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sistemática e científica do modelo de ensino bilíngue de surdos tendo como
modelo a Universidade de Gallaudet, nos Estados Unidos da Amárica (EUA) e
o Instituto de Surdos de Manilla, na Suécia. A referida recuperação da LGP no
IJRP viria a ter uma grande influência no reconhecimento legal desta língua em
1997 na Constituição da República Portuguesa. Todavia, várias crianças surdas
continuavam a chegar ao Instituto em idades ainda bastante avançadas (6,7, 8
anos e mais velhos) comprometendo em parte o período sensível de aquisição
da linguagem.
Assim, em 2005, o IJRP desdobra-se em contactos com os vários hospitais
da área da Grande Lisboa no sentido de fazer chegar o mais cedo possível as
crianças surdas à escola. Assim, com o rastreio neo-natal, é criado nesta escola o
serviço de Intervenção Precoce que viria alterar por completo o panorama nacional
de intervenção em crianças surdas. A partir desta data, as crianças começam a
desenvolver desde cedo as suas capacidades num ambiente linguístico que as
potencia a um desenvolvimento cognitivo semelhante ao das crianças ouvintes.
Paralelamente, o IJRP tem vindo, também, a efetuar um trabalho de fundo com
as famílias de crianças surdas nomeadamente facultando cursos gratuitos de LGP.
Em 2008, é então publicado o decreto-lei 3/2008 que cria as Escolas de Re-
ferência para a Educação Bilíngue de Crianças e Jovens surdos a nível nacional e
que o IJRP tem cumprido escrupulosamente, embora não seja ainda reconhecida
como escola de referência para o ensino bilíngue de alunos surdos, situação que
remete para a necessidade de entendimento entre o Ministério da Educação e
Ciência e o Ministério da Solidariedade e Segurança Social ainda não objetivada.
Por essa razão considera-se fundamental descrever aqui o funcionamento
atual do Instituto:
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dos educandos surdos. Só o desenvolvimento destas duas áreas de intervenção,
em articulação com todas as equipas de trabalho do IJRP (STASE, UFIP, UI,
DEE), com as outras escolas de referência nacionais e ligação a várias universi-
dades nacionais e estrangeiras poderá viabilizar uma implementação efetiva do
ensino bilíngue de surdos no nosso país. São estas as linhas gerais orientadoras
do decreto-lei 3/2008. A aplicação do modelo bilíngue à Educação de Surdos
tem dados resultados inequívocos no IJRP como comprova a plena integração
profissional dos ex-educandos e inclusive o prosseguimento de estudos para as
universidades. Embora tendo consciência do muito que há a fazer pelo desenvol-
vimento da Educação de Surdos não podemos deixar de assinalar o sucesso que
esta escola tem obtido no que diz respeito à educação desta população específica.
Devemos realçar que este sucesso tem sido possível porque muito antes da
publicação das linhas orientadoras do Decreto-Lei 3/2008 já o IJRP colocava
em prática muitas dessas orientações. Também, a articulação entre as várias
valências que a escola dispõe contribuiu para o sucesso deste modelo educativo.
Embora o IJRP se reveja nas orientações gerais e na filosofia subjacente ao
decreto- lei 3/2008 consideramos que alguns aspetos poderão e deverão ser aperfei-
çoados para que o ensino bilíngue de alunos surdos seja uma realidade no nosso país:
• Promoção da articulação entre as várias escolas de referência para o
ensino bilíngue de alunos surdos através de linhas orientadoras comuns;
• Definição das funções dos docentes e técnicos que trabalham nas escolas
de surdos (docentes especializados, intérpretes de LGP, docentes de
LGP, docentes de educação especial e técnicos de apoio terapêutico);
• Criação de equipas para desenvolver materiais bilíngues para surdos;
• Formação contínua sobre o ensino bilíngue de alunos surdos;
• Assegurar a continuidade de docentes e técnicos nestas escolas dada a
elevada formação de que são alvo;
• Respostas educativas efetivas aos Programas Educativos Individuais
(PEI) dos alunos surdos;
• Supervisão que garanta um efetivo ensino bilíngue: o respeito pela LGP
como primeira língua dos alunos surdos e a LP como uma segunda língua;
• Diminuição do número das escolas de referência para o ensino bilíngue
de crianças surdas proporcionado que se concentrem mais alunos surdos
num mesmo local com vista a um efetivo desenvolvimento da LGP
promovendo a criação de comunidades linguísticas;
• Promoção da existência de modelos linguísticos surdos nas escolas;
• Exame nacional de LGP e não apenas para Língua Portuguesa como
segunda língua (LP2);
• Criação do grupo de docência de LGP (360) garantindo o estatuto de
igual direito às restantes Línguas a esta Língua;
• Promoção de equipas científico-pedagógicas direcionadas não só para o
desenvolvimento de materiais bilíngues mas para o estudo e implementa-
ção de estratégias pedagógicas diferenciadas e modelos de aprendizagem
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Conclusão
O trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no IJRP, nas suas diversas
vertentes, assenta num conhecimento prático, de experiência acumulada mas,
também, um conhecimento académico fruto do investimento pessoal de docentes
e técnicos que ao longo dos anos têm sentido necessidade de melhorar a sua
prática profissional e um investimento da CPL que tem permitido e facilitado a
experimentação de novas práticas e/ou metodologias pedagógicas. Por essa razão,
várias têm sido as universidades e escolas de surdos nacionais e estrangeiras
que têm procurado estabelecer protocolos com o IJRP reconhecendo, assim,
o trabalho que a IJRP/ CPL tem desenvolvido nesta área do ensino de surdos,
a nível nacional. Embora, o Ministério da Educação não permita a construção
de um currículo específico para surdos, o IJRP tem investido no ensino profis-
sional com a escolha de cursos profissionais que vão ao encontro da população
surda. Por outro lado, criou valências que permitem o acesso dos alunos surdos
ao currículo através da produção de materiais didáticos bilíngues e a aplicação
efetiva de um Programa de Língua Portuguesa para surdos, como segunda língua
e não um Programa de Língua Portuguesa para surdos, como primeira língua.
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