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JACOB BURCKHARDT
A CULTURA DO
RENASCIMENTO
NA ITÁLIA
Um ensaio
Tradução
Sérgio Tellaroli
Introdução
Peter Burke
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Título original
Die Kultur der Renaissance in Italien:
Ein Versuch
Capa
Jeff Fisher
Preparação
Márcia Copola
Revisão
Renato Potenza Rodrigues
Pedro Carvalho
Índice onomástico
Verba Editorial
08-10525 CDD-945.05
2009
SUMÁRIO
V. A SOCIABILIDADE E AS FESTIVIDADES
O nivelamento das classes 324
O contraste com a Idade Média 324 • O convívio nas cidades 324 • A
negação teórica da nobreza 325 • O comportamento da nobreza nas
diversas regiões da Itália 328 • Postura perante a cultura 328 • Poste-
rior influência espanhola 328 • A cavalaria desde a Idade Média 329 •
Os torneios e suas caricaturas 330 • A nobreza como pré-requisito
para o cortesão 331
O refinamento exterior da vida 332
As roupas e a moda 332 • Os artigos de toucador 333 • O asseio 335
• O Galateo e as boas maneiras 336 • Conforto e elegância 336
INTRODUÇÃO
É no verdadeiro sentido da palavra que esta obra carrega
o título de um mero ensaio; seu autor tem suficientemente
claro em sua consciência a modéstia dos meios e forças com
os quais se encarregou de tarefa tão extraordinariamente
grande. Pudesse ele, contudo, contemplar com maior confian-
ça sua pesquisa, tampouco estaria mais seguro do aplauso dos
conhecedores. Os contornos espirituais de uma época cultu-
ral oferecem, talvez, a cada observador uma imagem diferen-
te, e, em se tratando do conjunto de uma civilização que é a
mãe da nossa e que sobre esta ainda hoje segue exercendo a
sua influência, é mister que juízo subjetivo e sentimento in-
terfiram a todo momento tanto na escrita quanto na leitura
desta obra. No vasto mar ao qual nos aventuramos, são mui-
tos os caminhos e direções possíveis; os mesmos estudos rea-
lizados para este trabalho poderiam, nas mãos de outrem, fa-
cilmente experimentar não apenas utilização e tratamento
totalmente distintos, como também ensejar conclusões subs-
tancialmente diversas. O assunto é, em si, suficientemente
importante para tornar desejáveis muitas outras investigações
e exortar pesquisadores dos mais diversos pontos de vista a se
manifestarem. Entrementes, estaremos satisfeitos se nos for
concedida uma atenção paciente e se este livro for compreen-
dido como um todo. A necessidade de fracionar um grande
continuum espiritual em categorias isoladas e, amiúde, apa-
rentemente arbitrárias, com o intuito de, de alguma forma,
poder apresentá-lo, constitui dificuldade capital da história
cultural. Era nossa intenção, a princípio, suprir a maior lacu-
na deste livro mediante uma obra especial tratando da “arte
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* Isso, por certo, somente nos escritos do século XV, mas certamente ten-
do por base fantasias de épocas anteriores.
** Nos últimos dez anos de Frederico II, quando imperava o mais rigoroso
controle pessoal, o sistema de passaportes estaria já bastante desenvolvido.
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TIRANIAS DO SÉCULO XV
O despotismo no século XV exibe um caráter modificado.
Muitos dos pequenos tiranos, e mesmo alguns dos grandes,
como os Scala e os Carrara, pereceram; os poderosos fortale-
ceram-se e, internamente, suas tiranias desenvolveram feições
mais características. Nápoles, por exemplo, recebe um impul-
so mais vigoroso com a nova dinastia aragonesa. Característi-
co, no entanto, no tocante a esse século, é, primordialmente, o
anseio dos condottieri por uma soberania própria, indepen-
dente — por coroas: um passo à frente no caminho do pura-
mente factual e um alto prêmio tanto para o talento quanto
para a perversidade. No intento de assegurar para si algum su-
porte, os tiranos menores põem-se agora, de bom grado, a ser-
viço de Estados maiores, tornando-se condottieri destes, o que
lhes propicia algum dinheiro e, decerto, também a impunida-
de para muitos de seus crimes, talvez até mesmo uma expan-
são de seus domínios. De um modo geral, grandes e pequenos
precisaram esforçar-se mais, agir com maior prudência e cál-
culo, abstendo-se do terror excessivo; era-lhes permitido pra-
ticar o mal apenas na justa medida em que essa prática com-
provadamente servisse a seus objetivos — o mesmo tanto, aliás,
que lhes perdoava a opinião dos espectadores. Não há mais si-
nal aqui daquele capital de devoção que favorecia as casas prin-
cipescas legítimas do Ocidente, mas, no máximo, uma espécie
de popularidade restrita às capitais de seus domínios; para avan-
çar, os príncipes italianos têm sempre de buscar auxílio fun-
damentalmente no talento e no frio calculismo. Uma figura
como a de Carlos, o Temerário, que com uma paixão desenfrea-
da aferrava-se a propósitos totalmente impraticáveis, constituía
verdadeiro enigma para os italianos.
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