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UBERLÂNDIA - MG
2017
ANDRE LUIS PINHO
CLÁUDIA D’ANDRÉA RODRIGUES PINTO PINHO
UBERLÂNDIA – MG
2017
PINHO, André Luis; PINHO, Cláudia D’Andréa
Rodrigues Pinto.
As mídias sociais, a pregação do evangelho e
a formação dos desigrejados./ André Luis Pinho;
Cláudia D’Andréa Rodrigues Pinto Pinho, 2017.
36 f.:
3.
ANDRE LUIS PINHO
CLÁUDIA D’ANDRÉA RODRIGUES PINTO PINHO
Aprovados em 14/12/2017
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Nome: Marília das Graças Nascimento Maruyama
Titulação: Mestre
__________________________________________________________________________
Nome: Pablo Henrique Nascimento Maruyama
Titulação: Especialista
__________________________________________________________________________
Nome: Rosicler Rodrigues Moura
Titulação: Especialista
Dedicamos este trabalho a Deus que nos
capacitou, e nos deu forças para chegarmos até
aqui.
AGRADECIMENTOS
Á Deus, pоr ter nos dado saúde е força pаrа superar as dificuldades.
A nossa orientadora professora Ma. Marilia das Graças Nascimento Maruyama, pela
paciência e carinho demonstrados em todo tempo. Pelo suporte no pouco tempo que lhe
coube, pelas suas correções е incentivos. Por nos motivar e acreditar em nós.
A nossa professora e amiga, Maria Tereza Nascimento Maruyama Pinheiro, que nos auxiliou
de forma tão carinhosa, em todo este processo, sempre disponível, e nos mostrou que ensinar
é amar.
Agradecemos а todos aos professores pоr nos proporcionar о conhecimento não apenas
racional, mas а manifestação do caráter е afetividade da educação no processo de formação
profissional, pela dedicação a nós, não somente pоr nos terem ensinado, mas por nos terem
feito aprender.
Ao meu esposo André Luis Pinho, companheiro de todas as horas, que me apoiou, incentivou
e muito auxiliou na construção deste trabalho. Pelo amor e paciência, de todos os dias.
A minha esposa Cláudia D`Andréa R. P. Pinho, pelo amor e paciência, as palavras de ânimo,
incentivo.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, о nosso muito obrigado.
“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no
navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.”
Leonardo da Vinci
RESUMO
O presente estudo tem como foco, avaliar a utilização e importância das mídias e redes sociais
para a pregação do evangelho na contemporaneidade, e suas consequências para a
comunidade eclesiástica, de forma ampla relacionar se há ou não a contribuição destas
ferramentas para a formação de um novo e crescente movimento de êxodo institucional, no
meio dos Cristãos Evangélicos, conhecido como “desigrejados”. Contribuir na compreensão
deste quadro atual. Conceituar mídias e redes sociais e sua importância na
contemporaneidade. Analisar a pregação do evangelho através das mídias sociais, redes, seu
crescimento, influência e consequencias na estrutura eclesiástica atual. Conhecer, os
“desigrejados” suas possíveis causas, fundamentação teórica, contradições. Quem são, onde
eles se encontram, por que este fenômeno é crescente e polêmico? Finalmente discutir, as
implicações para a igreja evangélica contemporânea, mediante estas transformações. O
presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica, fundamentado no
entendimento de renomados autores, dentre os quais destacam-se Ciribeli e Paiva (2011),
Andreolla (2012), Cunha (2014), Souza e Costa (2017), Campos Junior (2017) dentre outros.
The present article focuses on evaluating the use and importance of media and social networks for the
preaching of the gospel in contemporary times, and its consequences for the ecclesiastical community,
in a wide way to relate whether there is or not the contribution of these tools to the formation of a new
and growing movement of institutional exodus, among the Evangelical Christians, known as
Christians without a church. Contribute to the understanding of this current situation. Conceptualizing
media and social networks and their importance in the contemporary world. Analyze the preaching of
the gospel through social media, networks, its growth, influence and consequences in the current
ecclesiastical structure. To know, the Christians without a church their possible causes, theoretical
foundation, contradictions. Who are they, where are they, why is this phenomenon growing and
controversial? Finally, discuss the implications for the contemporary evangelical church through these
transformations. The present work was carried out by means of a bibliographical research, based on
the understanding of great authors, among which stand out Ciribeli and Paiva (2011), Andreolla
(2012), Cunha (2014), Souza e Costa (2017), Campos Junior (2017) among others.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10
4 OS DESIGREJADOS ............................................................................................................ 23
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33
10
1 INTRODUÇÃO
1
Desigrejados: Cristãos que deixaram de congregar nas igrejas. Um neologismo foi criado para pontuar esta
tendência. São chamados de desigrejados e defendem a inutilidade na existência da igreja institucionalizada.
Campos Junior (2017)
12
As redes sociais, “existem em todos os lugares e podem ser formadas por pessoas ou
organizações que partilham valores e objetivos comuns.” (CIRIBELI; PAIVA, 2011, p. 59).
Muitos utilizam os termos redes sociais e mídias sociais como sinônimos, no entanto faz se
necessário diferenciar um do outro haja vista as duas apresentarem diferenças primordiais
entre si.
Segundo Souza e Costa (2017), a distinção entre os termos é facilmente observada por
meio da finalidade para sua utilização.
Percebe-se que quanto mais cresce a utilização da internet e das mídias, formam-se redes bem
definidas, onde os espaços virtuais são utilizados para propagar informações de diversas
maneiras.
Entende-se então que apesar de não haver um conceito formulado, a diferença entre
mídias sociais e redes sociais, está relacionada a seu objetivo principal, ou seja, as redes cujo
objetivo principal é relacionamento interpessoal, ou em grupos com objetivos afins, como
Facebook2 e as mídias sociais que englobam não somente as redes sociais, mas também as
redes de compartilhamento, de aprendizado, comunicação, de ideias, vídeos, áudios, imagens,
arquivos, podendo ou não gerar relacionamento direto entre os indivíduos.
Esta mudança na forma de comunicação tem influenciado, em diversas áreas da
sociedade, incluindo a comunidade evangélica brasileira, pois “se a tecnologia, em especial a
revolução digital, modifica o modo de pensar as coisas, isso não acabará por dizer respeito
também de certo modo à fé e sua comunicação?” (SPADARO, 2012 apud COSTA, 2016, p.
103). As mídias hoje se tornaram uma grande fonte de informações sobre a religião, suas
formas e tendências. É visível esta interação entre mídia e religião na atualidade. Todos os
dias veem-se criações de sites3, blogs4, comunidades virtuais5, canais do you tube6, entre
outros, para comunicação da fé e crenças.
Diante destas mudanças na forma de comunicar a fé torna-se necessário uma reflexão,
a respeito das possíveis implicações na igreja contemporânea. “E, de fato, as mais diversas
2
Facebook é uma rede social lançada em 2004. Este termo é composto por face (que significa cara em
português) e book (que significa livro), o que indica que a tradução literal de facebook pode ser "livro de caras".
O Facebook é gratuito para os usuários. Os usuários criam perfis que contêm fotos e listas de interesses pessoais,
trocando mensagens privadas e públicas entre si e participantes de grupos de amigos. O Facebook possui várias
ferramentas, como o mural, que é um espaço na página de perfil do usuário que permite aos amigos postar
mensagens para ele ver. Disponível em: https://www.significados.com.br/facebook/. Acesso em: 03 nov. de
2017.
3
Site: Página ou conjunto de páginas da Internet com informação diversa, acessível através de computador ou de
outro meio eletrônico. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/site. Acesso em: 03 nov. de 2017.
4
Blog é uma palavra que resulta da simplificação do termo weblog. Este, por sua vez, é resultante da
justaposição das palavras da língua inglesa web e log. Web aparece aqui com o significado de rede (da internet)
enquanto que log é utilizado para designar o registro de atividade ou desempenho regular de algo. Numa
tradução livre podemos definir blog como um "diário online". Blogs são páginas da internet onde regularmente
são publicados diversos conteúdos, como textos, imagens, músicas ou vídeos, tanto podendo ser dedicados a um
assunto específico como ser de âmbito bastante geral. Podem ser mantidos por uma ou várias pessoas e têm
normalmente espaço para comentários dos seus leitores. Disponível em: https://www.significados.com.br/blog/ .
Acesso em: 03 nov. de 2017.
5
O termo comunidade virtual designa um grupo de pessoas que se reúnem na Internet por valores ou por
interesses comuns (por exemplo, uma paixão, um lazer ou um ofício). O objetivo da comunidade é criar valores
por meio das trocas entre membros, compartilhando dicas, conselhos ou, simplesmente, debatendo um
assunto. Disponível em: http://br.ccm.net/contents/761-comunidades-virtuais. Acesso em: 03 nov. de 2017.
6
YouTube é um site de compartilhamento de vídeos enviados pelos usuários através da internet. O termo vem do
Inglês “you” que significa “você” e “tube” que significa “tubo” ou “canal”, mas é usado na gíria para designar
“televisão”. Portanto, o significado do termo “youtube” poderia ser “você transmite” ou “canal feito por você”.
Disponível em: https://www.significados.com.br/youtube/. Acesso em: 03 nov. de 2017.
16
7
Igrejas midiáticas: As igrejas são midiáticas quando se utilizam dos meios de comunicação para proclamar a
mensagem da fé cristã. (BUENO, 2013)
8
Sem Igreja: Os chamados cristãos sem-igreja são os que acompanham mensagens e reflexões pela internet, pela
televisão, pelo celular, e outros meios multimídia. Permanecem como observadores sem comunhão com o outro
e sem compromisso de qualquer tipo. (BUENO, 2013).
17
Os autores deixam claro, que há uma contradição quanto à utilização das mídias, a
questão primordial não é se as utilizações destas ferramentas são boas ou não, se podem ou
não alcançar o objetivo, mas como, para que e por quem estas mídias são utilizadas, cabe ao
sujeito, autor, definir a melhor forma de como utiliza-las.
Neste sentido a ética é um fator preponderante. “Essa prática, estendida às relações
interpessoais, tem nas redes sociais um grande desafio. Ao atuarem nestas redes sociais, as
religiões têm o compromisso de agirem eticamente, sem proselitismo ou intenções
mercadológicas.” (CARVALHO, 2016, p. 66). De fato a utilização das mídias sociais para a
pregação do evangelho torna-se eficiente caso seja efetuada com ética.
Este entrecruzamento mídias sócias e evangelização, este novo formato de igreja
midiatizada, pode estar contribuindo para o êxodo institucional e a formação e o crescimento
desta nova classe de cristãos evangélicos denominados “desigrejados”? Este questionamento é
valido, e importante à discussão para a compreensão deste fenômeno.
9
Discipulado: latim discipulatus, é o estado de discípulo, aprender com o mestre, conjunto de discípulos que
seguem o mestre. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/discipulado. Acesso em: 09 nov.de 2017.
18
A autora relaciona as mídias como grandes aliadas das igrejas em geral, ao processo
de evangelização. Surge então uma forma de publicidade, tornar a pregação vista, conhecida,
além dos muros institucionais. A igreja ganhando lugar e visibilidade, apropriando do espaço
midiático para se atualizar, reconfigurar como resposta ao desenvolvimento e transformações
sociais, econômicas ocorridas no mundo.
Estas transformações ocorridas nas ultimas décadas, sobretudo a explosão tecnológica,
trouxeram a popularização das mídias e redes sociais, uma nova maneira de se comunicar,
mudando consideravelmente o modelo de evangelização, dominado até então pelas mídias de
19
Por outro lado, as igrejas passam a não ter mais o controle do sagrado e da
doutrina como tinham antes. A abertura para a participação e para que
qualquer pessoa que professe uma fé, vinculada ou não formalmente a uma
igreja, manifeste livremente suas ideias, reflexões e opiniões, tirou o controle
dos conteúdos disseminados das mãos das lideranças. Basta ter um simples
blog, nos fartos espaços gratuitos, ou uma conta sem custo nas mais
populares redes sociais digitais, e o espaço está garantido para a livre
manifestação.
Nota-se que a autora destaca, que independente de estar ou não vinculado a uma
igreja, qualquer pessoa pode transmitir conteúdos livremente, manifestar ideias, opiniões, não
necessariamente embasadas teologicamente, pode-se pregar um evangelho livremente, em
nome da fé e espalhar o conteúdo em vários espaços nas redes e mídias sociais. As igrejas
convencionais perdem o controle da doutrina, haja vista que no ambiente virtual não é
necessário possuir uma formação acadêmica, ou deter um conhecimento mínimo para instruir
outros, na sã doutrina.
Neste contexto, surgem divergências teológicas, doutrinárias. A autoridade pastoral e
da liderança ordenada e instituída é muitas vezes questionada e relativizada. Como Cunha
(2014, p. 289) relata:
Como observado pela autora, surgem então novas autoridades religiosas, através de
sites, blogs, comunidades virtuais, canais do youtube, compartilhando suas pregações, críticas,
contestações, tornando-se referência para o rebanho.
Estas novas “autoridades” da fé, muitas vezes admiradas por sua eloquência e
contestação, vêm arrebanhando uma multidão de cristãos evangélicos, que muitas vezes
insatisfeitos com a sua congregação encontram no espaço virtual um evangelho que satisfaça
suas expectativas, haja vista o mesmo ser de fato não raramente, raso, pobre, superficial e sem
fundamentação e muitas vezes sem veracidade teológica.
A pregação do evangelho tem como objetivo levar o indivíduo a uma experiência de
salvação plena, um encontro com o salvador Jesus, trazendo transformação de vida á aquele
que se converte a Cristo. A vivência do evangelho remete ao ensino, comunhão, união,
unidade da fé, ao discipulado, o ter tudo em comum, conforme a Bíblia relata no livro de Atos
2:41-44:
Torna-se claro então que havia uma dedicação ao estudo da palavra, ministrada pelos
apóstolos. A comunhão e o viver em comunidade, experimentando sinais e maravilhas, era
uma característica marcante e clara naqueles que aceitavam a mensagem de salvação e eram
batizados. Havia entre eles uma mudança clara de comportamento, de mentalidade, do modo
de vida, do individualismo para o coletivo.
Para Andreolla (2012), é visível nos evangelhos, Jesus desafiando a todos que queriam
segui-lo a transformação de vida, a escolher não o caminho mais fácil, para experimentar a
salvação.
Pode-se observar que os vínculos obtidos pelo ambiente virtual, são pouco
consistentes, há individualidade e superficialidade de relacionamentos e da fé, percebe-se um
evangelho antropocêntrico10, ao invés de cristocêntrico11. Voltado não para a transformação
do homem, mas na satisfação dos seus desejos, sonhos e necessidades. Levando a uma crise
de esperança e fé, e não um comprometimento com a doutrina.
Neste contexto, de uma verdadeira batalha religiosa, onde cada individuo que professa
ou não uma fé institucionalizada, exprime e compartilha suas ideias, pregadores virtuais, que
se tornam verdadeiras celebridades com multidões de seguidores, surgem um fenômeno que
está em amplo crescimento, uma nova forma de expressar a fé cristã evangélica, os chamados
“desigrejados” ou “sem igreja”, os cristãos desvinculados de qualquer instituição eclesiástica.
10
Antropocêntrico: Que compreende o homem como o centro das atenções. Disponível em:
http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/antropoc%C3%AAntrico/2104/. Acesso em: 09 de nov. de
2017.
11
Cristocêntrico: Que considera Cristo, Jesus Cristo, o centro da história do mundo, do universo; refere-se à
ciência que admite ser Cristo o centro do universo: milagre cristocêntrico. Etimologia (origem da palavra
cristocêntrico): Cristo + centro + ico. Disponível em: https://www.dicio.com.br/cristocentrico/. Acesso em: 09
nov. de 2017.
23
4 OS DESIGREJADOS
Nota-se com estes dados, que é de fato preocupante para a igreja, o crescimento deste
movimento de êxodo institucional, já que começa a surgir uma nova expressão de fé entre os
cristãos evangélicos. Os chamados Desigrejados ou Cristãos Sem Igreja ganharam
visibilidade “mas livrarias e, sobretudo, em sites da internet, onde tribos e comunidades
diversas multiplicaram o tema.” (CAMPOS JUNIOR, 2017, p.23). Questionando a fé e a
autoridade eclesial, e conquistando adeptos que se identificam com suas fundamentações
teóricas para o abandono das igrejas formais.
12
A negação da necessidade da construção de templos, da ordenação de um clero, da elaboração de confissões de
fé, da prática dizimal, estão entre os argumentos mais defendidos entre os desigrejados. (CAMPOS JUNIOR,
2017, p. 26).
24
13
post |póste| (palavra inglesa), substantivo masculino. Publicação numa página da Internet. = POSTAGEM.
Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/post. Acesso em: 09 nov. de 2017.
14
Discípulo: Quem recebe disciplina ou instrução de outra pessoa; aluno. Quem segue as ideias ou imita os
exemplos de outro. Cada um dos apóstolos de Jesus que propagaram seus ensinamentos. Pessoa que adota uma
doutrina, filosofia, ideal. Disponível em: https://www.dicio.com.br/discipulo/. Acesso em: 09 nov. de 2017.
25
na tentativa de fazer da igreja cristã uma verdadeira “assembleia para fora” rompendo os
muros da instituição, e alcançando o mundo.” (COSTA, 2016, p. 125). Este novo modelo
comunitário, torna-se interessante e atrativo, já que o individuo não precisa se sujeitar a
nenhuma autoridade instituída, sendo ele líder de si mesmo.
Observa-se que o ambiente virtual proporciona uma fluidez através das comunidades,
já que, farão parte desta comunidade aqueles que a acessam diariamente, independente de
serem seguidores oficiais ou visitantes esporádicos. Não sendo necessário seguir normas,
padrões de conduta ou convivência. Vê-se então este deslocamento da experiência
comunitária, geográfica, coexistente no mesmo ambiente físico, real, para o contato virtual.
Os desigrejados então tem-se utilizado deste espaço para sua vivencia da fé. “Basta ter
um simples blog, nos fartos espaços gratuitos, ou uma conta sem custo nas mais populares
redes sociais digitais, e o espaço está garantido para a livre manifestação.” (CUNHA, 2014,
p.288). Haja vista que não tenha necessidade de uma formação acadêmica, ou conhecimento
profundo para se manifestar.
Outro elemento que se destaca neste processo de "ocupação cristã das mídias
digitais" é o espaço conquistado pelos desvinculados do ponto de vista
eclesiástico - os chamados sem-igreja ou desigrejados. Pessoas que
professam a fé cristã e que por alguma razão decidiram pela desvinculação
institucional, mas desejam continuar partilhando da fé em comunidade e
expressando publicamente reflexões, ideias, experiências, opiniões. Se isso
já acontecia no nível presencial com as comunidades alternativas que sempre
existiram, com as mídias digitais foi ampliada a possibilidade de encontro e
26
Para a autora, esta ocupação das mídias, através das comunidades virtuais, ampliou a
possibilidade de interação e encontro entre as pessoas que por alguma razão, decidiram se
desvincular das igrejas institucionais, mas querem continuar a professar a sua fé. Mostra-se
visível que as mídias sociais facilitam esta expressão das ideias, experiências, e reflexões.
Mesmo que comunidades alternativas de cristãos sem igreja, presenciais já existissem, a
internet potencializou e ampliou o alcance.
Um exemplo destas comunidades virtuais é a comunidade “Os Desigrejados”, uma
comunidade localizada na rede social Facebook.
Segundo a descrição da página, está a seguinte frase: “Esta página serve a todos que
não compactuam com as heresias do mundo gospel. Igreja, somos nós! AQUI, LOBO NÃO
TEM VEZ!” A comunidade possui 82.970 seguidores, 84.261 curtidas, são publicados vídeos
e conteúdos quase que diariamente, com visualizações que vão de centenas a milhares de
pessoas. Entre os conteúdos postados encontramos pregações, estudos bíblicos, e notícias do
meio cristão evangélico, questionamentos de doutrinas e autoridades eclesiásticas. Nesta
27
15
Link é uma palavra em inglês que significa elo, vínculo ou ligação. No âmbito da informática, a palavra link
pode significar hiperligação, ou seja, uma palavra, texto ou imagem que quando é clicada pelo usuário, o
encaminha para outra página na internet, que pode conter outros textos ou imagens. Disponível em:
https://www.significados.com.br/link/. Acesso em: 09 nov. de 2017.
28
16
Online:palavra inglesa, de on, em + line, linha.Que tem ligação .direta ou remota a um computador ou a uma re
de de computadores, como a Internet. = EM LINHA . Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/online .
Acesso em: 09 nov. de 2017.
29
Para o autor a ética cristã são princípios estabelecidos pela igreja cristã, orientando
através da doutrina, como o cristão deve agir em todas as áreas seja na sociedade, ou na vida.
Sendo assim também transferidos os mesmos valores e ensinamentos para agir em suas
relações no ambiente virtual.
Percebe-se uma contradição no movimento dos desigrejados, haja vista que o ambiente
virtual se tornou em nome da fé, um campo de batalha, contra a igreja institucionalizada e a
sua liderança eclesial. “Portanto, no cristianismo, a fé, a ética e a moral estão intimamente
relacionadas. Aquele que tem fé age de acordo com a ética e a moral daquilo em que acredita,
cuja base é o amor, mandamento maior do cristianismo. A prática do amor leva ao agir ético.”
(CARVALHO, 2016, p.66).
Entende-se que a maior contradição do movimento dos desigrejados, esteja no fato de
que eles “mantem e preza por doutrinas e documentos canônicos, produzidos e ou
reconhecidos na fase institucional da igreja. A mesma fase que denunciam, rejeitam e dirigem
seus mais sonoros gritos.” (CAMPOS JUNIOR, 2017, p.189). Como rejeitar a igreja
institucional, se os fundamentos da doutrina foram produzidos ou reconhecidos por ela?
Constata-se então uma incoerência relevante para a fundamentação do movimento dos
desigrejados.
31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo objetivou promover uma reflexão entre a relação existente entre as mídias
sociais, e a pregação do evangelho, bem como sua relevância e contribuições para o
surgimento de um grupo de cristãos denominados “desigrejados”. A presente pesquisa
contribui para uma percepção mais ampla das transformações e consequências ocorridas na
igreja evangélica por meio da pregação do evangelho nas mídias sociais em larga escala na
pós- modernidade.
Partindo destas informações, o estudo possibilitou a definição de conceitos de termos,
tais como mídias sociais, redes sociais, igrejas midiáticas, levando a um maior entendimento
das suas relações e a religião, considerando como estas mudanças na forma de comunicação
têm influenciado, em diversas áreas da sociedade, incluindo a comunidade evangélica
brasileira.
Permitiu-se observar se esta parceria entre mídia e igreja, tem de fato contribuído com
o fator crescimento numérico e conquista de novos membros e adeptos para a fé cristã. Qual
a relação existente entre a utilização destas ferramentas tecnológicas da internet, e a migração
da igreja congregacional com templos físicos para os ambientes virtuais.
Considerar se a pregação do evangelho tem alcançado o objetivo de tornar o
evangelho conhecido, haja vista que hoje em nome da fé qualquer pessoa independente de
estar ou não ligada a uma instituição religiosa, pode transmitir e compartilhar suas
experiências e reflexões. As igrejas no ambiente virtual muitas vezes perdem o controle da
doutrina.
Neste contexto, surgem divergências teológicas, doutrinárias. A autoridade pastoral e
da liderança ordenada e instituída é muitas vezes questionada e relativizada. Observa-se que
os vínculos obtidos pelo ambiente virtual, são pouco consistentes, há individualidade e
superficialidade de relacionamentos e da fé, percebe-se um evangelho antropocêntrico.
Percebe-se então uma verdadeira batalha religiosa, por meio dos pregadores virtuais,
que se tornam verdadeiras celebridades com multidões de seguidores, proporcionando o
crescimento um fenômeno que está em amplo crescimento, uma nova forma de expressar a fé
cristã evangélica, os chamados “desigrejados”.
Entre os motivos pelos quais este movimento tem ganhado força, e auxiliado neste
êxodo institucional, destacam-se os fiéis, que em algum momento da sua caminhada na
comunidade cristã foram decepcionados com a liderança eclesiástica deturpada , quando esta
apresenta uma má conduta, que se distancia do exemplo bíblico. Nota-se também o abandono
32
por questões teológicas, o fiel nunca sofreu nenhuma decepção com a liderança, mas ele
acredita que a igreja e seus templos, pastores, liturgia, não possuem base bíblica para sua
existência, tornando-se assim para ele desnecessária.
Este novo modelo de fé, conectado no ambiente virtual, através das mídias, redes e
comunidades, mas sem compromisso institucional, vem crescendo de maneira acelerada,
propagando suas visões e doutrinas, formando cada vez mais seguidores e adeptos. As
comunidades virtuais ampliaram a possibilidade de interação e encontro entre as pessoas que
por alguma razão, decidiram se desvincular das igrejas institucionais, mas que continuam a
professar a sua fé. Vê-se que o ambiente virtual torna-se cada vez mais utilizado para
fortalecimento e manutenção da fé dos desigrejados, através das ferramentas das mídias
virtuais online, em suas diversas formas.
Como os princípios da fé cristã se baseiam em uma vivencia em comunidade, desde os
primórdios da igreja, nota-se que esta fé conectada, vivenciada no ambiente virtual, mesmo
que em comunidades organizadas, é em sua maioria, individualista, autônoma, voltada a
satisfação do eu, distanciando-se do verdadeiro evangelho, demostrado por Jesus, seus
discípulos e a igreja primitiva, no qual há uma entrega total, e a busca de fazer não mais a
minha vontade, mas vontade de Deus.
Como a igreja está inserida no contexto social, econômico e político, todas as
transformações corridas na sociedade afetam sua estrutura e funcionamento. Os desigrejados
parecem ser mais um reflexo da sociedade atual na pós-modernidade. Mostra-se um
movimento contraditório e polêmico, já que prezam e defendem doutrinas e documentos que
foram reconhecidos e produzidos pela igreja institucional.
Constata-se que a igreja evangélica no Brasil, passa por um período de mudanças
complexas em sua estrutura e na maneira de condução da fé dos adeptos. Sendo uma realidade
em processo, impossível discorrer sobre todos os aspectos, devendo os pesquisadores se
aproximar e produzir novos conhecimentos. Pois isto é assunto para outra pesquisa.
33
REFERÊNCIAS
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2010.
BUENO, S.H.D.S. As igrejas midiáticas e o aumento dos sem igreja. Vox Faifae: Revista de
Teologia da Faculdade FAIFA, Vol. 5, p. 1-23, 2013.
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em Teologia). Programa de Pós- Graduação, Faculdades EST.
FONSECA, J. S.; SANTOS, E.F.F. O evangelho no novo milênio: o uso da web 2.0: uma
parceria possível escola. In: Anais do Congresso Internacional da Faculdade. EST. São
Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.89-105
RABELO, E. M. S.; ALMEIDA, J.M.D. Por uma crítica da fluidez moderna, segundo bauman
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REIS, A.N.D. “Não entrei em crise com Deus”: a desinstitucionalização da religião na ótica
de ex-alunos (as) de teologia evangélica. São Bernardo do Campo, 2014. Dissertação
(Mestrado em Ciências da religião). Programa de Pós-Graduação, Universidade Medotista de
São Paulo.
RODRIGUES, D.D.S. Os sem religião nos censos brasileiros: sinal de uma crise do
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acesso em: 20 set. de 2017.