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os estudos territoriais
David Bloor vai contradizer Merton ao afirmar que a ciência não está para além da
sociedade. Inspirado em Durkheim (Formas elementares da vida religiosa) o autor
argumentará que o social pode explicar o conhecimento científico. Para Bloor até as
ciências duras (física e matemática) dependem dos fatores sociais. Sua principal
contribuição é o “Programa Forte na Sociologia do Conhecimento”, onde, através de
quatro princípios (causalidade, imparcialidade, simetria, reflexividade) o autor busca
apresentar o rigor do conhecimento científico a partir da distribuição da crença e nos
vários fatores sociais que influenciam o conhecimento (BLOOR, 2009, p.18). Outra
contribuição incomensurável da sociologia da ciência advém dos estudos de Pierre
Bourdieu, que por sua vez, apresentará uma leitura praxeológica da ciência e do mundo,
ao afirmar que as práticas sociais representam a incorporação do social, que conferem ao
mundo social seu caráter de evidência e de natural referente ao duplo processo de relação
dialética: interiorização da exterioridade e de exteriorização da interioridade
(BOURDIEU, 1983, p.46-47). Bourdieu também abre a possibilidade de uma
macrossociologia dos campos sociais. “O campo se particulariza, pois, como um espaço
onde se manifestam relações de poder, o que implica afirmar que ele se estrutura a partir
da distribuição desigual de um quantum [capital social] social que determina a posição
que um agente específico ocupa em seu seio” (BOURDIEU, 1983, p.20). O autor ainda
interpreta as práticas sociais com sentido de compreender a regularidade “que podem ser
apreendidas empiricamente sob a forma de regularidades associadas a um meio
socialmente estruturado, produzem habitus” – os sistemas de disposições duráveis, que
funcionam como estruturas estruturantes e que gera as estruturas práticas – objetivamente
regulamentada (BOURDIEU, 1983, p.15). A partir do conceito de habitus temos que as
disposições são coletivamente orquestradas que deformam e orientam a ação – o produto
das relações sociais. Outrossim, o autor apresenta notáveis contribuições em conceitos
chaves como capitais, campo e habitus, o que possibilita interpretarmos “a prática social
como um resultado de seu agrupamento” (BOURDIEU, 1983, p.160)
“Uma teoria científica é considerada superior a suas predecessoras não apenas porque é
um instrumento mais adequado para resolver quebra-cabeças, mas também porque é uma
representação melhor do que a natureza (evolução) realmente é” (KUHN, 2012, p.318-
319). Com essa afirmativa que tangencia uma evolução temos que a partir do final da
década de 1970, um marco importante vem celebrar o avanço da ciência. Trata-se do
primeiro estudo etnográfico - “Vida em Laboratório”
Bruno Latour
(1979) de Bruno Latour e Steve Woolgar. Outrossim, destaca-se as contribuições de
Harold Garfinkel, Michael Lynch e Eric Livingston que nos Estados Unidos começaram
a trazer sua perspectiva etnometodológica distinta para o que se passa no laboratório.
Outros autores contribuíram com esse avanço científico, findo com a exposição da Teoria
Ator-Rede (TAR) que surge a partir dos estudos de Bruno Latour [que desde Ciência em
Ação – 1897 – crítica e se distância da sociologia do conhecimento], Michel Callon, e
John Law (In: PICKERING, 1992, p.1).
“Embora não haja um método para encontrar tesouros, os caçadores de tesouros estão
eternamente procurando mapas ou guias - e é isso que o livro de Bruno Latour é. O que
constitui um tesouro é altamente pessoal, que é uma razão pela qual não pode haver
método para isso” (CZARNIAWSKA, 2006 p.1553). A obra de Latour, filósofo,
sociólogo e polêmico, nos implica em sempre continuarmos aprendendo e, para isso,
“cumpre-se mudar, desestruturar-se” (DEMO, 2012). Como citado por Czarniawska, não
deve haver método nem modelos. Latour apresenta que a realidade é tomada como
dinâmica, complexa e não linear, logo, a necessidade de se acompanhar os sujeitos para
compreender a natureza como é vista, percebida, vivida e interpretada pelo “ator”. A TAR
tem grande influência da fenomenologia, etnometodologia, pesquisa qualitativa, física
quântica e complexidade não linear (DEMO, 2012, p.43). Ademais, naturalmente,
discorda veemente do que chamou de sociologia do social (influência bourdiensiana),
deixa para trás a corrente positivista e o ethos das ciências. Em sua obra emprega a
abordagem da “sociologia de associações”, por compreender o significado do termo
social e buscar reagregar o social.
Questionamentos:
1) Como os cientistas começaram a interpretar a ciência prática?
2) Quais os principais objetivos da ANT?
3) Quais as contribuições do estilo pragmático de se fazer pesquisa?
Referências
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