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PEDAGÓGICA E CULTURAL.
INTRODUÇÃO
Professores da equipe 2 do Gira Mundo 2017, nas escadas da universidade de HAMK. No primeiro
plano, segurando a bandeira da Paraíba, está a professora Marja Laurikainen.
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
O resultado deve ser apresentado pelo aluno da melhor forma possível para ele :
vídeo ou conteúdos digitais em blogs, apresentações ou demonstration day, textos
escritos e apresentações de seminários aos colegas, avaliação coletiva, em pares ou
autoavaliação, etc. O melhor método depende do contexto e da necessidade, mas o
processo educativo deve ser bem pensado e orientado pelo professor que passa a ter um
papel de mediador das trocas de experiências e criar os ambientes educativos. Lembro-
me das palavras do querido professor Brian Joyce que sempre dizia : Baby steps! (Pasos
de bebê). Ele chamava a atenção para usarmos conceitos muito básicos no início de
qualquer aula e só depois aprofundarmos o conceito. O que lembra também um outro
método usado pelos finlandeses e destacado pelo professor Jouni Inquevist o chamado
scarfolding (andaimes), que consiste numa alegoria para os processos de construção do
conhecimento partindo de bases sólidas para conhecimentos mais profundos.
Chegou o final de outubro e a neve veio em grande quantidade. Andar nas ruas
torna-se difícil e até arriscado cair, ainda mais andar de bicicleta. As temperaturas eram
negativas e a mais baixa foi -8 graus com sensação de -10 graus. Outra vez os
finlandeses nos ensinaram na prática como lidar com as adversidades do clima : usar
uma roupa de lã por baixo e fazer a sobreposição com roupas de algodão, nos ensinava
Seija Mahlamäki Kultanen, decana da HAMK. Os jantares na casa de Seija e de Marja
foram oportunidades para degustar as comidas típicas finlandesas e aprender sobre a
cultura também.
Com o inverno vem a escuridão e os finlandeses costumam enxer suas casas com
velas e luminárias para compensar a falta de luz. Nos escritórios, as professoras
colocavam uma luminária grande de led a 40 centímetros do rosto para simular a luz
solar e obter uma boa noite de sono. Alguns costumes nos pareciam estranhos como
esse, mas fazia sentido, afora o de colocar pimenta até na pizza, mas a comida
finlandesa é muito fitness e contém pouquíssima carne vermelha e muita salada. Porque
se você quer saber quem é um povo, veja a comida dele!
Voltando para o aspecto pedagógico vimos nas aulas de Marja Laurikainen que
o empreendedorismo faz parte do currículo finlandês há cerca de dezessete anos, em
todos os níveis do sistema de ensino finlandês. Está presente com destaque nas escolas
de ensino médio e nas escolas vocacionais, incentivando aspectos como autonomia,
proatividade, criatividade, companheirismo, inovação e oportunidade. No meu ponto de
vista, pelo que ouvi, o empreendedorismo finlandês se assemelha muito a uma educação
solidária do ponto de vista econômico, pois trata-se de criar nos alunos a sensibilidade
para perceber oportunidades nos contextos produtivos de suas comunidades. Isso difere
muito de um empreendedorismo voltado para o capitalismo selvagem que visa o lucro e
a competitividade acima de tudo. Muito pelo contrário, os finlandeses visam à
integração social e aproveitamento de todas as forças produtivas através da educação.
Nas aulas com o sábio professor Bryan Joyce aprendemos muito. Ele um
professor inglês que trabalhou na Universidade de Cambridge e agora como professor
convidado da HAMK, tendo trabalhado com projetos educacionais em diversos países,
assessorando o governo do Kazaquistão no projeto Bolashak. Conheceu o Brasil e
elogiava o sistema das escolas técnicas federais. Em sua experiência com o mundo
empresarial ele trazia alguns conceitos muito úteis para a educação: um método de
resolução de conflitos em quatro etapas.
A que se deve o sucesso finlandês ? Até hoje os EUA com inveja quer saber!
Não é uma resposta simples, mas vamos tentar identificar alguns pontos importantes.
Primeiro a noção de bem estar social ( Well Fare State) é muito forte, como nos outros
países nórdicos, isso insere a educação como um instrumento de transformação social
por excelência! O bem estar das pessoas está acima de tudo, sendo muito valorizado nos
processos educativos. Na Finlândia todas as mães recebem uma caixa com os itens de
cuidado do bebê, dada pelo governo. Desde muito cedo o cidadão aprende que todas as
pessoas devem ser bem cuidadas.
De volta a Hämeelinna, no dia seguinte fizemos uma visita técina ao Sheet Metal
Center, dentro do campus da HAMK. Nosso grupo conversou com a engenheira
pesquisadora Tina e ela nos explicava que eles estavam construindo um protótipo de
casa, além de investigar como a luz e o clima do ambiente afetam a resistência dos
materiais. É compreensível que diante de um clima adverso eles tenha que desenvolver
bons materiais para construção, mas também que sejam resolutivos e integrados
socialmente. Com outros colegas vimos que os finlandeses, antes de construir uma obra,
passam cerca de 2 anos planejando e debatendo.
Os ambientes pareciam alegres e vivos, cheios de trabalhos com arte por todos
os lados, não faltando as bandeiras finlandesas com o azul e branco tradicional – já que
naquele ano comemoravam cem anos de independência. Nessa escola o ponto alto é o
programa anti-bullyng chamado VERSO, que em finlandês significa broto. O programa
consiste em preparar os alunos para mediarem a conciliação de conflitos dos alunos,
sem a interferência dos professores ou adultos, chamando-os apenas quando encontram
dificuldades. As ações do VERSO são documentadas em arquivo e ao final os alunos
que participaram da seção assinam um termo de compromisso. Na Finlândia existem
também outros programas de anti-bullying e o tema é tratado com muito cuidado pelos
professores.
Para os finlandeses as aulas não são apenas do tipo lectures (palestras), mas
consideram mais importante a orientação e o aconselhamento das atividades, ou seja, os
professores devem monitorar as atividades para aprimorar o processo educativo. E vai
muito além disso: existem professores em cada escola responsáveis por aconselhar e
fazer orientação vocacional com os alunos. A nossa professora Irma Kunari resumiu
quando disse “orientação é mais importante que palestras”. Até mesmo porque a
orientação e o aconselhamento podem fazer parte do processo avaliativo e corrigir
possíveis distorções no processo educativo.
CONCLUSÃO
Vimos através das vivências do programa Gira Mundo 2017, do estado da
Paraíba, diversas metodologias de inovação do sistema de ensino da Finlândia. Primeiro
destacar que a adoção de quaisquer metodologias cabem ao professor e aos problemas
do contexto de aprendizagem. Antes de mais nada, devemos considerar o processo
educativo como uma relação de interação permeada por elementos culturais. Diante de
uma cultura diferente pudemos avaliar pontos positivos e negativos na cultura brasileira,
e elementos que podem ser acrescentados e adaptados a nossa realidade.
REFERÊNCIAS
CORADO, C., JOYCE, B., LAURIKAINEN, M. and RYYMIN, E. (eds.) Gira Mundo
Finlândia – Professional Development Certificate Programme -Paraíba, Cohort 1
in Häme University of Applied Sciences (HAMK), Finland 2017.
DAMITO, Damione. Podcasts para formação de professores. Disponível em
https://papodeeducador.com.br/. Acesso em 20 de maio de 2020.
HANSON, Rick. O cérebro de Buda: neurociência prática para a felicidade.
1.ed.São Paulo: Alaúde Editora, 2012.
LAURIKAINEN, MARJA. Projeto EPP de e-portfólios na Europa. Disponível em:
https://unlimited.hamk.fi/ammatillinen-osaaminen-ja-opetus/supporting-students-
eportfolio-process-in-higher-education/#.XsJ8X_9KjIU. Acesso em 11 de maio de
2020.
MAIDA, Carl A. Project- Based Learning: a critical pedagogy for the twenty-first
century. Policy Futures Education, vol. 9, number 6, Los Angeles, USA, 2011.
SAHLBERG, Pasi. Finnish Lessons 2.0 – What can the world learn from
educational change in Finland. Teachers College- Columbia University, 2010.