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FACULDADE SHALOM DE ENSINO SUPERIOR

ANDRE LUIS PINHO


CLÁUDIA D’ANDRÉA RODRIGUES PINTO PINHO

AS MÍDIAS SOCIAIS, A PREGAÇÃO DO EVANGELHO E A FORMAÇÃO DOS


DESIGREJADOS.

UBERLÂNDIA - MG
2017
ANDRE LUIS PINHO
CLÁUDIA D’ANDRÉA RODRIGUES PINTO PINHO

AS MÍDIAS SOCIAIS, A PREGAÇÃO DO EVANGELHO E A FORMAÇÃO DOS


DESIGREJADOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


no Curso de Graduação em Teologia da
Faculdade Shalom de Ensino Superior –
FASES, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel.

Sob a orientação do (a) Professor (a) Ma.


Marilia das Graças Nascimento Maruyama

UBERLÂNDIA – MG
2017
PINHO, André Luis; PINHO, Cláudia D’Andréa
Rodrigues Pinto.
As mídias sociais, a pregação do evangelho e
a formação dos desigrejados./ André Luis Pinho;
Cláudia D’Andréa Rodrigues Pinto Pinho, 2017.
36 f.:

Orientador: Marilia das Graças Nascimento


Maruyama.

Monografia (Graduação)–Faculdade Shalom de


Ensino Superior. Curso de Teologia. Uberlândia,
2017.

1. 1. Pregação - Cristianismo 2. Igreja e


comunicação de massa. I. Faculdade Shalom de
Ensino Superior. Curso de Teologia. II. Título.
2.
CDU: 251

3.
ANDRE LUIS PINHO
CLÁUDIA D’ANDRÉA RODRIGUES PINTO PINHO

AS MÍDIAS SOCIAIS, A PREGAÇÃO DO EVANGELHO E A FORMAÇÃO DOS


DESIGREJADOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


no Curso de Graduação em Teologia da
Faculdade Shalom de Ensino Superior –
FASES, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel.

Sob a orientação do (a) Professor (a) Ma.


Marília das Graças Nascimento Maruyama

Aprovados em 14/12/2017

COMISSÃO EXAMINADORA

___________________________________________________________________________
Nome: Marília das Graças Nascimento Maruyama
Titulação: Mestre

__________________________________________________________________________
Nome: Pablo Henrique Nascimento Maruyama
Titulação: Especialista

__________________________________________________________________________
Nome: Rosicler Rodrigues Moura
Titulação: Especialista
Dedicamos este trabalho a Deus que nos
capacitou, e nos deu forças para chegarmos até
aqui.
AGRADECIMENTOS

Á Deus, pоr ter nos dado saúde е força pаrа superar as dificuldades.

A Faculdade Shalom de Ensino Superior, pela oportunidade de fazer о curso.

A nossa orientadora professora Ma. Marilia das Graças Nascimento Maruyama, pela
paciência e carinho demonstrados em todo tempo. Pelo suporte no pouco tempo que lhe
coube, pelas suas correções е incentivos. Por nos motivar e acreditar em nós.

A nossa professora e amiga, Maria Tereza Nascimento Maruyama Pinheiro, que nos auxiliou
de forma tão carinhosa, em todo este processo, sempre disponível, e nos mostrou que ensinar
é amar.

Agradecemos а todos aos professores pоr nos proporcionar о conhecimento não apenas
racional, mas а manifestação do caráter е afetividade da educação no processo de formação
profissional, pela dedicação a nós, não somente pоr nos terem ensinado, mas por nos terem
feito aprender.

Ao meu esposo André Luis Pinho, companheiro de todas as horas, que me apoiou, incentivou
e muito auxiliou na construção deste trabalho. Pelo amor e paciência, de todos os dias.

A minha esposa Cláudia D`Andréa R. P. Pinho, pelo amor e paciência, as palavras de ânimo,
incentivo.

As nossas filhas Leticia e Luiza, pelo amor incondicional, e a compreensão em nossos


momentos de ausência neste período.

Nossos agradecimentos aos amigos de curso e ministério, companheiros de trabalho е irmãos


na amizade que fizeram parte da nossa formação е que vão continuar presentes em nossas
vidas com certeza.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, о nosso muito obrigado.
“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no
navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.”
Leonardo da Vinci
RESUMO

O presente estudo tem como foco, avaliar a utilização e importância das mídias e redes sociais
para a pregação do evangelho na contemporaneidade, e suas consequências para a
comunidade eclesiástica, de forma ampla relacionar se há ou não a contribuição destas
ferramentas para a formação de um novo e crescente movimento de êxodo institucional, no
meio dos Cristãos Evangélicos, conhecido como “desigrejados”. Contribuir na compreensão
deste quadro atual. Conceituar mídias e redes sociais e sua importância na
contemporaneidade. Analisar a pregação do evangelho através das mídias sociais, redes, seu
crescimento, influência e consequencias na estrutura eclesiástica atual. Conhecer, os
“desigrejados” suas possíveis causas, fundamentação teórica, contradições. Quem são, onde
eles se encontram, por que este fenômeno é crescente e polêmico? Finalmente discutir, as
implicações para a igreja evangélica contemporânea, mediante estas transformações. O
presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica, fundamentado no
entendimento de renomados autores, dentre os quais destacam-se Ciribeli e Paiva (2011),
Andreolla (2012), Cunha (2014), Souza e Costa (2017), Campos Junior (2017) dentre outros.

Palavras-chave: Mídias Sociais. Pregação do evangelho. Desigrejados.


ABSTRACT

The present article focuses on evaluating the use and importance of media and social networks for the
preaching of the gospel in contemporary times, and its consequences for the ecclesiastical community,
in a wide way to relate whether there is or not the contribution of these tools to the formation of a new
and growing movement of institutional exodus, among the Evangelical Christians, known as
Christians without a church. Contribute to the understanding of this current situation. Conceptualizing
media and social networks and their importance in the contemporary world. Analyze the preaching of
the gospel through social media, networks, its growth, influence and consequences in the current
ecclesiastical structure. To know, the Christians without a church their possible causes, theoretical
foundation, contradictions. Who are they, where are they, why is this phenomenon growing and
controversial? Finally, discuss the implications for the contemporary evangelical church through these
transformations. The present work was carried out by means of a bibliographical research, based on
the understanding of great authors, among which stand out Ciribeli and Paiva (2011), Andreolla
(2012), Cunha (2014), Souza e Costa (2017), Campos Junior (2017) among others.

Keywords: Social media. Preaching the gospel. Christians without a church.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Captura da página inicial do Facebook – Comunidade “Os Desigrejados” ......... 26

FIGURA 2: Captura da página inicial blog – Desigrejados TM ................................................ 27


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

2 AS MÍDIAS SOCIAIS E A IGREJA CONTEMPORÂNEA ............................................... 13

3 A PREGAÇÃO DO EVANGELHO POR MEIO DAS REDES E MÍDIAS SOCIAIS ....... 18

4 OS DESIGREJADOS ............................................................................................................ 23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 31

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33
10

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a evolução tecnológica, tem transformado o universo humano


social. Vive-se um mundo totalmente globalizado e digitalizado na contemporaneidade. Este
avanço tecnológico juntamente com a facilidade de informação, muitas vezes em tempo real,
tem propiciado uma geração cada vez mais conectada.
Comunicar-se e relacionar-se é um dos princípios mais importantes para o convívio
social. Neste contexto digital, a comunicação virtual ganha terreno e pode-se dar de diversas
maneiras, individuais ou em grupos, trazendo diversas vantagens. Percebe-se então a
utilização cada dia maior das mídias e redes sociais.
Importante definir e estabelecer as diferenças entre elas, para compreender melhor
seus objetivos. Ciribeli e Paiva (2011) descrevem que as redes sociais são formadas por
indivíduos, que interagem entre si com objetivos e valores comuns, seu foco são os
relacionamentos. Já as mídias sociais utilizam-se de ferramentas para divulgação,
compartilhamento de conteúdo. Seu objetivo é o compartilhamento, podendo ou não gerar
relacionamentos.
Nota-se uma tendência do aumento da utilização destas ferramentas pelas pessoas,
visto que um clique muitas vezes facilita e agiliza, nas questões cotidianas. Há diversos tipos
de redes e mídias existentes, com diferentes finalidades e público alvo, sendo hoje sem
sombra de dúvida, um dos maiores símbolos da era da informação.
O desenvolvimento de novas tecnologias para a comunicação traz em um primeiro
olhar inúmeros benefícios em sua utilização, mas no decorrer deste progresso tecnológico,
observam-se riscos e danos. Assim é importante entender as possibilidades de utilização
destas ferramentas, suas vantagens e perigos. Entretanto o desafio é saber equilibrar a
utilização destas tecnologias para os relacionamentos. Separar o virtual e o real, o digital e o
palpável.
É notória a influência das mídias sociais no comportamento social. No contexto
eclesiástico isto não é diferente, todo cristão é vocacionado, por meio da grande comissão, a
pregar o evangelho a todas as nações da terra. Nessa perspectiva as mídias sociais, na
atualidade, tem se tornado um instrumento rápido e eficaz, de longo alcance na propagação do
evangelho.
Compartilhar versículos, vídeos, pregações, estudos, posicionamentos, sem necessitar
sair de casa, aparentemente é um benefício para os cristãos e a igreja. No entanto, com as
possibilidades criadas pela tecnologia na evangelização é esperado o surgimento de
11

questionamentos. Tais como: Esta evangelização é de fato eficiente? O objetivo da


evangelização, que é a salvação e transformação do modo de viver, tem sido alcançado? A
evangelização virtual tem contribuído para o crescimento da igreja?
Com os avanços tecnológicos surge no contexto religioso uma nova categoria de
cristãos, os chamados “desigrejados”1, que vêm ganhando força e visibilidade. Tem se
tornado um elemento gerador de preocupação, haja vista tal fato, tem contribuído para o
êxodo institucional. Estudiosos sociais, pastores, líderes, teólogos, igrejas, as mídias cristã e
secular, tem interesse em conhecer e compreender esta crise de contestação da igreja
institucionalizada na atualidade.
Ainda que este fenômeno religioso ocorra em outras instituições também de cunho
cristão e que se apresente com outras designações, ou nomes diferentes, o mesmo tem um
aspecto social, de insatisfação com o convencional, no contexto religioso, o que torna ampla a
sua abrangência, pautado neste aspecto, esta pesquisa ater-se-á seu foco apenas nos cristãos
evangélicos.
Este trabalho tem como objetivo geral, identificar até que ponto, as mídias sociais e a
pregação do evangelho por meio das redes, estão contribuindo ou não para a formação desta
nova classe conhecida como “desigrejados”. O qual se desdobra nos seguintes objetivos
específicos, conceituar mídias e redes sociais e sua importância na contemporaneidade.
Analisar a pregação do evangelho através das mídias sociais, redes, seu crescimento,
influência e consequencias na estrutura eclesiástica atual.
Pretende-se ainda estudar o fenômeno crescente dos “desigrejados” suas possíveis
causas, fundamentação teórica, contradições, por que e como ocorre. Nessa perspectiva, busca
responder os seguintes questionamentos: Quem são os desigrejados? Onde eles se encontram?
Quais as causas do êxodo eclesiástico? Por que este fenômeno é crescente e polêmico?
Em se tratando de um fenomeno social, de cunho religioso, questiona-se ainda se o
crescimento deste pode modificar a estrutura da igreja na modernidade. Como a facilidade de
acesso e informação por meio das mídias sociais pode ou não influenciar e ou auxiliar na
formaçao de uma nova categoria de cristãos evangelicos?
A partir desta premissa serão explanados os seguintes temas: As mídias sociais e a
igreja contemporânea; A pregação do evangelho por meio das redes e midias; Os
“desigrejados”. O presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica,

1
Desigrejados: Cristãos que deixaram de congregar nas igrejas. Um neologismo foi criado para pontuar esta
tendência. São chamados de desigrejados e defendem a inutilidade na existência da igreja institucionalizada.
Campos Junior (2017)
12

fundamentado no entendimento de grandes autores, dentre os quais destacam-se Ciribeli e


Paiva (2011), Andreolla (2012), Cunha (2014), Souza e Costa (2017), Campos Junior (2017)
dentre outros.
13

2 AS MÍDIAS SOCIAIS E A IGREJA CONTEMPORÂNEA

A contemporaneidade é marcada pelo avanço tecnológico e sua geração constante e


crescente de conhecimento por meio da facilidade de acesso á informação. Com muita
rapidez, gera-se e compartilha-se conteúdo, os quais são disponibilizados constantemente por
meio das mídias e redes sociais. Vive-se a era do conhecimento, da comunicação, da
informação, da conectividade. Os indivíduos conectados passaram não somente a ter um
acesso facilitado à informação, como também se tornaram eles mesmos agentes dessa
comunicação numa interação continua com as mídias e redes sociais.
Souza e Costa (2017) descrevem que “As mídias sociais têm uma proporção
gigantesca na atualidade, com seus milhões de usuários, e justamente por este motivo houve
uma transformação na forma de comunicação entre as pessoas.” Esta transformação marcada
pela forma de se comunicar, está em constante avanço, visto que há algumas décadas a
comunicação resumia-se ao contato pessoal, telefonemas, cartas e e-mails. Na atualidade
cartas, e-mails, são cada vez menos utilizados, as mídias dominam a comunicação,
promovendo um deslocamento do ambiente real para o virtual. Com o crescimento da
internet, a facilidade de acesso, faz com que adultos, jovens, e até mesmo crianças, prefiram
hoje a comunicação por meio das mídias sociais.
A internet potencializa a interação dos indivíduos de forma geral e a divulgação do
evangelho, consequentemente, sem a necessidade de interação presencial, levando para o
ambiente virtual as relações individuais e coletivas. De acordo com Fonseca e Santos (2012,
p. 93):

Contemporaneamente convive-se com suspeita e deslumbramento frente à


veracidade e potencialidade das mídias e, em especial, da Internet, tanto para
as interações em geral quanto para a difusão do Evangelho. Desencadeando
assim algumas consequências como o deslocamento do local de ocorrência
das interações, ou seja, do presencial para o virtual; possibilitando assim
uma nova lógica da inter-relação tempo espaço, que permeia as ações
individuais e coletivas.

Percebe-se, diante da afirmação acima a relevância, da utilização da internet e das


mídias sociais, na transformação da forma de comunicação e interação do individuo na
sociedade em diversas áreas, incluindo até difusão da mensagem do evangelho na atualidade.
Nesse sentido é possível constar que um aspecto que tem contribuído para que a
evangelização midiática se torne uma das principais estratégias dos cristãos, é seu alto
potencial de alcance.
14

As redes sociais, “existem em todos os lugares e podem ser formadas por pessoas ou
organizações que partilham valores e objetivos comuns.” (CIRIBELI; PAIVA, 2011, p. 59).
Muitos utilizam os termos redes sociais e mídias sociais como sinônimos, no entanto faz se
necessário diferenciar um do outro haja vista as duas apresentarem diferenças primordiais
entre si.
Segundo Souza e Costa (2017), a distinção entre os termos é facilmente observada por
meio da finalidade para sua utilização.

É muito comum confundir os termos Mídias Sociais e Redes Sociais, porém


as redes sociais são espaços limitados à conexão pessoal de indivíduos em
sites de relacionamento como o facebook, por exemplo. Já as Mídias Sociais
englobam as Redes Sociais e também outros tipos de informações,
como blogs e micro-blogs, social bookmarking, redes de aprendizado, redes
de compartilhamento de vídeos e fotos como o YouTube e Instagram, estes
espaços podem ser de comunicação, multimídia, entretenimento ou
colaborativos. (SOUZA; COSTA, 2017, p. 5).

Os autores descrevem a diferença entre os termos delimitando o espaço utilizado pelos


indivíduos em cada um. Apesar das redes sociais estarem contidas nas mídias, são coisas
distintas e suas finalidades de utilização são bem diferentes. As redes sociais são amplamente
utilizadas para relacionamentos, socialização, interações interpessoais, já as mídias usadas
para compartilhamento de vídeos e outros para a divulgação de conteúdo de entretenimento
ou comunicação.
Os diversos tipos de mídias existentes possuem finalidades próprias e público alvo
definido, conforme Ciribeli e Paiva (2011, p. 59):

São diversos os tipos de mídias sociais existentes, com diferentes finalidades


e público-alvo, que têm foco em contatos profissionais, amizades,
relacionamentos amorosos, pesquisas, dentre outros. Essas mídias dispõem
de ferramentas que facilitam a comunicação entre os usuários, inteirando-os
do conteúdo gerado por eles mesmos, com postagem de mensagens
instantâneas e textos, compartilhamento de vídeos, áudios e imagens.

De acordo com a afirmação acima as mídias facilitam a comunicação por meio de


ferramentas disponíveis para o compartilhamento, de conteúdos gerados pelos usuários,
interagindo os, dependo de seus interesses comuns, com uma ampla variedade que pode ir
desde relacionamentos amorosos, a contatos profissionais. O conteúdo gerado também é
variável dependendo da mídia utilizada, de mensagens instantâneas a vídeos.
Neste contexto, do universo conectado e “com o constante crescimento da internet e
das mídias sociais, estão se formando redes sociais bem definidas com os mais diversificados
perfis, expondo opiniões e compartilhando momentos.” (CIRIBELI; PAIVA, 2011, p. 60).
15

Percebe-se que quanto mais cresce a utilização da internet e das mídias, formam-se redes bem
definidas, onde os espaços virtuais são utilizados para propagar informações de diversas
maneiras.
Entende-se então que apesar de não haver um conceito formulado, a diferença entre
mídias sociais e redes sociais, está relacionada a seu objetivo principal, ou seja, as redes cujo
objetivo principal é relacionamento interpessoal, ou em grupos com objetivos afins, como
Facebook2 e as mídias sociais que englobam não somente as redes sociais, mas também as
redes de compartilhamento, de aprendizado, comunicação, de ideias, vídeos, áudios, imagens,
arquivos, podendo ou não gerar relacionamento direto entre os indivíduos.
Esta mudança na forma de comunicação tem influenciado, em diversas áreas da
sociedade, incluindo a comunidade evangélica brasileira, pois “se a tecnologia, em especial a
revolução digital, modifica o modo de pensar as coisas, isso não acabará por dizer respeito
também de certo modo à fé e sua comunicação?” (SPADARO, 2012 apud COSTA, 2016, p.
103). As mídias hoje se tornaram uma grande fonte de informações sobre a religião, suas
formas e tendências. É visível esta interação entre mídia e religião na atualidade. Todos os
dias veem-se criações de sites3, blogs4, comunidades virtuais5, canais do you tube6, entre
outros, para comunicação da fé e crenças.
Diante destas mudanças na forma de comunicar a fé torna-se necessário uma reflexão,
a respeito das possíveis implicações na igreja contemporânea. “E, de fato, as mais diversas

2
Facebook é uma rede social lançada em 2004. Este termo é composto por face (que significa cara em
português) e book (que significa livro), o que indica que a tradução literal de facebook pode ser "livro de caras".
O Facebook é gratuito para os usuários. Os usuários criam perfis que contêm fotos e listas de interesses pessoais,
trocando mensagens privadas e públicas entre si e participantes de grupos de amigos. O Facebook possui várias
ferramentas, como o mural, que é um espaço na página de perfil do usuário que permite aos amigos postar
mensagens para ele ver. Disponível em: https://www.significados.com.br/facebook/. Acesso em: 03 nov. de
2017.
3
Site: Página ou conjunto de páginas da Internet com informação diversa, acessível através de computador ou de
outro meio eletrônico. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/site. Acesso em: 03 nov. de 2017.
4
Blog é uma palavra que resulta da simplificação do termo weblog. Este, por sua vez, é resultante da
justaposição das palavras da língua inglesa web e log. Web aparece aqui com o significado de rede (da internet)
enquanto que log é utilizado para designar o registro de atividade ou desempenho regular de algo. Numa
tradução livre podemos definir blog como um "diário online". Blogs são páginas da internet onde regularmente
são publicados diversos conteúdos, como textos, imagens, músicas ou vídeos, tanto podendo ser dedicados a um
assunto específico como ser de âmbito bastante geral. Podem ser mantidos por uma ou várias pessoas e têm
normalmente espaço para comentários dos seus leitores. Disponível em: https://www.significados.com.br/blog/ .
Acesso em: 03 nov. de 2017.
5
O termo comunidade virtual designa um grupo de pessoas que se reúnem na Internet por valores ou por
interesses comuns (por exemplo, uma paixão, um lazer ou um ofício). O objetivo da comunidade é criar valores
por meio das trocas entre membros, compartilhando dicas, conselhos ou, simplesmente, debatendo um
assunto. Disponível em: http://br.ccm.net/contents/761-comunidades-virtuais. Acesso em: 03 nov. de 2017.
6
YouTube é um site de compartilhamento de vídeos enviados pelos usuários através da internet. O termo vem do
Inglês “you” que significa “você” e “tube” que significa “tubo” ou “canal”, mas é usado na gíria para designar
“televisão”. Portanto, o significado do termo “youtube” poderia ser “você transmite” ou “canal feito por você”.
Disponível em: https://www.significados.com.br/youtube/. Acesso em: 03 nov. de 2017.
16

expressões de fé ao redor do mundo têm migrado para o ambiente digital, enxergando a


internet e as novas tecnologias como mais uma extensão para a religiosidade já vivida nos
templos e na vida cotidiana.” (COSTA, 2016, p. 103). Esta extensão da religiosidade, levando
a religião para fora dos templos religiosos, traz implicações importantes, mudando a realidade
das igrejas evangélicas institucionais.
Então, percebe-se “que a contemporaneidade representa um momento marcado por
um conjunto de mudanças globais, sem precedentes que afetaram, inevitavelmente, o
comportamento da sociedade, em todas as esferas, inclusive a religiosa.” (SANTOS, 2014, p.
52). Todas estas mudanças vêm afetando de forma incisiva as instituições religiosas em geral,
mas especificamente a igreja evangélica brasileira.
Estas transformações passam pelo âmbito das pregações, ministrações, louvores,
testemunhos, estudos, opiniões pessoais. Sendo abrangentes os meios de utilização para
evangelização. “É preciso entender como a midiatização, enquanto processo transformador
[...], vem transformando as igrejas evangélicas que fazem parte de um campo religioso que se
articula com o campo comunicacional.” (BUENO, 2013, p.3). Esta nova maneira de
comunicar pode auxiliar na abertura de novos horizontes, aumentar as possibilidades e
diminuir as barreiras de proclamação da fé.
Esta migração da igreja congregacional com templos físicos para os ambientes
virtuais abre possibilidades para um novo modelo de fé, que dá origem as igrejas midiáticas7 e
os movimentos crescentes de contestação da igreja institucionalizada, denominados
“desigrejados”, e/ou cristãos “sem igreja”8. Segundo relata Costa (2016, p. 103):

Mas, para além da mera confessionalidade, as tecnologias da comunicação


também têm sido empregadas religiosamente como ferramentas de
contestação, engajamento e transformação da realidade. Pois se a presente
cultura digital tem contribuído para o florescimento de novos movimentos
sociais de caráter nitidamente reivindicatório e revolucionário, isso continua
a ser válido no caso do ativismo religioso.

Percebe-se, que tanto no contexto social como no âmbito religioso, o surgimento de


novos movimentos revolucionários, de contestação, por meio das mídias. Muitos cristãos tem
se utilizado destas ferramentas tecnológicas para ativismo, buscando mudanças no formato de
exercício da fé. Entendendo que o papel da igreja seria entre outros a unidade dos cristãos, a

7
Igrejas midiáticas: As igrejas são midiáticas quando se utilizam dos meios de comunicação para proclamar a
mensagem da fé cristã. (BUENO, 2013)
8
Sem Igreja: Os chamados cristãos sem-igreja são os que acompanham mensagens e reflexões pela internet, pela
televisão, pelo celular, e outros meios multimídia. Permanecem como observadores sem comunhão com o outro
e sem compromisso de qualquer tipo. (BUENO, 2013).
17

comunhão, o cuidado, o discipulado9 e disseminação do evangelho, o uso destas mídias,


através da contestação, critica e do ativismo, estaria de fato auxiliando na evangelização?
É importante refletir sobre o uso adequado das mídias, para o alcance do objetivo de
evangelizar, anunciar as boas novas de salvação. Para Fonseca e Santos (2012), as mídias são
um meio neutro de evangelização, não podendo fazer o mal ou bem,

Um questionamento salutar e apropriado é sobre a relevância das mídias.


Alguns dizem que não servem para evangelizar, outros que é um veículo do
mal. Na vertente contrária, alguns dizem que é uma revolução frente às
possibilidades de evangelização, que podem levar o Evangelho, ao mesmo
tempo, a pessoas geograficamente distantes, entre outros argumentos. Essa
discussão também ocorre em outras áreas e o fato central é que muitos
colocam a mídia como algo dotado de consciência, podendo fazer o bem ou
o mal. No entanto, o ponto a ser pensado deveria ser por quem e como essas
mídias estão sendo utilizadas, pois a mídia por si só é neutra, por se tratar de
um meio. No entanto, ao se definirem formas, meios, metas e conteúdos,
entre outros aspectos, elas são dotadas de significados e significantes,
tornando-se capazes de realizar ações. (FONSECA; SANTOS, 2012, p.96).

Os autores deixam claro, que há uma contradição quanto à utilização das mídias, a
questão primordial não é se as utilizações destas ferramentas são boas ou não, se podem ou
não alcançar o objetivo, mas como, para que e por quem estas mídias são utilizadas, cabe ao
sujeito, autor, definir a melhor forma de como utiliza-las.
Neste sentido a ética é um fator preponderante. “Essa prática, estendida às relações
interpessoais, tem nas redes sociais um grande desafio. Ao atuarem nestas redes sociais, as
religiões têm o compromisso de agirem eticamente, sem proselitismo ou intenções
mercadológicas.” (CARVALHO, 2016, p. 66). De fato a utilização das mídias sociais para a
pregação do evangelho torna-se eficiente caso seja efetuada com ética.
Este entrecruzamento mídias sócias e evangelização, este novo formato de igreja
midiatizada, pode estar contribuindo para o êxodo institucional e a formação e o crescimento
desta nova classe de cristãos evangélicos denominados “desigrejados”? Este questionamento é
valido, e importante à discussão para a compreensão deste fenômeno.

9
Discipulado: latim discipulatus, é o estado de discípulo, aprender com o mestre, conjunto de discípulos que
seguem o mestre. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/discipulado. Acesso em: 09 nov.de 2017.
18

3 A PREGAÇÃO DO EVANGELHO POR MEIO DAS REDES E MÍDIAS SOCIAIS

O maior propósito da igreja evangélica, sem dúvida nenhuma é a propagação do


evangelho a todas as nações da terra. Cada cristão é vocacionado, por meio da grande
comissão declarada por Jesus no livro de Marcos 16:15 “E disse-lhes: Ide por todo o mundo,
pregai o evangelho a toda criatura.” (BIBLIA, 2001, p. 1020). O foco desta mensagem é
pregar, em todo mundo, a toda criatura. Devido á amplitude deste chamado, percebe-se então,
a importância da utilização dos meios de comunicação, para um alcance mais efetivo do
objetivo de tornar o evangelho conhecido.
De fato, o crescimento da igreja está diretamente relacionado à pregação do
evangelho. Quanto mais divulgada a mensagem da salvação, mais efetivo o alcance. Então a
utilização das mídias e redes sociais torna-se uma grande aliada para proclamação da fé,
devido seu grande alcance e popularidade, facilitando o cumprimento do propósito de
evangelização. Nota-se que esta parceria entre mídias e igreja para a pregação do evangelho,
não é uma coisa nova. Com o avanço tecnológico acelerado esta relação vai se aprimorando,
tornando-se cada vez mais atual e constante. Segundo Cunha (2014), este relacionamento traz
como consequência o crescimento do cristianismo, tornando as igrejas visíveis,

As igrejas em geral nunca rejeitaram as mídias, pelo contrário.


Compreendendo mais o processo da comunicação como um movimento de
convencimento do outro do que como possibilidade de interação/comunhão,
as igrejas, tanto a Católica quanto as Evangélicas, desde a Reforma
Protestante até a época da emergência das mídias eletrônicas, em especial do
rádio e da televisão, baseavam-se no pensamento de que convencer pessoas a
optarem pelo Evangelho, e consequentemente pela adesão a um determinado
segmento cristão, geraria um efeito-chave: o crescimento do Cristianismo.
Ao lado disso, a perspectiva da visibilidade também era elemento importante
na aproximação igreja-mídias eletrônicas. As mídias tornavam possível uma
publicidade das igrejas, a visibilidade de sua presença nos espaços sociais.
(CUNHA, 2014, p. 285).

A autora relaciona as mídias como grandes aliadas das igrejas em geral, ao processo
de evangelização. Surge então uma forma de publicidade, tornar a pregação vista, conhecida,
além dos muros institucionais. A igreja ganhando lugar e visibilidade, apropriando do espaço
midiático para se atualizar, reconfigurar como resposta ao desenvolvimento e transformações
sociais, econômicas ocorridas no mundo.
Estas transformações ocorridas nas ultimas décadas, sobretudo a explosão tecnológica,
trouxeram a popularização das mídias e redes sociais, uma nova maneira de se comunicar,
mudando consideravelmente o modelo de evangelização, dominado até então pelas mídias de
19

televisão e rádio. Acompanhando o desenvolvimento na comunicação, estabelece-se a


pregação na era digital.
“Percebe-se que com o desenvolvimento da internet nasce uma nova vivência e novas
manifestações de fé.” (ANDREOLLA, 2012, p.58). O individuo antes receptor passivo das
mensagens através da televisão e rádio, agora por meio das mídias sociais, experimenta de
uma nova maneira de fé, a digitalizada. Tornando-se agente ativo, por meio da interação e
utilização de ferramentas disponibilizadas para compartilhamento de conteúdo.
“A possibilidade de interação em sites e em outras ferramentas pelas redes sociais leva
o ser humano a tornar-se condutor de sua própria fé.” (ANDREOLLA, 2012, p. 59). Uma
questão importante é que através desta interação e expressão, o ser humano passa não somente
a conduzir a sua própria fé, mas também influenciar a muitos, tornando-se assim condutor da
fé de outros.
Vê-se que, “um grande número de pregadores, nem sempre estudioso e preparado,
partiu para os microfones” (ALMEIDA, 2010, p. 35). Agora, não somente os pastores,
teólogos, líderes preparados e estudiosos, ministram ao rebanho, mas qualquer pessoa,
pertencentes ou não as instituições religiosas, utiliza-se das mídias para compartilhar suas
ideias, experiências, frustrações e opiniões. Fato que ao mesmo tempo pode ser benéfico
expandindo conhecimentos, e maléfico quanto ao conteúdo partilhado, já que muitos não
possuem o preparo necessário, falsas doutrinas e abusos, podem ser difundidos em meio a um
rebanho sedento.
Para Cunha (2014), relação mídia-igreja mudou, após avanço da internet, à medida
que a interação dos indivíduos tornou-se possível, trazendo mudanças significativas às
instituições:

A dimensão da participação e da transformação dos receptores em emissores,


por meio de processos de interação possibilitados pelas novas mídias,
especialmente, pela internet, mudou radicalmente o quadro da relação
igrejas-mídias. É desafio a ser respondido enumerar todas as páginas na
internet ligadas a grupos cristãos, listadas pelos mecanismos de busca na
rede: elas são milhares e a relação inclui desde as institucionais, de todas as
denominações cristãs, passando pelas mais artesanais, montadas por grupos
de igrejas, até as mais sofisticadas e mais acessadas pertencentes a grupos
musicais ou grupos de mídia. (CUNHA, 2014, p. 288).

Para a autora há um crescimento considerável do conteúdo ligado a grupos cristãos,


passando de milhares de páginas, por meio desta interação, causada pelas mídias. Estes
conteúdos aumentam a cada dia, pois com a popularização das mídias e a facilidade de acesso,
20

de transmissão e recepção, agora qualquer pessoa pode se expressar, interagir, no ambiente


virtual, até mesmo liderar um rebanho, que por muitas vezes não o pertence.
“A fé na Era Digital depara-se com atos e práticas desenvolvidas pelo fiel que
interage com o sistema em busca da construção de sentido. Portanto, constroem-se sentidos
para a fé, não mais em catedrais de pedras e sim [...] no espaço virtual.” (ANDREOLLA,
2012, p. 59). Apesar de parecer um fator comum à modernidade, transpondo fronteiras, este
deslocamento do exercício da fé, da pregação do evangelho para o ambiente virtual, pode
comprometer a estrutura eclesiástica tradicional.
Esta livre expressão tirou das mãos dos lideres institucionalizados, o controle da
doutrina, segundo Cunha (2014, p. 288):

Por outro lado, as igrejas passam a não ter mais o controle do sagrado e da
doutrina como tinham antes. A abertura para a participação e para que
qualquer pessoa que professe uma fé, vinculada ou não formalmente a uma
igreja, manifeste livremente suas ideias, reflexões e opiniões, tirou o controle
dos conteúdos disseminados das mãos das lideranças. Basta ter um simples
blog, nos fartos espaços gratuitos, ou uma conta sem custo nas mais
populares redes sociais digitais, e o espaço está garantido para a livre
manifestação.

Nota-se que a autora destaca, que independente de estar ou não vinculado a uma
igreja, qualquer pessoa pode transmitir conteúdos livremente, manifestar ideias, opiniões, não
necessariamente embasadas teologicamente, pode-se pregar um evangelho livremente, em
nome da fé e espalhar o conteúdo em vários espaços nas redes e mídias sociais. As igrejas
convencionais perdem o controle da doutrina, haja vista que no ambiente virtual não é
necessário possuir uma formação acadêmica, ou deter um conhecimento mínimo para instruir
outros, na sã doutrina.
Neste contexto, surgem divergências teológicas, doutrinárias. A autoridade pastoral e
da liderança ordenada e instituída é muitas vezes questionada e relativizada. Como Cunha
(2014, p. 289) relata:

Dessa forma, doutrinas e tradições teológicas passaram a ser relativizadas


bem como a autoridade dos líderes clássicos - pastores e presidentes de
igrejas. Questionamentos de afirmações confessionais são pregados, críticas
são explicitadas. Esta uma característica forte dos espaços midiáticos
digitais: as pessoas se sentem liberadas e encorajadas para expressar o que
nunca expressariam num encontro face a face. Processo que ainda faz
emergir das mídias novas autoridades religiosas - celebridades (padres e
pastores midiáticos, cantores gospel), blogueiros - que se tornam referência
para o modo de pensar, agir, ver o mundo, de muitos cristãos.
21

Como observado pela autora, surgem então novas autoridades religiosas, através de
sites, blogs, comunidades virtuais, canais do youtube, compartilhando suas pregações, críticas,
contestações, tornando-se referência para o rebanho.
Estas novas “autoridades” da fé, muitas vezes admiradas por sua eloquência e
contestação, vêm arrebanhando uma multidão de cristãos evangélicos, que muitas vezes
insatisfeitos com a sua congregação encontram no espaço virtual um evangelho que satisfaça
suas expectativas, haja vista o mesmo ser de fato não raramente, raso, pobre, superficial e sem
fundamentação e muitas vezes sem veracidade teológica.
A pregação do evangelho tem como objetivo levar o indivíduo a uma experiência de
salvação plena, um encontro com o salvador Jesus, trazendo transformação de vida á aquele
que se converte a Cristo. A vivência do evangelho remete ao ensino, comunhão, união,
unidade da fé, ao discipulado, o ter tudo em comum, conforme a Bíblia relata no livro de Atos
2:41-44:

Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um


acréscimo de cerca de três mil pessoas. Eles se dedicavam ao ensino dos
apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios
de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os
que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. (BIBLIA, 2001,
p.1109).

Torna-se claro então que havia uma dedicação ao estudo da palavra, ministrada pelos
apóstolos. A comunhão e o viver em comunidade, experimentando sinais e maravilhas, era
uma característica marcante e clara naqueles que aceitavam a mensagem de salvação e eram
batizados. Havia entre eles uma mudança clara de comportamento, de mentalidade, do modo
de vida, do individualismo para o coletivo.
Para Andreolla (2012), é visível nos evangelhos, Jesus desafiando a todos que queriam
segui-lo a transformação de vida, a escolher não o caminho mais fácil, para experimentar a
salvação.

O objetivo desse processo comunicativo é sempre levar a pessoa a uma


experiência salvífica plenificadora e significativa. Essa mensagem, porém,
nem sempre é devidamente experimentada e testemunhada nas comunidades
virtuais. Uma consequência é a crise da esperança, uma das marcas da atual
sociedade pragmática e utilitarista. Os vínculos nascidos nas comunidades
virtuais têm pouca consistência e solidez e o consumismo e o
hiperindividualismo afetam boa parte da humanidade. A busca da fé se dá de
forma fragmentada, pois hoje não se aspira mais a totalidade. Isso leva o ser
humano a pensar que basta-se a si e não precisa de alteridades. Em função da
comunicação construída nos sentidos, percebe-se que a fé vivida por boa
parte dos cristãos não é suficientemente comprometida com o testemunho do
Evangelho porque carece de referenciais básicos de discernimento. A cultura
22

midiática valoriza o espetáculo e a satisfação de necessidades ou desejos e


essas parecem ser também as referências de grande número de expressões da
fé presentes na mídia, tais como curas, milagres e shows religiosos.
(ANDREOLLA, 2012, p. 63).

Pode-se observar que os vínculos obtidos pelo ambiente virtual, são pouco
consistentes, há individualidade e superficialidade de relacionamentos e da fé, percebe-se um
evangelho antropocêntrico10, ao invés de cristocêntrico11. Voltado não para a transformação
do homem, mas na satisfação dos seus desejos, sonhos e necessidades. Levando a uma crise
de esperança e fé, e não um comprometimento com a doutrina.
Neste contexto, de uma verdadeira batalha religiosa, onde cada individuo que professa
ou não uma fé institucionalizada, exprime e compartilha suas ideias, pregadores virtuais, que
se tornam verdadeiras celebridades com multidões de seguidores, surgem um fenômeno que
está em amplo crescimento, uma nova forma de expressar a fé cristã evangélica, os chamados
“desigrejados” ou “sem igreja”, os cristãos desvinculados de qualquer instituição eclesiástica.

10
Antropocêntrico: Que compreende o homem como o centro das atenções. Disponível em:
http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/antropoc%C3%AAntrico/2104/. Acesso em: 09 de nov. de
2017.
11
Cristocêntrico: Que considera Cristo, Jesus Cristo, o centro da história do mundo, do universo; refere-se à
ciência que admite ser Cristo o centro do universo: milagre cristocêntrico. Etimologia (origem da palavra
cristocêntrico): Cristo + centro + ico. Disponível em: https://www.dicio.com.br/cristocentrico/. Acesso em: 09
nov. de 2017.
23

4 OS DESIGREJADOS

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do ano de 2010,


registraram no censo, um número crescente de brasileiros que se declararam como
evangélicos sem vínculos institucionais. Um contingente de aproximadamente oito milhões de
brasileiros, que não congregam ou não estão de fato ligados a uma denominação religiosa.
Fato que surpreende e desperta a curiosidade não somente da comunidade evangélica, mas
também de pesquisadores, estudiosos sociais, teólogos a respeito desta nova expressão de fé.
Segundo Teixeira e Menezes (2013, p. 324):

O universo ‘evangélicos não determinados’, sem vínculo institucional, com


múltipla pertença ou não determinados: de um pouco mais de 700 mil foram
para mais de 8 milhões. Isto é, de 3,8% dos evangélicos passaram para
23,9% destes, ou quase, 1 em cada 4 evangélicos não se identifica com
nenhuma instituição especificamente.

Nota-se com estes dados, que é de fato preocupante para a igreja, o crescimento deste
movimento de êxodo institucional, já que começa a surgir uma nova expressão de fé entre os
cristãos evangélicos. Os chamados Desigrejados ou Cristãos Sem Igreja ganharam
visibilidade “mas livrarias e, sobretudo, em sites da internet, onde tribos e comunidades
diversas multiplicaram o tema.” (CAMPOS JUNIOR, 2017, p.23). Questionando a fé e a
autoridade eclesial, e conquistando adeptos que se identificam com suas fundamentações
teóricas para o abandono das igrejas formais.

O movimento, que tem sido chamado por alguns teólogos de desigrejados,


não é amorfo. Pelo contrário, é organizado. Possui literatura, sites e toda
uma teorização que procura justifica-lo teologicamente, e sua performance
tem chamado a atenção da imprensa cristã e secular. (CAMPOS JUNIOR,
2017, p.26).

De acordo com o autor, o movimento dos desigrejados, não é desorganizado, aleatório


e sua organização passa deste a literatura já disponível á ambientes virtuais como sites e
blogs, canais, onde não apenas disseminam suas doutrinas12 e justificativas, como também
atraem seguidores e curiosos. A orientação dos féis adeptos e simpatizantes do movimento dá-
se especialmente através da internet, pelas mídias sociais. Bueno (2013) descreve esta
vivencia da fé no ambiente virtual por alguns grupos de cristãos sem igreja,

12
A negação da necessidade da construção de templos, da ordenação de um clero, da elaboração de confissões de
fé, da prática dizimal, estão entre os argumentos mais defendidos entre os desigrejados. (CAMPOS JUNIOR,
2017, p. 26).
24

Dentre os vários subgrupos dentro dos chamados sem-igreja, há os cristãos


sem-igreja que acompanham mensagens e reflexões pela internet.
Permanecem como observadores, sem comunhão com o outro e sem
compromisso de qualquer tipo. Vivem sem a experiência comunitária e não
desejam para si o que fazem com outros em seus artigos, posts em blogs,
livros ou tweets. (BUENO, 2013, p. 9).

Constata-se que a internet, é uma ferramenta de auxilio na formação e propagação dos


desigrejados ou sem igreja, já que ao invés de participarem de uma igreja institucional, cultos
locais, comunhão com os cristãos daquela comunidade, eles acompanham mensagens,
pregações no ambiente virtual, não possuindo compromisso, sua comunidade é a virtual, onde
compartilham artigos, posts13, de acordo com suas convicções. “Nesse novo espaço vive-se
distante de uma comunidade física real e a experiência de comunidade dá-se apenas no
virtual.” (ANDREOLLA, 2012, p. 59).
Identifica-se que dentre alguns motivos para o surgimento dos desigrejados, a
decepção com a liderança eclesiástica e discordâncias de cunho teológico, sejam os mais
frequentes. Pode-se observar através do relato de Campos Junior (2017, p. 47):

[...], pode-se concluir que muitos dos desigrejados apontados em pesquisas


são fruto da decepção obtida com as lideranças eclesiásticas. Promessas
feitas e nunca alcançadas; desvio de caráter; malversação dos recursos das
igrejas; abuso espiritual; lideranças despóticas; acepção de pessoas com base
na classe social e econômica. [...] justificam, para muitos desigrejados, o
desencantamento com as comunidades da fé, levando-os a abandoná-las.

A liderança eclesiástica deveria de fato ser um exemplo ao rebanho em sua conduta


cristã, quando isso não ocorre, e maus exemplos acontecem através de uma liderança
deturpada, diferente do modelo bíblico estabelecido por Jesus, isso acarretará em decepções e
em consequência muitas vezes no abandono da fé, pelos discípulos14 e liderados espirituais.
Há também o abandono das instituições por razões teológicas. “Estes defendem que a
igreja contemporânea, com seus templos, sua liturgia [...] não possuem base bíblica e
teológica para existirem e que tampouco, foram planejadas pelo senhor Jesus.” (CAMPOS
JUNIOR, 2017, p.48). Seja qual for o fator desencadeante do êxodo institucional, o fato é que
há um deslocamento das comunidades para ambiente virtual.
A cada dia, surgem novas comunidades virtuais atraindo para si, indivíduos que
partilham do mesmo pensamento. “Através da internet se fundam novas formas comunitárias,

13
post |póste| (palavra inglesa), substantivo masculino. Publicação numa página da Internet. = POSTAGEM.
Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/post. Acesso em: 09 nov. de 2017.
14
Discípulo: Quem recebe disciplina ou instrução de outra pessoa; aluno. Quem segue as ideias ou imita os
exemplos de outro. Cada um dos apóstolos de Jesus que propagaram seus ensinamentos. Pessoa que adota uma
doutrina, filosofia, ideal. Disponível em: https://www.dicio.com.br/discipulo/. Acesso em: 09 nov. de 2017.
25

na tentativa de fazer da igreja cristã uma verdadeira “assembleia para fora” rompendo os
muros da instituição, e alcançando o mundo.” (COSTA, 2016, p. 125). Este novo modelo
comunitário, torna-se interessante e atrativo, já que o individuo não precisa se sujeitar a
nenhuma autoridade instituída, sendo ele líder de si mesmo.

As novas comunidades não se estruturam por uma localização geográfica,


em que seus membros são definidos pela sua coexistência em um mesmo
determinado espaço físico, mas sim por uma ambiência fluida em que faz
parte dessa comunidade quem a ela tem acesso. (SBARDELOTTO, 2011
apud COSTA, 2016, p. 125).

Observa-se que o ambiente virtual proporciona uma fluidez através das comunidades,
já que, farão parte desta comunidade aqueles que a acessam diariamente, independente de
serem seguidores oficiais ou visitantes esporádicos. Não sendo necessário seguir normas,
padrões de conduta ou convivência. Vê-se então este deslocamento da experiência
comunitária, geográfica, coexistente no mesmo ambiente físico, real, para o contato virtual.
Os desigrejados então tem-se utilizado deste espaço para sua vivencia da fé. “Basta ter
um simples blog, nos fartos espaços gratuitos, ou uma conta sem custo nas mais populares
redes sociais digitais, e o espaço está garantido para a livre manifestação.” (CUNHA, 2014,
p.288). Haja vista que não tenha necessidade de uma formação acadêmica, ou conhecimento
profundo para se manifestar.

Com os suportes digitais, mesmo indivíduos que não são autoridades


religiosas ou especialistas em teologia podem produzir conteúdo, opinar e
debater sobre religião. As mídias digitais encorajam a capacidade de criação
e facilitam a expressão cultural e de linguagens: cada um pode fazer e
disseminar a sua própria informação. (COSTA, 2016, p. 125).

Com toda esta facilidade, de transmissão de conteúdo, o espaço virtual torna-se um


local para o debate das ideias e a disseminação dos conteúdos dos desigrejados, sejam
decepções com a liderança institucionalizada, os escândalos, as diferenças doutrinárias, e
tantos outros pontos polêmicos, nos quais se apoiam os líderes deste movimento nas redes
sociais.

Outro elemento que se destaca neste processo de "ocupação cristã das mídias
digitais" é o espaço conquistado pelos desvinculados do ponto de vista
eclesiástico - os chamados sem-igreja ou desigrejados. Pessoas que
professam a fé cristã e que por alguma razão decidiram pela desvinculação
institucional, mas desejam continuar partilhando da fé em comunidade e
expressando publicamente reflexões, ideias, experiências, opiniões. Se isso
já acontecia no nível presencial com as comunidades alternativas que sempre
existiram, com as mídias digitais foi ampliada a possibilidade de encontro e
26

interação dessas pessoas, com a formação de comunidades virtuais.


(CUNHA, 2014, p. 289).

Para a autora, esta ocupação das mídias, através das comunidades virtuais, ampliou a
possibilidade de interação e encontro entre as pessoas que por alguma razão, decidiram se
desvincular das igrejas institucionais, mas querem continuar a professar a sua fé. Mostra-se
visível que as mídias sociais facilitam esta expressão das ideias, experiências, e reflexões.
Mesmo que comunidades alternativas de cristãos sem igreja, presenciais já existissem, a
internet potencializou e ampliou o alcance.
Um exemplo destas comunidades virtuais é a comunidade “Os Desigrejados”, uma
comunidade localizada na rede social Facebook.

FIGURA 1: Captura da página inicial do Facebook – Comunidade “Os Desigrejados”


Fonte: Os Desigrejados (2017).

Segundo a descrição da página, está a seguinte frase: “Esta página serve a todos que
não compactuam com as heresias do mundo gospel. Igreja, somos nós! AQUI, LOBO NÃO
TEM VEZ!” A comunidade possui 82.970 seguidores, 84.261 curtidas, são publicados vídeos
e conteúdos quase que diariamente, com visualizações que vão de centenas a milhares de
pessoas. Entre os conteúdos postados encontramos pregações, estudos bíblicos, e notícias do
meio cristão evangélico, questionamentos de doutrinas e autoridades eclesiásticas. Nesta
27

comunidade, os membros interagem de forma ativa, comentando postagens, compartilhando


seus pensamentos e doutrinas.
Outro meio também utilizado de mídias sociais são os blogs. Um exemplo é o blog
DESIGREJADOS TM, em sua descrição na pagina inicial está escrito: DESIGREJADOS™ é
se desvincular dos lugares apelidados de 'igrejas', é seguir a CRISTO e não depender
da igreja institucional, das instituições religiosas com placa de igrejas ou igrejolas ou igrejas
evangélicas e católica, é sair para fora do sistema religioso, negando o cristianismo - "Sai
dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras
nas suas pragas".

FIGURA 2: Captura da página inicial blog – Desigrejados TM


Fonte: Desigrejados (2017).

Como ocorre nas comunidades, também possui um grande numero de seguidores


129.337 pessoas, suas postagens são voltados para o público de Cristãos Desigrejados,
fundamentando suas crenças e doutrinas através de estudos e textos, publicados
semanalmente. Observam-se nestes estudos um conteúdo mais voltado á crítica da igreja
institucional e seus líderes. Destaques para escândalos ocorridos e questões polêmicas. Links15

15
Link é uma palavra em inglês que significa elo, vínculo ou ligação. No âmbito da informática, a palavra link
pode significar hiperligação, ou seja, uma palavra, texto ou imagem que quando é clicada pelo usuário, o
encaminha para outra página na internet, que pode conter outros textos ou imagens. Disponível em:
https://www.significados.com.br/link/. Acesso em: 09 nov. de 2017.
28

de acesso para outras páginas de desigrejados. Possuindo inclusive Jurídico, explicando o


respaldo que a página possui pela Constituição Federal.
Nota-se com os exemplos descritos, a utilização do ambiente virtual para
fortalecimento e manutenção da fé dos desigrejados, através das ferramentas das mídias
virtuais on-line16, em suas diversas formas. “Com efeito, pode-se dizer que a cultura
cibernética, abre um campo vasto, como nunca visto, para a proclamação cristã: um auditório
imenso. Mas não se pode garantir que essa proclamação não sofra deturpações e mutações”.
(ANDREOLLA, 2012, p. 63). Constata-se então que a internet é uma ferramenta importante
na proclamação do evangelho, mas não há garantias da proclamação de um evangelho puro,
verdadeiro, sem deturpações.
Mesmo que haja um crescimento deste movimento dos desigrejados, ele se demonstra
contraditório e polêmico.

Outro ponto importante é que a fé cristã caracteriza-se pela comunidade


eclesial. A mesma existia antes ainda dos textos sagrados, pois manifesta
justamente o que experimentaram os primeiros cristãos ao seguirem Jesus
Cristo. A própria vivência que os primeiros cristãos tinham na comunidade e
a partilha dos bens é real. No mundo da internet, a comunidade desaparece e
tudo depende do indivíduo. Há busca, interpretação e uso de dados
oferecidos, sem nenhum controle. Abrem-se possibilidades de leituras
unilaterais, ou até mesmo de incompreensões. Encontramos uma
característica central de nossa sociedade atual que afeta a vivência da fé na
atual sociedade digital: o individualismo. (ANDREOLLA, 2012, p.58).

Identifica-se um fator importante referente á fé cristã, que é a sua característica desde


os primórdios, da comunidade eclesial, experimentada pelos primeiros cristãos que seguiram
Jesus. Os princípios da fé são vividos em comunidade. Esta comunidade vivenciada na
internet, não é real, na verdade é individual. Uma caraterística marcante da nossa sociedade
atual o individualismo se sobressai, e traz consequências também na vivencia da fé cristã.
Este individualismo, é que coopera com uma crise de pertencimento institucional.

As mentalidades se modificaram ao longo do tempo e, assim, surgiu um


novo tipo de indivíduo completamente autônomo, que reinterpreta o sentido
de religião à sua maneira. A religiosidade, que algumas vezes é percebida
como um estágio anterior à religião institucional, ou simplesmente um “agir
religioso”, parece ter sido priorizada entre certos indivíduos, o que denuncia
uma crise contemporânea do pertencimento institucional. Muitos
descobriram que poderiam dar sua própria interpretação aos livros sagrados
e que autoridades eclesiásticas não tinham o direito de interferir nas demais
esferas da vida (que não fossem da religião). Desse modo, certos indivíduos

16
Online:palavra inglesa, de on, em + line, linha.Que tem ligação .direta ou remota a um computador ou a uma re
de de computadores, como a Internet. = EM LINHA . Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/online .
Acesso em: 09 nov. de 2017.
29

dispensam intermediários para buscar seu próprio caminho com Deus ou


com uma Força Superior, reafirmando a célebre frase do pacifista indiano
Mahatma Gandhi: “Deus não tem religião”. Percebemos, então, na
emergência, a evolução e consolidação da categoria censitária dos sem
religião não somente como indicativo das oscilações no cenário religioso ou
de um movimento de destradicionalização, mas como sinal de uma crise do
pertencimento religioso de um tipo de indivíduo que assimilou a liberdade
religiosa, declarando-se como sem religião. (RODRIGUES, 2012, p.1151)

Esta mentalidade individual e autônoma colabora para que alguns indivíduos


dispensem intermediários e buscam o seu próprio caminho até Deus, interpretando as sagradas
escrituras a sua maneira, assimilando a sua liberdade religiosa, a não pertencer a nenhuma
instituição, já que ela não se torna mais necessária diante do seu individualismo. Desigrejados
tornou-se a forma de professar a fé daqueles que não querem partilhar a comunhão, o
pertencer o submeter a qualquer autoridade eclesial. De acordo com Campos Junior,

A pós – modernidade parece sugerir um indivíduo absolutamente autônomo,


privado, confinado em um mundo próprio, e incapaz de adequar-se a
qualquer padrão além do seu. Com tais bandeiras, a tensão com o
cristianismo torna-se inevitável, [...], portanto esses valores históricos do
cristianismo sofrem resistências da pós-modernidade que termina
influenciando muito do pensamento dos desigrejados, pois se tudo é relativo,
a eclesiologia pode ser diversa e difusa. (CAMPOS JUNIOR, 2017, p.177).

Esta individualidade apresentada na pós-modernidade, onde os padrões devem se


adequar a vontade do individuo, a satisfação do eu, distancia-se das verdades do cristianismo,
que são a entrega total, a negação das nossas vontades, o fazer a vontade de Deus, o partilhar
o pão, o discipulado, a relação mestre e discípulo, vivida por Jesus e seus apóstolos e pela
igreja primitiva. Se na pós-modernidade tudo é relativo, então a instituição eclesial também,
torna-se relativa e desnecessária.
Os desigrejados “antes de ser uma revolução (como acreditam) é tão somente um
reflexo do momento do qual a sociedade passa.” (CAMPOS JUNIOR, 2017, p. 189). Como a
igreja está inserida no contexto social, econômico e político, todas as transformações afetam e
influenciam de certa forma em sua estrutura e funcionamento. Mesmo que o movimento dos
desigrejados se declare reformador e ético, nota-se uma contradição relacionada á ética.

A ética cristã é, portanto, definida como os princípios estabelecidos e


considerados pelas igrejas cristãs, com o objetivo de tornar os seus
ensinamentos orientações para o agir na sociedade, nos relacionamentos
interpessoais e na vida. E assim também é para as relações nas mídias
sociais. (CARVALHO, 2016, p.65).
30

Para o autor a ética cristã são princípios estabelecidos pela igreja cristã, orientando
através da doutrina, como o cristão deve agir em todas as áreas seja na sociedade, ou na vida.
Sendo assim também transferidos os mesmos valores e ensinamentos para agir em suas
relações no ambiente virtual.
Percebe-se uma contradição no movimento dos desigrejados, haja vista que o ambiente
virtual se tornou em nome da fé, um campo de batalha, contra a igreja institucionalizada e a
sua liderança eclesial. “Portanto, no cristianismo, a fé, a ética e a moral estão intimamente
relacionadas. Aquele que tem fé age de acordo com a ética e a moral daquilo em que acredita,
cuja base é o amor, mandamento maior do cristianismo. A prática do amor leva ao agir ético.”
(CARVALHO, 2016, p.66).
Entende-se que a maior contradição do movimento dos desigrejados, esteja no fato de
que eles “mantem e preza por doutrinas e documentos canônicos, produzidos e ou
reconhecidos na fase institucional da igreja. A mesma fase que denunciam, rejeitam e dirigem
seus mais sonoros gritos.” (CAMPOS JUNIOR, 2017, p.189). Como rejeitar a igreja
institucional, se os fundamentos da doutrina foram produzidos ou reconhecidos por ela?
Constata-se então uma incoerência relevante para a fundamentação do movimento dos
desigrejados.
31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo objetivou promover uma reflexão entre a relação existente entre as mídias
sociais, e a pregação do evangelho, bem como sua relevância e contribuições para o
surgimento de um grupo de cristãos denominados “desigrejados”. A presente pesquisa
contribui para uma percepção mais ampla das transformações e consequências ocorridas na
igreja evangélica por meio da pregação do evangelho nas mídias sociais em larga escala na
pós- modernidade.
Partindo destas informações, o estudo possibilitou a definição de conceitos de termos,
tais como mídias sociais, redes sociais, igrejas midiáticas, levando a um maior entendimento
das suas relações e a religião, considerando como estas mudanças na forma de comunicação
têm influenciado, em diversas áreas da sociedade, incluindo a comunidade evangélica
brasileira.
Permitiu-se observar se esta parceria entre mídia e igreja, tem de fato contribuído com
o fator crescimento numérico e conquista de novos membros e adeptos para a fé cristã. Qual
a relação existente entre a utilização destas ferramentas tecnológicas da internet, e a migração
da igreja congregacional com templos físicos para os ambientes virtuais.
Considerar se a pregação do evangelho tem alcançado o objetivo de tornar o
evangelho conhecido, haja vista que hoje em nome da fé qualquer pessoa independente de
estar ou não ligada a uma instituição religiosa, pode transmitir e compartilhar suas
experiências e reflexões. As igrejas no ambiente virtual muitas vezes perdem o controle da
doutrina.
Neste contexto, surgem divergências teológicas, doutrinárias. A autoridade pastoral e
da liderança ordenada e instituída é muitas vezes questionada e relativizada. Observa-se que
os vínculos obtidos pelo ambiente virtual, são pouco consistentes, há individualidade e
superficialidade de relacionamentos e da fé, percebe-se um evangelho antropocêntrico.
Percebe-se então uma verdadeira batalha religiosa, por meio dos pregadores virtuais,
que se tornam verdadeiras celebridades com multidões de seguidores, proporcionando o
crescimento um fenômeno que está em amplo crescimento, uma nova forma de expressar a fé
cristã evangélica, os chamados “desigrejados”.
Entre os motivos pelos quais este movimento tem ganhado força, e auxiliado neste
êxodo institucional, destacam-se os fiéis, que em algum momento da sua caminhada na
comunidade cristã foram decepcionados com a liderança eclesiástica deturpada , quando esta
apresenta uma má conduta, que se distancia do exemplo bíblico. Nota-se também o abandono
32

por questões teológicas, o fiel nunca sofreu nenhuma decepção com a liderança, mas ele
acredita que a igreja e seus templos, pastores, liturgia, não possuem base bíblica para sua
existência, tornando-se assim para ele desnecessária.
Este novo modelo de fé, conectado no ambiente virtual, através das mídias, redes e
comunidades, mas sem compromisso institucional, vem crescendo de maneira acelerada,
propagando suas visões e doutrinas, formando cada vez mais seguidores e adeptos. As
comunidades virtuais ampliaram a possibilidade de interação e encontro entre as pessoas que
por alguma razão, decidiram se desvincular das igrejas institucionais, mas que continuam a
professar a sua fé. Vê-se que o ambiente virtual torna-se cada vez mais utilizado para
fortalecimento e manutenção da fé dos desigrejados, através das ferramentas das mídias
virtuais online, em suas diversas formas.
Como os princípios da fé cristã se baseiam em uma vivencia em comunidade, desde os
primórdios da igreja, nota-se que esta fé conectada, vivenciada no ambiente virtual, mesmo
que em comunidades organizadas, é em sua maioria, individualista, autônoma, voltada a
satisfação do eu, distanciando-se do verdadeiro evangelho, demostrado por Jesus, seus
discípulos e a igreja primitiva, no qual há uma entrega total, e a busca de fazer não mais a
minha vontade, mas vontade de Deus.
Como a igreja está inserida no contexto social, econômico e político, todas as
transformações corridas na sociedade afetam sua estrutura e funcionamento. Os desigrejados
parecem ser mais um reflexo da sociedade atual na pós-modernidade. Mostra-se um
movimento contraditório e polêmico, já que prezam e defendem doutrinas e documentos que
foram reconhecidos e produzidos pela igreja institucional.
Constata-se que a igreja evangélica no Brasil, passa por um período de mudanças
complexas em sua estrutura e na maneira de condução da fé dos adeptos. Sendo uma realidade
em processo, impossível discorrer sobre todos os aspectos, devendo os pesquisadores se
aproximar e produzir novos conhecimentos. Pois isto é assunto para outra pesquisa.
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