41).
A responsabilidade civil decorre de conduta fun- z Responsabilidade Criminal
cional, comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa, que
acarrete prejuízo para o patrimônio do Estado, de „ Natureza penal (apurar crimes e contravenções).
„ Sanção: decretação de prisão, restrição de
suas entidades ou de terceiros (art. 42).
direitos.
Muito importante o texto do § 2º, do art. 42, que
trata da responsabilidade do servidor, quando da sua
Não cumprindo um dos deveres, ou na ocorrência
ação cause danos a terceiros.
de uma das proibições previstas em Lei, ao servidor
serão aplicadas as seguintes penas disciplinares, na
Art. 42 [...] forma do artigo 46:
§ 2º Tratando-se de dano causado a terceiros, res-
ponderá o funcionário perante a Fazenda Estadual I - advertência;
em ação regressiva proposta depois de transitar II - repreensão;
em julgado a decisão de última instância que hou- III - suspensão;
ver condenado a Fazenda a indenizar o terceiro IV - multa;
prejudicado. V - destituição de função;
VI - demissão;
A responsabilidade penal abrange os crimes e VII - cassação de aposentadoria, jubilação ou
contravenções imputados, por lei, ao funcionário, nes- disponibilidade.
ta qualidade (art. 43).
A responsabilidade administrativa, por outro A pena de advertência será aplicada, verbalmen-
lado, resulta de atos praticados ou omissões ocorridas te, em casos de negligência e comunicada ao órgão de
pessoal.
no desempenho do cargo ou função, ou fora dele, quan-
A pena de repreensão é bastante parecida com a
do comprometedores da dignidade e do decoro da fun-
advertência, com a diferença de que ela é aplicada por
ção pública (art. 44).
escrito em casos de desobediência ou falta de cumpri-
É imprescindível reforçar que a aplicação de qual- mento dos deveres, bem como de reincidência especí-
quer pena ao servidor público pressupõe um processo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
fica em transgressão punível com pena de advertência.
administrativo, sendo assegurado, ao acusado, o direi- A pena de suspensão, que não pode exceder a 180
to ao contraditório e à ampla defesa, sendo obrigatória, dias, será aplicada em casos de: I - falta grave; II - des-
inclusive, a presença do advogado em todas as fases respeito a proibições que, pela sua natureza, não ense-
do referido processo (Súmula nº 343 do STJ). Todavia, jarem pena de demissão; III - reincidência em falta já
tal entendimento vem sofrendo alteração, pois o STF punida com repreensão (art. 50).
já reconheceu em Súmula Vinculante nº 5 o entendi- A destituição de função se dá quando verificada
mento de que a falta de defesa técnica no processo falta de exação no cumprimento do dever (art. 51).
administrativo disciplinar não é inconstitucional. A pena de demissão é uma das sanções mais gra-
É importante o texto do art. 45: ves aplicável ao servidor público estadual. Segundo o
art. 52, será aplicada somente nos casos de:
Art. 45 As cominações civis, penais e disciplinares
poderão cumular-se, sendo umas e outras indepen- I - falta relacionada no art. 40, quando de natureza
grave, a juízo da autoridade competente, e se com-
dentes entre si, bem assim as instâncias civil, penal
provada má fé;
e administrativa.
II - incontinência pública e escandalosa; prática de
jogos proibidos;
Essas três esferas de responsabilidade são inde- III - embriaguez habitual ou em serviço;
pendentes e não se comunicam entre si. IV - ofensa física em serviço, contra funcionário ou
particular, salvo em legítima defesa; 311
V - abandono de cargo; Importante!
VI - ausência ao serviço, sem causa justificada, por
(vinte) dias, interpoladamente, durante o período A sindicância é uma etapa que pode ocorrer
de 12 (doze) meses; antes do curso do procedimento ordinário, mas
VII - insubordinação grave em serviço; não é, necessariamente, uma etapa obrigató-
VIII - ineficiência comprovada, com caráter de ria do processo ordinário. A sindicância não é
habitualidade, no desempenho dos encargos de sua essencial para o curso do PAD se a transgressão
competência; for considerada grave, sujeita a uma pena que é
IX - desídia no cumprimento dos deveres.
incompatível com a sindicância, ou se a trans-
gressão se configurar automaticamente, não
E, por fim, o art. 55 trata da pena de cassação de
havendo necessidade de sua investigação.
aposentadoria ou de disponibilidade, que será aplicada
se ficar provado, em inquérito administrativo, que o apo-
sentado ou disponível: I - praticou, quando ainda no exer- Da sindicância, poderá resultar um de três cami-
cício do cargo, falta suscetível de determinar demissão; nhos: I. o arquivamento do processo; II. a aplicação
II - aceitou, ilegalmente, cargo ou função pública, provada de penalidade de repreensão ou suspensão de até 30
a má fé; III - perdeu a nacionalidade brasileira. (trinta) dias; III. a instauração de processo disciplinar.

DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR: Art. 63 Se no curso da apuração sumária ficar evi-


SINDICÂNCIA, PROCEDIMENTO ORDINÁRIO, denciada falta punível com pena superior à adver-
RECURSOS E REVISÃO tência, repreensão, suspensão até 30 (trinta) dias
ou multa correspondente, o responsável pela apu-
O Estatuto, novamente, faz uma abordagem não ração comunicará o fato ao superior imediato, que
muito detalhada sobre a referida matéria. Por isso, solicitará, pelos canais competentes, a instauração
daremos maior enfoque nas regras gerais sobre o pro- do inquérito administrativo.
cesso administrativo disciplinar. As regras mais espe-
cíficas desse procedimento serão melhor analisadas O artigo citado faz menção ao processo ordinário
(pode aparecer, também, como processo administra-
em momento posterior.
tivo disciplinar ordinário). É o instrumento destinado
O Processo Administrativo Disciplinar (ou PAD) é
a apurar responsabilidade do servidor público pela
o meio perante o qual a autoridade competente apu-
infração praticada no exercício de suas atribuições ou
ra as transgressões cometidas pelos agentes públicos, que tenha relação com as atribuições do cargo em que
aplicando aos mesmos as respectivas sanções. se encontre investido. Todo o conteúdo apurado na
O PAD é, também, garantido para os servidores sindicância será posto em apenso ao processo.
policiais civis do Estado do Rio de Janeiro. De início, O processo disciplinar é dividido em três fases: I) a
o art. 61 dispõe que a autoridade que tiver ciência de instauração, com a publicação do ato que constituir a
qualquer irregularidade no serviço público é obrigada comissão; II) a instrução, que compreende a apresen-
a promover, imediatamente, a apuração sumária, por tação de inquérito, a defesa do acusado e o relatório
meio de sindicância, ou mediante processo adminis- de todas as provas que foram colhidas; e III) o julga-
trativo disciplinar ordinário, assegurado, ao acusado, mento, com a possibilidade de interposição recurso.
o direito ao contraditório e à ampla defesa. É sob esses O inquérito administrativo é o documento através do
fundamentos que corre o processo administrativo qual os órgãos e as autarquias do Estado apuram a respon-
disciplinar. sabilidade disciplinar do funcionário. Segundo o artigo 64,
Segue um fluxograma explicativo sobre como ocorre o inquérito deve preceder à aplicação das penas de sus-
o Processo Administrativo Disciplinar: pensão por mais de 30 (trinta) dias, destituição de função,
demissão e cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
O processo será promovido por uma Comissão Per-
Procedimento
manente de Inquérito Administrativo (art. 66), desig-
Sindicância Administrativo Recursos nada pela autoridade competente, composta por, no
Ordinário
mínimo, 03 (três) servidores efetivos estáveis de reco-
nhecida experiência administrativa e funcional.
A sindicância é o procedimento de apuração sumá- O inquérito deverá estar concluído no prazo de 90
ria de irregularidade através do qual o Estado ou suas (noventa) dias, contados a partir do dia em que os autos
autarquias reúnem elementos informativos para deter- chegarem à Comissão, prorrogáveis, sucessivamente,
minar a verdade em torno de possíveis irregularidades por períodos de 30 (trinta) dias, em caso de força maior
que possam configurar, ou não, ilícitos administrativos. a juízo do Secretário de Estado de Administração, até o
Comparando com o processo penal, pode-se afir- máximo de 180 (cento e oitenta) dias. A não observân-
cia desses prazos não acarretará nulidade do processo,
mar que a sindicância é como se fosse a “fase investi-
importando, porém, quando não se tratar de sobresta-
gativa”, pois, ao final, ela não resulta em uma sentença
mento, em responsabilidade administrativa dos mem-
ou decisão. Ela serve, primordialmente, para apurar o
bros da Comissão (caput e § 1º, do art. 68)..
que ocorreu e se é necessário instaurar o processo em Uma vez ultimada a instrução do processo, com a
momento posterior. Apesar disso, é possível que a sin- colheita das respectivas provas, o acusado será citado,
dicância resulte na aplicação de pena de repreensão no prazo de 3 (três) dias, para apresentação de defesa.
ou de suspensão (mas, nunca de demissão). A defesa tem prazo de 10 (dez) dias, sendo esse prazo
Dessa forma, podemos concluir que a sindicância comum quando houver mais de um indiciado (art. 70).
nada mais é que uma averiguação sumária promo- Interessante denotar que o acusado pode se tornar
vida com o intuito de obter informações ou esclare- revel, isto é, quando ele não apresenta sua defesa no
cimentos necessários à determinação do verdadeiro prazo determinado. Porém, seus efeitos são um pouco
312 significado dos fatos denunciados. diferentes da revelia presente no processo civil. Em
caso de revelia, o art. 72 dispõe que o Presidente da Para fins didáticos, é preciso compreender que esse
Comissão designará, de ofício, um funcionário efetivo, Decreto não é uma parte independente do Estatuto,
bacharel em Direito, para defender o indiciado. mas uma forma de “apêndice” do mesmo, contendo
Uma vez ouvido o acusado, apresentando sua defe- maiores explicações sobre alguns pontos que o Estatu-
sa ou não, temos a fase do julgamento. A Comissão to, simplesmente, não se deu ao trabalho de detalhar.
encaminhará os autos do processo para a autoridade Assim dispõe, de forma preliminar, o artigo 1º do
competente para julgamento, junto com um relatório Decreto: o regime jurídico dos funcionários públicos
de tudo o que ocorreu. É importante frisar que o rela- civis do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro,
tório é meramente explicativo. Ele não vincula a auto- instituído pelo Decreto-Lei nº 220, de 18 de julho de
ridade julgadora no momento da decisão. 1975, fica disciplinado na forma deste Regulamento.
Recebido o processo, o Secretário de Estado de Com isso, não é nossa intenção dispor de todos os
Administração proferirá a decisão no prazo de 20 artigos previstos no referido Decreto, uma vez que
(vinte) dias, ou o submeterá, no prazo de 8 (oito) dias, grande parte de seu conteúdo é bastante similar ao
ao Governador do Estado, para que julgue nos 20 (vin- do Estatuto anteriormente apresentado. Daremos um
te) dias seguintes ao seu recebimento (art. 74). maior enfoque, isso sim, nos dispositivos que apresen-
O Estatuto não faz menção, mas gostaríamos de tam alguma matéria inovadora, ou que explicam, em
frisar que, da decisão do processo administrativo dis- maiores detalhes, algum ponto do referido Estatuto.
ciplinar, sempre cabe recurso. Não se esqueça que o
PAD é um ato administrativo e, como forma de con-
DO PROVIMENTO E VACÂNCIA DOS CARGOS
trole do ato administrativo, ele é passível de recurso.
PÚBLICOS
Por fim, o art. 77 trata da revisão, podendo ser
requerida a qualquer tempo no decurso do procedi-
A matéria referente ao provimento e vacância dos
mento. Poderá ser requerida a revisão do inquérito
administrativo de que haja resultado pena disciplinar, cargos públicos apresenta alguns detalhes a mais no
quando forem aduzidos fatos ainda não conhecidos, Decreto regulamentar.
comprobatórios da inocência do funcionário punido. O art. 2º nos mostra todas as formas de provimento,
Não é necessário que a pessoa do acusado requei- isto é, de criação dos cargos na Administração Pública
ra a revisão. O parágrafo único do art. 77 dispõe que, Estadual. São, ao todo, seis:
tratando-se de funcionário falecido, desaparecido ou
I – nomeação;
incapacitado de requerer, a revisão poderá ser solicita-
II – reintegração;
da por qualquer pessoa.
III – transferência;
A revisão deve ser realizada em apenso ao proces- IV – aproveitamento;
so originário. Na revisão, o ônus da prova cabe sem- V – readaptação;
pre ao requerente. VI – outras formas determinadas em lei.
Julgada procedente a revisão, será declarada sem
efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos Antes, porém, o Decreto também acrescenta alguns
os direitos do servidor, exceto em relação à destitui- pontos interessantes a respeito do concurso público.
ção de cargo em comissão, que será convertida em Vejamos esses pontos:
exoneração (art. 82).
Observe o texto dos arts. 81 e 82: Art. 6º O concurso de provas ou de provas e títu-
los para provimento de cargos por nomeação será
Art. 81 Autorizada a revisão, o processo será enca- sempre público, dele se dando prévia e ampla publi-
minhado à Comissão Revisora, que concluirá o cidade da abertura de inscrições, requisitos exigi-
encargo no prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável dos, programas, realização, critérios de julgamento
pelo período de 30 (trinta) dias, a juízo do Secretá- e tudo quanto disser respeito ao interesse dos pos-
rio de Estado de Administração. síveis candidatos.
Parágrafo único - O julgamento caberá ao Gover-
nador, no prazo de 30 (trinta) dias, podendo, antes, O concurso deve possuir uma instrução, contendo
o Secretário de Estado de Administração determi- alguns detalhes como:
nar diligências, concluídas as quais se renovará o
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
prazo. I - limite de idade dos candidatos, que poderá variar
Art. 82 Julgada procedente a revisão, será tornada de 18 (dezoito) anos completos até 45 (quarenta e
sem efeito a pena imposta, restabelecendo-se todos cinco) incompletos;
os direitos por ela atingidos. II - grau de instrução exigível, a ser comprovado
mediante apresentação de documento hábil;
Um detalhe importante: a revisão do processo III - número de vagas a ser preenchido; d) prazo de
não admite a reformatio in pejus, o que significa validade das provas, de 2 (dois) anos no máximo, só
que não poderá resultar em agravamento da penali- prorrogável uma vez, por período não excedente a
dade já aplicada. Das decisões proferidas em procedi- 12 (doze) meses; e
mento de revisão, cabe recurso. IV - prazo de duração do estágio experimental, que
não será inferior a 6 (seis) nem superior a 12 (doze)
meses.
DECRETO Nº 2.479/1979 – REGULAMENTO DO
Além dos requisitos, são também exigíveis para ins-
ESTATUTO DOS SERVIDORES DO RIO DE JANEIRO
crição em concurso público:
1 - nacionalidade brasileira ou portuguesa, desde
O Decreto Estadual nº 2.479, de 8 de março de 1979, que reconhecida, na forma da legislação federal
é o instrumento normativo que acompanha o Dec-Lei pertinente, a igualdade de direitos e obrigações
nº 220, de 1975, regulamentando os seus dispositivos civis;
que, como já demonstramos, realmente necessitam de 2 - pleno gozo dos direitos políticos; e
maior detalhamento. 3 - quitação das obrigações militares. 313
O estágio experimental será aplicado aos candi- Os cargos de função gratificada, por sua vez, são
datos aprovados em concurso público e no exame de objetos do artigo 28, que expõe o seguinte:
sanidade físico mental, mediante ato de designação
do Secretário de Estado, titular de órgão integrante Art. 28 Função gratificada de preenchimento em
da Governadoria ou dirigente de autarquia (art. 9º). confiança, integrante do Grupo II – Chefia e Assis-
O candidato não aprovado no estágio experimental tência Intermediárias – CAI, é a criada pelo Poder
será considerado inabilitado no concurso e retorna- Executivo, com símbolo próprio, para atender a
rá, automaticamente, ao cargo ou emprego de que se encargos de chefia, secretariado, assessoramento e
tenha afastado, se for o caso. outros, em níveis intermediário e inferior.
Sobre a investidura no cargo, o Decreto não acres-
centa muito conteúdo inovador. Dispõe, em seu art. 14, Com exceção dos aposentados e dos ocupantes
que a investidura deve ocorrer com a posse, para os de empregos cujos contratos tenham sido suspensos,
cargos em comissão, integrante do Grupo I – Direção e somente poderá ser designado para prover função
Assessoramento Superiores (DAS) e com a entrada, em gratificada funcionário efetivo do Estado (art. 31).
efetivo exercício do servidor, nos cargos de provimen- Outro aspecto interessante da função gratificada é
to efetivo do Grupo III – Cargos Profissionais. que a sua investidura não depende de exame de sani-
Os requisitos para tomar a posse estão no art. 15,
dade físico-mental, salvo quando a designação recair
sendo praticamente os mesmos apresentados no Esta-
em inativo ou em servidor regido pela legislação tra-
tuto, sendo acrescentado apenas o conteúdo do inciso
balhista (art. 33).
V: atendimento às condições especiais previstas em lei
ou regulamento para determinados cargos.
Art. 30 Compete à autoridade a que ficar subordi-
Quem é competente para dar posse são as seguin-
nado o servidor designado para função gratificada
tes pessoas, todas elas previstas no art. 17:
dar-lhe exercício no prazo de 30 (trinta) dias, inde-
pendentemente de posse.
I - O Governador, aos Secretários de Estado e
demais autoridades que lhe sejam diretamente
subordinadas; Finalmente, o Decreto adentra ao tema do provi-
II - Os Secretários de Estados, aos ocupantes de car- mento de cargos públicos, a começar com a nomea-
go em comissão no âmbito das respectivas Secreta- ção. O artigo 38 prevê duas hipóteses de nomeação:
rias, inclusive aos dirigentes de autarquias a estas
vinculadas; I – em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de
III - O Chefe do Gabinete Militar, o Procurador-Ge- classe singular ou de cargo de classe inicial de série
ral do Estado e o Procurador-Geral da Justiça, aos de classes; e
ocupantes de cargo em comissão no âmbito dos res- II – em comissão, quando se tratar de cargo que, em
pectivos órgãos; virtude de lei, assim deva ser provido.
IV - Os dirigentes de autarquias, aos ocupantes de
cargo em comissão das respectivas entidades.
A reintegração é o reingresso do funcionário exo-
nerado ex officio ou demitido do serviço público esta-
O art. 21 apresenta a prestação de fiança como
dual, com ressarcimento do vencimento, vantagens e
condição para provimento de cargo ou função de con-
fiança. Segundo o § 1º desse dispositivo, a fiança pode- reconhecimento dos direitos ligados ao cargo (art. 40).
rá ser prestada em: 1 - dinheiro; 2 - títulos de dívida A reintegração será feita no cargo anteriormente
pública da União ou do Estado; 3 - apólices de seguro de ocupado. Se alterado, no resultante da alteração ou,
fidelidade funcional, emitidas por instituição oficial ou ainda, se extinto, noutro de vencimento equivalente,
legalmente autorizada para esse fim. observada a habilitação profissional (art. 41).
O Decreto também prevê sobre os cargos em Quem lhe houver ocupado o cargo do servidor
comissão e os cargos em função gratificada. integrado, se não estável, será exonerado de plano.
Segundo o art. 22: Ou, se exercia outro cargo e este estiver vago, a ele
ou a outro vago da mesma classe será reconduzido,
Art. 22 O cargo em comissão se destina a atender a em qualquer das hipóteses, sem direito à indenização.
encargos de direção e de chefia, consulta ou asses- Transferência é o ato de provimento do funcioná-
soramento superiores, e é provido mediante livre rio em outro cargo de denominação diversa e de retri-
escolha do Governador, podendo esta recair em
buição equivalente.
funcionário, em servidor regido pela legislação tra-
balhista ou em pessoa estranha ao serviço público,
Art. 46 A transferência se fará à vista de compro-
desde que reúna os requisitos necessários e a habi-
litação profissional para a respectiva investidura. vação competitiva de habilitação dos interessados
para o exercício do novo cargo, realizada perante a
Apesar da legislação dar certa margem de liberda- Fundação Escola de Serviço Público do Estado do
de para a nomeação em cargos em comissão, ela não Rio de Janeiro.
permite que seja nomeado servidor aposentado com-
pulsoriamente, ou aposentado por invalidez. A transferência poderá ser feita a pedido do pró-
Enquanto estiver exercendo as atribuições do car- prio funcionário, ou por interesse da Administração.
go em comissão, o contrato de trabalho do referido Ela deve ocorrer de um cargo da Administração Dire-
agente ficará suspenso. Uma vez exonerado do cargo ta para outro da autárquica, ou reciprocamente e de
em comissão, o servidor reverterá, imediatamente, ao um para outro cargo de quadros diferentes da mesma
exercício do contrato. entidade (arts. 47 e 48).
314
III – transferência;
Importante! IV – aposentadoria;
V – falecimento;
É preciso ressaltar que, para os servidores públi- VI – perda do cargo;
cos da União, a Lei Federal nº 8.112/1990 não VII – determinação em lei;
permite mais o provimento de cargos públicos VIII – dispensa;
por transferência e por acesso. Essas hipóte- IX – destituição de função.
ses estão, atualmente, revogadas. A vedação a
essas hipóteses atende ao enunciado da Súmula Exoneração pode ocorrer a pedido do servidor, ou
Vinculante nº 43, do STF, que assim dispõe: “É ex officio. Quando de ofício, ela ocorrerá nas seguintes
inconstitucional toda modalidade de provimen- hipóteses: 1 - de exercício de cargo em comissão ou
to que propicie ao servidor investir-se, sem pré- função gratificada, salvo se a pedido, aceito pela Admi-
via aprovação em concurso público destinado nistração; 2 - de abandono de cargo, quando, extinta a
ao seu provimento, em cargo que não integra a punibilidade administrativa por prescrição, o funcioná-
carreira na qual anteriormente investido”. rio não houver requerido exoneração; 3 - na prevista
no artigo 43, primeira parte (parágrafo único, art. 62).
A remoção, por sua vez, é o deslocamento do fun-
Aproveitamento e disponibilidade são duas for- cionário de sua lotação para a de outra Secretaria de
mas de provimento que possuem uma relação bas- Estado ou órgão diretamente subordinado ao Gover-
tante intrínseca. Ocorrendo a extinção ou declaração nador. Também pode ser feita a pedido ou de ofício.
da desnecessidade do cargo, o servidor efetivo estável Mas o art. 65 trata de outra hipótese de remoção, que
ficará em disponibilidade, com remuneração propor- é por permuta. Há uma troca de servidores, devendo ser
cional ao tempo de serviço até o seu adequado e obri- processada por escrito, sendo, também, imprescindível
gatório aproveitamento em outro cargo. a manifestação de vontade de ambos os interessados.
Aproveitamento, segundo o art. 53, é o retorno ao As hipóteses de demissão e perda do cargo serão
exercício do cargo do funcionário em disponibilidade. vistas mais adiante, pois possuem maior relação com
A ideia do aproveitamento é a de, justamente, colocar a matéria do regime disciplinar.
esses servidores postos em disponibilidade para traba-
lhar, pois eles continuam ganhando sem exercer nenhu- DOS DIREITOS, VANTAGENS E AUTORIZAÇÕES
ma atribuição. E por serem, esses servidores, estáveis,
eles não podem ser exonerados ou aposentados. Da Apuração do Tempo de Serviço
O funcionário em disponibilidade poderá ser apro-
veitado em cargo de natureza e vencimento compatível Sobre a matéria dos direitos e vantagens, o Decreto
com os do anteriormente ocupado (art. 54). Quando Estadual apresenta um conteúdo bem mais complexo
há mais de um concorrente para a mesma vaga, terá
e denso, motivo pelo qual vamos nos aprofundar mais
preferência aquele que tiver maior tempo de disponi-
nesses dispositivos.
bilidade. No caso de empate nesse quesito, terá prefe-
Primeiramente, em relação ao tempo de serviço,
rência o de maior tempo de serviço público estadual.
dispõe o caput do art. 76 que a apuração do tempo de
Readaptação é a atribuição ao servidor para um
serviço será feita em dias, não considerado, para qual-
cargo com funções e responsabilidades distintas e
quer efeito, o exercício de função gratuita.
compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
O tempo, contado em dias, será convertido em
capacidade física ou mental, verificada em inspeção
anos quando completar 365 dias. Feita a conversão,
médica. O funcionário estável poderá ser readaptado
ex officio ou a pedido em função mais compatível, por os dias restantes até 182 (cento e oitenta e dois) não
motivo de saúde ou incapacidade física (art. 57). serão computados, arredondando-se para um ano
A readaptação dependerá sempre de prévia inspeção, quando exceder esse número, nos casos de cálculo
realizada por junta médica do órgão oficial competente, para aposentadoria (§§ 1º e 2º, do art. 76).
podendo ser feita em definitivo ou de forma provisória. Os dias de serviços serão comprovados mediante
Para facilitar seus estudos, veja um resumo, conten- documentação. O art. 78 apresenta quais são os docu-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


do todas as formas de provimento de cargos públicos: mentos aceitos para comprovação do tempo de serviço:

z Nomeação; I – certidão de tempo de serviço, extraída de folha


z Reintegração; de pagamento;
z Transferência; II – certidão de frequência, extraída de folha de
pagamento;
z Aproveitamento;
III – justificação judicial.
z Readaptação;
z Outras formas previstas na legislação estadual.
Das Vantagens Não Pecuniárias
Sobre as hipóteses de vacância dos cargos públicos
(leia-se extinção), o Decreto apresenta um rol, em seu Em seguida, o Decreto passa a tratar da prerroga-
art. 62, mas limita-se a explicar, em maiores detalhes, tiva da estabilidade, prevendo, também, que o servi-
apenas as hipóteses de exoneração e de remoção. De dor estadual adquire estabilidade após 2 (dois) anos
qualquer forma, essas são as formas de vacância dos de efetivo exercício, depois de aprovado no estágio
cargos públicos na Administração Estadual: experimental (art. 88).
Uma vez adquirida a estabilidade, o servidor não
Art. 61 A vacância decorrerá de: pode ser demitido senão em virtude de sentença judi-
I – exoneração; cial ou processo administrativo disciplinar em que se
II – demissão; lhe tenha assegurada a ampla defesa. 315
O decreto também trata das férias em seu artigo Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família
90, que dispõe de um texto bastante similar ao do
Estatuto: O funcionário gozará, obrigatoriamente, 30 O funcionário também poderá obter licença por
(trinta) dias consecutivos de férias remuneradas por motivo de doença em pessoa da família. O art. 117
ano civil, de acordo com escala respectiva. Somente considera como “pessoa da família” o ascendente, des-
depois do primeiro ano de efetivo exercício, adquirirá cendente, colateral consanguíneo ou afim, até o 2º grau
o funcionário direito a férias, as quais corresponde- civil, cônjuge do qual não esteja legalmente separado, ou
rão ao ano em que se completar esse período. pessoa que vive a suas expensas e conste do respectivo
De conteúdo novo, temos a possibilidade de parcela- assentamento individual, desde que prove ser indispensá-
mento das férias, caso em que, segundo o § 1º do art. 92: vel sua assistência pessoal e esta não possa ser prestada
As férias parceladas poderão ser gozadas: 1 - em períodos simultaneamente com o exercício do cargo.
mínimos de 10 (dez) dias; ou 2 - em períodos de 15 (quinze) A sua concessão será com provimentos integrais
dias. Entende-se que as férias não podem ser parceladas durante os primeiros 12 meses e com 2/3 (dois terços)
por menos de dez dias, o que significa que ela pode ser por outros 12 meses, no máximo (art. 119).
parcelada em até três períodos iguais de 10 dias.
Sobre as licenças, o Decreto também apresenta Licença para Repouso à Gestante
mais detalhes. O rol de licenças está previsto nos inci-
sos do art. 97. Serão concedidos ao servidor estadual A licença para repouso à gestante será concedi-
as seguintes licenças: da pelo prazo de 4 (quatro) meses, ou 120 dias. Salvo
prescrição médica em contrário, a licença será conce-
Art. 97 [...] dida a partir do oitavo mês de gestação (art. 120, caput
I – para tratamento de saúde; e parágrafo único). A licença à gestante é, também,
II – por motivo de doença em pessoa da família; concedida com vencimentos e vantagens integrais.
III – para repouso à gestante;
IV – para serviço militar, na forma da legislação Licença para Serviço Militar
específica;
V – para acompanhar o cônjuge;
Ao funcionário que for convocado para serviço
VI – a título de prêmio;
militar ou outro encargo da segurança nacional, será
VII – para desempenho de mandato legislativo ou
executivo.
concedida licença pelo prazo que durar a sua incorpo-
ração ou convocação. Se ele percebe alguma quantia
na qualidade de incorporado, esse valor será descon-
Vamos tratar de cada uma dessas licenças.
tado de seu vencimento, salvo se optar pelas vanta-
gens do serviço militar.
Licença para Tratamento de Saúde
Art. 123 [...]
A licença para tratamento de saúde será concedi-
§ 3º Ao funcionário desincorporado ou desconvoca-
da, ou prorrogada, ex officio ou a pedido do funcio- do conceder-se-á prazo não excedente de 30 (trinta)
nário ou de seu representante, quando não possa ele dias para que reassuma o exercício, sem perda do
fazê-lo. vencimento.
Essa é uma licença que, para a sua concessão, deve
a chefia imediata realizar inspeção médica no local Licença para Acompanhar o Cônjuge
onde se situar o funcionário.
O funcionário não pode se recusar à inspeção O funcionário casado terá direito à licença sem
médica. Se o fizer, ficará impedido do exercício do seu vencimento para acompanhar o cônjuge quando
cargo, até que se verifique a inspeção. este for exercer mandato eletivo ou, sendo militar ou
Em caso de doença grave, contagiosa ou não, que impo- servidor da Administração Direta, de autarquia, de
nha cuidados permanentes, poderá a junta médica, se con- empresa pública, de sociedade de economia mista ou de
siderar o doente irrecuperável, determinar, como resultado fundação instituída pelo Poder Público, for mandado
da inspeção, sua imediata aposentadoria (art. 112). servir, ex officio, em outro ponto do território estadual,
A licença para tratamento de saúde também será con- nacional ou no exterior (art. 125).
cedida quando o funcionário sofrer acidente em serviço, O Decreto não traz uma condição especial para a
concessão dessa licença, apenas prevê que a referida
fato esse que deve constar no laudo da inspeção médica.
licença depende de pedido devidamente instruído, que
O art. 115 define o que o Decreto considera como
deverá ser renovado de 2 (dois) em 2 (dois) anos (art.
“acidente em serviço”: 126). Uma vez finda a sua causa, o funcionário deverá
reassumir o exercício dentro de 30 (trinta) dias.
Art. 115 [...]
§ 1º Considera-se acidente em serviço todo aquele Licença Prêmio
em que se verifique pelo exercício das atribuições
do cargo, provocando, direta ou indiretamente,
A licença-prêmio, por sua vez, está prevista no art.
lesão corporal, perturbação funcional ou doença 129. Após cada quinquênio de efetivo exercício prestado
que determine a morte; a perda total ou parcial, ao Estado, ou a suas autarquias, ao funcionário que a
permanente ou temporária, da capacidade física ou requerer, conceder-se-á licença prêmio de 3 (três) meses,
mental para o trabalho. com todos os direitos e vantagens de seu cargo efetivo.
O § 1º desse mesmo artigo trata das hipóteses em
A licença para tratamento de saúde será concedida que não será contado o tempo de serviço para a aqui-
sempre com vencimento e vantagens integrais. sição da licença prêmio.
Não será concedida a licença prêmio se houver o
316 funcionário, no quinquênio correspondente:
1 - sofrido pena de suspensão ou de multa; z O prazo (quando mencionado) e se o/a funcioná-
2) faltado ao serviço, salvo se abonada a falta; rio/a deve ou não perceber o vencimento/remune-
3) gozado as licenças para tratamento de saúde, ração enquanto licenciado.
por motivo de doença em pessoa da família e por
motivo de afastamento do cônjuge, por prazo supe-
Vejamos:
rior a 90 (noventa) dias, em cada caso.
z Licença para tratamento de saúde
Para a apuração do quinquênio, computar-se-á,
também, o tempo de serviço prestado anteriormente
„ Servidor que adoece por qualquer moléstia;
em outro cargo estadual, desde que entre um e outro
não tenha havido interrupção de exercício. „ Depende de inspeção médica;
A licença prêmio poderá ser gozada integralmente, „ Com vencimentos integrais.
ou em períodos de 1 (um) a 2 (dois) meses. Quando
parcelada, deve ser observado intervalo obrigatório z Licença por acidente no serviço
de 1 (um) ano entre o término de um período e o início
de outro (art. 135). „ Servidor que sofreu acidente em serviço;
„ Depende de inspeção médica;
Licença para Desempenho de Mandato Legislativo „ Com vencimentos integrais.
ou Executivo
z Licença à gestante
Por fim, o funcionário pode ser licenciado sem
vencimento ou vantagens de seu cargo efetivo, para „ A servidora deve ser gestante;
desempenho de mandato eletivo, federal, estadual „ Depende de inspeção médica;
ou municipal. A licença será concedida a partir da „ Até 120 dias (4 meses), com vencimentos
diplomação do eleito pela Justiça Eleitoral e perdura- integrais.
rá pelo prazo do mandato
z Licença por motivo de doença na família
Dica
„ Servidor que possui pessoa da família doente;
Uma questão que costuma cair com bastante fre- „ Depende de inspeção médica;
quência nas provas de concurso público é sobre a „ Com vencimentos integrais até 12 meses e 2/3
remuneração de servidor afastado para exercício do vencimento após 12 meses.
de mandato eletivo (art. 94, Lei nº 8.112/1990). A
regra geral é que, para exercer um mandato eleti- z Licença para obrigações militares
vo, o servidor deve afastar-se do cargo e, assim,
deixa de receber a remuneração do mesmo. „ Servidor que foi convocado para serviço
Porém, tratando-se de exercício de mandato de militar;
Prefeito, o servidor afastado poderá optar, dentre „ Depende de documento que comprove a
as duas remunerações, àquela que lhe for mais incorporação;
vantajosa (valores maiores, mais benefícios etc.). „ Pelo prazo do serviço militar, com vencimentos.
Outro aspecto importante: no caso de exercí-
cio de mandato de Vereador, o servidor poderá z Licença para acompanhar cônjuge
exercer os dois cargos e perceber ambas as
remunerações, desde que comprovada a com- „ Servidor que possui cônjuge que deve servir
patibilidade de horários (atuando, por exemplo, mandato ou missão, de ofício, em outro ponto
como Vereador de dia e como agente público do território do Estado;
de noite, ou vice-versa). Sendo incompatíveis os „ Deve completar 5 anos de efetivo exercício;
horários dos dois cargos, o Vereador pode optar „ Enquanto durar mandato/missão, sem

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


pela remuneração mais vantajosa, igual ao Pre- vencimentos.
feito. Isso é assim, porque, muitas vezes, a remu-
z Licença para desempenho mandato eletivo
neração dos Prefeitos e Vereadores de pequenos
Municípios costuma ser menor do que a remune-
„ Servidor que adquiriu cargo eleitoral federal,
ração do cargo público anterior, além do que ele estadual ou municipal;
pode, facilmente, se locomover de um ambiente „ Deve apresentar documento que comprove a
de trabalho para outro nesses Municípios de por- diplomação;
te menor. „ Pelo prazo do mandato. Sem vencimentos,
exceto para mandatos municipais de Prefeito
Como forma de facilitar os seus estudos, destaca- e Vereador.
mos, a seguir, as principais diferenças entre os tipos
de licenças. Elencamos as seguintes características: Das Vantagens Pecuniárias

z O nome da licença; Sobre as vantagens pecuniárias, o Decreto trata,


z Os requisitos que o servidor deve possuir para primeiramente, dos vencimentos. O artigo 142 define
requerer a licença; vencimento como a retribuição pelo efetivo exercí-
z Os documentos necessários que devem acompa- cio do cargo, correspondente à referência ou símbolo
nhar o requerimento; fixado em lei. 317
Como já vimos, a remuneração do servidor esta- imediato, hipótese em que o aumento será de 50%
dual é obtida com a equação Remuneração = Venci- (cinquenta por cento).
mento + Vantagens. § 2º A gratificação pela prestação de serviço
O art. 149 dispõe sobre as diferentes vantagens extraordinário não poderá exceder, em cada mês,
pecuniárias que o servidor tem direito: a 50% (cinquenta por cento) do valor da referência
correspondente ao vencimento.
I – adicional por tempo de serviço;
II – gratificações; A gratificação de representação de Gabinete é a
III – ajuda de custo e transporte ao funcionário que tem, por fundamento, a compensação de despesas
mandado servir em nova sede; de apresentação inerentes ao local do exercício ou a
IV – diárias, àquele que, em objeto de serviço, se remuneração de encargos especiais. Essa gratificação
deslocar eventualmente da sede. pode ser concedida, segundo o art. 167:

O Decreto faz uma breve menção ao adicional por I – aos funcionários em exercício nos Gabinetes dos
tempo de serviço, dispondo que ele será objeto de Secretários de Estado, nos Gabinetes da Governa-
disciplina de legislação própria. doria e nos da Procuradoria Geral do Estado e Pro-
As gratificações estão previstas no art. 151, poden- curadoria Geral da Justiça;
do ser: II – Aos funcionários que, a critério dos titula-
res dos órgãos referidos no inciso anterior, assim
devam ser remunerados.
I – de função;
II – pelo exercício de cargo em comissão;
III – pela prestação de serviço extraordinário; Art. 169 A gratificação pela participação em órgão
IV – de representação de Gabinete; de deliberação coletiva destina-se a remunerar a
V – de representação de Gabinete; presença dos componentes dos órgãos colegiados
VI – pela participação em órgão de deliberação regularmente instituídos.
coletiva; § 1º A referida gratificação será fixada por decre-
VII – pelo exercício: to em base percentual calculada sobre o valor de
a) de encargos de auxiliar ou membro de banca ou símbolo de cargo em comissão ou função gratifica-
comissão examinadora de concurso; da, e paga por dia de presença às sessões do órgão
b) de atividade temporária de auxiliar ou professor colegiado.
de curso oficialmente instituído.
Pelo exercício de encargo de auxiliar ou membro
Gratificação de função é a que corresponde ao de banca ou comissão examinadora de concurso ou de
exercício de função gratificada. O exercício de função atividade temporária de auxiliar ou professor de curso
gratificada impede o recebimento da gratificação pela oficialmente instituído, ao funcionário será atribuída
prestação de serviço extraordinário (arts. 152 e 154). gratificação (art. 172).
A gratificação pelo exercício de cargo em comis-
são equivale a 70% do valor fixado para o símbolo a Art. 173 Entende-se como encargo de membro de
banca ou comissão examinadora de concurso a
ele correspondente e a ela faz jus o funcionário que, no
tarefa desempenhada, por designação especial de
exercício desse cargo, tenha optado pelo vencimento do
autoridade competente, no planejamento, organi-
seu cargo efetivo, conforme o estabelecido no art. 23, zação e aplicação de provas, correção e apuração
segunda parte (art. 156). dos resultados, revisão e decisão dos recursos inter-
A gratificação pela prestação de serviço extraordi- postos, até a classificação definitiva, nos concursos,
nário se destina a remunerar as atividades executadas provas de seleção ou de habilitação, quando even-
fora do período normal de trabalho a que estiver sujeito tualmente realizados pelos órgãos da Administra-
o funcionário, no desempenho de seu cargo efetivo (art. ção Direta do Estado para provimento de cargos,
158). preenchimento de empregos ou admissão a cursos
A prestação de serviço extraordinário poderá dar- oficialmente instituídos.
-se em outro órgão que não o de lotação do funcio-
nário, desde que se manifestem, favoravelmente, os Outras vantagens pecuniárias que, também, inte-
respectivos dirigentes (§ único, do art. 158). gram a remuneração do servidor estadual e aparecem
A jornada de trabalho dos servidores estaduais pode mais detalhadamente no Decreto são as indenizações,
sofrer acréscimos de horas extras, mas deve respeitar tais como a ajuda de custo e transporte.
o limite de duas horas diárias, não se admitindo recusa A ajuda de custo é concedida, nos termos do art.
por parte do funcionário em prestá-las (art. 159). 179, a título de compensação das despesas de viagem,
É o art. 161 que trata do cálculo da gratificação mudança e instalação, ao funcionário que, em razão de
pela prestação de serviços extraordinários: exercício em nova sede com caráter de permanência,
efetivamente deslocar sua residência. A ajuda de custo
Art. 161 A gratificação pela prestação de serviço corresponde a um mês do tempo de serviço do servi-
extraordinário será paga por hora de trabalho dor em seu cargo público.
prorrogado ou antecipado, ressalvados os casos O art. 182 trata das hipóteses em que não é cabí-
previstos neste regulamento. vel o servidor estadual perceber ajuda de custo. Não
§ 1º O valor da hora extraordinária será obtido
será concedido: I – ao funcionário que, em virtude de
dividindo-se o valor da referência correspondente
ao vencimento mensal, que regulou a duração nor-
mandato legislativo ou executivo, deixar ou reassumir
mal do trabalho, por 30 (trinta) vezes o número de o exercício do cargo; II – ao funcionário posto a servi-
horas da jornada normal, aumentado de 25% (vin- ço de qualquer outra entidade de direito público; III –
te e cinco por cento) o resultado, salvo em se tra- quando a designação para a nova sede se der a pedido.
tando de serviço extraordinário noturno, como tal Já o art. 183 trata das hipóteses em que o servi-
considerado o que for prestado entre as 22 (vinte e dor tem que restituir – ou seja, ele recebeu, mas deve
318 duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia devolver a quantia – a ajuda de custo: I – quando se
transportar para a nova sede ou local da missão, nos Do Direito de Petição
prazos determinados; II – quando, antes de decorridos
3 (três) meses do deslocamento ou do término da incum- O Decreto também acrescenta alguns detalhes a
bência, regressar, pedir exoneração ou abandonar o mais quanto ao direito de petição. O art. 199 é bas-
serviço. tante claro ao dispor que é assegurado ao funcionário
o direito de petição em toda a sua amplitude, assim
Art. 184 Independentemente da ajuda de custo como o de representar.
concedida ao funcionário, a este será assegurado O direito de petição abrange as seguintes peças:
transporte para a nova sede, inclusive para seus requerimento; pedido de reconsideração; e o recurso
dependentes. propriamente dito.
§ 1º O funcionário que utilizar condução própria no Dispõe, o art. 200, que o requerimento será diri-
deslocamento para nova sede fará jus, para indeniza- gido à autoridade competente para decidi-lo e enca-
ção da despesa de transporte, à percepção da impor- minhá-lo por intermédio daquela a quem estiver
tância integral correspondente ao valor da tarifa imediatamente subordinado o requerente.
rodoviária no mesmo percurso, acrescida de 50% Deve constar, dentro do requerimento, na forma
(cinquenta por cento) do referido valor por dependen- do § 2º do art. 200: 1 - o nome, cargo, matrícula, unida-
te que o acompanhe, até o máximo de 3 (três). de administrativa em que é lotado o funcionário, e sua
residência; 2 - os fundamentos, de fato e de direito, da
Por fim, temos, também, as diárias, com previsão pretensão; e 3 - o pedido, formulado com clareza.
no art. 193. Ao funcionário que se deslocar, tempora- O pedido de reconsideração é disciplinado pelo
riamente, em objeto de serviço, da localidade onde art. 201, sendo utilizado para atacar qualquer tipo de
estiver sediada sua unidade administrativa, conce- decisão prolatada.
der-se-á, além de transporte, diária, a título de com- O requerimento e o pedido de reconsideração terão
pensação das despesas de alimentação e pousada, ou prazo de 8 (oito) dias para sua instrução e encaminha-
somente de alimentação. mento. Ambos devem ser decididos no prazo máximo de
As diárias podem ser para alimentação e pousada, 30 (trinta) dias, salvo em caso que obrigue a realização
a depender de cada caso. Essas hipóteses estão previs- de diligência ou de estudo especial (§ 2º, do art. 201).
tas no artigo 194: E o recurso hierárquico é cabível quando:

Art. 194 Será concedida diária: z I – do indeferimento do pedido de reconsideração;


I - de alimentação e pousada, nos deslocamentos z II – das decisões sobre os recursos sucessivamente
superiores a 100km (cem quilômetros) de distância interpostos (art. 202).
da sede, desde que o pernoite se realize por exigên-
cia do serviço; O recurso será decidido pela autoridade imedia-
II - de alimentação, nos deslocamentos inferiores tamente superior àquela que tiver expedido o ato ou
a 100km (cem quilômetros) e superiores a 50km proferido a decisão, sucessivamente, em escala ascen-
(cinquenta quilômetros) de distância da sede; dente, pelas demais autoridades. Essa é a hipótese do
III - em qualquer caso: recurso hierárquico próprio.
a - diária de alimentação e pousada, quando o afas- Porém, existe, também, o que a doutrina denomina
tamento da sede exceder de 18 (dezoito) horas; de recurso hierárquico impróprio, em que a autori-
b - diária apenas de alimentação, quando o afas- dade que recebe a peça recursal não faz parte da linha
tamento for inferior a 18 (dezoito) e superior a 8 hierárquica da autoridade que proferiu a decisão.
(oito) horas. O artigo 203 repete uma matéria vista no Estatuto:
o pedido de reconsideração e o recurso hierárquico não
Para fins de memorização, no intuito de facilitar os têm efeito suspensivo, mas o que for provido retroagirá,
seus estudos, segue a estrutura da remuneração dos em seus efeitos, à data do ato impugnado.
servidores estaduais do Rio de Janeiro: Como as bancas de concurso são bastante legalis-
tas, é melhor que o candidato assuma a posição de que
De função tais peças, de fato, não apresentem efeito suspensivo.

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


Mas, na prática, é possível que haja efeito suspensivo
Exercício de para o recurso hierárquico, desde que seja requerido.
Vencimentos
cargo em Por fim, o artigo 204 apresenta a prescrição do direi-
comissão to de receber uma resposta da Administração. O prazo
Adicional por
tempo de para pleitear prescreve:
Remuneração do servidor público

serviço Prestação de servi-


ço extraordinário z I – em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demis-
Gratificações são, cassação de aposentadoria ou disponibili-
dade e quanto às questões que envolvam direitos
Representação de
estadual

gabinete patrimoniais;
Ajuda de custo z II – em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos,
e transporte
Participação órgão
ressalvados os previstos em leis especiais.
de deliberação
coletiva Da Previdência e Assistência Social
Diárias

Como vimos, os servidores públicos não são


Outras Banca examinadora empregados e, por isso, a eles não se aplica o Regi-
vantagens de concurso/ me Geral de Previdência Social. Entretanto, eles são
na legislação auxiliar de professor
estadual acobertados pelos sistemas de Seguridade Social. Isso
significa, de modo geral, que os servidores públicos 319
possuem um Regime Próprio de Previdência Social I - sem interrupção nos últimos 5 (cinco) anos ime-
(RPPS), possuindo regras específicas para a concessão diatamente anteriores à passagem para a inativi-
desses benefícios. dade, o exercício de cargos em comissão ou funções
Sobre os benefícios previdenciários, trataremos da gratificadas;
aposentadoria, do salário família, o auxílio doença e o II - com interrupção por 10 (dez) anos sobre o refe-
auxílio funeral. rido exercício.
Em relação à aposentadoria, ela possui previsão
tanto na Constituição Federal quanto na Lei nº 8.112, O salário família encontra-se previsto no art. 233.
de 1990. O Regime Próprio de Previdência dos Servi- É um auxílio pecuniário especial, concedido pelo Esta-
dores (RPPS) também sofreu alterações na chamada do ao funcionário ou inativo, como contribuição ao
“Reforma da Previdência”, promulgada pela Emenda custeio das despesas de manutenção de sua família.
Constitucional nº 103, de 2019. Com isso, temos dois A sua concessão depende de o servidor apresentar
textos normativos que, até o presente momento, dis- uma dessas hipóteses como requisito. Essas hipóteses
põem sobre a aposentadoria. estão todas previstas nos incisos do artigo 234:
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servi-
dor será aposentado: I – por filho menor de 21 (vinte e um) anos, que não
exerça atividade remunerada;
z Por incapacidade permanente para o trabalho, II – por filho inválido;
no cargo em que estiver investido, quando insus- III – por filha solteira, separada judicialmente ou
cetível de readaptação. O Texto Constitucional divorciada sem economia própria;
explicita que será obrigatória a realização de ava- IV – por filho estudante que frequente curso médio
liações periódicas para verificação da continuida- ou superior e que não exerça atividade lucrativa,
de das condições que ensejaram a concessão da até a idade de 24 (vinte e quatro) anos;
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente V – pelo ascendente, sem rendimento próprio, que
federativo. viva a expensas do funcionário;
z Compulsoriamente, com proventos proporcionais VI – pela esposa que não exerça atividade
ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de remunerada;
idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na VII – pelo esposo que não exerça atividade remune-
forma da Lei Complementar nº 152, de 2015. rada, por motivo de invalidez permanente;
VIII – pela companheira, assim conceituada na lei
civil.
Essa Lei Complementar dispõe sobre a aposen-
Art. 235 Quando pai e mãe forem funcionários ou
tadoria compulsória com proventos proporcionais,
inativos de qualquer órgão público federal, esta-
sendo aplicável aos servidores ocupantes de cargos
dual ou municipal, e viverem em comum, o salário-
públicos da União, Estados, Municípios, Distrito Fede-
-família será concedido exclusivamente ao pai.
ral e suas autarquias e fundações; aos membros do Parágrafo único. Se não viverem em comum, será
Poder Judiciário; aos membros do Ministério Público; concedido ao que tiver os dependentes sob sua
e aos membros da Defensoria Pública. guarda; se ambos os tiverem, de acordo com a dis-
tribuição dos dependentes.
z Voluntariamente, no âmbito da União, aos 62 Art. 236 Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto
(sessenta e dois) anos de idade, se mulher e, aos 65 e a madrasta e, na falta deste, os representantes
(sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e, no legais dos incapazes ou os que, mediante autoriza-
âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- ção judicial, tenham sob sua guarda e sustento os
cípios, na idade mínima estabelecida mediante dependentes a que se refere o artigo 234.
Emenda às respectivas Constituições e Leis Orgâ-
nicas, observados o tempo de contribuição e os Já o auxílio-doença é tratado pelos artigos 245 e
demais requisitos estabelecidos em lei comple- seguintes. Após cada período de 12 (doze) meses conse-
mentar do respectivo ente federativo. cutivos de licença para tratamento de saúde, o funcio-
nário terá direito a um mês de vencimento a título de
Os dispositivos referentes à aposentadoria do auxílio doença. Quando ocorrer o falecimento do fun-
Decreto foram quase todos revogados pela Lei Com- cionário, o auxílio doença a que tiver feito jus será pago
plementar nº 121, de 2008. Porém, ainda prevê as de acordo com as normas que regulam o pagamento de
seguintes formas de aposentadoria: vencimento não recebido (caput e § 1º, do art. 245).
z Aposentadoria por invalidez; e
z Aposentadoria voluntária.
Importante!
Vejamos alguns dispositivos ainda vigentes do É imprescindível que você conheça o conteúdo
Decreto: do art. 246: “o tratamento do funcionário aci-
dentado em serviço, acometido de doença pro-
Art. 112 A aposentadoria por invalidez será sem-
pre precedida de licença por período não inferior a
fissional ou internado compulsoriamente para
24 (vinte e quatro) meses, salvo quando ocorrer a tratamento psiquiátrico, correrá integralmente
hipótese prevista no artigo 112. por conta dos cofres do Estado, e será realizado,
Art. 221 O funcionário que completar condições sempre que possível, em estabelecimento esta-
para aposentadoria voluntária fará jus à inclusão,
dual de assistência médica”.
no cálculo do provento, das vantagens do mais ele-
vado cargo em comissão de Direção e Assessora-
mento Superiores – DAS ou da função gratificada de
Chefia e Assistência Intermediárias – CAI, que tiver O auxílio-funeral é devido aos dependentes do
exercido na Administração Direta ou Autárquica servidor estadual, uma vez que este se encontra fale-
320 no mínimo por um ano, desde que: cido ou inativo.
Segundo o § 1º, do art. 249, o auxílio será pago: Estatuto. Por isso, é interessante a sua memorização,
pela leitura da lei seca:
1) no valor correspondente a 10 (dez) UFERJs,
quando o do vencimento e vantagens ou proventos Art. 285 São deveres do funcionário:
do falecido for igual ou inferior a esse quantitativo; I – assiduidade;
2) no valor correspondente a 20 (vinte) UFERJs, nos II – pontualidade;
demais casos. III – urbanidade;
IV – discrição;
É interessante notar que esse é um dos raros bene- V – boa conduta;
fícios devido ao servidor público que não possui como VI – lealdade e respeito às instituições constitucio-
base o seu vencimento. nais e administrativas a que servir;
Por fim, os benefícios de assistência social estão VII – observância das normas legais e
previstos nos incisos do artigo 266. São eles: regulamentares;
VIII – observância às ordens superiores, exceto
quando manifestamente ilegais;
I – assistência médica, farmacêutica, dentária e
IX – levar ao conhecimento de autoridade superior
hospitalar, além de outras julgadas necessárias,
irregularidades de que tiver ciência em razão do
inclusive em sanatórios e creches;
cargo ou função;
II – a manutenção obrigatória dos sistemas previ-
X – zelar pela economia e conservação do material
denciários e de seguro social, em favor de todos os
que lhe for confiado;
funcionários e inativos;
XI – providenciar para que esteja sempre em ordem,
III – plano de seguro compulsório para complemen-
no assentamento individual, sua declaração de
tação de proventos e pensões;
família;
IV – assistência judiciária;
XII – atender prontamente às requisições para defe-
V – financiamento para aquisição de imóvel desti-
sa da Fazenda Pública e à expedição de certidões
nado à residência;
para defesa de direito;
VI – auxílio para a educação dos dependentes;
XIII – guardar sigilo sobre a documentação e os
VII – cursos e centros de treinamento, aperfeiçoa- assuntos de natureza reservada de que tenha
mento e especialização profissional; conhecimento em razão do cargo ou função;
VIII – centros de aperfeiçoamento moral e cultural XIV – submeter-se à inspeção médica determinada
dos funcionários e suas famílias, fora das horas de por autoridade competente, salvo justa causa.
trabalho. Art. 286 Ao funcionário é proibido:
I – referir-se de modo depreciativo, em informa-
DO REGIME DISCIPLINAR ção, parecer ou despacho, às autoridades e atos
da Administração Pública, ou censurá-los, pela
Da Acumulação de Cargos, Empregos e Funções imprensa ou qualquer outro órgão de divulgação
Públicas pública, podendo, porém, em trabalho assinado,
criticá-los, do ponto de vista doutrinário ou da
O Decreto dispõe de alguns artigos sobre a matéria organização do serviço;
do regime disciplinar dos servidores estaduais. Alguns II – retirar, modificar ou substituir livro ou docu-
artigos apresentam conteúdo novo, outros apenas mento de órgão estadual, com o fim de criar direi-
procuram repetir o que já foi exposto no Estatuto. to ou obrigação, ou de alterar a verdade dos fatos,
bem como apresentar documento falso com a mes-
A acumulação de cargos públicos continua não
ma finalidade;
sendo permitida, exceto para as hipóteses previstas no
III – valer-se do cargo ou função para lograr provei-
Decreto, que são, nos termos do artigo 271: to pessoal em detrimento da dignidade da função
pública;
I – um cargo de juiz com outro de magistério IV – coagir ou aliciar subordinados com objetivo de
superior; natureza partidária;
II – dois cargos de professor; V – participar de diretoria, gerência, administra-
III – um cargo de professor com outro técnico ou ção, conselho técnico ou administrativo, de empre-
científico; sa ou sociedade:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
IV – dois cargos privativos de médico. 1) contratante, permissionária ou concessionária
de serviço público;
De conteúdo novo, o artigo 272 expõe que o fun- 2) fornecedora de equipamento ou material de qual-
cionário não poderá participar de mais de um órgão de quer natureza ou espécie, a qualquer órgão estadual;
deliberação coletiva, com direito à remuneração, seja 3) de consultoria técnica que execute projetos
qual for a natureza desta, nem exercer mais de uma e estudos, inclusive de viabilidade, para órgãos
função gratificada. públicos.
Cargo técnico ou científico é aquele para cujo exer- VI – praticar a usura, em qualquer de suas formas,
cício seja indispensável e predominante a aplicação de no âmbito do serviço público;
conhecimento científico ou artístico de nível superior VII – pleitear, como procurador ou intermediário,
de ensino. junto aos órgãos estaduais, salvo quando se tratar
de percepção de vencimento, remuneração, proven-
Cargo de Professor é o que tem como atribuição
to ou vantagem de parente, consanguíneo ou afim,
principal e permanente lecionar em qualquer grau ou
até o segundo grau civil;
ramo de ensino legalmente previsto (arts. 275 e 276). VIII – exigir, solicitar ou receber propinas, comis-
sões, presentes ou vantagens de qualquer espécie
Dos Deveres e Vedações (Proibições) em razão do cargo ou função, ou aceitar promessa
de tais vantagens;
O Decreto também apresenta um rol de deveres e IX – revelar fato ou informação de natureza sigi-
vedações, que apresentam alguns pontos distintos do losa, de que tenha ciência em razão do cargo ou 321
função, salvo quando se tratar de depoimento em IX – desídia no cumprimento dos deveres.
processo judicial, policial ou administrativo;
X – cometer à pessoa estranha ao serviço do Estado, Entende-se por ausência ao serviço a que assim for
salvo nos casos previstos em lei, o desempenho de considerada após a devida comprovação em processo
encargo que lhe competir ou a seus subordinados; administrativo disciplinar, caso em que as faltas serão jus-
XI – dedicar-se, nos locais e horas de trabalho, a tificadas apenas para fins disciplinares (§ 2º, do art. 298).
palestras, leituras ou quaisquer outras atividades
estranhas ao serviço, inclusive ao trato de interes- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR E
ses de natureza particular;
SUA REVISÃO
XII – deixar de comparecer ao trabalho sem causa
justificada;
XIII – empregar material ou quaisquer bens do Finalmente, o Decreto apresenta alguns dispositi-
Estado em serviço particular; vos referentes ao Processo Administrativo Disciplinar
XIV – retirar objetos de órgãos estaduais, salvo quando (PAD). Vamos dar um maior enfoque apenas no con-
autorizado por escrito pela autoridade competente; teúdo que o Decreto traz de novidade.
XV – fazer cobranças ou despesas em desacordo De modo geral, a estrutura do PAD segue as mesmas
com o estabelecido na legislação fiscal e financeira; linhas do Estatuto, podendo ser instaurado mediante
XVI – deixar de prestar declaração em processo sindicância, ou mediante processo ordinário.
administrativo disciplinar, quando regularmente
intimado; Da Sindicância
XVII – exercer cargo ou função pública antes de
atendidos os requisitos legais, ou continuar a exer- Sobre a sindicância (também aparece como apura-
cê-lo, sabendo-o indevidamente. ção sumária), dispõe o art. 311 que a apuração sumá-
ria por meio de sindicância não ficará adstrita ao rito
Das Sanções ou Penalidades Aplicáveis determinado para o processo administrativo discipli-
nar, constituindo-se em simples averiguação.
Sobre as penalidades aplicáveis aos servidores A sindicância pode ser instaurada por, apenas, um
estaduais, o Decreto prevê as mesmas sanções que o único funcionário, ou por uma Comissão, constituída
Estatuto, em seu art. 292. Assim, temos as sanções de: por 3 (três) servidores, preferencialmente por servi-
dores estáveis (parágrafo único do art. 311).
I – advertência;
II – repreensão; Art. 315 O sindicante deverá colher todas as infor-
III – suspensão; mações necessárias, ouvindo o denunciante, à
VI – multa; autoridade que ordenou a sindicância, quando con-
V – destituição de função; veniente; o suspeito, se houver; os servidores e os
VI – demissão; estranhos eventualmente relacionados com o fato,
VII – cassação de aposentadoria, jubilação e bem como procedendo à juntada do expediente de
disponibilidade. instauração da sindicância e de quaisquer docu-
mentos capazes de bem esclarecer o ocorrido.
A pena de advertência será aplicada verbalmen-
te em casos de negligência e comunicada ao órgão de Do Processo Administrativo Disciplinar Ordinário
pessoal.
A pena de repreensão será aplicada por escrito Sobre o Processo Disciplinar Ordinário, dispõe o
em casos de desobediência ou falta de cumprimento art. 321 que a determinação de instauração do pro-
dos deveres, bem como de reincidência específica em cesso administrativo disciplinar é da competência do
transgressão punível com pena de advertência. Secretário de Estado de Administração, inclusive em
Quando houver conveniência para o serviço, a relação a servidores autárquicos.
pena de suspensão pode ser convertida em multa, na As fases do PAD são três:
base de 50% (cinquenta por cento) por dia de venci-
mento ou remuneração. Nesse caso, o funcionário é z a instauração;
obrigado a permanecer no serviço durante o número z a instrução;
de horas de trabalho normal. z o julgamento.
O art. 298 apresenta todas as hipóteses em que
será aplicada a pena de demissão: O PAD é instaurado por Comissão e a peça inicial des-
se processo é o inquérito administrativo.
I – falta relacionada no art. 286, quando de natu- A Comissão tem que assegurar, no processo adminis-
reza grave, a juízo da autoridade competente, e se trativo disciplinar, o sigilo necessário à elucidação do fato
comprovada má fé; ou o exigido pelo interesse da Administração (art. 326).
II – incontinência pública e escandalosa ou prática Os trabalhos do PAD devem ser concluídos em até
de jogos proibidos; 90 dias, contados da data em que os autos chegarem
III – embriaguez, habitual ou em serviço; à Comissão, prorrogáveis, sucessivamente, por perío-
IV – ofensa física, em serviço, contra funcionário ou dos de 30 (trinta) dias – até o máximo de 3 (três) perío-
particular, salvo em legítima defesa;
dos, em caso de força maior e a juízo do Secretário de
V – abandono de cargo;
Estado de Administração (art. 324).
VI – ausência ao serviço, sem causa justificada, por
60 (sessenta) dias, interpoladamente, durante o É permitida a acareação no processo administrativo.
período de 12 (doze) meses; Segundo o artigo 328, a acareação será admitida entre
VII – insubordinação grave em serviço; acusados, entre acusados e testemunhas e entre teste-
VIII – ineficiência comprovada, com caráter de munhas, sempre que divergirem em suas declarações
habitualidade, no desempenho dos encargos de sua sobre fatos ou circunstâncias relevantes. Os acareados
322 competência; serão reperguntados, para que expliquem os pontos de
divergência, reduzindo-se a termo o ato de acareação. (§
único, do art. 328) ESTATUTO DOS POLICIAIS CIVIS
A fase instrutória é a fase em que temos a colheita DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
de todas as provas e, também, é a fase em que temos
o interrogatório do indiciado. O indiciado pode ser (DECRETO-LEI Nº 218/1975) E
acompanhado por seu defensor durante o interroga- SEU REGULAMENTO (DECRETO Nº
tório, mas ele não poderá intervir, de qualquer modo, 3.044/1979)
nas perguntas e nas respostas.
Concluída a defesa, a Comissão remeterá o processo Os policiais civis são considerados, para todos os
à autoridade competente, com relatório no qual será efeitos, uma forma especial de servidor público. São
exposta a matéria de fato e de direito, concluindo a especiais no sentido de que eles são regidos por uma Lei
inocência ou a responsabilidade do indiciado, indican- Orgânica própria, ao contrário de outros servidores, que
do, no último caso, as disposições legais que entender são regidos pelo Estatuto dos Servidores Públicos Civis
transgredidas e a pena que julgar cabível (art. 336). do Estado do Rio de Janeiro. Por isso, vamos analisar, em
O relatório deve concluir com a proposição de ou maiores detalhes, o conteúdo dessa Lei Orgânica.
do arquivamento do processo, ou da expedição do ato O Decreto-Lei nº 218, de 18 de julho de 1975, é a Lei
de demissão, conforme for o caso. Vejamos: Orgânica que disciplina o regime jurídico dos policiais
civis do Rio de Janeiro, sendo denominado, de agora
Art. 340 A Comissão, recebendo a defesa, fará a em diante, apenas por Decreto-Lei, ou Lei Orgânica.
sua apreciação sobre as alegações e encaminhará Os dispositivos trazidos neste material dizem respei-
relatório à autoridade instauradora, proposto o to ao regime de cargos públicos dentro da Polícia Civil
arquivamento do processo ou a expedição do ato de do Rio de Janeiro, à sua forma de provimento e vacância,
demissão, conforme o caso. aos direitos e garantias gerais, aos deveres, às responsa-
Art. 342 O funcionário só poderá ser exonerado a bilidades e às sanções aplicáveis aos servidores policiais.
pedido após a conclusão do processo administrati- Conforme observaremos, o texto do referido Decre-
vo disciplinar a que responder e do qual não resul- to-Lei não é muito denso. Pelo contrário, ele se limita
tar pena de demissão. bastante a dispor, apenas, as regras mais gerais sobre
o regime jurídico dos policiais civis do Rio de Janeiro.
É importante ressaltar que a autoridade julgado- Por isso, o nosso foco de estudos, no momento, está
ra não está vinculada ao que está exposto no relató- voltado às regras mais simples e gerais aplicáveis aos
rio, podendo dele se divergir se tiver entendimento policiais civis. Eventualmente, traremos alguns temas
contrário. e assuntos mais complexos, com a análise do Decreto
que regulamenta essa Lei Orgânica.
Da Revisão Faremos menção a outras normas jurídicas, como
a Constituição Federal, ou até mesmo, a Lei Federal nº
8.112, de 1990. Quando for absolutamente necessário.
A matéria referente à revisão também não apre-
Preliminarmente, o art. 1º do referido Dec-Lei
senta um conteúdo muito inovador. Dispõe o referido
aponta quem é considerado “funcionário policial”, sob
Decreto que a revisão pode ser requerida a qualquer
o qual as regras desse regime jurídico são aplicáveis.
tempo do decurso do processo. O artigo 343 dispõe,
Segundo o referido dispositivo, são policiais, abran-
especificamente, do requerimento de revisão do pro-
gidos por esse dispositivo, os funcionários legalmente
cesso administrativo de que haja resultado pena discipli-
investidos em cargos do serviço policial. É, também,
nar, quando forem aduzidos fatos ainda não conhecidos,
considerado funcionário policial o ocupante do cargo
comprobatórios da inocência do funcionário punido.
em comissão ou função gratificada com atribuições e
A simples alegação de injustiça não é fundamento
responsabilidades de natureza policial.
para requerer a revisão do processo. Isso significa que
Não importa o tipo e a natureza do cargo público:
o acusado não pode alegar revisão do processo sem
se o agente ocupa um cargo dentro da Polícia Civil,
uma causa específica.
será considerado, para todos os efeitos desse Estatuto,
Quem decide sobre o cabimento do pedido de revi-
um funcionário policial.
são é o Governador, o qual possui o prazo de até 30

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


(trinta) dias para fazê-lo, podendo, antes, o Secretário
DO CARGO E DA FUNÇÃO POLICIAL
de Estado da Administração determinar diligências,
que, após concluídas, renovar-se-á o prazo (art. 348).
Julgada procedente a revisão, será tornada sem Conforme podemos perceber, o texto legal procu-
efeito a pena imposta, restabelecendo-se todos os ra estabelecer alguns conceitos iniciais. Essas defini-
direitos por ela atingidos. ções servem para facilitar a compreensão da matéria.
Vimos que o funcionário policial é aquele que exerce
uma função policial, então devemos, também, saber o
Importante! que é considerada uma função policial.
Sobre o tema, dispõe o art. 8º que a função policial
Algumas questões de prova podem utilizar, como é caracterizada pelo exercício de atividades específicas
fundamento, algum dispositivo da legislação desempenhadas pela autoridade, seus agentes e auxi-
federal, isto é, da Lei nº 8.112/1990. Lembre-se liares, para assegurar o cumprimento da lei, a manu-
de que a legislação estadual sobre os servidores tenção da ordem pública, a proteção de bens e pessoas,
estaduais é elaborada, tendo como base, justa- a prevenção da prática dos ilícitos penais e atribuições
mente, o Estatuto dos Servidores Públicos da de polícia judiciária.
União. Seu conteúdo não é muito diferente, moti- O exercício de cargo de natureza policial é privati-
vo pelo qual você pode, facilmente, responder a vo dos funcionários abrangidos pelo referido Dec-Lei.
todas as questões, mesmo que não saiba, exata- Somente os agentes policiais podem exercer cargos
mente, o dispositivo que fundamente a resposta. de natureza policial. Além disso, o exercício de função 323
policial é incompatível com qualquer outra atividade, estágio probatório tem a duração de 2 (dois) anos de
salvo aquelas permitidas pela legislação federal e pela efetivo exercício (art. 6º).
Constituição Federal (arts. 7º e 9º).
Um ponto importante, que merece maior detalha-
mento: a função policial tem por base os fundamentos Importante!
da hierarquia e da disciplina. Vejamos mais afundo
Embora no art. 6° deste Decreto conste que o
essas duas funções:
período de estágio probatório é de 2 anos de
efetivo exercício, a Emenda Constitucional nº
z Hierarquia: é a ordenação da autoridade em níveis
19/98 estabeleceu o estágio probatório como o
diferentes dentro da estrutura da Polícia Civil. O
período de 3 anos, bem como trouxe a avaliação
respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito
especial de desempenho como condição para
de acatamento à sequência de autoridade.
z Disciplina: é a rigorosa observância e o acatamen-
estabilidade.
to integral das leis, regulamentos, normas e dis- Para a prova, atente-se ao enunciado da questão.
posições que fundamentam o organismo policial
e coordenam seu funcionamento regular e har- Esses requisitos analisados durante o estágio pro-
mônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimen- batório estão previstos no § 1º, do art. 6º. São eles:
to do dever por parte de todos e de cada um dos
componentes desse organismo. A disciplina é uma 1) aprovação em curso de profissionalização na
consequência natural do respeito à hierarquia. Os Academia de Polícia;
agentes policiais não podem se mostrar insubor- 2) idoneidade moral;
dinados, recusando-se a cumprir ordens de seus 3) assiduidade;
superiores. 4) disciplina;
5) eficiência.
Em relação ao ingresso na carreira policial, o Esta-
tuto faz menção apenas à nomeação em seu art. 2º. A aprovação em estágio probatório ocorre quando
A nomeação é a forma mais comum de provimen- o agente policial for aprovado em todos os requisitos
to de cargos públicos dentro da Polícia Civil, podendo dispostos no parágrafo 1º. A aprovação é imprescin-
ser feita em caráter efetivo, ou em comissão. A nomea- dível para que ele adquira a estabilidade no serviço
ção em caráter efetivo é feita após a prévia aprovação público.
em concurso público. A nomeação em comissão será
feita para cargos dessa mesma natureza, tendo por Art. 6º [...]
base critérios subjetivos, como a confiança pessoal. § 2º Não está sujeito a novo estágio probatório o
Para ingressar em um cargo público de provimen- funcionário que, nomeado para cargo do serviço
to efetivo, deve o candidato preencher os seguintes policial, já tenha adquirido estabilidade, sendo,
requisitos, todos eles dispostos no art. 3º: porém, requisito indispensável à primeira promo-
ção na série de classes a aprovação em curso de
I – ser de nacionalidade brasileira; profissionalização.
II – ter no mínimo 18 (dezoito) anos completos e no
máximo 35 (trinta e cinco) anos completos à data Segundo o § 4º, do art. 6º, se o funcionário policial
do encerramento das inscrições; em estágio probatório não preencher quaisquer dos
III – estar em gozo dos direitos políticos;
requisitos numerados no § 1º, o chefe imediato deverá
IV – estar quite com as obrigações militares e
comunicar o fato ao órgão de pessoal, para o procedi-
eleitorais;
V – possuir condições sociais e familiares compatí- mento na forma da lei (leia-se exoneração).
veis com a função policial; Em relação à matéria de direitos, vantagens auto-
VI – gozar de boa saúde, comprovada em inspeção rizações e benefícios concebidos aos agentes poli-
médica; ciais, encontra-se disposta, em maiores detalhes, em
VII – possuir aptidão física e psíquica para o exercí- Decreto Estadual. Por isso, entendemos não ser neces-
cio da função policial; sário analisar essa matéria disposta na Lei Orgânica,
VIII – ter sido habilitado e classificado, previamen- uma vez que ela não se encontra tão completa e deta-
te, em concurso público de provas ou de provas e lhada, para fins de memorização para a sua prova.
títulos, realizado pela Academia de Polícia.
§ 1º Dependendo da natureza do cargo a ser provi-
do, o limite máximo de idade previsto no inciso II DO REGIME DISCIPLINAR: CÓDIGO DE ÉTICA,
poderá ser reduzido para até 25 (vinte e cinco) anos RESPONSABILIDADES E SANÇÕES DISCIPLINARES
completos.
O art. 10 trata de alguns preceitos éticos que todo
Aos candidatos nomeados será ministrado curso agente policial deve possuir dentro de si. São condutas
profissionalizante na Academia de Polícia, sem prejuízo e atitudes que os cidadãos esperam, naturalmente, de
do serviço, de acordo com a conveniência da atividade um policial civil. Esses preceitos éticos precisam ser
policial (art. 5º). Trata-se de um curso que irá ajudar memorizados e a forma mais fácil de fazê-lo é pela lei-
o funcionário policial a se preparar melhor para exer- tura da Lei seca, in verbis:
cer as atribuições pertinentes com o cargo que ocupa.
Uma vez que o candidato é nomeado e tenha entra- Art. 10 O policial manterá observância, tanto mais
do em efetivo exercício (passando a exercer as atri- rigorosa quanto mais elevado for o grau hierárqui-
buições designadas para o cargo que ocupa), o agora co, dos seguintes preceitos de ética:
agente policial passa por um período de estágio pro- I – servir à sociedade como obrigação fundamental;
batório, durante o qual são apurados os requisitos II – proteger vidas e bens;
necessários à confirmação do funcionário policial ao III – defender o inocente e o fraco contra o engano
324 cargo efetivo para o qual foi nomeado. O período de e a opressão;
IV – preservar a ordem, repelindo a violência;
V – respeitar os direitos e garantias individuais; Importante!
VI – jamais revelar tibieza ante o perigo e o abuso;
VII – exercer a função policial com probidade, dis- Súmula nº 343 do STJ: É obrigatória a presen-
crição e moderação, fazendo observar as leis com ça de advogado em todas as fases do processo
lhaneza administrativo disciplinar.
VIII – não permitir que sentimentos ou animosida- Súmula Vinculante nº 5: A falta de defesa téc-
des pessoais possam influir em suas decisões; nica por advogado no processo administrativo
IX – ser inflexível, porém justo, no trato com os disciplinar não ofende a Constituição.
delinquentes;
X – respeitar a dignidade da pessoa humana;
XI – preservar a confiança e o apreço de seus conci- Ainda sobre a presença de advogado, o entendi-
dadã os pelo exemplo de uma conduta irrepreensí- mento majoritário vem sofrendo alteração, pois o STF
vel na vida pública e na particular; já reconheceu, na Súmula Vinculante nº 5, o entendi-
XII – cultuar o aprimoramento técnico profissional; mento de que a falta de defesa técnica, no processo
XIII – amar a verdade e a responsabilidade como administrativo disciplinar, não é inconstitucional.
fundamentos da ética do serviço policial; As cominações civis, penais e disciplinares poderão
XIV – obedecer às ordens superiores, exceto quando cumular-se, sendo independentes entre si (art. 13). Isso
manifestamente ilegais; significa dizer que a absolvição do policial civil, na
XV – não abandonar o posto em que deva ser subs- esfera administrativa, não o exime de se responsabi-
tituído sem a chegada do substituto; lizar nas demais.
XVI – respeitar e fazer respeitar a hierarquia do Todavia, essa regra apresenta uma importante
serviço policial; exceção: a responsabilidade patrimonial e adminis-
XVII – prestar auxílio, ainda que não esteja em hora trativa do servidor será afastada no caso de absolvi-
de serviço: ção criminal que dê, como provada, a inexistência
1 – a fim de prevenir ou reprimir perturbação da
do fato ou que negue a sua autoria.
ordem pública;
Esquematicamente, podemos dividir as três esferas
2 – quando solicitado por qualquer pessoa carente
de responsabilidade, destacando-se a sua natureza,
de socorro policial, encaminhando-a à autoridade
competente, quando insuficientes as providências os tipos de sanções que são impostas e a possibilida-
de sua alçada. de delas se comunicarem entre si:

O art. 11 trata do compromisso que o policial deve z I. Responsabilidade Civil


assumir ao se apresentar ao seu chefe. É um ato sole-
ne, o compromisso se traduz em afirmar a seguinte „ Natureza indenizatória (reparação de danos);
frase: „ Sanção: restituição de valores ao erário;
„ Não se comunica.
“Prometo observar e fazer observar rigorosa obe-
diência às leis, desempenhar as minhas funções z II. Responsabilidade Administrativa
com desprendimento e probidade, considerando
inerentes à minha pessoa a reputação e honorabili- „ Natureza disciplinar (apurar transgressões
dade do órgão policial a que agora passo a servir”. disciplinares);
„ Sanção: advertência, repreensão, suspensão,
No título referente às violações das obrigações, o demissão, cassação de aposentadoria;
art. 12 trata da responsabilidade do agente policial. A „ Não se comunica.
sua responsabilidade é bastante similar à responsabi-
lidade de todos os servidores públicos, seja em âmbito z III. Responsabilidade Criminal
federal, estadual, municipal ou até distrital.
Pode-se afirmar que o agente policial apresenta „ Natureza penal (apurar crimes e contravenções)
tríplice responsabilidade, pois ele responde civil, „ Sanção: decretação de prisão, restrição de
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
penal e administrativamente pelos atos que pratica direitos.
no exercício de suas funções. „ Não se comunica, exceto quando não se confi-
A responsabilidade civil decorre de conduta fun- gura crime, ou seja, quando negada a autoria.
cional, comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa, que
acarrete prejuízo para o patrimônio da Fazenda Públi- O artigo 14 trata das condutas tipificadas como
ca ou de terceiros. transgressões disciplinares. São condutas que o
A responsabilidade penal abrange os crimes e contra- agente policial deve se abster de fazer, sendo vedadas
venções imputados por lei ao policial civil nesta qualidade. (proibidas) ao mesmo. A melhor forma de memorizar
A responsabilidade administrativa, por outro as transgressões disciplinares é mediante à leitura da
lado, consiste na instauração de processo disciplinar Lei seca, in verbis:
pelo qual haverá a verificação da conduta delituosa
do agente, bem como a aplicação da pena mais ade- Art. 14 São transgressões disciplinares:
quada. É bom reforçar que a aplicação de qualquer I – falta de assiduidade ou impontualidade habituais;
pena ao servidor público pressupõe um processo II – interpor ou traficar influência alheia para solicitar
administrativo, sendo assegurado, ao acusado direito, acesso, remoção, transferência ou comissionamento;
o contraditório e a ampla defesa, sendo obrigatória, III – dar informações inexatas, alterá-las ou
inclusive, a presença do advogado em todas as fases desfigurá-las;
do referido processo. IV – usar indevidamente os bens do Estado ou de
terceiros sob sua guarda ou não; 325
V – divulgar notícias sobre serviços ou tarefas em XXXIV – eximir-se do cumprimento de suas obriga-
desenvolvimento ou realizadas pela repartição, ou ções funcionais;
contribuir para que sejam divulgadas ou ainda, XXXV – violar o Código de Ética Policial.
conceder entrevista sobre as mesmas sem autori-
zação da autoridade competente; Apesar do grande rol de transgressões, como for-
VI – dar, ceder insígnias ou carteira de identidade ma de facilitar um pouco os seus estudos, podemos
funcional; dividi-los em grupos, com base na gravidade da trans-
VII – deixar habitualmente de saldar dívidas legíti- gressão. Vejamos:
mas ou de pagar com regularidade pensões a que
esteja obrigado por decisão judicial; z Transgressões leves: são as transgressões enumera-
VIII – manter relações de amizade ou exibir-se em
das nos incisos I a XII;
público, habitualmente, com pessoas de má reputa-
z Transgressões médias: são as transgressões enu-
ção, exceto em razão de serviço;
meradas nos incisos XIII a XXI;
IX – permutar o serviço sem expressa autorização
de autoridade competente; z Transgressões graves: são as transgressões enume-
X – ingerir bebidas alcoólicas quando em serviço; radas nos incisos XXII a XXXV.
XI – afastar-se do município onde exerce suas ativi-
dades, sem autorização superior; Quando o agente policial pratica qualquer uma
XII – deixar, sem justa causa, de submeter-se à ins- dessas transgressões expostas, ele está sujeito a apli-
peção médica determinada em lei ou por autorida- cação de sanções disciplinares. Essas sanções estão
de competente; previstas no artigo 16:
XIII – valer-se do cargo com o fim ostensivo ou vela-
do de obter proveito de natureza político-partidá- I – advertência;
ria, para si ou para outrem; II – repreensão;
XIV – simular doença para esquivar-se do cumpri- III – suspensão;
mento do dever; IV (REVOGADO);
XV – agir, no exercício da função, com displicência, V (REVOGADO);
deslealdade ou negligências; VI – demissão;
XVI – intitular-se funcionário ou representante de VII – cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
repartição ou unidade policial a que não pertença;
XVII – maltratar preso sob sua guarda ou usar
de violência desnecessária no exercício da função Importante!
policial;
XVIII – deixar de concluir, nos prazos legais ou regu- Os incisos IV e V do art. 16 tratavam das sanções
lamentares, sem motivos justos, inquéritos policiais, de afastamento do serviço e da prisão disciplinar
sindicâncias, atos ou processos administrativos; respectivamente. Atualmente, apenas a prisão
XIX – participar de atividade comercial ou industrial
disciplinar não é mais aplicável. Os referidos
exceto como acionista, quotista ou comanditário;
XX – deixar de tratar os superiores hierárquicos e os incisos foram revogados pela Lei nº 4236/2003,
subordinados com a deferência e urbanidade devidas; mas o Decreto nº 3.044/1980 volta a prever a
XXI – coagir ou aliciar subordinados com objetivos hipótese de afastamento do serviço.
político-partidários;
XXII – praticar usura em qualquer de suas formas;
XXIII – apresentar parte, queixa ou representação A pena de advertência é uma das mais brandas e
infundadas contra superiores hierárquicos; será aplicada em particular e verbalmente, nos casos
XXIV – indispor funcionários contra seus superio- de falta leve (art. 18).
res hierárquicos ou provocar, velada ou ostensiva- A pena de repreensão é bem similar a de adver-
mente, animosidade entre funcionários; tência, com a diferença de que ela será aplicada por
XXV – insubordinar-se ou desrespeitar superior escrito, nos casos de falta leve. (art. 19).
hierárquico;
XXVI – empenhar-se em atividades que prejudi-
Art. 20 A pena de suspensão, que não poderá exce-
quem o fiel desempenho da função policial;
XXVII – utilizar, ceder, ou permitir que outrem use der a 90 (noventa) dias, será aplicada:
objetos arrecadados, recolhidos ou apreendidos I - de 1 (um) a 15 (quinze) dias, nos casos de falta
pela polícia; leve;
XXVIII – entregar-se à prática de jogos proibidos, II - de 16 (dezesseis) a 40 (quarenta) dias, nos casos
ou ao vício da embriaguez, ou qualquer outro vício de falta média;
degradante; III - de 41 (quarenta e um) a 90 (noventa) dias, nos
XXIX – portar-se de modo inconveniente em lugar casos de falta grave.
público ou acessível ao público;
XXX – esquivar-se, na ausência de autoridade Um aspecto especial da suspensão é que ela poderá
competente, de atender a ocorrências passíveis de ser convertida em multa, quando for conveniente para o
intervenção policial que presencie ou de que tenha serviço policial, na base de 50% (cinquenta por cento) por
conhecimento imediato, mesmo fora de escala de dia de vencimento ou remuneração. Neste caso, o agente
serviço; policial é obrigado a permanecer no serviço, cumprindo
XXXI – cometer opiniões ou conceitos desfavoráveis
sua carga horária de trabalho normal (parágrafo único).
aos superiores hierárquicos;
A pena de demissão, cassação de aposentadoria
XXXII – cometer a pessoa estranha à Organização
Policial, fora dos casos previstos em lei, o desem- ou disponibilidade será aplicada nos casos previstos
penho de encargos próprios ou da competência de no Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Rio de
seus subordinados; Janeiro. De modo geral, é aplicada nas transgressões
XXXIII – desrespeitar ou procrastinar o cumpri- de natureza grave, previstas nos incisos XXII a XXXV
326 mento de decisão judicial ou criticá-la; do art. 14 (art. 22).
O art. 23, por sua vez, trata das autoridades compe- Segue um fluxograma para te ajudar a lembrar de
tentes para a aplicação das sanções disciplinares pre- como corre o Processo Administrativo Disciplinar:
vistas no Estatuto. São as seguintes pessoas:

Art. 23 [...] Processo


I - O Governador do Estado, em qualquer caso e pri- Sindicância Administrativo Recursos
vativamente nos casos dos incisos VI e VI, do artigo Ordinário
16, em relação aos delegados de polícia;
II - O Secretário de Estado de Segurança Pública,
em qualquer caso, e, privativamente, nos casos dos
incisos VI e VII do artigo 16, em relação aos demais A sindicância será o meio adequado para a aplicação
servidores policiais e suspensão acima de 60 (ses- das penas de advertência, repreensão e de suspensão de
senta) dias; sessenta dias (art. 25-A). A sindicância é instaurada para
III - O Chefe da Polícia Civil, nos casos dos incisos I apurar faltas e transgressões mais leves.
e II, do artigo 16, e suspensão até 60 (sessenta) dias; Comparando com o processo penal, pode-se afir-
IV - O Corregedor da Policia Civil, nos casos dos
mar que a sindicância é como se fosse a “fase investi-
incisos I e II, do artigo 16, e suspensão até 50 (cin-
quenta) dias; gativa”, pois o fim dela não resulta em uma sentença
V - Os dirigentes de unidade de polícia administrati- ou decisão. Ela serve, primordialmente, para apurar
va e judiciária da Policia Civil, nos casos dos incisos o que ocorreu e se há necessidade de instaurar o pro-
I a III, do artigo 16, aos servidores policiais que lhes cesso posteriormente.
forem subordinados, limitada a pena de suspensão Possui algumas regras específicas, dispostas nos
ao prazo de 30 (trinta) dias. parágrafos do art. 25-A. Sobre elas, é importante saber:

Quando, para qualquer transgressão, for prevista Art. 25-A [...]


mais de uma pena disciplinar, a autoridade competen- § 1º A sindicância administrativa disciplinar será
te, atenta às circunstâncias de cada caso, decidirá qual concluída no prazo de 60 (sessenta) dias, contados
sanção será aplicada no caso (art. 23, parágrafo único). a partir de sua instauração.
O art. 24, por sua vez, trata da extinção da pretensão § 2º Após concluída a sindicância administrativa
de punir os agentes policiais pela prescrição. Prescrição disciplinar deverá ser encaminhada à autoridade
é a passagem de tempo que faz com que o autor de uma competente para decisão.
pretensão não possa mais requerê-la. Segundo o texto § 3º Não sendo possível a conclusão da sindicância
do art. 24, extingue-se a punibilidade pela prescrição: administrativa disciplinar, no prazo de 60 (sessen-
ta) dias, a autoridade sindicante encaminhará, sob
I - da transgressão disciplinar sujeita à pena de pena de responsabilidade funcional, no prazo de
advertência, repreensão ou suspensão no prazo de 10 (dez) dias, ao chefe imediato, relatório circuns-
02 (dois) anos; tanciado indicando as diligências faltantes e solici-
II - da transgressão disciplinar sujeita à pena de tando prazo para a sua conclusão, que não poderá
demissão, cassação de aposentadoria ou de dispo- exceder a 30 (trinta) dias.
nibilidade no prazo de 05 (cinco) anos; § 4º Excepcionalmente, não sendo concluída a sin-
III - da transgressão disciplinar prevista na Lei dicância administrativa disciplinar no prazo total
como infração penal, juntamente com o crime. de 90 (noventa) dias, a autoridade sindicante, no
§ 1º O curso do prazo prescricional começa a cor- prazo de 10 (dez) dias, justificadamente, sob pena
rer da data em que o fato se tornou conhecido pela de responsabilidade funcional, encaminhará relató-
Administração Pública. rio circunstanciado ao chefe imediato que, em igual
prazo abrirá vista ao Chefe da Policia Civil com a
O curso do prazo prescricional é interrompido indicação das diligências faltantes e a solicitação
com a instauração de sindicância ou de processo do prazo necessário à sua conclusão.
administrativo disciplinar até decisão final proferida
por autoridade competente (§ 2º). Cuidado! A sindicância é uma etapa que pode
ocorrer antes do curso do procedimento ordinário,
DA APURAÇÃO DAS TRANSGRESSÕES mas não é, necessariamente, uma etapa obriga-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINARES tória do processo ordinário. A sindicância não é
essencial para o curso do procedimento ordinário se
Já vimos que o agente policial está sujeito à aplica- a transgressão for considerada gravíssima, sujeita a
ção de diversas penas, devido ao seu rigoroso regime uma pena que é incompatível com a sindicância, ou
disciplinar. Resta-nos ver, agora, como essa sanção é se a transgressão se configura automaticamente, não
imposta. Para isso, precisamos entender o funciona- havendo necessidade de sua investigação.
mento do Processo Administrativo Disciplinar. Da sindicância poderá resultar um de três
O Processo Administrativo Disciplinar (PAD) é o caminhos:
meio perante o qual a autoridade competente apu-
ra as transgressões cometidas pelos agentes públi- z O arquivamento do processo;
cos, aplicando a eles as respectivas sanções. O PAD z A aplicação de penalidade de repreensão ou
é garantido a todos os servidores públicos, inclusive suspensão;
para os policiais civis do Estado do Rio de Janeiro. z A instauração de processo disciplinar.

Art. 25 A autoridade que tiver ciência de irregula- O procedimento ordinário (ou processo admi-
ridade no serviço público é obrigada a promover a nistrativo disciplinar ordinário) é tratado no artigo
sua apuração imediata, mediante sindicância ou 25-B. Será instaurado quando à transgressão discipli-
processo administrativo disciplinar, assegurada ao nar gerar a sanção de suspensão superior a 60 (ses-
acusado ampla defesa. senta) dias, ou demissão, ou, ainda, para a cassação 327
de aposentadoria ou de disponibilidade. Nestes casos, VIII – habilitação prévia, em concurso público de
os autos serão encaminhados ao Chefe da Polícia Civil, provas ou de prova e títulos, realizada na Acade-
que os remeterá ao Secretário de Estado de Segurança mia de Polícia;
Pública para instauração de processo administrativo IX – classificação do habilitado dentre o número de
disciplinar, por distribuição a uma das Comissões Per- vagas existentes na classe inicial da série de classes.
manentes de Inquérito Administrativo — CPIAs.
O processo administrativo disciplinar deverá ser De conteúdo novo, o § 3º, do art. 3º, apresenta ape-
ultimado pela Comissão respectiva, que será presidi- nas alguns requisitos a mais para o candidato poder
da por delegado de polícia, o qual atuará pelo prazo ingressar nos diversos cargos de Polícia Civil. Além dos
de 90 (noventa) dias, contados a partir da sua instau- requisitos enunciados nos incisos I e IX, será exigido dos
ração. Esse é o prazo que o processo disciplinar ordi- candidatos a cargos policiais por ocasião da inscrição no
nário tem para realizar todos os seus trabalhos (§ 1º). concurso público, o seguinte grau de escolaridade:

Art. 25-B [...] a) Delegado de Polícia – diploma de bacharel em


direito, devidamente registrado;
§ 2º Não sendo possível a conclusão do processo
b) Escrivão de Polícia – certificado de segundo grau
administrativo disciplinar no prazo de 90 (noventa)
escolar ou equivalente;
dias, as comissões encaminharão, sob pena de res-
c) Detetive – certificado de segundo grau escolar ou
ponsabilidade funcional, no prazo de 10 (dez) dias,
equivalente e carteira de habilitação de motorista
ao órgão de supervisão, relatório indicando as dili-
profissional;
gências faltantes e solicitando prazo para sua con-
d) Perito Criminal – diploma de curso superior,
clusão, que não poderá exceder a 90 (noventa) dias.
devidamente registrado nos conselhos respectivos,
nas especialidades inerentes ao cargo;
Como pudemos demonstrar, esse é o conteúdo e) Perito Legista – diploma de médico, devidamente
mais amplo e geral do regime jurídico dos policiais registrado no Conselho Regional de Medicina;
civis do Rio de Janeiro. Passemos, agora, a analisar o f) Piloto Policial – certificado de segundo grau esco-
Decreto que regulamenta, explica e dá maiores deta- lar ou equivalente e carta de piloto comercial expe-
lhes a própria Lei Orgânica. dida pelo Departamento de Aviação Civil (D.A.C.);
g) Papiloscopista – certificado de segundo grau
DECRETO ESTADUAL Nº 3.044/1980 escolar ou equivalente;
h) Técnico de Necropsia, Fotógrafo Policial, Inspe-
O Decreto Estadual nº 3.044, de 22 de janeiro de tor de Salvamento – certificado de primeiro grau
1980, é o decreto que regulamenta o Estatuto dos Poli- escolar ou equivalente;
ciais Civis do Estado do Rio de Janeiro. i) Auxiliar Técnico de Comunicações de Segurança e
O seu conteúdo possui aspectos muito similares ao Operador de Telecomunicações de Segurança – cer-
tificado de primeiro grau ou equivalente e habilita-
do referido Decreto-Lei por razões óbvias. Veremos os
ção técnica inerente ao cargo;
seus principais dispositivos, dando maior destaque
j) Motorista Policial – conclusão da quarta série do
naquilo que o Decreto explica em maiores detalhes e, primeiro grau escolar ou equivalente e habilitação
principalmente, ao conteúdo novo que não consta na técnica inerente ao cargo;
Lei Orgânica. l) Servente de Necropsia – conclusão da quarta
série do primeiro grau escolar ou equivalente;
Do Ingresso nos Cargos Policiais m) Guarda vidas – conclusão de quinta série do pri-
meiro grau escolar ou equivalente;
De modo geral, o conteúdo referente ao ingresso n) Engenheiro de Telecomunicações de Segurança
em cargo policial é praticamente o mesmo que o do – diploma de curso de engenharia, devidamente
Estatuto. registrado, nas especialidades inerentes ao cargo;
O art. 3º trata dos requisitos básicos para ingressar o) Técnico de Telecomunicações de Segurança – cer-
em um cargo policial em carreira. O candidato deve tificado de segundo grau escolar ou equivalente e
preencher os seguintes requisitos: habilitação técnica inerente ao cargo;

I – nacionalidade brasileira; Do Regime Disciplinar: Das Penas Disciplinares


II – idade-limite na forma estabelecida em lei; Aplicáveis e do Processo Administrativo Disciplinar
III – gozo dos direitos políticos, comprovado atra- (PAD)
vés de documento fornecido pelas entidades públi-
cas, responsáveis pelo controle desses direitos; O regime disciplinar também foi melhor regula-
IV – certificado expedido por repartição militar mentado pelo Decreto Estadual, apresentando conteú-
competente e título eleitoral que comprovem, res- do novo no que diz respeito às sanções aplicáveis aos
pectivamente, a quitação das obrigações militares funcionários policiais infratores.
e eleitorais; As penas disciplinares estão previstas no art. 18:
V – condições sociais familiares compatíveis com a
função policial, a serem apuradas mediante sindi- Art. 18 [...]
cância reservada; I – advertência;
VI – boa saúde, comprovada através de inspeção II – repreensão;
médica, realizada pelo Departamento de Perícias III – suspensão;
Médicas da Secretaria de Estado da Administração; IV – afastamento do serviço, do cargo ou função;
VII – aptidão física e psíquica para o exercício V – (REVOGADO)
da função policial, apurada por profissionais VI – demissão;
328 capacitados; VII – Cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
A novidade fica com a previsão do afastamento O art. 30, por exemplo, dispõe sobre a investigação
do serviço, do cargo ou função. Segundo o art. 23, de transgressão mediante sindicância, a qual deve ser
o policial poderá ser afastado do serviço ou do exer- ultimada no prazo de dez dias pelo chefe imediato do
cício do cargo ou da função, sem perda de vencimen- transgressor. O chefe imediato deve apresentar um
tos, por prazo não superior a trinta dias a critério do relatório, contendo o seguinte conteúdo:
Secretário de Estado de Polícia Civil, desde que tenha
cometido infração disciplinar ou criminal, cuja natu- 1 – data, modo e circunstâncias em que teve notícia
reza ou circunstância do fato gerador se constitua em ou ciência do fato,
motivo de desonra para a Secretaria de Estado da Polí- 2 – versão do fato na forma por que teve conhecimento:
cia Civil ou quando a medida se impuser ao interesse 3 – elemento de prova ou indício colhido ou consta-
de ordem pública. tado e informação das testemunhas;
4 – defesa do acusado;
5 – conclusão, e
Dica 6 – decisão, quando for o caso.
O que fundamenta esse regime disciplinar e
a aplicação de todas essas sanções é o poder O comportamento policial será classificado de
disciplinar. Esse poder confere, à Administração acordo com o art. 33 deste decreto, sendo: excepcio-
Pública, a faculdade de punir os seus próprios nal; ótimo; bom; regular e mau. Ao ingressar no servi-
agentes sem a necessidade de ingressar na via ço público, o policial inicia sua carreira com o conceito
judiciária para tanto. classificado por “bom” e poderá sofrer modificações
de acordo com sua conduta.
Na aplicação de qualquer pena disciplinar, devem
Art. 34 [...]
ser levados em conta alguns critérios, todos eles dis-
§ 1º Os policiais que tiverem anotação de suspensão
postos no art. 19:
superior a dez dias, no período de um ano, anterior
ao calendário das promoções, serão classificados
I – repercussão do fato; no conceito “mau”; e no conceito “regular”, se tais
II – danos decorrentes da transgressão ao serviço faltas se registrarem no período de dois anos.
público; §2º O policial somente será classificado nos con-
III – causas de justificação; ceitos “excepcional” e “ótimo”, se não tiver sofrido
IV – circunstâncias atenuantes; pena disciplinar de qualquer espécie, nos períodos,
V – circunstâncias agravantes;
respectivamente, de dez a cinco anos que antece-
VI – a classificação da gravidade da transgressão.
dam o calendário das promoções.

São causas de justificação, de acordo com o §1º: Dos Direitos, Vantagens e Autorizações
1 – motivo de força maior, plenamente comprovado;
A matéria referente aos direitos, benefícios, auto-
2 – Ter sido cometida a transgressão na prática de
rizações e demais vantagens está bem mais detalhada
ação meritória, no interesse do serviço, da ordem
ou da segurança pública. no Decreto Estadual. Por isso, daremos um enfoque
maior a esse assunto.
São circunstâncias atenuantes, ou que diminuem A princípio, o art. 36 enumera uma lista de direi-
a gravidade da transgressão, de acordo com o §2º: tos pessoais decorrentes do exercício da função
social. São os seguintes:
1 – boa conduta funcional;
2 – relevância de serviços prestados; Art. 36 [...]
3 – Ter sido cometida a transgressão em defesa de I – Garantia de uso do título em toda a sua plenitude,
direitos próprios ou de terceiros ou para evitar mal com as vantagens e prerrogativas a ele inerentes;
maior. II – Estabilidade, nos termos da legislação em vigor;
III – Uso das designações hierárquicas;
IV – Desempenho dos cargos e funções correspon-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Por outro lado, são circunstâncias agravantes,
dentes à condição hierárquica;
de acordo com o §3°, que aumentam a gravidade da
V – Percepção de vencimento correspondente ao
transgressão: padrão fixado em lei e das vantagens pecuniárias;
VI – Percepção de salário-família, diárias e ajuda de
1 – má conduta funcional; custo, na forma da legislação em vigor;
2 – prática simultânea de duas ou mais VII – Carteira funcional e insígnia na forma estabe-
transgressões; lecida em legislação própria;
3 – reincidência; VIII – Promoções regulares e por bravura, inclu-
4 – ser praticada a transgressão, em conluio, por sive post-mortem, ascensões regulares, inclusive
duas ou mais pessoas, durante a execução de ser- post-mortem.
viço, em presença de subordinados ou em público; IX – Medalhas “Mérito Policial” e “Mérito Espe-
5 – ter sido praticada a transgressão com preme- cial” e outras condecorações, na forma prevista
ditação ou abuso de autoridade hierárquica ou em lei, com anotações na folha de assentamentos
funcional. funcionais;
X – Assistência médico-hospitalar, social e judiciá-
Como já vimos, a apuração das condutas tidas ria, quando ferido ou acidentado em serviço ou em
como transgressões será feita mediante processo razão da função, submetido a processo em decor-
administrativo disciplinar (PAD) ou mediante sindi- rência do estrito cumprimento do dever legal;
cância. O Decreto apresenta alguns dispositivos sobre XI – Aposentadoria nos termos da lei, com pro-
o tema. Vejamos: ventos integrais, independentemente de tempo de 329
serviço, quando for reconhecida a invalidez per- O art. 41, por sua vez, trata da hipótese de inter-
manente, por motivo de acidente em serviço, ou em rupção de férias. Se for convocado por Secretário de
razão da função, ou ainda, em caso de moléstia gra- Estado da Polícia Civil, por motivos de situação de
ve adquirida em serviço ou em conseqüência dele; emergente necessidade de segurança nacional ou
XII – Trânsito: o período correspondente a cinco para manutenção de ordem pública, o policial deve
dias de afastamento total do serviço, concedido ao atender ao chamado, sendo obrigado a interromper
policial civil, quando desligado de uma sede para suas férias.
assumir exercício em outra situada em município
diferente e se destina a preparativos e à realização z Licenças
de viagem;
XIII – Concessão de auxílio-funeral; As licenças estão dispostas no art. 47. Conceder-
XIV – Prisão domiciliar cumprida na residência do -se-á licença:
infrator;
XV – Prisão domiciliar cumprida na residência do I – Para tratamento de saúde;
infrator; II – Por motivo de doença em pessoa da família;
XVI – Férias e licenças previstas em lei; III – Para repouso à gestante;
XVII – Gratificação adicional por tempo de serviço, IV – Para serviço militar;
na forma prevista no art. 90 e seus parágrafos; V – Para acompanhar o cônjuge;
XVIII – Ascensão e transferência, na forma da VI – A título de prêmio;
legislação; VII – Para desempenho de mandato legislativo ou
XIX – Garantias devidas ao resguardo da integri- executivo.
dade física do policial em caso de cumprimento de
pena em estabelecimento penal; conquanto sujeito
Salvo os casos previstos nos incisos IV, V e VII, a
ao sistema disciplinar penitenciário;
licença não pode ser concedida por período superior
XX – Portar arma, com discrição, mesmo quando
a 24 (vinte e quatro) meses (art. 48).
aposentado.
Ao policial provido em comissão, ou designado
para função gratificada, não serão concedidas as licen-
A principal e mais famosa prerrogativa, dentro do
ças para serviço militar; licença para acompanhar o
serviço público, diz respeito ao direito à estabilidade.
cônjuge; licença-prêmio e licença para desempenho
Essa é, também, uma prerrogativa do agente policial,
que, para adquiri-la, deve contar com um prazo de de mandato legislativo ou executivo (art. 52).
A licença para tratamento de saúde será con-
tempo em efetivo exercício. A Constituição Federal
cedida a pedido do policial ou de seu representante,
trata da estabilidade também, condicionando-a ao
quando ele não puder fazê-lo. Pode, também, ser con-
funcionário que, nomeado por concurso, contar mais
cedida ex officio, quando o policial contrair doença
de 3 (três) anos de efetivo exercício.
grave ou altamente contagiosa (art. 56).
Isso não significa que, uma vez que o agente poli- Em qualquer dos casos, para a concessão dessa
cial torna-se estável no seu cargo, poderá fazer o que licença é indispensável uma prévia inspeção médica,
quiser e não sofrerá nenhuma punição. A estabilidade que será realizada no local onde se encontrar o poli-
não lhe dá “carta branca” para agir como bem enten- cial. Tal inspeção é importante, pois deve-se verificar
der. O agente policial ainda pode ser exonerado ou se a doença do policial é temporária ou permanente.
demitido, mas apenas em virtude de sentença judicial Se a doença for permanente e o laudo constar que ele
ou mediante processo administrativo, assegurado o está incapaz de continuar a prestar serviços à Polícia
direito à ampla defesa. Civil, ele deverá ser aposentado.
Em relação aos direitos conferidos ao agente poli- Quando a licença para tratamento de saúde for
cial, podemos dividi-los, baseando-nos em aspectos concedida em decorrência de acidente em serviço
financeiros. Existem direitos de natureza pecuniá- ou de doença profissional, esta circunstância se fará
ria (que inferem sobre quanto ele recebe a título de expressamente consignada (art. 61). Nesse caso, a
remuneração) e direitos de natureza não-pecuniária. licença é concedida mediante acidente em serviço.
Primeiramente, veremos sobre esses benefícios não Para tanto, o Decreto determina quais circunstân-
pecuniários. cias caracterizam o acidente em serviço com policial
na ativa. Estão previstas no art. 62:
z Férias
I – No exercício de suas atribuições policiais, duran-
As férias estão dispostas no art. 38 e seguintes. te o expediente normal, ou quando determinado
O policial tem direito a gozar, obrigatoriamente, 30 por autoridade competente, em sua prorrogação
(trinta) dias de férias por ano, concedida de acordo ou antecipação;
com escala organizada pelo dirigente da unidade admi- II – No decurso de viagens em objetivo de serviço,
nistrativa a que estiver subordinada e comunicada ao previsto em regulamentos, programas de cursos ou
órgão central de pessoal da Secretaria de Estado da autorizadas por autoridade competente;
Polícia Civil, para fins de publicação e controle. III – No cumprimento de ordem emanada de autori-
dade competente;
IV – No decurso de viagens impostas por remoções;
„ As férias serão adquiridas após o policial ter
V – No deslocamento entre a sua residência e o
completado um ano de exercício (art. 43). órgão em que estiver lotado ou local de trabalho,
„ A acumulação de férias é vedada, exceto por ou naquele em que sua missão deva ter início ou
imperiosa necessidade de serviço. A acumula- prosseguimento e vice-versa; bem como o dano
ção não pode exceder a mais de dois períodos resultante da agressão não provocada, sofrida pelo
(ou 60 dias). É, também, vedado levar à conta policial no desempenho do cargo ou em razão dele;
de férias qualquer falta ao trabalho. (art. 39 e VI – Em ocorrência policial, na defesa e manutenção
330 44). da ordem pública mesmo sem determinação explícita;
VII – No exercício dos deveres previstos em leis, concedida, em caso de interesse de administração,
regulamentos ou instruções baixadas por autorida- permissão de exercício, enquanto ali durar sua
de competente. permanência.
Art. 63 A licença para tratamento de saúde será
concedida sempre com vencimentos e vantagens A ideia dessa licença é que o policial não pode se
integrais. prejudicar, no exercício de suas atividades, se o seu
cônjuge ou parceiro/a tiver de se mudar para outra
A licença por motivo de doença em pessoa da localidade. Para tanto, a licença deve ser requerida
família está prevista no art. 64. Ele determina quem pelo próprio policial, devendo ser renovada uma vez
é considerado “pessoa da família”. Segundo o disposi- a cada dois anos.
tivo, o policial poderá requerer licença por motivo de
doença na pessoa de ascendente, descendente, colate- Art. 73 [...] finda a sua causa, o policial deverá reas-
ral, consanguíneo ou afins, até o 2º grau civil, cônjuge sumir o exercício, dentro de trinta dias, a partir dos
do qual não esteja legalmente separado, ou pessoa que quais a sua ausência será computada como falta ao
viva às suas expensas e conste do respectivo assenta- trabalho.
mento individual, desde que prove ser indispensável Art. 74 Independentemente do regresso do cônjuge,
sua assistência pessoal e não possa ser prestada com o o policial poderá reassumir o exercício a qualquer
exercício do cargo, de forma simultânea. tempo, mas não poderá renovar o pedido de licença
A licença não poderá exceder prazo de vinte e qua- senão depois de dois anos da data da reassunção.
tro meses e será concedida com vencimentos e vanta-
gens integrais nos primeiros doze meses e com dois z Licença a título de prêmio
terços nos outros doze meses subsequentes (art. 66).
À policial gestante será concedida licença para A licença prêmio, por sua vez, é tratada no art. 76. Ela
repouso pelo prazo de quatro meses (art. 67). Essa tem um aspecto especial, pois ela considera o tempo de
licença deve ser concedida a partir do oitavo mês de serviço do agente policial.
gestação, salvo prescrição médica em contrário. A licença prêmio será concedida ao policial após
Quando a policial gestante tiver de prestar serviço cada quinquênio de efetivo exercício prestado ao
incompatível com seu estado, serão cometidos encar- Estado, pelo período de três meses, com todos os direi-
gos diversos daqueles que estiver exercendo, respeita- tos e vantagens de seu cargo efetivo.
das as atribuições da série de classes e que pertencer.
Essa licença é também concedida com vencimentos e Art. 76 [...]
vantagens integrais (arts. 68 e 69). § 4º Para apuração do quinquênio, computar-se-á,
também, o tempo de serviço prestado anteriormen-
z Licença para serviço militar te em outro cargo estadual, desde que entre um e
outro não haja interrupção do exercício.
Ao policial que for convocado para serviço mili-
tar ou outro encargo de segurança nacional, será Quem deve analisar os pedidos de concessão de
concedida licença pelo prazo que durar a sua incor- licença-prêmio (para depois concedê-la) é o Diretor
poração ou convocação (art. 70). Só será concedida a do Departamento de Administração da Secretaria de
licença à vista de documento oficial que comprove a Estado da Polícia Civil (art. 78).
incorporação ou convocação. (§ 1º).
Art. 82 A licença-prêmio poderá ser gozada inte-
Art. 70 [...]
gralmente, ou em períodos de um a dois meses.
§2° Do vencimento será descontada a importância
Parágrafo único: Se a licença for gozada em perío-
que o policial percebe na qualidade de incorporado,
dos parcelados, deve ser observado intervalo obri-
salvo se optar pelas vantagens do serviço militar.
gatório de um ano entre o término de um período e
o início de outro.
Essa licença é também concedida ao policial ofi-
cial da reserva das Forças Armadas, durante os está-
gios previstos pelos regulamentos militares. Quando É absolutamente vedado descontar da licença-prê-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


o estágio for remunerado, é assegurado, ao oficial, o mio, as faltas ao serviço ou qualquer licença conce-
direito de opção entre a remuneração do estágio ou de dida ao policial (art. 84). Uma licença não pode ser
seus vencimentos (§ único, art. 71). usada para prejudicar o policial a obter a licença-prê-
mio a qual ele tem direito.
z Licença para acompanhar o cônjuge O policial será licenciado, sem vencimentos ou
vantagens de seu cargo efetivo, para desempenho
A licença para acompanhar o cônjuge está prevista de mandato eletivo, federal ou estadual. A licença
no art. 72. será concedida a partir da diplomação do eleito, pela
Justiça Federal e perdurará pelo prazo do mandato (§
Art. 72 O policial casado terá direito à licença sem único, art. 85).
vencimento, quando seu cônjuge for exercer man- Uma questão que costuma cair com bastante fre-
dato eletivo ou, sendo militar ou servidor da admi- quência nas provas de concurso público é sobre a
nistração direta, de autarquia, de empresa pública, remuneração de servidor afastado para exercício de
de sociedade de economia mista ou de fundação mandato eletivo. A matéria encontra-se presente no
instituída pelo Poder Público, for mandado servir, art. 94, da Lei nº 8.112, de 1999, bem como nos arts.
“ex ofício”, em outro ponto do território estadual, 86 e 88 do referido Decreto Estadual.
nacional ou no exterior. A regra geral é que, para exercer um mandato ele-
Parágrafo único. Existindo no novo local de resi- tivo, o servidor deve afastar-se do cargo e deixar de
dência órgão estadual, o policial nele será lotado, receber a remuneração referente a ele. Porém, tratan-
havendo claro, ou não havendo poderá ser-lhe do-se de exercício de mandato de Prefeito, o servidor 331
afastado poderá optar, dentre as duas remunerações, por aquela que lhe for mais vantajosa (valores maiores,
mais benefícios etc.).
Outro aspecto importante: no caso de exercício de mandato de Vereador, o servidor poderá exercer os dois
cargos e perceber ambas as remunerações, desde que comprovada a compatibilidade de horários (atua como
Vereador de dia e como agente público de noite e vice-versa). Sendo incompatível o horário dos dois cargos, o
Vereador pode optar pela remuneração mais vantajosa, igual ao Prefeito.
Isso é assim porque, muitas vezes, a remuneração dos Prefeitos e Vereadores de pequenos Municípios costuma
ser menor do que a remuneração do cargo público anterior e ele pode, facilmente, se locomover de um ambiente
de trabalho para outro nesses Municípios de porte menor.

Dica
Mandato de prefeito = servidor afastado pode optar entre as remunerações.
Mandato de Vereador = o servidor pode exercer os dois cargos e receber ambas remunerações, desde que a
carga de horários seja compatível (se incompatível, pode optar entre uma das remunerações).

É importante memorizar que as licenças são concedidas a interesse exclusivo do próprio servidor, ao con-
trário dos afastamentos em geral, em que é concedido em interesse comum, tanto do servidor, como da própria
Administração Pública. Além disso, os prazos das licenças são, geralmente, mais curtos (dias, semanas ou meses).
Já as autorizações costumam ter prazos mais longos (anos).
O Decreto Estadual prevê algumas hipóteses de afastamento, como o afastamento para missão oficial e o afas-
tamento para estudo no exterior ou em qualquer parte do território nacional (incisos XII e XIII, art. 259). Mas, de
modo geral, os afastamentos previstos em legislação federal também podem ser concedidos aos servidores esta-
duais, salvo se forem incompatíveis com as atribuições policiais.
O Decreto Estadual não faz essa diferenciação, mas algumas bancas de concurso público costumam cobrar em
questões de prova. Assim, para facilitar seus estudos, veremos, a seguir, tópicos, contendo as principais diferenças
entre licença e afastamento.

z Licença:

„ Sua finalidade é de interesse exclusivo do agente público. Ex.: doença do cônjuge/membro da família; para
exercer atividade política; para tratar de interesses particulares;
„ Possui prazos mais curtos (dias, semanas).

z Afastamento:

„ Finalidade é de interesse do agente e da Administração Pública. Ex.: realização de especialização, realiza-


ção de missão no exterior; para servir a outro órgão/entidade;
„ Possui prazos mais longos (meses, anos).

Também como forma de facilitar os seus estudos, trouxemos uma tabela destacando as principais diferenças
entre os diferentes tipos de licenças:

LICENÇA REQUISITOS DOCUMENTOS PRAZO

Licença p/ tratamento Policial deve adoecer, por Depende inspeção


Com vencimentos integrais
de saúde qualquer moléstia médica. Pode ser de ofício

Licença por acidente Policial sofreu acidente em


Depende inspeção médica Com vencimentos integrais
em serviço serviço

Até 4 meses, com


Licença à gestante Policial deve ser gestante Depende inspeção médica
vencimentos integrais

Até 24 meses: a) com


Licença por motivo de Policial possui pessoa da Depende de inspeção vencimentos integrais até 12
doença família família doente médica meses, b) 2/3 vencimentos
após 12 meses

Deve apresentar Com vencimentos, podem


Licença p/ obrigações Policial foi convocado para
documento que comprove sofrer descontos se optar
militares serviço militar
a incorporação pelas vantagens militares

Até 2 anos ou até 3 anos,


Licença p/ tratar de Policial possui um problema Completar 5 (cinco) anos
quando parcelada. Sem
interesses particulares particular de efetivo exercício
vencimentos
332
LICENÇA REQUISITOS DOCUMENTOS PRAZO

Policial possui cônjuge que


Enquanto perdurar o
Licença p/ acompanhar deve servir mandato ou
Requerimento simples mandato/missão do
cônjuge missão, de ofício, em outro
cônjuge. Sem vencimentos
ponto do território do Estado

Policial não cometeu Depende de certidão de


Três meses. Com
Licença-prêmio nenhuma penalidade tempo de serviço (5 anos
vencimentos
administrativa ininterruptos)

Licença p/ desempenho Policial foi eleito para


Enquanto durar o mandato.
mandato legislativo ou desempenhar mandato -
Sem vencimentos
executivo executivo ou legislativo

Temos, também, os direitos e vantagens de natureza pecuniária. São benefícios incorporados aos vencimentos
dos policiais civis.
Para facilitar seus estudos, veja esse esquema, indicando a remuneração do agente policial do Rio de Janeiro.
Trataremos, principalmente, das seguintes vantagens:

Vencimentos
De função
Adicional por
REMUNERAÇÃO DO AGENTE

tempo de serviço
Por exercício cargo em
comissão
Gratificações
POLICIAL

De representação de
gabinete
Ajuda de custo e
transporte
Participação órgão
deliberação coletiva
Diárias

Outras vantagens na
legislação estadual

Como vimos, a remuneração do policial civil é dividida em vencimentos, que é o que ele ganha por serviço
prestado, e as vantagens pecuniárias. Estas estão previstas no art. 89:

I – adicional por tempo de serviço;


II – gratificações;
III – ajuda de custo e transporte ao policial mandado servir em nova sede;
IV – diárias àquele que, em objeto de serviço, se deslocar eventualmente da sede.

z Adicional por tempo de serviço

Nos termos do art. 90, adicional por tempo de serviço é o percentual calculado sobre o vencimento-base de NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
cargo efetivo, a que faz jus o policial, por quinquênio de efetivo exercício, decorrente de antiguidade no serviço
público. A apuração do adicional é feita por regime quinquenal, sendo que a progressão será horizontal, até o limite
de sete graus.
Ocorre que, para os policiais mais antigos, a sua apuração era (e continua sendo feita) mediante regime trienal
(de 3 anos). O regime de quinquênio prevalecerá somente para o ingresso de novos servidores na carreira policial
(§ 2º, art. 90).
A progressão horizontal mediante regime trienal é feita até o limite de nove graus (art. 90, §6º).
O percentual correspondente a cada quinquênio ou triênio será de 5% do vencimento-base do policial até o
limite máximo de 35% ou 50% (§ 5º, art. 90).

z Gratificações

O art. 91 apresenta todas as gratificações as quais o policial tem direito. São as seguintes:

I – de função;
II – pelo exercício de cargo em comissão;
III – de representação de Gabinete; 333
IV – pelo participação em órgão de deliberação preenchimentos de empregos ou admissão a cursos
coletiva por: oficialmente instituídos.
a) encargo auxiliar ou membro de banca ou comis- Art. 104 A gratificação pelo exercício de ativida-
são examinadora de concurso, ou de temporária de auxiliar ou professor de curso
b) encargo de auxiliar ou professor em curso ofi- oficialmente instituído somente será atribuída ao
cialmente instituído. policial, se o trabalho for realizado além das horas
Art. 92 A gratificação de função de chefia, de expediente a que está sujeito.
assistência intermediária e secretariado é aque-
la definida no parágrafo único do artigo 9º deste
Por exemplo, se o agente policial possui uma jor-
Regulamento e correspondente ao exercício de fun-
ção gratificada, instituída e remunerada na forma nada, dentro da Polícia Civil, das 8 horas às 18 horas,
que se dispuser em lei. ele só terá direito à referida gratificação se ele exer-
cer essa atividade de auxiliar de professor em período
O referido art. 9º do Decreto Estadual estabelece noturno, após às 18 horas. A compatibilidade de horá-
as características e peculiaridades do exercício da rios é muito importante, pois caso contrário, ele não
função policial: caracteriza a função policial o exer- pode exercer essas duas funções — uma não pode
cício de atividades específicas desempenhadas pelas atrapalhar a outra.
autoridades, seus agentes e auxiliares, para assegurar Das vantagens pecuniárias, temos também aque-
o cumprimento da lei, manutenção da ordem pública, las de caráter indenizatório. São a ajuda de custo, o
proteção de bens e pessoas, prevenção da prática dos transporte e as diárias.
ilícitos penais e atribuições de polícia judiciária. Segundo o art. 109, a ajuda de custo será conce-
dida a título de compensação das despesas de via-
Art. 95 A gratificação pelo exercício de cargo gens, mudanças e instalação, ao policial que, em razão
em comissão é aquela definida no art. 7º deste de remoção, tenha que deslocar efetivamente sua
Regulamento e correspondente a 70% do valor fixa-
residência.
do para o cargo em comissão, que será paga jun-
tamente com o vencimento e vantagens do cargo A ajuda de custo não poderá ser inferior e nem
efetivo, quando o policial não optar pelo vencimen- superior a três vezes a importância do vencimento
to deste. policial, excetuando-se os casos de missão no exterior.
§ 1º Quando a opção não recair sobre o vencimento Esta é arbitrada pelo Secretário de Estado da Polícia
do cargo efetivo, perceberá o policial integralmen- Civil de acordo com o art. 110.
te o valor correspondente ao símbolo do cargo em O art. 113 apresenta casos em que o policial deve
comissão. restituir a ajuda de custo. São eles:
Art. 96 A gratificação de representação de gabi-
nete é a que tem por fundamento a compensação I – quando não se transportar para a nova sede ou
de despesas de apresentação inerentes ao local do
local da missão, nos prazos determinados;
exercício ou à remuneração de encargos especiais.
II – quando antes de decorridos três meses do deslo-
camento ou do término da incumbência, regressar,
A gratificação pela participação em órgão de
pedir exoneração ou abandonar o serviço.
deliberação coletiva destina-se a remunerar a pre-
sença dos componentes dos órgãos colegiados regular-
As diárias estão previstas no art. 122 e serão con-
mente instituídos (art. 99). A gratificação será fixada
cedidas ao policial que se deslocar, temporariamente,
por Resolução, em base percentual, calculada sobre o
valor do símbolo de cargo efetivo ou em comissão ou em objeto de serviço, da localidade onde estiver sedia-
função gratificada e paga por dia de presença às ses- da sua unidade administrativa. Em razão do desloca-
sões do órgão colegiado (parágrafo único). mento, será concedida além do transporte, a diária a
título de compensação das despesas de alimentação e
Art. 101 A gratificação pela participação em órgão pousada.
de deliberação coletiva é acumulável com quais- A diária será concedida nos casos previstos no art.
quer outras vantagens pecuniárias atribuídas ao 123, sendo:
policial.
Parágrafo único. Durante os afastamentos legais do I – de alimentação e pousada, nos deslocamentos
titular, apenas o suplente perceberá a gratificação superiores a 100km de distância da sede, desde que
pela participação em órgão de deliberação coletiva. o pernoite se realize por exigência do serviço;
II – de alimentação nos deslocamentos inferiores a
Pelo exercício de encargo de auxiliar ou membro 100km e superiores a 50km de distância da sede;
de banca ou comissão examinadora de concurso III – em qualquer outro caso:
ou de atividade temporária de auxiliar ou professor a) e alimentação e pousada quando o afastamento
de curso oficialmente instituído, ao policial será atri- da sede for inferior a oito horas;
buída gratificação, nos termos do art. 102. b) De alimentação, quando o afastamento da sede
for inferior a 18 (dezoito) e superior a 8 (oito) horas.
Art. 103 Entende-se como encargo de membro de
banca ou comissão examinadora de concurso a Por fim, o Decreto também elenca alguns bene-
tarefa desempenhada, por designação de autori-
fícios de natureza assistencial. O primeiro é o salá-
dade competente, no planejamento, organização
rio-família, previsto no art. 136. Salário-família é o
e aplicação da provas, correção e apuração dos
resultados, revisão e decisão dos recursos interpos- auxílio pecuniário concedido pelo Estado ao policial
tos, até a classificação definitiva, nos concursos, na ativa ou inativo, como contribuição ao custeio das
provas de seleção ou de habilitação e ascensão pela despesas de manutenção de sua família.
334 Academia de Polícia, para provimento de cargos,
Deve ser concedido o salário-família, nos termos z Auxílio Moradia
do artigo 137:
Será concedido auxílio-moradia, segundo o art.
I – por filho menor de vinte e um anos, que não exer- 154, ao policial que for designado “ex ofício” para ter
ça atividade remunerada; exercício definitivo em nova sede e nesta não vier a resi-
II – por filho inválido;
dir em imóvel pertencente ao Poder Público.
III – por filha solteira sem economia própria;
O auxílio-moradia corresponderá a 20% do venci-
IV – por filha estudante que frequente curso médio
ou superior e que não exerça atividade lucrativa, mento base do policial, sendo devido a partir da data
até a idade de 24 anos; em que o policial passar a ter exercício na nova sede
V – pelo ascendente, sem rendimento próprio, que e cessará:
viva às expensas do policial;
VI – pela esposa que não exerça atividade I – quando completar um ano na nova sede;
remunerada; II – quando passar a residir em imóvel pertencente
VII – pelo esposo que não exerça atividade remune- ao Poder Público (arts. 155 e 156).
rada por motivo de invalidez permanente;
VIII – pela companheira, mulher solteira, viúva,
z Pensão Especial
desquitada ou divorciada que não exerça atividade
remunerada, que com ele coabite há mais de cinco
anos, ou que com ele tenha filho que comprovada- Art. 159 Aos beneficiários do policial falecido em
mente tenha direito a alimentação. consequência de acidente ocorrido em serviço ou
§ 1º Compreende-se como filho de qualquer condi- doença nele adquirida, é assegurada uma pensão
ção, enteado, o adotivo e o menor que comprova- mensal equivalente ao vencimento mais as vanta-
damente viva sob a guarda e o sustento do policial. gens percebidas em caráter permanente, por oca-
§ 3º A cada dependente relacionado neste artigo sião do óbito.
corresponderá a cota de salário-família. Art. 160 A prova das circunstâncias do falecimento
Art. 138 Quando o pai e mãe forem policiais na ati- será feita por junta médica oficial, que se valerá, se
va ou inativos, ou um for policial e outro funcioná- necessário, de laudo médico-legal, além da compro-
rio estadual e viverem em comum, o salário-família vação a que se refere o § 5º do art. 62, quando for
será concedido exclusivamente ao pai. o caso.
§ 1º Se não viverem em comum, será concedido
ao que tiver os dependentes sob sua guarda; se
O art. 163 trata dos prêmios por sugestões de
ambos os tiverem, de acordo com a distribuição dos
dependentes.
interesse da administração.
§ 2º Quando pai e mãe forem ambos funcionários
ou servidores, um do Estado do Rio de Janeiro e Art. 163 A administração estimulará a apresenta-
outro de entidade diversa, o Estado pagará o salá- ção, por parte de policiais, de sugestões e trabalhos
rio-família ao seu funcionário ainda que o outro o que visem ao aumento da produtividade e à redu-
perceba da entidade a que estiver vinculado ção de custos operacionais do serviço público, de
trabalhos técnico-científicos de natureza policial ou
z Auxílio-doença jurídico-penais, julgados do interesse da Secretaria
de Estado da Polícia Civil.
Após cada período de doze meses consecutivos
de licença para tratamento de saúde, o policial terá As sugestões são julgadas por uma Comissão cria-
direito a um mês de vencimento, a título de auxílio- da especialmente para esse fim, sendo composta de
-doença. O auxílio-doença não pode sofrer descontos cinco membros de reconhecida competência em téc-
de qualquer espécie, ainda que para fins de assistência nica de administração policial (art. 165). O julgamento
e previdência (§ 2º, art. 148). da comissão será irrecorrível (§ 2º, art. 165).

Art. 149 o tratamento do policial acidentado em Das Promoções e Ascensão na Carreira


serviço, acometido de doença profissional ou inter-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


nado compulsoriamente para tratamento psiquiá-
O Decreto trata, também, da movimentação dentro
trico, correrá integralmente por conta dos cofres
do Estado, e será realizado, sempre que possível, dos cargos de carreira da Polícia Civil do Rio de Janei-
em estabelecimento estadual de assistência médica. ro, que se dá mediante promoção.
Segundo o art. 168, promoção é a passagem de uma
z Auxílio-funeral classe para classe imediatamente superior, da mesma
categoria funcional no serviço policial civil. O disposi-
O auxílio-funeral, de acordo com o art. 152, é con- tivo apresenta também os diferentes critérios (formas
cedido para a família do policial falecido, ainda que de promoção), como o da antiguidade, por mereci-
seja policial inativo. mento, por bravura, e também o “post-mortem”.
As promoções por antiguidade e por merecimento
§ 1º O auxílio será pago: têm o seu funcionamento bastante similar às promo-
1 – no valor correspondente a dez UFERJ, quando ções por antiguidade e por merecimento dos demais
o do vencimento e vantagens ou proventos do fale- servidores públicos. Elas obedecerão obrigatória e
cido for igual ou inferior a esse quantitativo; ou
alternativamente à proporção de uma vaga de anti-
ainda
2 – no valor correspondente a vinte UFERJ, nos guidade para uma vaga de merecimento e ao interstí-
demais casos. cio; mínimo de setecentos e trinta dias (art. 170).
§ 2º A despesa com auxílio-funeral correrá à conta
de dotação orçamentária própria. 335
z Quadro de Promoção Art. 219 [...]
I – em ação de manutenção da ordem pública;
Para que o policial possa ser promovido por anti- II – em consequência de ferimento recebido na
guidade ou merecimento, deverá integrar o respec- manutenção da ordem pública, doença, moléstia,
ou enfermidade contraídas nesta situação, ou que
tivo Quadro de Promoção (denominado QPA e QPM,
nelas tenha sua causa eficiente.
respectivamente).
III – por acidente de serviço;
IV – por ato de bravura.
Art. 181 Verificada a vaga originária, a indicação
para integrar o Quadro de Promoção (QPM ou
De modo geral, é uma promoção bastante parecida
QPA) deverá recair nos policiais civis mais antigos,
com a promoção por bravura. A única diferença é que
compreendidos nos primeiros dois terços do núme-
o agente policial acaba sacrificando a sua vida pelo
ro de cargos da classe concorrente a que pertence-
exercício de suas funções. A finalidade dessa promo-
rem, fixado em lei e na conformidade de apuração
ção é de prestar uma assistência financeira à família
estabelecida neste Regulamento.
do policial falecido. Se ele é promovido para um cargo
superior, ele receberá uma remuneração maior, o que
O Quadro de Promoção será publicado no órgão de
incide nos diversos benefícios e auxílios que sua famí-
divulgação oficial do Estado, para efeito de contesta- lia irá receber com o seu falecimento.
ção, no prazo de 10 (dez) dias, publicando-se, entre-
tanto, no Boletim Informativo (BI), apenas o resultado Art. 221 O policial será, também, promovido se, ao
dos eventuais recursos interpostos, para mera ciência falecer, integrava o quadro de promoção, indepen-
dos interessados (art. 183). dentemente de sua posição no mesmo, considera-
A promoção por antiguidade recai sobre o poli- das as vagas existentes na data do falecimento.
cial civil que tiver maior tempo de efetivo exercício
na classe, apurado até o último dia de cada semestre z Ascensão
(art. 186).
A promoção por merecimento será feita por Por fim, o Decreto Estadual também trata da ascen-
escolha entre os policiais civis que integrarem o qua- são, que é uma forma de promoção especial não de
dro de promoção por merecimento (QPM) obedecen- um cargo a outro, mas de uma categoria para outra.
do a feitura deste à ordem rigorosa de classificação Nos termos do art. 223, ascensão é a passagem da últi-
por pontos obtidos (art. 193). ma classe de uma categoria funcional para a classe ini-
Em nosso estudo, daremos maior enfoque nas cial de outra categoria funcional, na linha hierárquica
outras formas de promoção. Vejamos, por exemplo: definida na carreira policial.
A promoção por bravura, segundo o art. 217: A ascensão será feita mediante prova de seleção
e habilitação em curso específico, ministrado na Aca-
Art. 217 [...] é aquela conferida ao policial civil demia de Polícia, atendido o requisito de habilitação
pela conduta que resultar da prática de ato ou atos profissional comprovado por meio da apresentação
não-comuns de coragem e audácia e que, ultrapas- de diploma respectivo, devidamente registrado e
sando os limites normais do cumprimento do dever, observado o interstício na última classe à época da
representem feitos úteis às atividades policiais na inscrição na prova de seleção (§1º)
manutenção de segurança e ordem públicas, pelos O interstício para a ascensão será de setecentos e
resultados alcançados ou pelo exemplo altamente trinta (730) dias de efetivo exercício na classe. Uma
positivo deles emanados, concretizando-se, inde- vez feita a ascensão para a nova classe, o policial pro-
pendentemente do preenchimento de quaisquer vido por ascensão terá reiniciada a contagem de seu
outras condições. tempo de serviço.
Somente poderá ser provido por ascensão o poli-
Entende-se que a função policial apresenta diver- cial que obtiver, pelo menos, grau final cinquenta em
sos riscos para a vida do mesmo. Por isso, nada mais cada disciplina, nos cursos específicos, que terão a
justo do que premiar aqueles policiais que, diante de seguinte apuração, segundo o art. 229:
situações adversas, conseguem exercer suas funções
com perfeição e maestria, promovendo a segurança I – nível superior – quatrocentas horas/aulas;
II – nível técnico – trezentas e vinte horas/aulas;
e a paz dentro do Estado. É o caso, por exemplo, do
III – nível 1º grau – sem exigência de curso técnico–
policial que, mesmo estando fora do horário de servi- duzentas e quarenta horas/aulas;
ço, consegue impedir que pessoas armadas invadam IV – nível 1º grau – cento e sessenta horas/aula
e assaltem uma loja. A reação natural de qualquer ser
humano, nessas condições, costuma ser a de evitar A formalização dos atos relativos à ascensão será
qualquer tipo de conflito ou, até mesmo, a de fugir processada por um órgão específico, denominada
do local do assalto. Justamente por sua bravura, esse Secretaria Executiva da Comissão de Promoções.
policial merece ser promovido.
A bravura determinará a promoção do policial, Da Aposentadoria
mesmo que, do ato praticado, tenha resultado sua
morte ou invalidez (§ único, do art. 217). Resolvemos apresentar a aposentadoria em sepa-
O art. 219 trata da promoção “post-mortem”. É rado por dois motivos. O primeiro diz respeito ao
aquela em que o policial civil, independentemente próprio Decreto Estadual, que também trata da apo-
de sua situação na lista de antiguidade, vier a falecer sentadoria em separado dos demais benefícios.
com base em uma das seguintes situações: Além disso, o Regime Próprio de Previdência dos
Servidores Públicos (RPPS) também sofreu alterações
336 na chamada “reforma da previdência”, promulgada
pela Emenda Constitucional nº 103, 2019. Com isso,
temos dois textos normativos que, até o presente z Por tempo de serviço: 30
momento, dispõem sobre a aposentadoria. (homem) e 25 (mulher)
À luz da Constituição Federal (art. 40), o servidor
será aposentado: „ Proventos integrais;

z Por incapacidade permanente: para o trabalho, z Para o professor: 30


no cargo em que estiver investido, quando insus- anos (homem) e 25 anos
cetível de readaptação. O Texto Constitucional APOSENTADORIA (mulher)
explicita que será obrigatória a realização de ava- INVOLUNTÁRIA
liações periódicas para verificação da continuida- „ Proventos integrais;
de das condições que ensejaram a concessão da
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente z Por idade: 65 anos
federativo. (homem) e 60 anos
(mulher)
z Compulsoriamente: com proventos proporcionais
ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos
„ Proventos
de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de ida-
proporcionais.
de, na forma de lei complementar nº 152/2015. Essa
Lei complementar dispõe sobre a aposentadoria
compulsória com proventos proporcionais, sen- Essas “emendas” às Constituições Estaduais e Leis
do aplicável aos servidores ocupantes de cargos Orgânicas do Município ainda não foram elaboradas,
públicos da União, Estados, Municípios, Distrito motivo pelo qual a matéria não se encontra total-
Federal e suas autarquias e fundações; aos mem- mente esgotada. É provável que as regras presentes
bros do Poder Judiciário; aos membros do Ministé- na Constituição Estadual do Rio de Janeiro se alterem
rio Público; e aos membros da Defensoria Pública. com o passar dos anos.
z Voluntariamente: no âmbito da União, aos 62 (ses- O agente policial não recebe vencimentos e sim
senta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (ses- proventos. O art. 264 dispõe as hipóteses em que o
senta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito agente policial recebe proventos integrais:
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
na idade mínima estabelecida mediante emenda às I – no caso de aposentadoria voluntária;
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observa- II – quando a invalidez for consequência de aciden-
dos o tempo de contribuição e os demais requisitos te no exercício de suas atribuições ou em virtude de
estabelecidos em lei complementar do respectivo doença profissional;
III – quando acometido de tuberculose ativa, alie-
ente federativo.   
nação mental, neoplasia grave, estados adiantados
de Paget (osteíte deformante), com base nas conclu-
O texto do Decreto Estadual nº 3.044, de 1980, não sões de medicina especializada;
procura trazer muitos detalhes sobre tal benefício. IV – na inatividade, se acometido de qualquer das
Seu art. 263 apenas aduz que o agente policial será doenças especificadas no inciso anterior e decor-
aposentado: rente de acidente no exercício de suas atribuições
quando na atividade.
I – compulsoriamente;
II – voluntariamente; e
III – por invalidez. Importante!
Sobre os limites de idade e de tempo, o §1º dispõe, Com a entrada em vigor da Emenda Constitu-
apenas, que o policial será aposentado com limites de cional nº 103/2019, as regras para a aposenta-
idade e tempo de serviço fixados em lei. doria voluntária dos agentes públicos sofreram
Essa Lei, até o presente momento, é a Constituição algumas alterações. As chances de uma ques-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
do Estado do Rio de Janeiro, segundo o qual dispõe tão sobre essas novas regras caírem em uma
que, em termos de aposentadoria voluntária, o servi- prova deste ano (2021) são pequenas, mas é
dor público poderá se aposentar (art. 89, CERJ): importante se prevenir. Existem, também, regras
de transição, mais específicas, as quais é impor-
tante o candidato conhecer, ao menos um pouco,
z Aos 70 ou 75 anos de
sobre. Por isso, uma leitura da Emenda Consti-
APOSENTADORIA idade
tucional 103/2019, na sua íntegra, é altamente
COMPULSÓRIA recomendada.
„ Proventos
proporcionais.
Das Recompensas
z Decorrentes de acidente
em serviço, moléstia pro-
Por fim, o Decreto Estadual também regulamen-
APOSENTADORIA fissional ou doença grave,
ta sobre as recompensas a que o agente policial tem
POR INVALIDEZ contagiosa ou incurável
direito. Recompensa é o reconhecimento dos bons
PERMANENTE serviços prestados pelo policial. Vimos que o agente
„ Proventos integrais.
policial possui um regime de trabalho bastante
perigoso, motivo pelo qual a legislação costuma
abonar os agentes que se arriscam mais em serviço. 337
Por isso, esses agentes também merecem ser abonados Diante disso, nesta oportunidade estudaremos tal
com recompensas por fazer um bom trabalho. normal, mas sempre atentos à necessidade do estu-
As espécies de recompensas estão previstas no art. do da nova norma que em breve deverá ser cobrada
268. São: pelas bancas.
O procedimento licitatório tem como um dos seus
I – agraciamento com medalhas de “Mérito Poli- objetivos garantir à Administração Pública a condi-
cial”, na forma instituída em lei; ção mais vantajosa para a contratação pretendida.
II – elogios individuais e coletivos Aqui não podemos entender condição mais vantajosa
III – dispensa total do serviço até dez dias; necessariamente como o preço mais baixo. Veremos
IV – cancelamento de pena disciplinar.
que este é apenas um dos critérios possíveis.
A realização de licitação tem respaldo na própria
Constituição Federal. Vejamos o dispositivo correlato.
As medalhas de Mérito Policial são condecora-
ções que visam a elogiar a bravura do agente policial, Art. 37 (CF/88) A administração pública direta
visando à preservação da ordem pública, à defesa das e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
instituições ou o salvamento de vidas humana. É um Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obe-
ato revestido de diversas formalidades e que aumenta decerá aos princípios de legalidade, impessoalida-
a reputação do agente dentro da Polícia Civil. de, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
O elogio é parecido com a medalha de mérito poli- ao seguinte: [...]
XXI - ressalvados os casos especificados na legis-
cial. Mas, aqui, o ato a ser elogiado não precisa, neces-
lação, as obras, serviços, compras e alienações
sariamente, ser algo que põe em risco a vida do agente serão contratados mediante processo de licitação
policial (não é um ato de bravura). O agente pode rece- pública que assegure igualdade de condições a
ber um elogio, simplesmente, por reconhecimento ao todos os concorrentes, com cláusulas que estabele-
empenho com que vem realizando as atividades sob çam obrigações de pagamento, mantidas as condi-
sua competência. O elogio pode ser concedido por ções efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
motivos de alta organização, o que promove maior somente permitirá as exigências de qualificação
técnica e econômica indispensáveis à garantia do
eficiência para a execução de diversas tarefas.
cumprimento das obrigações.
A dispensa total do serviço é algo similar a uma
licença. Se um agente policial acaba cobrindo a jorna- Vemos que temos tanto o mandamento para reali-
da dele e de outro colega durante diversos dias, obvia- zação da licitação, como a possibilidade de exceções ao
mente ele deve estar exausto. Por isso, é justo que ele procedimento, as quais veremos em momento oportuno.
possa se afastar do seu cargo para descansar. Temos também a imposição de licitação para a
Além disso, o Decreto põe em maior destaque o prestação de serviços públicos, constante do art. 175
cancelamento da pena disciplinar. De fato, é um dos da Carta Magna.
elogios mais importantes, uma vez que ele trata jus-
tamente do cancelamento de uma sanção disciplinar, Art. 175 Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
apurada em processo administrativo. diretamente ou sob regime de concessão ou permis-
são, sempre através de licitação, a prestação de
Quem pode conceder dispensa total do serviço,
serviços públicos.
segundo o art. 269, são as seguintes pessoas:
O art. 1º, da Lei de Licitações (Lei nº 8.666, de
z até dez dias: O Secretário de Estado da Polícia Civil; 1993), traz as entidades que a ela se submetem, em
z até cinco dias: os dirigentes de órgãos subordinados complemento ao caput do art. 37, da CF, de 1988, ante-
diretamente ao Secretário de Estado da Polícia Civil; riormente reproduzido. Acompanhe a seguir:
z até dois dias: os demais dirigentes de órgãos, até o
nível de divisão, inclusive titulares de delegacias. Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licita-
ções e contratos administrativos pertinentes a obras,
Na apreciação do pedido de cancelamento da pena serviços, inclusive de publicidade, compras, aliena-
ções e locações no âmbito dos Poderes da União, dos
disciplinar, poderão ser levados em conta os relevan-
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
tes serviços prestados à segurança pública pelo poli- Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta
cial, por decisão do Secretário de Estado da Polícia Lei, além dos órgãos da administração direta, os fun-
Civil (art. 270). dos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as
empresas públicas, as sociedades de economia mista e
demais entidades controladas direta ou indiretamente
pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
LICITAÇÃO Nesse contexto, muito importante sabermos que as
sociedades de economia mista e empresas públicas que
INTRODUÇÃO
desempenham atividade econômica não estão obrigadas
a licitar na execução de suas atividades-fim, mas apenas
Sabemos que em breve as normas relativas ao pre- nas atividades-meio. Tal norma visa possibilitar a existên-
sente tema sofrerão considerável mudança. No entan- cia dessas entidades em um ambiente de mercado.
to, é provável que a cobrança da Lei nº 8.666, de 1993, Quanto à competência, a Constituição Federal impõe
continue a ocorrer por algum tempo, ainda incerto. que apenas a União poderá dispor sobre normas
338 gerais de licitação e contratação.
Art. 22 (CF/88) Compete privativamente à União Foi criada uma condição favorável para que seja con-
legislar sobre(...) siderada a ocorrência de empate. No caso do pregão, essa
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, diferença será de 5 %. Nas demais modalidades, 10 %.
em todas as modalidades, para as administrações Ocorrendo a situação prevista, será oportunizado
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da
à EPP ou ME ofertar preço menor que o do vencedor
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obe-
original. Caso se recuse a fazê-lo, a chance será conce-
decido o disposto no art. 37, XXI, e para as empre-
sas públicas e sociedades de economia mista, nos dida a outras EPP/ME que tenham obedecido à condi-
termos do art. 173, § 1°, III. ção de empate definida em lei.

PRINCÍPIOS Impessoalidade e Julgamento Objetivo

Além dos princípios aplicáveis à Administração Tal princípio tem ligação íntima com o princípio da
Pública como um todo (estudados em outra oportu- isonomia. Segundo o princípio da impessoalidade, não
nidade), temos princípios específicos para o proce- deverá ocorrer diferença de tratamento entre os licitan-
dimento licitatório. Eles constam do art. 3º, da Lei nº tes, devendo o processo ser pautado no interesse público.
8.666, de 1993 – Lei de Licitações: Já o princípio do julgamento objetivo impõe o jul-
gamento segundo critérios claros e objetivos definidos
Art. 3º A licitação destina-se a garantir a obser- no edital ou convite, sendo vedada a presença de cri-
vância do princípio constitucional da isonomia, a tério ou fator sigiloso.
seleção da proposta mais vantajosa para a adminis-
tração e a promoção do desenvolvimento nacional Publicidade
sustentável e será processada e julgada em estrita
conformidade com os princípios básicos da lega-
lidade, da impessoalidade, da moralidade, A melhor definição para o presente princípio
da igualdade, da publicidade, da probidade tem por base o seguinte comando da própria Lei de
administrativa, da vinculação ao instrumento Licitações.
convocatório, do julgamento objetivo e dos que
lhes são correlatos. Art. 3º (...)
§ 3º A licitação não será sigilosa, sendo públicos e
Vejamos a seguir cada um dos princípios: acessíveis ao público os atos de seu procedimento,
salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a res-
Isonomia pectiva abertura.

Segundo o princípio da isonomia todos os licitan- Vinculação ao Instrumento Convocatório


tes devem ser tratados de forma igual ou isonômica.
No entanto, uma das leituras possíveis do princípio O edital/convite impõe obrigações não só aos lici-
da isonomia é o tratamento diferenciado para aqueles tantes, mas também à Administração Pública, sendo a
que se encontrem em posição mais frágil ou inferior lei interna da licitação.
em relação aos demais.
Com base nisso, temos a flexibilização do princípio Adjudicação Compulsória
da isonomia, tendo a lei elegido os seguintes critérios
de desempate de acordo com a maneira ou local como Uma vez realizado o certame e declarado o ven-
foram produzidos os bens ou prestados os serviços. cedor, não poderá a Administração Pública atribuir
(adjudicar) o objeto da licitação a outro vencedor. Ou
z No país; seja, o objeto será compulsoriamente adjudicado ao
z Por empresa brasileira; vencedor da licitação.
z Por empresa que invista em tecnologia no país; Tal princípio não afasta as possibilidades de revo-
z Empresa que reserva cargos para PCD (pessoas com gação ou anulação da licitação, conforme o caso.
deficiência) / atendam às regras de acessibilidade.
CONTRATAÇÃO DIRETA NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Outra possibilidade de relativização do princípio
da isonomia é a margem de preferência para produ-
Dispensa e Inexigibilidade
tos manufaturados / serviços nacionais. Essa margem
será estabelecida por meio de estudos revistos perio-
Vimos que, por expresso comando constitucional,
dicamente, em prazo não superior a 5 anos, levando
em consideração os seguintes fatores: a regra na Administração Pública será a contratação
por meio de licitação. No entanto, temos exceções,
z Geração de emprego e renda; que são conhecidas como contratação direta. São as
z Efeito na arrecadação de tributos federais, esta- seguintes hipóteses:
duais e municipais;
z Desenvolvimento e inovação tecnológica realiza- z Licitação inexigível;
dos no País; z Licitação dispensável;
z Custo adicional dos produtos e serviços; z Licitação dispensada.
z Em suas revisões, análise retrospectiva de resultados.
Vejamos a seguir os detalhes de cada uma das
Outra relativização do princípio da isonomia bas- hipóteses:
tante cobrada em provas é a preferência para empre-
sas de pequeno porte (EPP) e microempresas (ME). 339
Licitação Inexigível z Dação em pagamento;
z Doação, permitida exclusivamente para outro
Essa primeira informação é muito importante órgão ou entidade da administração pública, de
para o entendimento do tema: a licitação será inexigí- qualquer esfera de governo;
vel quando inexistir a possibilidade de competição. z Permuta, por outro imóvel que seja destina-
Essa é a regra geral da hipótese. No entanto, a lei do ao atendimento das finalidades precípuas da
traz situações que já elenca como competição inviá- administração, cujas necessidades de instalação e
vel. Vejamos a literalidade do art. 25, da Lei nº 8.666, localização condicionem a sua escolha, desde que
de 1993: o preço seja compatível com o valor de mercado,
segundo avaliação prévia;
Art. 25 É inexigível a licitação quando houver z Investidura;
inviabilidade de competição, em especial: z Venda a outro órgão ou entidade da administra-
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou ção pública, de qualquer esfera de governo;
gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, z Alienação gratuita ou onerosa, aforamento, con-
empresa ou representante comercial exclusivo, cessão de direito real de uso, locação ou permissão
vedada a preferência de marca, devendo a compro- de uso de bens imóveis residenciais construídos,
vação de exclusividade ser feita através de atesta-
destinados ou efetivamente utilizados no âmbito
do fornecido pelo órgão de registro do comércio do
de programas habitacionais ou de regularização
local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o
serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação
fundiária de interesse social desenvolvidos por
Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes; órgãos ou entidades da administração pública;
II - para a contratação de serviços técnicos enu- z Procedimentos de legitimação de posse de que tra-
merados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, ta o art. 29, da Lei nº 6.383, de 7 de dezembro de
com profissionais ou empresas de notória especia- 1976, mediante iniciativa e deliberação dos órgãos
lização, vedada a inexigibilidade para serviços de da Administração Pública em cuja competência
publicidade e divulgação; legal inclua-se tal atribuição;
III - para contratação de profissional de qualquer z Alienação gratuita ou onerosa, aforamento, con-
setor artístico, diretamente ou através de empre- cessão de direito real de uso, locação ou permissão
sário exclusivo, desde que consagrado pela crítica de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito
especializada ou pela opinião pública. local com área de até 250 m² (duzentos e cinquenta
metros quadrados) e inseridos no âmbito de pro-
A hipótese do inciso II depende do art. 13 da mes- gramas de regularização fundiária de interesse
ma Lei. Vejamos: social desenvolvidos por órgãos ou entidades da
administração pública;
Art. 13 Para os fins desta Lei, consideram-se servi- z Alienação e concessão de direito real de uso, gra-
ços técnicos profissionais especializados os traba- tuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União
lhos relativos a: na Amazônia Legal onde incidam ocupações até o
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos bási- limite de 15 (quinze) módulos fiscais ou 1.500ha
cos ou executivos;
(mil e quinhentos hectares), para fins de regulari-
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
zação fundiária, atendidos os requisitos legais;
III - assessorias ou consultorias técnicas e audito-
rias financeiras ou tributárias;
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de Bens Móveis
obras ou serviços;
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou Dependerá de avaliação prévia e a licitação será
administrativas; dispensada nos seguintes casos:
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII - restauração de obras de arte e bens de valor z Doação, permitida exclusivamente para fins e uso
histórico. de interesse social, após avaliação de sua opor-
tunidade e conveniência socioeconômica, relativa-
Licitação Dispensada mente à escolha de outra forma de alienação;
z Permuta, permitida exclusivamente entre órgãos
Na presente hipótese, a realização de procedimen- ou entidades da Administração Pública;
to licitatório é dispensada pela lei. Não há discriciona- z Venda de ações, que poderão ser negociadas em
riedade para fazer ou não o procedimento, a lei está bolsa, observada a legislação específica;
impondo que ele não será realizado. z Venda de títulos, na forma da legislação pertinente;
A lei traz uma lista extensa, porém exaustiva de hipó- z Venda de bens produzidos ou comercializados por
teses. Ou seja, não cabe ao agente público criar outras órgãos ou entidades da Administração Pública, em
hipóteses que não as já constantes da Lei de Licitações. virtude de suas finalidades;
Vejamos as hipóteses de licitação dispensada, que z Venda de materiais e equipamentos para outros
são divididas pela lei em relacionadas a bens móveis órgãos ou entidades da Administração Pública,
ou imóveis. sem utilização previsível por quem deles dispõe.

Bens Imóveis Licitação Dispensável

Dependerá de autorização legislativa para A licitação dispensável é aquela em que a lei deixa
órgãos da administração direta e entidades autárqui- ao agente público a possibilidade de decidir se faz ou
cas e fundacionais, e, para todos, inclusive as enti- dispensa o procedimento licitatório.
dades paraestatais, dependerá de avaliação prévia, Os casos aqui previstos também são exaustivos.
340 dispensada a licitação nos seguintes casos: Vejamos o art. 24. Leia com atenção agora, sem se
preocupar em decorar, ao final você terá uma dica de instituição dedicada à recuperação social do
para facilitar. preso, desde que a contratada detenha inquestio-
nável reputação ético-profissional e não tenha fins
Art. 24 É dispensável a licitação: lucrativos;
I - para obras e serviços de engenharia de valor XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos ter-
até R$ 33.000,00, desde que não se refiram a parcelas mos de acordo internacional específico aprovado
de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras pelo Congresso Nacional, quando as condições
e serviços da mesma natureza e no mesmo local que ofertadas forem manifestamente vantajosas para o
possam ser realizadas conjunta e concomitantemente; Poder Público;
II - para outros serviços e compras de valor até XV - para a aquisição ou restauração de obras de
R$ 17.600,00 e para alienações, nos casos previstos arte e objetos históricos, de autenticidade certifica-
nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de da, desde que compatíveis ou inerentes às finalida-
um mesmo serviço, compra ou alienação de maior des do órgão ou entidade.
vulto que possa ser realizada de uma só vez; XVI - para a impressão dos diários oficiais, de for-
III - nos casos de guerra ou grave perturbação mulários padronizados de uso da administração, e
da ordem; de edições técnicas oficiais, bem como para pres-
IV - nos casos de emergência ou de calamidade tação de serviços de informática a pessoa jurídica
pública, quando caracterizada urgência de aten- de direito público interno, por órgãos ou entidades
dimento de situação que possa ocasionar prejuízo que integrem a Administração Pública, criados
ou comprometer a segurança de pessoas, obras, para esse fim específico;
serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou XVII - para a aquisição de componentes ou peças
particulares, e somente para os bens necessários ao de origem nacional ou estrangeira, necessários à
atendimento da situação emergencial ou calamito-
manutenção de equipamentos durante o período de
sa e para as parcelas de obras e serviços que pos-
garantia técnica, junto ao fornecedor original desses
sam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento
equipamentos, quando tal condição de exclusividade
e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, conta-
for indispensável para a vigência da garantia;
dos da ocorrência da emergência ou calamidade,
XVIII - nas compras ou contratações de serviços
vedada a prorrogação dos respectivos contratos;
V - quando não acudirem interessados à licita- para o abastecimento de navios, embarcações,
ção anterior e esta, justificadamente, não puder ser unidades aéreas ou tropas e seus meios de desloca-
repetida sem prejuízo para a Administração, manti- mento quando em estada eventual de curta duração
das, neste caso, todas as condições preestabelecidas; em portos, aeroportos ou localidades diferentes de
VI - quando a União tiver que intervir no domí- suas sedes, por motivo de movimentação operacio-
nio econômico para regular preços ou normalizar nal ou de adestramento, quando a exiguidade dos
o abastecimento; prazos legais puder comprometer a normalidade e
VII - quando as propostas apresentadas con- os propósitos das operações e desde que seu valor
signarem preços manifestamente superiores não exceda ao limite previsto na alínea “a” do inci-
aos praticados no mercado nacional, ou forem so II do art. 23 desta Lei;
incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais XIX - para as compras de material de uso pelas For-
competentes, casos em que, observado o parágrafo ças Armadas, com exceção de materiais de uso pes-
único do art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, soal e administrativo, quando houver necessidade de
será admitida a adjudicação direta dos bens ou ser- manter a padronização requerida pela estrutura de
viços, por valor não superior ao constante do regis- apoio logístico dos meios navais, aéreos e terrestres,
tro de preços, ou dos serviços; mediante parecer de comissão instituída por decreto;
VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de XX - na contratação de associação de portadores
direito público interno, de bens produzidos ou ser- de deficiência física, sem fins lucrativos e de com-
viços prestados por órgão ou entidade que integre provada idoneidade, por órgãos ou entidades da
a Administração Pública e que tenha sido criado Administração Pública, para a prestação de servi-
para esse fim específico em data anterior à vigência ços ou fornecimento de mão-de-obra, desde que o
desta Lei, desde que o preço contratado seja compa- preço contratado seja compatível com o praticado
tível com o praticado no mercado; no mercado.
IX - quando houver possibilidade de comprometi- XXI - para a aquisição ou contratação de produto
mento da segurança nacional, nos casos estabeleci- para pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso
dos em decreto do Presidente da República, ouvido
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
de obras e serviços de engenharia, a 20% (vinte por
o Conselho de Defesa Nacional; cento) do valor de que trata a alínea “b” do inciso I
X - para a compra ou locação de imóvel destinado
do caput do art. 23;
ao atendimento das finalidades precípuas da admi-
XXII - na contratação de fornecimento ou supri-
nistração, cujas necessidades de instalação e locali-
mento de energia elétrica e gás natural com conces-
zação condicionem a sua escolha, desde que o preço
sionário, permissionário ou autorizado, segundo
seja compatível com o valor de mercado, segundo
as normas da legislação específica;
avaliação prévia;
XI - na contratação de remanescente de obra, ser- XXIII - na contratação realizada por empresa
viço ou fornecimento, em conseqüência de rescisão pública ou sociedade de economia mista com suas
contratual, desde que atendida a ordem de classi- subsidiárias e controladas, para a aquisição ou
ficação da licitação anterior e aceitas as mesmas alienação de bens, prestação ou obtenção de servi-
condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclu- ços, desde que o preço contratado seja compatível
sive quanto ao preço, devidamente corrigido; com o praticado no mercado.
XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e XXIV - para a celebração de contratos de prestação
outros gêneros perecíveis, no tempo necessário de serviços com as organizações sociais, qualifi-
para a realização dos processos licitatórios cor- cadas no âmbito das respectivas esferas de gover-
respondentes, realizadas diretamente com base no no, para atividades contempladas no contrato de
preço do dia; gestão.
XIII - na contratação de instituição brasileira incum- XXV - na contratação realizada por Instituição
bida regimental ou estatutariamente da pesquisa, Científica e Tecnológica - ICT ou por agência de
do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou fomento para a transferência de tecnologia e para 341
o licenciamento de direito de uso ou de exploração licitação inexigível, trabalhando por exclusão para
de criação protegida. enquadrar uma questão que eventualmente aborde
XXVII - na contratação da coleta, processamento e hipótese de licitação dispensável.
comercialização de resíduos sólidos urbanos reci- Para diferenciar licitação dispensada de licitação
cláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de dispensável, se atenha ao significado das palavras
coleta seletiva de lixo, efetuados por associações para que não ocorra engano na hora da prova.
ou cooperativas formadas exclusivamente por pes- Quanto à discricionariedade das três hipóteses de
soas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder contratação direta, temos o seguinte.
público como catadores de materiais recicláveis,
com o uso de equipamentos compatíveis com as z Licitação inexigível: não é possível a concorrên-
normas técnicas, ambientais e de saúde pública. cia – ato vinculado;
XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, z Licitação dispensada: é possível a concorrência –
produzidos ou prestados no País, que envolvam,
ato vinculado;
cumulativamente, alta complexidade tecnológica
z Licitação dispensável: é possível a concorrência
e defesa nacional, mediante parecer de comissão
especialmente designada pela autoridade máxima – discricionário.
do órgão.
XXIX – na aquisição de bens e contratação de ser- MODALIDADES
viços para atender aos contingentes militares das
Forças Singulares brasileiras empregadas em ope- As modalidades de licitações são formas específi-
rações de paz no exterior, necessariamente justifi- cas por meio das quais será realizada a licitação. Cada
cadas quanto ao preço e à escolha do fornecedor ou uma tem suas peculiaridades com base nos objetivos
executante e ratificadas pelo Comandante da Força. a serem atingidos.
XXX - na contratação de instituição ou organiza- A Lei de Licitações traz 5 modalidades diferentes,
ção, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, que são as seguintes: concorrência, tomada de preços,
para a prestação de serviços de assistência técnica convite, concurso e leilão. Há outras modalidades no
e extensão rural no âmbito do Programa Nacional ordenamento jurídico, mas que escapam ao escopo do
de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricul- nosso estudo.
tura Familiar e na Reforma Agrária, instituído por A criação de modalidades está dentro da compe-
lei federal. tência para legislar sobre normas gerais de licitação e
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento contratações, por isso só poderá ser feita pela União.
do disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei no 10.973, Vamos conhecer agora cada uma das modalidades
de 2 de dezembro de 2004, observados os princípios de licitação.
gerais de contratação dela constantes.
XXXII - na contratação em que houver transferên-
Concorrência
cia de tecnologia de produtos estratégicos para o
Sistema Único de Saúde - SUS, no âmbito da Lei no
8.080, de 19 de setembro de 1990, conforme elenca- Aqui temos a modalidade voltada para os contratos
dos em ato da direção nacional do SUS, inclusive de maior valor, portanto mais complexa. A lei impõe a
por ocasião da aquisição destes produtos durante concorrência para as seguintes hipóteses:
as etapas de absorção tecnológica.
XXXIII - na contratação de entidades privadas sem z Obras de engenharia com valor superior a R$
fins lucrativos, para a implementação de cisternas 3.300.000,00 e compras e outros serviços que não
ou outras tecnologias sociais de acesso à água para sejam de engenharia que tenham valor acima de
consumo humano e produção de alimentos, para R$ 1.400.000,00;
beneficiar as famílias rurais de baixa renda atingi- z Compras e alienações de bens imóveis – exceto
das pela seca ou falta regular de água. adquiridos por meio de processo judicial ou dação
XXXIV - para a aquisição por pessoa jurídica de em pagamento, hipóteses em que poderá ser ado-
direito público interno de insumos estratégicos tada a modalidade de leilão;
para a saúde produzidos ou distribuídos por funda- z Concessões de direito real de uso;
ção que, regimental ou estatutariamente, tenha por z Para adoção do sistema de registro de preços;
finalidade apoiar órgão da administração pública z Concessão de serviços públicos;
direta, sua autarquia ou fundação em projetos de z Licitação internacional.
ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento insti-
tucional, científico e tecnológico e estímulo à inova- Ainda segundo a lei, concorrência é a modalidade
ção, inclusive na gestão administrativa e financeira de licitação entre quaisquer interessados que, na fase
necessária à execução desses projetos, ou em par- inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir
cerias que envolvam transferência de tecnologia os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edi-
de produtos estratégicos para o Sistema Único de tal para execução de seu objeto.
Saúde – SUS, nos termos do inciso XXXII deste arti- Na concorrência o prazo do edital deve ser de 45
go, e que tenha sido criada para esse fim específico dias nos casos de contrato a celebrar segundo regi-
em data anterior à vigência desta Lei, desde que o
me de empreitada integral ou o tipo da licitação for
preço contratado seja compatível com o praticado
melhor técnica ou técnica e preço. Para os demais
no mercado.
casos o prazo será de 30 dias.
XXXV - para a construção, a ampliação, a reforma
e o aprimoramento de estabelecimentos penais,
desde que configurada situação de grave e iminente Veja a definição de empreitada integral constante
risco à segurança pública. da lei.

Como você mesmo viu, são muitos casos de licitação Empreitada integral: quando se contrata um
dispensável. Então a melhor forma de fixar o conhe- empreendimento em sua integralidade, compreenden-
342 cimento é decorar os casos de licitação dispensada e do todas as etapas das obras, serviços e instalações
necessárias, sob inteira responsabilidade da contratada No caso do convite, o instrumento convocatório é a
até a sua entrega ao contratante em condições de entra- carta-convite, não sendo imposta pela lei a publicação
da em operação, atendidos os requisitos técnicos e legais de edital.
para sua utilização em condições de segurança estrutural Seguindo a lógica das modalidades anteriores,
e operacional e com as características adequadas às fina- aqui teremos valores menores do que vimos na toma-
lidades para que foi contratada (alínea “e”, inciso VIII, do da de preços. Ao final no tópico teremos um quadro
art. 6º, da Lei nº 8.666, de 1993). comparativo para uma visão geral. Vejamos:
Sobre os tipos de licitação, entenderemos cada um
deles mais adiante. z Obras e serviços de engenharia: R$ 330.000,00.
z Compras e outros serviços: R$ 176.000,00.
Tomada de Preços
Ainda, poderá ser usada esta modalidade quando,
Vamos entender a tomada de preços por meio da em licitações internacionais, não houver fornecedor
definição constante da Lei de Licitações. de bens no Brasil, obedecidos os limites anteriormen-
te definidos.
Art. 22 São modalidades de licitação: O prazo mínimo para o recebimento das propostas
II - tomada de preços; será de 5 dias úteis, sendo de 2 dias o prazo para apre-
§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licita- sentação de recursos.
ção entre interessados devidamente cadastrados De acordo com o que vimos das três modalidades
ou que atenderem a todas as condições exigidas até então, vejamos um quadro resumo com os valores.
para cadastramento até o terceiro dia anterior à
data do recebimento das propostas, observada a
OBRAS E COMPRAS
necessária qualificação.
MODALIDADE SERVIÇOS DE E OUTROS
ENGENHARIA SERVIÇOS
Vemos que aqui teremos por um lado a existência
de um cadastro prévio e por outro um prazo máximo Concorrência Acima de R$ Acima de R$
para aqueles que desejem se cadastrar para participar 3.300.000,00 1.430.000,00
do certame. Tomada de Até de R$ Até de R$
Os limites impostos pela lei para o uso dessa moda- Preços 3.300.000,00 1.430.000,00
lidade estão logo abaixo do que conhecemos para a
Convite Até de R$ Até de R$
concorrência. São eles os seguintes:
330.000,00 176.000,00
z Obras e serviços de engenharia: R$ 3.300.000,00.
z Compras e outros serviços: R$ 1.430.000,00. Concurso

O prazo para recebimento das propostas será de Seguindo em frente com nossos estudos, vejamos a
trinta dias para tomada de preços, quando a licitação definição legal para a modalidade concurso.
for do tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”, sen-
do de 15 dias nos demais casos. Art. 22 São modalidades de licitação: [...]
IV – concurso; [...]
Convite § 4º Concurso é a modalidade de licitação entre
quaisquer interessados para escolha de traba-
lho técnico, científico ou artístico, mediante a
Vejamos mais uma vez a literalidade da lei para
instituição de prêmios ou remuneração aos
conhecermos a definição da presente modalidade.
vencedores, conforme critérios constantes de edi-
tal publicado na imprensa oficial com antecedên-
Art. 22 São modalidades de licitação:
cia mínima de 45 (quarenta e cinco) dias.
III - convite;
§ 3º Convite é a modalidade de licitação entre inte-
ressados do ramo pertinente ao seu objeto, cadas-
Diferentemente do que vimos para as três modali-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
trados ou não, escolhidos e convidados em dades anteriores, aqui não temos limitações de valo-
número mínimo de 3 (três) pela unidade adminis- res, mas apenas o direcionamento da finalidade do
trativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia procedimento (natureza do trabalho contratado).
do instrumento convocatório e o estenderá aos Segundo a Lei de Licitações, ressalvados os casos
demais cadastrados na correspondente espe- de inexigibilidade de licitação, os contratos para a
cialidade que manifestarem seu interesse com prestação de serviços técnicos profissionais especia-
antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da lizados deverão, preferencialmente, ser celebrados
apresentação das propostas. mediante a realização de concurso, com estipulação
prévia de prêmio ou remuneração.
Aqui temos dois tipos de participantes: os convi- Cuidado com o termo utilizado pelo examinador
dados (em número mínimo de 3) e os não convidados na hora da prova. Não confunda preferencialmente
(limite de 24 horas de antecedência à apresentação com necessariamente, por exemplo.
das propostas). O concurso ser precedido de regulamento próprio,
A lei traz ainda que existindo na praça mais de 3 a ser obtido pelos interessados no local indicado no
possíveis interessados, a cada novo convite, realizado edital. O regulamento deverá indicar.
para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório o
convite a, no mínimo, mais um interessado, enquan- Art. 52 [...]
to existirem cadastrados não convidados nas últimas § 1º [...]
licitações. I- a qualificação exigida dos participantes; 343
II- as diretrizes e a forma de apresentação do supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva
trabalho; em geral e, em particular, para a elaboração de estudos
III- as condições de realização do concurso e os técnicos preliminares e projetos básicos e executivos
prêmios a serem concedidos.
A lei traz comando específico para a contração de
O julgamento será feito por uma comissão especial bens e serviços de informática. Vejamos:
integrada por pessoas de reputação ilibada e reconhe-
cido conhecimento da matéria em exame, servidores Art. 45 [...]
públicos ou não. §4º Para contratação de bens e serviços de informá-
tica, a administração observará o disposto no art. 3o
Leilão da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991, levando em
conta os fatores especificados em seu parágrafo 2º e
Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer adotando obrigatoriamente o tipo de licitação “téc-
interessados para a venda de bens móveis inserví- nica e preço”, permitido o emprego de outro tipo de
veis para a administração ou de produtos legalmente licitação nos casos indicados em decreto do Poder
apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de Executivo.
bens imóveis cuja aquisição haja derivado de pro-
cedimentos judiciais ou de dação em pagamento, Nas licitações do tipo “melhor técnica” será ado-
a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao tado o seguinte procedimento claramente explicitado
valor da avaliação
no instrumento convocatório, o qual fixará o preço
Para o caso de alienação de bens móveis, a lei impõe
o limite de R$ 1.430.000,00, conforme § 6º, do art. 17. máximo que a Administração se propõe a pagar:
Não há limitação para o caso de bens imóveis, des-
de que derivados de procedimentos judiciais ou de Art. 46 [...]
dação em pagamento. Lembrando que a lei, em seu § 1º [...]
art. 19, impõe as seguintes regras: I - serão abertos os envelopes contendo as pro-
postas técnicas exclusivamente dos licitantes pre-
z Avaliação dos bens alienáveis; viamente qualificados e feita então a avaliação e
z Comprovação da necessidade ou utilidade da classificação destas propostas de acordo com os
alienação; critérios pertinentes e adequados ao objeto licitado,
z Adoção do procedimento licitatório, sob a modali- definidos com clareza e objetividade no instrumen-
dade de concorrência ou leilão. to convocatório e que considerem a capacitação e a
experiência do proponente, a qualidade técnica da
Todo bem a ser leiloado será previamente avaliado proposta, compreendendo metodologia, organiza-
pela Administração para fixação do preço mínimo de ção, tecnologias e recursos materiais a serem uti-
arrematação. lizados nos trabalhos, e a qualificação das equipes
Os bens arrematados serão pagos à vista ou no
técnicas a serem mobilizadas para a sua execução;
percentual estabelecido no edital, não inferior a 5%
II - uma vez classificadas as propostas técnicas,
e, após a assinatura da respectiva ata lavrada no local
proceder-se-á à abertura das propostas de preço
do leilão, imediatamente entregues ao arrematante, o
dos licitantes que tenham atingido a valorização
qual se obrigará ao pagamento do restante no prazo
estipulado no edital de convocação, sob pena de per- mínima estabelecida no instrumento convocató-
der em favor da Administração o valor já recolhido. rio e à negociação das condições propostas, com
Nos leilões internacionais, o pagamento da parcela a proponente melhor classificada, com base nos
à vista poderá ser feito em até vinte e quatro horas. orçamentos detalhados apresentados e respectivos
O edital de leilão deve ser amplamente divulgado, preços unitários e tendo como referência o limite
principalmente no município em que se realizará. representado pela proposta de menor preço entre
os licitantes que obtiveram a valorização mínima;
TIPOS III - no caso de impasse na negociação anterior, pro-
cedimento idêntico será adotado, sucessivamente,
Vejamos agora os tipos de licitação que são previs- com os demais proponentes, pela ordem de classifica-
tos na Lei nº 8.666, de 1993. Os tipos serão utilizados ção, até a consecução de acordo para a contratação;
no momento do julgamento de cada proposta. IV - as propostas de preços serão devolvidas intac-
tas aos licitantes que não forem preliminarmente
z Menor preço: quando o critério de seleção da habilitados ou que não obtiverem a valorização
proposta mais vantajosa para a Administração mínima estabelecida para a proposta técnica.
determinar que será vencedor o licitante que apre-
Nas licitações do tipo “técnica e preço” será ado-
sentar a proposta de acordo com as especificações
tado, adicionalmente ao constante acima, o
do edital ou convite e ofertar o menor preço;
seguinte procedimento claramente explicitado no
z Melhor técnica;
z Técnica e preço; instrumento convocatório:
z Maior lance ou oferta, nos casos de alienação/con- I - será feita a avaliação e a valorização das pro-
cessão de uso real de bem. postas de preços, de acordo com critérios objetivos
preestabelecidos no instrumento convocatório;
Os tipos de licitação “melhor técnica” ou “técnica e II - a classificação dos proponentes far-se-á de acor-
preço” serão utilizados exclusivamente para serviços do com a média ponderada das valorizações das pro-
de natureza predominantemente intelectual, em espe- postas técnicas e de preço, de acordo com os pesos
344 cial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização, preestabelecidos no instrumento convocatório.
PROCEDIMENTO b) cronograma de desembolso máximo por período,
em conformidade com a disponibilidade de recur-
Fases da Licitação sos financeiros;
c) critério de atualização financeira dos valores
O procedimento licitatório pode ser subdividido a serem pagos, desde a data final do período de
adimplemento de cada parcela até a data do efetivo
em duas fases: interna e externa. A fase interna inclui
pagamento;
todas as medidas das quais não participam os licitan-
d) compensações financeiras e penalizações, por
tes (formação da comissão de licitação, pesquisas de
eventuais atrasos, e descontos, por eventuais ante-
preços, preparação do instrumento convocatório). cipações de pagamentos;
Na fase externa, temos uma sequência de eventos e) exigência de seguros, quando for o caso;
que carecem de publicidade para que possam gerar XV - instruções e normas para os recursos previstos
efeitos. Em resumo, são os seguintes passos: con- nesta Lei;
vocação, recebimento de documentos e propostas, XVI - condições de recebimento do objeto da
habilitação, julgamento e classificação, homologação, licitação;
adjudicação e assinatura do contrato. XVII - outras indicações específicas ou peculiares
da licitação.
Edital
A lei também traz lista exemplificativa de docu-
O edital é a lei interna da licitação e vincula tanto mentos que podem ser anexos ao edital.
os licitantes, quanto a própria Administração Pública.
z O projeto básico e/ou executivo, com todas as suas par-
Art. 40 O edital conterá no preâmbulo o número de tes, desenhos, especificações e outros complementos;
ordem em série anual, o nome da repartição inte- z Orçamento estimado em planilhas de quantitati-
ressada e de seu setor, a modalidade, o regime de vos e preços unitários;
execução e o tipo da licitação, o local, dia e hora z A minuta do contrato a ser firmado entre a Admi-
para recebimento da documentação e proposta, nistração e o licitante vencedor;
bem como para início da abertura dos envelopes, e z As especificações complementares e as normas de
indicará, obrigatoriamente, o seguinte: execução pertinentes à licitação.
I - objeto da licitação, em descrição sucinta e clara;
II - prazo e condições para assinatura do con- Vamos conhecer dois conceitos importantes, cita-
trato ou retirada dos instrumentos, para execução dos acima: projeto básico e projeto executivo , presen-
do contrato e para entrega do objeto da licitação; tes nos incisos IX e X, do art. 6º, da lei em estudo.
III - sanções para o caso de inadimplemento;
IV - local onde poderá ser examinado e adquirido o
Projeto Básico
projeto básico;
V - se há projeto executivo disponível na data
da publicação do edital de licitação e o local onde
Conjunto de elementos necessários e suficientes,
possa ser examinado e adquirido; com nível de precisão adequado, para caracterizar
VI - condições para participação na licitação e a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços
forma de apresentação das propostas; objeto da licitação, elaborado com base nas indica-
VII - critério para julgamento, com disposições ções dos estudos técnicos preliminares, que assegu-
claras e parâmetros objetivos; rem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do
VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios impacto ambiental do empreendimento, e que possi-
de comunicação à distância em que serão fornecidos bilite a avaliação do custo da obra e a definição dos
elementos, informações e esclarecimentos relativos métodos e do prazo de execução, devendo conter os
à licitação e às condições para atendimento das obri- seguintes elementos:
gações necessárias ao cumprimento de seu objeto;
IX - condições equivalentes de pagamento entre z Desenvolvimento da solução escolhida de forma a
empresas brasileiras e estrangeiras, no caso de lici- fornecer visão global da obra e identificar todos os
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tações internacionais; seus elementos constitutivos com clareza;
X - o critério de aceitabilidade dos preços unitário e z Soluções técnicas globais e localizadas, suficiente-
global, conforme o caso, permitida a fixação de pre- mente detalhadas, de forma a minimizar a neces-
ços máximos e vedados a fixação de preços míni- sidade de reformulação ou de variantes durante
mos, critérios estatísticos ou faixas de variação em as fases de elaboração do projeto executivo e de
relação a preços de referência;
realização das obras e montagem;
XI - critério de reajuste, que deverá retratar a
z Identificação dos tipos de serviços a executar e
variação efetiva do custo de produção, admitida a
de materiais e equipamentos a incorporar à obra,
adoção de índices específicos ou setoriais, desde a
bem como suas especificações que assegurem os
data prevista para apresentação da proposta, ou do
orçamento a que essa proposta se referir, até a data melhores resultados para o empreendimento, sem
do adimplemento de cada parcela; frustrar o caráter competitivo para a sua execução;
XIII - limites para pagamento de instalação e mobi- z Informações que possibilitem o estudo e a dedução
lização para execução de obras ou serviços que de métodos construtivos, instalações provisórias e
serão obrigatoriamente previstos em separado das condições organizacionais para a obra, sem frus-
demais parcelas, etapas ou tarefas; trar o caráter competitivo para a sua execução;
XIV - condições de pagamento, prevendo: z Subsídios para montagem do plano de licitação e
a) prazo de pagamento não superior a trinta dias, gestão da obra, compreendendo a sua programa-
contado a partir da data final do período de adim- ção, a estratégia de suprimentos, as normas de fis-
plemento de cada parcela; calização e outros dados necessários em cada caso; 345
z Orçamento detalhado do custo global da obra, fun- A lei impõe um prazo mínimo entre a publicação
damentado em quantitativos de serviços e forneci- do aviso e a data da entrega das propostas. Vejamos
mentos propriamente avaliados; um quadro que resume os prazos impostos.

Projeto Executivo PRAZO MÍNIMO


Modalidade Prazo (dias) Tipo
O conjunto dos elementos necessários são suficien-
tes à execução completa da obra, de acordo com as Concursos 45 Corridos
normas pertinentes da Associação Brasileira de Nor- 45 (empreitada
mas Técnicas - ABNT; integral ou tipo
O art. 7º traz a sequência que deve ser obedecida “melhor técnica” Corridos
pelos procedimentos licitatórios, abordando os con- Concorrência ou “técnica e
ceitos colocados acima. preço”)
30 (outros) Corridos
Art. 7º As licitações para a execução de obras e para
a prestação de serviços obedecerão ao disposto nes- 30 (tipo “melhor
te artigo e, em particular, à seguinte sequência: técnica” ou “técni- Corridos
I - projeto básico; Tomada de preços ca e preço”)
II - projeto executivo;
III - execução das obras e serviços. 15(outros) Corridos

A execução de cada etapa será obrigatoriamen- Leilão 15 Corridos


te precedida da conclusão e aprovação, pela auto- Pregão 8 Úteis
ridade competente, dos trabalhos relativos às etapas
Convite 5 Úteis
anteriores, à exceção do projeto executivo, o qual
poderá ser desenvolvido concomitantemente com
a execução das obras e serviços, desde que também Habilitação
autorizado pela Administração.
As obras e os serviços somente poderão ser lici- Nessa fase será verificado se cada participante tem
tados quando: condições de atuar no processo licitatório. Também
conhecida como fase subjetiva.
Art. 7º [...] Aqui ocorrerá a abertura dos envelopes contendo
§ 2º [...]
a documentação referente à habilitação dos concor-
I - houver projeto básico aprovado pela autoridade
rentes. Os que eventualmente sejam considerados
competente e disponível para exame dos interessa-
dos em participar do processo licitatório; inabilitados, terão os envelopes com as respectivas
II - existir orçamento detalhado em planilhas que propostas devolvidos lacrados.
expressem a composição de todos os seus custos Exigir-se-á dos interessados, exclusivamente, docu-
unitários; mentação relativa a (art. 27, Lei n° 8.666, de 1993):
III - houver previsão de recursos orçamentários
que assegurem o pagamento das obrigações decor- Art. 27 [...]
rentes de obras ou serviços a serem executadas no I. Habilitação jurídica;
exercício financeiro em curso, de acordo com o res- II. Qualificação técnica;
pectivo cronograma; III. Qualificação econômico-financeira;
IV - o produto dela esperado estiver contemplado IV. Regularidade fiscal e trabalhista;
nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, quan- V. Ao cumprimento da proibição de trabalho notur-
do for o caso. no, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e
de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos,
Os avisos contendo os resumos dos editais das salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze
concorrências, das tomadas de preços, dos concursos anos, de acordo com a CF/88.
e dos leilões, embora realizados no local da repartição
interessada, deverão ser publicados com antecedência, A documentação relativa à habilitação jurídica,
no mínimo, por uma vez (art. 21): conforme o caso, consistirá em (art. 28):
Art. 21 [...]
I . no Diário Oficial da União, quando se tratar de lici- Art. 28 [...]
tação feita por órgão ou entidade da Administração I. Cédula de identidade;
Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras II. Registro comercial, no caso de empresa individual;
financiadas parcial ou totalmente com recursos fede- III. Ato constitutivo, estatuto ou contrato social em
rais ou garantidas por instituições federais; vigor, devidamente registrado, em se tratando de
II. No Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal sociedades comerciais, e, no caso de sociedades por
quando se tratar, respectivamente, de licitação fei- ações, acompanhado de documentos de eleição de
ta por órgão ou entidade da Administração Pública seus administradores;
Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal; IV. Inscrição do ato constitutivo, no caso de socie-
III. Em jornal diário de grande circulação no Esta- dades civis, acompanhada de prova de diretoria em
do e também, se houver, em jornal de circulação no exercício;
Município ou na região onde será realizada a obra, V. Decreto de autorização, em se tratando de empre-
prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado sa ou sociedade estrangeira em funcionamento no
o bem, podendo ainda a Administração, conforme País, e ato de registro ou autorização para funcio-
o vulto da licitação, utilizar-se de outros meios de namento expedido pelo órgão competente, quando
346 divulgação para ampliar a área de competição. a atividade assim o exigir.
A documentação relativa à qualificação técnica CRITÉRIOS DE JULGAMENTO
limitar-se-á (art. 30):
Nesta etapa as propostas serão classificadas de
Art. 30 [...] acordo com os critérios previamente definidos no ins-
I. Registro ou inscrição na entidade profissional trumento convocatório.
competente; Em um primeiro momento, será verificado se cada
II. Comprovação de aptidão para desempenho de proposta atende ao previsto no edital, ocorrendo a
atividade pertinente e compatível em característi- desclassificação, se for o caso.
cas, quantidades e prazos com o objeto da licitação, O artigo 48 traz duas hipóteses em que ocorrerá a
e indicação das instalações e do aparelhamento e desclassificação do proponente.
do pessoal técnico adequados e disponíveis para a
realização do objeto da licitação, bem como da qua- Art. 48. Serão desclassificadas:
lificação de cada um dos membros da equipe técni- I - as propostas que não atendam às exigências do
ca que se responsabilizará pelos trabalhos; ato convocatório da licitação;
II - propostas com valor global superior ao limi-
III. Comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de
te estabelecido ou com preços manifestamente
que recebeu os documentos, e, quando exigido, de
inexequíveis, assim considerados aqueles que não
que tomou conhecimento de todas as informações e
venham a ter demonstrada sua viabilidade através
das condições locais para o cumprimento das obri-
de documentação que comprove que os custos dos
gações objeto da licitação;
insumos são coerentes com os de mercado e que os
IV. Prova de atendimento de requisitos previstos em coeficientes de produtividade são compatíveis com
lei especial, quando for o caso. a execução do objeto do contrato, condições estas
necessariamente especificadas no ato convocatório
A documentação relativa à qualificação econômi- da licitação.
co-financeira limitar-se-á (art. 31):
Para os efeitos do disposto no inciso II acima, con-
Art. 31 [...] sideram-se manifestamente inexequíveis, no caso de
I. Balanço patrimonial e demonstrações contábeis licitações de menor preço para obras e serviços de enge-
do último exercício social, já exigíveis e apresenta- nharia, as propostas cujos valores sejam inferiores a
dos na forma da lei, que comprovem a boa situação 70% (setenta por cento) do menor dos seguintes valores:
financeira da empresa, vedada a sua substituição
por balancetes ou balanços provisórios, podendo z Média aritmética dos valores das propostas superio-
ser atualizados por índices oficiais quando encer- res a 50% (cinquenta por cento) do valor orçado pela
rado há mais de 3 (três) meses da data de apresen- administração, ou
tação da proposta; z Valor orçado pela administração.
II. Certidão negativa de falência ou recuperação
judicial expedida pelo distribuidor da sede da pes- Não se admitirá proposta que apresente preços
soa jurídica, ou de execução patrimonial, expedida global ou unitários simbólicos, irrisórios ou de valor
no domicílio da pessoa física; zero, incompatíveis com os preços dos insumos e salá-
III. Garantia, nas mesmas modalidades e critérios rios de mercado, acrescidos dos respectivos encargos,
previstos na lei, limitada a 1% (um por cento) do ainda que o ato convocatório da licitação não tenha
valor estimado do objeto da contratação. estabelecido limites mínimos, exceto quando se refe-
rirem a materiais e instalações de propriedade do
A documentação relativa à regularidade fiscal e próprio licitante, para os quais ele renuncie a parcela
trabalhista, conforme o caso, consistirá em (art. 29): ou à totalidade da remuneração.
Após as eventuais desclassificações, as propostas
serão ordenadas de acordo com os critérios previa-
Art. 29 [...]
mente definidos no instrumento convocatório.
I. Prova de inscrição no Cadastro de Pessoas Físi-
Será assegurada preferência, como critério de
cas (CPF) ou no Cadastro Geral de Contribuintes
desempate, sucessivamente, aos bens e serviços (§ 2º,
(CGC);
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
do art. 3º):
II. Prova de inscrição no cadastro de contribuintes
estadual ou municipal, se houver, relativo ao domi- Art. 3 [...]
cílio ou sede do licitante, pertinente ao seu ramo § 2º [...]
de atividade e compatível com o objeto contratual; I. Produzidos no País;
III. Prova de regularidade para com a Fazenda II. Produzidos ou prestados por empresas brasileiras.
Federal, Estadual e Municipal do domicílio ou sede III. Produzidos ou prestados por empresas que
do licitante, ou outra equivalente, na forma da lei; invistam em pesquisa e no desenvolvimento de tec-
IV. Prova de regularidade relativa à Seguridade nologia no País.
Social e ao Fundo de Garantia por Tempo de Servi- IV. Produzidos ou prestados por empresas que com-
ço (FGTS), demonstrando situação regular no cum- provem cumprimento de reserva de cargos prevista
primento dos encargos sociais instituídos por lei; em lei para pessoa com deficiência ou para reabili-
V. Prova de inexistência de débitos inadimplidos tado da Previdência Social e que atendam às regras
perante a Justiça do Trabalho, mediante a apresen- de acessibilidade previstas na legislação.
tação de certidão negativa.
Recursos
A regularidade perante o FGTS deve ser observada
por quem contrata com a APU durante todo o período Por meio dos recursos os resultados, ainda que par-
de celebração do contrato e não apenas na sua assina- ciais, do procedimento licitatório, poderão ser ataca-
tura, de acordo com o Tribunal de Contas da União. dos. Eles constam basicamente do artigo 109. Vejamos: 347
Art. 109 Dos atos da Administração decorrentes a licitação é puramente um meio para que o particu-
da aplicação desta Lei cabem: lar almeje um fim. E esse fim, esse objetivo maior, é
I - recurso, no prazo de 5 (cinco) dias úteis a con- justamente contratar com o Poder Público.
tar da intimação do ato ou da lavratura da ata, nos A Administração, no exercício de suas funções,
casos de: muitas vezes tende a estabelecer diversas relações
a) habilitação ou inabilitação do licitante; jurídicas com particulares, criando vínculos especiais
b) julgamento das propostas; de colaboração com a esfera privada. Tais conexões
c) anulação ou revogação da licitação;
podem ser instrumentalizadas mediante um contrato.
d) indeferimento do pedido de inscrição em registro
Se tal contrato estiver subordinado às regras de Direi-
cadastral, sua alteração ou cancelamento;
to Administrativo, então estamos diante de um contra-
e) rescisão do contrato, a que se refere o inciso I do
art. 79 desta Lei;
to administrativo.
f) aplicação das penas de advertência, suspensão Contrato administrativo, assim, é um pacto bilate-
temporária ou de multa; ral estabelecido entre a Administração Pública, agindo
II - representação, no prazo de 5 (cinco) dias úteis nessa qualidade, e terceiros, ou entre ela e suas enti-
da intimação da decisão relacionada com o objeto dades, submetido ao regime jurídico administrativo,
da licitação ou do contrato, de que não caiba recur- cuja finalidade é a consecução de objetivos de interes-
so hierárquico; se público. Deste conceito, podemos destacar alguns
III - pedido de reconsideração, de decisão de aspectos específicos dos contratos administrativos.
Ministro de Estado, ou Secretário Estadual ou Ao dizermos que contrato administrativo é o pac-
Municipal, conforme o caso, na hipótese do § 4o do to bilateral ajustado pela Administração Públi-
art. 87 desta Lei, no prazo de 10 (dez) dias úteis da ca, agindo nessa qualidade, significa que, em pelo
intimação do ato. menos um dos polos da relação jurídica deve haver
a figura do Estado (contratante), como pessoa jurídi-
Homologação ca de Direito Público, que se apresenta em relação de
superioridade em face dos particulares. Os terceiros,
Após o julgamento e classificação das propostas, a dessa forma, são as pessoas físicas ou jurídicas (deno-
comissão encaminhará o processo à autoridade com- minadas contratados) que não integram a Adminis-
petente para que ocorra a homologação e posterior tração Pública. Todavia, há alguns casos em que tal
adjudicação do objeto ao vencedor. Aqui termina o avença pode ser estabelecida com outras entidades
trabalho da comissão de licitação. administrativas, visando a cooperação mútua e a per-
A homologação é o ato por meio do qual a autori- secução de objetivos comuns entre os órgãos e entida-
dade confirma o procedimento e atesta sua correção. des da Administração, como é o caso dos consórcios
Após o recebimento do processo a autoridade estabelecidos entre a União e um Estado, ou Municí-
homologará o resultado e adjudicará o objeto ao ven- pio, por exemplo.
cedor, caso não haja irregularidade no processo. A submissão ao regime jurídico administrativo
Se houver vício sanável, irá devolver o processo à significa dizer que, para os contratos administrativos
comissão para que sane as irregularidades. vigoram os princípios e regras de Direito Administra-
Se for insanável, deverá anular o procedimento tivo. Não basta apenas a Administração Pública estar
como um todo. em um dos polos contratuais, pois a mesma pode rea-
Há também a hipótese de revogação da licitação, lizar ajustes de natureza não-administrativa, poden-
desde que com base em fato superveniente devida- do celebrar contrato de locação sobre determinado
mente comprovado. imóvel, por exemplo. Tal hipótese é de contrato da
Administração, que não se confunde com o contrato
Assinatura do Contrato administrativo. Contratos da Administração é gênero,
do qual o contrato administrativo é espécie.
Após a adjudicação do objeto ao vencedor, a Admi- Outra característica que o diferencia dos demais
nistração Pública tem 60 dias para convocá-lo para a contratos de Direito Privado é a sua finalidade, que
assinatura do contrato. Vencido esse prazo, os licitantes é a consecução de objetivos de interesse público.
ficam liberados dos compromissos assumidos. Tal pra- Os contratos da esfera privada, geralmente, tendem a
zo poderá ser prorrogado uma vez por igual período. apenas buscar os melhores resultados e trazer lucros
Caso o licitante convocado para assinatura do con- para as partes. Essa finalidade econômica é incom-
trato não compareça, a Administração Pública poderá patível com os contratos administrativos, que se rege
convocar os demais licitantes, respeitada a ordem de pelas normas de Direito Público, que apresenta como
classificação do certame, tendo também a opção de um de seus princípios sistêmicos a primazia do inte-
revogar o procedimento. resse público sobre o privado.
O licitante que eventualmente for convocado no Importante salientar a exigência de prévia lici-
lugar do vencedor poderá aceitar ou não. As condi- tação para a celebração do contrato administrativo.
ções serão as da proposta vencedora. Trata-se de um pressuposto que, estando ausente,
pode macular a existência, validade e a eficácia do
DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS – ARTIGOS contrato. A exigência de prévia licitação é exigida
54 A 80 somente para os contratos administrativos.
Indaga-se muito sobre a natureza dos contra-
A matéria dos contratos administrativos é bem tos administrativos. Isso porque há casos em que a
desenvolvida na doutrina e na legislação. É a Lei n° Administração elabora contratos, mas que são muito
8.666, de 1993, também, que trata dos contratos admi- parecidos com os contratos comuns de direito civil.
nistrativos, junto com o processo de licitação. Sob o É o caso, por exemplo, da locação de um bem imóvel
348 enfoque das licitações, pode-se afirmar, inclusive, que a ser utilizado por uma repartição pública: não há a
necessidade de elaborar um contrato administrativo, pois o Poder Público somente tem interesse em for-
pois aqui o Poder Público é tratado igualmente, como malizar o contrato com aquela pessoa;
se fosse um particular. z Presença de cláusulas exorbitantes: é um dos
Temos, então, uma diferença importante: o Poder pontos mais característicos do contrato adminis-
Público pode elaborar contratos da Administração, e trativo, pois são as cláusulas que colocam a Admi-
também pode elaborar contratos administrativos. A nistração Pública em uma situação de vantagem.
diferença é que os contratos da Administração é gêne- Veremos melhor sobre essas cláusulas em momen-
ro, o qual os contratos administrativos são espécie, to posterior.
isso é, estão inseridos dentro desse grupo maior.
Essa distinção é importante para compreender
FORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO DO CONTRATO
as características dos contratos administrativos. As
características podem se dividir em dois grupos.
Sobre a formalização dos contratos administra-
Das Caraterísticas Gerais tivos, o art. 60, da Lei n° 8.666, é bastante claro ao
expor que “Os contratos e seus aditamentos serão
As características gerais dos contratos adminis- lavrados nas repartições interessadas, as quais mante-
trativos são aquelas características que se encontram rão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro
em todas as espécies de contratos da Administração. sistemático do seu extrato, salvo os relativos a direitos
Essas características são importantes, porque dão ao reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumen-
contrato a sua razão de existir. Não se trata de aspec- to lavrado em cartório de notas, de tudo juntando-se
tos de legalidade/validade, e sim de existência. cópia no processo que lhe deu origem”.
Com isso, todos os contratos da Administração Todo contrato administrativo deve mencionar,
devem possuir: na forma do art. 61, os nomes das partes e os de seus
representantes, a finalidade, o ato que autorizou a
z Acordo de vontades distintas: é um dos elemen- sua lavratura, o número do processo da licitação, da
tos mais característicos de todo e qualquer contrato. dispensa ou da inexigibilidade, a sujeição dos contra-
Para ter um acordo, é preciso que haja duas partes,
tantes às normas da própria Lei n° 8.666, de 1993, e às
com interesses e finalidades contrapostas, mas que se
cláusulas contratuais.
unem para alcançar um mesmo objetivo. Sem o acor-
do de vontades, temos apenas um ato administrativo; Uma vez formalizado o contrato administrativo
z Direitos e obrigações recíprocas: todo contrato já pronto (é um contrato de adesão), a Administração
da Administração é um contrato comutativo, o que convocará regularmente o interessado para assinar
significa que cada uma das partes se compromete o termo de contrato, aceitar ou retirar o instrumento
a alguma forma de ônus para a devida execução equivalente, dentro do prazo e condições estabeleci-
do instrumento contratual. dos, sob pena de decair o direito à contratação (art. 61,
Lei n° 8.666/1993). O particular interessado tem prazo
Das Características Específicas específico para assumir compromisso de executar o
contrato, embora tal prazo possa ser prorrogado uma
É evidente que o contrato administrativo, por tudo vez, por igual período, quando solicitado pela parte
que já foi mencionado, apresenta alguns aspectos e durante o seu transcurso e desde que ocorra motivo
características específicos. São eles: justificado aceito pela Administração.

z Presença da Administração Pública: é a figura do DA ALTERAÇÃO DO CONTRATO


Estado, representada pelo Poder Executivo, com
todos os seus poderes e prerrogativas inerentes da
As cláusulas exorbitantes, por sua vez, são cláu-
sua natureza. Isso faz com que a relação contratual
sempre seja desigual, pois a Administração possui sulas especiais, que só existem nos contratos adminis-
diversos poderes e diversas vantagens, como vere- trativos. Isso porque elas dão uma gama de vantagens
mos mais adiante. E do outro lado temos o parti- para a Administração Pública. Tais cláusulas estão
cular interessado, em situação mais desfavorável; previstas no art. 58, da Lei nº 8.666, de 1993. Veremos
z Finalidade pública: a Administração Pública não as principais.
pode almejar o lucro, como ocorre nas relações jurí-

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


dicas de direito privado. Assim, o objetivo maior do Exigência de Garantia
contrato administrativo é sempre o interesse públi-
co, que é inalienável e irrenunciável; Quando uma parte deixa de cumprir com suas
z Forma prescrita em lei: significa que os contratos obrigações contratuais, a outra parte fica em prejuí-
administrativos são solenes, não podem ser for-
zo. Ao menos, é isso o que ocorre na esfera privada.
mulados verbalmente. Não podem ser formulados
sem os revestimentos legais; Mas a Administração Pública não pode se dar ao luxo
z Procedimento legal: para que seja elaborado um de sair no prejuízo. Por isso, o particular interesse já
contrato administrativo, é necessária a ocorrência de presta uma garantia antes do início dos trabalhos, na
um ato anterior que o fundamente, como o caso da possibilidade de haver um eventual inadimplemento.
prévia licitação, ou de uma autorização legislativa; Sobre a forma de garantia aceita para os contratos
z Natureza de contrato de adesão e personalíssi- administrativos, o § 1°, do art. 56, apresenta três pos-
mo: o contrato administrativo é apresentado pelo sibilidades, cabendo ao particular escolher a melhor
Estado já pronto e acabado, cumpre ao particular para o seu caso. São elas:
apenas aderir ou não. Além disso, por ser contra-
to personalíssimo (intuitu personae), não pode ser z a) caução (em dinheiro ou títulos da dívida pública);
cedido para terceiros, pois a pessoa do contratado
z b) seguro-garantia;
é uma parte essencial dessa relação travada entre
z c) fiança bancária.
ele e o Poder Público. Não pode, por exemplo, o con-
tratado transferir os direitos e encargos do contrato
para seus herdeiros, ou transferir para um “amigo”, 349
Alteração Unilateral do Contrato Rescisão Unilateral

As alterações unilaterais são aquelas em que ape- Rescisão é o ato que visa a extinção do contrato. De
nas uma parte mexe nos termos do contrato. Para os novo, somente a Administração Pública pode rescin-
contratos administrativos, somente a Administração dir unilateralmente o contrato administrativo, mesmo
Pública pode alterar unilateralmente o instrumento que o particular não concorde com o ato. A rescisão
contratual, por razões óbvias (posição mais vantajosa unilateral pode ocorrer:
na relação).
O inciso I, do art. 65, apresenta todas as possibili- z Inadimplemento culposo: é a hipótese em que
dades de alteração unilateral do contrato. Todas essas particular comete um ato pela falta de cuidado,
hipóteses, de modo geral, permitem que o contrato isso é, ele age com culpa (não cumprimento ou
seja alterado, para melhor atender o interesse públi-
cumprimento irregular, atraso na entrega do pro-
co. Assim, a Administração pode alterar unilateral-
jeto, paralisação, faltas reiteradas etc.);
mente o contrato para:
z Inadimplemento involuntário: aqui não há a
presença da culpa, porque são questões alheias,
z Adequação técnica: é a modificação do projeto
mas que ainda assim fazem com que o particular
em si, ou de suas especificações;
fique impossibilitado de continuar com a execução
z Alteração do valor por acréscimo ou diminuição
quantitativa de seu objeto. contratual. É o caso do desaparecimento do parti-
cular, ou de sua insolvência;
z Razões de interesse público: pode ocorrer que
É importante ressaltar o conteúdo do § 1°, do art.
65, que diz respeito ao reajuste contratual: a execução do contrato deixe de fornecer as van-
tagens almejadas pela Administração. Assim, ela
Art. 65 [...] pode rescindir o contrato simplesmente porque
§ 1° O contratado fica obrigado a aceitar, nas não deseja mais continuar com sua execução, por-
mesmas condições contratuais, os acréscimos ou que não é mais interesse público continuar com
supressões que se fizerem nas obras, serviços ou ele. Essa é uma hipótese em que é cabível indeni-
compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do zação, na forma do § 2º, do art. 79. Observe que a
valor inicial atualizado do contrato, e, no caso noção de “interesse público” é algo cambiante, que
particular de reforma de edifício ou de equipa- varia muito para quem está no Poder;
mento, até o limite de 50% (cinquenta por cen- z Caso fortuito ou força maior: são as hipóteses em que
to) para os seus acréscimos.
eventos alheios a ambas as partes impedem a execução
do contrato. Aqui temos uma diferença: o caso fortui-
O reajuste é um instrumento de alteração dos valo- to e/ou força maior, nos contratos administrativos, são
res econômicos, previstos tanto no edital da licitação
passíveis de indenização, na forma do § 2º, do art. 79.
como no próprio instrumento contratual. A sua fina-
Isso não acontece na esfera privada.
lidade é, simplesmente, estabelecer o equilíbrio eco-
nômico-financeiro existente na relação contratual.
Os contratos possuem prazos muito longos, e Fiscalização
podem ser prorrogados diversas vezes. Por isso, é bas-
tante comum que as condições estabelecidas durante De modo geral, é possível colocar um agente para
o início do contrato administrativo acabem se alteran- ficar de olho na execução do serviço avençado. Esse
do com o passar do tempo. Essa é a denominada Teo- agente fiscalizador pode ser da Administração, ou
ria da Imprevisão, que vigora em muitos contratos, alguém contratado pelo próprio particular.
e não apenas os contratos administrativos. A Teoria
da Imprevisão serve para equilibrar outra máxima Aplicação de Sanções
do Direito dos Contratos, que estabelece que todos os
contratos devem ser cumpridos não importa o que Em vez de rescindir o contrato de uma vez, pode
aconteça (ou pacta sunt servanda). a Administração impor sanções caso o particular não
A razão para estabelecer valores limites para os cumpra com todos os termos avençados. Mas o parti-
acréscimos e supressões que vierem a ocorrer com o cular pode sempre insurgir contra todas as penalida-
contrato advém justamente do fato de que a situação des, mediante recurso administrativo.
dos negócios pode mudar (“rebus sic stantibus”). O Sobre as sanções em espécie, são elas (art. 87):
legislador entende que esses limites são o máximo que
a pessoa particular pode suportar para continuar com z Advertência;
a execução do contrato, sem que ele fique no prejuízo.
z Multa, podendo ser cumulada com as demais;
O conteúdo do § 1°, do art. 65, assim, é importante
z Suspensão para nova licitação ou contrato por até
porque ele apresenta não somente uma prerrogativa
dois anos; e
da Administração Pública, de poder alterar o valor do
contrato, e impor essas alterações unilateralmente. z Declaração de inidoneidade para participar de lici-
Mas esse artigo também estabelece um valor limite tação ou contrato, enquanto perdurarem os moti-
para esses acréscimos e supressões: ele não está obri- vos ou ocorra a reabilitação, após o mesmo prazo
gado a aceitar as alterações que sobressaltem a esses da pena anterior.
limites de 25%, para as obras, serviços ou compras; e
de 50% para reformas de edifícios ou de equipamentos. A diferença da suspensão para a declaração de ido-
Por mais que seja essencial que a execução do contra- neidade é que, no primeiro caso, terminado o prazo
to não seja interrompida, o particular não pode ficar da suspensão, o particular adquire capacitação para
“preso” a um contrato que só está lhe causando prejuí- contratar automaticamente. Mas no caso da declara-
zo, isso seria muito injusto. Dessa forma, pode o parti- ção de idoneidade, o particular precisa de uma rea-
cular requerer a rescisão do contrato pela via judicial, bilitação para poder contratar com o Poder Público.
350 se a Administração Pública for contra a rescisão.
Retomada do Objeto contratado e a retribuição da administração para a
justa remuneração da obra, serviço ou fornecimen-
Alguns serviços públicos não podem parar, dada a to, objetivando a manutenção do equilíbrio eco-
sua grande importância para a população. Mas o que nômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese
ocorre quando o particular não pode mais continuar de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis
com a execução do contrato? porém de consequências incalculáveis, retardado-
Para essas hipóteses, a Administração pode assumir res ou impeditivos da execução do ajustado, ou,
a atividade, por conta própria, para que a população ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato
não seja afetada. Para isso, a retomada do objeto exige do príncipe, configurando álea econômica extraor-
a assunção imediata do objeto do contrato; a ocupação dinária e extracontratual.
das instalações e pessoal; a execução da garantia con-
tratual; bem como a retenção dos créditos contratuais A manutenção do equilíbrio econômico-financeiro
até o limite dos prejuízos causados. Aquilo que a Admi- poderá ser obtida mediante reajuste ou revisão. Rea-
nistração deveria pagar mensalmente ao particular juste é a terminologia que designa a atualização dos
deixa de fazer até o limite dos prejuízos. valores remuneratórios ante as perdas econômicas ou
majoração de insumos. As regras de reajuste, como já
Restrições à Exceção do Contrato não Cumprido vimos, devem estar previstas no próprio instrumento
contratual.
A exceptio non adimpleti contractus é uma outra A revisão, por sua vez, corresponde às altera-
forma de corrigir o mesmo problema apresentado ções no valor efetivo da tarifa, geralmente sem pre-
anteriormente. Aqui, o contratado deve continuar visão contratual, utilizado em circunstâncias em que
com a execução do pacto, não importa o que aconteça, a recomposição por reajuste se torna impossível. Há,
cabendo apenas a suspensão da execução do contrato nesse caso, um aumento real do valor pago ao contra-
se houver paralisação superior a 120 dias ou atraso tado, ao contrário do reajuste, que apenas atualiza o
nos pagamentos superior a 90 dias. aspecto pecuniário da remuneração.
As hipóteses mais comuns para a autorização da
recomposição econômico-financeira do contrato são:
Equilíbrio Econômico-Financeiro
Alteração Unilateral do Objeto
Este é um aspecto de natureza orçamentária e
financeira muito importante dos contratos adminis-
trativos. Também denominada equação econômico-fi- Qualquer modificação, pela Administração Públi-
nanceira, consiste em uma garantia estabelecida, no ca, seja quantitativa ou qualitativa, do objeto princi-
momento da celebração do contrato, para a manuten- pal do contrato, enseja a recomposição do equilíbrio
ção do equilíbrio dos encargos assumidos e da remu- econômico-financeiro. Trata-se de uma circunstância
neração percebida pelo particular, garantindo a este interna do contrato. Exemplo: aumento do número de
uma certa margem de lucro pela execução do negócio. estações de linha ferroviária a serem construídas.
Para compreender a manutenção do equilíbrio
econômico-financeiro nos contratos administrativos, Fato do Príncipe
é importante salientar a Teoria da Imprevisão. Tra-
ta-se de uma corrente, com aplicação também nos É evento externo ao contrato, de natureza geral,
ramos de Direito Privado, que admite que as condi- provocado pelo Poder Público. Ocorre quando o pró-
ções das partes podem sofrer alterações desde o início prio Estado, mediante ato legal, modifica as condições
da sua celebração. Pela ocorrência de algum even- do contrato, provocando prejuízo ao contratado. Tal
to imprevisto pelas partes, pode ocorrer um grande interferência gera indenização para o particular pre-
desequilíbrio na relação contratual, fazendo com que judicado com a alteração unilateral do Estado. Exem-
uma das partes tenha lucros excessivos, e a outra se plo: aumento da carga tributária.
prejudique ainda mais com a execução do contrato.
Por isso, admite-se a possibilidade de revisão de algu- Fato da Administração
mas cláusulas. Diz-se que os contratos que admitem
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
revisão regem-se pelo vernáculo do rebus sic stantibus Traduz-se em uma conduta irregular praticada
(“enquanto as coisas se mantiverem nesse estado”), pelo Poder Público, que não necessariamente impede,
em oposição ao pacta sunt servanda (“os pactos devem mas pode retardar a execução do contrato. Trata-se de
ser cumpridos”). Nos contratos administrativos apli- ato com caráter específico, relacionado com o próprio
ca-se com maior frequência a rebus sic stantibus. contrato, o que distingue do fato do príncipe. Exem-
Possui previsão constitucional (inciso XXI, do art. plo: a construção de estrada em local residencial em
37, da CF, de 1988), que estabelece, no procedimento que a Administração não providencia mecanismos
licitatório, a manutenção das condições efetivas da essenciais à desapropriação daqueles imóveis.
proposta. A alínea “d”, do inciso II, do art. 65, da Lei
nº 8.666, de 1993, seguindo essa linha de raciocínio, Álea Econômica Extraordinária
dispõe que:
É o evento externo ao contrato e estranho à von-
Art. 65 Os contratos regidos por esta Lei poderão tade das partes. O que difere a álea extraordinária
ser alterados, com as devidas justificativas, nos para o fato do príncipe é que, no último, a alteração
seguintes casos: contratual é gerada por um ato feito pelo próprio
II - por acordo das partes: contratante.
[...] Já na álea extraordinária, temos um fato gerado
d) para restabelecer a relação que as partes por um membro do Estado que não é o contratan-
pactuaram inicialmente entre os encargos do te, mas que mesmo assim acaba ensejando em uma
351
alteração contratual. Por ser fato imprevisível e inevi- É aqui que temos a ocorrência de Fato do Príncipe,
tável capaz de causar desequilíbrio contratual, a álea ou de Fato da Administração, ou ainda algum outro
extraordinária enseja a revisão tarifária, desde que fato advindo de caso fortuito ou força maior.
comprovada a imprevisibilidade e estranheza do fato,
bem como o desequilíbrio anormal na equação econô- z Interrupção da execução do contrato ou diminui-
mico-financeira. Exemplo: em um contrato de trans- ção do ritmo de trabalho por ordem e no interesse
porte de materiais de construção elaborado entre um da Administração;
Município e um particular, houve aumento da carga z Aumento das quantidades inicialmente previstas
tributária sobre o ICMS, um imposto de competência no contrato, nos limites permitidos por esta Lei;
do Estado onde se situa o Município e o contratado. z Impedimento de execução do contrato por fato ou
ato de terceiro reconhecido pela Administração
Interferências Imprevistas em documento contemporâneo a sua ocorrência.

São eventos ocorridos durante a execução do contrato, Se, por exemplo, o particular foi contratado para
de ordem material, que causem dificuldades no cumpri- realizar uma obra em um terreno que, supostamen-
mento das tarefas pactuadas, tornando insuportavelmente te, era de propriedade da Administração Pública, mas
onerosos para uma das partes. Exemplo: desabamento de eventualmente surge um terceiro que comprove ser
terras em área destinada à construção de imóvel público, o dono legítimo daquele terreno, então o contrato
devido a fortes chuvas. não pode mais prosseguir no mesmo ritmo. Por isso é
recomendada sua prorrogação.
DA INEXECUÇÃO E RESCISÃO DO CONTRATO
z Omissão ou atraso de providências a cargo da
Se os contratos administrativos são celebrados por Administração, inclusive quanto aos pagamentos
prazo determinado, isso significa que, eventualmente, previstos de que resulte, diretamente, impedimento
eles devem deixar de vigorar, ou se extinguir. Assim, o ou retardamento na execução do contrato, sem pre-
contrato administrativo admite as seguintes hipóteses juízo das sanções legais aplicáveis aos responsáveis.
de extinção: pela execução e conclusão do seu objeto,
pelo término de seu prazo, por anulação motivada por Em qualquer uma dessas hipóteses, é importan-
defeito que o macule, ou ainda por rescisão. te frisar que a prorrogação deverá ser justificada por
A execução do objeto é a forma sobre a qual se pre- escrito e previamente autorizada pela autoridade com-
tende que todos os contratos se encerrem. Uma vez petente para celebrar o contrato (§ 2º, do art. 57).
concluído o negócio, ambas as partes têm seus interes- O conteúdo do § 3° desse mesmo dispositivo não é
ses obtidos, e o assunto se encerra com um final positi- nenhuma novidade: É vedado o contrato com prazo de
vo. Isso, contudo, não tem como acontecer no caso de vigência indeterminado. Essa é uma regra máxima válida
contratos administrativos que preveem a prestação de para todo e qualquer contrato: o fato dele ter um prazo
serviços públicos, pois pela sua grande importância, para extinguir faz parte da própria natureza do contra-
esses serviços não podem parar, podendo se estender to. Caso contrário, o contrato seria um ato precário, e a
para além do período do ano financeiro. Nesses casos, Administração poderia revoga-lo a qualquer tempo.
o melhor caminho é a prorrogação do contrato, com Sobre a rescisão, o art. 79, da Lei nº 8.666, de 1993,
eventuais reajustes quando necessário. admite três tipos de rescisão contratual. Observe o
A prorrogação do contrato é disciplinada pelo § texto do dispositivo, in verbis:
1º, do art. 57, da Lei nº 8.666, de 1993. Segundo o refe-
rido dispositivo, os prazos de início da execução, da Art. 79 A rescisão do contrato poderá ser:
conclusão, e da entrega do objeto podem ser prorroga- I - determinada por ato unilateral e escrito da
dos, mas essa prorrogação não pode atingir as demais Administração, nos casos enumerados nos incisos
cláusulas do contrato, sendo assegurada, também, a I a XII e XVII do artigo anterior;
manutenção de seu equilíbrio econômico-financeiro. II - amigável, por acordo entre as partes, reduzida a
O artigo prevê, também, quais são as causas que justi- termo no processo da licitação, desde que haja con-
ficam a prorrogação do contrato administrativo. São elas: veniência para a Administração;
III - judicial, nos termos da legislação;
z Alteração do projeto ou especificações pela
Administração; A rescisão unilateral, decretada pela Administra-
ção Pública sem a necessidade de autorização judicial,
ensejando indenização do contratado, exceto se deu
A grande maioria dos motivos de prorrogação do
causa à rescisão. Na ocorrência da rescisão unilateral,
contrato consiste justamente na alteração de seu obje-
ocorrerá as seguintes consequências, todas elas pre-
to. Pode ser que, no início, o particular foi contratado
vistas nos incisos do art. 80:
para realizar uma construção em uma praça pública,
mas que, eventualmente, a Administração tenha inte-
I  -  assunção imediata do objeto do contrato, no
resse em realizar uma outra construção, exatamente
estado e local em que se encontrar, por ato próprio
igual, mas em outra área do Município.
da Administração;
II - ocupação e utilização do local, instalações, equi-
z Superveniência de fato excepcional ou imprevisí- pamentos, material e pessoal empregados na exe-
vel, estranho à vontade das partes, que altere funda- cução do contrato, necessários à sua continuidade,
mentalmente as condições de execução do contrato. na forma do inciso V do art. 58 desta Lei;
III - execução da garantia contratual, para ressarci-
mento da Administração, e dos valores das multas
e indenizações a ela devidos;
352
IV - retenção dos créditos decorrentes do contrato CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE
até o limite dos prejuízos causados à Administração. CONTROLE

Porém, temos também a rescisão amigável, feita A doutrina não é unânime em relação ao tema.
de comum acordo entre ambas as partes, geralmente Todavia, boa parte dos autores costumam dividir os
não enseja indenização. Os motivos da rescisão ami- diversos tipos de instrumentos de controle dos atos
gável podem ser dos mais diversos. administrativos com base nos seguintes critérios:
Por fim, temos a rescisão judicial, promovida
pelo particular em hipótese que há a interferência Quanto ao Órgão Controlador
do Poder Judiciário em razão do inadimplemento por
parte do Poder Público. z Controle legislativo: é o controle realizado pelo
Para que o contratado tenha o direito de ser inde- Poder Legislativo, mais especificamente pelo parla-
nizado, provocado pela extinção do contrato admi- mento, com o auxílio do Tribunal de Contas. Exemplo:
nistrativo, precisa preencher alguns requisitos. as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs);
Primeiramente, a extinção contratual deve ser anteci- z Controle administrativo: é o controle dos atos
pada, pois seria ilógico pedir reparação de danos em administrativos feito pelos órgãos e entidades da
hipóteses em que o contrato se extinguiu naturalmen- própria Administração Pública. É, por isso, uma
te pelo regular adimplemento do negócio. Além disso, modalidade de controle interno, podendo ser fei-
sua relação jurídica com o Poder Público não pode to de ofício, ou mediante provocação. Exemplo:
ser precária, pois atos precários são revogáveis pelo recurso hierárquico;
Poder Público, a qualquer tempo. Por fim, o contrata- z Controle judicial: é o controle feito pelos magis-
do deve ter agido de boa-fé durante a execução con- trados integrantes do Poder Judiciário. Devido ao
tratual, pois se o particular tivesse agido com intenção princípio da inércia da jurisdição, jamais pode-
rá atuar de ofício, apenas mediante provocação.
de extinguir o negócio (agir de má-fé) não teria direito
Exemplo: mandado de injunção e as ações sobre
à indenização, haja vista que ninguém pode benefi-
controle de constitucionalidade.
ciar-se da própria torpeza.
Nos casos de anulação, o dever de indenizar per-
Quanto à Extensão
siste ainda que o contrato apresente algum vício de
ordem legal, devendo a Administração indenizar o
contratado pelo que este houver executado até a data z Controle interno: é o controle realizado por um
Poder sobre os seus próprios órgãos e agentes. É o
em que ela for declarada e por outros prejuízos regu-
caso do controle de chefia sobre os seus subordinados;
larmente comprovados, contanto que não lhe seja
z Controle externo: é o tipo de controle exercido
imputável, promovendo-se a responsabilidade de
por autoridade que se situa fora do âmbito do
quem lhe deu causa (§ único, do art. 59, da Lei nº 8.666,
órgão a ser controlado. É o caso da anulação do ato
de 1993). A anulação do contrato enseja, também, na
administrativo por decisão judicial.
aplicação das penalidades dispostas no art. 87.
Quanto à Natureza

z Controle de legalidade: é o tipo de controle em


CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO que o ato a ser analisado deve estar de acordo com
PÚBLICA o ordenamento jurídico. Pode ser exercido tanto
pela Administração Pública como pelo Judiciário;
CONTROLE EXERCIDO PELA ADMINISTRAÇÃO z Controle de mérito: é o controle em que há a aná-
PÚBLICA lise do ato administrativo, baseado em critérios da
conveniência e da oportunidade. É o caso da revo-
gação dos atos administrativos.
“Controle” é um conceito atrelado à ideia de fiscali-
zação. Logo, quem exerce controle sobre algo ou alguém
Quanto à Iniciativa
é geralmente alguém que tem o poder de fiscalizar os

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


seus atos. Tais noções podem ser aplicadas ao Poder
z Controle de ofício: é o controle feito sem a neces-
Público, pois o legislador, ao determinar a sua esfera
sidade de provocação de alguém. Exemplo: ins-
de competência, acabou também impondo limites para
tauração de falta do servidor público mediante
a sua área de atuação. Assim, é de grande importância
processo disciplinar;
estudar os instrumentos jurídicos de fiscalização sobre
z Controle mediante provocação: é o controle em
a atuação dos agentes, órgãos, e entidades componen-
que só pode ser feito mediante requerimento da
tes da Administração Pública. O enfoque, por isso, será
parte. É o caso do controle judicial.
sobre o controle dos atos administrativos.
Tais mecanismos de fiscalização possuem nature-
Quanto ao Momento
za jurídica de princípio fundamental, conforme dis-
põe o inciso V, do art. 6º, do Dec-Lei nº 200, de 1967:
z Controle prévio: é o controle feito antes do ato
produzir seus efeitos no mundo concreto. Exem-
Art. 6º As atividades da Administração Federal
plo: mandado de segurança.
obedecerão aos seguintes princípios fundamentais:
z Controle concomitante: é aquele promovido con-
I – Planejamento;
II – Coordenação; comitantemente à execução do referido ato.
III – Descentralização; z Controle posterior: é o controle realizado após
IV - Delegação de Competência e; o ato produzir seus efeitos no mundo concreto.
V – Controle. Exemplo: ações constitucionais para controle de
atos da Administração. 353
Quanto ao Vínculo É o caso, por exemplo, do mandado de segurança,
do habeas data, do mandado de injunção, e das ações
z Controle hierárquico: é o controle feito por auto- de controle de constitucionalidade.
ridade superior em relação a seus subordinados;
z Controle finalístico: é aquele que se materializa
no poder de tutela que a Administração Direta tem
Dica
em relação aos entes da Administração Indireta. Parte da doutrina admite a hipótese de controle
de mérito dos atos administrativos pelo Poder
Cuidado para não confundir alguns conceitos. A Judiciário, apreciando critérios de conveniência
autotutela é o que fundamenta o controle interno que e oportunidade, isso é, as razões que justifica-
a Administração Pública faz sobre os seus próprios ram a prática daquele ato. É o caso, por exemplo,
atos. A tutela, por sua vez, é característica da Adminis- da implementação de políticas públicas, pleitea-
tração Direta, que o exerce em face da Administração das pelos cidadãos que passam necessidade,
Indireta. A grande maioria da doutrina entende que a mas que não são cumpridas dada a inércia do
tutela é uma espécie de controle externo, pois embo-
Executivo em implementá-las. Apesar de ser
ra estejamos falando de entes pertencentes à Admi-
uma posição crescente, ela é minoritária, pois a
nistração Pública, os entes da Administração Indireta
possuem personalidade jurídica própria e distinta do atuação do Judiciário é voltada para anular os
ente federativo que os criou. atos administrativos, e não os revogar.
Convém fazer breves considerações sobre os con-
troles administrativo, legislativo e judicial, haja vista CONTROLE LEGISLATIVO
que o critério da extensão acaba abrangendo todos os
demais. Embora nos dias atuais não vejamos tal atuação
com tamanha frequência, o Poder Legislativo tem
DO CONTROLE ADMINISTRATIVO como uma de suas funções típicas o exercício do con-
trole, isso é, a fiscalização dos atos do Executivo. As
Denomina-se controle administrativo aquele que hipóteses de controle legislativo estão todas previstas
o Poder Executivo e os órgãos da Administração dos na Constituição Federal, e se divide em dois grandes
demais Poderes exercem sobre as suas atividades, grupos.
com a finalidade de mantê-las dentro da lei, segundo O controle político tem por finalidade a prote-
as necessidades do serviço e as exigências técnicas e ção dos interesses superiores do Estado e da socieda-
econômicas de sua realização, uma vez que envolve de, abrangendo a fiscalização dos atos do Executivo,
o controle de legalidade e o controle de mérito dos quanto à legalidade e quanto ao mérito. É o caso das
atos administrativos. Com isso, pode-se afirmar que o autorizações dentro das competências das Casas par-
controle administrativo não é restrito apenas à Admi- lamentares, dispostas nos arts. 49 a 52 da CF, de 1988.
nistração Pública, haja vista que os órgãos adminis- A atuação do Congresso no controle político é bas-
trativos dos Poderes Legislativo e Judiciário também tante ampla e geral, seja na apuração de condutas
podem exercer controle administrativo sobre seus irregulares, com o auxílio das Comissões Parlamenta-
próprios atos. res de Inquérito (CPIs), seja para manejar o processo
O fundamento do controle administrativo está no de impeachment do Presidente da República etc.
poder de autotutela que a Administração possui para Não vemos o Congresso exercer seu controle polí-
rever, anular ou revogar os atos que seus órgãos e tico com muita frequência, sob o argumento de que
agentes praticam, independentemente de autoriza- o controle em demasia poderia demonstrar uma rup-
ção judicial. Nos termos da Súmula nº 473 do STF: “A tura com o sistema de Separação dos Três Poderes.
administração pode anular seus próprios atos, quando Todavia, ele tem previsão constitucional, e deve ser
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles utilizado sempre que possível, independentemente
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de dos interesses políticos por trás do mesmo.
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos O controle financeiro, por sua vez, ocorre com
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a aprecia- muito mais frequência. Tem relação com a fiscalização
ção judicial”. contábil e financeira, prevista no art. 70, da CF, de 1988.
O controle administrativo se instrumentaliza Dispõe o art. 70 que:
por meio de recursos administrativos, destinados a
proporcionar o reexame dos atos da Administração Art. 70 A fiscalização contábil, financeira, orçamen-
Pública. São eles: a representação, a reclamação admi- tária, operacional e patrimonial da União e das enti-
dades da administração direta e indireta, quanto à
nistrativa, o pedido de reconsideração, e os recursos
legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação
hierárquicos próprio e impróprio.
das subvenções e renúncia de receitas, será exercida
pelo Congresso Nacional, mediante controle exter-
CONTROLE JUDICIAL no, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

O Poder Judiciário também possui competência Da leitura do dispositivo constitucional, podemos


para exercer controle de atos do Executivo, o que não destacar quais são as modalidades de controle exerci-
deve ser de grande surpresa, uma vez que devido ao do pelo Congresso Nacional:
sistema de jurisdição una e o princípio da inafasta-
bilidade da jurisdição, todos os atos administrativos z Controle contábil: é aquele que parte da ideia de
podem ser apreciados pelo Judiciário. É um tipo de contabilidade. Contabilidade é a técnica que possi-
controle exercido sempre mediante provocação e que bilita o controle das receitas e despesas públicas,
abrange apenas o aspecto da legalidade do ato admi- por meio do registro numérico. O art. 77, do Dec-
nistrativo (anulação judicial do ato). Os instrumentos -Lei nº 200, indica que “todo ato de gestão financei-
de controle judicial dos atos do Executivo são todas as ra deve ser realizado por força do documento que
ações admissíveis que tratem sobre ilegalidade.
354
comprove a operação e registrado na contabilidade, assemelha ao regime dos ministros do STJ, sobretudo
mediante classificação em conta adequada”; no que diz respeito a vitaliciedade no cargo, regras de
z Controle operacional e financeiro: é o respeito aposentadoria, vantagens pecuniárias etc.
aos procedimentos legais de entrada e saída de Quanto a sua competência, cabe ao Tribunal de
verbas. Pode-se afirmar que todas as verbas públi- Contas, nos termos do art. 71, da CF, de 1988, in verbis:
cas tem procedimento específico para que entrem
e saiam dos cofres públicos; Art. 71 O controle externo, a cargo do Congresso
z Controle patrimonial: o patrimônio público não Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal
envolve apenas valores financeiros (dinheiro), mas de Contas da União, ao qual compete:
também bens móveis, imóveis, direitos reais de I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo
garantia etc. As alterações patrimoniais do Estado Presidente da República, mediante parecer prévio
também estão sujeitas ao controle do Legislativo; que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar
z Controle orçamentário: trata-se, pura e sim- de seu recebimento;
plesmente, do cumprimento das regras previstas II - julgar as contas dos administradores e demais
nas leis orçamentárias. As leis orçamentárias são responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos
aquelas que, de modo geral, dispõe sobre o que da administração direta e indireta, incluídas as
será gasto pela Administração Pública, bem como fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo
o quanto será gasto em cada setor. Poder Público federal, e as contas daqueles que
derem causa a perda, extravio ou outra irregulari-
Mas o art. 70 também apresenta outro aspecto dade de que resulte prejuízo ao erário público;
importante: além de expor as espécies de controle, III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos
dispõe, também, sobre os parâmetros de fiscalização. atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na
São dois: administração direta e indireta, incluídas as fun-
dações instituídas e mantidas pelo Poder Público,
z Legalidade: os gastos públicos devem estar com- excetuadas as nomeações para cargo de provimen-
patíveis, primeiramente, com a lei orçamentária, to em comissão, bem como a das concessões de
aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas
e sobretudo, com a própria Constituição Federal.
as melhorias posteriores que não alterem o funda-
Temos, aqui, a vinculação do dinheiro público com
mento legal do ato concessório;
a legislação.
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara
z Legitimidade e Economicidade: são parâmetros
dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão
que atuam de forma conjunta. A legalidade pro-
técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de
cura verificar se o gasto alcançou a finalidade
natureza contábil, financeira, orçamentária, opera-
almejada, analisando a Lei Orçamentária. Já a eco-
cional e patrimonial, nas unidades administrativas
nomicidade verifica a relação de custo-benefício dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e
daqueles gastos, isso é, se foi o menor possível e, demais entidades referidas no inciso II;
com isso, o mais eficiente possível. V - fiscalizar as contas nacionais das empresas
supranacionais de cujo capital social a União par-
A parte final do referido art. 70 preceitua a possi- ticipe, de forma direta ou indireta, nos termos do
bilidade de um controle interno, isso é, órgãos dentro tratado constitutivo;
dos Três Poderes com funções que seriam para exer- VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos
cer a fiscalização de seus próprios atos. Isso, segundo repassados pela União mediante convênio, acordo,
o art. 74, da CF, de 1988, teria a finalidade de: ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Esta-
do, ao Distrito Federal ou a Município;
Art. 74 [...] VII - prestar as informações solicitadas pelo Con-
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no gresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou
plano plurianual, a execução dos programas de por qualquer das respectivas Comissões, sobre a
governo e dos orçamentos da União; fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, operacional e patrimonial e sobre resultados de
quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentá- auditorias e inspeções realizadas;
ria, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilega-
da administração federal, bem como da aplicação de lidade de despesa ou irregularidade de contas, as
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
recursos públicos por entidades de direito privado;
sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre
III - exercer o controle das operações de crédito, avais
outras cominações, multa proporcional ao dano
e garantias, bem como dos direitos e haveres da União;
causado ao erário;
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade
missão institucional.
adote as providências necessárias ao exato cumpri-
mento da lei, se verificada ilegalidade;
Por fim, é importante ressaltar o papel do Tribu- X - sustar, se não atendido, a execução do ato
nal de Contas da União (TCU) no exercício do controle impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos
legislativo. Deputados e ao Senado Federal;
O TCU é um órgão colegiado responsável em auxi- XI - representar ao Poder competente sobre irregu-
liar o exercício do controle externo, sendo disciplinado laridades ou abusos apurados.
tanto pela Constituição (arts. 71 e seguintes), como por § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será
legislação específica (Lei nº 8.443, de 1992). É composto adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que
por nove Ministros, sendo três deles convocados pelo solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medi-
Presidente da República, sendo dois alternadamente das cabíveis.
dentre auditores e membros do Ministério Público jun- § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo,
to ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas
segundo os critérios de antiguidade e merecimento. Os previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidi-
seis remanescentes são nomeados pelo próprio Con- rá a respeito.
gresso Nacional. O regime jurídico desses Ministros se 355
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte impu- A fundamentação dessa soberania dos reis absolu-
tação de débito ou multa terão eficácia de título tistas era baseada na teoria político-teológica de que
executivo. eles eram representantes de Deus na terra, investidos
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacio- desse Poder por obra divina. Tal teoria seria superada
nal, trimestral e anualmente, relatório de suas
com o advento do Estado de Direito francês, sobretudo
atividades.
do julgamento pelo Tribunal de Conflitos da França,
denominado Aresto Blanco, no ano de 1873. O julga-
Do dispositivo apresentado, deve-se fazer duas
mento consistia na imputação ao Estado do dever de
ponderações:
reparar danos causados por um vagão da Companhia
Nacional de Manufatura do Fumo, que havia atropela-
Observe que o TCU possui uma função consultiva,
do uma menina enquanto brincava na rua.
ao emitir parecer prévio a prestação de contas do Pre-
A Teoria da Responsabilidade Subjetiva foi a
sidente da República. Isso porque o TCU não julga as
primeira tentativa de explicar a imputação ao Estado
contas do Presidente, essa é uma tarefa exclusiva da
Câmara dos Deputados. Mas o TCU também apresenta do dever de reparar os danos patrimoniais e demais
função judicante, isso é, de julgar as contas dos admi- prejuízos causados pela conduta de seus agentes. Por
nistradores e demais responsáveis por dinheiros, bens essa corrente teórica, o Estado passaria a adquirir
e valores públicos da administração direta e indireta. uma segunda personalidade denominada “fisco”, sen-
Lembre-se que, para os servidores públicos, qualquer do esta uma personalidade patrimonial, capaz de res-
ato que enseje em prejuízos financeiros ao erário é sarcir os particulares pela prática de atos de gestão.
caracterizado como ato de improbidade administrati- No caso apresentado, o Estado acabou se tornando
va, nos termos da Lei nº 8.429, de 1992. o ente responsável por reparar a família pela mor-
te da menina. Ocorre que a grande inovação se deu
A decisão do Tribunal de Contas poderá julgar as quando a corte julgadora decidiu que a responsabi-
contas dos administradores como: lidade do Estado não poderia ter o seu fundamento
retirado do Direito Civil. Assim, a responsabilidade
z Regulares: se apresentarem com exatidão aquilo estatal tem seu fundamento ligado às noções de res-
expresso nos demonstrativos contábeis; ponsabilidade mais amplas do que o âmbito de Direito
z Regulares com ressalvas: significa que há uma Civil, o que significa que, para o Estado ser conside-
impropriedade formal, mas que não é suficiente rado responsável, deve haver a comprovação de que
para causar prejuízo ao erário (questões de proce- este agiu com culpa lato sensu, abrangendo as hipóte-
dimento, mera solenidade); ses de dolo (intenção de lesar), bem como as de negli-
z Irregulares: quando as contas apresentam algum gência, imprudência e imperícia (culpa stricto sensu).
erro material capaz de ensejar prejuízos ao erário. Essa era a grande dificuldade dessa teoria: pelo fato da
Se houve prejuízo de fato, o Tribunal condena ao relação entre a Administração Pública e o particular
pagamento do débito, acrescido de juros, correção ser desigual, a vítima muitas vezes não possuía meios
monetária, podendo inclusive aplicar multa san- suficientes para comprovar a conduta dolosa ou cul-
cionatória de 100% do valor atualizado do dano. posa do Estado. No Brasil, adotamos a teoria subjeti-
va no Direito Público, excepcionalmente, nos casos
de omissão da Administração, ou na possibilidade
de ação regressiva desta perante seus agentes.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO A terceira teoria, denominada Teoria da Res-
ponsabilidade Objetiva, surge nos meados de 1946.
Nos dias atuais, temos a total compreensão da ideia Consiste no afastamento da necessidade de compro-
de responsabilidade civil e extracontratual do Estado. vação de dolo ou culpa do agente público, tendo por
Significa dizer que ao Estado é imputado o dever de fundamento do dever de indenizar a concepção de
ressarcir particulares pelos prejuízos praticados na risco administrativo. Quem presta um serviço públi-
conduta de seus agentes, independentemente de qual- co, assume o risco dos prejuízos que eventualmente
quer acordo ou pacto estabelecido. causar a outrem. Não cabe, dessa forma, a discussão
Todavia, essa concepção que temos atualmen- sobre aspectos subjetivos da responsabilidade estatal,
te não “brotou da terra”: ela foi o resultado de uma exceto nas hipóteses de ação regressiva.
longa evolução histórica sobre a forma de atuação do
Poder Público na esfera privada. Por isso, é importan- RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO DIREITO
te analisar a evolução histórica da responsabilidade BRASILEIRO
estatal, tendo como foco os países ocidentais, sobre-
tudo o Brasil. A Constituição Federal de 1988 adotou a teoria da
responsabilidade objetiva, na variação de risco admi-
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS TEORIAS DE nistrativo, que admite algumas excludentes ao dever
RESPONSABILIDADE de indenizar, conforme se depreende da leitura do §
6º, do art. 37, da CF, de 1988:
De modo geral, pode-se afirmar que a responsabi-
lidade civil da Administração passou por três grandes
Art. 37 [...]
fases. A primeira fase, denominada Teoria da Irres- § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de
ponsabilidade, adveio na época dos Estados Absolu- direito privado prestadoras de serviços públicos
tistas, onde havia uma concentração do poder político responderão pelos danos que seus agentes, nes-
nas mãos de uma única pessoa. O Monarca, assim, sa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
praticava atos que jamais poderiam ensejar a repara- direito de regresso contra o responsável nos casos
ção pelos danos, uma vez que o Monarca fazia a sua de dolo ou culpa.
vontade ter força de lei.
356
Observe que o texto constitucional imputa às pes- Quando o ato é comissivo, não há questionamen-
soas jurídicas de direito privado, como sociedades de to acerca da culpa do Estado em sua conduta. Nesse
economia mista e empresas públicas, o dever de repa- caso, a responsabilidade objetiva do Estado se dará
rar na mesma modalidade que as pessoas da Adminis- pela presença dos seus pressupostos: o fato adminis-
tração Direta. A Lei nº 8.112, de 1990, que dispõe sobre trativo, o dano e o nexo causal existente entre os dois.
o regime dos servidores públicos, apresenta uma seção Todavia, quando a conduta estatal for omissiva,
sobre responsabilidades dos agentes públicos, colocan- será preciso distinguir se a omissão constitui ou não
do em destaque a responsabilidade objetiva. Temos no fato gerador da responsabilidade civil do Estado. Isso
art. 112 da referida Lei: “A responsabilidade civil decor- significa que nem toda conduta omissiva caracteriza-se
re de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que em um dever de indenizar, configurando-se na respon-
resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros”. sabilização do ente estatal. Somente quando o Estado
O dever estatal de indenizar os particulares possui se omitir diante do dever legal de impedir a ocor-
dois fundamentos distintos: a legalidade e a igualda-
rência do dano é que será civilmente responsável.
de. Na hipótese de o Poder Público praticar um ato
Ainda sobre a omissão, há uma discussão doutriná-
ilícito, causador de danos patrimoniais para a coleti-
ria a respeito da responsabilidade omissiva ser objetiva
vidade, o dever de indenizar advém do princípio da
legalidade, uma vez que a atuação do agente público ou subjetiva. A primeira corrente, defendida por juristas
deve ser feita sempre de acordo com a lei (secundum como Hely Lopes Meirelles, defende que se a Constitui-
legem). Há, também, casos em que a Administração ção Federal não distinguiu a responsabilidade por ação
pratique atos lícitos, mas que também podem causar e omissão, então não deve o intérprete fazê-lo também.
prejuízos especiais ao particular. Nessas hipóteses, o Porém, a corrente majoritária defendida por
dever de indenizar advém do princípio da isonomia, juristas como Celso Antônio Bandeira de Mello diz
que pressupõe a igual repartição dos encargos sociais. que a responsabilidade civil por omissão é sempre
subjetiva. Nesses casos, o Estado raramente é o autor
REQUISITOS PARA DEMONSTRAÇÃO DE do ato danoso. Por isso, só responderá se restar com-
RESPONSABILIDADE ESTATAL provado que ele tinha o dever legal de agir para impe-
dir o resultado, e não o faz. Há uma análise subjetiva
Para que haja a configuração da responsabilidade da conduta do Poder Público. Assim, o entendimento
civil do Estado, é importante a presença de três ele- mais correto é de que a responsabilidade civil do Esta-
mentos: a) um ato do agente público, b) dano ao do, no caso de conduta omissiva, só ocorrerá quando
particular, c) nexo de casualidade entre o dano e o presentes os elementos que caracterizam a culpa em
ato praticado. sentido amplo, logo, responsabilidade subjetiva.
Em relação ao segundo elemento, a doutrina cos-
tuma apontar quais são os danos que ensejam o dever DAS CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA
de indenizar, isso é, quais são os denominados danos RESPONSABILIDADE
indenizáveis. Assim, considera-se dano indenizável:
Dentro do âmbito da teoria objetiva da responsabili-
z Dano anormal: é o dano que ultrapassa os incon- dade estatal, existem duas vertentes distintas. A primeira,
venientes naturais e esperados da vida em socie- denominada risco integral, dispõe que o Estado possui
dade. A vida em sociedade é caracterizada pelo o dever de indenizar todo e qualquer dano causado pela
advento de certos incômodos normais e toleráveis prática de seus atos, não admitindo nenhuma excluden-
a todos os cidadãos. Tais desconfortos só enseja- te. Trata-se de uma variação radical, em que a Adminis-
ram o dever de indenizar se forem considerados tração se transforma em um indenizador universal. Não
intoleráveis. Assim, por exemplo, a feira colocada
é adotado em nenhum país, sendo adotado no Brasil
em rua residencial não enseja dever de indenizar;
somente como exceção em alguns casos específicos,
z Dano específico: é aquele que atinge uma certa
como nos acidentes de trabalho, na indenização coberta
pessoa, ou uma certa categoria de pessoas. Dessa
pelo seguro obrigatório para automóveis (DPVAT) etc.
forma, se o ato da Administração é capaz de causar
A segunda vertente, denominada teoria do ris-
danos de modo geral, para toda a coletividade, não
co administrativo, é a adotada como regra geral no
se caracteriza dano indenizável. Por exemplo: não
direito brasileiro. Tal teoria reconhece algumas exclu-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
é considerado dano indenizável o aumento da tari-
dentes da responsabilidade do Estado. Excludentes
fa do transporte público, haja vista que todos as
são circunstâncias que, como o próprio nome diz,
pessoas daquela cidade sofrerão com tal medida.
afastam o dever de indenizar durante a sua ocorrên-
cia. São, ao todo, três modalidades:
Responsabilidade por Ato Comissivo do Estado
z C
ulpa exclusiva da vítima: são hipóteses em que o
A responsabilidade por ação é aquela que se carac-
prejuízo é consequência da intenção deliberada da
teriza pelo ato comissivo. O Estado pode causar danos
própria vítima. O prejudicado, ao utilizar o referi-
aos particulares tanto por ação ou por omissão. Quan-
do o ato é comissivo, não há questionamento acerca do serviço público, acaba sofrendo danos por uma
da culpa do Estado em sua conduta. Nesse caso, a ação tomada por ela mesma, não havendo qual-
responsabilidade objetiva do Estado se dará pela pre- quer relação com as condutas do Poder Público. É o
sença dos seus pressupostos: o fato administrativo, o caso, por exemplo, de pessoa que se joga na frente
dano e o nexo causal existente entre os dois. de viatura policial para ser atropelada. Não se con-
funde com a culpa concorrente, que se traduz no
Responsabilidade por Omissão do Estado dano causado pela conduta recíproca do Estado e
da própria vítima. Neste caso, há uma análise peri-
A responsabilidade por ação é aquela que se carac- cial para determinar os diferentes graus de culpa de
teriza pelo ato comissivo. O Estado pode causar danos cada agente, ensejando reparação;
aos particulares tanto por ação ou por omissão. 357
z Força maior: é o evento imprevisível e involuntá- RESPONSABILIDADE DO ESTADO SEGUNDO
rio que rompe o nexo de casualidade entre o ato REITERADAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL
da Administração e o prejuízo sofrido pela vítima. FEDERAL (STF)
Geralmente são causados pela força da natureza.
É o caso, por exemplo, do desabamento de terras É bem comum que algumas questões exijam do
que arruínam as casas de um bairro, devido às for- candidato conhecimentos sobre a jurisprudência de
tes chuvas. Não se confunde com o caso fortuito, determinada matéria. De fato, a teoria da responsa-
em que o dano decorre de ato humano, ou da pró- bilidade extracontratual do Estado abrange diversas
pria Administração, como o desabamento de uma casuísticas que podem gerar algumas dúvidas, sobre
estrada. O caso fortuito enseja o dever de respon- as quais a doutrina faz pouca menção.
sabilidade somente se tal evento for causado pelo Observe as seguintes ementas relacionadas com a
agente público; referida matéria, todas extraídas do STF:
z Culpa de terceiro: é a hipótese em que o prejuí-
zo é atribuído a pessoa estranha aos quadros da EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPER-
Administração Pública. Dessa forma, não há como CUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
o Estado ser imputado responsável por atos pra- ESTADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º,
ticados por pessoas que não fazem parte de sua XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A
composição. responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição
Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à
Curioso é o caso dos danos causados pelas enchentes, teoria do risco administrativo, tanto para as condutas
sobretudo em cidades onde o escoamento das águas é estatais comissivas quanto paras as omissivas, posto
precário, como ocorre em algumas regiões da cidade de rejeitada a teoria do risco integral. 2. A omissão do
São Paulo. Como regra geral, o Estado não se responsabi- Estado reclama nexo de causalidade em relação ao
liza por prejuízos causados pelas enchentes. A 3º Câma- dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder
ra de Direito Público do TJ/SP negou provimento à AC nº Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade
0170440220058260602 interposta por três proprietários de agir para impedir o resultado danoso. 3. É dever
de imóveis afetados pelas fortes chuvas do início do ano do Estado e direito subjetivo do preso que a execução
de 2012, que pleiteavam pedido de indenização pelos da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se os
danos causados pelas chuvas, pois as galerias pluviais direitos fundamentais do detento, e o de ter preser-
de seu bairro não eram suficientes para escoar toda a vada a sua incolumidade física e moral (art. 5º, inciso
água, caracterizando-se em falta no serviço público. XLIX, da Constituição Federal). 4. O dever constitu-
Segundo voto do relator, porém, não havia qualquer cional de proteção ao detento somente se considera
prova que defina a ocorrência de qualquer falta de ser- violado quando possível a atuação estatal no sentido
viço que possa ser atribuída ao Município e que tenha de garantir os seus direitos fundamentais, pressupos-
sido causa concorrente para o evento. to inafastável para a configuração da responsabilida-
Todo aquele que se sentir prejudicado por con- de civil objetiva estatal, na forma do art. 37, § 6º, da
duta comissiva ou omissiva de agente público pode Constituição Federal. 5. Ad impossibilia nemo tenetur,
pleitear, pela via administrativa ou judicial, a devi- por isso que nos casos em que não é possível ao Esta-
da reparação pelos danos causados. Na via adminis- do agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
trativa, basta que o prejudicado formule o pedido mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se
a autoridade competente, que instaurará processo o nexo de causalidade, afastando-se a responsabili-
administrativo para apurar a responsabilidade e o dade do Poder Público, sob pena de adotar-se contra
pagamento de indenização. legem e a opinio doctorum a teoria do risco integral, ao
Porém, é preferível que a vítima utilize a via judi- arrepio do texto constitucional. 6. A morte do detento
cial, hipótese mais comum haja vista o direito de peti- pode ocorrer por várias causas, como, v. g., homicí-
ção, que se caracteriza no dever do Poder Judiciário dio, suicídio, acidente ou morte natural, sendo que
de atender todas as demandas feitas pelos cidadãos. nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais
O direito à indenização da vítima se instrumentaliza que adote as precauções exigíveis. 7. A responsabili-
pela ação indenizatória. A ação indenizatória, dessa dade civil estatal resta conjurada nas hipóteses em
forma, é aquela proposta pela vítima contra a pessoa que o Poder Público comprova causa impeditiva da
jurídica que o agente público causador do dano per- sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo
tence. Conforme dispõe o inciso V, do § 3º, do art. 206, de causalidade da sua omissão com o resultado dano-
do Código Civil, o prazo prescricional para a proposi- so. 8. Repercussão geral constitucional que assenta a
tura de ação indenizatória é de três anos, contados da tese de que: em caso de inobservância do seu dever
ocorrência do evento danoso. específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX,
Lembrando também que sempre há a possibilida- da Constituição Federal, o Estado é responsável pela
de de direito de regresso, por parte do ente público, morte do detento. 9. In casu, o tribunal a quo assentou
contra o agente que, de fato, praticou a conduta dano- que inocorreu a comprovação do suicídio do detento,
sa. Óbvio, quando a culpa recair totalmente sobre um nem outra causa capaz de romper o nexo de causali-
agente ou um pequeno grupo de agentes públicos, o dade da sua omissão com o óbito ocorrido, restando
Estado não pode ser o único a arcar com os prejuí- escorreita a decisão impositiva de responsabilidade
zos da reparação, ele possui direito de regresso. Ain- civil estatal. 10. Recurso extraordinário DESPROVIDO.
da que os agentes não indenizem a vítima, sobre eles
podem recair a ação regressiva com essa finalidade (RE 841526, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
específica. Significa dizer que os agentes públicos só MÉRITO DJe-159 DIVULGAÇÃO 29-07-2016 PUBLICAÇÃO 01-08-2016)
podem responder de forma subjetiva, devendo inde-
nizar o Poder Público pela prática de seus atos.
358
Um tema que costuma cair bastante em questões CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTA-
de prova diz respeito à morte do preso. Segundo enten- DO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDI-
dimento do STF, o Estado tem o dever de garantir que CAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO
a pessoa do detento cumpra sua pena com dignidade, PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO
respeitados os seus direitos humanos fundamentais. DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPON-
Assim, quando um detento morre dentro da prisão, SABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS
demonstra-se uma omissão do Estado de atuar em NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO.
garantir seus direitos. Até mesmo em casos de suicí-
dio é possível a responsabilização civil do Estado. Art. 37º [...]
§ 6º [...]
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPER- I- A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de
CUSSÃO GERAL RECONHECIDA. DIREITO CONSTITUCIO- direito privado prestadoras de serviço público é
NAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO objetiva relativamente a terceiros usuários e não-u-
ESTADO POR OMISSÃO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO suários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º,
FEDERAL. FISCALIZAÇÃO DO COMÉRCIO DE FOGOS da Constituição Federal.
II- A inequívoca presença do nexo de causalidade
DE ARTIFÍCIO. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO.
entre o ato administrativo e o dano causado ao
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NECESSIDADE DE VIO-
terceiro não-usuário do serviço público, é condição
LAÇÃO DO DEVER JURÍDICO ESPECÍFICO DE AGIR. 1. A suficiente para estabelecer a responsabilidade obje-
Constituição Federal, no art. 37, § 6º, consagra a respon- tiva da pessoa jurídica de direito privado.
sabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de direito III- Recurso extraordinário desprovido.
público e das pessoas de direito privado prestadoras de
serviços públicos. Aplicação da teoria do risco adminis- (RE 591874, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,
trativo. Precedentes da CORTE. 2. Para a caracterização julgado em 26/08/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-237
da responsabilidade civil estatal, há a necessidade da DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-10 PP-
observância de requisitos mínimos para aplicação da res- 01820 RTJ VOL-00222-01 PP-00500)
ponsabilidade objetiva, quais sejam: a) existência de um
dano; b) ação ou omissão administrativa; c) ocorrência de Outro caso que é bastante comum e costuma cair
nexo causal entre o dano e a ação ou omissão administra- em questões de prova diz respeito ao serviço públi-
tiva; e d) ausência de causa excludente da responsabilida- co de transporte coletivo. Indaga-se como recairia a
de estatal. 3. Na hipótese, o Tribunal de Justiça do Estado responsabilidade do Estado quando, por exemplo, um
de São Paulo concluiu, pautado na doutrina da teoria do motorista de ônibus atropela um civil andando na
risco administrativo e com base na legislação local, que rua, que é considerado um terceiro não-usuário do
não poderia ser atribuída ao Município de São Paulo a serviço. Segundo o entendimento do STF, as pessoas
responsabilidade civil pela explosão ocorrida em loja de jurídicas concessionários do serviço de transporte
fogos de artifício. Entendeu-se que não houve omissão possuem responsabilidade civil objetiva quando
estatal na fiscalização da atividade, uma vez que os pro- o dano for causado contra terceiros, sejam eles
prietários do comércio desenvolviam a atividade de for- usuários do serviço ou não. A presença do nexo de
ma clandestina, pois ausente a autorização estatal para casualidade é bastante evidente.
comercialização de fogos de artifício. 4. Fixada a seguinte
tese de Repercussão Geral: “Para que fique caracterizada
a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes
do comércio de fogos de artifício, é necessário que exista a HORA DE PRATICAR!
violação de um dever jurídico específico de agir, que ocor-
rerá quando for concedida a licença para funcionamento 1. (FGV — 2014) A Administração Pública é entendida
sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do como o conjunto de estruturas estatais voltadas para
poder público eventuais irregularidades praticadas pelo o atendimento de necessidades da coletividade e de
particular”. 5. Recurso extraordinário desprovido. funções relacionadas à gestão da máquina estatal,
além da área do conhecimento científico‐social.
(RE 136861, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: A esse respeito, analise o fragmento a seguir.

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO


ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 11/03/2020,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-201 “A Administração Pública também designa o conjunto
DIVULG 12-08-2020 PUBLIC 13-08-2020)
de desempenhadas para organizar a administração do
Estado em todas as suas.” Assinale a opção que com-
Fogos de artifício são produtos altamente perigosos
pleta corretamente as lacunas do fragmento acima.
e que podem causar danos a diversas vítimas, seja ela
o adquirente do produto, ou ainda terceiros. Observe
a) funções – atividades
que, no caso mencionado, a vítima adquiriu fogos de
b) ciências – instâncias
artifícios de forma clandestina dos proprietários do
c) ciências – atividades
comércio. Não houve, assim, a aquisição de licença
d) funções – instâncias
para a venda desses produtos. Sendo assim, firmou-
e) funções – estruturas
-se entendimento de que só caberá responsabilida-
de civil do Estado quando restar comprovado que
2. (FGV — 2014) Ato administrativo é conceituado pela
houve a violação de um dever jurídico específico
doutrina como a exteriorização da vontade de agen-
de agir, como no caso de concessão de licença para
tes da Administração Pública ou de seus delegatários,
pessoa incapaz ou sem os cuidados específicos. Assim,
nessa condição, que, sob regime de direito público,
é hipótese de responsabilidade subjetiva.
vise à produção de efeitos jurídicos, com o fim de
atender ao interesse público. Nesse contexto, afirma-
-se que o ato administrativo pode ser praticado: 359
a) pelos agentes integrantes dos órgãos do Poder Exe- Em tema de poderes administrativos, é correto afirmar
cutivo, não podendo ser praticado por integrantes dos que a citada resolução foi editada com base no poder:
Poderes Judiciário e Legislativo que desempenham,
respectivamente, funções jurisdicional e legislativa; a) de polícia do Judiciário, que tem competência legal
b) por agentes de empresas concessionárias e permis- para estabelecer os parâmetros internos para reger
sionárias de serviços públicos, ainda que fora dos limi- o porte de arma e demais questões afetas à segu-
tes da função delegada; rança pública dos cidadãos e de seus servidores e
c) por Prefeito, Parlamentar e Magistrado, no exercício magistrados;
de suas atividades típicas de natureza, respectivamen- b) discricionário, uma vez que cabe ao Presidente do
te, administrativa, legislativa e jurisdicional; respectivo Tribunal, no regular exercício da autonomia
d) por agentes de quaisquer dos Poderes Executivo, Legis- organizacional e administrativa de cada Tribunal, esta-
lativo e Judiciário, bem como integrantes da adminis- belecer regras internas sobre segurança pública;
tração indireta, no exercício de função administrativa; c) normativo, que é aquele conferido à Administração
e) por agentes integrantes da administração direta muni- Pública para expedição de normas gerais, abstratas e
com efeitos erga omnes, para, no caso concreto, com-
cipal, incluindo os Poderes Executivo, Legislativo e
plementar a Lei nº 10.826/03, observados seus limites
Judiciário municipais.
e visando à sua efetiva aplicação;
d) hierárquico, que é aquele exercido verticalmente, no
3. (FGV — 2018) Em uma situação hipotética, um chefe
topo da pirâmide administrativa do Tribunal por seu
de departamento da prefeitura de determinado muni-
Presidente, que possui a competência legal para regu-
cípio ordena que seu subordinado o ajude a levar uma lamentar atividades de segurança previstas na Lei nº
mala de dinheiro subtraído das finanças públicas 10.826/03;
para sua casa, garantindo estar apenas fazendo um e) disciplinar, que é a prerrogativa de direito público, para
empréstimo para pagar dívidas. regulamentar e condicionar direitos e liberdades indi-
viduais, tendo por fundamento a supremacia do inte-
Estranhando a situação, o subordinado manda uma resse público e, no caso concreto, ampliar as normas
mensagem para um advogado, perguntando como da Lei nº 10.826/03.
deve proceder. O advogado, por sua vez, responde,
prontamente, que, conforme a doutrina, 6. (FGV — 2018) Em tema de poderes administrativos, a
doutrina de Direito Administrativo ensina que os atos
a) o servidor possui o dever legal de obedecer atos de administrativos da delegação e da avocação são fun-
seu superior hierárquico, de forma inquestionável. damentados na prerrogativa do agente público decor-
b) o servidor tem irrestrita liberdade para decidir, em fun- rente do poder:
ção de sua estabilidade no cargo.
c) a imperatividade relativiza a atitude do chefe de depar- a) disciplinar, segundo o qual o agente público com com-
tamento, invertendo o ônus da prova. petência pode expedir normas gerais e abstratas para
d) a ordem, por ser manifestamente ilegal, afasta a pre- viabilizar a aplicabilidade de lei preexistente;
sunção de legitimidade do ato. b) hierárquico, segundo o qual o agente público de hierar-
e) a ordem, embora excepcionalmente, contém os ele- quia superior pode, na forma da lei, estender ou cha-
mentos essenciais para a sua eficácia. mar para si, de forma temporária, competência para
determinado ato;
4. (FGV — 2021) A discricionariedade administrativa c) normativo, segundo o qual o agente público pode res-
refere-se à maneira pela qual a Administração Públi- tringir liberdades individuais e propriedade privada em
ca utiliza seu poder para exercer atos administrativos prol do interesse público coletivo;
com a finalidade de atender ao interesse público. Em d) regulamentar, segundo o qual a autoridade pública
relação ao conceito de discricionariedade administra- competente deve expedir decretos autônomos para
tiva, assinale a afirmativa correta. disciplinar o funcionamento orgânico da administração;
e) de polícia, segundo o qual a autoridade pública tem a
faculdade de estabelecer a competência dos servido-
a) É a liberdade do administrador de tomar determinadas
res que lhe são vinculados, sob pena de uso das for-
decisões, desde que esteja nos limites da lei.
ças de segurança.
b) É a expansão do ato administrativo por agentes putati-
vos, em consonância com o arcabouço legal.
7. (FGV — 2015) Poderes administrativos são o conjunto
c) É a ação realizada com desrespeito à ordem jurídica
de prerrogativas que o ordenamento jurídico confere
vigente, em função de um viés pessoal. aos agentes administrativos com a finalidade de per-
d) É a permissão da execução de ato pela administração, mitir que o Estado alcance seus objetivos para aten-
sem recorrer ao Poder Judiciário. der ao bem comum. É hipótese de emprego do poder
e) É a vinculação de ato administrativo à lei, sem possibi- disciplinar a:
lidade de questionamento.
a) aplicação de uma multa por agente público municipal
5. (FGV — 2017) A Resolução Administrativa nº 12/2016 ao particular que cortou árvore em área de preserva-
do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região regu- ção ambiental permanente;
lamenta, no âmbito daquele Tribunal, a aplicação da b) interdição de um supermercado que vendia produtos
resolução conjunta nº 04/2014, dos presidentes do impróprios ao consumo pela equipe de fiscalização
CNJ e CNMP, que autoriza o porte de arma de fogo para sanitária municipal;
os servidores que efetivamente estejam no exercício c) fiscalização do trânsito de veículos automotores por
de funções de segurança, conforme permissivo legal agentes municipais com o objetivo de manter a regu-
360 do Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03). laridade do tráfego nas vias municipais;
d) edição de um decreto pelo Prefeito contendo normas a) Banco Central do Brasil;
genéricas e abstratas para complementar determina- b) Controladoria Geral da União;
da lei municipal e permitir a sua efetiva aplicação; c) Ministério da Defesa;
e) demissão de um agente público municipal, após pro- d) Ministério Público Federal;
cesso administrativo disciplinar em que foram asse- e) Tribunal de Contas da União.
gurados o contraditório e a ampla defesa, pela prática
de infração funcional. 11. (FGV — 2017) Na Administração Pública brasileira, as
pessoas jurídicas que correspondem a uma extensão
8. (FGV — 2019) De acordo com a doutrina de Direito da Administração direta, executando atividades típicas
Administrativo, em matéria de poderes administrati- do Estado de forma descentralizada, possuindo perso-
vos, destaca-se o poder de polícia, que muito é utili- nalidade jurídica própria de Direito Público, patrimônio
zado para embasar os atos praticados por servidores e receita próprios, atribuição específica e autonomia
ocupantes do cargo efetivo de Guarda Civil Municipal administrativa e financeira, criadas por lei e vinculadas
de Salvador. a um Ministério ou à Presidência da República, são
denominadas:
Tal poder pode ser conceituado como a prerrogativa
de direito público que, calcada na lei, autoriza a) órgãos da administração direta;
b) concessionárias de serviços públicos;
a) a Administração Pública, por meio do Poder Executivo, c) organizações sociais (OS);
a editar leis complementares dispondo sobre o fun- d) empresas públicas;
cionamento das forças de segurança pública em nível e) autarquias.
municipal.
b) o Poder Executivo a determinar o confisco de bens de 12. (FGV — 2019) Sobre a descentralização por colabora-
origem ilícita adquiridos por pessoas que cometeram ção, assinale a afirmativa correta.
crimes contra a Administração Pública.
c) a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da a) Ocorre quando a Constituição atribui a um ente espe-
liberdade e da propriedade em favor do interesse da cífico que exerça atribuições próprias de forma autô-
coletividade. noma ao ente central.
d) a Guarda Municipal a proceder à prisão-captura de b) Ocorre quando a Administração Pública transfere, por
suspeitos de crimes hediondos, mesmo sem situação contrato ou ato administrativo unilateral, a execução
de flagrante ou ordem judicial. de serviço público a uma pessoa jurídica de direito
e) a Guarda Municipal a realizar diligências de busca e privado.
apreensão na casa dos investigados, independente- c) Ocorre quando é outorgada a outros órgãos funções
mente de autorização judicial. de determinada entidade administrativa, visando ao
aumento de eficiência.
9. (FGV — 2019) Com o objetivo de retaliação política, o d) Ocorre quando a Lei específica cede a titularidade de
novo prefeito João, tão logo tomou posse, praticou ato serviço público a uma pessoa jurídica do direito públi-
administrativo determinando a remoção do servidor co, sem que o cedente interfira nas atividades.
público efetivo municipal José, seu antigo desafeto, e) Ocorre quando as organizações paraestatais celebram
que não o apoiou na campanha eleitoral. Inconforma- ajuste com a Administração Pública por termo coope-
do, José buscou assistência jurídica na Defensoria ração e se tornam parte da administração indireta.
Pública, ocasião em que lhe foi informado que era:
13. ( FGV — 2019) No que concerne às Agências Regu-
a) inviável o ajuizamento de ação judicial visando à nuli- ladoras, importantes entidades criadas para fiscalizar
dade ou reforma do ato de remoção, eis que está cal- e regular serviços de determinados setores econômi-
cado na discricionariedade administrativa; cos, assinale a afirmativa incorreta.
b) inviável o ajuizamento de ação judicial visando à nuli-
dade ou reforma do ato de remoção, eis que goza do a) As agências devem ter necessariamente personalida-
atributo da presunção de legalidade e legitimidade; de jurídica de direito público, dotadas de independên-
c) viável o ajuizamento de ação judicial visando à nulida- cia administrativa e autonomia financeira. NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
de do ato de remoção, diante do abuso de poder, na b) Seus dirigentes devem possuir mandatos fixos, sendo
modalidade excesso de poder, por vício no elemento estritamente vedada a possibilidade de exoneração ad
competência do ato; nutum.
d) viável o ajuizamento de ação judicial visando à nuli- c) As agências são autarquias ou fundações públicas
dade do ato de remoção, diante do abuso de poder, que celebraram contrato de gestão com o Poder
na modalidade desvio de poder, por vício no elemento Público.
finalidade do ato; d) Seus atos não podem ser revistos ou alterados pelo
e) viável o ajuizamento de ação judicial visando à revoga- Poder Executivo, apenas pelo Judiciário, devendo, no
ção do ato de remoção, diante do abuso de poder, na entanto, agir conforme suas finalidades específicas.
modalidade excesso de poder, por vício no elemento e) As agências podem existir tanto em âmbito federal
motivo do ato. quanto estadual e municipal, desde que criadas por
lei.
10.
(FGV — 2016) De acordo com o Decreto-Lei n.º
200/1967, a Administração Direta se constitui dos ser- 14. ( FGV — 2015) São objetos atribuídos à concessão, na
viços integrados na estrutura administrativa dos pode- Administração Pública: a delegação da execução de
res que compõem o ente. Considerando a estrutura da um serviço público ao particular; a delegação da exe-
Administração Pública Federal, o único órgão que NÃO cução de obra pública; a utilização de bem público por
integra essa estrutura é: particular com ou sem possibilidade de exploração 361
comercial; e a concessão para prestação de serviços d) 6 (seis) meses, podendo ser prorrogados em até 3
à Administração, acompanhada ou não da execução (três) anos;
de obra ou fornecimento e instalação de bens. Essas e) 2 (dois) anos, podendo ser prorrogados em até 3 (três)
modalidades enquadram-se em duas grandes catego- anos.
rias, sendo a concessão translativa aquela na qual:
17. ( FGV — 2019) Maria, servidora pública, foi aposenta-
a) o Estado delega ao concessionário a execução de um da por invalidez. Ocorre que, um ano depois, após se
serviço ou obra que seriam de sua atribuição, ou seja, submeter a um tratamento específico, foi totalmente
é uma parcela de poderes, direitos, vantagens ou utili- curada, o que a levou a pleitear o retorno ao serviço
dades que se destacam da Administração e se trans- ativo.
ferem ao concessionário;
b) o Estado consente que o particular se utilize de parce- Para que Maria possa retornar ao serviço ativo, deve
la de bem público, mas o direito que o concessionário ocorrer:
vai exercer sobre o bem é de natureza diversa daquele
que o concedente exerce sobre o mesmo bem, sendo a) a sua reversão;
que uma pequena parcela do bem é destinada ao uso b) a sua reintegração;
privativo do concessionário; c) a sua readaptação;
c) o concedente delega ao concessionário poderes para d) a sua transferência;
utilizar ou explorar bem público, mas os atribui em e) o seu aproveitamento.
qualidade inferior e quantidade menor dos que os tem,
relativos à exploração de jazidas e fontes minerais, à 18. (FGV — 2021) João, policial militar do Estado do Rio
utilização de terrenos nos cemitérios como túmulos de Janeiro, lotado em batalhão situado no Municí-
de família, à instalação de indústrias de pesca às mar- pio do Rio de Janeiro, deseja se afastar totalmente
gens dos rios; do serviço, por determinado período de tempo, e se
d) com base em um poder mais amplo, o Estado cons- mudar para a região serrana do Estado. No caso em
titui, em favor do concessionário, um poder menos tela, observada a discricionariedade administrativa, de
amplo, como o que ocorre no caso de concessão de acordo com o Estatuto da Polícia Militar do Estado do
uso de bem público, em suas várias modalidades; Rio de Janeiro, João
e) os direitos ou poderes derivam do ato de concessão,
ao contrário da categoria denominada constitutiva, a) não poderá, em qualquer hipótese, fruir licença para
onde os direitos e poderes transferidos preexistem na tratar de interesse particular, diante da expressa veda-
entidade concedente. ção legal para este tipo de afastamento.
b) não poderá fruir licença para tratar de interesse parti-
15. ( FGV — 2015) Sobre o conceito de servidor público, cular, diante da ausência de previsão legal, mas poderá
analise as afirmativas a seguir. usufruir de licença prêmio, caso tenha mais de cinco
anos de exercício.
I. Os ocupantes de cargo de provimento efetivo ou car- c) poderá fruir licença para tratar de interesse particular,
go em comissão, regidos pela Lei nº 8.112/90, sendo caso tenha mais de cinco anos de efetivo serviço, e
passíveis de responsabilização administrativa, apu- somente poderá ser obtida a cada dez anos da primei-
rada mediante processo administrativo disciplinar ou ra concessão, com prejuízo de sua remuneração.
sindicância de rito punitivo. d) poderá fruir licença para tratar de interesse particular,
II. Os ocupantes de emprego público na administração caso tenha mais de três anos de efetivo serviço, sem
direta, nas autarquias e fundações, nos termos da Lei prejuízo de sua remuneração e da contagem do tempo
nº 9.962/2000, contratados sob regime da Consolida- de efetivo serviço, pelo prazo de até trinta dias.
ção das Leis do Trabalho (CLT). e) poderá fruir licença para tratar de interesse particular,
III. Os contratados por tempo determinado para desem- caso tenha mais de dez anos de efetivo serviço, sem
penhar funções públicas, de forma precária e tempo- prejuízo de sua remuneração e da contagem do tempo
rária, desobrigados de concurso público. de efetivo serviço, pelo prazo de até noventa dias.

Assinale: 19. ( FGV — 2014) Tício, servidor público do Estado do Rio


de Janeiro, resolveu acompanhar a Copa do Mundo no
a) se somente a afirmativa I estiver correta. Brasil e ausentou-se do serviço, sem justa causa, por
b) se somente a afirmativa II estiver correta. mais de 30 dias consecutivos. A penalidade disciplinar
c) se somente a afirmativa III estiver correta. aplicável a ele será
d) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
e) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. a) destituição de função.
b) repreensão.
16. (FGV — 2017) Em caso de recrutamento por processo c) suspensão.
seletivo simplificado, para a realização de pesquisas d) multa.
de natureza estatística, o responsável pela contrata- e) demissão.
ção deverá estar ciente de que os contratos têm prazo
de: 20. ( FGV — 2021) João, Secretário de Segurança Pública
do Estado Alfa, após regular processo administrativo
a) 1 (um) ano, e admitem prorrogação ilimitada; disciplinar, aplicou ao policial Antônio a pena de sus-
b) 1 (um) ano, podendo ser prorrogados em até 3 (três) pensão por 60 dias. No dia seguinte à publicação da
anos; penalidade no Diário Oficial, o policial Antônio apre-
c) 2 (dois) anos, podendo ser prorrogados em até 1 (um) sentou pedido de reconsideração, comprovando que
362 ano; a falta disciplinar praticada está prevista no estatuto
normativo próprio como passível de advertência e não ANOTAÇÕES
suspensão. Ocorre que, na mesma data da publicação
do ato no D.O., por ato do Governador do Estado, João
deixou de ser Secretário de Segurança Pública e, em
seu lugar, assumiu o Coronel Mário. Ao analisar o pedi-
do de reconsideração do policial Antônio, o Secretário
Mário verificou que, de fato, a penalidade a que Antô-
nio deveria ter sido condenado era advertência, e não
suspensão, na forma da normativa aplicável. No caso
em tela, o Secretário Mário deve

a) acolher o recurso de reconsideração de Antônio, com


base nos princípios administrativos da autotutela e da
proporcionalidade.
b) acolher o recurso de reconsideração de Antônio, com
base nos princípios administrativos da impessoalida-
de e da intranscendência subjetiva das sanções.
c) desacolher o recurso de reconsideração de Antônio,
com base nos princípios administrativos da segurança
jurídica e da autotutela.
d) desacolher o recurso de reconsideração de Antônio,
com base nos princípios administrativos da intrans-
cendência subjetiva das sanções e da legalidade.
e) desacolher o recurso de reconsideração de Antônio,
com base nos princípios administrativos da proporcio-
nalidade e da segurança jurídica.

9 GABARITO

1 D

2 D

3 D

4 A

5 C

6 B

7 E

8 C

9 D
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
10 A

11 E

12 B

13 C

14 A

15 A

16 B

17 A

18 C

19 E

20 A
363
364
O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma
vez que está analisando a aplicação da lei penal e
tendo por base a data do fato delituoso. Assim, temos
duas situações:

NOÇÕES DE DIREITO z Ou aplica-se a regra do tempus regit actum, se for


mais benéfico;
PENAL z Ou aplica-se a lei posterior (aquela que entra em
vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa-
tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada
também de lex mitior (lei mais suave).

PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL Observe as duas situações no fluxograma a seguir:

O princípio da reserva legal, previsto no inciso Retroativida de Lei mais


XXXIX do art. 5º da CF e o art. 1º do CP, em matéria Benéfica
penal, dispõe que apenas lei em sentido estrito
(aprovada pelo Congresso Nacional, seguindo o pro-
cedimento legislativo previsto na CF) pode criar cri- Nova lei
mes e sanções (penas e medidas de segurança). Fato em vigor Sentença
Assim, apenas leis ordinárias e leis complementa-
res (leis em sentido estrito) podem prever crimes
e cominar penas: Emendas constitucionais, Medidas
Provisórias, Leis Delegadas, Decretos Legislativos e
LEI “A” LEI “B”
Resoluções não podem ser usadas.
Se esta for mais Se esta for mais
benéfica, adota-se a favorável, usa-se
regra da atividade Retroatividade Benéfica
(tempus regit actum)
APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO
E NO ESPAÇO
Vejamos um exemplo para melhor fixar o exposto:
A LEI PENAL NO TEMPO imagine que um indivíduo pratica um fato delituoso
em 10 de fevereiro de 2021. Naquela data, encontra-se
A lei penal nasce (é sancionada, promulgada e em vigor a Lei “A”, que prevê a pena mínima de 4 anos
publicada), tem seu tempo de vida (vigência) e morre de reclusão para o crime. No entanto, em 10 de março
(é revogada). A revogação pode ser expressa (quando do mesmo ano, entra em vigor a Lei “B”, que comina
lei posterior textualmente afirma que a lei anterior a pena mínima de 2 anos de reclusão para o mesmo
não mais produz efeitos) ou tácita (quando não há delito. Qual delas deve o juiz utilizar ao proferir a sen-
revogação expressa, mas a nova lei é incompatível tença? Neste caso, o magistrado deve aplicar a Lei “B”,
com a anterior ou regula totalmente a matéria que por ser mais favorável ao réu (a Lei “B”, embora não
constava na lei mais antiga). estivesse em vigor na data do fato, volta no tempo,
A regra é que a lei regula todas as situações ocor- retroagindo para beneficiar o agente).
ridas entre a sua entrada em vigor e sua revogação Observe que, no exemplo dado, a lei posterior (Lei
(tempus regit actum). Esse fenômeno jurídico é cha- “B”) é mais favorável ao agente.
mado de atividade. No entanto, lei posterior pode entrar em conflito
Se, excepcionalmente, a lei regula situações fora com a anterior de maneiras diferentes, gerando situa-
de seu período de vigência, temos o fenômeno da ções diversas.
extra-atividade. A extra-atividade dá-se de duas for- Para solucionar cada uma delas, o CP aponta
mas: quando a lei regula situações ocorridas antes regras que são aplicadas conjuntamente com os prin-
de sua vigência (passado), chamamos a extra-ativi- cípios que vimos anteriormente. São quatro diferen-
dade de retroatividade. Se, por outro lado, a lei se tes situações:
aplica mesmo depois de cessada sua vigência (futu-
ro), temos a ultra-atividade. z Abolitio criminis ou Novatio Legis ou Lei
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A regra é a atividade da lei penal, ou seja, sua apli- supressiva de incriminações


cação somente durante seu período de vigência. Como
exceção, temos a extra-atividade da lei penal mais bené- A lei nova suprime (deixa de considerar como
fica, ou seja, sua aplicação para regular situações pas- infração um fato que era anteriormente punido) e o
sadas (retroatividade) ou futuras (ultra-atividade) fato passa a ser considerado como atípico.
Observe o art. 2º do Código Penal: Por força da retroatividade (Inciso XL, do art. 5º, da
CF e caput, do art. 2º, do CP) aplica-se a lei nova. Ocorre
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei a extinção da punibilidade (é, pois, causa extintiva da
posterior deixa de considerar crime, cessando em punibilidade, conforme o inciso III, do art. 107, do CP).
virtude dela a execução e os efeitos penais da sen- Os agentes que estiverem sendo processados terão
tença condenatória. seus processos extintos. Os que ainda seriam proces-
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer sados terão seus inquéritos trancados. Importante
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- salientar que com a abolitio criminis cessam-se os
riores, ainda que decididos por sentença condena- “efeitos penais da sentença condenatória”. Atenção!
tória transitada em julgado. Não cessam os efeitos civis. 365
z Novatio legis in mellius De quem é a competência para aplicar a lei poste-
rior favorável? Antes do juiz proferir a sentença, não
É a lei nova (novatio legis) que, diferente da aboli- há dificuldade: cabe ao juiz de 1º grau sua aplicação;
tio criminis, não exclui o crime, contudo é mais favo- em grau de recurso, a competência é do Tribunal; e
rável ao agente (in mellius). Por exemplo, quando se já transitada em julgado a sentença, a competência
comina pena mais branda, inclui atenuantes (causas é do juiz da execução penal, de acordo com o inciso
de diminuição de pena), permite a obtenção de bene- I, do art. 66, da Lei de Execução Penal (LEP). Este é
fícios como sursis (suspensão condicional do proces- o posicionamento majoritário da doutrina e jurispru-
so) e o livramento condicional, entre outros. dência (Súmula 611 do STF).
De acordo com o inciso XL, do art. 5º, da CF, e caput, Todas as situações que vimos anteriormente
do art. 2º, do CP, a lei mais branda retroage para favo- podem ser resolvidas pela seguinte regra: A Lei só
recer o agente, aplicando-se aos fatos anteriores, ain- retroage para beneficiar o sujeito. No entanto, como
da que eles já tenham sidos decididos por sentença saber qual das leis em conflito é a mais favorável ao
condenatória transitada em julgado. agente? Para avaliar a mais benéfica, o juiz deve sem-
pre apreciar o caso concreto sob a eficácia de cada
z Novatio legis in pejus uma das leis com conflito, comparando o resultado: o
que mais favorecer o agente deve prevalecer.
Ocorre quando a lei posterior, sem criar novo tipo
incriminador, de qualquer modo, agrava a situação Lei Intermediária
do agente (in pejus).
Por exemplo: aumenta a pena, ou impõe uma for- O que acontece se houver uma lei intermediária,
ma de execução mais severa, instituindo, por exem- ou seja, que entrou em vigor depois da data do fato
plo, que a pena do crime agora será de reclusão e não e foi revogada antes da sentença? Neste caso, deve
mais de detenção. Lembre-se de que na reclusão o ser aplicada em favor do réu a mais favorável delas,
regime de cumprimento de pena inicia-se no fechado, mesmo que for a intermediária (também chamada de
ao passo que, na detenção, no semiaberto. intermédia) e, não, a última.
Nesta hipótese, a lei melhor (lex mitior) passa a
ser a lei anterior e a lei mais severa recebe o nome de
Combinação de Leis
lex gravior (lei mais grave). As consequências são: em
relação à lei nova, aplica-se os princípios da irretroa-
O que acontece se houverem várias leis sucessivas
tividade da lei mais severa. Quanto à lei antiga, mais
e cada uma delas tem uma parte, um aspecto mais
benéfica, aplica-se a ultra-atividade.
favorável ao sujeito? É possível combinar várias leis,
criando uma “terceira lei” para beneficiar o agente?
z Novatio legis incriminadora
Segundo a maior parte da doutrina, não é possível,
por violar o princípio da legalidade. Essa é a posição
Ocorre quando a lei nova cria uma nova conduta
do STJ e do STF.
típica incriminadora, considerando como crime uma
conduta que antes era considerada irrelevante para o
ordenamento jurídico brasileiro. Por exemplo, a Lei Lei Penal Excepcional, Especial e Temporária
nº 10.224, de 2001, introduziu no Código Penal o art.
216-A, que criminaliza o assédio sexual. Neste caso, a A regra da retroatividade benéfica não se aplica
nova lei gravosa é irretroativa (art. 1º, do CP). no caso das chamadas leis intermitentes (leis tem-
porárias e leis excepcionais). Veja o art. 3º, CP:

Ultra-atividade Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora


decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao
fato praticado durante sua vigência.
Nova lei em
Fato vigor Sentença
z Lei Excepcional: é aquela feita para vigorar em
épocas especiais, como guerra, calamidade etc.
É aprovada para vigorar enquanto perdurar o
período excepcional. É facilmente identificada por
LEI “A” LEI “B” expressões como “esta lei terá vigência enquanto
Revogada. Se esta Se esta for mais durar o estado de calamidade pública”;
for mais benéfica, favorável, aplica-se na z Lei Especial: é aquela que possui todos os elemen-
adota-se a regra da sentença a regra geral tos para se enquadrar em conduta típica geral.
ultra-atividade (tempus regit actum) Contudo, possui mais um elemento especializante,
que pode ser de natureza objetiva ou subjetiva.
Neste caso, a lei especial afastará a aplicação da lei
Veja que o texto do Código Penal não menciona a geral, pois é mais específica;
ultra-atividade, ou seja, a possibilidade de o juiz apli- z Lei Temporária: é aquela feita para vigorar por
car uma lei já revogada. Apesar disso, essa aplicação determinado tempo, estabelecido previamente na
pode ocorrer na sentença, se ela for mais benéfica e própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de
vigente à época do fato criminoso. cessação de sua vigência. Um exemplo de lei tem-
Note que, diferentemente do primeiro esquema, porária é a Lei nº 12.663, 2012, denominada Lei
neste, o foco está na sentença e não no fato. É uma Geral da Copa, que criou tipos penais que duraram
366 questão de perspectiva. até o dia 31 de dezembro de 2014.
Posto isso, rege o art. 3º do Código Penal que, mes- cometidos por funcionário público; o conceito de
mo cessadas as circunstâncias que a determinaram funcionário público é encontrado no art. 327 do
(lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura- próprio CP);
ção (lei temporária), é possível aplicá-las aos fatos pra- z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Hete-
ticados durante sua vigência. rovitelina: o complemento está em diploma legal
Desta forma, são leis ultra-ativas, isso porque diferente do da norma incompleta (exemplo: o art.
regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo 237, do CP, fala em “impedimento que cause a nuli-
após sua revogação. dade absoluta do casamento” e o complemento
encontra-se no Código Civil (CC);
z Quando o complemento é dado por uma norma
Importante! constante da CF, temos a chamada norma penal
em branco de fundo constitucional (exemplo: o
Ultra-atividade: as leis de vigência temporária
art. 246 do CP fala em “idade escolar”; tal conceito
(excepcionais e temporárias) são ultra-ativas, encontra-se no inciso I, art. 208, CF):
no sentido de continuarem a ser aplicadas aos
fatos praticados durante a sua vigência, mesmo Art. 208 O dever do Estado com a educação será
depois de sua autorrevogação. efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegu-
Normas Penais em Branco e Direito Intertemporal rada inclusive sua oferta gratuita para todos os que
a ela não tiveram acesso na idade própria; [...]
Questão interessante diz respeito à alteração do
complemento da norma penal em branco. Agora, veja o caso da Lei 11.343, 2006 (Lei de
Primeiro, vamos entender o que é norma penal Drogas):
em branco e conhecer algumas particularidades dela,
para depois vermos sua relação com o fator “tempo”. Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
Norma penal em branco ou cega pode ser defini- duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
da como uma lei penal incriminadora que possui um recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
elemento indeterminado no que diz respeito à descri- guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ção da conduta. ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
Lembre-se de que a norma penal incriminadora autorização ou em desacordo com determinação
estabelece uma conduta (uma ação ou omissão) em legal ou regulamentar:
seu preceito primário e uma sanção penal em seu Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
preceito secundário. Quando um tipo penal traz seu pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui-
preceito primário incompleto, sendo preciso buscar nhentos) dias-multa.
o complemento em outra norma, estamos diante de
uma norma penal em branco ou cega. No caso do art. 33 da Lei 11.346, de 2006, o dispo-
Vamos ver dois exemplos de norma penal em bran- sitivo não define o que são “drogas”, nem o que seja
co, o primeiro constante no art. 237 do Código Penal e “sem autorização legal ou em desacordo com deter-
o outro no art. 33 da Lei de Drogas: minação legal ou regulamentar”. A definição de quais
substâncias são ilícitas é encontrada em Portaria da
Conhecimento prévio de impedimento Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
que, por ser fonte legislativa hierarquicamente infe-
Art. 237 Contrair casamento, conhecendo a exis- rior, é denominada norma penal em branco em sen-
tência de impedimento que lhe cause a nulidade tido estrito ou própria ou heterogênea.
absoluta: Por outro lado, temos a chamada norma penal
Pena - detenção, de três meses a um ano. em branco ao revés, invertida, inversa ou, ainda, ao
avesso quando o complemento necessário se refere à
Neste caso, o dispositivo penal não esclarece o que sanção (preceito secundário). Um exemplo de norma
é “impedimento que lhe cause nulidade absoluta”. O penal em branco ao revés é o tipo do crime de geno-
complemento, neste caso, deve ser buscado em fonte cídio, previsto na Lei n° 2.889, de 1956, que apresenta
legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco do art. um branco em relação à pena, sendo necessário recor-
237, do CP, é complementado pelas hipóteses de impe- rer a outras leis para completar tal branco. Pode acon-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

dimento previstas no Código Civil, especificamente no tecer de o próprio complemento da norma incompleta
seu art. 1521. Este caso é o que se chama de norma necessitar de outro complemento, ou seja, é preciso
penal em branco em sentido lato ou imprópria ou uma dupla complementação. Neste acaso, temos o
homogênea: a complementação do preceito primário que se usa chamar de normal penal em branco ao
é feita com auxílio de uma lei. quadrado.
Norma penal em branco é um assunto dos mais Ainda, em relação às normas penais em branco,
cobrados em concursos. É importante guardar não vale lembrar que é importante saber diferenciá-las
só suas relações com o direito temporal, mas também dos tipos penais abertos. O tipo penal aberto, assim
suas classificações. Assim, vamos incluir mais três em como na norma em branco, é uma norma incomple-
nosso vocabulário jurídico-penal: ta que necessita de complementação. A diferença, no
entanto, é que no tipo penal aberto a complementa-
z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Homo- ção é feita por meio de um juízo de valoração reali-
vitelina: o complemento encontra-se no mesmo zado pelo próprio juiz, isto é, o complemento vem da
diploma legal da norma incompleta (exemplo: valoração feita pelo magistrado e não de uma outra
vários tipos do Código Penal tratam de crimes norma. 367
Agora que já vimos o conceito de norma penal em O Direito Penal brasileiro adotou, em relação ao
branco e suas particularidades, vamos fazer uma rela- tempo do crime, a Teoria da Atividade, por isso,
ção dela com a questão do “direito no tempo”. considera-se praticado o crime no momento da
Vamos voltar ao exemplo do art. 33 da Lei nº conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o
11.343, de 2006 (tráfico ilícito de drogas). momento do resultado (art. 4º, CP).
O que ocorreria, por exemplo, se houvesse a Ilustrando: no caso de um homicídio, é essencial
retirada de certa substância psicoativa da portaria que se determine o instante da ação (momento dos
da ANVISA, que define as drogas para efeito da Lei tiros, por exemplo) e não o momento do resultado
nº 11.343? (morte). Pois, se o autor for menor de 18 anos à época
Imagine um sujeito que é pego vendendo a droga dos tiros, ainda que a vítima morra depois do atirador
“X”, que consta na Portaria, e passa a responder pelo ter completado a maioridade penal, ele não pode res-
crime de tráfico de drogas. Com a retirada da substân- ponder criminalmente pelo ato.
cia da norma complementar, como ficaria a situação A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º, em rela-
do agente? ção ao tempo do crime, é a teoria da atividade. Leva-
-se em conta, pois, o momento da conduta (ação ou
Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica,
omissão), pouco importando o instante do resultado.
descriminalizando o comportamento, por força da
Veja o esquema a seguir como exemplo:
abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico
não pela revogação da Lei que considerava o fato típi-
co, mas sim por conta de seu complemento. Tempo do Crime (Art. 4º)
Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237 do CP. O
Código Civil de 1916, em seu inciso VII, do art. 183,
Conduta Resultado
previa que um dos impedimentos absolutamente diri-
mentes era o casamento do cônjuge adúltero com o
Sentença Morte da
corréu condenado por tal crime. No entanto, o Código
Vítima
Civil de 2002 não trouxe tal impedimento, ocorren-
do, pois, abolitio criminis, que retroagiu em favor de
eventuais réus. Vítima
A retroação benéfica, por outro lado, não ocor- Considera-se hospitalizada
re quando se tratar de complementos que tenham praticado no tempo
caráter excepcional ou temporário, como foi o caso, da conduta (Teoria da
por exemplo, da Lei nº 1.521, de 1951 (Lei de Crimes Atividade, art. 4º)
Contra a Economia Popular):
Na época, o comerciante que fosse flagrado ven-
dendo produto com preço acima do que constasse em É na data da conduta, portanto, que:
tabela oficial respondia pelo ato, ainda que o congela-
mento, com a respetiva revogação da tabela, se encer- z Verifica-se a imputabilidade penal: no nosso
rasse antes da conclusão do inquérito policial ou do exemplo, o fato de ser o autor maior ou menor de
processo penal. 18 anos;
z Fixam-se as circunstâncias do crime: qualifica-
Tempo do Crime doras, causas de aumento ou diminuição de pena,
agravantes ou atenuantes.
Como vimos anteriormente, logo em seus primei-
ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da Por exemplo, ser a vítima criança ou maior de 60
aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân- anos (agravante); ou ser o autor menor de 21 anos (o
cia de se conhecer o tempo do crime? que vai servir como atenuante).
Determinar o tempo do crime é essencial para
saber qual lei será aplicada no caso concreto. Da Tempo do Crime nas Infrações Permanentes e
mesma forma, é imprescindível para verificar a Continuadas
imputabilidade do agente (que pode ser menor de
18 anos no momento da conduta), fixar as circuns- Nestes casos, será aplicada regra especial, que
tâncias do tipo penal, verificar a prescrição, dentre consta na Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave
outros aspectos. aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade
Existem três teorias que podem ser consideradas
ou da permanência”.
para se determinar o tempo do crime:
Crime permanente é aquele cuja consumação se
prolonga no tempo pela vontade do sujeito ativo como,
Considera-se praticado o crime por exemplo, no caso de um sequestro. Neste caso, é
TEORIA DA considerado tempo do crime todo o período em que
no momento da conduta (ação
ATIVIDADE se desenrolar a atividade criminosa. Assim sendo, se
ou omissão)
um sequestrador, menor de 18 anos quando do início
TEORIA DO Considera-se praticado o crime da prática do crime, atinge a maioridade ainda com
RESULTADO no momento do resultado o delito em curso, é considerado imputável (capaz de
receber pena) para os fins penais.
Considera-se praticado o cri-
Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí-
TEORIA MISTA OU me tanto no momento da con-
dica criada para beneficiar o réu, a qual está previs-
DA UBIQUIDADE duta quanto no momento do
ta no art. 71 do CP, e será estudada mais adiante. Por
resultado
368 enquanto, basta saber que o crime continuado ocorre
quando o agente pratica dois ou mais crimes da mes- Como regra, o Brasil adota o princípio da terri-
ma espécie, mediante duas ou mais condutas, sendo torialidade temperada e 4 outros princípios como
que, pelas condições de tempo, lugar, modo de execu- exceção:
ção, são tidos uns como continuação dos outros.
Por exemplo, um empregado de uma loja de fer- z Real, de proteção ou da defesa: a lei penal leva
ramentas, visando subtrair um kit de ferramentas em conta a nacionalidade do bem jurídico lesado
do estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta pelo delito, sem se importar com local de sua práti-
por dia, até ter em suas mãos o kit completo. 60 dias ca ou com a nacionalidade do sujeito ativo (alíneas
depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e a, b e c, inciso I, do art. 7º, da CF).
vai ter cometido 60 furtos! Não fosse a regra benéfica
do art. 71 do CP, a pena mínima neste caso somaria 120 Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
anos de reclusão! Reconhecendo-se a ocorrência de cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
crime continuado, ocorrerá a chamada exasperação:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
no nosso exemplo específico, será aplicada ao agente
República;
a pena de um só dos furtos aumentada de 1/6 até 2/3. b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
No entanto, não nos interessa, neste momento, ingres- Distrito Federal, de Estado, de Território, de Muni-
sar no tema do crime continuado; basta-nos apenas cípio, de empresa pública, sociedade de economia
a noção do fenômeno para que possamos discutir a mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
questão do tempo do crime quando de sua ocorrência. Público;
Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá- c) contra a administração pública, por quem está a
vel ao crime permanente (Súmula 711 do STF) deve seu serviço;
ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva [...]
quanto às condutas praticadas pelos menores de 18
anos, por força do art. 228 da CF, que determina sua � Justiça penal universal, princípio universal,
inimputabilidade: Na hipótese de um sujeito que pos- da universalidade da justiça cosmopolita, da
sui 17 anos cometer quatro furtos, possuindo 17 anos jurisdição mundial, da repressão universal ou
quando do cometimento dos dois primeiros e 18 anos da universalidade do direito de punir: o agente
no momento da prática dos dois últimos, pelos dois ficará sujeito à Lei do Estado em que for encontra-
primeiros o sujeito responderá perante o ECA e pelos do, independentemente da nacionalidade do autor
dois últimos, perante o Código Penal, neste último ou da vítima, assim como do local em que o crime
aplicando-se a continuidade delitiva. foi praticado. Pode-se citar os tratados internacio-
nais de cooperação na repressão de determinados
A LEI PENAL NO ESPAÇO delitos de alcance transnacional.

Art. 7º [...]
Agora, iremos estudar a aplicação da lei penal no
I - os crimes:
espaço, ou seja, onde ela é aplicada. [...]
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
Territorialidade domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
O princípio adotado para tratar do âmbito da apli- a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obri-
cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri- gou a reprimir;
torialidade, que se encontra disposto no art. 5º do CP:
z Nacionalidade ativa ou princípio da persona-
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de lidade: segundo o princípio da nacionalidade, a
convenções, tratados e regras de direito internacio- lei penal do Estado se aplica a seus cidadãos onde
nal, ao crime cometido no território nacional. quer que se encontrem.

O princípio da territorialidade significa que a lei Art. 7º [...]


penal de um país só é aplicável no território do Estado [...]
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade II - os crimes:
do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima). [...]
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O princípio da territorialidade pode se dar de duas b) praticados por brasileiro;


formas:
z Representação, pavilhão ou bandeira: ficam
z De forma absoluta (princípio da territorialidade sujeitos à lei do Brasil os delitos cometidos em aero-
absoluta) quando somente a lei penal do país é naves e embarcações privadas, quando ocorridos
aplicável aos crimes cometidos em seu território no estrangeiro e não venham lá a ser julgados.
nacional;
Art. 7º [...]
z De forma temperada, relativizada ou mitigada
[...]
(princípio da territorialidade temperada) quan- II - os crimes:
do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao [...]
crime cometido no território nacional, mas, excep- c) praticados em aeronaves ou embarcações bra-
cionalmente, por força de tratados e convenções sileiras, mercantes ou de propriedade privada,
internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli- quando em território estrangeiro e aí não sejam
tos praticados em território nacional. julgados. 369
Território Nacional O disposto no art. 6º do CP destina-se aos chama-
dos crimes à distância, isto é, aqueles delitos em que
O texto do art. 5º do CP fala em território. O terri- a ação ou a omissão ocorre em um país e o resul-
tório que nos interessa é o território jurídico, ou seja, tado, em outro. Em relação ao local do crime, o CP
o espaço em que o Estado exerce sua soberania. O ter- adota o princípio da ubiquidade.
ritório nacional é composto pelas seguintes partes: Vamos exemplificar: na divisa Brasil-Paraguai, um
cidadão brasileiro, que se encontra em Foz do Igua-
z Solo;
çu, atira em uma pessoa, que se encontra no Paraguai,
z Subsolo; vindo esta a falecer. Ou ainda, um indivíduo envia
z Espaço aéreo correspondente; uma carta-bomba do Chile para o Brasil, que ao ser
z Cursos d’água internos (rios, lagos, mares aberta em São Paulo, mata a vítima. Quem vai punir
interiores); os autores?
Em relação ao lugar do crime, o Brasil adota a teo-
z Mar territorial, assim entendido como a faixa de
ria ubiquidade, segundo o qual se considera praticado
mar exterior que compreende as 12 milhas marí-
timas medidas a partir da linha do baixa-mar do o crime no local da ação (conduta) ou onde ocorreu o
litoral continental e insular brasileiro, de acordo resultado.
com as referências contidas nas cartas náuticas
brasileiras (art. 1º, da Lei nº 8.617, de 1993). Extraterritorialidade da Lei Penal

Em relação aos rios internacionais que constituem Extraterritorialidade é a aplicação da lei brasilei-
limites entre dois países, normalmente existe tratado ra aos crimes cometidos fora do Brasil. Sua sistema-
sobre o tema que, ou determina que a divisa se encontra tização encontra-se nos arts. 7º e 8º do CP.
na linha mediana do leito do rio ou que a divisa acom- Tal fenômeno se justifica por dois motivos:
panhe a linha de maior profundidade da corrente. Se o
rio não for divisa, mas sucessivo, como o Amazonas, é
indiviso, cada Estado exerce soberania sobre ele. z Para proteger certos bens jurídicos (como, por
No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o exemplo, o patrimônio público);
limite é fixado pela linha da meia distância entre as z Para impedir que certos delitos fiquem sem res-
margens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais posta da lei penal. Não se aplica a extraterrito-
Estados. rialidade a todas as infrações penais (crimes e
contravenções): de acordo com o art. 2º da Lei
Dica de Contravenções Penais, não se aplica a lei
brasileira às contravenções ocorridas fora do
Por se relacionarem aos assuntos que estamos ven- território nacional. Ou seja, não há extraterrito-
do, vale a pena estudar as hipóteses de não incidên- rialidade de contravenção.
cia da lei a fatos cometidos no Brasil:
� as imunidades diplomáticas; A aplicação da lei brasileira no estrangeiro pode
� as imunidades parlamentares; ocorrer sem que seja necessária qualquer condi-
� a inviolabilidade do advogado. ção, recebendo o nome de extraterritorialidade
Esses assuntos geralmente são tratados em Direito incondicionada:
Constitucional, Direito Processual Penal e no estudo
do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
z Hipóteses do inciso I, do art. 7º, do CP:
Território por Extensão
Art. 7º [...]
De acordo com o § 1º, do art. 5º, do Código Penal, I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
para fins penais, são consideradas território por
República;
extensão:
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
z As embarcações e aeronaves brasileiras, de Município, de empresa pública, sociedade de eco-
natureza pública ou a serviço do governo brasilei- nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
ro onde quer que se encontrem; Poder Público;
z As aeronaves e as embarcações brasileiras, mer- c) contra a administração pública, por quem
cantes ou de propriedade privada, que se achem, está a seu serviço;
respectivamente, no espaço aéreo corresponden- d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
te ou em alto-mar. domiciliado no Brasil;

Lugar do Crime Nestes casos, aplica-se a lei penal brasileira ainda


que o crime tenha sido julgado no estrangeiro e
O CP trata do lugar do crime no art. 6º: independentemente de o agente entrar no Brasil.

Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em Art. 7º [...]


que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em par- § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segun-
te, bem como onde se produziu ou deveria produzir- do a lei brasileira, ainda que absolvido ou condena-
370 -se o resultado. do no estrangeiro.
Nos casos de extraterritorialidade incondicionada, EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA
se o sujeito ativo entra em território brasileiro, estará
O art. 9º do CP trata dos efeitos da sentença penal
sujeito à punição, independentemente de já ter sido
estrangeira. De acordo com o disposto, somente pode
condenado ou absolvido no exterior. ser homologada para produzir os seguintes efeitos:
Enquanto não ocorrer o trânsito em julgado de
sentença condenatória ou absolutória no Estado em z Obrigar o condenado à reparação do dano (inciso
que o indivíduo é processado, nada obstará que o Bra- I, do art. 9º, do CP);
sil, através do sistema persecutório brasileiro, respon- z Sujeitar o condenado à medida de segurança (art.
sabilize os autores do crime. 9º II, CP).
Se preenchidas certas condições indicadas na
lei, teremos a extraterritorialidade condicionada. A homologação é feita por meio de sentença pelo
Quando se fala em extraterritorialidade condiciona- STJ, conforme dispõe a alínea i, inciso I, do art. 105, da
da, deve-se ter em mente que, uma vez cumprida a CF. No caso inciso I, do art. 9º, do CP, a homologação
depende de pedido da parte interessada. Já na hipóte-
pena no estrangeiro, desaparece o interesse do Bra-
se do inciso II, do 9º, do CP, depende da existência de
sil em punir o delinquente. As hipóteses de aplicação
tratado de extradição com o País respectivo ou, na fala
encontram-se no inciso II, do art. 7º, do CP:
de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.

Art. 7º [...] CONTAGEM DE PRAZO


II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obri- Antes de ingressar especificamente na contagem
gou a reprimir; dos prazos, cumpre informar que o prazo penal e o
b) praticados por brasileiro; prazo processual são contados de maneiras diferentes:
c) praticados em aeronaves ou embarcações bra-
sileiras, mercantes ou de propriedade privada,
z Prazo penal (regra art. 10 do CP): inclui-se o pri-
quando em território estrangeiro e aí não sejam meiro dia, despreza-se o último;
julgados. z Prazo processual penal (§ 1º, do art. 798, do
CPP): despreza-se o primeiro dia, conta-se o último.

Nestes casos, a aplicação da lei brasileira depende Frações Não Computáveis da Pena
do preenchimento das seguintes condições:
z Frações de penas: não são computadas as horas
nas penas privativas de liberdade e restritivas de
z entrar o agente no território nacional;
direitos, nem os centavos na pena pecuniária.
z ser o fato punível também no país em que foi
praticado;
z estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a Importante!
lei brasileira autoriza a extradição;
z não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou Para fins de prescrição e decadência, os prazos são
não ter aí cumprido a pena; contados de acordo com a regra do art. 10, do CP.
z não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

Lei especial afasta a aplicação de lei geral (lex spe-


A doutrina discorre acerca de uma hipótese cha- cialis derogat generali), de acordo com o previsto no
mada de extraterritorialidade hipercondicionada, art. 12 do Código Penal:
que possui este nome por depender dos requisitos
anteriores, acrescidos de ainda mais dois. Essa hipóte- Art. 12 As regras gerais deste Código aplicam-se
se se encontra prevista no § 3º, do art. 7º, do CP: aos fatos incriminados por lei especial, se esta não
dispuser de modo diverso
Art. 7º [...]
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime Uma norma penal incriminadora (que descreve
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do crimes e comina penas) é especial em relação a outra
Brasil, se, reunidas as condições previstas no pará- quando:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

grafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; z Possui em sua definição legal todos os elementos
b) houve requisição do Ministro da Justiça. típicos que constam na geral;
z Apresenta mais alguns elementos (de natureza
PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO objetiva ou subjetiva), chamados de especializan-
tes, que a tornam mais ou menos severa do que a
A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena geral.
imposta no Brasil pelo mesmo crime quando as
penas forem diversas, ou nela é computada quando Vamos exemplificar. O tipo penal do homicídio
idênticas. simples descrito a seguir é lei geral:

Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a Homicídio simples


pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Art. 121 Matar alguém. 371
Compare com o tipo penal do infanticídio, outro O Código Penal não utiliza em seu texto a expres-
dos crimes contra a vida: são delito, optando por utilizar as expressões infra-
ção, crime e contravenção, sendo que estas duas
Infanticídio últimas estão incluídas na primeira
No Código de Processo Penal há certa confusão:
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe- algumas vezes usa o termo infração, de forma genéri-
ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após. ca, incluindo os crimes (ou delitos) e as contravenções
(veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 etc.). Em
O infanticídio (crime específico) é lei especial em outras situações, emprega a expressão delitos como
relação ao homicídio (crime genérico), uma vez que sinônimo de infração (por exemplo, conforme consta
contém mais elementos: nos arts. 301 e 302, CPP).
Para os fins do nosso estudo temos, então que
z Sob a influência do estado puerperal; infração penal pode significar crime (ou delito) e
z O próprio filho; contravenção penal.
As diferenças entre crime e contravenção serão
z Durante o parto ou logo após.
vistas mais adiante.
Assim, estando presentes as especializantes, o
Conceito de Crime
tipo genérico será desprezado, aplicando-se o tipo
especial, a fim de que se evite a dupla punição (bis
O conceito de crime não é natural e sim algo arti-
in idem). Em outras palavras, no conflito aparente
ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes-
entre norma geral e norma especial, afasta-se a geral
ses da sociedade. Mas o que é crime?
e aplica-se a especial.
Podemos responder esta pergunta de três dife-
Note que, no exemplo anterior, ambos dispositivos
rentes formas, olhando para o crime sob diferentes
encontram-se dispostos na mesma lei (CP). Pode ocor-
aspectos: material, formal e analítico.
rer, no entanto, de estarem contidas em leis distintas,
Vamos ver o conceito de crime de acordo com cada
como nos exemplos a seguir. Observe respectivamen-
um desses pontos de vista:
te os tipos penais do homicídio culposo, previsto no
Código Penal, e o homicídio culposo na direção de
z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
veículo automotor, que consta do Código de Trânsito
dade tem sobre o que pode e deve ser proibido
Brasileiro (CTB):
por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse
aspecto, o conceito material de crime consiste
Código Penal
na conduta que ofende um bem juridicamen-
Art. 121 Matar alguém:
[...]
te tutelado (bem juridicamente considerado
essencial para a existência da própria sociedade e
Homicídio culposo
manutenção da paz social);
z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi-
§ 3º Se o homicídio é culposo (Vide Lei nº 4.611, de to. Assim, o conceito formal de crime constitui
1965) uma conduta proibida por lei, que se realizada,
resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
Pena – detenção, de um a três anos. crime, dessa forma, o que o legislador apontar
como tal;
Código de Trânsito Brasileiro z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
Art. 302 Praticar homicídio culposo na direção de dos: sob o aspecto analítico, se procura apontar,
veículo automotor. estabelecer os elementos estruturais do crime.
Vejamos:
A relação entre norma geral e norma especial tam-
bém pode ocorrer “dentro” de crimes que apresentam Conceito Analítico de Crime
tipo simples e formas típicas qualificadas/privilegiadas.
Assim, o tipo fundamental (simples) é desconsiderado, Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado-
sendo aplicado o qualificado ou privilegiado, conforme res enxergam o crime de formas diferentes. Existem
o caso. Nesses termos, o furto simples (caput, do art. várias correntes, mas as principais são duas:
155, do CP) é excluído pelo privilegiado (§ 2º, do art.
155, do CP); o estelionato simples (caput, do art. 171, do � A que entende que o crime é Fato Típico + Anti-
CP) é excluído pelo qualificado (§ 3º, art. 171, do CP) etc. jurídico (concepção bipartida), sendo a culpabi-
lidade pressuposto de aplicação da pena (entre
eles René Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de
Jesus, Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson); e
TEORIA GERAL DO CRIME z A que concebe o crime como um Fato Típico +
Antijurídico + Culpável (concepção tripartida
CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil
quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto
Nomenclatura aqueles que adotam a teoria da conduta finalista
(como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni,
A doutrina brasileira utiliza o termo Infração de Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques,
372 as contravenções. Aníbal Bruno e Magalhães Noronha).
Diferença entre Crimes e Contravenções A diferença relevante está entre o dolo direito e o
eventual. Mas existem outras classificações de dolo,
Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte- sem muita utilidade. Dentre essas, cabe mencionar o
ressante fazer a distinção entre crime e contravenção dolo alternativo, que pode aparecer em algum enun-
penal (também chamada de crime anão ou delito Lili- ciado de questão.
putiano ou crime vagabundo ou delitti nani). Dolo alternativo se configura quando o agente age
Existem países que utilizam a classificação tripar- com indiferença, buscando um resultado ou outro
tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven- (não se trata de uma forma independente de dolo).
ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação Exemplo de dolo alternativo é o do agente que encon-
bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou tra uma carteira em um banco de praça e a leva para
delitos) e contravenções. casa, pouco se importando se alguém a esqueceu ali
Não existe um dado único que faça a distinção ou é de alguém que se encontra brincado com o filho
entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes no parque que fica dentro da praça. Neste caso pode
quanto as contravenções configuram comportamen- ter praticado o crime de furto (art. 155, CP) ou de apro-
tos que violam mandamentos legais que possuem priação de coisa achada (II, art. 169, CP).
como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis- São elementos do Dolo:
tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê
tais condutas. „ Consciência da conduta e do resultado;
No entanto existem outros elementos que ajudam „ Consciência da relação causal objetiva entre a
na distinção. conduta e o resultado;
Em relação às penas: os crimes são punidos com „ Vontade de realizar a conduta e de produzir o
penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção), resultado.
restritivas de direitos e multa; já as contravenções são
punidas com prisão simples e/ou multa. z Culpa
Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o
dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade. A culpa, por sua vez, não exige a intenção do agen-
Por último, é possível a tentativa nos crimes, te de agredir a norma, mas ele acaba agindo de forma
enquanto ela é incabível nas contravenções. descuidada para com o bem jurídico. No crime culpo-
so, o resultado ilícito não é desejado, mas é previsível
Fato Típico e poderia ter sido evitado. Tal descuido se concretiza
por meio da negligência, imprudência ou imperícia
A tipicidade nada mais é do que a convergência, a (espécies de culpa, conforme II, art. 18, CP).
cominação do fato no mundo com o tipo abstrato pre-
visto na lei. Por exemplo, o fato de eliminar a vida de „ Imprudência: é a forma ativa de culpa em que o
alguém encontra adequação ao previsto no art. 121, agente executa um comportamento sem cautela
CP, “matar alguém”. (de forma precipitada ou com insensatez). Ex.: o
As excludentes de tipicidade dividem-se em legais sujeito que dirige em alta velocidade dentro da
(quando expressamente previstas em lei) e suprale- cidade, onde pedestres por todos os lados;
gais (implicitamente previstas em lei). Podemos men- „ Negligência: é a forma passiva de culpa em que
cionar como exemplos: o agente deixa de agir, fica inerte, por descuido
ou desatenção, quando era necessário agir de
modo contrário. Ex. não acionar o freio de mão
„ De excludentes legais, o crime impossível (art.
ao estacionar o veículo em uma ladeira;
17, CP);
„ Imperícia: consiste na imprudência no campo
„ O impedimento de suicídio (art. 146, § 3º); e
técnico, pressupondo a falta de cautela relati-
„ Retratação no crime de falso testemunho (art.
va ao exercício de uma arte, um ofício ou uma
342, § 2º).
profissão. Ex.: no caso do médico que deixa de
tomar os cuidados necessários quanto à assepsia
Veja que elas não estão agrupadas em um único antes de uma cirurgia, o que acaba por causar
artigo. uma infecção que provoca a morte do paciente.
Por sua vez, como causas supralegais podemos
citar o princípio da insignificância, já visto anterior- Sempre nas questões que envolvem o dolo even-
mente e também com a chamada adequação social tual e culpa consciente, se fizermos uma leitura rápi-
(comportamentos que são aceitos normalmente pela da, podemos ficar com dúvida. Portanto, vamos fazer
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

sociedade e deixa de ser entendida como lesiva a a segunda leitura da questão e identificar as palavras
algum bem jurídico). que diferenciam o dolo eventual da culpa consciente.

Dolo e Culpa z Crime Preterdoloso ou Preterintencional

z Dolo Trata-se de uma espécie de crime qualificado pelo


resultado. Neste caso, o agente quer causar um deter-
Podemos definir dolo como sendo a vontade de minado resultado (possui dolo quanto a este resultado),
produzir o resultado típico. mas acaba causando outro resultado, de forma culposa
No dolo direito (ou imediato ou determinado) exis- (possui dolo no antecedente e culpa no consequente.
te a intenção do agente de ofender o bem jurídico. Ocorre, por exemplo, na lesão corporal seguida
Exemplo: querendo a morte da vítima, o atirador des- de morte, quando o agente quer lesionar (dolo) mas
fere um tiro fatal. acaba matando (por culpa). Neste caso a conduta sub-
Já no dolo indireto ou eventual, o sujeito assume o sequente (morte) vai servir como um evento qualifica-
risco de produzir o resultado. dor (vai responder pelo crime na forma mais grave). 373
Resultado „ 1º caso (causa preexistente): imagine a situa-
ção em que o genro envenena a sogra no café
O segundo elemento do fato típico é o resultado, da manhã. O veneno “A” leva tempo para agir.
que nada mais é do que a modificação do mundo exte- Na hora do almoço, a nora envenena (veneno
rior causada pela conduta (é o que se chama de resul- “B”) o suco da sogra, que logo após, cai morta. A
tado naturalístico: aplicação da teoria naturalística). necropsia conclui que o veneno “A”, exclusiva-
No entanto nem todo crime tem resultado (natu- mente, foi a causa mortis.
ralístico), como no caso dos crimes de mera conduta
(conforme já vimos, que é aquele em que a lei descre- Neste caso a conduta da nora não causou o resulta-
ve apenas uma conduta e não um resultado, consu- do, a morte foi causada por causa preexistente (enve-
mando-se no momento da prática da conduta, como nenamento pelo genro). A nora só vai responder pelos
no caso do delito de invasão de domicílio). atos já praticados, ou seja, tentativa de homicídio; o gen-
ro, por sua vez, responde por homicídio consumado.
z Nexo de causalidade ou nexo causal ou relação de
causalidade. „ 2º caso (causa concomitante): nesta hipótese,
a nora envenena o suco da sogra, uma mulher
Trata-se do elo que une a causa ao resultado e idosa. No momento em que tomava o suco
encontra-se expressamente previsto no art. 13, CP: envenenado, um indivíduo invade a casa para
cometer um roubo; assustada, a idosa morre de
Relação de causalidade colapso cardíaco, exclusivamente. Neste caso,
há quebra do nexo causal e a nora só responde
Art. 13 O resultado, de que depende a existência do pelos atos já praticados;
crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. „ 3º caso (causa superveniente): neste exemplo
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o a nora envenena o suco da sogra, que o toma,
resultado não teria ocorrido. faz todos os afazeres normais e, mais tarde ao
sair de casa, é atropelada e morre, exclusiva-
De forma simples, o resultado naturalístico deve mente por causa do acidente (o veneno não
ter sido causado pela conduta praticada pelo agente (o teve tempo de agir). Aqui também não há rela-
agente só responde se sua conduta tiver influenciado ção de causalidade, respondendo a nora pelos
no resultado). atos já praticados (homicídio tentado).
Ao tratar do nexo de causalidade, o CP adotou, no
art. 13, caput, 2ª parte, a chamada teoria da equiva- Os três casos acima mostram causas absoluta-
lência dos antecedentes causais (também conhecida mente independentes da conduta do sujeito: houve
por conditio sine qua non) que considera causa a ação quebra no nexo causal e o agente só responde pelos
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocor- atos já praticados.
rido. Por esta teoria todos os antecedentes se equiva- Agora vamos ver as três hipóteses de causas relati-
lem, ou seja, todas as causas tem o mesmo valor. vamente independentes da conduta do sujeito:
Para saber se uma conduta é causa do resultado
basta, mentalmente, excluí-la da série causal. Se, com „ 1º caso (causa preexistente): numa briga
sua exclusão, o resultado deixar de ocorrer do modo entre vizinhos, o vizinho “A” dá um golpe de
que ocorreu, é considerada causa (esse processo é cha- estilete no braço do vizinho “B’, com a inten-
mado de Processo Hipotético de Eliminação Thyrén). ção de mata-lo. A vítima era hemofílica, o que
Esta teoria, se mal interpretada, pode levar a fez com que perdesse grande quantidade de
excessos (regressus ad infinitum), como no caso de um sangue, vindo a falecer. Neste caso, existe uma
homicídio com arma de fogo, em o comerciante que relação de causalidade entre a conduta (“estile-
vendeu a arma e, antes dele, o dono da fábrica que tada”) e o resultado (morte), sendo a causa da
produziu o armamento também teriam dado causa ao morte a hemofilia (condição). Nesta hipótese, a
resultado! Como solucionar tal situação injusta? Neste conduta e a causa não são absolutamente inde-
caso, temos que verificar se tanto o comerciante quan- pendentes, mantendo-se o nexo causal: portan-
to o industrial agiram com dolo ou culpa: caso nega- to o vizinho que desferiu o golpe vai responder
tivo, não serão responsabilizados (não há fato típico). pelo resultado;
Tema importantíssimo ao tratar de nexo causal diz „ 2º caso (causa concomitante): um assaltante
respeito às concausas e seus efeitos entra numa casa e atira no morador que, no
Concausas são as causas concomitantes que se momento, estava infartando, sendo que a lesão
unem para gerar o resultado. Na prática não há dis- causada pelo projétil contribuiu para que ocor-
tinção entre causas e concausas. As causas podem ser resse o evento morte. Neste caso, há relação de
preexistentes, concomitantes e supervenientes, absoluta dependência casa-conduta, não havendo quebra
ou relativamente independentes da conduta do sujeito. do nexo causal; assim sendo o agente responde
A questão aqui é que temos duas possíveis causas pelo resultado;
para um único resultado, e é necessário se determinar „ 3º caso (causa superveniente): uma pessoa
de que forma o agente deverá ser responsabilizado, baleada no peito é socorrida por uma ambulân-
tendo em vista sua contribuição para o resultado final cia que, no percurso até o hospital, sofre um aci-
do crime. Ou seja, a responsabilização vai variar de dente, fazendo com que a vítima venha a falecer
acordo com a relevância da concausa (se ela contri- de traumatismo craniano. Neste caso há nexo
buiu ou não para o resultado produzido). causal, no entanto o § 1°, art. 13 do CP, apresenta
Primeiramente vamos ver a hipótese das causas uma exceção, excluindo a imputação, fazendo
absolutamente independentes: da conduta do sujeito. com que o agente só responda pelos atos já prati-
Vamos tratar por meio de exemplos, pois é a forma cados (superveniência de causa relativamen-
374 mais fácil de se entender: te independente).
z Teoria objetiva-individual: são atos executórios
Importante! aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
Se as causas forem relativamente independen- tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
tes (preexistentes ou concomitantes) o agente com base no plano concreto do agente;
responde pelo resultado. Por exceção da lei (§ z Teoria da hostilidade ao bem jurídico: a execu-
1°, art. 13 do CP) no caso da superveniência de ção inicia-se quando o agente ataca o bem jurídico.
causa relativamente independente, o agente só
E se a dúvida quanto ao ato ser preparatório ou
responde pelos atos já praticados.
de execução persistir? Deve-se considerar, neste caso,
o ato preparatório, por ser mais benéfico ao agente.
Consumação e Tentativa Para cada classificação do crime há o momento da
consumação.
Para estudarmos os crimes consumados e os crimes Vejamos a consumação de crime entre Roubo X
tentados, é importante conhecermos a iter criminis. Latrocínio:
Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho
do crime, que corresponde às etapas percorridas pelo z Roubo: Súmula 582, do STJ: consuma-se o crime
agente para a prática de um fato previsto em lei como de roubo com a inversão da posse do bem mediante
infração penal. emprego de violência ou grave ameaça, ainda que
O iter criminis é um instituto exclusivo dos crimes breve tempo e em seguida à perseguição imediata
dolosos — aqueles em que o agente quer o resultado. ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
Os crimes possuem as seguintes fases: prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada;
z Latrocínio: Súmula 610, do STF: há crime de
z Cogitação ou fase interna: É a fase mental de pre- latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda
paração do crime: idealização, deliberação e reso- que não realize a agente a subtração de bens da
lução. Não há conduta penalmente relevante; vítima. Há tentativa de latrocínio quando o sujei-
z Atos preparatórios: O crime começa a se proje- to age com dolo de subtrair e dolo de matar, mas
tar no mundo exterior. O agente adquire arma o resultado morte não ocorre por circunstâncias
de fogo. Em regra, não são puníveis, salvo nos alheias à sua vontade. O fator determinante para a
crimes-obstáculo; consumação do latrocínio é a ocorrência do resul-
z Atos de execução: O agente começa a realizar o tado morte, sendo dispensada a efetiva inversão
núcleo do tipo penal, de forma idônea e inequívo- da posse.
ca. Essa fase pode haver punição pela tentativa;
z Consumação: Crime consumado é quando nele se O crime é consumado quando nele se reúnem
reúnem todos os elementos de sua definição legal. todos os elementos da sua definição legal. A tentativa
Fim do iter criminis; ocorre, quando, iniciada a execução, não se consuma
z Exaurimento: Não influi na tipicidade, mas pode por circunstância alheias à vontade do agente.
influenciar na dosimetria da pena, caso seja reco-
nhecida alguma qualificadora ou configure crime Tentativa
autônomo.
z Branca ou incruenta (improfícua): o objeto do
Feitos estes apontamentos, iremos aprofundar crime não é atingido pela conduta. O iter criminis
o estudo do caminho do crime — iter criminis — e percorrido deve guardar proporcionalidade com
conhecer acerca das peculiaridades da tentativa. o quantum da redução (quanto mais perto de con-
sumar o crime, menor será a redução e quanto
Crime-Obstáculo mais longe, maior será a redução);
z Vermelha ou cruenta: o objeto de crime é atingi-
Classifica-se como crime-obstáculo quando os atos do pela conduta. Considerando o iter criminis per-
preparatórios são punidos como crime autônomo, por corrido, o quantum de redução da tentativa deve se
exemplo, associação criminosa, art. 288, do CP. aproximar do mínimo (1/3);
z Perfeita ou acabada: o agente esgota todos os
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Atos Preparatórios e Atos de Execução meios de execução à sua disposição e, mesmo


assim, a consumação não sobrevém por circuns-
z Teoria subjetiva: importa a exteriorização da tância alheias a sua vontade;
vontade criminosa pelo agente e não distingue z Crime falho: agente dispara tiros na vítima, mas
atos preparatórios de atos executórios; ela é socorrida e sobrevive;
z Teoria objetiva-formal (majoritária): a execu- z Imperfeita ou inacabada: o agente, por fatores
ção inicia-se quando o agente começa a praticar o alheios a sua vontade, não esgota os meios de
núcleo contido no tipo penal. Antes disso, os atos execução ao seu alcance, dentro daquilo que con-
são preparatórios; sidera suficiente, em seu projeto criminoso, para
z Teoria objetiva-material: são atos executórios alcançar resultado;
aqueles em que se inicia a prática do núcleo do z Tentativa propriamente dita: agente, no segundo
tipo, bem como os atos imediatamente anteriores, disparo, é interrompido pela chegada de policiais
com base na visão de terceira pessoa alheia à con- e o crime não se consuma por circunstância alheia
duta criminosa (Rogério Cunha Sanches); à sua vontade. 375
Pena da Tentativa No exemplo 1, o crime foi consumado, por isso foi
aplicada a pena de 2 anos (lembrando que a pena pre-
Salvo disposição em contrário, pune-se a tentati- vista para furto é de um a quatro anos, e multa).
va com a pena correspondente ao crime consumado, No exemplo 2, o crime foi tentado, motivo pelo
diminuída de 1/3 a 2/3. qual a pena de 2 anos foi diminuída de 2/3, resultando
A tentativa é uma causa de diminuição de pena. em 8 meses.
A redução deve ser basear no iter criminis percor- A tentativa constitui-se em causa obrigatória de
rido pelo agente. diminuição da pena. Incide na terceira fase de aplica-
A definição do crime tentado (inciso II, do art. 14, ção da pena privativa de liberdade, e sempre a reduz.
do CP) é uma norma de extensão ou de ampliação, A liberdade do magistrado repousa unicamente no
uma vez que, o tipo penal deve ser conjugado com o quantum da diminuição, balizando-se entre os limi-
inciso II, do art. 14, do CP. tes legais, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Deve
O inciso II, art. 14, do CP, dispõe que a tentativa é reduzi-la, podendo somente escolher o montante da
o início de execução de um crime que somente não diminuição. E, para navegar entre tais parâmetros, o
se consuma por circunstâncias alheias à vontade do critério decisivo é a maior ou menor proximidade da
agente. consumação, ou seja, a distância percorrida do iter
O ato de tentativa é um ato de execução. criminis.
Exige-se que o sujeito tenha praticado atos execu- Excepcionalmente, entretanto, é aceita a teoria
tórios, daí não sobrevindo a consumação por forças subjetiva, voluntarística ou monista, consagrada pela
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipici- expressão “salvo disposição em contrário”.
dade não finalizada, sem conclusão. Essas teorias têm a tese de que a pena para os
A tentativa tem três elementos em sua estrutura: crimes consumados são as mesmas para os crimes
tentados.
z Início da execução do crime; Aplica-se essas teorias em alguns casos.
z Ausência de consumação por circunstâncias Há casos restritos em que o crime consumado e o
alheias à vontade do agente; crime tentado comportam igual punição: são os deli-
z Dolo de consumação. tos de atentado ou de empreendimento. Por exemplo:

Não esqueça que o dolo da tentativa é igual ao dolo z Evasão mediante violência contra a pessoa (art.
da consumação: o sujeito quer o resultado! 352 do CP), em que o preso ou indivíduo submetido
Exemplo: “A” quer subtrair o celular de “B”. Na à medida de segurança detentiva, usando de vio-
consumação, “A” consegue subtrair. Na tentativa, lência contra a pessoa, recebe igual punição quan-
quando “A” consegue colocar a mão no celular, é sur- do se evade ou tenta evadir-se do estabelecimento
preendido por “C” que, à distância, percebeu a ação de em que se encontra privado de sua liberdade;
“A”. Neste momento, “A” deixa o celular e foge do local. z Lei nº 4.737, de 1965 — Código Eleitoral, art. 309,
A vontade de “A” era: subtrair o celular. no qual se sujeita à igual pena o eleitor que vota
O inciso II, do art. 14, do CP, não tem autonomia, ou tenta votar mais de uma vez, ou em lugar de
pois a tentativa não existe por si só, isoladamente. Sua outrem.
aplicação exige a realização de um tipo incriminador,
previsto na Parte Especial do CP ou pela legislação Crimes Punidos Apenas na Forma Tentada
penal especial.
O CP e a legislação extravagante não preveem, A regra vigente no sistema penal brasileiro é a
para cada crime, a figura da tentativa, mesmo que a punição dos crimes nas modalidades consumada e
maioria deles seja com ela compatível. Isso explica o tentada.
motivo pelo qual não encontramos na descrição do Mas em algumas situações não se admite a tendên-
crime uma pena prevista em caso de consumação e cia, seja pela natureza da infração penal, seja em obe-
outra pena para a hipótese de tentativa. diência a determinado mandamento legal, razão pela
A tentativa de furto é a combinação de “subtrair, qual apenas é possível a imposição de sanção penal
para si ou para outrem, coisa alheia móvel” com a exe- para a forma consumada do delito ou da contraven-
cução iniciada, mas que não se consumou por circuns- ção penal.
tâncias alheias à vontade do agente. É o que se verifica, a título ilustrativo, nos crimes
E a pena para o caso de crime tentado? culposos (salvo na culpa imprópria) e nos crimes
A punibilidade da tentativa está disciplinada no unissubsistentes (em que não há como dividir o inter
parágrafo único, do art. 14, do CP. criminis).
O CP acolheu como regra a teoria objetiva, realísti- Relembrando:
ca ou dualista, que determina que a pena da tentativa
deve corresponder à pena do crime consumado, dimi- z Culpa: O agente não quer nem assume o risco de
nuída de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). produzir o resultado. Ocorrerá por negligência
Como o desvalor do resultado é menor quando (conduta negativa), imprudência (conduta positiva
comparado ao do crime consumado, o agente deve de exceder o limite) ou imperícia (falta de habili-
suportar uma punição mais branda. dade técnica);
Vamos exemplificar: z Culpa imprópria: decorre do erro de tipo evitá-
vel nas descriminantes putativas ou do excesso
z “A” subtrai o celular de “B” e foi condenado à pena nas causas de justificação. O agente quer o resulta-
de 2 anos; do em razão de sua vontade encontrar-se viciada
z “A” tentou subtrair o celular de “B” e foi condenado por um erro que, com mais cuidado, poderia ser
376 à pena de 8 meses. evitado.
O conceito da discriminante putativa está descrito consumação. É o caso, por exemplo, do sujeito que
no § 1º, do art. 20, do Código Penal: ingressa na casa da vítima e, voluntariamente, desiste
da subtração que pretendia efetuar. Veja que, no caso
Art. 20 O erro sobre elemento constitutivo do tipo do exemplo, se o sujeito desiste do furto pelo risco de
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição ser surpreendido em flagrante diante do funciona-
por crime culposo, se previsto em lei.
mento do sistema de alarme, não se fala em desistên-
Descriminantes putativas
cia, mas sim em tentativa punível.
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de Já o arrependimento eficaz se dá após esgotado
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não o processo executório imaginado, mas resolve agir
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e voluntariamente atuar para evitar, com sucesso, a
o fato é punível como crime culposo. consumação.
Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a conse-
O parágrafo § 1º do citado artigo dispõe sobre as dis- quência é que o sujeito deve responder apenas pelos
criminantes putativas. A palavra putativa deve ser enten- resultados já produzidos.
dida no sentido de aparentar ou parecer. Por exemplo: Esses dois institutos são incompatíveis com os cri-
mes culposos, pela sua própria natureza, salvo na cul-
Catarina foi ameaçada por Beatriz, a qual disse que pa imprópria.
iria lhe dar uma facada. A partir deste dia, Catari-
na, assustada pelas ameaças de Beatriz, passou a
andar sempre com um canivete de bolso. Na sema- MOTIVOS ALHEIOS À VONTADE DO AGENTE
na seguinte, Catarina desapercebida encontra-se
com Beatriz numa rua sem saída. Beatriz então, z Antes de esgotar a execução:
com movimentos suspeitos, inclina-se para dar um
abraço em Catarina e dar-lhe uma flor como pedido „ Tentativa
de desculpas. Entretanto, Catarina desfere de ime- „ imperfeita ou
diato uma facada em Beatriz. „ inacabada

Estamos aqui diante de uma tese de legítima defesa z Depois de esgotar a Execução:
putativa. A verdade é que havia uma falsa percepção de
realidade, que se passava somente na mente de Catari- „ Tentativa perfeita ou acabada ou crime falho
na, que acreditava que seria esfaqueada por Beatriz.

z Crime unissubsistente: é realizado por ato único, z Consequência jurídica:


não sendo admitido o fracionamento da conduta,
como, por exemplo, no desacato (art. 331, do CP) „ Responde pela tentativa: pena do crime
praticado verbalmente. consumado reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3
(dois terços)
Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é
cabível a punição de determinados delitos na forma
tentada, pois nesse sentido orientou-se a previsão MODIFICAÇÃO DA VONTADE DO AGENTE
legislativa quando da elaboração do tipo penal.
Exemplos disso encontram-se nos arts. 9º e 11 z Antes de esgotar a execução:
da Lei 7.170, de 1983 — Crimes contra a Segurança
Nacional. „ Desistência
„ Voluntária
Art. 9º Tentar submeter o território nacional, ou
parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país. z Depois de esgotar a Execução:
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal „ Arrependimento eficaz
grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta
morte aumenta-se até a metade.
z Consequência jurídica:
Art. 10 Aliciar indivíduos de outro país para inva-
são do território nacional.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
„ Só responde pelos atos já praticados
Parágrafo único - Ocorrendo a invasão, a pena
aumenta-se até o dobro. O arrependimento posterior é uma causa obriga-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 11 Tentar desmembrar parte do território tória de diminuição de pena para os crimes pratica-
nacional para constituir país independente. dos sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa,
Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do
infrator até o momento do recebimento da denúncia
ou queixa.
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E terços, e prevalece que a redução será tanto maior
quando mais célere a reparação.
ARREPENDIMENTO EFICAZ
Casos Excepcionais de Arrependimento Posterior no
A desistência voluntária e o arrependimento efi- Código Penal
caz encontram-se previstos no art. 15 CP.
A desistência voluntária se configura quando A reparação do dano no crime de estelionato por
o sujeito inicia o processo executório, mas desis- meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem
te voluntariamente de nele prosseguir, evitando a efeito diverso. 377
No peculato culposo (§ 2º, art. 312, do CP), a repara- z O agente deve saber que se encontra em estado de
ção do dano até a sentença definitiva extingue a puni- necessidade (requisito subjetivo);
bilidade, e se posterior ainda reduz a pena em metade z Não deve haver o dever legal do agente de enfren-
(§ 3º, art. 312, do CP). tar o perigo (§ 1º, do art. 24, do CP).

O exemplo clássico é o de dois tripulantes de um


navio que, após o naufrágio, dividem um único salva-
CRIME IMPOSSÍVEL -vidas. Percebendo que vai afundar, um deles mata o
outro com a finalidade de ficar com o salva-vidas para
Disposto no art. 17, CP. si só, salvando-se.
Pode se dar de três formas:
Legítima Defesa
z Inidoneidade absoluta do meio: meio escolhido
não tem qualquer possibilidade razoável de lesar o Constitui outra causa excludente de ilicitude, des-
bem jurídico (matar alguém com “poder da mente”);
ta vez prevista no art. 25, CP. Encontra-se em legítima
z Impropriedade absoluta do objeto: o objeto
defesa aquele que, utilizando os meios necessários
material não reveste o bem jurídico protegido pela
com moderação, repele injusta agressão, atual ou imi-
norma penal, como tentar matar alguém já morto
nente, a direito próprio ou de terceiros.
ou abortar não estando a mulher grávida;
Para que se configure é necessário:
z Obra do agente provocador: flagrante preparado,
ou seja, quando o Estado instiga o crime para que o
z Agressão injusta atual ou iminente, ou seja, pre-
sujeito caia em uma “armadilha”, tendo tomado pro-
sente ou prestes a acontecer;
vidências para que o bem jurídico não sofra risco.
z Preservação de qualquer bem jurídico, próprio ou
alheio (legítima defesa própria ou de terceiros);
z Repulsa utilizando os meios necessários, de forma
moderada.
ILICITUDE E SUAS CAUSAS DE
EXCLUSÃO Observados os requisitos elencados, considera-se
também em legítima defesa o agente de segurança
A antijuridicidade, um dos requisitos do crime, pública que repele agressão ou risco de agressão à
consiste na contradição entre fato e o ordenamento vítima mantida refém durante a prática de crimes.
jurídico, resultando na lesão ao bem jurídico tutelado. Acerca da legítima defesa é importante infor-
O fato típico, até prova em contrário, é um fato que, mar que o Supremo Tribunal Federal, na Arguição
ajustando-se a um tipo penal, é antijurídico, a não ser de Descumprimento de Princípio Fundamental, deu
que haja uma causa que o torne lícito. interpretação conforme a CF para declarar a legítima
defesa da honra inconstitucional.
Exclusão de Ilicitude

A antijuridicidade pode ser afastada por certas ADPF 779 MC-Ref


causas, chamadas de “causas de exclusão da antiju- Órgão julgador: Tribunal Pleno
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI
ridicidade” ou “justificativas”. Na incidência de uma
Julgamento: 15/03/2021
delas, o fato permanece típico, mas não há crime:
Publicação: 20/05/2021
excluindo-se a ilicitude, e sendo ela um quesito do cri-
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, referendou a
me, fica excluído o próprio crime. Como consequên- concessão parcial da medida cautelar para: (i) fir-
cia, o sujeito deve ser absolvido. mar o entendimento de que a tese da legítima
O art. 23 do CP apresenta as causas de exclusão da defesa da honra é inconstitucional, por con-
antijuridicidade: trariar os princípios constitucionais da dig-
nidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF),
z Estado de necessidade; da proteção à vida e da igualdade de gênero
z Legítima defesa; (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação
z Estrito cumprimento de dever legal; conforme à Constituição aos arts. 23, inciso II, e 25,
z Exercício regular de direito. caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art.
65 do Código de Processo Penal, de modo a excluir
Estado de Necessidade a legítima defesa da honra do âmbito do instituto
da legítima defesa e, por consequência, (iii) obstar
Conforme expressa o art. 24, CP, o estado de neces-
à defesa, à acusação, à autoridade policial e ao juí-
sidade é a situação de perigo atual, que não foi provo- zo que utilizem, direta ou indiretamente, a tese de
cada voluntariamente pelo agente, na qual este viola legítima defesa da honra (ou qualquer argumen-
bem de outrem, para não sacrificar direito próprio ou to que induza à tese) nas fases pré-processual ou
de terceiros, sacrifício que não poderia razoavelmen- processual penais, bem como durante julgamento
te ser exigido. perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do
Para que se configure: ato e do julgamento, nos termos do voto do Relator.
Os Ministros Edson Fachin, Luiz Fux (Presidente)
z O perigo deve ser atual; e Roberto Barroso acompanharam o Relator com
z Deve haver ameaça a direito próprio ou alheio, ressalvas. A ressalva do Ministro Gilmar Mendes
cujo sacrifício não era razoável de se exigir; foi acolhida pelo Relator. Falaram: pelo requerente,
z A situação não deve ter sido provocada pela von- o Dr. Paulo Roberto Iotti Vecchiatti; pelo interes-
tade do agente; sado, o Ministro José Levi Mello do Amaral Junior,
378 z É inevitável de outro modo; Advogado-Geral da União; e, pelo amicus curiae
Associação Brasileira das Mulheres de Carreira
Jurídica, a Dra. Eliana Calmon. Plenário, Sessão CULPABILIDADE E SUAS CAUSAS DE
Virtual de 5.3.2021 a 12.3.2021. EXCLUSÃO
Estrito Cumprimento do Dever Legal As excludentes de culpabilidade podem ser dividi-
das, para fins de estudo, em dois grupos: as que se rela-
Encontra-se na primeira parte do inciso III, do art. cionam com o agente e as que dizem respeito ao fato:
23, do CP. Se o agente atua rigorosamente dentro do
imposto por norma legal, o comportamento não pode z Quanto ao agente do fato:
ser antijurídico. É o caso do oficial de justiça que, cum-
Existência de doença mental ou desenvolvimento
prindo determinação legal, realiza a apreensão de
mental incompleto ou retardado (art. 26, caput, CP);
determinado bem de um cidadão. Existência de embriaguez decorrente de vício (art.
26, caput, CP);
Exercício Regular de Direito Menoridade (art. 27, CP).

Está disposto na segunda parte, do inciso III, do z Quanto ao fato (legais):


art. 23, do CP. Da mesma forma que a anterior, não
pode ser ilícita a conduta daquele que age estritamen- Coação moral irresistível (art. 22, CP);
te exercendo direito próprio desde que não exceda na Obediência hierárquica (art. 22, CP);
sua forma de exercer. Embriaguez decorrente de caso fortuito ou força
maior (§ 1°, art. 28, CP);
Causas Supralegais de Exclusão da Antijuridicidade Erro de proibição escusável (art. 21, CP);
Descriminantes putativas;
Existem condutas consideradas justas pela cons-
z Quanto ao fato (supralegais):
ciência social que não se encontram previstas nas
causas de exclusão da antijuridicidade elencadas no Inexigibilidade de conduta diversa;
art. 23, do CP. Nesse sentido, a doutrina aponta que Estado de necessidade exculpante;
o consentimento do ofendido (fora das hipóteses em Excesso exculpante;
que o dissenso da vítima constitui requisito da figura Excesso acidental.
típica), pode vir a excluir a ilicitude, caso se praticado
em situação justificante, como é o caso do indivíduo Doença Mental
que tatua o corpo de outras pessoas, praticando con-
duta típica de lesões corporais, que, no entanto, são Doença mental pode ser conceituada como o qua-
lícitas se presente o consentimento do ofendido. dro de alterações e doenças psíquicas que retiram do
indivíduo a faculdade de controlar e comandar a pró-
pria vontade. Importante esclarecer que a dependên-
EXCESSO PUNÍVEL
cia patológica, como drogas, configura doença mental
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou quando retira a capacidade de entender ou querer.
em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agen-
Desenvolvimento Mental Incompleto ou Retardado
te pode encontrar-se em três situações diferentes:
Por desenvolvimento mental incompleto se
z Usa de um meio moderado e dentro do necessário
entende as limitações na capacidade de compreensão
para repelir à agressão. da ilicitude do fato ou a incapacidade de se autodeter-
minar de acordo com o entendimento (precário) uma
Haverá necessariamente o reconhecimento da vez que o sujeito ainda não atingiu maturidade (seja
legítima defesa. física ou mental). São causas:

z De maneira consciente emprega um meio des- z A menoridade: os menores de 18 anos, em razão de


necessário ou usa imoderadamente o meio não sofrerem sanção penal pela prática de ilícito
penal, em decorrência da ausência de culpabilida-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

necessário.
de, estão sujeitos ao procedimento medidas sócio
A legítima defesa fica afastada se for excluído um educativos prevista no ECA;
dos seus requisitos essenciais. z Características pessoais do agente, como a falta de
convivência social (surdo que ainda não aprendeu
z Após a reação justa (meio e moderação) por impre- a se comunicar).
vidência ou conscientemente continua desneces-
Desenvolvimento Mental Retardado
sariamente na ação.
Configura aqui, o indivíduo que tem uma capa-
Estará agindo com excesso o agente que intensi- cidade que não corresponde às experiências para
fica demasiada e desnecessariamente a reação ini- aquele momento de vida, o que significa que a plena
cialmente justificada. O excesso poderá ser doloso ou potencialidade jamais será atingida. Os inimputáveis
culposo. O agente responderá pela conduta constituti- aqui tratados não possuem condições de entender o
va do excesso. crime que cometeram. 379
Como acabamos de ver, ao menor de 18 anos se mental incompleto ou retardado não era inteira-
aplicam regras próprias. Ao completar 18 anos, a lei mente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou
presume que todos os indivíduos são imputáveis. de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Porém, tal presunção é relativa, ou seja, é passível de
aferição. Assim, existem três possíveis critérios para a Menores de dezoito anos
verificação da inimputabilidade:
Art. 27 Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
z Sistema psicológico: interessa é somente o momen- mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
to da ação ou omissão delituosa, se ele tinha ou não estabelecidas na legislação especial.
condições de avaliar o caráter criminoso do fato e Emoção e paixão
de orientar-se de acordo com esse entendimento,
ou seja, o momento da pratica do crime. A emoção No caso de embriaguez acidental completa, temos:
não excluir a imputabilidade. E pessoa que comete
crime, com integral alternação de seu estado físico- Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal:
-psíquico responde pelos seus atos; I - a emoção ou a paixão;
z Sistema biológico: interessa saber se o agente é Embriaguez
portador de alguma doença mental ou desenvolvi- II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
mento mental incompleto ou retardo, caso positivo ou substância de efeitos análogos.
é considerado inimputável. Tal sistema é usado pela § 1º É isento de pena o agente que, por embriaguez
doutrina: Código Penal, sobre a menoridade penal; completa, proveniente de caso fortuito ou força
z Sistema biopsicológico: exige-se que a causa maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteira-
geradora esteja prevista em lei e que, além disso, mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
atue efetivamente no momento da ação delituo- de determinar-se de acordo com esse entendimento.
sa, retirando do agente a capacidade de entendi- § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
mento e vontade. Desta forma, será inimputável se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
aquele que, em razão de uma causa prevista em lei fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da
(doença mental, incompleto ou retardado), atue no ação ou da omissão, a plena capacidade de enten-
momento da pratica da infração penal sem capaci- der o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
dade de entender o caráter criminoso do fato. acordo com esse entendimento.

Somente há inimputabilidade se os três requisitos Adoção do critério psicológico. A embriaguez


estiverem presentes, sendo exceção aos menores de admite qualquer meio probatório.
18 anos, regidos pelo sistema biológico. Já na embriaguez acidental fortuita, decorrente
de caso fortuito ou de força maior, que ocorre, por
Questões Importantes sobre Inimputabilidade exemplo, quando o agente não conhece o caráter
alcoólico da bebida ou o agente é forçado a ingerir a
A inimputabilidade do acusado é fornecida pelo bebida, adota-se o critério psicológico. Porém, não
exame pericial feito pelo médico legal, exame que é basta estar embriagado fortuitamente.
denominado “incidente de insanidade mental”, em que Deve-se analisar se ao momento da ação ou omissão
se suspende o processo até o resulto final. Há prazo de o agente era incapaz de entender o caráter ilícito do fato
10 dias para provar a existência da causa excludente ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
da culpabilidade (Lei nº 11.719, de junho de 2008). Posto isso, teremos duas possibilidades:
Os requisitos biopsicológicos da inimputabilidade são:
z Completa isenção de pena: § 1°, art. 28, CP.
z Somente há inimputabilidade se os três requisitos z Incompleta redução de pena de 1/3 a 2/3: § 2°, art.
estiverem presentes, sendo exceção aos menores
28, CP.
de 18 anos, regidos pelo sistema biológico;
z Causal: existencial de doença mental ou de desen-
volvimento incompleto ou retardado, causas pre- A embriaguez patológica deve ser tratada como
vistas em lei; doença mental, regida pelo art. 26, CP.
z Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omis- Já na embriaguez preordenada o agente se embria-
são delituosa; ga para encorajar-se a praticar o crime. Será punido
z Consequencial: perda total da capacidade de pelo crime doloso cometido e terá a pena aumentada.
entender ou da capacidade de querer. Aplicação da agravante genérica, at. 61, II, l, CP.

Dispõe o Código Penal: ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença men- Erro de Tipo
tal ou desenvolvimento mental incompleto ou retarda-
do, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente Como bem explicam André Estefam e Victor
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de Eduardo Gonçalves1, o erro, corresponde à falsa per-
determinar-se de acordo com esse entendimento. cepção da realidade dos fatos, ou seja, há uma per-
cepção errônea pela qual o agente que comete o fato
Redução de pena
acredita piamente não estar diante de um dos elemen-
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de tos essenciais que constituem o crime. Exemplo, Carol
um a dois terços, se o agente, em virtude de per- pega a chave do carro de Josiane, acreditando que a
turbação de saúde mental ou por desenvolvimento chave era dela.
1  Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios
380 Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, p. 516, 2020.
Neste caso, sem analisar corretamente os fatos era com movimentos suspeitos, inclina-se para dar um
de se pensar que Carol teria cometido o crime de furto, abraço em Catarina e lhe dar uma flor como pedi-
vez que preenchia quase todos os elementos da condu- do de desculpas. Mas Catarina desfere de imediato
ta tipificada no art. 155, do Código Penal. Todavia, esta uma facada em Beatriz.
interpretação seria errônea, pois pendia do elemento
de vontade, já que que para Carol o objeto não alheio. Estamos aqui, diante de uma tese de legítima defe-
Após este introito, acredito que você já deve pos- sa putativa. A verdade é que havia uma falsa percep-
suir uma noção do que é um erro. Agora iremos apro- ção de realidade, que se passava somente na mente
fundar nos conceitos de erro de tipo escusável e erro de Catarina, que acreditava que seria esfaqueada por
de tipo inescusável. Beatriz.
Como veremos no próximo parágrafo, do mes-
ERRO ESCUSÁVEL ERRO INESCUSÁVEL mo artigo, o erro também pode ser determinado por
terceiro.
É aquele que deriva de É aquele que deriva de
fato imprevisível, que pe- fato evitável, que pelas Erro determinado por terceiro
las circunstâncias concre- circunstâncias concre-
tas, qualquer pessoa de tas qualquer pessoa de
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina
discernimento mediano discernimento médio, te-
o erro.
incorreria em tal erro. Por ria percebido o equívoco
consequência, neste caso e teria assim o evitado.
exclui-se o dolo – por Esta espécie de erro é Para entender este dispositivo nada melhor que
inexistir o elemento von- conhecida também por um clássico exemplo:
tade – e a culpa, por ser erro de tipo permissi-
imprevisível. Esta espécie vo, pois recai sobre cir- Maciel é pai de Carolina. Sua filha só possui 16
de erro também pode ser cunstâncias fáticas de anos de idade, no entanto aparenta ser mais velha,
conceituada como erro uma causa de justifica- podendo ser facilmente confundida por uma pessoa
de tipo penal incrimina- ção, ou seja, excludente maior de idade. Maciel sempre frequenta determi-
dor, pois recaí sobre uma de ilicitude (tipo penal nado bar, por isso já é conhecido pelo garçom, que
situação fática elementar permissivo). como de costume lhe serve um chope. Certo dia,
do crime. Maciel comparece no bar com sua filha, o garçom
de prontidão lhe serve o seu chope, mas Maciel
Agora, vamos ao estudo do que dispõe o art. 20, do pede mais um para Carolina.
Código Penal Brasileiro:
Sabe-se que é proibida a venda e o consumo de
Erro sobre elementos do tipo bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade.
Aqui, estamos diante de um típico caso de erro deter-
Art. 20 O erro sobre elemento constitutivo do tipo minado por terceiro, pelas circunstâncias do caso –
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição Carolina aparentava ser mais velha e seu próprio pai
por crime culposo, se previsto em lei. que pediu o chopp – não era exigível que o garçom
tivesse conhecimento sobre o fato, já que não é costu-
Descriminantes putativas me de os bares solicitarem a carteira identidade para
aferir a idade. Neste caso, reponde quem determinou
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
o erro, in casu, Maciel.
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não Vamos conhecer agora, o erro sobre a pessoa (§ 3º,
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e do art. 20, do Código Penal):
o fato é punível como crime culposo.
Erro sobre a pessoa
Pela redação do art. 20 é possível aferir que o erro
de tipo pode ou não excluir o dolo, isto é, o elemento § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime
vontade. Mas qual é a importância da vontade para o é praticado não isenta de pena. Não se consideram,
estudo do erro de tipo? Tal elemento é de fundamen- neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
tal importância, uma vez que se inexistir a forma cul- senão as da pessoa contra quem o agente queria
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

posa de algum crime, o agente que praticou o fato não praticar o crime.
cometerá crime algum, a contrário sensu, se existir
forma culposa este agente será punido pela prática do Esta figura pode ser conhecida também por error
crime na sua forma culposa. in persona ou, ainda, por erro de tipo acidental. No
O parágrafo § 1º do citado artigo dispõe sobre as erro sobre a pessoa existe o crime, o agente quer o
discriminantes putativas. A palavra putativa deve ser resultado, todavia confunde a pessoa visada, isto é,
entendida no sentido de aparentar ou parecer. Por quem ela queria realmente atingir. Por esta razão,
exemplo: nesta hipótese inexiste isenção de pena.
É importante diferenciar a figura erro de tipo
Catarina foi ameaçada por Beatriz, que disse que
acidental da figura de erro na execução, apesar de
iria lhe dar uma facada. A partir deste dia, Catari-
na, assustada pelas ameaças de Beatriz, passou a muito parecidas são conceitos distintos, a diferença
andar sempre com um canivete de bolso. Na sema- principal desta última é que, como o próprio nome
na seguinte, Catarina desapercebida se encontra diz, o erro é na execução. Exemplo: por não saber ati-
com Beatriz numa rua sem saída. Beatriz então, rar acerta pessoa diversa. 381
Vamos para a tabela: z Erro sobre a Ilicitude Evitável:

„ O erro sobre a ilicitude evitável, como visto aci-


ERRO DE TIPO ERRO DE TIPO
ma, ocorrerá quando o agente através de uma
ACIDENTAL QUANTO ACIDENTAL QUANTO
À PESSOA À EXECUÇÃO ação ou omissão praticar o fato sem consciên-
cia de que é ilegal, mas que pelas circunstân-
O agente confunde a pes- O erro do agente ocorre no cias do fato concreto era possível e exigível que
soa que queria atingir. ato da execução. este soubesse que a sua conduta era ilícita. Nes-
Ex. no manuseio da arma. te caso, o Juiz poderá diminuir a pena de um
sexto a um terço.
Para sua prova é extremamente importante que
você saiba que em ambas são desconsideradas as qua- z Erro sobre a Ilicitude Inevitável:
lidades da pessoa que foi efetivamente atingida pelo
erro e consideradas as qualidades da pessoa que o „ O erro inevitável é aquele em que pelas cir-
agente realmente queria atingir. cunstâncias do caso concreto, era quase que
Mas no que isso importa para o direito? Novamen- impossível exigir do agente a consciência
te para explicação, iremos estudar um exemplo. necessária para evitar a prática do crime. Neste
Mévio é casado com Clara, os dois possuem uma caso, haverá isenção de pena. Ex. Estrangeiro
relação bastante conturbada. Mévio, prevalecendo de – que no seu país os adolescentes de 16 anos
relações domésticas, muito nervoso por certa atitude podem dirigir – vem visitar o Brasil e é parado
de Clara, dispara diversos tiros em sua direção, acer- numa blitz, embora ainda fosse possível saber
tando o seu vizinho Joãozinho, que passava pelo local. que no Brasil não é permitido dirigir aos 16
Joãozinho, veio à óbito. anos, era extremamente difícil exigir que este
Nesta situação, Mévio mesmo tendo acertado um
tivesse conhecimento.
homem responderá por feminicídio, pois apenas se
consideram as qualidades da vítima que realmente
queria atingir.
Temos ainda o erro de tipo acidental sobre o
objeto (error in objecto), esta figura é essencialmen- CONCURSO DE PESSOAS
te doutrinária. Aqui, como diz o próprio nome, o erro
ocorre sobre o objeto visado. Ex. Mário vai a uma joa- O Código Penal define o concurso de pessoas no
lheria e furta um colar que acredita ser de diamantes, caput do art. 29.
mas ao chegar em casa descobre que em verdade tra-
ta-se de uma bijuteria barata. Neste caso, não haverá Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
exclusão de dolo, culpa, tampouco isenção de pena. crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
Respondendo Mário pelo crime de furto consumado da de sua culpabilidade.
(art. 155, do Código Penal). [...]

Erro de Proibição: Guilherme Nucci (2018) diz que concurso de pes-


soas é cooperação desenvolvida por várias pessoas
Após o estudo do erro sobre os elementos do tipo, para o cometimento de uma infração penal. Define-se,
iremos estudar o erro sobre a ilicitude do fato, tam- ainda, por coautoria, participação, concurso de delin-
bém conhecidos como erros de proibição. Veja o que quentes, concurso de agentes e cumplicidade.
dispõe o art. 21, do Código Penal: Podemos dizer que há concurso de pessoas quan-
O erro de proibição: do dois ou mais agentes concorrem para a prática do
mesmo crime ou contravenção.
Erro sobre a ilicitude do fato
Requisitos
Art. 21 O desconhecimento da lei é inescusável. O
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta São requisitos do concurso de pessoas:
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto
a um terço.
z Pluralidades de agentes;
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o
agente atua ou se omite sem a consciência da ilici-
z Conduta relevante;
tude do fato, quando lhe era possível, nas circuns- z Vínculo subjetivo; e
tâncias, ter ou atingir essa consciência. z Unidade de crime.

O citado artigo traz apontamentos muito impor- Pluralidade de Agentes


tantes. O primeiro é que o desconhecimento da lei é
inescusável, isto quer dizer que ninguém pode usar O próprio nome, pluralidade de agentes, incida
como forma de desculpa a justificativa que praticou o que a conduta criminosa é praticada por duas ou mais
fato por desconhecer que a conduta era considerada pessoas. Parece simples, mas devemos estar muito
criminosa. familiarizados com esse assunto quando tratamos de:
Ainda no mesmo artigo é trabalhado o erro sobre
a ilicitude do fato evitável e o erro sobre a ilicitude z Crimes unissubjetivos;
do fato inevitável, os conceitos deles são retirados do z Crimes plurissubjetivos; e
382 parágrafo único do mesmo artigo. z Crimes eventualmente plurissubjetivos.
Nos crimes unissubjetivos, o delito pode ser pra- Vamos ao exemplo:
ticado por um agente ou por dois ou mais agentes, o Conduta relevante: “A” se compromete a auxiliar “B”
que chamamos de concurso eventual. a fugir após o homicídio, concurso de pessoas no delito de
Aqui, quando praticado em concurso (dois ou mais homicídio, art. 121 do CP.
agentes) é necessária a adequação típica mediata. Conduta não relevante: “A” auxilia “B” a fugir após o
É importante lembrar que adequação típica ime- homicídio sem a comprometimento prévio, “A” pratica
diata ou indireta é quando para completar a tipici- favorecimento pessoal, art. 348 do CP e “B” pratica homi-
dade é necessário conjugar o crime (tipo penal) com cídio, art. 121 do CP.
uma norma de extensão.
A tentativa, por exemplo, o agente tenta matar a Vínculo Subjetivo
vítima, o art. 121 do CP (homicídio) é complementado
pelo II, art. 14 do CP (tentativa). Trata-se de nexo psicológico entre os agentes.
A participação, por exemplo, o agente mata a víti- Sem o nexo psicológico, haverá vários crimes autôno-
ma a pedido de outrem, o art. 121 do CP (homicídio) é mos e, portanto, não é concurso de pessoas.
Vejamos o exemplo:
conjugado com o art. 29 do CP (concurso de pessoa).
Paulo, em contato com Renata, afirma que pretende
Para configurar concurso de pessoas em crimes
matar Ana, às 20h em determinado local. Laura, inimiga
unissubjetivos é necessário que todos os agentes
de Ana, escuta a conversa e comparece ao local na hora
sejam culpáveis. Se um agente não for culpável, não
indicada. Paulo ataca Ana, que consegue se soltar e sai
haverá concurso de pessoas, e sim autoria mediata. correndo. Laura, que estava atrás da árvore, derruba Ana
Portanto, não será concurso de pessoas, por exemplo, e facilita a ação de Paulo. Ainda que Paulo e Laura não
se o agente (imputável) encomenda a morte da vítima a tenham acordado, Laura responderá como partícipe do
um menor de 18 anos (inimputável). Será caso de auto- homicídio porque aderiu conscientemente à conduta de
ria mediata pelo fato de o agente imputável utilizar o Paulo (Correia, 2018).
inimputável como instrumento para a prática do delito.
Sendo assim, lembre-se que no Concurso de pes- Unidade de Crime
soas em crimes unissubjetivos é necessário:
Em síntese, o Código Penal adotou a Teoria Monista,
z Adequação típica; e Unitária ou Igualitária.
z Agentes culpáveis. Isso significa que todos os agentes que concorrem
para o mesmo crime devem receber tratamento igualitá-
Nos crimes plurissubjetivos, como o próprio nome rio no que diz respeito à classificação jurídica do fato.
indica, são os delitos que só podem ser praticados por Há crime único e pluralidade de agentes.
duas ou mais pessoas, denominados crimes de concurso
necessário. z Crime único: se dois agentes praticam em concurso o
O tipo penal exige a pluralidade de pessoas e não crime de roubo, não é possível que um agente respon-
necessita de norma de extensão. Por exemplo: o Código da por roubo consumado e outro agente responsa por
Penal tipifica no art. 288 o delito de associação criminosa, roubo tentado;
que exige 3 ou mais pessoas. z Teoria Moderada: os agentes não receberão a mesma
É necessário que apenas um agente seja culpável. pena; a aplicação da pena é individualizada de acordo
Aproveitando o exemplo acima, no caso de associação com a culpa de cada agente.
criminosa, um agente é culpável e ou demais agentes são
inimputáveis. Mesmo assim, é caso de concurso de pes- Autoria
soas em crimes plurissubjetivos.
Nos crimes eventualmente plurissubjetivo, poden- Existem ainda três teorias sobre o concurso de pessoas:
do ser chamado também de pseudoconcurso, concurso
impróprio ou concurso aparente, o delito pode ser prati- z Teoria Unitária (monista);
z Teoria Pluralista; e
cado por uma pessoa, mas tem a pena aumentada quan-
z Teoria Dualista.
do praticados em concursos de pessoas.
Vejamos, o crime de furto pode ser praticado por um
Vamos ver cada uma das teorias.
único agente. Mas, há a modalidade de furto qualificado
mediante concurso de dois ou mais agentes.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Teoria Unitária (monista): trata-se de um crime


Aqui também basta que um agente seja culpável.
único e indivisível. Ocorre quando mais de um
Seguindo o mesmo exemplo acima, se no furto qualifi-
agente concorre para a prática do delito, prati-
cado mediante concurso de pessoas, um dos agentes é cando o ato na sua totalidade ou não, e estes, res-
imputável e os demais agentes são inimputáveis. Mesmo ponderão pelo mesmo crime. Haverá somente um
assim, estaremos diante de curso de pessoas em crimes delito e todos os agentes incorrem no mesmo tipo
eventualmente plurissubjetivos. penal. Essa teoria é adotada pelo Código Penal;
z Teoria Pluralista: para essa teoria, quando mais
Conduta Relevante de um agente estiver realizando um delito, sendo
as condutas diversas um dos outros ainda que para
Neste requisito identifica-se que há pelo menos duas realizar o mesmo resultado, cada qual responderá
condutas penalmente relevantes. pelas suas condutas, ou seja, cada agente pratica um
O que devemos gravar na memória é que a contri- crime autônomo dos demais. Esta teoria foi adotada
buição do partícipe deve ter influência sobre o resultado, pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois quando
caso contrário, a participação é inócua. praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do 383
art. 124 do CP, se praticado por outrem, aplicar-se-á z autor mediato: é aquele que se vale de um incul-
a pena do art. 126 do CP. O mesmo procedimento pável ou de pessoa que atua sem dolo ou culpa
ocorre na corrupção ativa e passiva; para cometer a conduta criminosa;
z Teoria Dualista: de acordo com essa teoria, quan- z coautores: é aquele que age em colaboração recí-
do houver mais de um agente, com condutas diver- proca e voluntária com o outro para a realização
sas entre si, provocando-se um resultado, deve-se da conduta principal. A conduta principal é o ver-
separar os coautores e partícipes, sendo que cada bo do tipo penal;
um deles responderá por um crime autônomo. z partícipe: quem de qualquer modo concorre para
o crime, desde que não realize o núcleo do tipo
Além das teorias estudadas, vamos destacar as teo- penal nem possua o controle final do fato.
rias que conceituam o autor. z partícipe na teoria do domínio do fato: Guilher-
me Nucci (2018) esclarece que partícipe só possui
Teorias do Autor o domínio da vontade da própria conduta, tratan-
do-se de um “colaborador”, uma figura lateral, não
tendo o domínio finalista do crime. O delito não
z Teoria subjetiva ou unitária: não diferencia o autor
lhe pertence: ele colabora no crime alheio.
do partícipe. Então, autor (e partícipe) é o agente que
de qualquer modo contribui para a produção de um
resultado penalmente relevante. Temos por exemplo
Importante!
o art. 349 do CP, que dispõe, prestar a criminoso, fora
dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio des- Qual a teoria adotada pelo Código Penal?
tinado a tornar seguro o proveito do crime; O caput do art. 29, do CP, acolheu a teoria objeti-
z Teoria extensiva: não diferencia o autor do partícipe, va ou dualista (objetivo-formal).
mas, traz a definição de cúmplice, o agente que con- Diferencia autor e partícipe:
corre de modo menos importante para o resultado; � Autor: quem realiza o núcleo do tipo penal; e
z Teoria objetiva ou dualista: diferencia autor e � Partícipe: quem de qualquer modo concorre
partícipe. Esta teoria se subdivide: para o crime, sem executar a conduta criminosa.

„ Teoria objetivo-formal (teoria restritiva):


autor é quem realiza o núcleo do tipo penal Coautoria e Concurso de Pessoas
(“verbo”), ou seja, a conduta criminosa descri-
ta pelo preceito primário da norma incrimi- Coautoria é a forma de concurso de pessoas que
nadora. Partícipe é quem de qualquer modo ocorre quando o núcleo do tipo penal é executado por
concorre para o crime, sem praticar o núcleo duas ou mais pessoas (Nucci, 2018).
do tipo. Vejamos o exemplo: autor do crime Esclarecendo: se dois ou mais autores unidos entre
de homicídio é o agente que efetua disparos si para a prática de um determinado crime, por exem-
de revólver em alguém, matando-o. Partícipe plo, furto, estamos diante da hipótese de coautoria.
é o agente que empresta a arma de fogo para a A coautoria pode ser:
finalidade da prática de homicídio.
z Parcial ou funcional; ou
z Direta ou material.
O art. 29 do Código Penal adotou essa teoria. Vejamos:
„ Coautoria parcial, ou funcional: diversos
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
autores praticam atos de execução diversos, os
da de sua culpabilidade. quais, somados, produzem o resultado deseja-
do, por exemplo, uma agente segura a vítima,
outro agente a esfaqueia, produzindo a sua
„ Teoria objetivo-material: autor é quem pres-
morte;
ta a contribuição objetiva mais importante
„ Coautoria direta ou material: todos os autores
para a produção do resultado, e não necessa-
efetuam igual conduta criminosa, por exemplo,
riamente aquele que realiza o núcleo do tipo
vários agentes efetuam disparos com arma de
penal, o verbo. Partícipe é quem concorre de
fogo em direção à vítima, matando-a.
forma menos relevante, ainda que mediante a
realização do núcleo do tipo;
Todas as vezes que estudamos coautoria pergunta-
mos se é admissível nos casos de crimes próprios e de
z Teoria do domínio do fato: em síntese é uma teo- crimes de mão própria.
ria intermediaria entre a teoria objetiva e a teo-
ria subjetiva. Autor é aquele que tem o controle z Crimes próprios ou especiais: são os casos em
final do fato, apesar de não realizar o núcleo do que o tipo penal exige uma situação de fato ou de
tipo penal. direito diferenciada por parte do sujeito ativo, por
exemplo, dois funcionários públicos, juntos, prati-
O conceito de autor na teoria do domínio do fato, cam o crime de peculato, art. 312 do CP. Nos crimes
compreende: próprios ou especiais é admitida a coautoria;
z Crimes de mão própria, de atuação pessoal
z autor propriamente dito: é aquele que pratica o ou de conduta infungível: são as hipóteses que
núcleo do tipo penal; somente podem ser praticados pelo sujeito expres-
z autor intelectual: é aquele que planeja mental- samente indicado pelo tipo penal. O crime só pode
384 mente a empreitada criminosa; ser praticado pelo agente indicado no tipo penal,
e ninguém mais, por exemplo, crime de falsa perí- z Multidão delinquente: o fato ocorre por influên-
cia, art. 342 do CP. Nos crimes de mão própria não cia de indivíduos reunidos, que, em clima de
é admitida a coautoria. tumultuo, ou manipulação, tornam-se desprovidos
de limites éticos e morais (Sanches Cunha, 2016);
Há outros temas importantes que devemos z Coautoria sucessiva: a regra é que todos os coau-
conhecer sobre autoria e coautoria: tores iniciem, juntos, a empreitada criminosa.
Rogério Greco (2015) adverte que pode acontecer
z Executor de reserva: agente que acompanha, pre- que alguém, ou mesmo o grupo, já tenha começado
sencialmente, a execução da conduta típica, fican- a percorrer o iter criminis (fases do crime: cogita-
do à disposição, se necessário, para nela interferir. ção, atos preparatórios, atos de execução e consu-
mação), ingressando na fase dos atos de execução,
Ou seja: quando outra pessoa adere à conduta criminosa
daquele, e agora, unidos pelo vínculo psicológico,
„ Se o agente interfere, será tratado como passam, juntos, a praticar a infração penal;
coautor; z Coautoria em crimes omissivos: há corrente na
„ Se o agente não interfere, será trado como doutrina que não admite a coautoria em crimes
partícipe. omissivos. Porém, vamos tratar aqui da corrente
que admite a coautoria em crimes omissivos (pró-
z Autor intelectual: a definição se encontra no I, prios, ou puros; impróprios, espúrios ou comissi-
art. 62 do CP, afirmando que a pena será agrava vos por omissão). Ocorre a coautoria quando dois
em relação ao agente que promove, ou organiza ou mais agentes, vinculados pela unidade de pro-
a cooperação no crime ou dirige a atividade dos pósitos, prestam contribuições relevantes para a
demais agentes; produção do resultado, realizando atos de execu-
z Autoria de escritório ou autoria mediata espe- ção previstos na lei penal (Nucci, 2018). Por exem-
cial: agente que dita a ordem a ser executada por plo, dois agentes podem, caminhando pela rua,
outro autor direto, dotado de culpabilidade e pas- deparar-se com outra, ferida, em busca de ajuda.
sível de ser substituído a qualquer momento por Associadas, uma conhecendo a conduta da outra
outra pessoa, no âmbito de uma organização ilí- e até havendo incentivo recíproco, resolvem ir
cita de poder. Temos por exemplo, o líder do PCC embora, ou seja, os agentes são coautores do crime
(Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, ou de omissão de socorro definido no art. 135 do CP;
do CV (Comando Vermelho), no Rio de Janeiro que z Autoria mediata: não está expresso no Código
comandam as redes ilícitas e hierarquizadas; Penal, porém a doutrina trata do tema. De acordo
z Autoria por convicção: o agente comete um cri- com Guilherme Nucci (2018) “trata-se de espécie de
me motivado por convicções pessoais, por exem- autoria em que alguém, o “sujeito de trás” se utiliza,
plo, religião, moral, política, esporte (futebol); para a execução da infração penal, de uma pessoa
z Autor por determinação: é quem se vale de outro,
inculpável ou que atua sem dolo ou culpa.”
que não realiza conduta punível, por ausência de
dolo, em um crime de mão própria, ou ainda o
Há dois sujeitos nessa relação:
sujeito que não reúne as condições legalmente exi-
gidas para a prática de um crime próprio, quando
„ autor mediato: quem ordena a prática do cri-
se utiliza de quem possui tais qualidades e se com-
me; e
porta de forma atípica, ou acobertado por uma
causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade „ autor imediato: aquele que executa a conduta
(Sanches Cunha, 2016). Podemos exemplificar uma criminosa.
mulher que dá sonífero a outra e depois hipnotiza
um amigo, ordenando-lhe que com ela mantenha Guilherme Nucci exemplifica: “A”, desejando matar
relações sexuais durante o transe; sua esposa, entrega uma arma de fogo municiada à “B”,
z Autoria colateral: dois ou mais agentes querem criança de pouca idade, dizendo-lhe que, se apertar o
praticar o mesmo crime, mas não estão ligados gatilho na cabeça da mulher, essa lhe dará balas. Quan-
pelo vínculo psicológico. Acompanhe o raciocínio do se fala em pessoa sem culpabilidade, aí se insere
do exemplo: qualquer um dos seus elementos: imputabilidade,
potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
Tiago e Felipe, sem vínculo psicológico, querem conduta diversa. Ausente qualquer deles, faltará a
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

matar Paulo. culpabilidade. A pessoa que atua sem discernimento,


Tiago e Felipe ficam de tocaia na rua por onde Pau- funciona como mero instrumento do crime.
lo costuma transitar. A autoria mediata é incompatível com os crimes
Quando Paulo passar pela rua, Tiago e Felipe ati- culposos, pois nesses crimes, o resultado naturalístico
ram simultaneamente. é involuntariamente produzido pelo agente. Conse-
Após o resultado da perícia, temos duas hipóteses: quentemente, não se pode conceber a utilização de um
inculpável ou de pessoa sem dolo ou culpa para funcio-
I. Se a morte resultou do disparo de Tiago, este res- nar como instrumento de um crime cujo resultado o
ponderá por homicídio consumado e Felipe res- agente não quer nem assume o risco de produzir (Nuc-
ponderá por homicídio tentado. ci, 2018)
II. Se quando o tiro disparado por Felipe atingiu Pau- A autoria mediata é incompatível com os cri-
lo quando ele já estava morto pelo disparo de Tia- mes de mão própria, porque a conduta somente
go, este responderá por homicídio consumado e pode ser praticada pela pessoa diretamente indicada
Felipe não responderá por nenhum crime, pois se pelo tipo penal, ou seja, a infração penal não pode ter
trata de crime impossível. a sua execução delegada a outrem. 385
Participação A participação pode ser:

Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora z Moral: a conduta do agente se restringe a induzir
ambos dentro da teoria objetiva, formal ou normati- ou instigar terceira pessoa a cometer uma infração
va, vejamos: penal. Não há colaboração com meios materiais,
mas apenas com ideias de natureza penalmente
z Teoria Formal: autor é o agente que pratica a ilícitas. Induzir é fazer surgir na mente de outrem
figura típica descrita no tipo penal, e partícipe é a vontade criminosa, até então inexistente. Insti-
aquele que comete ações não contidas no tipo, res- gar é reforçar a vontade criminosa que já existe na
pondendo apenas pelo auxílio que prestou (enten- mente de outrem;
dimento majoritário). O agente que furta os bens z Material: o agente presta auxílio ao autor do cri-
de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do me. O partícipe que auxilia é chamado pela dou-
CP, enquanto aquele que o aguarda com o car- trina de cúmplice. Auxiliar é facilitar a execução
ro para ajudá-lo a fugir, responderá apenas pela do crime sem, porém, executar o núcleo do tipo. O
colaboração; auxílio pode-se dar durante os atos preparatórios
z Teoria Normativa: autor é o agente que, além de ou executórios. Vamos exemplificar o auxílio na
praticar a figura típica, comanda a ação dos demais participação material:
(“autor executor” e “autor intelectual”).
„ emprestar o dinheiro para a compra de remé-
O partícipe é aquele que colabora para a prática dio abortivo;
da conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica „ ensinar a fórmula do veneno que se irá minis-
descrita, e sem ter controle das ações dos demais. trar à vítima; e
Aquele que planeja o delito e aquele que o executa „ vigiar o local do crime para o agente executar
são coautores. o roubo.
Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária
teoria formal, o executor de reserva é apenas partí- z Participação de menor importância: Partici-
cipe, ou seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo pação de menor importância, ou mínima, é a de
após Mário também desfere tiros em Pedro, Mário reduzida eficiência causal. Por quê? Porque con-
(executor de reserva) responderá apenas pela partici- tribui para a produção do resultado, mas de forma
menos decisiva. Entendeu? Apenas participa.
pação, pois não praticou a conduta matar, já que ati-
rou em um cadáver.
O melhor critério para constatar a participa-
O juiz poderá aplicar penas iguais para autor e
ção de menor importância é o da equivalência dos
partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este últi-
antecedentes.
mo, quando, por exemplo, for o mentor do crime.
A participação de menor importância está prevista
no § 1°, art. 29 do CP, com pena pode ser diminuída de
Sobre o assunto, ver o que preceitua o art. 29 do
1/6 a 1/3.
CP:
Encontramos em algumas doutrinas que a redu-
ção é mera faculdade do juiz, mas oriento que outras
[...] quem, de qualquer modo, concorre para o crime
doutrinas têm a tese de que quando a lei concede ao
incide nas penas a este cominadas, na medida de
agente a possibilidade de obter certos benefícios, tal
sua culpabilidade
possibilidade ingressa nos chamados direitos públicos
de liberdade do réu.
Dessa forma deve-se analisar cada caso concreto
É necessário saber que a participação de menor
de modo a verificar a proporção da colaboração (Nuc-
importância somente se aplica à participação. A atua-
ci, 2018).
ção do coautor é sempre relevante.
A participação é a modalidade de concurso de
Além disso, a participação de menor importância
pessoas em que o sujeito não realiza diretamente o descreve uma causa de diminuição da pena, aplicável
núcleo do tipo penal, mas de qualquer modo concorre na terceira fase da fixação da pena. Trata-se de direito
para o crime. subjetivo do réu.
Trata-se de qualquer tipo de colaboração, desde Lembre-se de que a diminuição da pena se relacio-
que não relacionada à prática do verbo contido na na à participação, ou seja, ao comportamento adotado
descrição da conduta criminosa. pelo sujeito, e não à sua pessoa.
Exemplo: é partícipe de um homicídio aquele que, A redução da pena não alcançará o coautor nem
ciente do propósito criminoso do autor, e disposto a o partícipe intelectual, isto é, o que planejou o crime,
com ele colaborar, empresta uma arma de fogo muni- porque em tal caso não se pode falar em participação
ciada para ser utilizada na execução do delito. de somenos importância.
É relevante saber que a menor importância da
A participação possui dois requisitos: cooperação pode ocorrer na preparação ou execução
do crime, embora seja mais frequente durante os atos
z propósito de colaborar para a conduta do autor preparatórios.
(principal); e As condições pessoais, referentes ao autor ser pri-
z colaboração efetiva, por meio de um compor- mário ou reincidente, perigoso ou não, não impedem
tamento acessório que concorra para a conduta a redução da pena, se tiver contribuído minimamente
386 principal. para a produção do resultado.
Agravante z Prevenção geral (direcionada à sociedade)
O Código Penal, no art. 61, trata das circunstâncias
„ negativa: intimidação pela pena;
agravantes, ou seja, reincidência, ter o agente come-
„ positiva: demonstra a vigência da lei penal;
tido o crime, por exemplo, por motivo fútil ou torpe,
dentre outras hipóteses legal.
Aqui vamos dedicar o estudo do art. 62 do CP, pois z Prevenção especial (direcionada ao condenado)
se trata das agravantes aplicáveis no caso de concurso
de pessoas. „ negativa: evita a reincidência;
„ positiva: busca a ressocialização.
Art. 62 A pena será ainda agravada em relação ao
agente que: Após o trânsito em julgado, o juiz das execuções
I- promove, ou organiza a cooperação no crime ou assume o processo, de maneira que é ele quem irá
dirige a atividade dos demais agentes; aplicar os institutos da execução penal, por exemplo:
II- coage ou induz outrem à execução material do remição de pena pelo trabalho e pelo estudo. Os deta-
crime; lhes da execução da pena são tratados na Lei 7.210,
III- instiga ou determina a cometer o crime alguém
de 1984.
sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude
Existem as seguintes espécies de penas: privativa
de condição ou qualidade pessoal;
de liberdade; restritiva de direitos; multa.
IV- executa o crime, ou nele participa, mediante
paga ou promessa de recompensa. Dentro da pena privativa de liberdade, existe a
possibilidade da reclusão ou detenção. A reclusão
Vamos estudar: pode ser cumprida no regime fechado, semiaberto ou
aberto. Já a detenção só pode iniciar-se nos regimes
z quem promove ou organiza a cooperação no crime, semiaberto ou aberto, podendo regredir para regime
ou dirige a atividade dos demais agentes. São os auto- fechado. Observe as diferenças entre os regimes:
res intelectuais. O agente é organizador do delito;
z quem coage outrem à execução material do crime. z Regime fechado: A execução da pena acontece em
Veja, a coação pode ser física ou moral, resistível ou
estabelecimento de segurança máxima ou média.
irresistível. Se a coação for resistível, coator e coagi-
Exige-se exame criminológico. Há trabalho no
do respondem pelo delito. Se a coação for irresistí-
período diurno (em comum dentro do estabeleci-
vel, só o coator responde pelo crime, sem a aludida
agravante. Nessa coação não há propriamente con- mento) e isolamento durante o repouso noturno.
curso de pessoas, e, sim, autoria mediata. Observação: o trabalho externo é admissível em
serviços/obras públicas;
Coagir alguém a praticar crime configura delito de z Regime semiaberto: A execução da pena acontece
tortura, pois o coator será responsabilizado pelo deli- em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
to praticado pelo coagido em concurso material com o similar. Há trabalho comum durante o dia, sendo
crime de tortura da alínea “b”, inciso I, art. 1° da Lei possível, também, o trabalho externo e a frequên-
n° 9.455, de 1997. cia a cursos;
z Regime aberto: A execução da pena acontece em
z quem instiga ou determina a cometer o crime
casa de albergado ou estabelecimento adequado.
alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em
Baseia-se na autodisciplina e é de responsabilidade
virtude de condição ou qualidade pessoal;
do condenado, que precisará trabalhar, frequentar
z quem induz ou instiga a cometer crime pessoa não
punível, como o doente mental. curso ou exercer outra atividade autorizada (fora
e sem vigilância); deve, também, permanecer reco-
lhido durante o período noturno e nos dias de fol-
Importante! ga. Regredirá de regime se praticar crime doloso,
frustrar os fins da execução ou não pagar a multa;
Aquele que induz menor de dezoito anos a praticar z Regime especial: Consiste no cumprimento de pena
crime contra determinada vítima será participe do em estabelecimento próprio, destinado somente às
delito e ainda responderá pelo crime de corrupção mulheres, e devidamente adequado às condições
de menores previsto no art. 244-B do ECA. necessárias ao sexo feminino.

Art. 37 As mulheres cumprem pena em estabeleci-


z quem executa o crime, ou nele participa, median-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

mento próprio, observando-se os deveres e direitos


te paga ou promessa de recompensa. Em paga, o inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que
recebimento é prévio. Em promessa de recompen- couber, o disposto neste Capítulo.
sa, o recebimento é posterior à prática do delito.
„ O condenado à pena superior a 8 anos começa
em regime fechado;
„ O condenado (não reincidente) à pena superior
ESPÉCIES DE PENAS a 4 anos e que não exceda a 8 anos poderá cum-
pri-la em regime semiaberto;
A pena no Brasil tem uma finalidade mista, isto „ O condenado (não reincidente) a pena igual
é, retributiva e preventiva. A finalidade retributiva ou inferior a 4 anos pode cumpri-la em regime
(teoria absoluta) coloca a pena como um castigo. Já a aberto. O reincidente, neste caso, pode iniciar o
teoria relativa tem como objetivo evitar novas infra- cumprimento no regime semiaberto;
ções penais. Dentro da teoria relativa, existe a preven- „ O art. 59 do CP é usado para definir o início do
ção geral e a prevenção especial. cumprimento da pena; 387
„ O condenado por crime contra a Administração A pena de multa dirige-se ao Fundo Penitenciário e
Pública terá a progressão condicionada à repa- tem como valor de 1/30 de salário-mínimo a 5 salários-
ração do dano. -mínimos, durante o período de 10 a 360 dias. Após o
trânsito em julgado, a pena de multa deve ser paga em
Dica 10 dias. Todavia, o juiz pode considerar o parcelamento.
A execução da multa ocorre perante o juiz da exe-
Regime Especial = Prisão da mulher cução penal e é considerada dívida de valor (aplicadas
normas da dívida ativa). Como a multa é uma pena, se
Em caso de superveniência de doença mental, o con- sobrevém ao condenado doença mental, será suspen-
denado a quem sobrevém a doença deve ser recolhido a sa a execução.
hospital de custódia e receber tratamento psiquiátrico. A multa pode ser aumentada até o triplo se o juiz con-
O tempo de prisão provisória, prisão administra- siderar que, em virtude da situação econômica do réu, é
tiva e internação computam-se na pena privativa de ineficaz, mesmo que aplicada no patamar máximo.
liberdade e na medida de segurança, de acordo com o Na fixação da pena privativa de liberdade, utiliza-se
instituto da detração. o método trifásico, no qual, primeiro, o juiz avalia as
As penas restritivas de direitos dividem-se em: circunstâncias judiciais (art. 59), depois, as agravan-
tes e atenuantes (arts. 61 a 67) e, no fim, as causas de
z Prestação pecuniária: Pagamento em dinheiro à aumento e diminuição de pena (frações legais).
vítima ou entidade (pública ou privada social) de 1
a 360 salários-mínimos. O valor pago será deduzido Em concurso de causas de aumento e diminuição
de eventual indenização, se coincidentes os bene- de pena previstas na parte especial do código, pode o
ficiários. A prestação não precisa ser em dinheiro; juiz limitar-se a um aumento ou a uma diminuição,
z Perda de bens e valores: Pagamento ao Fundo Peni- prevalecendo a causa que mais aumente ou mais
tenciário Nacional, tendo como teto o montante do pre- diminua.
juízo causado ou do provento obtido (o que for maior);
z Prestação de serviços à comunidade: Aplica-se
as condenações superiores a 6 meses de privação
de liberdade. As tarefas devem ser cumpridas em
APLICAÇÃO DA PENA
uma hora por dia de condenação. Se a pena for
superior a um ano, o condenado pode cumprir a
Para melhor compreensão, a leitura na íntegra dos
pena substitutiva em menor tempo, nunca inferior
seguintes dispositivos é essencial. Vejamos:
à metade da pena fixada;
z Interdição temporária de direitos: Proibição de
Art. 59 O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
exercer atividade pública ou profissão que depen- antecedentes, à conduta social, à personalidade
da de autorização do poder público, suspensão para do agente, aos motivos, às circunstâncias e conse-
dirigir, proibição de frequentar determinados luga- qüências do crime, bem como ao comportamento
res, proibição de inscrever-se em exame público; da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
z Limitação de fim de semana: Permanecer aos sába- suficiente para reprovação e prevenção do crime:
dos e domingos por 5 horas em casa de albergado. I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limi-
As penas restritivas de direito são autônomas e tes previstos;
substitutivas. Para conseguir substituir a pena pri- III - o regime inicial de cumprimento da pena priva-
vativa de liberdade imposta por uma pena restritiva tiva de liberdade;
de direitos, o condenado precisa reunir os seguintes IV - a substituição da pena privativa da liberdade
requisitos: aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

z A pena não ser superior a 4 anos; Critérios especiais da pena de multa


z Não haver violência ou grave ameaça;
Art. 60 Na fixação da pena de multa o juiz deve
z Não reincidência em crime doloso específico;
atender, principalmente, à situação econômica do
z O art. 59 do CP ser favorável a essa conversão.
réu.
§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo,
se o juiz considerar que, em virtude da situação
Importante! econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no
O crime culposo pode ser substituído indepen- máximo.
Multa substitutiva
dentemente da quantidade de pena.
§ 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não
superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela
de multa, observados os critérios dos incisos II e III
Condenações iguais ou inferiores a um ano rece-
do art. 44 deste Código.
bem em substituição 1 multa ou 1 restritiva de direitos.
Circunstâncias agravantes
Condenações superiores a um ano recebem em substi-
Art. 61 São circunstâncias que sempre agravam
tuição 1 multa + 1 restritiva de direitos ou 2 restritivas a pena, quando não constituem ou qualificam o
de direitos. crime:
Em caso de descumprimento injustificado da restri- I - a reincidência;
ção imposta, a pena restritiva de direitos é reconverti- II - ter o agente cometido o crime:
da em privativa de liberdade. Será deduzido o tempo a) por motivo fútil ou torpe;
cumprido, mas o indivíduo ficará em privação de liber- b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocul-
388 dade por pelo menos 30 dias. tação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimu- d) confessado espontaneamente, perante a autori-
lação, ou outro recurso que dificultou ou tornou dade, a autoria do crime;
impossível a defesa do ofendido; e) cometido o crime sob a influência de multidão em
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura tumulto, se não o provocou.
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia Art. 66 A pena poderá ser ainda atenuada em razão
resultar perigo comum; de circunstância relevante, anterior ou posterior ao
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; crime, embora não prevista expressamente em lei.
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de
relações domésticas, de coabitação ou de hospitali- Concurso de circunstâncias agravantes e
dade, ou com violência contra a mulher na forma atenuantes
da lei específica;
g) com abuso de poder ou violação de dever ineren- Art. 67 No concurso de agravantes e atenuantes,
te a cargo, ofício, ministério ou profissão; a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, circunstâncias preponderantes, entendendo-se
enfermo ou mulher grávida; como tais as que resultam dos motivos determi-
i) quando o ofendido estava sob a imediata prote- nantes do crime, da personalidade do agente e da
ção da autoridade; reincidência.
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou
qualquer calamidade pública, ou de desgraça parti- Cálculo da pena
cular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada. Art. 68 A pena-base será fixada atendendo-se ao
critério do art. 59 deste Código; em seguida serão
Agravantes no caso de concurso de pessoas consideradas as circunstâncias atenuantes e agra-
vantes; por último, as causas de diminuição e de
Art. 62 A pena será ainda agravada em relação ao aumento.
agente que: Parágrafo único - No concurso de causas de aumen-
I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou to ou de diminuição previstas na parte especial,
dirige a atividade dos demais agentes; pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma
II - coage ou induz outrem à execução material do só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que
crime; mais aumente ou diminua.
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém
sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude Concurso material
de condição ou qualidade pessoal;
IV - executa o crime, ou nele participa, mediante Art. 69 Quando o agente, mediante mais de uma
paga ou promessa de recompensa. ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idên-
ticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
Reincidência privativas de liberdade em que haja incorrido. No
caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão
Art. 63 Verifica-se a reincidência quando o agente e de detenção, executa-se primeiro aquela.
comete novo crime, depois de transitar em julgado § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente
a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não
condenado por crime anterior. suspensa, por um dos crimes, para os demais será
Art. 64 Para efeito de reincidência: incabível a substituição de que trata o art. 44 deste
I - não prevalece a condenação anterior, se entre Código.
a data do cumprimento ou extinção da pena e a § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de
infração posterior tiver decorrido período de tempo direitos, o condenado cumprirá simultaneamente
superior a 5 (cinco) anos, computado o período de as que forem compatíveis entre si e sucessivamente
prova da suspensão ou do livramento condicional, as demais.
se não ocorrer revogação;
II - não se consideram os crimes militares próprios Concurso formal
e políticos.
Art. 70 Quando o agente, mediante uma só ação ou
Circunstâncias atenuantes omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis
Art. 65 São circunstâncias que sempre atenuam a ou, se iguais, somente uma delas, mas aumenta-
da, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

pena:
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se
do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorren-
sentença; tes resultam de desígnios autônomos, consoante o
II - o desconhecimento da lei; disposto no artigo anterior.
III - ter o agente: Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que
a) cometido o crime por motivo de relevante valor seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com Crime continuado
eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-
-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, Art. 71 Quando o agente, mediante mais de uma
reparado o dano; ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar,
ou em cumprimento de ordem de autoridade supe- maneira de execução e outras semelhantes, devem
rior, ou sob a influência de violenta emoção, provo- os subseqüentes ser havidos como continuação do
cada por ato injusto da vítima; primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, 389
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumen- Há três sistemas de aplicação da pena, a saber:
tada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. cúmulo material, exasperação e absorção.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra víti-
mas diferentes, cometidos com violência ou grave z Sistema do cúmulo material: aplica-se ao réu o
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
somatório das penas de cada uma das infrações
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
penais pelas quais foi condenado:
personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos cri-
mes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o „ Concurso material (art. 69 do Código Penal);
triplo, observadas as regras do parágrafo único do „ Concurso formal imperfeito ou impróprio (2ª
art. 70 e do art. 75 deste Código. parte do caput do art. 70 do CP);
„ Concurso das penas de multa (art. 72 do CP).
Multas no concurso de crimes
z Sistema da exasperação: aplica-se somente a
Art. 72 No concurso de crimes, as penas de multa pena da infração penal mais grave praticada pelo
são aplicadas distinta e integralmente. agente, aumentada de determinado percentual:

Erro na execução „ Concurso formal próprio ou perfeito (1ª parte


do caput do art. 70 do CP);
Art. 73 Quando, por acidente ou erro no uso dos
„ Crime continuado (art. 71 do CP).
meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diver-
sa, responde como se tivesse praticado o crime con- z Sistema da absorção: aplica-se exclusivamente
tra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. a pena da infração penal mais grave, dentre as
20 deste Código. No caso de ser também atingida a diversas praticadas pelo agente, sem qualquer
pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a aumento.
regra do art. 70 deste Código.
CONCURSO MATERIAL OU REAL
Resultado diverso do pretendido
Art. 69 Quando o agente, mediante mais de uma
Art. 74 Fora dos casos do artigo anterior, quando, ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idên-
por acidente ou erro na execução do crime, sobre- ticos ou não, aplicam-se cumulativamente as
vém resultado diverso do pretendido, o agente res- penas privativas de liberdade em que haja incorri-
ponde por culpa, se o fato é previsto como crime do. No caso de aplicação cumulativa de penas de
culposo; se ocorre também o resultado pretendido, reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
aplica-se a regra do art. 70 deste Código. § 1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente
tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não
Limite das penas suspensa, por um dos crimes, para os demais será
incabível a substituição de que trata o art. 44 deste
Art. 75 O tempo de cumprimento das penas priva- Código.
tivas de liberdade não pode ser superior a 40 (qua- § 2º Quando forem aplicadas penas restritivas de
renta) anos. direitos, o condenado cumprirá simultaneamente
§ 1º Quando o agente for condenado a penas pri- as que forem compatíveis entre si e sucessivamente
vativas de liberdade cuja soma seja superior a 40
as demais.
(quarenta) anos, devem elas ser unificadas para
atender ao limite máximo deste artigo.
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao Dica
início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifi-
cação, desprezando-se, para esse fim, o período de
Concurso de crimes material ocorre quando o
pena já cumprido. agente, mediante mais de uma conduta, pratica
dois ou mais crimes, idênticos ou não (caput do
Concurso de infrações art. 69 do CP).

Art. 76 No concurso de infrações, executar-se-á pri- Requisitos do concurso de crimes material: plura-
meiramente a pena mais grave. lidade de condutas e de crimes. O concurso de crimes
material pode ser:

z Homogêneo: quando os crimes são idênticos – por


CONCURSO DE CRIMES exemplo, o agente pratica dois homicídios;
z Heterogêneo: quando o agente viola diferentes
Concurso de crimes é o instituto que verifica quan- normas penais – por exemplo, o agente pratica
do o agente, mediante uma ou várias condutas, pratica homicídio e estupro.
duas ou mais infrações penais. Pode existir, portanto,
unidade ou pluralidade de condutas. Sempre serão Os delitos são cometidos antes
Concurso de
cometidas, contudo, duas ou mais infrações penais crimes material do trânsito em julgado
(MASSON, 2016).
O concurso de crimes pode se manifestar sob três O novo crime é cometido após o
formas: concurso material, concurso formal e crime Reincidência trânsito em julgado
390 continuado.
Pode-se aplicar concurso de crimes material e Dica
reincidência?
Sim. Em ambos se admite que o novo delito É possível concurso formal entre crime doloso
tenha sido praticado após o trânsito em julgado da e culposo, entre crimes dolosos e entre crimes
sentença condenatória. Não há necessidade de se culposos.
distinguir esses dois institutos. Em regra, fixa-se, sepa-
radamente, a pena de cada crime, somando-as em Agora veremos qual a diferença entre conduta e ato.
seguida. Detalhe: a prescrição incide em cada crime Ato é o momento em que o agente pratica a con-
individualmente. duta. Exemplo: “A” subtrai diversos objetos, de uma só
Características do concurso de crimes material:
vez. “A” realiza vários atos, mas uma só conduta.
Lembrando: concurso formal exige a unidade de
z Concurso material de crimes não conexos:
conduta, que só ocorre quando os diversos atos são
Quando alguns dos delitos venham a ser cometi-
dos e julgados depois de os restantes terem sido realizados no mesmo contexto temporal e espacial.
praticados, podendo os diversos delitos serem Imagine que “A”, em uma só conduta, na mesma
objetos de processos diferentes. A regra do concur- sequência, desfecha três tiros em “B”. Se “A”, porém,
so é aplicada pelo juízo da execução, pois, com o em um dia, desfechar um tiro em “B” e, no dia seguin-
trânsito em julgado, todas as condenações são reu- te, repetir o ato, estaremos diante de duas condutas,
nidas na mesma execução e se soma as penas; pois não há coesão temporal entre elas.
z Concurso material de crimes conexos: Por ter O concurso formal pode ser perfeito ou imperfeito.
unidade processual, a regra do concurso material
é aplicada pelo próprio juiz sentenciante. Concurso Formal Perfeito ou Próprio

CONDENAÇÃO CONDENAÇÃO POR z O agente realiza a conduta sem atuar com desíg-
DE RECLUSÃO E PENAS RESTRITIVA DE nios autônomos;
DETENÇÃO DIREITOS z É o caso de concurso formal entre crimes culposos
ou entre um crime doloso e outro culposo;
Se o agente é condenado Se o agente for condenado
z Adota-se o sistema da exasperação, aplicando-se a
a pena de reclusão por à pena restritiva de direi-
pena do crime mais grave, ou, se iguais, somente
um crime e a pena de tos, o condenado cumprirá
uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de
detenção por outro crime, simultaneamente as que
aplica-se primeiro a pena forem compatíveis entre si um sexto até a metade;
de reclusão e depois a e sucessivamente as de- z O critério de aumento é o número de crimes:
pena de detenção mais (§ 2º do art. 69)
(2ª parte do art. 69 do CP) CONCURSO FORMAL PRÓPRIO OU PERFEITO
(SISTEMA DA EXASPERAÇÃO)

Se para um dos delitos o juiz negar o sursis (a sus- Número de crimes 2 3 4 5 6 ou +


pensão condicional da pena), para os demais será
incabível a aplicação de penas restritivas de direitos Aumento da pena 1/6 1/5 1/4 1/3 1/2
(§ 1º do art. 69). A jurisprudência permite a soma
das penas e permite a aplicação da pena restritiva de
direitos quando a soma ultrapassar quatro anos. Vejamos exemplos clássicos e didáticos:

CONCURSO FORMAL OU IDEAL z No atropelamento de que tenha resultado duas


mortes culposas, o juiz aplica a pena do homicídio
Art. 70 Quando o agente, mediante uma só ação ou culposo, aumentada de um sexto até a metade;
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou z No atropelamento de que tenha resultado morte e
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis lesão culposas, aplica-se a pena do homicídio cul-
ou, se iguais, somente uma delas, mas aumenta- poso, aumentada de um sexto até a metade.
da, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se O concurso formal perfeito é uma causa de
a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorren- aumento de pena. Aplica a regra do concurso formal
tes resultam de desígnios autônomos, consoante o na terceira fase da aplicação da pena. Não poderá a
disposto no artigo anterior.
pena, no concurso formal, exceder a que seria cabível
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único . Não poderá a pena exceder a que


seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
pela regra do concurso material (parágrafo único do
art. 70 do CP).
O concurso de crimes formal ocorre quando o O concurso formal beneficia o acusado, afastando
agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou o malefício do concurso material. Se o concurso for-
mais crimes, idênticos ou não. O concurso formal é mal prejudicar o acusado, deverá ser excluído (con-
homogêneo quando os crimes são idênticos, e hete- curso material benéfico).
rogêneo quando os crimes são diversos.
O Código Penal adota, para o concurso de crimes Concurso Formal Imperfeito ou Impróprio
formal, a teoria objetiva, que se satisfaz com esses dois
requisitos: unidade de conduta e pluralidade de crimes. z Há desígnio autônomo ou pluralidade de desíg-
A banca pode induzir o candidato para a teoria nios, ou seja, há intenção de produzir mais de um
subjetiva (não adotada pelo Código Penal), que exi- resultado com a única conduta;
ge três requisitos: unidade de conduta, pluralidade de z Adota-se o sistema de cumulação ou acúmulo
crimes e unidade de desígnio (unidade de intenção). material; 391
z Por ter dolo de produzir mais de um resultado; as penas dos crimes devem ser somadas, sem que haja trata-
mento diferenciado;
z Há apenas crimes dolosos (dolo direto ou eventual);

Vamos exemplificar: “A” entra em um ônibus e furta cinco vítimas.


Outro exemplo: “A”, inconformado com o fim de um relacionamento, dispara tiros em “B”, que estava grávida;
“A” tinha conhecimento da gestação, resultando na morte de “B” e do feto.

Aplica-se entre
crimes dolosos
culposos
Perfeito ou
Próprio
Sistema da
exasperação
CONCURSO
FORMAL Aplica-se
somente nos
Imperfeito crimes de dolo
ou Impróprio
Sistema de
cumulação

Vamos a algumas situações importantes (CORREA, 2018):

CONCURSO DE CRIMES – ROUBO (ART. 157)

CRIME ÚNICO CONCURSO FORMAL

Se a intenção do agente é direcionada à subtração de um Praticado o crime de roubo mediante uma só ação, contra
único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ain- vítimas diferentes, não há se falar em crime único, mas
da que, no modus operandi, seja utilizada violência ou gra- sim em concurso formal, visto que violados patrimônios
ve ameaça contra mais de uma pessoa2 para a consecução distintos (STJ). Por exemplo: o agente entra no ônibus e
do resultado (STJ). Por exemplo: o agente entra no ônibus e rouba 7 aparelhos de celular de 7 vítimas distintas (con-
subtrai apenas os bens que estavam em posse do cobrador curso formal impróprio)

CONCURSO DE CRIMES – LATROCÍNIO (§ 3º DO ART. 157)

O roubo qualificado pela morte é conhecido como latrocínio e é crime hediondo (inciso II do art. 1º da Lei nº 8.072, de 1990)

STF: crime único STJ: concurso formal

A pluralidade de vítimas atingidas pela violência no crime Incide o concurso formal impróprio (2ª parte do art. 70
de roubo com resultado morte ou lesão grave, embora do CP) no crime de latrocínio, nas hipóteses em que o
único o patrimônio lesado, não altera a unidade do crime, agente, mediante uma única subtração patrimonial, busca
devendo essa circunstância ser sopesada na individua- alcançar mais de um resultado morte, caracterizados os
lização da pena, que, no caso, à de 20 a 30 anos.3 Para desígnios autônomos4
o STF, haverá concurso de crimes apenas se a intenção
do agente for direcionada à subtração de mais de um
patrimônio

CRIME CONTINUADO

Art. 71 Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas
condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como conti-
nuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa,
poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

O crime continuado se caracteriza quando o agente, mediante mais de uma conduta, pratica dois ou mais cri-
mes da mesma espécie, e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro (caput do art. 71 do CP).
Há três teorias sobre a natureza jurídica do crime continuado:
2 (AgRg no REsp 1.490.894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/2/2015, Dje 23/2/2015).
3 (HC 96736 DF. Rel. Min. Teori Zavaski).
392 4 (REsp 1.282.171/MG, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta turma, DJe 29/6/2016).
z Teoria da unidade real: Crime continuado é a z Conexão modal: O modus operandi utilizado pelo
existência de um só delito; agente na prática dos delitos deve ser semelhan-
z Teoria da unidade jurídica ou mista: Crime te, isto é, normalmente o agente segue o mesmo
continuado é um terceiro crime, com caracteres padrão de comportamento;
próprios; z Conexão ocasional: O agente, na prática do crime
z Teoria da ficção jurídica (Teoria da unidade posterior, deve aproveitar-se da mesma ocasião ou
fictícia limitada): Crime continuado é uma plura- da mesma situação propícia nascida com o crime
lidade de crimes, considerando a unidade apenas anterior.
para efeito de aplicação da pena. Há vários crimes,
e não crime único. Essa é a teoria adotada pelo Há três espécies de crimes continuados:
Código Penal.
z Simples ou comum: As penas dos diversos delitos
A unidade do crime continuado é apenas para são idênticas. Por exemplo: em três furtos simples,
fixar a pena. A prescrição punitiva e a decadência são o juiz aplica a pena de um só, aumentando-a de um
analisadas separadamente em relação a cada crime. sexto a dois terços. Vejamos a tabela:
Para efeito de coisa julgada, descaracteriza-se a ficção
jurídica. CRIME CONTINUADO (SISTEMA DA EXASPERAÇÃO)
Ou seja, se o agente for absolvido de diversos cri-
Número
mes (por exemplo, vários furtos), em continuidade 2 3 4 5 6 7 ou +
de crimes
delitiva no mesmo processo e, posteriormente, desco-
bre-se, após o trânsito em julgado, outros crimes (por Aumento
exemplo, furtos integrantes da sequência delituosa), 1/6 1/5 1/4 1/3 1/2 2/3
da pena
instaura-se novo processo, uma vez que sobre esses
novos fatos não se opera a coisa julgada, visto que não
foram objeto de decisão. z Qualificado: As penas são diversas. Por exemplo:
São pressupostos do crime continuado: a plurali- dois furtos simples e um qualificado. Neste caso, o
dade de condutas, a pluralidade de crimes da mesma juiz aplica a pena do crime mais grave, aumentan-
espécie e a conexão de continuação temporal, espa- do-a de um sexto a dois terços, conforme o número
cial, modal e ocasional. de crimes;
E o pressuposto da unidade de desígnio? O Código z Específico: Crimes dolosos contra vítimas dife-
Penal não faz qualquer menção à unidade ou plurali- rentes, cometidos com violência ou grave ameaça
dade de desígnio, adotando a teoria objetiva. à pessoa (parágrafo único do art. 71 do CP). Neste
A doutrina aponta duas teorias: objetiva e subjeti- caso, o juiz aplica a pena de um só dos crimes, se
va. Vejamos: idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentan-
do-a até o triplo.
z Teoria objetiva: Não há necessidade da unidade
de desígnio, porque o crime continuado se caracte- Dica
riza pela homogeneidade dos elementos exteriores
à conduta, sem qualquer questionamento sobre o Momento da unificação das penas:
propósito do agente; � Mesmo processo: juízo da sentença;
z Teoria subjetiva: Há necessidade de unidade de � Processos diversos: juízo da execução.
desígnio, pois o criminoso tem o propósito de rea- Aplica-se a regra do art. 71 do CP.
lizar um plano antes de atuar, deixando de fora do
benefício os delinquentes que atuam sem prévia Não há tentativa no crime continuado. Vejamos:
deliberação, mas que, diante das oportunidades
surgidas, não resistem à tentação de delinquir. z Teoria da unidade real: Crime continuado tem
evento próprio, consumando-se quando o agente
Requisitos cumulativos: realiza o último crime da série em continuação;
z Teoria da ficção jurídica: Não admite a existência
z Pluralidade de condutas: Várias condutas, e não de um momento consumativo próprio para o cri-
apenas uma pluralidade de atos; me continuado, porque cada um dos delitos que o
z Crimes da mesma espécie: Tem-se duas correntes: compõem conserva sua autonomia.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

„ Primeira corrente: Mesmas espécies previstas Dentro das diversas infrações que compõem o cri-
no mesmo tipo legal, seja em sua forma sim- me continuado, nada obsta que se figure uma tenta-
ples, privilegiada, qualificada, consumada ou tiva. Porém, o crime continuado em si não admite a
tentada. Por exemplo: crime de furto (simples, forma tentada, apenas as condutas isoladas realiza-
com chaves falsas no período noturno); das durante a sua prática.
„ Segunda corrente: Ofender o mesmo bem jurí-
dico. Por exemplo: crimes contra o patrimônio. MULTAS NO CONCURSO DE CRIMES

z Conexão temporal: Não pode haver tempo muito Art. 72 No concurso de crimes, as penas de multa
grande entre um delito e outro. A jurisprudência são aplicadas distinta e integralmente.
dominante diz que não pode decorrer mais do que
trinta dias entre os crimes; Em uma interpretação simples do art. 72 do CP, é
z Conexão especial: Circunstância de lugar entre possível compreender que, quanto às penas de multas
um e outro delito também deve ser semelhante; no concurso de crimes, o sistema aplicado é do cúmulo
por exemplo, mesma cidade ou cidades vizinhas; material. 393
A doutrina é unânime quando se trata de concurso V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a
material e concurso formal. Porém, quando se trata um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
de crime continuado, a interpretação é questionada, VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior
e temos, portanto, duas correntes (MASSON, 2016): a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
2010).
z Primeira corrente: “as multas cominadas aos
Prescrição das penas restritivas de direito
diversos delitos praticados pelo agente devem ser
somadas, ou então aplicada somente uma delas,
Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas
com aumento de determinado percentual.” A tese
de direito os mesmos prazos previstos para as pri-
se baseia no fato de que o art. 72 do CP “foi taxativo
vativas de liberdade. (Redação dada pela Lei nº
ao determinar a soma das penas de multa no con- 7.209, de 11.7.1984)
curso de crimes, pouco importando a sua moda-
lidade, ou seja, se concurso material, formal, ou, Prescrição depois de transitar em julgado sentença
ainda, crime continuado”; final condenatória
z Segunda corrente: “a adoção da teoria da ficção
jurídica pelo art. 71 do CP implica na aplicação de Art. 110 - A prescrição depois de transitar em jul-
uma única pena de multa, por se tratar de crime gado a sentença condenatória regula-se pela pena
único para fins de dosimetria da sanção penal. Não aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo
teria sentido aplicar-se uma só pena privativa de anterior, os quais se aumentam de um terço, se o
liberdade, e várias penas de multa, para um cri- condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº
me continuado. É a posição majoritária no âmbito 7.209, de 11.7.1984)
jurisprudencial.” § 1° A prescrição, depois da sentença condenatória
com trânsito em julgado para a acusação ou depois
de improvido seu recurso, regula-se pela pena apli-
cada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por
termo inicial data anterior à da denúncia ou quei-
PUNIBILIDADE E SUAS CAUSAS DE xa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.234, de 2010).
EXTINÇÃO
Termo inicial da prescrição antes de transitar em
Extinção da punibilidade
julgado a sentença final
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em jul-
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
gado a sentença final, começa a correr: (Redação
I - pela morte do agente;
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - pela anistia, graça ou indulto;
I - do dia em que o crime se consumou; (Redação
III - pela retroatividade de lei que não mais conside-
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ra o fato como criminoso;
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati-
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
vidade criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209,
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo per- de 11.7.1984)
dão aceito, nos crimes de ação privada; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209,
lei a admite; de 11.7.1984)
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou altera-
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) ção de assentamento do registro civil, da data em
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela
Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstân- V - nos crimes contra a dignidade sexual de crian-
cia agravante de outro não se estende a este. Nos ças e adolescentes, previstos neste Código ou em
crimes conexos, a extinção da punibilidade de um legislação especial, da data em que a vítima com-
deles não impede, quanto aos outros, a agravação pletar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já
da pena resultante da conexão. (Redação dada pela houver sido proposta a ação penal. (Redação
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) dada pela Lei nº 12.650, de 2012)

Prescrição antes de transitar em julgado a sentença Termo inicial da prescrição após a sentença conde-
natória irrecorrível
Art. 109 A prescrição, antes de transitar em julga-
do a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescri-
110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena ção começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
privativa de liberdade cominada ao crime, veri- de 11.7.1984)
ficando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de I - do dia em que transita em julgado a sentença con-
2010). denatória, para a acusação, ou a que revoga a suspen-
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior são condicional da pena ou o livramento condicional;
a doze; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é supe- II - do dia em que se interrompe a execução, salvo
rior a oito anos e não excede a doze; quando o tempo da interrupção deva computar-se na
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a quatro anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a Prescrição no caso de evasão do condenado ou de
394 dois anos e não excede a quatro; revogação do livramento condicional
Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revo- § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do
gar-se o livramento condicional, a prescrição é regula- inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr,
da pelo tempo que resta da pena. (Redação dada pela novamente, do dia da interrupção. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 118 - As penas mais leves prescrevem com as mais
Prescrição da multa graves. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isolada-
(Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) mente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única comi-
nada ou aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268, de Perdão judicial
1º.4.1996)
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não
da pena privativa de liberdade, quando a multa for será considerada para efeitos de reincidência. (Reda-
alternativa ou cumulativamente cominada ou cumu- ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
lativamente aplicada. (Incluído pela Lei nº 9.268, de
1º.4.1996)

Redução dos prazos de prescrição


CRIMES CONTRA A PESSOA
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de pres-
crição quando o criminoso era, ao tempo do crime, CRIMES CONTRA A VIDA
menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença,
maior de 70 (setenta) anos.(Redação dada pela Lei nº Trataremos neste tópico dos crimes contra a vida,
7.209, de 11.7.1984) que estão incorporados nos arts. 121 ao 128. Eles tute-
lam o bem jurídico mais relevante que temos: a vida,
Causas impeditivas da prescrição nas suas modalidades intrauterina ou extrauterina.
Os crimes contra a vida poderão ser dolosos ou cul-
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, posos, sendo que os primeiros poderão ter conduta
a prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº comissiva ou omissiva.
7.209, de 11.7.1984)
I - enquanto não resolvida, em outro processo, ques-
Homicídio
tão de que dependa o reconhecimento da existência do
crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; O crime de homicídio tem como ação a seguinte
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) conduta: matar alguém.
III - na pendência de embargos de declaração ou de O verbo descrito no tipo penal é matar, que fica
recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissí- configurado ao interromper ou cessar a vida. O
veis; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) alguém previsto na conduta necessariamente deve
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o ser a pessoa humana.
acordo de não persecução penal. (Incluído pela Lei nº É um crime classificado de diversas modalidades.
13.964, de 2019) As principais classificações são:
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sen-
tença condenatória, a prescrição não corre durante o z Crime comum: pode ser praticado por qualquer
tempo em que o condenado está preso por outro moti-
pessoa, sem que necessite de quaisquer condições
vo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
especiais;
z Crime material: para sua consumação, é exigida a
Causas interruptivas da prescrição
ocorrência do resultado morte;
z Crime de forma livre: pode ser praticado com qual-
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Reda-
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) quer modo de execução (a tiros, facadas, pauladas,
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Reda- por meio de veneno, entre outros);
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) z Crime instantâneo de efeitos permanentes: a con-
II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, duta delituosa não se prolonga no tempo e, após a
de 11.7.1984) consumação, os efeitos são irreversíveis;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

III - pela decisão confirmatória da pronúncia; z Crime plurissubsistente: pode ser praticado por
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) meio de um ou mais atos de execução;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão con- z Crime unissubjetivo: pode ser praticado por um ou
denatórios recorríveis; (Redação dada pela Lei nº mais agentes.
11.596, de 2007).
V - pelo início ou continuação do cumprimento da É importante que você saiba as classificações aqui
pena; (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
descritas, já que elas são bastante cobradas em provas.
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268,
O crime de homicídio é dividido em:
de 1º.4.1996)
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste arti-
go, a interrupção da prescrição produz efeitos rela- z Homicídio Doloso:
tivamente a todos os autores do crime. Nos crimes
conexos, que sejam objeto do mesmo processo, esten- „ Homicídio simples (caput do art. 121 do CP);
de-se aos demais a interrupção relativa a qualquer „ Homicídio privilegiado (§ 1º, art. 121, do CP);
deles. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) „ Homicídio qualificado (§ 2º, art. 121, do CP); 395
z Homicídio culposo (§ 3º, art. 121, do CP). „ Relevante valor social – possível e compreensí-
vel para a sociedade. Ex.: indivíduo acaba com
Veremos a seguir cada um deles. a vida de malfeitor em prol da sociedade;
„ Relevante valor moral – referente ao valor
z Homicídio Simples moral individual. Temos como exemplos ações
movidas por compaixão, beneficiação, amparo.
O homicídio simples está previsto no caput do art. 121. Ex.: eutanásia;
„ Sob o domínio de violenta emoção, logo em
Art. 121 Matar alguém: seguida à injusta provocação da vítima – como
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. o próprio nome diz, a ação tem que ter acon-
tecido logo após o ato, e o agente estando sob
Tanto o sujeito ativo quanto o sujeito passivo do condições de grandes emoções. Ex.: O marido
homicídio simples podem ser qualquer pessoa. A con- chega em casa e pega sua companheira em fla-
duta é praticada mediante dolo (vontade consciente grante com outro indivíduo; dominado pela rai-
do sujeito). O crime se consumará quando ocorrer a va, sem pensar, e sem controle, acaba matando
efetiva morte da vítima. Admite-se a forma tentada. o indivíduo.
Ele é bastante difícil de ser configurado, já que difi-
cilmente ocorre este crime sem que alguma qualifica- Quando reconhecido o privilégio, no crime de
dora (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos homicídio, quais as consequências? O juiz pode redu-
entender, então, que o homicídio simples é residual. zir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
Será simples o homicídio quando ele não for
qualificado.
Sobre o homicídio simples, a informação mais Importante!
importante é que, em regra, ele não é crime hedion-
Atente-se ao patamar de redução da pena.
do; entretanto, se for praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, será crime hediondo. Sobre o homicídio privilegiado, algumas conside-
O homicídio simples só será crime hediondo quan- rações são muito importantes para a sua prova:
do praticado em atividade típica de grupo de extermí-
nio, ainda que cometido por um só agente, conforme „ Não é considerado crime hediondo;
a primeira parte do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.072, „ Não se comunica para coautores ou partícipes.
de 1990.
Exemplo: o crime de homicídio é cometido por 2
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes (dois) agentes (Vicente e Gabriel). Gabriel o pratica
crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consuma-
à injusta provocação da vítima; Vicente, não. Nesta
dos ou tentados:
hipótese, Gabriel responderá por homicídio privile-
I - homicídio (art. 121), quando praticado em ativida-
giado e Vicente, por homicídio.
de típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §
2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); [...] Homicídio Qualificado

Atenção: a segunda parte do inciso I do art. 1º da No homicídio qualificado, o agente estará subme-
Lei nº 8.072, de 1990, com redação dada por meio da tido a uma pena maior, mais grave. As qualificado-
Lei nº 13.964, de 2019, trata de hipóteses de homicídio ras são fatores que tornam a conduta praticada pelo
qualificado. agente, de alguma forma, mais reprovável por parte
da sociedade. A pena do homicídio qualificado está
z Homicídio Privilegiado prevista entre 12 (doze) e 30 (trinta) anos.
O Código Penal, no § 2º do art. 121, estabelece as
Art. 121 [...] seguintes qualificadoras:
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domí- Art. 121 [...]
nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta § 2º [...]
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou
um sexto a um terço. por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
legais específicas, vinculadas ao tipo penal incrimi-
que possa resultar perigo comum;
nador, provocadoras da diminuição da faixa de apli-
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
cação da pena, em patamares prévia e abstratamente lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
estabelecidos pelo legislador, alterando o mínimo e o sível a defesa do ofendido;
máximo previstos para o crime. V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
Para fins do nosso estudo, vamos entender o homi- nidade ou vantagem de outro crime:
cídio privilegiado como uma modalidade mais branda Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
do crime de homicídio. Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
O homicídio privilegiado está previsto no § 1º do VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
396 art. 121 e se configura em uma das seguintes situações: feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. Temos aqui qualificadoras relacionadas aos meios
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do empregados pelo agente para praticar o crime, que
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança podem estar relacionadas a meios insidiosos (empre-
Pública, no exercício da função ou em decorrência go de veneno), cruéis (asfixia, tortura) ou que possam
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren- resultar em perigo comum (fogo, explosivo).
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
Em relação ao emprego de veneno, segundo a
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
doutrina majoritária, tal qualificadora só irá se con-
VIII - (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
figurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o
veneno sem saber que o fazia. Caso a vítima saiba que
Atenção: a segunda parte do inciso I do art. 1º da
está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser
Lei nº 8.072, de 1990, com redação dada por meio da
aplicada, a de meio cruel.
Lei nº 13. 964, de 2019, diz que será hediondo o homi-
cídio qualificado em todas as hipóteses dos incisos I,
II, III, IV, V, VI, VII e VIII do § 2º do art. 121 do CP.
Agora, vamos esclarecer cada um dos incisos do § 2º
Importante!
do art. 121 do CP: No Direito Penal, o agente é punido, em regra,
Se o homicídio é cometido: pelo crime que queria praticar. Assim, caso o
agente queira torturar, mas se exceda e acabe
Art. 121 [...]
matando a vítima, irá responder por tortura qua-
§ 2º [...]
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou
lificada pelo resultado morte. Se o agente queria
por outro motivo torpe; matar e usa a tortura como meio para atingir a
sua finalidade, irá responder por homicídio quali-
Motivo torpe refere-se a algo repugnante, nojento, ficado pela tortura.
abjeto.
O Código Penal nos exemplifica o que vem a ser moti-
Art. 121 [...]
vo torpe: mediante paga ou promessa de recompensa.
§ 2º [...]
Os demais casos de torpeza serão interpretados ana-
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
logicamente pela autoridade judicial.
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
O homicídio praticado mediante paga ou promessa sível a defesa do ofendido;
de recompensa é conhecido doutrinariamente como
homicídio mercenário.
As qualificadoras mencionadas no inciso IV tam-
Ele fica configurado quando o agente pratica o
bém estão relacionadas aos meios empregados pelo
crime motivado por alguma recompensa (segundo a
agente. Quando o agente comete um homicídio, pra-
doutrina, deve ser de natureza econômica), que pode
ticando-o de forma que a defesa da vítima seja difi-
ser anterior (na modalidade paga) ou posterior (na
cultada ou se torne impossível, ele responderá na
modalidade promessa de recompensa).
modalidade qualificada.
A 6ª Turma do STJ entende que a comunicabilida-
de da qualificadora “mediante paga ou promessa de
Art. 121 [...]
recompensa” não é automática, tratando-se de qualifi-
§ 2º [...]
cadora de natureza pessoal, que não irá se comunicar
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
automaticamente ao mandante do crime, responden-
nidade ou a vantagem de outro crime;Nesta forma
do este na modalidade qualificada se torpe for o moti-
qualificada, o agente pratica o homicídio para,
vo que o levou a pagar pela morte da vítima.
de alguma forma, garantir uma vantagem rela-
Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a
cionada a um outro crime. A doutrina chama
intenção de matar um desafeto, chamado Antoniel,
esta qualificadora de conexão instrumental,
pagar R$ 1.000,00 (mil reais) a Fabrício para que este
que pode ser teleológica ou consequencial.
mate Antoniel, a qualificadora será aplicada a Fabrí-
cio; já para Alessandro, o mandante, o homicídio não
Conexão instrumental teleológica assegura a exe-
será necessariamente qualificado.
cução futura de um outro crime.
Art. 121 [...]
Conexão instrumental consequencial assegura a
ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2º [...]
II - por motivo fútil; praticado anteriormente.
Segundo a doutrina majoritária, não é necessário
Motivo fútil refere-se a um motivo pequeno, des- que o crime anterior ou posterior possa ter sido pra-
proporcional, banal. Há desproporcionalidade entre a ticado por uma outra pessoa, não existindo a obriga-
conduta praticada e a motivação. toriedade de que seja o próprio autor do homicídio.
O homicídio será qualificado por motivo fútil
quando, por exemplo, for motivado por uma dívida Art. 121 [...]
de uma carteira de cigarro. § 2º [...]
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
Art. 121 [...] feminino.
§ 2º [...]
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi- Fique atento, pois este dispositivo tem grande
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de incidência em provas de concursos públicos. Estamos
que possa resultar perigo comum; falando do feminicídio. 397
Você acertará todos os itens correspondentes Ele decide que não quer mais um jarro de plantas e,
quando entender que nem toda morte de mulher será para se livrar do objeto, joga-o pela janela. O jarro cai
considerada feminicídio, mas sim a morte de mulher na cabeça de Beltrano, que morre imediatamente.
praticada devido a sua condição de sexo feminino. Observe que Ciclano não queria a morte de Beltra-
O Código Penal estabelece que se considera que há no, nem assumiu o risco de matá-lo, mas, por ter sido
razões de condição de sexo feminino quando a morte imprudente (praticado uma ação não recomendável),
da mulher envolver violência doméstica ou familiar ou acabou causando a morte da vítima.
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Nesse caso, a negligência fica configurada quando
O feminicídio ficará configurado com a morte da o agente é omisso ou relapso. Ele não faz algo que a
mulher devido à violência de gênero e não quando vida em sociedade recomenda.
ocorrer a morte da mulher em qualquer situação. Além disso, a imperícia é a falta de aptidão técnica
para o desempenho de determinada atividade.
Art. 121 [...] Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresen-
§ 2º [...] ta com mais frequência, poderemos ver a diferença
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. entre a negligência e a imperícia:
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança „ Ex.: Adolfo é médico-cirurgião. Certo dia, ao
Pública, no exercício da função ou em decorrência fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bisturi
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren-
dentro do paciente, que vem a óbito;
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
„ Ex.: Teobaldo é médico clínico geral em período
condição.
de residência. Ele vai fazer uma cirurgia renal,
erra no procedimento e a vítima morre.
O homicídio será qualificado quando praticado
contra os seguintes agentes ou autoridades:
No primeiro exemplo: Adolfo irá responder por
homicídio culposo por negligência. Observe que ele é
„ Integrantes das Forças Armadas (Marinha,
médico-cirurgião, logo, tem perícia para a realização
Exército ou Aeronáutica);
de cirurgias, mas foi omisso ao esquecer o equipa-
„ Integrantes dos órgãos de segurança pública:
mento dentro do paciente.
Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal;
No segundo exemplo: Teobaldo irá responder por
Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; Poli-
homicídio culposo por imperícia, já que faltava a ele
ciais Militares; Corpo de Bombeiros Militares;
aptidão necessária para realizar perícias.
Polícias Penais federal, estadual e municipal.
No caso do homicídio culposo, é possível a aplica-
ção do instituto do perdão judicial, previsto no § 5º do
Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a
art. 121 do CP:
sua prova que não é a morte de qualquer dos agentes
ou autoridades citados que irá qualificar o homicídio,
Art. 121 [...]
mas sim se a morte deles for praticada no exercício
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz pode-
da função (enquanto eles trabalham) ou em razão da rá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da
função (devido ao cargo que eles ocupam ou função infração atingirem o próprio agente de forma tão
que eles exercem). grave que a sanção penal se torne desnecessária.
A qualificadora também será aplicada se o homi-
cídio for praticado contra o cônjuge, companheiro Você pode entender a aplicação do perdão judicial
ou parente consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos ao seguinte caso: pai que, por imprudência, provoca
agentes ou autoridades que vimos, também motivado um acidente de trânsito e mata o próprio filho. Nes-
pela função que os agentes ou autoridades exercem. te caso, as consequências da infração penal (homi-
É possível que o homicídio seja privilegiado e qua- cídio) atingem o pai de forma tão grave (a morte de
lificado ao mesmo tempo? Sim. seu filho) que é desnecessária a aplicação de sanção
É possível, porém, é necessário que a qualificado- penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
ra seja de natureza objetiva, ou seja, relacionada aos O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos
meios empregados pelo agente para executar o crime. casos de homicídio culposo.
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio pri- Falaremos agora das causas de aumento de pena
vilegiado-qualificado não será considerado hediondo, aplicadas ao homicídio.
porque o privilégio afasta a hediondez.
z Homicídio Majorado
z Homicídio Culposo
As causas de aumento de pena estão previstas nos
Art. 121 [...]
§ 4º, 6º e 7º, art. 121. Vejamos:
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 121 [...]
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de
O homicídio culposo é aquele em que o agente não 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
quer como o resultado a morte, nem assume o risco de de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se
realizá-la, mas acaba causando a morte de alguém por o agente deixa de prestar imediato socorro à víti-
imprudência, negligência ou imperícia. ma, não procura diminuir as conseqüências do seu
A imprudência fica configurada quando o agente ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
é afoito, praticando conduta não recomendada pela doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
vida em sociedade. Exemplo: Ciclano está mudando terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
398 alguns móveis em apartamento, que fica no 4º andar. de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
[...] Art. 122 [...]
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
metade se o crime for praticado por milícia priva- resulta lesão corporal de natureza grave ou gravís-
da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu- sima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
rança, ou por grupo de extermínio. Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Quanto ao feminicídio, o aumento será de 1/3 até § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutila-
metade, quando praticado nas circunstâncias do § 7º ção resulta morte:
do art. 121: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Art. 121 [...] Essa redação (§ 1º do art. 122 do CP) citada põe fim
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um à discussão sobre a possibilidade de tentativa para o
terço) até a metade se o crime for praticado: induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste-
Hoje, a lei diz que o crime de induzimento, instiga-
riores ao parto;
ção ou auxílio ao suicídio e, agora, da automutilação,
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior
de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora
admite tentativa.
de doenças degenerativas que acarretem condição Porém, em caso de consumação do suicídio ou da
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; automutilação resultar morte, a pena prevista é de
III - na presença física ou virtual de descendente ou reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de z Forma qualificada
urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do
art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Com a redação da Lei nº 13.968, de 2019, a pena
para o crime de induzimento, instigação e auxílio ao
As causas de aumento de pena aplicáveis ao homi- suicídio e de automutilação é duplicada em dois casos.
cídio culposo também merecem atenção especial. Para Vejamos:
tanto, dividimos a disposição do § 4º, art. 121, a seguir:
Art. 122 [...]
„ Se o crime resulta de inobservância de regra § 3º A pena é duplicada:
técnica de profissão, arte ou ofício – aumento I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
de 1/3 (um terço); ou fútil;
„ Se o agente deixa de prestar imediato socorro II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
à vítima, não procura diminuir as consequên- quer causa, a capacidade de resistência.
cias do seu ato ou foge para evitar prisão em
flagrante – aumento de 1/3 (um terço). z Aumento de Pena
Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou a Art. 122 [...]
Automutilação § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta
é realizada por meio da rede de computadores, de
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autole-
rede social ou transmitida em tempo real.
são, ou seja, uma pessoa não será punida penalmente § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é
caso provoque mal somente a si própria. O tipo penal líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.
que iremos estudar não pune o suicídio, que consis-
te na eliminação da própria vida, mas sim a conduta Não é caso de crime de induzimento, instigação
daquele que induz, instiga ou auxilia a prática de um ou auxílio ao suicídio e da automutilação quando a
suicídio ou a automutilação. vítima não tem algum discernimento para a prática
Art. 122 Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
do suicídio e da autolesão. Caso a conduta seja prati-
ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio cada contra alguém sem qualquer discernimento, por
material para que o faça: exemplo, uma criança de 10 anos de idade, não esta-
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. remos diante do crime de induzir, instigar ou auxi-
liar a prática de suicídio, mas sim diante do crime de
Inicialmente, devemos entender o que significa homicídio.
cada um dos verbos que configuram o tipo penal:
Art. 122 [...]
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Induzir: é criar uma ideia que não existe. A vítima § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é
nunca pensou em se suicidar e o agente faz surgir cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou
essa ideia na cabeça dela; contra quem não tem o necessário discernimento
z Instigar: é reforçar uma ideia que já existe. A víti- para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
ma pensa ou já pensou em se suicidar e o agente causa, não pode oferecer resistência, responde o
reforça essa ideia; agente pelo crime de homicídio, nos termos do art.
z Auxiliar: o agente presta auxílio material à vítima. 121 deste Código.
Por exemplo, emprestando uma arma, uma corda,
entre outras formas de auxílio. Neste sentido, o Código Penal trata, com a inclusão
da redação dada por meio da Lei nº 13.968, de 2019, da
Com o advento da Lei nº 13.968/2019, na hipótese hipótese da automutilação ou da tentativa de suicídio
de a automutilação ou de a tentativa de suicídio resul- resultarem em lesão corporal de natureza gravíssima.
tarem em lesão corporal de natureza grave ou gravíssi- Se for cometido contra menor de 14 (quatorze) anos
ma, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 do CP, a pena ou contra quem, por enfermidade ou deficiência men-
cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. tal, não tem o necessário discernimento para a prática 399
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo
oferecer resistência, responde o agente pelo crime após, ou seja, logo em seguida ao parto, sem intervalo.
lesão corporal gravíssima. Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e
se não ocorrer logo após o parto, será homicídio.
Art. 122 [...] A expressão “logo após o parto” compreende todo
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resul- o período em que permanecer a influência do esta-
ta em lesão corporal de natureza gravíssima e é do puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou predomina o instinto materno, cessa a influência do
contra quem, por enfermidade ou deficiência men- estado puerperal. Se, não permanecendo o estado
tal, não tem o necessário discernimento para a prá- puerperal, a mãe matar o filho, não estaremos diante
tica do ato, ou que, por qualquer outra causa, não do crime de infanticídio, mas de homicídio.
pode oferecer resistência, responde o agente pelo O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou
crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. eventual.
Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em
Por fim, se o crime de suicídio se consuma ou se estado puerperal, logo após o parto, culposamente
da automutilação resulta morte e a vítima é menor de matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo.
14 (quatorze) anos ou se o crime for praticado con- Há certos casos em que a mulher, após o parto, se
tra quem não tem o necessário discernimento para a vê acometida da chamada psicose puerperal, que é
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não uma doença mental que lhe tira totalmente o poder
pode oferecer resistência, responde o agente pelo cri- de autodeterminação. Nesta hipótese, a mãe é consi-
me de homicídio. derada absolutamente inimputável, conforme o caput
do art. 26 do CP.
Infanticídio Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência do
estado puerperal, tiver outra causa de semi-imputabi-
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe- lidade, consistente em perturbação da saúde mental,
ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após: que lhe retire a inteira capacidade de entendimento
Pena - detenção, de dois a seis anos. ou autodeterminação, deverá ser aplicada a regra do
parágrafo único do art. 26 do Código Penal, ou seja,
O infanticídio é classificado pela doutrina como a pena do infanticídio poderá ser reduzida de um a
crime bipróprio, já que ele exige qualidades especiais dois terços, ou poderá ser substituída por medida de
tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo. segurança.
É necessário que o sujeito ativo – quem pratica a
conduta – seja a própria mãe e que o sujeito passivo – HOMICÍDIO
quem é ameaçado pela conduta criminosa – seja o pró-
prio filho, para que este tipo penal fique configurado. A parturiente mata o filho
São outros requisitos que devem estar presentes sem estar influenciada pelo Homicídio, art. 121 do CP
para configuração do crime de infanticídio: estado puerperal

z Que a mãe esteja sob a influência do estado


INFANTICÍDIO
puerperal;
A parturiente mata o filho
O estado puerperal é uma alteração emocional sob a influência do estado Infanticídio, art. 123 do CP
pela qual passam algumas mães durante o período puerperal
correspondente ao parto.
Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou A parturiente mata o filho Infanticídio, art. 123, com-
influenciada pelo estado binado com o parágrafo
na jurisprudência, sobre quanto tempo dura o estado
puerperal e por apresentar único do art. 26 do CP
puerperal.
alguma outra causa que Redução da pena de um a
lhe tire a plenitude do po- dois terços, ou medida de
z Que a conduta seja praticada durante ou logo após
der de autodeterminação segurança
o parto.
Infanticídio, art. 123, combi-
O Código Penal adota, para o crime de infanticídio, A parturiente mata o filho por nado com o caput do art. 26
critério fisiológico, também denominado biopsicológi- estar acometida de doença do CP
co ou fisiopsicológico, afastando-se do sistema psico- mental, psicose puerperal Absolvição sumária, causa
lógico, que exigia o motivo de honra. O simples estado excludente da culpabilidade
puerperal é apto ao reconhecimento do infanticídio.
Estado puerperal é o conjunto das perturbações O infanticídio admite tentativa.
psíquicas e fisiológicas sofridas pela mulher em razão
do fenômeno do parto. Diversos fatores como, por Aborto
exemplo, sofrimento, a perda de sangue, a angústia,
a inquietação ou outros podem levar a parturiente a O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes
sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de contra a vida. É tutelado o nascituro desde a concep-
impulsos maldosos, chegando por isso a matar o pró- ção. O Código Penal estabelece três modalidades de
prio filho. aborto, previstas nos arts. 124, 125 e 126.
A influência do estado puerperal normalmente No art. 124 do CP, temos o aborto praticado pela
acontece em qualquer parto, havendo, inclusive, jul- gestante. O sujeito ativo é a própria gestante e a vítima
400 gados dispensando a prova pericial para comprová-lo. é o feto.
Art. 124 Provocar aborto em si mesma ou consen- z Autoaborto
tir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos. O autoaborto é o praticado pela própria gestante.
Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela executa direta-
No art. 125 do CP, o crime de aborto é praticado mente a conduta criminosa. Trata-se de crime de mão
por terceiro, porém sem o consentimento da gestante. própria ou de atuação pessoal, pois só pode ser come-
Observe que neste delito o sujeito ativo é o terceiro, tido pela gestante em pessoa.
aquele que realiza o aborto. As vítimas, sujeitos passi- Terceiros podem atuar como partícipes, mas não
vos, são a gestante e o feto. como coautores.

Art. 125 Provocar aborto, sem o consentimento da z Aborto Consentido e Aborto Consensual
gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos. O aborto consentido ocorre quando a gestante per-
mite que outrem o provoque.
Já no art. 126 do CP, o crime de aborto é praticado É essencial ao crime o concurso dos dois elementos:
por terceiro, mas com o consentimento da gestante.
Aqui temos na condição de sujeito ativo o terceiro e „ Consentimento da gestante;
a gestante, e a vítima, sujeito passivo, apenas o feto. „ Execução do aborto por terceiro.

Art. 126 Provocar aborto com o consentimento da Observe-se, porém, desde logo, que o aborto con-
gestante: sentido é crime bilateral, exigindo a presença de duas
Pena - reclusão, de um a quatro anos. pessoas: a gestante e o terceiro executor.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo ante- O terceiro responde pelo art. 126 do CP (aborto
rior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou consensual), enquanto a gestante, pela 2ª parte do art.
é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é 124 do CP (aborto consentido).
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. O aborto consentido é crime de mão própria ou de
atuação pessoal, podendo ser cometido apenas pela
O Código Penal não define aborto. Cabe à juris- gestante. Mas, evidentemente, admite a presença do
prudência e à doutrina definir o crime de aborto. De partícipe, consistente na conduta acessória do tercei-
acordo com termos relacionados à medicina, aborto é ro que se limita a induzir, instigar ou auxiliar a ges-
a expulsão do produto da concepção. tante a consentir na realização do aborto.
O aborto consiste na interrupção da gravidez com
a morte do produto da concepção. Dessa definição z Aborto Praticado sem Consentimento da
sobressaem os seguintes elementos necessários à Gestante
constituição do delito:
O art. 125 do CP comina pena de reclusão de 3
z Estado fisiológico da gravidez; (três) a 10 (dez) anos ao aborto provocado sem o con-
z Emprego de meios dirigidos à provocação do sentimento da gestante.
aborto; O não consentimento da gestante é o elemento
z Morte do produto da concepção; essencial à configuração do delito e pode ser:
z Dolo.
„ Expresso;
O aborto é crime de forma livre, admitindo uma „ Presumido.
infinidade de meios executórios.
Os meios abortivos mais citados são: Expresso, também conhecido como real, ocorre
quando a gestante se opõe ao aborto, mas é vencida
z Processos químicos: introdução de certas subs- pela violência física, grave ameaça e fraude, ou seja,
tâncias químicas no organismo, como o fósforo, respectivamente, chute na barriga, ameaça de matar
chumbo, álcool, ácido etc.; a gestante se não abortar e colocar substância aborti-
z Processos físicos-mecânicos: curetagem, jogos va na alimentação da gestante, sem consentimento da
esportivos, quedas voluntárias etc.; vítima, mãe.
z Processos físicos-térmicos: bolsas de água quente Presumido é quando a gestante está incapaz de
e bolsas de gelo; consentir nas formas previstas no parágrafo único do
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

art. 126 do CP:


z Processos psíquicos: susto, sugestão, induzimento
de terror etc.
„ A gestante não é maior de catorze anos;
„ A gestante é alienada mental (doente men-
O crime de aborto admite tentativa, na hipótese
tal) ou débil mental (desenvolvimento mental
em que se empregam meios abortivos, mas não sobre-
retardado).
vêm a morte do feto por circunstâncias alheias à von-
tade do agente.
z Aborto Qualificado
Há quatro modalidades de aborto:
Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos
z Autoaborto (1ª parte do art. 124); anteriores são aumentadas de um terço, se, em
z Aborto consentido (2ª parte do art. 124); conseqüência do aborto ou dos meios empregados
z Aborto consensual (art. 126); para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
z Aborto sem o consentimento da gestante (art. 125 e natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
parágrafo único do art. 126). dessas causas, lhe sobrevém a morte. 401
O art. 127 do CP estabelece duas hipóteses de abor- z Gravidez resultante de estupro;
to qualificado: z Prévio consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal;
„ Aborto qualificado pela morte; z Execução por médico; se praticado por outras pes-
„ Aborto qualificado pela lesão corporal de natu- soas, respondem pelo crime.
reza grave.
A prova do estupro pode ser feita por todos os
As lesões graves são aquelas tipificadas nos §§ 1º e meios admissíveis em direito.
2º do art. 129 do CP. Para a prática do aborto humanitário, não é neces-
sário processo (ação penal), autorização judicial nem
Dica sentença condenatória.
Ação penal é pública incondicionada.
Os dois resultados qualificativos do delito, isto é,
a morte e a lesão grave, devem ser imputados ao LESÕES CORPORAIS
agente a título de culpa. Estamos diante de hipótese
de crime preterdoloso; o agente age com dolo em Podemos entender lesão corporal como qualquer
relação ao aborto e culpa em relação ao resultado. alteração provocada na integridade corporal ou na
Agora, se o agente atua com dolo em relação à saúde de uma pessoa.
morte ou lesão grave, responde por aborto em A lesão corporal é comum, material, instantânea e
concurso formal com o crime de homicídio ou de forma livre, portanto, pode ser praticada por qual-
crime de lesão corporal. quer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins
de consumação, a conduta não se prolonga no tempo
e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas,
Aborto Legal
pauladas, tiros, socos, chutes, arranhões etc.).
As lesões corporais estão previstas no art. 129 do
O art. 128 do CP estabelece duas modalidades em
Código Penal e podem ser divididas da seguinte forma:
que o aborto não constitui delito, desde que praticado
por médico. Vejamos:
z Lesão corporal simples;
z Lesão corporal grave;
Art. 128 Não se pune o aborto praticado por
médico: z Lesão corporal gravíssima;
Aborto necessário z Lesão corporal seguida de morte;
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; z Lesão corporal culposa;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro z Lesão corporal privilegiada.
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando As lesões corporais graves, gravíssimas e seguidas
incapaz, de seu representante legal. de morte compõem o grupo lesões corporais qualifica-
das, segundo a doutrina penalista.
Exclui-se a antijuridicidade, uma vez que a norma Antes de analisarmos cada uma das lesões, vamos
penal permite expressamente o abortamento, estabe- falar da ação penal.
lecendo a licitude do fato. O crime de lesão corporal é classificado como deli-
A doutrina trata do aborto legal da seguinte forma: to não-transeunte, que é aquele que deixa vestígios,
Aborto necessário ou terapêutico ou profilático; sendo necessária a realização de exame de corpo de
Aborto sentimental ou humanitário ou ético. delito.

„ Aborto Necessário ou Terapêutico ou Lesão Corporal Leve


Profilático
Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a saúde
Aborto necessário é o praticado por médico, se não de outrem:
há outro meio de salvar a vida da gestante, conforme Pena - detenção, de três meses a um ano.
o inciso I do art. 128 do CP, desde que presentes três
requisitos: A lesão leve, também chamada de simples, previs-
ta no caput do art. 129, é residual. Teremos configu-
z Perigo real à vida da gestante; rada tal modalidade de lesão, caso não se configure
z Não haver outro meio de salvar-lhe a vida; nenhuma das outras.
z Execução por médico. A lesão corporal qualificada está prevista nos pará-
grafos 1º, 2º e 3º do art. 129.
O aborto necessário exige perigo à vida, e não saú-
de, da gestante. Lesão Corporal Grave
Quando chamado de terapêutico, tem efeito curati-
Art. 129 [...]
vo, e quando profilático, preventivo.
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por
„ Aborto Sentimental ou Humanitário ou Ético mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
Aborto sentimental é aquele praticado para inter- III - debilidade permanente de membro, sentido ou
romper a gravidez resultante do estupro. função;
Os requisitos necessários para a exclusão da ilici- IV - aceleração de parto:
402 tude do aborto humanitário são: Pena - reclusão, de um a cinco anos.
A lesão corporal grave irá se configurar se resultar: Se o agente quer matar, ele responderá pelo
homicídio. Porém, caso o agente queira apenas cau-
z Incapacidade para as ocupações habituais, por sar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe
mais de 30 (trinta) dias; se excedendo, provocando a morte da vítima, ele irá
responder por lesão corporal seguida de morte, desde
É necessário que a incapacidade dure mais de 30 que fique evidenciado que ele não quis nem assumiu
(trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso contrá- o risco de produzir o resultado morte.
rio, a lesão corporal não será grave. O crime de lesão corporal seguida de morte é um
A incapacidade está relacionada a qualquer ocu- crime preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado
pação habitual, como estudo, treinos, rotinas domésti- pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial
cas, e não somente ao trabalho; e culpa no resultado produzido.
z Perigo de vida;
z Debilidade permanente de membro, sentido ou Lesão Corporal Culposa
função;
z Aceleração do parto. Art. 129 [...]
§ 6° Se a lesão é culposa:
Lesão Corporal Gravíssima Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Art. 129 [...] A lesão corporal culposa é aquela em que o agente


§ 2° Se resulta: não quer causar lesão corporal na vítima, mas a pro-
I - Incapacidade permanente para o trabalho; duz por ter sido imprudente, negligente ou imperito.
II - enfermidade incurável; É importante compreender que não há gradações
III perda ou inutilização do membro, sentido ou na lesão corporal culposa, ou seja, ela não se divide
função; em leve, grave ou gravíssima, mas tão somente será
IV - deformidade permanente; lesão corporal culposa.
V - aborto: No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o
Pena - reclusão, de dois a oito anos. instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena se as consequências da infração penal
A lesão corporal gravíssima irá se configurar se atingirem o agente de forma que a aplicação de san-
resultar: ção penal se torne desnecessária.
Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão cor-
z Incapacidade permanente para o trabalho; poral culposa.
z Enfermidade incurável;
z Perda ou inutilização do membro, sentido ou função; Lesão Corporal Privilegiada
z Deformidade permanente;
z Aborto. Os motivos que levam o agente a praticar a lesão
corporal privilegiada são os mesmos do homicídio
Atente-se à seguinte tabela, elaborada para evitar privilegiado.
confusões quanto às lesões grave e gravíssima:
Art. 129 [...]
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo
LESÃO GRAVE
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio
Debilidade permanente de membro, sentido ou função de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro-
Exemplo: Devido às lesões sofridas, a vítima perde um dos vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
olhos, mas ainda enxerga sexto a um terço.

LESÃO GRAVÍSSIMA Se o agente comete o crime impelido por motivo


Perda ou inutilização do membro sentido ou função de relevante valor social ou moral ou sob o domínio
Exemplo: Devido às lesões sofridas, a vítima perde a de violenta emoção, logo em seguida à injusta provo-
visão cação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um
sexto) a 1/3 (um terço).
É aplicável o instituto da substituição de pena nos
O Código Penal não divide as lesões em graves ou casos de lesão corporal.
gravíssimas. Para o Código Penal Brasileiro (CPB), Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão pri-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

todas elas são graves. Esta divisão é uma construção vilegiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pes-
doutrinária. soas se lesionam umas às outras), o juiz poderá ainda
substituir a pena de detenção pela de multa.
Lesão Corporal Seguida de Morte
Art. 129 [...]
Art. 129 [...] § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente,
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias eviden- descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
ciam que o agente não quis o resultado, nem assu- com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
miu o risco de produzi-lo: prevalecendo-se o agente das relações domésticas,
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
A lesão corporal seguida de morte dar-se-á quando
ficar configurado que o agente não queria o resultado O Código Penal traz disposições específicas para os
morte (dolo direto no resultado morte) ou assumiu o casos de lesão corporal praticada no âmbito de violên-
risco de produzi-lo (dolo eventual no resultado morte). cia doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais 403
grave, estando ele submetido a auto de prisão em fla- PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
grante e não somente a mero termo circunstanciado
(salvo nos casos de lesão grave, gravíssima ou seguida A periclitação da vida e da saúde é considerada como
de morte). crime de perigo, sendo criada, pelo autor do fato, uma
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência situação de perigo a que é exposta a vítima.
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou Crimes de perigo são aqueles que não exigem a efeti-
nos seguintes casos: va ocorrência de dano, apesar de poder acontecer, para
que se configurem.
z Ascendente; Os crimes de perigo são divididos em:
z Descendente;
z Cônjuge ou companheiro; z Crimes de perigo concreto: é exigida uma comprova-
ção de que realmente aconteceu um risco de perigo
z Quem conviva ou tenha convivido.
ou lesão ao bem jurídico protegido pela norma penal;
z Crimes de perigo abstrato: Não se exige nenhuma
É importante mencionar que, caso a vítima seja
comprovação, já que o perigo é presumido. Ex.: Um
mulher, teremos a aplicação da Lei Maria da Penha
indíviduo dirigir após ter ingerido álcool.
e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação
penal será pública incondicionada.
Iremos analisar os seguintes crimes: perigo de con-
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime
tágeo venéreo; perigo de contágio de moléstia grave;
de lesões corporais. Há diversas causas de aumento de
abandono de incapaz; exposição ou abandono de recém-
pena para este crime, portanto, leia-as com bastante
-nascido e omissão de socorro.
atenção.
Nos casos de lesão corporal culposa:
Perigo de Contágio Venéreo
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se:
Art. 130 Expor alguém, por meio de relações sexuais
z O crime resulta de inobservância de regra técnica ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia vené-
de profissão, arte ou ofício; rea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
z O agente deixa de prestar imediato socorro à Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
vítima; § 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
z O autor não procura diminuir as consequências do Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
seu ato; § 2º Somente se procede mediante representação.
z O agente foge para evitar prisão em flagrante.
Este crime fica configurado quando o agente expõe
Nos casos de lesão corporal dolosa: alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe
ou deve saber que está contaminado.
z A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 A forma qualificada deste crime se dá se o agente tem
(sessenta) anos; a intenção de transmitir a moléstia venérea. Este crime
z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima somente se procede mediante representação, ou seja, tra-
ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos ta-se de crime promovido mediante ação penal pública
casos de violência doméstica vistos; condicionada.
z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio- Moléstia venérea, segundo a doutrina, refere-se ao
lência doméstica vistas, for pessoa portadora de nome genérico dado a qualquer doença que possa ser
deficiência. transmitida por meio de relação sexual, como sífilis.
O crime se consuma com a prática do ato sexual,
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a capaz de transmitir a moléstia venérea. Caso a vítima seja
metade: contaminada, tal fato será mero exaurimento do crime.
O crime é de conduta vinculada, exigindo a conjunção
z Se a lesão corporal for praticada por milícia priva- carnal, o coito anal, o sexo oral ou qualquer outro ato de
da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu- libidinagem que sirva para a satisfação da libido.
rança, ou por grupo de extermínio. Caso a contaminação provenha de outra ação física,
como o aperto de mão ou a ingestão de alimentos, ine-
xistirá o crime de perigo de contágio venéreo, podendo
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
subsistir o delito de lesão corporal, dolosa ou culposa, ou
(dois terços):
os crimes dos arts. 131 e 132 do CP.
z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agen-
te das forças armadas (Marinha, Exército ou Aero-
Importante!
náutica), das forças de segurança pública (Polícia
Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Fer- É importante mencionar, pela própria natureza do
roviária Federal, Policiais Civis, Polícias Militares tipo penal, que não se exige, para a sua configura-
ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes do ção simples, dolo específico do agente em trans-
sistema prisional (agentes penitenciários) e da For- mitir a doença venérea (caso ocorra esta hipótese,
ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da o crime será qualificado), bastando que ele tenha
função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge, a intenção de ter a relação sexual, sabendo ou
companheiro ou parente consanguíneo até o ter- devendo saber que está contaminado.
404 ceiro grau, em razão dessa condição.
Como o fato se relaciona a uma ou mais pessoas deter- Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
minadas, estamos diante de um delito de perigo indivi-
dual, o qual deve ser averiguado diante do caso concreto. O art. 132 do CP trata do crime de perigo para a vida
Isso porque da simples relação sexual do agente com a ou saúde de outrem:
vítima não decorre presunção absoluta da existência des-
se perigo. Art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo
A presunção é relativa, admitindo prova em contrá- direto e iminente:
rio, como no caso de a vítima já ser portadora de doença Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
constitui crime mais grave.
venérea.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem
Perigo de Contágio de Moléstia Grave
a perigo decorre do transporte de pessoas para a pres-
tação de serviços em estabelecimentos de qualquer
Art. 131 Praticar, com o fim de transmitir a outrem natureza, em desacordo com as normas legais.
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
produzir o contágio:
A conduta nuclear é expor, ou seja, colocar em perigo
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
a vida, a integridade física ou a saúde de alguém. O perigo
é concreto, direto, iminente e anormal.
Este crime se configura quando o agente praticar,
Perigo concreto diz que a mera prática do compor-
com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
tamento ilícito não é suficiente para a caracterização do
está contaminado, ato capaz de transmitir o contágio.
crime, sendo imprescindível que, em face da conduta do
É necessário que o sujeito passivo, que pode ser qual-
agente, a vítima tenha a sua vida, a sua integridade corpo-
quer pessoa, não seja contaminado pela moléstia grave
ral ou a sua saúde exposta a risco de lesão.
que o sujeito ativo pretende transmitir.
Perigo direto visa a pessoa ou pessoas determinadas.
A moléstia grave, neste caso, não precisa, necessa-
Perigo iminente está prestes a ocorrer. Se a possibili-
riamente, ser transmitida por meio de relação sexual,
dade de ocorrência do perigo é futura ou presumida, não
podendo, entretanto, ser transmitida por qualquer
outro meio. estará caracterizada a infração penal do art. 132 do CP.
Temos como exemplo o agente que, de qualquer for- Perigo anormal não decorre da atividade de profissio-
ma ou por qualquer meio, intencionalmente (exige-se o nais que trabalham com o risco, como o policial e o bom-
dolo específico de transmitir a doença) transmite à vítima beiro. Portanto, se o patrão não toma providências para
a tuberculose (moléstia grave). a segurança e proteção dos operários que trabalham na
Trata-se de norma penal em branco, complementada fábrica de explosivos, e dessa inação resulta uma situação
por meio dos atos praticados por órgãos administrativos concreta de perigo, estará configurado o crime do art. 132
da área de saúde. do CP, na sua modalidade omissiva.
Mais uma vez, reitero: exige-se para a configuração
deste tipo penal o dolo específico, que consiste na inten- Abandono de Incapaz
ção do agente de transmitir a moléstia grave.
A doutrina não admite, para este crime, o dolo even- O crime de abandono de incapaz se configura quan-
tual, quando o agente não quer diretamente transmi- do o agente abandona pessoa que está sob seu cuidado,
tir a doença, mas assume o risco de transmiti-la. guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer moti-
Trata-se de crime formal, que se consuma com a vo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
prática do ato destinado a transmitir a moléstia grave, abandono.
não se exigindo, para fins de consumação, a efetiva São formas qualificadas do crime de abandono de
transmissão da moléstia. incapaz:
Ao contrário do crime de Perigo de Contágeo Venéreo,
procede-se mediante ação penal pública incondicionada. z Se do abandono resulta lesão corporal de natureza
Antes de passarmos para a análise de outros tipos grave;
penais, é importante que façamos uma distinção entre z Se do abandono resulta a morte.
os dois tipos penais que acabamos de ver:
Incapaz refere-se a qualquer pessoa que não tenha
PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO condições de se proteger sozinha, podendo ficar exposta,
em razão do abandono, à situação de perigo.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A transmissão deve se dar por meio de relação sexual


Tenha como exemplo o pai que deixa o filho, de ape-
Transmite-se moléstia venérea nas dois anos de idade, sozinho em casa. Esta criança não
É norma penal em branco tem capacidade de se defender sozinha, configurando,
assim, o tipo penal de abandono de incapaz.
Não se exige dolo específico
Para que o crime de abandono de incapaz seja qua-
Ação penal pública condicionada lificado, é necessário que o resultado seja lesão corporal
PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE grave ou a morte. Caso resulte apenas lesão corporal de
A transmissão se dá por qualquer meio natureza leve – bastante explorado pelas bancas – o cri-
me será configurado em sua modalidade simples.
Transmite-se moléstia grave Veja características do crime de abandono de incapaz:
É norma penal em branco
Exige-se dolo específico z É crime próprio, já que se exige uma condição espe-
cial do agente: ser pessoa que tem o cuidado, guarda,
Ação penal pública incondicionada vigilância ou autoridade sobre a vítima; 405
z É crime formal, que não exige que ocorra qualquer Parágrafo único. A pena é aumentada de metade,
coisa com o abandonado (vítima) para fins de consu- se da omissão resulta lesão corporal de natureza
mação do crime. grave, e triplicada, se resulta a morte.

A pena prevista para o crime de abando de incapaz é: Não se aplica este tipo penal ao agente que cau-
sou o perigo. Assim, se um indivíduo, com a intenção
Art. 133 Abandonar pessoa que está sob seu cuida- de causar lesões corporais, arremessa uma pedra na
do, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer vítima e foge, não poderá ele ser responsabilizado por
motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes omissão de socorro por não ter prestado socorro à
do abandono: vítima ou por não ter comunicado o fato à autoridade.
Pena - detenção, de seis meses a três anos. Fique atento às seguintes informações sobre a
§ 1º Se do abandono resulta lesão corporal de natureza omissão de socorro:
grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos. z Não admite tentativa (é crime omissivo próprio);
§ 2º Se resulta a morte: z Não admite a modalidade culposa.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Dica
As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
terço:
Fique bastante atento às causas de aumento de
pena do crime de omissão de socorro.
z Se o abandono ocorre em lugar ermo;
z Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge,
Em 2012, foi inserido no Código Penal um novo tipo
irmão, tutor ou curador da vítima;
penal, chamado de condicionamento de atendimento
z Se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
médico-hospitalar emergencial, que se configura quan-
do o agente exigir cheque-caução, nota promissória ou
Exposição ou Abandono de Recém Nascido qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio
de formulários administrativos, como condição para o
Art. 134 Expor ou abandonar recém-nascido, para atendimento médico-hospitalar emergencial.
ocultar desonra própria:
Suponha que um indivíduo ingresse em um hos-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
pital necessitando de atendimento médico emergen-
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
cial. O funcionário do hospital exige que ele deixe um
Pena - detenção, de um a três anos.
cheque-caução para que o atendimento médico seja
§ 2º Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos. realizado. Pronto, a situação configurou-se como tipo
penal de condicionamento de atendimento médico-
-hospitalar emergencial.
O crime de exposição ou abandono de recém-nascido
É necessário que o atendimento médico seja emer-
se configura quando o agente expõe ou abandona recém-
gencial. Assim, este crime não ira se configurar caso
-nascido, para ocultar desonra própria.
o atendimento médico seja algo rotineiro, com uma
Este crime será praticado na modalidade qualificada
simples consulta, por exemplo.
se do fato resultar:
O crime de omissão de socorro apresenta causas
de aumento de pena.
z Lesão corporal de natureza grave;
A pena será aumentada até o dobro se da negativa
z Morte.
de atendimento resulta lesão corporal grave.
A pena será aumentada até o triplo se da negativa
Este crime exige dolo específico, ou seja, um espe- de atendimento resulta morte.
cial fim de agir, que consiste na prática da conduta
para ocultar desonra própria. Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar
Segundo a doutrina majoritária, é exigido que o Emergencial
recém-nascido fique exposto à situação concreta de
perigo para que o crime se consume. Art. 135-A Exigir cheque-caução, nota promissória ou
Ainda, conforme doutrina majoritária, trata-se de qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio
crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo de formulários administrativos, como condição para
pai ou pela mãe que buscam ocultar desonra própria. o atendimento médico-hospitalar emergencial:
Ex.: Mãe que expõe ou abandona o filho recém- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
-nascido numa lata de lixo para ocultar uma desonra Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se
(sua infidelidade). da negativa de atendimento resulta lesão corporal
O crime será promovido mediante ação penal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
pública incondicionada.
O crime é próprio, pois somente poderá ser prati-
Omissão de Socorro cado por representantes ou funcionários hospitalares
(sócios, administradores, atendentes, seguranças) ou
Art. 135 Deixar de prestar assistência, quando pos- profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros)
sível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abando- incumbidos do atendimento emergencial.
nada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, O sujeito ativo deve ser a pessoa com poderes para
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer
não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade garantia, bem como o preenchimento prévio de for-
pública: mulários administrativos, como condição para o aten-
406 Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. dimento médico-hospitalar emergencial.
Para esse crime, a pena cominada é detenção, de Estamos diante de crime de concurso necessário,
três meses a um ano, e multa. que só irá existir caso presentes no mínimo 3 (três)
A pena é aumentada até: pessoas, umas contra as outras. Caso seja possível
definir dois grupos específicos (grupo A x grupo B),
z O dobro se da negativa de atendimento resulta este tipo penal não irá existir.
lesão corporal de natureza grave; Para que a rixa se configure, exige-se que haja no
z O triplo se resulta a morte. mínimo três grupos distintos (independentemente
da quantidade de pessoas que integre cada grupo) se
Maus-Tratos agredindo mutuamente.
No caso de ocorrer uma briga entre a torcida do Corin-
Art. 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa thians e a torcida do Palmeiras, não há que se falar no
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim crime de rixa, já que temos 2 (dois) grupos bem definidos.
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer Aquele que participa da rixa, apenas com a fina-
privando-a de alimentação ou cuidados indispen- lidade de separar os contendores, não irá responder
sáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou por este tipo penal.
inadequado, quer abusando de meios de correção O crime de rixa não admite a forma culposa.
ou disciplina: Sobre este crime, é importante que você fique
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. atento aos posicionamentos da doutrina dominante.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
grave:
z Não admite tentativa;
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
z Consuma-se quando se inicia a rixa ou, caso já ini-
§ 2º Se resulta a morte:
ciada, quando o agente entra na rixa;
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é z Pode ser praticado à distância, não se exigindo
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. que necessariamente ocorra contato físico.
Ex.: Rixa em que os agentes jogam pedras, garra-
O crime de maus-tratos consuma-se com a efetiva fas ou mesas uns nos outros.
exposição da vítima a perigo, que deverá ser demons-
trada no caso concreto. Não há, portanto, necessidade A rixa será qualificada quando ocorrer, devido
de resultado material, com dano efetivo à vítima. à rixa, lesão corporal de natureza grave ou a morte.
É crime permanente, na modalidade privação de Segundo a doutrina majoritária, salvo no caso de ser
cuidados ou alimentos e sujeição a trabalho excessivo possível se identificar corretamente o autor da lesão
ou inadequado; o delito é permanente, hipótese em grave ou da morte, todos os agentes que participaram
que a consumação se prolonga no tempo, já que há da rixa irão responder pela modalidade qualificada,
contínua e incessante agressão ao bem jurídico. exceto, também, se tiverem ingressado na rixa após a
Também é crime instantâneo; na modalidade ocorrência da lesão grave ou da morte.
abuso de meios de correção ou disciplina o delito é
instantâneo, já que a consumação se dá em momento CRIMES CONTRA A HONRA
determinado, sem continuidade no tempo. No entan-
to, entendemos que se o pai, com o fim de aplicar Os crimes contra a honra estão entre aqueles que
castigo ao filho, trancá-lo por tempo excessivamente mais são cobrados em provas de concurso público,
prolongado, haverá crime permanente. então vamos aprendê-los passo a passo.
A tentativa somente será possível nas formas Eles estão previstos entre os arts. 138 e 145 do Códi-
comissivas, como no caso do agente que amarra a go Penal e se dividem em 3 (três) crimes diferentes:
vítima e apanha um porrete, a fim de agredi-la, sendo
neste exato momento surpreendido. As modalidades z Calúnia;
omissivas não aceitarão a forma tentada. z Difamação;
O crime é qualificado se resulta: z Injúria.

z Lesão corporal de natureza grave; Antes de analisarmos cada um dos tipos penais, é
z Morte. importante que você compreenda que se protege a hon-
ra da pessoa, na sua modalidade objetiva e subjetiva.
Porém, aumenta-se a pena de um terço se o cri- A honra é classificada em:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

me é praticado contra pessoa menor de 14 anos.


HONRA OBJETIVA (HONRA EXTERNA)
RIXA Conceito que o indivíduo possui perante seus pares em
relação aos seus atributos morais, éticos, físicos e inte-
Art. 137 Participar de rixa, salvo para separar os lectuais. Refere-se ao apreço e respeito da pessoa no
contendores: grupo social. É a reputação social da pessoa
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
HONRA SUBJETIVA (HONRA INTERNA)
multa.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal Conceito que o indivíduo possui de sua própria digni-
de natureza grave, aplica-se, pelo fato da partici- dade e decoro, trata-se do autoconceito dos atributos
pação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a morais, éticos, físicos e intelectuais. Refere-se ao nosso
dois anos. amor-próprio e autoestima
HONRA ESPECIAL OU PROFISSIONAL
O crime irá ocorrer quando o agente participar de
rixa, salvo para separar os contendores. Referente a determinado grupo social ou profissional 407
Honra objetiva é aquilo que as pessoas (grupo II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
social) pensam sobre o indivíduo; indicadas no nº I do art. 141;
Honra subjetiva é aquilo que o indivíduo pensa III - se do crime imputado, embora de ação pública,
sobre si mesmo. o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.

Calúnia Como regra, admite exceção da verdade, ou seja,


admite que o réu prove que a vítima realmente prati-
Art. 138 Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente cou o crime que lhe foi imputado.
fato definido como crime: No entanto, nos casos de crime imputado, embora
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. de ação pública, em que o ofendido tenha sido absol-
vido por sentença irrecorrível, há uma presunção de
A calúnia, que protege a honra objetiva, está previs- que a imputação é falsa, respondendo o agente por ela.
ta no art. 138 do Código Penal e se configura quando Mas se o réu conseguir provar que o fato que imputou
o agente caluniar alguém, imputando-lhe falsamente à vítima é verdadeiro, ele será absolvido.
fato definido como crime. É importante destacar que a calúnia é crime for-
Exige-se que o fato imputado falsamente seja defini- mal, que se consuma com a prática da conduta, inde-
do com um crime, não podendo ser uma mera contra- pendentemente de o agente conseguir macular a
venção penal. O crime pode ter acontecido ou não, para honra objetiva da vítima.
fins de consumação deste tipo penal. Observe que o objeto jurídico protegido é a honra
Ex.: Joãozinho diz que Pedrinho praticou um roubo objetiva, que consiste na reputação que a pessoa pos-
à padaria da esquina de onde moram, sabendo ser isso sui na sociedade.
falso. Pronto, Joãozinho praticou o crime de calúnia.
O crime de calúnia não admite a modalidade culpo-
sa e, segundo doutrina majoritária, pode ser praticado, Importante!
além do dolo direto, por dolo eventual. Os crimes contra a honra dos Chefes dos Três
Não é exigido que o crime seja praticado na moda- Poderes, com exceção da injúria, (Presidente da
lidade verbal, podendo ser praticado por outros meios, República, Presidente do Senado Federal, Presi-
como por exemplo na modalidade escrita. dente da Câmara dos Deputados e Presidente do
Em regra, a calúnia é crime unissubsistente, que se Supremo Tribunal Federal), em caso de motiva-
perfaz com a prática de um único ato, não sendo pos- ção política, configurarão delito contra a Segu-
sível o fracionamento do seu iter criminis; entretanto,
rança Nacional.
caberá tentativa quando for possível promover este
fracionamento, a exemplo de calúnia praticada por
meio de uma carta. Excepcionalmente, é proibida a prova da verdade,
Em se tratando de intenção de brincar (animus em três hipóteses previstas no § 3º do art. 138.
ludendi) por parte do agente, não há que se falar no cri- Nessas três hipóteses do § 3º do art. 138 do CP, ain-
me de calúnia. da que verdadeira a imputação, o crime de calúnia
não será excluído.
Art. 138 [...] Observa-se a possibilidade da calúnia incidir sobre
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a o fato verdadeiro nessas três hipóteses em que a lei
imputação, a propala ou divulga. proíbe a exceção da verdade. A primeira ocorre quan-
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos. do o fato imputado constituir delito de ação privada e
o ofendido não houver sido condenado por sentença
Pune-se a calúnia praticada contra os mortos (neste transitada em julgado. A vedação é justificada pelo
caso, o sujeito passivo será família do morto): princípio da disponibilidade da ação penal privada,
que pode ou não ser ajuizada, consoante à exclusiva
z Segundo parte da doutrina, é possível que a calúnia vontade do ofendido ou de seu representante legal.
seja praticada contra pessoa jurídica, se o fato falsa- A segunda hipótese em que não se admite a exce-
mente imputado for referente a crime ambiental; ção da verdade é quando a ofensa for irrogada contra
z Equipara-se à calúnia, incorrendo nas mesmas o presidente da República ou chefe de governo estran-
penas, a conduta daquele que, sabendo falsa a geiro. Justifica-se a proibição pela alta relevância
imputação, a propala (espalha) ou divulga. política desempenhada pelo presidente da República,
que não pode ficar à mercê de qualquer acusação. No
O crime de calúnia se consuma quando o fato chega tocante ao chefe de governo estrangeiro, expressão
ao conhecimento de um terceiro, distinto do autor e da que abrange o primeiro-ministro e o presidente, a
vítima, já que o crime tutela a honra objetiva. proibição encontra suas raízes na política de diploma-
A calúnia admite, como regra, a exceção da verda- cia que deve reinar nas relações internacionais.
de, que se trata de prova da verdade, que é a possibi- A terceira hipótese de proibição da vedação se dá
lidade que tem o agente de demonstrar que o fato que quando o ofendido tiver sido absolvido por senten-
ele imputou realmente aconteceu. Porém, em algumas ça transitada em julgado do fato criminoso que lhe é
hipóteses não será admitida a exceção da verdade. imputado, respeitando a coisa julgada.

Art. 138 [...] Difamação


§ 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação Art. 139 Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen-
privada, o ofendido não foi condenado por sentença sivo à sua reputação:
408 irrecorrível; Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
A difamação se configura quando o agente difamar A injúria não admite exceção da verdade.
alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. Sendo assim, é importante levar em consideração
Ex.: Suponha que Lili diga para um grupo de vizi- o seguinte:
nhos que Márcia, também vizinha, é garota de progra-
ma e atende aos clientes no período noturno em sua EXCEÇÃO DA VERDADE
residência.
A conduta praticada por Lili configura o crime de Calúnia É admitida como regra
difamação. Difamação É admitida excepcionalmente
Observe que o fato imputado não constitui um cri-
Injúria Não é admitida
me, podendo, inclusive, constituir uma contravenção
penal. Entretanto, caso constitua crime, será calúnia.
A difamação irá ocorrer independentemente de Na injúria, o juiz pode deixar de aplicar a pena nos
o fato imputado ser verdadeiro ou não. A difamação, seguintes casos:
assim como a calúnia, também se consuma quando o
fato chega ao conhecimento de um terceiro, distinto Art. 140 [...]
do autor e da vítima, já que também protege a honra § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
objetiva. Trata-se de crime formal e irá se configurar
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provo-
ainda que a conduta não desonre objetivamente a
cou diretamente a injúria;
vítima.
II - no caso de retorsão imediata, que consista em
Não há difamação praticada na modalidade cul-
posa. É possível a tentativa da difamação, quando for outra injúria.
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa-
mação cometida por meio de carta. A injúria real configura-se quando a injúria consis-
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime te em violência ou vias de fato, que, por sua natureza
de difamação. ou pelo meio empregado, considerem-se aviltantes.
Na difamação, a exceção da verdade não pode ser Assim, caso o agente desfira um tapa no rosto da víti-
aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a ma, com a intenção de ofendê-la (humilhá-la), irá pra-
ofensa é relativa ao exercício da função. ticar uma injúria real.
z Exceção da Verdade
Art. 140 [...]
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de
Art. 139 [...]
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se fato, que, por sua natureza ou pelo meio emprega-
admite se o ofendido é funcionário público e a ofen- do, se considerem aviltantes:
sa é relativa ao exercício de suas funções. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência.
Injúria
É possível que a injúria seja racial, quando consis-
Art. 140 Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignida- tir na utilização de elementos referentes à raça, cor,
de ou o decoro:
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
ou portadora de deficiência.
A injúria, que tutela a honra subjetiva do agente,
está prevista no art. 140 do Código Penal, e se configu- Art. 140 [...]
ra quando o agente injuriar alguém, ofendendo-lhe a § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
dignidade ou o decoro. referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
Na injúria, o agente ofende a dignidade e o deco- condição de pessoa idosa ou portadora de deficiên-
ro da vítima, emitindo ofensa depreciativa, mas sem cia: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
imputar a ele fato definido como crime ou ofensivo Pena - reclusão de um a três anos e multa.
a sua reputação. Exemplo: Fernando xinga Leandro,
chamando-o de burro e idiota. Você deve levar para sua prova os elementos que
A conduta de Fernando configura o crime de podem caracterizar a injúria racial, já que esse assun-
injúria. to tem grande incidência em provas. Sendo assim,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Na injúria, há lesão à honra subjetiva da vítima, ou


caso o agente ofenda a vítima, fazendo uso de um dos
seja, afeta-se o sentimento da pessoa em relação aos
seus próprios atributos morais (dignidade), físicos e elementos mencionados, a exemplo do agente que
intelectuais (decoro). Não é necessário que o fato che- chama a vítima de macaco (utilize como exemplo o
gue ao conhecimento de um terceiro. caso do ex-goleiro do Santos Futebol Clube, o Aranha,
A injúria também é crime formal, consumando-se que foi chamado de macaco), irá cometer o crime de
com a prática da conduta, independentemente de a injúria racial.
vítima sentir lesada ou não a sua honra subjetiva. Fique atento para não confundir a injúria racial
A injúria só pode ser praticada dolosamente, não com o crime de racismo.
sendo admitida a modalidade culposa. É admitida a
Na injúria racial, o animus do agente é ofender;
tentativa de injúria, quando o iter criminis puder ser
fracionado. no racismo, o animus é segregar.
Lembre-se que a injúria, assim como os demais O STJ entendeu, na análise do AREsp (agravo
crimes contra a honra, pode ser praticada por outros em recurso especial), que a injúria racial é crime
meios e não somente de forma verbal. imprescritível. 409
Retratação refere-se à possibilidade que tem o
Importante! agente de retirar aquilo que disse, ou seja, de mani-
Nos termos do § 2º do art. 138 do CP, é punível a festar que se equivocou em suas declarações, mani-
calúnia contra os mortos. festando-se contrariamente ao que disse inicialmente.
Observe-se que não há a mesma previsão para A injúria não admite retratação. O querelado que,
difamação e injúria. antes da sentença (segundo doutrina majoritária: sen-
Nos casos de difamação e injúria o sujeito passi- tença de 1º grau), se retrata cabalmente da calúnia ou
vo não é o morto, mas familiar seu. da difamação, fica isento de pena.
Caso o querelado tenha praticado a calúnia ou
difamação fazendo uso de meios de comunicação, a
Disposições Comuns retratação se dará, caso assim deseje o ofendido, pelos
mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis Suponha que o agente tenha praticado o crime
aos crimes contra a honra em geral (calúnia, difama- de calúnia ou difamação pelo Facebook. Neste caso,
ção e injúria). a retratação se dará também pelo Facebook, se assim
desejar a vítima.
Art. 141 As penas cominadas neste Capítulo Caso alguém faça uso de referências, alusões ou
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes frases, sendo possível inferir calúnia, difamação ou
é cometido: injúria, aquele que se julgar ofendido poderá pedir
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe explicações em juízo. Caso seja recusado o pedido de
de governo estrangeiro; explicações ou, a critério da autoridade judicial, não
II - contra funcionário público, em razão de suas foi dado de maneira satisfatória, responderá pela
funções;
ofensa.
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que
Por fim, sobre a ação penal nos crimes contra a
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria. honra, é importante que você saiba:
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA
Regra Exceções
Atenção ao que dispõe o inciso IV, art. 141, pois a
pena não irá aumentar de 1/3 no caso de injúria prati- Ação será pública condicionada nos
cada contra pessoa maior de 60 anos ou portadora de casos de:
Ação será
deficiência. � Injúria real
privada,
A pena será aplicada em dobro se o crime contra a � Injúria racial
procedendo-se
honra for praticado: � Se os crimes contra a honra foram
mediante queixa
praticados contra funcionário públi-
z Mediante paga ou promessa de recompensa. co, em razão de suas funções

Veja as hipóteses de exclusão dos crimes contra a Súmula 714 do STF É concorrente a legitimidade
honra. do ofendido, mediante queixa e do Ministério Públi-
co, condicionada à representação do ofendido, para
a ação penal por crime contra a honra de servidor
Art. 142 Não constituem injúria ou difamação
público em razão do exercício de suas funções.
punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da cau-
sa, pela parte ou por seu procurador; Logo, atente-se a esta informação: nos casos de cri-
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artís- mes contra a honra de funcionário público em razão
tica ou científica, salvo quando inequívoca a inten- de suas funções, a ação penal será privada ou con-
ção de injuriar ou difamar; dicionada à representação do ofendido. A doutrina
III - o conceito desfavorável emitido por funcioná- dominante também entende desta forma.
rio público, em apreciação ou informação que pres- A ação será pública condicionada à requisição do
te no cumprimento de dever do ofício. Ministro da Justiça caso a conduta que configura cri-
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, res- me contra a honra seja praticada contra o Presidente
ponde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá da República, ou contra chefe de governo estrangeiro.
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CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL E CRIMES
Para encerrarmos o assunto referente aos crimes CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
contra a honra, iremos tratar da retratação e da ação
penal. Segundo o Código Penal, a retratação, quando
O caput do art. 5º da Constituição Federal assegura
admitida, constitui excludente de punibilidade.
a todos o direito à liberdade. A partir dessa afirmação,
extrai-se que qualquer espécie de violação à liberdade
Art. 143 O querelado que, antes da sentença, se
do ser humano reclama punição.
retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena. O objeto jurídico é a liberdade do ser humano para
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado agir dentro dos limites legais.
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizan- Já o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a
do-se de meios de comunicação, a retratação dar- conduta criminosa.
-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos Estudaremos, então, os crimes contra a liberdade
410 meios em que se praticou a ofensa. individual.
Constrangimento Ilegal o agente constranja a vítima, por meio de violência,
para que ela deixa de fazer alguma coisa, com o fim
Art. 146 Constranger alguém, mediante violência de obter para si vantagem econômica, não irá cometer
ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido,
constrangimento ilegal, mas sim o crime de extorsão.
por qualquer outro meio, a capacidade de resistên-
O constrangimento ilegal admite tentativa, já que é
cia, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que
ela não manda: crime plurissubsistente; é crime comum, que pode ser
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. praticado por qualquer pessoa.
Além das penas previstas para o constrangimen-
Trata-se de crime comum que não admite a moda- to ilegal, o agente irá responder pelas penas corres-
lidade culposa. É a imposição ilegal à vítima de um pondentes à violência; assim, caso o agente pratique
comportamento certo e determinado, comissivo ou o crime por meio de violência, provocando lesões
omissivo. corporais na vítima, responderá por constrangimen-
Consuma-se o crime de constrangimento ilegal no to ilegal em concurso material com o crime de lesões
instante em que a vítima faz ou deixa de fazer algo, corporais.
em decorrência da violência ou grave ameaça utiliza- A pena será aplicada cumulativamente, nos termos
da pelo agente. Admite tentativa. do § 1º, art. 146, quando, para a execução do crime:

Ação penal: pública incondicionada. z Reúnem-se mais de 3 (três pessoas) – deve haver
no mínimo 4 (quatro) pessoas;
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra- z Há emprego de arma – segundo a doutrina domi-
ta-se de crime comum. nante, pode ser qualquer arma e não necessaria-
Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato mente arma de fogo.
for cometido no exercício de suas funções, responderá
por abuso de autoridade, na forma na Lei 13.869, de Não serão enquadrados como constrangimento
2019. ilegal:
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde
que dotada de capacidade de autodeterminação. Art. 146 [...]
A Lei nº 10.741, de 2003. Estatuto do Idoso, em seu § 3º Não se compreendem na disposição deste
art. 107, pune com reclusão, de 2 a 5 anos, aquele que artigo:
coage, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen-
testar ou outorgar procuração. timento do paciente ou de seu representante legal,
A Lei nº 7.170, de 1983, Crimes contra a Seguran- se justificada por iminente perigo de vida;
ça Nacional, no art. 28, sujeita à pena de reclusão, de II - a coação exercida para impedir suicídio.
4 a 12 anos, a conduta de atentar contra a liberdade
pessoal do Presidente da República, do Senado Fede- Ameaça
ral, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal
Federal. O crime de ameaça, previsto no art. 147 do Códi-
A Lei nº 8.078, de 1990, Código de Defesa do Con- go Penal, irá se configurar quando o agente ameaçar
sumidor, no art. 71, prevê a pena de detenção, de 3 alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer
a 1 ano, e multa, para quem utilizar, na cobrança de outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e
dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou grave.
moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas, ou O bem jurídico tutelado pela lei penal é a liberda-
de qualquer outro procedimento que exponha o con- de da pessoa humana, notadamente no tocante à paz
sumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira de espírito, ao sossego, à tranquilidade e ao sentimen-
com seu trabalho, descanso ou lazer. to de segurança. É a pessoa contra a qual se dirige a
Irá se configurar como constrangimento ilegal
ameaça.
quando o agente constranger alguém, mediante
Consuma-se quando a vítima toma conhecimento
violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
do conteúdo da ameaça, pouco importando sua efe-
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
tiva intimidação e a real intenção do autor em fazer
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer
valer sua promessa.
o que ela não manda.
O crime é formal, de consumação antecipada ou de
Exemplo: Jorge e Luís são vizinhos. Jorge é um
resultado cortado. Basta o agente querer intimidar e
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

valentão que se sente dono do bairro. Certo dia, Luís


passava pela rua, quando Jorge o aborda. Este, por- ter a sua ameaça capacidade para fazê-lo.
tando uma arma de fogo, saca a arma e a aponta para A tentativa é admissível nas hipóteses de ameaça
Luís e diz que, sob pena de levar um tiro no rosto, escrita, simbólica ou por gestos, e incompatível nos
é para este dar meia volta e passar por outro lugar, casos de ameaça verbal.
já que não o quer mais passando por sua rua. Luís, Não se reclama nenhuma finalidade específica, e
temendo por sua vida, dá meia volta e retorna. não se admite a modalidade culposa. A ação penal é
A conduta de Jorge se enquadra no constrangi- pública condicionada à representação.
mento ilegal. Ele, fazendo uso de grave ameaça, cons- É possível verificar que o crime de ameaça é de
trangeu Luís para que ele deixasse de fazer algo que a ação livre, podendo ser praticado de qualquer forma
lei lhe permite (liberdade de locomoção). pelo agente: verbalmente, por escrita, gestualmente,
A doutrina entende corretamente que o crime entre outras formas.
de constrangimento ilegal é subsidiário; o agente Assim, caso um indivíduo olhe para um desafeto
por ele irá responder, caso não seja enquadrado em e faça o gesto de uma arma com a mão e aponte para
uma outra conduta um tanto mais grave. Assim, caso este, o crime de ameaça poderá se configurar. 411
É muito importante compreender que a ameaça Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
está relacionada a um mal “injusto” e “grave”, con- multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
trário ao direito. Caso o agente ameace, por exemplo,
entrar na justiça para cobrar uma dívida (mal justo), Sequestro e Cárcere Privado
ele não irá cometer o crime de ameaça previsto no art. Art. 148 Privar alguém de sua liberdade, mediante
147 do CPB. seqüestro ou cárcere privado:
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado Pena - reclusão, de um a três anos.
por qualquer pessoa. § 1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
Em regra, não cabe tentativa, já que se trata de cri- I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
me unissubsistente, que se consuma com a prática de ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessen-
um único ato; porém, a doutrina majoritária admite ta) anos;
a tentativa se a ameaça for praticada na modalidade II - se o crime é praticado mediante internação da
escrita – por meio de uma carta, por exemplo. vítima em casa de saúde ou hospital;
A doutrina admite a ameaça condicionada, que III - se a privação da liberdade dura mais de quinze
ocorrerá quando o agente colocar uma condição para dias.
a prática do mal injusto e grave. Exemplo: Mévio diz a IV – se o crime é praticado contra menor de 18
Tício: se você não fizer pelo menos um gol na final do (dezoito) anos;
campeonato, eu irei te matar. V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
O crime de ameaça se procede mediante ação § 2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos
penal pública condicionada à representação. ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Perseguição
Antes de iniciarmos o estudo deste crime, é impor-
Trata-se de um recente dispositivo, incluído pela tante entender a diferença entre o sequestro e o cár-
Lei nº 14.132, de 2021, que abrange o crime de perse- cere privado.
guição, conhecido por stalking. No sequestro, ocorre restrição de liberdade da
O crime pode ser praticado por qualquer meio, ou vítima, mas ela não fica necessariamente mantida em
seja, é um crime de forma livre. recinto fechado. Já no cárcere privado, necessaria-
O sujeito, tanto passivo quanto ativo podem ser mente a vítima terá sua liberdade restringida, sendo
qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. mantida em recinto fechado.
O núcleo do tipo penal é o verbo “perseguir”, que Os crimes de sequestro e cárcere privado se confi-
quer dizer: atormentar, importunar. É importante gura quando o agente privar alguém de sua liberdade,
mencionar também a necessidade de reiteração da mediante sequestro ou cárcere privado.
conduta, ou seja, uma sucessão de atos.

Art. 147-A Perseguir alguém, reiteradamente e por Importante!


qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física Quando falamos em cárcere privado, estamos
ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
pensando em confinamento, clausura; já quando
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
falamos em sequestro, estamos considerando
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, limites espaciais mais amplos.
e multa. Ambos consistem na privação da liberdade da
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é vítima, sem o seu consentimento, por tempo
cometido: juridicamente relevante. Podem ser cometidos
I – contra criança, adolescente ou idoso; mediante detenção ou retenção.
II – contra mulher por razões da condição de sexo
feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste
Código; A tentativa é possível, tanto no sequestro como no
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas cárcere privado.
ou com o emprego de arma. O objeto jurídico é a liberdade de locomoção, con-
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí- sistente no direito de ir, vir e permanecer, de toda e
zo das correspondentes à violência. qualquer pessoa humana.
§ 3º Somente se procede mediante representação. Tão relevante é esse direito que a CF/88 prevê o
habeas corpus como garantia para zelar pelo seu res-
Violência Psicológica Contra a Mulher peito sempre que alguém sofrer ou se achar ameaça-
do de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
Outra importante inclusão realizada pela Lei nº locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
14.188, de 2021, foi a tipificação do crime de violência O objeto material é a pessoa humana que suporta
psicológica contra a mulher. Vejamos: a conduta criminosa.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Se, toda-
Art. 147-B Causar dano emocional à mulher que a via, tratar-se de funcionário público no exercício das
prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento suas funções, estará caracterizado o crime de abuso
ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, de autoridade.
comportamentos, crenças e decisões, mediante Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Se a víti-
ameaça, constrangimento, humilhação, manipu- ma for ascendente, descendente, cônjuge, ou compa-
lação, isolamento, chantagem, ridicularização, nheiro do agente, ou pessoa com idade superior a 60
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro (sessenta) anos ou inferior a 18 (dezoito) anos, incide
meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e a figura qualificada (incisos I e IV do § 1º do art. 148
412 autodeterminação: do CP).
Se a vítima for o Presidente da República, do Sena- Trata-se de crime formal, de resultado cortado ou
do Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo de consumação antecipada – consuma-se com a priva-
Tribunal Federal, estará caracterizado crime contra a ção da liberdade, desde que o sujeito deseje praticar
Segurança Nacional (art. 28 da Lei 7.170, de 1983.). atos libidinosos com a vítima, pouco importando se
O elemento subjetivo é o dolo, sem qualquer fina- alcança ou não o fim almejado. Se envolver-se sexual-
lidade específica. Não se admite a modalidade culpo- mente com a vítima, responderá, em concurso mate-
sa. Se o propósito do agente for obter, para si ou para rial, pelo delito em apreço e pelo respectivo crime
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço contra a liberdade sexual, tal como o estupro.
do resgate, o crime será de extorsão mediante seques- O § 2º qualifica o crime se resultar à vítima, em
tro (art. 159 do CP). Se o delito for cometido com fins razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, gra-
ve sofrimento físico ou moral. Estamos diante de crime
libidinosos, incidirá a figura qualificada definida pelo
qualificado pelo resultado. Os maus-tratos consistem
inciso V do § 1º do art. 158 do CP.
na conduta agressiva do agente que ofende a moral, o
O consentimento da vítima, se válido, exclui o
corpo ou a saúde da vítima, sem produzir lesão corpo-
crime. ral. Se ocorrer lesão corporal ou morte haverá concurso
Este crime apresenta formas que o qualificam, material entre o sequestro ou cárcere privado, na for-
vejamos elas. ma simples, e o crime de lesão corporal ou homicídio.
Será qualificado o crime de sequestro e cárcere Por fim, saiba que este crime é comum, poden-
privado (incisos I ao V do § 1º do art. 158 do CP): do ser praticado por qualquer pessoa e permanente
(muito importante que você fique atento à Súmula 711
z Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou do STF – A lei penal mais grave aplica-se ao crime conti-
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) nuado ou ao crime permanente se a sua vigência é ante-
anos: rior à cessação da continuidade ou da permanência).
Ex.: determinado agente pratica vários crimes em
A maior gravidade da conduta repousa no fato continuidade delitiva. Os primeiros atos são praticados
de ter sido o crime praticado no âmbito das relações sob a égide de uma lei anterior menos grave. Os últimos
familiares, no seio da união estável, ou ainda contra atos são praticados sob a vigência de uma lei posterior
pessoa idosa, mais frágil em razão da avançada ida- mais gravosa. Aplica-se ao crime continuado ou crime
de, e, consequentemente, com menor possibilidade de permanente a sob cuja égide tenha cessado a continui-
defesa. dade, isto é, a última lei, mesmo que seja mais grave.

z Se o crime é praticado mediante internação da víti- Redução à Condição Análoga à de Escravo


ma em casa de saúde ou hospital:
Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
Crime conhecido como internação fraudulenta,
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condi-
pode ser praticado por médico ou por qualquer outra ções degradantes de trabalho, quer restringindo,
pessoa. por qualquer meio, sua locomoção em razão de
dívida contraída com o empregador ou preposto:
z Se a privação da liberdade dura mais de 15 (quin- Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além
ze) dias (inciso III); da pena correspondente à violência.

Quanto mais longa a supressão da liberdade, maio- A doutrina classifica-o como crime de ação
res as possibilidades de a vítima sofrer danos físicos e múltipla.
psíquicos. O tipo penal apresenta duas hipóteses equipara-
Trata-se de crime a prazo. O período legalmente das, respondendo o agente com as mesmas penas do
exigido deve ser computado em conformidade com tipo penal principal.
a regra traçada pelo art. 10 do CP, compreendendo o Incorrerá nas mesmas penas aquele que cerceia o
intervalo entre a consumação do delito e a libertação uso de qualquer meio de transporte por parte do tra-
do ofendido. balhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho, e
aquele que mantém vigilância ostensiva no local de
z Se o crime é praticado contra menor de dezoito trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pes-
anos: soais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Aplica-se às hipóteses em que a vítima é criança ou


adolescente e, nesse último caso, impede a utilização da Art. 149 [...]
agravante genérica prevista na alínea “h” do inciso II do § 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído
art. 61 do CP. Não se confunde com o crime tipificado no pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
art. 230 da Lei nº 8.069, de 1990. Estatuto da Criança e do I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte
Adolescente, que apresenta crime menos rigoroso. por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no
local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de
11.12.2003)
z Se o crime é praticado com fins libidinosos:
II – mantém vigilância ostensiva no local de tra-
balho ou se apodera de documentos ou objetos
Esse inciso foi acrescido pela Lei nº 11.106, de 2005, pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no
para suprir a lacuna surgida em razão da revogação local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de
do crime de rapto, que cuidava somente da privação 11.12.2003)
da liberdade de mulher honesta. Atualmente, a qua- § 2º A pena é aumentada de metade, se o cri-
lificadora consiste na privação da liberdade de uma me é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de
pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. 11.12.2003) 413
I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei Vamos exemplificar:
nº 10.803, de 11.12.2003) O agente, aqui no Brasil, realiza recrutamento de
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, mulheres, por meio de fraude, faz propaganda de que
religião ou origem. o objetivo é selecionar modelos para uma determina-
da marca de produtos de beleza e que o trabalho será
Observe o exemplo: Silvio, fazendeiro conhecido na Europa. Porém, as vítimas recrutadas seguem para
no interior de Goiás, coloca como jornada de traba- a Europa e são submetidas à exploração sexual.
lho para os funcionários de sua fazenda a carga horá- Veja que esse crime é comum, podendo ser pratica-
ria de 15 (quinze) horas diárias, pagando a eles um do por qualquer pessoa. Não se exige, também, nenhu-
valor muito pequeno como contraprestação. Silvio se ma condição especial do sujeito passivo do crime.
recusa a fornecer transporte para os trabalhadores Quando há algumas circunstâncias específicas do
irem embora, já que, segundo ele, eles o devem valo- agente ou da vítima e essas condições se encaixam
res referentes à moradia fornecida pela fazenda, não nas hipóteses da lei, a pena do crime de tráfico de pes-
dispondo eles de outra maneira de ir para casa senão soas será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade.
pelo transporte da fazenda. Silvio está cometendo o Vejamos:
tipo penal que estamos estudando.
O crime de redução à condição análoga à de escra- Art. 149-A [...]
vo não admite a modalidade culposa, podendo ser § 1° A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no
praticado apenas dolosamente.
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
É também crime permanente, portanto, sua con- II - o crime for cometido contra criança, adolescente
duta se prolonga no tempo. ou pessoa idosa ou com deficiência;
Vejamos as causas de aumento de pena: III - o agente se prevalecer de relações de parentes-
co, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de
z Contra criança ou adolescente; dependência econômica, de autoridade ou de superio-
z Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, reli- ridade hierárquica inerente ao exercício de emprego,
gião ou origem. cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do ter-
Tráfico de Pessoas ritório nacional.

Irá praticar o crime de tráfico de pessoas o agen- Por fim, para encerramos os estudos dos crimes
te que agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transfe- contra a liberdade pessoal, é importante mencionar
rir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave que o crime de tráfico de pessoas apresenta causa de
ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a fina- diminuição de pena, desde que o agente preencha os
2 (dois) requisitos, que são cumulativos.
lidade de remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do cor-
A pena é reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois ter-
po; submetê-la a trabalhos em condições análogas à de
ços) se o agente:
escravo; submetê-la a qualquer tipo de servidão; ado-
ção ilegal ou exploração sexual (incisos I ao V do art.
z For primário;
149-A do CP).
z Não integrar organização criminosa.
O tipo penal de tráfico de pessoas é misto alterna-
tivo, podendo ser praticado mediante a execução de
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO
qualquer um dos seus 8 (oito) verbos.
DOMICÍLIO
Importante levar em consideração que, para com-
preender este tipo penal, é importante conhecer os
Violação de Domicílio
verbos, os meios empregados para a prática do crime
e as finalidades. Art. 150 Entrar ou permanecer, clandestina ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
MEIOS tácita de quem de direito, em casa alheia ou em
VERBOS FINALIDADES
EMPREGADOS suas dependências:
Remover órgãos, Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
tecidos ou § 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em
partes do corpo lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de
arma, ou por duas ou mais pessoas:
Agenciar Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
Submeter a
Aliciar trabalhos em pena correspondente à violência.
Grave Ameaça condições
Recrutar O agente que entrar ou permanecer, clandesti-
Violência análogas à de
Transportar escravo na ou astuciosamente, ou contra vontade expressa
Coação ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em
Transferir Submeter a suas dependências irá cometer o crime de violação de
Fraude
Comprar qualquer tipo de domicílio.
Abuso servidão O crime de violação de domicílio é crime de mera
Alojar conduta, já que a lei descreve a conduta, mas não
Adotar descreve resultado naturalístico; é, também, crime
Acolher
ilegalmente comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
Tutela-se, nesse crime, a tranquilidade doméstica,
Explorar abrangente da intimidade, da segurança e da vida pri-
414 sexualmente vada proporcionadas pelo domicílio.
A incriminação da violação de domicílio não pro- Há atipicidade, por ausência de dolo, nas condutas
tege a posse ou a propriedade. de entrar em casa alheia para esconder-se da polícia ou
Não configura o delito em análise o ingresso em casa quando o sujeito supõe ingressar em local diverso do proi-
abandonada ou desabitada, podendo restar caracteriza- bido (erro de tipo). Não se admite a modalidade culposa.
do o crime de esbulho possessório, previsto no inciso II do Crime de mera conduta ou de simples atividade.
§ 1º do art. 161 do CP (crime contra o patrimônio). Consuma-se quando o sujeito ingressa completa-
mente na casa da vítima, ou então quando, ciente de
que deve sair do local, não o faz por tempo juridica-
Importante! mente relevante. É imprescindível a entrada concreta
em casa alheia.
Casa desabitada não deve ser confundida com casa
Cabe tentativa? É possível na conduta “entrar”
na ausência de seus moradores, pois nesse caso é
(crime comissivo), e incabível no núcleo “permane-
possível o crime de violação de domicílio, uma vez cer” (crime omissivo próprio ou puro).
que subsiste a proteção da tranquilidade doméstica. Este crime apresenta forma qualificada:

Quanto ao objetivo material, é o domicílio invadido, z Durante a noite;­


que suporta a entrada ou permanência de alguém, clan- z Em lugar ermo;
destina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa z Com o emprego de violência ou de arma;
ou tácita de quem de direito. z Por 2 (duas) ou mais pessoas.
Verifica-se que é necessário que a conduta seja prati-
cada clandestina ou astuciosamente, ou contra a vonta- Os patamares mínimo e máximo da pena do crime
de expressa ou tácita de quem de direito. Se presente o serão alterados (de 1 a 3 meses para 6 meses a 2 anos)
consentimento do morador, explícito ou implícito, o fato se praticado em uma das hipóteses previstas.
é atípico. Observe o que o Código Penal diz sobre a expres-
Entrar ou permanecer clandestinamente em casa são “casa”.
alheia ou em suas dependências significa fazê-lo de for-
ma oculta, sem se deixar notar pela vítima. Por sua vez, Art. 150 [...]
entrar ou permanecer astuciosamente consiste em con- § 4º A expressão “casa” compreende:
duta fraudulenta, maliciosa. I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
Entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas
III - compartimento não aberto ao público, onde
dependências contra a vontade expressa ou tácita de
alguém exerce profissão ou atividade.
quem de direito enseja a entrada ou permanência fran-
cas. Nesses casos, o dissentimento de quem de direito
A expressão “casa” não compreende:
pode ser expresso ou tácito.
Sobre o sujeito ativo, o crime é comum, podendo ser
Art. 150 [...]
praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo proprietá-
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”:
rio do bem, quando entra ou permanece na residência I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
ocupada pelo inquilino contra sua vontade expressa ou ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
tácita. n.º II do parágrafo anterior;
O Código Penal não protege a propriedade nem a pos- II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
se indireta do locador.
O locatário, possuidor direto do imóvel, não é ofendi- Para encerrarmos o assunto violação de domicílio,
do em sua posse, e sim em sua tranquilidade doméstica. A por fim, veremos os casos em que, mesmo com a vio-
serviçal que permite o ingresso do amante em seu quarto lação, o fato não irá constituir crime.
pratica o crime em concurso com ele.
O divorciado pode cometer o crime ao entrar ou Art. 150 [...]
permanecer na residência do seu ex-cônjuge contra sua § 3º Não constitui crime a entrada ou permanência
vontade. em casa alheia ou em suas dependências:
Não há crime quando uma mulher, na ausência do seu I - durante o dia, com observância das formalidades
marido, permite a entrada do amante em sua residência. legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
Vejamos, o sujeito passivo é o titular do direito à II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando
tranquilidade doméstica. algum crime está sendo ali praticado ou na iminên-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É o “quem de direito”, o sujeito que tem o poder de cia de o ser.


admitir ou excluir alguém da sua casa, pouco impor-
tando seja ou não seu proprietário. Em concurso de crimes: a caracterização do delito
Pode ser: reclama que tenha o agente, como finalidade própria, o
ingressado ou permanecido em casa alheia, e nada mais
z Uma pessoa a quem os demais habitantes da casa do que isso.
estão subordinados (regime de subordinação); Quando assim atua como meio de execução de outro
z Diversas pessoas, habitantes da mesma residência, crime mais grave, a violação de domicílio fica absorvida
em relação isonômica (regime de igualdade). (princípio da consunção).
Subsiste o crime de violação de domicílio quando há
O elemento subjetivo desse crime é o dolo, abran- dúvida acerca do verdadeiro propósito do agente e quan-
gente do elemento normativo “contra a vontade do caracteriza desistência voluntária, pois o agente só res-
expressa ou tácita de quem de direito”. ponde pelos atos praticados.
O crime é incompatível com o dolo eventual. Ação penal: pública incondicionada. 415
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE Para caracterização do crime não basta ao agen-
CORRESPONDÊNCIA te devassar o conteúdo de correspondência fechada
dirigida a outrem. É preciso que o faça indevidamen-
Violação de Correspondência te, sem ter o direito de tomar conhecimento do seu
conteúdo.
Observe: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois se
trata de crime comum.
Art. 151 Devassar indevidamente o conteúdo de cor-
Incidirá uma agravante genérica se o crime for
respondência fechada, dirigida a outrem:
cometido por pessoa prevalecendo-se do cargo, ou em
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
abuso da função.
É imprescindível que o sujeito pratique o fato em
O caput do art. 151 do CP foi revogado pelo caput do
art. 40 da Lei 6.538, de 1978, que regula os serviços postais: decorrência do cargo ou função específica por ele
desempenhada, relativa ao serviço postal.
Art. 40 Devassar indevidamente o conteúdo de corres- Detalhe, para ser sujeito passivo, observamos que
pondência fechada dirigida a outrem: há duas vítimas: o remetente e o destinatário.
Pena - detenção, até seis meses, ou pagamento não Exclui-se o crime se qualquer um deles autorizar
excedente a vinte dias-multa. o conhecimento do conteúdo da correspondência por
terceira pessoa. Enquanto não chega ao destinatário,
A lei penal, por objeto jurídico, tutela a liberdade de pertence unicamente ao remetente.
comunicação do pensamento, concretizada pelo sigilo da Vejamos alguns pontos importantes:
correspondência.
É a correspondência, objeto material, por exem- z A impossibilidade de localização do destinatário
plo carta, bilhete, telegrama etc., violada pela conduta não afasta o crime;
criminosa. z O falecimento do remetente não exclui o delito;
A correspondência pode ser particular ou oficial, pou- z Se a correspondência ainda não foi enviada, e
co importando que esteja ou não redigida em português. sobreveio sua morte, seus herdeiros têm o direi-
Exige-se, porém, que se trate de idioma conhecido, pois, to de conhecer seu conteúdo, pois ela agora lhes
na hipótese de ser veiculada por códigos incompreensí- pertence;
veis e indecifráveis, haverá crime impossível por absolu- z Se o destinatário falece antes de receber a corres-
ta impropriedade do objeto (art. 17 do CP). pondência, seus sucessores poderão conhecer seu
A lei penal protege a correspondência fechada, pois conteúdo, que provavelmente a eles interessa.
somente esta contém em seu interior um segredo. É preci-
so que seja a correspondência endereçada a destinatário O crime de violação de correspondência é dolo-
específico. so, abrange a ilegitimidade da conduta de devassar a
Não há crime de violação de correspondência: correspondência alheia. Não se admite a modalidade
culposa.
z Conduta do sujeito que lê uma carta cujo envelope Se a finalidade do agente for praticar espionagem
está aberto; contrária à Segurança Nacional, serão aplicáveis o
z Correspondências cujos envelopes possuem a expres- caput do art. 13 e o art. 14 da Lei nº 7.170, de 1983,
são “este envelope pode ser aberto pela Empresa de
conforme o caso.
Correios e Telégrafos”;
O crime de violação de correspondência se
z Aquele que abre uma carta que encontrou e estava
consuma com o conhecimento do conteúdo da
perdida há décadas em lugar público;
correspondência.
z Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos eleito-
É possível a tentativa.
res em geral, aos amantes do futebol etc.;
Pena e causa de aumento de pena estão, respectiva-
z Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas
mente, cominadas e descritas na Lei nº 6.538, de 1978.
aos filhos menores;
A pena cominada é detenção, de até seis meses, ou
z Ao diretor do estabelecimento prisional é assegurado
o direito de acessar o conteúdo de correspondências pagamento não excedente a vinte dias-multa
suspeitas remetidas aos presos (inciso XV e parágrafo O juiz pode aplicar a pena de 1 (um) dia a 6 (seis)
único do art. 41 da Lei de Execução Penal); meses de detenção.
z Quando um dos cônjuges abre correspondências Por sua vez, a pena de multa parte do mínimo legal,
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em de 10 (dez) dias-multa, nos termos do caput do art. 49
face do exercício regular de direito. do CP e vai até o máximo de 20 (vinte) dias-multa.
As penas são aumentadas da metade quando há
Devassar significa tomar conhecimento de algo dano a outrem. Esse dano pode ser econômico ou
proibido. O sigilo da correspondência é inviolável, por moral, e o prejudicado pode ser o remetente, o desti-
expressa disposição constitucional (inciso XII do art. 5º). natário ou mesmo um terceiro.
A devassa pode ser efetuada por qualquer meio; A ação penal é pública condicionada à representação.
embora seja o método mais comum, não é obrigatória a Tratando-se de crime de dupla subjetividade pas-
abertura da correspondência – o sujeito pode conhecer siva (remetente e destinatário), o direito de represen-
o conteúdo de uma carta apalpando o objeto que está tação pode ser exercido tanto pelo remetente como
em seu interior, por exemplo, dinheiro, cartão bancário, pelo destinatário da correspondência. Se um deles
objetos de valor. quiser representar, e o outro não, prevalece a vontade
Assim, também pode praticar o delito o agente pode daquele que deseja autorizar a instauração da perse-
416 inteirar-se do seu conteúdo sem abri-la. cução penal.
Sonegação ou Destruição de Correspondência A primeira parte do inciso II do § 1º do art. 151 do
CP está em vigor unicamente nas hipóteses em que a
Observe: violação é efetuada por pessoas comuns.
Aplica-se o § 1º do art. 56 da Lei nº 4.117, de 1962,
Art. 151 [...] Código Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóte-
§ 1º Na mesma pena incorre: ses em que a violação é praticada por funcionário do
I - quem se apossa indevidamente de correspondên-
governo encarregado da transmissão da mensagem.
cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em
A parte final do inciso II do § 1º do art. 151 do CP foi
parte, a sonega ou destrói;
derrogada pela Lei nº 9.296, de 1996, que regulamenta
a parte final do inciso XII do art. 5º da CF/88.
O inciso I do § 1º do art. 151 do Código Penal foi
A Lei nº 9.296, de 1996, Interceptação Telefônica,
revogado pelo § 1º do art. 40 da Lei nº 6.538, de 1978.
criou um tipo penal específico para a violação do sigi-
É preciso que a correspondência seja endereçada a
lo telefônico no art. 10, dispondo que constitui crime
destinatário específico.
realizar interceptação de comunicações telefônicas, de
O crime previsto no § 1º do art. 40 da Lei 6.538/1978
informática ou telemática, promover escuta ambiental
é crime autônomo em relação ao caput. As penas
ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial
alternativas cominadas em abstrato são as mesmas do
ou com objetivos não autorizados em lei.
delito de violação de correspondência, mas o legisla-
O dispositivo continua aplicável ao terceiro que
dor utilizou outro núcleo e inseriu novas elementares.
não interveio na interceptação telefônica criminosa,
O objeto jurídico é a inviolabilidade da correspon-
mas divulgou-a a outras pessoas.
dência, no sentido de ser preservada pelo seu titular
Esse inciso II tem como núcleo divulgar, transmi-
até quando reputar conveniente.
tir e utilizar, tipo misto alternativo. A prática de mais
Tem como objetivo material a correspondência
de uma conduta visando igual objeto material carac-
alheia, mas agora retirada da esfera de disponibilida-
de do seu titular. teriza crime único.
Pode, no entanto, estar aberta ou fechada, uma Divulgar é tornar algo público, dando conheci-
vez que a conduta consiste em apossar-se da corres- mento do seu conteúdo a outras pessoas.
pondência para sonegá-la ou destruí-la, indevidamen- Transmitir significa enviar de um local para outro.
te, e não para tomar conhecimento ilegítimo do seu Utilizar é fazer uso de algo.
conteúdo.
A conduta consiste em se apossar de correspon-
dência alheia, ainda que aberta, para sonegá-la ou
Importante!
destruí-la, no todo ou em parte. Na hipótese de um terceiro concorrer de qual-
A modalidade desse crime é o dolo, abrangente da quer modo para a interceptação telefônica ilegal,
ilegitimidade da conduta de apossar-se de correspon- será partícipe do crime definido pelo art. 10 da
dência alheia, com a exigência da finalidade específi- Lei 9.296/1996. Se tiver ciência de uma gravação
ca de sonegá-la ou destruí-la. oriunda de violação telefônica indevida, e divul-
É possível a tentativa.
gá-la, a ele será imputado o crime definido pelo
Causa de aumento da pena:
inciso I do § 1º do art. 151 do CP.
Art. 151 [...]
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano A modalidade do crime prevista no inciso III do §
para outrem.
3º do art. 151 do CP está em vigor.
A figura do inciso III é impedir, obstruir a comu-
O dano pode ser econômico ou moral, e o prejudi- nicação ou conversação telegráfica, radioelétrica
cado pode ser o remetente, o destinatário ou mesmo ou telefônica. Pune-se o indivíduo que, sem amparo
um terceiro. legal, não deixa ser realizada a comunicação ou con-
Por se tratar de crime de dupla subjetividade passi- versação alheia.
va, o direito de representação pode ser exercido tanto
O inciso IV do § 1º do art. 151 do CP foi substituído
pelo remetente como pelo destinatário da correspon-
pelo art. 70 da Lei nº 4.117, de 1962, Código Brasileiro
dência. Se um deles quiser representar, e o outro não,
de Telecomunicações.
prevalece a vontade daquele que deseja autorizar a
A finalidade da lei é vedar a uma pessoa, sem auto-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

instauração da persecução penal.


rização legal, a instalação ou utilização de aparelho
clandestino de telecomunicações.
Violação de Comunicação Telegráfica, Radioelétrica
Nesse crime, tem-se por objeto jurídico o sigilo da
ou Telefônica
comunicação transmitida pelo telégrafo, pelo rádio e
pelo telefone.
Art. 151 [...]
O objeto material é a comunicação telegráfica ou
§1º [...]
radioelétrica dirigida a terceiro, ou a conversação
II - quem indevidamente divulga, transmite a
outrem ou utiliza abusivamente comunicação tele- telefônica entre pessoas indevidamente divulgada,
gráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou con- transmitida a outrem ou utilizada abusivamente.
versação telefônica entre outras pessoas; O crime é de modalidade dolosa. Quanto à utiliza-
III - quem impede a comunicação ou a conversação ção de comunicação telegráfica ou radioelétrica, exi-
referidas no número anterior; ge-se que o sujeito cometa o fato abusivamente, isto
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho é, com a consciência de abusar quanto ao uso indevi-
radioelétrico, sem observância de disposição legal. do da mensagem. 417
Sobre a consumação, observa-se que no tipo pre- A conduta de abusar se concretiza mediante o ato
visto no inciso II ocorre com a divulgação, transmis- de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
são ou utilização abusiva. A divulgação necessita do suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu
conhecimento do conteúdo da comunicação por um conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação, por exem-
número indeterminado de pessoas. plo, abrir uma carta, ou por omissão, por exemplo, dei-
A ação penal na hipótese do inciso I é pública xar uma correspondência ser destruída pela chuva.
incondicionada. Nas hipóteses dos incisos II e III, é Desviar é afastar a correspondência do seu real
pública condicionada à representação. Já para o pre- destino.
Sonegar é esconder, no sentido de obstar a che-
visto no inciso IV, é pública incondicionada.
gada da correspondência ao correto estabelecimento
As penas aumentam-se de metade, se há dano para
comercial ou industrial.
outrem. Subtrair é apoderar-se da correspondência comer-
cial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu
Art. 151 [...] envio ao destino original. Suprimir é destruir para
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano que a correspondência não seja entregue em seu des-
para outrem tino, ou para que seja retirada do estabelecimento
comercial ou industrial para o qual foi encaminhada.
As penas, em todas as hipóteses, aumentam-se de Revelar é permitir o acesso ao conteúdo da correspon-
metade, se há dano para outrem. dência do estabelecimento comercial ou industrial a
Esse dano pode ser econômico ou moral, e perti- quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha o
nente a qualquer pessoa. direito de conhecer o que nela se contém.
Sobre o sujeito ativo, somente pode ser o sócio ou
Art. 151 [...] empregado do estabelecimento comercial ou indus-
§ 3º Se o agente comete o crime, com abuso de fun- trial, por ser crime próprio.
ção em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou Já o sujeito passivo é o estabelecimento comercial
telefônico: ou industrial titular da correspondência violada.
Pena - detenção, de um a três anos. Esse crime é praticado na modalidade dolosa. Exi-
ge-se também um especial fim de agir, representa-
Aplicável às hipóteses não revogadas pela Lei nº do pela intenção de abusar da condição de sócio ou
4.117, de 1962, Código Brasileiro de Telecomunica- empregado. É necessário ter o agente, ao tempo da
ções, e pela Lei nº 6.538, de 1978, Serviços Postais. conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar
condição em relação à vítima.
A incidência da figura qualificada só será cabível
Não se admite a modalidade culposa.
quando o sujeito ativo desempenhar alguma função
O crime é formal, de consumação antecipada ou
em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefô-
de resultado cortado. Consuma-se quando o agente
nico, e dela abusar. desvia, sonega, subtrai ou suprime a correspondên-
Exige-se a relação de causalidade entre a fun- cia comercial, ou então quando revela a terceiro seu
ção exercida abusivamente pelo agente e o delito conteúdo.
praticado. É possível a tentativa.
Quanto à qualificadora, a ação penal é pública A ação penal é pública condicionada à representação.
incondicionada.
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
Correspondência Comercial SEGREDOS

Art. 152 Abusar da condição de sócio ou emprega- Observamos que o inciso X do art. 5º da CF/88 é
do de estabelecimento comercial ou industrial para, responsável por assegurar a inviolabilidade de dois
no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou direitos fundamentais do ser humano: honra e vida
suprimir correspondência, ou revelar a estranho privada.
seu conteúdo: Reserva-se a toda pessoa o direito de manter segre-
Pena - detenção, de três meses a dois anos. do acerca de fatos afetos à sua vida privada. Nessa
Parágrafo único. Somente se procede mediante seara, a norma constitucional resguarda os segredos
representação. pessoais.
De fato, um segredo inerente a alguém, quando
O objeto jurídico desse crime é a inviolabilidade divulgado ou revelado sem justa causa, tem o condão
de correspondência. A lei penal tutela a liberdade de de acarretar sérios danos às pessoas em geral.
comunicação do pensamento transmitida por meio de Vejamos, o Código Penal, nos arts. 153 e 154, res-
correspondência comercial. guarda o conhecimento público segredos cuja revela-
É o objeto material é a correspondência comercial ção possa produzir danos a uma pessoa.
que suporta a conduta criminosa. No conceito de cor- Não ingressa na proteção penal, consequentemen-
respondência comercial se encaixa toda e qualquer te, a punição pela revelação ou divulgação de fatos
carta, bilhete ou telegrama inerente à atividade mer- secretos incapazes de proporcionar consequências
cantil. Deve relacionar-se às atividades exercidas pelo jurídicas ao seu titular.
estabelecimento comercial ou industrial. Secreto é o fato da vida privada que se tem interes-
O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar de se em ocultar.
forma excessiva ou inadequada. Pressupõe dois elementos:
Os sócios ou empregados, no exercício de suas
atividades, geralmente têm acesso a informações z Negativo – ausência de notoriedade;
contidas em correspondências endereçadas ao esta- z Positivo – vontade determinante de sua custódia ou
418 belecimento comercial ou industrial. preservação.
Crimes contra a inviolabilidade de correspon- Sujeito passivo é aquele a quem a divulgação do
dência: o legislador busca coibir o conhecimento segredo possa produzir dano, remetente, destinatário
do conteúdo de uma missiva sem autorização para ou qualquer outra pessoa.
tanto; tutela-se unicamente a inviolabilidade de Esse crime é praticado na modalidade dolosa.
correspondência. Não se admite a forma culposa.
Crimes contra a inviolabilidade dos segredos: pro-
Consuma-se no instante em que o segredo é divul-
tege-se um segredo nela contido, capaz de, se divulga-
gado para um número indeterminado de pessoas.
do ou revelado, causar danos a outrem. Além disso, o
bem jurídico resguardado pela lei penal é a inviolabi- É possível a tentativa.
lidade dos segredos.
Art. 153 [...]
Divulgação de Segredo § 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigi-
losas ou reservadas, assim definidas em lei, conti-
Art. 153 Divulgar alguém, sem justa causa, conteú- das ou não nos sistemas de informações ou banco
do de documento particular ou de correspondência de dados da Administração Pública:
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
cuja divulgação possa produzir dano a outrem: multa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de
trezentos mil réis a dois contos de réis. A qualificadora, denominada de divulgação de
§ 1º Somente se procede mediante representação. sigilo funcional de sistemas de informações, foi ins-
tituída pela Lei Nº 9.983, de 2000, com o fim de tutelar
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade
as informações sigilosas ou reservadas de interesse
ou da vida privada. Veda-se a divulgação de segredos
da Administração Pública, notadamente as relativas à
cujo conhecimento por terceiros pode trazer prejuízos
ao seu titular. Previdência Social.
O objeto material é o conteúdo secreto de docu- É necessário que a informação sigilosa ou reserva-
mento particular ou de correspondência confidencial. da tenha conteúdo material.
Vejamos que o núcleo do tipo é divulgar, vulgari- Logo, não há crime quando se tratar de informação
zar, tornar público ou conhecido um fato ou informa- meramente verbal, ainda que sigilosa ou reservada.
ção. Não basta a comunicação a uma só pessoa ou a
um número reduzido e limitado, exige-se propagação,
difusão, possibilitando o conhecimento do fato a um Importante!
número indeterminado de pessoas.
A conduta de divulgar pode ser praticada por Informações são os dados sobre alguém ou algo.
variados meios – crime de forma livre. Veda-se que Sigilosa é a informação confidencial, secreta.
uma pessoa, destinatária de um documento particular Reservada é a informação merecedora de cuida-
ou de uma correspondência confidencial, possa divul- dos especiais relativamente às pessoas que dela
gá-la a terceiros, provocando danos a alguém. possam ter ciência.
Esse tipo penal não se aplica ao documento públi-
co, por ausência de previsão legal. A revelação do seu
conteúdo pode, contudo, caracterizar o crime de vio- Trata-se de crime comum: pode ser praticado por
lação de sigilo funcional, previsto no art. 325 do CP. qualquer pessoa.
O elemento do tipo está contido na expressão sem Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele será
justa causa. Não é qualquer divulgação de conteúdo
imputado o crime de violação de sigilo funcional, con-
de documento particular ou de correspondência con-
forme art. 325 do CP.
fidencial que caracteriza o delito de divulgação de
segredo – a divulgação deve ser realizada sem justa O sujeito passivo é o Estado.
causa. Nada impede a existência de um particular como
A justa causa conduz à exclusão da tipicidade sujeito passivo, desde que possa ser prejudicado pela
do fato. Há justa causa, entre outras, nas seguintes divulgação das informações sigilosas ou reservadas.
hipóteses:
Art. 153 [...]
z Comunicação à autoridade policial, ao Ministério § 2° Quando resultar prejuízo para a Administra-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Público ou ao Poder Judiciário de infração penal; ção Pública, a ação penal será incondicionada.
z Consentimento do interessado, para servir de pro-
va da existência de uma infração penal ou de sua No caput, a ação penal é pública condicionada à
autoria; representação.
z Dever de testemunhar em juízo; Não se aplica a regra prevista no § 2º do art. 153
z Defesa de interesse legítimo. do CP, pois o tipo fundamental fala somente em dano
a outrem, excluindo, portanto, a eficácia penal da con-
Também não há crime quando alguém entrega à
duta criminosa em relação à Administração Pública.
autoridade policial, ao Ministério Público ou à autori-
Na figura qualificada, em regra, é pública condicio-
dade judiciária uma missiva recebida de outrem, con-
tendo a confissão de um delito pelo verdadeiro autor. nada à representação.
Por se tratar de crime próprio, observa-se que Nesse caso, somente o particular é ofendido pela
o sujeito ativo somente pode ser o destinatário ou conduta criminosa. No entanto, se do fato resultar
detentor do documento particular ou correspondên- prejuízo para a Administração Pública, a ação penal
cia de conteúdo confidencial. será pública incondicionada. 419
Violação do Segredo Profissional Os dispositivos informáticos dividem-se basica-
mente em quatro grupos:
Acompanhe o que dispõe o art. 154:
z Dispositivos de processamento: são responsá-
Art. 154 Revelar alguém, sem justa causa, segredo, veis pela análise de dados, com o fornecimento
de que tem ciência em razão de função, ministério, de informações, visando a compreensão de uma
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir informação do dispositivo de entrada para envio
dano a outrem: aos dispositivos de saída ou de armazenamen-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa to. Exemplos: placas de vídeo e processadores de
de um conto a dez contos de réis. computadores e smartphones;
Parágrafo único. Somente se procede mediante z Dispositivos de entrada: relacionam-se à capta-
representação. ção de dados escritos, orais ou visuais (exemplos:
teclados, microfones e webcam);
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade z Dispositivos de saída: fornecem uma interface des-
e da vida privada das pessoas, relativamente ao segre- tinada ao conhecimento ou captação, para outros
do profissional. O dever de guardá-lo, contudo, não é dispositivos, da informação escrita, oral ou visual
absoluto. produzida no processamento (exemplos: impres-
Já o objeto material é o assunto transmitido ao pro- soras e monitores);
fissional em caráter sigiloso. z Dispositivos de armazenamento: dizem respeito
O núcleo do tipo é revelar, no sentido de delatar à guarda de dados ou informações para posterior
análise (exemplos: pendrives, HDs – hard disks e
ou denunciar.
CDs – discos compactos).
O crime é de forma livre, comportando qualquer
meio de execução.
Só há crime quando a conduta recai em dispositivo
Por ser crime próprio, somente pode ser cometido informático alheio.
por quem teve conhecimento do segredo em razão de O fato será atípico quando o sujeito devassa um
sua função, ministério, ofício ou profissão. dispositivo próprio, ainda que não esteja sob sua pos-
Qualquer pessoa está suscetível a ser sujeito pas- se. É irrelevante se o dispositivo informático alheio se
sivo prejudicado pela revelação do segredo, seja seu encontra ou não conectado à rede de computadores.
titular ou até mesmo um terceiro. Não se exige sua interligação com outro disposi-
Esse crime é praticado na modalidade dolosa, tivo informático, possibilitando o compartilhamento
abrangente da ciência da ilegitimidade da conduta de dados ou informações. O núcleo do tipo é invadir,
e da possibilidade de causar dano a outrem. Não se no sentido de devassar dispositivo informático alheio,
admite a modalidade culposa, e não se exige nenhu- conectado ou não à rede de computadores.
ma finalidade específica. Por se tratar de crime comum ou geral, o sujeito
Consuma-se no instante em que o confidente ativo pode ser cometido por qualquer pessoa. Embora
necessário revela a terceira pessoa o segredo de que esta condição não seja exigida pelo tipo penal, nor-
malmente o crime é praticado por sujeitos dotados de
tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou
especiais conhecimentos de informática, conhecidos
profissão. Basta seja contado o conteúdo do segredo
como crackers.
a uma única pessoa, desde que esta conduta possa
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física
causar dano a alguém, patrimonial ou moral. Prescin- ou jurídica.
de-se da produção do resultado naturalístico. O cri- Esse crime é praticado na modalidade dolosa,
me é formal, de resultado cortado ou de consumação acrescido de um especial fim de agir representado
antecipada. pela expressão e com o fim de obter, adulterar ou des-
É admissível a tentativa na revelação do segredo truir dados ou informações sem autorização expressa
por escrito, tal como na carta que se extravia (delito ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnera-
plurissubsistente). bilidades para obter vantagem ilícita.
É pública condicionada à representação, a teor do Consuma-se com o simples ato de invadir dispo-
parágrafo único do art. 154 do CP. sitivo informático alheio, conectado ou não à rede
de computadores, mediante violação indevida de
Invasão de Dispositivo Informático mecanismo de segurança, com a finalidade de obter,
adulterar ou destruir dados ou informações sem auto-
Art. 154-A Invadir dispositivo informático alheio, rização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou
conectado ou não à rede de computadores, median- instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita,
te violação indevida de mecanismo de segurança e pouco importando se este objetivo vem a ser efetiva-
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou mente alcançado.
informações sem autorização expressa ou tácita do É possível a tentativa, em face do caráter pluris-
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades subsistente do delito, permitindo o fracionamento do
para obter vantagem ilícita: iter criminis.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa. Art. 154-A [...]
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa
O objeto jurídico é a liberdade individual, especi- de computador com o intuito de permitir a prática
ficamente no tocante à inviolabilidade dos segredos. da conduta definida no caput.
E o objeto material é o dispositivo informático alheio, § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se
420 conectado ou não à rede de computadores. da invasão resulta prejuízo econômico.
Cuida-se de causa de aumento da pena, a ser uti- Isso é justificado pela disponibilidade do interesse
lizada na terceira e última fase da aplicação da pena atacado pelo delito, vinculado precipuamente à esfera
privativa de liberdade. de intimidade da vítima.
Diversos fatores podem proporcionar o prejuízo Reserva-se ao ofendido ou ao seu representante
econômico: divulgação de informações capazes de a oportunidade (ou conveniência) para autorizar ou
macular a honra da vítima, tempo de trabalho neces- não o início da persecução penal.
sário para a reprodução dos dados ou informações Excepcionalmente, a ação penal será pública
destruídos ou adulterados, valores gastos para livrar incondicionada, nas hipóteses em que o delito envol-
o dispositivo informático de vírus etc. ver a Administração Pública, pois nesses casos há
Em qualquer dos casos, a elevação da pena será ofensa a valores de natureza indisponível.
obrigatória.
REFERÊNCIAS
Art. 154-A [...]
§ 3° Se da invasão resultar a obtenção de conteú- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol . 1,
do de comunicações eletrônicas privadas, segredos 19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
comerciais ou industriais, informações sigilosas,
CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrimes – Lei
assim definidas em lei, ou o controle remoto não
13.964/2019: Comentários às Alterações no CP, CPP
autorizado do dispositivo invadido:
e LEP. Salvador: Juspodium, 2020.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa, se a conduta não constitui crime mais grave. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal
esquematizado: parte especial. 6ª ed. São Paulo:
A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa, Saraiva, 2016.
se a conduta não constitui crime mais grave. JESUS, Damásio de. Código Penal Anotado. 22ª.
Evidentemente, não há crime se existia permissão Ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
para tanto, como ocorre nos computadores instalados MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª.
em escolas infantis, pelos quais os pais acompanham à Ed. São Paulo: Método, 2014.
distância as atividades desenvolvidas pelos seus filhos.

Art. 154-A [...]


§ 4° Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
dois terços se houver divulgação, comercialização
ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos FURTO
dados ou informações obtidos.
Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa
Aplica-se unicamente à modalidade qualificada alheia móvel:
prevista no § 3º do art. 154-A. Nesse caso, o exauri- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
mento justifica a maior severidade no tratamento
penal. A divulgação, comercialização ou transmissão O primeiro crime contra o patrimônio é o furto.
a terceiro, embora normalmente envolva alguma Em síntese, o crime de furto é definido por ser
contraprestação, pode ser gratuita, pois o legislador a subtração de coisa alheia móvel para si ou para
empregou a expressão “a qualquer título”. outrem.
Aumenta-se a pena de um terço à metade se o cri- Há o furto (art. 155, do CP) e o furto de coisa comum
me for praticado contra: (art. 156).
Sobre o bem jurídico, não há consenso na doutri-
z Presidente da República, governadores e prefeitos; na, vejamos:
z Presidente do Supremo Tribunal Federal;
z Presidente da Câmara dos Deputados, do Sena-
z Somente a propriedade (Hungria);
do Federal, de Assembleia Legislativa de Estado,
z A propriedade e a posse (Nucci; Greco; Masson);
da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de
z A propriedade, a posse e a detenção (Mirabete;
Câmara Municipal;
Delmanto; Bitencourt).
z Dirigente máximo da administração direta e indi-
reta federal, estadual, municipal ou do Distrito
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima,
Federal.
passando-a ao poder do agente. Pode ocorrer por apo-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

deramento direto, quando o agente apreende a coisa


z Ação Penal
manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipó-
tese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal.
Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A,
somente se procede mediante representação, sal-
vo se o crime é cometido contra a administração z Coisa: refere-se a tudo aquilo que possui existên-
pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes cia de natureza corpórea;
da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios z Coisa alheia: significa pertencente a outrem.
ou contra empresas concessionárias de serviços
públicos. A coisa sem dono não é objeto de furto.
Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a
No crime de invasão de dispositivo informático, subtração de coisa própria, mesmo que em poder de
em regra, a ação é pública condicionada à represen- terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito
tação do ofendido ou de quem tiver qualidade para no art. 346, do CP, ou o crime de furto de coisa comum
representá-lo. (art. 156, do CP). 421
Não há furto de coisa abandonada, pois não inte- A lei tutela a propriedade e a posse. A simples
gra o patrimônio de ninguém. detenção não configura o crime de furto.
Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode- Sobre a consumação deste crime, é importan-
-se configurar o crime do inciso II, § único, art. 169, te conhecer o posicionamento adotado pelas cortes
do CP. superiores (STF e STJ).
Sobre o valor afetivo, para alguns autores (como Os tribunais superiores adotam a teoria da
Damásio e Rogério Greco), coisa de valor afetivo ou apprehensio, também chamada de amotio, que consi-
sentimental também pode ser objeto material de furto. dera consumado o crime de furto (e isso vale para o
Segundo Hungria, “a coisa subtraída deve represen- crime de roubo) quando o agente se apossa da coisa
tar para o dono, se não um valor reduzível a dinheiro, alheia móvel, mesmo que por um breve período de
pelo menos uma utilidade (valor de uso), seja qual for, tempo, não sendo necessário que a coisa saia da área
de modo que possa ser considerada como integrante de vigilância da vítima.
do seu patrimônio”. Um questionamento oportuno é verificar se o bem
subtraído deve ter valor econômico, ou seja, se o obje-
Em sentido contrário, uma parcela da doutrina
to material pode ser negociável.
(Nucci, por exemplo) sustenta que deve haver subtra-
ção de coisa com valor patrimonial.
Vejamos os bens que integram o patrimônio:
Em regra, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa,
exceto o proprietário.
z Os bens corpóreos, com existência material, por
Sujeito passivo à vítima do furto: o proprietário, o
exemplo, um veículo, e incorpóreos, com existên-
possuidor ou detentor da coisa legítima.
cia abstrata, por exemplo, um direito autoral, de
valor econômico;
Furto Simples z Os bens de valor afetivo ou sentimental, por exem-
plo, cartas e fotografias;
O art. 155 do CP define o furto simples. z Os bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor
Configura-se quando o agente subtrai, para si ou econômico ou sentimental.
para outrem, coisa alheia móvel.
Portanto, vimos que não se pode restringir o patri-
Para entendê-lo, dividiremos em duas partes: mônio às coisas de valor econômico.
Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode
z Subtrair (verbo) — consiste no ato de se apossar de ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum ou
propriedade de outra pessoa, seja para si ou para geral.
outra pessoa. Por exemplo, o agente subtrai para
si uma bicicleta que estava estacionada próximo Há, ainda, exceções. Vejamos:
à lanchonete;
z Coisa alheia móvel — necessário que o objeto z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previs-
material do crime de furto seja coisa móvel e que to no inciso II, § 4º, art. 155, por ser crime próprio,
pertença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou o agente é aquela pessoa que a vítima confia, por
que pertença ao próprio autor, não configurará exemplo, o furto praticado por um empregado;
furto. Por exemplo, o agente que, aproveitando a z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria
distração da vítima, subtraia o aparelho celular. coisa que se encontra em poder de terceiro, não
responderá por furto, mas sim pelo crime de exer-
Não há emprego de violência nem grave ameaça cício arbitrário das próprias razões (arts. 345 ou
à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de 346, do CP, conforme a pretensão seja legítima ou
roubo. ilegítima);
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa,
O furto tem as seguintes características: o condômino que a subtrair responderá pelo deli-
to de furto de coisa comum (art. 156, do CP). Por
exemplo, um dos condôminos furta cadeiras da
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
área de uso comum do condomínio;
quer pessoa;
z O funcionário público, que subtrai bem público,
z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
responderá por peculato-furto (§ 1º, art. 312, do
tado naturalístico para fins de consumação, ou
CP), desde que a função pública tenha facilitado a
seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo sub-
subtração, pois, se em nada facilitou, o delito será
trai a coisa móvel; de furto (art. 155, do CP);
z O furto só se pratica dolosamente;
z Não admite a modalidade culposa; „ Funcionário público que subtrai bem particu-
z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do lar que se encontra sob a guarda ou custódia
agente para praticar o furto é fracionada em da Administração Pública, desde que a função
diversos atos que somados consumam o delito; tenha facilitado a subtração, responderá por
portanto, admite a tentativa quando o agente, por peculato-furto. Por exemplo: policial rodoviá-
motivos alheios a sua vontade, pratica alguns atos rio que subtrai veículo que estava apreendi-
e não ocorre a consumação do delito. Por exemplo, do no pátio do posto de fiscalização da Polícia
o agente, com animus de furtar objetos eletrôni- Rodoviária;
cos de uma casa, pula o muro para ingressar no „ Funcionário público que subtrai bem particu-
interior da residência, mas o proprietário da casa lar que não estava sob a guarda ou custódia da
acorda e acende a luz, momento em que o agente Administração Pública ou estava, mas a função
422 deixa de praticar os demais atos. em nada facilitou a subtração, responderá por
furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub- consome ou se reduz com o uso e isso não ocor-
trai um bem que se encontrava no porta-malas re com a TV a cabo, cuja utilização não gera
de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não qualquer custo adicional para a operadora. É
estava apreendido, cometerá o crime de furto. um mero ilícito civil. Observe que o art. 35, da
Lei nº 8.977, de 1995, dispõe que é “ilícito penal
O sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado a interceptação ou a recepção não autorizada
ou exposto a perigo de lesão. dos sinais de TV a Cabo”, entretanto, não lhe
O titular do bem jurídico, apesar de divergên- cominou qualquer pena, sendo vedada a sua
cias na doutrina, prevalece sendo o proprietário e imposição pela via da analogia;
possuidor. „ Segunda: dominante no STJ, considera que há
O detentor é arrolado no processo como testemu- crime de furto. Argumenta-se que o sinal de
nha, e não como vítima. televisão se propaga por meio de ondas, o que
na definição técnica se enquadra como energia
Vejamos os pontos mais questionados sobre o radiante, que é uma forma de energia associa-
crime de furto: da à radiação eletromagnética.

z Coisas ilícitas: podem ser objeto de furto, por Furto Qualificado


exemplo, responde por furto quem subtrai mer-
cadoria contrabandeada e, neste caso, a vítima O furto qualificado é aquele no qual as suas penas
responderá pelo crime de contrabando. Por outro são modificadas nos patamares mínimos e máximo,
lado, as coisas ilícitas não podem ser objeto de fur- aumentando consideravelmente.
to se constituírem elemento de outro crime, por Trata-se de qualificado por ter pena própria e não
exemplo, a subtração de droga é crime do art. 33, mera causa de aumento de pena. Podemos exemplifi-
da Lei nº 11.343, de 2006, a subtração de arma de car com o caso de o agente furtar objetos eletrônicos
fogo é crime do art. 16, da Lei nº 10.826, de 2003; de uma casa utilizado chave falsa para abrir o portão
z Algumas partes naturais do corpo humano: e a porta da casa.
podem ser objeto de furto se passíveis de figura-
rem numa relação jurídica, por exemplo, subtra- O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:
ção do cabelo com o fim de obter lucro. Portanto,
a subtração de um rim ou outro órgão vital não Art. 155 [...]
é furto, e sim lesão corporal grave, ou homicídio § 4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e mul-
consumado ou tentado; ta, se o crime é cometido:
z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois cons- I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
titui delito do art. 211, do CP, destruição, subtração subtração da coisa;
ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver tem II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
valor econômico, por exemplo, sendo pertencente escalada ou destreza;
à Faculdade de Medicina, haverá furto. Se houver III - com emprego de chave falsa;
furto de algum objeto que foi sepultado junto ao IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
cadáver, por exemplo, arcada dentária de ouro, o
crime será furto, e a vítima será o herdeiro do de É importante ressaltar também as recentes altera-
cujus; ções legais. Atenção especial para o disposto no § 4º-B
z Energia elétrica: discutia-se se constituía ou não e § 4º-C, do art. 155, que foram incluídos pela Lei nº
coisa móvel. O legislador penal tipificou o furto de 14.155, de 2021. Vejamos:
energia elétrica no § 3º, art. 155, do CP, equiparan-
do-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer Art. 155 [...]
outra que tenha valor econômico, por exemplo, § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
energia radioativa, energia cinética, energia atô- anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
mica, energia genética etc. Porém, a energia deve artefato análogo que cause perigo comum.
ser suscetível de apossamento, ou seja, que possa § 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
ser separada da coisa que a produz. anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometi-
do por meio de dispositivo eletrônico ou informáti-
Art. 155 [...] co, conectado ou não à rede de computadores, com
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a
utilização de programa malicioso, ou por qualquer
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

qualquer outra que tenha valor econômico.


outro meio fraudulento análogo.
z Alteração no sistema de medição de energia § 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, consi-
derada a relevância do resultado gravoso:
elétrica: de acordo com o entendimento do STJ, a
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
alteração no sistema de medição de energia elétri-
se o crime é praticado mediante a utilização de ser-
ca, mediante fraude, para que o resultado calcula-
vidor mantido fora do território nacional;
do no sistema seja menor do que o consumo real, II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o cri-
configura o crime de estelionato, e não o crime de me é praticado contra idoso ou vulnerável.
furto; § 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a
z Instalação clandestina de TV a cabo: há duas subtração for de veículo automotor que venha a ser
correntes: transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
„ Primeira: trata-se de fato atípico, pois não há se a subtração for de semovente domesticável de
propriamente a subtração de energia e, sim, produção, ainda que abatido ou dividido em partes
o aproveitamento de um serviço. A energia se no local da subtração. 423
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso
anos e multa, se a subtração for de substâncias de alguma habilidade especial. Segundo a doutrina, o
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou iso- exemplo clássico é o batedor de carteira.
ladamente, possibilitem sua fabricação, montagem Não há a qualificadora quando a vítima percebe a
ou emprego. subtração. Em tal situação, o agente responde por ten-
tativa de furto simples, ou furto simples consumado,
z Com destruição ou rompimento de obstáculo à
caso consiga arrebatar o objeto.
subtração da coisa:

Destruir é desfazer, demolir, por exemplo, o agen- z Com emprego de chave falsa:
te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daque-
le que arromba o portão de uma casa para entrar e No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o
subtrair uma televisão. agente faz uso de chave distinta da chave original ou obje-
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, ser- to capaz de abrir um cadeado ou fechadura, por exemplo,
rar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o agente abre a gazuas, pedaço de arame, micha, clips etc. Anote-se que a
porta da casa com um pé de cabra para entrar e sub- chave falsa pode ou não ter formato de chave.
trair uma televisão. A jurisprudência não é unânime no caso de se a liga-
Nos dois casos, o delito deixa vestígios, sendo ção direta do veículo caracteriza ou não chave falsa.
imprescindível o exame de corpo delito. A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita-
Em ambos há uma danificação, que é total no ver- mente pelo agente, não caracteriza chave falsa.
bo “destruir”, sendo parcial no verbo “romper”. A cópia da chave verdadeira, quando obtida licita-
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado, mente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada clan-
por força do princípio da subsidiariedade implícita. destinamente, incide a qualificadora do crime de furto.
A destruição e o rompimento devem ser praticados
contra obstáculo, e não sobre a própria coisa furtada, z Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas:
por exemplo, o agente rompe a porta do veículo para
subtraí-lo. O reconhecimento da qualificadora depende de
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para difi- pelo menos duas pessoas.
cultar a sua subtração, por exemplo, matar o cão de Computam-se os inimputáveis (menores e doentes
guarda da residência, destruir as telhas para adentrar mentais) e os desconhecidos.
na residência, ou mesmo cortar os fios do alarme do Detalhe, se o comparsa é menor de dezoito anos, o
automóvel ou da cerca eletrificada. agente responderá por furto qualificado em concurso
A mera remoção de obstáculo, quando destituída material com o delito de corrupção de menores, pre-
da danificação, não qualifica o furto, por exemplo, visto no art. 244-B do ECA, desde que haja prova da
desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da efetiva corrupção do menor.
corda que prende a canoa. Sobre a presença no local do crime, basta a simples
participação, independentemente da presença na fase
z Com abuso de confiança, ou mediante fraude, da execução.
escalada ou destreza: A absolvição do coautor nem sempre exclui a qua-
lificadora. De fato, havendo prova da pluralidade de
No abuso de confiança, o agente se vale da confian- agentes, a qualificadora deve ser reconhecida.
ça que o dono da coisa tem nele para poder subtrair, No delito de roubo, o concurso de pessoas gera
como, por exemplo, quando o agente é amigo do dono aumento de pena de um terço até metade. No furto,
da casa, que deixa sua carteira sobre a mesa e vai ao a pena dobra.
banheiro despreocupado, momento em que o agente, Há doutrina que sustenta a violação do princípio
aproveitando desta confiança, subtrai a carteira. da proporcionalidade da pena, porque o roubo é mais
O uso de fraude fica configurado quando o agente grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso
usa de artifício para enganar a vítima, para subtrair a de pessoas deveria sofrer apenas o aumento de um
coisa, a exemplo do agente que se passa por funcioná- terço até metade.
rio de empresa de telefonia para conseguir entrar numa O STJ editou a Súmula 442: “É inadmissível aplicar
casa e subtrair um aparelho celular que nela estava. no furto qualificado pelo concurso de agentes a majo-
rante do roubo”.
Dica
z Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo
Não confunda o furto mediante fraude com o
estelionato. O § 4º-A, art. 155, do CP, foi introduzido por meio
No furto mediante fraude, o agente usa a fraude da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que: “A pena é de
sobre a vítima para subtrair a coisa. reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se hou-
No estelionato, o agente emprega a fraude para ver emprego de explosivo ou de artefato análogo que
ludibriar a vítima e fazer com que ela mesma cause perigo comum”.
entregue a coisa. É o único furto que é crime hediondo (inciso IX,
art. 1º, da Lei 8072, de 1990, com redação dada pelo
No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a inciso IX, art. 1º, da Lei).
entrada em um local se dá por um meio anormal, que O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo,
exige do agente esforço físico incomum. Para a dou- torna o fato mais grave, justificando-se o rigor da
trina majoritária, não é relevante se ocorre por cima reprimenda penal, em razão da provocação de perigo
ou por baixo, desde que o agente não pratique nenhu- coletivo.
ma forma de destruição ou rompimento de obstáculo, Meio explosivo é o que causa estrondo, por exem-
424 quando aplicaremos outra qualificadora ao fato. plos, dinamite, pólvora.
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário Admite-se a tentativa quando o agente realiza a
do art. 251, do CP, não se refere à substância explosiva, subtração e é preso em flagrante, próximo à trans-
mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utiliza- posição da fronteira, antes de obter a posse pacífica.
do para explodir caixas eletrônicos de agências ban- Sabemos que a jurisprudência considera o furto con-
cárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo sumado como o simples apossamento do bem, inde-
do § 4º-A, art. 155, do CP. Já no crime do art. 251, do CP, pendentemente da posse pacífica. Porém, a tentativa
podemos trazer a hipótese de o agente que lança um tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do
artefato explosivo num ponto de ônibus e que expõe bem, o furto já se consuma nas modalidades anterio-
as pessoas a risco. res, ainda que o agente seja preso próximo à fronteira.
O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qua-
lificadora em análise, abrange qualquer explosão, seja z Furto de semovente domesticável (animais,
ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, como: bovinos, suínos, equinos) de produção,
mas o assunto certamente enseja polêmica. ainda que abatido ou dividido em partes no
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer local de subtração:
objeto confeccionado por trabalho mecânico ou à mão,
por exemplo, as denominadas “bombas caseiras”. A pena será de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
Para a incidência da qualificadora, é preciso se a subtração for de semovente domesticável (ani-
que seja um explosivo ou artefato que cause perigo mais, como: bovinos, suínos, equinos) de produção,
comum, ou seja, que coloque em risco um número ainda que abatido ou dividido em partes no local de
indeterminado de pessoas ou de patrimônios. subtração.
O agente que se utiliza de um explosivo com poten- O bem jurídico primário é o patrimônio do produ-
cial para causar perigo comum que, entretanto, mes- tor e, o secundário é a saúde pública. Isso porque o
mo diante da explosão, não se concretiza, responderá, animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem
em caso de destruição ou rompimento de obstáculo,
que haja fiscalização do poder público, principalmen-
pelo furto qualificado do inciso I, § 4º, art. 155, do CP, e
te sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na
não pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A.
condição de patrimônio lesado.
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de
Na prática, dificilmente esta qualificadora será
caixas eletrônicos de bancos, sendo que, diante do
aplicada, pois este tipo de delito geralmente é prati-
advento desta nova qualificadora, encerra-se o anti-
cado por mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá
go debate travado acerca da adequação típica, que
a qualificadora do inciso IV, § 4º, art. 155, do CP, que é
dividia as opiniões entre o furto qualificado pela
mais grave.
destruição ou rompimento de obstáculo (inciso I, §
Com efeito, presente uma das qualificadoras do §
4º, art. 155, do CP) e a explosão com intuito de obter
4º, exclui-se a incidência da qualificadora em apreço,
vantagem pecuniária (§ 2º, art. 251, do CP). O enqua-
pois sua pena é mais branda, podendo funcionar, nes-
dramento do § 4º-A, art. 155, do CP, absorve delitos de
explosão e de dano, pois já funciona como causa de se caso, como circunstância judicial do art. 59, do CP,
aumento de pena, aplicando-se o princípio da subsi- servindo de parâmetro apenas para dosagem da pena-
diariedade tácita. -base. Entretanto, existe outra corrente mais favorável
ao réu que, com base no princípio da especialidade,
z Furto de veículo automotor que venha a ser afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de
transportado para outro Estado ou para o semovente domesticável de produção, impondo-se,
exterior: nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, conside-
rando-a novatio legis in melius.
A pena será de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos O objeto material é o animal domesticável de pro-
se a subtração for de veículo automotor que venha a dução, ainda que abatido ou dividido em partes no
ser transportado para outro Estado ou para o exterior. local da subtração.
Não basta, porém, para a incidência da qualifica- Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a defi-
dora, o furto de veículo automotor, pois ainda se exige nição desse elemento normativo é complementada
o efetivo transporte para outro Estado ou exterior. pelo juiz.
Veículo automotor engloba, por exemplo, carros, Para a incidência da qualificadora, é necessário
motos, lanchas, aviões etc. que o agente subtraia o animal por inteiro ou na sua
Não é necessário que o transporte para outro Esta- essência. O tipo penal refere-se à subtração de semo-
do ou exterior seja realizado pelo próprio agente. vente e, não, de partes dele, de modo que, quando o
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Basta que o agente saiba da intenção de eventual animal já estava abatido ou dividido em partes, a inci-
receptador transportar o veículo para outro Estado ou dência da qualificadora estará condicionada à subtra-
exterior. ção do todo ou das partes substanciais. Na hipótese
Quem realiza o transporte após a consumação do de o agente deixar no local apenas as patas do boi e
furto responde pelo crime de receptação. Por conse- subtrair o restante, persiste a qualificadora. Não teria
quência, o agente que é contratado para realizar o cabimento, por exemplo, qualificar o delito pelo fur-
transporte responde pelo furto, se o contrato for ante- to de uma picanha extraída de um animal já abatido.
rior à subtração, e por receptação, se só foi contratado Também não incide a qualificadora quando o próprio
após a consumação. agente abate o animal, subtraindo-lhe apenas uma de
Consuma-se o transporte quando o veículo trans- suas partes.
põe os limites das fronteiras do Estado ou do país, com Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário
intuito de ali permanecer. que o animal ainda pertença ao produtor, posto que o
A mera condução do veículo para outro Estado ou intuito da lei foi protegê-lo.
exterior, com o intuito de retornar ao local de origem, A subtração, por exemplo, de um porco que se
é insuficiente para a caracterização da qualificadora. encontra no açougue não qualifica o delito. 425
Não há que se falar, também, no delito em estudo encontra dormindo e desprotegida. Neste caso,
quando se subtrai o leite da vaca ou outro bem produzi- restringe o aumento da pena ao furto cometido em
do pelo animal, porquanto o tipo penal se refere à sub- casa habitada com os moradores repousando;
tração do semovente e, não, dos bens que ele produz. z Teoria objetiva: o fundamento do aumento da pena
Nessas hipóteses, o furto será simples. é a proteção do patrimônio, que, nesse período,
encontra-se vulnerável à subtração. A finalidade
z A subtração for de substâncias explosivas ou de da lei visa proteger primordialmente o patrimô-
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi- nio, e depois, a tranquilidade.
bilitem sua fabricação, montagem ou emprego:
As duas teorias são aceitas, mas devemos com-
O objeto material consiste em substâncias explosi- preender que incide o aumento de um terço não só
vas ou acessórios que possibilitem a fabricação, mon- em furtos de residência, mas também em bancos, joa-
tagem ou emprego de substância explosiva. lherias, casas comerciais, bem como de automóveis
O que é substância explosiva? Substância explosi- estacionados na rua, de gado (abigeato).
va é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arre- Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o
bentação, por exemplo, pólvora ou dinamite. local seja área comercial ou local desabitado.
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
conjunto ou isoladamente, são capazes de se transfor- Furto Privilegiado
mar quimicamente numa substância explosiva; aqui
podemos exemplificar com o estopim, a espoleta e o Art. 155 [...]
cordel detonante. São estes acessórios que possibili- § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
tam a fabricação, montagem ou emprego da substân- a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
cia explosiva. reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
A fabricação é a produção ou confecção. terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Montagem é a junção dos componentes.
Emprego é a utilização. Está previsto no § 2º, art. 155, do CP. Ocorre, por
O tipo penal não se refere aos maquinários e exemplo, no caso de agente primário que subtraiu
outros objetos que também são utilizados para fabri- uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é
car, montar ou utilizar os explosivos, mas tão somen- inferior ao salário mínimo.
te aos acessórios que compõem a própria substância
explosiva. São características do furto privilegiado:
É bom lembrar que configura crime, nos termos do
inciso III, do § único, art. 16, da Lei nº 10.846, de 2003, z Réu primário;
Estatuto do Desarmamento, possuir, deter, fabricar z Coisa furtada de pequeno valor — Segundo a juris-
ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem prudência, até 1 (um) salário mínimo.
autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar. No caso do furto privilegiado, o juiz poderá ado-
Esse delito será absorvido pelo crime do § 7º, art. tar uma das seguintes medidas:
155, do CP, pois já funciona como qualificadora.
A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) z Substituir a pena de reclusão pela de detenção;
anos, se a subtração for de substâncias explosivas ou z Diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços);
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi- z Aplicar somente a pena de multa.
litem sua fabricação, montagem ou emprego.
Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilégio
Furto Majorado para o furto simples ou para o furto qualificado; entre-
tanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser de natu-
O furto será majorado quando a ele for aplicada a reza objetiva (emprego de chave falsa, por exemplo).
causa de aumento de pena prevista no § 1º, art. 155,
do CP. Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do
privilégio previsto no § 2º do art. 155 o CP nos casos
Art. 155 [...] de crime de furto qualificado, se estiverem presen-
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é tes a primariedade do agente, o pequeno valor da
praticado durante o repouso noturno. coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

Sobre o repouso noturno, considere que, segundo O termo “pequeno valor da coisa” é entendido,
o STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de pela jurisprudência, como o valor que não excede ao
pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado. valor do salário mínimo. É necessário o auto de ava-
O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o liação. É claro que o referencial do salário mínimo
agente, aproveitando-se do repouso noturno, entra não é tão rígido, admitindo-se o privilégio quando a
numa casa para furtar os eletroportáteis. coisa excede modicamente esse valor.
Há discussão sobre a necessidade de a casa estar Considera-se “ordem subjetiva” a hipótese de furto
habitada e os moradores repousando, para que incida qualificado por abuso de confiança. Deve-se identifi-
o aumento de um terço. car a confiança da vítima para com o agente. Por isso,
Duas teorias tratam da discussão: não se trata de furto privilegiado.
A regra é que as qualificadoras do crime de fur-
z Teoria subjetiva: a razão de ser do aumento da pena to são objetivas, por exemplo, emprego de chave
é a maior proteção à tranquilidade dos que repou- falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto
426 sam, bem como à incolumidade da vítima, que se qualificado.
Furto de Uso Dica

Esta conduta não exige a intenção de se apoderar, O furto de coisa comum não é tão cobrado em
para si ou para outra pessoa, da coisa alheia móvel provas de concursos públicos. Porém, quando
que foi subtraída. cobrado, tentam misturar suas características
O furto de uso é fato atípico; tal instituto não se com as características do furto tradicional.
aplica ao crime de roubo.
Por exemplo, se o agente subtrai a coisa com a z Furto: coisa alheia, crime comum e ação penal
incondicionada;
intenção de usar e devolver depois, não cometerá o
z Furto de coisa comum: coisa comum, crime pró-
crime de furto.
prio e ação penal condicionada.
Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta,
devolvendo-a após dar uma volta no quarteirão, não
Outras Hipóteses
se configura crime de furto.
Não há furto na hipótese de o credor subtrair bens
O reconhecimento do furto de uso necessita da do devedor para ressarcir-se, pois se trata de um cri-
presença de dois requisitos: me específico, previsto no art. 345, do CP, exercício
arbitrário das próprias razões. Vejamos: “A” deve uma
z Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o
uso duradouro constitui crime de furto. Tratando- valor da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la.
-se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso O furto famélico é aquele em que o agente bus-
momentâneo seguido da pronta restituição exclui ca saciar a fome, não é estado de necessidade, salvo
o delito; se a subtração for o único meio de se alimentar. Por
z Restituição imediata e integral da coisa. Nesta exemplo, a mãe, diante da necessidade de alimentar o
hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do furto de filho, subtrai uma maçã de uma barraca de feira para
uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a alimentá-lo.
subtraiu ou nas proximidades. O furto em estado de precisão, aquele em que o
agente está desempregado e subtrai alimentos, ele-
trodomésticos etc. constitui crime. Por exemplo, o pai,
Furto de Coisa Comum
estando desempregado e sem condições de manter o
sustento da família, subtrai alimentos e eletroportá-
Art. 156 Subtrair o condômino, co-herdeiro ou
teis de um hipermercado para suprir o sustento do lar.
sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamen-
te a detém, a coisa comum:
ROUBO E EXTORSÃO
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
Roubo
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
O roubo é a subtração de, por exemplo, um reló-
direito o agente.
gio alheio, para si ou para outrem, mediante violência
contra pessoa.
Acabamos de dizer que é necessário que a coisa
O roubo pode ser simples, majorado ou qualifica-
seja alheia no crime de furto. Entretanto, agora esta- do. Veremos sobre esses assuntos mais adiante!
mos diante de um crime específico, o furto de coisa O roubo é delito pluriofensivo, isto é, ofende mais
comum. de um bem jurídico.
O furto de coisa comum irá se configurar quando A incriminação do roubo visa a tutela do patri-
o agente for condômino, coerdeiro ou sócio, e sub- mônio, integridade fisiopsíquica, a saúde e a
trair, para si ou para outrem, a quem legitimamente a tranquilidade.
detém, coisa comum. Na forma qualificada como latrocínio, tutela-se
Temos aqui um crime próprio, que somente pode- também a vida.
rá ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio. Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum,
É crime de ação penal pública condicionada à podendo ser praticado por qualquer pessoa.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

representação. Nada obsta que um dos criminosos execute a vio-


O Código Penal é expresso ao fixar que, se a coisa lência para que o seu comparsa subtraia a coisa. Nesta
comum for fungível (substituível por outra da mesma hipótese, ambos serão coautores de roubo.
E, quanto ao sujeito passivo, pode ser tanto a pes-
espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a
soa que sofre a violência física, moral e imprópria,
sua subtração caso o valor não exceda a quota a que
quanto aquela que sofre a lesão patrimonial.
tem direito o agente.
O agente que, no mesmo contexto, aborda diversas
Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego vítimas, subtraindo bens de todas elas, por exemplo,
sejam sócios. A sociedade é avaliada no valor de R$ um assalto no interior do ônibus, responde por tanto
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). As partes na roubos quanto forem as vítimas, em concurso formal
sociedade são iguais. de delitos.
Assim, caso Alessandro subtraia R$ 50.000,00 (cin- No crime de roubo, a conduta do agente recai
quenta mil), não cometerá crime, já que o valor sub- sobre a pessoa e coisa alheia móvel.
traído não é superior à sua quota. O objeto material é duplo: pessoa e coisa. 427
O roubo, previsto no art. 157, do CP, é dividido No arrebatamento, que é o ato de arrancar com
em 3 (três) espécies: violência a coisa que está em poder da vítima ou no
corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar
z Roubo próprio: antes ou durante a subtração da do pescoço da vítima.
coisa móvel, o agente emprega violência ou grave A doutrina se divide. Alguns defendem a tese de
ameaça; que a arrebatamento caracteriza violência contra coi-
z Roubo impróprio: o agente subtrai a coisa móvel, sa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há
em seguida, a fim de assegurar a impunidade do quem defenda que se trata de violência contra pessoa,
crime ou a detenção da coisa para si ou para ter- configurando crime de roubo, teoria mais aceita.
ceiro, emprega violência contra pessoa ou grave A trombada contra a vítima tem suas divergências
ameaça; na jurisprudência.
z Roubo com violência imprópria: o agente subtrai Há quem afirma que se trata de furto, exceto quan-
coisa móvel alheia, depois de havê-la, por qualquer do reduzir a vítima à impossibilidade de resistência,
meio, reduzido à impossibilidade de resistência. quando então configurará roubo.
Exemplo 1: Tício, fazendo uso de arma de fogo Outra parte defende que sempre se enquadrará na
para intimidar a vítima, anuncia um assalto e hipótese de roubo, visto que o ato tem violência física.
subtrai a mochila de Mévio — temos aqui o roubo Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que
próprio. se trata de furto.
Exemplo 2: Tício subtrai uma garrafa de vinho
caro em um supermercado. Ao sair, verifica que Roubo Majorado
o segurança está vindo em sua direção. Neste
momento, Tício, para poder fugir com a garrafa de O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o
vinho, desfere um soco no rosto do segurança, que agente, sabendo que a vítima está prestando serviço
cai — temos aqui o roubo impróprio. de transporte de valores, subtrai, mediante violência,
Exemplo 3: Tício conhece Mévia em uma festa. os malotes que a vítima portava.
Os dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
na bebida dela, que entra em sono profundo, em ao crime de roubo.
seguida, o agente subtrai todos o dinheiro existen-
te na carteira de Mévia — temos aqui o roubo com Art. 157 [...]
violência imprópria. § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
metade:
I – (revogado);
Roubo Simples
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de
Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
valores e o agente conhece tal circunstância.
para outrem, mediante grave ameaça ou violência
IV - se a subtração for de veículo automotor que
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
venha a ser transportado para outro Estado ou
reduzido à impossibilidade de resistência:
para o exterior;
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
tringindo sua liberdade.
Irá praticar o crime de roubo o agente que subtrair VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou
coisa móvel alheia, para si ou para outrem, median- de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi-
te grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de bilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilida- VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com
de de resistência. emprego de arma branca;
Também irá praticar o crime de roubo o agente
que, logo depois de subtraída a coisa, emprega violên- Vejamos cada uma das majorantes:
cia contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar
a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si A primeira majorante, concurso de
ou para terceiro. duas ou mais pessoas, justifica-se
pela maior organização do delito, au-
Vamos falar das características do crime de mentando a possibilidade de consu-
roubo: PRIMEIRA mação à medida em que diminui a
MAJORANTE chance de defesa da vítima
z É crime comum, já que pode ser praticado por Os menores de 18 anos, os doentes
qualquer pessoa; mentais e os desconhecidos, partici-
z É crime complexo, já que atinge mais de um bem pantes da conduta criminosa, também
jurídico penalmente relevante (há mais de um cri- são computados
me configurando o tipo penal do crime de roubo):
furto (+) ameaça ou violência; A segunda causa de aumento ocorre
z Não admite a modalidade culposa; quando a vítima está em serviço de
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- transporte de valores e o agente co-
nhece tal circunstância
tado para fins de consumação; SEGUNDA
Objetiva-se tutelar a segurança do
z Para consumação, adota-se, assim como no furto, a MAJORANTE
transporte
teoria da apprehensio, ou amotio.
“Valores” abrange dinheiro, joias pre-
ciosas e qualquer outro bem passível
Há duas definições em que devemos ter atenção:
de ser convertido em pecúnia
428 arrebatamento de inopino e trombada.
A terceira majorante consiste na sub- O roubo praticado com restrição da liberdade
tração de veículo automotor que venha é aquele em que o agente mantém a vítima em seu
a ser transportado para outro Estado poder, restringindo a sua liberdade. Por exemplo,
ou Exterior imagine que Tiago, portando uma faca, anuncie um
A expressão “veículo automotor” abran- assalto para subtrair o veículo de Diego. O autor sub-
ge, do mesmo modo que estudamos no trai o veículo, coloca a vítima no porta-malas e o leva
crime de furto: aeronaves, automóveis, por 10 quilômetros, liberando-o em seguida.
TERCEIRA motocicletas, lanchas No exemplo apresentado, será aplicada a causa de
MAJORANTE Para a incidência do aumento da pena, aumento de pena a Tiago, já que ele restringiu a liber-
é necessário que o veículo seja efetiva- dade de Diego, vítima do roubo.
mente transportado para outro Estado
ou Exterior. Isso porque o transporte Art. 157 [...]
diminui a possibilidade de recuperação § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
do bem, facilitando ainda a adulteração I – se a violência ou ameaça é exercida com empre-
e negociação do veículo, envolvendo, go de arma de fogo;
muitas vezes, terceiros de boa-fé II – se há destruição ou rompimento de obstáculo
mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.
A quarta majorante ocorre quando o
QUARTA agente mantém a vítima em seu poder,
MAJORANTE restringindo a sua liberdade. Viola-se a Se a violência ou grave ameaça é exercida com
liberdade pessoal de locomoção emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena.
A quinta majorante acontece se a sub- Pena prevista: reclusão de quatro a dez anos, e
tração for de substâncias explosivas multa. Aplica-se a pena e multiplica por dois.
QUINTA
ou de acessórios que, conjunta ou iso-
MAJORANTE
ladamente, possibilitem sua fabrica- Art. 157 [...]
ção, montagem ou emprego § 2º-B Se a violência ou grave ameaça é exercida
com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no
z Substância explosiva é a que causa estrondo, dis- caput deste artigo.
solvendo-se com a arrebentação, por exemplo, pól-
vora ou dinamite; Aqui estamos diante de três majorantes do roubo
z Quanto aos acessórios, são os elementos que, em com emprego de arma de fogo.
conjunto ou isoladamente, são capazes de se trans- São elas:
formar quimicamente numa substância explosiva;
aqui podemos exemplificar o estopim, a espoleta e É aquela cujo porte é passível
o cordel detonante. São estes acessórios que pos- de obtenção. Neste caso, a
sibilitam a fabricação, montagem ou emprego da ARMA DE FOGO DE pena é aumentada de 2/3 (dois
substância explosiva; USO PERMITIDO terços), por força do inciso I,
z Fabricação é a produção ou confecção; § 2º-A, art. 157, do CP, introdu-
z Montagem é a junção dos componentes; zido pela Lei nº 13.654, de 2018
z Emprego é a utilização. É aquela cujo porte é restrito a de-
terminadas pessoas. Neste caso,
A última causa de aumento de pena é a violên- ARMA DE FOGO DE
a pena é dobrada, nos termos do
cia ou grave ameaça exercida com emprego de arma USO RESTRITO
§ 2º-B, art. 157, do CP, introduzido
branca. Arma branca é a que não é arma de fogo. pela Lei nº 13.964, de 2019
Abrange as armas impróprias, que são os instru-
É aquela cujo porte é vedado.
mentos que servem para ataque ou defesa, embora
A pena também é dobrada,
não seja esta a sua finalidade, como a tesoura, faca de ARMA DE FOGO DE
nos termos do § 2º-B, art. 157,
cozinha, pedaço de pau, caco de vidro etc., bem como USO PROIBIDO
do CP, introduzido pela Lei nº
as armas próprias que não sejam de fogo, que são os 13.964, de 2019
instrumentos cuja finalidade específica é o ataque
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ou defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês e


outros. Justifica-se a majorante em razão da maior poten-
Mas, há correntes que consideram arma branca as cialidade lesiva do fato, que cria risco de morte à vítima.
armas próprias, ou seja, o instrumento que tem a fina- O porte velado, oculto, não majora a pena do rou-
bo, porque a lei exige o emprego da arma, consisten-
lidade específica de ataque ou defesa.
te no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide
A majoração da pena consiste no uso efetivo ou
a majorante quando a violência ou grave ameaça é
exibição ostensiva da arma branca.
exercida com emprego de arma de fogo.
Atente-se: Observe que o roubo majorado absorve o delito de
Em relação à causa de aumento de pena referente arma de fogo, previsto na legislação especial, que já
ao concurso de duas ou mais pessoas, entende o STJ, funciona como causa de aumento de pena.
em se tratando de hipótese de associação criminosa, Quanto à arma de brinquedo, não funciona como
que os agentes respondem pelo roubo com aumento causa de aumento de pena, pois não se trata de arma
de pena e pelo crime de associação criminosa, em con- de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execu-
curso material. ção de um roubo simples. 429
Quanto à arma descarregada, também não majora intencionalmente pelo agente, ou seja, é possível que
a pena do roubo, falta-lhe potencialidade ofensiva e, o roubo seja qualificado pelo resultado, mesmo se o
portanto, não se trata de arma, respondendo o agente resultado tiver sido provocado pelo agente culposa-
por roubo simples. mente, quando ele faz uso de violência.
Já a arma não apreendida, compete ao agente Iniciaremos o estudo do roubo qualificado pela
exibi-la em juízo para que seja periciada, sob pena lesão corporal.
de incidência da majorante diante da presunção de Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena
potencialidade ofensiva. é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa.
Se a violência ou ameaça é exercida com emprego Entende-se por lesão grave, nesta qualificadora,
de arma de fogo — causa de aumento de pena acres- tanto os resultados previstos no § 1º, art. 129, do CP
cida pela Lei 13.654, de 2018 devemos observar o (lesão corporal grave), quanto os previstos no § 2º, art.
seguinte: 129, do CP (lesão corporal gravíssima).
Se houver lesão leve, o roubo é simples.
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca Trata-se de crime qualificado pelo resultado.
antes da Lei nº 13.654, de 2018, não terá incidência A lesão grave pode ocorrer a título de dolo ou culpa,
de majorante; sendo que, nessa última hipótese, o delito será preter-
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca doloso. Em ambos os casos, o delito de lesão corporal
depois da Lei nº 13.654, de 2018, e antes do Pacote é absorvido, porque já funciona como qualificadora.
Anticrime não terá incidência de majorante; Observe que se houver lesão grave consumada e
z Quem praticou o crime de roubo com arma bran- subtração patrimonial tentada, para alguns autores
ca depois do pacote anticrime terá a incidência da haverá o crime da primeira parte do § 3º, art. 157, con-
majorante de 1/3 a 1/2; sumado; outros, porém, sustentam que o delito seria
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo tentado.
de uso permitido antes da Lei nº 13.654, de 2018,
O roubo qualificado pelo resultado morte, o latro-
terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2;
cínio, é um crime qualificado pelo resultado morte.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
Por incrível que pareça, não se trata de crime con-
de uso permitido depois da Lei nº 13.654/2018, terá
tra vida, mas sim de crime contra o patrimônio.
a incidência da majorante de 2/3;
O latrocínio constitui crime hediondo.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
Para compreendermos o momento de consumação
de uso restrito ou proibido antes da Lei nº 13.654,
do latrocínio, é necessário que você conheça a Súmula
de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2;
610 do STF.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
de uso restrito ou proibido depois da Lei nº 13.654,
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quan-
de 2018, e antes do Pacote Anticrime terá a inci-
do o homicídio se consuma, ainda que não realize o
dência da majorante de 2/3;
agente a subtração de bens da vítima.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
de uso restrito ou proibido depois do pacote anti-
crime terá pena em dobro. SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO

Consumada Tentada Latrocínio tentado


Vamos estudar agora o roubo majorado pela des-
truição ou rompimento de obstáculo com emprego de Tentada Tentada
explosivo.
Observa-se que a qualificadora do § 4-A, do crime Consumada Consumada Latrocínio consumado
de furto, tem incidência ainda que não haja destruição Tentada Consumada
ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego de
explosivo ou de artefato que cause perigo comum, ao
passo que, no roubo, a majorante em análise depen-
de, além do explosivo ou artefato que cause perigo Importante!
comum, que haja ainda destruição ou rompimento de
obstáculo. Caso o agente mate o seu comparsa, após a
prática do roubo, para ficar com a vantagem do
Roubo Qualificado crime somente para si, não há que se falar, neste
caso, em crime de latrocínio.
Art. 157 [...]
§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 A palavra latrocínio não se encontra no atual Códi-
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; go Penal. Trata-se de uma expressão tradicional.
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 O latrocínio pode ser próprio ou impróprio:
(trinta) anos, e multa. O latrocínio próprio ocorre quando a morte ocor-
re antes ou durante a subtração da coisa; por exemplo,
O roubo será qualificado pelo resultado em duas o agente mata o empregado de um estabelecimento
hipóteses: comercial, subtraindo em seguida o dinheiro do caixa.
No latrocínio impróprio, o agente primeiro se
z Lesão corporal grave; apodera da coisa, sem qualquer violência, matando
z Morte — latrocínio. a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar
a subtração ou a impunidade. Por exemplo, o agen-
A doutrina majoritária entende que a lesão cor- te, logo após subtrair um bem, mata o policial que o
430 poral grave e a morte não precisam ser praticadas surpreende.
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-
patrimonial quanto aquela que é morta, podendo esta -se independentemente da obtenção da vantagem
última ser até mesmo um policial ou terceiro. indevida.
Observe que estamos diante de crime pluriofensi-
vo, que ofende mais de um bem jurídico, quais sejam: É importante não confundir o crime de extorsão
o patrimônio e a vida. com o crime de roubo, que acabamos de estudar:
Não há necessidade de que morra a vítima do Roubo: o agente emprega a violência ou grave
patrimônio, sendo suficiente, para a caracterização do ameaça, visando à subtração; a participação da víti-
delito, a morte de qualquer outra pessoa. ma é dispensável;
Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos Extorsão: o agente emprega a violência ou grave
com unidade de subtração patrimonial, haverá um só ameaça para determinar um comportamento da víti-
delito de latrocínio. Por exemplo, o agente mata três ma e obter indevida vantagem econômica; a partici-
empregados e em seguida subtrai bens do patrão. pação da vítima é indispensável, sem ela, o autor não
O latrocínio é delito qualificado pelo resultado, consegue obter a indevida vantagem econômica.
tendo em vista a duplicidade de eventos. A morte
pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente na No delito de extorsão, há a presença dos seguin-
hipótese de o latrocínio ser na modalidade culposa é
tes elementos:
que o delito será preterdoloso.
A morte deve decorrer da violência física. Se decor-
z O constrangimento para obter da vítima uma ação,
rer de grave ameaça ou violência imprópria, exclui-se
omissão ou tolerância;
o delito de latrocínio, respondendo o agente por rou-
z Emprego de violência ou grave ameaça;
bo em concurso com homicídio.
Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre z Finalidade de obter, para si ou para outrem, inde-
o latrocínio, fique atento ao seguinte: o latrocínio é o vida vantagem econômica.
roubo qualificado pelo resultado da violência empre-
gada pelo agente, resultando-se uma morte. Tutela-se a propriedade, a posse, a integridade
Logo, se a morte resultar de outro elemento que física e fisiopsíquica, bem como a liberdade pessoal.
não seja a violência empregada, não há que se falar Trata-se de delito pluriofensivo, porque ofende mais
em latrocínio. de um bem jurídico.
O emprego de arma de brinquedo não caracteriza Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum,
a aplicação da causa de aumento de pena, entretanto, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Obser-
pode contribuir para a configuração do crime de rou- ve que o funcionário público também pode cometer
bo, já que pode caracterizar a grave ameaça. extorsão. A doutrina ilustra a hipótese de o escrivão de
polícia que exige dinheiro de uma pessoa para influen-
Extorsão ciar o delegado de polícia a realizar o indiciamento.
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou
Art. 158 Constranger alguém, mediante violência ou jurídica, inclusive a que sofre constrangimento sem
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou lesão patrimonial.
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, O núcleo do tipo é o verbo constranger, que signi-
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: fica coagir, forçar, obrigar alguém a fazer, deixar de
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não
lhe impõe.
O crime de extorsão previsto no art. 158, do CP,
O delito é punido a título de dolo. O agente visa
configurar-se-á quando o agente constranger alguém,
conseguir da vítima uma ação ou omissão, com o fim
mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de
de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
obter para si ou para outrem indevida vantagem eco-
econômica.
nômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa. A finalidade específica é a intenção de obter uma
Por exemplo, o agente chantageia uma mulher e o vantagem indevida e econômica.
marido, ameaçando de morte o seu filho, objetivando A vantagem econômica pode consistir em bem
a obtenção de vantagem econômica. móvel ou imóvel, diferentemente do roubo, cuja van-
Neste crime, observe que não se fala em coisa tagem restringe-se ao bem móvel.
móvel, mas sim em indevida vantagem econômica. A vantagem, além de econômica, deve ainda ser
indevida, contrária ao direito.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Logo, para a configuração da extorsão, é possível que


a vantagem econômica seja coisa imóvel.
z Extorsão qualificada:
Características da Extorsão:
Art. 158 [...]
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- § 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pes-
quer pessoa; soas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
z É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio de um terço até metade.
quanto a liberdade individual;
z Não admite a modalidade culposa (só pode ser pra- Dispõe o § 1º, art. 158, do CP, que se o crime é come-
ticado dolosamente); tido por duas ou mais pessoas, ou com o emprego de
z É crime formal, que se consuma com o constran- arma, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade.
gimento, mediante violência ou grave ameaça, Por exemplo, dois agentes chantageiam uma
independentemente de o agente conseguir ou não mulher, ameaçando de morte a sua mãe, objetivando
obter a indevida vantagem econômica. a obtenção de vantagem econômica. 431
Trata-se de causa de aumento de pena em quan- Observe que, se a vantagem for absolutamente
tidade fixa, que, em face da posição topográfica, é impossível de se obter, não há extorsão, respondendo
inaplicável à extorsão do § 2º, art. 158. o agente apenas pelo delito de sequestro. Por exem-
São duas as majorantes da pena, vejamos: plo, sequestro relâmpago para obrigar menor impú-
bere a assinar nota promissória.
„ Concurso de duas ou mais pessoas; Não se esqueça: além do constrangimento, por
„ Emprego de arma. Observe que há emprego meio de violência ou grave ameaça, exige-se ainda a
de qualquer arma, própria ou imprópria, não restrição da liberdade, isto é, um sequestro “relâmpa-
necessita ser arma de fogo. go”, rápido
No roubo, a violência pode ser anterior, concomi-
tante ou posterior à obtenção da vantagem, ao passo
„ Extorsão qualificada pelo resultado:
que, na extorsão, o legislador é omisso quanto à vio-
lência posterior, de modo que esta deve ser anterior
Art. 158 [...] ou concomitante à obtenção da vantagem.
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante vio- Para que o sequestro relâmpago fique configura-
lência o disposto no § 3º do artigo anterior do, o Código Penal exige a restrição da liberdade da
vítima e que essa condição seja necessária para a
Veja que o § 2º, art. 158, do CP, dispõe que será obtenção da vantagem econômica.
aplicado a extorsão praticada mediante violência ao Ex.: “A”, criminoso conhecido na cidade, aborda
disposto no § 3° do artigo anterior, ou seja, do crime “B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan-
de roubo. do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco-
Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocor- nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo
re quando, em razão da violência, resulta em lesão de origem duvidosa, ao banco, constrangendo a víti-
corporal de natureza grave ou morte. ma, que saca R$ 1.000,00 para o autor.
Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de No exemplo dado, ficou configurado o crime de
7 a 18 anos, além de multa; no caso de morte, reclusão extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os
de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. elementos:
Observe que a lesão grave ou a morte deve decor-
rer de violência física, podendo ocorrer a título de z Emprego de grave ameaça;
dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando z Constrangimento à vítima;
resultar de grave ameaça. z Objetivo de obter indevida vantagem econômica;
z Restrição da liberdade, que foi condição necessá-
„ Extorsão qualificada pelo sequestro — ria para obtenção da vantagem.
sequestro relâmpago
Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o
Art. 158 [...]
resultado morte ou o resultado lesão corporal de
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da
natureza grave, o agente será punido com as mes-
liberdade da vítima, e essa condição é necessária mas penas aplicadas ao crime de extorsão median-
para a obtenção da vantagem econômica, a pena te sequestro qualificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos,
é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da respectivamente).
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte,
aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2° e z Extorsão Hedionda
3°, respectivamente.
O delito de extorsão só é crime hediondo na situa-
Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio ção do 3º, art. 158, do CP.
veículo, sendo coagida a percorrer caixas eletrônicos Esta hipótese foi introduzida pela Lei 13.964, de 2019.
para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o Assim, dispõe o inciso III, art. 1º, da Lei nº 8.072,
de 1990, que é crime hediondo a extorsão qualificada
código secreto de seu cartão bancário magnético.
pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de
O bem jurídico protegido é o patrimônio e a liber-
lesão corporal ou morte.
dade pessoal de movimento, isto é, o direito de ir, vir e
A Lei nº 13.964, de 2019, em vez de manter como
ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se, hediondo o § 2º, art. 158, do CP, e acrescentar o § 3º,
destarte, à extorsão mediante sequestro. art. 158, do CP, em sua nova redação, só fez menção ao
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se § 3º, do art. 158.
de crime comum. Por exemplo, o agente restringe a liberdade da víti-
É ainda crime permanente, viabilizando-se, en- ma, com o emprego de violência à sua pessoa como
quanto não cessar o estado de permanência, a partici- forma de obter indevida vantagem econômica.
pação, a legítima defesa e a prisão em flagrante.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física Extorsão Mediante Sequestro
ou jurídica.
Admite-se a presença de mais de um sujeito passi- Art. 159 Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para
vo. Por exemplo, o extorsionário realiza o sequestro si ou para outrem, qualquer vantagem, como condi-
relâmpago do dirigente de uma pessoa jurídica, obri- ção ou preço do resgate:
gando-o a assinar cheques da empresa. Pena - reclusão, de oito a quinze anos..
Para sua tipificação, exige-se a presença dos ele-
mentos da extorsão fundamental: constrangimen- A extorsão mediante sequestro prevista no art.
to, por meio de violência ou grave ameaça, para se 159, do Código Penal, configurar-se-á quando o agente
obter da vítima uma ação ou omissão, com o fim de sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
obter, para si ou para outrem, indevida vantagem outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço
432 econômica. de resgate.
Neste crime, temos a restrição da liberdade da víti- A primeira qualificadora justifica-se pela maior fra-
ma (mediante sequestro ou cárcere privado), só que gilidade emocional do sequestrado menor de 18 anos,
o agente possui uma finalidade específica (exige-se cuja personalidade se encontra, ainda, em formação.
dolo específico): obter qualquer vantagem (segundo a A segunda qualificadora, o sequestro que dura
doutrina, deve ser vantagem indevida e de natureza mais de 24 horas, é um crime a prazo, porque o seu
patrimonial), como condição ou preço de resgate. reconhecimento depende de um lapso de tempo.
Quanto mais duradouro o sequestro, maior o sofri-
Características da Extorsão Mediante
mento da vítima e dos familiares, daí a razão da qua-
Sequestro:
lificadora. Contam-se as horas, minuto a minuto, a
partir do início da privação da liberdade.
z É crime comum — qualquer pessoa pode cometê-lo;
z É crime complexo (É crime complexo: junção de 2 A terceira qualificadora foi introduzida pelo Esta-
(dois) crimes — extorsão mais sequestro ou cárce- tuto do Idoso. Ocorre quando o sequestrado é maior
re privado; de 60 anos. Se no início do sequestro era menor de ses-
z É crime permanente, já que sua conduta se protrai senta, ao atingir esta idade incide a causa de aumen-
(prolonga) — atenção à aplicação da Súmula 711 to, caso ainda esteja em poder dos sequestradores. Há
do STF; tese que afirma que a lei diz maior de 60 anos, motivo
z É crime formal, que se consuma com a restrição da pelo qual não se aplica qualificadora.
liberdade, desde que motivada pela obtenção de A quarta qualificadora, crime cometido por quadri-
condição ou preço de resgate. lha ou bando, justifica-se pela maior organização dos
z Não admite a modalidade culposa; sequestradores, aumentando as chances de êxito no
z Admite tentativa. delito. Quadrilha ou bando é a associação estável ou
permanente entre três ou mais pessoas, com o intuito
É importante mencionar que o agente deve seques-
de cometer uma série indeterminada de delitos.
trar “pessoa”. Caso seja um animal (parece bobo, mas
já foi cobrado em prova), não haverá o crime de extor-
z Extorsão mediante sequestro qualificada pelo
são mediante sequestro.
É importante mencionar um entendimento defen- resultado
dido pela doutrina majoritária: no resultado “morte”,
não é necessário que a pessoa morta seja a vítima do Art. 159 [...]
sequestro, podendo ser qualquer pessoa que mor- § 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza
ra em decorrência da extorsão mediante sequestro. grave:
Assim, por exemplo, se um empregado for ao local Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
combinado com os sequestradores, a pedido de seus § 3º Se resulta a morte:
patrões, entregar o resgate e for morto pelos autores, Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
a qualificadora será aplicada da mesma forma (obser-
ve que o empregado não é vítima do crime — não foi A extorsão mediante sequestro é qualificada se do
sequestrado e nem pagou o resgate). fato resulta:
A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão
mediante sequestro, segundo entendimento doutriná- „ Lesão corporal de natureza grave;
rio dominante, quando dela for exigida a vantagem „ Morte.
correspondente ao resgate.
A extorsão mediante sequestro traz em suas dis- Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima
posições a possibilidade de aplicação do instituto da da liberdade, colocando-a sob vigilância em um cati-
delação premiada. veiro. Em seguida, visando obter vantagem, exige de
A delação será aplicada no caso de o crime ser
familiares da vítima o preço do resgate, mas devido a
cometido em concurso de pessoas, ao concorrente
um impasse com os familiares, o agente mata a vítima.
que denunciar à autoridade, facilitando a libertação
O § 2º, art. 159, do CP, dispõe que, se do fato resulta
do sequestrado.
Neste caso, o concorrente que denunciou terá a lesão corporal de natureza grave, a pena cominada é
pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). de reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, art. 159, do CP, dispõe que, se resulta mor-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Extorsão Mediante Sequestro Qualificada te, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.


A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou
Art. 159 [...] culposas.
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles
horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou dolosos ou culposos, são absorvidos, porque já funcio-
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometi- nam como qualificadoras.
do por bando ou quadrilha.
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
o crime mais grave do CP, tendo como pena mínima 24
Há quatro qualificadoras: anos de reclusão.
Não há necessidade de que a morte seja provoca-
„ Se o sequestrado é menor de 18 anos; da por violência física ou grave ameaça. O suicídio do
„ Se o sequestro dura mais de 24 horas; sequestrado, por exemplo, é suficiente para o reco-
„ Se o sequestrado é maior de 60 anos; nhecimento da qualificadora, porque em tal situação
„ Se o crime é cometido por quadrilha ou bando. é evidente a culpa dos sequestradores. 433
A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:

Se o sequestro du- Se o sequestrado Se o crime é come- Se do fato resultar Se do fato resultar


rar mais de 24 (vin- é menor de 18 tido por bando ou lesão corporal de a morte
te e quatro) horas (dezoito) anos ou quadrilha (agora é natureza grave
maior de 60 (ses- associação crimi-
senta) anos nosa — responde
pelos 2 crimes)

Reclusão de 12 a Reclusão de 12 a Reclusão de 12 a Reclusão de 16 a Reclusão de 24 a


20 anos 20 anos 20 anos 24 anos 30 anos

z Causa de Redução de Pena

Art. 159 [...]


§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Para que incida a redução da pena, a delação deve ter sido feita à autoridade, devendo essa expressão ser
tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do combate à criminalidade, por exemplo,
juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13 da Lei nº 9.807, de 1999, dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão judicial ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que
dessa colaboração tenha resultado cumulativamente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima
com sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Presente apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, independentemente da
primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.

Extorsão Indireta

Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimen-
to criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que
possa dar causa a procedimento criminal — pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abu-
sou da condição da vítima.
No verbo exigir, este crime é formal, consumando-se com a exigência do documento.
Já no verbo receber, é crime material, consumando-se com o efetivo recebimento do documento.
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter criminis fracionado.
É crime comum, já que não se exige qualquer condição especial do sujeito.

USURPAÇÃO

Alteração de Limites

Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-
-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

O objetivo da lei é resguardar a posse e a propriedade dos bens imóveis.


Esse tipo penal possui duas condutas típicas alternativas:

z Supressão, ou seja, a total retirada do marco divisório;


434 z Deslocamento do marco divisório, afastando-o do local correto, de modo a aumentar a área do agente.
É necessário que o agente tenha intenção de apro- Pressupõe-se, neste crime, a invasão de proprieda-
priar-se, no todo ou em parte, da propriedade alheia, por de imóvel alheia, edificada ou não, desde que o fato se
meio da supressão ou deslocamento do marco divisório. dê mediante emprego de violência ou grave ameaça
Temos, por exemplo, a hipótese que não configu- a pessoa, bem como mediante concurso de duas ou
ra crime, o fato de um agricultor retirar a cerca que mais pessoas.
divide as terras com outro proprietário apenas para É possível que o agente invada a propriedade
reformá-la. alheia sozinho ou em concurso com apenas mais uma
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça.
praticado pelo vizinho do imóvel, quer na zona urba- Nesse caso, o fato é atípico. Não obstante, o § 1º, art.
na, quer na rural. 1.210, do Código Civil, permite que o dono retome a
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só posse, desde que o faça imediatamente, por meio do
pode ser o vizinho, dono ou possuidor do imóvel. chamado desforço imediato.
Consuma-se no exato instante em que o agente Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica,
suprime ou desloca o marco divisório, ainda que a o invasor empregar violência para se manter na posse
vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo
parte de que foi tolhida. desforço imediato, haverá a configuração do delito.
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado O crime só existe se a invasão se dá com o fim espe-
iniciando supressão ou deslocamento e é impedido de cífico de esbulho possessório, ou seja, a retirada força-
prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já men- da do legítimo possuidor, desde que o agente queira
cionado, o crime está consumado, ainda que a vítima excluir a posse da vítima para passar a exercê-la ele
retome posteriormente a parte a que faz jus. próprio.
Usurpação de Águas O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o
dono.
Art. 161 [...] Trata-se de crime comum.
§ 1º Na mesma pena incorre quem: O dono que invade imóvel alugado não incorre no
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de tipo penal em análise, que exige expressamente que o
outrem, águas alheias; bem seja alheio.
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em cri-
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas me de violação de domicílio (art. 150, do CP) ou reti-
ou particulares que passem por determinado local,
rada de coisa própria do poder de terceiro (art. 346,
evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso
do CP).
alguém queira desviar o seu curso ou represá-las, sem
Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imó-
autorização para tanto.
vel invadido.
Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja
Consuma-se no momento da invasão.
desviado ou represado pelo agente, alterando, portan-
É possível tentativa quando a invasão não se aper-
to, seu fluxo pela propriedade.
feiçoe em razão da oposição apresentada pelo dono,
Dica possuidor ou por terceiro.
Observe que, se o agente comete o esbulho com
Não configura crime de usurpação de águas, emprego de violência, responde também pelas lesões
mas crime de furto, quando se trata de água reti- corporais causadas, ainda que leves, nos termos do §
rada de água represada pelo dono para criação 2º, art. 161, do CP, e as penas serão somadas.
de peixes.
Art. 161 [...]
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra- § 2º Se o agente usa de violência, incorre também
ta-se de crime comum. na pena a esta cominada.
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego
O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que
de violência, somente se procede mediante queixa.
pode sofrer dano em decorrência do desvio ou
represamento.
Consuma-se o crime no instante em que o agente A ação penal será, em regra, pública incondicio-
efetua o desvio ou represamento, ainda que não obte- nada, porém, caso não ocorra o emprego de violên-
nha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o cia, a ação penal passa a ser privada e só se procede
texto legal se refere. A tentativa é possível. mediante queixa.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Esbulho Possessório Supressão ou Alteração de Marca em Animais

Art. 161 [...] Art. 162 Suprimir ou alterar, indevidamente, em


§ 1º Na mesma pena incorre quem: [...] gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo
II - invade, com violência a pessoa ou grave amea- de propriedade:
ça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
possessório. Este crime tutela a propriedade e a posse dos ani-
mais semoventes.
Veja que o crime de esbulho possessório tem por Para a prática deste crime é necessário que não
objeto jurídico o patrimônio, no tocante à propriedade tenha havido prévio furto ou apropriação indébita
e, especialmente, à posse legítima de um imóvel, bem dos animais, pois, nesses casos, o agente só será puni-
como a integridade física e a liberdade individual da do pela conduta anterior, sendo a supressão ou altera-
pessoa humana atingida pela conduta criminosa. ção da marca impunível. 435
A conduta típica consiste em apagar ou modificar II - com emprego de substância inflamável ou explo-
o sinal indicativo de propriedade em gado ou rebanho siva, se o fato não constitui crime mais grave
alheios. III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
Quando a lei se refere a gado, está protegendo a Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
propriedade de animais de grande porte, como bois fundação pública, empresa pública, sociedade de
ou cavalos, e quando se refere a rebanho, o faz em economia mista ou empresa concessionária de ser-
relação a animais de porte menor, como porcos, ove- viços públicos;
lhas, cabras etc. IV - por motivo egoístico ou com prejuízo conside-
rável para a vítima:
Marcas são feitas por ferro em brasa ou elementos
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
químicos no couro do animal.
além da pena correspondente à violência.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
quem possui animal que pertence a terceiro.
Caso o crime de dano seja praticado com violên-
O sujeito passivo é dono do animal.
cia à pessoa (forma qualificada vista anteriormente),
Consuma-se com a simples supressão ou alteração
o agente responderá pelo crime de dano em concurso
da marca ou sinal, ainda que se dê apenas em relação
a um animal. com a pena correspondente à violência.
É possível a tentativa quando o agente não conse- Das hipóteses vistas, com exceção da qualificado-
gue concretizar a remarcação iniciada, pela repentina ra por motivo egoístico ou com prejuízo para a víti-
chegada de alguém ao local, ou até mesmo quando ma (ação penal privada), a ação penal será pública
concretiza a remarcação, porém a faz de tal forma incondicionada.
que continua sendo possível identificar a marca do
verdadeiro dono. Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade
Alheia
DANO
Art. 164 Introduzir ou deixar animais em proprie-
Art. 163 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa dade alheia, sem consentimento de quem de direito,
alheia: desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou
multa.
O crime de dano previsto no art. 163, do CP, poderá
ser praticado mediante a execução das seguintes con- Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de
dutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina sem consentimento de quem de direito, desde que do
estabelece sobre cada um dos verbos): fato resulte prejuízo. A pena é de detenção de 15 dias
a 6 meses, ou multa.
z Destruir – dano total da coisa alheia; Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra
z Inutilizar – dano parcial, mas que torna a coisa o dano causado por animais.
alheia sem utilidade; O objetivo primordial da lei é a proteção da pro-
z Deteriorar – dano parcial da coisa alheia, que fica priedade rural, onde o delito é comumente cometido.
estragada, por exemplo. Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade
urbana, tendo em vista que a lei não restringiu a exis-
Tutela-se a propriedade e a posse. tência do delito à propriedade rural.
Trata-se de crime doloso. Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido
O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que por qualquer pessoa.
seja móvel. Portanto, caso o agente destrua, por exem- Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor,
plo, uma casa, praticará o crime de dano. titulares do patrimônio ofendido.
Características do crime de dano: Consuma-se com a danificação total ou parcial da
propriedade alheia, isto é, com o efetivo prejuízo.
z Crime comum — pode ser praticado por qualquer Este crime somente se procede mediante queixa.
pessoa;
z Não admite a forma culposa. O dano culposo cons- Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou
titui ilícito de ordem civil; Histórico
z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
tado (destruição, inutilização ou deterioração). O proprietário comete o delito de dano ambiental,
previsto no art. 62, da Lei nº 9.605, de 1998, e não do
Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quan-
deteriora a coisa. do se tratar de coisa de valor artístico, arqueológico,
A danificação parcial constitui crime consumado, histórico ou outro bem especialmente protegido por
enquadrando-se no verbo deteriorar. lei, ato administrativo ou decisão judicial, pois nesse
tipo penal não se exige que a coisa seja alheia.
Dano Qualificado
Alteração de Local Especialmente Protegido
O dano será praticado na modalidade qualificada
se for cometido em uma das hipóteses a seguir: Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605/1998, que
dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou
Art. 163 [...] estrutura de edificação ou local especialmente prote-
Parágrafo único. Se o crime é cometido: gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em
436 I - com violência à pessoa ou grave ameaça; razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico,
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, I - em depósito necessário;
etnográfico ou monumental, sem autorização da auto- II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida-
ridade competente ou em desacordo com a concedida. tário, inventariante, testamenteiro ou depositário
A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa. judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Ação Penal
Apropriação Indébita Previdenciária
Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do
seu parágrafo e do art. 164, somente se procede Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social
mediante queixa. as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
A ação penal é privada no dano simples (caput
do art. 163, do CP) e no dano qualificado por motivo
O crime de apropriação indébita previdenciária
egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inci-
é um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo
so IV, § único, art. 163, do CP). Nas demais formas de
substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as
dano qualificado, a ação é pública incondicionada.
contribuições sociais em nome do INSS para depois
repassá-las.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA No caso do contribuinte individual, ele é o res-
ponsável por esse desconto das contribuições e pelo
Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que repasse ao INSS, de modo que é ele que irá responder
tem a posse ou a detenção: pelo crime.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem
O crime de apropriação indébita está previsto no o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a
art. 168, do Código Penal. Este crime irá se configurar contribuição arrecadada.
quando o agente se apropriar de coisa alheia móvel de Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autar-
que tem a posse ou a detenção. quia federal, de modo que a competência é da Justiça
Neste crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel. Federal, conforme o inciso IV, art. 109, da Constituição
Para que você compreenda a apropriação indébi- Federal.
ta, é necessário saber que o agente já tem a posse ou Logo, o sujeito passivo é o INSS.
a detenção da coisa, passando, posteriormente, a agir
como se fosse dono da coisa.
Não se deve confundir a apropriação indébita com Importante!
o crime de estelionato.
Veja a diferença: Conduta principal: ficará configurada quando o
agente deixar de repassar à previdência social
z Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa as contribuições recolhidas dos contribuintes,
de boa-fé, depois, muda seu ânimo e passa a agir no prazo e forma legal ou convencional.
como se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé);
z Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
com a intenção de ficar com ela desde o início. Observe que o tipo penal principal é praticado na
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar
A apropriação indébita é crime que decorre de uma conduta que deveria (repassar à previdência as
uma relação de confiança entre o autor e a vítima. contribuições recolhidas após reter os valores).
Este entrega a coisa móvel ao agente, devido à con- Condutas equiparadas:
fiança que deposita nele.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas, Art. 168-A [...]
depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen- § 1° Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
agir como dono dela. importância destinada à previdência social que
Veja as principais características da apropriação tenha sido descontada de pagamento efetuado a
indébita: segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- social que tenham integrado despesas contábeis ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

quer pessoa; custos relativos à venda de produtos ou à prestação


z Não admite a forma culposa; de serviços;
z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá- III - pagar benefício devido a segurado, quando as
ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja, respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem-
é o conjunto de um só ato, a realização da condu- bolsados à empresa pela previdência social.
ta esgota a concretização do delito, por exemplo,
apropriar-se de objeto de valor; Trata-se de norma penal em branco, complemen-
z É crime material, que se consuma quando o agente tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária
inverte a posse da coisa alheia móvel. correspondente.
Veja as características do crime de apropriação
Aumento de Pena indébita previdenciária:

Art. 168 [...] z É crime omissivo, como dito, já que o agente não
§ 1º A pena é aumentada de um terço, quando o pratica a conduta que se espera dele (repassar);
agente recebeu a coisa: z Não admite a modalidade culposa; 437
z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o Para encerrarmos o crime de apropriação indébita
STF, não é necessário dolo específico (especial fim previdenciária, vamos verificar uma hipótese de perdão
de agir); judicial e de crime privilegiado.
z Não admite tentativa. A Lei nº 13.606, de 2018, lei bastante atual, diga-se
de passagem (importante atentar-se a isso), acrescentou
O entendimento majoritário na doutrina é o de que
dispositivo ao Código Penal que estabelece que a facul-
a apropriação indébita previdenciária é crime formal
dade atribuída ao juiz de deixar de aplicar a pena ou de
e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por
aplicar somente a pena de multa não se aplica aos casos
parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive
o crime de apropriação indébita previdenciária é dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, admi-
material, pois, quando o agente omitiu o repasse, con- nistrativamente, como sendo mínimo para ajuizamento
figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen- de suas execuções fiscais.
te prejuízo ao Erário. Faculta-se ao juiz:
Essa decisão corrobora com o entendimento exa-
rado na Súmula Vinculante nº 24. z Deixar de aplicar a pena (perdão judicial);
z Aplicar somente a pena de multa (crime privilegiado).
Súmula Vinculante nº 24: Na linha da jurispru-
dência deste Tribunal Superior, o crime de apropria- Essas situações poderão ocorrer se o agente for
ção indébita previdenciária, previsto no art. 168-A,
primário e de bons antecedentes, desde que:
ostenta natureza de delito material. Portanto, o
momento consumativo do delito em tela correspon-
Art. 168-A [...]
de à data da constituição definitiva do crédito tri-
§ 3° É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
butário, com o exaurimento da via administrativa
aplicar somente a de multa se o agente for primário
(ut, (RHC 36.704/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
Quinta Turma, DJe 26/02/2016). Nos termos do art. e de bons antecedentes, desde que:
111, I, do CP, este é o termo inicial da contagem do I – tenha promovido, após o início da ação fiscal
prazo prescricional” (AgRg no REsp  1.644.719/SP, e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
DJe 31/05/2017). contribuição social previdenciária, inclusive aces-
sórios; ou
Importante estudar também o tema do princípio II – o valor das contribuições devidas, inclusive
da insignificância no crime de apropriação indébita acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
previdenciária. cido pela previdência social, administrativamente,
Neste caso, a Portaria nº 296, de 2007, da Previ- como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
dência Social diz que o INSS não executa, não move, execuções fiscais.
ação de execução fiscal por dívida de até R$ 10 mil,
de modo que, se o indivíduo pagasse débitos até esse De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda
valor, a punibilidade estaria extinta pelo perdão judi- Nacional, o valor mínimo para ajuizar execuções fis-
cial, obviamente, desde que ele seja primário e de cais por débito para com o fisco é de R$ 20 mil.
bons antecedentes.
Não se trata de aplicação do princípio da insigni- Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito
ficância, porque a dívida tem um valor significativo, ou Força da Natureza
mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$
200 ou R$ 300, ele poderá ser absolvido pelo princípio Art. 169 Apropriar-se alguém de coisa alheia vin-
da insignificância. da ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoá- natureza:
vel de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que não é preciso Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
mover a execução fiscal, nesse caso o réu poderá rece-
ber o perdão judicial ou então ser condenado apenas Neste crime, a apropriação se dá não devido à rela-
na pena de multa, conforme o § 3º, art. 168, do CP.
ção de confiança existente entre autor e vítima, mas,
A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da
sim, porque a coisa chegou ao poder do agente por
punibilidade), caso o agente, espontaneamente, decla-
re, confesse e efetue o pagamento das contribuições, erro, caso fortuito ou força da natureza.
importâncias ou valores e preste as informações devi- Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entregador
das à previdência social, na forma definida em lei ou de uma loja, uma televisão de 50 polegadas. O agente
regulamento, antes do início da ação fiscal. se apropria da coisa havida por erro.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas,
Art. 168-A [...] posteriormente, altere a posse da coisa, apropriando-
§ 2° É extinta a punibilidade se o agente, esponta- -se dela, irá cometer o crime de apropriação de coisa
neamente, declara, confessa e efetua o pagamento havida por erro, caso fortuito ou força da natureza.
das contribuições, importâncias ou valores e presta Entretanto, para configuração do delito, o agente
as informações devidas à previdência social, na for- não pode ter induzido nem mantido a pessoa em erro
ma definida em lei ou regulamento, antes do início no momento do recebimento da coisa, caso contrário,
da ação fiscal.
tendo em vista a fraude, haverá o crime de estelionato.
Apesar de o Código Penal estabelecer que a condu- Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo
ta do agente, para que sua punibilidade seja extinta, do recebimento da coisa, o agente procede de boa-fé,
seja praticada antes do início da ação fiscal, o STF e não percebe o erro. Este é constatado após o recebi-
o STJ têm admitido a aplicação da exclusão da puni- mento da coisa.
bilidade com o pagamento efetuado a qualquer tem- Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o
po, desde que antes do trânsito em julgado (sentença agente recebe, identifica que não lhe pertence, mas
438 definitiva). fica com o patrimônio.
O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a Parágrafo único. Na mesma pena incorre:
disponibilidade da coisa ao sujeito ativo. É necessário II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apro-
que o agente não perceba o aludido erro. pria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la
Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
de quem recebe a coisa. autoridade competente, dentro no prazo de quinze
Quanto à distinção entre caso fortuito e força da dias.
natureza, uma parcela significativa da doutrina consi-
dera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos O que dizer sobre “achado não é roubado”, ditado
estabelecer uma diferenciação. popular muito conhecido?
Força da natureza é o acontecimento de eventos O crime de apropriação de coisa achada não é cos-
físicos ou naturais, de índole ininteligente, como o gra- tuma ser mencionado, mas existe.
nizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto. Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia
Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a gre- perdida e dela se apropriar, total ou parcialmente,
ve, o motim, a guerra, a queda de um avião etc. deixando de restitui-la ao dono ou legítimo possuidor
No delito em apreço, a coisa chega ao agente por ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do
meio de um evento imprevisível. prazo de 15 (quinze) dias.
Exemplo clássico: um vendaval lança as roupas do Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para
varal do vizinho ao quintal da casa de B e este apro- sua consumação, exige que transcorra determinado
pria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião, período (15 dias).
caindo na chácara de B, que dela se apropria. Ainda, Sujeito ativo é aquele que acha a coisa perdida.
o animal de uma fazenda passa para a fazenda de B, Trata-se de crime próprio, pois é praticado por
que dele se apropria. aquele que acha a coisa perdida.
Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao Na hipótese de o sujeito ativo emprestar a coisa
agente, originando-se o apossamento de um aconteci- à uma outra pessoa, vindo esta a apropriar-se, não
mento imprevisível.
cometerá o delito em apreço, e sim o crime de apropria-
Este crime não admite a modalidade culposa,
ção indébita, previsto no art. 168, do CP.
podendo ser praticado apenas a título de dolo.
Se, por outro lado, o proprietário achar a própria
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado
coisa e deixar de restitui-la ao legítimo possuidor, que
por qualquer pessoa.
a havia perdido, também não se configura o delito, por-
O Código Penal apresenta duas hipóteses asseme-
lhadas, punidas com a mesma pena: a apropriação de que o tipo penal exige que a coisa seja alheia.
tesouro e a apropriação de coisa achada. Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor.
O objeto material é coisa alheia perdida.
Apropriação de Tesouro Trata-se de elemento normativo do tipo, cujo signifi-
cado requer um juízo de valor do magistrado.
Art. 169 [...] Coisa perdida é a que se encontra em lugar públi-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. [...] co ou de uso público em circunstâncias indicativas do
Parágrafo único. Na mesma pena incorre: extravio, por exemplo, uma carteira exposta no meio da
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apro- rua.
pria, no todo ou em parte, da quota a que tem direi- No caso de coisa abandonada (res derelicta) ou coi-
to o proprietário do prédio; sa sem dono (res nullius), não haverá crime algum por
parte de quem apropriar-se. Este torna-se dono da coisa.
Irá praticar este crime o agente que achar tesouro O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na
em prédio alheio e se apropriar, no todo ou em parte, vontade de apropriar-se da coisa.
da quota a que tem direito o proprietário do prédio. Quanto à consumação, ocorre quando o agente deixa
Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha de restituir a coisa ao dono ou legítimo possuidor ou de
tesouro em prédio que pertence a outra pessoa e se entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de
apropria da quota-parte que o proprietário do prédio quinze dias.
tem direito, de acordo com o Código Civil, que estabe- O crime de apropriação de coisa achada poderá se
lece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre configurar:
aquele que achou e entre o proprietário do local em
que ele foi achado.
z Se o agente deixa de restituir a coisa achada ao dono
O Código Civil conceitua tesouro como depósito
ou legítimo possuidor;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não


z Se o agente deixa de entregar a coisa achada à auto-
haja memória.
ridade competente.
O tipo penal não se caracteriza com o verbo
“achar”. Tome cuidado. Aquele que acha tesouro não
comete crime algum. A conduta criminosa encontra-se Por fim, o Código Penal estabelece a possibilidade de
no verbo “apropriar-se”, quando o agente se apropria se aplicar aos crimes previstos no capítulo da apropria-
da parte a que tem direito o proprietário do prédio. ção indébita os institutos aplicáveis ao furto privilegiado.
Para que este crime se configure, é necessário que Logo:
o tesouro tenha sido localizado em prédio que possua
proprietário. z Se o criminoso é primário;
z Se é de pequeno valor a coisa.
Apropriação de Coisa Achada z O juiz poderá:
z Substituir a pena de reclusão pela pena de detenção;
Art. 169 [...] z Diminuir a pena de 1/3 a 2/3;
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. [...] z Aplicar somente a pena de multa. 439
ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES Este crime está previsto no inciso I, § 2º, art. 171,
do CP, ou seja, o agente vende, permuta, dá em paga-
Estelionato mento, em locação ou em garantia coisa alheia como
própria — disposição de coisa alheia como própria. O
Art. 171 Obter, para si ou para outrem, vantagem agente, neste crime, faz com que coisa alheia se passe
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo como dele, enganando outrem.
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer Os verbos previstos no tipo são: vender, permutar
outro meio fraudulento: (trocar), dar como pagamento, locação ou garantia.
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui- Vender: a venda é o contrato pelo qual as partes se
nhentos mil réis a dez contos de réis. obrigam a dar uma coisa por dinheiro. Aperfeiçoa-se
com o acordo de vontades acerca da coisa e do pre-
O crime de estelionato (art. 171, do CP) será praticado ço, independentemente da tradição. Esta é necessária
quando o agente obtiver, para si ou para outrem, vanta- para a aquisição da propriedade, e não para a forma-
gem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo ção do contrato. Consuma-se o crime com a obtenção
alguém em erro, mediante artifício ardil ou qualquer da vantagem e causação do prejuízo.
outro meio fraudulento. Permutar (trocar): a permuta ou troca é o con-
O agente altera, de modo consciente, a data de óbito trato pelo qual as partes assumem a obrigação de dar
de seu genitor, induzindo o tabelião em erro para não uma coisa por outra. Aperfeiçoa-se também com o
pagar multa em procedimento extrajudicial de inventá- simples acordo de vontades, independentemente da
rio (vantagem econômica). entrega do bem. Consuma-se o crime quando a vítima
Observe que o crime fala em vantagem ilícita (segun- entrega ao estelionatário a coisa, pois, nesse momen-
do a doutrina majoritária, deve ser vantagem de natu- to, opera-se o prejuízo e a obtenção da vantagem.
reza patrimonial), podendo ser coisa móvel ou imóvel. Dar em pagamento: a dação em pagamento con-
A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se siste na extinção de uma obrigação vencida pelo fato
utiliza de artificio ardil (método de enganar) ou qual- de o credor consentir em receber prestação diversa
quer outro tipo de fraude. da que lhe é devida. Consuma-se o crime quando o
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro estelionatário obtém a quitação da dívida, mediante a
e o agente o faz) ou mantém a vítima em erro (ela promessa de entregar ao seu credor uma certa coisa.
estava em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela Locação: a locação é o contrato pelo qual uma das
permaneça). partes se obriga a ceder a outra, por tempo determinado
No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa
enganada, colabora com o agente, entregando-lhe, de retribuição. Consuma-se o crime quando o estelionatá-
alguma forma, a vantagem. rio recebe o sinal ou o pagamento do primeiro aluguel.
Esta condição, inclusive, é fator que serve para Garantia: a garantia compreende o penhor, a
diferenciar o estelionato de outros tipos penais que hipoteca e a anticrese. Consuma-se o crime quando o
com ele possam se confundir. estelionatário obtém o empréstimo, dando em garan-
Características do crime de estelionato: tia uma coisa alheia.

z Crime comum: não se exige características especí- Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria
ficas do sujeito ativo;
Art. 171 [...]
z Crime material: o crime consuma-se com a ocor-
§ 2º [...]
rência do resultado obtenção da vantagem ilícita,
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garan-
acarretando prejuízo a terceiro; tia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
z Não admite a forma culposa: só se pratica a título litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro,
de dolo; mediante pagamento em prestações, silenciando
z Admite a modalidade tentada. sobre qualquer dessas circunstâncias;

O estelionato privilegiado é aquele em que o Este crime está previsto no inciso II, § 2º, art. 171,
agente é primário e é de pequeno valor o prejuízo. do CP, que consiste no agente que vende, permuta,
Poderá o juiz, neste caso, substituir a pena de reclusão dá em pagamento ou em garantia coisa própria ina-
pela pena de detenção, diminuir a pena de 1/3 a 2/3 ou lienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que
aplicar somente a pena de multa. prometeu vender a terceiro, mediante pagamento
em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
Art. 171 [...] circunstâncias.
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor Temos que destacar que o objeto material do crime
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o pode ser bem móvel ou imóvel.
disposto no art. 155, § 2º. Vejamos:
Coisa própria inalienável — os bens inalienáveis
Vejamos as formas equiparadas do crime de este- são: bem de família do Código Civil, bem doado com
lionato, que serão submetidas às mesmas penas. cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testa-
mento com cláusula de inalienabilidade.
Disposição de Coisa Alheia como Própria Coisa própria gravada de ônus, por exemplo: pe-
nhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse, servidão, superfí-
Art. 171 [...] cie, uso, usufruto, habitação e superfície.
§ 2º Nas mesmas penas incorre quem: Coisa própria litigiosa: bem sub-judice é aquele
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação em que há uma ação judicial acerca da titularidade da
440 ou em garantia coisa alheia como própria; propriedade.
Imóvel próprio que prometeu vender a terceiro, Lembre-se de que o agente não é punido penal-
mediante pagamento em prestações. mente por causar mal somente a si mesmo, sendo
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro,
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento ele não será sujeito passivo do crime.
à vista. Também é omissa sobre o compromisso que O sujeito passivo será a seguradora.
recai sobre bens móveis, ainda que em prestações.
Fraude no Pagamento por Meio de Cheque
Defraudação de Penhor
Art. 171 [...]
Art. 171 [...] § 2º [...]
§ 2º [...] VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos
III - defrauda, mediante alienação não consentida em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno-
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; Leve em consideração que, para configuração des-
ta forma equiparada de estelionato, é necessário que
Este crime está previsto no inciso III, § 2º, art. 171, do o agente saiba desde o início que não dispõe de fundos
CP, e consiste na conduta de o agente defraudar, mediante para cobrir o cheque, não se englobando nesta moda-
alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, lidade criminosa os casos de não pagamento de che-
a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto que por motivos cotidianos (sem má-fé).
empenhado. É importante conhecer duas súmulas do STF, referen-
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização do tes ao crime de fraude no pagamento por meio de cheque.
credor. O consentimento deste exclui o crime.
A consumação ocorre com a efetiva defraudação, Súmula 521: O foro competente para o processo e
isto é, com a alienação, ocultação, abandono etc. da coisa julgamento dos crimes de estelionato, sob a modali-
dade da emissão dolosa de cheque sem provisão de
empenhada.
fundos, é o local onde se deu a recusa do pagamento
A defraudação parcial é suficiente para a consumação,
pelo sacado.
porque diminui a garantia do credor, gerando prejuízo. Súmula 554: O pagamento de cheque emitido sem
provisão de fundos, após o recebimento da denún-
Fraude na Entrega de Coisa cia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Art. 171 [...] Podemos concluir, pela leitura da Súmula 554, que
§ 2º [...] se o agente pagar os valores referentes ao cheque emi-
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade tido sem fundos antes do recebimento da denúncia,
de coisa que deve entregar a alguém;
será impedido o início da ação penal.
Vejamos também a Súmula 17 do STJ: “Quando o
Este crime está previsto inciso IV, § 2º, art. 171, do falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
CP, em que o agente defrauda substância, qualidade lesiva, é por este absorvido”.
ou quantidade, de coisa que deve entregar a alguém. Entenda da seguinte forma: se o uso do documento
Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa falso se exaurir (extinguir) na prática do estelionato,
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan- este crime absorverá aquele.
to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes. Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratui- crimes em concurso formal.
ta, como o comodato e a doação, desaparece o delito, Observe as causas de aumento de pena previstas
porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gra- no Código Penal para o estelionato:
tuitos, não se pode reclamar sequer vício redibitório,
de modo que o devedor não é sancionado nem na Art. 171 [...]
esfera cível. § 3º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
Se não houver uma obrigação antecedente, a cometido em detrimento de entidade de direito
entrega de coisa defraudada pode configurar o delito público ou de instituto de economia popular, assis-
do caput do art. 171. tência social ou beneficência.

Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Seguro me é praticado:

Art. 171 [...] z Em detrimento de entidade de direito público


§ 2º [...] ou de instituto de economia popular, assistência
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa social ou beneficência. É chamado de estelionato
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou previdenciário.
agrava as conseqüências da lesão ou doença, com
o intuito de haver indenização ou valor de seguro A pena será aplicada em dobro:

O crime de fraude para recebimento de indeniza- Estelionato Contra Idoso


ção ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritá-
ria, é crime formal, que se consuma com a prática da O estelionato contra idoso sofre recentes altera-
conduta, independentemente de o agente conseguir ções pela Lei nº 14.155, de 2021, e aumenta a pena do
ou não receber os valores referentes a indenização ou estelionato de 1/3 ao dobro, quando cometido contra
valor de seguro. idoso ou vulnerável. Vejamos: 441
Art. 171 [...] Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, § 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qua-
se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
considerada a relevância do resultado gravoso. caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de
menor valor; vender pedra falsa por verdadeira;
Importante destacar também que essa majorante vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
incide sobre todas as modalidades de estelionato. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. [...]
Em regra, a ação procede-se mediante representa-
ção, exceto nos casos previstos no § 5º, do art. 171. No crime de fraude no comércio, se o criminoso é
primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
Art. 171 [...]
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
§ 5º Somente se procede mediante representação,
salvo se a vítima for: diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
I - a Administração Pública, direta ou indireta; pena de multa.
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou Outras Fraudes
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
Art. 176 Tomar refeição em restaurante, alojar-se
Duplicata Simulada em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Art. 172 Emitir fatura, duplicata ou nota de ven- Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
da que não corresponda à mercadoria vendida, em multa.
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Parágrafo único. Somente se procede mediante
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e representação, e o juiz pode, conforme as circuns-
multa.
tâncias, deixar de aplicar a pena.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá
aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do
Livro de Registro de Duplicatas. A primeira conduta é tomar refeição em res-
taurante sem dispor de recursos para efetuar o
O crime em tela é caracterizado pela consumação, pagamento.
que ocorre com a mera colocação da duplicata em cir- A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal
culação, não sendo necessário o prejuízo a terceiros. forma que abrange lanchonetes, cafés, bares e outros
Não há previsão de forma culposa. estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás,
engloba a ingestão de bebidas. Entende-se que o deli-
Abuso de Incapazes to não se configura quando o agente é servido em sua
própria residência.
Art. 173 Abusar, em proveito próprio ou alheio, de A segunda conduta incriminada é alojar-se em
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou hotel sem dispor de recursos para efetuar o pagamen-
da alienação ou debilidade mental de outrem, indu-
to. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que
zindo qualquer deles à prática de ato suscetível de
produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de ocorram em estabelecimentos similares, como pen-
terceiro: sões ou pousadas.
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. A terceira e última conduta criminosa consiste em
utilizar-se de meio de transporte (ônibus, táxi, lota-
O crime consuma-se independentemente de pre- ção, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar o
juízo causado, ou seja, trata-se de crime formal. pagamento.
O tipo penal expressamente exige que o agente
Induzimento à Especulação realize as condutas típicas sem dispor de recursos
para efetuar o pagamento naquele instante.
Art. 174 Abusar, em proveito próprio ou alheio, da É necessário (elementar do tipo penal) que o agen-
inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
te não tenha recursos para pagar a refeição, o aloja-
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou
aposta, ou à especulação com títulos ou mercado- mento ou o meio de transporte.
rias, sabendo ou devendo saber que a operação é Caso o agente tenha os recursos necessários e,
ruinosa: entretanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. cometerá o crime de outras fraudes.
Deve-se identificar a má-fé do agente quando da
O crime consuma-se independentemente da exis- prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve
tência de prejuízo, trata-se de crime formal. Uma saber que não dispõe de recursos para pagar e mes-
situação peculiar é que o delito pode ser tanto realiza- mo assim utilizar os serviços descritos. Caso ocor-
do por meio de jogos ou apostas lícitas quanto ilícitas. ra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem
saber, por exemplo, ele não será responsabilizado
Fraude no Comércio
penalmente.
Trata-se de crime promovido mediante ação penal
Art. 175 Enganar, no exercício de atividade comer-
cial, o adquirente ou consumidor: pública condicionada à representação da vítima.
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca- Admite-se a aplicação do instituto do perdão judi-
doria falsificada ou deteriorada; cial, já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá
442 II - entregando uma mercadoria por outra: deixar de aplicar a pena.
Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de IX - o representante da sociedade anônima estran-
Sociedade por Ações geira, autorizada a funcionar no País, que pratica
os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa infor-
Art. 177 Promover a fundação de sociedade por mação ao Governo.
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a Observe que, em tal dispositivo, o legislador pune
constituição da sociedade, ou ocultando fraudulen- o diretor, o gerente e, em alguns casos, o fiscal e o
tamente fato a ela relativo: liquidante, que incidam em fraude em afirmação
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o referente à situação econômica da empresa, realizem
fato não constitui crime contra a economia popular. falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem
indevidamente bens ou haveres da sociedade, com-
Trata-se de crime em que o fundador da socieda- prem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução
de por ações (sociedade anônima ou comandita por ou penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos
ações) induz ou mantém em erro os candidatos a fictícios ou aprovem fraudulentamente conta ou pare-
sócios, o público ou presentes à assembleia, fazendo cer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem
falsa afirmação sobre circunstâncias referentes à sua ser cometidos pelas pessoas expressamente mencio-
constituição ou ocultando fato relevante desta. Pode nadas no texto legal.
girar elas sobre falsa informação a respeito de subs-
crições ou entradas, de recursos técnicos da compa- Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
nhia, de nomes de pseudo-investidores etc. Na forma “Warrant”
omissiva, pode o agente cometer o crime ocultando o
nome dos fundadores, problemas técnicos etc., cujo Art. 178 Emitir conhecimento de depósito ou war-
conhecimento poderia prejudicar ou impedir a subs- rant, em desacordo com disposição legal:
crição de ações e a própria constituição da sociedade. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa
A fraude pode constar de prospecto ou de comunica-
ção feita ao público ou em assembleia da empresa. Trata-se de dispositivo fundamentado no Decreto
Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é nº 1.102, de 1903, que permite a emissão do conheci-
o responsável pela fundação da sociedade por ações. mento de depósito e do warrant quando mercadorias
Sujeitos passivos são as pessoas físicas ou jurídicas são depositadas em armazéns gerais.
que subscreveram o capital ludibriadas. Esses títulos, negociáveis por endosso, são entre-
É crime formal que se consuma no momento em gues ao depositante, sendo que o primeiro é documen-
que é lançado o prospecto ou o comunicado com a to de propriedade da mercadoria e confere ao dono o
poder de disposição sobre a coisa, enquanto o segun-
afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta
do confere ao portador direito real de garantia sobre
de informação relevante, ainda que disso não decorra
as mercadorias.
qualquer resultado lesivo.
Quem possui ambos tem a plena propriedade delas.
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º, art. 177, Delito é a circulação desses títulos em desacordo
do CP, são subsidiárias, ou seja, cedem lugar quando com disposição legal.
o fato se enquadra como crime contra a economia Trata-se de norma penal em branco, complemen-
popular da Lei nº 1.521, de 1951. tada pelo Decreto nº 1.102, de 1903.
De acordo com seus ditames, a emissão é irregular
Art. 177 [...] quando:
§ 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não consti-
tui crime contra a economia popular: z A empresa não está legalmente constituída (art.
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por 1º);
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan- z Inexiste autorização do Governo Federal para a
ço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz
emissão (arts. 2º e 4º);
afirmação falsa sobre as condições econômicas da
z Inexistem as mercadorias no documento
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
especificadas;
em parte, fato a elas relativo;
z Há emissão de mais de um título para a mesma
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
mercadoria ou gêneros especificados no título;
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
z O título não perfaz as exigências reclamadas no
outros títulos da sociedade;
art. 15 do decreto.
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de tercei-
Sujeito ativo é o depositário da mercadoria. Sujei-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autori-


zação da assembléia geral; to passivo é o endossatário ou portador que recebe o
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por título sem saber da ilegalidade.
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo O crime se consuma quando o título é colocado
quando a lei o permite; em circulação e a tentativa não é possível, pois, ou o
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré- agente o coloca em circulação, consumando o crime,
dito social, aceita em penhor ou em caução ações ou não o faz, sendo atípica a conduta.
da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, Fraude à Execução
em desacordo com este, ou mediante balanço falso,
distribui lucros ou dividendos fictícios; Art. 179 Fraudar execução, alienando, desvian-
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter- do, destruindo ou danificando bens, ou simulando
posta pessoa, ou conluiado com acionista, conse- dívidas:
gue a aprovação de conta ou parecer; Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V Parágrafo único. Somente se procede mediante
e VII; queixa. 443
O crime consiste na existência de uma sentença a ser Receptação Qualificada
executada ou de uma ação executiva e mandamento.
O agente, com o fim de fraudar a execução, desfa- A receptação qualificada é aquela praticada no
z-se de seus bens por meio de uma das condutas des- exercício de atividade comercial ou industrial.
critas na lei:
Art. 180 [...]
z Alienando; § 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul-
z Desviando; tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
z Destruindo ou danificando bens; vender, expor à venda, ou de qualquer forma utili-
z Simulando dívidas. zar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime:
Sujeito ativo é o devedor.
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Se for empresário e as condutas forem perpetra-
das após decretada sua quebra, o ato caracterizará
crime falimentar. É admitido, na receptação qualificada, tanto o dolo
O sujeito passivo é o credor. direto quanto o dolo eventual (coisa que deve saber
Trata-se de crime material que somente se consu- ser produto de crime).
ma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial
em consequência da atitude do agente. Art. 180 [...]
A tentativa é possível quando o sujeito não conse- § 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito
gue realizar a conduta típica pretendida. do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercício em
A ação penal é privada.
residência.
Se a fraude atingir execução promovida pela
União, Estado ou Município, a ação será pública
incondicionada. Receptação Culposa

RECEPTAÇÃO Art. 180 [...]


§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua nature-
O crime de receptação pode ser dividido em: za ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
z Receptação simples; obtida por meio criminoso:
z Receptação qualificada; Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
z Receptação culposa; ambas as penas.
z Receptação de animal.
Segundo entendimento doutrinário majoritário, a
Antes de iniciarmos a análise de cada uma das receptação será culposa quando o agente adquirir ou
divisões feitas, é importante mencionar que, segundo receber coisa que, por sua natureza ou pela despro-
posicionamento doutrinário majoritário confirmado porção entre o valor e o preço, ou pela condição de
pela jurisprudência do STF, a coisa deve ser móvel. quem a oferece, presume-se que tenha sido obtida por
É importante que você saiba, também, que a recep- meio criminoso.
tação é punível ainda que desconhecido ou isento de Ex.: Fulano adquire uma motocicleta, avaliada em
pena o autor do crime de que proveio a coisa. R$ 10.000,00, de Ciclano, que pediu por ela o valor
Logo, a punição da receptação não depende da de R$ 2.500,00. Fulano é abordado por policiais civis,
identificando-se, posteriormente, que a motocicleta é
punição do crime anterior, de que se obteve a coisa.
objeto de furto.
É possível que Fulano seja responsabilizado cri-
Receptação Simples
minalmente por receptação culposa, já que há muita
desproporção entre o valor da coisa e o preço pedido
Art. 180 Adquirir, receber, transportar, conduzir
pelo agente, tendo ele elementos para presumir que a
ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
coisa foi obtida por meio criminoso.
sabe ser produto de crime, ou influir para que ter- À receptação culposa aplica-se o instituto do per-
ceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: dão judicial, podendo o juiz deixar de aplicar a pena,
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. levando em consideração as circunstâncias do fato e
caso o criminoso seja primário.
É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, No caso de receptação dolosa, aplica-se o institu-
como em relação ao sujeito passivo. to do privilégio, podendo o juiz, caso o agente seja
A doutrina divide a receptação simples em própria primário e seja de pequeno valor a coisa, substituir
ou imprópria. Conheça tal divisão: a pena de reclusão pela pena de detenção, reduzir a
pena de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
z Receptação Própria: adquirir, receber, transpor- Em 2017, por meio da Lei 13.531, foi inserido
tar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou importante dispositivo ao Código Penal, que aumenta
alheio, coisa que sabe ser produto de crime; a pena do agente ao dobro.
z Receptação Imprópria: influir para que terceiro, A pena prevista para a receptação simples (pró-
de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. pria ou imprópria) será aplicada em dobro, tratan-
do-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do
A receptação é crime de tipo misto alternativo, Distrito Federal, de Município ou de autarquia, funda-
podendo o agente ser responsabilizado penalmente ção pública, empresa pública, sociedade de economia
caso pratique qualquer um dos verbos descritos no mista ou empresa concessionária de serviços públi-
444 tipo penal. cos. Vejamos:
Art. 180 [...] Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpá-
§ 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União, vel, há um impedimento legal da punibilidade, que é
de Estado, do Distrito Federal, de Município ou excluída antes mesmo da prática do delito, distinguin-
de autarquia, fundação pública, empresa pública, do-se do perdão judicial, que é concedido pelo juiz na
sociedade de economia mista ou empresa conces- sentença, após o devido processo legal.
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a A primeira causa de imunidade é o delito prati-
pena prevista no caput deste artigo. cado em prejuízo de cônjuge, na constância da socie-
dade conjugal; por exemplo, não se instaura sequer
Receptação de Animal inquérito policial quando a esposa furta o marido, ou
vice-versa.
Trata-se de um tipo autônomo de receptação, não A imunidade subsiste na separação de fato.
de uma forma qualificada de receptação, já que se Exclui-se a imunidade se por ocasião do delito eles
alteram os patamares mínimos e máximos da pena. estavam separados judicialmente.
A receptação de animal (semovente domesticável A tendência é estender a imunidade à união está-
de produção) tem a pena de reclusão, de 2 a 5 anos e vel, considerando-a equiparada ao casamento.
multa.
O crime de receptação de animal está previsto no
art. 180-A, do Código Penal. Importante!
Foi inserido pela Lei nº 13.330, de 2016, sendo, por- O inciso IV, art. 7º, da Lei Maria da Penha, con-
tanto, um tipo penal bastante recente. sidera também violência doméstica o atentado
contra o patrimônio da mulher.
Art. 180-A Adquirir, receber, transportar, conduzir, Diante disso, uma corrente doutrinária susten-
ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalida- ta que não haveria mais imunidade nos crimes
de de produção ou de comercialização, semovente
patrimoniais contra a mulher.
domesticável de produção, ainda que abatido ou
Entretanto, o STJ já decidiu pela manutenção
dividido em partes, que deve saber ser produto de
da imunidade, à medida que a referida lei não a
crime:
afastou expressamente.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Aqui, também é admitido o dolo eventual (que A segunda causa de imunidade, crime contra o
deve saber ser produto de crime). patrimônio praticado em prejuízo de ascendente, inci-
Semovente domesticável de produção pode ser de também nos casos de adoção.
entendido como animais de bando, como bovinos e Porém, se o filho adotivo furta o pai biológico, este
suínos, que constituem patrimônio de alguém, domes- responderá pelo delito e vice-versa, pois a adoção
ticados com finalidade produtiva. extingue os vínculos com a família de sangue.
Ex.: Fulano adquire, no exercício do comércio em Tratando-se de vínculo de afinidade, como sogro,
seu açougue, gado abatido após ser furtado em uma sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteado e
fazenda, com a finalidade de comercializar a carne. enteada, não há imunidade, tendo em vista a vedação
Fulano praticou o crime de receptação de animal. da analogia.
A última causa de imunidade absoluta, quando se
DISPOSIÇÕES GERAIS pratica crime contra o patrimônio em prejuízo de des-
cendente, é aplicada também nos casos de adoção.
Imunidades nos Crimes Contra o Patrimônio
Art. 182 Somente se procede mediante representa-
ção, se o crime previsto neste título é cometido em
As disposições gerais dos crimes contra o patrimô-
prejuízo:
nio versam sobre as:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
z Imunidades
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

„ Imunidades absolutas; Nas imunidades penais relativas previstas no art.


„ Imunidades relativas ou processuais penais. 182, do CP, o delito de ação pública incondicionada
transmuda-se para ação pública condicionada à repre-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Exceções às imunidades sentação da vítima ou de seu representante legal.


Tratando-se de crime de ação privada, não há que
Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer se falar em imunidade processual, cuja finalidade é
dos crimes previstos neste título, em prejuízo: beneficiar, ao invés de prejudicar.
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; A ação penal privada é mais vantajosa do que a
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco ação penal pública condicionada à representação.
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. A primeira causa de imunidade processual con-
siste no fato de o delito ser praticado em prejuízo
As imunidades absolutas isentam de pena quem de cônjuge judicialmente separado. Por exemplo, se
comete delito contra o patrimônio em prejuízo de o marido furta a esposa um tempo depois de o casa-
ascendente, descendente ou cônjuge, na constância mento ser dissolvido, estando separados judicialmen-
da sociedade conjugal. te. Neste caso, há imunidade relativa.
São autênticas escusas absolutórias, vedando Tratando-se de cônjuges divorciados ao tempo do
inclusive a instauração do inquérito policial. crime, não há qualquer imunidade. Por exemplo, após
Trata-se de um perdão legal. separados judicialmente, ex-esposa furta ex-marido. 445
A segunda causa, delito praticado em prejuízo Com a promulgação da Constituição Federal de
de irmão, abrange os irmãos germanos ou bilaterais 1988, que adotou a dignidade da pessoa humana
(filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que como fundamento, a dotrina passou a entender que
podem ser consanguíneos (filhos do mesmo pai) ou ao invés de tutelar os costumes, a lei penal deveria
uterinos (filhos da mesma mãe). proteger o bem jurídico liberdade sexual em sentido
É claro que a imunidade também se estende aos amplo. Seguindo esse entendimento, a Lei nº 12.015,
irmãos adotivos.
de 09 promoveu alterações em alguns tipos penais e
Observa-se que, se o agente comete delito de furto
mudou o bem jurídico do Título VI do CP, que passou
em prejuízo de cunhado:
a ser denominado “Dos crimes contra a dignidade
z Se a sua irmã for casada no regime da comunhão sexual”.
universal, haverá imunidade; Os crimes contra a dignidade sexual trazem, por-
z Se o regime for o da comunhão parcial, só have- tanto, a tipificação de condutas sexuais praticadas:
rá imunidade se o furto recaiu sobre bem comum,
isto é, comunicável em razão do casamento; z c ontra a vontade da vítima – Capítulo I;
z Se o regime for o da separação de bens, não há falar- z mediante fraude (vontade viciada) – Capítulo I;
-se em imunidade, pois os bens não se comunicam. z contra vulneráveis – Capítulo II
A última causa de imunidade, delito praticado em
Em todos os tipos penais dos crimes contra a dig-
prejuízo de tio ou sobrinho com quem o agente coabi-
nidade sexual o bem jurídico tutelado é a liberdade
ta, pode caracterizar-se ainda que o crime tenha sido
praticado fora do local em que eles vivem, como, por sexual.
exemplo, numa pescaria.
Se não houver coabitação, mas apenas relação de
hospitalidade, moradia eventual, como a que ocor-
Importante!
re nas férias escolares em que o sobrinho vai passar Inseridos ao tema crimes contra a dignidade
alguns dias na casa de um tio, não há falar-se em sexual encontram-se o tipo do estupro (art. 213,
imunidade.
CP), o assédio sexual (art. 216-A), o registro não
Art. 183 Não se aplica o disposto nos dois artigos autorizado da intimidade sexual (art. 216-B) e o
anteriores: estupro de vulnerável (art. 217-A) tipos penais
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em recorrentes em provas de concursos. Dentre
geral, quando haja emprego de grave ameaça ou estes, merece destaque o tipo do art. 217-A que
violência à pessoa;
costuma receber maior destaque nas provas.
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
ESTUPRO
O art. 183, do CP, dispõe que as imunidades absolu-
tas e relativas não se aplicam: Estupro

z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com Art. 213 Constranger alguém, mediante violência
violência imprópria, como a subtração ocorrida ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a pra-
após o ladrão hipnotizar a vítima, exclui-se a imu- ticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
nidade, pois a lei não abre qualquer exceção ao libidinoso:
delito de roubo; Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
z Ao crime de extorsão, ainda que se trate da extor-
são indireta, onde não há violência ou grave amea- No caput do art. 213 encontra-se a modalidade
ça, exclui-se a imunidade; simples. Constranger significa forçar, coagir alguém
z Aos delitos cometidos com emprego de grave usando de violência (vis absoluta) ou grave ameaça
ameaça ou violência à pessoa;
(vis compulsiva). No caso do estupro a coação tem a
z Ao estranho que participa do crime, pois, a imuni-
finalidade de se obter:
dade é uma circunstância pessoal, logo, incomuni-
cável. Por exemplo, o terceiro que auxilia o marido
a furtar a esposa responde pelo crime de furto; z a conjunção carnal, que é a introdução do pênis
z Aos delitos praticados contra pessoa com idade na vagina (cópula vagínica); ou
igual ou superior a 60 anos. z outro ato libidinoso (diverso da conjunção carnal
como, por exemplo, sexo oral, sexo anal, toques
íntimos ou sobre a roupa, masturbação e o beijo
lascivo). A conjunção carnal é um tipo de ato libi-
dinoso (gênero).
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
SEXUAL
Atos libidinosos
Bem Jurídico Tutelado (gênero)

Na redação original do Código Penal de 1940, os


tipos constantes no Título VI, da Parte Especial, eram
chamados de “Crimes contra os costumes”. Costumes, Conjunção carnal
na época, tinha o significado de hábitos, condutas (espécie)
446 sexuais que eram aprovadas pela moral vigente.
Trata-se de um tipo misto alternativo, conforme Só existe estupro doloso, se consumado com a efe-
doutrina e jurisprudência do STF e STJ. Ou seja, se o tiva prática da conjunção carnal ou dos atos libidino-
sujeito constrange a vítima à conjunção carnal e pra- sos (crime material).
tica sexo oral, responde por um só crime. Da mesma A grave ameaça ou a violência constituem cri-
forma a prática de vários atos libidinosos configura mes-meio para a prática do estupro, ficando por
crime único (claro desde que contra a mesma víti- ele absorvidos (princípio da consunção).
ma, no mesmo contexto). Vamos agora ver algumas particularidades sobre
A redação do estupro antes da Lei nº 12.012, de 09 o crime de estupro que já foram objeto de questiona-
era assim: mento em provas:

Art. 213 Constranger mulher à conjunção carnal, z consumação e tentativa. Observe os dois exemplos:
mediante violência ou grave ameaça.
Só mulher poderia ser vítima e somente o homem „ o
agente aborda sua vítima na rua e a leva para
poderia ser sujeito ativo, uma vez que só se consu- um local ermo com a intenção de estuprá-la;
mava o crime pela conjunção carnal. lá chegando começa a tirar a roupa da vítima,
Os demais atos libidinosos eram protegidos pelo momento que é interrompido pela chegada da
tipo do atentado violento ao pudor, que se encon- polícia, antes da prática de algum ato libidinoso
trava no art. 214, CP, hoje revogado: ou de conjunção carnal. Neste caso vai respon-
Art. 214 Constranger alguém, mediante violência ou der pelo estupro na forma tentada.
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se „ vamos modificar um pouco o exemplo acima.
pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Nesta situação, ao retirar as roupas da vítima, o
Atenção: não houve abolitio criminis, pois, apesar sujeito toca e beija suas partes íntimas, quando
do art. 214 de ter sido revogado, as condutas por é surpreendio pela polícia. Muito embora não
ele tratadas encontram-se hoje previstas no art. tenha praticado a conjunção carnal, que era
213, CP (houve, portanto, o que chamamos de con- seu dolo, antes de ser interropido pela polícia
tinuidade típico-normativa). praticou atos libidinosos ao tocar as partes ínti-
mas da vítima. Neste caso, vai responder pelo
O estupro tem, também, duas formas qualifica- estupro consumado.
das pelo resultado. A primeira pela ocorrência de
lesão corporal grave (tanto faz as graves quanto as z “curra” é o nome vulgarmente dado para a situa-
gravíssímas) ou pela idade da vítima: ção na qual dois ou mais agentes se revezam
na prática do estupro contra a mesma vítima.
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de Ocorre, por exemplo, quando um agente segura
natureza grave ou se a vítima é menor de 18 a vítima, enquanto o outro mantém com ela con-
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: junção carnal; logo após, eles se revezam. Neste
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. caso, cada um dos agentes vai responder por
dois crimes (um como autor e outro como coau-
E a outra forma é qualificada pela morte: tor, como no nosso exemplo; ou ainda como partí-
cipe, dependendo da situação).
§ 2º Se da conduta resulta morte: z a presença de lesões na vítima não é requisito
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. necessário, uma vez que certos atos libidinosos
não deixam marcas visíveis que sejam passíveis
São, assim, três as formas qualificadas: de serem apuradas por meio de exame de corpo
de delito. Na verdade, em algumas situações, o
z Estupro com resultado lesão corporal grave (§ 1º)
contato físico entre a vítima e o agressor não é
z Estupro contra vítima menor de 18 e maior de 14 (§ 1º)
necessário para que haja consumação do estu-
z Estupro com resultado morte (§ 2º)
pro (com relação aos atos libidinosos). O tipo do art.
Todos dos tipos de estupro (caput e parágrafos) são 213, menciona “praticar” ou “permitir” [a vítima],
considerados hediondos, confome o art. 1º, V, da Lei que com ela se pratique ato libidinoso diverso da
conjunção carnal. Imagine a situação hipotética
nº 8.072, de 1990.
na qual o agente constrage a vítima mediante gra-
z Hediondos: ve ameaça a tocar seu próprio corpo de maneira
erótica (automasturbação). Neste caso o agente vai
„ Art. 213, caput (estupro simples) responder pelo estupro, uma vez que constrangeu
„ Art. 213, § 1º (qualif. pela lesão grave/ idade) a vítima a praticar ato libidinoso, mediante grave
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

„ Art. 213, § 2º (qualif. pela morte) ameaça.


z absurdamente, o casamento da vítima com o
O sujeito ativo e o sujeito passivo do estupro agressor (ou com terceiro), até 2005, configura-
podem ser qualquer pessoa, sem qualquer qualifi- va causa extintiva da punibilidade para os crimes
cação especial (crime comum). Homens e mulheres de estupro. A Lei nº 11.106, de 2005, entre outras
podem ser tanto autores quanto vítimas (crime bico- mudanças, acabou com essa possibilidade.
mum). A esposa pode ser vítima do crime pratica-
do pelo marido, ou seja, ocorre o estupro quando Formas Qualificadas pelo Resultado
o marido constrange, mediante violência ou grave
ameaça, sua esposa à prática de conjunção carnal O art. 213, apresenta duas formas de estupro qua-
ou ato libidinoso. Não há nada que impeça, também, lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no § 2º
que a prostituta seja sujeito passivo. (morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser
É possível a participação (quando um dos autores tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra-
segura a vítima para que com ela se pratique os atos) -se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As
e a coautoria (quando há instigação, por exemplo). lesões leves são absorvidas. 447
Em relação a estes resultados mais graves (lesão Consiste na prática de conjunção carnal ou outro
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado emprego de fraude ou outro meio que impeça ou difi-
lesão ou morte se dá por culpa do atente (lembre-se culte a livre manifestação de vontade da vítima.
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na O exemplo clássico (que já apareceu em mais de
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu- uma prova) é o do médico que pede para que a pacien-
prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar, te tire toda a roupa, pois precisa examiná-la e, sem
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns que seja necessário, toca as partes íntimas da vítima
doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc- (que foi enganada, pois pensou que os toques fossem
ci, entendem ser indiferente o fato do agente agir com parte normal do exame; ou seja houve engano sobre a
dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave. legitimidade do ato). Outro exemplo muito usado é o
O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela idade do irmão gêmeo que toma o lugar de seu irmão e pra-
da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. Em tica conjunção carnal com a namorada deste (engano
relação à idade da vítima, temos as seguintes hipó- sobre a pessoa).
teses (atenção que há uma possível “pegadinha” de
prova).
Importante!
IDADE DA VÍTIMA CONSEQUÊNCIA Na hora da prova não confunda o crime do art.
215 com o do art. 217-A (que vamos ver logo
Estupro simples
Maior de 18 anos mais). A redação da violação sexual mediante
(caput do art. 213, CP)
fraude (art. 215) aponta que o agente deve impe-
Vítima maior de 14 e me- Estupro qualificado dir ou dificultar a livre manifestação da vontade
nor de 18 (§ 1º, art. 213, CP) da vítima: se o agente retira por completo a von-
Estupro de vulnerável tade da vítima (embebedando-a completamen-
Vítima menor de 14 anos te, por exemplo), esta se torna vulnerável, sendo
(art. 217-A, CP)
o caso então da aplicação do tipo penal do art.
217-A (estupro de vulnerável).
Você notou uma “falha”? O que acontece se a víti- Também não confunda o art. 215 com o 213
ma tiver exatos 14 anos, ou seja, se for estuprada exa- (estupro): o meio de execução é diferente:
tamente no dia em que completa 14 anos? Existe uma � Art. 213 (estupro): Violência ou grave ameaça.
lacuna na lei que deixa de fora da forma qualifica- � Art. 215 (violação): Fraude ou outro meio que impe-
da a vítima com exatos 14 anos completos na data ça ou dificulte a manifestação de vontade.
do crime (que fala em vítima “maior de” 14, mas não
menciona com idade “igual”) bem como não tipifica
a conduta com estupro de vulnerável (“menor de” Veja que para que configure este tipo, deve haver
14 anos). Neste caso, o enquadramento é feito como fraude, engano, ardil; se houver violência ou grave
estupro simples (caput do art. 213). Fique atento a este ameaça não configura o art. 215, CP.
fato, que pode ser uma típica “pegadinha’. Se a vítima for menor de 14 anos, vai ser o caso da
incidência do art. 217-A.
Causas de Aumento de Pena
Não é crime hediondo.
As causas de aumento de pena que se aplicam a
todos os crimes contra a dignidade sexual encontram- O parágrafo único, do art. 215, prevê a aplicação
-se no art. 226, que vamos ver mais adiante. também da pena de multa se o delito é praticado com a
Com a entrada em vigor da Lei nº 13.718, de 2018, finalidade de obter vantagem econômica, como no caso
que alterou o art. 225 do Código Penal, todos os cri- do agente que deixa de pagar a prostituta após a reali-
mes contra a dignidade sexual passaram a ser crimes zação da conjunção carnal ou de outro ato libidinoso.
de ação penal pública incondicionada, não precisando
mais da representação da vítima. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018, o art. 215-A
revogou o art. 61 da Lei de Contravenções Penais (que
A atual redação do art. 215, CP, deu-se com as previa conduta semelhante), criando o tipo penal de
modificações da Lei nº 12.015, de 2009, da qual já fala- importunação sexual:
mos quando estudamos o estupro. Aqui houve nova
continuidade típico-normativa: o tipo do 216 foi revo- Art. 215-A Praticar contra alguém e sem a sua
gado e a conduta incluída no art. 215, CP. anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
a própria lascívia ou a de terceiro:
Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar outro Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou não constitui crime mais grave.
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifes-
tação de vontade da vítima: Exemplo de conduta tratada por este tipo penal
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. foi objeto de destaque na mídia em tempos recentes,
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim que se materializava quando o sujeito, dentro de um
de obter vantagem econômica, aplica-se também transporte coletivo, ejaculava na vítima ou se esfre-
448 multa. gava nela.
Os principais aspectos sobre esse crime são: z a paixão do agente pela vítima não exclui o crime
(veja o inciso I, do art. 28, CP, que afirma expres-
z não é hediondo; samente que a emoção e a paixão não afastam a
z é crime subsidiário (só vai se aplicar se não consti- responsabilidade penal);
tuir crime mais grave); z conforme a doutrina majoritária é crime instantâneo,
z é bicomum (homem e mulher podem ser sujeitos não exigindo a prática de atos de forma reiterada;
ativos/passivos); z não se exige que o assédio ocorra dentro do ambiente
z se praticado contra menor de 14 anos, é afastado, de trabalho;
incindo o tipo do art. 217-A; z por último temos a questão da relação professor e
� deve ser praticado contra vítima(s) determina(s); aluno. Existe o crime, por exemplo, quando o pro-
se não é praticado contra pessoa específica, cons- fessor, ao afirmar a uma aluna que precisava de
titui ato obsceno (art. 233, CP) como por exemplo, pontos para ser aprovada em sua disciplina, apro-
quando o agente se masturba no meio de um par- xima-se e toca sua barriga e seus seios? Neste caso
que, sem se dirigir a ninguém de forma particular. temos duas posições: a primeira corrente afirma
que não, por não haver hierarquia ou ascendência
ASSÉDIO SEXUAL do docente em relação ao aluno (já foi o entendi-
mento predominante e ainda prevalece na dou-
O assédio sexual encontra-se previsto no art. 216-A: trina); já pela segunda corrente, adotada pelo STJ
em 2019 (ao analisar exatemente um caso como
Art. 216-A Constranger alguém com o intuito de o do exemplo), afirma que, apesar de não haver
obter vantagem ou favorecimento sexual, prevale- relação de hierarquia, há um domínio do docen-
cendo-se o agente da sua condição de superior hie- te sobre o aluno, sendo aplicável o tipo do assédio
rárquico ou ascendência inerentes ao exercício de sexual. Essa discussão se aplica na relação entre
emprego, cargo ou função. líderes religiosos, como pastores e padres, e seus
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos fiéis; neste caso, aplica-se a posição da doutrina
Parágrafo único. que afirma não ser possível.
§ 2º o A pena é aumentada em até um terço se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos. Em relação à configuração de crime de assédio na
relação entre professor e aluno:
O párágrafo único foi vetado. Temos apenas o § 2º.
A palavra constranger, no caso do art. 216-A, não tem z n uma prova objetiva, o mais indicado é seguir a
o mesmo sentido do que no estupro: o assédio sexual posição do STJ, no sentido de que é possível o assé-
tem a ideia de intimidar alguém a fazer alguma coisa dio sexual entre professores e alunos;
(atos sexuais, libidinosos) sem o uso de violência ou z numa prova discursiva, explique as duas posições.
grave ameaça. O intuito do agente é obter favorecimen- Veja o posicionamento, por exemplo, de Guilher-
to sexual de qualquer forma (pode ser até um beijo), me Nucci.
mediante uma ameaça (quer pode ser explícita ou não)
ou de uma promessa (de promoção, por exemplo), que Lembre-se que em relação à hipótese de assédio
também pode ser explícita ou implícita. sexual entre líderes religiosos: não cabe.
O sujeito ativo está em posição hierarquicamente
superior à vitima (tem maior autoridade na estrutura REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE
administrativa) ou que tem ascendência inerente ao SEXUAL
emprego, cargo ou função que exerce (setor privado);
por sua vez, o sujeito passivo é o subordinado (assédio
vertical). É o que se chama de crime bipróprio (exige Incluído em dezembro de 2018, no CP, pela Lei nº
carecterísticas especiais do sujeito ativo e do passivo). 13.772, de 2018, é o único crime que consta do Capí-
tulo I-A do Título VI:
Não há assédio sexual entre funcionários do mes-
mo nível (assédio horizontal). Também não se confi- Art. 216-B Produzir, fotografar, filmar ou registrar,
gura quando o subordinado assedia o superior. por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado
sem autorização dos participantes:
São aspectos relevantes relativos ao tipo do art. 216-A: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z é crime bicomum; realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou


z o flerte (paquera) ou o namoro não configuram a qualquer outro registro com o fim de incluir pes-
conduta descrita; soa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
z se a vítima é menor de 14 anos, configura o tipo do de caráter íntimo.
art. 217-A;
z é crime formal (de resultado cortado), ou seja,
Note que art. 216-B constitui em um tipo misto al-
consuma-se com o constrangimento;
ternativo, trazendo os seguintes núcleos: produzir,
z o parágrafo § 2º determina o aumento de até um
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio.
terço se a vítima tem mais de 14 e é menor do que
18 anos (cuidado que o dispositivo fala em menor
de 18, mas como vimos, os menores de 14 são cui- Pode se configurar tal crime por exemplo, quando
dados pelo art. 217-A); não estabelece, no entan- um locador instala um equipamento de gravação de ví-
to, o quantitativo mínimo de aumento: a doutrina deo em um imóvel com a finalidade de captar imagens
aponta que deve ser aplicado o aumento mínimo íntimas sem o conhecimento dos ocupantes. Ou, ainda,
existente no CP – um sexto; quando o vizinho filma a vizinha trocando de roupa. 449
O consentimento do ofendido afasta a tipicidade, Veja bem, o art. 218-C (divulgação) prevê um crime
uma vez no tipo consta a expressão “sem a autoriza- mais grave do que o previsto no art. 216-B (divulgação).
ção dos participantes”. Uma das formas mais comuns de prática é o que
se conhece por pornô de vingança (revenge porn, em
inglês) na qual após o término de um relacionamento,
Importante! o agente divulga cenas íntimas da(o) ex-parceira(o).
Os pontos relevantes em relação ao tipo do art.
Apenas o maior de idade, capaz, pode consentir com
218-C são:
o registro. Se a vítima for menor, configura o delito
do art. 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente: z trata-se de crime subsidiário;
Art. 240 Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, fil- z é tipo misto alternativo, ou seja, se o agente praticar
mar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo todos os núcleos que constam no artigo, dentro do mes-
explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou mo contexto fático, responde somente por um crime;
adolescente: z assim como os demais crimes contra a digni-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e dade sexual, procede-se mediante ação pública
multa. incondicionada;
z em relação ao sujeito passivo: pode ser qualquer
um, desde que não seja menor de 18 anos. Neste
É importante notar que a lei fala em “caráter íntimo caso, sendo criança ou adolescente, aplica-se o dis-
e privado”. Por exemplo, filmar um casal realizando ato posto no art. 241-B do ECA:
sexual numa praia não configura o tipo do art. 216-B.
Art. 241-B Adquirir, possuir ou armazenar, por
É cabível a tentativa: o agente pode tentar regis- qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
trar e não consequir. registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
nográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Forma Equiparada
z o parágrafo estipula causa especial de aumento de
O parágrafo único, do art. 216-B, apresenta uma
pena (de 1/3 a 2/3) se o agente mantém ou já man-
forma equiparada ao registro do caput. Neste caso o
teve relação íntima de afeto com a vítima, ou se o
agente não registra cena verdadeira (ou seja, a vítima
crime é cometido com a finalidade de vingança ou
não participa do ato), mas sim faz uma montagem (de
de humilhar a pessoa exposta.
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer meio) para in-
z por fim, o § 2º indica causa especial de exclusão
cluir alguém em cena de nudez ou ato sexual ou libi-
da ilicitude: não há crime com a conduta se dá em
dinoso de caráter íntimo. Com o avanço de softwares
publicação que adote recurso que impossibilite
de manipulação de imagem cada vez mais potentes,
identificar a vítima ou se devidamente autorizado,
essa forma de crime tem aumentado cada vez mais
no caso de pessoa maior e capaz.
na Internet, sobretudo com a inclusão do rosto de pes-
soas famosas em cenas de filmes pornográficos (pro-
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
vavelmente você já ouviu falar do chamado deepfake,
que consiste na manipulação de rostos por meio de
É primeiro dos crimes do Capítulo II, Crimes
inteligência artificial).
sexuais contra vulnerável. No caput do art. 217-A temos
o estupro de vulnerável simples ou próprio:
Vamos aproveitar e estudar outro tipo penal que
tem relação direta com o crime do art. 216-B. Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar outro
ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Leia atentamente os verbos que constam no art.
216-B: produzir, fotografar, filmar ou registrar.
Observe que não há a expressão divulgar. E então, Conforme podemos notar do tipo do art. 217-A, não
o que acontece se alguém divulga a cena registra- é necessário o constrangimento da vítima (mediante
da? Neste caso, incide em uma das formas previstas violência ou grave ameaça): qualquer prática de con-
no art. 218-C, incluído no CP em 2018, divulgação de junção carnal ou outro ato libidinoso com pessoa
cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerá- menor de 14 anos, configura estupro de vulnerável
vel, de cena de sexo ou de pornografia: (o constrangimento é presumido: presunção absoluta).

Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi- Forma equiparada


tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de O § 1º, do art. 217-A, apresenta a figura equiparada
comunicação de massa ou sistema de informática do estupro de vulnerável:
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou [...] § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou ações descritas no caput com alguém que, por
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da enfermidade ou deficiência mental, não tem o
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: necessário discernimento para a prática do ato, ou
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
450 não constitui crime mais grave. resistência.
Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas- z assim como comentamos no caso do estupro do
sivos) para os fins dos crimes sexuais: art. 213, não é necessário o contato físico entre o
autor e a vítima.
z Art. 217-A, caput:
Por fim, cabe mencionar um tema muito interes-
„ Menores de 14 anos (o Professor Rogério San-
sante: trata-se da chamada Exceção de Romeu e Ju-
chez denomina esta de vulnerabilidade absoluta).
lieta. Você certamente já ouviu falar do clássico de
z Art. 217-A, primeira parte: William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se apai-
xona por Romeu, de uma família rival. A personagem
„ Enfermos e doentes mentais que não pos- Julieta, na obra, tinha 13 quando se relacionou amo-
suem o discernimento necessário para a prá- rosamente com Romeu (que, tinha 17). Agora imagine
tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina tal situação frente à legislação penal brasileira: Julieta
esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que, se enquadraria, como vimos, no conceito de vulnerá-
por se tratar de critério biopsicológico, pode vel. Segundo a teoria da Exceção de Romeu e Julieta,
acontecer do enfermo ou doente mental ter o caso haja consentimento e, desde que haja pequena
discernimento exigido para a prática do ato). diferença de idade entre os parceiros (normalmente
se fala em até 5 anos) não seria o caso de considerar o
z Art. 217-A, parte final: ato sexual, por exemplo, de um casal de namorados de
13 e 18 anos, como estupro. No entanto, no Brasil, con-
„ Qualquer um que, por outra causa, não pos- forme jurisprudência consolidada, tal exceção não
sa oferecer resistência (por exemplo uma se aplica (lembre-se, de acordo com o STJ, “o consen-
pessoa que se encontra em coma ou sob efei- timento da vítima, sua eventual experiência sexual
to de sedação; pessoa desacordada, por moti- anterior ou a existência de relacionamento amoroso
vo de embriaguez; vítima do golpe “boa noite entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do
cinderela”). crime” – Resp 148.0881/PI, julgado em 26/08/2015).

O parágrafo 5º, do art. 217-A, consiste em norma CORRUPÇÃO DE MENORES


penal explicativa: aplica-se a pena do estupro de vul-
nerável mesmo que a vítima tenha consentido com o O art. 218, do CP, trata do crime de corrupção de
ato ou ainda que já tenha praticado relações sexuais
menores
anteriores (ou seja a virgindade é irrelevante)
Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze)
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º
anos a satisfazer a lascívia de outrem.
deste artigo aplicam-se independentemente do con-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
sentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime.
Alguns autores entendem quo nomen juris (nome do
crime) foi revogado (a redação anterior falava em “cor-
Os parágrafos 3º e 4º apresentam formas qualifi- romper”, que foi trocada por “induzir”), e tratam este
cadas, pela ocorrência de lesão corporal grave ou de delito de “indução de vulnerável à lascívia”. No entanto
morte: essa divergência não traz maiores implicações.
Induzir, como você já sabe, é sugerir, dar a ideia de
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natu-
algo a alguém. Nesta figura, o sujeito ativo é o media-
reza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
dor (intermediário ou proxeneta) que induz a vítima o
§ 4º Se da conduta resulta morte: menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (desejo sexual)
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. de outrem (do beneficiário: o voyeur ou observador).
É importante saber que para se configurar o tipo do
art. 218, CP, o agente deve induzir a vítima (menor de
Todas as hipóteses de estupro de vulnerável (§§
14) a praticar algum ato que tenha a finalidade satis-
1º, 3º e 4º) são consideradas hediondas (conforme
fazer a lascívia de outra pessoa (o beneficário). Veja
prevê o inciso VII, do art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990).
bem, o ato deve ser unicamente contemplativo (como
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

por exemplo, fazer a vítima vestir uma fantasia sensual


z Hediondos:
ou se mostrar nua), ou seja, não ocorre contato físico
„ Art. 217-A caput (estupro de vulnerável próprio) entre o beneficiado e a vítima. Este terceiro também
„ Art. 217-A, § 3º (qualificada pela lesão grave) não pode vir a filmar, fotografar ou, de qualquer meio,
„ Art. 217-A, § 4º (qualificada pela morte) registrar a cena; caso isso ocorra, vai responder pelo
previsto no art. 240 do ECA (crime mais grave, com
O art. 217-A tem os seguintes aspectos: penas de reclusão entre 4 e 8 anos, além de multa).
Caso ocorra a prática de conjunção carnal ou outro
z é crime material, consumando-se com a prática da ato libidinoso envolvendo a vítima, aquele que indu-
conjunção carnal ou de outro ato libidinoso; ziu (caso tenha agido dolosamente) e beneficiado, vão
z é cabível a tentativa; responder pelo tipo do art. 217-A (estupro de vulne-
z trata-se de tipo misto alternativo (lembre-se dos rável). Esta é a corrente majoritária, defendida por
comentários já feitos em outros crimes contra a Rogério Greco, Fernando Capez, Rogério Sanches e
dignidade sexual); Cleber Masson, entre outros. 451
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA Proxenetismo Mercenário
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
Se houver a intenção do agente em obter lucro,
Art. 218-A Praticar, na presença de alguém menor aplica-se também a pena de multa:
de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van-
satisfazer lascívia própria ou de outrem: tagem econômica, aplica-se também multa.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Neste caso, dá-se o nome ao o agente de proxeneta
O tipo do art. 218-A pode ser divido em duas partes: mercenário.

Formas Equiparadas
z p
raticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso
apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti-
De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas:
ma menor de 14 anos;
z induzir menor de 14 a presenciar tais atos. z quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidi-
noso com vítima vulnerável em situação de pros-
Aspectos que merecem destaque: tiuição ou exploração sexual
z o proprietário, gerente ou responsável do local em
z d
e acordo com a maior parte da doutrina não se que ocorre a prática do delito do caput, lembran-
exige a presença física da vítima no mesmo local do, claro, que devem ter conhecimento (pois não
onde ocorre a conjunção ou o ato libidonoso. Ou há responsabilidade objetiva). Neste caso a cassa-
seja, pode ser praticado por meio virtual; ção da licença do local é efeito obrigatório (§ 3º).

z é
tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre-
senciar e também pratica os atos, responde por um Trata-se de crime hediondo, em todas as formas:
só crime. caput, § 2º, I e II. Agora já sabemos quais são os três os
crimes contra a dignidade sexual que são hediondos:
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE
z Art.213, caput e §§:
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE
CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VUNERÁVEL
„ Estupro.
O art. 218-B tem seis núcleos:
z Art.217-A, caput e §§:
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostitui-
„ Estupro de vulnerável.
ção ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade z Art.218-B, caput e §§:
ou deficiência mental, não tem o necessário discer-
nimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir „ Favorecimento da prostituição ou outra forma
ou dificultar que a abandone: Pena – reclusão, de 4 de exploração sexual de vulnerável.
(quatro) a 10 (dez) anos.
DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA
O art, 218-B visa punir o sujeito que insere (subme- DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO
te, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vulnerável OU DE PORNOGRAFIA
(homem ou mulher) no âmbito da exploração sexual
O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que
(prostituição e turismo sexual), tráfico para fins se-
possui seis núcleos (tipo misto alternativo):
xuais e pornografia) ou facilita sua permanência ou
impede ou dificulta sua saída. Em resumo é trazer
Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
a vítima vulnerável para a prostituição (ou outra tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
forma de exploração) ou impedir que a vítima divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
saia desse meio (neste último caso trata-se de crime comunicação de massa ou sistema de informática
permanente). ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
Existem 4 formas de exploração sexual: de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
z Prostituição; Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
z Turismo sexual; não constitui crime mais grave.
z Tráfico para fins sexuais;
z Pornografia. Visa coibir qualquer tipo de divulgação de mate-
rial que contenha:
O art. 218-B só cuida da prostiuição e do turismo
sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado pelo z c ena de estupro ou estupro de vulnerável ou que
inciso V, art. 149-A, CP (tráfico de pessoas); a pornogra- faça apologia ou induza a prática de tais crimes;
fia envolvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A z c ena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consen-
452 e 241-e, do ECA. timento da vítima.
Para os fins do art. 218-C são vulneráveis: pessoas a) transmite à vítima doença sexualmente
com enfermidades ou doença mental ou que não pos- transmissível de que sabe ou deveria saber ser
sam, por qualquer razão, oferecer resistência. Veja portador;
bem: estas devem ter mais de 18 anos! No caso da b) ou se a vítima é idosa (igual ou maior de 60 anos)
divulgação de imagens de estupro, estupro de vulne- ou pessoa com deficiência.
rável ou cenas de pornografia, nudez ou sexo, apli-
cam-se as disposições do ECA. „ Correm em segredo de justiça. (234-B)
Bem, agora sabemos quais são os crimes contra a
dignidade sexual mais importantes (Capítulos I e II) e E assim finalizamos o estudo dos crimes contra a
quais as divergências doutrinárias e jurisprudenciais dignidade sexual.
que são aplicados a eles. O Capítulo III, que tratava
sobre o Rapto, está revogado.

O Capítulo IV, nos arts. 225 e 226, apresenta dis- CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
posições gerais que se aplicam aos crimes que já
vimos até agora (do art. 213 ao 218-C). Veja: CRIMES CONTRA O CASAMENTO

z Disposições aplicáveis a todos os crimes dos Cap. I Bigamia


e II:
O primeiro crime contra o casamento tipificado
no Código Penal é o de bigamia, que consiste em dois
„ Procedem-se mediante ação penal pública
elementos: conduta de contrair novo casamento e, ao
incondicionada (art. 225)
mesmo tempo, o agente ser casado.
„ Aumento de pena (art. 226): A lei não faz diferença se o agente é homem ou
mulher.
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o O agente desconsidera a proibição legal constan-
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; te no inciso VI, do art. 1521, do CC, que diz que não
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto podem se casar as pessoas já casadas, e dá início à
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companhei- formalização do seu pedido de casamento mediante
ro, tutor, curador, preceptor ou empregador processo de habilitação para o casamento, nos termos
da vítima ou por qualquer outro título tiver do art. 1525, do CC.
autoridade sobre ela; O bem jurídico penalmente protegido é a família,
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime com base no art. 226, da CF, de 1988, principalmente
é praticado: sobre o caráter monogâmico do matrimônio.
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agen- Rogério Grecco afirma que um dos documentos
tes (estupro coletivo); exigidos no processo de habilitação para casamento é
b) para controlar o comportamento social ou sexual a declaração feita pelos requerentes, na qual fica con-
da vítima (estupro corretivo) signado o estado civil. Ele destaca que, ao praticar o
crime de bigamia, o agente também comete o delito de
O Capítulo V apresenta 5 tipos penais (arts. 227, falsidade ideológica, crime-meio, que é absorvido pelo
228, 229, 230 e 232-A). Sobre estes tipos, não há diver- crime-fim, bigamia.
gências doutrinárias ou jurisprudênciais, valendo a Para que ocorra o delito de bigamia é necessário
leitura da lei seca (note que o art. 232-A não tem nada que o agente já seja casado legalmente, ou seja, casa-
a ver com dignidade sexual, tratando de migração). Os mento válido de acordo com as normas de legislação
arts. 231 e 231-A foram revogados, passando o tema a civil.
ser tratado pelo art. 149, CP. Não se pode falar em crime de bigamia quando:
O Capítulo VI traz dois tipos, o do art. 233 (ato obs-
ceno) e 234 (escrito ou objeto obsceno). Sobre eles, z O agente mantinha anteriormente com alguém
além da leitura da lei, cabe mencionar que há discus- união estável, mesmo que dessa relação tenha
são sobre a constitucionalidade de ambos, em relação advindo filhos.
ao primeiro por violação ao princípio da taxatividade z O agente oficializou a cerimônia religiosa peran-
(seria muito vago, subjetivo) e, quanto ao segundo, te a Igreja e não obedeceu às formalidades legais
por ferir a liberdade de expressão. contidas no art. 1515, do CC.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z O casamento anterior é inválido (anulado ou decla-


rado nulo) por ocorrência de declaração judicial.
Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
apresenta disposições que são aplicáveis a todo o Cleber Masson explicita que a bigamia é classifica-
Título dos crimes contra a dignidade sexual, confo- da como crime plurissubjetivo, plurilateral ou de con-
me observado a seguir: curso necessário, pois o tipo penal exige a presença de
duas pessoas, um homem e uma mulher.
z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a O bem jurídico imediato penalmente protegido
dignidade sexual: é a instituição familiar, e, mediatamente, o cônjuge
inocente.
„ Aumento de pena (234-A): Podemos esquematizar então as características do
crime de bigamia como:
III – de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resul-
ta gravidez; z O crime é doloso;
IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente: z Não se admite a modalidade culposa; 453
z O crime se consuma com a efetiva celebração do z O sujeito passivo, por sua vez, é o Estado e, media-
segundo matrimônio; tamente, o cônjuge enganado;
z É possível a tentativa; z O crime é doloso e não admite a modalidade culposa;
z A ação penal é pública incondicionada. z O crime se consuma com o casamento, que se aper-
feiçoa quando os contraentes manifestam, perante
De acordo com o § 2º, do art. 235, do CP, anula- o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conju-
do por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o gal, nos termos do art. 1514, do CC;
segundo casamento por motivo que não a bigamia, z Apesar de discussão na doutrina, prevalece que esse
considera-se inexistente o crime. crime admite tentativa, uma vez que estará condi-
Sobre a prescrição, esta começa a correr a partir
cionado à anulação ou declaração de nulidade do
da data em que o fato se tornar conhecido.
casamento por meio de sentença civil de nulidade ou
O conhecimento do fato, exigido pela lei, refere-se
anulação do casamento;
à autoridade pública que tenha poderes para apurar,
z O termo inicial do prazo decadencial é a data do trân-
processar ou punir o responsável pelo delito, aí se
sito em julgado da sentença anulatória do casamento;
incluindo o Delegado de Polícia, o membro do MP e o
z De igual modo, a prescrição da pretensão punitiva
órgão do Poder Judiciário.
somente se inicia a partir do trânsito em julgado da
Agora podemos ilustrar. João está validamente
casado com Maria desde 2010 e moram em São Paulo. sentença anulatória do casamento;
João viajou a trabalho para Salvador, cidade em que z A ação penal é privada personalíssima.
permanecerá por dois anos, 2019 e 2020. Em Salvador,
no ano de 2020, conheceu Luiza. João e Luiza se habi- A ação penal depende de queixa do contraente enga-
litaram no cartório para se casarem. O casamento foi nado e não pode ser intentada senão depois de transitar
celebrado em agosto de 2020. João praticou o crime- em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impe-
-meio, falsidade ideológica em Salvador por se declarar dimento, anule casamento, segundo o § único, do art. 236,
solteiro. João praticou o crime-fim, bigamia, ao se casar do Decreto-Lei 2.848, de 1940.
com Luiza, absorvendo o crime de falsidade ideológica. Aproveitando as hipóteses anteriores, vamos modifi-
Maria e Luiza não praticaram nenhum crime. car a história. João está validamente casado com Maria
desde 2010 e moram em São Paulo. João viajou a traba-
Figura Privilegiada lho para Salvador, cidade em que permanecerá por dois
anos, 2019 e 2020. Em Salvador, no ano de 2020, conhe-
A figura privilegiada está no § 1º, do art. 235, do CP, ceu Luiza. Atenção: João disse a Luiza que foi casado. João
que dispões que aquele que, não sendo casado, con- ainda é casado com Maria, não dissolveu o casamento.
trai casamento com pessoa casada, conhecendo essa Não anulou ou declarou nulo seu casamento com Maria.
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de João, portanto, induziu Luiza em erro. Sendo assim, João
um a três anos. e Luiza se habilitaram no cartório para se casarem. O
Vamos aproveitar a hipótese anterior e mudar um casamento foi celebrado em agosto de 2020. João praticou
pouco a história: João está validamente casado com o crime-meio, falsidade ideológica em Salvador por se
Maria desde 2010 e moram em São Paulo. João viajou declarar solteiro. João praticou o crime-fim, bigamia, ao
a trabalho para Salvador, cidade em que permanecerá se casar com Luiza, absorvendo o crime de falsidade ideo-
por dois anos, 2019 e 2020. Em Salvador, no ano de lógica. Luiza não praticou nenhum crime, pois foi induzi-
2020, conheceu Luiza. Atenção: Luiza, mesmo saben- da em erro por João. Maria não praticou nenhum crime.
do que João é casado com Maria, que vive em São
Paulo, foi ao cartório com João e se habilitaram para Conhecimento Prévio de Impedimento
se casarem. O casamento foi celebrado em agosto de
2020. João praticou o crime-meio, falsidade ideológica De acordo com o art. 237, do CP, o agente que tem
em Salvador por se declarar solteiro. João praticou o o conhecimento prévio da existência de impedimen-
crime-fim, bigamia, ao se casar com Luiza, absorven- to que lhe cause a nulidade absoluta e, mesmo assim,
do o crime de falsidade ideológica. Luiza, sabendo que contrai casamento, conhecendo esta circunstância,
João é casado, pratica o crime de bigamia na figura praticará o crime de conhecimento prévio de impedi-
privilegiada. Maria não pratica nenhum crime. mento com pena prevista de detenção de três meses
a um ano.
Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de Trata-se mais uma vez de lei penal em branco
Impedimento
homogênea, pois os impedimentos matrimoniais são
indicados pelo art. 1.521, do CC.
O crime de induzimento a erro essência e ocultação
de impedimento está previsto no art. 236, do CP, que
Art. 1.521 Não podem casar:
dispõe que se considera delito contrair casamento, indu- I - os ascendentes com os descendentes, seja o paren-
zindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultan- tesco natural ou civil;
do-lhe impedimento que não seja casamento anterior. II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
Cleber Masson ensina que o objeto material do cri- adotado com quem o foi do adotante;
me é o casamento. IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais cola-
terais, até o terceiro grau inclusive;
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, visto V - o adotado com o filho do adotante;
que o delito pode ser praticado por ambos os con- VI - as pessoas casadas;
traentes, na situação em que simultaneamente um VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
engana o outro no tocante a determinado impedi- homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
454 mento, desconhecido do outro consorte; consorte.
O elemento material consiste em o agente se casar, z O crime se consuma com a atribuição de autorida-
conhecendo a existência do impedimento. Não exige de pelo agente, prescindindo-se da celebração de
comportamento ativo do agente. Basta não declarar a qualquer casamento;
causa dirimente absoluta, simples omissão. z É possível a tentativa;
Vejamos, por exemplo: Adolfo e Marisa se casam. Eles z A ação penal é pública incondicionada.
omitem o fato de que Marisa é cônjuge sobrevivente de
Lucas e que Adolfo foi condenado por homicídio por ter Simulação de Casamento
matado Lucas. Art. 237, do CP, combinado com o inciso
VII, do art. 1521, do CC. Ou seja: O crime de simulação de casamento está previs-
to no art. 239, do CP, em que diz que pratica crime o
z O bem jurídico penalmente tutelado é a família; agente que simula casamento mediante engano de
outra pessoa.
z O objeto material é o casamento;
z Se o agente tem conhecimento da existência do
z O bem jurídico penalmente protegido é a família,
impedimento, salva a hipótese que caracteriza o
especialmente no que diz respeito à regularidade
crime de bigamia, e ainda assim convola matrimô-
do casamento;
nio, a ele será imputado o crime de conhecimento z O objeto material é o casamento;
prévio de impedimento; z Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
z Não há fraude para enganar o outro contraente. z É possível a participação de terceiros;
Basta não declarar o impedimento matrimonial, z O sujeito passivo é o Estado, em decorrência do seu inte-
despontando como suficiente a simples omissão. resse na integridade do matrimônio, e, mediatamente,
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; a pessoa enganada pela simulação de casamento;
z Se ambos os contraentes têm conhecimento do impe- z O crime é de modalidade dolosa;
dimento, serão considerados coautores do delito; z Não se admite a modalidade culposa;
z O Estado, em face do seu interesse na preservação z O crime se consuma com a simulação de qualquer
das instituições familiares e na regularidade dos ato relacionado à celebração do matrimônio, pou-
casamentos, é o sujeito passivo desse delito; co importando se o agente conseguiu alcançar a
z O crime é de modalidade de dolo direto, represen- falsa declaração de casado com outra pessoa;
tado pela expressão “conhecendo a existência de z É possível a tentativa;
impedimento que lhe cause a nulidade absoluta”; z A ação penal é pública incondicionada.
z Não se exige nenhuma finalidade específica, e não
se admite a modalidade culposa; Vamos ilustrar. Pedro e Beatriz fazem o requeri-
z O crime de conhecimento prévio de impedimento mento para habilitação para se casarem. Pedro simu-
la o requerimento, mas Beatriz acredita que está tudo
se consuma com o casamento, que se realiza quan-
correto. Se o casamento não vem a ser celebrado não
do os nubentes manifestam, perante o juiz, a sua
há crime. Se ocorre a celebração, o ato é simulado,
vontade de estabelecer vínculo conjugal;
pois Pedro enganou Andresa.
z É possível a tentativa; Não há crime se os noivos simulam a celebração
z A ação penal é pública incondicionada; para pregarem uma peça para os amigos.
z O Ministério Público pode ajuizar ação civil para Lembrando: o crime consiste em um consorte
decretação de nulidade do casamento, antes ou simular o casamento no sentido de faz de conta, dan-
simultaneamente ao oferecimento da ação penal. do aparência de real aquilo que é falso. O agente enga-
no o outro contraente.
Simulação de Autoridade para Celebração de
Casamento CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO

Pratica crime contra a família o agente que se atri- Registro de Nascimento Inexistente
buir falsamente autoridade para celebração de casa-
mento, conforme disposto no art. 238, do CP. O rol dos crimes contra o estado de filiação inicia
Este crime diz respeito ao presidente da celebração. com a tipificação do registro de nascimento inexistente.
Por exemplo, Vitor e Andresa estão se casando. Pratica esse delito o agente que promove no regis-
Cumpriram todos os requisitos da legislação civil. tro civil a inscrição de nascimento inexistente, confor-
Porém, o celebrante não pode comparecer e para não me disposto no art. 241, do CP.
deixarem de se casarem na data marcada, o irmão da
O bem jurídico penalmente tutelado é o estado de
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

noiva, que é escrivão no cartório, celebra o casamen-


to. A conduta criminosa de simulação de autoridade filiação, como medida protetora da instituição fami-
para celebração de casamento recai no irmão da noi- liar. Protege-se a regularidade do sistema de registro
va. Vitor e Andresa não praticaram crime. civil, pois os atos nele inscritos gozam de fé pública.
Temos, então:

z O bem jurídico penalmente tutelado é a família e Importante!


a regularidade do exercício de função pública rele- Rogério Grecco destaca que o delito de registro
vante, qual seja, juiz de paz; de nascimento inexistente é uma forma especia-
z O objeto material é o casamento; lizada do crime de falso, haja vista que o agente
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; fornece, falsamente, os dados exigidos pelo art.
z O sujeito passivo é o Estado e, mediatamente, as 54, da Lei de Registros Públicos, ao Cartório do
pessoas enganadas pela conduta criminosa; Registro Civil, a fim de promover a inscrição de
z Só existe o crime na modalidade dolosa; nascimento inexistente.
z Não se admite a modalidade culposa; 455
Vejamos: por exemplo, Guilherme vai ao cartório z O crime de parto suposto se consuma com a suposi-
e fornece os dados para registrar o nascimento de ção do parto, ou, na hipótese de gravidez real, com
“alguém”, pessoa inexistente, como se seu filho fosse: a troca da criança que nasceu morta por outra;
z Na segunda conduta típica, a consumação se dá
z O registro civil é o objeto material do crime de com a inscrição no registro do filho alheio como
registro de nascimento inexistente. próprio;
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Admite- z E nas duas últimas hipóteses, a consumação recla-
-se o concurso de pessoas. ma a prática de ato que efetivamente importe na
z O sujeito passivo é o Estado e as pessoas lesadas supressão ou alteração do estado civil do neonato;
pelo falso registro de nascimento. z É possível a tentativa em todas as condutas típicas;
z A ação penal é pública incondicionada.
z O crime é de modalidade dolosa. Não se admite a
modalidade culposa.
z O crime se consuma com a efetiva inscrição no A pena prevista é de reclusão de dois a seis anos,
contudo, se o crime é praticado por motivo de reco-
registro civil do nascimento inexistente.
nhecida nobreza, a pena cominada é detenção, de um
z É possível a tentativa.
a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
z A ação penal é pública incondicionada.
Sonegação de Estado de Filiação
Parto Suposto, Supressão ou Alteração de Direito
Inerente ao Estado Civil de Recém-nascido
A conduta de deixar em asilo de expostos ou outra
instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocul-
O crime está previsto no art. 242, do CP, pois o par- tando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim
to suposto é quando a agente dá parto alheio como de prejudicar direito inerente ao estado civil configu-
próprio ou registra como seu o filho de outrem. Outra ra o crime de sonegação de estado de filiação, previsto
conduta é o ato de ocultar recém-nascido ou substi- no art. 243, do CP.
tuí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao Vejamos: um dos fundamentos à caracterização do
estado civil. delito de sonegação do estado de filiação é que esse
São três elementos: abandono se dê sem que a pessoa que o leve a efeito
informe aos responsáveis pela instituição, pública ou
z A conduta de dar parto alheio como próprio; particular, na qual foi entregue a criança, a respeito
z A conduta de registrar como seu o filho de outrem; de sua filiação correta, seja em forma de ocultação
z A ocultação de recém-nascido ou a substituição, (não informando nada a respeito dela), seja atribuin-
mediante a supressão ou alteração de direito ine- do-lhe outra que não seja a verdadeira. Imagine que
rente a estado civil. uma mulher dê à luz ao filho, leve o recém-nascido
até a porta do orfanato e lá o abandona, ocultando a
Parece história de novela, mas acontece. Tiago e filiação da criança. Se o recém-nascido é abandonado
Débora queriam ter um filho, mas, por questões de em outro lugar, praça, margem de rio, calçada etc. o
dificuldades de Débora engravidar, eles optaram por crime será de abandono de incapaz.
uma farsa. Os amigos de Tiago e Débora iriam dar à
luz filhos gêmeos. Tiago, por trabalhar no hospital, z O objeto jurídico desse crime é o estado de filiação;
oculta um dos gêmeos, comunicando aos pais que um z O objeto material é a criança ou adolescente, filho
dos filhos veio a óbito. Tiago registra o recém-nasci- próprio ou alheio, deixado em asilo de expostos ou
outra instituição de assistência;
do como seu filho, admitindo que Débora deu parto
z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
alheio como próprio. Nesta hipótese, Tiago e Débora
z O sujeito passivo é o Estado e o abandonado pre-
praticam o crime de parto suposto.
judicado em seus direitos inerentes ao estado de
filiação;
z Tutela-se o estado de filiação, a instituição familiar z O crime é de sonegação de estado de filiação.
e a regularidade do registro civil;
z O objeto material pode ser o registro ou então o A modalidade do crime é dolosa, observe que tem
recém-nascido, dependendo da conduta criminosa uma finalidade especial: o agir subjetivo específico.
praticada; Por exemplo, agente na intenção de prejudicar direi-
z O sujeito ativo, na conduta “dar parto alheio como to inerente ao estado civil do filho próprio ou alheio
próprio”, somente pode ser cometido por mulher; abandonado.
z Admite-se coautoria e participação, inclusive de
parte da mãe biológica; z O crime se consuma com o abandono da criança
z Nas demais condutas típicas, pode ser praticado ou adolescente em instituição de assistência, ocul-
por qualquer pessoa; tando ou alterando o estado de filiação, mesmo
z O sujeito passivo é o Estado, interessado na regu- que não se alcance a finalidade específica de pre-
laridade da família, e a pessoa prejudicada pela judicar direito inerente ao estado civil;
conduta criminosa; z Admite-se a tentativa;
z Observe que nas duas primeiras condutas o crime z Ação penal é pública incondicionada.
é doloso, independentemente de qualquer finali-
dade específica; CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
z Já nas duas últimas modalidades, o crime é doloso,
mas com um especial fim de agir, consistente na Abandono Material
intenção de suprimir ou alterar direito inerente ao
estado civil; O crime de abandono material, tipificado no art.
z Não se admite, em nenhuma das quatro hipóteses, 244, do CP, ocorre quando o agente deixa, sem justa
456 a figura culposa; causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho
menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, Observe que a lei penal não se limitou a dizer o
ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) perigo para a formação moral da vítima. Poderá ocor-
anos, não lhes proporcionando os recursos necessá- rer perigo para a sua integridade física ou mesmo
rios ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia para a sua vida. Por exemplo, os pais entregam seu
judicialmente acordada, fixada ou majorada. filho aos cuidados do tio que é portador de embria-
Na prática, podemos exemplificar o agente que guez patológica, ou de uma outra pessoa que é depen-
pede demissão do trabalho com a intenção de deixar dente químico.
de pagar pensão alimentícia ao filho. Também consis-
te no ato de o agente deixar, sem justa causa, de socor- z O objeto jurídico é a assistência familiar, relati-
rer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. vamente aos cuidados a serem dispensados pelos
pais aos filhos menores;
z O bem jurídico penalmente tutelado é a assistência z O objeto material é o filho menor de 18 (dezoito)
familiar (alimentos, habitação, vestuários, remé- anos de idade;
dios etc.); z O sujeito ativo somente pode ser cometido pelos
z O objeto material é a renda, pensão ou outro pais do menor de 18 (dezoito) anos de idade. Em
auxílio; face da vedação do emprego da analogia in malam
z O elemento normativo é representado pela expres- partem no Direito Penal, os tutores ou guardiães
são “sem justa causa”, que funciona como elemen- não podem figurar como sujeito ativo do delito em
to negativo do tipo; análise;
z Presente a justa causa para a falta de assistência z Sujeito passivo é o filho menor de 18 (dezoito) anos
material, o fato será atípico. Por exemplo, o agente de idade, seja, criança ou adolescente.
é demito e não tem provisão para pagar a pensão
alimentícia naquele momento.
Dica
O sujeito ativo somente pode ser as pessoas expres- É indiferente a origem do filho, se o parentesco é
samente indicadas no art. 244, do CP, ou seja, aquele biológico ou adotivo.
que deixa de prover a subsistência do cônjuge, ou de
filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o tra- z O crime de entrega de filho menor a pessoa inidô-
balho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (ses- nea é doloso;
senta) anos. z Não se admite a modalidade culposa;
z O crime se consuma com a efetiva entrega do filho
z O sujeito passivo pode ser: os cônjuges, o filho menor de 18 (dezoito) anos de idade a pessoa cuja
menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o tra- companhia lhe acarrete perigo;
balho, qualquer que seja sua idade, o ascendente z Admite-se a tentativa;
inválido, independentemente da sua idade, ou z Ação penal é pública incondicionada;
maior de 60 (sessenta) anos, se dependente de z A pena prevista é detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
assistência material, bem como qualquer descen- anos, mas poderá ser de 1 (um) a 4 (quatro) anos
dente ou ascendente gravemente enfermo, pouco de reclusão, se o agente pratica delito para obter
importando o grau de parentesco na linha reta; lucro, ou se o menor é enviado para o exterior;
z O crime é doloso, independentemente de qualquer z Incorre, também, na pena de 1 (um) a 4 (quatro)
finalidade específica; anos de reclusão quem, embora excluído o perigo
z Não se admite a modalidade culposa; moral ou material, auxilia a efetivação de ato des-
z O crime se consuma quando o agente deixa, dolo- tinado ao envio de menor para o exterior, com o
samente e sem justa causa, de assegurar os recur- fito de obter lucro;
sos necessários ou falta ao pagamento de pensão z Esta figura equiparada é crime comum e que pode
alimentícia judicialmente acordada, fixada ou ser praticado por qualquer pessoa.
majorada, ou quando deixa de socorrer descen-
dente ou ascendente, gravemente enfermo; Abandono Intelectual
z Não se exige efetivo prejuízo à vítima;
z Não se admite tentativa;
O Código Penal tipifica o delito de abandono inte-
z Ação penal é pública incondicionada;
lectual no art. 246, do CP. Neste delito o agente deixar,
z Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente,
sem justa causa, de prover a instrução primária de
frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por
filho em idade escolar.
abandono injustificado de emprego ou função, o
O verbo “deixar” é utilizado na lei no sentido de
pagamento de pensão alimentícia judicialmente
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

não se levar a efeito, não atuar, no sentido de fazer


acordada, fixada ou majorada.
com que se permita o acesso de filho ao estudo consi-
derado fundamental.
Entrega de Filho Menor a Pessoa Inidônea
A justa causa é um elemento de natureza nor-
mativa, que dá ensejo a um juízo de valor que será
Outro crime contra a assistência familiar é a entre-
realizado caso a caso. Por exemplo, os pais que, por
ga de filho menor a pessoa inidônea, previsto no art.
245, do CP. Neste crime, o agente entrega filho menor se encontrarem em situação de absoluta pobreza
de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia sai- não tendo condições de levar seu filho à escola, que
ba ou deva saber que o menor fica moral ou material- se localiza muito distante de sua casa, ou ainda pelo
mente em perigo. fato de não existir o próprio estabelecimento de ensi-
Os elementos que integram o crime são: a condu- no são hipóteses que podem justificar a ausência de
ta de entregar o filho menor de 18 (dezoito) anos; e a matrícula do filho que se encontra em idade escolar.
pessoa em cuja companhia a agente sabia, ou tinha Configura, portanto, crime a conduta dos pais que
possibilidade de saber, que a vítima ficaria moral ou não matriculam o filho na escola por entenderem que
materialmente em perigo. em casa a educação será melhor. 457
É necessário esclarecer que a idade escolar dever z Induzir menor de 18 (dezoito anos), ou interdito, a
ser aquela apontada pelos arts. 4ºe 6º, da Lei nº 9394, fugir do lugar em que se acha por determinação de
de 1996, que estabelece 4 (quatro) anos o início da ida- quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de
de escolar. lei ou de ordem judicial;
z Confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do
Também é crime de abandono intelectual o ato de curador algum menor de dezoito anos ou interdito;
permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a z Deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legi-
seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: timamente o reclame.

z f requente casa de jogo ou mal afamada, ou convi- Esse crime é de natureza mista alternativa e
va com pessoa viciosa ou de má vida; cumulativa. Guilherme Nucci ensina que dependen-
z frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de do da hipótese concreta, o agente pode responder por
lhe ofender o pudor, ou participe de representação um delito ou pela prática de dois crimes A primeira
de igual natureza; conduta (induzir menor ou interdito a fugir) pode
z resida ou trabalhe em casa de prostituição; ser associada à segunda, que é alternativa (confiar a
z mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comi- outrem ou deixar de entregá-lo).
seração pública.
Dica
Assim, temos que:
Adverte Rogério Grecco:
A ordem do pai, do tutor ou do curador e a justa
z O objeto jurídico é a assistência familiar, no que
causa são consideradas elementos normativos
diz respeito ao direito de acesso ao ensino obriga-
do tipo, que, se presentes, farão com que o fato
tório do filho em idade escolar.
seja considerado atípico.
z O objeto material do crime é a instrução primária
do filho em idade escolar.
O objeto material do crime é a pessoa menor de 18
z O sujeito ativo, por ser o delito do art. 246, do CP,
(dezoito) anos de idade ou interditada judicialmente.
crime próprio, somente pode ser cometido pelos
Temos aqui três núcleos dos tipos penais:
pais cujo filho esteja em idade escolar e carente de
instrução primária.
z Induzimento à fuga: fazer nascer na mente do
menor de 18 (dezoito) anos de idade ou interdito
Adverte Cleber Masson que o crime de abando
a vontade de fugir do lugar em que se acha por
intelectual (art. 246, do CP) não se admite a analogia
determinação de quem sobre ele exerce autorida-
in malam partem no direito penal, os tutores ou qual-
de, em virtude de lei ou decisão judicial;
quer outra espécie de responsável legal pela guarda z Entrega arbitrária: entregar a outrem, sem ordem
da criança ou adolescente não podem figurar como dos pais, do tutor ou do curador, a pessoa menor
sujeito ativo do delito. de 18 (dezoito) anos de idade ou interditada
judicialmente;
z Sujeito passivo é o filho dependente de instrução z Sonegação de incapazes: deixar, recusar-se a
primária e em idade escolar; entregar o menor de 18 (dezoito) anos ou interdito
z O crime é doloso; a quem legitimamente o reclame, comportando-se
z Não se admite a modalidade culposa, como na desta forma sem justa causa.
hipótese dos pais que negligentemente se esque-
cem de promover a matrícula do filho em idade Temos então as seguintes características:
escolar no estabelecimento de ensino;
z O crime se consuma quando os pais deixam de z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
efetuar a matrícula do filho em idade escolar em z Já o sujeito passivo, são, imediatamente os pais,
estabelecimento de ensino após encerrado o prazo tutores ou curadores e, mediatamente, a pessoa
para matrícula e os genitores permanecem inertes; menor de 18 (dezoito) anos de idade ou judicial-
z Consuma-se também quando, por decisão dos pais, mente interditada;
o filho em idade escolar definitivamente para de z O crime é doloso;
frequentar o estabelecimento de ensino; z Não se admite a modalidade culposa;
z A consumação prescinde da comprovação de efeti- z Admite-se a tentativa no induzimento à fuga e na
vo prejuízo à criança ou adolescente; entrega arbitrária;
z Não se admite tentativa; z Não se admite a tentativa na sonegação de incapazes;
z Ação penal é pública incondicionada. z Ação penal é pública incondicionada.

CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA Consuma-se o crime a partir de:


CURATELA
z I nduzimento à fuga, com o simples induzimento
Induzimento à Fuga, Entrega Arbitrária ou Sonegação à fuga, desde que idôneo ao convencimento, pois
de Incapazes a lei não condicionou a pena à fuga concreta do
menor de 18 (dezoito) anos de idade ou interdito.
O crime de induzimento à fuga, entrega arbitrária z Entrega arbitrária, quando concretiza a entrega do
ou sonegação de incapazes, previsto no art. 248, do CP, menor de 18 (dezoito) anos ou interdito a terceira
458 é um crime com algumas condutas: pessoa, sem autorização do pai, tutor ou curador.
z Sonegação de incapazes, no instante em que o z Consuma-se quando o menor de 18 (dezoito) anos
agente deixa, sem justa causa, de entregar o menor de idade ou interdito é retirado da esfera de vigi-
ou interdito a quem legitimamente o reclame. lância da pessoa que detinha sua guarda em virtu-
de de lei ou de ordem judicial;
Subtração de Incapazes z Admite-se a tentativa;
z Ação penal é pública incondicionada;
O crime de subtração de incapazes está previsto no z A pena prevista no CP é detenção, de dois meses a dois
art. 249, do CP. Neste crime o agente subtrai menor de anos, se o fato não constitui elemento de outro crime.
18 (dezoito) anos ou interdito ao poder de quem o tem
sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial. No caso de restituição do menor ou do interdito, se
este não sofreu maus tratos ou privações, o juiz pode
Destaca-se os seguintes elementos que integram o deixar de aplicar pena.
crime:

z A conduta de subtrair menor de 18 (dezoito) anos


ou interdito;
z Poder de quem o tem sob a sua guarda;
CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE
z Em virtude de lei ou de ordem judicial. PÚBLICA
Veja que o menor de 18 (dezoito) anos ou interdito Incolumidade é o estado de preservação ou de
deverá estar sob o poder de quem detém a sua guar- segurança da pessoa ou de coisas relacionadas a pos-
da, sendo que esta poderá ser proveniente de lei, por síveis eventos lesivos.
exemplo, os pais em relação aos filhos no exercício Os crimes de perigo, como sustenta o próprio
do poder familiar, ou decorrente de decisão judicial, nome, trazem consigo a probabilidade da ocorrência
como acontece nas hipóteses em que se é nomeado de um evento perigoso. Observa-se que a consumação
um curador ao interdito. dos crimes de perigo não depende da efetiva lesão do
O §1º, do art. 249, do CP, destaca que o fato de ser o bem jurídico, basta a exposição a uma situação peri-
agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito gosa, evidenciada pela provável ocorrência de dano.
não o exime de pena, se destituído ou temporariamen-
Crimes contra a incolumidade pública são caracteri-
te privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.
zados pela exposição ao perigo de um número indeter-
Há crime de subtração de incapaz a simples conduta
minado de pessoas, ameaçadas não apenas no tocante
de retirada da vítima do local onde ela se encontra, da
guarda de seu responsável legal, sendo irrelevante que à vida e à saúde, mas, também, na esfera patrimonial.
o agente aja com a intenção de prejudicar o incapaz. Há
também o crime em estudo se o acusado se excedeu na CRIMES DE PERIGO COMUM
autorização que a representante legal do menor tinha
lhe dado, tirando o menos de sua convivência. Incêndio
Por outro lado, não há crime de subtração de inca-
paz se os menores que eram levados pelo agente para Art. 250 Causar incêndio, expondo a perigo a vida,
a sua casa eram abandonados e viviam nas ruas, em a integridade física ou o patrimônio de outrem:
situação de risco. Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
Aumento de pena
z O bem jurídico penalmente protegido é o poder § 1º As penas aumentam-se de um terço:
familiar, a tutela ou curatela, como medidas ine- I - se o crime é cometido com intuito de obter vanta-
rentes à instituição familiar; gem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
z O objeto material é a pessoa menor de 18 (dezoito) II - se o incêndio é:
anos de idade ou judicialmente interditada; a) em casa habitada ou destinada a habitação;
z Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive os b) em edifício público ou destinado a uso público ou
pais, tutores ou curadores, se tiverem sido destituí- a obra de assistência social ou de cultura;
dos ou se encontrarem temporariamente privados c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo
do poder familiar, tutela, curatela ou guarda (§ 1º, de transporte coletivo;
art. 249, do CP); d) em estação ferroviária ou aeródromo;
z O sujeito passivo é, imediatamente, o detentor da e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
guarda do menor de 18 (dezoito) anos de idade ou f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
interdito e, mediatamente, o próprio incapaz. g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.


Incêndio culposo
O pai, ou mãe, separados judicialmente, não desti-
§ 2º Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de
tuído do poder familiar, não pode ser responsabilizado seis meses a dois anos.
pelo crime em estudo na hipótese em que retém o filho
menor de idade por prazo superior ao judicialmente
Como podemos observar, o crime de causar incên-
convencionado, mas eventualmente pelo delito do art.
dio exige a circunstância de expor em perigo a vida, a
359, do CP, desobediência a decisão judicial sobre perda
integridade física ou o patrimônio de outrem.
ou suspensão de direitos. Realiza a conduta criminosa o agente que originar
Não será vítima do crime de subtração de incapa- o incêndio, de modo a expor perigo à vida, à integrida-
zes o maior de 18 (dezoito) anos de idade, assim como de física ou o patrimônio de pessoas em geral.
a pessoa portadora de enfermidade ou deficiência Incêndio refere-se ao fogo com labaredas de gran-
mental que ainda não foi interditada judicialmente. des proporções, originado pela combustão de qual-
quer matéria, cujo poder de destruição e o de causar
z O crime é doloso; prejuízos se revelam idôneos no caso concreto. Não há
z Não se admite a modalidade culposa; a necessidade de que o perigo seja resultado do fogo 459
em si, é necessário que da ocorrência do incêndio haja § 1º Se a substância utilizada não é dinamite ou explo-
a efetiva comprovação do perigo à vida, à integridade sivo de efeitos análogos:
física ou ao patrimônio de terceiros. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Aumento de pena
Já o sujeito passivo é a sociedade e a pessoa direta- § 2º As penas aumentam-se de um terço, se ocorre
mente atingida pelo incêndio, desde que resulte perigo qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo
comum. anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coi-
Consuma-se o crime de causar incêndio, em regra, por sas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.
ação, admitindo-se por exceção a omissão, quando provo- Modalidade culposa
cado pelo agente e expõe em perigo a vida, a integridade § 3º No caso de culpa, se a explosão é de dinami-
física ou o patrimônio de pessoas indeterminadas. te ou substância de efeitos análogos, a pena é de
É indispensável a prova da efetiva ocorrência da detenção, de seis meses a dois anos; nos demais
situação perigosa. casos, é de detenção, de três meses a um ano.
A simples provocação de incêndio não enseja, por si
só, a incidência do crime de causar incêndio, se da con-
duta não resultar a efetiva exposição da coletividade a Importante!
perigo concreto, sendo possível reconhecer o crime de A pena é menor se a substância utilizada na
dano qualificado pelo emprego de substância inflamável explosão não é dinamite ou explosivo de efeitos
ou explosiva, disposto no inciso II, do parágrafo único, do análogos (§ 1º, do art. 251, do CP).
art. 163, do CP.
Admite-se a tentativa.
Ação penal pública incondicionada. Dinamite, tecnicamente, é explosivo à base de
É caso de aumento de pena, em um terço: nitroglicerina misturada a uma substância inerte que
pode ser serragem ou areia de quartzo.
z Se o crime é cometido com intuito de obter vantagem É prescindível a efetiva detonação do explosivo
pecuniária em proveito próprio ou alheio; para caracterização do crime em estudo, mas funda-
z Se o incêndio, taxativamente, é: mental a exposição de bens jurídicos de pessoas inde-
terminadas à situação de risco.
Além de expor em perigo a vida, é crime de con-
Art. 250 [...]
duta fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transpor-
§ 1º [...]
tar, sem licença da autoridade, substância ou engenho
II - [...]
explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material desti-
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
nado à sua fabricação.
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
obra de assistência social ou de cultura;
O sujeito passivo é a coletividade e os titulares dos
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de
bens jurídicos colocados em perigo ou mesmo lesados.
transporte coletivo;
Elemento subjetivo é o dolo.
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
Para o crime de explosão, é admitida a culpa.
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
Consuma-se com a explosão, arremesso ou simples
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
colocação de engenho de dinamite ou de substâncias
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
de efeitos análogos, desde que da conduta resulte
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
perigo à vida, à saúde ou ao patrimônio de pessoas
indeterminadas, o qual não se presume, devendo ser
z Incêndio culposo demonstrado na situação concreta.
Prova-se o crime de explosão por meio de exame
Há, no Código Penal, o crime de incêndio culposo, cuja de corpo de delito.
pena prevista é de detenção, de seis meses a dois anos. Admite-se a tentativa.
Cabe destacar que as causas de aumento previstas no Ação penal pública incondicionada.
§ 1,º do art. 250, do CP, não se aplicam ao crime de incên-
dio na modalidade culposa. Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante
O incêndio culposo ocorre quando alguém, agindo
com imprudência, negligência ou imperícia, viola o dever Há, no Código Penal, a tipificação do crime de
objetivo de cuidado a todos, expondo a perigo a vida, a expor em perigo a vida, a integridade física ou o patri-
integridade física ou o patrimônio de outras pessoas, mônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante.
mediante a provocação de incêndio que não tenha sido Art. 252 Expor a perigo a vida, a integridade física
previsto no caso concreto. ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico
ou asfixiante:
Explosão Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Modalidade Culposa
Configura crime de explosão o ato de expor em perigo Parágrafo único. Se o crime é culposo:
a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, Pena - detenção, de três meses a um ano.
mediante explosão, arremesso ou simples colocação de
engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos. Neste crime a conduta de expor em perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem, será por
Art. 251 Expor a perigo a vida, a integridade física ou meio do uso de gás tóxico ou asfixiante.
o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremes- O objeto material é o gás tóxico ou asfixiante; no
so ou simples colocação de engenho de dinamite ou de ensinamento de Rogério Grecco, o gás tóxico é o gás
substância de efeitos análogos: venenoso, como, por exemplo, os gases provenientes
460 Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. do ácido cianídrico, amoníaco do anidro sulfuroso,
benzina, iodacetona, cianuretos alcalinos de potássio e z Fabricar é produzir, preparar ou construir;
sódio. O gás asfixiante é aquele de natureza sufocante, z Fornecer equivale a dar ou entregar;
que atua sobre as vias respiratórias, impedindo a víti- z Adquirir significa obter a propriedade;
ma de respirar gases como cloro, bromo, bromacetona, z Possuir é entrar na posse de um bem, usufruindo-o;
clorossulfato de metila, cloroformiato de triclorometila z Transportar é levar algo de um lugar a outro;
fosgeno etc.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
O sujeito passivo é a coletividade.
O sujeito passivo imediato é a coletividade e media- Trata-se de crime doloso e não se admite a moda-
to são as pessoas que tiverem seus bens jurídicos colo- lidade culposa.
cados em perigo ou lesados pela conduta ilícita. Consuma-se quando o sujeito fabrica, fornece,
O crime é doloso. adquire, possui ou transporta, sem licença da autori-
Admite-se a modalidade culposa. dade, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado
Consuma-se quando o agente, mediante utilização de à sua fabricação, não se exigindo a causação de dano
gás tóxico ou asfixiante, expõe efetivamente em perigo a alguém.
a vida, a integridade física ou o patrimônio de terceiros. Destaca-se que o elemento normativo de estar em
Exige-se perícia para comprovação da efetiva ido- desacordo com a legislação pertinente é fundamental
neidade do gás tóxico ou asfixiante. para a prática do delito, uma vez que se estiver em
Gás lacrimogêneo no uso policial é legítima defesa harmonia com a legislação pertinente o agente não
ou estrito cumprimento de dever legal. incorrerá no crime em questão.
Admite-se a tentativa. Não se admite a tentativa.
Ação penal é pública incondicionada. Ação penal pública incondicionada.

Inundação
Fabricação, Fornecimento, Aquisição, Posse ou
Transporte de Explosivos ou Gás Tóxico ou Asfixiante Inundação é a invasão de determinado lugar por
águas que nele não deveriam estar, porque não é o
O art. 253, do CP, trata-se da conduta de fabricar, for- lugar destinado à sua contenção, ao seu depósito ou
necer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da curso natural.
autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico
ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. Art. 254 Causar inundação, expondo a perigo a vida,
a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso
Art. 253 Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou
de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no
transportar, sem licença da autoridade, substância
caso de culpa.
ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou
material destinado à sua fabricação: Pratica o delito aquele que dá origem à inundação,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. expondo efetivamente em perigo a vida, a integridade
física ou o patrimônio da coletividade.
O objeto jurídico é a incolumidade pública. Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
O objeto material é a substância ou engenho Sujeito passivo é a coletividade.
explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material desti-
nado à sua fabricação. INUNDAÇÃO USURPAÇÃO DE ÁGUAS
Trata-se de crime de perigo abstrato.
Art. 254, do CP
É fundamental a elaboração de exame pericial Inciso I, do § 1º, do art.
O agente causa inundação,
para demonstrar a natureza explosiva, tóxica ou asfi- 161, do CP
colocando efetivamente em
xiante da substância fabricada, fornecida, transpor- O agente desvia ou repre-
perigo a vida, a integridade
tada ou possuída pelo sujeito ativo, sem licença da sa em proveito próprio ou
física ou o patrimônio da
autoridade competente. de outrem águas alheias
coletividade
Aqui devemos ter atenção em relação às substân-
cias e engenhos explosivos.
O Estatuto do Desarmamento revogou parte do art. O crime de inundação é consumado quando o
253 do CP, que trata de substâncias e engenhos explosivos. agente, depois de praticar a conduta descrita no art.
E como ficam as “substâncias e engenhos 254, do CP, ou por omissão, deixar de praticar con-
explosivos”? duta que impeça que as águas inundem um local e
Vejamos o inciso II, do art. 16, da Lei nº 10.826, de e coloque em perigo efetivo e comprovado a morte,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

2003: a integridade física ou o patrimônio de pessoas não


individualizadas.
Art. 16 Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, O crime é doloso e é possível a modalidade culposa.
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda Admite-se tentativa.
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, Ação penal é pública incondicionada.
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição de uso restrito, sem autori- Perigo de Inundação
zação e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: Este crime consiste em:
[...]
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar arte- Art. 255 Remover, destruir ou inutilizar, em prédio
fato explosivo ou incendiário, sem autorização próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a inte-
ou em desacordo com determinação legal ou gridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo
regulamentar; natural ou obra destinada a impedir inundação:
[...] Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 461
Vamos conhecer as condutas: Subtração, Ocultação ou Inutilização de Material de
Salvamento
z Remover: mudar de um lugar para outro, transfe-
rir, afastar; Inclui no rol de crimes de perigo comum a sub-
z Destruir: desfazer, demolir, arruinar, fazer desa- tração, ocultação ou inutilização de material de
salvamento.
parecer;
z Inutilizar: invalidar, tornar imprestável para a
Art. 257 Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião
sua função. de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desas-
tre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. meio destinado a serviço de combate ao perigo, de
Sujeito passivo é a coletividade. socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar
Tem por objeto material o obstáculo natural ou serviço de tal natureza:
qualquer obra destinada a impedir inundação. Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
É classificado como crime doloso.
Não admite modalidade culposa. Esse crime consiste em subtrair, ocultar ou inuti-
É imprescindível perícia para demonstrar a efeti- lizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio,
va exposição a perigo de terceiros. ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material
Conforme doutrina, no crime de perigo de inunda- ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao
ção não cabe tentativa, visto que o delito é ato prepa- perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou difi-
ratório da inundação (art. 254, do CP). cultar serviço de tal natureza.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o
Por esse motivo, o crime de perigo de inundação
proprietário do aparelho, material ou qualquer meio
é classificado como crime obstáculo, ou seja, normal-
destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro
mente não se pune, pois apenas revela a tipificação de
ou salvamento.
atos preparatórios.
Sujeito passivo é a coletividade.
Ação penal é pública incondicionada.
O objeto material deste crime é qualquer meio des-
tinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou
Desabamento ou Desmoronamento salvamento, por exemplo, ambulância, maca, medica-
mentos (socorro) e colete salva-vidas, escadas, cordas
Neste crime, a conduta é causar desabamento ou (salvamento).
desmoronamento, colocando em perigo a vida, a inte- O crime possui cinco núcleos:
gridade física ou o patrimônio de outrem.
z Subtrair: inverter a posse, apoderar-se;
Art. 256 Causar desabamento ou desmoronamen- z Ocultar: esconder;
to, expondo a perigo a vida, a integridade física ou z Inutilizar: invalidar, danificar;
o patrimônio de outrem: z Impedir: embaraçar, servir de obstáculo;
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. z Dificultar: colocar empecilhos, tornar algo mais
Modalidade culposa difícil de ser realizado.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano. Trata-se de crime de perigo comum e abstrato.
O crime é de modalidade dolosa.
O objeto material do crime deste crime é o espaço Não admite modalidade culposa.
físico. Admite-se a tentativa.
Ação penal é pública incondicionada.
Há diferença entre desabamento e desmorona-
mento? Sim! Formas Qualificadas de Crime de Perigo Comum

z Desabamento: derrubada de obras produzidas Todos os crimes estudados até aqui possuem for-
pela ação humana, por exemplo, agente que, com mas qualificadas.
um trator, derruba uma casa;
z Desmoronamento: derrubada ou fazer vir abaixo Art. 258 Se do crime doloso de perigo comum resul-
as partes do solo, como, por exemplo, durante as ta lesão corporal de natureza grave, a pena privati-
obras de construção de linhas de metrô, o solo vem va de liberdade é aumentada de metade; se resulta
morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do
abaixo.
fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de
metade; se resulta morte, aplica-se a pena comina-
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. da ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
Sujeito passivo imediato é a coletividade e media-
to, a pessoa física ou jurídica prejudicada pelo desaba- Se o crime doloso de perigo comum resulta lesão
mento ou desmoronamento. corporal de natureza grave, a pena privativa de liber-
O crime é doloso. dade aumenta metade; se resulta morte, é aplicada
Admite modalidade culposa. em dobro.
Exige-se perícia para comprovação da efetiva pro- No caso de culpa, se resultar em lesão corporal, a
babilidade do dano. pena aumenta metade; se resultar em morte, aplica-se
Admite-se tentativa. a pena cominada ao homicídio culposo, aumentando
462 Ação penal é pública incondicionada. um terço (1/3).
Se o incêndio provocado dolosamente pelo agen- z Instalação: objeto dotado de utilidade à estrada de
te resultar em lesão corporal de natureza grave, aí ferro, por exemplo, sinais da linha férrea, placas,
se inclui lesão corporal gravíssima (§§ 1º e 2º, do art. cabos, cancelas, cabines de bloqueio, chaves de
129, do CP), aumenta pela metade a pena privativa desvio etc.;
de liberdade; caso resulte morte, aplica-se a pena em z Telégrafo: sistema de transmissão de mensa-
dobro. gens entre dois ou mais pontos distantes entre si,
O resultado agravador, que importa na configura- mediante sinais;
ção de crime preterdoloso, constitui-se em causa de z Telefone: aparelho destinado a transmitir a dis-
aumento da pena, aplicável na terceira fase de aplica- tância a palavra falada;
ção da pena privativa de liberdade. z Radiotelegrafia: telegrafia sem fio por meio de
Por outro lado, se do incêndio culposo resul- ondas eletromagnéticas.
tar lesão corporal, qualquer que seja sua natureza,
aumenta a pena pela metade. E, se resultar morte, As condutas são as seguintes:
aplica a pena cominada ao homicídio culposo, aumen-
tando em um terço (1/3).
z Destruir é arruinar, extinguir, fazer desaparecer;
Nesse caso, observa um crime culposo qualificado
z Danificar significa deteriorar, estragar, prejudicar;
por resultado de igual natureza.
z Desarranjar equivale a tirar da ordem, desorde-
nar, prejudicar o bom funcionamento;
Difusão de Doença ou Praga
z Colocar é pôr algo em determinado lugar, por
exemplo o sujeito insere obstáculo, ou seja, barrei-
Este crime foi revogado tacitamente pelo art. 61,
ra, empecilho ou impedimento na linha, impedin-
da Lei nº 9.605, de 1998, Lei dos Crimes Ambientais.
O tipo penal contido na Lei dos Crimes Ambientais, do ou perturbando serviço de estrada de ferro;
além de ser mais recente, é também especial. z Transmitir significa expedir, enviar, mandar algo
Na modalidade dolosa, estamos diante de novatio de um lugar para outro, ou de uma pessoa para
legis in mellius, pois a pena estabelecida pela nova lei outra;
é inferior à que estabelecia o Código Penal. z Interromper é suspender a continuidade, fazer
cessar;
CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS z Finalmente, embaraçar é dificultar, estorvar.
DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS
SERVIÇOS PÚBLICOS O sujeito ativo pode ser cometido por qualquer
pessoa.
Perigo de Desastre Ferroviário Sujeito passivo é a coletividade.
Trata-se de crime doloso.
O crime de perigo de desastre ferroviário tutela a A modalidade culposa é admitida.
incolumidade pública, relativamente à segurança do Consuma-se quando restar comprovada a situação
transporte ferroviário. de perigo a pessoas indeterminadas, independente-
mente da efetiva ocorrência do desastre.
Art. 260 Impedir ou perturbar serviço de estrada Detalhe: neste delito, o agente pode praticar o cri-
de ferro: me pelos mais variados meios, pois se trata de crime
I - destruindo, danificando ou desarranjando, total de ação livre.
ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou Admite-se a tentativa.
de tração, obra-de-arte ou instalação; Ação penal é pública incondicionada.
II - colocando obstáculo na linha;
III - transmitindo falso aviso acerca do movimen-
Desastre Ferroviário
to dos veículos ou interrompendo ou embara-
çando o funcionamento de telégrafo, telefone ou
radiotelegrafia; Os mesmos elementos do crime de perigo de
IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre ferroviário se aplicam ao crime de desastre
desastre: ferroviário.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Art. 260 [...]
Tem por objetos materiais a linha férrea, o mate- § 1º Se do fato resulta desastre:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

rial rodante ou de tração, a obra de arte ou instalação, Pena - reclusão, de quatro a doze anos e multa.
o telégrafo, o telefone e a radiotelegrafia: § 2º No caso de culpa, ocorrendo desastre:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
z Linha férrea: estrada composta por trilhos e § 3º Para os efeitos deste artigo, entende-se por
dormentes, reservada à circulação de material estrada de ferro qualquer via de comunicação em
rodante; que circulem veículos de tração mecânica, em tri-
z Material rodante: veículos ferroviários, assim lhos ou por meio de cabo aéreo.
compreendidos como os de tração, por exemplo,
locomotivas, e os rebocados, como: carros de pas- Desastre é o acontecimento calamitoso, o acidente
sageiros e vagões de carga; provocado pelo impedimento ou perturbação do ser-
z Material de tração: veículo ferroviário usado viço de estrada de ferro.
especificamente para tracionar os demais, por Sua caracterização reclama a criação de uma
exemplo, locomotiva ou automotriz; situação de dano grave, extenso e complexo a pessoas,
z Obra de arte: expressão que inclui as pontes, os por exemplo, passageiros ou funcionários do trem, ou
túneis e os viadutos; coisas, neste caso, por exemplo, cargas. 463
Atentado Contra a Segurança de Transporte E detalhe: a competência para processar e julgar
Marítimo, Fluvial ou Aéreo o crime de atentado contra a segurança de transporte
marítimo, fluvial ou aéreo é da Justiça Federal.
Outro crime importante é o atentado contra a
segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo, Atentado Contra a Segurança de Outro Meio de
em que o agente expõe em perigo a embarcação ou Transporte
aeronave, própria ou alheia, ou pratica qualquer ato
tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, Os arts. 260 e 261, do CP, tratam dos transportes
fluvial ou aérea. ferroviários, marítimos, fluviais e aéreos.
Agora, de modo subsidiário, o objeto material do
Art. 261 Expor a perigo embarcação ou aeronave, crime é qualquer outro meio de transporte, excluin-
própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tenden-
do, portanto, os transportes ferroviários, marítimos,
te a impedir ou dificultar navegação marítima, flu-
fluviais e aéreos.
vial ou aérea:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo Art. 262 Expor a perigo outro meio de trans-
§ 1º Se do fato resulta naufrágio, submersão porte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o
ou encalhe de embarcação ou a queda ou des- funcionamento:
truição de aeronave: Pena - detenção, de um a dois anos.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 1º Se do fato resulta desastre, a pena é de reclu-
Prática do crime com o fim de lucro são, de dois a cinco anos.
§ 2º Aplica-se, também, a pena de multa, se o § 2º No caso de culpa, se ocorre desastre:
agente pratica o crime com intuito de obter Pena - detenção, de três meses a um ano.
vantagem econômica, para si ou para outrem.
Modalidade culposa
§ 3º No caso de culpa, se ocorre o sinistro: Importante!
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
A expressão “meio de transporte público” englo-
ba o serviço prestado diretamente pelo Poder
O objeto material deste crime é a embarcação ou
aeronave, obrigatoriamente destinadas ao transporte Público ou mediante concessão, bem como toda
coletivo, por exemplo, as barcas que fazem as traves- e qualquer atividade desta natureza efetuada
sias entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, ou as em prol da coletividade, ainda que realizada por
aeronaves que fazem a rota São Paulo - Rio de Janeiro particulares, por exemplo, transporte de ônibus
(ponte aérea). municipal e táxi.
É importante destacar que as embarcações lacus-
tres não estão abrangidas neste tipo penal.
O núcleo do tipo penal são os verbos relacionados
z Embarcação é a construção, de qualquer porte, com a segurança do transporte público:
destinada a navegar sobre a água;
z Aeronave é todo aparelho manobrável em voo, z Expor: no sentido de colocar em perigo;
que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, z Impedir: significa embaraçar ou servir de obstáculo;
mediante reações aerodinâmicas, apto a transpor- z Dificultar: tornar mais custosa a realização de
tar pessoas ou coisas. algo.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
o proprietário da embarcação ou aeronave. o proprietário do transporte público.
Já o sujeito passivo é a coletividade. O sujeito passivo é a coletividade.
O crime pode ser doloso ou culposo. O dolo, inde- Em caso de desastre, o sujeito passivo também
pende de qualquer finalidade específica. A culpa é será as pessoas, vítimas lesionadas.
admitida nas hipóteses em que se verifica o sinistro (§ Independentemente de qualquer finalidade espe-
3º, do art. 261, do CP). cífica, o crime é doloso.
Admite-se a tentativa. O crime se consuma com a prática de expor a peri-
A ação penal é pública incondicionada. go o meio de transporte, ou de impedir ou dificultar o
Quando a lei trata de sinistro, segundo o § 1º, do funcionamento do transporte, independente do desas-
art. 261, do CP, estamos diante da hipótese de figura tre. Exige-se a comprovação da exposição de pessoas
qualificada que se constitui em crime preterdoloso. indeterminadas à probabilidade de dano.
Portanto, se do atentado contra a segurança de trans- Por exemplo, o funcionário da empresa que admi-
porte marítimo ou fluvial resultar naufrágio, submer- nistra os bondes turísticos na cidade não faz, por
são ou encalhe de embarcação, ou ainda, no caso de vontade própria, a manutenção dos freios das compo-
atentado contra a segurança de aeronaves resultar em sições, colocando em risco a integridade dos usuários
queda ou destruição, a pena será de reclusão de 4 a do transporte.
12 anos. Há parte da doutrina que entende que não Tentativa: é possível.
se trata de qualificadora, mas de causa de aumento A modalidade culposa somente é admitida se do
de pena. crime resultar desastre.
Contudo, conforme disposto no § 2,º do art. 261, do Aproveitando o exemplo acima, se o funcionário
CP, se o agente praticar o crime de atentado contra a não realiza, por negligência, a manutenção nos freios
segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo das composições dos bondes turísticos da cidade e
com intuito de obter vantagem econômica, para si ou causa desastre, este responderá pelo crime na modali-
para outrem, será aplicada pena de multa, além da dade culposa, sendo vítimas tanto quem estava expos-
464 sanção de reclusão já prevista. ta ao perigo quanto aqueles que sofreram lesões.
Forma Qualificada Se o projétil consistir em munição de arma de fogo
e for lançado em lugar habitado ou em suas adja-
Se de qualquer desses crimes contra o transporte cências, em via pública ou em direção a ela, estará
público que cause desastre ou sinistro resultar lesão caracterizado o crime de disparo de arma de fogo,
corporal ou morte, aplica-se também a pena pelo previsto no art. 15, da Lei nº 10.826, de 2003, Estatuto
resultado lesão ou morte. do Desarmamento.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
Art. 263 Se de qualquer dos crimes previstos nos O sujeito passivo é a coletividade.
arts. 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, O crime é doloso, independentemente de qualquer
resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o dispos- finalidade específica.
to no art. 258. Não se admite a modalidade culposa.
Arremesso de projétil e intenção de matar ou de
Estudamos os arts. 260, 261 e 263 que tratam, lesionar:
respectivamente, dos delitos de perigo de desastre
ferroviário e desastre ferroviário, atentado contra a z Se o arremesso de projétil visar à morte de pes-
segurança de transporte marítimo, fluvial e aéreo e soa determinada, estará caracterizado o crime de
atentado contra a segurança de outro meio de trans- homicídio;
porte. Agora estudaremos as causas genéricas de z Se o arremesso de projétil visar a lesionar pes-
aumento das penas destes crimes, previstas no art. soa determinada, estará caracterizado o crime de
263, do CP. Vejamos: lesão corporal.

z Se ao fato doloso sobrevier lesão corporal de natu- Nessas hipóteses, não há crime contra a incolumi-
reza grave em alguém, a pena privativa de liberda- dade pública, e sim crime doloso contra a pessoa.
de será aumentada de metade; Consuma-se o delito com o arremesso do projétil
z Se ao fato doloso sobrevier a morte de alguém, a contra um veículo em movimento, destinado ao trans-
pena privativa de liberdade será aplicada em dobro; porte público por terra, pela água ou pelo ar, pres-
z Se da conduta culposa resultar lesão corporal, a cindindo-se da comprovação da situação de perigo, a
pena aumenta-se de metade; qual é presumida de forma absoluta pela lei.
z Se da conduta culposa resultar a morte, aplica-se a Admite-se a tentativa.
A ação penal é pública incondicionada.
pena cominada ao homicídio culposo, aumentada
Figuras qualificadas pelo resultado, previstas no
de um terço.
parágrafo único, do art. 264, do CP, mostram que a
pena é maior nos casos em que o arremesso de projé-
Arremesso de Projétil til resultar em lesão corporal ou morte. Segundo Cle-
ber Masson (2018), no caso de lesão corporal, a pena é
O crime consiste em arremessar projétil contra veí- de detenção, de seis meses a dois anos, constituindo-se
culo em movimento, destinado ao transporte público por em infração penal de menor potencial ofensivo. E, no
terra, por água ou pelo ar, conforme o disposto a seguir: caso de morte, a pena é a do § 3,º do art. 121, relati-
va ao homicídio culposo, detenção de um a três anos,
Art. 264 Arremessar projétil contra veículo, em aumentada de um terço. De acordo com o autor cita-
movimento, destinado ao transporte público por do, são hipóteses de crimes preterdoloso.
terra, por água ou pelo ar: Observe que a vontade do agente é de arremessar
Pena – detenção, de um a seis meses. projétil contra veículo de transporte público em movi-
Parágrafo único. Se do fato resulta lesão corporal, mento, e não a lesão ou morte.
a pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) São hipóteses de crimes preterdolosos; em síntese,
anos; se resulta morte, a pena é a do art. 121, § 3º, o agente tem o dolo direto no crime de arremesso de
aumentada de um terço. projétil e culpa no resultado lesão corporal ou morte.

Este crime tutela a incolumidade pública, especi- Atentado Contra a Segurança de Serviço de Utilidade
ficamente no que diz respeito à segurança dos meios Pública
de transporte.
A expressão “veículo destinado ao transporte O Código Penal tipifica o atentado contra a segu-
público” relaciona-se com qualquer meio de trans- rança de serviço de utilidade pública, bem como a
porte coletivo de pessoas ou coisas, cargas em geral, interrupção ou perturbação de serviço telegráfico,
de um lugar para outro. Por isso, o objeto material do telefônico, informático, telemático ou de informação
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

crime é o veículo em movimento, destinado ao trans- de utilidade pública.


porte público por terra, por água ou pelo ar.
O verbo “arremessar”, aqui neste crime, tem o sen- Art. 265 Atentar contra a segurança ou o funcio-
tido de atirar, lançar projétil contra veículo, em movi- namento de serviço de água, luz, força ou calor, ou
mento, destinado ao transporte público por terra, por qualquer outro de utilidade pública:
água ou pelo ar. Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Segundo Cléber Masson (2018), o projétil é o objeto Parágrafo único. Aumentar-se-á a pena de 1/3 (um
idôneo a provocar danos, embora normalmente consti- terço) até a metade, se o dano ocorrer em virtude de
tua-se em objeto sólido, também pode ser representado subtração de material essencial ao funcionamento
por meios líquidos, desde que dotados de eficácia lesiva. dos serviços.
Por outro lado, Victor Eduardo Rios Gonçalves
(2020) afirma que o projétil é objeto sólido capaz de O objetivo é tutelar a incolumidade pública, no
ferir ou causar danos em coisas ou pessoas, e não tocante à segurança de serviço de utilidade pública.
estão compreendidos pelo conceito os corpos líquidos O objeto material é o serviço de água, luz, força,
ou gasosos. calor ou qualquer outro de utilidade pública. 465
Entende-se que “atentar”, no contexto da lei, tem o O crime consiste em:
sentido de ofender, atrapalhar, importunar ou colocar
em risco a segurança ou o funcionamento do serviço z Interromper, ou seja, fazer cessar ou romper a
de água, luz, força, calor ou qualquer outro de utilida- continuidade;
de pública. z Perturbar equivale a dificultar ou atrapalhar;
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
z Impedir é o mesmo que obstruir ou embaraçar;
O sujeito passivo é a coletividade.
z Dificultar é colocar empecilhos, tornando mais
O crime é doloso, independentemente de qualquer
finalidade específica. custosa a realização de alguma atividade.
Não se admite a modalidade culposa.
Consuma-se com a prática da conduta legalmente O delito em estudo está previsto entre os crimes
descrita, que acarreta a presunção absoluta de expo- contra a incolumidade pública. Exige-se a exposição a
sição em perigo de um número indeterminado de pes- perigo de pessoas indeterminadas, ofendendo toda a
soas, em face da relevância à sociedade dos serviços coletividade.
de utilidade pública. Se a conduta se limitar a impedir a comunicação
Admite-se a tentativa. ou a conversação de pessoas determinadas, estará
A ação penal é pública incondicionada. configurado o crime de violação de comunicação tele-
O parágrafo único, do art. 265, trata de causa de gráfica, radioelétrica ou telefônica, disciplinado no
aumento de pena. inciso III, do § 1º, do art. 151, do CP.
É imprescindível que, para incidência da majo- O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
rante, tenha ocorrido dano efetivo como consequência O sujeito passivo é a coletividade.
da subtração de material essencial ao funcionamento O crime é doloso, independentemente de qualquer
dos serviços.
finalidade específica.
Observa-se que há necessidade de que a subtração
Não se admite a modalidade culposa.
tenha sido efetuada com o intuito de colocar em risco
Consuma-se com a prática da conduta criminosa,
a segurança ou o funcionamento dos serviços.
independentemente da causação de dano aos serviços
A competência é, em regra, da Justiça Estadual, exceto:
de telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico. Igual-
mente, a comprovação do efetivo perigo a um número
z Se o móvel do agente apresentar conotação política,
indeterminado de pessoas é prescindível, pois a lei o
estará caracterizado o crime definido na alínea “b”,
presume de forma absoluta.
do § 1º, do art. 15, da Lei nº 7.170, de 1983, Seguran-
Admite-se a tentativa.
ça Nacional, competência a Justiça Federal;
A ação penal é pública incondicionada.
z Se o atentado for contra instalação nuclear, estará
Também comete o delito previsto no art. 266, do
caracterizado o crime definido no art. 27, da Lei
CP, aquele que interromper o serviço telemático ou de
nº 6.453, de 1977, competência da Justiça Federal;
informação de utilidade pública, ou impede ou difi-
z Se o crime de atentado é contra serviço de utilidade
culta-lhe o restabelecimento.
militar, art. 287 do Decreto-lei nº 1.001, de 1969, Códi-
Exemplo: quando alguém, dolosamente, “derruba”
go Penal Militar, competência da Justiça Militar.
o serviço de internet em determinada cidade, privan-
do as pessoas desse meio de comunicação e de acesso
Interrupção ou Perturbação de Serviço Telegráfico,
ao conhecimento e informações em geral.
Telefônico, Informático, Telemático ou de
Observa-se que no § 2º, do art. 266, do CP, temos
Informação de Utilidade Pública
causa de aumento de pena, na hipótese de o crime ser
praticado no período em que a sociedade se encontra
Art. 266 Interromper ou perturbar serviço telegrá-
diante de tragédia pública, em geral surgida repenti-
fico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou difi-
cultar-lhe o restabelecimento:
namente e apta a causar graves prejuízos de todas as
Pena – detenção, de um a três anos, e multa. ordens.
§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe ser- A instalação ou utilização de aparelhos clandesti-
viço telemático ou de informação de utilidade públi- nos de telecomunicações configura, em tese, o crime
ca, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento. tipificado pelo art. 70, da Lei nº 4.117, de 1962, Código
§ 2º Aplicam-se as penas em dobro se o crime é Brasileiro de Telecomunicações.
cometido por ocasião de calamidade pública.
CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
Este crime tutela a incolumidade pública, no que
diz respeito à segurança do serviço telegráfico, radio- Os crimes contra a saúde pública estão relaciona-
telegráfico ou telefônico. dos a dano ou a perigo de dano à saúde de um número
Serviço telegráfico está relacionado ao desempe- indeterminado de pessoas.
nho de atividades inerentes ao sistema de transmis- Observa-se que não há ataque à integridade corpo-
são de mensagens entre dois ou mais pontos distantes ral de uma única pessoa.
entre si, mediante sinais convencionais. Compreen- O bem jurídico tutelado é a saúde pública, com-
de o telégrafo elétrico, terrestre ou submarino, e o preendida como a preservação das condições
semafórico. saudáveis de subsistência e desenvolvimento da cole-
O serviço radiotelegráfico é a atividade concernen- tividade como um todo.
te à telegrafia sem fio, por meio de ondas eletromag- Entende-se que todas as pessoas têm direito ao
néticas, da qual é exemplo o rádio Nextel. ar puro, aos alimentos íntegros, à água potável e aos
O serviço telefônico consiste na atividade refe- medicamentos eficazes.
rente à transmissão a distância de palavra falada ou Se tais direitos são coletivamente atacados, abre-se
outro som, mediante fios, telefonia comum (telefone espaço para a incidência dos crimes contra a saúde
466 fixo) ou sinais, telefonia móvel (celular). pública.
Epidemia O crime de infração de medida sanitária preventi-
va tem por objeto material a determinação do poder
Causar epidemia, mediante a propagação de ger- público.
mes patogênicos, é crime contra a saúde pública. Observamos que o tipo penal não diz qual é a
determinação do poder público e isso faz com que seja
Art. 267 Causar epidemia, mediante a propagação necessário complementar. Trata-se, portanto, de Lei
de germes patogênicos: penal em branco. A Lei só se preocupa com as doenças
Pena – reclusão, de dez a quinze anos. contagiosas que atingem os seres humanos.
§ 1º Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em Vejamos que “infringir”, para o crime em estu-
dobro. do, tem sentido de violar, transgredir, desrespeitar
§ 2º No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a determinação do poder público, destinada a impe-
a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro dir a introdução ou propagação de doença contagio-
anos. sa, compreendida como toda moléstia capaz de ser
transmitida de uma pessoa a outra mediante contato
O objeto material deste crime é o germe patogênico. direto ou indireto. Por exemplo, os casos confirmados
O crime é doloso. de covid-19 obrigam o médico, por meio de norma do
De acordo com o § 2º, do art. 267, do CP, admite-se Ministério da Saúde, a adotar protocolos para impedir
a modalidade culposa. a propagação do novo coronavírus.
O germe patológico é a moléstia que deve ser O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
grave e de fácil propagação gerando perigo real à O sujeito passivo é a coletividade.
coletividade. O delito consuma-se com a violação da determina-
Admite-se a tentativa. ção do poder público, pouco importando que venha a
A ação penal é pública incondicionada. doença contagiosa a ser efetivamente introduzida ou
Há causa de aumento de pena, segundo o § 1º, do propagada.
art. 267, do CP, se a epidemia resultar morte. Se a von- Esse crime é doloso.
tade do agente é a morte da vítima, não será crime de Não admite modalidade culposa.
epidemia, mas homicídio. Admite-se a tentativa.
Epidemia é a doença contagiosa que surge rapida- A ação penal é pública incondicionada.
mente em um local e atinge simultaneamente muitas
pessoas, por exemplo, quando há várias pessoas infec-
tadas por leptospirose. Importante!
Endemia é a doença infecciosa que, em face das Observe que é caso de aumento de pena o fato
características do ambiente, manifesta-se em determi- de o agente ser funcionário da saúde pública ou
nada região, por exemplo, casos de dengue, frequente
exercer a profissão de médico, farmacêutico,
nas regiões tropicais.
dentista ou enfermeiro.
Pandemia é a epidemia que se alastra de for-
ma desproporcional e simultaneamente em várias
O médico, dentro de sua atuação profissional, é
regiões, difundindo-se por diversos países ou até obrigado a notificar algumas doenças.
mesmo por vários continentes, provocando inúmeros
óbitos, a exemplo da tuberculose, da peste, da gripe
Omissão de Notificação de Doença
espanhola e da covid-19, novo coronavírus.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
Por omissão, deixar o médico de denunciar à auto-
quem esteja contaminado pela moléstia infecciosa.
ridade pública doença cuja notificação é compulsória
O sujeito passivo é a coletividade.
configurará crime com pena de detenção, de seis meses
Consuma-se o crime de epidemia com a produ-
a dois anos, e multa.
ção do resultado, ou seja, com a superveniência da
epidemia.
Art. 269 Deixar o médico de denunciar à autoridade
Contudo, exige-se a comprovação do risco efetivo
pública doença cuja notificação é compulsória:
à saúde de pessoas indeterminadas, sendo impres-
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
cindível que seja a moléstia grave e de fácil propaga-
multa.
ção, pois, caso contrário, não existiria perigo real à
coletividade.
O objeto material do crime de omissão de notificação
Admite-se a tentativa.
de doença é a própria notificação compulsória.
A ação penal é pública incondicionada.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O tipo penal é exemplo de lei penal em branco, pois


necessita de regulamentação que defina os casos de noti-
Infração de Medida Sanitária Preventiva
ficação compulsória de doença. Por exemplo, são de noti-
ficação compulsória os casos de rubéola em gestante.
O médico, dentro de sua atuação profissional, é
Relaciona-se com as autoridades sanitárias, a exem-
obrigado a notificar algumas doenças, motivo pelo
plo do Ministério da Saúde, no âmbito da União, Secre-
qual o legislador tipificou essa conduta.
taria de Saúde, nos Estados, e da Vigilância Sanitária, no
campo dos municípios.
Art. 268 Infringir determinação do poder público,
destinada a impedir introdução ou propagação de
Vejamos que “deixar” de denunciar, no crime em
doença contagiosa: estudo, tem o sentido de não comunicar, permitindo
Pena – detenção, de um mês a um ano, e multa. que determinada situação denunciável permaneça
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, desconhecida.
se o agente é funcionário da saúde pública ou exer- A omissão diz respeito ao dever do médico de comu-
ce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou nicar à autoridade pública doença cuja notificação seja
enfermeiro. compulsória. 467
Constitui-se crime omissivo próprio ou puro, uma vez O sujeito passivo é a coletividade.
que a omissão está descrita expressamente no tipo penal. Trata-se de crime doloso, independentemente de
O sujeito ativo somente pode ser o médico, pois é cri- qualquer finalidade específica, bem como há cau-
me próprio ou especial. É cabível o concurso de pessoas sas de aumento de pena aplicáveis (art. 285, do CP).
que concorrem para o ato do profissional de Medicina, Assim, se do crime doloso de perigo comum resulta
como o farmacêutico e a enfermeira.
lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de
O sujeito passivo é a coletividade.
liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é
Consuma-se com a omissão do médico em denunciar
aplicada em dobro.
à autoridade pública doença de notificação compulsória.
Além disso, a lei presume o risco à saúde de um número A modalidade culposa é admitida, conforme § 2º,
indeterminado de pessoas. do art. 270, do CP. Neste caso, se do fato resulta lesão
O crime é doloso. corporal, a pena aumenta metade; se resulta mor-
Não admite modalidade culposa. te, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo,
Não admite a tentativa. aumenta em um terço (1/3).
A ação penal é pública incondicionada. Admite-se a tentativa.
A ação penal é pública incondicionada.
Envenenamento de Água Potável ou de Substância O § 1º, do art. 270, do CP, trata de figura equipara-
Alimentícia ou Medicinal da, com os núcleos “entregar a consumo” e “ter em
depósito”.
Art. 270 Envenenar água potável, de uso comum ou
“Entregar a consumo” tem o sentido de passar algo
particular, ou substância alimentícia ou medicinal des-
tinada a consumo: à posse de alguém para ser ingerido.
Pena – reclusão, de dez a quinze anos. “Ter em depósito” é manter alguma coisa acondi-
§ 1º Está sujeito à mesma pena quem entrega a consu- cionada em determinado local.
mo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a Observe que a figura equiparada é reservada à
água ou a substância envenenada. terceira pessoa, diversa da responsável pelo envene-
Modalidade culposa namento, que pratica fato posterior consistente em
§ 2º Se o crime é culposo:
entregar a consumo a água ou então a substância
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
alimentícia ou medicinal já envenenadas, ou então
O objeto material do crime em estudo é a água as mantém em depósito para distribuição futura (ele-
potável ou a substância alimentícia ou medicinal des- mento subjetivo específico) a pessoas indeterminadas.
tinada a consumo. A pessoa que efetuou o envenenamento não pode
Tutela-se a saúde pública. ser responsabilizada pela figura equiparada, mas
Água potável é aquela que não apresenta risco à somente pela modalidade fundamental, prevista no
saúde humana, razão pela qual é utilizável como bebi- caput do art. 270, do CP, ainda que venha a entregar
da ou no preparo de alimentos. a consumo ou ter em depósito, para o fim de ser dis-
Não precisa ser quimicamente pura. tribuída, a água ou a substância envenenada. Veja
Pode ser de uso comum ou particular, não exigin- que, nessa hipótese, a conduta ulterior funciona como
do o CP que seja destinada ao consumo.
mero desdobramento do fato principal, restando por
Quanto à substância alimentícia, refere-se a Lei
este absorvida.
à matéria líquida ou sólida destinada à alimentação
Condutas semelhantes:
dos seres vivos.
Substância medicinal é a matéria líquida ou sóli-
da que serve de remédio visando a cura ou a preven- z Art. 54, da Lei nº 9.605, de 1998 (Lei de Crimes Ambien-
ção de algum mal que acomete os seres vivos. tais) pune qualquer tipo de poluição;
Vejamos, o tipo penal diz “envenenar”, ou seja, z Art. 270, do CP, possui pena muito maior e se rela-
ministrar veneno, intoxicar. ciona com envenenamento de água potável.
No crime de envenenamento de água potável ou de
substância alimentícia ou medicinal, o dolo do agente Corrupção ou Poluição de Água Potável
limita-se a colocar em perigo a saúde pública. Agora,
se o sujeito envenena água potável com a intenção de Art. 271 Corromper ou poluir água potável, de uso
provocar a morte de pessoa determinada, obtendo comum ou particular, tornando-a imprópria para
êxito em seu intento, a ele será imputado o crime de consumo ou nociva à saúde:
homicídio qualificado pelo emprego de veneno, con- Pena – reclusão, de dois a cinco anos.
forme o inciso III, do § 2º, do art. 121, do CP. Modalidade culposa
Consuma-se o crime com o envenenamento da Parágrafo único. Se o crime é culposo:
água potável, de uso comum ou particular, ou da subs- Pena – detenção, de dois meses a um ano.
tância alimentícia ou medicinal destinada a consumo,
prescindindo-se da causação de dano a alguém e até
O objeto material do crime de corrupção ou polui-
mesmo da ingestão da água ou da substância alimen-
ção de água potável é a própria água potável, de uso
tícia ou medicinal. A lei presume, de forma absoluta, a
comum ou particular.
situação de risco a pessoas indeterminadas como con-
sequência da conduta legalmente descrita. Corromper a água é modificar sua essência ou
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive composição, tornando-a nociva à saúde ou intolerável
o proprietário da água potável de uso particular, ou pelo mau sabor ou odor.
da substância alimentícia ou medicinal destinada ao Poluir a água é sujá-la, transformando-a em líqui-
468 consumo. do impróprio para consumo pelo ser humano.
Importante! No caput, há quatro núcleos:
Não basta o simples ato de corromper ou poluir
água potável. É imprescindível torná-la imprópria z Corromper é desnaturar algo, estragando-o;
para consumo ou nociva à saúde de pessoas z Adulterar é deturpar, alterar alguma coisa,
indeterminadas. piorando-a;
z Falsificar equivale a alterar a verdade, dar a apa-
rência de verdadeira a alguma coisa de qualidade
Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação inferior;
múltipla ou de conteúdo variado, ou seja, há um único z Alterar tem o sentido de modificar ou transformar.
crime na situação em que o agente corrompe e polui a
mesma água potável. Todas as condutas são praticadas em relação à
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive substância ou produto alimentício destinado a consu-
pelo proprietário da água potável. mo por um número indeterminado de pessoas.
O sujeito passivo é a coletividade. Não basta a corrupção, adulteração, falsificação
Consuma-se no instante em que a água potável,
ou alteração do objeto material. É imprescindível que
de uso comum ou particular, é corrompida ou poluí-
acarrete a conduta em nocividade à saúde, caráter
da, de modo a torná-la imprópria para consumo ou
prejudicial ao ser humano em suas funções orgânicas,
nociva à saúde, independentemente de ser consumida
físicas ou mentais, ou redução do valor nutritivo da
por alguém ou da efetiva causação de dano à saúde
substância ou produto alimentício destinado a consu-
pública.
mo, circunstâncias a serem provadas em exame peri-
Se a poluição hídrica tornar necessária a inter-
rupção do abastecimento público de água de uma cial realizado com essa finalidade.
comunidade, estará caracterizado o crime tipificado Sobre o caput:
no inciso III, § 2º, do art. 54, da Lei nº 9.605, de 1998,
Crimes Ambientais, cuja pena é de reclusão, de um a z O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
cinco anos. z O sujeito passivo é a coletividade;
Esse crime não revogou o delito de corrupção z O crime é doloso, independentemente de qualquer
ou poluição de água potável, pois sua redação típica modalidade específica.
contém elementos especializantes, já que, pressupõe
a interrupção do abastecimento público de água de A modalidade culposa encontra-se prevista no § 2º,
uma comunidade. do art. 271, do CP.
O conflito aparente de leis penais é solucionado Consuma-se com a prática das condutas legalmen-
pelo princípio da especialidade. te descritas, independentemente do efetivo prejuízo à
O crime é doloso, independentemente de qualquer saúde pública. Exige-se a demonstração da nocivida-
finalidade específica. de do produto à saúde de pessoas indeterminadas, ou
A modalidade culposa é possível, conforme dis- então, a diminuição do seu valor nutritivo.
posto no parágrafo único, do art. 270, CP. O tipo penal tem os seguintes núcleos:
Admite-se a tentativa.
A ação penal é pública incondicionada. z Fabricar: manufaturar, preparar ou construir;
z Vender: alienar ou ceder por determinado preço;
Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de z Expor à venda: exibir com a intenção de alienar
Substância ou Produtos Alimentícios
mediante determinada contraprestação;
z Importar: fazer ingressar no país produto oriun-
Art. 272 Corromper, adulterar, falsificar ou alterar
do do estrangeiro;
substância ou produto alimentício destinado a con-
sumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe z Ter em depósito para vender: manter acondicio-
o valor nutritivo: nado em algum lugar visando posterior alienação;
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e z Distribuir: dar, entregar, repartir;
multa. z Entregar a consumo: passar algo à posse de
§ 1º-A Incorre nas penas deste artigo quem fabri- alguém para ser ingerido.
ca, vende, expõe à venda, importa, tem em depósi-
to para vender ou, de qualquer forma, distribui ou Aqui, o objeto material é a substância alimentícia
entrega a consumo a substância alimentícia ou o ou produto falsificado, corrompido ou adulterado.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

produto falsificado, corrompido ou adulterado. O crime é doloso, sem qualquer finalidade especí-
§ 1º Está sujeito às mesmas penas quem pratica as
fica, exceto na conduta de “ter em depósito para ven-
ações previstas neste artigo em relação a bebidas,
da”, na qual o propósito de transmissão onerosa da
com ou sem teor alcoólico.
Modalidade culposa propriedade representa o especial fim de agir busca-
§ 2º Se o crime é culposo: do pelo agente.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. Não se admite a modalidade culposa.
No geral, as figuras equiparadas constituem-se em
O objeto material no caput é a substância ou pro- crimes instantâneos, salvo nas variantes expor à ven-
duto alimentício destinado a consumo. da e ter em depósito para venda, em que se notam
No § 1º-A o objeto material é a substância alimentí- crimes permanentes, pois a consumação se prolonga
cia ou produto falsificado, corrompido ou adulterado. no tempo, por vontade do agente.
É imprescindível que acarrete a conduta em noci- A tentativa é possível, em razão do caráter pluris-
vidade à saúde ou redução do valor nutritivo. subsistente do delito.
Tutela-se a saúde pública. A ação penal é pública incondicionada. 469
Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de A figura equiparada do § 1º, do art. 273, do CP, tem
Produto Destinado a Fins Terapêuticos ou Medicinais por objeto material o produto já falsificado, corrompi-
do, adulterado ou alterado. Por sua vez, os núcleos do
Art. 273 Falsificar, corromper, adulterar ou alterar tipo derivado são idênticos aos contidos no § 1º-A, do
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: art. 272, do CP.
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. Na figura equiparada do § 1º-B, do art. 273, do CP,
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem importa, ven- temos condutas de natureza administrativa, em face
de, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, do elevado risco proporcionado à saúde pública. Res-
de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo salta-se que a incriminação de tais condutas não difi-
o produto falsificado, corrompido, adulterado ou culta a responsabilização simultânea do infrator no
alterado. âmbito administrativo.
§ 1º-A Incluem-se entre os produtos a que se refe- A modalidade culposa está contida no § 2º, do art.
re este artigo os medicamentos, as matérias-pri- 273, do CP. Responde pelo delito, em sua forma culpo-
mas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os sa, a pessoa que, de modo negligente, imprudente ou
saneantes e os de uso em diagnóstico. imperito, em inobservância do dever geral de cuidado
§ 1º-B Está sujeito às penas deste artigo quem prati- objetivo, e sendo previsível o resultado, realiza qual-
ca as ações previstas no § 1º em relação a produtos quer das condutas previstas no caput, colocando em
em qualquer das seguintes condições: perigo a saúde pública.
I – sem registro, quando exigível, no órgão de vigi-
lância sanitária competente;
II – em desacordo com a fórmula constante do
registro previsto no inciso anterior; Importante!
III – sem as características de identidade e qualida- A Lei nº 9.695/1998 incluiu o inciso VII-B no art. 1º
de admitidas para a sua comercialização;
da Lei nº 8.072/1990, para o fim de definir como
IV – com redução de seu valor terapêutico ou de sua
atividade;
hediondos os crimes tipificados no caput e nos
V – de procedência ignorada §§ 1º, 1º-A e 1º-B, do art. 273, do CP, com todas as
consequências gravosas daí decorrentes.
Arguição de inconstitucionalidade. Somente a modalidade culposa do crime de
Preceito secundário do art. 273, § 1º-B, V, do CP. [...] falsificação, corrupção, adulteração ou altera-
O crime de ter em depósito, para venda, produto des- ção de produto destinado a fins terapêuticos ou
tinado a fins terapêuticos ou medicinais de proce- medicinais, definida no § 2º, do art. 273, do CP,
dência ignorada é de perigo abstrato e independe da não possui a nota da hediondez.
prova da ocorrência de efetivo risco para quem quer
que seja. E a indispensabilidade do dano concreto à
saúde do pretenso usuário do produto evidencia ain- Emprego de Processo Proibido ou de Substância não
da mais a falta de harmonia entre o delito e a pena Permitida
abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclu-
são) se comparado, por exemplo, com o crime de trá- Art. 274 Empregar, no fabrico de produto destina-
fico ilícito de drogas — notoriamente mais grave e do a consumo, revestimento, gaseificação artificial,
cujo bem jurídico também é a saúde pública. [...] (STJ matéria corante, substância aromática, antissépti-
— AI no HC 239.363/PR — Rel. Min. Sebastião Reis ca, conservadora ou qualquer outra não expressa-
Júnior — Corte Especial — julgado em 26-2-2015 — mente permitida pela legislação sanitária:
DJe 10-4-2015). Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

VI – adquiridos de estabelecimento sem licença da O objeto material do crime em estudo é o produ-


autoridade sanitária competente. to fabricado e destinado a consumo, qualquer tipo de
Modalidade culposa produto.
§ 2º Se o crime é culposo: Trata-se de lei penal em branco que necessita de
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. complemento e, neste caso, o complemento é a legis-
lação sanitária.
O objeto material do crime em estudo é produto
Vejamos a conduta:
destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
Destaca-se que o § 1º-A, do art. 273, do CP, incluiu
os medicamentos, as matérias-primas, os insumos far- z “Empregar” é utilizar ou aplicar alguma coisa.
macêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso
em diagnóstico. Nas lições de Damásio E. de Jesus, citado por Cle-
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. ber Masson:
O sujeito passivo é a coletividade.
O crime é doloso, independentemente de qualquer O fato se perfaz com a conduta de utilizar, no
finalidade específica. fabrico de produto destinado a consumo, revesti-
A modalidade culposa encontra-se prevista no § 2º, mento (o invólucro que cobre o produto), gaseifi-
do art. 273, do CP. cação artificial (processo utilizado na fabricação
de refrigerantes ou de certas bebidas alcoólicas),
Consuma-se com a prática de qualquer das condu-
matéria corante (substância utilizada para dar cor
tas legalmente descritas, pouco importando se sobre-
aos alimentos), substância aromática (substância
vém ou não prejuízo a alguém. Veja, a lei presume, de empregada para conferir determinado aroma aos
forma absoluta, o risco criado a pessoas indetermina- alimentos), substância antisséptica (substância
das em razão do comportamento ilícito. utilizada para evitar a fermentação de alimentos),
Admite-se a tentativa. conservadora (substância que retarda ou impede a
A ação penal é pública incondicionada. deterioração de alimentos) ou qualquer outra não
Sobre a competência, em regra, é da Justiça Estadual. expressamente permitida pela legislação sanitária
Entretanto, será competente à Justiça Federal se carac- (substâncias estabilizantes, acidulantes, flavori-
470 terizada a procedência internacional do medicamento. zantes etc.).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Produto ou Substância nas Condições dos dois
O sujeito passivo é a coletividade. Artigos Anteriores
Consuma-se quando o sujeito emprega, na fabri-
cação de produto destinado a consumo, revestimen- Art. 276 Vender, expor à venda, ter em depósito
to, gaseificação artificial, matéria corante, substância para vender ou, de qualquer forma, entregar a con-
aromática, antisséptica, conservadora, ou qualquer sumo produto nas condições dos arts. 274 e 275.
outra não permitida expressamente pela legislação Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
sanitária, pouco importando se sobrevém ou não
dano a alguém. Tutela-se a saúde pública.
Se a conduta consiste na exposição à venda ou ven- O objeto material é o produto nas condições indi-
da de mercadoria ou produto alimentício, cujo fabrica- cadas nos arts. 274 e 275, do CP.
dor haja desatendido a determinações oficiais quanto O tipo penal contém quatro núcleos:
ao peso e composição, estará caracterizado o crime
tipificado pelo inciso III, do art. 2º, da Lei nº 1.521, de z Vender é alienar ou ceder algo por preço certo,
1951, Crimes contra a Economia Popular, punido com transferindo a propriedade de um bem em troca
detenção de seis meses a dois anos, e multa. do recebimento de determinado valor;
O crime é doloso. z Expor à venda equivale a exibir um objeto com a
Não admite modalidade culposa. intenção de vendê-lo;
Admite-se tentativa. z Ter em depósito para vender significa manter
A ação penal é pública incondicionada. um bem acondicionado em algum local, visando
vendê-lo no futuro;
Invólucro ou Recipiente com Falsa Indicação z Entregar a consumo é transferir um bem a
outrem para ser utilizado ou ingerido.
Art. 275 Inculcar, em invólucro ou recipiente de
produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, Vimos que existem vários núcleos, e a prática de
a existência de substância que não se encontra em mais de um deles no tocante ao mesmo objeto mate-
seu conteúdo ou que nele existe em quantidade rial configura um único crime.
menor que a mencionada: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, e não
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. necessariamente os comerciantes.
O sujeito passivo é a coletividade.
O objeto material do crime em estudo é o invólu- O crime é doloso, independentemente de qual-
cro ou o recipiente de produtos alimentícios, terapêu- quer finalidade específica, salvo no tocante à condu-
ticos ou medicinais. ta de “ter em depósito para vender”, na qual se exige
Protege-se a saúde pública.
a intenção de guardar o produto para aliená-lo por
Invólucro é tudo o que serve para envolver, por
determinado preço.
exemplo, capas, rótulos, bulas, pacotes etc.
Não se admite a modalidade culposa.
Recipiente é o receptáculo, ou seja, o objeto capaz
Consuma-se quando o sujeito vende, expõe à ven-
de conter líquidos ou sólidos, por exemplo, potes, da, tem em depósito para vender ou, de qualquer for-
sacos plásticos, latas e frascos. ma, entrega a consumo produto nas condições dos
Produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais arts. 274 e 275, do CP, importando se sobrevém ou não
são, respectivamente, as substâncias destinadas à dano a alguém.
nutrição do organismo, à atenuação da dor ou à cura Destaca-se que nas modalidades “vender” e “entre-
dos enfermos, ou ao tratamento de males ou doenças. gar a consumo”, o art. 276, do CP, é crime instantâneo,
Como o tipo penal faz menção somente ao invólu- consumando-se em momento determinado, sem con-
cro e ao recipiente, não são alcançados os boletins, os tinuidade no tempo.
catálogos, os prospectos, as propagandas, os folhetos e É crime permanente nas modalidades “expor à
os anúncios, entre outros. venda” e “ter em depósito para vender”, pois nesses
Consequentemente, se a conduta recair sobre tais casos a consumação se prolonga no tempo, por von-
objetos, não se caracterizará o crime em tela, sem pre- tade do agente
juízo da configuração do crime de fraude no comér- Admite-se a tentativa.
cio, definido no art. 175, do Código Penal. A ação penal é pública incondicionada.
Vamos entender o que é “inculcar”. Aqui, neste cri-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

me, inculcar está no sentido de imprimir, apregoar, Substância Destinada à Falsificação


demonstrar, dar a entender.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Art. 277 Vender, expor à venda, ter em depósito ou
O sujeito passivo é a coletividade. ceder substância destinada à falsificação de produ-
O crime é doloso, independentemente de qualquer tos alimentícios, terapêuticos ou medicinais:
finalidade específica. Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Não se admite a modalidade culposa.
Consuma-se com a prática da conduta legalmente Tutela-se a saúde pública.
descrita, prescindindo-se da lesão a alguém. A lei pre- O objeto material deste crime é a substância desti-
sume, de forma absoluta, a exposição a risco da saú- nada à falsificação de produtos alimentícios, terapêu-
de de pessoas indeterminadas como consequência do ticos ou medicinais, ou seja, a matéria cuja finalidade
comportamento criminoso. é desvirtuar ou adulterar tais produtos, conferindo-
Admite-se a tentativa. -lhes suposta aparência de autenticidade, de modo a
A ação penal é pública incondicionada. colocar em perigo a saúde pública. 471
Produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
são, respectivamente, as substâncias destinadas à O sujeito passivo é a coletividade.
nutrição do organismo, à atenuação da dor ou à cura O crime é doloso, independentemente de qualquer
dos enfermos, ou ao tratamento de males ou doenças. finalidade específica, salvo no tocante à modalidade
O tipo penal contém quatro núcleos: “ter em depósito para vender”, no qual o propósito de
venda representa o especial fim de agir buscado pelo
z Vender é alienar um bem por determinado preço; agente, elemento subjetivo específico.
z Expor à venda significa colocar um produto à A figura culposa é admitida pelo parágrafo único
mostra com a finalidade de vendê-lo; do art. 278, do CP.
z Ter em depósito equivale a manter algo acondi- Consuma-se com a prática de qualquer das condu-
cionado em determinado local;
tas ilícitas, pouco importando se sobrevém a causação
z Ceder é transferir ou colocar um bem à disposição
de dano a alguém. É também crime de perigo comum
de terceira pessoa.
e concreto, reclamando a comprovação da nocividade
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. da coisa ou substância à saúde de um número indeter-
O sujeito passivo é a coletividade. minado de pessoas.
O crime é doloso, independentemente de qualquer Nos núcleos “fabricar”, “vender” e “entregar a con-
finalidade específica. sumo” o crime é instantâneo, pois se consuma em um
Não se admite a modalidade culposa. momento determinado, qual seja, o da prática da con-
Consuma-se com a prática de qualquer das condu- duta legalmente descrita.
tas criminosas, prescindindo-se da causação de dano No núcleo “expor à venda” e “ter em depósito para
a alguém. vender” o delito é permanente, uma vez que a consu-
Nos núcleos “vender” e “ceder” o crime é instantâ- mação se prolonga no tempo, por vontade do agente.
neo, consumando-se em um momento determinado, Admite-se a tentativa.
sem continuidade no tempo. A ação penal é pública incondicionada.
Nas modalidades “expor à venda” e “ter em depó-
sito” o delito é permanente, pois a consumação se pro-
Medicamento em Desacordo com Receita Médica
trai no tempo, por vontade do agente.
Admite-se tentativa.
A ação penal é pública incondicionada. Art. 280 Fornecer substância medicinal em desa-
cordo com receita médica:
Outras Substâncias Nocivas à Saúde Pública Pena – detenção, de um a três anos, ou multa.
Modalidade culposa
Art. 278 Fabricar, vender, expor à venda, ter em Parágrafo único. Se o crime é culposo:
depósito para vender ou, de qualquer forma, entre- Pena – detenção, de dois meses a um ano.
gar a consumo coisa ou substância nociva à saúde,
ainda que não destinada à alimentação ou a fim Tutela-se a saúde pública.
medicinal: O objeto material deste crime é a substância medi-
Pena – detenção, de um a três anos, e multa. cinal, ou seja, o produto destinado a servir de medi-
Modalidade culposa camento, cuja finalidade é a prevenção ou cura de
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
alguma doença ou mal.
Pena – detenção, de dois meses a um ano.
Fornecer, no tipo penal, tem o sentido de entregar
Tutela-se a saúde pública. ou proporcionar a alguém, a título oneroso ou gratuito,
O objeto material deste crime é a coisa ou substân- substância medicinal em desacordo com receita médi-
cia nociva à saúde, salvo a de natureza alimentícia ou ca, no tocante à sua espécie, qualidade ou quantidade.
medicinal, pois ambas são abrangidas pelos crimes A expressão contida na parte final do dispositivo,
definidos nos arts. 272 e 273, do CP. “em desacordo com receita médica”, representa ele-
mento normativo do tipo.
Importante! Observa-se que não é todo e qualquer fornecimen-
to de medicamento que configura o crime em análise,
Observa-se que, se o objeto material consistir mas somente o efetuado em contrariedade com a pres-
em droga, assim definida em lei ou em ato admi- crição do profissional da Medicina.
nistrativo, substância igualmente nociva à saúde Cleber Masson (2018) aborda o questionamento
pública, estará configurado o crime de tráfico sobre medicamentos genéricos. Medicamento genérico
de drogas, contido no caput do art. 33, da Lei nº é o medicamento similar a um produto de referência
11.343/2006, Lei de Drogas. ou inovador, que se pretende ser com este intercam-
biável, geralmente produzido após a expiração ou
renúncia da proteção patentária ou de outros direitos
O tipo penal contém cinco núcleos:
de exclusividade, comprovada a sua eficácia, seguran-
ça e qualidade, e designado pela Denominação Comum
z Fabricar é manufaturar, preparar ou construir;
z Vender equivale a transferir a propriedade de um Brasileira (DCB), ou, na sua ausência, pela Denomina-
bem, alienando-se por determinado valor; ção Comum Internacional (DCI). É fácil concluir que os
z Expor à venda tem o sentido de exibir um objeto medicamentos genéricos possuem o mesmo princípio
com a intenção de vendê-lo; ativo do medicamento “original”. Logo, não há falar na
z Ter em depósito para vender significa manter prática do crime ora estudado, até porque seria ilógi-
um produto acondicionado em algum local, para co e absurdo a legislação permitir a circulação desses
posteriormente vendê-lo; medicamentos e, ao mesmo tempo, incriminar seu for-
z Entregar a consumo é transmitir um bem à posse necimento em prejuízo da população que ficaria ainda
472 de terceiro, para ser ingerido ou utilizado. mais alijada do direito constitucional à saúde.
Receita médica é a indicação escrita elaborada pelo O tipo é “exercer”, no sentido de praticar, desem-
médico regularmente inscrito nos quadros do Conse- penhar ou exercitar, ainda que a título gratuito, a pro-
lho Regional de Medicina. fissão de médico, dentista ou farmacêutico.
Não há crime no fornecimento de substância medi-
cinal em desacordo com receitas emitidas por outros
profissionais da área de saúde, por exemplo, dentistas Importante!
e parteiras, em face da vedação da analogia in malam
O verbo “exercer” é indicativo da habitualidade
partem no Direito Penal, bem como as hipóteses excep-
do delito.
cionais, previstas no art. 30 e na alínea “d”, do art. 37,
Destarte, não basta a realização de um único ato
do Decreto nº 20.931, de 1932, nos quais é autorizada a
privativo do médico, dentista ou farmacêutico.
prescrição de medicamentos por dentistas e parteiras.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
Exige-se a reiteração de atos, reveladores do
O sujeito passivo é a coletividade. estilo de vida ilícito assumido pelo farsante.
Trata-se de crime formal, de consumação antecipa-
da ou de resultado cortado, isso porque o resultado não O crime pode ser praticado de duas formas:
é exigido para a consumação do crime.
O crime é doloso, independentemente de qualquer z Primeira forma: quando o sujeito exerce, ainda
finalidade específica. que a título gratuito, a profissão de médico, den-
Só admite modalidade culposa na hipótese do pará- tista ou farmacêutico, sem autorização legal. A
grafo único do art. 280, do CP. expressão “sem autorização legal” representa um
Contudo, se o sujeito possuir a intenção de matar elemento normativo do tipo: o sujeito não está
a vítima, fornecendo substância médica diversa da autorizado a desempenhar a profissão porque não
prescrita ou em dose manifestamente excessiva, estará possui o título que o habilite para tanto, pois há
configurado o homicídio qualificado pelo emprego de falta de capacidade profissional, como, por exem-
meio insidioso, conforme disposto no inciso III, do § 2º, plo aquele que atende doentes em seu consultório,
do art. 121, do CP, restando absorvido o delito de medi- sem nunca ter frequentado a faculdade de Medi-
camento em desacordo com receita médica. cina, ou então porque seu título, embora exista,
Admite-se a tentativa. não foi registrado perante o órgão competente, tal
A ação penal é pública incondicionada. como se verifica na situação em que o graduado
em Ciências Médicas não teve seu diploma regis-
Exercício Ilegal da Medicina, Arte Dentária ou trado perante o Conselho Regional de Medicina
Farmacêutica respectivo;
z Segunda forma: quando o sujeito exerce a profis-
Art. 282 Exercer, ainda que a título gratuito, a pro- são de médico, dentista ou farmacêutico, ainda que
fissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem a título gratuito, excedendo-lhe os limites, trata-se
autorização legal ou excedendo-lhe os limites: da “transposição dos limites da profissão”. O agen-
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. te possui autorização legal para exercer a Medici-
Parágrafo único. Se o crime é praticado com o fim na, arte dentária ou farmacêutica, mas extrapola
de lucro, aplica-se também multa. os limites que a lei lhe impõe.

Vamos ver o que dispõe o inciso XIII, do art. 5º, da Este crime é mais um exemplo de lei penal em bran-
Constituição Federal: co homogênea, pois é preciso analisar os limites de atua-
ção conferidos a cada profissional pelas leis atinentes às
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício áreas da Medicina, da Odontologia e da Farmácia.
ou profissão, atendidas as qualificações profissio- Sobre o sujeito ativo, na primeira conduta, “exer-
nais que a lei estabelecer. cer, ainda que a título gratuito, a profissão de médi-
co, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal”,
A regra é a liberdade de trabalho, ofício ou pro- esse é um crime comum ou geral, uma vez que pode
fissão, mas o próprio constituinte originário admitiu ser cometido por qualquer pessoa. Na prática, nor-
a imposição de exigências, pelo legislador ordinário, malmente, o agente possui conhecimentos da profis-
para o desempenho de tais atividades. são, ainda que a título precário, pois somente assim
Nesse contexto, há requisitos legais para o exer- reúne condições para ludibriar um número indeter-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cício da Medicina, da Odontologia e da atividade minado de pessoas, proporcionando-lhes tratamento


farmacêutica. típico daqueles que se fazem com médico, dentista ou
Considerando a relevância da saúde pública, o farmacêutico.
O sujeito ativo na conduta de “exercer, ainda
legislador acertadamente instituiu a categoria de cri-
que a título gratuito, a profissão de médico, dentista
me para punir a atuação ilegal de tais profissões.
ou farmacêutico, excedendo-lhe os limites” cuida-
Tutela-se a saúde pública.
-se de crime próprio ou especial, pois somente pode
O objeto material deste crime é a profissão de ser praticado pelo médico, dentista ou farmacêutico
médico, dentista ou farmacêutico. devidamente habilitado e registrado que extrapola
Entende-se que o exercício da profissão de médi- os quadrantes da sua atuação. Por exemplo, o médico
co veterinário, sem autorização legal, não autoriza a registrado perante o Conselho Regional de Medicina
incidência do crime tipificado no art. 282, do CP, pois de São Paulo não praticará o crime em estudo, mas
é vedada a utilização da analogia in malam partem no somente um ilícito administrativo, se passar a exercer
âmbito criminal, em respeito ao (inciso XXXIX, do art. sua profissão em outro estado, sem efetuar seu regis-
5º, da CF, e art. 1º, do CP). tro no Conselho Regional de Medicina respectivo. 473
O sujeito passivo imediato é a coletividade e, Não se admite a modalidade culposa.
mediatamente, as pessoas atendidas pelo falso profis- Consuma-se o crime de charlatanismo com o ato de
sional da Medicina, arte dentária ou farmacêutica. inculcar ou anunciar a cura por meio secreto ou infa-
O crime é doloso, independentemente de qualquer lível, pouco importando se a pessoa enferma venha
finalidade específica. ou não a ser efetivamente “tratada” pelo charlatão.
Não se admite a modalidade culposa. Basta um único anúncio fraudulento de cura para
Considerando o núcleo do tipo, “exercer”, conclui- o aperfeiçoamento do delito.
-se no sentido de que o delito somente se consuma Admite-se a tentativa.
com a prática reiterada e uniforme da conduta legal- A ação penal é pública incondicionada.
mente descrita, de modo a revelar o estilo de vida ilí-
cito adotado pelo agente. Curandeirismo
O exercício ainda que a título gratuito caracteriza
o crime Art. 284 Exercer o curandeirismo:
Não admite a tentativa. I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habi-
A ação penal é pública incondicionada. tualmente, qualquer substância;
II – usando gestos, palavras ou qualquer outro
Charlatanismo meio;
III – fazendo diagnósticos:
Art. 283 Inculcar ou anunciar cura por meio secre- Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
to ou infalível: Parágrafo único. Se o crime é praticado mediante
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. remuneração, o agente fica também sujeito à multa.

Tutela-se a saúde pública. O anúncio da falsa cura Tutela-se a saúde pública.


muitas vezes acarreta a decisão de pessoas ingênuas O objeto material é a substância prescrita, minis-
no sentido de ser desnecessário o auxílio médico para trada ou aplicada, o gesto, a palavra ou qualquer
proceder ao tratamento convencional da doença, outro meio, bem como o diagnóstico efetuado.
resultando em riscos para a saúde ou mesmo para a O termo “exercer” tem o sentido de desempenhar
vida. ou praticar determinado comportamento com habitua-
O objeto material do crime de charlatanismo é o lidade. Com efeito, o verbo “exercer” é indicativo da
anúncio da cura por meio secreto ou infalível. reiteração de atos, razão pela qual a realização isolada
Cura secreta é o tratamento de doença de maneira da conduta legalmente descrita não constitui o delito.
oculta, mediante a utilização de procedimentos igno- Curandeirismo é a prática consistente no ato de
rados pelas ciências médicas. restabelecer a saúde alheia por pessoa a quem não
Cura infalível é o tratamento plenamente eficaz, é atribuída a função, capacidade ou poder para tal
apto a restabelecer, inevitavelmente, a saúde do fim. Em regra, é realizada por indivíduo sem qual-
paciente. quer título ou idoneidade técnica ou profissional para
O tipo penal diz: alcançar a cura.
A atividade do curandeiro não precisa ser com-
z Inculcar é aconselhar, apregoar, sugerir; pletamente inovadora e totalmente falha, de modo a
z Anunciar é noticiar, divulgar pelos mais varia- permitir que somente as pessoas menos esclarecidas
dos meios, por exemplo, panfletos, cartazes, rádio, possam cair no golpe.
televisão etc. Cuida-se de crime de forma vinculada, pois o tipo
penal arrola expressamente seus meios de execução.
Pratica o crime de charlatanismo o agente que Vejamos:
apregoa ou divulga tratamento de doença mediante
cura secreta ou infalível. A ilicitude do comportamen- z Inciso I – prescrevendo, ministrando ou aplicando,
to reside no segredo e na infalibilidade da cura de habitualmente, qualquer substância:
determinada doença, pois às ciências médicas não é
dado prometê-la por meios secretos, tampouco anun- „ Prescrever é receitar ou recomendar;
ciar procedimento que inevitavelmente irá alcançá-la. „ Ministrar equivale a entregar para consumir
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusi- ou inocular;
ve pelos profissionais da área da saúde, por exemplo, „ Aplicar tem o sentido de empregar ou utilizar.
médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas, far-
macêuticos etc. As ações ligam-se a “qualquer substância”, de ori-
O sujeito passivo é a coletividade. gem vegetal, animal ou mineral, podemos exemplifi-
O crime é doloso, independentemente de qualquer car com pomadas, líquidos, tripas de animais, penas
finalidade específica. de aves etc., seja ou não nociva à saúde humana pois,
nada obstante sua inocuidade, ela impede ou retarda
o tratamento correto do enfermo pelo profissional da
Importante! área de saúde.

O sujeito deve possuir ciência da falsidade do z Inciso II – usando gestos, palavras ou qualquer
meio secreto ou infalível por ele inculcado ou outro meio:
anunciado, pois nesse ponto repousa sua fraude.
Não se exige a finalidade de obtenção de vanta- „ Gestos consistem no emprego de movimentos
gem econômica, mesmo que essa seja a meta corporais, especialmente dos membros supe-
buscada pelo charlatão. riores e da cabeça, que podem servir para
474 manifestar ideias ou sentimentos;
„ Palavras são os meios utilizados para facilitar É necessário que a incitação provocada pelo agen-
a comunicação interpessoal, mediante lingua- te seja crime. A incitação deve ser pública para gerar
gem escrita ou falada, tais como as rezas, ben- risco à paz social. A paz pública é o bem juridicamen-
zeduras, encomendações e esconjuros; te protegido pelo delito de incitação ao crime.
„ Qualquer outro meio abarca atos análogos Rogério Greco (2018) esclarece que a incitação públi-
aos gestos e às palavras criados pela imagina- ca pode ocorrer além das palavras pronunciadas pelo
ção humana e impossíveis de serem esgotados agente, também por escritos, gestos ou qualquer meio
no plano abstrato. capaz de fazer com que sejam produzidos sentimentos de
medo, insegurança, quebra da paz pública no meio social.
z Inciso III – fazendo diagnósticos:

„ Fazer diagnósticos: ato privativo do médi- Importante!


co, mediante a constatação de uma doença
ou enfermidade pelos seus sintomas ou sinais A lei penal exige que a incitação seja dirigida à prá-
característicos. tica de crime.
Não há o delito de incitação ao crime se o agente
O curandeiro retarda a cura ou o tratamento de instiga a prática de contravenção penal.
uma doença, comprometendo a saúde e até mesmo a Há o delito de incitação ao crime se o agente induz
vida do enfermo. um grupo de pessoas a linchar o preso em flagrante.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa desprovi- Não há o delito de incitação ao crime se o agente
da de conhecimentos médicos. estimula um grupo de pessoas a invadir proprieda-
O sujeito passivo é a coletividade.
des, sem especificar, ou seja, incitação genérica ou
O crime é doloso, independentemente de qualquer
vaga.
finalidade específica. Prescinde-se da cupidez, ou seja,
da intenção de alcançar vantagem indevida em conse-
quência da conduta ilícita. Rogério Greco (2018) apresenta a seguinte classifi-
Não se admite a modalidade culposa. cação doutrinária do delito de incitação, em público,
Se o curandeirismo for praticado mediante remu- e crime:
neração, incidirá também a pena de multa.
Consuma-se por meio da prática reiterada de qual-
z Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito
quer dos atos descritos no tipo penal, demonstrando
ativo quanto ao sujeito passivo;
um estilo de vida ilícito por parte do agente.
z Doloso, não havendo previsão para a modalidade
A habitualidade não exige o exercício dos compor-
de natureza culposa;
tamentos legalmente descritos durante longo período,
z Comissivo, possível nos termos do § 2º, do art.
ou mesmo em dias sucessivos. Uma reiteração de atos
em um mesmo dia e para diversas pessoas é prova 13, do CP, via omissão imprópria, na hipótese de o
inequívoca do exercício efetivo do curandeirismo. agente gozar do status de garantidor;
Admite-se a tentativa. z Crime de perigo comum e concreto, embora haja
A ação penal é pública incondicionada. divergência doutrinária nesse sentido, pois tem-se
entendido, majoritariamente, tratar-se de crime
Forma Qualificada de perigo abstrato, presumido;
z Crime de forma livre;
O art. 285, do CP, determina a incidência das regras z Instantâneo;
do aumento de pena ao crime de infração de medida z Monossubjetivo;
sanitária preventiva. z Plurissubsistente, podendo também (dependen-
São causas de aumento da pena, nada obstante o do da forma como for praticado) ser considerado
legislador tenha utilizado a expressão “formas quali- unissubsistente;
ficadas pelo resultado”. z Transeunte, como regra, pois, na maioria dos
Destarte, se da conduta resultar lesão corporal de casos, não será necessária a prova pericial;
natureza grave ou gravíssima, aumentará pela meta- z Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, e a socie-
de a pena privativa de liberdade. dade, que tem a paz prejudicada em virtude da
Se resultar morte, será aplicada a pena em dobro. conduta do agente, é o sujeito passivo.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O momento consumativo do delito é quando o agente,


incitando publicamente a prática de crime, coloca efeti-
CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA vamente em risco a paz pública, criando sensação de ins-
tabilidade social, medo e insegurança no corpo social.
INCITAÇÃO AO CRIME É admissível a tentativa, mas isso depende do meio
utilizado pelo agente para incitar publicamente a prá-
Art. 286 Incitar, publicamente, a prática de crime: tica de crime. Por exemplo: o sujeito prepara cartazes
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. para instigar a multidão para promover depredação em
uma rede de lojas, porém, é interceptado pela polícia.
O delito, em uma primeira leitura, parece ser mui- A ação penal é de iniciativa pública incondiciona-
to simples: incitar, publicamente, a prática de crime. da. A competência é do Juizado Especial Criminal.
De início, precisamos isolar o núcleo da lei, o verbo É possível propor suspensão condicional do processo.
incitar, para interpretá-la. Incitar tem o significado A incitação não está prevista apenas no Código
de estimular, instigar, induzir etc. Penal: 475
z Incitação: A apologia de crime também está prevista no art.
22, da Lei de Segurança Nacional, Lei nº 7.170, de 1983.
„ Art. 23, Lei de Segurança Nacional – Lei n°
7.170, de 1983; ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
„ Art. 155, Código Penal Militar;
Art. 288 Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
„ Art. 3º, Incitação ao Genocídio – Lei nº 2.899, de para o fim específico de cometer crimes:
1956. Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade
APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO se a associação é armada ou se houver a participa-
ção de criança ou adolescente.
Art. 287 Fazer, publicamente, apologia de fato cri-
minoso ou de autor de crime: A associação criminosa ocorre quando há três ou
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. mais indivíduos reunidos com a intenção de praticar
crimes, sejam os mesmos crimes, ou crimes diversos,
O delito de apologia ao crime ou criminoso inicia-se mas com certa continuidade ou durabilidade.
com o verbo “fazer”, que significa realizar, levar a efei- Vale destacar que o delito de associação criminosa é
to, manifestar etc. O termo apologia tem o sentido de fruto da nova redação dada pela Lei nº 12.80, de 2013,
enaltecer, realizar com afinco, engrandecer, glorificar. que abandonou a denominação de quadrilha ou bando.
Então, fazer apologia é realizar o engrandecimen- Associar-se significa uma reunião não eventual de
to do fato criminoso ou manifestar que está enalteci- pessoas, com caráter relativamente duradouro, e não
do com a conduta do criminoso. perpétuo, com o objetivo de perpetração de uma inde-
A lei exige que a conduta seja pública. Exemplo: o terminada série de crimes.
agente que elogia ou aplaude, em público, fato crimi-
noso ou autor de crime. A defesa, o engrandecimento, a
Importante!
justificação da prática do delito é que colocam em risco
a paz pública. No delito de associação criminosa, “[...] os inte-
A paz pública é o bem juridicamente protegido grantes do grupo não se reúnem apenas, por
pelo tipo penal que prevê o delito de apologia de cri- exemplo, para a prática de um ou dois delitos,
me ou criminoso. O Código Penal procura evitar não sendo a finalidade do grupo a prática constante
somente o enaltecimento de um fato criminoso já acon- e reiterada de uma série de crimes, seja a cadeia
tecido, como também qualquer apologia à prática de criminosa homogênea (destinada à prática de
um delito abstratamente considerado (GRECO, 2018). um mesmo crime), seja a heterogênea (que tem
Classificação doutrinária do delito de apologia ao por finalidade praticar delitos distintos, a exem-
crime ou criminoso (GRECO, 2018): plo de roubos, furtos, extorsões, homicídios
etc.).” (GRECO, 2018).
z Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito
ativo quanto ao sujeito passivo;
z Doloso, não havendo previsão para a modalidade O delito de associação criminosa possui a seguinte
de natureza culposa; classificação doutrinária:
z Comissivo, podendo, nos termos do § 2º do art.
13 do CP, ser praticado via omissão imprópria, na z Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito
hipótese de o agente gozar do status de garantidor; ativo quanto ao sujeito passivo;
z Doloso, não havendo previsão para a modalidade
z Crime de perigo comum e concreto, embora haja
de natureza culposa;
divergência doutrinária nesse sentido, pois se tem
z Comissivo, podendo, nos termos do § 2º, do art.
entendido, majoritariamente, tratar-se de um cri-
13, do CP, ser praticado via omissão imprópria, na
me de perigo abstrato, presumido; hipótese de o agente gozar do status de garantidor;
z Crime de forma livre; z Crime de perigo comum e concreto, embora haja
z Instantâneo; divergência doutrinária nesse sentido, pois se tem
z Monossubjetivo; entendido, majoritariamente, tratar-se de crime
z Plurissubsistente, podendo (dependendo da forma de perigo abstrato, presumido;
como é praticado) ser considerado unissubsistente; z Crime de forma livre;
z Transeunte, como regra, pois na maioria dos casos z Permanente;
não será necessária a prova pericial; z Plurissubjetivo;
z Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, e a socie- z Plurissubsistente, podendo (dependendo da forma
dade, que tem a paz prejudicada em virtude da como for praticado) ser considerado unissubsistente;
conduta do agente, é o sujeito passivo. z Transeunte, como regra, pois na maioria dos casos
não será necessária a prova pericial;
O delito de apologia ao crime ou ao criminoso se z O delito de associação criminosa pode ter qual-
consuma quando o agente, levando a efeito a apolo- quer pessoa na condição de sujeito ativo. Por se
gia de crime ou criminoso, coloca, efetivamente, em tratar de crime contra a paz pública em decorrên-
cia da formação do grupo criminoso, o sujeito pas-
risco a paz pública, criando sensação de instabilidade
sivo é a sociedade.
social, medo e insegurança no corpo social.
A tentativa pode ser admitida, dependendo do A associação criminosa se consuma quando ocorre
meio utilizado pelo agente para fazer a apologia de cri- a integração do terceiro sujeito ao grupo (duas pes-
me ou criminoso. A ação penal é de iniciativa pública. soas, mesmo com a intenção de praticar crime, ainda
A competência para julgamento e suspensão condicio- não constituem associação; quando uma terceira pes-
476 nal do processo é do Juizado Especial Criminal. soa passa a integrar o grupo, forma-se a associação).
Não é admissível a tentativa. z Grupo: Conjunto de pessoas;
O delito de associação criminosa pode ocorrer z Esquadrão: Quatro ou mais pessoas reunidas com o
mesmo que um dos integrantes não seja identificado, ânimo de cometer crimes descritos no Código Penal.
sendo necessário que se tenha prova suficiente da for-
mação da associação criminosa. Não há necessidade O crime de constituição de milícia privada é:
de ser praticado qualquer crime em virtude do qual a
associação foi formada. z Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito
A ação penal é pública incondicionada. ativo quanto ao sujeito passivo;
Existem hipóteses em que figuram na associação z Doloso, não havendo previsão para a modalidade
criminosa um inimputável (criança ou adolescente). de natureza culposa;
Nesses casos, devemos nos atentar ao seguinte: z Comissivo, podendo, nos termos do § 2º, do art.
Caso figurar um inimputável na associação crimi-
13, do CP, ser praticado via omissão imprópria, na
nosa, os agentes imputáveis responderão normal-
hipótese de o agente gozar do status de garantidor;
mente pelo delito de associação criminosa, porém,
z Crime formal;
com o aumento da pena, de acordo com o parágrafo
z Crime de perigo comum;
único do art. 288:
z Crime de forma livre;
Art. 288 [...] z Permanente;
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade z Plurissubjetivo;
se a associação é armada ou se houver a participa- z Plurissubsistente, podendo (dependendo da forma
ção de criança ou adolescente. como for praticado) ser considerado unissubsistente;
z Transeunte;
Os inimputáveis não responderão pelo crime pre- z O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa que se
visto nesse artigo, mas sim por ato infracional, de reúna (três ou mais pessoas) para constituição de
acordo com o que dispõe o ECA, Lei 8.069, de 1990. milícia privada, sem exigir qualidade ou condição
A doutrina entende também que os inimputáveis especial. O sujeito passivo é a sociedade, porque a
devem ter um mínimo de capacidade de discerni- paz pública é violada.
mento para então pertencerem a uma associação cri-
minosa. Assim, na hipótese em que os pais e um filho A consumação do crime será na concretização
de 6 anos (sem capacidade mínima de discernimen- dos verbos típicos, independentemente da prática de
to) realizam prática delituosa de forma habitual, não qualquer crime almejado. Ocorre no instante em que
estará caracterizado o crime de associação criminosa. mais de três pessoas se reúnem e constituem a milícia.
Se a milícia já chegou a se formar, o crime já está
CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA consumado, pois a constituição de milícia é crime
independente dos delitos que venham a ser pratica-
Art. 288-A Constituir, organizar, integrar, manter
dos pela associação. Para a consumação da constitui-
ou custear organização paramilitar, milícia parti-
cular, grupo ou esquadrão com a finalidade de pra- ção de milícia, não é necessário que seus membros
ticar qualquer dos crimes previstos neste Código: tenham cometido algum crime. O abandono da milí-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. cia por algum de seus elementos não exclui o crime
nem implica desistência voluntária.
Independente da punição que couber em virtude
dos crimes praticados pelo grupo criminoso, também
será punido com pena de reclusão, de 4 a 8 anos. Por
exemplo: a milícia praticou homicídio, então, aplica- CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
-se a pena do art. 121 e do art. 288-A, todos do CP.
Existem cinco verbos de ação na definição do deli- MOEDA FALSA
to de constituir milícia privada:
Art. 289 Falsificar, fabricando-a ou alterando-a,
z Constituir: Criar, trazer à existência, formar a essência; moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no
z Organizar: Colocar em ordem, preparar para o país ou no estrangeiro:
funcionamento, estabelecer as bases; Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
z Integrar: Fazer parte integrante, juntar-se, reunir- § 1º Nas mesmas penas incorre quem, por conta
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

-se ao grupo; própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,


z Manter: Sustentar; vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz
z Custear: Financiar, arcar com os custos. na circulação moeda falsa.
§ 2º Quem, tendo recebido de boa-fé, como verda-
Não bastar praticar um dos verbos, há a necessidade deira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circula-
de ter por objetivo a organização paramilitar, milícia ção, depois de conhecer a falsidade, é punido com
particular, grupo ou esquadrão. Vejamos (DAMÁSIO, detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
2014): § 3º É punido com reclusão, de três a quinze anos,
e multa, o funcionário público ou diretor, gerente,
z Associação paramilitar: Associação civil que se ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou
compõe como as entidades militares; autoriza a fabricação ou emissão:
z Milícia particular: Associação privada armada I - de moeda com título ou peso inferior ao determi-
que controla determinada região à força com âni- nado em lei;
mo de lucro, a pretexto de proteger a população e II - de papel-moeda em quantidade superior à
manter a ordem; autorizada. 477
§ 4º Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
circular moeda, cuja circulação não estava ainda quer pessoa, salvo aquele que falsifica a moeda
autorizada. – não se trata de hipótese de concurso de crimes,
assim, caso o agente falsifique a moeda e a guarde,
O crime de moeda falsa tem como figura típica a responderá apenas pelo crime de moeda falsa.
seguinte conduta: falsificar, fabricando-a ou alteran-
do-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal Se o agente recebe a moeda de boa-fé, mas, para
no país ou no estrangeiro. não ficar no prejuízo, a restitui à circulação, ele res-
Esse crime pode ser praticado de duas formas: ponderá criminalmente? Sim.
Nesse caso, responderá o agente pelo crime de
circulação de moeda falsa na modalidade privilegia-
FALSIFICAR A MOEDA METÁLICA OU da, com uma pena bem mais branda em relação aos
PAPEL-MOEDA DE CURSO LEGAL NO PAÍS outros dois tipos penais que já estudamos.
ESTRANGEIRO
Neste caso, o agente cria a moeda CIRCULAÇÃO DE MOEDA FALSA
Fabricando-a
falsa ou papel-moeda PRIVILEGIADA
Neste caso, o agente altera uma moe-
Alterando-a da ou papel-moeda que são verdadei-
ros, transformando-os em falsos Quem, tendo recebido de boa-fé, como ver-
dadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui
Sobre o crime de moeda falsa, é importante à circulação, depois de conhecer a falsida-
levar em consideração o seguinte: de, é punido com detenção de seis meses a
dois anos e multa
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa, podendo ser Sobre o crime de circulação de moeda falsa pri-
praticado somente a título de dolo; vilegiada, atente-se ao seguinte:
z Admite a tentativa;
z Segundo posicionamento doutrinário majoritário, z O recebimento da moeda dá-se de boa-fé, pois o
para configuração deste crime, a falsificação ou agente acredita que é verdadeira;
z A restituição à circulação deve realizar-se dolosa-
alteração não podem ser grosseiras (aquela vista a
mente, isto é, o agente já conhece sobre a falsidade
olho nu por qualquer pessoa dotada de capacidade
da moeda;
mediana) – nesse caso, estaremos diante de condu- z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
ta que configura crime impossível em relação ao quer pessoa, exceto o falsificador que pratica o cri-
crime de moeda falsa. me de falsificar moeda;
z Admite tentativa.
Contudo, caso a falsificação seja grosseira, o seu
uso pode caracterizar o crime de estelionato, confor- O crime de moeda falsa possui formas qualificadas.
me entendimento sumulado do STJ. Responderá pelo crime de moeda falsa na moda-
lidade qualificada o funcionário público ou diretor,
Súmula 73 (STJ): A utilização de papel moeda gros- gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica,
seiramente falsificado configura, em tese, o crime de emite ou autoriza a fabricação ou emissão de moeda
estelionato, da competência da Justiça Estadual. com título ou peso inferior ao determinado em Lei ou
de papel-moeda em quantidade superior à autoriza-
Exige-se que a moeda metálica ou o papel-moeda da. Trata-se de crime próprio, que somente poderá ser
tenham curso legal no país ou no estrangeiro. Caso praticado pelo funcionário público ou diretor, gerente
não tenham, ou estejam fora de circulação, não irá se ou fiscal de banco de emissão.
configurar esse crime. Também pratica o delito de moeda falsa na moda-
Configurará o crime de circulação de moeda falsa, lidade qualificada o agente que desvia e faz circular
incorrendo na mesma pena do crime de moeda falsa, moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
a conduta do agente que, por conta própria ou alheia, O crime de moeda falsa na modalidade qualificada
importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, não admite a forma culposa.
empresta, guarda ou introduz na circulação moeda Os crimes relacionados à moeda falsa são proces-
sados e julgados pela Justiça Federal.
falsa.
Sobre o crime de circulação de moeda falsa, A ação penal é pública incondicionada.
fique atento às seguintes informações:

z É crime de ação múltipla, que se configura com a Importante!


prática de quaisquer um dos verbos descritos no Não se aplica o princípio da insignificância ao cri-
tipo penal; me de moeda falsa.
z Caso o agente pratique mais de um verbo, no mes-
mo contexto fático, responderá por apenas um cri-
me de circulação de moeda falsa; Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa
z O crime somente poderá ser praticado dolosamen-
te, portanto, é necessário que o agente saiba ou Art. 290 Formar cédula, nota ou bilhete representa-
tenha dúvida sobre a falsidade da moeda; tivo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou
478 z Admite tentativa; bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou
bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circu- Sobre o crime de petrechos para emissão de moeda,
lação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir é importante ficar atento ao seguinte:
à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condi-
ções, ou já recolhidos para o fim de inutilização: z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. por meio da execução de quaisquer um dos verbos
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne-
a doze anos e multa, se o crime é cometido por fun- cer, possuir ou guardar.
cionário que trabalha na repartição onde o dinhei- z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
ro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso, quer pessoa;
em razão do cargo. z O crime se configura ainda que o agente pratique
as condutas descritas no tipo penal sem finalidade
onerosa;
Praticará crime assimilado ao de moeda falsa, pre-
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente,
visto no art. 290, do CP, o agente que formar cédula,
que admite a prisão em flagrante enquanto não se
nota ou bilhete representativo de moeda com frag-
cessar a permanência;
mentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros, ou z O delito é doloso;
suprimir em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o z Não admite a modalidade culposa;
fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua z Admite tentativa.
inutilização, bem como restituir à circulação de cédu-
la, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal
para o fim de inutilização.
Art. 292 Emitir, sem permissão legal, nota, bilhe-
É importante saber sobre o delito assimilado à te, ficha, vale ou título que contenha promessa de
moeda falsa: pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte
indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago:
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
quer pessoa; Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como
dinheiro qualquer dos documentos referidos neste
z O crime é doloso;
artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias
z Não admite a modalidade culposa; a três meses, ou multa.
z Admite tentativa;
z É processado e julgado pela Justiça Federal, O crime de emissão de título ao portador sem
mediante ação penal pública incondicionada; emissão legal é praticado quando o agente emite, sem
z Trata-se de tipo penal misto alternativo, que se permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que
consuma com a prática de quaisquer das condutas contenha promessa de pagamento em dinheiro ao
previstas no tipo penal. portador ou a que falte indicação do nome da pessoa
a quem deva ser pago.
Existe a possibilidade de ser crime próprio caso Considera-se menos grave a conduta de quem uti-
seja cometido por funcionário que trabalha na repar- liza nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha
tição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou
tenha fácil ingresso, em razão do cargo. Nesse caso, o a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva
máximo da reclusão é elevado a doze anos. ser pago como dinheiro.
É importante saber sobre o delito de emissão de
Petrechos para Falsificação de Moeda título ao portador legal:

Art. 291 Fabricar, adquirir, fornecer, a título one- z Exige-se que o agente não tenha permissão legal
roso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, para a emissão;
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial- z Se o agente tem permissão para emitir o título ao
mente destinado à falsificação de moeda: portador, o fato será atípico;
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. z O delito é doloso;
z Não admite a modalidade culposa;
O objeto material deste crime é o maquinismo, z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa.
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

mente destinado à falsificação de moeda.


FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS
Veja que o tipo penal exige que o equipamento PÚBLICOS
tenha destinação específica, não configurando o delito
de petrechos para falsificação de moeda caso o equi- Falsificação de Papéis Públicos
pamento tenha outras finalidades e, também possa,
de alguma forma, ser utilizado para falsificar moeda. Art. 293 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
Temos aqui uma conduta que constitui exceção à I – selo destinado a controle tributário, papel sela-
punição de um crime a partir do momento em que se do ou qualquer papel de emissão legal destinado à
inicia a execução do crime. Isto porque, caso um agen- arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda de
te tenha a finalidade de falsificar moeda e, para isso,
curso legal;
adquira um aparelho, mesmo que não inicie a execu- III - vale postal;
ção da falsificação, poderá ser responsabilizado cri- IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de cai-
minalmente pelos atos preparatórios, que constituem xa econômica ou de outro estabelecimento mantido
crime autônomo. por entidade de direito público; 479
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro Existem formas equiparadas ao crime de falsifica-
documento relativo a arrecadação de rendas públi- ção de papéis públicos, incorrendo o agente nas mes-
cas ou a depósito ou caução por que o poder públi- mas penas deste.
co seja responsável; Nas mesmas penas irá incorrer aquele que:
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
transporte administrada pela União, por Estado ou
z Usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. falsificados a que se refere este artigo;
§ 1° Incorre na mesma pena quem: z Importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
papéis falsificados a que se refere este artigo; selo falsificado destinado a controle tributário;
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, z Importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda,
empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta,
selo falsificado destinado a controle tributário; fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em pro-
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à veito próprio ou alheio, no exercício de atividade
venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede, comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
„ Em que tenha sido aplicado selo que se destine
de atividade comercial ou industrial, produto ou
mercadoria: a controle tributário, falsificado;
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a „ Sem selo oficial, nos casos em que a legislação
controle tributário, falsificado; tributária determina a obrigatoriedade de sua
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação aplicação.
tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação. O tipo penal do crime de falsificação de papéis
§ 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quando públicos apresenta três modalidades em que a pena
legítimos, com o fim de torná-los novamente utilizá- será mais branda se comparada ao tipo penal prin-
veis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização: cipal e às formas equiparadas, que têm como pena a
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
reclusão de dois a oito anos e multa:
§ 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de
alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior. z Aquele que usar os papéis, depois de alterados
§ 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora (após a supressão de carimbo ou sinal indicativo
recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados de inutilização, quando legítimos, com o fim de
ou alterados, a que se referem este artigo e o seu torná-los utilizáveis), incorrerá na pena de reclu-
§ 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, são de um a quatro anos e multa;
incorre na pena de detenção, de seis meses a dois z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora
anos, ou multa. recebido de boa-fé, qualquer dos papéis falsifica-
§ 5º Equipara-se à atividade comercial, para os dos ou alterados, depois de conhecer a falsidade
fins do inciso III do § 1º, qualquer forma de comér- ou alteração, incorrerá na pena de detenção, de
cio irregular ou clandestino, inclusive o exercido
seis meses a dois anos, ou multa.
em vias, praças ou outros logradouros públicos e
em residências.
Qualquer forma de
É um tipo penal bastante extenso, que irá se con- comércio irregular ou
figurar quando o agente falsificar, fabricando-os ou clandestino, inclusive
Equipara-se à
alterando-os:
atividade o exercido em vias,
comercial praças ou outros
z Selo destinado a controle tributário, papel sela- logradouros públicos e
do ou qualquer papel de emissão legal destinado à
em residências
arrecadação de tributo;
z Papel de crédito público, que não seja moeda de
curso legal, ou seja, apólices e títulos da dívida
Sobre o crime de falsificação de papéis públi-
pública;
cos, é importante levar em consideração o seguinte:
z Vale postal (dispositivo tacitamente revogado);
z Cautela de penhor, ou seja, o título com o qual o
sujeito pode retirar o bem empenhado das mãos z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer
do credor; pessoa;
z Talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro docu- z Só admite a modalidade dolosa – não pode ser pratica-
mento relativo à arrecadação de rendas públicas do culposamente;
ou a depósito ou caução pelo qual o poder público z Caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipicidade
seja responsável; deste crime;
z Bilhete, passe ou conhecimento de empresa de z Admite a tentativa;
transporte de mercadorias administrada pela z Súmula 546 - STJ: A competência para processar e jul-
União, por Estado ou Município. gar o crime de uso de documento falso é firmada em
razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
Esse tipo penal poderá ser praticado com a falsifi- documento público, não importando a qualificação do
cação de quaisquer um dos documentos vistos acima, órgão expedidor;
de duas formas: fabricando-os (neste caso, o agente z Será de competência do Juizado Especial Criminal
cria um documento) ou alterando-os (o agente altera Federal na hipóteses de crime privilegiado, definido
480 documento já existente). no § 4º, art. 293, do CP.
Petrechos de Falsificação
FALSIFICAÇÃO DE SELO OU SINAL PÚBLICO
Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guar-
Falsificar, fabricando ou alterando
dar objeto especialmente destinado à falsificação de
qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Selo público destinado a Selo ou sinal atribuído
autenticar atos oficiais por lei à entidade de
Art. 295 Se o agente é funcionário público, e comete o
da União, do Estado ou direito público, ou à
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de autoridade ou sinal
sexta parte.
do Município
público de tabelião

Sobre o crime de petrechos de falsificação, é São condutas equiparadas ao crime de falsifica-


importante que você leve para a sua prova as seguin- ção de selo ou sinal público, incorrendo nas mesmas
tes informações: penas o agente que:

z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado z Faz o uso de selo ou de sinal falsificado, isto é, não
seja verdadeiro e que o uso seja indevido, resultando,
mediante à execução de quaisquer um dos verbos
por exemplo, na obtenção de vantagem econômica;
previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, fornecer, z Utiliza indevidamente o selo ou o sinal verdadeiro em
possuir ou guardar; prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio;
z É crime comum, que poderá ser praticado por qual- z Só incorre no uso do selo ou do sinal quem não foi
quer agente; responsável pela falsificação;
z Entretanto, caso o crime seja praticado por funcioná- z Altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas,
rio público, prevalecendo-se este do cargo, a pena será logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos uti-
lizados ou identificadores de órgãos ou entidades
aumentada da sexta parte (1/6);
da Administração Pública.
z Assim como o crime de petrecho para falsificação de
moeda, o objeto deve ser destinado especialmente Sobre esse crime, é importante que você leve
para falsificar os papéis previstos no art. 293 em consideração as seguintes disposições:
z Caso o objeto possua outras finalidades (tem outras
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
utilidades e também serve para falsificar papéis), não
quer pessoa;
há que se falar na prática deste tipo penal; z Caso o crime seja praticado por funcionário públi-
z Só poderá ser praticado dolosamente; co, prevalecendo-se do cargo, a pena será aumen-
z Admite a modalidade tentada; tada da sexta parte (aumento de 1/6);
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, z Só pode ser praticado dolosamente;
protraindo-se a conduta no tempo. z Admite a modalidade tentada, já que se trata de crime
plurissubsistente (quando o delito, para ser praticado,
necessita de vários atos para atingir o resultado);
FALSIDADE DOCUMENTAL
z A falsificação pode dar-se de duas formas: com a
fabricação (o agente cria o selo ou sinal) ou com a
De acordo com o art. 232, do CPP, documentos são alteração (o agente modifica o selo ou sinal).
quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos ou
particulares. Trata-se de crime de forma livre, que pode ser pra-
O CPP estabelece requisitos para que um papel seja ticado de qualquer modo pelo agente.
considerado documento: forma escrita, autor certo, pos-
suir conteúdo de relevância jurídica e valor probatório.
Dica
Observe que inciso I, do art. 293, também trata
Falsificação do Selo ou Sinal Público de selos, bem como o art. 303. Assim, para que
você não se confunda, tenha em mente que o art.
Art. 296 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: 293 deverá fazer menção à temática de selo na
I - selo público destinado a autenticar atos oficiais seara tributária; já o presente art. 296 tratará dos
selos referentes à autenticação efetuada pelas
da União, de Estado ou de Município;
pessoas jurídicas de direito público ou pelas
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
autoridades (ex.: juiz, delegado etc.) e o art. 303
direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tratará dos selos comuns, os quais são/eram
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tabelião: usados nos serviços postais.


Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas: Falsificação de Documento Público
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal ver- Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, documento
dadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito pró- público, ou alterar documento público verdadeiro:
prio ou alheio. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de § 1º Se o agente é funcionário público, e comete o
marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros sím- crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
de sexta parte.
bolos utilizados ou identificadores de órgãos ou
§ 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
entidades da Administração Pública. mento público o emanado de entidade paraestatal,
§ 2º Se o agente é funcionário público, e comete o o título ao portador ou transmissível por endosso,
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena as ações de sociedade comercial, os livros mercan-
de sexta parte. tis e o testamento particular. 481
§ 3° Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz Embora o art. 297 trate de matéria relacionada à
inserir: falsificação material – sendo esta passível de perícia
I – na folha de pagamento ou em documento de pois o documento é falsificado ou alterado –, o § 3º nos
informações que seja destinado a fazer prova traz a hipótese de falsidade ideológica – neste caso,
perante a previdência social, pessoa que não pos- não há que se falar em perícia, pois o agente faz o res-
sua a qualidade de segurado obrigatório; ponsável pela confecção inserir declarações que não
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social deveria, sendo o documento verdadeiro materialmen-
do empregado ou em documento que deva produzir
te mas falso quanto ao seu conteúdo. Assim, para não
efeito perante a previdência social, declaração falsa
se confundir com o art. 299, o qual trata estritamente
ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro sobre a falsidade ideológica, atente-se ao fato de que
documento relacionado com as obrigações da será atribuído a toda conduta que faça constar decla-
empresa perante a previdência social, declaração ração inverídica face à Previdência o crime constante
falsa ou diversa da que deveria ter constado. no art. 297 (Falsificação de Documento Público).
§ 4° Nas mesmas penas incorre quem omite, nos
documentos mencionados no § 3o, nome do segura- Sobre o crime de falsificação de documento
do e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência público, é importante que você leve em considera-
do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. ção as seguintes informações:

A sua conduta típica é: falsificar, no todo ou em z O crime é comum, podendo ser praticado por qual-
parte, documento público, ou alterar documento pú- quer pessoa;
blico verdadeiro. z Na hipótese de o agente ser funcionário público e,
O crime pode ser praticado das seguintes formas: ainda, se prevalecer do cargo para praticar o deli-
to, a pena será aumentada em um sexto;
z O delito é doloso, não exige fim especial;
Falsificar, total z Não admite a modalidade culposa;
Alterar documento
ou parcialmente, z Admite a tentativa;
público verdadeiro
documento público z O objeto material do crime é o documento público.

É muito importante que você saiba o que é documen-


Aqui, o agente cria um Aqui, o agente modifica to público, para fins de configuração deste crime, já que
documento público que o documento público existe, também, o crime de falsificação de documento
não existia que já existia particular, sendo os dois apenados de formas diferentes,
sendo aquele mais grave do que este.
Trata-se de falsidade material, na qual o agente cria Para fins de concurso público, pode-se conceituar
um documento público falso ou modifica o documento documento público como aquele emitido por funcioná-
público verdadeiro, tornando-se falsos em seu aspecto rio público, no exercício de suas funções, a serviço da
material, podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não. União, estados-membros, Distrito Federal ou municí-
São condutas equiparadas ao crime de falsificação pios (emitido por órgãos ou entidades públicas).
de documento público, incorrendo nas mesmas penas Porém, o Código Penal equipara alguns outros
o agente que insere ou faz inserir, conforme visto no § documentos, embora emitidos por particulares, a
3º, do art. 297, do CP. documento público.
Não se pode confundir a falsidade material com a
falsidade ideológica. Observe, a seguir, as diferenças: z F alsificação total: criação de todo o material
escrito que representa o documento;
Falsidade Material z Falsificação parcial: criação de uma parte falsa
z O agente cria um documento falso ou modifi- do documento público verdadeiro, a qual pode
ca um documento verdadeiro; dele ser individualizada;
z O documento é materialmente falso; z Alteração de documento público: inserir ou
z Altera-se o aspecto formal do documento, suprimir falsamente informações escritas no pró-
podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não; prio corpo do documento verdadeiro após a sua
z Crimes: falsificação de documento público criação.
ou particular;
z Por exemplo, criar uma certidão de nascimento. FALSIFICAÇÃO
ALTERAÇÃO
PARCIAL

A falsidade diz respeito


Falsidade Ideológica às informações Parte do documento,
z O agente falsifica a declaração que deveria falsamente inseridas ou que dele pode ser
constar no documento público ou privado, retiradas do papel, o que individualizada, é criada
que é verdadeiro; ocorre posteriormente à falsamente
z O documento é materialmente verdadeiro, criação do documento
com o conteúdo falso;
z Altera-se o conteúdo do documento, mas o O título ao portador é documento de crédito que
aspecto formal continua intacto; não informa o seu beneficiário, a exemplo do cheque
z Crime: falsidade ideológica; no valor de até R$ 100,00 (cem reais). O endosso é uma
z Por exemplo, alterar data de nascimento em forma de transferir a propriedade de um título (do
482 certidão de nascimento. endossante para o endossatário), como os cheques em
geral e as notas promissórias, que constituem exem- Para fins de aplicação desse crime, equipara-se a
plos de títulos transmissíveis por endosso. documento particular o cartão de crédito ou de débito.

Súmula 17 Quando o falso se exaure no estelio- Falsificação de Cartão


nato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido. Art. 298 [...]
Parágrafo único.   Para fins do disposto no caput,
Essa Súmula refere-se à aplicação do princípio da equipara-se a documento particular o cartão de
consunção ou absorção. Quando o crime de falsifica- crédito ou débito.
ção de documento público for meio para praticar o
crime de estelionato, será por este absorvido. Falsidade Ideológica
Por exemplo, agente que, para obter ilícita van-
tagem em prejuízo de terceiro, altera sua carteira de Art. 299 Omitir, em documento público ou parti-
identidade verdadeira, responderá apenas pelo crime cular, declaração que dele devia constar, ou nele
de estelionato caso a potencialidade lesiva da falsifica- inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa
ção fique exaurida com a prática do estelionato. da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
Caso a falsificação ou alteração sejam grosseiras, direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
haverá atipicidade deste crime, podendo configurar fato juridicamente relevante:
outra infração penal. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
documento é público, e reclusão de um a três anos,
Falsificação de Documento Particular    e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de
réis, se o documento é particular.
Art. 298 Falsificar, no todo ou em parte, documento Parágrafo único - Se o agente é funcionário públi-
particular ou alterar documento particular verdadeiro: co, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. se a falsificação ou alteração é de assentamento de
registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
O crime de falsificação de documento particular é
praticado quando o agente age de acordo com o núcleo
do tipo, ou seja, falsifica, no todo ou em parte, documen- Importante!
to particular ou altera (segundo núcleo do tipo) docu-
mento particular verdadeiro. A falsidade ideológica configura-se das seguin-
A conduta é muito semelhante ao crime de falsifica- tes formas:
ção de documento público, sendo diferente no que se � Omitir, em documento público ou particular,
refere ao objeto material do crime e à pena cominada. declaração que dele devia constar.
� Inserir ou fazer inserir, em documento público
FALSIFICAÇÃO OBJETO ou particular, declaração falsa ou diversa da que
PENA
DE DOCUMENTO MATERIAL devia constar.
Documento Reclusão de dois a
Público
público seis anos e multa A falsidade ideológica pode ser praticada tanto em
Documento Reclusão de um a documento público quanto em documento particular,
Particular tendo como distinção tão somente a pena. Vejamos:
particular cinco anos e multa

� Documento público: reclusão, de um a cinco anos,


Já estudamos o documento público e agora esta- e multa;
mos compreendendo o documento particular. Mas, o z Documento particular: reclusão, de um a três
que é documento particular?
anos, e multa.
Documento particular é aquele que não é docu-
mento público, nem equiparado a documento público,
como por exemplo, cartão de identificação de veículo O tipo penal deste crime apresenta causa de au-
de moradores de condomínio residencial. mento de pena em um sexto:
Neste delito, a falsidade também pode ser mate-
rial, alterando-se a forma estrutural do documento, z Se o agente é funcionário público e comete o crime
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não. prevalecendo-se do cargo;


É importante destacar sobre o crime de falsifi- z Se a falsificação ou alteração é de assentamento de
cação de documento particular o seguinte: registo civil.

z É crime comum; Em relação ao crime de falsidade ideológica, é


z Admite a tentativa; importante que você leve em consideração as se-
z É delito doloso, sem a necessidade de exigir espe- guintes informações:
cial fim;
z Aplica-se a Súmula 17 do STJ: quando o falso se
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesi-
va, é por este absorvido; praticado dolosamente;
z Na hipótese de a falsificação ser grosseira, não irá z Exige-se dolo específico (especial fim de agir): fim
se configurar este crime, mas poderá se configurar de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
outro tipo penal , se o documento for capaz de ludi- verdade sobre fato juridicamente relevante;
briar outrem. z É crime comum. 483
Atenção: se praticado por funcionário público, que z Admite o concurso de pessoas com particulares,
se prevalece do cargo, haverá aumento de pena de desde que estes conheçam sobre a situação de fun-
1/6 (um sexto). Não basta que seja praticado por fun- cionário público;
cionário público, para se aplicar a causa de aumento z Não admite a modalidade culposa;
da pena, mas, também, que ele se prevaleça do cargo z Admite a forma tentada;
para praticar o crime. z É crime de ação múltipla, que pode se configurar
Caso a conduta seja praticada sem uma das finali- com a prática de quaisquer um dos verbos previs-
tos no tipo penal: atestar ou certificar;
dades específicas vistas, o crime não irá se configurar.
z Para a configuração deste crime, exige-se que a
certificação ou o atestado se deem para as finali-
z Admite a modalidade tentada nas condutas comis- dades previstas no tipo penal: habilitar alguém a
sivas, mas não admite, segundo posicionamen- obter cargo público; isentar de ônus ou de serviço
to doutrinário majoritário, na conduta omissiva de caráter público ou qualquer outra vantagem;
(omitir); z Caso o crime tenha como finalidade a obtenção de
z Neste crime, a forma do documento segue intacta; lucro (finalidade específica), será aplicada, além
o que se falsifica é o conteúdo das informações con- da pena privativa de liberdade, a pena de multa.
tidas no documento público ou particular (com a
omissão de declaração ou com a declaração falsa). Falsidade Material de Atestado ou Certidão

Art. 301 [...]


Falso Reconhecimento de Firma ou Letra § 1º Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou cer-
tidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado
Art. 300 Reconhecer, como verdadeira, no exercício verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que
de função pública, firma ou letra que o não seja: habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
documento é público; e de um a três anos, e multa, vantagem:
se o documento é particular. Pena - detenção, de três meses a dois anos.
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-
Entenda da seguinte forma: -se, além da pena privativa de liberdade, a de multa.

z Firma = assinatura; No § 1º, art. 301, do CP, temos um outro tipo penal: Cer-
z Letra = manuscrito daquele que assina. tidão ou Atestado Ideologicamente Falso.
O crime de certidão ou atestado ideologicamente falso
A pena do crime será distinta conforme a natureza irá se configurar quando o agente falsificar, no todo ou
do documento: em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de cer-
tidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou
SE DOCUMENTO PÚBLICO SE DOCUMENTO PRIVADO circunstância que habilite alguém a obter cargo público,
isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qual-
Reclusão de um a cinco anos Reclusão de um a três anos e
e multa multa
quer outra vantagem.
Sobre esse crime, é importante levar em conside-
ração o seguinte:
Sobre o crime de falso reconhecimento de firma
ou letra, você deve ficar atento ao seguinte: z É crime comum, que poderá ser praticado por
qualquer pessoa;
z É crime próprio, que só poderá ser praticado pelo fun- z Só pode ser praticado dolosamente – não admite a
cionário público que pode reconhecer firma ou letra; forma culposa;
z Admite a participação de particular, desde que conhe- z Admite a modalidade tentada;
ça a condição de funcionário público do agente. z É crime de ação múltipla, que pode ser pratica-
z Só poderá ser praticado dolosamente; do mediante a execução de quaisquer uma das
z Não exige fim especial de agir (dolo específico); seguintes condutas:
z Segundo posicionamento que prevalece, trata-se
de crime plurissubsistente, que admite, portanto, a „ Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
tentativa; certidão;
z A ação penal será pública incondicionada. „ Alterar o teor de certidão ou atestado verdadeiro.

Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso


Importante!
Art. 301 Atestar ou certificar falsamente, em razão
Caso o crime tenha como finalidade a obtenção
de função pública, fato ou circunstância que habi-
de lucro (finalidade específica), será aplicada,
lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
também, a pena de multa.
vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Falsidade de Atestado Médico
Sobre esse crime, é importante levar em conside- Art. 302 Dar o médico, no exercício da sua profis-
ração o seguinte: são, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
z Trata-se de crime próprio, que só pode ser praticado Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim
484 por funcionário público, em razão da função pública; de lucro, aplica-se também multa.
Sobre este crime, é importante levar em consi- Se o agente que fez uso do documento falso foi o
deração: mesmo que o falsificou, ele será responsabilizado de
que forma?
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por Segundo o entendimento que predomina no STJ,
médico (não há falsidade de atestado médico, caso neste caso, deverá o agente responder apenas por fal-
o atestado seja confeccionado por odontólogo ou sificação de documento público.
psicólogo, por exemplo); Assim, caso o agente falsifique e use o documento
z Não admite a forma culposa – deve ser praticado falso, deverá responder apenas por aquele. Observe o
dolosamente; que diz a Súmula 546 do STJ:
z Não exige fim especial de agir (dolo específico), sal-
vo no caso de obtenção de lucro; Súmula 546 (STJ): A competência para processar
z Admite a tentativa; e julgar o crime de uso de documento falso é fir-
z Caso o médico pratique a conduta com finalidade de mada em razão da entidade ou órgão ao qual foi
obter lucro (dolo específico), será aplicada a ele, além apresentado o documento público, não importando
da pena privativa de liberdade, a pena de multa; a qualificação do órgão expedidor.
z Exige-se que a conduta praticada pelo médico se
dê no exercício da função. Assim, caso o agente utilize uma carteira de iden-
tidade falsa, não será relevante para fins de análise
Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça de competência para processo e julgamento o órgão
Filatélica expedidor do documento (unidade da federação que
o expediu), mas sim o órgão ou entidade ao qual foi
Art. 303 Reproduzir ou alterar selo ou peça filaté- apresentado o documento.
lica que tenha valor para coleção, salvo quando a Caso o agente apresente o documento falso a um
reprodução ou a alteração está visivelmente anota- órgão ou entidade federais, a exemplo da Polícia Rodo-
da na face ou no verso do selo ou peça: viária Federal e do INSS, a competência para processo
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. e julgamento será da Justiça Federal. Se o documento
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para falso for apresentado a órgão ou entidades estaduais,
fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica. a exemplo das polícias civis ou da SANEAGO, o pro-
cesso e julgamento será de competência da Justiça
O crime tipificado nesse artigo foi tacitamente Estadual.
revogado pelo art. 39, da Lei nº 6.538, de 1978.
Trata-se de lei relacionada ao serviço postal e sua Sobre esse crime, é importante saber:
redação é a seguinte:
z Para caracterização deste crime, não basta o mero
Art. 39 Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica
porte do documento falso, exigindo-se que o agen-
de valor para coleção, salvo quando a reprodução
te o use efetivamente, apresentando-o a alguém;
ou a alteração estiver visivelmente anotada na face
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
ou no verso do selo ou peça:
Pena: detenção, até dois anos, e pagamento de três
quer pessoa;
a dez dias-multa. z É crime formal;
Forma assimilada z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas, quem, praticado dolosamente;
para fins de comércio, faz uso de selo ou peça filatéli- z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
ca de valor para coleção, ilegalmente reproduzidos ou z Caso o agente desconheça a falsidade do documen-
alterados. to e o utilize, não há que se falar na configuração
deste tipo penal, já que, como visto, o elemento
Uso de Documento Falso subjetivo é somente o dolo;
z Prevalece o entendimento de que não admite a
Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados modalidade tentada, já que se trata de crime unis-
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: subsistente, perfazendo-se mediante a execução
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. de um único ato (ou o agente usa o documento e
pratica o crime; ou o agente não usa o documento
Vamos recordar quais são os tipos penais previstos e o fato será atípico);
entre os arts. 297 e 302, do Código Penal: z Segundo o STJ, se o documento usado for grosseira-
mente falsificado, perceptível aos olhos do homem
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Falsificação de documento público; comum, não irá se configurar o crime de uso de


z Falsificação de documento particular; documento falso.
z Falsidade ideológica;
z Falso reconhecimento de firma ou letra;
Supressão de Documento
z Certidão ou atestado ideologicamente falso;
z Falsidade material de atestado ou certidão;
z Falsidade de atestado médico. Art. 305 Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu-
O uso de qualquer um dos documentos previstos mento público ou particular verdadeiro, de que não
acima configura o crime de uso de documento falso, res- podia dispor:
pondendo o agente com a mesma pena correspondente Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o
à falsificação ou alteração. Por exemplo, caso um agente documento é público, e reclusão, de um a cinco
seja surpreendido utilizando um documento público fal- anos, e multa, se o documento é particular.
so, será responsabilizado com a pena de reclusão de dois
a seis anos, e multa, mesma pena aplicada ao crime de Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser
falsificação de documento público. praticado com a execução das seguintes condutas: 485
Documento público ou particular Sobre este crime, é importante levar as seguin-
DESTRUIR verdadeiro, de que não podia dispor tes informações para a sua prova:
SUPRIMIR
OCULTAR Em benefício próprio ou de outrem, z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
ou em prejuízo alheio quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
praticado dolosamente;
A pena do crime será diferente, a depender da z Não exige dolo específico;
natureza do documento destruído, suprimido ou z Admite a forma tentada, salvo quando executado
ocultado. por meio verbo usar.

Dica
Documento Público Documento Particular
Reclusão, de dois a “Falsificar, fabricando-o ou alterando-o” admite
Reclusão, de um a
seis anos, e multa tentativa.
cinco anos, e multa
“Usar” não admite tentativa.

Art. 307 Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa


Em relação aos tipos penais que apresentam penas identidade para obter vantagem, em proveito pró-
como visto acima, você deve ter um cuidado redobra- prio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
do ao analisar o tipo penal e possíveis questões de pro- Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa,
va sobre o tema. se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

Sobre esse crime, faz-se necessário conhecer as O crime pode ser praticado das seguintes formas:
seguintes informações:
FALSA IDENTIDADE
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer agente;
z Não admite a modalidade culposa; Atribuir-se Atribuir a terceiro
z É necessário que o agente pratique as condutas des-
critas no tipo penal em benefício próprio ou alheio
ou em prejuízo alheio (finalidade específica); O agente atribuiu falsa
z Exige-se, para configuração deste tipo penal, que o O agente atribui a falsa
identidade a uma outra
agente não possa dispor do documento público ou identidade a si próprio
pessoa
particular;
z Admite a tentativa.
Nesse crime, o agente se passa por uma outra pessoa.
OUTRAS FALSIDADES Por exemplo, um indivíduo, chamado Carlos
Eduardo Diogo, sabendo que se encontra, em seu des-
Falsificação do sinal empregado no contraste de favor, um mandado de prisão em aberto, com a fina-
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou lidade de não ser preso e de que não se descubra a
para outros fins: sua condição de procurado, ao ser abordado por uma
equipe policial, atribui a si próprio o nome de Antô-
nio Carlos dos Céus, contra quem não existe nenhuma
Art. 306 Falsificar, fabricando-o ou alterando-
medida judicial.
-o, marca ou sinal empregado pelo poder público
Nesse sentido, configurou-se o crime de falsa iden-
no contraste de metal precioso ou na fiscalização
tidade, já que o agente, com a finalidade de obter pro-
alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa nature-
veito próprio, atribuiu a si mesmo falsa identidade. No
za, falsificado por outrem:
entanto, o fato de Carlos Eduardo Diogo atribuir a si
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
falsa identidade para evitar prisão não está de acordo
Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é
com o princípio do Direito Processual Penal que per-
o que usa a autoridade pública para o fim de fisca-
mite que o indivíduo não seja compelido a produzir
lização sanitária, ou para autenticar ou encerrar
provas contra si mesmo, podendo, inclusive, mentir?
determinados objetos, ou comprovar o cumprimen-
Caso ele seja responsabilizado penalmente, não have-
to de formalidade legal:
ria violação ao princípio da não autoincriminação?
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa.
Por muito tempo, este assunto foi divergente.
O entendimento que predomina atualmente é o de
Trata-se de crime de ação múltipla, que pode ser
que a responsabilização penal por falsa identidade,
praticado mediante a execução dos verbos:
ainda que diante de situação de alegada autodefesa,
não viola o princípio da não autoincriminação, sen-
z Falsificar;
do, portanto, fato típico.
z Usar.
Súmula 522 (STJ): A conduta de atribuir-se falsa iden-
Responderá o agente com uma pena mais branda, tidade perante autoridade policial é típica, ainda que
podendo ser reclusão ou detenção, de um a três anos, em situação de alegada autodefesa.
e multa, se a marca ou sinal falsificado é o que usa a
autoridade pública para o fim de: Sobre o crime de falsa identidade, é importante
que você leve em consideração:
z Fiscalização sanitária;
z Autenticar ou encerrar determinados objetos; z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer
486 z Comprovar o cumprimento de formalidade legais. pessoa;
z Não admite a modalidade culposa – o elemento subjetivo exigido é sempre o dolo;
z Exige dolo específico: o agente deve praticar a conduta com o fim de obter vantagem, em proveito próprio ou alheio,
ou para causar dano;
z Não admite tentativa. Parte da doutrina a admite, ainda que de difícil configuração, caso o crime seja praticado de
forma escrita;
z Trata-se de crime subsidiário, respondendo o agente por ele apenas se o fato não constituir elemento de crime mais
grave;
z Não se exige que o agente atribua a si ou a terceiro nome de pessoa real, podendo ocorrer caso o nome seja inexistente;
z É crime formal, que se consuma independentemente de o agente conseguir obter a vantagem ou efetivamente causar
dano.

Uso de Documento de Identidade Alheia

Apesar de o CP não dispor de um nome específico para o art. 308, a doutrina majoritária utiliza o nome supramencio-
nado para referir-se a ele.

Art. 308 Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer docu­mento de identidade
alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, pró­prio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

Esse crime pode ser praticado das seguintes formas:

z Quando o agente faz uso de documento de identificação alheio;


z Quando o agente cede, para que outro utilize, documento de identificação próprio ou alheio.

O tipo penal apresenta hipótese de interpretação analógica, já que exemplifica quais são os documentos de identida-
de, a exemplo do passaporte, título de eleitor e caderneta de reservista (fórmulas casuísticas) e, por fim, amplia as possi-
bilidades ao utilizar a expressão “qualquer documento de identidade” (fórmula genérica).

Sobre esse crime, é importante que você leve para a sua prova o seguinte:

z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer indivíduo;


z Não admite a modalidade culposa – só pode ser praticado dolosamente;
z Admite-se a modalidade tentada;
z É crime subsidiário, não respondendo o agente por ele se o fato constituir elemento de crime mais grave.

Os crimes a seguir apresentam condutas bastante parecidas. Cuidado para não as confundir:

Falsificação de documento Público Uso de documento falso


ou Particular
Conduta: fazer uso de qualquer
Conduta: falsificar, no todo ou dos papéis falsificados ou
em parte, documento público ou alterados, a que se referem
particular ou alterar documento os arts. 297 a 302 (incluindo
público ou particular verdadeiro documento público ou particular)

Falsa identidade
Conduta: atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para
obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

dano a outrem

Uso de documento de identidade alheio


Conduta: usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou
qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize,
documento dessa natureza, próprio ou de terceiro

Fraude de Lei sobre Estrangeiro

Art. 309 Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. 487
Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Trata-se de crime bastante parecido com o crime de falsa identidade, porém, com este não se confunde.

DIFERENÇAS

Falsa identidade Fraude de Lei sobre Estrangeiro

Crime comum, que pode Finalidade específica: ob- Crime próprio, que só Finalidade específica: en-
ser praticado por qualquer ter vantagem, em proveito pode ser praticado pelo trar ou permanecer no ter-
pessoa próprio ou alheio, ou para estrangeiro ritório nacional
causar dano a outrem

Este crime apresenta uma modalidade qualificada, que irá se configurar quando o agente atribuir a estrangei-
ro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional.

Forma Simples

z Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:

„ Detenção, de um a três anos, e multa.

Forma Qualificada

z Atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional.

„ Reclusão, de um a quatro anos e multa.

Sobre esse crime, é importante que você leve em consideração as seguintes informações:

z É crime próprio;
z Não admite a modalidade culposa – só poderá ser praticado dolosamente;
z Exige finalidade especial de agir (dolo específico):

„ Forma simples: entrar ou permanecer no território nacional;


„ Forma qualificada: promover a entrada do estrangeiro no território nacional.

z Não admite a modalidade tentada;


z Caso o estrangeiro tente entrar ou permanecer no território nacional utilizando-se de documento falso, irá
responder pelo art. 304, do Código Penal (uso de documento falso);
z Caso pratique as duas condutas, irá responder pelos crimes em concurso.

Art. 310 Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos
casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Esse crime tipifica a conduta daquele que figura como “laranja” de estrangeiro, que age como proprietário ou
possuidor de valores, ações ou títulos que, na verdade, pertencem a um estrangeiro, já que a lei proíbe a este a
propriedade ou a posse.
Por exemplo, a Constituição Federal estabelece que a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão
sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, não podendo o
estrangeiro ser proprietário de uma dessas empresas.
Suponha que Augusto, brasileiro nato, preste-se a figurar como proprietário de empresa jornalística e de
radiodifusão sonora e de sons e imagens, que, na verdade, pertence a Alfred, estadunidense nato.
A conduta praticada por Augusto configura o tipo penal previsto no art. 310, do CP, podendo ele ser incurso nas
penas de detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Sobre o crime previsto no art. 310, é importante levar em consideração:

z É crime próprio, que só poderá ser praticado por brasileiro, seja nato ou naturalizado;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser praticado dolosamente;
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z É necessário que o agente saiba que a propriedade ou posse dos bens seja proibida por lei ao estrangeiro (lem-
bre-se de que o crime não admite a forma culposa);
z Admite tentativa.

Adulteração de Sinal Identificador de Veículo Automotor

Art. 311 Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu com-
ponente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
488 § 1º Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um terço.
§ 2º Incorre nas mesmas penas o funcionário público FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO
que contribui para o licenciamento ou registro do veícu-
lo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente
material ou informação oficial. Conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de
beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade
do certame, conteúdo sigiloso de
Importante!
Esse crime apresenta uma causa de aumento de
pena, ou seja, a pena será aumentada de um ter- Processo
Exame ou
Avaliação seletivo para
ço se o agente cometer o crime no exercício da Concurso
ou exame ingresso
processo
público seletivo
função pública ou em razão dela. públicos no ensino
previstos em lei
superior

Incorrerá nas mesmas penas (forma equiparada) o


funcionário público que contribui para o licenciamento O crime de fraude em certames de interesse públi-
ou registro do veículo remarcado ou adulterado, forne- co apresenta uma forma equiparada, uma forma
cendo indevidamente material ou informação oficial. qualificada e uma forma majorada (com aumento de
Neste caso, trata-se de crime próprio, que só pode- pena):
rá ser praticado pelo funcionário público.
Sobre o crime de adulteração de sinal identifi- z Forma equiparada: incorre nas mesmas penas o
agente que permite ou facilita, por qualquer meio,
cador de veículos, atente-se ao seguinte:
o acesso de pessoas não autorizadas às informa-
ções sigilosas relacionadas a concurso público;
z Em regra, é crime comum, que pode ser praticado
avaliação ou exame públicos; processo seletivo
por qualquer pessoa; para ingresso no ensino superior; ou exame ou
z O aumento de pena aplicável no caso de ser pra- processo seletivo previstos em lei;
ticado no exercício da função ou em razão dela e z Forma qualificada: se da ação ou omissão resul-
à forma equiparada, que constitui crime próprio; tar dano à Administração Pública;
z Trata-se de crime instantâneo; z Forma majorada: a pena será aumentada de 1/3
z Este crime não é permanente. Portanto, a sua con- (um terço) se o fato é cometido por funcionário
duta não se prolonga no tempo; público.
z Não admite a modalidade culposa – só será prati-
Sobre este crime, é importante ficar atento às
cado com dolo;
seguintes informações:
z Não exige dolo específico;
z Admite a modalidade tentada. z Esse crime se aplica a certames de interesse públi-
co de maneira geral, e não apenas a concursos
DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE públicos em sentido estrito;
PÚBLICO z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa.
Fraudes em Certames de Interesse Público
É comum acharem que se trata de crime próprio,
Art. 311-A Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o que só pode ser praticado por funcionário público.
fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer Não é crime próprio. Na verdade, para esse crime,
a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: a condição de funcionário público não é elementar,
I - concurso público; constituindo, contudo, causa de aumento de pena de
II - avaliação ou exame públicos; 1/3 (um terço).
III - processo seletivo para ingresso no ensino supe- Vejamos os pontos importantes desse crime:
rior; ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
praticado dolosamente;
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
z Exige fim especial de agir (dolo específico): fim de
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem permite ou
beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
credibilidade do certame;
autorizadas às informações mencionadas no caput.
z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
§ 2° Se da ação ou omissão resulta dano à adminis-
mera divulgação ou utilização das informações
tração pública: sigilosas, ainda que o agente não consiga benefi-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. ciar a si ou a terceiro ou não consiga comprometer
§ 3° Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é a credibilidade do certame público;
cometido por funcionário público. z Admite a forma tentada;
z Caso o agente promova a utilização ou divulgação
Esse tipo penal foi editado para proteger a lisura das informações sigilosas devidamente (com justa
dos certames de interesse público. causa), não há que se falar na prática deste crime. 489
z Cargo público é o criado por lei, com nomenclatu-
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO ra e número certo, além de possuir como instru-
PÚBLICA mento vinculativo o estatuto;
z Emprego público, por sua vez, é o vínculo regido pela
CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS CLT entre o trabalhador e a Administração;
PÚBLICOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL z Função pública é tratada de forma residual, abar-
cando todas as demais pessoas que exercem algum
tipo de função de natureza pública. Assim, pode-
Nos crimes contra a Administração Pública, o bem
mos citar como exemplo os jurados, os mesários, o
jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou
tabelião, o estagiário, dentre outros.
probidade administrativa.
Os crimes praticados por funcionário público con-
No § 2º , do art. 327, o Código Penal apresenta uma
tra a administração em geral são chamados de crimes
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes
funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati-
praticados por funcionário público contra a adminis-
cados contra a administração pública por indivíduo
tração em geral. Observe:
que se encontra investido em uma função pública. São
divididos em funcionais próprios ou puros e funcio-
Art. 327 [...]
nais impróprios ou impuros. § 2º A pena será aumentada da terça parte quan-
Os crimes funcionais próprios são aqueles que do os autores dos crimes previstos neste Capítu-
serão atípicos caso não sejam praticados por funcio- lo forem ocupantes de cargos em comissão ou de
nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor- função de direção ou assessoramento de órgão da
rerá uma hipótese de atipicidade absoluta. administração direta, sociedade de economia mis-
Vejamos que a conduta que define o crime de pre- ta, empresa pública ou fundação instituída pelo
varicação será atípica caso não seja praticada por um poder público.
funcionário público.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que É importante saber que a pena não será aumen-
serão desclassificados para outras infrações penais tada caso o funcionário público ocupe cargo em
caso não sejam praticados por funcionários públicos. comissão ou função de direção ou assessoramento em
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se
hipótese de atipicidade relativa. de que o nosso ordenamento jurídico não admite a
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, analogia para prejudicar o agente.
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi- Os crimes funcionais admitem a coautoria de par-
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada ticular, sendo possível que este venha a ser responsa-
por um funcionário público. bilizado por delito funcional contra a administração
O Código Penal, em seu § 1º, do art. 327, traz o pública, desde que pratique a infração penal em concur-
conceito do que se entende por funcionário público. so com funcionário público e conheça esta qualidade.
Vejamos: Vamos exemplificar: José, funcionário público, con-
vida seu amigo de infância, Jonas, para juntos, subtraí-
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os rem um computador na repartição pública que aquele
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou trabalha. O funcionário público obteria facilidades para
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun- praticar o crime, já que havia ficado com a chave da
ção pública. repartição naquele período. No dia determinado, os
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce agentes vão ao local e subtraem o computador.
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
e quem trabalha para empresa prestadora de ser- responderão pelo crime de peculato (vamos estudar suas
viço contratada ou conveniada para a execução de características a seguir), já que praticaram a conduta em
atividade típica da Administração Pública. concurso de pessoas e a condição de caráter pessoal (ser
funcionário público) se comunica aos demais agentes (é
necessário que eles conheçam a condição).
A Lei de Improbidade Administrativa também traz
Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
um conceito de funcionário público. Veja o que dispõe
soas nos crimes funcionais. Os crimes funcionais são
o art. 2º, da Lei nº 8.429, de 1992: crimes próprios, à medida que o autor deve ser fun-
cionário público.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos Em regra, não podem serem praticados por qual-
desta lei, todo aquele que exerce, ainda que tran- quer pessoa, entretanto, admitem a participação e a
sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, coautoria, bem como a autoria mediata.
nomeação, designação, contratação ou qualquer Observe que o particular sozinho não pratica cri-
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, me funcional, mas, se unido com outro funcionário
cargo, emprego ou função nas entidades menciona- público, também responderá pelo delito.
das no artigo anterior. Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da
ação, prevista nos arts. 29 e 30, do CP, na qual “todo
Veja que aqueles que exercem atividade transi- aquele que concorre para o crime responde para o
tória, mesmo sem remuneração, também são con- mesmo crime”.
siderados funcionários públicos. Logo, o mesário de Nesse sentido, vamos exemplificar, pois responde
eleição, por exemplo, é funcionário público para efei- por peculato o particular que, a mando do funcionário
tos penais, à medida que exerce uma função pública. público subtrai bens da repartição pública. Igualmente,
O art. 327, do CP, faz menção a cargo público, enquadra-se na corrupção passiva a mulher do funcio-
490 emprego público e função pública, vamos distinguir: nário público que instiga o marido a aceitar a propina.
Peculato
Importante!
Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de
É importante que você saiba que parte mino-
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públi-
co ou particular, de que tem a posse em razão do ritarária da doutrina defende que, para que se
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: configure o peculato-desvio, não é necessário a
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. intenção de assenhoramento (apoderar-se) por
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi- parte do funcionário público, podendo se confi-
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou gurar com o mero uso irregular da coisa pública,
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio.
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilida-
de que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Peculato culposo Com base no que foi exposto, é importante men-
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o cionar que o peculato de uso, em regra, é considerado
crime de outrem: figura atípica.
Pena - detenção, de três meses a um ano. Segundo Cleber Masson,
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a o uso momentâneo de coisa infungível, sem a inten-
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a ção de incorporá-lo ao patrimônio pessoal ou de
pena imposta. terceiro, seguido da sua integral restituição a quem
de direito é atípico.
O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é
dividido da seguinte forma: É importante saber no que consistem os bens
infungíveis. O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis
z Peculato-apropriação; os móveis que podem substituir-se por outros da mes-
z Peculato-desvio; ma espécie, qualidade e quantidade.
O Código Civil não define os bens infungíveis,
z Peculato-furto;
mas podemos compreender que são os bens que não
z Peculato culposo;
podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
z Peculato mediante erro de outrem.
quantidade e qualidade.
É importante mencionar que é necessário, para que
Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte divisão não seja típica a conduta do peculato de uso, que o bem
para o crime de peculato: seja infungível e não consumível, a exemplo de um
carro oficial ou de um computador.
z Próprio: peculato-apropriação e peculato-desvio; Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo
z Impróprio: peculato-furto. do dinheiro, a conduta será típica.
Se a conduta relacionada ao Peculato de Uso for
O peculato-apropriação configura-se quando o praticada por Prefeito, o fato será típico, independente-
mente da natureza do bem, por expressa previsão legal
funcionário público se apropriar de dinheiro, valor
no inciso II, do art. 1º, do Decreto-Lei nº 201, de 1967.
ou qualquer outro bem móvel, público ou particu-
O Peculato-furto irá se configurar quando o funcio-
lar, de que tem a posse em razão do cargo, como por
nário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
exemplo, vereador que se apropria de bens (aparelho valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja sub-
de celular, notebook) do qual tem posse em razão do traído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de faci-
cargo (eletivo) que ocupa. lidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
É muito importante atentar-se, em relação ao O peculato-furto pode ser praticado de duas formas:
peculato-apropriação, ao seguinte:
z Subtraindo o dinheiro, valor ou bem;
z Para que se configure, é necessário que o agente z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
tenha a posse do bem em razão do seu cargo; valor ou bem.
z O bem pode ser público ou particular (imagine um
objeto particular apreendido numa delegacia de É importante mencionar que:
polícia);
z O sujeito passivo é a administração pública, con- z Para que se configure este crime, é necessário que
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tudo, no caso de bem particular, o dono do bem o funcionário público não tenha a posse da coisa;
também será sujeito passivo do delito. z O primeiro é o verbo subtrair, que é o fato de o bem
ser arrebatado pelo próprio funcionário público;
O peculato-desvio configura-se quando o funcio- z O segundo é o verbo concorrer, que significa indu-
zir, instigar ou auxiliar uma outra pessoa a reali-
nário público desviar, em proveito próprio ou alheio,
zar a subtração, como, por exemplo, o funcionário
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
público que distrai os demais para que o seu amigo,
ou particular.
que é ladrão, ingresse na repartição com o objetivo
Segundo posicionamento majoritário, apesar de de surrupiar os bens;
algumas posições jurisprudenciais em sentido con- z Para que se configure o peculato-furto, é necessário
trário, para que se configure o peculato-desvio, é que o ato seja doloso;
necessário que o bem seja desviado para integrar o z A qualidade de funcionário público deve acarretar
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter- alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso
ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra não haja facilidade, o agente responderá por furto
mero desvio de finalidade. normalmente. 491
Vamos trazer dois exemplos: z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Certo dia, poso ocorrer antes da sentença transitar em julga-
na hora de sair, valendo-se do fato de estar sozinho na do, extingue a punibilidade;
repartição, ele subtrai um notebook do órgão público. z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
Está, certamente, configurado o crime de peculato-fur- poso ocorrer após a sentença transitar em julgado,
to, já que a condição de funcionário público do servi- a pena será reduzida da metade.
dor foi uma facilidade para que ele subtraísse o bem.
Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tri- O peculato mediante erro de outrem está previs-
to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio-
bunal Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma
nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
escola que se encontra próxima à sua casa, Michele
utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
percebe que o vigilante esqueceu a porta dos fundos
de outrem.
aberta, estando próximo um aparelho celular da esco- Parte da doutrina chama esta modalidade de
la. Michele entra pela porta e subtrai o aparelho. Não peculato-estelionato.
há que se falar em peculato-furto, já que a qualidade Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro de
de funcionária pública de Michele em nada contribuiu outrem, toma posse de um bem móvel, em razão da fun-
para a prática da subtração, podendo qualquer pessoa, ção, apropriando-se deste. O terceiro que induz o funcio-
na mesma situação, praticar essa conduta delituosa. nário a apropriar-se do bem que recebeu por erro será
Dessa forma, Michele responderá pelo crime de furto. partícipe deste delito de peculato mediante erro.
Observe que: O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente,
isto é, posterior ao recebimento da coisa.
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de Num primeiro momento, o funcionário público
crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou seja, o toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro
autor entra no local subtrai a coisa); alheio, mas posteriormente, após detectar o erro,
z O bem subtraído pode ser público ou particular; apropria-se da coisa.
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso É importante levar em consideração as seguintes
o bem seja particular, também será sujeito passivo características do crime de peculato mediante erro de
da infração penal o dono do bem; outrem:
z É crime material.
z É crime material, que se consuma quando o agen-
O peculato culposo, previsto no § 2°, do art. 312, te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti-
configura-se quando o funcionário público concorre lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder
culposamente para o crime de outrem. por erro de outra pessoa, passando a agir como se
Dos crimes praticados por funcionário público dono fosse;
contra a administração em geral, o peculato é o úni- z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
co que prevê expressamente a possibilidade de ser dade tentada;
cometido na modalidade culposa. z O funcionário público deve receber a coisa em
No peculato culposo, o funcionário público não razão do cargo que exerce;
tem intenção em praticar o crime, contudo, por culpa, z O sujeito passivo é a administração pública. Caso o
acaba concorrendo para a subtração da coisa. bem seja particular, também será sujeito passivo o
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato dono do bem;
culposo podem ocorrer as seguintes situações: z Parte da doutrina entende que se a pessoa for
induzida ao erro, irá se configurar o crime de este-
z Um funcionário, por culpa, concorre para que lionato, previsto no art. 171, do CP, sendo neces-
outro funcionário cometa peculato (caput e § 1º); sário, portanto, para caracterização do crime de
z Um funcionário, por culpa, concorre para que outro peculato mediante erro de outrem, que a vítima
funcionário ou um particular cometam o fato; entregue a coisa por erro próprio.
z Um funcionário, por culpa, concorre para que um
particular cometa o fato (furto etc.). Inserção de Dados Falsos em Sistemas de
Informação
Vejamos agora outro exemplo prático: José, agente
de polícia legislativa, esquece, por omissão, já que que- O crime de inserção de dados falsos em sistemas
ria assistir a um jogo de futebol, de trancar uma porta da de informação está previsto no art. 313-A, do CP.
Câmara Legislativa do Distrito Federal, ao qual somente
ele tem acesso. No ambiente em que a porta se encon- Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autori-
tra, há vários objetos de valor considerável para o Poder zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
Legislativo distrital. João, também policial legislativo, indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
aproveitando-se do fato de a porta estar aberta, ingressa matizados ou bancos de dados da Administração
no local e subtrai uma câmera fotográfica. Pública com o fim de obter vantagem indevida para
Neste exemplo, José poderá ser responsabiliza- si ou para outrem ou para causar dano:
do criminalmente pelo crime de peculato culposo, já Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
que concorreu culposamente para o crime de outrem
(peculato-furto de João). O agente foi omisso ao deixar
de trancar a porta, fator que contribuiu para a prática Importante!
da subtração. Inserção de dados falsos em sistemas de infor-
Sobre o peculato culposo, é importante saber que no mação é chamado de peculato eletrônico.
492 § 3º, do art. 312, do CP, dispõe que:
Sujeito ativo é apenas o funcionário público auto- Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário, sis-
rizado a inserir ou excluir dados do sistema. Outros tema de informações ou programa de informáti-
funcionários, que não dispõem desta competência, ca sem autorização ou solicitação de autoridade
respondem pelo crime do art. 313-B, do CP. competente:
A fraude no sistema informatizado ou em bancos Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
e multa.
de dados pelo funcionário competente, para obter
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito
terço até a metade se da modificação ou alteração
em análise, sendo que o estelionato, por ser um crime resulta dano para a Administração Pública ou para
menos grave, é absorvido. o administrado.
A conduta que define este tipo penal é a seguinte:
Este tipo penal irá se configurar quando o agente
z Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, modificar ou alterar sistema de informações ou pro-
a inserção de dados falsos, alterar ou excluir grama de informática sem autorização ou solicitação
indevidamente dados corretos nos sistemas infor- de autoridade competente.
matizados ou bancos de dados da Administração Caso o funcionário público seja autorizado ou pra-
Pública com o fim de obter vantagem indevida tique a conduta por solicitação da autoridade compe-
para si ou para outrem ou para causar dano. tente, o fato será atípico.
Para que este crime se configure, é necessário que A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
as condutas descritas no tipo penal sejam pratica- terço) até metade: caso da modificação ou alteração
das por funcionário público autorizado a operar resulte dano para a Administração Pública ou para o
os sistemas informatizados ou bancos de dados da administrado.
administração pública. Atente-se às diferenças entre os tipos penais do cri-
me de inserção de dados falsos em sistemas de infor-
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal mação e do crime de modificação ou alteração não
descreve vários verbos que podem ser praticados autorizada de sistemas de informação.
para a sua configuração.
Condutas: z Inserção de dados falsos em Sistemas de Informação:

z Inserir dados falsos; „ Verbos: Inserir, facilitar a inserção, alterar,


z Facilitar a inserção de dados falsos; excluir indevidamente;
z Alterar dados corretos; „ Deve ser praticado por funcionário autorizado;
z Excluir indevidamente dados corretos. „ Exige dolo específico de obter vantagem indevi-
da ou de causar dano.
É necessário, para a tipificação do delito, que essas
condutas acima sejam realizadas em sistema informa- z Modificação ou alteração não autorizada de Siste-
tizado (computador) ou bancos de dados (fichários, mas de Informação:
livros ou outro meio físico) da Administração Pública.
„ Verbos: modificar ou alterar;
z Objeto Material: Sistemas informatizados ou ban- „ Se praticado por funcionário autorizado, será
cos de dados da Administração Pública. fato atípico;
„ Não exige dolo específico.
z Finalidade (dolo específico):
Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
„ Obter vantagem indevida para si ou para outrem;
Documento
„ Causar dano.
Está previsto no art. 314 do Código Penal.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico,
que consiste no fim de obter vantagem indevida para
Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu-
si ou para outrem ou causar dano à Administração mento, de que tem a guarda em razão do cargo;
Pública ou a uma terceira pessoa. sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
dano, haverá o crime do art. 313-B, do CP. constitui crime mais grave.
O crime consuma-se com a conduta, independen-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

temente do resultado. Trata-se de crime formal, que Este crime se configurará quando o agente extra-
se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano alme- viar livro oficial ou qualquer documento, de que tem
jado não se verifique. a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo,
Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser total ou parcialmente.
surpreendido antes de ultimar a conduta, por exem- Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer
plo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar
dados corretos. (tornar imprestável).
Sobre este crime, é importante que você saiba:
Modificação ou Alteração não Autorizada de Siste-
mas de Informação z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi-
do quando o fato constitui crime mais grave), res-
O crime de modificação ou alteração não autori- pondendo por ele, o funcionário público, apenas se
zada de sistemas de informação está previsto no art. não se configurar crime mais grave;
313-B, do Código Penal. z Não admite a modalidade culposa; 493
z Admite tentativa; z Não exige a ocorrência de dano pela administra-
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser ção pública para a sua configuração.
parciais ou totais.
Concussão
Sujeito ativo é apenas o funcionário público res-
ponsável pela guarda do livro oficial ou documen- Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou
to. Se a conduta for praticada por outro funcionário indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
público o crime será o previsto no art. 337 do CP. Caso assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
seja praticado por advogado ou procurador, que inu- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra-
mento será no art. 356 do CP. No crime de concussão, o funcionário público,
O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli- valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais
cado se não houver outro crime mais grave. forte do que apenas pedir) o pagamento de vantagem,
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro não devida pela pessoa. O particular, por temer qual-
para destruir livro ou documento responderá apenas quer represália por parte do funcionário público pode
pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave. ou não pagar a vantagem indevida.
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos Vamos exemplificar: funcionário público, agen-
relativos a tributos, o funcionário que tinha a guarda te de trânsito, exige de particular a quantia de R$
e praticou uma das condutas acima, responderá pelo 2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de
crime do inciso I, do art. 3º, da Lei nº 8.137, de 1990, levá-lo indevidamente ao pátio do Detran.
quando o fato acarretar pagamento indevido ou ine- A vantagem indevida, segundo posicionamento
xato de tributo. majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
ser qualquer outra vantagem.
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas É importante mencionar que a concussão se dará
em razão da função do agente público, não se exigindo
Previsto no art. 315, do CP, o crime de emprego que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
irregular de verbas ou rendas públicas configura-se atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
com a prática da seguinte conduta. cometido por funcionário público de férias e, segundo
a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- (antes de assumi-la).
ção diversa da estabelecida em lei: A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. são elementos integrantes do crime de concussão.
Se o funcionário público exigir o pagamento de
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res- vantagem indevida, mediante violência ou grave
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre-
Decreto nº 201, de 1967. visto no art. 158 do Código Penal.
Exige que o emprego irregular se dê em benefí-
cio da própria administração pública, contrariando a Sobre a concussão, é importante que você
legislação, não podendo o agente desviar as verbas ou conheça as seguintes informações, frequentemen-
rendas em benefício próprio, sob pena de responder te cobradas em prova: não pode ser praticada na
por outro crime. modalidade culposa;
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do
Município XYZ aprova a utilização de um milhão de z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
reais para construção de uma passarela. A autoridade prática da exigência, sendo o recebimento da van-
pública competente utiliza a verba mencionada para tagem mero exaurimento do crime; o particular,
a construção de uma escola. de quem se exigiu a vantagem indevida, é sujeito
Pronto, configurou-se o crime de emprego irregu- passivo secundário deste crime. A administração
lar de verbas ou rendas públicas. O agente deu às ver- pública é o sujeito passivo primário.
bas públicas destinação diversa daquela estabelecida
em lei. „ Em regra, não admite a tentativa, salvo quando
Observe que a destinação da verba se deu no inte- for possível fracionar o iter criminis, a exemplo
resse da administração, já que, caso se dê em benefí- da concussão praticada mediante carta endere-
cio próprio, o agente responderá por outro crime. çada à vítima;
É importante mencionar a aplicação da excludente „ É possível se praticar a concussão indiretamen-
de ilicitude do estado de necessidade: caso o emprego te, quando, por exemplo, o funcionário público
se dê devido a uma situação de perigo iminente (uti- exige a vantagem indevida por intermédio de
lizou-se verba pública destinada ao esporte, para se outra pessoa.
construir um abrigo durante perigo de chuvas que
desabrigaram grande parte da população), o fato será É importante diferenciar concussão e corrupção
típico, mas não será antijurídico. passiva:
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas
públicas, é importante mencionar:
Tem no núcleo do tipo
z Este crime será praticado pelo funcionário público o verbo “exigir”, há um
que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren- caráter intimidativo na
das públicas, podendo delas dispor; CONCUSSÃO conduta
z Não exige nenhum fim específico; O ato de exigir é algo
z Não admite a modalidade culposa; impositivo
494 z Admite a tentativa;
Sobre o excesso de exação, é importante mencionar:
Tem os verbos “solicitar
ou receber, ou aceitar”
z Não admite a modalidade culposa, pois a expres-
Solicitar é pedir, o que, são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia
portanto, não pressupõe saber” é dolo eventual;
intimidação z Admite a tentativa quando for possível fracionar o
CORRUPÇÃO PASSIVA iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati-
Receber e aceitar pressu- cado mediante carta endereçada à vítima;
põem uma conduta ativa z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
do particular, ou seja, de outrem, o que recebeu indevidamente para
além de não ocorrer inti- recolher aos cofres públicos, responderá por
midação, há uma conduta excesso de exação na modalidade qualificada.
inicial do terceiro
Quando observamos a forma qualificada do exces-
Excesso de Exação so de exação, é possível compreender que o tipo penal
previsto no § 1º não exige que o funcionário público
O excesso de exação, previsto no § 1º, do art. 316, tenha a intenção de ficar para si ou para outro aquilo
do CP, é uma forma de concussão. que recebeu. Caso o faça, responderá pelo crime na
forma qualificada.
Art. 316 [...] Na concussão propriamente dita, exige-se que o fun-
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição cionário público pratique a conduta visando obter a
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan- vantagem indevida para si ou para outrem, constituin-
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou do-se, assim, elemento de distinção entre os tipos penais.
gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Corrupção Passiva

Exação significa correção, exatidão. Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
São dois os delitos que recebem o nome de excesso
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
de exação: vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
z Exigência indevida de tributo ou contribuição social; Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
z Cobrança devida de tributo ou contribuição social, § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em con-
mas de forma vexatória ou gravosa. sequência da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou
O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferente- o pratica infringindo dever funcional.
mente do crime de concussão, não se atrela à intimi- § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
dação, mas, sim, à simples cobrança indevida.
cedendo a pedido ou influência de outrem:
A cobrança é indevida quando o tributo ou con- Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
tribuição social não existe ou então já foi pago, bem
como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em A doutrina classifica a corrupção passiva em pró-
valor maior que o devido. pria ou imprópria, antecedente ou subsequente.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste Corrupção passiva:
no fato de o agente ter consciência ou dúvida, que se
trata de uma cobrança indevida. z Própria: Quando o funcionário público pratica os
Na segunda modalidade criminosa, cobrança verbos do tipo penal para praticar ato ilícito, por
vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para
é devido. O problema reside no modus operandi da retardar o cumprimento do mandado de citação;
cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante, z Imprópria: Quando o funcionário público pratica
ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas os verbos do tipo penal para praticar ato lícito, por
totalmente desnecessárias. exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a
O crime consuma-se com a simples cobrança vexa- certidão seja expedida dentro do prazo;
tória ou gravosa, independentemente do recebimento. z Antecedente: Quando a vantagem indevida é
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató- entregue ao funcionário público antes de sua ação
ou omissão, por exemplo, juiz recebe vantagem
ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir-
indevida para prolatar sentença absolutória;
cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta
z Subsequente: Quando a vantagem indevida é
antes que a vítima tomasse conhecimento.
entregue ao funcionário público depois de sua
Vejamos: ação ou omissão, por exemplo, após retardar o
José, funcionário público da prefeitura do Municí- processo até levá-lo à prescrição, o juiz solicita
pio de Simplicidade, sabendo que seu vizinho, Márcio, vantagem indevida ao réu.
deve dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca
uma faixa enorme na entrada da rua, com a seguinte Observe que a corrupção passiva pode ser direta
escrita: Márcio, deixe de ser irresponsável e pague os ou indireta:
dez mil reais que você deve de tributo à prefeitura.
No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo z Direta: quando é o próprio funcionário público
uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi- que solicita, recebe ou aceita promessa de vanta-
gurando-se, assim, o excesso de exação. gem indevida; 495
z Indireta: quando uma interposta pessoa, em con- z Dolo direto (determinado): ocorre quando o agen-
luio com o funcionário público, solicita, recebe te prevê determinado resultado, dirigindo sua con-
ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse duta na busca de realizar esse mesmo resultado;
caso, tanto o “testa de ferro” quanto o funcionário z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de resul-
público responderão por corrupção passiva. tados, porém dirige sua conduta na realização de
um deles. Quer um resultado, mas aceita o outro.
Entende a doutrina majoritária que o mero pre-
sente recebido pelo funcionário público, por grati- Observa-se que o crime se consuma com a primei-
ra conduta que facilita o contrabando ou descaminho,
dão ou amizade, por exemplo, uma lembrancinha de
ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída
natal, não configura o crime de corrupção passiva.
da mercadoria do território nacional.
A vantagem indevida, segundo posicionamento
Trata-se de crime formal, pois se consuma com a
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
conduta, independentemente da ocorrência do con-
ser qualquer outra vantagem.
trabando ou descaminho.
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração que:
Admite-se a tentativa quando o agente se empenha
para realizar a conduta de facilitar o contrabando ou
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la.
z Trata-se de crime formal, quando praticada por É possível se extrair da leitura do tipo penal que
meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, que o crime será praticado pelo funcionário público que
se consuma com a conduta, sendo o efetivo recebi- tem o dever funcional de evitar a prática dos crimes
mento da vantagem mero exaurimento do crime; de contrabando e descaminho.
z Quando praticada por meio do verbo receber, é A doutrina dominante entende que, caso o funcio-
crime material, que exige o efetivo recebimento nário público não tenha o dever funcional de evitar
para se consumar (§ 2°, art. 317 do CP); a prática do contrabando ou descaminho, responderá
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for como partícipe do crime de contrabando ou do crime
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da cor- de descaminho.
rupção passiva praticada mediante emprego de carta.
Sobre este crime, é pertinente saber:
O particular que paga a vantagem indevida soli-
citada pelo funcionário público não pratica crime z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o
algum, por falta de tipicidade penal. funcionário indica uma forma de o contrabandista
desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o
A corrupção passiva possui uma forma privilegiada.
funcionário, ciente de que há produto de descami-
Observe que na corrupção passiva privilegiada
nho em um compartimento, não o inspeciona, libe-
o agente pratica a conduta não com a finalidade de
rando as mercadorias);
conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com
z Não admite a modalidade culposa;
a finalidade de ceder a pedido ou influência de outro.
z É crime formal, que se consuma com a facilitação,
A pena da corrupção passiva será aumentada de 1/3
independente ou não de o agente conseguir prati-
(um terço) se, em consequência da vantagem ou promes- car o contrabando ou o descaminho;
sa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer z Admite a tentativa somente na forma comissiva,
ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. quando o funcionário público indica o método
de se desviar da fiscalização, mas outro servidor
Dica impede o desvio;
z A competência é da Justiça Federal.
Não seja surpreendido por pegadinhas em prova:
a corrupção passiva e a concussão diferenciam- Prevaricação
-se nos verbos que configuram o tipo penal incri-
minador. Corrupção passiva: solicitar, receber ou Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevida-
aceitar promessa. Concussão: exigir. mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição
expressa de lei, para satisfazer interesse ou senti-
mento pessoal:
Facilitação de Contrabando ou Descaminho
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou
O crime de facilitação de contrabando ou descami- agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
nho está previsto no art. 318, do CP. preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros
Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcional, presos ou com o ambiente externo:
a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
O crime de prevaricação é dividido em:
z Contrabando é a exportação ou a importação do
território nacional de uma mercadoria proibida; z Própria : prevista no art. 319 do Código Penal;
z Descaminho é a exportação ou importação do territó- z Imprópria : prevista no art. 319-A do Código Penal.
rio nacional de uma mercadoria lícita, mas mediante
sonegação dos direitos ou impostos devidos. O crime em estudo não se confunde com a corrup-
ção passiva privilegiada, em que o agente age ou deixa
O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que significa viabi- de agir cedendo a pedido ou influência de outrem.
lizar, tornar mais simples o contrabando ou descaminho. Na prevaricação não existe este pedido ou
O elemento subjetivo é o dolo que pode ser direto influência. O agente toma a iniciativa de agir ou se
ou eventual. omitir para satisfazer interesse ou sentimento pes-
496 Lembre-se: soal. Assim, se um fiscal flagra um desconhecido
cometendo irregularidade e deixa de autuá-lo em z Quando o funcionário público, que não é compe-
razão de insistentes pedidos deste, há corrupção tente para responsabilizar aquele que cometeu
passiva privilegiada, mas, se o fiscal deixa de autuar infração no exercício do cargo, por indulgência,
porque percebe que a pessoa é um antigo amigo, con- não levar o fato ao conhecimento da autoridade
figura-se a prevaricação. competente.
A prevaricação poderá ser praticada de 3 (três) for-
mas diferentes: A doutrina majoritária entende que o crime de
condescendência criminosa só pode ser praticado por
z Retardar indevidamente a prática de ato de ofício; superior hierárquico.
z Deixar de praticar indevidamente ato de ofício; Você pode entender indulgência como compaixão,
z Praticar ato de ofício contra disposição expressa pena, piedade.
de lei. Há um requisito que deve ser cumprido para a
prática da condescendência criminosa: uma infração
O crime de prevaricação exige um fim específico funcional (que pode ser uma violação administrativa
de agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal. ou penal) praticada por subordinado no exercício das
Você pode entender interesse ou sentimento pes- atribuições do seu cargo.
soal de diversas formas: vingança, compaixão, ódio,
amizade, preguiça, entre outros. Sobre a condescendência criminosa, saiba:

Sobre a prevaricação, leve para a sua prova: z Não admite a forma culposa;
z É crime omissivo;
z Não admite tentativa.
z Não admite a forma culposa;
z Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou
deixar de praticar) ou comissiva (praticar); Como é possível observar, os crimes de corrupção
passiva privilegiada, prevaricação e condescendência
z Admite tentativa apenas quando praticado de for-
criminosa possuem características similares.
ma comissiva.
Vejamos as diferenças:
z Tentativa na prevaricação:
z Corrupção Passiva Privilegiada: O agente dei-
„ Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
xa de praticar ato de ofício cedendo a pedido ou
ato de ofício: não admite tentativa;
influência de outrem;
„ Praticar ato de ofício contra disposição expres-
z Prevaricação: O agente deixa de praticar ato de ofí-
sa de lei: admite tentativa. A prevaricação cio para satisfazer sentimento ou interesse pessoal;
imprópria configurar-se-á quando o diretor z Condescendência Criminosa: O agente deixa de
de penitenciária e/ou agente público deixar de praticar ato de ofício (responsabilizar o subalter-
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso no) por indulgência.
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou Advocacia Administrativa
com o ambiente externo.
O crime de advocacia administrativa, previsto no
A prevaricação imprópria só poderá ser pratica- art. 321 do Código Penal, pode ser praticado na moda-
da pelo diretor de penitenciária ou pelo funcionário lidade simples ou qualificada.
público que tem o dever funcional de impedir que o
preso tenha acesso a aparelho de comunicação com Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse
outros presos ou com o ambiente externo. privado perante a administração pública, valendo-se da
qualidade de funcionário
Sobre a prevaricação imprópria, é importante Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
ressaltar: Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
z Não admite a forma culposa;
z Não admite tentativa. z Modalidade simples: configura-se quando o funcio-
nário público patrocinar, direta ou indiretamente,
Condescendência Criminosa interesse privado perante à administração pública,
valendo-se da qualidade de funcionário.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A condescendência criminosa está prevista no art.


320 do Código Penal. É necessário que a condição de funcionário públi-
co proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que
Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de patrocina interesse de terceiro, pessoa privada, caso não
responsabilizar subordinado que cometeu infração haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, o fato
no exercício do cargo ou, quando lhe falte compe- será atípico.
tência, não levar o fato ao conhecimento da autori- O agente pode praticar este crime de diversas manei-
dade competente: ras, como, por exemplo, fazendo uma petição solicitando
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. um benefício;

Este crime pode ser praticado de duas formas: z Modalidade qualificada: o crime de advocacia admi-
nistrativa será qualificado caso o interesse privado
z Quando o funcionário público, por indulgência, seja ilegítimo;
deixa de responsabilizar o subordinado que come- z Forma simples: interesse privado legítimo;
teu infração no exercício do cargo; z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo. 497
Sobre a advocacia administrativa, leve isso para De acordo com posicionamento doutrinário majoritá-
sua prova: rio, as hipóteses de greve não configuram este tipo penal.
As hipóteses em que o agente abandona o cargo públi-
z Não admite a modalidade culposa; co, admitidas em Lei, não configuram o crime de abando-
z É crime formal, que se consuma com a conduta, no de função.
não se exigindo que se atinja o interesse privado O crime de abandono de função tem circunstâncias
pleiteado; que o qualificam:
z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa quan-
do for possível se fracionar o iter criminis. z Se o fato resulta prejuízo público;
z Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de
Violência Arbitrária fronteira.

Art. 322 Praticar violência, no exercício de função ou a Cabe destacar a faixa de fronteira. Essa qualificadora
pretexto de exercê-la. é uma norma penal em branco, visto que a definição da
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da faixa de fronteira é fornecida pela Lei nº 6.634, de 1979,
pena correspondente à violência. compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta) qui-
lômetros ao longo das fronteiras nacionais.
Na vigência da antiga Lei de abuso de autoridade, O fundamento desta qualificadora é a proteção à
soberania nacional que, nas fronteiras, torna-se mais
encontrávamos alguns posicionamentos jurispruden-
vulnerável.
ciais, tanto do STF quanto do STJ, entendendo que este
Exige-se que o abandono se dê por um prazo relevan-
crime continua em vigência.
te, apesar de o Código Penal não fixar prazo determinado.
Agora, a nova Lei de Abuso de Autoridade admite a
Entende a doutrina que o prazo será fixado pelo estatuto
possibilidade de aplicação subsidiária do art. 322, do CP.
a que estiver submetido o funcionário público.
A prática da violência deve se dar em razão da fun-
Sobre o crime de abandono de função, leve para a
ção pública, não havendo a exigência de que seja pra-
sua prova:
ticado no efetivo desempenho das funções do cargo,
podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, por um
z É crime omissivo;
funcionário público que se encontre de folga.
z Não admite tentativa;
O agente que fizer uso de violência arbitrária respon-
z Só pode ser praticado dolosamente – não admite a
derá por este crime e pelo crime correspondente à violên-
culpa.
cia praticada.
Apesar da divergência existente sobre a revogação ou
Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
não deste tipo penal, leve em consideração que:
Prolongado
z A violência arbitrária não admite a forma culposa,
Este crime está previsto no art. 324, do CP.
devendo ser praticado dolosamente;
z Admite tentativa;
Art. 324 Entrar no exercício de função pública antes de
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o
satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-
administrado contra o qual é praticada a violência
-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que
arbitrária;
foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, não
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
se enquadrando neste tipo penal as hipóteses de uso
necessário e progressivo da força, admitidos em lei.
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao seu
normal funcionamento, pois o exercício ilegal de função
Abandono de Função pública afeta a prestação de serviços públicos.
O crime de abandono de função está tipificado no art. Este crime pode ser praticado de duas formas:
323, do CP.
„ Entrar no exercício de função pública antes de
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos per- satisfeitas as exigências legais;
mitidos em lei: „ Continuar a exercer a função pública, sem auto-
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. rização, depois de saber oficialmente que foi
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: exonerado, removido, substituído ou suspenso.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. É exigido que o funcionário público tenha sido
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa oficialmente comunicado sobre sua exonera-
de fronteira: ção, remoção, substituição ou suspensão.
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Observe que no exercício funcional ilegalmente
A conduta típica é a de abandonar cargo público, fora antecipado ou prolongado somente pode ser praticado
dos casos permitidos em Lei. por funcionário público já nomeado, mas ainda sem
O nome do crime é abandono de função, porém, o tipo ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte), ou
penal fala em abandono de cargo público. É importante então pelo indivíduo que era funcionário público,
que você saiba que o conceito de função pública é mais porém deixou de ser em razão de ter sido oficialmente
amplo que o de cargo público (não há cargo sem função, exonerado, removido, substituído ou suspenso (parte
mas há função sem cargo). final).
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero aban- Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria,
dono de função pública (apesar do nome) ou de emprego de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois
público, mas tão somente no caso de abandono de cargo somente pode ser cometido pela pessoa expressamen-
498 público (não se admite a analogia in malam partem). te indicada no tipo penal.
Se um particular entrar no exercício da função Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concorrên-
pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa- cia pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de
ção de função pública (art. 328 do CP). devassá-lo:
Sobre o tipo penal em comento, é importante saber: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

z Não admite a forma culposa; É um crime relacionado ao procedimento licitatório.


z Admite tentativa. A doutrina dominante entende que o crime de viola-
ção de sigilo de proposta de concorrência foi revogado
Violação de Sigilo Funcional tacitamente pela Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações).

O crime de violação de sigilo funcional se encontra CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
previsto no art. 325 do Código Penal. A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão Os crimes praticados por particular contra a admi-
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou nistração pública estão previstos entre os arts. 328 e 337-
facilitar-lhe a revelação: A do Código Penal.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul- Trata-se de crimes comuns, que não exigem nenhu-
ta, se o fato não constitui crime mais grave. ma condição ou qualidade especial do sujeito ativo,
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: podendo ser praticados por qualquer pessoa.
I – permite ou facilita, mediante atribuição, forne-
cimento e empréstimo de senha ou qualquer outra Usurpação de Função Pública
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
mas de informações ou banco de dados da Adminis- O crime de usurpação de função pública irá se con-
tração Pública; figurar quando o agente usurpar o exercício de função
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. pública.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis-
tração Pública ou a outrem: Art. 328 Usurpar o exercício de função pública:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Este crime pode ser praticado de duas formas: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo Usurpar = apoderar-se.


e que deva permanecer em segredo; Inicialmente, é importante que você não confun-
z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência da o usurpador de função com o funcionário ou agen-
em razão do cargo e que deva permanecer em te público de fato (assunto bastante cobrado, tanto na
segredo.É importante mencionar que o agente disciplina Direito Penal, quanto na disciplina Direito
toma conhecimento do fato que deve permanecer Administrativo).
em segredo em razão do cargo que ocupa, não se
exigindo que tenha sido no efetivo desempenho z Usurpação de função pública: o agente exerce a
das atribuições do cargo. função sem nenhum tipo de investidura, apoderan-
do-se dela. É crime;
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o z Funcionário ou agente de fato: o agente exerce a
agente tomar conhecimento do fato durante período função pública, por ter ocorrido alguma irregulari-
de licença, mas em razão do cargo. dade. Não é crime.
O Código Penal apresenta duas formas equipara-
das do crime de violação de sigilo funcional. Observe: Segundo posicionamento doutrinário majoritário, é
necessário, para fins de consumação, que o agente exe-
z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci- cute algum ato inerente ao exercício da função, não con-
mento e empréstimo de senha ou qualquer outra figurando o crime a mera apresentação a terceiros como
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste- funcionário público.
mas de informações ou banco de dados da Admi-
Vamos exemplificar:
nistração Pública;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.


Exemplo 1: Antônio apresenta-se como policial mili-
tar para seus conhecidos como forma de se autovalo-
Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
rizar. Não há que se falar em configuração do crime
dano à Administração Pública ou a outrem.
Sobre este crime, saiba: de usurpação de função pública, já que o agente não
praticou nenhum ato inerente ao exercício da fun-
z Só será praticado dolosamente – não admite forma ção policial militar, podendo, conforme o caso, confi-
culposa; gurar outra infração penal.
z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep- Exemplo 2: Antônio adquire, fraudulentamente,
cionais, a exemplo de ser praticado na forma escrita. uma farda da polícia militar. Em determinado dia,
ele promove uma falsa barreira e passa a abordar as
Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência pessoas que nela passam. Há a prática do crime de
usurpação de função pública, já que o agente pra-
Este tipo penal está previsto no art. 326 do Código ticou ato inerente ao exercício da função policial
Penal. militar. 499
Você não pode confundir o crime de usurpação de z Deve ser praticado dolosamente;
função pública com o crime exercício funcional ilegal- z A oposição constitui um ato positivo, devendo o
mente antecipado ou prolongado. agente empregar violência ou grave ameaça.Ape-
sar do tipo penal previsto no art. 329 do CP não
z Usurpação de Função Pública: abranger a resistência passiva (sem uso de violên-
cia ou ameaça), a depender da conduta do agente,
„ O agente não possui vínculo algum com a admi- pode configurar o crime de desobediência;
nistração pública (em relação à função usurpada); z A violência ou ameaça deve ser empregada con-
„ É crime praticado por particular contra a admi- tra pessoa, não constituindo o crime se empregada
nistração pública. contra coisa (posição dominante);
z É crime formal, que se consuma com a prática
z Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou da violência ou ameaça;
Prolongado: z Admite tentativa nas hipóteses de fracionamento
do iter criminis.
„ O agente possui algum tipo de vínculo com a
administração pública; Resistência Qualificada
„ É crime praticado por funcionário público con-
tra a administração pública. z Se, em razão da resistência, o ato não se executa.

Há uma forma qualificada do crime de usurpação Portanto, caso o agente apenas resista, sem, contu-
de função pública: do, não ocasionar a frustração do ato a ser praticado,
responderá pelo delito descrito no caput. Entretanto,
z Usurpação de função pública qualificada: Se de se da resistência o funcionário público fica impossibi-
fato, o agente auferir vantagem (qualquer tipo de litado de exercer o ato, responderá pela forma qualifi-
vantagem e não necessariamente financeira).
cada prevista no § 1º.
Sobre o crime de usurpação de função pública,
Concurso Material Obrigatório
é importante que você leve em consideração:
Leve para a sua prova o seguinte: o agente respon-
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite tentativa; derá pela resistência e pela violência empregada.
z Pode ser praticado por funcionário público, segun- Vejamos: Se, para se opor à execução de ato legal
do posicionamento que prevalece, mas a função praticado por funcionário competente, o particular
usurpada deve ser totalmente alheia à função dele usa de violência, causando lesão corporal de nature-
(sendo ele considerado particular); za grave, responderá pelos dois crimes: resistência e
z É crime formal, não se exigindo para a sua confi- lesão grave.
guração prejuízo ou dano à administração pública;
z Ação penal pública incondicionada. Desobediência

Resistência Este crime está previsto no art. 330 do Código


Penal. Configura-se quando o agente desobedecer a
O crime de resistência está previsto no art. 329 do ordem legal de funcionário público.
Código Penal.
Art. 330 Desobedecer a ordem legal de funcionário
Art. 329 Opor-se à execução de ato legal, mediante público:
violência ou ameaça a funcionário competente para Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: multa.
Pena. detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Vitor Eduardo Rios Gonçalves destaca que:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí- z Deve haver uma ordem: significa determinação,
zo das correspondentes à violência. mandamento. O não atendimento de mero pedido
ou solicitação não caracteriza o crime;
Sobre a conduta típica, algumas informações são z A ordem deve ser legal: material e formalmente.
muito importantes: Pode até ser injusta, só não pode ser ilegal;
z Deve ser emanada de funcionário público com-
z Exige-se que o ato praticado pelo funcionário público
petente para proferi-la. Ex.: delegado de polícia
seja legal;
requisita informação bancária e o gerente do ban-
z Se o ato praticado por funcionário público for ile-
gal, não há que se falar em resistência; co não atende. Não há crime, pois o gerente só está
z Exige-se que o funcionário público seja competen- obrigado a fornecer a informação se houver deter-
te para executar o ato; minação judicial;
z Não se exige que a violência ou ameaça seja empre- z É necessário que o destinatário tenha o dever jurídico
gada diretamente contra o funcionário competen- de cumprir a ordem. Além disso, não haverá crime se
te, podendo ser empregada contra o terceiro que a recusa se der por motivo de força maior ou por ser
esteja auxiliando o funcionário. impossível por algum motivo o seu cumprimento.

Sobre a resistência, é importante que você leve em A ordem deve ser legal. Caso se trate de ordem ilegal,
500 consideração: não há que se falar na configuração deste tipo penal.
Sobre a desobediência, é importante que você leve Contudo, a 3ª seção do STJ pacificou o posicio-
em consideração: namento do tribunal no sentido de que o desacato
continua sendo crime, que não viola a liberdade de
z Não admite a culpa; expressão.
z Pode ser praticado tanto na forma omissiva quan-
to na forma comissiva; Tráfico de Influência
z Na forma omissiva, não admite tentativa, na forma
comissiva, admite; O crime de tráfico de influência está previsto no
z Deve haver ordem emanada por funcionário públi-
art. 332 do Código Penal.
co, não caracterizando este crime a mera solicitação.
Art. 332 Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
Observe que o crime de resistência e de desobe- para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
diência se distinguem, na prática, no que tange ao uso a pretexto de influir em ato praticado por funcioná-
de violência ou ameaça. rio público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Desacato Parágrafo único - A pena é aumentada da metade,
se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam-
O crime de desacato, previsto no art. 331 do Código bém destinada ao funcionário.
Penal, tem como conduta típica desacatar funcionário
público no exercício da função ou em razão dela. Trata-se de crime plurinuclear, que pode ser prati-
cado com o exercício de qualquer um dos verbos pre-
Art. 331 Desacatar funcionário público no exercí- vistos no tipo penal:
cio da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. z Solicitar;
z Exigir;
Desacatar = ofender, faltar com respeito. z Cobrar;
Não se exige que o funcionário público esteja no z Obter.
efetivo desempenho das atribuições do seu cargo para
caracterização do crime de desacato, mas sim que a Dica
ofensa se dê em razão da função pública.
Observe que as iniciais dos verbos nucleares for-
mam a palavra SECO.
Exemplo 1: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
que estava no exercício de sua função, de “poli-
O agente não tem influência sobre o funcioná-
cialzinho de merda”, quando este estava prestes a rio público, mas passa a impressão de que a tem,
prender aquele. com a finalidade de obter vantagem ou promessa de
Exemplo 2: Diego Souza xinga Cássio, policial vantagem.
civil, num restaurante em Porto Seguro, durante Caso o agente realmente tenha poder de influência
as férias deles, de “policialzinho de merda”, pelo sobre o funcionário público que praticará o ato, não
fato de Cássio tê-lo prendido no passado. há que se falar em tráfico de influência, podendo, no
Exemplo 3: Diego Souza xinga Cássio, policial civil, entanto, configurar-se corrupação ativa.
de “babaca sem noção”, numa partida de futebol, Sobre o tráfico de influência, é importante que
pelo fato deste ter pegado um pênalti daquele. você tome cuidado com as seguintes informações:

Nos exemplos 1 e 2, configura-se o crime de desacato, z A pessoa que paga a vantagem pratica indiferente
já que a ofensa proferida pelo agente se deu em razão da penal, por falta de previsão legal desta conduta;
função exercida pelo funcionário público. z Em regra, é crime formal, consumando-se com a
No exemplo 3, não há que se falar em desacato. Embo- solicitação, exigência ou cobrança;
ra Cássio seja funcionário público, a ofensa proferida pelo z No caso do verbo obter, o crime é material;
agente em nada tem a ver com a função pública. z Só pode ser praticado dolosamente;
Sobre o desacato, é importante que você se z Exige um especial fim de agir: obter vantagem ou
atente às seguintes considerações: promessa de vantagem para si ou para outrem.

z O desacato pode se dar por qualquer meio: insul- A pena do crime de tráfico de influência será
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tos, vias de fato, gestos, entre outros; aumentada de metade:


z O desacato deve ser praticado contra funcionário
público, não caracterizando este tipo penal a críti- z Se o agente alega ou insinua que a vantagem é
ca ou ofensa à repartição pública; também destinada ao funcionário.
z É crime formal, que se consuma com a prática da con-
duta descrita no tipo penal, independentemente de o Corrupção Ativa
funcionário público se considerar ofendido ou não;
z Só pode ser praticado dolosamente; O crime de corrupção ativa, previsto no art. 333 do
z Deve ser praticado na presença do funcionário Código Penal, é um dos tipos penais mais cobrados em
público – doutrina dominante. relação aos crimes contra a administração pública.

Em dezembro de 2016, a 5ª turma do STJ decidiu Art. 333 Oferecer ou prometer vantagem indevida
pela descriminalização do crime de desacato, por a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
entender que este crime viola a liberdade de expres- omitir ou retardar ato de ofício
são do indivíduo, em julgamento de Habeas Corpus. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 501
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, Descaminho e Contrabando
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcio-
nário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica Os crimes de descaminho e contrabando, previs-
infringindo dever funcional. tos nos arts. 334 e 334-A, respectivamente, do Código
Penal, constituem práticas distintas, que devem ser
Atente-se às informações a seguir, muito impor- observadas.
tantes em relação à corrupção ativa: Descaminho:

z Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal Art. 334 Iludir, no todo ou em parte, o pagamento
prevê mais de um verbo para sua prática: ofere- de direito ou imposto devido pela entrada, pela saí-
cer e prometer, por exemplo, João oferece uma da ou pelo consumo de mercadoria.
quantia em dinheiro ao policial rodoviário federal Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
para não ser multado pela prática de infração de § 1° Incorre na mesma pena quem:
trânsito. Pedro promete entregar uma quantia em I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
dinheiro ao guarda municipal quando retornar ao permitidos em lei;
seu veículo que está estacionado em local proibido; II - pratica fato assimilado, em lei especial, a
z É crime formal, que se consuma com a prática da descaminho;
conduta delituosa, não se exigindo que o funcio- III - vende, expõe à venda, mantém em depósito
nário público aceite a vantagem ou promessa de ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
vantagem; ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
z Não admite a forma culposa; industrial, mercadoria de procedência estrangeira
z Exige-se dolo específico a intenção de determinar que introduziu clandestinamente no País ou impor-
tou fraudulentamente ou que sabe ser produto de
o funcionário público a praticar, omitir ou retar-
introdução clandestina no território nacional ou de
dar ato de ofício;
importação fraudulenta por parte de outrem;
z O verbo pagar não faz parte do tipo penal. Portanto,
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
caso o particular pague vantagem solicitada ou exi-
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
gida por funcionário público, não praticará crime industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
algum;A pena da corrupção ativa será aumentada desacompanhada de documentação legal ou acom-
de 1/3 (um terço): se, em razão da vantagem ou pro- panhada de documentos que sabe serem falsos.
messa, o funcionário público retarda ou omite ato § 2° Equipara-se às atividades comerciais, para os
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irre-
gular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
Você não pode confundir os crimes de corrupção inclusive o exercido em residências.
ativa, corrupção passiva e concussão: § 3° A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho
é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
CORRUPÇÃO ATIVA

z Verbos: oferecer e prometer Contrabando:


z Praticado por particular contra a administração
pública Art. 334-A Importar ou exportar mercadoria proibida:
z É crime quando o agente, com oferta ou promessa Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
de vantagem, quer que o funcionário público retar- § 1° Incorre na mesma pena quem:
de ato de ofício, omita ato de ofício ou pratique ato I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
de ofício II - importa ou exporta clandestinamente mercado-
ria que dependa de registro, análise ou autorização
z Quando a corrupção ativa é para obter voto, o crime
de órgão público competente;
será o tipificado no art. 299 do Código Eleitoral
III - reinsere no território nacional mercadoria bra-
z Se o agente se limitar a pedidos “dar um jeitinho” ou
sileira destinada à exportação;
“quebrar o galho”, não se configura crime de corrup-
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito
ção ativa por falta de elementares
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
CORRUPÇÃO PASSIVA industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
z Verbos: solicitar, receber e aceitar promessa ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
z Quando se tratar de corrupção passiva privilegiada, industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
quando o funcionário público “dá o jeitinho” e não pra- § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os
tica o ato que deveria, o particular figura como partíci- efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irre-
pe por ter praticado o induzimento gular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
inclusive o exercido em residências.
§ 3° A pena aplica-se em dobro se o crime de contraban-
CONCUSSÃO do é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

z Verbo: exigir Vamos simplificar estes crimes:


z Crime praticado por funcionário público contra a
administração pública
z Descaminho: consiste em não pagar direito ou
z O agente exige, para si ou para outrem, vantagem
imposto devido pela entrada, saída ou consumo de
indevida, direta ou indireta, ainda que fora da sua
mercadoria;
função pública, ou antes de assumi-la, mas em
z Contrabando: consiste na importação ou exporta-
razão dela
502 ção de mercadoria proibida.
No descaminho, a mercadoria não tem a comercia- São figuras equiparadas ao crime de contraban-
lização proibida no território brasileiro, já no contra- do, incorrendo nas mesmas penas quem:
bando, sim.
No passado, os dois tipos penais estavam previstos z Pratica fato assimilado, em lei especial, a
no mesmo dispositivo. Contudo, houve alteração e, contrabando;
no momento, cada um destes crimes integra um tipo z Importa ou exporta clandestinamente mercadoria
penal distinto. que dependa de registro, análise ou autorização de
São figuras equiparadas ao crime de descaminho, órgão público competente;
incorrendo nas mesmas penas quem: z Reinsere no território nacional mercadoria brasi-
leira destinada à exportação;
z Pratica navegação de cabotagem, fora dos casos z Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
permitidos em lei; de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
z Pratica fato assimilado, em lei especial, a ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
descaminho; industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
z Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, z Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
ou alheio, no exercício de atividade comercial industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
ou industrial, mercadoria de procedência estran- O Código Penal equipara, para os efeitos do crime
geira que introduziu clandestinamente no País de contrabando, à atividade comercial, qualquer
ou importou fraudulentamente ou que sabe ser forma de comércio irregular ou clandestino de
produto de introdução clandestina no território mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
nacional ou de importação fraudulenta por parte residências.
de outrem;
z Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio O crime de contrabando apresenta, também, uma
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou causa que aumenta a pena pelo dobro para o caso de
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, o crime ser praticado em transporte aéreo, marítimo
desacompanhada de documentação legal ou acom- ou fluvial.
panhada de documentos que sabe serem falsos.
Sobre o crime de contrabando, é importante
O Código Penal estabelece que a atividade comer-
que você leve para a sua prova:
cial é equiparada, para os efeitos do crime de desca-
minho, a qualquer forma de comércio irregular ou
z Trata-se de crime comum, que pode ser praticado
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
por qualquer pessoa;
exercido em residências.
z Não admite a modalidade culposa;
A pena do crime de descaminho será aplicada em
z Admite tentativa;
dobro se o crime é praticado em transporte aéreo,
z Não admite a aplicação do princípio da
marítimo ou fluvial.
Sobre o crime de descaminho, é importante que insignificância.
você leve em consideração:
É importante mencionar que no caso de produ-
z As figuras equiparadas ao crime de descaminho tos específicos, a exemplo de armas de fogo ou subs-
são: a pratica de navegação de cabotagem fora dos tâncias entorpecentes, irá prevalecer a aplicação da
casos permitidos em lei, pratica fato assimilado, legislação especial, aplicando-se, respectivamente, o
em lei especial, a descaminho etc.; estatuto do desarmamento (Lei 10.826, de 2003) e a Lei
z Trata-se de crime comum, que pode ser praticado de Drogas (Lei 11.343, de 2006).
por qualquer pessoa; De acordo com a Súmula 151, do STJ:
z Admite a forma tentada, quando, no caso de expor-
tação, o crime é tentado se a mercadoria não chega A competência para o processo e julgamento por
a sair do país; crime de contrabando ou descaminho define-se pela
z A fraude utilizada pelo agente para iludir o paga- prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão
dos bens.
mento de imposto pode se dar tanto em relação
à quantidade quanto em relação à qualidade do
produto; Impedimento, Perturbação ou Fraude de
z Não admite a modalidade culposa; Concorrência
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Admite a aplicação do princípio da insignificância,


nos casos em que o valor seja inferior àquele con- Art. 335 Impedir, perturbar ou fraudar concorrência
pública ou venda em hasta pública, promovida pela
siderado irrelevante para fins de execução fiscal
administração federal, estadual ou municipal, ou por
entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
Importante! ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente, ta, além da pena correspondente à violência.
poderá ser aplicado o princípio da insignificância Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
ao crime de descaminho que não exceda o valor abstém de concorrer ou licitar, em razão da vanta-
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). gem oferecida.

Afastar ou procurar afastar concorrente ou lici-


Conduta típica: importar ou exportar mercadoria tante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
proibida. oferecimento de vantagem. 503
Trata-se de tipo penal misto alternativo (crime de z Segundo posicionamento doutrinário dominante,
ação múltipla), que poderá ser praticado mediante caso a conduta seja praticada quando não mais pro-
execução de vários verbos: duz efeito o edital (fora do seu prazo de validade,
por exemplo), não irá se configurar este tipo penal;
z Impedir;
z Perturbar; Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento
z Fraudar;
z Afastar; O crime de subtração ou inutilização de livro ou
z Procurar afastar. documento, previsto no art. 337, do CP.

Caso o crime seja praticado mediante violência, o Art. 337 Subtrair, ou inutilizar, total ou parcial-
agente responderá também por ela (detenção, de seis mente, livro oficial, processo ou documento confia-
meses a dois anos, ou multa, além da pena correspon- do à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou
dente à violência). de particular em serviço público:
Forma equiparada: responderá com a mesma pena Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não
do impedimento, perturbação ou fraude de concor- constitui crime mais grave.
rência o agente que se abstém de concorrer ou licitar, III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou
lucros auferidos, remunerações pagas ou credi-
em razão da vantagem oferecida.
tadas e demais fatos geradores de contribuições
Responderá pelo crime em sua forma equiparada
sociais previdenciárias:
o agente que se abster de concorrer ou licitar, devido Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
à vantagem oferecida. Caso seja por algum outro moti- § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espon-
vo, como por violência ou grave ameaça, aquele que taneamente, declara e confessa as contribuições,
se abster não será responsabilizado criminalmente. importâncias ou valores e presta as informações
devidas à previdência social, na forma definida em
Sobre este crime, é importante que você leve lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
em consideração o seguinte: § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
aplicar somente a de multa se o agente for primário
z Não admite forma culposa; e de bons antecedentes, desde que:
z É crime comum; I – (vetado)
z É crime material nas seguintes condutas: impe- II – o valor das contribuições devidas, inclusive
dir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
venda em hasta pública, promovida pela adminis- cido pela previdência social, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
tração federal, estadual ou municipal, ou por enti-
execuções fiscais.
dade paraestatal;
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua
z É crime formal nas seguintes condutas: afastar folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
ou procurar afastar concorrente ou licitante, por 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz
meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofere- poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
cimento de vantagem; aplicar apenas a de multa.
z Admite tentativa. § 4° O valor a que se refere o parágrafo anterior será
reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
Inutilização de Edital ou de Sinal do reajuste dos benefícios da previdência social.

Art. 336 Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar Extinção da punibilidade: caso o agente, de for-
ou conspurcar edital afixado por ordem de fun- ma espontânea, declare ou confesse as contribuições,
cionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal importâncias ou valores e preste as informações devi-
empregado, por determinação legal ou por ordem das à previdência social, na forma definida em lei ou
de funcionário público, para identificar ou cerrar regulamento, antes do início da ação fiscal (não se exi-
qualquer objeto:
ge o pagamento do tributo sonegado).
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
A declaração ou confissão e a prestação das infor-
mações deverão ocorrer antes do início da ação fiscal.
O crime de inutilização de edital ou de sinal, pre- Sobre o crime de sonegação de contribuição pre-
visto no art. 336 do Código Penal, é de ação múltipla, videnciária, é importante atentar-se ao seguinte:
podendo ser praticado da seguinte forma:
z Não admite a modalidade culposa;
z Rasgar ou, de qualquer forma inutilizar ou cons- z De acordo com o art. 34 da Lei nº 9.249, de 1995,
purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não confirmado pela doutrina majoritária, o pagamen-
possa ser utilizado) edital afixado por ordem de to integral do tributo ou contribuição social, após a
funcionário público; ação fiscal, mas antes do recebimento da denúncia,
z Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por também acarretará a extinção da punibilidade.
determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual- Veremos esse artigo a seguir:
quer objeto.
Art. 34 Extingue-se a punibilidade dos crimes defi-
Sobre o crime de inutilização de edital ou de nidos na Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na
sinal, leve em consideração: Lei 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente
promover o pagamento do tributo ou contribuição
z É crime comum; social, inclusive acessórios, antes do recebimento
504 z Admite tentativa; da denúncia.
Será extinta a punibilidade se o agente, espon- O tipo encontra equivalência com o art. 89 da lei
taneamente, declarar e confessar as contribuições, anterior. Assim, é importante destacar que o STF e o
importâncias ou valores e prestar as informações STJ se posicionaram em relação ao dispositivo ante-
devidas à previdência social, na forma definida em lei rior pela necessidade de dolo específico, ou seja,
ou regulamento, antes do início da ação fiscal. vontade consciente de produzir o resultado lesivo ao
O termo final para o pagamento é o início da ação erário, além do dolo genérico (contratação fora das
fiscal. hipóteses legais). Com base nessas informações, é pro-
Se o agente for beneficiado pela concessão do par- vável que o entendimento seja o mesmo em relação ao
celamento dos valores devidos a título de contribui- novo dispositivo.
ção social previdenciária, ou qualquer acessório, o O crime é doloso não havendo previsão de modali-
pagamento integral do débito importará na extinção
dade culposa. É, ainda, plurissubsistente (a conduta é
da punibilidade (art. 83, § 4º, da Lei nº 9.430, de 1996).
fracionada em diversos atos) e, portanto, possibilita a
O Supremo Tribunal Federal entende, com amparo
punição pela tentativa.
no art. 69, da Lei nº 11.941, de 2009, que o pagamento
Em seguida, temos o tipo frustração do caráter
integral do débito fiscal acarreta na extinção da puni-
bilidade do agente, ainda que efetuado após o julga- competitivo de licitação no art. 337-F.
mento da ação penal, desde que antes do trânsito em
julgado da condenação. Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de
obter para si ou para outrem vantagem decorren-
Destaca-se:
te da adjudicação do objeto da licitação, o caráter
competitivo do processo licitatório:
z A competência para julgar o crime de sonegação
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos,
de contribuição previdenciária é da justiça federal;
e multa.
z Admite a forma tentada;
z É crime material;
z Este tipo penal admite a aplicação do princípio da Trata-se de hipótese de crime formal, não sendo
insignificância, excluindo-se, assim, a tipicidade necessária a obtenção de vantagem para que reste
material do crime; caracterizada a prática criminal. Aqui, também, exis-
z Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha te a hipótese de crime doloso. Trata-se de crime de
de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 tipo misto alternativo, pois existe mais de um núcleo.
(um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá A jurisprudência existente em relação ao tipo equiva-
reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar lente da lei anterior afirma que se trata de crime for-
apenas a de multa. mal. Vejamos:

DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS A natureza formal da conduta descrita no art. 90 da


ADMINISTRATIVOS Lei 8.666/93 dispensa a demonstração de prejuízo
ou dano aos cofres públicos. Basta a comprovação
Neste tópico, vamos conhecer as alterações legisla- da fraude para se configurar o crime em questão.
tivas trazidas pela nova Lei de Licitações em âmbito (STJ, AgRg no AREsp 1003485/BA)
criminal (Lei 14.133, de 01 de abril de 2021). Trata-se
do Capítulo II da referida lei, o qual se encontra, pra- Trata-se de crime comum, não sendo exigida qua-
ticamente, no encerramento desse ato normativo. O lificação específica para o sujeito ativo e é doloso, não
Capítulo II-B – Dos Crimes em Licitações e Contratos existindo possibilidade de modalidade culposa.
Administrativos – alterou, inclusive, o Código Penal, Vejamos, agora, o patrocínio de contratação inde-
Título IX – Dos Crimes Contra a Administração Pública. vida.
É interessante frisar que, com a inserção desses
dispositivos no Código Penal, encerra-se a discussão Art. 337-G Patrocinar, direta ou indiretamente,
sobre serem ou não crimes contra a Administração interesse privado perante a Administração Pública,
Pública. Uma consequência imediata é a aplicação do dando causa à instauração de licitação ou à cele-
disposto no § 4°, art. 33. Vejamos: bração de contrato cuja invalidação vier a ser
decretada pelo Poder Judiciário:
Art. 33 [...] Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e
§ 4º O condenado por crime contra a administração multa.
pública terá a progressão de regime do cumprimen-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

to da pena condicionada à reparação do dano que Aqui, temos uma modalidade especial para o cri-
causou, ou à devolução do produto do ilícito prati- me de advocacia administrativa. É bom frisar que há
cado, com os acréscimos legais.
a necessidade de que o sujeito ativo seja agente públi-
co, sendo que o interesse eventualmente patrocinado
O art. 337-E traz a conduta penal chamada contra-
pode ser legítimo ou não. Trata-se, portanto, de crime
tação direta ilegal.
material, pois o tipo exige a instauração de licitação
ou celebração de contrato.
Art. 337-E Admitir, possibilitar ou dar causa à con-
tratação direta fora das hipóteses previstas em lei: Perceba que há, ainda, a necessidade de invalida-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e ção, pelo Judiciário, do contrato administrativo. Caso
multa. seja invalidado pela própria Administração Públi-
ca, não sofrendo, desta forma, intervenção do Poder
Lembre-se de que a contratação direta deverá Judiciário, não haverá justa causa para a ação penal,
ocorrer nos casos em que a Lei permite que não seja conforme decidido pelo STJ. Assim, trata-se de crime
realizado o procedimento licitatório. próprio, doloso e material. 505
Vamos conhecer, agora, o tipo modificação ou Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se
pagamento irregular em contrato administrativo. abstém ou desiste de licitar em razão de vantagem
oferecida.
Art. 337-H Admitir, possibilitar ou dar causa
a qualquer modificação ou vantagem, inclusive Trata-se de delito de atentado ou de mero empreen-
prorrogação contratual, em favor do contratado, dimento, pois as formas tentada e consumada são
durante a execução dos contratos celebrados com a equivalentes. O Parágrafo Único traz a modalidade
Administração Pública, sem autorização em lei, no equiparada, em que um licitante se afasta mediante
edital da licitação ou nos respectivos instrumentos vantagem a ele oferecida. Já no caso do emprego de
contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preteri- violência, há possibilidade de concurso de crimes.
ção da ordem cronológica de sua exigibilidade: Trata-se, portanto, de crime formal e comum e de
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, mero empreendimento, como vimos anteriormente.
e multa. Vejamos, agora, à fraude em licitação ou contrato.

Aqui, temos duas figuras distintas no tipo – modifi- Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administra-
cação irregular de contrato e pagamento irregular de ção Pública, licitação ou contrato dela decorrente,
mediante:
contrato. Vale dizer que, sobre a ordem cronológica
I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços
de pagamento, há regramento específico no art. 141 e
com qualidade ou em quantidade diversas das pre-
seguintes, da Lei nº 14.133, de 2021. Trata-se, portanto, vistas no edital ou nos instrumentos contratuais;
de norma penal em branco. II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de
Perceba, ainda, que há duas figuras dentro do mercadoria falsificada, deteriorada, inservível para
mesmo tipo. A primeira traz um tipo misto alternativo consumo ou com prazo de validade vencido;
(admitir, possibilitar ou dar causa). A prática de mais III - entrega de uma mercadoria por outra;
de uma dessas condutas configurará a prática de úni- IV - alteração da substância, qualidade ou quanti-
co crime. No entanto, caso a prática de uma ou mais dade da mercadoria ou do serviço fornecido;
dessas condutas seja combinada com a prática de con- V - qualquer meio fraudulento que torne injusta-
duta enquadrada na segunda figura do tipo, teremos mente mais onerosa para a Administração Pública
um concurso de crimes. a proposta ou a execução do contrato:
Ademais, o crime é próprio quanto a segunda figu- Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos,
ra (pagamento irregular), mas comum em relação a e multa.
primeira, pois alguns núcleos podem ser praticados
por sujeitos ativos que não são agentes públicos. Trata-se de crime de forma vinculada, pois a Lei,
Vamos, agora, ao tipo perturbação de processo por meio dos incisos dispostos, elencou as condutas
licitatório. nas quais incidirá no tipo o sujeito ativo. Ademais, é
crime comum, doloso e material, pois é exigido o pre-
Art. 337-I Impedir, perturbar ou fraudar a realiza- juízo à Administração Pública para a sua consumação,
ção de qualquer ato de processo licitatório: sendo admissível a tentativa.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, Vejamos, agora, a contratação inidônea.
e multa.
Art. 337-M Admitir à licitação empresa ou profis-
sional declarado inidôneo:
Aqui, temos um crime comum e de tipo misto alter-
Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e multa.
nativo. Trata-se de crime material, sendo exigido o § 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional
impedimento, a perturbação ou a fraude para a sua declarado inidôneo:
consumação. Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e multa.
Em seguida, vejamos o tipo violação de sigilo em § 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo
licitação. aquele que, declarado inidôneo, venha a participar
de licitação e, na mesma pena do § 1º deste artigo,
Art. 337-J Devassar o sigilo de proposta apresenta- aquele que, declarado inidôneo, venha a contratar
da em processo licitatório ou proporcionar a tercei- com a Administração Pública.
ro o ensejo de devassá-lo:
Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e Diferentemente da conduta constante do § 2º, a qual
multa. constitui crime comum, a conduta incriminada no caput
é um crime próprio, podendo ser praticada somente por
Trata-se de crime de tipo alternativo e comum, agente público. Já o § 1º traz forma qualificada do delito
podendo ser praticado por qualquer pessoa. Em rela- previsto no caput, ocorrendo a absorção da conduta de
ção à conduta de devassar, é exigido que seja quebra- admissão no caso da celebração do contrato.
Nas formas simples e qualificada, são normas
do o sigilo para a consumação, sendo o crime, nessa
penais em branco, por dependerem da definição da
hipótese, material.
declaração de inidoneidade. Ainda, trata-se de crime
Já em relação à hipótese de proporcionar que um doloso, não sendo admitida a forma culposa.
terceiro o faça, não será necessário o resultado natu- Vejamos, agora, o crime de impedimento indevido.
ralístico, sendo, portanto, hipótese formal.
Vejamos, agora, o tipo afastamento de licitante. Art. 337-N Obstar, impedir ou dificultar injusta-
mente a inscrição de qualquer interessado nos
Art. 337-K Afastar ou tentar afastar licitante registros cadastrais ou promover indevidamente a
por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofe- alteração, a suspensão ou o cancelamento de regis-
recimento de vantagem de qualquer tipo: tro do inscrito:
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
506 e multa, além da pena correspondente à violência. multa.
Nesse tipo penal, temos duas figuras distintas. Ambas Por fim, temos um regramento específico para a
configuram crime próprio. Dentre os verbos constantes aplicação de multas nos casos dos crimes constantes
do tipo, apenas “dificultar” será crime de mera condu- dos artigos que estudamos até aqui.
ta, sendo que, nos demais, há necessidade de resultado
naturalístico, tratando-se de crimes materiais. Cabe fri- Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes
sar que, em todas as modalidades, será cabível a ten- previstos neste Capítulo seguirá a metodologia de
tativa. O crime poderá ser instantâneo (dificultar ou cálculo prevista neste Código e não poderá ser infe-
promover) ou permanente (obstar ou impedir). rior a 2% (dois por cento) do valor do contrato lici-
Vamos, agora, conhecer o tipo omissão grave de tado ou celebrado com contratação direta.”
dado ou de informação por projetista.
Vale destacar que a metodologia para o cálculo da
Art. 337-O Omitir, modificar ou entregar à Admi- multa será a constante do Código Penal, porém com
nistração Pública levantamento cadastral ou con- piso mínimo de 2% do valor do contrato licitado ou
dição de contorno em relevante dissonância com a celebrado por meio de contratação direta.
realidade, em frustração ao caráter competitivo da
licitação ou em detrimento da seleção da proposta CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
mais vantajosa para a Administração Pública, em A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
contratação para a elaboração de projeto básico,
projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo com- Os Crimes previstos acima dividem-se em dois
petitivo ou em procedimento de manifestação de tipos penais:
interesse:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e z Corrupção ativa em transação comercial internacional;
multa. z Tráfico de influência em transação comercial
§ 1º Consideram-se condição de contorno as infor- internacional.
mações e os levantamentos suficientes e necessá-
rios para a definição da solução de projeto e dos Inicialmente, é importante destacar quem é o fun-
respectivos preços pelo licitante, incluídos son- cionário público estrangeiro e quem se equipara a
dagens, topografia, estudos de demanda, condi- funcionário público estrangeiro.
ções ambientais e demais elementos ambientais
impactantes, considerados requisitos mínimos ou z Funcionário Público Estrangeiro:
obrigatórios em normas técnicas que orientam a
elaboração de projetos. „ Quem, ainda que transitoriamente ou sem
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefí- remuneração, exerce cargo, emprego ou fun-
cio, direto ou indireto, próprio ou de outrem, aplica- ção pública em entidades estatais ou em repre-
-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. sentações diplomáticas de país estrangeiro.

z Equipara-se a Funcionário Público Estrangeiro:


Aqui, temos um crime que não encontra corres-
pondência na lei anterior. Perceba que, ainda que o „ Quem exerce cargo, emprego ou função em
nome do tipo traga o termo “omissão”, apenas um dos empresas controladas, diretamente ou indire-
três núcleos presentes no caput será crime omissivo tamente, pelo Poder Público de país estrangeiro
puro (omitir). ou em organizações públicas internacionais.
O tipo traz as condições. Vejamos:
Corrupção Ativa em Transação Comercial
z Contorno em relevante dissonância com a realida- Internacional
de;
O crime de corrupção ativa em transação comer-
z Em frustração ao caráter competitivo da licitação; cial internacional, previsto no art. 337-B do Código
z Em detrimento da seleção da proposta mais vanta- Penal, é bastante parecido com o tipo penal de cor-
josa para a Administração Pública. rupção ativa, crime praticado por particular contra a
administração em geral, que já analisamos.
Ainda, traz os contextos em que deverá ocorrer a
conduta, para que se caracterize o crime: Art. 337-B Prometer, oferecer ou dar, direta ou
indiretamente, vantagem indevida a funcioná-
z Contratação para a elaboração de projeto básico, rio público estrangeiro, ou a terceira pessoa,
projeto executivo ou anteprojeto; para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar
ato de ofício relacionado à transação comercial
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z Diálogo competitivo;
internacional:
z Procedimento de manifestação de interesse.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um
As formas de contração colocadas acima são pre- terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o
vistas na Lei nº 14.133, de 2021, por isso se trata de funcionário público estrangeiro retarda ou omi-
norma penal em branco. O § 2º traz a hipótese de te o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
majoração da pena. Como não há restrição, deve-se funcional.
interpretar que qualquer benefício será suficiente
para o enquadramento na hipótese. z Corrupção Ativa em Transação Comercial
Trata-se, portanto, de crime comum, pois, embora Internacional:
a Lei use o termo projetista, o verbo trazido constante
do caput (entregar) poderá ser praticado por qualquer „ Verbos: prometer, oferecer e dar;
pessoa. Ainda, é hipótese de delito formal, sendo pos- „ Fim específico: determinar o funcionário público
sível a tentativa, exceto na modalidade “omitir”, por estrangeiro a praticar, omitir ou retardar ato de ofí-
se tratar de crime omissivo próprio. cio relacionado à transação comercial internacional. 507
z Corrupção Ativa: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade,
„ Verbos: oferecer e prometer; se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam-
„ Fim específico: determinar o funcionário públi- bém destinada a funcionário estrangeiro.
co a praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
O crime de tráfico de influência em transação comer-
O crime de corrupção ativa em transação comer- cial internacional, previsto no art. 337-C do Código Penal,
cial internacional terá sua pena aumentada de 1/3
é muito parecido com o crime de tráfico de influência,
(um terço) se:
crime praticado por particular contra a administração
z Em razão da vantagem ou promessa, o funcionário em geral, previsto no art. 332 do Código Penal.
público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofí-
cio, ou o pratica infringindo dever funcional. z Tráfico de Influência em Transação Comercial
Internacional:
Sobre este crime, é importante mencionar que:
„ Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter;
z Só poderá ser praticado dolosamente; „ Pretexto: influir em ato praticado por funcio-
z É crime comum; nário público estrangeiro no exercício de suas
z Nos verbos oferecer e prometer, trata-se de crime
funções, relacionado a transação comercial
formal, de consumação antecipada;
internacional.
z No verbo dar, trata-se de crime material, que se
consuma com a obtenção do resultado;
z Admite tentativa, quando for possível fracionar z Tráfico de Influência:
o iter criminis, as fases do crime, da cogitação ao
exaurimento. „ Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter;
„ Pretexto: influir em ato praticado por funcioná-
rio público no exercício da função.
É a fase mental de preparação
Cogitação
do crime: idealização, O crime de tráfico de influência em transação comer-
ou
deliberação e resolução. cial internacional terá sua pena aumentada da metade se:
Fase
Não há conduta penalmente
Interna
relevante z Se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam-
bém destinada ao funcionário público estrangeiro.

O crime começa a projetar-se Em relação a este tipo penal, é importante saber


no mundo exterior. o seguinte:
Atos
O agente adquire arma de fogo.
Preparatórios
Em regra não são puníveis, z Só poderá ser praticado dolosamente;
salvo nos crimes-obstáculo z É crime comum;
z Nos verbos solicitar, exigir e cobrar, trata-se de crime
formal, de consumação antecipada;
O agente começa a realizar o z No verbo obter, trata-se de crime material, que se con-
núcleo do tipo penal, de forma suma com a obtenção do resultado;
Atos de z Admite tentativa, quando for possível fracionar o iter
Execução idônea e inequívoca.
Essa fase pode haver punição criminis.
pela tentativa
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Os crimes contra a administração da justiça têm como


Crime consumado é quando nele finalidade proteger uma regular fruição da atividade judi-
se reúnem todos os elementos de cial brasileira, incluindo atividades de natureza policial.
Consumação
sua definição legal. A atividade judicial é de fundamental importância
Fim do iter criminis para a sociedade, necessitando, assim, de proteção por
parte do Direito Penal.

Não influi na tipicidade, mas Reingresso de Estrangeiro Expulso


pode influenciar na dosimetria
Exaurimento da pena, ser reconhecido como Art. 338 Reingressar no território nacional o estran-
qualificadora ou configurar geiro que dele foi expulso:
crime autônomo. Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de
nova expulsão após o cumprimento da pena.
Tráfico de Influência em Transação Comercial
Internacional Este crime previsto no art. 338, do Código Penal, irá se
configurar quando o estrangeiro que foi expulso do Brasil
Art. 337-C Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si reingressar ao território nacional.
ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem O Ministério da Justiça e Segurança Pública esclarece
ou promessa de vantagem a pretexto de influir em que a expulsão consiste em medida coercitiva de cará-
ato praticado por funcionário público estrangeiro ter discricionário de um Estado, levada a efeito em face
no exercício de suas funções, relacionado a transa- do “estrangeiro que, de qualquer forma, atentar con-
508 ção comercial internacional: tra a segurança nacional, a ordem política ou social, a
tranquilidade ou moralidade pública e a economia popu- Muita atenção nas alterações recentes do art.
lar, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência 339 do CP. Anteriormente as bancas já realizavam a
e aos interesses nacionais” (art. 65 da Lei nº 6.815/1980 cobrança do dispositivo quanto aos requisitos para
- Estatuto do Estrangeiro). configuração. Atente-se ao fato de que somente se
configurará o crime em comento caso o agente impute
CRIME, INFRAÇÃO ÉTICO-DISCIPLINAR, ATO ÍMPRO-
Importante! BO que acarrete em instauração de inquérito policial,
investigatório criminal, processo judicial, processo
O agente será responsabilizado penalmente, poden-
administrativo disciplinar, inquérito civil ou de ação
do, ainda, sofrer nova expulsão do território brasileiro.
de improbidade administrativa.
Importante salientar que o art. 338 do CP também
Sobre o crime de reingresso de estrangeiro se aplica no caso de imputação de CONTRAVENÇÃO
expulso, é importante atentar-se ao seguinte: que acarrete nas hipótese mencionadas anteriormen-
te. Contudo, neste caso, o § 2º, do art. 338, do CP, prevê
hipótese de diminuição da metade da pena.
z É crime de mão própria, praticado pelo estrangei-
ro expulso, não podendo a figura típica ser pratica-
da por intermédio de terceira pessoa; Sobre o crime de denunciação caluniosa, é
z O fato de o crime ser de mão própria não exclui a importante atentar-se ao seguinte:
possibilidade de concurso de pessoas na modalida-
de participação; z Só pode ser praticado dolosamente: Parte da dou-
z É necessário, para configuração do crime, que o trina não admite o dolo eventual neste crime, já
estrangeiro tenha ciência de que foi expulso do que o tipo penal exige que o agente saiba que o
território brasileiro; fato é imputado contra pessoa inocente.
z Admite tentativa;
z É crime material, que se consuma com o devido A denunciação caluniosa poderá se configurar
reingresso ao território nacional; quando o agente imputa crime que realmente acon-
z Trata-se de crime de competência da Justiça teceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando
Federal; imputa a alguém a prática de crime que não existiu
z Não se tipifica o crime quanto ao estrangeiro, após (neste caso não há dúvidas sobre a inocência da pes-
decretada sua expulsão, permanece indevidamen- soa, já que o fato sequer aconteceu);
te no país.
z É necessário que o fato imputado seja crime,
Denunciação Caluniosa infração ético-disciplinar, ato ímprobo ou contra-
venção penal (no caso de contravenção penal, a
A denunciação caluniosa está prevista no art. 339 pena será reduzida de metade), não se configuran-
do Código Penal. do este tipo penal caso o agente impute infração
administrativa ou civil;
Art. 339 Dar causa à instauração de inquérito policial, z É crime comum;
de procedimento investigatório criminal, de proces- z Admite a forma tentada, por exemplo, o agente
so judicial, de processo administrativo disciplinar, de narra ao delegado de polícia que o autor de deter-
inquérito civil ou de ação de improbidade administra- minado crime foi a pessoa A, mas o delegado não
tiva contra alguém, imputando-lhe crime, infração éti- inicia qualquer investigação porque o verdadeiro
co-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: autor do crime é B, que se apresenta e confessa ter
(Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020) cometido o delito antes mesmo de a autoridade ter
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. iniciado qualquer investigação;
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se z A pessoa contra quem se imputa o crime deve
serve de anonimato ou de nome suposto. ser determinada, sendo ela, assim como o Estado,
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de sujeito passivo da prática delituosa;
prática de contravenção. z Em regra, a denunciação caluniosa absorve o cri-
me de calúnia.
Com a nova redação dada ao dispositivo no final
do ano de 2020, o legislador alterou alguns requisitos A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte), caso
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

para que a denunciação caluniosa seja configurada. o agente se sirva de anonimato ou de nome suposto.
Diferente da redação anterior, agora, a conduta No caso de denunciação caluniosa privilegiada, a
abarcada pelo dispositivo é mais ampla quanto às pena será diminuída de metade, caso a imputação seja
formas de praticar. Podemos observar que o disposi- de prática de contravenção penal.
tivo se refere à imputação não somente de crime, mas Observe as principais diferenças entre a denuncia-
também de infração ético-disciplinar e ato ímprobo. ção caluniosa e o crime de calúnia.
Por outro lado o legislador colocou um segundo
requisito que restringe a configuração do tipo penal. z Denunciação Caluniosa:
Com a nova redação a denunciação caluniosa somen-
te será praticada se da conduta do agente resultar na „ É crime contra a administração da justiça;
instauração de inquérito policial, de PIC (procedimen- „ A ação penal é pública incondicionada, se dis-
to investigatório criminal, de competência do MP), de cute na doutrina e jurisprudência se o processo
processo judicial, de PAD (processo administrativo por denunciação caluniosa pode ser iniciado
disciplinar), de inquérito civil ou de ação de improbi- antes do desfecho do procedimento ou ação
dade administrativa. originários; 509
„ Punida pelo fato de o agente movimentar falsa- Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
mente o aparato estatal, tentando prejudicar a multa.
vítima perante o Estado;
„ É admitida a imputação falsa de crime, infração É possível a configuração deste tipo penal quando
ético-disciplinar, ato ímprobo ou con­travenção o agente se acusar de:
penal.
z Crime não existente (a conduta criminosa sequer
z Calúnia: foi praticada, sequer existiu);
z Crime existente, mas praticado por outra pessoa
„ É crime contra a honra; (a conduta criminosa foi realmente realizada, mas
„ A ação penal é privada; foi outro indivíduo que a praticou).
„ Punida pelo fato de o agente ofender a honra
objetiva da vítima;
Sobre a autoacusação falsa, é importante levar
„ É admitida a imputação falsa apenas de crime.
em consideração:
Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção
z Só pode ser praticado dolosamente;
Art. 340 Provocar a ação de autoridade, comuni- z Admite a modalidade tentada na forma escrita,
cando-lhe a ocorrência de crime ou de contraven- quando a confissão falsa remetida se extravia;
ção que sabe não se ter verificado: z Não se exige que seja praticado apenas perante
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. autoridade policial, mas na presença de qualquer
autoridade competente (delegado de polícia, mem-
Ao contrário do que ocorre no crime de denun- bro do Ministério Público, autoridade judicial etc.);
ciação caluniosa, no crime de falsa comunicação de z Não se exige a prática de qualquer ato por parte da
crime ou contravenção, o agente não individualiza autoridade para a consumação do crime, bastando
o autor, imputando a alguém o fato que não existiu, a autoacusação falsa.
mas apenas comunica à autoridade crime ou contra-
venção penal que sabe não ter ocorrido. Falso Testemunho ou Falsa Perícia
Sobre este crime, é importante mencionar que:

z Não admite a forma culposa. Assim, se o agente O crime de falso testemunho ou falsa perícia está
comunica à autoridade, sem intenção, crime ou previsto no art. 342 do Código Penal.
contravenção penal, provocando a ação desta, este
Art. 342 Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar
tipo penal não estará configurado;
a verdade como testemunha, perito, contador, tra-
z É crime comum;
dutor ou intérprete em processo judicial, ou admi-
z Admite tentativa;
nistrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
„ Se o fato imputado for infração administrativa
multa.
ou civil, não irá se configurar o crime;
§ 1° As penas aumentam-se de um sexto a um ter-
„ Para a maioria da doutrina, não se configura o
ço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
crime quando o agente se limita a comunicar cometido com o fim de obter prova destinada a pro-
ilícito penal diverso do que realmente ocorreu, duzir efeito em processo penal, ou em processo civil
desde que o fato comunicado e o que realmente em que for parte entidade da administração pública
ocorreu sejam crimes da mesma natureza; direta ou indireta.
„ Se o agente faz a comunicação falsa para § 2° O fato deixa de ser punível se, antes da senten-
tentar ocultar outro crime por ele praticado ça no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
responde também pela comunicação falsa retrata ou declara a verdade.
de crime. Comunicação Falsa de Crime ou Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou
Contravenção: qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirma-
z O agente não aponta pessoa certa e determinada ção falsa, negar ou calar a verdade em depoimento,
como autora da infração penal, mas apenas comu- perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
nica fato inexistente. Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sex-
Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Face- to a um terço, se o crime é cometido com o fim de
book relacionada a um aborto. De imediato, ligou em obter prova destinada a produzir efeito em proces-
uma delegacia de polícia e comunicou o crime ao dele- so penal ou em processo civil em que for parte enti-
gado de polícia, que iniciou as investigações sobre o dade da administração pública direta ou indireta.
fato. Entretanto, não sabia José Carlos que o aborto
não existiu, já que a publicação se tratava de uma Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser
brincadeira por parte daquele que a realizou. praticado mediante execução de quaisquer um dos
Não há que se falar em figura típica da comunica- verbos previstos no tipo penal.
ção falsa de crime, já que o agente não teve dolo de O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão
comunicar falsamente o fato que não existiu. a pena do agente. As penas aumentam-se de 1/6 (um
sexto) a 1/3 (um terço), se o crime é:
Autoacusação Falsa
z Praticado mediante suborno;
Art. 341 Acusar-se, perante a autoridade, de crime z Cometido com o fim de obter prova destinada a
510 inexistente ou praticado por outrem: produzir efeito em processo penal;
z Cometido com o fim de obter prova destinada a Sobre o crime de corrupção ativa de testemu-
produzir efeito em processo civil em que for par- nha contador, perito, intérprete ou tradutor, é
te entidade da administração pública direta ou importante saber o seguinte:
indireta.
z Não pode ser praticado culposamente;
Sobre o crime de falso testemunha ou falsa z Nos verbos oferecer ou prometer, é crime formal;
perícia, é importante levar para a sua prova: z No verbo dar, é crime material;
z Admite tentativa, quando for possível fracionar o
z Não admite a forma culposa; iter criminis;
z É crime de mão própria, que só poderá ser prati- z O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
cado por uma das pessoas previstas no tipo penal; no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade.
Segundo posicionamento doutrinário dominante:
Coação no Curso do Processo
z O falso testemunho não admite coautoria, mas é
Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça, com
possível a participação;
o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, con-
z A falsa perícia admite coautoria e participação.
tra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa
z O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos que funciona ou é chamada a intervir em proces-
verbos previstos no tipo penal não pratica o crime so judicial, policial ou administrativo, ou em juízo
de falso testemunho, já que ele não é testemunha; arbitral:
z Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além
ter extinta a punibilidade do crime, desde que: da pena correspondente à violência.

„ Seja realizada no processo em que ocorreu o ilí- O crime de coação no curso do processo é aquele
cito (no processo em que se deu o falso e não no em que, para beneficiar a si ou a terceiro, o agente
processo referente ao falso); emprega de violência ou grave ameaça contra pessoas
„ Se realizada antes da sentença (ainda prevale- que participam do processo ou juízo arbitral.
ce o entendimento de que se trata da sentença
recorrível). Observe as duas hipóteses:

Não irá responder pelo crime de falso testemu- 1. Suponha que André tenha praticado um crime de
nho a pessoa que praticar as condutas descritas no roubo a um supermercado, estando ele sendo pro-
tipo penal incriminador com a finalidade de não se cessado por isso. Thaís, funcionária do supermer-
autoincriminar. cado, é testemunha, tendo sido marcado um dia
Lembre-se que ninguém será prejudicado por não para que ela comparecesse em juízo para dar seu
produzir provas contra si mesmo. depoimento. André, com a finalidade de favorecer
Quando a testemunha mente por estar sendo seus próprios interesses, vai à casa de Thaís e, uti-
ameaçada de morte ou algum outro mal grave, não lizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
responde pelo crime de falso testemunho. exige que ela diga que não foi ele quem praticou o
O art. 343 do Código Penal apresenta um outro tipo fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de
penal, chamado por parte da doutrina de corrupção coação no curso do processo, já que empregou de
grave ameaça contra a pessoa chamada a intervir
ativa de testemunha contador, perito, intérprete ou
em processo judicial.
tradutor.
2. Aproveitando a mesma hipótese acima, porém,
A figura típica é a de dar, oferecer ou prometer
agora André, sabendo sobre o que Thaís disse na
dinheiro ou qualquer outra vantagem à testemunha,
inquirição, vai à casa de Thaís e, utilizando-se de
perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer
uma arma de fogo para ameaçá-la, dizendo que irá
afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoi-
matá-la por não dizer que foi outra pessoa que pra-
mento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação.
ticou o crime, mas que o incriminou. André, nesta
hipótese, praticou o crime de ameaça, uma vez que
z Verbos: dar, oferecer ou prometer; empregou de grave ameaça contra a pessoa após o
z Destinatário: testemunha, perito, contador, tra- depoimento, exaurindo-se a participação daquela
dutor ou intérprete;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

na ação.
z Finalidade: fazer com que as pessoas façam
afirmação falsa, neguem ou calem a verdade Caso o agente utilize de violência para praticar o
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou crime de coação no curso do processo, responderá por
interpretação. este, além da pena correspondente à violência.

As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a Sobre a coação no curso do processo, atente-se
um terço), se o crime é: às seguintes informações:

z Cometido com o fim de obter prova destinada a z Pode ser praticado contra as autoridades respon-
produzir efeito em processo penal; sáveis pela condução do processo, como: juízes,
z Cometido com o fim de obter prova destinada a promotores, delegados de polícia, entre outros;
produzir efeito em processo civil em que for par- z Só pode ser praticado dolosamente;
te entidade da administração pública direta ou z Exige-se o dolo específico por parte do agente de
indireta. favorecer interesse próprio ou alheio; 511
z É crime formal, que se consuma com o uso de vio- Para consumação deste crime, existem duas correntes:
lência ou grave ameaça, independentemente de o
coagido ceder; z O crime é formal e se consuma quando o agente
z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser emprega o meio executório;
praticou por escrito e há extravio. z O crime é material e só se consuma com a satisfa-
ção da pretensão visada.
Exercício Arbitrário das Próprias Razões
Fraude Processual
Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quan- Art. 347 Inovar artificiosamente, na pendência de
do a lei o permite: processo civil ou administrativo, o estado de lugar,
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o
além da pena correspondente à violência. juiz ou o perito:
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
somente se procede mediante queixa. Parágrafo único - Se a inovação se destina a produ-
Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coi- zir efeito em processo penal, ainda que não inicia-
sa própria, que se acha em poder de terceiro por do, as penas aplicam-se em dobro.
determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Aplica-se a pena em dobro, se a inovação se desti-
na a produzir efeito em processo penal, ainda que não
Observe a parte final da figura típica: salvo quan- indiciado o agente.
do a lei o permite. Carlos praticou o crime de homicídio, ao matar
Vejamos mais um exemplo: Kelmon é proprietário Cláudio, que lhe devia uma quantia em dinheiro. Com
a finalidade de simular uma hipótese de legítima defe-
de uma casa, que se encontra alugada para Diogo. O
sa, para induzir o perito a erro, Carlos coloca, fraudu-
inquilino está devendo 6 (seis) meses de aluguel. Kel-
lentamente, nas mãos da vítima, uma arma de fogo,
mon, indignado com a situação, vai até o local, troca
modificando o estado de pessoa.
todas as fechaduras e coloca os objetos pessoais de
Carlos praticou o crime de fraude processual, res-
Diogo do lado de fora.
pondendo pelo crime com a pena dobrada, já que ino-
Kelmon praticou o crime de exercício arbitrário
vou artificiosamente, na pendência de processo penal.
das próprias razões, já que fez justiça com as próprias Sobre o crime de fraude processual, fique aten-
mãos, para satisfazer pretensão legítima (ele tinha o to ao seguinte:
direito de receber os valores correspondentes ao alu-
guel de seu imóvel). z É crime comum;
A pretensão do agente deveria ter sido soluciona- z Não admite a modalidade culposa;
da pelos meios legais pertinentes. z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou
perito;
Sobre o exercício arbitrário das próprias z É crime formal, que se consuma com a prática da
razões, atente-se ao seguinte: conduta prevista no tipo penal, ainda que não seja
efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z Admite a modalidade tentada.
quer pessoa;
z Só poderá ser praticado dolosamente; Favorecimento Pessoal
z Admite tentativa;
z Caso o agente pratique o crime com emprego de Art. 348 Auxiliar a subtrair-se à ação de autorida-
violência, responderá também por ela. de pública autor de crime a que é cominada pena
de reclusão:
No art. 346 do Código Penal, há uma outra figura Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
típica, bastante parecida com o crime de exercício § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
arbitrário das próprias razões.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descen-
Observe: Tirar, suprimir, destruir ou danificar
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento
coisa própria, que se acha em poder de terceiro por de pena.
determinação judicial ou convenção.
Este tipo penal pode gerar algumas dúvidas em
Sobre este tipo penal, é importante salientar: você. Para esclarecê-las, vamos analisar alguns
exemplos:
z Só pode ser praticado dolosamente;
z É crime de ação múltipla, que irá se configurar com Exemplo 1: Júnior pratica o crime de roubo. O
a prática de quaisquer um dos verbos previstos no delegado de polícia da região está a sua procura.
tipo penal: tirar, suprimir, destruiu ou danificar; O autor do crime pede para se esconder do dele-
z Exige-se que a coisa seja própria do agente que gado na casa de Danilo, seu amigo. Danilo, em sua
praticou a conduta delituosa; casa, esconde Júnior. Júnior responderá pelo cri-
z O objeto deve estar em poder de terceiro por deter- me de roubo; Danilo, pelo crime de favorecimento
minação judicial ou convenção. Se for por outro pessoal, já que auxiliou a se subtrair da ação de
motivo, não se configurará este crime; autoridade pública autor de crime a que se comina
512 z Admite tentativa. pena de reclusão.
Exemplo 2: Francisco, Jefferson e César combi- Sobre o favorecimento real, é importante mencionar
nam um crime de roubo. Francisco e Jefferson vão que:
praticar o verbo descrito no tipo penal, César irá
dar fuga aos agentes. O crime é praticado, os poli- z Não admite a culpa;
ciais acabam tomando conhecimento da prática z Admite tentativa;
delituosa e vão atrás dos criminosos, contudo, eles z O auxílio não pode ter sido combinado previamen-
conseguem se evadir. Todos os agentes responde- te pelos agentes, caso os agente combinem antes,
rão apenas pelo crime de roubo. Não se aplicando o crime não será de favorecimento real, mas sim
a César, responsável pela fuga, o crime de favoreci- haverá participação;
mento pessoal, porque, para que se configure este z É crime comum;
crime, não pode o agente ter participado do crime z Há uma conduta típica, prevista no art. 349-A do
anterior e nem pode haver liame subjetivo prévio Código Penal, inserida no ano de 2009, chama-
entre os agentes, ou seja, ligação ou vínculo psico- do por parte da doutrina de favorecimento real
lógico e subjetivo entre os agentes do delito. impróprio.

Este crime apresenta uma forma privilegiada, ao Observe: ingressar, promover, intermediar, auxi-
qual se comina uma pena mais branda: se ao crime liar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
praticado não é cominada pena de reclusão (detenção, comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autori-
por exemplo). zação legal, em estabelecimento prisional.
Ficará isento de pena (escusa penal absolutória), Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser
caso a conduta que configura o favorecimento pessoal praticado mediante execução de quaisquer um dos
seja praticado pelo: verbos descritos no tipo penal incriminador.

z Ascendente; Sobre este crime, é importante levar para a sua


prova:
z Descendente;
z Cônjuge;
z Não admite a culpa;
z Irmão.
z Caso haja autorização legal para ingresso do apa-
relho, o fato será atípico;
Sobre o favorecimento pessoal, leve para a sua
z É crime comum;
prova o seguinte:
z A pessoa que se encontra presa poderá responder
por este tipo penal, contudo, caso apenas utilize o
z Não pode ser praticado culposamente;
aparelho que ingressou no estabelecimento prisio-
z É crime comum;
nal, não será punido por este crime, cometendo
z O crime se consuma com o êxito na subtração do
apenas falta grave, de acordo com a Lei de Execu-
criminoso;
ções Penais.
z Caso não ocorra êxito na subtração, haverá a
modalidade tentada;
Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder
z É crime acessório, que exige a ocorrência de delito
anterior;
Este crime, previsto no art. 350 do Código Penal,
z Não pratica o crime o agente que auxiliar a sub-
encontrava-se revogado tacitamente pela Lei de Abu-
trair-se à ação de autoridade pública autor de con-
so de Autoridade, Lei 4.898, de 1965.
travenção penal.
Com a Lei nº 13.964, de 2019, o crime foi expressa-
mente revogado.
Favorecimento Real
Fuga de Pessoa Presa ou Submetida à Medida de
Art. 349 Prestar a criminoso, fora dos casos de
Segurança
co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a
tornar seguro o proveito do crime:
Art. 351 Promover ou facilitar a fuga de pessoa
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
legalmente presa ou submetida a medida de segu-
Art. 349-A Ingressar, promover, intermediar, auxi-
rança detentiva:
liar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem auto-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por


rização legal, em estabelecimento prisional.
mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
pena é de reclusão, de dois a seis anos.
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, apli-
Requisitos do favorecimento real: ca-se também a pena correspondente à violência.
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se
z Prestar auxílio a criminoso; o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou
z O auxílio é destinado a tornar seguro o proveito do guarda está o preso ou o internado.
crime (que já ocorreu); § 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da
z Aquele que presta auxílio não pode ser coautor ou custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção,
receptador do crime praticado anteriormente. de três meses a um ano, ou multa.

Ao favorecimento real, não se aplica a escusa penal Como se pode observar pela leitura da figura típi-
absolutória mesmo que a conduta seja praticada pelo ca, este tipo penal poderá ser praticado de 2 (duas)
ascendente, descendente, cônjuge ou irmão. formas: 513
z Com a promoção da fuga; Exemplo 2: Michele, presa em uma penitenciária
z Com a facilitação da fuga. feminina, aproveitando de um momento de des-
cuido dos agentes prisionais, quebra uma janela
Este crime apresenta, também, formas qualifica- com um soco e foge do estabelecimento prisional.
das e uma forma culposa. Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária
Na forma culposa, é crime próprio, que será prati- feminina, ao verificar que os agentes prisionais
cado pelo funcionário incumbido da guarda ou custó- estão distraídos, foge, pulando o muro do estabe-
dia da pessoa presa. lecimento prisional.
Sobre o crime de fuga de pessoa presa ou sub-
Apenas no exemplo 1, haverá a configuração do
metida à medida de segurança, é importante levar
crime de evasão mediante violência contra pessoa, já
em consideração:
que no exemplo 2 a violência foi empregada contra
z Pode ser praticado tanto intramuros (no interior coisa e no exemplo 3 não houve emprego de violência.
de estabelecimento de natureza prisional) quando
extramuros (durante procedimento de escolta ou Dica
condução);
z Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser Se da violência resultarem lesões, ainda que
praticado por qualquer pessoa; leves, ou morte, o agente responderá pelos dois
z Admite a forma culposa; crimes, e as penas serão somadas.
z É necessário, para configuração do crime, que a
prisão a que está submetida a pessoa seja legal; Arrebatamento de Preso
z Trata-se de crime material, que se consuma com a
efetiva fuga; Art. 353 Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
z Admite a forma tentada; poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
z Caso seja praticado mediante violência contra pes- Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
soa, responderá o agente também pela violência; correspondente à violência.

Forma qualificada: Sobre este crime, são relevantes as seguintes


informações:
z Se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia
ou guarda está o preso ou internado, será crime z Não admite a modalidade culposa;
próprio; z Exige dolo específico: fim de maltratar o preso
z Se se a prisão for ilegal, não haverá a incidência (aplicar-lhe uma surra, por exemplo);
deste crime, uma vez que apresente a legítima z É crime comum;
defesa de terceiro; z O tipo penal diz preso, sem discriminar se a prisão
z Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais legal ou ilegal, por isso, pode cometer o crime mes-
de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a mo que a prisão seja ilegal;
pena é de reclusão, de dois a seis anos. z O direito penal não permitir a analogia, portan-
Evasão Mediante Violência Contra Pessoa to, não haverá a incidência deste crime se o ato é
cometido contra pessoa internada por medida de
Art. 352 Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o segurança;
indivíduo submetido a medida de segurança deten- z O preso arrebatado é sujeito passivo secundário;
tiva, usando de violência contra a pessoa: z É crime formal, que se consuma com o arrebata-
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da mento, independentemente de se conseguir mal-
pena correspondente à violência. tratar o preso;
z Admite a forma tentada;
Sobre este crime, é muito importante que você z Quando o agente empregar a violência em con-
leve em consideração: curso com o arrebatamento de preso, seja lesão
corporal leve, grave ou gravíssima, mesmo que o
z Trata-se de crime próprio, que só poderá ser prati- resultado seja morte, o sujeito ativo responderá
cado por pessoa presa ou submetida à medida de pelos dois crimes (arrebatamento de preso e lesão
segurança detentiva; corpora, por exemplo).
z Só pode ser praticado dolosamente;
z É crime de atentado ou de empreendimento, pois Motim de Presos
prevê expressamente em sua descrição típica a
conduta de tentar o resultado, por isso, não admite Art. 354 Amotinarem-se presos, perturbando a
a tentativa; ordem ou disciplina da prisão:
z Exige-se o emprego de violência contra pessoa. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
pena correspondente à violência.
Caso não haja emprego de violência ou se esta for
empregada contra coisa, não irá se configurar este Amotinarem-se, transmitindo a ideia de revolta
crime. coletiva dos presos com a ordem e a disciplina da pri-
são, provocando perturbação e alvoroço.
Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciá- Ordem diz respeito à tranquilidade do ambiente
ria feminina, para fugir, emprega violência con- prisional.
tra uma agente prisional, conseguindo, assim, Disciplina consiste no respeito e obediência às
514 evadir-se. regras previamente estabelecidas.
A prisão há de ser legal, pois as pessoas detidas „ O patrocínio simultâneo se configura quando
indevidamente têm o direito de se opor ao arbítrio do o advogado patrocinar as partes contrárias
Estado. simultaneamente;
Trata-se de crime próprio e plurissubjetivo, pluri- „ A tergiversação se configura quando o advoga-
lateral ou de concurso necessário (precisa de mais de do deixa de patrocinar o seu cliente para patro-
uma pessoa para praticar o crime), somente pode ser cinar a parte contrária.
cometido pelos “presos”.
Vejamos que a lei não aponta um número mínimo Sobre o crime de patrocínio simultâneo ou ter-
de indivíduos para a concretização do delito, é lícito giversação, é importante que você saiba:
concluir que se exigem pelo menos três pessoas, pois
quando o CP quer duas ou quatro pessoas ele o diz z Crime doloso;
expressamente. z Não admite a modalidade culposa;
z A traição do advogado ou procurador deve produ-
Sobre este crime, atente-se ao seguinte: zir prejuízo relevante de qualquer natureza, mate-
rial ou moral, desde que lícito;
z É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, z Admite tentativa;
já que será praticado por “presos”; z A ação penal é pública incondicionada.
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por
pessoas presas; Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório
z Só pode ser praticado dolosamente;
z O Código Penal não faz referência ao número de Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
presos que são necessários para a configuração do de restituir autos, documento ou objeto de valor
tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime probatório, que recebeu na qualidade de advogado
coletivo; ou procurador:
z Não é relevante, para fins de caracterização des- Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
te crime, se o interesse dos presos é legítimo ou
Previsto no art. 356, do CP, este crime se configu-
ilegítimo;
z Caso seja praticado com emprego de violência, res- ra quando o agente inutilizar, total ou parcialmente,
ponderá os agentes, também, por ela; ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de
z Caso os agentes consigam se evadir em decorrên- valor probatório, que recebeu na qualidade de advo-
cia da violência empregada para o motim, respon- gado ou procurador.
derão também pelo crime do art. 352 do CP; Este crime pode ser praticado de 2 (duas) formas:
z Admite a forma tentada.
z Inutilizar, total ou parcialmente, autos, documento
Patrocínio Infiel ou objeto de valor probatório (forma comissiva);
z Deixar de restituir autos, documento ou objeto de
Art. 355 Trair, na qualidade de advogado ou procu- valor probatório (forma omissiva).
rador, o dever profissional, prejudicando interesse,
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado: Sobre este tipo penal, é importante saber o
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. seguinte:
Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o
advogado ou procurador judicial que defende na z É crime próprio, que só pode ser praticado pelo
mesma causa, simultânea ou sucessivamente, par- advogado ou procurador que recebeu os autos,
tes contrárias. documento ou objeto de valor probatório;
z Não é punido na modalidade culposa;
No art. 355, do CP, temos 2 (dois) crimes distintos,
z A doutrina dominante admite a tentativa na moda-
com as seguintes condutas típicas: patrocínio infiel no
lidade comissiva, mas não admite na modalidade
caput e patrocínio simultâneo ou tergiversação no § 1º.
omissiva.
z Patrocínio Infiel: trair, na qualidade de advogado
Exploração de Prestígio
ou procurador, o dever profissional, prejudicando
interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado; Está previsto no art. 357, do CP.
z É crime próprio, que só será praticado pelo advo-
gado ou procurador que trair o dever funcional; Art. 357 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

z É crime material, que se consuma quando se preju- outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
dicar o interesse do representado; órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
z Não admite forma culposa; perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
z Admite tentativa somente quando o advogado ou Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
procurador pretende cometer o crime na forma Parágrafo único - As penas aumentam-se de um
comissiva, uma vez que na forma omissiva não se terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro
admite a tentativa; ou utilidade também se destina a qualquer das pes-
z É crime próprio; soas referidas neste artigo.
z Não admite a forma culposa;
z É crime formal, que não exige o prejuízo;Patrocí- Atenção à distinção desse tipo penal com o tipo
nio simultâneo ou tergiversação: defender, na penal previsto no art. 332 do CP (tráfico de influên-
mesma causa, o advogado ou procurador judicial, cia). O presente crime apresenta um rol específico de
simultânea (patrocínio simultâneo) ou sucessiva- pessoas, diferente do crime de tráfico de influência
mente (tergiversação ou patrocínio sucessivo), que generaliza colocando a expressão “funcionário
partes contrárias; público”. 515
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul-
Importante! ta, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se
Muitos examinadores trazem na questão situa-
abstém ou desiste de licitar, em razão da vantagem
ção hipotética envolvendo algum serventuário
oferecida.
da justiça. Atente-se a esses casos específi-
[...].
cos pois, apesar de serem funcionário público,
estão elencado expressamento no rol do art. 357
z No caso de emprego de violência, responderá o
(exploração de prestígio).
agente, também, por ela.

A pena do crime de exploração de prestígio será Desobediência a decisão judicial sobre Perda ou
aumentada de 1/3 (um terço): Suspensão de Direito

z Se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou Art. 359 Exercer função, atividade, direito, autori-
utilidade também se destina ao juiz, ao jurado, dade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
ao órgão do ministério público, ao funcionário de decisão judicial:
justiça, ao perito, ao tradutor, ao intérprete ou à Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
testemunha.
O crime de desobediência à decisão judicial sobre
Sobre o crime de exploração de prestígio, leve
perda ou suspensão de direito, inserido no Código
para a sua prova:
Penal entre os crimes contra a Administração da Jus-
tiça, representa uma modalidade especial do delito de
z É crime comum, que poderá ser praticado por
qualquer pessoa; desobediência, capitulado no art. 329 do CP entre os
z Só poderá ser praticado dolosamente; crimes praticados por particular contra a Administra-
z No verbo solicitar é crime formal; ção em Geral.
z No verbo receber é crime material; Há, nos dois delitos, o descumprimento de ordem
z Admite tentativa. legal emanada de funcionário público. No entanto, o
crime definido no art. 359, do CP, possui elementos
Violência ou Fraude em Arrematação Judicial especializantes, pois o agente não desobedece a uma
simples ordem legal emitida por qualquer funcioná-
Art. 358 Impedir, perturbar ou fraudar arrema- rio público.
tação judicial; afastar ou procurar afastar con- Neste crime vai além, exercendo função, atividade,
corrente ou licitante, por meio de violência, grave
direito, autoridade ou múnus de que estava suspenso
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
ou privado por decisão judicial.
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
além da pena correspondente à violência. Tutela-se a Administração da justiça.
Quanto ao sujeito ativo, verifica-se que se trata
Arrematação judicial, também conhecida como de crime próprio ou especial, pois somente pode ser
leilão ou praça, é o ato de transferência dos bens praticado pela pessoa que, por decisão judicial, foi
penhorados do devedor, em que um funcionário da suspensa ou privada relativamente ao exercício de
justiça apregoa e um interessado os adquire, em hasta determinada função, atividade, direito, autoridade ou
pública, pelo maior lance. múnus.
Trata-se de atividade inerente ao Poder Judiciário, O sujeito passivo é o Estado.
consistente em verdadeira expropriação destinada à Consuma-se com o simples exercício da função,
satisfação de crédito não cumprido voluntariamente. atividade, direito, autoridade ou múnus do qual o
agente foi suspenso ou privado por decisão judicial,
Sobre este crime, é importante atentar-se ao ainda que desta conduta não seja produzido nenhum
seguinte:
resultado naturalístico.
Basta a prática de um único ato capaz de afrontar a
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
determinação emanada do Poder Judiciário.
quer pessoa;
z Não admite a forma culpada; Sobre este crime, é importante que você leve
z Admite tentativa quando o agente não consegue, em consideração as seguintes informações:
por circunstâncias alheias a sua vontade, impedir,
perturbar ou fraudar a arrematação judicial; z Só poderá ser praticado dolosamente;
z As condutas relacionadas ao licitante foram revo- z Admite a modalidade tentada;
gadas pela Lei nº 8.666/1993, Lei de Licitações, com z Exige-se que a suspensão ou privação se dê por
possível tipificação nos arts. 93 e 95 da citada lei, decisão judicial. Caso se trate de decisão adminis-
vejamos: trativa, não irá se configurar este tipo penal.

Art. 93 Impedir, perturbar ou fraudar a realização CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS


de qualquer ato de procedimento licitatório:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
Os crimes contra as finanças públicas foram acres-
e multa.
Art. 95 Afastar ou procurar afastar licitante, por cidos ao Código Penal, em capítulo próprio dos crimes
meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofereci- contra a administração pública, no ano 2000.
516 mento de vantagem de qualquer tipo: Estão previstos do art. 359-A ao art. 359-H.
Dica z Empenho: ato emanado de autoridade competen-
te que cria para o Estado obrigação de pagamento
Já adianto que os crimes contra as finanças pendente ou não de implemento de condição;
públicas são próprios, praticados por funcioná- z Liquidação: consiste na verificação do direito
rio público (crimes funcionais), exigindo-se que adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e
este funcionário possa dispor sobre as finanças documentos comprobatórios do respectivo crédito; e
públicas. z Ordem de pagamento: despacho exarado por
Parte considerável da doutrina entende ser possí- autoridade competente, determinando que a des-
vel que o particular seja sujeito ativo dos crimes contra pesa seja paga.
as finanças públicas, mas desde que, por força de lei,
tenha disponibilidade sobre elas. Entretanto, tal pos- Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas empe-
sibilidade se trata de caso extremamente excepcional. nhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezembro. Dessa
Todos os crimes contra as finanças públicas são pro- forma, o tipo penal pune o administrador que:
cessados mediante ação penal pública incondicionada.
z i nscreve em restos a pagar despesas que não foram
Contratação de Operação de Crédito previamente empenhadas; ou
z inscreve em restos a pagar despesas previamente
Este crime se encontra previsto no art. 359-A do, CP.
empenhadas, mas com excesso aos limites legais.
Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação
de crédito, interno ou externo, sem prévia autoriza- Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser pra-
ção legislativa: ticado pelo agente público dotado da atribuição de
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o fun-
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem orde- cionário público praticar o ato sem atribuição legal
na, autoriza ou realiza operação de crédito, interno
para tanto, este será passível de anulação pelo próprio
ou externo:
Poder Público, tornando atípica a conduta.
I – com inobservância de limite, condição ou mon-
tante estabelecido em lei ou em resolução do Sena- O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí-
do Federal; pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
II – quando o montante da dívida consolidada ultra- tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
passa o limite máximo autorizado por lei. a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
nas finanças públicas.
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá Consuma-se no momento da prática da conduta
ser praticado mediante execução de qualquer um dos legalmente descrita, ordenar ou autorizar a inscrição em
verbos previstos no tipo penal. Respondendo por este restos a pagar, independentemente da lesão ao erário.
crime aquele que praticar a conduta típica.
Sobre este crime, é importante levar em
Há formas equiparadas do crime de contratação
consideração:
de operação de crédito, incorrendo nas mesmas penas
aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de
z Não admite a modalidade culposa; e
crédito, interno ou externo:
z Trata-se de crime de ação múltipla.
z Com inobservância de limite, condição ou montan-
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato
Federal; ou Legislatura
z Quando o montante da dívida consolidada ultra-
passa o limite máximo autorizado por lei. Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de
obrigação, nos dois últimos quadrimestres do últi-
Sobre este crime, é importante que você leve em mo ano do mandato ou legislatura, cuja despesa
consideração: não possa ser paga no mesmo exercício financei-
ro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício
z Não admite a modalidade culposa;
seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de
z Caso o agente pratique as condutas com autoriza-
disponibilidade de caixa:
ção legislativa prévia, o fato será atípico, mas, se
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
ultrapassar os limites da lei, o fato será típico;
z Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O objeto material do crime é a obrigação assumi-


z No verbo realizar, o crime é material.
da nos dois últimos quadrimestres do último ano do
Inscrição de Despesas não Empenhadas em Restos mandato ou legislatura.
a Pagar Pode ser praticado de 2 (duas) formas:

Este crime está previsto no art. 359-B, do CP. z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação,
nos dois últimos quadrimestres do último ano do
Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em
restos a pagar, de despesa que não tenha sido pre- mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser
viamente empenhada ou que exceda limite estabe- paga no mesmo exercício financeiro;
lecido em lei: z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. dois últimos quadrimestres do último ano do man-
dato ou legislatura, se restar parcela a ser paga no
Faz-se necessário compreender o empenho, a exercício seguinte, que não tenha contrapartida
liquidação e a ordem de pagamento: suficiente de disponibilidade de caixa. 517
A prática do crime não está apenas relacionada ao z Caso a despesa seja ordenada com autorização
mantado eletivo, mas também mandato decorrente legislativa, o fato será atípico;
de indicação. z É crime formal, segundo Nucci.
Trata-se de crime próprio ou especial, por isso, o
sujeito ativo somente pode ser cometido pelos agentes Prestação de Garantia Graciosa
públicos titulares de mandato ou legislatura, repre-
sentantes dos órgãos e entidades indicados no art. 20 Está previsto no art. 359-E, do CP.
da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de Respon-
sabilidade Fiscal, pois apenas tais pessoas têm atribui- Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito
ção para assunção de obrigações. sem que tenha sido constituída contragarantia em
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí- valor igual ou superior ao valor da garantia pres-
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- tada, na forma da lei:
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
nas finanças públicas. O tipo penal pune a conduta do funcionário público
Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou auto- que presta garantia sem a observância do requisito legal.
riza a assunção de obrigação, nos últimos oito meses Quanto aos requisitos legais, devemos entender
do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa que “prestar” tem o sentido de conceder ou autorizar
ser paga naquele exercício financeiro ou reste parte garantia, e isto está em conformidade com o art. 29,
a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida inc. IV, da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de
suficiente para tanto, independentemente da compro- Responsabilidade Fiscal, concessão de garantia que é
vação de prejuízo aos cofres públicos. o compromisso de adimplência de obrigação financei-
Sobre este crime, é importante atentar-se às ra ou contratual assumida por algum ente da Federa-
seguintes disposições: ção ou entidade a este vinculada.
As condições para a concessão de garantia encon-
z Só pode ser praticado dolosamente; tram-se no art. 40 da citada lei. Destaca-se entre elas
z Este crime só se configura se as condutas típicas o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou
forem praticadas nos dois últimos quadrimestres superior ao da garantia a ser concedida, visando o
(oito meses anteriores ao término do mandato) do equilíbrio das finanças públicas.
último ano do mandato ou legislatura; Sobre este crime, saiba:
z É crime de ação múltipla; e
z Este crime não admite a modalidade culposa;
z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de difí-
z Não basta que seja constituída a contragarantia,
cil comprovação, segundo posicionamento doutri-
exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da
nário majoritário.
garantia prestada.
Ordenação de Despesa não Autorizada Caso a contragarantia seja inferior ou não seja
prestada, este crime estará configurado.
O crime de ordenação de despesa não autorizada
está previsto no art. 359-D, do CP. Não Cancelamento de Restos a Pagar

Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei: Art. 359-F Deixar de ordenar, de autorizar ou de
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. promover o cancelamento do montante de restos a
pagar inscrito em valor superior ao permitido em
lei:
Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
se realize a despesa pública, a qual compreende os
desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente z Deixar de ordenar é não determinar a terceiro que
às suas diversas responsabilidades junto à sociedade. algo seja feito;
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou z Deixar de autorizar é não permitir que terceira
especial, pois somente pode ser cometido pelo funcio- pessoa faça algo; e
nário público com atribuição para ordenar despesas, z Deixar de promover equivale a não realizar direta-
conhecido como “ordenador de despesas”. mente alguma coisa.
O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”,
compreendido como a pessoa que se limita a cumprir O administrador público que se depara com restos
ou executar a ordem expedida pelo ordenador. a pagar inscritos em valor superior ao limite permiti-
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Muni- do em Lei tem o dever legal de autorizar, ordenar ou
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente promover o seu cancelamento, sob pena de incorrer
federativo prejudicado pela conduta criminosa, e, no crime de não cancelamento de restos a pagar.
secundariamente, a coletividade, em decorrência dos O sujeito ativo é o funcionário público com atribui-
prejuízos causados pela ordenação de despesas públi- ção para ordenar, autorizar ou promover o cancela-
cas não autorizadas em lei. mento do montante de restos a pagar indevidamente
Consuma-se o crime quando o funcionário público inscritos. Trata-se de crime próprio ou especial. Com
ordena a realização da despesa sem autorização legal, isso, o funcionário público que deixa o cargo será res-
independentemente da comprovação de efetiva lesão ponsabilizado pela “inscrição de despesas não empe-
ao erário. nhadas em restos a pagar” (art. 359-B), ao passo que
Sobre este tipo penal, é importante mencionar que: o funcionário público que assume o cargo deverá ser
responsabilizado por não ter determinado o “cance-
z Não admite a forma culposa; lamento do montante de restos a pagar” (art. 359-F),
518 z É crime de ação simples; inscrito em valor superior ao legalmente permitido.
Os dois agentes contribuem para o mesmo resul- O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí-
tado, mas a eles serão imputados crimes diversos, em pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
face do especial tratamento conferido pela lei penal. tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
O sujeito passivo é a União, os Estados, os Municí- a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- aumento de despesa total com pessoal no último ano
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, do mandato ou legislatura.
a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo Consuma-se quando o agente público ordena,
não cancelamento de restos a pagar. autoriza ou executa o ato de aumento de despesa com
O crime consuma-se quando o sujeito ativo deixa pessoal, nos últimos 180 dias de mandato ou legislatu-
de ordenar, de autorizar ou de promover o cancela- ra, independentemente da comprovação de prejuízo
mento do montante de restos a pagar inscrito inde- econômico ao erário.
vidamente, independentemente de comprovação de
lesão patrimonial ao erário. Sobre este crime, leve em consideração o seguinte:
A omissão que não ultrapassa os limites de restos a
pagar não configura este crime. z Só pode ser praticado dolosamente;
z É crime de ação múltipla;
Sobre este crime, atente-se ao seguinte: z Para sua configuração, deve ser praticado nos 180 dias
que antecedem o fim do mandato ou legislatura. Caso
z Só pode ser praticado dolosamente; realizado em outro período, não irá se configurar;
z É crime omissivo; z Admite tentativa.
z Não admite tentativa.
Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado
Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último
Ano do Mandato ou Legislatura Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do CP.

Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a ofer-
acarrete aumento de despesa total com pessoal, ta pública ou a colocação no mercado financeiro
nos cento e oitenta dias anteriores ao final do man- de títulos da dívida pública sem que tenham sido
dato ou da legislatura: criados por lei ou sem que estejam registrados em
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. sistema centralizado de liquidação e de custódia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
z Ordenar é determinar alguma coisa;
z Autorizar significa permitir que algo seja feito; e z Ordenar é determinar;
z Executar traz a ideia de realizar ou concretizar algo. z Autorizar equivale a permitir que algo seja feito;
z Promover traz a ideia de realizar, concretizar a
Este crime tem como finalidade evitar que se oferta pública ou colocação de títulos no mercado;
aumente as despesas totais com pessoal, concedendo
aumentos, contratando, alterações na carreira, entre O objeto material do crime são os títulos da dívida
outras formas, nos últimos dias do mandato ou legis- pública. Nos termos do art. 29, inciso II, da Lei Comple-
latura, deixando para outro funcionário público a res- mentar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,
ponsabilidade de arcar com os compromissos. considera-se dívida pública mobiliária aquela repre-
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C do sentada por títulos emitidos pela União, inclusive os
CP é que o crime em estudo não se relaciona com a do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios.
infração penal tipificada no art. 359-C do CP, porque O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
na assunção de obrigação no último ano do manda- funcionário público dotado da atribuição para orde-
to ou legislatura levam-se em conta despesas que não nar, autorizar ou promover oferta pública ou coloca-
podem ser pagas no mesmo exercício, ficando a obri- ção no mercado financeiro de títulos da dívida pública.
gação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibili- O sujeito passivo é a União, os Estados, os Muni-
dade orçamentária para tanto. cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente
No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pes- federativo atingido pela conduta criminosa, e, media-
soal é permanente, ou seja, irá ultrapassar o exercício tamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela
financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemen- compra de títulos irregularmente emitidos.
te, o orçamento do ente federativo ou órgão público Consuma-se o crime em estudo no momento em
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ficará inevitavelmente comprometido, deixando de que o agente público ordena, autoriza ou promove a
propiciar ao administrador público futuro condições oferta pública ou a colocação no mercado financeiro
para gerir adequadamente a máquina estatal. de títulos da dívida pública sem que tenham sido cria-
Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G, dos por lei ou sem que estejam registrados em sistema
do CP, está consubstanciado na expressão “nos cento centralizado de liquidação e de custódia, independen-
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da temente de efetivo prejuízo ao erário.
legislatura”.
Assim, fora do período legalmente indicado não há Sobre este crime, é importante mencionar:
o que se falar na prática do delito, ainda que exista
ilegal aumento da despesa total com pessoal. z Só pode ser praticado dolosamente;
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo z É crime de ação múltipla;
funcionário público com atribuição para ordenar, z Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
autorizar ou executar ato que acarrete aumento de dos por lei ou estejam registrados no sistema cen-
despesa total com pessoal, nos últimos 180 dias do tralizado de liquidação e de custódia, a prática da
mandato ou legislatura. conduta prevista no tipo penal irá ser atípico. 519
3. (FGV — 2018) Leandro, pretendendo causar a morte
HORA DE PRATICAR! de José, o empurra do alto de uma escada, caindo a
vítima desacordada. Supondo já ter alcançado o resul-
1. (FGV — 2018) Julia, nascida em 22 de maio de 2000, não tado desejado, Leandro pratica nova ação, dessa vez
mais aguentando o comportamento de sua prima, Renata, realiza disparo de arma de fogo contra José, pois,
que constantemente a vinha ofendendo, resolve por fim acreditando que ele já estaria morto, desejava simular
àquele comportamento. Para isso, no dia 21 de maio de um ato de assalto. Ocorre que somente na segunda
2018, pega, sem que ninguém perceba, as chaves do carro ocasião Leandro obteve o que pretendia desde o iní-
de seu pai que estava estacionado na garagem e, enquan- cio, já que, diferentemente do que pensara, José não
to a prima, de 18 anos, consertava a bicicleta, também estava morto quando foram efetuados os disparos.
na garagem, dá ré com o veículo e atropela Renata, que
é imediatamente encaminhada ao hospital pelos tios. Em Em análise da situação narrada, prevalece o entendi-
virtude de lesões internas sofridas, Renata vem a falecer mento de que Leandro deve responder apenas por um
em 25 de maio de 2018. Em procedimento administrativo crime de homicídio consumado, e não por um crime
para apurar os fatos, Julia, acompanhada de advogado, tentado e outro consumado em concurso, em razão da
confessa sua intenção de matar, apesar de se declarar aplicação do instituto do:
atualmente arrependida. Concluído o procedimento, os
autos são encaminhados ao Promotor de Justiça com a) crime preterdoloso;
atribuição exclusivamente criminal. b) dolo eventual;
c) dolo alternativo;
Com base nas informações expostas, o Promotor de d) dolo geral;
Justiça Criminal, em relação ao resultado morte, deverá: e) dolo de 2º grau.
a) reconhecer que a atribuição é da Promotoria da Infân- 4. (FGV — 2021) Jéssica, policial militar, após forte dis-
cia e Juventude infracional, pois o Código Penal ado- cussão com Maicon, seu marido, durante seu mês de
ta a Teoria da Ubiquidade para definir momento do férias, pega, na gaveta da cômoda, arma de fogo regis-
crime; trada em seu nome que regularmente possuía e, com
b) reconhecer que a atribuição é da Promotoria da Infân- animus necandi, efetua um disparo na sua direção.
cia e Juventude infracional, pois o Código Penal adota Jéssica se surpreende, pois o disparo não foi efetiva-
a teoria da Atividade para definir o momento do crime; do, descobrindo que a arma estava sem munição, vis-
c) oferecer denúncia em face de Julia, pois o Código to que Maicon, sem que sua esposa soubesse, havia
Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir o retirado e arremessado a munição em um rio, ao lado
momento do crime; do imóvel.
d) oferecer denúncia em face de Julia, pois o Códi- Diante da confusão instaurada, policiais foram chama-
go Penal adota a Teoria do Resultado para definir o
dos ao local e a encaminharam à unidade policial.
momento do crime;
e) oferecer denúncia em face de Julia, pois o Códi- Considerando os fatos narrados, o fato praticado por
go Penal adota a Teoria da Atividade para definir o Jéssica, conforme entendimento doutrinário majoritá-
momento do crime. rio, configura
2. (FGV — 2018) No dia 02.01.2018, Jéssica, nascida em a) crime impossível, diante da absoluta ineficácia do
03.01.2000, realiza disparos de arma de fogo contra meio.
Ana, sua inimiga, em Santa Luzia do Norte, mas ter- b) tentativa de homicídio simples, pois a ineficácia do
ceiros que presenciaram os fatos socorrem Ana e a meio era relativa.
levam para o hospital em Maceió. Após três dias inter-
c) tentativa de homicídio qualificado, pois Jéssica não
nada, Ana vem a falecer, ainda no hospital, em virtude
tinha conhecimento que a arma estava desmuniciada.
exclusivamente das lesões causadas pelos disparos
d) tentativa de homicídio simples, pois presente elemen-
de Jéssica.
to subjetivo e a impropriedade do objeto era relativa.
Com base na situação narrada, é correto afirmar que e) crime impossível, diante da absoluta impropriedade
Jéssica: do objeto.

a) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que 5. (FGV — 2018) No curso de ação penal onde se imputa
o Código Penal adota a Teoria da Atividade para definir a prática de crime de roubo majorado, durante a oitiva
o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para das testemunhas de defesa, ocasião em que se iden-
definir o lugar; tifica que a principal tese defensiva é de negativa de
b) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o autoria, o juiz verifica que, possivelmente, o réu seria
Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir inimputável. Suspenso o processo antes do interroga-
o momento do crime e a Teoria da Atividade para defi- tório e de encerrar a prova, realizado laudo pericial, é
nir o lugar; constatada a total inimputabilidade do agente na data
c) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o dos fatos.
Código Penal adota a Teoria da Ubiquidade para defi- Diante da constatação, juntado o laudo, caberá ao juiz:
nir o momento do crime e a Teoria da Atividade para
definir o lugar; a) de imediato, absolver impropriamente o réu, aplicando
d) não poderá ser responsabilizada criminalmente, já que medida de segurança, o que não gera reincidência;
o Código Penal adota a Teoria da Atividade para definir b) caso constatada a autoria e materialidade após instru-
o momento do crime e apenas a Teoria do Resultado ção, condenar o réu, aplicando medida de segurança e
para definir o lugar; pena privativa de liberdade
e) poderá ser responsabilizada criminalmente, já que o c) caso constatada a autoria e materialidade após instru-
Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir ção, absolver impropriamente o réu, aplicando apenas
o momento do crime e a Teoria da Ubiquidade para pena privativa de liberdade com causa de redução de
520 definir o lugar. pena;
d) caso constatada a autoria e materialidade após instru- b) a aplicação da pena privativa de liberdade e de mul-
ção, absolver impropriamente o réu, aplicando apenas ta, em não havendo desígnios autônomos, no con-
medida de segurança; curso formal de crimes, de acordo com as previsões
e) de imediato, condenar o réu, aplicando medida de do Código Penal, se dará com base no princípio da
segurança, o que gera reincidência. exasperação;
c) a sua condição de tecnicamente reincidente, por si só,
6. (FGV — 2018) No Direito Penal, a doutrina costuma reco- não impede de forma absoluta a substituição da pena
nhecer o concurso de pessoas quando a infração penal privativa de liberdade por pena restritiva de direitos;
é cometida por mais de uma pessoa, podendo a coope- d) a presença de uma circunstância agravante e de
ração ocorrer através de coautoria ou participação. uma causa de diminuição da pena faz com que o juiz
Sobre o tema, de acordo com o Código Penal, é correto deva compensá-las na segunda fase do processo
afirmar que: dosimétrico;
e) a reincidência, como circunstância agravante prepon-
a) o auxílio material é punível se o crime chegar, ao
derante, não poderá ser compensada com eventual
menos, a ser cogitado;
confissão.
b) as circunstâncias de caráter pessoal, diante de sua
natureza, não se comunicam, ainda que elementares 9. (FGV — 2018) Pretendendo matar seus dois irmãos
do crime; Mévio e Caio e, com isso, garantir-se como único her-
c) em sendo de menor importância a participação ou deiro de seus ricos pais, Tício se aproveita do fato de
coautoria, a pena poderá ser reduzida de um sexto a Mévio e Caio estarem enfileirados e efetua um único
um terço; disparo de fuzil em direção a estes, sabendo que, pelo
d) a teoria sobre concurso de agentes adotada pela legis- potencial lesivo do material bélico, aquele único tiro
lação penal brasileira, em regra, é a dualista; seria suficiente para causar a morte dos dois colate-
e) se algum dos concorrentes quis participar de crime rais, o que efetivamente ocorre.
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste.
Descobertos os fatos, caberá ao Promotor de Justiça
7. (FGV — 2021) Caio, primário, foi preso e condenado à oferecer denúncia contra Tício pela prática de dois cri-
pena privativa de liberdade de 5 anos e 4 meses, em mes de homicídio qualificado em
regime semiaberto, por infração ao Art. 157, § 2º, II,
do CP (roubo circunstanciado pelo concurso de pes- a) concurso material, diante dos dois resultados mortes,
soas). Cumpriu 3 anos da pena quando sobreveio devendo as penas serem somadas;
nova condenação, por fato praticado anteriormente, b) concurso formal próprio, devendo a pena de um deles
por infração ao Art. 157, § 2º, II, do CP (roubo circuns- (mais grave) ser aumentada;
tanciado pelo concurso de pessoas), à pena de 5 anos c) concurso formal impróprio, devendo a pena de um
e 4 meses de reclusão, em regime semiaberto. deles (a mais grave) ser aumentada;
Em atenção às regras previstas na Lei de Execução d) concurso formal impróprio, devendo as penas serem
Penal, bem como no Código Penal, que dispõem sobre somadas;
a unificação das penas e fixação do regime de cumpri- e) continuidade delitiva, devendo a pena de um deles (a
mento de pena (Art. 111 e parágrafo único, da LEP e mais grave) ser aumentada.
Art. 33, § 2º, do CP, respectivamente), o(a) Defensor(a)
Público(a) deverá requerer a unificação das penas e a 10. (FGV — 2015) Thiago, nascido em 10/10/90, foi denun-
fixação do regime: ciado pela prática do crime de tentativa de homicídio
qualificado (Art. 121, § 2º, inciso IV c/c Art. 14, inci-
a) integralmente fechado de cumprimento de pena; so II, ambos do Código Penal) por fato ocorrido em
b) fechado de cumprimento de pena; 01/11/10.
c) semiaberto de cumprimento de pena;
d) aberto de cumprimento de pena; A denúncia foi recebida em 05/05/14, tendo o feito
e) aberto de cumprimento de pena, sob a modalidade da regular prosseguimento. Em 12/10/14, foi publicada
prisão albergue domiciliar. decisão do juiz pronunciando o acusado. Inconforma-
da com essa decisão, a advogada do réu interpôs o
8. (FGV — 2019) Lúcio, reincidente em razão de condena- recurso cabível, mas a pronúncia foi confirmada em
ção definitiva anterior pela prática de crime de uso de decisão do Tribunal proferida e publicada em 12/12/14.
documento falso, foi denunciado pela suposta prática
de dois crimes de furto simples tentados, em concur- Considerando apenas essas informações, é correto
so formal. Encerrada a instrução, após confissão do afirmar que a prescrição da pretensão punitiva pela
réu em interrogatório, e estando o processo com o pena em abstrato ocorrerá em
juiz para a sentença, Lúcio procura o Defensor Público
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

para esclarecimentos acerca do processo dosimétrico a) 12 de dezembro de 2034.


e da forma como será executada a pena no caso de b) 12 de outubro de 2034.
procedência da pretensão punitiva, esclarecendo que c) 12 de outubro de 2030.
os fatos ocorreram dois anos antes e que, atualmen- d) 12 de dezembro de 2024.
te, encontra-se casado, com filho bebê e trabalhando e) 12 de outubro de 2024.
com carteira assinada.
Considerando apenas as informações expostas, na 11. (FGV — 2021) No dia 01/03/2014, Vitor, 60 anos, desfe-
oportunidade, deverá ser esclarecido por sua defesa riu um golpe de faca no peito de sua namorada Clara,
técnica que: 65 anos, que foi a causa eficiente de sua morte, pois
descobrira que a vítima mantinha uma relação extra-
a) o aumento da pena em razão do concurso formal de conjugal com o vizinho. Foi instaurado inquérito poli-
crimes deve ocorrer antes da redução realizada pela cial para apurar o evento, entrando em vigor, no curso
tentativa, e a definição do quantum a ser majorado em das investigações, a Lei nº 13.104/2015, passando a
razão dessa causa de aumento deve ter por base as prever a qualificadora do feminicídio. As investigações
circunstâncias judiciais do Art. 59 do Código Penal; somente foram concluídas em 25/01/2021. 521
Considerando apenas as informações expostas, a b) ambos deverão responder pelo crime de furto qualifi-
autoridade policial deverá indiciar Vitor pela prática do cado, aplicando-se a redução de pena apenas a João,
crime de homicídio: em razão do arrependimento posterior.
c) ambos deverão responder pelo crime de furto qualifi-
a) com causa de aumento de pena, sem a qualificadora cado, aplicando-se a redução de pena para os dois, em
pela condição de mulher da vítima; razão do arrependimento posterior, tendo em vista que
b) sem qualquer causa de aumento de pena e sem a qua- se trata de circunstância objetiva.
lificadora pela condição de mulher da vítima; d) João deverá responder pelo crime de furto simples,
c) com a qualificadora pela condição de mulher da víti- com causa de diminuição do arrependimento poste-
ma, bem como causa de aumento de pena; rior, enquanto Pablo não responderá pelo crime contra
d) com a qualificadora pela condição de mulher da víti- o patrimônio.
ma, sem qualquer causa de aumento de pena;
e) com a qualificadora pela condição de mulher da víti- 14. (FGV — 2015) João e José decidem praticar um crime
ma, além de causa de diminuição de pena pelo rele- de roubo, que ocorreria com a subtração do veículo
vante valor moral. automotor de Maria, vizinha de João. A grande dificul-
dade do plano criminoso estava no local em que seria
12. (FGV — 2017) Lucas é empregador dos trabalhadores escondido o veículo antes de ser desmontado para a
Manuel, Francisco e Pedro em sua fazenda na zona venda das peças.
rural. Analise as três situações apresentadas: João e José procuraram Marcus, primo de José e pro-
prietário de uma oficina mecânica, e perguntaram se
I. Lucas retém a carteira de identidade de Manuel, úni- ele teria interesse em guardar o carro no estabeleci-
co documento deste, impedindo que deixe o local de mento por uma semana. Marcus concordou, o acor-
trabalho. do foi sacramentado e, então, o crime de roubo foi
II. Lucas autoriza que Francisco gaste apenas 15 minutos praticado.
todo dia para horário de almoço, de modo que Francis-
co somente pode comprar uma refeição na pequena Considerando apenas os fatos descritos, Marcus res-
cantina de Lucas que funciona dentro da fazenda. Em ponderá criminalmente pelo crime de
razão dos altos preços dos produtos, Francisco con-
a) roubo majorado.
trai dívida alta e é impedido de deixar a fazenda antes
b) receptação simples.
do pagamento dos valores devidos.
c) favorecimento real.
III. Lucas instala diversas câmeras e outros mecanismos
d) receptação qualificada.
de vigilância ostensiva na fazenda com o fim de reter
e) favorecimento pessoal.
Pedro em seu local de trabalho.
15. (FGV — 2021) Sobre os crimes contra a dignidade
Considerando as situações apresentadas, o compor-
sexual, observada a jurisprudência dos Tribunais
tamento de Lucas em relação a Manuel, Francisco e
Superiores, assinale a afirmativa correta.
Pedro configura, respectivamente, o(s) crime(s) de:
a) O crime de estupro simples não configura crime hediondo.
a) redução à condição análoga à de escravo, nas três
b) O crime de estupro somente se consuma com a con-
situações;
junção carnal.
b) redução à condição análoga à de escravo, exercício
c) Somente poderá responder pelo crime de estupro
arbitrário das próprias razões e redução à condição aquele que tenha praticado a conduta descrita no tipo
análoga à de escravo; penal respectivo.
c) apropriação indébita, redução à condição análoga à de d) A experiência sexual anterior da vítima menor de 14
escravo e redução à condição análoga à de escravo; anos é suficiente para afastar o crime de estupro de
d) cárcere privado, exercício arbitrário das próprias vulnerável.
razões e redução à condição análoga à de escravo; e) A impossibilidade de resistência da vítima, ainda que
e) redução à condição análoga à de escravo, redução à con- momentânea e não decorrente de doença mental,
dição análoga à de escravo e constrangimento ilegal. poderá justificar a imputação da mesma pena do cri-
me de estupro de vulnerável.
13. (FGV — 2017) Decidido a praticar crime de furto na
residência de um vizinho, João procura o chaveiro 16. (FGV — 2019) O Código Penal, em seu Título VIII da
Pablo e informa do seu desejo, pedindo que fizesse Parte Especial, traz os chamados Crimes contra
uma chave que possibilitasse o ingresso na residência, a Incolumidade Pública, que podem ser de perigo
no que foi atendido. No dia do fato, considerando que comum; contra a segurança dos meios de comunica-
a porta já estava aberta, João ingressa na residência ção e transporte e outros serviços públicos; ou crimes
sem utilizar a chave que lhe fora entregue por Pablo, e contra a saúde pública.
subtrai uma TV. Chegando em casa, narra o fato para
sua esposa, que o convence a devolver o aparelho Dentre os crimes contra a saúde pública destaca-se o
subtraído. No dia seguinte, João atende à sugestão da crime de epidemia. Em relação ao crime de epidemia,
esposa e devolve o bem para a vítima, narrando todo assinale a afirmativa correta.
o ocorrido ao lesado, que, por sua vez, comparece à
delegacia e promove o registro próprio. a) Poderá ser praticado na forma dolosa e, caso resulte
Considerando o fato narrado, na condição de advoga- morte a título de culpa, poderá a pena ser aplicada em
do(a), sob o ponto de vista técnico, deverá ser esclare- dobro.
cido aos familiares de Pablo e João que b) É classificado pela doutrina como próprio em relação
ao sujeito ativo, somente podendo ser praticado por
a) nenhum deles responderá pelo crime, tendo em vista pessoas com determinadas características.
que houve arrependimento eficaz por parte de João e, c) É punível apenas na forma dolosa, não havendo tipifica-
como causa de excludente da tipicidade, estende-se a ção da conduta de causar epidemia de forma culposa, ou
522 Pablo. seja, a partir de violação do dever objetivo de cuidado.
d) Restará configurado com a transmissão de qualquer d) corrupção passiva simples;
moléstia, ainda que não infecciosa. e) prevaricação.
e) Tem como sujeito passivo pessoa determinada.
20. (FGV — 2018) Bruno foi preso em flagrante e encami-
17. (FGV — 2018) Em razão de se encontrar com diver- nhado para Delegacia pela suposta prática do crime
sos mandados atrasados para o seu cumprimento, o de condução de veículo automotor sob influência de
Oficial de Justiça Moraes certifica em um deles que álcool. Chegando em sede policial, quando encontra-
foi ao local da diligência e o citando não mais lá resi- vam-se na sala apenas Bruno e o inspetor Cláudio,
dia, apesar de nunca ter efetivamente lá comparecido. Bruno ofereceu a Cláudio R$5.000,00 para que não
Posteriormente, restou demonstrado que o citando fosse lavrado o flagrante, com sua imediata liberação.
sempre residiu no endereço do mandado e que, de Revoltado com o comportamento de Bruno, de ime-
fato, o Oficial de Justiça não foi ao local. diato Cláudio recusou a oferta, não recebeu qualquer
Diante desse quadro fático, a conduta de Moraes valor e realizou nova prisão em flagrante, dessa vez
configura: em razão do oferecimento de vantagem indevida.

a) crime de falsidade material de documento público; Diante das informações narradas, a conduta de Bruno
b) crime de falsidade ideológica de documento público; configura crime de:
c) infração administrativa, mas conduta penalmente
atípica; a) corrupção passiva, consumada;
d) crime de falsidade material de documento particular; b) corrupção ativa, na modalidade tentada;
e) crime de falsidade material de atestado ou certidão. c) concussão, na modalidade tentada;
d) corrupção passiva, na modalidade tentada;
18. (FGV — 2019) Rogério, funcionário público municipal, e) corrupção ativa, consumada.
no exercício de cargo em comissão, por ser pessoa de
confiança dentro da estrutura da Administração Públi-
ca Direta, subtraiu, fora do horário de serviço, o laptop 9 GABARITO
da repartição em que trabalhava.
Para tanto, ele contou com a ajuda do primo João, que
não tinha qualquer vínculo com o Poder Público, mas 1 B
que, certamente, tinha conhecimento do cargo que 2 A
Rogério exercia e da facilidade que teriam em razão
do acesso ao local dos fatos. 3 D
Ocorre que a conduta dos primos foi registrada pelas
câmeras de segurança, sendo as imagens encaminha- 4 A
das para a autoridade policial. 5 D
Com base apenas nas informações narradas, é correto
afirmar que a conduta de Rogério configura crime de 6 E

a) peculato, sendo aplicável a ele causa de aumento de 7 C


pena, em razão do cargo em comissão que exercia, 8 C
respondendo João também pelo crime contra Admi-
nistração Pública, apesar de este ser classificado 9 D
como próprio.
b) peculato simples, sem qualquer causa de aumento, já 10 D
que o exercício de função de confiança é inerente à 11 A
definição de funcionário público, respondendo João
também pelo crime contra a Administração Pública, 12 A
apesar da natureza própria do delito.
c) peculato simples, sem qualquer causa de aumento, já 13 D
que o exercício de função de confiança é inerente à defi- 14 A
nição de funcionário público, respondendo João pelo
crime de furto, diante da natureza própria do delito. 15 E
d) peculato, sendo aplicável a ele causa de aumento de
pena em razão do cargo em comissão que exercia, 16 A
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

respondendo João, porém, pelo crime de furto, diante 17 B


da natureza própria do delito.
e) furto qualificado pelo concurso de agentes, assim 18 A
como João, já que os fatos ocorreram fora do horário
de serviço. 19 E

20 E
19. (FGV — 2020) Oficial de justiça que deixa de dar cum-
primento integral a mandado de penhora em razão de
sentir pena do proprietário do bem penhorado comete,
em tese, o crime de:

a) corrupção passiva privilegiada;


b) abandono de função;
c) violação de sigilo profissional;
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ANOTAÇÕES

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