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Escolha versus Mentira

Em Economia aprende-se que "as pessoas enfrentam trade offs (escolhas)" e "toda escolha
apresenta um custo de oportunidade". Sendo escolha uma decisão, uma opção entre fatores
diversos, e custo de oportunidade tudo aquilo de que se abre mão ao escolher alguma coisa.

De forma ilustrativa, vislumbremos um exemplo: imagine-se com fome optando entre comer
um sanduíche e macarrão; se você optar pelo sanduíche, tem consciência que não comerá o
macarrão, e se escolher o macarrão não comerá o sanduíche. Desta forma, na escolha de sua
alimentação, o custo de oportunidade do sanduíche é o macarrão e vice-versa.

Bem, se podemos levar tais considerações econômicas para o âmbito alimentício, tentemos
torná-las um pouco mais abrangentes, levando-as para as demais decisões que tomamos no
nosso dia-a-dia. Percebemos assim que desde ir ou não ir ao trabalho (ou colégio), aceitar ou
não uma proposta, fazer ou não alguma coisa, tudo isso apresenta um custo de oportunidade.
Podemos dizer que todo "sim" ou "não", toda escolha, apresenta algo que foi abandonado...
De forma resumida portanto, ao dizer "sim" deixamos de lado o "não" e ao dizer "não"
deixamos de lado o "sim".

Como todos os dias de nossas vidas fazemos escolhas, todos os dias abrimos mão de muita
coisa em prol de outra e acabamos criando assim algo real (aquilo que foi escolhido) e algo
irreal (aquilo que poderia ter sido escolhido).

Até aí tudo bem... É natural buscarmos sempre aquilo que parece que irá nos trazer maior
satisfação pessoal e abandonar o que parece mais infeliz. Mas, e quando após nossas
escolhas percebemos que aquilo do que abrimos mão era, na verdade, o que buscávamos em
termos de satisfação pessoal? O que acontece quando nos damos conta de que o real não era
a melhor opção e aquilo que agora é irreal nos assombra, como o que poderíamos ter tido?

Quando isto acontece, quando o que escolhemos não é o que esperávamos, quando nos
decepcionamos ao nos defrontar com algumas coisas que se tornaram reais, inventamos uma
forma de reverter a escolha que já foi feita, uma maneira de subverter a realidade, de
enganá-la: mentimos.

Bem, agora você deve estar se perguntando: "Onde diabos ele quer chegar? Que mentimos
para encobrir a realidade, para mudá-la para os olhos alheios eu sempre soube. Mas e daí?" E
daí... Que o que nos interessa de fato é entender porque mentimos. A finalidade nunca foi
dúvida para ninguém que já mentiu, mas e a motivação? A motivação eu digo, encontra-se no
fato de todos os dias de nossas vidas enfrentarmos trade offs, na percepção de que muitas de
nossas escolhas não nos fazem felizes, no fato de os custos de oportunidade de muitas de
nossas decisões serem capazes (na nossa mente) de nos satisfazer melhor do que aquilo que
escolhemos. É nesse lugar em que quero chegar.

Por fim, sabendo e entendo tudo isso, eu pergunto: "Vale a pena? Todo esse interesse em
transformar algo que já foi escolhido, essa necessidade de enganar outras pessoas e a si
mesmo, será que tudo isso vale a pena? Talvez não seja simples ilusão a satisfação que
provém do irreal? Talvez não seja ilusão também a satisfação que encontra-se no real? Por
que fazer tudo isso?".

Leonardo Lina

03-07-2010

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