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Resumo.
Este artigo busca apresentar a dimensão que a mística ocupa dentro da estrutura
organizativa do MST enquanto um princípio organizativo que responde pela
identidade coletiva e o projeto político desta organização política. Neste sentido, a
mística é considerada uma manifestação política que abrange dois aspectos do
funcionamento interno dessa organização, o primeiro é o sentimento de
pertencimento a condição de “Sem Terra” ao fortalecer uma conexão entre os
militantes e a própria organização. O segundo está relacionado aos processo de
formação política da militância que integra a organização.
Introdução.
1
Existe uma vasta literatura sobre este processo também conhecido como modernização da
agricultura brasileira. Para os leitores que buscam maiores informações recomendamos a obra de
José Graziano da Silva A modernização dolorosa.
aliado com introdução de novas cultura como o caso da soja na região sul do país,
resultam na expulsão de milhares de famílias de trabalhadores rurais do campo. O
outro aspecto que está presente na gênese do MST é o político, as lutas e
mobilizações pela redemocratização do Brasil e contra a ditadura militar é um
momento também de fortalecer as diferentes frentes de luta. As greves no ABC
paulista, as conquistas de grandes sindicatos pelo novo sindicalismo 2, são
expressões deste momento político. Um exemplo é concentração nacional no dia 01
de maio de 1981, no acampamento Encruzilhada Natalino no Rio Grande tendo
como propósito o apoio a reforma agrária e a luta contra a ditadura militar. Forjado
na luta pela democratização do país o MST reconhece que a Reforma Agrária deve
estar associada a luta pela transformação da sociedade, que neste caso passa pela
luta contra o modelo capitalista de organização da sociedade.
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O novo sindicalismo foi a denominação dada para uma nova forma de atuação sindical que
estabeleceu autonomia frente ao Estado e as estruturas patronais, que mantinha um discurso classista e
que tinha como uma das bandeiras o fim do imposto sindical.
Agora, há um segundo elemento muito importante na gênese do
MST. O primeiro aspecto, como vimos, é o socioeconômico. O
segundo é o ideológico. Quero ressaltá-lo porque é importante na
formação do movimento. É o trabalho pastoral, principalmente da
Igreja Católica e da Igreja Luterana. O surgimento da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) em 1975, em Goiânia (GO), foi muito
importante para a reorganização das lutas camponesas.
(FERNANDES, STÉDILE, 2001, p 21)
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Segmento pastoral no interior da Igreja católica que tem como base teórica as referências sociais do
Concílio Vaticano II. Do ponto de vista da análise da realidade, esta corrente utiliza as contribuições
do marxismo. Os principais pensadores dessa corrente são, Leonardo Boff, Gustavo Gutiérrez e Hugo
Asmann. Atualmente a teologia da libertação encontra-se em declínio no interior da igreja, sendo
combatida por parte da cúpula e de segmentos conservadores no interior da igreja.
Normalmente, refere-se a esse amplo movimento social/religioso
como “Teologia da Libertação”, porém, como movimento surgiu
muitos anos antes da nova teologia e certamente a maioria de seus
ativistas não são teólogos, esse termo não é apropriado; algumas
vezes, o movimento é também chamado de “Igreja dos Pobres”, mas,
uma vez mais, essa rede social vai bem mais além dos limites da
Igreja como instituição, por mais ampla que seja sua definição.
Proponho chamá-lo de Cristianismo da Libertação, por ser um
conceito mais amplo que “teologia” ou que “Igreja” e incluir tanto a
cultura religiosa e a rede social, quanto a fé e a prática. (LÖWY.2016
p.74).
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Estamos nos referindo as manifestações e toda a liturgia que acompanha boa parte das celebrações
da igreja católica.
ganham uma nova visão de mundo e ao mesmo tempo “libertam” elas dos valores
da sociedade capitalista.
Neste sentido a mística do MST assume uma condição de utopia revolucionária, ela
apresenta a possibilidade de uma sociedade fraterna e justa. Ela apresenta os
símbolos que representam os valores dessa nova sociedade, é uma expressão
utópica e laica que o MST apresenta como resultado da influência da do que aqui
estamos denominado Cristianismo de Libertação.
As místicas desenvolvidas pelo MST por mais que tenha temas variados, quase
sempre tem seu encerramento no fortalecimento da identidade sem-terra e a noção
de comunhão coletiva. É comum que as místicas terminem com a exaltação a força
do movimento e o sentido de pertencimento dos militantes à causa da revolução. Ao
proporcionar um identidade coletiva a mística cumpre um papel pedagógico de situar
o militante, o assentando ou acampado como um sem-terra. Valorizando os
símbolos como o hino ou a bandeira essa ritualística fomenta laços e compromissos.
Ao lembrar dos militantes e aliados que tombaram diante da luta, a mística promove
um encontro entre os que estão presentes e aqueles que se foram. Trazendo
aspectos pitorescos de grandes lideranças revolucionárias, como Zumbi dos
Palmares e Che Guevara, a mística “transforma todos em companheiros”, criando
uma identidade coletiva entre os grandes mártires e a militância.
Conclusão.
Procuramos trazer alguns aspectos relacionados a origem da mística que
neste caso também se confunde com o próprio surgimento do MST. A influência da
CPT enquanto uma instituição responsável pela formação/assessoria dos primeiros
quadros do MST foi fundamental para a incorporação da mística como um dos
princípios deste movimento social.
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REFERÊNCIAS.
BOGO, Ademar. Lições da luta pela terra. Salvador: Memorial das Letras, 1999.