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Este capítulo apresenta os conceitos básicos da conversão eletromecânica de energia, permitindo uma introdução ao
estudo dos geradores e motores elétricos.
As máquinas elétricas promovem a conversão de energia mecânica em elétrica e vice-versa, por meio de
princípios físicos gerais e relativamente simples, independentemente do tipo de máquina em consideração. Os
diversos tipos de motores e geradores, como os síncronos, assíncronos e de corrente contínua, diferenciam-se por
seus aspectos construtivos e topologia magnética, apresentando variadas características externas, compatíveis com
cada aplicação.
Como exemplos dessas máquinas, podemos citar os geradores de usinas hidrelétricas, termelétricas e eólicas, os
motores elétricos aplicados em todos os acionamentos industriais, na tração elétrica de trens e metrôs, bem como na
propulsão naval, além daqueles de uso automotivo. Em toda uma variada gama de equipamentos eletrodomésticos,
desde geladeiras e máquinas de lavar roupa, até mesmo em um barbeador portátil, será encontrado algum tipo de
máquina elétrica.
Figura 5.1 Campo magnético B formado ao redor de condutores imersos em ar, conduzindo corrente I. Esquerda: o campo é
percebido pela força mecânica dfmec, que se manifesta em um elemento dL do condutor vizinho. Direita: distribuição de linhas de
campo resultante no entorno de dois condutores paralelos que conduzem a mesma corrente em sentidos opostos.
A permeabilidade do ar é muito baixa, significando que uma bobina afetada pela corrente elétrica formará um
campo magnético pouco intenso que se distribui no espaço de forma não uniforme através e em torno da bobina,
sendo pouco aproveitável. O campo magnético assim formado é interpretado como um conjunto de linhas contínuas
que fluem por dentro do volume das espiras e que se fecham pelo espaço externo às mesmas, formando um fluxo
magnético através da bobina.
Nos dispositivos e conversores eletromecânicos, desde pequenos relés, até transformadores e máquinas elétricas,
o circuito magnético será constituído de forma geral por bobinas de excitação percorridas por corrente, alojadas
sobre um núcleo de material com elevada permeabilidade magnética, objetivando favorecer o estabelecimento de
um campo magnético intenso, com distribuição espacial bem definida. O material empregado nesses dispositivos,
chamado ferromagnético, é caracterizado mais adiante.
A Figura 5.2 mostra um exemplo simples de circuito magnético dotado de núcleo ferromagnético associado a
uma bobina com N1 espiras. Ao ser percorrida por uma corrente Im (denominada corrente de magnetização), a
bobina impõe sobre o meio uma excitação magnética denominada força magnetomotriz, simbolizada por Fmm e
dada por:
Na Equação 5.1 a unidade de Fmm é A · e (ampère-espira).1 Sob ação dessa excitação, estabelece-se no núcleo
um fluxo magnético ΦM cuja unidade é Wb (weber).
O campo magnético assim produzido, na forma de um fluxo com linhas contínuas e fechadas, fica
completamente confinado no volume do núcleo devido à elevada permeabilidade magnética de seu material,
representada por μfe (μfe >> μ0). O confinamento do fluxo no núcleo assume uma geometria bem definida,
permitindo sua completa caracterização e uma utilização adequada.
Figura 5.2 Estrutura ou circuito magnético constituído de núcleo de material ferromagnético fechado, associado a uma bobina
de excitação percorrida por corrente elétrica.
em que Sfe é a seção efetiva de material ferromagnético do núcleo em cada região do mesmo, normal às linhas de
campo nele estabelecido.
A excitação magnética ou força magnetomotriz Fmm imposta pela bobina aplica-se ao longo de todo percurso
médio da geometria do núcleo, de comprimento lfe, chamado comprimento da circuitação magnética do fluxo.
Caracteriza-se uma nova grandeza eletromagnética, denominada intensidade de campo magnético,3 que nada mais é
que a força magnetomotriz por unidade de comprimento da circuitação ao longo do núcleo. Essa grandeza, medida
em A/m, é dada por:
O vetor intensidade de campo magnético e o vetor densidade de fluxo são grandezas locais presentes em um
meio material, e estão relacionados pela permeabilidade magnética do mesmo. No caso do núcleo de material
ferromagnético, tem-se então Bfe = μfe·Hfe. Se o núcleo for de qualquer outro material que não o ferromagnético, a
relação será dada por Bn = μ0·Hn. É fácil verificar que para uma mesma excitação e comprimento de circuito
magnético, enquanto a intensidade de campo Hn fica igual a Hfe, a densidade de fluxo nesse novo núcleo será muito
menor que a anterior, com material ferromagnético, Bn << Bfe, pois, como dito, a permeabilidade μfe >> μ0.
Observando-se o circuito magnético de forma global, identifica-se uma relação causal entre a força
magnetomotriz aplicada e o fluxo magnético resultante no núcleo: Fmm (causa) → ΦM (efeito). Essa relação é
formalizada pela expressão:
em que fe é a chamada relutância magnética do núcleo ou da estrutura, e sua unidade é H–1. A relutância
quantifica a oposição que o circuito magnético oferece para nele se estabelecer um dado fluxo, e a grandeza inversa
é denominada permeância magnética.4
Isolando-se o termo da relutância na Equação 5.4, e substituindo-se a Fmm a partir da Equação 5.3 e o fluxo a
partir da Equação 5.2, resulta a expressão da relutância em termos de grandezas geométricas e do material:
A Equação 5.4 apresenta uma semelhança formal com a Lei de Ohm, na qual a tensão aplicada por uma fonte
sobre a resistência de um condutor dá origem à circulação de uma corrente elétrica pelo mesmo (V = R·I). Contudo,
a Equação 5.5 apresenta uma semelhança formal com a expressão da resistência ôhmica fornecida por um condutor
elétrico , em que lc é seu comprimento, Sc sua seção reta e σc a condutividade elétrica, uma
propriedade do material.
A semelhança formal entre as grandezas dos sistemas magnético e elétrico permite tratar os primeiros como
circuitos elétricos usuais, regidos pela Equação 5.4, equivalente à Lei de Ohm. A força magnetomotriz aplicada ao
sistema pela bobina equivale à tensão aplicada ao condutor pela fonte, o fluxo magnético estabelecido no núcleo
equivale à corrente no condutor, e a relutância magnética equivale à resistência ôhmica do condutor. Essa
semelhança formal é a razão pela qual as estruturas magnéticas similares à da Figura 5.1 são comumente chamadas
de circuitos magnéticos.
O fluxo magnético estabelecido na estrutura é proporcional à corrente de excitação que circula pela bobina,
conforme pode ser concluído da Equação 5.4. A constante de proporcionalidade entre o fluxo, concatenado com as
N1 espiras, e a corrente que o produziu é um atributo da bobina denominado indutância, medida em henry (H):
Como o fluxo que concatena com as N1 espiras da bobina é agora variável no tempo, ΦM(t) = Φp·sen(ω·t),
manifesta-se o fenômeno da indução eletromagnética descrito pela Lei de Faraday:
Na Equação 5.8, E1(t) é a força eletromotriz (f.e.m.) ou tensão induzida na bobina, devido à variação temporal
do fluxo por dentro da mesma. Essa f.e.m. se opõe, ou equilibra a tensão alternada imposta aos terminais da bobina
pela fonte, V1(t), permitindo que seja absorvida a corrente de magnetização im(t). Sempre que um fluxo magnético
variar no tempo dentro de um circuito elétrico ou bobina se manifesta a tensão induzida chamada f.e.m. induzida
variacional.
Para um fluxo magnético criado por uma corrente senoidal, expressa por im(t) = IP·sen(ω·t), a f.e.m. induzida
resultará:
em que E1p = ω·N1·Φp é o valor máximo ou de pico da tensão alternada induzida.6 Deve-se observar que enquanto a
corrente de magnetização absorvida pela bobina é alternada senoidal, a tensão que deve ser imposta aos seus
terminais é alternada cossenoidal. Isso significa que tensão e corrente não são simultâneas, resultando a corrente
atrasada no tempo de 90° em relação à tensão impressa nos terminais da bobina.7 O produto da tensão pela
corrente, portanto, não é potência ativa, e não significa trabalho produzido, já que o valor médio resulta nulo. O
produto da tensão nos terminais pela corrente de magnetização absorvida é chamado de potência aparente
consumida, que no caso apresenta uma natureza denominada de reativa. Sempre que as correntes absorvidas por
bobinas de excitação de circuitos magnéticos forem exclusivamente para o estabelecimento desse campo magnético,
terão esse caráter reativo.
Quando a excitação do circuito magnético se dá com corrente alternada, também se caracteriza a energia
magnética armazenada no campo estabelecido no núcleo. O fluxo magnético cresce com a corrente, identificando-se
nesse intervalo uma energia magnética crescente, vinda da fonte e se acumulando no campo magnético. Quando a
corrente diminui, na sua passagem por zero o fluxo também se anula, mas a energia não pode simplesmente
desaparecer. O que ocorre então, é que durante o intervalo de decréscimo da corrente e do fluxo, a energia
magnética que tinha sido acumulada no campo retorna à fonte. A Figura 5.3 ilustra esse fluxo de energia.
Figura 5.3 Energia magnética circulando entre o circuito magnético e a rede de alimentação. Área A: a energia flui da fonte para
o circuito magnético, acumulando-se no campo magnético. Área B: a energia armazenada retorna para a fonte.
A circulação de energia entre a fonte de alimentação da bobina e o campo magnético estabelecido no circuito
magnético como descrito é o que caracteriza a energia reativa nos sistemas elétricos.8
Figura 5.4 Amostra de material ferromagnético conforme encontrada na natureza ou recém-obtida por processo metalúrgico. Os
domínios magnéticos orientam-se de forma aleatória, não apresentando campo externo observável.
Se a amostra do material for agora submetida a um campo magnético externo, produzido, por exemplo, por uma
bobina excitada com corrente, os domínios passam a se orientar na direção do mesmo. Sendo fontes de campo
intrínsecas do material, os domínios passam a contribuir com o campo externo, resultando em um campo mais
intenso, ilustrado na Figura 5.5.
Na situação da Figura 5.5, diz-se que material ferromagnético está se polarizando magneticamente, e o campo
total, quantificado pela densidade de fluxo magnético resultante B, é dado por:
em que μ0·H é o campo externo aplicado pela bobina e J é uma grandeza vetorial chamada polarização magnética,
medida em Wb/m2 ou T, que é a resposta do material.9 O gráfico à direita da Figura 5.5 mostra a evolução da
polarização do material em função do campo externo. Inicialmente, o crescimento do campo resultante é quase
linear, em função da mobilidade dos domínios magnéticos. Quando esses se alinham completamente na direção do
campo externo, sua contribuição atinge um limite denominado saturação magnética, conforme ilustrado na Figura
5.6.
Atingida a saturação magnética, qualquer incremento no campo externo aplicado pela bobina não resultará em
maior polarização do meio, e o campo total crescerá apenas na mesma proporção do campo externo. O gráfico à
direita da Figura 5.6 ilustra essa situação, sendo o fenômeno da saturação magnética o responsável pela forte não
linearidade do comportamento dos materiais ferromagnéticos.
Quando o campo externo aplicado sobre o material ferromagnético é retirado, os domínios se relaxam para uma
situação de mínima energia com distribuição desordenada de suas orientações. Porém, uma parcela residual da
polarização permanece, por relaxação incompleta dos domínios. Esse efeito é chamado de histerese magnética,
ilustrado na Figura 5.7. O gráfico à direita indica os caminhos de magnetização e desmagnetização do material,
restando uma densidade de fluxo chamada campo remanente, BR, quando a excitação externa é anulada.
A causa fundamental da histerese é o dispêndio de uma quantidade de energia para orientar os domínios
magnéticos durante a polarização do material. Como já dito, ao se estabelecer o campo magnético no sistema, a
energia flui da fonte de alimentação da bobina e se armazena no campo confinado no material. Uma parcela dessa
energia é utilizada para orientar os domínios, e, ao se retirar o campo, essa parcela não retorna à fonte, ficando
dissipada no material na forma de calor. Nos circuitos magnéticos excitados em corrente alternada, o fluxo
magnético no material é alternado e a polarização do meio é cíclica. Desse modo, a energia que circula entre a fonte
de alimentação e o campo magnético estabelecido no núcleo tem uma parcela que não retorna mais à fonte,
caracterizando uma perda de energia ao longo do tempo, ou uma potência de perdas dissipada no núcleo convertida
em calor, chamada perda no ferro por histerese. A Figura 5.8 mostra o chamado ciclo de histerese, indicando o
andamento da excitação elétrica alternada e a correspondente magnetização cíclica do material ferromagnético. A
área interna ao ciclo é proporcional à perda no ferro por efeito da histerese.
Figura 5.5 Efeito da polarização magnética. Contribuição dos domínios do material ferromagnético com o campo aplicado
externamente, resultando em um campo total mais intenso.
Figura 5.6 Contribuição máxima dos domínios, caracterizando a saturação magnética do material ferromagnético. A partir desse
ponto, o aumento do campo externo não tem efeito apreciável.
Figura 5.7 Caracterização da histerese magnética. Relaxação incompleta dos domínios no material ferromagnético.
Figura 5.8 Ciclo de histerese para material ferromagnético excitado com corrente alternada.
A perda por histerese por unidade de volume de material é dada por ph = kh · f · Bαfe, em que kh é um coeficiente
que depende da liga de aço utilizada, f é a frequência da alimentação alternada e α é um expoente que varia
tipicamente entre 1,6 e 2,2, dependendo do material.
Os materiais ferromagnéticos são também materiais condutores elétricos. Quando sujeitos a fluxo magnético
variável em seu interior, induzem-se correntes circulantes na sua massa metálica segundo a Lei de Faraday. Essas
correntes, chamadas parasitas ou de Foucault, manifestam perdas por efeito joule na resistência ôhmica do meio,
originando mais um componente de perda no ferro, chamada perda Foucault. Para inibir esse tipo de perda, os
núcleos dos equipamentos sujeitos a fluxo variável são sempre construídos na forma de lâminas de pequena
espessura, isoladas umas das outras. Essa perda por unidade de volume é dada por pf = kf · f2 · e2 · B2fe sendo kf um
coeficiente dependente do tipo de material e e, a espessura das lâminas que compõem o núcleo. A perda no ferro
total dos núcleos ferromagnéticos excitados em corrente alternada é dada pela Equação 5.11:
em que γfe é a densidade do material e Gfe é a massa do núcleo. Os aços para construção eletromecânica têm, em
geral, adição de silício em sua liga para minimizar as perdas, e espessura típica entre 0,35 e 0,60 mm.
Figura 5.9 Caracterização dos modos motor e gerador nos conversores eletromecânicos rotativos.
Essa energia, caracterizada pela Equação 5.14, pode ser representada pela área hachurada do gráfico central na
Figura 5.10, sendo quantificada por: Wel = N·I·(Φ2 – Φ1) = N·I·ΔΦ. O gráfico à direita da mesma figura representa o
trabalho mecânico produzido pela força de atração entre as armaduras do eletromagneto ao longo da translação,
desde x1 até x2, caracterizando energia mecânica fornecida ao meio externo, dada por: Wmec = Fmec·(x2 – x1) =
Fmec·Δx.
Desprezando ou considerando em separado as perdas porventura existentes no sistema, e aplicando o princípio
de conservação da energia, chamado nesse contexto de balanço de energia no sistema eletromecânico, resulta que
a energia elétrica introduzida no sistema é idêntica à energia mecânica dele extraída, somada com a variação da
energia magnética armazenada. Para o caso, obtém-se a identidade: Wmec = Wel – ΔWmag = N·I·ΔΦ – ½·N·I·ΔΦ =
½·N·I·ΔΦ. Portanto, no sistema linear: Wmec = ΔWmag. A força mecânica produzida pelo eletromagneto pode então
ser determinada por:
O último termo da Equação 5.15 pode ser obtido por substituição da energia magnética armazenada em função
da indutância associada à bobina, conforme Equação 5.7. Esse tipo de estrutura, dotado de uma única bobina, é
chamada de sistema eletromecânico de simples excitação, e sua saída mecânica é denominada força de
relutância. Essa designação deriva da tendência natural de tais sistemas sempre buscarem a mínima relutância
magnética de seus circuitos magnéticos.
As máquinas rotativas clássicas constituem-se, em geral, de sistemas eletromecânicos duplamente excitados,
tendo pelo menos duas bobinas ou enrolamentos alimentados com corrente, uma associada à parte fixa e outra à
parte móvel do dispositivo. A Figura 5.11 ilustra a configuração básica desse tipo de sistema.
Na Figura 5.11 a parte fixa é chamada de estator, com bobina de N1 espiras, excitada por corrente I1. A parte
móvel, chamada de rotor, tem uma bobina de N2 espiras percorrida pela corrente I2. Se qualquer uma das bobinas
estiver desligada, o sistema se comportará de forma idêntica ao anteriormente estudado de simples excitação, o
Na Equação 5.16, os dois primeiros termos são denominados torques de relutância e o último termo torque de
mútua indutância. O parâmetro M é a indutância mútua entre as bobinas de estator e rotor.
Uma forma alternativa de se entender a manifestação do torque e a conversão de energia nessa estrutura é pelo
princípio do alinhamento magnético entre os campos formados pelo estator e rotor. As bobinas de estator e rotor
produzem, ao serem percorridas por correntes, seus próprios campos magnéticos B1 e B2 estabelecidos no entreferro.
Sempre que entre esses vetores de campo existir um ângulo θ não nulo, os mesmos produzirão um torque tendendo
a se alinhar mutuamente, dado por: C = k·B1·B2·senθ, sendo k uma constante construtiva. É possível demonstrar que
essa última expressão pode ser derivada da Equação 5.16. Nas máquinas rotativas convencionais, a estrutura
mostrada na Figura 5.11 será adequadamente adaptada, objetivando-se a maximização do torque produzido, bem
como a manutenção desse torque independentemente da posição e da velocidade do rotor.
Figura 5.11 Estrutura eletromagnética de rotação, duplamente excitada, base para a configuração das máquinas elétricas
rotativas.
Para a compreensão do funcionamento das máquinas elétricas clássicas, a abordagem pelos princípios
anteriormente apresentados mostra-se às vezes de difícil aplicação direta. Para que essa tarefa se torne mais
intuitiva, a manifestação de torque na conversão eletromecânica pode ser feita alternativamente por meio das
interações eletromagnéticas fundamentais que, embora diferentes na forma, têm exatamente a mesma
fundamentação já apresentada.
A primeira das interações fundamentais é a indução de tensão em um condutor elétrico que se movimenta
imerso em campo magnético. É equivalente à Lei de Faraday da indução eletromagnética, em uma versão na qual a
variação de fluxo magnético é obtida por movimento relativo entre condutor e campo magnético, mostrada na
Figura 5.12.
Figura 5.12 Interação eletromagnética fundamental – Tensão induzida por efeito mocional.
Um condutor de comprimento ativo11 L está imerso em um campo magnético com densidade de fluxo B,
orientado na direção y. O condutor, orientado segundo a direção z, está afetado de uma velocidade v na direção x.
Dada essa situação, em um elemento do condutor com comprimento dL, será induzida uma força eletromotriz ou
tensão elementar dE, chamada de f.e.m. mocional, dada por:
Na Equação 5.17, a integração ao longo do comprimento ativo do condutor resulta na magnitude da tensão dada
pelo produto algébrico das grandezas envolvidas, pois os vetores são normais entre si. A polaridade da tensão é dada
pela direção do produto vetorial entre v e B, no caso na direção positiva do eixo z. Dessa forma, o condutor em
movimento dentro de um campo comporta-se como uma fonte de tensão, cuja magnitude depende das intensidades
do campo e da velocidade, e cuja polaridade é dada pela orientação relativa entre os dois vetores.
A segunda das interações fundamentais descreve a manifestação de forças mecânicas em condutores imersos em
campo magnético, quando esses conduzem corrente elétrica, ilustrada na Figura 5.13.
A descrição da força produzida no condutor é dada pela Lei de Ampère. A corrente de intensidade i percorre o
elemento de condutor dL na direção z, imerso no campo com indução B, resultando em:
Na Equação 5.18 a ortogonalidade entre os vetores de campo e de comprimento permite determinar a
intensidade da força pelo produto algébrico das grandezas, sendo sua direção definida pelo sentido de percurso da
corrente no condutor.
A Figura 5.13 ilustra as duas situações possíveis da interação campo-corrente. À esquerda, a tensão induzida no
condutor é aplicada a um circuito externo com resistência R, de modo que o condutor impõe a corrente na direção
positiva do eixo z, concordante, portanto, com a direção da tensão induzida. O condutor assim está caracterizado
como fonte de tensão, alimentando o circuito externo. A força que se manifesta está orientada na direção negativa
do eixo x, opondo-se ao movimento. Para conservar a velocidade de deslocamento do condutor, será necessário
aplicar sobre o mesmo uma força externa, igual e contrária à fmec, estabelecendo uma entrada de potência mecânica
no sistema. O condutor está assim caracterizado como gerador elementar, convertendo a potência mecânica
introduzida em potência elétrica entregue ao circuito externo.
Do lado direito da Figura 5.13, as extremidades do condutor são ligadas a uma fonte externa, por exemplo, uma
bateria com tensão VBAT superior à f.e.m. E induzida e com polaridades iguais. Desse modo, a fonte externa impõe a
corrente sobre o condutor na direção negativa do eixo z, em oposição à tensão induzida no mesmo, caracterizado
agora como um receptor que absorve potência elétrica vinda da bateria. Devido à inversão do sentido da corrente em
relação ao caso anterior, inverte-se também o sentido da força mecânica produzida sobre o condutor, manifestando-
se agora em sentido concordante com o movimento. Para que o condutor mantenha a velocidade de deslocamento,
será necessário aplicar uma força resistente, igual e contrária à fmec, freando a barra, estabelecendo-se uma saída de
potência mecânica do sistema. O condutor, caracterizado como um motor elementar, converte a potência elétrica
vinda da bateria em potência mecânica entregue ao meio externo que freia a barra.
Nas duas situações da Figura 5.13, é a mesma barra que opera como gerador ou como motor, dependendo das
interfaces elétrica e mecânica aplicadas ao sistema. O mesmo acontece com as máquinas elétricas, que podem
operar indistintamente nos modos motor e gerador.
Nas máquinas rotativas, as interações eletromagnéticas fundamentais anteriormente descritas estão sempre
presentes, aplicadas a uma estrutura magnética típica dos motores e geradores, com simetria cilíndrica obtida por
construção, como mostra a Figura 5.14.
Figura 5.13 Força mecânica produzida em condutor imerso em campo, conduzindo corrente. Esquerda: ação geradora
elementar. Direita: ação motora elementar.
Figura 5.14 Estrutura típica das máquinas elétricas rotativas, com simetria cilíndrica.
O campo magnético nas máquinas rotativas é sempre produzido na direção radial do entreferro, com uma
distribuição periódica e um número par de polos ao longo da circunferência. Os condutores são locados na periferia
do rotor, em sentido longitudinal, alojados em ranhuras executadas na superfície do material ferromagnético com o
qual é construído o rotor. Dois condutores formam uma espira, cujos lados estão afastados em distância igual à de
dois polos magnéticos consecutivos, ou de um semiperíodo da distribuição de campo.
Desse modo, ao se mover o rotor com uma rotação angular ω, os condutores ficam afetados de uma velocidade
periférica v, tangencial à superfície do rotor. O movimento relativo entre condutores e campo dá origem a tensões
induzidas nos condutores que se somam ao longo da espira, podendo ser multiplicada tantas vezes quantas forem as
espiras alojadas na formação da bobina. Como os condutores são longitudinais, o campo é radial e a velocidade
relativa entre ambos é tangencial, os vetores formam um conjunto normal entre si, produzindo a máxima tensão
induzida por condutor, expressa pelo produto B·L·v. Essa tensão induzida evoluirá ao longo do tempo, conforme a
distribuição espacial do campo produzido no entreferro, como mostrado nas curvas do lado direito da Figura 5.14. O
alojamento dos condutores em ranhuras executadas no material ferromagnético, de permeabilidade muito superior à
do ar, transfere as forças mecânicas que se manifestam nos mesmos para a estrutura metálica do rotor, aliviando-os
de solicitações mecânicas excessivas.
Figura 5.15 Instalação típica de pequena central hidrelétrica (PCH), 2500 kVA, 900 RPM. (Cortesia de Equacional Elétrica e
Mecânica Ltda.)
A Figura 5.16 mostra um exemplo característico de geração térmica com turbina a vapor de grande porte.
Figura 5.16 Instalação típica de aproveitamento termelétrico com turbina a vapor.
Em geral, pequenas turbinas a vapor e a gás operam em velocidades superiores às normais dos geradores,
obrigando a incorporação de um redutor de velocidade para acoplamento dos eixos da turbina e do gerador. Nos
grandes turbogeradores, os aspectos mecânicos ligados à dinâmica do rotor são os mais graves, sendo que,
invariavelmente, as rotações críticas situam-se abaixo das rotações nominais.
A máquina síncrona é constituída basicamente de estator e rotor, caracterizando sua parte ativa.14 Todos os
demais elementos são estruturais ou auxiliares. O estator da máquina síncrona tem o mesmo conceito construtivo,
independentemente do tipo de rotor.
O estator, representado esquematicamente na Figura 5.17, é a parte da máquina em que a energia elétrica será
produzida e fornecida para as cargas ou para a rede.
O estator é formado por um núcleo construído com material ferromagnético de simetria cilíndrica, composto de
lâminas de aço silicioso de pequena espessura, isoladas umas das outras e prensadas axialmente, formando um
conjunto compacto. A construção laminada tem como objetivo limitar as perdas no ferro, pois o campo magnético
estabelecido no núcleo do estator é variável no tempo.
Na superfície interna do cilindro do núcleo estão executadas ranhuras onde serão alojadas as bobinas do estator,
distribuídas ao longo de toda a circunferência. Essas bobinas, fabricadas com condutores de cobre isolados entre si e
contra a estrutura aterrada, constituirão o enrolamento do estator, também chamado de enrolamento induzido ou
de armadura, e são os elementos onde a tensão será gerada a partir da interação com um campo magnético móvel no
entreferro.15 Os enrolamentos são agrupados em conjuntos, formando um sistema trifásico, com tensões nominais na
classe de média tensão, entre 6,6 e 24 kV. A superfície externa do estator é consolidada à estrutura mecânica de
suporte da máquina.
O rotor da máquina síncrona na construção de polos salientes é mostrado de forma esquemática na Figura 5.18.
A função do rotor é produzir o campo magnético no entreferro, chamado, portanto, de indutor da máquina.
Quando o número de polos é reduzido, (4 ou 6), usualmente a construção do núcleo é feita em peça única, obtida
por estampagem de lâminas de elevada espessura ou, nos casos de maior porte, por usinagem completa de um
cilindro forjado em aço.
A estrutura cruciforme do núcleo magnético apresenta projeções em número igual ao de polos, cada uma
formando o corpo polar, e, na superfície que confronta o estator, essas projeções se expandem formando as
chamadas sapatas polares. O núcleo do rotor é construído usualmente em aço carbono, maciço ou com laminação
espessa, uma vez que não existe manifestação de perdas no ferro, pois o fluxo magnético no rotor é invariante no
tempo. Em torno de cada polo são montadas as bobinas de campo ou de excitação, alimentadas em corrente
contínua. Para a adução da corrente de excitação às bobinas de campo, vinda de uma fonte externa à máquina,
utiliza-se um sistema de contatos móveis constituído de anéis coletores solidários ao eixo e escovas de contato16
com suportes fixados na estrutura da máquina. Nas superfícies das sapatas polares são executadas pequenas
ranhuras, nas quais se alojam barras condutoras curto-circuitadas nas extremidades dos polos, formando um
enrolamento denominado amortecedor, importante para garantir estabilidade de operação aos geradores quando
funcionando em paralelo ou conectados ao sistema elétrico.
Figura 5.19 Construção do rotor de polos salientes, com peças polares independentes engastadas.
Nas máquinas síncronas com elevado número de polos, não é possível a construção do núcleo do rotor em peça
única. Adota-se nesses casos a construção com polos independentes, mecanicamente suportados por um anel
rotativo ligado ao eixo. Os polos são construídos a partir de lâminas espessas de aço carbono, empilhadas e
rebitadas, formando um conjunto sólido sobre o qual se montam as bobinas de excitação. Os conjuntos de polos são
fixados no anel de material ferromagnético, por meio de engastamento ou parafusamento. A Figura 5.19 ilustra esse
tipo de construção.
O conjunto total de polos e o anel de fixação constituem a roda polar, solidária ao eixo do gerador por meio de
braços ou nervuras, permitindo a obtenção de rotores de grande diâmetro com elevado número de polos.
O rotor de polos salientes se caracteriza pela grande abertura existente entre as sapatas polares, quando
comparada com a distância ocupada por um polo magnético (chamada passo polar). Desse modo, observado pelo
estator, apresenta uma permeância magnética elevada na direção do eixo dos polos (denominado eixo direto –
E.D.), e uma permeância bem menor na linha interpolar (denominada eixo em quadratura – E.Q.). Essa diferença
de permeâncias entre eixos magnéticos é o que define a estrutura como “saliente”.
Na máquina síncrona com rotor de polos lisos, ao contrário, não se observa diferença apreciável de permeância
magnética ao longo da periferia do rotor. A estrutura magnética é quase invariante com a posição. Essa característica
“não saliente” ou “lisa”, deve-se ao fato de na periferia do rotor existirem ranhuras distribuídas com pequena
abertura em relação ao passo polar, como esquematizado na Figura 5.20.
Em máquinas de polos lisos de grande porte, o núcleo magnético do rotor é usualmente construído a partir de
uma peça única forjada em aço, usinada e com as ranhuras fresadas. O enrolamento de excitação é fracionado em
bobinas relativamente pequenas, alojadas nas ranhuras e ali fixadas por cunhas de aço não magnético. Desse modo,
a massa individual de cada bobina a ser retida é muito inferior à da máquina de polos salientes. As extremidades das
bobinas que se projetam de cada lado do núcleo são restritas por meio de capas metálicas de aço não magnético,
montadas com interferência sobre o eixo.
Quando a construção é feita com uma única peça forjada, a massa metálica maciça na superfície do rotor se
comporta como um enrolamento de amortecedor distribuído, não requerendo em geral as barras condutoras como no
caso anterior. O sistema de adução de corrente contínua de excitação ao enrolamento de campo é similar também ao
caso anterior, feito por meio de escovas e anéis coletores.
A Figura 5.21 mostra exemplos construtivos de máquinas síncronas.
Figura 5.21 Construção de máquinas síncronas de médio porte. Esquerda: hidrogeradores de polos salientes. Direita: rotor de
gerador de polos lisos. (Cortesia de Equacional Elétrica e Mecânica Ltda.)
Percebe-se claramente na Figura 5.21 a presença dos diferentes polos na configuração de rotor de polos
salientes, enquanto no rotor cilíndrico a identificação do número de polos é bem mais difícil. Ficam também
evidenciadas nas duas construções as relações D/L típicas de cada variante de rotor.
Devido aos aspectos construtivos aqui descritos, a execução com rotor de polos salientes adapta-se melhor a
máquinas de grande diâmetro e baixa velocidade, nas quais a retenção dos polos na roda polar é naturalmente mais
difícil. No rotor de polos lisos, a maior facilidade de fixação das bobinas em diâmetros reduzidos possibilita a
operação em elevadas velocidades, com pequeno número de polos.
Figura 5.22 Distribuição de campo magnético no entreferro da máquina síncrona de polos salientes.
Figura 5.23 Distribuição de campo magnético no entreferro da máquina síncrona de polos lisos.
Na máquina com rotor de polos lisos, a conformação espacial do campo no entreferro é conseguida pelo
fracionamento das bobinas do enrolamento de excitação, distribuídas ao longo da superfície do rotor, como ilustrado
na Figura 5.23.
A distribuição de campo magnético formada no entreferro é solidária ao rotor, sendo dada por:
em que BM, sua magnitude máxima, é ajustada pela corrente de excitação aplicada ao enrolamento de campo. A
corrente de excitação é assim uma variável de controle do campo no entreferro e, como será visto adiante, também
uma variável de controle da tensão gerada.
Independentemente do número de polos totais do gerador, o estudo de seu funcionamento fica caracterizado por
completo se feito em um único par de polos, como mostrado na Figura 5.24, facilitando a análise.
Sendo a distribuição de campo periódica, um par de polos compreende um ciclo magnético completo (polo norte
+ polo sul), definindo assim o período da distribuição de campo sempre em 360° elétricos.17
Figura 5.24 Caracterização do “ciclo magnético” de campo, compreendendo um duplo passo polar.
Figura 5.25 Geração da tensão na bobina do estator da máquina síncrona. Esquerda: momento em que os eixos dos polos em
movimento passam sobre os lados da bobina estatórica. Direita: vista tridimensional do mesmo instante, indicando a interação de
indução de f.e.m. mocional.
Figura 5.26 Evolução da tensão induzida na bobina ao longo do tempo, com o movimento do rotor. Da esquerda para a direita,
ocorre a inversão da polaridade da tensão na bobina.
em que Nef é o número de espiras da bobina, L seu comprimento ativo e v a velocidade tangencial do campo (ou da
superfície do rotor) em relação ao estator. Como a distribuição espacial de fluxo é cossenoidal, a magnitude de
campo a que o condutor está submetido varia conforme a posição relativa entre o rotor e a bobina. Como essa
posição evolui ao longo do tempo,18 a tensão induzida na bobina, observada nos seus terminais, evolui também no
tempo. A Figura 5.26 ilustra esse fato.
A tensão induzida na bobina pode ser reescrita, agora como:
O processo de indução aqui descrito gera na máquina síncrona uma tensão alternada no tempo, razão pela qual
essas máquinas são também denominadas alternadores.
Nota-se, ao longo da Figura 5.26, que ocorreu a permutação de um polo sul por um polo norte na mesma posição
relativamente à bobina. Os condutores dessa bobina ficam submetidos, por isso, a um mesmo valor de campo,
porém com troca de sentido, o que ocasiona a inversão de polaridade da tensão induzida na bobina. Foi gerado,
desse modo, meio ciclo da tensão alternada para o deslocamento de um polo do rotor. Sempre será gerado um ciclo
completo de tensão quando sob a bobina tiver ocorrido translação total de um par de polos.
Desse modo, um gerador com “2p” polos (ou “p” pares de polos), e o rotor girando com velocidade angular, ωs,
produzirá uma tensão alternada com frequência angular ω = 2·π·f = p·ωs. A frequência elétrica gerada será
relacionada com o número de pares de polos por:
Na Equação 5.22, ns e Ns designam a rotação síncrona da máquina, expressa, respectivamente, em RPS ou RPM.
Figura 5.27 Enrolamento de uma fase completa em máquina com múltiplos pares de polos.
As máquinas síncronas multipolares têm as bobinas do enrolamento induzido alojadas no estator em quantidade
igual ao número de polos, para melhor aproveitamento do núcleo, como mostra a Figura 5.27.
Todas essas bobinas têm a mesma tensão induzida, em módulo e fase, sendo conectadas em série com as
polaridades concordantes.19 Esse conjunto de bobinas forma um enrolamento monofásico, no qual é gerada apenas
uma tensão entre os terminais do enrolamento completo.
Como os sistemas elétricos são trifásicos, há necessidade de se obter esse sistema de tensões já na geração. Para
se induzir tensões na máquina síncrona com diferença de fase temporal, são necessárias bobinas adicionais alojadas
no estator com deslocamento angular adequado, como ilustra a Figura 5.28.
Tomando a bobina A como referência, nela é induzida uma tensão alternada EA(t) = EM · cos ωt. O valor máximo
EM ocorre no instante em que a distribuição de campo tem seus máximos, BM, posicionados sobre cada lado da
bobina, conforme a Figura 5.28. Alojando uma segunda bobina B, idêntica à primeira e dela deslocada no estator de
um ângulo θ0 (graus elétricos), a tensão máxima sobre a mesma acontecerá mais tarde no tempo, quando a
distribuição de campo se posicionar com os valores máximos sobre cada um de seus lados. Essa tensão pode ser
escrita como EB(t) = EM · cos(ωt – θ0), caracterizando uma defasagem temporal de θ0 em relação à primeira
bobina.
O sistema trifásico de tensões é caracterizado por três tensões idênticas, defasadas no tempo de 120° entre si,
conforme a Equação 5.23:
Usando o princípio estabelecido na Figura 5.28, para se gerar na máquina síncrona um sistema trifásico de
tensões, alojam-se ao longo do estator três conjuntos de bobinas, idênticos entre si, porém deslocados no espaço de
120° elétricos. Na Figura 5.29 são mostradas essas configurações para dois ou mais polos.
Os conjuntos de bobinas que formam as três fases são interconectados em ligação padrão do sistema trifásico,
usualmente Y (estrela).
em que φ é o ângulo de fase da impedância (que caracteriza seu fator de potência cos φ) e IM é o valor de pico dado
por IM = EM / ZCarga.
Cada bobina do estator passa agora a ser, individualmente, uma nova fonte de excitação do circuito magnético
que age no entreferro, como mostrado na Figura 5.30. Essa excitação, chamada de força magnetomotriz de reação
de armadura, é fixa no espaço com direção segundo o eixo da bobina e tem amplitude variável no tempo, dando
origem a fluxos magnéticos próprios do estator. Como as correntes que circulam pelos enrolamentos do estator não
são simultâneas, as magnitudes das F.m.m. individuais de cada fase são diferentes entre si a cada instante, conforme
a evolução da sua corrente correspondente no tempo. Essa situação é esquematizada na Figura 5.31.
Figura 5.29 Formação do sistema trifásico de tensões na máquina síncrona. Acima: máquina com enrolamento de 2 polos.
Abaixo: máquina síncrona com enrolamento de múltiplos pares de polos.
Figura 5.30 Máquina síncrona em carga. À direita, bobina de uma fase do estator com Nb espiras, conduzindo corrente IA(t),
produzindo a F.m.m. de reação de armadura, com valor de pico Fp(t).
Figura 5.31 Onda de campo rotativo de reação de armadura, em deslocamento no entreferro.
Embora a distribuição de campo individual de cada fase seja estacionária no espaço e variável no tempo, ao se
adicionar ponto a ponto a contribuição das três fases, o resultado é uma distribuição com amplitude constante, cujo
eixo se desloca no espaço. Em carga, portanto, o estator da máquina síncrona produz uma onda de campo
magnético rotativa, que se move com velocidade angular igual à do rotor,20 e cuja expressão é dada por:
FM é o valor máximo da F.m.m. de uma fase isolada (FM = Nb·IM), θ é a posição angular ao longo do entreferro em
graus elétricos e ωs é a rotação angular síncrona.
Esse campo magnético rotativo, criado pelas correntes de carga que circulam pelo estator, irá se confrontar com
o campo magnético originalmente presente no entreferro, criado pelo indutor. O campo final daí resultante é que
determinará a tensão nos terminais do enrolamento da máquina síncrona.21 Os campos do indutor e do induzido
giram na mesma velocidade, sendo estacionários um relativamente ao outro, de modo que a composição final será
determinada por sua posição relativa, definida pelo fator de potência da carga. A Figura 5.32 mostra
esquematicamente a composição das distribuições de campo rotativas no entreferro. O campo criado pelo indutor,
Bf, se compõe com o campo de reação de armadura, Ba, produzindo o campo resultante BR.
Ao centro da Figura 5.32 estão ilustradas as duas situações limite de confronto de campos. Quando a corrente de
carga é puramente indutiva, o campo de reação de armadura é antagônico ao campo do indutor e o campo resultante
tem menor magnitude, induzindo uma tensão em carga menor que a tensão em vazio. Quando a corrente de carga é
puramente capacitiva, ocorre o inverso; a reação de armadura é aditiva com o campo do indutor, aumentando o
campo resultante bem como a tensão em carga em relação à tensão em vazio. No primeiro caso, tem-se o
denominado efeito desmagnetizante de reação de armadura, e no segundo, o efeito magnetizante de reação de
armadura. A Figura 5.33 representa a composição de vetores no entreferro e de tensões induzidas, para cargas
usuais, parcialmente indutivas ou parcialmente capacitivas.22
A variação da tensão nos terminais do gerador com a carga, resultado da composição de campos no entreferro da
máquina síncrona, pode ser estudada e quantificada sem a análise de fenômenos físicos que ocorrem no interior da
máquina, por meio de um modelo de representação mais simples, que é o circuito equivalente por fase, mostrado na
Figura 5.34.
No modelo, a fonte ideal gera a tensão E0, ajustada pela corrente de excitação imposta às bobinas de campo do
rotor, sendo essa última, portanto, a variável de controle da tensão da máquina. O parâmetro XS, denominado
reatância síncrona, produz quedas de tensão quando da circulação de corrente, de modo a alterar a tensão terminal
V resultante na carga.23 A equação fasorial que representa o circuito é dada por:
Figura 5.32 Composição dos campos no entreferro da máquina síncrona em carga. Esquerda: disposição dos campos para uma
carga de natureza arbitrária. Centro acima: carga puramente indutiva (Ia atrasada 90° de E0) — efeito desmagnetizante de reação
de armadura. Centro abaixo: carga puramente capacitiva (Ia adiantada 90° de E0) — efeito magnetizante de reação de
armadura. Direita: diagramas de vetores de campo e de tensões induzidas correspondentes.
Figura 5.33 Composição de vetores de campo rotativo e tensões induzidas para cargas quaisquer.
Figura 5.34 Modelo de circuito equivalente da máquina síncrona e diagrama fasorial associado.
Desse modo, a reatância síncrona replica o comportamento físico das interações de campo no entreferro da
máquina, pois correntes com componente indutiva produzirão quedas sobre a mesma em fase com a tensão na carga,
fazendo com que . Ocorre o inverso para correntes com componente capacitiva, também de acordo
com as interações físicas no interior da máquina.
A partir do modelo por fase da Figura 5.34,24 explicitam-se as potências trifásicas aparente, ativa e reativa
emitidas pelo gerador para a carga:
em que φ é o ângulo de fase da corrente em relação à tensão, e os valores de tensão e corrente são por fase. É
possível ainda expressar a potência ativa em termos do chamado ângulo de carga, δ:25
Essa potência ativa, desconsideradas as perdas, pode ser identificada com a potência mecânica no eixo da
máquina, donde se conclui o torque eletromagnético apresentado pelo eixo da máquina síncrona:
Esse torque é o que deve ser suprido pela turbina para conservação da rotação síncrona ωs quando a máquina
fornece potência ativa à carga.
O controle da tensão é feito a partir de uma fonte de corrente contínua que alimenta o enrolamento de campo da
máquina síncrona. Esse elemento pode ser um retificador controlado (denominado excitatriz estática), ou um
gerador de tensão contínua, independente ou solidário ao eixo do gerador principal (denominado excitatriz
rotativa).26 Associado à excitatriz de campo opera um sistema regulador, que, por meio da realimentação de um
sinal de tensão medida nos terminais da máquina, comparada com um valor de referência, comanda o ajuste da
corrente de excitação if no enrolamento de excitação. Desse modo, as variações da tensão com a carga são
corrigidas, e o valor é mantido estabilizado dentro de faixas predeterminadas. A Figura 5.36 ilustra o
comportamento dinâmico do sistema para uma variação súbita da corrente de carga da máquina síncrona.
No momento da aplicação da corrente no estator, a tensão cai devido ao efeito desmagnetizante de reação de
armadura descrito anteriormente. O controlador detecta a queda, incrementando na sequência a corrente de campo e
corrigindo o nível de tensão após um período transitório que se acomoda em um tempo da ordem de vinte ciclos.
De forma similar ao regulador de tensão, existe um sistema de controle da velocidade que age sobre a turbina,
para regulação e estabilização da frequência gerada pela máquina. Quando o gerador entra em carga ativa,
manifesta-se no eixo um torque eletromagnético, devido à interação entre campos no entreferro, dado pela Equação
5.29. Esse torque resistente provoca queda na rotação e, portanto, na frequência, requerendo da turbina o suprimento
de um torque motriz de valor igual e contrário. Isso exige uma ação sobre o controle de potência da turbina para a
recuperação da rotação, com um comportamento dinâmico semelhante ao da Figura 5.36, apenas com a troca das
variáveis de controle por aquelas próprias do sistema mecânico.
Na operação da máquina síncrona com carga isolada, tensão e frequência são, portanto, determinadas pela
própria máquina, mediante atuação de seus reguladores. A potência ativa máxima que a máquina pode fornecer é
limitada pela potência mecânica da turbina que a aciona. Ultrapassado esse limite, o sistema de regulação da rotação
não responde mais ao aumento de demanda, e ocorre queda na frequência gerada, restrita pelo sistema de proteção
do gerador, desligando-o. De modo similar, a potência reativa é determinada exclusivamente pela carga, sendo o
valor máximo limitado pelo sistema de excitação. Ultrapassado o limite, o regulador de tensão não consegue mais
atender ao aumento de corrente de campo e ocorre queda da tensão gerada, delimitada também pelo sistema de
proteção.
Figura 5.36 Ação do regulador de tensão sobre o gerador, para entrada e saída de carga.
Nas instalações isoladas de maior porte é usual a utilização de geradores operando em paralelo, buscando-se
aumentar a confiabilidade e disponibilidade do sistema. Para possibilitar um controle da divisão de carga entre
geradores, é necessário que seus controladores possuam características de regulação positiva (ou estatismo) da
variável controlada com a carga, como as mostradas na Figura 5.37.
Essas funções são incorporadas aos controladores de tensão e velocidade, propiciando uma queda forçada da
grandeza de interesse em função do carregamento. Para o regulador de tensão, provoca-se uma queda automática da
tensão gerada com o aumento da potência reativa emitida pela máquina, enquanto para o regulador de frequência,
promove-se uma queda na rotação da turbina com o aumento da potência mecânica. O ajuste típico dessa regulação
é da ordem de 2 % da grandeza controlada para 100 % da potência considerada, podendo ser ajustados os valores de
referência da variável de controle conforme a necessidade. Esse comportamento permite que o ponto de operação de
cada máquina, quando funcionando em paralelo, esteja bem definido e possa ser variado de forma estável. A Figura
5.38 ilustra a ação do ajuste das variáveis de controle sobre a divisão de carga entre dois geradores operando em
paralelo. Para geradores idênticos, a igualdade de ajuste das referências de tensão ou frequência garante a igual
repartição de carga reativa ou ativa entre máquinas.
Aumentando-se a referência da variável de controle de uma das máquinas (G2) na mesma medida em que se
reduz a referência da outra (G1), altera-se a divisão de carga, transferindo potência de G1 para G2, mantendo
conservada a tensão e/ou frequência do conjunto.
Figura 5.39 Máquina síncrona interligada ao barramento infinito e seu circuito equivalente.
Figura 5.41 Caracterização das potências ativa e reativa no diagrama fasorial. O eixo horizontal indica potência ativa e o eixo
vertical indica potência reativa.
Figura 5.42 Quadrantes de operação da máquina síncrona conectada ao barramento infinito.
O comportamento geral da máquina síncrona interligada ao barramento infinito é caracterizado por quatro
quadrantes de operação, cada um representando um modo quanto à potência ativa e um modo quanto à potência
reativa. Quando a máquina fornece simultaneamente potências ativa e reativa para a rede, opera de forma
concomitante nos modos gerador e capacitor. Pode operar como gerador absorvendo reativos, além de motor
fornecendo ou absorvendo reativos. As trocas de potência ativa e reativa são controladas independentemente pela
corrente de excitação e pelo torque aplicado ao eixo. A Figura 5.42 ilustra os quadrantes operacionais, sendo o
quadrante II o usual para as máquinas síncronas que funcionam no sistema elétrico de potência.
Independentemente do quadrante de funcionamento, as máquinas síncronas apresentam limites operacionais
ligados aos aspectos térmicos de seus enrolamentos, à disponibilidade de potência mecânica no seu eixo e a
questões de estabilidade no barramento.
O enrolamento do estator tem suas bobinas dimensionadas para um valor de corrente nominal32 que determina a
potência aparente nominal da máquina. No diagrama fasorial, os lugares geométricos do fasor j·Xs·Ia, imagem da
corrente de armadura, para qualquer condição de operação, são círculos concêntricos com centro no ponto O,
origem dos eixos de potência. Existe então um círculo limite, quando a corrente é igual à nominal, que determina a
fronteira de utilização da máquina nos aspectos térmicos do estator, como mostrado na Figura 5.43.
Da mesma forma, o enrolamento de campo do rotor é dimensionado para um determinado valor de corrente de
excitação. No diagrama fasorial, a grandeza associada diretamente à corrente de excitação é a tensão interna E0, cujo
lugar geométrico também é um círculo, com centro no ponto O′. O limite de corrente de excitação determina então
um círculo limite de E0 que define a fronteira de utilização térmica do rotor, também indicado na Figura 5.43.
Figura 5.43 Diagrama de capabilidade do gerador síncrono operando no barramento infinito.
A potência ativa que a máquina síncrona fornece ao barramento é dada pela Equação 5.28
, e, para certo valor de excitação E0, atinge o máximo quando o ângulo de carga δ
= 90°. Isso corresponde ao máximo torque eletromagnético que a máquina pode oferecer em seu eixo para equilibrar
o torque externo aplicado, seja por uma turbina ou por uma carga mecânica. Se o ângulo de carga exceder 90°, o
torque oferecido pela máquina síncrona diminui, não conseguindo mais equilibrar o torque externo, levando à perda
de sincronismo com o barramento.33 Desse modo, o ângulo d = 90° define o chamado limite de estabilidade teórico
da máquina, no qual qualquer pequena perturbação na potência ativa promove oscilações do ângulo de carga,
podendo levar à perda de sincronismo. Para operação segura da máquina, é necessário conservar-se uma margem de
estabilidade ou reserva de potência ativa da mesma, de modo a garantir o sincronismo, ainda que ocorram
perturbações transitórias. Essa margem em potência define uma linha limite para o ângulo de carga, chamado limite
de estabilidade real, indicado na Figura 5.43.
Adicionalmente aos limites da própria máquina síncrona, a sua operação no barramento pressupõe uma
disponibilidade de potência mecânica no eixo para o suprimento da potência ativa emitida. A máxima potência
fornecida pela turbina determina um limite para a potência ativa da máquina elétrica, delimitada no diagrama da
Figura 5.43 por uma linha vertical passando por esse ponto limite.
Todos os limites citados anteriormente definem uma fronteira de operação da máquina, na qual seu
funcionamento está garantido em aspectos térmicos e eletromagnéticos. Essa fronteira define o chamado diagrama
de capabilidade da máquina síncrona, mostrado na Figura 5.43 para operação no modo gerador em uma máquina
de polos lisos. Para o modo motor, a curva deve ser espelhada para a esquerda do eixo vertical. A Figura 5.44 ilustra
dois diagramas de capabilidade de máquinas reais de média potência. A máquina síncrona de polos salientes
apresenta algumas diferenças no seu diagrama, pelo fato de a variação das permeâncias magnéticas nos eixos direto
e em quadratura produzirem uma componente de torque adicional de relutância, o que aumenta a estabilidade no
modo subexcitado.
A máquina síncrona deve operar sempre dentro das fronteiras do diagrama de capabilidade, quando em regime
permanente.
5.3 Construção e funcionamento de máquinas assíncronas
As máquinas assíncronas ou máquinas de indução constituem o maior parque de máquinas elétricas instaladas
em nível mundial. Operando principalmente no modo motor, representam mais de 90 % de todos os motores
elétricos aplicados em acionamentos industriais, em qualquer segmento. Se consideradas as aplicações comerciais e
residenciais, nas quais se incluem os motores de indução monofásicos de potência fracionária, essa participação
aumenta ainda mais. As máquinas de indução podem operar também no modo gerador, embora a utilização nesse
modo seja incipiente, restrita a pequenos aproveitamentos hidráulicos ou eólicos.34
Figura 5.44 Diagramas de capabilidade típicos de geradores de média potência. Esquerda: máquina de polos lisos. Direita:
máquina de polos salientes.
Existem várias razões para o uso disseminado da máquina de indução, sendo o principal seu custo reduzido
quando comparado com os demais tipos de motores. A máquina assíncrona é, dentre todas, a de construção mais
simples, em especial a variante com rotor em curto-circuito (que será caracterizada mais à frente). A maior
simplicidade construtiva aumenta a robustez e a confiabilidade da máquina, reduzindo custos operacionais com
manutenções e paradas. Nas potências até a ordem de 300 kW, os motores de indução têm construção padronizada,
sendo produzidos em grandes séries por diversos fabricantes ao redor do mundo. Essa escala contribui fortemente
para a disponibilidade e o baixo custo de aquisição desse tipo de motor.
No entanto, o motor de indução, em particular com rotor em curto-circuito, apresenta algumas dificuldades
inerentes quando alimentado de forma direta a partir de linhas trifásicas. Nessa forma de utilização, apresenta
velocidade de rotação essencialmente constante, além de ter sérias dificuldades de partida, como baixo torque e
elevada corrente de arranque, causando forte impacto na rede elétrica durante a aceleração. Apesar disso, como sua
característica se adapta muito bem à grande maioria das cargas mecânicas, que em geral não exigem variação de
velocidade e ainda têm pequena incidência de partidas, o motor de indução tem aplicação garantida. Atualmente,
com o advento dos conversores de frequência estáticos, baseados em eletrônica de potência e de controle, torna-se
possível operar os motores de indução em velocidade variável, sem o impacto das partidas na rede, ampliando ainda
mais a sua aplicabilidade.
Figura 5.45 Variantes de rotor da máquina assíncrona. Esquerda: rotor bobinado ou de anéis. Direita: rotor em curto-circuito ou
em gaiola.
Figura 5.46 Exemplos de motores de indução. Esquerda acima: motores de anéis de grande porte (2200 CV, 1790 RPM).
Esquerda abaixo: rotor bobinado com os anéis coletores. Direita acima: motor de gaiola de pequeno porte (65 CV, 880 RPM).
Direita abaixo: rotor em gaiola de motor de médio porte (800 CV, 714 RPM). (Cortesia de Equacional Elétrica e Mecânica Ltda.)
O rotor em curto-circuito, ou rotor em gaiola, difere do anterior pelo tipo particular de enrolamento ali
configurado, constituído de barras condutoras de cobre ou alumínio alojadas nas ranhuras e conectadas, em cada
extremidade do rotor, a anéis condutores dos mesmos materiais. As barras são inseridas diretamente nas ranhuras do
núcleo, sem nenhum tipo de isolação, o que confere ao conjunto elevada robustez e simplicidade.36 Nesse tipo de
execução, não há qualquer acesso ao rotor, resultando em uma máquina com parâmetros definidos na construção e
características fixas, sem possibilidade de ajuste. A Figura 5.46 ilustra alguns motores de indução típicos.
Figura 5.47 Esquerda: execução elementar do enrolamento trifásico de 2 polos. Direita: distribuição de campo produzida
exclusivamente pela fase A.
Cada uma das bobinas ocupa o plano diametral do estator e é alimentada por corrente alternada. Na fase A, a
corrente IA(t) = IM. cos ωt que percorre as Nf espiras da bobina produz a força magnetomotriz de excitação do
circuito magnético FA(t) = Nf · IA(t). Essa estabelece o fluxo por polo distribuído ao longo da estrutura, como
mostrado à direita na Figura 5.47. Forma-se assim um campo magnético de dois polos, cuja posição é fixa no espaço
na direção do eixo da bobina da fase A, com magnitude e polaridade variáveis no tempo conforme a evolução da
corrente.
Os campos produzidos por cada fase podem ser representados por um vetor equivalente, dado genericamente
por:
Nas fases B e C, orientadas segundo seus respectivos eixos deslocados no espaço e excitadas por correntes
defasadas no tempo conforme o sistema trifásico, os vetores de campo são dados por:
Os vetores de campo de cada fase atuam concomitantemente no entreferro, de modo que o campo resultante
devido à ação conjunta das três fases é a soma vetorial dos componentes individuais:
sendo FM = Nf · IM a magnitude máxima do campo individual de cada fase. O campo resultante é representado então
por um vetor com magnitude constante 1,5·FM e rotativo no espaço com velocidade angular ω em rad/s, chamada
rotação síncrona do campo girante.38 A Equação 5.33 é a expressão da onda ou vetor de campo rotativo no
entreferro.
A formação do campo girante no entreferro pode também ser vista de forma qualitativa a partir da composição
gráfica dos vetores de cada fase, considerando suas direções e magnitudes, mostrada na Figura 5.48:
Figura 5.48 Formação do campo rotativo no entreferro. Acima: andamento no tempo das correntes de fase. Abaixo: vetores de
campo individuais e o resultante se deslocando ao longo do entreferro.
Os vetores de campo individuais são representados em instantes sucessivos no tempo, com suas magnitudes
determinadas pela intensidade da corrente que os produz. No instante inicial, ωt = 0, a corrente na fase A é máxima
e positiva enquanto nas fases B e C seu valor é negativo com metade da magnitude máxima. O campo FA é máximo
(FA = FM), orientado na direção positiva do eixo dessa fase, enquanto os componentes de campo FB e FC têm
amplitude 0,5·FM e estão orientados no sentido negativo dos seus respectivos eixos, deslocados simetricamente em
60° do eixo da fase A. Suas projeções na direção desse eixo resultam em 0,5·FM · cos60° = 0,25·FM. O vetor
resultante totaliza assim (FM + 0,25·FM + 0,25·FM) = 1,5·FM, e sua direção coincide com a do eixo da fase A no
instante considerado.
Em instante posterior, ωt = 30°, correspondente a 1,39 ms, mais tarde no sistema de 60 Hz, sendo que as
correntes na fase A e na fase C assumem o mesmo valor em módulo, de seu máximo, com seus sentidos
originais. Nesse instante, a corrente na fase B passa por zero e não contribui para o campo. Os vetores de campo das
fases A e C assumem o mesmo valor 0,866·FM, o primeiro no sentido positivo do seu eixo e o segundo no sentido
negativo. As componentes desses dois vetores de campo agem na direção de sua bissetriz, de modo que suas
contribuições individuais resultam em 0,866·FM · cos 30° = 0,75·FM. O vetor de campo resultante totaliza (0,75·FM
+ 0,75·FM) = 1,5·FM, o mesmo valor anterior. No entanto, sua direção mudou no espaço, orientando-se agora com
um deslocamento de 30° em relação ao eixo da fase A, como mostrado no diagrama central da Figura 5.48.
Continuando essa análise ao longo do tempo, observar-se-á a conservação da magnitude do vetor resultante e seu
progressivo deslocamento no espaço com o passar do tempo, identificando-o então como um vetor rotativo.
Na configuração de dois polos da Figura 5.48, é verificado que, ao se completar um ciclo das correntes trifásicas
(ωt = 360°), o vetor de campo resultante terá efetuado uma volta completa ao longo da circunferência. Sua
velocidade de rotação síncrona será então ωs = ω.
Para formar no entreferro distribuições de campo com maior número de polos, a configuração da Figura 5.47
pode ser replicada tantas vezes quanto for necessário. A Figura 5.49 ilustra a obtenção de quatro polos.
Na replicação de 2 para 4 polos, a quantidade de bobinas de cada fase é duplicada, enquanto sua abertura ou
passo é reduzido à metade. Cada bobina ocupa então um quadrante do estator, e resultam no mínimo duas bobinas
para cada fase, posicionadas de modo diametralmente oposto, como ilustrado à direita da Figura 5.49. As bobinas da
mesma fase são interligadas geralmente em série, de modo a serem percorridas pela mesma corrente quando
alimentadas. Essa nova configuração produzirá também um campo rotativo quando alimentada por correntes
trifásicas, distribuído em 4 polos (um polo por quadrante), e seu deslocamento espacial será de meia volta a cada
ciclo completo de correntes, ou, de outra forma, serão necessários dois ciclos da corrente para que o campo
complete uma revolução.39 Em 4 polos, portanto, a rotação síncrona é metade daquela obtida em 2 polos.
De maneira geral, quando o enrolamento for configurado com um número de polos 2p, o campo rotativo
formado completará uma volta após p ciclos das correntes trifásicas. Para uma frequência angular das correntes
igual a ω = 2π·f, a rotação síncrona será sempre ωs = ω/p, em que p é o número de pares de polos. Com relação à
alimentação do estator com frequência f1 = 60 Hz, (ω = 377 rad/s) resultam as rotações:
Figura 5.49 Formação do campo rotativo no entreferro com número de polos maior que 2. Esquerda: configuração mínima de 2
polos. Direita: configuração de 4 polos.
ωs = 377 rad/s ωs = 188,5 rad/s ωs = 125,7 rad/s ωs = 94,3 rad/s ωs = 75,4 rad/s
Ns = 3600 RPM Ns = 1800 RPM Ns = 1200 RPM Ns = 900 RPM Ns = 720 RPM
Figura 5.51 Esquerda: distribuição de tensões induzidas nas barras do rotor. Direita: correntes circulando com fechamento pelos
anéis de curto e forças mecânicas nas barras.
A soma das forças de cada barra que agem no raio externo do rotor resulta no torque total que atua sobre o
mesmo e que se manifesta na mesma direção do campo magnético rotativo. A expressão do torque para barras
discretas no rotor é dada por:
sendo Qb a quantidade total de barras e R, seu raio externo. Para um rotor com quantidade elevada de barras, a
expressão mais geral fica:
em que Ibef é o valor eficaz da corrente que circula pelas barras rotóricas. Na Figura 5.52 é mostrado o rotor em
corte esquemático, com a ação conjunta das correntes em cada barra submetidas a campo magnético, compondo o
torque total manifestado no rotor.
Figura 5.52 Torque desenvolvido no rotor. A distribuição das correntes e das forças sobre cada barra é rotativa na mesma
velocidade e direção do campo girante.
As interações anteriormente descritas acontecem sempre que há movimento relativo entre o campo magnético e
os condutores do rotor, caracterizado como diferença entre a velocidade tangencial síncrona do campo e a
velocidade tangencial do rotor, vrel = vs – vr. Como v = ω·R, pode-se caracterizar a relatividade de movimento pela
rotação angular relativa, ωrel = ωs – ωr, em que ωs é a velocidade de rotação síncrona do campo girante e ωr é a
rotação do rotor.
Quando o rotor está em repouso, ωr = 0, a velocidade relativa é máxima e igual à própria síncrona. Nessas
condições, a tensão induzida nas barras será máxima, e a frequência das tensões e correntes no rotor, f2, será igual à
frequência de alimentação do estator (f2 = f1).42 As correntes que circulam pelo rotor e o torque que se manifesta são
chamados respectivamente corrente e torque de partida. Sob a ação desse torque, o rotor inicia a aceleração
tracionando a carga conectada ao eixo do motor.
Ao atingir determinada rotação ωr, todas as interações com o rotor continuam existindo, adequadamente
modificadas. A tensão induzida sobre as barras diminui em magnitude, dado que depende diretamente da velocidade
relativa entre campo e condutores que agora é menor do que na situação de rotor em repouso. A velocidade fica
afetada por um fator que é a razão entre as rotações relativas atual e original, denominado escorregamento da
máquina assíncrona, que se define como:
Desse modo, a nova tensão induzida no rotor ebs torna-se ebs = s·ebo, em que ebo era a tensão originalmente
induzida com o rotor em repouso. A frequência no rotor também diminui na mesma razão, f2 = s·f1 dado que as
barras percebem o campo magnético trasladar sobre as mesmas em menor velocidade. A corrente nas barras e o
torque desenvolvido se alteram de acordo com a tensão induzida e na mesma proporção se forem consideradas
apenas com suas resistências ôhmicas. A ação motora da máquina permanece, e o rotor continuará a acelerar até que
o torque resistente aplicado ao eixo pela carga equilibre o torque eletromagnético nele desenvolvido, estabilizando
sua rotação e escorregamento. Se houver uma variação do torque resistente para mais, o torque desenvolvido fica
menor que o da carga, e o motor reduz sua velocidade, aumentando seu escorregamento até o ponto em que o
aumento correspondente da tensão induzida sobre as barras imponha uma corrente suficiente para produzir um
torque igual ao externamente aplicado. A Figura 5.53 mostra essas características do motor assíncrono.43
Figura 5.53 Curvas características do motor de indução – Comportamento com a carga no eixo.
Se o torque resistente no eixo for retirado, o rotor continuará a acelerar até que se aproxime da velocidade
síncrona, porém sem atingi-la. Quando o escorregamento tende a zero, a velocidade do rotor tende à síncrona,
anulando a velocidade relativa entre campo e condutores. Com isso, a tensão induzida tende a zero, bem como a
corrente e o torque desenvolvidos, cessando a ação motriz da máquina de indução, a qual, portanto, só possui ação
motora se estiver com o rotor escorregando em relação ao campo girante, ou, em outros termos, fora da velocidade
síncrona, daí sua denominação máquina assíncrona.
O rotor da máquina de indução pode ser forçado a rodar em rotação superior à síncrona, por exemplo, por meio
de injeção de potência mecânica no eixo através de uma turbina. Nessa condição, o escorregamento torna-se
negativo, e voltam a ocorrer as interações entre campo e barras do rotor. Nesse ponto, porém, o rotor se move mais
rapidamente que o campo girante, invertendo o sentido da velocidade relativa entre ambos, o que provoca a inversão
de fase da tensão induzida e da corrente no rotor. Essa inversão resulta em torque negativo no eixo (a máquina de
indução “resiste” ao torque imposto pela turbina), e a inversão de fase da corrente, referida ao estator, inverte o
fluxo da potência elétrica, que deixa de ser absorvida e passa a ser fornecida, operando no modo gerador
assíncrono.
0 1 e0 f1 C0 0 Absorvida Partida
Figura 5.54 Tensões e correntes induzidas no rotor real, com impedância complexa das barras. As tensões induzidas estão em
fase com o campo magnético, porém a corrente se atrasa em relação ao mesmo, reduzindo a interação de força mecânica.
A Equação 5.37 indica que a natureza do circuito elétrico do rotor é variável com o escorregamento do motor.
Para pequenos valores desse, fica o rotor preponderantemente resistivo, enquanto para escorregamentos elevados,
torna-se fortemente reativo. A região de escorregamentos pequenos é a região normal de operação sob carga, em
regime de motor ou gerador. Desse modo, operando com escorregamentos baixos (na faixa de 0,01 a 0,05 ou 1 % a
5 %), vale a hipótese feita anteriormente que considerava as barras puramente resistivas. As características externas,
como a corrente e o torque desenvolvido, ficam proporcionais ao escorregamento, como mostrado na Figura 5.53.
No entanto, ao se aumentar gradativamente o escorregamento, a frequência rotórica aumenta e a reatância se
manifesta, limitando a corrente por aumento da impedância, além de introduzir um atraso na mesma em relação à
tensão induzida nas barras.44 A Figura 5.54 ilustra esse efeito sobre o rotor do motor de indução.
O efeito do atraso nas correntes é que sua interação com o campo magnético não se dá mais em fase no espaço.
A barra que conduz a máxima corrente em dado instante não está mais sob a ação do campo máximo, como ocorria
antes, porém se encontra deslocada de um ângulo j, mostrado na Figura 5.54. O torque desenvolvido no rotor fica
então:
Na Equação 5.38, o produto Ibef · cos φ é chamado componente ativa da corrente, significando a parcela da
mesma em fase com a tensão e, portanto, com o máximo valor de campo magnético que age sobre as barras. A
corrente é agora dada por Ibs = ebs / Zbs = s·eb0 / Zbs, com Zbs dada pela Equação 5.37. O comportamento da corrente
com o escorregamento descreve um lugar geométrico denominado diagrama circular, mostrado na Figura 5.55.
Figura 5.55 Esquerda: diagrama circular de correntes da máquina de indução e expressões da corrente e do ângulo de fase.
Direita: características externas de corrente e torque da máquina real.
Observa-se no diagrama que a corrente na barra é sempre crescente, porém deixa de ser proporcional ao
escorregamento quando o mesmo aumenta, como mostrado na curva característica à direita da Figura 5.55. Ainda
observando o diagrama circular, nota-se que, embora a corrente total seja crescente, sua componente ativa cresce
inicialmente, passa por um máximo, e volta a diminuir. Como o torque é proporcional à corrente ativa, Equação
5.38, o mesmo terá um comportamento inicialmente crescente com o escorregamento e proporcional ao mesmo para
pequenos valores, passando por um máximo para, em seguida, diminuir, como mostra o gráfico inferior à direita da
Figura 5.55.
As características reais da máquina assíncrona ilustram algumas propriedades da mesma.45 Em regime de baixo
escorregamento, a corrente e o torque são essencialmente proporcionais ao mesmo. Ao aumentar o escorregamento,
a curva de torque apresenta uma inflexão, passando por um valor máximo, tipicamente entre 1,8 e 2,5 vezes o valor
nominal, caracterizando uma capacidade de sobrecarga momentânea do motor. Esse máximo ocorre em um
escorregamento particular denominado escorregamento crítico, a partir do qual o torque cai até o valor de partida.
Em geral, o torque de partida é relativamente baixo, usualmente menor que o nominal, em particular em máquinas
de grande porte. Ao mesmo tempo, na partida a corrente atinge valores elevados, entre 4 e 7 vezes o valor nominal
em carga, significando um forte impacto na rede de alimentação se o motor for conectado diretamente à mesma.
Esses dois aspectos principais, o baixo torque e a elevada corrente na condição de partida, são fatores limitantes em
algumas aplicações, requerendo medidas corretivas para o uso adequado do motor de indução.
c) Adequação das características do motor assíncrono
Métodos de partida
As características naturais do motor de indução apresentam algumas inconveniências já citadas anteriormente, em
particular na condição de partida. Soluções desenvolvidas para melhorar esse desempenho compreendem o uso do
motor assíncrono de rotor bobinado ou anéis, ou os motores de gaiola com projetos específicos do rotor visando à
alteração das características de torque.
O motor de indução de anéis permite acesso ao enrolamento do rotor, possibilitando a alteração de suas
características. A inclusão de resistores externos no circuito do rotor atenua os efeitos da manifestação da reatância
e a degradação da característica de torque. Esses resistores são fracionados, sendo chaveados de acordo com o
escorregamento para que se obtenha a característica mais adequada, como mostra a Figura 5.56.
As curvas mais à direita nas características são as naturais do motor. A inserção das resistências modifica as
curvas, aumentando o torque de partida e diminuindo ao mesmo tempo a corrente drenada da linha. Como as
resistências podem ser chaveadas dinamicamente, o motor pode partir e acelerar com torque e corrente médios
praticamente constantes, em valores próximos ou mesmo superiores aos nominais. Esse tipo de motor assíncrono se
aplica nas cargas que tenham elevado momento de inércia, em que seja requerida partida suave, como moinhos,
fornos rotativos, grandes ventiladores e prensas com volante. Também são utilizados em equipamentos de
levantamento e transporte, como pontes rolantes, guindastes e pórticos de carga, pois permitem uma elevada
incidência de partidas sem solicitações excessivas na rede.
No motor assíncrono com rotor em gaiola, não há a possibilidade de acesso ao rotor. Desse modo, a gaiola já
deve ser construída com critérios que favoreçam a característica desejada, em especial o torque. A Figura 5.57
mostra as construções mais comuns.
Os diversos tipos de gaiola são classificados por categorias padronizadas de torque. A especificação da categoria
do motor define o tipo de rotor com que deve ser construído e, portanto, a característica externa que deve apresentar,
de acordo com sua aplicação. O motor de gaiola simples de categoria A é utilizado, em geral, em acionamentos com
pequeno requisito de torque de partida e pequena inércia, como bombas e ventiladores de uso geral e pequena
potência. O rotor com gaiola de barras profundas de categoria B tem uma geometria que favorece o efeito de
adensamento de corrente, um fenômeno eletromagnético que incrementa fortemente a resistência do condutor
quando o mesmo opera com elevada frequência, e que se atenua com a redução dessa. Esse comportamento de
frequência variável é identificado no rotor do motor assíncrono, sendo a frequência mais elevada na partida e
reduzindo-se na proporção da aceleração. Isso aumenta o torque de partida apreciavelmente, tornando esse tipo de
motor adequado a cargas mais exigentes na aceleração, como grandes ventiladores e compressores de inércia
elevada. O motor de dupla gaiola de categoria C tem duas gaiolas de características antagônicas consorciadas no
mesmo rotor, promovendo um torque de partida muito elevado, em geral maior que 2,5 vezes o nominal. Aplica-se
assim a cargas de partida difícil, como compressores a pistão, máquinas operatrizes e na tração de mecanismos de
baixa inércia que requerem elevado torque, não se prestando ao acionamento de grandes inércias devido à pequena
capacidade térmica de sua gaiola superior de partida. O motor de categoria D de alto escorregamento é específico
para cargas que exigem torques muito elevados e que possam operar com escorregamento alto, em geral entre 8 e 13
%. São aplicados em acionamentos de potências pequenas e médias, em geral de uso intermitente, como talhas,
guinchos, gruas, elevadores e motorrolos transportadores siderúrgicos.
Figura 5.56 Conformação das curvas características com o motor de indução de rotor bobinado.
Figura 5.57 Diferentes construções da gaiola para adequação das características de torque do motor de indução e as curvas
características obtidas.
Embora as curvas dos motores de gaiola possam ser conformadas, as diferentes construções apenas permitem a
adequação da curva de torque. A curva de corrente não sofre efeito significativo nas diferentes categorias, sempre
impondo um forte impacto de corrente de partida nas linhas de alimentação. As correntes de partida são
progressivamente menores entre as categorias A e D, porém, até mesmo nessa última, ainda atinge usualmente entre
3 e 4 vezes a corrente nominal. Para limitar os impactos da partida na rede, adotam-se, portanto, nos motores de
gaiola, alguns métodos específicos, todos baseados na redução da tensão nos terminais do motor no momento do
arranque, mostrados na Figura 5.58.
A partida direta é restrita, em baixa tensão, a motores de potência reduzida, até poucas dezenas de kW. Em
média tensão, utiliza-se em motores de potências média e elevada, em virtude das maiores capacidades de curto-
circuito dessas linhas. Nesse método, o impacto da corrente de partida é integral, e a curva de torque fica
preservada. O método de partida com chave estrela-triângulo é comum em motores pequenos e médios em baixa
tensão, exigindo que o motor mantenha disponíveis todos os terminais das fases. Limita a corrente de partida na
linha a 1/3 do valor com partida direta, favorecendo a instalação, mas a curva de torque fica também atenuada
devido à redução de tensão sobre o motor na partida. O método da chave compensadora é similar ao anterior, sendo
mais flexível uma vez que é possível escolher a relação do transformador de partida, graduando a corrente aos
valores permissíveis da instalação. A curva de torque também se atenua, mas a possibilidade de ajuste na relação de
transformação favorece o acionamento. É utilizado em motores de potências médias e elevadas, em baixa e média
tensões. O dispositivo de partida suave (soft-starter) é baseado no recorte da tensão da rede por tiristores em
antiparalelo, com controle do ângulo de fase, produzindo nos terminais do motor uma tensão média resultante
continuamente variável. Isso promove a possibilidade de ajuste contínuo das curvas de torque e corrente do motor,
que, associado a uma malha de controle, garante partidas com mínimo impacto na rede. É utilizado em motores
médios e grandes, em baixa e média tensões.
Outra possibilidade de variação da velocidade de motores de indução, em especial de gaiola, é a execução com
múltiplos enrolamentos de diferentes números de polos, alojados nas mesmas ranhuras no estator. Pelo fato de o
rotor em gaiola responder ao campo magnético que se move sobre ele, seja qual for o número de polos, pode-se
escolher a velocidade síncrona e, portanto, a do rotor, alimentando o enrolamento com o número de polos adequado.
A variação de velocidade obtida é discreta, e esse método é bastante empregado em aplicações nas quais não seja
requerida variação contínua, mas ocasional da rotação, como elevadores, gruas de construção civil, máquinas
operatrizes mais simples e sistemas de bombeamento de água com demanda sazonal.
A variação da velocidade do motor assíncrono que produz o melhor desempenho é conseguida por meio de sua
alimentação sob frequência variável. Desse modo, é modificada a velocidade síncrona do campo rotativo, e o rotor
interage com o mesmo da forma usual, mantendo um pequeno escorregamento. Com isso obtém-se uma variação
contínua da rotação em larga faixa, operando de forma controlável e com elevado rendimento. A configuração
básica de um conversor estático é mostrada na Figura 5.59. A tensão e a frequência constantes da rede de
alimentação são retificadas por uma ponte de diodos, formando um elo de corrente contínua a partir do qual o
inversor propriamente dito sintetiza a tensão e a frequência variáveis, por meio de chaves eletrônicas de potência.46
O funcionamento da máquina de indução alimentada com frequência variável é exatamente o mesmo visto antes.
Todas as interações do campo magnético rotativo com o rotor acontecem devido à diferença de velocidade das
barras ali alojadas em relação ao campo, qualquer que seja a sua velocidade absoluta. Conservada a magnitude do
campo girante, não importa se esse campo modifica a sua velocidade, o rotor sempre manterá a mesma rotação
relativa para induzir nas barras uma tensão suficiente que imponha a corrente ativa requerida a produção de
determinado torque. A conservação da magnitude do campo magnético rotativo formado pelo enrolamento do
estator exige que a tensão de alimentação seja variada concomitantemente com a frequência.47 Desse modo,
desprezando efeitos secundários, como a resistência do estator, as curvas características do motor assíncrono
alimentado sob frequência variável são ilustradas pela Figura 5.60.
Operando em regime com certo torque de carga no eixo, o rotor roda com uma diferença de rotação Δω em
relação ao campo girante, para que a tensão induzida e a corrente circulante nas barras produzam o torque exigido.
Se a frequência de alimentação for reduzida à metade, por exemplo, a rotação síncrona do campo cai para a metade.
Para que o motor continue sustentando o mesmo torque anterior, o rotor diminuirá sua rotação mantendo a mesma
diferença Δω original. Do ponto de vista do rotor nada se alterou, pois continua com a mesma tensão induzida, a
mesma frequência f2 e as barras com a mesma corrente. Esse processo pode continuar a princípio até que a
frequência de alimentação do estator seja reduzida ao valor da frequência rotórica f2, quando o rotor estaria em
repouso, e o campo girante do estator rodando com velocidade Δω. Novamente, para o rotor nada muda, e a tensão
induzida, a corrente e o torque ficam preservados no valor original. Conclui-se que nessa forma de operação o motor
de indução pode manifestar o torque nominal já na partida, absorvendo corrente também nominal, não existindo
mais o impacto da corrente de partida sobre a alimentação. Para qualquer torque exigido do motor, esse processo é o
mesmo, e o rotor se acomoda com a diferença de velocidade necessária, inclusive para o torque máximo. A Figura
5.60 mostra esse comportamento, e significa em síntese que as curvas de torque se deslocam horizontalmente
preservando sua forma, quando a frequência é variada em conjunto com a tensão.
Na prática, no entanto, existem alguns aspectos secundários que interferem na conservação da magnitude do
campo girante no entreferro, como a resistência ôhmica do estator. Seu efeito faz com que, em frequências muito
baixas, mesmo com a tensão proporcional, o fluxo no entreferro não se conserve, acarretando uma degradação das
curvas nessa região, como mostrado na Figura 5.61.
Esse problema é resolvido a contento com um incremento da razão V/f quando a frequência se reduz, o que é
implementado geralmente pelo sistema de controle dos inversores estáticos na sua parametrização.
Com o recurso do inversor de frequência estático, é possível ainda operar o motor de indução acima de sua
frequência nominal, estendendo a faixa de velocidades. Entretanto, nesse modo não é possível conservar a razão
entre tensão e frequência, pois significaria aumentar a tensão acima de seu valor nominal. Isso tem implicações
sobre o sistema isolante que pode falhar, e também como a tensão é sintetizada a partir do elo de corrente contínua
do conversor, não há tensão suficiente ali para esse aumento. Ao se explorar, portanto, a faixa de velocidade acima
da nominal, a frequência é aumentada sob tensão constante, conservada no limite nominal. Por conseguinte, o fluxo
no entreferro se reduz, e, para não incorrer em sobrecarga de correntes no motor, o torque utilizável deve ser
reduzido na proporção do aumento da rotação. Esse modo é chamado operação a potência constante, ilustrado na
Figura 5.62.
Figura 5.61 Degradação das curvas com alimentação sob V/f = cte. Sem correção da tensão em baixas frequências, o fluxo no
entreferro se atenua devido ao efeito de queda de tensão na resistência ôhmica do estator e o torque máximo se reduz.
Figura 5.62 Faixa de operação ampliada do motor de indução sob frequência variável.
O torque máximo depende do quadrado do valor do fluxo magnético no entreferro. A atenuação do campo,
promovida na proporção inversa do aumento da frequência, provoca então uma redução mais forte no torque
máximo que no torque disponível, reduzindo a reserva de torque momentânea de que o motor dispõe. Desse modo,
ao aumentar a frequência com tensão constante, há uma frequência limite máxima que pode ser utilizada, que ocorre
quando o torque máximo coincide com o utilizável. A frequência limite é dada por fmáx = (Cmáx/Cn)·fn, em que a
razão entre o torque máximo e o nominal deve ser tomada na condição de tensão e frequência nominais do motor. A
frequência de alimentação do limite real deve ter uma margem de segurança em relação à máxima, de
aproximadamente fmáx-real ≈ 0,8·fmáx.
A alimentação da máquina com frequência variável permite uma ampliação considerável da faixa de rotações,
como mostra a Figura 5.64, melhorando muito o aproveitamento de potência da turbina.
Figura 5.64 Operação da máquina assíncrona no modo gerador – conexão à rede via inversor.
Embora tal sistema seja interessante por usar máquina de indução com rotor em gaiola mais robusta e
econômica, o conversor entre máquina e rede precisa permitir o tráfego da potência integral do sistema, o que
aumenta excessivamente o custo, em especial em grandes potências. Outra solução muito utilizada, especialmente
na geração eólica, faz uso da máquina assíncrona de anéis em uma configuração duplamente alimentada. O estator
fica conectado de forma direta à rede elétrica de frequência fixa, enquanto o rotor é conectado à mesma por um
conversor bidirecional. A Figura 5.65 ilustra essa topologia. A vantagem dessa configuração é que a potência que
trafega pelos conversores do circuito do rotor é apenas uma fração da potência total do sistema.
Os conversores do rotor na configuração duplamente alimentada, denominada DFIG,49 são dimensionados pelo
escorregamento permitido na máquina, e, portanto, pela faixa de rotação pretendida. Se a excursão de velocidade
for, por exemplo, 30 % acima e abaixo da rotação síncrona, o escorregamento da máquina será s = ± 0,3, e a
potência do conversor 30 % da potência total do sistema, tornando o conjunto mais econômico.
Com a máquina duplamente alimentada, o rotor é suprido com frequência reduzida, dada por f2 = s·f1. O
enrolamento trifásico do rotor produz um campo rotativo com velocidade síncrona s·ωs em relação ao rotor. O
estator produz o seu próprio campo rotativo com velocidade ωs em relação ao estator. Os campos magnéticos
girantes do estator e do rotor sincronizam-se, resultando na rotação do rotor (1 – s)·ωs. Como a frequência do rotor
pode ser ajustada pelo conversor, a rotação também o será. A Figura 5.66 mostra os diversos modos de operação
possíveis com a máquina duplamente alimentada.
Qualquer que seja a frequência ajustada no rotor, o mesmo se move com rotação rigorosamente fixada.
Dependendo das ações no eixo, a máquina opera no modo motor ou gerador. Se o eixo for freado, a operação é no
modo motor. Se o eixo for impulsionado, a operação muda para o modo gerador de forma similar à máquina
síncrona no barramento infinito. Se o escorregamento imposto pelo conversor do lado do rotor for positivo, a
rotação resulta inferior à síncrona, se for negativo resulta superior, caracterizando os modos de operação
subsíncrono e supersíncrono.
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