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Belo Horizonte
2013
HUGO REZENDE HENRIQUES
Belo Horizonte
2013
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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Dito de outra forma, devemos compreender que toda estabilidade interpretativa será
sempre provisória, resultando de uma única conformação específica da multiplicidade das
forças conformadoras do real, que são responsáveis por constituir o modo de ser da realidade
e em que estão sempre presentes nossos sentimentos, humores, pulsões, afetos, bem como
nossas particularidades históricas, linguísticas e fisiológicas.
Mas a metáfora desenvolvida da perspectiva em relação à visão apresenta um
problema com a teoria perspectivista, uma vez que subentende a existência de um sujeito e de
um objeto apartados entre si, preexistentes e subsistentes àquela relação. Nesse sentido,
devemos compreender que o estabelecimento de sentidos é sempre a partir de alguém,
intrometido e indissociável do processo de configuração de realidade. O sujeito não poderia
pretender anteceder ao processo interpretativo ou perspectivo, posto que ele também é seu
resultado. É dizer que ele é mesmo resultado desse processo, o sujeito vem a ser o que é a
partir do movimento interpretativo. O mesmo poderia ser dito em relação ao objeto, também
fruto dessa relação, e dependente dela, não podendo ser considerado enquanto algo alheio ao
próprio processo interpretativo.
O próprio Nietzsche formula essa ideia central da impossibilidade da existência de um
objeto em si: isento, estático, e independente do sujeito. Assim, no livro A vontade de poder,
podemos ler o trecho: “Que as coisas tenham uma constituição em si, completamente
abstraída da interpretação e da subjetividade, é uma hipótese inteiramente ociosa: seria
pressupor que o interpretar e o ser sujeito não sejam essenciais, que uma coisa desligada de
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todas as relações ainda seja coisa” (Nietzsche, 1968). Dessa forma, o perspectivismo nega a
possibilidade do sujeito, bem como nega a possibilidade do objeto, desconfigurando os dois
polos essenciais da relação de observação racionalista do mundo.
Para esta corrente filosófica, independente do que venha a ser o mundo, o homem é
parte integrante dele, não podendo pretender uma transcendência que o possibilite a instituir a
razão enquanto sujeito e o mundo como objeto. Tal somente seria possível se
considerássemos um ponto de vista sem tempo e espaço, um verdadeiro “olhar divino”. É esta
impossibilidade que Nietzsche apresenta no aforismo 374 de Gaia Ciência, que apresenta uma
formulação central para o perspectivismo:
“Até onde vai o caráter perspectivo da existência? Possui ela de fato outro caráter?
Uma existência sem explicação, sem “razão”, não se torna precisamente uma
“irrisão”? E por outro lado, não é qualquer existência essencialmente “a
interpretar”? É isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais
zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito
do homem, no decurso dessas análises, não pode deixar de se ver conforme a sua
própria perspectiva e só de acordo com ela. Só podemos ver com nossos olhos.”
(Nietzsche, 2001)
condição necessária para uma compreensão não reducionista do direito como sistema
normativo.
Esta teoria encontra diversos problemas e críticas, embora seja amplamente difundida,
e muitas vezes erroneamente empregada. Um dos problemas mais sensíveis do postulado
kelseniano poderia ser enunciado da seguinte forma: se o direito não pode se basear, em
última instância, na força, ou no próprio direito, ou numa norma pressuposta, onde estaria
assentada a autoridade do direito?
A resposta mais influente a esta pergunta foi formulada pelo filósofo inglês Hart, que
rejeitou o transcendentalismo kelseniano, e sua visão kantiana de autoridade em favor de uma
visão empirista e weberiana. Assim, para ele, a autoridade do direito é social. O critério
último de validade em um sistema normativo não é uma norma legal, nem uma norma
pressuposta, mas uma regra social que existe tão somente porque ela é praticada. Para Hart, o
direito se assenta, em última análise, sobre os costumes. Assim, define-se que é um costume
social que determina uma “Regra matriz de reconhecimento” que especifica o critério último
de validade no sistema normativo. É importante ressaltar que esta regra de reconhecimento à
qual Hart faz menção, não é uma regra costumeira necessariamente difundida à comunidade
em visão ampla, mas uma regra costumeira oficial, no sentido relacionado à ideia weberiana
de uma burocracia racional.
É importante ressaltar que Hart não se compromete com uma visão do direito
enquanto uma aquisição ou ganho cultural. Nesse sentido, a despeito de algumas críticas nesse
sentido, o direito na visão positiva é uma forma específica de organização política, e não uma
conquista moral e, portanto, sua necessidade e mesmo sua utilidade, depende inteiramente de
seu conteúdo e do seu contexto. Portanto, sociedades que desconhecem o direito podem estar
perfeitamente adaptadas ao sem ambiente, sem nada perder com isso.
A visão positivista, portanto, oferece uma teoria da validade do direito no sentido que
Kelsen afirma da validade como modo específico de existência de uma norma. Nesta visão, a
moralidade está apartada do campo normativo, embora não haja qualquer restrição em que
pese a sua presença no campo jurídico, mais amplo que aquele. Assim, o positivismo dá as
bases para a compreensão do que seria o objeto exterior sobre o qual se estuda o direito, ou
seja, a norma. Esta, portanto, deve ter valor de verdade para que se prossiga com a análise
científica do Direito proposta por Kelsen.
O perspectivismo, em especial Nietzsche, teve oportunidade de debater com o
pensamento positivo geral – distinto do positivismo jurídico, embora de raízes comuns, e
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algumas constatações interessantes podem ser extraídas do trecho a seguir, do fragmento 481
de A vontade de poder:
“Contra o positivismo, que fica no fenômeno ‘só há fatos’, eu diria: não, justamente
não há fatos, só interpretações. Não podemos verificar nenhum fato ‘em si’: talvez
seja um absurdo querer tal coisa. // “Tudo é subjetivo, dizeis: mas já isso é
interpretação. O “sujeito” não é nada de dado, mas sim algo a mais inventado, posto
por trás. É afinal necessário pôr o intérprete por trás da interpretação? Isso já é
poesia, hipótese. // Tanto quanto a palavra ‘conhecimento’ tem sentido, o mundo é
conhecível: mas ele é interpretável de outra maneira, ele não tem nenhum sentido
atrás de si, mas sim inúmeros sentidos. ‘Perspectivismo’. // Nossas necessidades são
quem interpreta o mundo; nossas pulsões e seus prós e contras. Cada pulsão é uma
espécie de ambição despótica, cada uma tem a sua perspectiva, perspectiva que a
pulsão gostaria de impor como norma para todas as outras pulsões.” (Nietzsche,
1968)
2 OBJETIVOS
3 MEDOTOLOGIA DE PESQUISA
Nesse sentido, a execução do projeto se dará a partir de pesquisa bibliográfica que terá
duas frentes principais:
1. No âmbito do debate epistemológico geral, a reconstrução histórica das estruturas
do Dogmatismo, Ceticismo, Relativismo e Perspectivismo nos darão bases para a construção
da ideia da “Verdade” ao longo da história da cultura ocidental e nos inserirá no debate
contemporâneo acerca do tema. Para tanto, analisaremos os trabalhos de autores essenciais
aos temas como Gadamer, Russel, Heidegger e Nietzsche, dentre outros que eventualmente
sejam pertinentes.
2. A reconstrução das principais ideias de Kelsen, Hart, Alexy e Dworkin acerca da
ciência positiva jurídica nos servirão de base para compreender o estado atual do debate sobre
as bases da ciência jurídica, permitindo a formulação de hipóteses sobre o sentido de
“Verdade” no campo jurídico para cada um desses autores.
A partir da análise dos resultados destas pesquisas iniciais, utilizaremos os conceitos
de “Verdade” no debate epistemológico contemporâneo para avaliar a inserção da ciência
jurídica nesse debate e, caso seja necessário, avaliarmos como os conceitos de “Verdade”, em
especial no sentido que lhe emprega o Perspectivismo, pode ser utilizado para limitar,
revalidar ou afirmar os conceitos da ciência positiva jurídica.
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