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TÍTULO DO PROJETO
Para fins deste trabalho é o segundo momento que nos interessa já que em decorrência
de uma política executada entre 1965 a 1985, que beneficiou médios e grandes produtores,
afetou negativamente os pequenos produtores rurais sobretudo no diz respeito ao crédito rural
e a assistência técnica. Esta conjuntura adversa desencadeou um conjunto de mobilizações por
parte dos agricultores familiares, iniciadas durante o fim da década 1980, que reivindicavam
melhores condições de trabalho e, principalmente, políticas públicas voltadas ao
desenvolvimento agrário.
Em Grisa e Schneider (2015), este movimento reivindicatório tem início no III
Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais (1979), com a mudança de posicionamento
político da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG, ainda
durante a ditadura militar, que passa a cobrar insistentemente a reforma agrária e uma
politica agrícola adequada as particularidades dos pequenos agricultores. Para os autores, a
presença de novos atores sociais e a restruturação do movimento sindical rural com a chegada
do “ novo sindicalismo rural” potencializaram as reivindicações e ampliaram as pautas. Outro
fator importante neste processo foi processo de redemocratização do país.
No âmbito da agricultura familiar destacaram-se as mudanças na forma de atuação
da CONTAG; a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983 e,
nesta, a conformação do Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais (DNTR)
em 1988; a constituição do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em
1984; a institucionalização do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em
1991, os quais vinham atuando desde o final da década de 1970; e a criação do
Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) em 1985. Ainda que com objetivos ou
ênfases distintas, as ações destes atores sociais tornaram visíveis as precárias
condições de reprodução social dos pequenos produtores e, cada vez mais,
reclamaram a intervenção do Estado na construção de politicas públicas adequadas
as suas particularidades, destacando-se a reforma agraria e o credito rural.(GRISA e
SCHNEIDER, 2015 p 24).
Tanto a Contag quanto o DNTR/CUT elaboraram textos para a discussão com suas
respectivas bases sociais sobre a reforma constituinte construíram propostas de
normatização para a Lei Agrícola (Contag, 1989; CUT, 1991) e disputaram a
institucionalização das regras com outros segmentos, nomeadamente com o setor da
agricultura patronal.
Segundo os autores, com essa postura propositiva começa a dar resultados na década
de1990, com as primeiras tentativas por parte do governo em construir uma política pública
direcionada para os “pequenos agricultores”. É nesse contexto, que surge o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF.
Neste sentido, podemos afirmar que o surgimento do Pronaf representa uma mudança
da leitura que o Estado brasileiro tem do meio rural. Mudança essa que se apresenta em duas
dimensões, na primeira o reconhecimento econômico, político e social da categoria
agricultura familiar, a segunda dimensão é sobre a mudança na forma como o Estado
compreende o campo brasileiro. Assim temos nos últimos 20 anos um conjunto de ações, por
parte de governos, estudiosos, atores sociais no que tange a agricultura familiar e meio rural
brasileiro. Por outro lado, após duas décadas de ações voltadas para este setor econômico, em
especial a execução da política de crédito rural é de se esperar que tenhamos uma avaliação
positiva sobre essas políticas públicas para o meio rural com destaque para o Pronaf. No
entanto, o atual quadro da agricultura familiar fluminense demonstra o contrário.
De acordo com o Censo Agropecuário de 2006 existem 44.145 estabelecimentos
agropecuários familiares no estado do Rio de Janeiro, representando 75% do total de
estabelecimentos rurais no estado. Apesar disso, o número de agricultores familiares
fluminenses que acessaram Declaração de Aptidão ao PRONAF – DAP, documento
necessário para acessar as principais políticas públicas desenvolvidas para a agricultura
familiar, e em especial o Programa Nacional de Apoio a Agricultura familiar - Pronaf é da
ordem de 13.016 famílias produtoras, ou seja, é menos de 30% do total de estabelecimentos
familiares existentes (EMATER-Rio, 2017).
O fato de quase 75% dos agricultores familiares fluminense não acessarem os
programas relacionados à política de crédito rural demonstra que existem entraves que podem
ser de ordem política, administrativa ou econômica e que afetam diretamente a produção da
agricultura familiar e o desenvolvimento do campo brasileiro. Neste sentido, avaliamos que a
relevância deste estudo se deve à necessidade de investigar sobre os fato da baixa
capilaridade desse programa tão caro aos agricultores primeiramente, mas também à toda
sociedade, uma vez que a agricultura familiar é responsável por boa parte da alimentação que
chega a mesa da população. Por fim, acreditamos que uma pesquisa sobre o Pronaf pode
contribuir para alterar esse quadro, onde mais de 70% dos agricultores familiares do estado
do Rio de Janeiro não tem acesso as políticas públicas desenvolvidas para os mesmos.
Por outro lado, o Pronaf surge como principal política pública do novo modelo de
desenvolvimento rural, o que demonstra por parte do Estado brasileiro o reconhecimento
social e econômico da Agricultura Familiar. Assim, fomentando o amplo acesso por parte dos
agricultores familiares do conjunto das políticas públicas desenvolvidas para o meio rural
brasileiro, em especial o acesso às linhas de crédito oferecidas pelo Pronaf.,,
O interesse pelo tema surgiu através das atividades de pesquisa e levantamento de
dados junto aos agricultores familiares do estado do Rio de Janeiro desenvolvidas em dois
períodos. O primeiro entre 2011 e 2015 com a elaboração de pesquisa junto aos agricultores
familiares dos municípios de Cachoeiras de Macacu, Silva Jardim e Casimiro de Abreu
através do projeto Incid realizado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Estatíscas –
IBASE, resultando na elaboração de um conjunto de indicadores sociais referentes a
agricultura familiar denominados Indicadores de Acesso a Terra. Já a segunda experiência
profissional ocorreu no período de 2017 a 2018 através do projeto de Regularização
Ambiental na Perspectiva do desenvolvimento Territorial Agroecológico dos Assentamentos
da Reforma Agrária – RAPATRA projeto desenvolvido pela Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro – UNIRIO através de um convênio com Instituto Nacional de Colonização e
reforma Agrária – INCRA com objetivo de levantar dados socioeconômicos de 1716 famílias
assentadas no estado do Rio de Janeiro. Essas duas experiências profissionais propiciaram
uma visão crítica sobre as condições de produção dos agricultores familiares e acesso destes
às políticas públicas específicas para o meio o rural. Neste sentido, o interesse em
desenvolver uma análise sobre a realidade rural fluminense através de uma literatura própria.
Objetivos:
Este trabalho tem como objetivo analisar as condições de acesso dos agricultores
familiares fluminenses junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
– Pronaf identificando as principais dificuldades e limites impostos pelo programa. Para isso,
pretendemos levantar o perfil dos agricultores familiares com os projetos de financiamentos
aprovados por área de produção e localização territorial; Identificar junto as entidades de
classe e representação dos agricultores familiares fluminense as principais demandas em
relação as políticas de crédito da agricultura familiar; Verificar junto as entidades
governamentais executoras das políticas públicas os critérios para construção das metas do
número de emissão de DAPs no estado do Rio de Janeiro; Relacionar os dados das campanhas
de divulgação (custos operacionais e financeiros) com as emissões de DAPs e a construção
de projetos técnicos de 2010 a 2015.
Minha hipótese que o baixo número, cerca de um terço, de agricultores familiares do
estado do Rio Janeiro inscritos no Pronaf demonstra que existe um perfil definido destes
produtores por parte das entidades envolvidas diretamente na execução do programa de
crédito para agricultura familiar, o que a nosso ver, é resultado de uma seletividade
administrativa e política contrariando o discurso governamental sobre o novo modelo de
desenvolvimento rural e a importância da agricultura familiar. Neste sentido, desenvolver um
estudo sobre as principais políticas públicas para o meio rural possibilita não apenas a
verificação se essas políticas públicas estão chegando aos agricultores familiares fluminenses,
mas de que forma estão efetivamente ocorrendo.
Problematização
No Brasil, a importância política e econômica da agricultura remonta o período
colonial, desde então é um tema permanente de debates e disputas no interior do Estado e da
sociedade brasileira. Assim, políticas voltadas para a questão agrária e agrícolas representam
muito mais que resultados econômicos, refletem uma disputa em torno de projetos distintos de
grupos e agentes da sociedade em relação ao Estado.
Para Iamamoto (2008), a burguesia brasileira tem sua base fundante no poder
oligárquico e sua renovação a partir dos interesses industriais, comerciais. Assim a velha
oligarquia agrária se reestrutura, modernizando-se economicamente. Do ponto de vista
político consolida alianças que a garante junto ao núcleo de poder, o que resulta de forma
decisiva na influência de uma base conservadora da dominação burguesa no Brasil. Para a
autora, a revolução burguesa no Brasil surge identificada com o timbre do mundo rural, o que
confere a classe dos proprietários de terra uma posição de destaque. Neste sentido, a autora
aponta o lugar histórico da agricultura, responsável pela acumulação de capital na esfera do
comércio e da indústria. Esse contexto histórico, predominância da agricultura como elemento
econômico e político, remete ao campo brasileiro um espaço disputa.
A agropecuária, assim como outras atividades produtivas, tem nas linhas de crédito a
condição para viabilizar os custos de todo o processo que envolve o sistema de produção
agropecuário. O crédito acessado pelos agricultores pode ser caracterizado como um
empréstimo, já que em sua grande parte, o agricultor familiar não possui recursos próprios
que permitam custear a produção. Neste sentido, a existência de um programa de crédito
especifico para o agricultor familiar é importante para garantir a produção, o que resulta em
uma maior diversidade de alimentos e regularidade quanto ao preço final dos produtos
agropecuários. No Brasil o Crédito Rural foi instituído pela ditadura militar através da lei
4.829 em 1965, objetivando aumentar os investimentos rurais, por parte de cooperativas e dos
produtores rurais, no armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos
agropecuários. Para Grisa e Schneider (2015), os governos militares orientados pela
modernização tecnológica da agricultura, desenvolveram um conjunto de ações e políticas
públicas, como, o crédito rural, garantia de preços mínimos, seguro agrícola, pesquisa
agropecuária, assistência técnica e extensão rural, incentivos fiscais às exportações,
minidesvalorizações cambiais, subsídios à aquisição de insumos, expansão da fronteira
agrícola, e o desenvolvimento de infraestruturas. Ainda segundo os autores, essas ações foram
desenvolvidas ao longo de 20 anos pelo Estado caracterizando um processo “triplamente
seletivo” que beneficiava na maior parte os médios e os grandes agricultores, das regiões sul
e sudeste, que produziam produtos direcionados à exportação ou de interesses de grupos
agroindustriais (café, soja, trigo, cana‐de‐açúcar, laranja, algodão).
É importante destacar que historicamente a agricultura familiar sempre ficou ausente
das principais política e programas desenvolvidos pelo Estado para o campo brasileiro. Até
metade da década de noventa os responsáveis por grande parte da produção alimentar da
população brasileira eram denominados “pequenos agricultores” e não tinham nenhuma
influência junto as políticas desenvolvidas para o meio rural brasileiro. Segundo, Picolloto
(2014). A urgência da categoria agricultura familiar e dos agricultores familiares como figuras
políticas personagens é um processo atual, que tem início nas duas últimas décadas. Neste
sentido, o processo de redemocratização da sociedade brasileira permite que demandas
históricas dos movimentos sociais do campo encontrem espaço, no sentido de buscar políticas
e ações para compensar os efeitos nocivos da política econômica levada a cabo durante o
período da ditadura militar (1964‐1985). Em contexto histórico, pós a constituição de 1988,
com grandes manifestações populares e o afastamento do mandato do presidente Collor de
Mello, o Estado brasileiro finalmente acaba por reconhecer estas demandas dos movimentos
sociais do campo, em especial o novo sindicalismo rural e cria‐se, em 1996, o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) Aquino e Scheneider (2015).
METODOLOGIA
✔ Desenvolvimento rural.
✔ Agricultura familiar.
✔ Crédito rural
✔ Soberania alimentar
A nosso ver, estes temas são pertinentes para uma caracterização sobre o campo
brasileiro, suas mudanças históricas e os impactos ao longo do tempo junto aos diferentes
produtores rurais, em especial suas lutas, desafios e conquistas. Assim como, identificar junto
o Estado as principais políticas desenvolvidas para o meio rural brasileiro.
Esse levantamento terá como base, as plataformas do acervo bibliográfico da plataforma
scielo.org, o acervo do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade - CPDA/UFRRJ, site do Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Rural – PGDR/UFRGS, site Diretoria de Gestão Estratégia,
Monitoramento e Avaliação – DGMA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa).
Em seguida, faremos um levantamento de dados da operacionalização do PRONAF
junto aos agricultores familiares do estado do Rio de Janeiro através da base de informações
da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro –
EMATER- Rio; site Diretoria de Gestão Estratégia, Monitoramento e Avaliação –
DGMA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Banco Central do
Brasil (BC).
Por fim, vamos realizar um conjunto de entrevistas com os dirigentes das Federações
dos Trabalhadores Agricultores do Estado do Rio de Janeiro – FETAG- RIO e Federação dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Agricultura Familiar do Estado do Rio de Janeiro –
FETAGRI, a fim de levantar quais são as demandas apontadas por estas entidades em relação
ao acesso dos agricultores familiares fluminenses. A fim de realizar as entrevistas iremos;
o Desenvolver um questionário enfatizando, os aspectos históricos da formação das
entidades representativas dos agricultores familiares do Rio de Janeiro, as pautas
relacionadas às políticas públicas rurais e as demandas em relação ao crédito rural.