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Depois de estabelecer sua tese central, que é impossível pensar ou falar sobre
o que não existe, Parmênides dedica-se a deduzir de sua tese as seguintes
conclusões:
Dado que não pode haver vir a existir ou deixar de existir, importantes
consequências seguem-se. Parmênides parece ter pensado que disso resultasse que
não poderia haver diferenças entre passado, presente e futuro. Cf. 8=B8:
Jamais foi, tampouco será, uma vez que é agora, todo em conjunto,
um, contínuo...deve ou totalmente ser ou totalmente não ser.
Parmênides sem dúvida defenderia essa inferência do seguinte modo: como poderia
o presente diferir do passado ou do futuro? Uma diferença entre um momento e
outro envolveria algum estado de coisas (prévio) deixando de existir e algum
estado de coisas (novo) vindo a existir para substitui o anterior.
2. Mudança
Claro é que sem diferenças temporais não pode haver mudança. Pois a mudança
implica que o mundo é diferente de um momento a outro e tais diferenças
implicariam que coisas vêm a existir ou o deixar de existir.
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Traduzido de S. M. Cohen, Parmenides, Stage 2, disponível em:
http://faculty.washington.edu/smcohen/320/parm2.htm
Tradução para uso restrito às atividades da disciplina de História da Filosofia Grega.
1
se o celeiro muda de cor, ele se torna, digamos, vermelho. Em outras palavras, o
ser vermelho do celeiro vem a existir. No entanto, isso já foi descartado.
3. Movimento
De acordo com a versão de Melisso do argumento, o movimento pode ocorrer
apenas se o móvel tem um espaço vazio para onde mover-se e o vazio é o mesmo
que nada ou não-ser. No entanto, o não-ser não pode ser. Assim, não pode haver
qualquer movimento.
3. Pluralidade
Aqui é mais difícil de ver o que teria sido o argumento de Parmênides. Por que não
pode haver um mundo de muitas coisas ingeradas, imutáveis e indestrutíveis? (Cf.
atomismo). Parmênides não parece dar qualquer argumento contra a pluralidade,
mas a tradição o tem considerado um monista que acredita que a realidade é uma
e que não pode haver uma pluralidade de coisas.
a) Suponha que houvesse mais do que uma coisa. Nesse caso, teria de haver
algo separado uma do outra, pois, de outro modo, elas não seriam duas. Mas
o que separaria uma do outra? Há um espaço entre elas? Não, isso não é
possível, pois não há espaço vazio. Não há, então, nenhum espaço entre eles?
Nesse caso eles colapsam e são um, não dois.
[Mas de que modo isso seria um caso de falar do que não existe? Quando
dizemos que Castor não é Pólux, qual é a coisa não-existente cuja existência
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estamos negando? Um parmenidiano devoto precisaria dizer que nós estamos
negando a existência do ser Pólux de Castor.
Suponhamos que haja uma diferença entre a e b. Isso significa que deve
haver alguma propriedade, F, de modo que a é F e b não é F. No entanto,
quando dizemos que b não é F, estamos violando as regras de Parmênides,
pois estamos dizendo que a F-dade de b não existe.
6. Negação e não-existência
Em qualquer interpretação, parece que Parmênides diria que qualquer negação
(qualquer asserção negativa) é uma negação da existência. E é fácil ver por que um
parmediniano sustentaria que uma negação da existência não pode ser
significativa e verdadeira. Com efeito, se fosse verdadeira, então aquilo sobre
o que ela é seria não-existente. Assim, ela não seria sobre qualquer coisa. E se
ela não é sobre qualquer coisa, não seria sequer significativa. Se não se pode falar
sobre o que não existe, então não se pode nem mesmo negar sua existência.
Desse modo, negações de existência (“asserções existenciais negativas”) são
impossíveis.
[“x não existe” não é verdadeiro, a menos que x não exista. Entretanto, se o
sujeito de uma asserção não existe, a asserção não é significativa. O problema com
os existenciais negativos é este: uma condição necessária da sua verdade é uma
condição suficiente para que ele não tenha significado.]
A melhor resposta a Parmênides aqui é apontar (como Platão fez) que nem todas
as negações são negações de existência. Quando uma pessoa diz que vacas não
voam, ela não está referindo-se a vacas voadoras, e dizendo que elas não existem.
Ela está referindo-se a vacas, e dizendo que elas não voam.
Coversamente, a asserção de que pássaros voam não deve ser analisada como algo
que faz referência ao voar dos pássaros e diz que ele existe (mesmo que pareça
inofensivo fazê-lo). O que faz referência não é a asserção como um todo, mas
apenas suas partes individuais.
“Uma asserção precisa ter força existencial”: sim, mas apenas no sentido de que
seus termos (simples) devem referir-se a coisas que existem. Isso, contudo, não
significa que as asserções elas mesmas precisam referir-se a alguma outra coisa
(um “fato”, ou um “estado de coisas”) que exista.
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1. x pode ser pensado se e somente se x pode existir.
c) Dessa tese central, ele deriva uma série de importantes corolários que
desafiam o senso comum:
b) Ele pensou que negações de existência são impossíveis (ou seja, não podem ser
conjuntamente significativos e verdadeiros).
c) Ele pensou que todas as negações (todos “não é”s) são negações de existência.