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INTRODUÇÃO À LÓGICA

MATEMÁTICA

Universidade Estácio de Sá
Curso de Sistemas de Informação
Disciplina: Lógica Matemática
Professor: Celso L. M. Pieroni
Resumo do livro: Iniciação à Lógica Matemática
Título: Iniciação à Lógica Matemática
Autor: Edgard de Alencar Filho
Editora: Nobel

OBSERVAÇÃO: O material abaixo tem como finalidade apenas orientar o


aluno durante as aulas que serão ministradas.
Proposições. Conectivos

1. Conceito de proposição
2. Valores Lógicos das Proposições
3. Proposições Simples e Proposições Compostas
4. Conectivos
5. Tabela-Verdade
6. Notação

Operações Lógicas sobre Proposições

1. Negação (~)
2. Conjunção (∧)
3. Disjunção (∨)
4. Disjunção Exclusiva (⊻)
5. Condicional (→)
6. Bicondicional (↔)

Construção de Tabelas-Verdade

1. Tabela-Verdade de uma Proposição Composta


2. Número de Linhas de uma Tabela-Verdade
3. Exemplificação
4. Valor Lógico de uma Proposição Composta
5. Uso de Paréntesis
6. Outros Símbolos para os Conectivos

Tautologias, Contradições e Contingências

1. Tautologia
2. Contradição
3. Contingência

Implicação Lógica

1. Definição de Implicação Lógica


2. Propriedades da Implicação Lógica
3. Exemplificação
4. Tautologias e Implicação Lógica

Equivalência Lógica

1. Definição de Equivalência Lógica


2. Propriedades da Equivalência Lógica
3. Exemplificação

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4. Tautologias e Equivalência Lógica
5. Proposições Associadas a uma Condicional
6. Negação Conjunta de duas Proposições
7. Negação Disjunta de duas Proposições

Método dedutivo
Regras de Inferência

1. Exemplificação
2. Forma normal das proposições
3. Forma normal conjuntiva (FNC)
4. Forma normal disjuntiva (FND)
5. Definição de argumento
6. Validade de um argumento
7. Critério de validade de um argumento
8. Argumentos válidos fundamentais / Regras de inferência

Sentenças abertas

1. Sentenças abertas com uma variável


2. Conjunto verdade de uma sentença aberta com uma variável
3. Sentenças abertas com n variáveis
4. Conjunto verdade de uma sentença aberta com n variáveis

Operações com Sentenças abertas

1. Sentenças abertas com uma variável


2. Conjunto verdade de uma sentença aberta com uma variável
3. Sentenças abertas com n variáveis
4. Conjunto verdade de uma sentença aberta com n variáveis
5. Operações lógicas sobre sentenças abertas
6. Quantificadores

Quantificadores

1. Quantificador universal
2. Quantificador existencial
3. Quantificador existencial e unicidade
4. Negação de proposições com quantificador
5. Quantificação múltipla
6. Comutatividade dos quantificadores
7. Negação de proposições com quantificadores

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Proposições. Conectivos

1. Conceito de proposição

Chama-se proposição todo o conjunto de palavras e símbolos que


exprimem um pensamento de sentido completo.

As proposições transmitem pensamentos, isto é, afirmam fatos ou


exprimem juízos que formamos a respeito de determinados entes.

Assim, por exemplo, são proposições:

(a) A Lua é um satélite da Terra


(b) π> 5

A Lógica Matemática adota como regras fundamentais do pensamento


os dois seguintes princípios (ou axiomas):

(I) Princípio da não contradição: Uma proposição não pode ser


verdadeira e falsa ao mesmo tempo.

(II) Princípio do terceiro excluído: Toda a proposição ou é verdadeira


ou é falsa, isto é, verifica-se sempre um destes casos e nunca um
terceiro.

2. Valores Lógicos das Proposições

Chama-se valor lógico de uma proposição a verdade de a proposição é


verdadeira e a falsidade de a proposição é falsa.

Os valores lógicos verdade e falsidade de uma proposição designam-se


abreviadamente pelas letras V e F, respectivamente. Assim, o que os
princípios da não contradição e do terceiro excluído afirmam é que:

Toda proposição tem um, e um só, dos valores V, F.

Consideremos, por exemplo, as proposições:

(a) O mercúrio é mais pesado que a água


(b) O Sol gira em torno da Terra

O valor lógico da proposição (a) é a verdade (V) e o valor lógico da


proposição (b) é a falsidade (F).

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3. Proposições Simples e Proposições Compostas

As proposições podem ser classificadas em simples ou atômicas e


compostas ou moleculares.

Proposição simples: chama-se proposição simples ou atômica aquela


que aquela que não contém nenhuma outra proposição como parte
integrante de si mesma. As proposições simples são geralmente
designadas pelas letras latinas minúsculas p, q, r, s, ..., chamadas letras
proposicionais.

Assim, por exemplo, são proposições simples as seguintes:

p: Pedro é estudante
q: O número 25 é quadrado perfeito

Proposição composta: chama-se proposição composta ou molecular


aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições. As
proposições compostas são habitualmente designadas pelas letras
latinas maiúsculas P, Q, R, S,..., também chamadas letras
proposicionais.

Assim, por exemplo, são proposições compostas as seguintes:

P: Carlos é careca ou Pedro é estudante;


Q: Se Carlos é careca, então é infeliz

visto que cada uma delas é formada por duas proposições simples.

As proposições compostas também costumam ser chamadas de


fórmulas proposicionais ou apenas fórmulas.

As proposições simples e as proposições compostas também são


chamadas respectivamente de átomos e moléculas.

4. Conectivos

Chamam-se conectivos, palavras que se usam para formar novas


proposições a partir de outras.

Assim, por exemplo, nas seguintes proposições compostas:

P: O número 6 é par e o número 8 é cubo perfeito


Q: O triângulo ABC é retângulo ou é isósceles

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R: Não está chovendo
S: Se Jorge é engenheiro, então sabe matemática.
T: O triângulo ABC é equilátero se e somente se é equiângulo

são conectivos usuais em Lógica Matemática as palavras que estão


grifadas, isto é:

“e”, “ou”, “não”, “se ... então”, “... se e somente se ...”

5. Tabela-Verdade

Segundo o Princípio do terceiro excluído, toda proposição simples p é


verdadeira ou é falsa, isto é, tem valor lógico V (verdade) ou F
(falsidade).

Em se tratando de uma proposição composta, a determinação do seu


valor lógico, conhecidos os valores lógicos das proposições simples
componentes, se faz com base no seguinte princípio:

O valor lógico de qualquer proposição composta depende


unicamente doa valores lógicos das proposições simples
componentes, ficando por eles univocamente determinado.

Admitindo este princípio, para aplicá-lo na prática à determinação do


valor lógico de uma proposição composta dada, recorre-se quase
sempre a um dispositivo denominado tabela-verdade, na qual figuram
todos os possíveis valores lógicos da proposição composta
correspondentes a todas as possíveis atribuições de valores lógicos as
proposições simples correspondentes.

Assim, por exemplo, no caso de uma proposição composta cujas


proposições simples são p e q, as únicas possíveis atribuições de valores
lógicos a p e a q são:
V
p q
1 V V
2 V F V q
3 F V F
F F p V

F
q
F

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6. Notação

O valor lógico de uma proposição simples p indica-se por V(p). Assim,


exprime-se que p é verdadeira (V), escrevendo-se: V(p) = V.

Analogamente, exprime-se que p é falsa (F) escrevendo: V(p) = F.

Sejam, por exemplo, as proposições simples:

p: O Sol é verde
q: Um hexágono tem 9 diagonais
r: 2 é raiz da equação x 2 + 3 x − 4 = 0

Temos:
V(p) = F, V(q) = V, V(r) = F

Do mesmo modo, o valor lógico de uma proposição composta P indica-


se por V(P).

Exercícios propostos

1. Verifique, justificando se as seguinte frases são ou não proposições


atômicas.

i. Eu estudo informática;
ii. Se a > 0 então a é um inteiro positivo.
iii. Flamengo é o melhor time do mundo.
iv. Oxidação é remoção de elétrons.
v. A casa não está gelada.
vi. João trabalha ou estuda.
vii. Redução é acréscimo de elétrons.
viii. O ar condicionado ser consertado é suficiente para ser ligado.
ix. Pascal é uma linguagem de programação.

2. Verifique, justificando se as seguintes frases são ou não proposições


compostas:

i. Se o cão está latindo, o cão está na casa.


ii. Pedro é filho de Paula.
iii. O gato não subiu na árvore.
iv. O ar condicionado ser consertado é suficiente para ser ligado.
v. Não é o caso que o Brasil seja pequeno.
vi. Paulo não mente se a pergunta for de matemática.

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vii. Pessoas de cérebros são intelectuais.
viii. Sócrates é pensador ou não é o caso que Sócrates seja filósofo.
ix. Se o aluno estudar então ele não irá ficar reprovado.
x. Ana estuda na Universidade Estácio de Sá.

3. Determinar as partículas lógicas que ocorrem em cada uma das


sentenças a seguir:

i. Flamengo é campeão e Vasco é segundo colocado.


ii. Ana não é uma aluna estudiosa.
iii. Não esta chovendo mas não esta nevando.
iv. Duas retas se interceptam se não são paralelas.
v. Se está chovendo e nevando então esta chovendo.
vi. Não esta chovendo nem fazendo sol.
vii. João trabalha ou estuda.

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Operações Lógicas sobre Proposições

Quando pensamos, efetuamos muitas vezes certas operações sobre


proposições, chamadas operações lógicas. Estas obedecem à regra de
um cálculo, denominado cálculo proposicional, semelhante ao da
aritmética sobre números. Estudaremos a seguir as operações lógicas
fundamentais.

1. Negação (~)

Chama-se negação de uma proposição p a proposição representada por


“não p”, cujo valor lógico é a verdade (V) quando p é falsa e a falsidade
(F) quando p é verdadeira.

Assim, “não p” tem o valor lógico oposto daquele de p.

Simbolicamente, a negação de uma proposição é, portanto, definida


pela seguinte tabela-verdade:
p ~p
V F
F V

ou seja, pelas igualdades: ~V = F, ~F = V e V(~p) = ~V(p)

Exemplo: p: 2 + 3 = 5 (V) e ~p: 2 + 3 ≠ 5 (F)


V(~p) = ~V(p) = ~V = F

Na linguagem comum, a negação efetua-se, nos casos mais simples,


antepondo o advérbio “não” ao verbo da proposição dada. Assim, por
exemplo, a negação da proposição:

p: O Sol é uma estrela


é
~p: O Sol não é uma estrela

Outra maneira de efetuar a negação consiste em antepor à proposição


dada, expressões tais como “não é verdade que”, “é falso que”. Assim,
por exemplo, a negação da proposição:

q: Carlos é mecânico
é
~q: Não é verdade que Carlos é mecânico
ou
~q: É falso que Carlos é mecânico

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Observa-se, entretanto, que a negação de “Todos os homens são
elegantes” é “Nem todos os homens são elegantes” e a de “Nenhum
homem é elegante” é “Algum homem é elegante”.

∧)
2. Conjunção (∧

Chama-se de conjunção de duas proposições p e q a proposição


representada por “p e q”, cujo valor lógico é a verdade (V) quando as
proposições p e q são ambas verdadeiras e a falsidade (F) nos demais
casos.

Simbolicamente, a conjunção de duas proposições p e q indica-se com a


notação: “p ∧ q”, que se lê: “p e q”.

O valor lógico da conjunção de duas proposições é, portanto, definido


pela seguinte tabela-verdade:

p q p∧q
V V V
V F F
F V F
F F F

ou seja, pelas igualdades:

V ∧ V = V, V ∧ F = F, F ∧ V = F, F∧F=F
e
V(p ∧ q) = V(p) ∧ V(q)
Exemplo:
p: A neve é branca (V)
q: 2 < 5 (V)
p ∧ q: A neve é branca e 2 < 5 (V)
V(p ∧ q) = V(p) ∧ V(q) = V

∨)
3. Disjunção (∨

Chama-se disjunção de duas proposições p e q a proposição


representada por “p ou q”, cujo valor lógico é a verdade (V) quando ao
menos uma das proposições p e q é verdadeira e a falsidade (F) quando
as proposições p e q são ambas falsas.

Simbolicamente, a disjunção de duas proposições p e q indica-se com a


notação: “p ∨ q”, que se lê “p ou q”.

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O valor lógico da disjunção de duas proposições é, portanto, definido
pela seguinte tabela-verdade:

p q p∨q
V V V
V F V
F V V
F F F

ou seja, pelas igualdades:

V ∨ V = V, V ∨ F = V, F ∨ V = V, F∨F=F
e
V(p∨∨q) = V(p) ∨ V(q)
Exemplo:
p: Camões escreveu os Lusíadas (V)
q: 9 – 4 = 3 (F)

p ∨ q: Camões escreveu os Lusíadas ou 9 – 4 = 3 (V)


V(p ∨ q) = V(p) ∨ V(q) = V ∨ F = V

4. Disjunção Exclusiva (⊻
⊻)

Na linguagem comum a palavra “ou” tem dois sentidos. Assim, por


exemplo, consideremos as duas seguintes proposições compostas:

P: Carlos é médico ou professor


Q: Mário é alagoano ou gaúcho

Na proposição P se está a indicar que pelo menos uma das proposições


“Carlos é médico”, “Carlos é professor” é verdadeira, podendo ser
ambas verdadeiras: “Carlos é médico e professor”. Mas, na proposição
Q, se está a precisar que uma e somente uma das proposições “Mário é
alagoano”, “Mário é gaúcho” seja verdadeira, pois, não é possível
ocorrer “Mário é alagoano e gaúcho”.

Na proposição P diz-se que “ou” é inclusivo, enquanto que, na


proposição Q, diz-se que “ou” é exclusivo.

Em Lógica Matemática usa-se habitualmente o símbolo “∨” para “ou”


inclusivo e o símbolo “⊻” para “ou” exclusivo.

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Assim sendo, a proposição P é a disjunção inclusiva ou apenas
disjunção das proposições simples “Carlos é médico”, “Carlos é
professor”, isto é:

P: Carlos é médico ∨ Carlos é professor

ao passo que a proposição Q é a disjunção exclusiva das proposições


simples “Mário é alagoano”, “Mário é gaúcho”, isto é:

Q: Mário é alagoano ⊻ gaúcho

De um modo geral, chama-se disjunção exclusiva de suas proposições p


e q a proposição representada simbolicamente por “p ⊻ q”, que se lê:
“ou p ou q” ou “p ou q, mas não ambos”, cujo valor lógico é a verdade
(V) somente quando p é verdadeira ou q é verdadeira, mas não quando
p e q são ambas verdadeiras, e a falsidade (F) quando p e q são ambas
verdadeiras ou ambas falsas.

Logo, o valor lógico da disjunção exclusiva de duas proposições é


definido pela seguinte tabela –verdade:

p q p⊻q
V V F
V F V
F V V
F F F
ou seja, pelas igualdades:
V ⊻ V = F, V ⊻ F = V, F ⊻ V = V, F⊻F=F
e
V(p⊻
⊻q) = V(p) ⊻ V(q)

→)
5. Condicional (→

Chama-se proposição condicional ou apenas condicional uma proposição


representada por “se p então q” cujo valor lógico é a falsidade (F) no
caso em que p é verdadeira e q é falsa e a verdade nos demais casos.

Simbolicamente, a condicional de duas proposições p e q indica-se com


a notação: “p → q”, que também se lê de uma das seguintes maneiras:

(I) p é condição suficiente para q


(II) q é condição necessária para p

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Na condicional “p → q”, diz-se que p é o antecedente e q o conseqüente.
O símbolo “→” é chamado símbolo de implicação.

O valor lógico da condicional de duas proposições é, portanto, definido


pela seguinte tabela-verdade:

p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V
ou seja, pelas igualdades:

V → V = V, V → F = F, F → V = V, F→F=V
e
→q) = V(p) → V(q)
V(p→

Portanto, uma condicional é verdadeira todas as vezes que o seu


antecedente for uma proposição falsa.

Exemplo: p: Galois morreu em duelo (V)


q: π é um número real (V)

p → q: Se Galois morreu em duelo, então π é um número real (V)


V(p → q) = V(p) → V(q) = V → V = V

NOTA: Uma condicional p → q não afirma que o conseqüente q se deduz


ou é conseqüência do antecedente p. Assim, por exemplo, as
condicionais:

7 é um número ímpar → Brasília é uma cidade


3 + 5 = 9 → Santos Dumont nasceu no Ceará

não estão a afirmar, se modo nenhum, que o fato de “Brasília ser uma
cidade” se deduz do fato de “7 ser um número ímpar” ou que a
proposição “Santos Dumont nasceu no Ceará” é a conseqüência da
proposição “3 + 5 = 9”. O que uma condicional afirma é unicamente
uma relação entre os valores lógicos do antecedente e do conseqüente
de acordo com a tabela-verdade anterior.

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↔)
6. Bicondicional (↔

Chama-se proposição bicondicional ou apenas bicondicional uma


proposição representada por “p se e somente se q”, cujo valor lógico é a
verdade (V) quando p e q são ambas verdadeiras ou ambas falsas, e a
falsidade (F) nos demais casos.

Simbolicamente, a bicondicional de duas proposições p e q indica-se


com a notação: p ↔ q, que também se lê de uma das seguintes
maneiras:

(I) p é condição necessária e suficiente para q


(II) q é condição necessária e suficiente para p

O valor lógico da bicondicional de duas proposições é, portanto, definido


pela seguinte tabela-verdade:
p q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V

ou seja, pelas igualdades:

V ↔ V = V, V ↔ F = F, F ↔ V = F, F↔F=V
e
↔q) = V(p) ↔ V(q)
V(p↔

Portanto, uma bicondicional é verdadeira somente quando o são as duas


condicionais:
p→q e p→q
Exemplo:
p: Roma fica na Europa
q: A neve é branca

p ↔ q: Roma fica na Europa se e somente se a neve é branca (V)


V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = V ↔ V = V

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Exercícios Propostos

1. Sabendo que as proposições “x = 0” e “x = y” são verdadeiras e que


as proposições “y = z” e “y = t” são falsas, determinar o valor lógico de
cada uma das seguintes proposições:

i. x =0∧x=y→y≠z
ii. x ≠0∨y=t→y=z
iii. x ≠y∨y≠z→y=t
iv. x ≠0∨x≠y→y≠z
v. x = 0 → (x ≠ y ∨ y ≠ t)

2. Determine V(p) e V(q) em cada um dos seguintes casos, sabendo


que:

i. V ( p ∧ ~q ) = V e V ( p ∧ q ) = F
ii. V ( p→q)=V e V(q→p)=F
iii. V ( ~p → ~q ) = V e V ( p ∧ q ) = V
iv. V ( p↔q)=V e V(p∨q)=V
v. V ( p↔q)=F e V(¬p∨q)=V

3. Determine o valor de cada um dos itens abaixo supondo: V(p)=V,


V(q)=V, V(r)=F e V(s)=V.

i. (p ^ ( p → q ) )→ q
ii. (~q ^( p → q ) )→ ~p
iii. ( p ^ (q ^ ~ q) ) → r
iv. ( p ^q ) → ( r ∨ ~ r )
v. ( ( p ^ q ) ^ ( r ^ s ) )→ p ∨ s
vi. ((p→q)^(p→r))↔(p→(q ^r))
vii. ~(p ∨ q) → (p ↔ q)
viii. (p → q) → (p ^ r → q ^ r)
ix. (p → q) → (p ∨ r → q ∨ r)
x. p ^ q → (p ↔ q ∨ r)

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Construção de Tabelas-Verdade

1. Tabela-Verdade de uma Proposição Composta:

Dadas várias proposições simples p, q, r, ..., podemos combiná-las


pelos conectivos lógicos:
~, ∧, ∨, →, ↔

e construir proposições compostas, tais como:

P(p, q) = ~p ∨ (p → q)
Q(p, q) = (p ↔ ~q) ∧ q
R(p, q, r) = (p → ~q ∨ r) ∧ ~(q ∨ (p ↔ ~r))

Então, com o emprego das tabelas-verdade das operações lógicas


fundamentais:
~p, p ∧ q, p ∨ q, p → q, p ↔ p

é possível construir a tabela-verdade correspondente a qualquer


proposição composta dada, tabela-verdade esta que mostrará
exatamente os casos em que a proposição composta será verdadeira (V)
ou falsa (F), admitindo-se , como é sabido, que o seu valor lógico
depende só depende dos valores lógicos das proposições simples
componentes.

2. Número de Linhas de uma Tabela-Verdade:

O número de linhas da tabela-verdade de uma proposição composta


depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado
pelo seguinte teorema:

A tabela-verdade de uma proposição composta com n


proposições simples componentes contém 2n linhas.

3. Exemplificação

(1) Construir a tabela-verdade da proposição: P(p, q) = ~(p ∧ ~q)

Resolução: Forma-se em primeiro lugar, o par de colunas


correspondentes às duas proposições simples componentes p e q. Em
seguida, forma-se a coluna para ~q. Depois, forma-se a coluna para
p∧~q. Ao final, forma-se a coluna relativa aos valores lógicos da
proposição composta dada.

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p q ~q p ∧ ~q ~(p ∧ ~q)
V V F F V
V F V V F
F V F F V
F F V F V

(2) Construir a tabela-verdade da proposição: P(p, q)=~(p∧q)∨~(q↔ p)

p q p ∧q q ↔p ~(p ∧ q) ~(q ↔p) ~(p ∧ q) ∨ ~(q ↔p)


V V V V F F F
V F F F V V V
F V F F V V V
F F F V V F V

4. Valor Lógico de uma Proposição Composta

Dada uma proposição composta P(p, q, r,...), pode-se sempre


determinar o seu valor lógico (V ou F) quando são dados ou conhecidos
os valores lógicos respectivos das proposições componentes p, q, r, ...

Exemplos:

(1) Sabendo que os valores lógicos das proposições p e q são


respectivamente V e F, determinar o valor lógico (V ou F) da proposição:
P(p, q) = ~(p ∨ q) ↔ ~p ∧ ~q

Resolução: Temos, sucessivamente:


V(P) = ~(V ∨ F) ↔ ~V ∧ ~F = ~V ↔ F ∧ V = F ↔ F = V

(2) Sabendo que V(p)=V, V(q) = F e V(r) = F, determinar o valor lógico


(V ou F) da proposição: P(p, q, r) = (q ↔ (r → ~p)) ∨ ((~q → p) ↔ r)

Resolução: Temos, sucessivamente:


V(P) = (F ↔ (F → ~V)) ∨ ((~F → V) ↔ F) =
= (F ↔ (F → F)) ∨ ((V → V) ↔ F) =
= (F ↔ V) ∨ (V ↔ F) =
=F∨F=F

(3) Sabendo que V(r) = V, determinar o valor lógico de (V ou F) da


proposição: p → ~q ∨ r

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Resolução: Como r é verdadeira (V), a disjunção ~q ∨ r é verdadeira
(V). Logo, a condicional dada é verdadeira (V), pois, o seu conseqüente
é verdadeiro (V).

5. Uso de Parentesis

É obvia a necessidade de usar parêntesis na simbolização das


proposições, que devem ser colocadas para evitar qualquer tipo de
ambigüidade. Assim, por exemplo, a expressão p ∧ q ∨ r dá lugar,
colocando parêntesis, às duas seguintes proposições:

(i) (p ∧ q) ∨ r e (ii) p ∧ (q ∨ r)

que não têm o mesmo significado, pois, na (i), o conectivo principal é


“∨”, e na (ii) o conectivo principal é “∧”, isto é, a (i) é uma disjunção e a
(ii) é uma conjunção.

Analogamente, a expressão p ∧ q → r ∨ s dá lugar, colocando


parêntesis, às seguintes proposições:

(i) ((p ∧ q) → r ∨) s (ii) p ∧ ((q → r) ∨ s) (iii) (p ∧ (q → r)) ∨ s


(iv) p ∧ (q → (r ∨ s)) (v) (p ∧ q) → (r ∨ s)

Tais que, duas quaisquer delas não têm o mesmo significado.

Por outro lado, em muitos casos, parêntesis podem ser suprimidos, a


fim de simplificar as proposições simbolizadas, desde que,
naturalmente, ambigüidade alguma venha a aparecer.

A supressão de parêntesis nas proposições simbolizadas se faz mediante


algumas convenções, das quais são particularmente importantes as
duas seguintes:

(I) A “ordem de precedência“ para os conetivos é:


(i) ~;
(ii) ∧ e ∨;
(iii) →;
(iv) ↔

Portanto, o conectivo mais “fraco” é “~” e o conectivo mais “forte” é


“↔”. Assim, por exemplo, a proposição:

p→q↔s∧r

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é uma bicondicional e nunca uma condicional ou uma conjunção. Para
convertê-la numa condicional temos que usar parêntesis:
p → (q ↔ s ∧ r)

e, analogamente, para convertê-la numa conjunção: (p → q ↔ s) ∧ r.

O conseqüente da condicional é uma bicondicional. Desejando-se


converter este conseqüente numa conjunção, cumpre escrever:
p → ((q ↔ s) ∧ r)

Também são bicondicionais as três seguintes proposições:

(i) p ∧ q ↔ r ∨ s (ii) p → q ↔ r ∧ s (iii) p ∨ q ↔ ~r → s

(II) Quando um mesmo conectivo aparece sucessivamente repetido,


suprimem-se os parêntesis, fazendo-se a associação a partir da
esquerda.

Segundo estas duas convenções, as quatro seguintes proposições:

(i) ((~(~(p ∧ q))) ∨ (~p)) (ii) ((p ∨ (~q)) ∧ (r ∧ (~p)))

(iii) (((p ∨ (~p)) ∧ r) ∧ (~p)) (iv) ((~p) → (q → (~(p ∨ r))))

Escrevem-se mais simplesmente assim:

(i) ~~(p ∧ q) ∨ ~p (ii) (p ∨ ~q) ∧ (r ∧ ~p)

(iii) (p ∨ ~p) ∧ r ∧ ~p (iv) ~p → (q → ~(p ∨ r))

6. Outros Símbolos para os Conectivos

Nos livros de Lógica, usam-se diferentes símbolos para os conectivos.


Assim, por exemplo, são freqüentemente usados os símbolos:

“” para negação (~)


“ • ” e “&” para a conjunção (∧)
“ ⊃ ” (ferradura) para a condicional (→)

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Tautologias, Contradições e Contingências

1. Tautologia:

Chama-se tautologia toda a proposição composta cuja última coluna de


sua tabela-verdade encerra somente a letra V (verdade).

Em outros termos, tautologia é toda proposição composta P(p, q, r, ...)


cujo valor lógico é sempre V (verdade), quaisquer que sejam os valores
lógicos das proposições simples componentes p, q, r, ...

As tautologias são também denominadas proposições tautológicas ou


proposições logicamente verdadeiras.

É imediato que as proposições p → p e p ↔ p são tautológicas (Princípio


de identidade para as proposições).

Exemplos:

(1) A proposição “~(p ∧ ~p)” (Princípio da não contradição) é


tautológica, conforme se vê pela sua tabela-verdade:

p ~p p ∧~p ~( p ∧~p)
V F F V
F V F V

Portanto, dizer que uma proposição não pode ser simultaneamente


verdadeira e falsa é sempre verdadeiro.

(2) A proposição “p ∨ ~p” (Princípio do terceiro excluído) é tautológica,


como imediatamente se vê pela sua tabela-verdade:

p ~p p ∨~p
V F V
F V V

Portanto, dizer que uma proposição ou é verdadeira ou é falsa é sempre


verdadeiro.

(3) A proposição “p ∨ ~(p ∧ q)” é tautológica, conforme se vê pela sua


tabela-verdade:

20
p q p ∧q ~(p ∧ q) p ∨ ~(p ∧ q)
V V V V V
V F F F V
F V F F V
F F F V V

2. Contradição

Chama-se contradição toda a proposição composta cuja última coluna


da sua tabela-verdade encerra somente a letra F (falsidade).

Em outros termos, contradição é toda proposição composta P(p, q, r, ...)


cujo valor lógico é sempre F (falsidade) , quaisquer que sejam os
valores lógicos das proposições simples p, q, r, ...

Como uma tautologia é sempre verdadeira (V), a negação de uma


tautologia é sempre falsa(F), ou seja, é uma contradição, e vice-versa.

Portanto, P(p, q, r, ...) é uma tautologia se e somente se ~ P(p, q, r, ...)


é uma contradição, e P(p, q, r, ...) é uma contradição se e somente se ~
P(p, q, r, ...) é uma tautologia.

As contradições são também denominadas proposições contraválidas ou


proposições logicamente falsas.

Para as contradições vale um “Princípio de substituição” análogo ao que


foi dado para as tautologias:

Se P(p, q, r, ...) é uma contradição, então P(P0, Q0, R0, ...) também é
uma contradição, quaisquer que sejam as proposições P0, Q0, R0, ...

Exemplo:

(1) A proposição “p ∧ ~p” é uma contradição, conforme se vê pela sua


tabela-verdade:
p ~p p ∧~p
V F F
F V F

Portanto, dizer que uma proposição pode ser simultaneamente


verdadeira e falsa é sempre falsa.
(2) A proposição “(p ∧ q) ∧ ~(p ∨ q)” é uma contradição, conforme se vê
pela sua tabela-verdade:

21
p q p ∧q p ∨ q ~(p ∨ q) (p ∧ q) ∧ ~(p ∨ q)
V V V V F F
V F F V F F
F V F V F F
F F F F V F

3. Contingência

Chama-se contingência toda proposição composta cuja última coluna da


sua tabela-verdade figuram as letras V e F cada uma pelo menos uma
vez.

Em outros termos, contingência é toda proposição composta que não é


tautologia nem contradição.

As contingências são também denominadas proposições contingentes ou


proposições indeterminadas.

Exemplo:

(1) A proposição “p → ~p” é uma contingência, conforme se vê na sua


tabela-verdade:
p ~p p → ~p
V F F
F V V

(2) A proposição “p ∨ q → p” é uma contingência, conforme mostra sua


tabela-verdade:

p q p∨q p∨q→p
V V V V
V F V V
F V V F
F F F V

22
Exercícios Propostos

1. Construir as tabelas-verdade das seguintes proposições. Diga se as


mesmas são tautologia, contingência ou contradição.

i. (p ^ ( p → q ) )→ q
ii. (~q ^ ( p → q ) )→ ~p
iii. ( p ^ (q ^ ~ q) ) → r
iv. (p^q)→(r∨~r)
v. ( ( p ^ q ) ^ ( r ^ s ) )→ p ∨ s
vi. ((p→q)^(p→r))↔(p→(q^r))
vii. ~(p ∨ q) → (p ↔ q)
viii. (p → q) → (p ^ r → q ^ r)
ix. (p → q) → (p ∨ r → q ∨ r)
x. p ^ q → (p ↔ q ∨ r)

23
Implicação Lógica

1. Definição de Implicação Lógica

Diz-se que uma proposição P(p, q, r, ...) implica logicamente ou apenas


implica uma proposição Q(p, q, r, ...), se Q(p, q, r, ...) é verdadeira (V)
todas as vezes que P(p, q, r, ...) é verdadeira (V).

Em outros termos, uma proposição P(p, q, r, ...) implica logicamente ou


apenas implica uma proposição Q(p, q, r, ...) todas as vezes que nas
respectivas tabelas-verdade dessas duas proposições não aparece V na
última coluna de P(p, q, r, ...) e F na última coluna de Q(p, q, r, ...),
com V e F em uma mesma linha, isto é, não ocorre P(p, q, r, ...) e Q(p,
q, r, ...) com valores simultâneos respectivamente V e F.

Indica-se que a proposição P(p, q, r, ...) implica a proposição Q(p, q, r,


...) com a notação:
P(p, q, r, ...) ⇒ Q(p, q, r, ...)

Em particular, toda proposição implica uma tautologia e somente uma


contradição implica uma contradição.

2. Propriedades da Implicação Lógica

É imediato que a relação de implicação lógica entre proposições goza


das propriedades reflexiva (R) e transitiva (T), isto é, simbolicamente:

(R) P(p, q, r, ...) ⇒ Q(p, q, r, ...)

(T) Se P(p, q, r, ...) ⇒ Q(p, q, r, ...) e


Q(p, q, r, ...) ⇒ R(p, q, r, ...), então
P(p, q, r, ...) ⇒ R(p, q, r, ...)

3. Exemplificação

(1) As tabelas-verdade das proposições: p ∧ q, p ∨ q e p ↔ q são:

p q p ∧q p ∨ q p ↔ q
V V V V V
V F F V F
F V F V F
F F F F V

24
A proposição “p ∧ q” é verdadeira somente na linha 1 e, nesta linha, nas
proposições “p ∨ q” e “p ↔ q” também são verdadeiras. Logo, a
primeira proposição implica cada uma das outras duas proposições, isto
é:
p∧q ⇒ p∨q e p∧q ⇒p↔q

As mesmas tabelas-verdade também demonstram as importantes


regras de inferência:

(i) p ⇒ p ∨ q e q ⇒ p ∨ q (adição)
(ii) p ∨ q ⇒ p e p ∨ q ⇒ q (simplificação)

(2) As tabelas-verdade das proposições: p ↔ q, p → q e q → p são:

p q p↔q p→q q→p


V V V V V
V F F F V
F V F V F
F F V V V

A proposição “p ↔ q” é verdadeira nas linhas 1 e 4, nestas linhas, as


proposições “p → q” e “q → p” também são verdadeiras. Logo, a
primeira proposição implica cada uma das outras duas proposições, isto
é:
p↔q⇒p→q e p↔q⇒q→p

(3) A tabela-verdade da proposição: “(p ∨ q) ∧ ~p” é:

p q p ∨ q ~p (p ∨ q) ∧ ~p
V V V F F
V F V F F
F V V V V
F F F V F

Esta proposição é verdadeira somente na linha 3 e, nesta linha, a


proposição “q” também é verdadeira. Logo, subsiste a implicação lógica:

(p ∨ q) ∧ ~p ⇒ q

denominada Regra do Silogismo disjuntivo.

25
Outra forma desta importante Regra de inferência é: (p ∨ q) ∧ ~q ⇒ p

(4) A tabela-verdade da proposição “(p → q) ∧ p” é:

p q p → q (p → q) ∧ p
V V V V
V F F F
F V V F
F F V F

Esta proposição é verdadeira somente na linha 1 e, nesta linha, a


proposição “q” também é verdadeira. Logo, subsiste a implicação lógica:

(p → q) ∧ p ⇒ q
denominada Regra Modus ponens.

(5) As tabelas-verdade das proposições “(p → q) ∧ ~q” e “~p” são:

p q p → q ~q (p → q) ∧ ~q ~p
V V V F F F
V F F V F F
F V V F F V
F F V V V V

A proposição “(p → q) ∧ ~q” é verdadeira somente na linha 4 e, nesta


linha, a proposição “~p” também é verdadeira, Logo, subsiste a
implicação lógica:
(p → q) ∧ ~q ⇒ ~p

4. Tautologias e implicação Lógica

Teorema: A proposição P(p, q, r, ...) implica a proposição Q(p, q, r, ...),


isto é:
P(p, q, r, ...) ⇒ Q(p, q, r, ...)

se e somente se P(p, q, r, ...) → Q(p, q, r, ...)


é tautologia.

Colorário: Se P(p, q, r, ...) ⇒ Q(p, q, r, ...), então, também se tem:

P(P0, Q0, R0, ...) ⇒ Q(P0, Q0, R0, ...)

quaisquer que sejam as proposições P0, Q0, R0, ...

26
NOTA: Os símbolos → e ⇒ são distintos, pois, o primeiro é de operação
lógica (aplicado, por exemplo, às proposições p e q dá a nova
proposição p → q) enquanto que o segundo é de relação (estabelece que
a condicional P(p, q, r, ...) → Q(p, q, r, ...) é tautologia).

Exemplo:

(1) A condicional “(p → q) ∧ (q → r) → (p → r)” é tautológica, pois a


última coluna da sua tabela-verdade encerra somente a letra V. logo,
subsiste a implicação lógica:

(p → q) ∧ (q → r) ⇒ p → r

denominada Regra do Silogismo hipotético.

(2) A condicional “p ∧ ~p → q” é tautológica, pois a última coluna da sua


tabela-verdade encerra somente a letra V:

p q ~p p ∧ ~p p ∧ ~p → q
V V F F V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

Logo, subsiste a implicação lógica: p ∧ ~p ⇒ q. Assim, de uma


contradição p ∧ ~p se deduz qualquer proposição q (Princípio da
inconsistência).

Exercícios propostos

1. Dadas as proposições p, q e r, verificar a validade ou não dos


seguintes argumentos, usando tabela-verdade: (Implicação Lógica)

i. (p ∨ q) ^ ~ p ⇒ q (Regra do Silogismo disjuntivo)


ii. ( p → q ) ^ ~q ⇒ ~ p (Regra Modus Tollens)
iii. ( p → q ) ^ ( q → r ) ⇒ p → r (Regra do Silogismo hipotético)
iv. (p ∨ q), q → ~ r, ~ r → ~ p ⇒ ~(p ^ q)
v. (p → q), ~r → ~ q, ~ r → ~ p ⇒ ~ p

27
Equivalência Lógica

1. Definição de Equivalência Lógica

Diz-se que uma proposição P(p, q, r, ...) é logicamente equivalente ou


apenas equivalente a uma proposição Q(p, q, r, ...), se as tabelas-
verdade dessas duas proposições são idênticas.

Indica-se que a proposição P(p, q, r, ...) é equivalente a proposição Q(p,


q, r, ...) com a notação:
P(p, q, r, ...) ⇔ Q(p, q, r, ...)

Em particular, se as proposições P(p, q, r, ...) e Q(p, q, r, ...) são


ambas tautológicas, ou são ambas contradições, então são equivalentes.

2. Propriedades da Equivalência Lógica

É imediato que a relação de equivalência lógica entre proposições goza


das propriedades reflexiva(R), simétrica(S) e transitiva(T), isto é,
simbolicamente:

(R) P(p, q, r, ...) ⇔ Q(p, q, r, ...)

(S) Se P(p, q, r, ...) ⇔ Q(p, q, r, ...), então


Q(p, q, r, ...) ⇔ P(p, q, r, ...)

(T) Se P(p, q, r, ...) ⇔ Q(p, q, r, ...) e


Q(p, q, r, ...) ⇔ R(p, q, r, ...), então
P(p, q, r, ...) ⇔ R(p, q, r, ...)

3. Exemplificação

(1) As proposições “~~p” e “p” são equivalentes, isto é,


simbolicamente: ~~p ⇔ p (Regra da dupla negação). Realmente é o
que demonstra a tabela-verdade:
p ~p ~~p
V F V
F V F

Portanto, a dupla negação equivale à afirmação.

(2) As proposições “~p → p” e “p” são equivalentes, isto é,


simbolicamente: ~p → p ⇔ p (Regra de Clavius). Realmente, é o que
demonstra a tabela-verdade:

28
p ~p ~p → p
V F V
F V F

(3) As condicionais “p → p ∧ q” e “p → q” têm tabelas-verdade


idênticas:
p q p∧q p→p∧q p→q
V V V V V
V F F F F
F V F V V
F F F V V

Por conseqüência, estas condicionais são equivalentes, isto é, subsiste a


equivalência lógica:
p→p∧q⇔p→q

denominada Regra de absorção.

4. Tautologias e Equivalência Lógica

Teorema: A proposição P(p, q, r, ...) é equivalente à proposição Q(p, q,


r, ...), isto é:
P(p, q, r, ...) ⇔ Q(p, q, r, ...)

se e somente se a bicondicional: P(p, q, r, ...) ↔ Q(p, q, r, ...) é


tautológica.

Colorário: Se P(p, q, r, ...) ⇔ Q(p, q, r, ...), então, também se tem:

P(P0, Q0, R0, ...) ⇔ Q(P0, Q0, R0, ...)

quaisquer que sejam as proposições P0, Q0, R0, ...

NOTA: Os símbolos ↔ e ⇔ são distintos, pois o primeiro é de operação e


lógica (aplicado, por exemplo às proposições p e q dá a nova proposição
p ↔ q), enquanto que o segundo é de relação (estabelece que a
bicondicional P(p, q, r, ...) ↔ Q(p, q, r, ...) é tautológica).

Exemplos:

(1) A bicondicional “(p ∧ ~q → c) ↔ (p → q)”, onde c é uma proposição


cujo valor lógico é F(falsidade), é tautológica, pois, a última coluna da
sua tabela-verdade encerra somente a letra V(verdade):

29
p q (p ∧ ~q → c) ↔ (p → q)
V V V F F V F V V V V
V F V V V F F V V F F
F V F F F V F V F V V
F F F F V V F V F V F

Portanto, as proposições “p ∧ ~q → c” e “p → q” são equivalentes, isto


é, simbolicamente:
p ∧ ~q → c ⇔ p → q

Nesta equivalência consiste o “Método de demonstração por absurdo”.

(2) A bicondicional “(p ∧ q → r) ↔ (p → (q → r))” é tautológica, pois, a


última coluna da sua tabela-verdade encerra somente a letra
V(verdade):
(p ∧ q → r) ↔ (p → (q → r))
V V V V V V V V V V V
V V V F F V V F V F F
V F F V V V V V F V V
V F F F F V V V F V F
F V V V V V F V V V V
F V V F F V F V V F F
F F F V V V F V F V V
F F F F F V F V F V F

Portanto, as condicionais “p ∧ q → r” e “p → (q → r)” são equivalentes,


isto é, simbolicamente:
p ∧ q → r ⇔ p → (q → r)

Esta importante equivalência lógica é denominada “Regra de


Exportação-Importação”.

5. Proposições Associadas a uma Condicional

Dada uma condicional p → q, chamam-se proposições associadas a p →


q as três seguintes proposições condicionais que contém p e q:

(i) Proposição recíproca de p → q: q → p


(ii) Proposição contrária de p → q: ~p → ~q
(iii) Proposição contrapositiva de p → q: ~q → ~p

As tabelas-verdade destas quatro proposições são:

30
p q p → q q → p ~p → ~q ~q → ~p
V V V V V V
V F F V V F
F V V F F V
F F V V V V

e demonstram as duas importantes propriedades:

(I) A condicional p → q e a sua contrapositiva ~q → ~p são


equivalentes, isto é, simbolicamente:

p → q ⇔ ~q → ~p

(II) A recíproca q → p e a contrária ~p → ~q da condicional p → q são


equivalentes, isto é, simbolicamente:

q → p ⇔ ~p → ~q

As mesmas tabelas-verdade também demonstram que a condicional p →


q e a sua recíproca q → p ou a sua contrária ~p → ~q não são
equivalentes.

A contrária de p → q também denominada inversa de p → q e a


contrapositiva de p → q outra coisa não é que a contrária sa recíproca
de p → q e por isso também denominada contra-recíproca de p → q.
Também se diz que p → q é a direta em relação às associações.

Exemplos:

(1) Seja a condicional relativa a um triângulo T:


p → q: Se T é equilátero, então T é isósceles

A recíproca desta proposição é:


q → p: Se T é isósceles, então T é equilátero

Aqui, a condicional p → q é verdadeira (V), mas a sua recíproca q → p é


falsa (F)

(2) A contrapositiva da condicional:


p → q: Se Carlos é professor, então é pobre é:
~q → ~p: Se Carlos não é pobre, então não é professor.

31
6. Negação Conjunta de duas Proposições

Chama-se negação conjunta de duas proposições p e q a proposição


“não p e não q”, isto é, simbolicamente “~p ∧ ~q”.

A negação conjunta de duas proposições p e q também se indica pela


notação “p ↓ q”. Portanto, temos:
~p ∧ ~q ⇔ p ↓ q

Como a proposição “~p ∧ ~q” é verdadeira somente no caso em que p e


q são ambas falsas, então, a tabela-verdade de “p ↓ q” é a seguinte:

p q p↓q
V V F
V F F
F V F
F F V

7. Negação Disjunta de duas Proposições

Chama-se a negação disjunta de duas proposições p e q a proposição


“não p ou não q”, isto é, simbolicamente “~p ∨ ~q”.

A negação disjunta de duas proposições p e q também se indica pela


notação “~p ∨ ~q”. Portanto, temos:
~p ∨ ~q ⇔ p ↑ q

Como a proposição “~p ∨ ~q” é falsa somente no caso em que p e q são


ambas verdadeiras, então, a tabela-verdade de “p ↑ q” é a seguinte:

p q p↑q
V V F
V F V
F V V
F F V

Os símbolos “↓” e “↑” são chamados “conectivos de Scheffer”.

32
Nota: Sumário de equivalência lógica

Comutatividade p∧q≡q∧p p∨q≡q∨p


(p∧q)∧r ≡ (p∨q)∨r ≡
Associatividade
p∧(q∧r) p ∨ ( q ∨ r)
p∧(q∨r) ≡ p∨(q∧r) ≡
Distributividade
(p∧q)∨(p∧r) ( p ∨ q ) ∧ (p ∨ r)
Identidade p∧t≡p p∨c≡p

Negação p ∨ ~p ≡ t p ∧ ~p ≡ c

Dupla negação ~( ~p ) ≡ p

Idempotente p∧p≡p p∨p≡p

De Morgan ~ ( p ∧ q ) ≡ ~p ∨ ~q ~ ( p ∨ q ) ≡ ~p ∧ ~q

Limite universal p∨t≡t p∧c≡c

Absorção p∨(p∧q)≡p p∧(p∨q)≡p

Negações ~t ≡ c ~c ≡ t

Exercícios propostos

1. Dadas as proposições p, q e r, verificar a validade ou não dos


seguintes argumentos: (Equivalência Lógica)

i. p ^ q → r ⇔ p → (q → r) (Regra de Exportação-Importação)
ii. (p → r) ∨ (p → s) ⇔ p ^ q → r ∨ s
iii. (p → q) ⇔ p ∨ q → q
iv. ((p→q)^(p→r))⇔(p→(q ^r))

33
MÉDOTO DEDUTIVO
REGRAS DE INFERÊNCIA

Todas as implicações e equivalências foram demonstradas através de


tabelas-verdade. Agora usaremos um método denominado método
dedutivo.

1. Exemplificação

(1) Demonstrar a implicação a seguir: p ^ q ⇒ p (SIMPLIFICAÇÃO)

Temos: p ^ q → p ⇔ ~(p ^ q) v p ⇔ (~p v ~q) v p ⇔ (~p v p) v ~q ⇔


T v ~q ⇔ T

(2) Demonstrar a implicação a seguir: p ⇒ p v q (ADIÇÃO)

Temos: p → p v q ⇔ ~p v (p v q) ⇔ (~p v p) v q ⇔ T v q ⇔ T

(3) Demonstrar a implicação a seguir: (p→q)^p ⇒ q (MODUS PONENS)

Temos: (p→q)^p ⇔ p v (~p v q) ⇔ (p ^ ~p) v (p ^ q) ⇔ C v (p ^ q) ⇔


p^q⇒p

(4) Demonstrar a implicação a seguir:(p→q)^~q⇒~p(MODUS TOLLENS)

Temos:(p → q) ^ ~q ⇔ (~p v q) ^ ~q ⇔ (~p ^ ~q) v (q v ~q) ⇔ (~p


^ ~q) v C ⇔ ~p ^ ~q ⇒ ~p

(5) Demonstrar a implicação a seguir: (p→q) ⇒ p^r→q

Temos: (p→q) → (p^r→q) ⇔


⇔ ~(p→q) v (p ^ r → q)
⇔ ~(~p v q) v (~(p ^ r) v q)
⇔ (~~p ^ ~q) v ((~p v ~r) v q)
⇔ (p ^ ~q) v ((~p v q) v ~r)
⇔ ((p ^ ~q) v ~(p ^ ~q)) v ~r
⇔ T v ~r ⇔ T

(5) Demonstrar a implicação a seguir: (p→q) ⇒((p↓p) ↓ q) ↓ ((p↓p) ↓ q)

Temos: p→q ⇔ ~p v q ⇔ ~(p ^~q) ⇔ ~(~~p ^ ~q) ⇔ ~(~p ↓ q) ⇔


(~p ↓ q) ↓ (~p ↓ q) ⇔((p ↓ p) ↓ q) ↓ ((p ↓ p) ↓ q)

34
2. Forma normal das proposições

Diz-se que uma proposição está na forma normal (FN) se e somente se,
quando muito, contém os conectivos ~, ^, v.

Exemplo: Estão na forma normal (FN) as seguintes proposições:

(i) ~p ^ ~q
(ii) ~(~p v ~q)
(iii) (p^q) v (~qvr).

Toda a proposição pode ser levada para uma FN equivalente pela


eliminação do conectivos → e ↔.

3. Forma normal conjuntiva (FNC)

Diz-se que uma proposição está na forma normal conjuntiva (FNC) se e


somente se são verificadas as seguintes condições:

(i) Contêm, quanto muito, os conectivos ~, ^, v;


(ii) ~ não aparece repetido (como ~~) e não tem alcance sobre ^e v;
(iii) v não tem alcance sobre ^ (isto é, não existe componentes do tipo
p v (q ^ r)).

Exemplo:
Estão na FNC as seguintes proposições:

(i) ~p ^ ~q
(ii) ~p ^ q ^ r
(iii) (~p v q) ^ (~q v ~r).

Determinamos a FNC de uma proposição ~(((p v q) ^ ~q) v (q ^ r))


como:

Resolução: ~((p v q) ^ ~q) ^ ~(q ^ r)⇔


⇔ (~(p v q) v ~~q) ^ (~q v ~r)
⇔ ((~p ^ ~q) v q) ^ (~q v ~r)
⇔ (~p v q)^(~q v q)^(~q v ~r)
⇔ (~p v q) ^ (~q v ~r)

35
4. Forma normal disjuntiva (FND)

Diz-se que uma proposição está na forma normal disjuntiva (FND) se e


somente se são verificadas as seguintes condições:

(i) contêm, quanto muito, os conectivos ~, ^, v;


(ii) ~ não aparece repetido (como ~~) e não tem alcance sobre ^e v;
(iii) ^ não tem alcance sobre v (isto é, não existe componentes do tipo
p ^ (q v r)).

Exemplo:
Estão na FND as seguintes proposições:

(i) ~p v ~q
(ii) ~p v q v r
(iii) (~p ^ q) v (p ^ ~q ^ ~r).

Determinamos a FND de uma proposição ~(((p v q) ^ ~q) v (q ^ r))


como:

Resolução: ~((p v q) ^ ~q) ^ ~(q ^ r)⇔


⇔ (~(p v q) v ~~q) ^ (~q v ~r)
⇔ ((~p ^ ~q) v q) ^ (~q v ~r)
⇔ (((~p^~q) v q) ^ ~q) v (((~p ^ ~q ^ ~r) v (q ^ ~r)
⇔ (~p ^ ~q ^ ~q) v (q ^ ~q) v (~p ^ ~q ^ ~r) v (q ^ ~r)
⇔ (~p ^ ~q) v (~p ^ ~q ^ ~r) v (q ^ ~r)

5. Definição de argumento

Sejam P1, P2, ..., Pn (n≥1) e Q proposições quaisquer, simples ou


compostas.

Chama-se argumento toda a afirmação de que uma dada seqüência


finita P1, P2,..., Pn (n≥1) de proposições tem como conseqüência ou
acarreta uma proposição final Q.

As proposições P1, P2,..., Pn dizem-se as premissas do argumento, e a


proposição final Q diz-se conclusão do argumento.

Um argumento de premissas P1, P2,..., Pn e de conclusão Q indica-se


por:
P1, P2,..., Pn |-- Q

36
e se lê de uma das seguintes maneiras:

(i) “P1, P2,..., Pn acarretam Q”


(ii) “Q decorre de P1, P2,..., Pn”
(iii) “Q se deduz de P1, P2,..., Pn”
(iv) “Q se infere de P1, P2,..., Pn”

Um argumento que consiste em duas premissas e uma conclusão


chama-se silogismo.

6. Validade de um argumento

Um argumento P1, P2, ..., Pn |-- Q diz-se válido se e somente se a


conclusão Q é verdadeira todas as vezes que as premissas P1, P2, ..., Pn
são verdadeiras.

Portanto, todo argumento válido goza da seguinte propriedade


característica: A verdade das premissas é incompatível com a falsidade
da conclusão.

7. Critério de validade de um argumento

Teorema: Um argumento P1, P2, ..., Pn |-- Q é válido se e somente se a


condicional:
(P1^P2^...^Pn) → Q
é tautológica.

8. Argumentos válidos fundamentais / Regras de inferência

1. Regra da Adição (AD):

p q
(i) (ii)
p∨q q∨ p

2. Regra de Simplificação (SIMP):

p∧q p∧q
(i) (ii)
p q

3. Regras da Conjunção (CONJ):

37
p q
q p
(i) (ii)
p∧q q∧ p

4. Regra da Absorção (ABS):

p→q
p → ( p ∧ q)

5. Regra Modus ponens (MP):

p→q
p
q

6. Regra Modus tollens (MT):

p→q
~q
~ p

7. Regra do Silogismo disjuntivo (SD):

p∨q p∨q
~ p ~q
(i) (ii)
q p

8. Regra do Silogismo Hipotético (SH):

p→q
q→r
p→r

9. Regra do Dilema Construtivo (DC):

p→q
r→s
p∨r
q∨s

10. Regra do Dilema destrutivo (DD):

38
p→q
r→s
~ q∨ ~ s
~ p∨ ~ r

Com auxílio destas 10 regras de inferência pode-se demonstrar a


validade de um grande número de argumentos mais complexos.

Exemplos:

(1) Verificar que é válido o argumento: p→q, p^r |-- q

Resolução:

(1) p→q Prem


(2) p^q Prem
______________
(3) p 2 – SIMP
(4) q 1,3 – MP

(2) Verificar que é válido o argumento: p^q, pvr→s |-- p^s

Resolução:

(1) p^q Prem


(2) pvr →s Prem
______________
(3) p 2 – SIMP
(4) pvr 3 – AD
(5) s 2,4 – MP
(6) p^q 3,5 – CONJ

(3) Verificar que é válido o argumento:

pvq→r, rvq→(p→(s↔t)), p^s |-- s↔t

Resolução:

(1) pvq→r Prem


(2) rvq→(p→(s↔t)) Prem
(3) p^s Prem

39
______________
(4) p 3 – SIMP
(5) pvq 4 – AD
(6) r 1,5 – MP
(7) rvq 6 – AD
(8) p→(s↔t) 2,7 – MP
(9) s↔t 4,8 – MP

(4) Verificar que é válido o argumento:

p→q, pv(~~r^~~q), s→~r, ~(p^q) |-- ~sv~q

Resolução:

(1) p→q Prem


(2) pv(~~r^~~q) Prem
(3) s→~r Prem
(4) ~(p^q) Prem
______________
(4) p→p^q 1 – ABS
(5) ~p 4,5 – MT
(6) ~~r^~~q 2,6 – SD
(7) ~~r 7 – SIMP
(8) ~s 3,8 – MT
(9) ~sv~q 9 – AD

(5) Verificar que é válido o argumento:

p→q, q→r, r→s, ~s, pvt |-- t

Resolução:

(1) p→q Prem


(2) q→r Prem
(3) r→s Prem
(4) ~s Prem
(5) pvt Prem
______________
(4) p→q 1,2 – SH
(5) p→s 3,6 – SH
(6) ~p 4,7 – MT
(7) t 5,8 – SD

40
NOTA: COMPLEMENTAÇÃO DAS REGRAS DE INFERÊNCIA

Há muitos argumentos cuja validade não se pode demonstrar, verificar


ou testar com uso exclusivo das dez regras de inferência dadas
anteriormente, sendo necessário recorrer a um princípio de inferência
adicional, a “REGRAS DE SUBSTITUIÇÃO”:

1. Idempotência (ID):

(i) p ⇔ p ∧ p (ii) p ⇔ p ∨ p

2. Comutação(COM):

(i) p ∧ q ⇔ q ∧ p (ii) p ∨ q ⇔ q ∨ p

3. Associação (ASSOC):

(i) p ∧ (q ∧ r ) ⇔ ( p ∧ q ) ∧ r
(ii) p ∨ (q ∨ r ) ⇔ ( p ∨ q ) ∨ r

4. Distribuição (DIST):

(i) p ∧ (q ∨ r ) ⇔ ( p ∧ q ) ∨ ( p ∧ r )
(ii) p ∨ (q ∧ r ) ⇔ ( p ∨ q ) ∧ ( p ∨ r )

5. Dupla Negação (DN):

(i) p ⇔ ~~ p

6. De Morgan (DM):

(i) ~ ( p ∧ q ) ⇔ ~ p ∨ ~ q
(ii) ~ ( p ∨ q ) ⇔ ~ p ∧ ~ q

7. Condicional (COND):

(i) p → q ⇔ ~ p ∨ q

8. Bicondicional (BICOND):

(i) p ↔ q ⇔ ( p → q ) ∧ (q → p )
(ii) p ↔ q ⇔ ( p ∧ q ) ∨ (~ p ∧ ~ q )

41
9. Contraposição (CP):

(i) p → q ⇔ ~ q →~ p

10. Exportação-Importação (EI):

(i) p ∧ q → r ⇔ p → (q → r )

Exemplos:

(1) Verificar que é válido o argumento: p→~q, q |-- ~p

Resolução:

(1) p→~q Prem


(2) q Prem
______________
(3) ~~q→~p 1 – CP
(4) q→~r 3 – DN
(5) ~p 2,4 – MP

(2) Verificar que é válido o argumento: (pvq)→(r^s), ~s |-- ~q

Resolução:

(1) (pvq)→(r^s) Prem


(2) ~s Prem
______________
(3) ~r v ~s 2 – AD
(4) ~(r^s) 3 – DM
(5) ~(pvq) 1,4 – MT
(6) ~p^~q 5 – DM
(7) ~q 6 – SIMP

(3) Verificar que é válido o argumento: p→q, q↔s, t v(r^~s) |-- p→t

Resolução:

(1) p→q Prem


(2) q↔s Prem
(3) t v(r^~s) Prem

42
______________
(4) (q→s) ^ (s→q) 2 – BICOND
(5) q→s 4 – SIMP
(6) p→s 1,5 – SH
(7) (t v r) ^ (t v ~s) 3 – DIST
(8) t v ~s 2,7 – MP
(9) ~s v t 4,8 – MP
(10) s→t 9 – COND
(11) p→t 6, 10 – SH

Exercícios propostos

1. Use o “Método dedutivo” para demonstrar:

i. p ^ q → r ⇔ p → (q → r) (Regra de Exportação-Importação)
ii. (p → q) ⇔ p ∨ q → q
iii. ((p→q)^(p→r))⇔(p→(q ^r))

2. Mostre se os argumentos são equivalentes logicamente:

Argumento 1: ( s → ( p ∧ ~r )) ∧ (( p → ( r ∨ q )) ∧ s )

Argumento 2: ( p ∧ q ∧ ~r ∧ s ) ∨ ~( p ∨ s )

3. Demonstrar: p ↑ q ⇔ ((p↓p) ↓ (q↓q)) ↓ ((p↓p) ↓ (q↓q))

4. Verifique que os argumentos são válidos:

(a) p→r, q→s,~r, (pvq)^(rvs) |-- s

(b) 1. x=y→x=z Prem


2. x=z→x=t Prem
3. x=y v x=0 Prem
4. x=0→x+u=1 Prem
5. x+u≠1 Prem
___________________________
∴ x=t

(c) p→~q, ~~q, ~p→r |-- r

(d) p→q, p→r, p |-- q^r

(e) p^q, p→r, r^s→~t, q→s |-- ~t

43
(f) p→(~q^r), p, s→q, s v t |-- t

(g) 1. x=y→x≠y+3 Prem


2. x=y+3 v x+2=y Prem
3. x+2≠y ^ x=5 Prem
___________________________
∴ x=5 ^ x≠y

(h) p→~q, ~~q, ~p→ r v s |-- r v s

(i) p v (q^r), p→s, s→r |-- r

(j) p^q→~r, r v (s^t), p↔q |-- p→s

44
SENTENÇAS ABERTAS

1. Sentenças abertas com uma variável

Chama-se sentença aberta com uma variável em um conjunto A ou


apenas sentença aberta em A, uma expressão p(x) tal que p(a) é falsa
(F) ou verdadeira (V) para todo a ∈ A.

Se a ∈ A é tal que p(a) é uma proposição verdadeira (V), diz-se que a


satisfaz ou verifica p(x).

Exemplo: São sentenças abertas em ℕ ={1,2,3, . . . ,n, . . . }(conjunto


dos números naturais) as seguintes expressões:

(a) x+1>8 (b) x2 - 5x + 6 = 0


(c) x + 5 = 9 (d) x é diviso de 10
(e) x é primo (f) x é múltiplo de 3

2. Conjunto verdade de uma sentença aberta com uma variável

Chama-se conjunto verdade de uma sentença aberta p(x) em um


conjunto A, o conjunto de todos os elementos a ∈ A tais que p(a) é uma
proposição verdadeira (V).

Este conjunto representa-se por Vp. Portanto, simbolicamente, temos:

Vp = {x| x∈A ∧ p(x) é V}

Ou seja, mais simplismente:

Vp = {x| x∈A ∧ p(x)} ou Vp = {x∈A | P(x)}

Obviamente, o conjunto-verdade Vp de uma sentença aberta p(x) em A


é sempre um subconjunto do conjunto A (Vp ⊂ A).

Exemplos:

Seja a sentença aberta “x+1>8” em ℕ (conjunto dos números


naturais).

O conjunto verdade é:

45
Vp = {x|x ∈ ℕ ∧ x + 1 > 8}={8,9,10, . . . } ⊂ ℕ

Para a sentença aberta “x é divisor de 10” em ℕ , temos:

Vp = {x|x ∈ ℤ ∧ x é divisor de 10} = {1,2,5,10} ⊂ ℕ

O conjunto verdade da sentença aberta “x2 - 2x > 0” em ℤ (conjunto


dos números inteiros) é:

Vp = {x| x ∈ ℤ ∧ x2 – 2x > 0} = ℤ – {0,1,2}

3. Sentenças abertas com n variáveis

Consideremos os n conjuntos A1, A2, . . ., An e o seu produto cartesiano


A1 x A2 x . . . x An.

Chama-se sentença aberta com n variáveis em A1 x A2 x . . . x An ou


apenas sentença aberta A1 x A2 x . . . x An ,uma expressão p(x1, x2, . .
.,xn ) tal que p(a1, a2, . . . , an) é falsa (F) ou verdadeira (V) para toda
n-upla (a1, a2, . . . ,an) ∈ A1 x A2 x . . . x An.

4. Conjunto-verdade de uma sentença aberta com n variáveis

Chama-se conjunto-verdade de uma sentença aberta p(x1, x2, . . . , xn )


em A1 x A2 x . . . x An, o conjunto de todas as n-uplas (a1, a2, . . ., an) ∈
A1 x A2 x . . . x An tais que p(a1, a2, . . ., an) é uma proposição
verdadeira (V).

Portanto, simbolicamente temos:

Vp={(x1, x2, ..., xn)|x1 ∈ A1 ∧ x2 ∈ A2 ∧ ... ∧ xn ∈ An ∧ p(x1, x2, ... xn)}

ou seja, mais simplesmente:

Vp={(x1, x2, ..., xn)∈ A1 x A2 x . . .x An | p(x1, x2, ...,xn)}

Exemplo: O conjunto-verdade da sentença aberta “18x – 7y + 13z =


39” em ℤ x ℤ x ℤ , sendo ℤ o conjunto dos números inteiros, é:

Vp={(x1, x2, x3)|x1, x2, x3 ∈ ℤ ∧ 18x–7y+13z=39} = {(1,-3,0), (4,1,-2),


(3,4,1), (6,8,-1), ...}

46
OPERAÇÕES COM SENTENÇAS ABERTAS

1. Conjunção

O conjunto-verdade Vp ∧ q da sentença aberta p(x) ∧ q(x) em A é a


interseção (∩) dos conjuntos-verdade Vp e Vq das sentenças abertas
p(x) e q(x) em A.

Temos, pois, simbólicamente:

Vp∧q = Vp ∩ Vq = {x∈A | p(x)} ∩ {x∈A | q(x)}

Exemplificando, sejam as sentenças abertas em ℤ (conjunto dos


números inteiros):

p(x): x2 + x – 2 = 0
q(x): x2 – 4 = 0

Temos:

Vp∧q ={x∈ ℤ | x2 + x – 2 =0} ∩ {x∈ ℤ | x2 – 4 =0}={-2,1}∩{-2,2}={-2}

2. Disjunção

O conjunto-verdade Vp∨q da sentença aberta p(x) ∨ q(x) em A é a


reunião (∪) dos conjuntos-verdade Vp e Vq das sentenças abertas p(x) e
q(x) em A.

Temos, pois, simbolicamente:

Vp∨q = Vp ∪ Vq = {x∈A | p(x)}∪{x∈A | q(x)}

Exemplificando, sejam as sentenças abertas em ℤ (conjunto dos


números inteiros):
p(x): x2 + x – 2 = 0, q(x): x2 – 4 = 0

Temos:

Vp∨q ={x∈ ℤ | x2 + x – 2 =0}∪{x∈ ℤ | x2 – 4 = 0}={-2,1}∪{-2,2}={-2}

Para as sentenças abertas em ℝ (conjunto dos números reais):

47
p(x): x < 0,
q(x): x > 0

temos: Vp∨q = {x∈ ℝ | x < 0} ∪ {x∈ ℝ | x>0}=ℝ -


*
∪ +*= ℝ *

3. Negação

O conjunto-verdade V~p da sentença aberta ~p(x) em A é o


complemento em relação a A do conjunto-verdade Vp da sentença
aberta p(x) em A.

Temos, pois, simbolicamente:

V~p = CA Vp = CA{x∈A | p(x)}

Exemplificando, seja A o conjunto dos números naturais divisíveis por 5,


isto é, A = {5k | k∈ ℕ } = {5, 10, 15, 20, . . .}. Para a sentença aberta
em A:
p(x): x termina por 5

temos:
V~p = CA{x∈A | x termina por 5} = {x∈A | x termina por 0}

4. Condicional

Por ser p(x)→ q(x) ⇔ ~p(x) ∨ q(x), segue-se que o conjunto-verdade


Vp→q da sentença aberta p(x)→ q(x) em A coincide com o conjunto-
verdade da sentença aberta ~p(x) ∨ q(x) em A e, portanto, é a reunião
(∪) dos conjuntos-verdade V~p e Vq das sentenças abertas ~p(x) e q(x)
em A.

Temos, pois, simbolicamente:

Vp→q = V~p ∪ Vq = CA Vp ∪ Vq
ou seja:
Vp→q = CA{x∈A | p(x)} ∪ {x∈A | q(x)}

Exemplificando, sejam as sentenças abertas em ℕ (conjunto dos


números naturais):
p(x): x|12, q(x): x|45

Temos:

48
Vp→q = C ℕ {x∈ ℕ | x|12} ∪ {x∈ ℕ | x|45} = C ℕ {1, 2, 3, 4, 6, 12} ∪
{1, 3, 5, 9, 15, 45} = ℕ – {2, 4, 6, 12}

5. Bicondicional

Por ser p(x)↔ q(x)⇔( p(x)→ q(x) ∧ q(x)→ p(x)), segue-se que o
conjunto-verdade Vp↔q da sentença aberta p(x) )↔ q(x) em A coincide
com o conjunto-verdade da sentença aberta em A:

(p(x)→ q(x) ∧ q(x)→ p(x))

e, portanto, é a interseção (∩) dos conjuntos-verdade Vp→q e Vq→p das


sentenças abertas em A: p(x)→q(x) e q(x)→p(x).

Temos, pois, simbolicamente:

Vp↔q=Vp→q ∩ Vq→p =(V~p ∪ Vq) ∩ (V~q ∪ Vp) = (CA Vp ∪ Vq ) ∩ (CA Vq ∪ Vp)

ou seja:

Vp↔q=[CA{x∈A| p(x)} ∪ {x∈A| q(x)}] ∩ [CA{x∈A| q(x)} ∪ {x∈A| p(x)}]

Exemplificando, sejam as sentenças abertas em ℕ (conjunto dos


números naturais):

p(x): x|6, q(x): x|15

Temos:

C ℕ Vp ∪ Vq = C ℕ {1, 2, 3, 6} ∪ {1, 3, 5, 15} = ℕ – {2, 6}


C ℕ Vq ∪ Vp = C ℕ {1, 3, 5, 15} ∪ {1, 2, 3, 6} = ℕ – {5, 15}

e, portanto:

Vp↔q = [ ℕ – {2, 6}] ∩ [ ℕ – {5, 15}] = ℕ – {2, 5, 6, 15}

49
Exercícios propostos

1. Determinar o conjunto-verdade em X = {0, 1, 2, 3, 4, 5} de cada


uma das seguintes sentenças abertas compostas:

i. x2 – 3x = 0 ∨ x2 = x
ii. x é par ∨ x2 < 16
iii. x é impar ∨ (x + 5) ∈ X
iv. x2 ≥ 16 ∨ x2 – 6x + 5 = 0

2. Sejam as sentenças abertas em ℝ (conjunto dos números reais):

p(x) : 2x – 3 ≤ 0 e q(x) : x + 1 ≥ 0

Determinar Vp∧q e Vp→q

3. Sejam as sentenças abertas em ℝ (conjunto dos números reais):

p(x) : 15x2 + 2x – 8 = 0 e q(x) : 5x2 + 19x + 12 = 0

Determinar Vp ∨ q e Vp∧q

4. Sejam as sentenças abertas em ℝ (conjunto dos números reais):

p(x) : -4x + 3 ≥ 0 e q(x) : 5x + 2 > 0

Determinar Vp∧q e V~p

5. Sejam as sentenças abertas em A = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 }:

p(x) : x2 ∈ A e q(x) : x é ímpar

Determinar Vp→q, Vq→p, Vp↔q

6. Sejam p(x), q(x), e r(x) sentenças abertas em um mesmo conjunto


A. Achar a expressão do conjunto-verdade de cada uma das sentenças
abertas compostas abaixo em função de Vp, Vq, Vr:

i. ~(p(x) ∨ q(x))
ii. ~p(x) → ~q(x)
iii. p(x) → (~r(x) → q(x))
iv. (p(x) →q(x)) ∧ (q(x) → r(x))

50
QUANTIFICADORES

1. Quantificador universal

Seja p(x) uma sentença aberta em A≠Ø e seja Vp o seu conjunto


verdade:

Vp = {x| x∈A ∧ p(x)}.

Quando Vp=A, isto é todos os elementos de A satisfazem a sentença


p(x), então afirmamos:

i. “Para todo elemento x∈A, p(x) é verdadeira.”


ii. “Qualquer que seja o elemento x de A, p(x) é verdadeira.”

ou seja,

i. “Para todo x de A, p(x).”


ii. “Qualquer que seja x de A, p(x).”

Simbolicamente, podemos escrever as afirmações acima das seguintes


maneiras.

1. (∀x ∈ A)( p (x) ) ;


2. ∀x ∈ A, p ( x ) ;
3. ∀x ∈ A : p ( x ) .

Temos então a equivalência:

(∀x ∈ A)( p(x )) ⇔ Vp = A


Em outras palavras, dada uma sentença aberta p(x) em um conjunto A,
o símbolo ∀, referido à variável x, representa uma operação lógica que
transforma a sentença aberta p(x) numa proposição, verdadeira ou
falsa, conforme p(x) exprime ou não uma condição universal em A. A
esta operação lógica dá-se o nome de quantificação universal e ao
respectivo símbolo ∀ o de quantificador universal.

Exemplos: (com uso do quantificador)

1. A proposição: (∀n ∈ Ν )(n + 5 > 3)

é verdadeira, pois, o conjunto verdade da sentença aberta p(n ) : n + 5 > 3

51
é: Vp = {x|n ∈ ℕ ∧ n + 5 > 3}={1,2,3, . . . } = ℕ .

2. A proposição: (∀n ∈ Ν )(n + 3 > 7 )


é falsa, pois o conjunto-verdade da sentença aberta p(n ) : n + 3 > 7
é:Vp = {n|n ∈ ℕ ∧ n + 3 > 7}={5,6,7, . . . } ≠ ℕ .

2. Quantificador existencial

Seja p(x) uma sentença aberta em A≠Ø e seja Vp o seu conjunto


verdade:

Vp = {x| x∈A ∧ p(x)}.

Quando Vp não é vazio, então, um elemento, pelo menos, do conjunto A


satisfaz a sentença p(x), então afirmamos:

i. “Existe pelo menos elemento x∈A tal que p(x) é verdadeira.”


ii. “Para algum x de A, p(x) é verdadeira.”

ou seja,

i. “Existe x de A, p(x).”
ii. “Para algum x de A, p(x).”

Simbolicamente, podemos escrever as afirmações acima das seguintes


maneiras.

1. (∃x ∈ A)( p (x) ) ;


2. ∃x ∈ A, p( x ) ;
3. ∃x ∈ A : p( x ) .

Temos então a equivalência:

(∃x ∈ A)( p(x )) ⇔ Vp ≠/ 0/


Em outras palavras, dada uma sentença aberta p(x) em um conjunto A,
o símbolo ∃, referido à variável x, representa uma operação lógica que
transforma a sentença aberta p(x) numa proposição, verdadeira ou
falsa, conforme p(x) exprime ou não uma condição possível em A. A

52
esta operação lógica dá-se o nome de quantificação existencial e ao
respectivo símbolo ∃ o de quantificador existencial.

Exemplos: (com uso do quantificador)

1. A proposição: (∃n ∈ Ν )(n + 4 < 8)

é verdadeira, pois, o conjunto verdade da sentença aberta p(n ) : n + 4 < 8

é: Vp = {x|n ∈ ℕ ∧ n + 4 < 8}={1,2,3} ≠Ø.

2. A proposição: (∃n ∈ Ν )(n + 5 < 3)


é falsa, pois o conjunto-verdade da sentença aberta p(n ) : n + 5 < 3
é:Vp = {n|n ∈ ℕ ∧ n + 5 < 3}={5,6,7, . . . }= Ø.

3. Quantificador existencial e unicidade

Considere em ℝ a sentença aberta “ x 3 = 27 ”. Temos duas proposições:


( )
(i) (∃x ∈ ℜ ) x 3 = 27
(ii) x 3 = 27 ∧ y 3 = 27 ⇒ x = y

A primeira proposição diz que existe pelo menos um x∈ℝ tal


que x = 27( x = 3) : é uma afirmação de existência.
3

A segunda proposição diz que não pode existir mais de um x∈ℝ tal que
x 3 = 27 : é uma afirmação de unicidade.

A conjunção das duas proposições diz que existe um x∈ℝ e um só tal


que x 3 = 27 . Para simbolizar esta afirmação usamos a seguinte notação:

(∃ ! x ∈ ℜ )(x 3 = 27 )
onde o símbolo ∃ ! é chamado quantificador existencial de unicidade e se
lê: “Existe um e um só ”.

53
Exemplos: (de existencial e unicidade)

(i) (∃ ! x ∈ Ν )(x 2 − 9 = 0)
(ii) (∃ ! x ∈ Ζ )(− 1 < x < 1)
(iii) (∃ ! x ∈ ℜ )( x = 0 )

4. Negação de proposições com quantificador

Podemos inserir antes de qualquer quantificador universal ou existencial


o símbolo de negação (~).

De modo geral, a negação de uma proposição (∀x ∈ A)( p ( x )) é equivalente


a afirmação de que, para ao menos um x∈A, é falsa ou ~p(x) é
verdadeira.

Logo, subsiste a equivalência:

~ [(∀x ∈ A)( p( x ))] ⇔ (∃x ∈ A)(~ p(x ))

Analogamente, a negação da proposição (∃x ∈ A)( p( x )) é equivalente a


afirmação de que, para todo x∈A, p(x) é falsa ou ~p(x) é verdadeira.

Logo, subsiste a equivalência:

~ [(∃x ∈ A)( p(x ))] ⇔ (∀x ∈ A)(~ p( x ))

Exemplos:

( ) (
(1) ~ (∃x ∈ ℜ ) x 2 < 0 ⇔ (∀x ∈ ℜ) x 2 ≥ 0 )
(2) ~ (∀x ∈ ℜ)(3x − 5 = 0 ) ⇔ (∃x ∈ ℜ )(3 x − 5 ≠ 0 )
(3) ~ (∀x ∈ ℜ)( x ≥ 0 ) ⇔ (∃x ∈ ℜ )(senx ≠ 0 )

5. Quantificação múltipla

Toda a sentença aberta precedida de quantificadores, um para cada


variável, isto é, com todas as variáveis quantificadas, é uma proposição,
pois, assume um dos valores lógicos V ou F.

Assim, são proposições as seguintes expressões:

54
(i) (∀x ∈ A)(∀y ∈ B )( p ( x, y ) )
(ii) (∀x ∈ A)(∃y ∈ B )( p ( x, y ) )
(iii) (∃x ∈ A)(∀y ∈ B )(∀z ∈ C )( p ( x, y, z ) )

Exemplos:

(
(1) A proposição: (∀x ∈ Ν )(∀y ∈ Ν ) ( x + y ) > x 2 + y 2
2
)
se pode ler: “Quaisquer que sejam x e y pertencentes a ℕ , (x+y)2 é maior
que x2+y2”.

Esta proposição também pode ser escrita da forma:


(x + y ) > x + y , ∀x, y ∈ ℜ .
2 2 2

A proposição acima é verdadeira nos ℕ e falsa nos ℝ .

(2) Considere os conjuntos A={1,2,3,4} e B={0,2,4,6,8} e a sentença


aberta em AxB: “2x+y=8”.

A proposição:

(∀x ∈ A)(∃y ∈ B )(2 x + y = 8)


é verdadeira (V), pois, para x=1, 2, 3, 4 temos y=6, 4, 2, 0∈B.

A proposição:

(∀y ∈ B )(∃x ∈ A)(2 x + y = 8)

é falsa (F), pois, para y=8, temos x=0∉ A.

A proposição:

(∃y ∈ B )(∀x ∈ A)(2 x + y = 8)


também é falsa (F), pois, não existe um y∈B tal que pata todo x∈A seja
2x+y=8.

Analogamente, também é falsa (F) a proposição:

55
(∃x ∈ A)(∀y ∈ B )(2 x + y = 8)

6. Comutatividade dos quantificadores

Quantificadores de mesma espécie podem ser comutados:

(∀x )(∀y )( p( x, y)) ⇔ (∀y )(∀x )( p( x, y) )


(∃x )(∃y )( p( x, y)) ⇔ (∃y )(∃x )( p( x, y )) .
Quantificadores de espécies diferentes não podem em geral ser
comutados.

Exemplificando, seja a sentença aberta “y>x”, o universo das variáveis


x e y sendo o conjunto ℕ dos números naturais. A proposição:

(∀x )(∃y )( y > x )


é verdadeira (V), mas a proposição:

(∃y )(∀x )( y > x ) .

7. Negação de proposições com quantificadores

A negação de proposições com mais de um quantificador se obtém


mediante a aplicação sucessiva das regras para negação de proposições
com um único quantificador.

Exemplos:

(1) Negação de proposições com dois quantificadores da mesma


espécie:

~ (∀x )(∀y )( p( x, y ) ) ⇔ (∃x )(~ ∀y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∃x )(∃y )(~ p ( x, y ) )


~ (∃x )(∃y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∀x )(~ ∃y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∀x )(∀y )(~ p ( x, y ) ) .

(2) Negação de proposições com dois quantificadores de espécies


diferentes:

~ (∀x )(∃y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∃x )(~ ∃y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∃x )(∀y )(~ p ( x, y ) )

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~ (∃x )(∀y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∀x )(~ ∀y )( p ( x, y ) ) ⇔ (∀x )(∃y )(~ p ( x, y ) ) .

(3) Negação de proposição com três quantificadores:

~ (∃x )(∃y )(∀z )( p( x, y, z ) ) ⇔ (∀x )(~ ∃y )(∀z )( p ( x, y, z ) ) ⇔ (∀x )(∀y )(∃z )(~ p ( x, y, z ) ) .

Exercícios propostos

1. Considere ℝ o conjunto dos números reais. Determinar o valor lógico


(V ou F) de cada uma das seguintes proposições:

i. (∀ x ∈ R) (x2 – 1 > 0)
ii. (∃ x ∈ R) (x2 + 1 = 0)
iii. (∃ x ∈ R) (4x – 4 = 1 – x)
iv. (∀ x ∈ R) (x2 + 3x + 2 = 0)
v. (∀ x ∈ R) (x + 2)2 = x2 + 4x + 4)

2. Considere o seguinte conjunto X = { 1, 2, 3, 4, 5}. Determinar o


valor lógico (V ou F) de cada uma das seguintes proposições:

i. (∃ x ∈ X) (x + 5 = 10)
ii. (∃ x ∈ X) (x + 4 < 5)
iii. (∀ x ∈ X) (x + 6 < 10)
iv. (∀ x ∈ X) (x + 3 ≤ 8)
v. (∃ x ∈ X) (x2 + 2x = 15)

3. Considere o conjunto U = {2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 20} o universo


das variáveis x , y e z. Determinar o valor-verdade (V ou F) de cada
uma das seguintes proposições:

i. (∀x) (∀y) (x + 7 < y + 11)


ii. (∀x) (∃y) (x * y não é impar)
iii. (∃y) (∀x) (x * y não é impar)
iv. (∃x) (∃y) (x2 > 2y)
v. (∀x) (∃y) (x2 > 2y)
vi. (∃x) (∀y) (x2 > 2y)
vii. (∀x) (∀y) (∀z) (x * y < z)
viii. (∃x) (∀y) (∀z) (x + 2y >3 z)
ix. (∀x) (∃y) (∀z) (2x + y < z)
x. (∀x) (∀y) (∃z) (x + y > z)
xi. (∀x) (∃y) (∃z) (x – y > z)
xii. (∃x) (∀y) (∃z) (2x + 3y >4 z)

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xiii. (∃x) (∃y) (∀z) (x + y = z)

4. Fazer a negação de cada uma das proposições do exercício anterior.

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