Jesus Cristo, Filho de Davi
"Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão..." (Mateus 1:1–16)
O fato de o Livro de Mateus começar com a
genealogia de Jesus Cristo é uma prova de que
Mateus estava procurando relacionar Jesus ao
Messias do Antigo Testamento. As expectativas
dos judeus quanto ao Messias atrelavam-se à
linhagem de Abraão e Davi, por causa das
distintas profecias vétero-testamentárias. A
genealogia de Jesus, por si só, não prova que
Jesus é o Messias, mas certamente prova que ele
estava qualificado para tal. Jesus descendia da
linhagem de Abraão e Davi, e, conseqüentemente,
da tribo de Judá.
R. C. Foster escreveu o seguinte acerca das
genealogias em Mateus e Lucas: “A única razão
pela qual passamos por elas com essa falta de
interesse é que consideramos que essa questão já
está provada. Porém, se não tivéssemos uma
prova de que Jesus era descendente de Davi,
imagine as dificuldades que imediatamente
surgiriam, na tentativa de avaliá-lo à luz das
profecias do Antigo Testamento”.1
Certa vez um universitário fez a seguinte
pergunta a Burton Coffman sobre a divindade
de Jesus: “Jesus não é como o Papai Noel?”
Coffman, então, citou a genealogia de Mateus e
disse: “Agora cite para mim a genealogia do
Papai Noel”. Questão encerrada.
PREFÁCIO
“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de
Davi, filho de Abraão” (1:1). A expressão “livro
da genealogia” é muito provavelmente uma
referência à genealogia de Jesus, e não a todo o
Livro de Mateus. Entretanto, é possível que a
palavra “genealogia” tenha sido usada com o
significado de “história de”, ou “relato de”, como
no Livro de Gênesis (2:4), que apresenta o termo
equivalente em hebraico. A palavra grega para
“genealogia” e “geração” nas versões “Edição
Revista e Atualizada no Brasil” (ERAB) e “Edição
Revista e Corrigida” (ERC) é gênesis.
A expressão mostra tanto o caráter como o
propósito dessa lista de nomes. Ela fornece a
linhagem física de Jesus, à medida que traça Sua
ascendência até Davi e Abraão. Deus fez
promessas especiais, tanto para Abraão como
para Davi, de que o Messias viria ao mundo
através da linhagem deles (Gênesis 12:1–4; 22:18;
Gálatas 3:16; 2 Samuel 7:16; João 7:42).
Em grego não existe artigo definido antes de
“livro”.2 Não é “o livro”, mas “um livro”. Essa
não é “a genealogia” de Jesus; é “uma genealogia”
de Jesus. A genealogia de Jesus em Lucas difere
daquela em Mateus (Lucas 3:23–38).
Uma lista semelhante à de Mateus se encontra
em 1 Crônicas 1:34–2:15. Talvez, guiado pelo
Espírito Santo, Mateus tenha usado essa lista ao
compor a sua.
Cinco mulheres são citadas nessa genealogia,
ao contrário do costume de jamais se citarem
nomes femininos numa genealogia. Mateus
incluiu Tamar, Raabe, Rute, fez alusão a Bate-
Seba (sem citá-la nominalmente) e Maria.
Ele omitiu outras mulheres de tão grande impor-
tância, como Sara, Raquel e Lia. Nenhuma razão
é apresentada para essa característica incomum
nessa genealogia.
Obviamente a genealogia em Mateus 1:1–16
foi composta para fins de memorização, pois
gerações são omitidas para que se chegue a
catorze gerações por seção. Além disso, Mateus
deve ter tido a intenção de citar Davi duas vezes
por causa da referência a ele na segunda e na
terceira seção no verso 17. Citar Davi duas vezes,
como patriarca e como rei, totalizou catorze
gerações por seção. “De sorte que todas as gerações,
desde Abraão até Davi, são catorze; desde Davi até ao
exílio na Babilônia, catorze; e desde o exílio na
Babilônia até Cristo, catorze” (1:17). O primeiro
grupo compõe-se de patriarcas; o segundo, de
reis; o terceiro, de cidadãos particulares.
Observe abaixo que o número de cada geração
foi colocado entre colchetes ao lado do nome, de
modo que os catorze nomes de cada seção possam
ser identificados.
PRIMEIRA DIVISÃO
“Abraão [1] gerou a Isaque [2]; Isaque, a Jacó [3];
Jacó, a Judá [4] e seus irmãos” (v. 2). O nome de Jacó
foi mudado para Israel, e cada um de seus filhos
tornou-se o chefe de uma tribo. Às doze tribos
juntas deu-se o nome de Israelitas, posteriores a
seu pai Israel. “Judá e seus irmãos” é uma referência
aos chefes das tribos. “Judá gerou de Tamar a Perez
e a Zerá” [5] (v.3a). Esses dois eram gêmeos.
Tamar era nora de Judá e cometeu incesto com
ele (Gênesis 38). “Perez gerou a Ezrom [6]; Esrom,
a Arão [7]; Arão gerou a Aminadabe [8]; Aminadabe,
a Naassom [9]; Naassom, a Salmom [10]; Salmom
gerou de Raabe a Boaz” [11] (vv.3b–5a). Raabe era
uma prostituta (Tiago 2:25) e escondeu os homens
que Josué mandou como espias a Jericó (Josué 2).
Por causa da sua fé, ela foi salva e levada à nação
de Israel. Ela é até incluída em Hebreus 11:31
entre os heróis da fé. Ela saiu da casa da vergonha
para o rol da fama! “Este, de Rute, gerou a Obede”
[12] (v.5b). Rute era uma moabita que foi
abençoada por Deus de modo especial devido à
sua lealdade. Todo o Livro de Rute é dedicado à
sua história. “Obede, a Jessé [13]; Jessé gerou ao rei
Davi” [14] (vv. 5c, 6a). Na montagem de Mateus
para traçar a linhagem ascendente de Jesus até
Abraão, ele começou com Abraão e prosseguiu
até Cristo. Este primeiro grupo deve ser visto
como de patriarcas.
A SEGUNDA DIVISÃO
“E o rei Davi [1], a Salomão [2], da que fora
mulher de Urias” (v. 6b). Davi foi patriarca e
também rei. Ele é então incluído na contagem do
primeiro e do segundo grupo. Mateus não cita
Bate-Seba pelo nome. Talvez, devido à sua relação
adúltera com Davi (2 Samuel 11). “Salomão gerou
a Roboão [3]” (v. 7a). Salomão iniciou seu reinado
com sabedoria e entendimento, mas acabou em
idolatria (1 Reis 3:5–12; 11:1–13). Roboão foi um
rei tolo. Ele ouviu os conselhos dos jovens, em
vez de ouvir os anciãos mais sábios, e exigiu do
povo mais trabalho e impostos. Deus tirou-lhe
dez tribos, e o reino de Israel dividiu-se em
Reino do Norte e Reino do Sul (1 Reis 12; 13).
“Roboão, a Abias [4]; Abias, a Asa” [5] (v. 7b). Abias
foi um rei pecaminoso e seguiu os passos de seu
pai(1 Reis 15:3). Asa é considerado pelo Antigo
Testamento como um rei bom (1 Reis 15:11). Ele
executou muitas reformas necessárias em Judá.
“Asa gerou a Josafá [6]” (v. 8a). Ele foi também
considerado um bom rei, mas sua bondade foi
enfraquecida pela sua relação com Acabe, um rei
de Israel que foi muito mau (1 Reis 22:2). Esse
relacionamento ajudou Acabe, mas prejudicou
Josafá. “Josafá, a Jorão [7]” (v. 8b). Jorão casou-se
com Atalia, a perversa filha de Acabe e Jezabel,
e tornou-se um péssimo rei (2 Reis 9). “Jorão, a
Uzias [8]” (v. 8c). Os nomes de Acazias, Joás e
Amazias foram omitidos por Mateus. Uzias foi
um bom rei, mas foi punido com lepra por ter
agido como sacerdote entrando no templo ao fim
da sua vida. “Uzias gerou a Jotão [9]; Jotão, a Acaz
[10]” (v. 9a, b). Jotão foi um bom rei, mas Acaz foi
considerado um dos piores reis do sul. Ele até
queimou seu filho como sacrifício (2 Reis 16).
“Acaz, a Ezequias [11]” (v. 9c). Muito provavel-
mente, Ezequias foi o melhor rei do sul. Ele se
parecia com Davi em muitos aspectos (2 Reis
18:1–3). “Ezequias gerou a Manassés [12]” (v. 10).
Foi um dos piores reis, também envolvido em
sacrifício de crianças; mas próximo ao fim da sua
vida ele se arrependeu, e Deus o perdoou
(2 Reis 21; 2 Crônicas 33:11–17). “Manassés, a
Amom [13]” (v. 10b). Ele foi como seu pai quanto
à pecaminosidade, mas bem diferente dele quanto
ao arrependimento. Tornou-se cada vez mais
perverso, sendo finalmente morto pelo próprio
povo (2 Crônicas 33:21–25). “Amom, a Josias [14]”
(v.10c). Esse foi um rei grandioso e reto, que
executou numerosas reformas. Foi morto pelo
Faraó Neco do Egito (2 Crônicas 35). “Josias gerou
a Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na
Babilônia” (v. 11). Jeconias não tinha irmãos
físicos. “Irmãos” aqui deve ser uma referência
aos parentes reais, tais como seu tio Jeoacaz e
Zedequias e seu pai, os três filhos de Josias.
Ocorreram três deportações: uma em 605 a.C.,
quando Daniel e outros jovens foram; outra em
597 a.C., quando Ezequias e outros dez milhares
foram levados; e outra em 586 a.C., quando
Jerusalém caiu e muitos foram capturados.
A palavra “filho” no mundo judaico tinha
um sentido mais amplo do que em nossa língua
corrente. Podia se referir a um filho, neto, bisneto,
etc. Entre Jorão e Uzias, Mateus omitiu três
nomes: Acazias, filho e sucessor de Jorão
(2 Crônicas 22:1); Joás, o filho e sucessor de
Acazias (2 Crônicas 22:11); e Amazias, filho e
sucessor de Joás (2 Crônicas 24–27). Apesar de
ser dito que Uzias foi gerado por Jorão, ele na
verdade era filho de Amazias, sendo a quarta
geração desde Jorão. Entre Josias e Jeconias
Mateus também omitiu Jeoaquim.
 Engana-se quem conclui que todas as
gerações estão incluídas na narrativa bíblica.
Essa genealogia ilustra que as omissões são feitas,
a fim de prover uma seleção histórica que forneça
a história da salvação, que Deus quis nos
transmitir. Mateus procurou apresentar uma
genealogia de Jesus válida. Para isso não foi
necessário citar todas as gerações na história
familiar Dele; mas apenas provar que Jesus era
da linhagem de Abraão e Davi, conforme havia
sido prometido. Por exemplo, se eu quisesse
provar que sou descendente de Abraham Lin-
coln, e mostrasse que meu trisavô fora
descendente dele, não seria necessário citar todos
os nomes dos descendentes entre meu trisavô
e eu. Seria necessário apenas citar alguns
corretamente. Foi exatamente isso que Mateus
fez.
A TERCEIRA DIVISÃO
“Depois do exílio na Babilônia, Jeconias [1] gerou
a Salatiel [2]; e Salatiel, a Zorobabel [3]” (v. 12).
Zorobabel liderou o primeiro grupo de exilados
de volta a Jerusalém, de acordo com a primeira
parte do Livro de Esdras. “Zorobabel gerou a Abiúde
[4]; Abiúde, a Eliaquim [5]; Eliaquim, a Azor [6];
Azor gerou a Sadoque [7]; Sadoque, a Aquim [8];
Aquim, a Eliúde [9]; Eliúde gerou a Eleazar [10];
Eleazar, a Matã [11]; Matã, a Jacó [12]. E Jacó gerou
a José [13], marido de Maria, da qual nasceu Jesus
[14], que se chama o Cristo” (vv. 13–16). “Jesus”
significa salvador. “Cristo” é “o ungido”; a
palavra grega para o “Messias” do Antigo Testa-
mento. Mateus fez uma distinção entre o
nascimento de Jesus e o dos outros de Sua
linhagem. O nascimento virginal de Cristo é
claramente aludido na expressão “da qual nasceu
Jesus”.
Somente três nomes nessa lista encontram-se
realmente no Antigo Testamento: Jeconias,
Autor: David Roper
Série: Conheça o Mestre
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Salatiel e Zorobabel. A história do Antigo Testa-
mento termina em Neemias. Mateus deve ter
obtido a lista de Abiú a Jacó de registros não
constantes do Antigo Testamento. Não temos
qualquer fonte literária com que comparar a
genealogia de Mateus depois de Zorobabel.3
Josefo, um historiador judeu do primeiro
século, relatou que tais registros eram guardados:
“Temos os nomes de nossos sumo-sacerdotes,
do pai ao filho, arquivados em nossos registros,
pelo período de dois mil anos”.4 Ele também
relatou que, antes de se casar, um sacerdote
tinha de “fazer um escrutínio, e levantar a
genealogia de sua esposa das antigas tabelas
e conseguir muitas testemunhas disso”.
Guardavam-se registros genealógicos de todos
os judeus. Tais registros eram vitais aos judeus,
assim como preservamos nossas certidões de
nascimento e casamento hoje.
CONCLUSÃO
Um argumento que nenhum judeu apre-
sentou contra Jesus foi dizer que Ele não era
descendente de Abraão e Davi. Se Mateus tivesse
cometido algum erro ao compor sua lista, os
judeus contrários a Cristo teriam sido céleres em
apontá-lo. Jamais um judeu apontou tal erro. ❖
NOTAS
1
R. C. Foster, Studies in the Life of Christ (“Estudos na
Vida de Cristo”). Grand Rapids, Mich.: Baker Book
House, 1971, 265.
2
A. T. Robertson reconhece não existir artigo no
grego, mas está convencido de que os genitivos seguintes
deixam claro tratar-se de “o livro”. Ele reconhece, porém,
que Mateus não aplicou o termo a todo o seu livro, mas
somente na genealogia. A. T. Robertson, Word Pictures in
the New Testament, vol. 1. (Nashville, Tenn.: Broadman
Press, 1930), 3.
3
Jack, P. Lewis, The Gospel According to Matthew,
Part I. Austin, Texas: Sweet Publishing Co., 1976, 36.
4
Josefo Contra Apião 1.7.