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A Mística do MST como um princípio organizativo.

Resumo.

Este artigo busca apresentar a dimensão que a mística ocupa dentro da estrutura
organizativa do MST enquanto um princípio organizativo que responde pela
identidade coletiva e o projeto político desta organização política. Neste sentido, a
mística é considerada uma manifestação política que abrange dois aspectos do
funcionamento interno dessa organização, o primeiro é o sentimento de
pertencimento a condição de “Sem Terra” ao fortalecer uma conexão entre os
militantes e a própria organização. O segundo está relacionado aos processo de
formação política da militância que integra a organização.

Palavras Chaves: mística, formação política, militância

Introdução.

Ao longo de mais de três décadas de existência o Movimento dos Trabalhadores


Rurais Sem Terra questão da Reforma Agrária presente na agenda política do país.
O tema da Reforma Agrária, antes restrito as organizações rurais e pontualmente
em alguns grupos de pesquisa universitários, ganha uma dimensão nacional a partir
das ações políticas do MST como as ocupações e marchas resultando não apenas
no interesse sobre o tema por parte da sociedade brasileira como também o apoio.

Inúmeros trabalhos acadêmicos sobre a gênese do MST identificam que entre os


vários fatores determinantes para a criação e consolidação deste movimento social,
três são fundamentais, o sócio econômico, o político e o ideológico. O aspecto sócio
econômico diz respeito aos impactos gerados pelas transformações sofrida pela
agricultura brasileira na década de 1970, durante a ditadura militar, gerando um
movimento de mecanização da produção agrícola 1. Com avanço da mecanização

1
Existe uma vasta literatura sobre este processo também conhecido como modernização da
agricultura brasileira. Para os leitores que buscam maiores informações recomendamos a obra de
José Graziano da Silva A modernização dolorosa.
aliado com introdução de novas cultura como o caso da soja na região sul do país,
resultam na expulsão de milhares de famílias de trabalhadores rurais do campo. O
outro aspecto que está presente na gênese do MST é o político, as lutas e
mobilizações pela redemocratização do Brasil e contra a ditadura militar é um
momento também de fortalecer as diferentes frentes de luta. As greves no ABC
paulista, as conquistas de grandes sindicatos pelo novo sindicalismo 2, são
expressões deste momento político. Um exemplo é concentração nacional no dia 01
de maio de 1981, no acampamento Encruzilhada Natalino no Rio Grande tendo
como propósito o apoio a reforma agrária e a luta contra a ditadura militar. Forjado
na luta pela democratização do país o MST reconhece que a Reforma Agrária deve
estar associada a luta pela transformação da sociedade, que neste caso passa pela
luta contra o modelo capitalista de organização da sociedade.

Tendo sua constituição no início da década de 1980 e o congresso de fundação em


1984, podemos afirmar que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é o
resultado direto do processo de luta contra o projeto de desenvolvimento
agropecuário elaborado durante a ditadura militar e consolidado enquanto uma
política de Estado por diferentes governos pós o periodo de redemocratização.

Esse processo é entendido no seu caráter mais geral, na luta contra a


expropriação e contra a exploração do desenvolvimento do
capitalismo. O MST é parte de um movimento histórico da luta
camponesa no Brasil. Desde canudos, Contestado, Porecatu,
trombas e Formoso, os camponeses brasileiros vem lutando pelo
direito à terra. Chegam ao final do século XX sem ainda ter
conquistado, em sua plenitude, esse direito. (MST,1998).

Quando analisa o seu próprio processo de construção, o MST se apresenta como


herdeiro de outros movimentos de luta pela terra no Brasil e dessa forma carrega a
experiência da luta e força de lutar dos antepassados. Como veremos mais a frente,
o MST desenvolve uma releitura histórica do processo de luta pela terra no Brasil.
Ao construir e difundir uma leitura da história a partir dos vencidos, com objetivo de
sensibilizar para a luta, o MST está trazendo a concepção da luta de classe. Aqui
encontramos o terceiro aspecto apontando pelo próprio movimento, o aspecto
ideológico.

2
O novo sindicalismo foi a denominação dada para uma nova forma de atuação sindical que
estabeleceu autonomia frente ao Estado e as estruturas patronais, que mantinha um discurso classista e
que tinha como uma das bandeiras o fim do imposto sindical.
Agora, há um segundo elemento muito importante na gênese do
MST. O primeiro aspecto, como vimos, é o socioeconômico. O
segundo é o ideológico. Quero ressaltá-lo porque é importante na
formação do movimento. É o trabalho pastoral, principalmente da
Igreja Católica e da Igreja Luterana. O surgimento da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) em 1975, em Goiânia (GO), foi muito
importante para a reorganização das lutas camponesas.
(FERNANDES, STÉDILE, 2001, p 21)

O aspecto ideológico na constituição da gênese do MST, surge a partir da presença


do trabalho pastoral da igreja católica e luterana na organização dos trabalhadores
rurais. É importante destacar que a Comissão Pastoral da Terra – CPT surge
durante a ditadura militar como uma organização que concentra bispos, padres e
agentes pastorais contra o modelo de agricultura elaborado e executado pelos
militares e a oligarquia rural. Por sua característica pastoral a CPT concentra
esforços na formação de lideranças e organizações dos próprios trabalhadores
rurais, assim fomentar a construção de uma movimento de trabalhadores rurais com
autonomia frente a igreja e demais organizações torna-se mais importante que fazer
a luta direta contra a ditadura militar e seu projeto para o campo brasileiro. Todo
esse esforço é reconhecido pelo próprio MST.

A CPT foi a aplicação da Teologia da Libertação na prática, o que


trouxe uma contribuição importante para a luta dos camponeses pelo
prisma ideológico. Os padres, agentes pastorais, religiosos e pastores
discutiam com os camponeses a necessidade de eles se
organizarem. A Igreja parou de fazer um trabalho messiânico e de
dizer para o camponês: “Espera que tu terás terra no céu”. Ao
contrário, passou a dizer: “Tu precisas te organizar para lutar e
resolver os teus problemas aqui na Terra”. A CPT fez um trabalho
muito importante de conscientização dos camponeses.
(FERNANDES, STÉDILE, 2001, p 22)

O trabalho desenvolvido pela CPT através de leigos e padres católicos durante a


ditadura militar, seja na ação urbana ou rural, está vinculado à orientação da teologia
da libertação3. Para Löwi (2000) trata-se uma prática social que ultrapassa os limites
institucionais da igreja, já que a principal força dessa formulação é reconhecer os
pobres como sujeitos capazes de agir pela sua própria libertação. Dessa forma, o
autor caracteriza esse movimento religioso de cristianismo de libertação.

3
Segmento pastoral no interior da Igreja católica que tem como base teórica as referências sociais do
Concílio Vaticano II. Do ponto de vista da análise da realidade, esta corrente utiliza as contribuições
do marxismo. Os principais pensadores dessa corrente são, Leonardo Boff, Gustavo Gutiérrez e Hugo
Asmann. Atualmente a teologia da libertação encontra-se em declínio no interior da igreja, sendo
combatida por parte da cúpula e de segmentos conservadores no interior da igreja.
Normalmente, refere-se a esse amplo movimento social/religioso
como “Teologia da Libertação”, porém, como movimento surgiu
muitos anos antes da nova teologia e certamente a maioria de seus
ativistas não são teólogos, esse termo não é apropriado; algumas
vezes, o movimento é também chamado de “Igreja dos Pobres”, mas,
uma vez mais, essa rede social vai bem mais além dos limites da
Igreja como instituição, por mais ampla que seja sua definição.
Proponho chamá-lo de Cristianismo da Libertação, por ser um
conceito mais amplo que “teologia” ou que “Igreja” e incluir tanto a
cultura religiosa e a rede social, quanto a fé e a prática. (LÖWY.2016
p.74).

Reconhecemos que o termo Cristianismo de Libertação é um conceito mais


amplo dado a dimensão política deste segmento que tem sua origem na igreja, mas
alcança uma capilaridade para além. Neste sentido, a importância da CPT na
constituição do MST é indiscutível enquanto uma instituição “formadora”. No entanto,
o MST se apresenta como uma organização secular e não confessional o que
significa que é uma organização aberta aos crentes e não crentes. Por outro lado, o
movimento dos trabalhadores rurais sem terra é reconhecido por mesclarem
elementos da cultura popular, lendas e mitos associado na maioria das vezes como
uma releitura histórica, estamos nos referindo a mística.

Mas qual o sentido da mística para o MST?

O movimento dos trabalhadores rurais sem-terra tem uma vasta produção


sobre a mística seja na forma de cartilhas, encontros e seminários específicos sobre
o tema, talvez por isso mesmo seja tão difícil uma única definição. Direcionado para
a militância, assentados e acampados, boa parte desta produção, mas que definir o
que seja a mística, eles explicam o fazer e o sentir deste processo.

Como medita de esclarecimento, é importante destacar, a mística é


uma palavra que tem origem na religião. Na política usa-se outros
termos que querem dizer a mesma coisa. Ou seja, são as diferentes
formas de motivação que buscamos para continuarmos lutando por
uma causa justa, procurando “aproximar” o futuro do momento
presente. (MST,1998 p. 15).

Ao apresentar a mística como uma motivação o MST potencializa os aspectos


subjetivos envolvidos no processo da elaboração e no impacto individual desta
manifestação. Dessa forma a mística assume a “função” de ajudar no processo de
formação de uma consciência crítica dos membros da organização. Outro aspecto, é
processo de materialização da mística, ele ocorre pela prática individual e coletiva e
a identificação de uma causa principal, que neste caso é a libertação do
proletariado.

Tradição da igreja católica, a mística desenvolvida pelo MST é uma expressão do


cristianismo de libertação, em que a CPT é a principal referência. Organicamente
presente na estrutura organizativa deste movimento social a mística desempenha
uma função político-organizativa.

Compreendemos a mística como encenações e performances que levam


mensagens e orientações políticas com a utilização de símbolos e a referência da
memória coletiva através de uma manifestação estética realista. Aqui o objetivo é
proporcionar aos membros do MST uma expansão da sua compreensão do seu
lugar enquanto sujeito e do próprio mundo que habita. Para Vargas (2007), esse
processo é caracterizado como a mística rebelde.

Em algum lugar entre as duas conotações- a clássica e a moderna –


acho que repousa aquilo que podemos chamar mística rebelde. A
problemática definição de uma mística rebelde supõe a busca da
energia da qual ela é constituída. A mística procede de pensamentos
e sentimentos – “movimentos do espírito ou da alma” – sobre as quais
não podemos evitar de refletir e que guiam toda a existência, ética e
princípios, pensamentos e ações. (VARGAS, 2007, p. 264).

De fato, a mística do MST apresenta ritos, simbologia e uma estética muito


próxima de uma manifestação religiosa 4. No entanto, a dimensão política, ideológica
e socioeconômica, presentes na formação do MST permitem que a mística seja
incorporada ou reatualizada a partir de uma dimensão onde o trabalhador rural sem-
terra se encontra com valores e compromissos éticos que permitem que ele
identifique na sua ação, a luta pela terra e a transformação da sociedade, uma
manifestação de fé e de crença. A força da mística enquanto manifestação coletiva
seja nos acampamentos, encontros, marchas, etc..., é perceptível pelo entusiasmo
dos aplausos palavras de ordem proferidas por mulheres, crianças e homens com
brilhos nos olhos e voz embargada por uma emoção arrebatadora. Descrever o
impacto ou resultado da mística é algo complexo, alguns autores reconhecem na
mística uma força com um propósito imediato, uma forma de cura. Para esses
autores a mística representa um “chamado” ou um “encontro” em que as pessoas

4
Estamos nos referindo as manifestações e toda a liturgia que acompanha boa parte das celebrações
da igreja católica.
ganham uma nova visão de mundo e ao mesmo tempo “libertam” elas dos valores
da sociedade capitalista.

Não há como fazer política de massas sem práticas capazes de


aglutinar o povo em torno de fortes sentimentos de identidade coletiva
e nossa experiência histórica demonstra que não se pode aglutinar o
povo partindo de ideais abstratos como “o socialismo”, ou “a
revolução”, mas que esses são pontos de chegada (e não de partida),
frutos de um processo de formação política e organizativa, do
fortalecimento dos laços sociais e de confiança, da formação de fortes
símbolos identitários baseados nas lutas da classe, mas que só são
passíveis de serem postos em prática se logramos conjugar a luta por
reivindicações concretas de melhorias na vida dos trabalhadores com
um conjunto de práticas coletivas que poderíamos chamar de mística.
(FERNANDES, 2010, p.46)

Em nosso entendimento, a mística utilizada pelo MST busca construir um espaço


onde a mensagem política tem um lugar principal, a leitura da conjuntura, a
avaliação do momento político e as diretrizes para a ação estão presentes nas
místicas. Neste sentido, a mística também assume a condição de um instrumento
formativo. Porém compreendemos que não é essa a função principal da mística, a
de reforçar a construção de uma consciência política capaz de atuar contra todas as
estruturas objetivas e subjetivas presentes no capitalismo. Reconhecer a força e a
presença da mística dentro do MST passa por considerar que este movimento
carrega uma tradição que é própria dos movimentos rurais.

Mas a “mística” – não na acepção estritamente religiosa do


termo, mas no sentido mais ampliado formulado por Charles
Peguy –, impregna de um modo geral a cultura sociopolítica
secular do MST. O termo é empregado pelos próprios militantes
para descrever a intransigência moral, o engajamento emocional,
a devoção à causa com o risco da própria vida, a esperança de
uma transformação social radical. (LÖWY.2016 p.232).

Neste sentido a mística do MST assume uma condição de utopia revolucionária, ela
apresenta a possibilidade de uma sociedade fraterna e justa. Ela apresenta os
símbolos que representam os valores dessa nova sociedade, é uma expressão
utópica e laica que o MST apresenta como resultado da influência da do que aqui
estamos denominado Cristianismo de Libertação.

E como imaginar essa dimensão da mística no processo organizativo do MST?


Acreditamos que a resposta esteja no fato que diferente dos movimentos sociais
tradicionais, o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra manteve a dimensão
da fé e da crença como valores presentes em sua base social. Neste caso, fortalecer
a fé e os valores como uma condição terrena é uma ação consciente. Ação essa que
busca fortalecer uma identidade comum e memória coletiva como estímulos
obrigatórios para o fortalecimento do seus membros. Um exemplo é campanha do
setor de formação do MST em 1998 para difundir os valores 5 , neste ano os
diferentes setores do MST atuaram na divulgação e aplicação dessas orientações.
Diferente de uma orientação religiosa essa campanha permite uma discussão em
torno do compromisso ético da luta e suas contradições. Sem uma conotação
religiosa a possibilidade de discutir valores humanistas em uma base social marcada
pela relação dura entre o homem e a natureza e as relações machistas e racistas, só
é possível com um instrumento que possa atravessar o imaginário desse trabalhador
e trabalhadora sem-terra. Aqui temos o nosso primeiro aspecto da manifestação
política da mística, o sentimento de pertencimento.

As místicas desenvolvidas pelo MST por mais que tenha temas variados, quase
sempre tem seu encerramento no fortalecimento da identidade sem-terra e a noção
de comunhão coletiva. É comum que as místicas terminem com a exaltação a força
do movimento e o sentido de pertencimento dos militantes à causa da revolução. Ao
proporcionar um identidade coletiva a mística cumpre um papel pedagógico de situar
o militante, o assentando ou acampado como um sem-terra. Valorizando os
símbolos como o hino ou a bandeira essa ritualística fomenta laços e compromissos.
Ao lembrar dos militantes e aliados que tombaram diante da luta, a mística promove
um encontro entre os que estão presentes e aqueles que se foram. Trazendo
aspectos pitorescos de grandes lideranças revolucionárias, como Zumbi dos
Palmares e Che Guevara, a mística “transforma todos em companheiros”, criando
uma identidade coletiva entre os grandes mártires e a militância.

Outro aspecto presente na mística é o caráter formativo dessas manifestações. A


elaboração de uma mística seja em uma assentamento, seja em encontro nacional
passa por um debate em torno dos objetivos e da mensagem que se quer levar. Em
alguns casos, a mística deverá fortalecer a resistência e unidade em torno de um
5
Esta campanha interna do MST contou com a produção de uma cartilha que trazia exemplos dos
valores a serem seguidos. A cartilha a Vez dos Valores pode ser encontrada neste link.
file:///C:/Users/Robson/Documents/2022/ROBSON/TEXTO%20M%C3%8DSTICA/Caderno%20de
%20Forma%C3%A7%C3%A3o%20n%C2%BA%2026.pdf
despejo de um acampamento, como também pode reafirmar os princípios
organizativos ou defesa de uma bandeira de luta como o caso da agroecologia.
Dessa forma a mística se transforma em um recurso valioso na formação de uma
subjetividade anticapitalista.

Pensar as manifestações estéticas e cênicas presentes na mística não deixa de ser


importante, porém ao valorizar os elementos presentes nessa manifestação permite
compreender o seu significado no interior da organização. Para além de uma
expressão estética realista e impactante a mística do MST promove a utopia, o
sonho na mudança. Sem bases teóricas para compreender a sua condição como
sujeito histórico, o trabalhador rural encontra na mística o momento da crença, do
sentido da luta e da condição da sua existência. Diferente das forma realizada pela
CPT que estimula a fé, a mística do MST reforça a necessidade de cada pessoa se
encontrar em si mesmo e a partir disso buscar as transformações necessárias.

A mística aparece como uma mediação histórica de importante valor,


visto que para além da produção cultural que materializa, atua como
uma necessidade do trabalho organizativo (MST, 1998a) e como
ideologia, entendida como produção histórica da subjetividade de
classe. (Marx, 1984, Mesários, 1996). A prática da mística visa
reforçar os compromissos ideológicos com o projeto político dos
trabalhadores, remetendo à herança dos símbolos, à herança da
cultura popular. Como tudo que envolve a práxis organizativa do
MST, a mística é uma criação coletiva que se baseia num tema
relativo ao local ou à atividade que está anunciando. (LOBO DA
SILVA, 2005, p.249).

Ao configurar que a mística é um princípio organizativo o MST não apenas reafirmar


essa mística rebelde, mas também determina um sentido para além da expressão
messiânica. Presente em todas as atividades do MST, a mística como um princípio
organizativo permite fortalecer a identidade sem-terra e manter o sentimento de luta
presente. Atravessada por uma concepção ética que reconhece e promove o
sacrifício de cada um em busca da causa da maior, a mística também expressa que
a base de qualquer conquista ou mudança feita pelo MST deve ocorrer de forma
coletiva.

Conclusão.
Procuramos trazer alguns aspectos relacionados a origem da mística que
neste caso também se confunde com o próprio surgimento do MST. A influência da
CPT enquanto uma instituição responsável pela formação/assessoria dos primeiros
quadros do MST foi fundamental para a incorporação da mística como um dos
princípios deste movimento social.

Em relação ao significado da mística podemos verificar que não se trata de


uma manifestação cultural de abertura ou fechamento de atividades ou ações do
movimento. Trata-se de um processo consciente e com determinações claras que
atravessa os diferentes espaços do MST. A mística é um instrumento poderoso
neste processo de formação de uma consciência crítica que age de forma individual
e coletiva. Neste sentido, a mística deve ser elaborada e bem planejada o que não
tira o seu impacto, inclusive para aqueles que estão na sua própria organização.
Com essas características, a mística também tem a função de difundir os valores e
os compromissos éticos firmados pela organização. De outro lado, a mística também
responde pelo processo de formação política, um dos princípios do MST, ao trazer
aspectos e fatos históricos da luta pela terra e reforma agrária.

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