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CURSO DE FORMAÇÃO DE ÁRBITROS

DISCIPLINA: PSICOLOGIA DO ESPORTE

DOCENTE: Me. ALESSANDRA PEIXOTO MONTEIRO

CRONOGRAMA

05/09/2019
Definição de Psicologia do Esporte
Fundamentação teórica e objetivos
Introdução aos conceitos básicos da psicologia do esporte
11/09/2019
O Árbitro de Futebol
Desempenho Esportivo
19/09/2019
Habilidades Psicológicas
24/09/2019
Trabalho em Equipe
Ferramentas para Treinamento Psicológico
AULA 01

O QUE É PSICOLOGIA?

Psicologia é o estudo do comportamento e as funções mentais. A psicologia


tem como objetivo imediato a compreensão de grupos e indivíduos tanto pelo
estabelecimento de princípios universais como pelo estudo de casos
específicos, e tem, segundo alguns, como objetivo final o benefício geral da
sociedade.

Psicologia Clínica é a parte da psicologia que se dedica ao estudo dos


transtornos mentais e dos aspectos psíquicos de doenças não mentais. Seus
temas incluem a etiologia, classificação, diagnóstico, epidemiologia,
intervenção (prevenção, aconselhamento, psicoterapia, reabilitação, acesso à
saúde, avaliação). Em língua inglesa se usa, ao lado do termo clinical
psychology, também o termo "abnormal psychology". Este último é ora usado
como sinônimo do primeiro, ora significando apenas a descrição e a etiologia
dos transtornos mentais. Esta imagem do “médico de doidos” é que está
incorporada na sociedade, ou seja, se não sou louco não preciso de
psicólogo....
Psicologia do Esporte, é considerada uma especialidade da Psicologia
(Rubio, 2000) ou subárea das Ciências do Esporte (Gill, 1979). Pode ser
definida como o estudo do comportamento humano no contexto do esporte e
de exercício ou como os fundamentos psicológicos, processos e
consequências da regulação psicológica de atividades relacionadas ao esporte.
O foco pode ser o comportamento humano ou suas diferentes dimensões
psicológicas, sob a ótica das variadas correntes teóricas da Psicologia (Rubio,
2000). De uma forma geral, a disciplina busca descrever, explicar, prever e
desenvolver intervenções para modificar o comportamento intencional e ações
no esporte com base em pesquisas empíricas, análises qualitativas e padrões
éticos (Tenenbaum, Morris, Hackfort, & Edson Filho, 2013).

Como subárea do conhecimento das Ciências do Esporte, a Psicologia do


Esporte tem como principal objeto de estudo o comportamento motor humano
(esporte e exercício físico) e os contextos esportivos como locais de aplicação
prática do conhecimento (Vieira; Nascimento Jr.; Vieira, 2013).Como disciplina,
a psicologia do esporte e do exercício, tem por objetivo: investigar as pré-
condições e circunstâncias para o uso efetivo ou a aplicação de conhecimentos
e métodos relevantes (pesquisa); examinar a eficácia e eficiência das técnicas
de intervenção (pesquisa de avaliação) e; garantir que a aplicação de técnicas
psicológicas, métodos de aconselhamento e acompanhamento sejam
fornecidas exclusivamente por especialistas devidamente treinados e
competentes, que sigam os princípios éticos da área (Tenenbaum et al., 2013).
As subdivisões, permitem o estudo interdisciplinar como soma e não como
relação (Rubio, 2000), auxiliam nas definições essenciais para a compreensão
da psicologia do esporte como um campo profissional por envolver
simultaneamente os conceitos de psicologia, ciência do esporte e esporte
(Vieira, Vissoci, Oliveira, & Vieira, 2010b).
De acordo com Weinberg e Gould (2017), os estudos em Psicologia do Esporte
dividem-se em duas grandes vertentes: a primeira focada em pesquisas
voltadas para investigar os efeitos dos fatores psicológicos sobre os aspectos
físicos e de performance esportiva, e a segunda, dedicada a investigação dos
efeitos psicológicos, saúde e bem-estar a partir da participação de pessoas em
programas de atividades físicas.

O esporte, pode ser entendido como uma instituição social, que se projetou
como um dos grandes fenômenos do século XX. Têm agregado em torno de si
um número cada vez maior de áreas afins (medicina, nutrição, fisiologia
desportiva etc.), constituindo as chamadas Ciências do Esporte, na qual a
Psicologia do Esporte faz parte . O sucesso do esporte está associado à
produtividade do atleta. É necessário superar limites e adversários, alcançar
metas, superar frustrações, pressões, sucesso ou adversidades. Todos esses
aspectos ajudam a evidenciar a importância da preparação física e psicológica
que lhe possibilita suportar os treinamentos e todo desgaste resultante das
condições desse contexto.

O psicólogo deverá atuar considerando as exigências apresentadas em cada


um dos cenários (projeto social, alto rendimento, esporte de tempo livre e
reabilitação), principalmente pelas demandas especificas que irão surgir e
determinarão a estrutura de cada programa de intervenção. Para garantir a
eficácia do trabalho, se faz necessário que o profissional seja especialista
nessa área de atuação da psicologia .

No Brasil, a Psicologia do Esporte começa a se desenvolver juntamente com


os programas de pós-graduação nos anos 1930/40 na Escola de Educação
Física do Exército e na Escola Nacional de Educação Física e Desportos, as
quais possuíam periódicos que publicavam artigos de militares, médicos e
educadores com temáticas pertinentes à Psicologia Esportiva (Vieira et al.,
2013). Como marco inicial a atuação do profissional, em 1950 o
psicólogo João Carvalhaes iniciou a atuação no futebol (Hernandez, 2011).
Cinquenta anos depois, a Psicologia do Esporte foi reconhecida e
regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 20 de dezembro
de 2000, pelas resoluções nº 014/00 e nº 02/01, estando o seu exercício
vinculado ao Conselho Regional e Federal de Psicologia.

Implicada em seus primórdios com aspectos mais biológicos, hoje, a Psicologia


do Esporte vem estudando e atuando em situações que envolvem diversos
construtos psicológicos aplicados no contexto do esporte de rendimento,
caracterizando-se como um espaço onde o enfoque social, educacional e
clínico se complementam (Rubio, 1999). Neste contexto, a atividade física tem
requerido estudo e atuação de profissionais da área da psicologia, visto que o
nível técnico de atletas e equipes de alto rendimento está cada vez mais
equilibrado, sendo dada ênfase especial à preparação emocional, tendo sido
apontada como o diferencial em muitas modalidades

O esporte vem tomando proporções cada vez maiores na atualidade sendo


que, nessa direção, a psicologia do esporte passa por um crescimento em seus
aspectos e modelos teóricos, pesquisas e interesse na área , conduzidas por
profissionais de diferentes campos do conhecimento e áreas de atuação, dado
seu potencial enquanto elemento promotor da saúde física, mental, social e
afetiva.

Se, inicialmente a psicologia do esporte surgiu a partir da demanda do esporte


de alto rendimento, atualmente o trabalho na área envolve o atendimento à
demanda da população que pratica diferentes modalidades esportivas, em
situações competitivas ou não . Desse modo, observa-se uma grande
ampliação do enfoque dos estudos e atuação nessa área, envolvendo não só
atletas em situação de competição, mas, também, atividade físicas cotidianas.
Assim, o psicólogo do esporte atua em diferentes etapas do
desenvolvimento humano, da infância à velhice, situação que exige, do
profissional, uma adaptação, principalmente porque os níveis de exigência são
diferentes em cada uma dessas etapas e em cada modalidade (Bartholomeu,
Montiel, & Machado, 2017).

No futebol de alto rendimento, desde a base até o profissional, os fracassos


são constantes e de diferentes níveis e perspectivas, como por exemplo: erros
individuais que geram derrotas, perda de títulos, insatisfação da torcida, entre
outros. O jogador argentino, Lionel Messi, um dos maiores jogadores da
história do futebol mundial, sofre com a perda do título da Copa América e
amarga, até o presente momento, nunca ter conquistado nenhum campeonato
de futebol para a sua nação, enquanto foi campeão diversas vezes pelo seu
clube, inclusive anunciando a aposentadoria da seleção (depois voltou atrás).

O psicólogo do esporte no futebol deve trabalhar essas questões de fracasso e


sucesso desde a base para que os jogadores consigam lidar com isso da
melhor forma possível. Percebam que até o melhor jogador do mundo
apresenta suas angústias e se sente pressionado no futebol de alto
rendimento. Contudo, a questão não é se sentir pressionado, mas sim como
lidar com a pressão do esporte de rendimento.
Definição do papel do Psicólogo do Esporte a partir da Resolução 014/00 –
Conselho Federal de Psicologia ( CFP )

Embora os campos de atuação profissional sejam específicos e exijam ações


direcionadas dos psicólogos esportivos, o Conselho Federal de Psicologia,
descreveu as atribuições gerais do psicólogo que trabalha nesse contexto a
partir da Resolução 014/00, indicando alguns aspectos que devem ser
considerados durante a atuação profissional desse especialista na área,
conforme segue:

1. Atuação do psicólogo deve voltar-se tanto para o esporte de alto


rendimento, quanto para a identificação de princípios e padrões de
comportamentos de crianças e adultos praticantes de atividade física.

2. Deve dedicar-se ao estudo, identificação e compreensão de teorias e


técnicas psicológicas aplicadas ao cenário esportivo e do exercício físico.

3. Considerar o foco do trabalho diagnóstico (partindo do uso de


instrumentos psicológicos específicos para determinar o perfil individual e
coletivo, aspectos de capacidade motor e cognitiva), e interventivo (atuando na
transformação de padrões de comportamento que interferem na prática da
atividade esportiva).

4. Estudar e observar o contexto da atividade esportiva, a fim de conhecer


os elementos do comportamento do atleta e todos os que estão envolvidos no
cenário (comissão técnica, dirigentes, torcidas etc.).
5. Realizar atendimentos individuais ou coletivos, empregando técnicas
adequadas a situação, com objetivo de preparar psicologicamente para o
desempenho da atividade física em geral.

6. Planejar programas sistemáticos que contribuam com o bem-estar e


qualidade de vida dos indivíduos.

7. Orientar pais ou responsáveis quanto a escolha da modalidade,


possíveis consequências da participação em treinos e competições,
desenvolvimento de carreira profissionais e sobre as implicações da
permanência no esporte para o desenvolvimento da criança.

8. Auxiliar na compreensão e transformação das relações de educadores e


técnicos com alunos e atletas no processo de ensino e aprendizagem e nas
relações intrapessoais que ocorrerem no ambiente esportivo.

9. Contribuir no processo de adesão e participação aos programas de


atividades físicas da população em geral ou portadora de necessidades
especiais.

Referência Bibliográfica

Bartholomeu, D., Montiel, J. M., & Machado, A. A. (2017). Avaliação psicológica no


contexto do esporte. In M.R.C. Lins & J.C. Borsa (Orgs.), Avaliação Psicológica: Aspectos
teóricos e práticos (pp.398-413). Editora Vozes: Rio de Janeiro.

Conselho Federal de Psicologia (2000, 20 dez.). Resolução nº 014/00. Institui o título


profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu
registro. Recuperado em http://site.cfp.org.br/ wp-content/
uploads/2006/01/resolucao2000_14.pdf.
Gill, D.L. The prediction of group motor performance from individual
member abilities. Journal of Motor Behavior, v.11, p.113-122, 1979.

Hernandez J.A.E. João Carvalhaes, Um psicólogo campeão do mundo de futebol.


Estudos e Pesquisas em Psicologia v.11, n.3, p.1027-49, 2011.

Rubio, K. (2000). O trajeto da Psicologia do Esporte e a formação de um campo


profissional. In K. Rubio (Org.), Psicologia do Esporte: interfaces, pesquisa e intervenção (pp.
15-28). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Rubio, K. (2007a). Ética e compromisso social na Psicologia do Esporte. Psicologia


Ciência e Profissão, 27(2), 304-315.

Tenenbaum, G., Morris, T., Hackfort, D., & Edson Filho. (2013). Sport and Exercise
Psychology. In: T. Margaret, H. Haag, & K. Keskinen (Eds), Directory of Sport Science (pp.67-
78). Australia: Human Kinetics.

Vieira, L. F., Vissoci, J. R. N., Oliveira, L. P., & Vieira, J. L. L. (2010b). Psicologia do
Esporte: Uma área emergente da Psicologia. Psicologia em Estudo, 15(2), 391–399. doi:
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Vieira, L.F; Nascimento Junior, J.R.A.; Vieira, J.L.L. O estado da arte da pesquisa em
Psicologia do Esporte no Brasil.Revista de psicología del deporte, v.22, n.2, p. 501-507, 2013.

Weinberg, R.S.; Gould, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício.


Artmed editora, 6ª edição, 2017.
Disciplina Psicologia do Esporte

1- INTRODUÇÃO

O futebol apresenta-se, no mundo moderno, como um esporte de grande


poder e influência, o que pode ser percebido pelos dados atuais da Fédération
Internationale de Football Association (FIFA). A FIFA possui 211 países
afiliados, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) integra 193
países. Pesquisas atuais afirmam que mais de um quinto da população do
planeta está envolvida com este esporte. A estrutura do futebol profissional
mundial se equipara à de uma sociedade capitalista que valoriza a competição
e a mensuração dos resultados. Neste contexto, González-Oya e Dosil (2004)
afirmam que de todos os envolvidos, o árbitro é o único que não pode faltar na
competição, pois sem ele não se pode realizar a partida. Ele apresenta papel
de destaque, pois em sua figura reside a autoridade e a responsabilidade de
perceber, coordenar, intermediar e, até mesmo, ajustar comportamentos
inadequados à prática de uma competição esportiva.
Seu desempenho implica em consequências diretas na performance
dos atletas, no placar do jogo ou até mesmo no resultado de uma competição.
Um equívoco de sua parte pode trazer prejuízos aos clubes de futebol, que
abrangem o tempo, energia e recursos financeiros investidos por
patrocinadores. Um erro que interfira no placar pode trazer, também,
penalizações e sanções a curto e longo prazo para a equipe de arbitragem,
dentre as quais podem ser citadas a exclusão de seus nomes nos sorteios para
os jogos seguintes de um campeonato, ou mesmo a estagnação e atraso em
sua carreira.
A partir do crescimento do conhecimento científico, desenvolvimento de
equipamentos, suplementos e mudanças no sistema de treinamento, as
equipes de futebol apresentam hoje um maior equilíbrio em suas performances.
Para tanto, se mostra relevante para a formação do árbitro, noções básicas que
favoreçam uma reflexão e estimulem o autoconhecimento, a percepção social e
suas relações com a tomada de decisão.

2 – O PAPEL DO ÁRBITRO NA SOCIEDADE

Segundo a Lei nº 12.867, de 10 de Outubro de 2013, o árbitro de futebol


é um profissional estando inserido na Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO) sob o Código 3772 - Árbitro Desportivo, mais especificamente 3772-20 -
Árbitro de Futebol, tendo sua função descrita como: “Zelar pela observância do
regulamento nas competições esportivas, controlando o andamento das
mesmas, registrando as infrações, aplicando as penalidades e fazendo as
marcações necessárias para assegurar o processamento desses eventos
dentro das normas estabelecidas pelos órgãos desportivos”.

No contexto esportivo, todo árbitro profissional de futebol pode ser


considerado um atleta de alto rendimento, na medida em que necessita passar
por todo um processo de treinamento físico, técnico e mental para estar apto a
atuar no esporte, ademais sua permanência nesta atividade depende de seu
desempenho esportivo.

O desempenho esportivo é composto por, no mínimo, quatro pilares, a


saber: o Físico, o Técnico, o Tático e o Psicológico, sendo assim representado
na arbitragem. O desempenho físico diz da capacidade para se movimentar
em campo acompanhando as jogadas, incorporando alternância na direção e
velocidade dos deslocamentos, com agilidade, resistência e explosão. Durante
uma partida de futebol, o árbitro percorre, em média, de 12 a 14 quilômetros,
em um período que varia de quatro a seis segundos, o árbitro muda sua ação
motora, portanto durante os 90 minutos de jogo ele realiza, em média, 1.268
atividades motoras diferentes.

O desempenho técnico configura-se como a capacidade para


compreender, dominar e aplicar as regras do jogo, além do correto
posicionamento e deslocamento em campo. Em um campeonato de relevância,
como o Campeonato Brasileiro, o árbitro central adota cerca de 137 decisões
observáveis por jogo. Além dessas decisões, ele também faz uso de decisões
não observáveis, aquelas que ocorrem quando o árbitro decide não interferir no
jogo, totalizando cerca de 180 a 200 decisões. Considerando o número médio
de decisões tomadas pelo árbitro e a duração mínima de uma partida de
futebol (noventa minutos), tem-se de três a quatro decisões por minuto.
Dependendo da partida, serão várias grandes decisões a serem tomadas.

O plano de trabalho de uma equipe de arbitragem é elaborado antes de


cada partida e tem como base os integrantes da mesma (se já trabalharam
juntos anteriormente, se conhecem o trabalho do companheiro de equipe e a
conduta de cada um), os dois times participantes (tipo de jogo, estratégias mais
adotadas, as características dos jogadores), a história do jogo (confronto
anteriores entre as duas equipes) e do campeonato (o que vale a partida para
cada equipe no campeonato). Ele contém os parâmetros principais a serem
adotados ao longo do jogo, e é definido a cada partida, sendo executado pela
equipe de árbitros designada para atuar na partida específica. A este plano de
trabalho dá-se o nome de desempenho tático. De todas as decisões realizadas
em campo, 64% são baseadas no trabalho em equipe entre os árbitros.

Por fim, o desempenho psicológico envolve os aspectos mentais


indispensáveis para auxiliar o árbitro a atuar de forma isenta e com equidade
de critérios, pode-se ressaltar estabilidade emocional, uma leitura de jogo clara
e imparcial, velocidade na tomada de decisão, disciplina, segurança em suas
decisões, e controle eficaz do estresse.

3 - CATEGORIAS DA ARBITRAGEM

Em relação à exigência quanto aos desempenhos físico, técnico, tático e


mental, evidenciam-se diferenças quando comparados dois grupos de árbitros:
aqueles que atuam no futebol profissional do seu estado, e/ou no Brasil, e/ou
internacionalmente, e os amadores.
O segundo grupo trabalha em campeonatos sem estrutura profissional,
logo apresentam menor rigor, além de instituírem suas próprias regras. O Brasil
apresenta um grande número desta modalidade superando em quantidade os
campeonatos profissionais. É possível que o árbitro amador atue por hobby e
prazer, ou também por não ser absorvido no mercado profissional, quer por seu
desempenho aquém do necessário ou mesmo por falta de espaço para tantos
interessados. Apesar das características desta modalidade, eles recebem um
apoio financeiro por sua atuação, de menor vulto em comparação ao que
recebem os profissionais.

4 – FUNDAMENTOS DA ARBITRAGEM

Arbitrar é uma tarefa altamente complexa, não somente pelo fato de o


árbitro ter que tomar decisões em um curto período de tempo, mas também por
ficar exposto a críticas e pressões dos torcedores, atletas, técnicos e meios de
comunicação, além de sofrer abusos verbais, ameaças e, até mesmo
agressões físicas, ao mesmo tempo os reforçadores positivos são praticamente
inexistentes. Os aspectos elencados contribuem para que esta experiência seja
exaustiva tanto emocional, quanto física e intelectualmente o que a torna, de
certa forma, excludente para alguns indivíduos que teriam características de
personalidade e cognitivas que aumentariam suas reações desadaptativas aos
estressores vivenciados diariamente.

Segundo González-Oya (2006), arbitrar é mais do que fazer cumprir


regras e regulamentos, pois tem a ver, antes de tudo, com a própria
experiência pessoal, conhecimento de si e da arbitragem. Muitas tarefas do
árbitro levam em conta sua percepção subjetiva da ação, estando sujeitas ao
seu julgamento de valor e à sua interpretação.

A dinâmica do funcionamento psicológico do ser humano, segundo a


abordagem das Diferenças Individuais, coloca que nossos pilares fundamentais
são a personalidade e a cognição (inteligência) e que a partir deles todas as
nossas habilidades são desenvolvidas.
4.1 Personalidade

Sistema em que as características inatas da pessoa interagem com o


meio ambiente e se transformam em comportamentos e experiências
peculiares a cada ser. O indivíduo traz consigo tendências básicas, material
bruto e universal da personalidade, capacidades e disposições mais
fundamentais, que constituem o potencial e a orientação dom indivíduo,
podendo ser hereditárias ou terem origem nas primeiras experiências.
Possuímos 5 traços básicos de personalidade que interagem entre si formando
nosso perfil, são eles:

Neuroticismo: responsável pela estabilidade emocional, pessoas com alto


nível deste traço têm tendência a serem negativas, impulsivas, preocupadas e
vulneráveis além de possuírem maior grau de ansiedade e estresse.

Extroversão: responsável pela energia interna, pessoas com altos valores


neste traço são mais extrovertidas e otimistas, buscam sensações e contato
social, são assertivas e têm gosto por recompensas.

Abertura: representa a curiosidade intelectual, altos níveis deste traço são


responsáveis por pessoas mais criativas e que gostam de experienciar
situações novas, são mais liberais em termos políticos e sociais, além de maior
interesse estético.

Amabilidade: responsável pelo altruísmo, altos níveis deste traço sugerem


pessoas que se colocam no lugar do outro, são simpáticas, corteses, modestas
e crédulas, pessoas com retidão.

Conscienciosidade: responsável por senso prático, altos níveis deste traço


trazem autodisciplina, ordem e zelo, gosto por desafio e competência, são
cumpridores do dever.
4.2 Cognição

Se relaciona a atividades mentais tais como ver, lembrar e solucionar


problemas. É a forma como selecionamos, interpretamos, lembramos e
usamos informações sociais para formar juízos e tomar decisões. O estudo da
cognição é o estudo dos processos cognitivos que recebem, transmitem e
operam informações. A cognição envolve fatores diversos como o pensamento,
a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que fazem parte do
desenvolvimento intelectual. Cognição pressupõe subjetividade, ou seja, de
acordo com a história de vida, cada um aprende de forma única. Responsável
pela aprendizagem, atenção, concentração, memória, percepção, sensação,
pensamentos, inteligência.

Aspectos cognitivos têm recebido crescente destaque nos raros estudos


com arbitragem de futebol profissional. A inteligência de jogo é um termo
comumente discutido na literatura da excelência esportiva, estudada entre
atletas de diferentes níveis competitivos, com especial destaque para o
domínio cognitivo do desempenho (Casanova, Oliveira, Williams & Garganta,
2009).

A atenção é um dos processos cognitivos mais importantes,


especialmente, pela capacidade de sustentar a atenção (concentração) ao
longo do tempo (Valdez et al., 2005). Esse processo pode ser avaliado pelo
tempo de reação, um dos seus indicadores mais estudados. O futebol,
especificamente, é um esporte de extrema imprevisibilidade, no qual
informações se modificam instantaneamente, o que demanda ampla exigência
atencional.

Num estudo sobre ansiedade, controle atencional e performance em


cobranças de pênaltis no futebol, evidenciou-se que os participantes mais
ansiosos fixavam a atenção visual de maneira mais rápida e mais na direção
do goleiro, o que implicava em menor precisão (performance) dos cobradores
(participantes). Em outro estudo que também avaliou o comportamento visual,
verificou-se que a duração das fixações visuais estavam relacionadas ao
melhor desempenho na tarefa e que a ansiedade modulou a redução das
fixações (Behan & Wilson, 2008). A atenção se constitui em um processo muito
importante no evento esportivo, pois este requer a orientação e a sustentação
dos estímulos relevantes em todo o curso da atividade (Weinberg & Gould,
2001).

No contexto nacional, Filgueiras (2010) realizou um estudo com


jogadores da categoria sub 13, avaliando como as sessões de treinamento
físico e mental poderiam implicar em melhoras em tarefas de atenção visual e
na concentração. Ele encontrou que após as sessões de treinamento mental
uma melhora em ambos os processos (tarefas) foi evidenciada. Outros estudos
(Bard & Fleury, 1976; Helsen & Pauwels, 1993) sugerem que jogadores de
altas habilidades no basquete e no futebol se detêm menos (quanto número de
fixações visioespaciais) em como se localizar no campo de jogo.

Aspectos emocionais também interferem em funções cognitivas


diretamente relacionadas ao desempenho esportivo, incluindo as habilidades
de atenção (Hanin, 2000; Eysenck et al., 2007). É comum atletas entrarem “em
choque”, quando há elevada pressão por resultados, relatando sentimentos de
nervosismo. No futebol, o controle atencional pode ser afetado pela ansiedade,
de modo que os atletas mais ansiosos tendem a focalizar mais atenção nos
goleiros (“ameaças”) durante cobranças de pênaltis, o que influenciaria
negativamente seus desempenhos (Wilson, Madeira & Vine, 2009).

A atenção é frequentemente associada ao foco de visão, ou seja,


padrões de fixação podem substituir a atenção focalizada dos atletas na
competição, sugerindo a relação da estratégia de busca visual, a atenção e a
performance no futebol (Abernethy, 1988; William & Davids, 1997; Williams,
2000). Alguns estudos com rastreadores oculares têm investigado a atenção
visual no futebol, especialmente na posição de goleiro (Vine & Wilson, 2011).
Esses e vários outros estudos são reunidos em uma vasta revisão da
literatura sobre os processos de atenção visual e a expertise no esporte
(Memmert, 2009). O autor aponta novos direcionamentos para pesquisas no
campo da atenção e potenciais relações com outros tópicos (motivação,
criatividade) e disciplinas (Psicologia Social), na tentativa de construção de
modelos de avaliação mais ecológicos.

4.2.1 Percepção, Atenção e Concentração

Percepção => é influenciada por estados subjetivos.

Atenção => é um estado seletivo e dirigido da percepção.

Concentração => é a manutenção do foco em aspectos relevantes da tarefa.

Quatro elementos definem este processo:

- Focalização de estímulos relevantes no ambiente


- Conscientização da situação
- Manutenção do foco de atenção durante tempo determinado
- Mudança do foco quando necessário

4.3 Controle Emocional

Capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de


nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos
relacionamentos. Diz respeito a vivência de várias emoções de forma saudável
para o indivíduo e o meio ambiente. O autoconhecimento é fundamental para
alcance deste aspecto.

4.3.1 Emoções
Sensações subjetivas que ocorrem em resposta a um fator estimulante,
geralmente externo. Se configuram por alterações fisiológicas, visando o
retorno ao equilíbrio entre organismos e meio ambiente.

Na fase pré-competitiva o estado emocional se caracteriza, sob o ponto


de vista psicológico, pela antecipação da competição, e consequentemente da
antecipação das oportunidades, riscos e consequências. Nesta fase se
apresentam reações como nervosismo, incapacidade de concentração,
inquietude, falta de controle psicomotor e medo do seu desempenho. Porém,
se a ativação se encontra no estado ótimo, as reações mais comuns são:
motivação, autoconfiança, otimismo, orientação ao êxito, concentração e
capacidade de controle psicomotor.

Na fase competitiva, a avaliação subjetiva sobre sua performance e a


cobrança do ambiente vão favorecer, ou não, um estado de equilíbrio
emocional. Exemplos de emoção presente no esporte medo, alegria, raiva,
pessimismo, impaciência, tristeza, euforia, etc.

5- Trabalho em Equipe

A arbitragem moderna está fundamentada em um eficiente trabalho em


equipe. Todos os componentes exercem papel de destaque no grupo, pois o
erro de um pode colocar a perder o trabalho de todos ou, ao contrário, a
intervenção precisa de um membro pode salvar toda a equipe. Toda equipe
tem um líder, que neste caso geralmente é representada pelo árbitro central. O
líder deve conhecer, da melhor forma possível, a estrutura de motivos de cada
membro de seu grupo, sua forma de reagir as diversas situações.

Um líder eficaz deve ser capaz de:

a) analisar o perfil atleta/grupo;

b) observar e perceber os “detalhes” do ambiente; o clima da competição


c) sentir as variações no comportamento dos sujeitos envolvidos na
competição nas mais diferentes situações;

d) ser flexível para adaptar-se a cada situação e grupo envolvido, podendo


assim usar de estratégias que possam ser mais adequadas e assertivas
naquele momento.

Algumas qualidades humanas para um líder efetivo: Integridade,


Flexibilidade, Lealdade, Confiança, Responsabilidade, Honestidade,
Preparação, Paciência, Autodisciplina, Otimismo...

6 – Comunicação

A comunicação é um dos instrumentos mais importantes para se estabelecer


uma relação interpessoal, pois nenhuma relação verdadeira é estabelecida, a
menos que os envolvidos realmente compreendam o significado original e a
intenção de quem fala ou escreve. Comunicar é fornecer ou trocar informações,
ideias e sentimentos por meio das linguagens:
a) verbal: oral ou escrita;

b) não-verbal: gestos, posturas, expressões faciais e corporais, aparência


física e silêncio.

A comunicação verbal e a não-verbal nem sempre estão sincronizadas


no mesmo indivíduo. Deve-se cuidar para que haja a plena integração entre
ambas para não “trair o emissor” em uma mensagem dúbia. Os componentes
do processo de comunicação são:

a) Emissor: é aquele que tem a iniciativa da comunicação. Ele deve ser capaz
de perceber e discernir quando, em quê e como o outro lhe é acessível, ou
seja, deve poder transmitir sua mensagem em termos que sejam inteligíveis
para o outro;
b) Receptor: é aquele a quem se dirige a mensagem. Ele a captará a medida
que estiver psicologicamente sincronizado com o emissor. As leis
psicológicas que fazem de um indivíduo um receptor adequado, ao longo de
uma comunicação, são, de início, as leis da motivação, e em seguida, da
percepção;

c) Mensagem: é o conteúdo da comunicação. Se ela consiste unicamente


numa informação, então trata-se de uma mensagem ideacional. Se por outro
lado, ela exprime um sentimento ou ressentimento, trata-se de uma
mensagem afetiva. Ela pode comportar elementos tanto intelectuais como
afetivos;

d) Código: é constituído pelo grupo de símbolos utilizados para formular a


mensagem, transmitida pelo emissor, de tal modo que ela faça sentido para
o receptor;

e) Feedback: palavra inglesa traduzida por retroalimentação positiva da


informação, que significa “verificar o próprio desempenho e corrigi-lo, se
necessário”. Para que o “feedback” seja efetivo, é fundamental “saber ouvir”.

Referências Bibliográficas

Carvalho, E. (2010). Psicologia Aplicada à Arbitragem (Manual). Rio de


Janeiro, RJ.

Ferreira, R. D., & Brandão, M R. (2012). Árbitro brasileiro de futebol


profissional: Percepção do significado do arbitrar. Revista da Educação Física
da Universidade Estadual de Maringá, 23(2), 229-238. doi:
10.4025/reveducfis.v23i2.15235
González-Oya, J. L. (2006). Psicología Aplicada al Árbitro de Fútbol:
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