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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 9

ROTEIRO DE AULA

Tema: TUTELAS PROVISÓRIAS II

Disciplina das tutelas provisórias no CPC (art. 294)

Art. 294 do CPC. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.


Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou
incidental.

a) Tutela de urgência (300/302 CPC) (com periculum in mora): havendo risco ao resultado útil do processo ou ao
direito material → a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário ameaça de direito. Existem duas
subespécies:

i. satisfativa/antecipada (303/304 CPC) (incidental/antecedente) – satisfaz, de modo imediato, o direito da parte;

ii. conservativa/cautelar (305/310 CPC) (incidental/antecedente) – garante a eficácia do provimento final, ou seja,
o resultado útil do processo.

➢ Exemplo 1: uma mulher quer se divorciar, mas, antes do divórcio, quer que seu agressor saia de casa. Aqui, é
possível fazer o pedido cautelar da separação de corpos antes do divórcio ou, no próprio pedido de divórcio,
requerer incidentalmente a separação de corpos.

➢ Exemplo 2: um indivíduo quer entrar contra o plano de saúde afim de receber o tratamento necessário. Ele pode
entrar com ação de obrigação de fazer contra o plano de saúde para receber esse tratamento, fazendo o pedido

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de tutela antecipada incidental ou fazer só o pedido de tutela antecipada (o tratamento) para depois fazer o
pedido principal de obrigação de fazer.

Art. 300 do CPC. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão.

b) Tutela da evidência (311 CPC + procedimentos especiais) (sem periculum in mora) (só incidental): a parte
formula o pedido inicial, ajuíza a ação e, em seu bojo, faz o pedido de tutela de evidência.

Nesse tipo de tutela provisória, existe prazo certo para acabar e ocorre quando uma das partes tem um direito
extremamente evidente e, como não há preocupação com o risco ao resultado útil do processo ou ao direito material, é
concedida à parte independente do periculum in mora porque a probabilidade do direito do autor for tão evidente que
não é plausível que este sofra os efeitos da demora do processo.

➢ Exemplo: ajuizamento de ação contra concessionária de energia elétrica com base em prova documental E o que
essa parte está pedindo já existe súmula do STF em seu favor. Na própria inicial, se requere a tutela de evidência.

3. Principais questões

3.5. Inexistência de coisa julgada material (310 CPC). Exceções (último tópico da aula 8)

3.6. Fungibilidade (305, parágrafo único, CPC) (não vale na Tutela de Evidência?)

Fungibilidade é a característica daquilo que pode ser substituído por outro. Nesse tópico, posso pedir tutela cautelar e o
juiz me conceder tutela antecipada? Pedir tutela antecipada e o juiz entender se tratar de tutela de evidência? Ou pedir
uma tutela de evidência e o juiz me conceder tutela cautelar?

➢ No tocante às tutelas provisórias de urgência (cautelar ou antecipada) – existe a fungibilidade, isto é, se o juiz
perceber que é necessário trocar a cautelar ou antecipada, ele adequa ao procedimento e concede a correta
justamente porque ambas são fundadas no periculum in mora;

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ATENÇÃO: ao ler o dispositivo abaixo (art. 305), observa-se que o legislador somente abordou a fungibilidade “de uma
mão”, ou seja, a cautelar substituída pela antecipada. Dessa forma, se fôssemos observar o rigor da lei, somente seria
possível nessa modalidade.

➢ Entretanto, tanto a doutrina quanto a jurisprudência afirmam, de forma pacífica, que é perfeitamente possível a
fungibilidade de mão dupla (cautelar → antecipada / antecipada → cautelar), o que torna o sistema mais efetivo,
porque, dessa forma, não se entra na discussão se determinado pedido é de tutela cautelar ou antecipada
considerando que o importante é suprir o perigo da demora processual, socorrer a urgência.

Art. 305 do CPC: A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter antecedente indicará a lide
e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto
no art. 303.

➢ Exemplo 1: indivíduo entrou com tutela antecipada de separação de corpos. O juiz, em seu entender, afirma que
separação de corpos não é tutela antecipada e sim cautelar. Dessa forma, o magistrado faz a adaptação para
transformar o pedido de tutela antecipada antecedente em tutela cautelar, concedendo a medida;

➢ Exemplo 2: indivíduo entrou com pedido de tutela antecipada de arresto ou tutela cautelar de entrega de
medicamentos. Está errado. O arresto é cautelar e a entrega de medicamentos seria tutela antecipada. Assim, o
juiz aplica a fungibilidade e adapta.

➢ Existe fungibilidade entre tutela provisória de urgência e tutela da evidência? Trata-se de questão polêmica,
não sendo pacífica. No entendimento do professor, não existe.

O professor adota um posicionamento conservador em relação à tal questão, dizendo que JAMAIS, se a parte pede tutela
provisória de urgência, o juiz pode conceder tutela provisória da evidência. Isto porque, se o juiz verificar que não existe
urgência, inexiste urgência a ser socorrida e é vedado ao magistrado conceder à parte algo que ela não pediu, posto
que a tutela da evidência deve ser requerida haja vista, ainda, a responsabilidade do autor de indenizar os danos causados
à parte contrária caso, ao fim do processo, se comprove que não havia evidência no caso.

➢ Exemplo 1: indivíduo faz pedido de tutela provisória da evidência, alegando que tem prova material e súmula do
STJ em questão contra a concessionária de energia elétrica. Quando o juiz analisa o pedido, verifica que a prova
documental do autor não prova nada e que, na verdade, se trata de caso de tutela provisória de urgência;

➢ Exemplo 2: indivíduo faz pedido de tutela provisória de urgência, alegando a necessidade por uma tutela
satisfativa, sob risco de sofrer dano gravíssimo, etc. O juiz percebe que não existe urgência, mas que o direito é

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tão evidente, considerando a existência de um IRDR que julgou a questão, passando a considerar que a tutela
aplicável ao caso é a de evidência.

➢ Mas, e quando o indivíduo faz pedido de tutela de evidência (exemplo 1 acima) e o juiz, ao analisar o caso,
percebe que inexiste evidência, mas o caso é dotado de urgência. Poderia o juiz conceder? Nesse caso, a parte
pediu erroneamente a tutela de evidência e o juiz percebeu que existe periculum in mora. Poderia, de ofício, se
operar a fungibilidade? Trata-se de questão ainda mais polêmica.

O professor, pessoalmente, entende que, se a providência for de natureza cautelar, o juiz poderia operar a fungibilidade
(dentro do seu poder geral de cautela) porque a tutela cautelar visa conservar o resultado útil do processo, ou seja, a
eficácia do pedido.

Porém, se a medida que eventualmente o juiz pensa em conceder for a antecipada, o juiz não poderia operar a
fungibilidade porque a tutela antecipada tem natureza satisfativa, parecendo, ao professor, que o poder geral de cautela
do juiz não entraria nessa hipótese, sendo necessário expresso pedido da parte.

➢ ATENÇÃO: os estudantes que estão se preparando principalmente para o concurso da magistratura não podem
se esquecer da existência um princípio que indica a postura judicial do magistrado, que é o princípio da
cooperação. É óbvio que o juiz, se entender que não pode agir oficiosamente, não vai conceder tutela provisória
com base na fungibilidade. Entretanto, nada impede que ele, com base na cooperação, indefira o pedido de tutela
de evidência e alerte a parte que existe, contudo, a urgência.

3.7. Responsabilidade objetiva por dano processual (302)

Art. 302 do CPC. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação
da tutela de urgência causar à parte adversa, se:
I - A sentença lhe for desfavorável;
II - Obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido
no prazo de 5 (cinco) dias;
III - Ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;
IV - O juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.

O dispositivo acima é importantíssimo ao estudo das tutelas, haja vista sua previsão de que a parte que efetivou uma
tutela provisória responde, objetivamente (independentemente de culpa), pelos danos causados à parte contrária,
principalmente se, ao final do processo, ficar provado que o direito existente não era o tutelado e sim o da parte contrária.

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➢ Exemplo: em um caso real enfrentado pelo professor, um indivíduo recebeu, contra si, um pedido de separação
de corpos (tutela provisória cautelar), porque sua esposa se apresentou em juízo com vários arranhões pelo
corpo. Nesse caso, o juiz concedeu a tutela determinando que o indivíduo saísse do lar, tendo que ir morar em
um hotel e ir trabalhar de táxi porque ele não mais tinha acesso ao seu carro, que havia ficado na casa. Ao final
do processo, restou provado que se tratava de autolesão, já que a mulher queria criar uma situação apta a
expulsar o marido de casa. Assim, pela responsabilidade objetiva do art. 302 do CPC, essa mulher foi compelida a
arcar com os prejuízos sofridos pelo indivíduo, na divisão do patrimônio, ele ficará com uma parte maior,
correspondente ao valor necessário para suprir os prejuízos.

➢ Nesse mesmo exemplo, considerando que o indivíduo ficou muito tempo fora de casa, como foram apurados
os danos? O próprio parágrafo único do art. 302 responde tal questão – por meio de liquidação nos autos.

Com esse dispositivo, fica ainda mais claro que o juiz não deve conceder tutelas provisórias de ofício, sob pena de o
magistrado gerar responsabilidades para o próprio Estado haja vista que, nesses casos, a parte não pediu nada.

➢ ATENÇÃO: Esse artigo está no capítulo das tutelas provisórias de urgência e, uma leitura sem analisar todo o
sistema pode nos levar a crer que a responsabilidade objetiva só existe nas tutelas de urgência. No entanto, o
professor ressalta que o entendimento dominante é que a responsabilidade objetiva também é aplicável às
tutelas de evidência.

3.8. Retirada do efeito suspensivo da apelação (1.012 § 1º, V, CPC)

Os juízes, de modo geral, têm adotado o entendimento no sentido da concessão da tutela provisória (cautelar, antecipada
ou da evidência) na própria sentença.

Art. 1.012 do CPC. A apelação terá efeito suspensivo.


§ 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a
sentença que:
V - Confirma, concede ou revoga tutela provisória;

Ou seja, o legislador autorizou aos magistrados que, caso haja concessão da tutela provisória na sentença, eventual
apelação interposta pela parte contrária fica sem efeito suspensivo.

➢ Exemplo: os juízes concedem à parte autora o direito à benefício previdenciário na sentença e já concedem, no
bojo da sentença, a tutela antecipada com o intuito de retirar o efeito suspensivo da apelação. Nesse caso, o INSS
deve começar a pagar imediatamente o benefício, mesmo que tenha apelado da decisão e essa apelação ataque
não somente o mérito, como também a própria tutela provisória deferida.

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Entretanto, apesar de a via adequada para atacar a sentença ser a apelação, se a parte contrária quiser gerar o efeito
suspensivo imediatamente, existe um modelo:

Art. 1.012 do CPC. A apelação terá efeito suspensivo.


§ 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º (tutela provisória concedida na sentença) poderá
ser formulado por requerimento dirigido ao:
I - Tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado
para seu exame prevento para julgá-la;
II - Relator, se já distribuída a apelação.

3.9. Recurso cabível da decisão sobre tutela provisória (1015, I, CPC) (1.012, § 1º, V) (1.021 CPC) e concessão no
Tribunal (932, II)

As tutelas provisórias podem, ainda, serem concedidas por intermédio das decisões interlocutórias de juízes de primeira
instância, na sentença e pelo relator tanto nos recursos quanto nas ações originárias.

Art. 1.015 do CPC. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - Tutelas provisórias;

➢ Se quem concedeu/negou uma tutela provisória foi o juiz de primeira instância em uma decisão interlocutória, o
recurso cabível é o agravo de instrumento.

Art. 1.021 do CPC. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado,
observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada.
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze)
dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo
interno.
§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão
colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por
cento do valor atualizado da causa.
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4º, à
exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.

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➢ Se quem concedeu/negou uma tutela provisória foi o relator, seja nos recursos ou nas ações originárias do
tribunal, o recurso cabível é o agravo interno.

Art. 932 do CPC. Incumbe ao relator:


II - Apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal;

3.10. Aplicação nos Juizados (enunciado 163 do FONAJE)

Também existem tutelas provisórias no sistema dos Juizados Especiais. Entretanto, esses sistemas têm particularidades
especiais que impedem determinado uso dos arts. 294/311 do CPC. Por isso, para aplicar aos Juizados, deve existir uma
compatibilização desses institutos.

ENUNCIADO 163 do FONAJE- Os procedimentos de tutela de urgência requeridos em caráter antecedente, na forma
prevista nos arts. 303 a 310 do CPC/2015, são incompatíveis com o Sistema dos Juizados Especiais (XXXVIII Encontro –
Belo Horizonte/MG).

De acordo com esse enunciado, portanto, só cabem as tutelas incidentais nos Juizados Especiais, formulado no próprio
pedido principal.

3.11. Tutela antecipada antecedente: a parte formula somente o pedido de tutela, para depois aditar com o pedido
principal

a) Inicial sumarizada (06 requisitos): é diferente do disposto no art. 319 do CPC (pedido principal). Esses 6 requisitos
são identificados na própria leitura do art. 303:

Art. 303 do CPC. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se
ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final (2), com a exposição da lide (indicação de
qual será a pretensão final a ser formulada) (3), do direito que se busca realizar (probabilidade do direito e verossimilhança
da alegação do art. 300) (4) e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo (5).

§ 2º Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste artigo, o processo será extinto sem resolução do
mérito.

§ 3º O aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas
custas processuais.

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§ 4º Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final (6).

§ 5º O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende valer-se do benefício previsto no caput deste artigo (1).

b) Decisão e aditamento/emenda nos mesmos autos (sem novas custas - §§ 3º e 4º) (deferimento da Tutela
Antecipada - § 1º) (indeferimento da Tutela Antecipada - § 6º).

Se a tutela antecipada for deferida, confirme § 1º do art. 303 acima, a parte deverá ADITAR a petição inicial sumarizada
no prazo de 15 dias, transformando o pedido antecipado em pedido principal.

Se a tutela antecipada for indeferida, a parte promove a EMENDA da inicial, no prazo de 05 dias, para transformar o
pedido antecipado em pedido principal porque a parte pode até não ter o direito à tutela provisória liminar, mas pode,
durante a instrução e até o final do processo, provar que tem direito da provisão final.

➢ Qual a lógica de chamar uma hipótese de aditamento e uma de emenda, com prazos distintos? Nenhuma, o
legislador fez uma confusão porque o efeito das duas hipóteses é exatamente o mesmo, ou seja, fazer com que a
parte formule o pedido principal.

c) Não aditamento/emenda – a consequência prática é a extinção sem resolução do mérito (arts. 303, §§ 1º e 6º
e 485 CPC)

Art. 303 do CPC. § 1º Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:
I - O autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos
e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar;
II - O réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334;
III - Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do art. 335.

§ 6º Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a
emenda da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de
mérito.

3.12. Estabilização da tutela antecipada antecedente

Esse fenômeno foi uma tentativa do legislador brasileiro de importar um instituto do Direito Francês, denominado
“référé”. Funciona da seguinte forma: um indivíduo faz um pedido de tutela provisória antecedente e o juiz concede,

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deixando o autor satisfeito. Se o réu for citado e concordar com a concessão da tutela ao autor, inexiste lógica em se
continuar com esse processo, com cognição exauriente, tornando estável a tutela concedida anteriormente.

a) Funcionamento da técnica da estabilização no Brasil (304 e § 1º) (por questões de urgência extrema ou
estratégia processual)

Art. 304 do CPC. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder não
for interposto o respectivo recurso.
§ 1º No caso previsto no caput, o processo será extinto.

Se o réu não se opõe, todos ficam satisfeitos com a concessão da tutela, tornando estável a decisão que se
pereniza/eterniza, com as partes passando a ter sua situação jurídica regrada pela tutela antecipada estabilizada.

➢ Exemplo: indivíduo que pede antecipadamente medicamentos para pressão arterial, o juiz concede a tutela e o
Estado não impugna a decisão, que estabiliza e o autor continua a receber “ad eternum” os medicamentos
necessários até que alguém tome uma providência.

b) Não cabimento da estabilização (Tutela Antecipada Incidental, Tutelas Cautelares antecipada e incidental e
Tutela de Evidência) – essa exceção é ilógica, porque se tanto autor quanto réu estão satisfeitos com a tutela,
não há motivos para se prosseguir com o processo.

Na antecipada antecedente, o indivíduo fez o pedido do medicamento antes e lhe foi concedido, sem impugnação do
Estado, estabiliza e acaba o processo.

Na Tutela da Evidência, que só pode ser incidental, essa exceção perde ainda mais o sentido, porque o direito da parte
pode estar fundamentado, por exemplo, em súmula vinculante e o réu sequer contesta, não estabiliza e é necessário ter
sentença, podendo haver recurso, etc.

As tutelas cautelares são as únicas exceções que fazem sentido, haja vista que não podem se estabilizar ante a sua
natureza conservativa, porque, se estabilizar, por exemplo, uma tutela cautelar de separação de corpos, ainda restam
vários conflitos a serem decididos, como partilha de bens e guarda de filhos.

c) Condição para não ocorrência da estabilização, o réu deve demonstrar que discorda da tutela: recurso? (304,
caput) (Resp. 1.760.966/SP X REsp 1.797.365-RS (conhecimento – 28 ENFAM)

O réu pede a tutela antecipada antecedente do art. 303 contra o plano de saúde para realização de transplante, o juiz
concedeu. O plano de saúde tem que se manifestar insatisfeito, sob pena de que essa tutela se estabilize.

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➢ Como demonstrar essa insatisfação? Pela lei brasileira, o meio ideal é o recurso e o recurso contra decisão que
concede tutela antecipada antecedente é o agravo de instrumento ou embargos de declaração.

➢ Seria possível a outra parte demonstrar insatisfação por outro meio, que não seja o recurso? Suponhamos que
um juiz concede uma tutela à uma parte, determinando que uma boate seja fechada por excesso de barulho e o
réu (dono da boate) atravessa uma petição ao próprio juiz de primeiro grau, demonstrando insatisfação e
alegando estar com a autorização com a prefeitura.

➢ No primeiro entendimento de 2018, a Terceira Turma (Direito Privado) do STJ entendeu que qualquer meio de
impugnação seria válido (REsp 1.760.990/SP), enquanto em 2019, a Primeira Turma (Direito Público) do mesmo
STJ acabou entendendo que o Código utilizou a palavra “recurso” em acepção técnica, sendo este o único meio
(REsp 1.797.365/RS).

RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE. ARTS. 303 E 304 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU QUE REVOGOU A DECISÃO CONCESSIVA DA TUTELA,
APÓS A APRESENTAÇÃO DA CONTESTAÇÃO PELO RÉU, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PRETENDIDA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA. IMPOSSIBILIDADE. EFETIVA IMPUGNAÇÃO DO
RÉU. NECESSIDADE DE PROSSEGUIMENTO DO FEITO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (...).
(...)
3.2. É de se observar, porém, que, embora o caput do art. 304 do CPC/2015 determine que "a tutela antecipada, concedida
nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso", a leitura
que deve ser feita do dispositivo legal, tomando como base uma interpretação sistemática e teleológica do instituto, é
que a estabilização somente ocorrerá se não houver qualquer tipo de impugnação pela parte contrária, sob pena de se
estimular a interposição de agravos de instrumento, sobrecarregando desnecessariamente os Tribunais, além do
ajuizamento da ação autônoma, prevista no art. 304, § 2º, do CPC/2015, a fim de rever, reformar ou invalidar a tutela
antecipada estabilizada.
4. Na hipótese dos autos, conquanto não tenha havido a interposição de agravo de instrumento contra a decisão que
deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela requerida em caráter antecedente, na forma do art. 303 do
CPC/2015, a ré se antecipou e apresentou contestação, na qual pleiteou, inclusive, a revogação da tutela provisória
concedida, sob o argumento de ser impossível o seu cumprimento, razão pela qual não há que se falar em estabilização
da tutela antecipada, devendo, por isso, o feito prosseguir normalmente até a prolação da sentença.
5. Recurso especial desprovido.
(STJ, REsp 1.760.966/SP, 3ª Turma, Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Julgamento 04/12/2018)

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PROCESSUAL CIVIL. ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA CONCEDIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE. ARTS. 303 E 304
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. NÃO INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRECLUSÃO.
APRESENTAÇÃO DE CONTESTAÇÃO. IRRELEVÂNCIA.
I - Nos termos do disposto no art. 304 do Código de Processo Civil de 2015, a tutela antecipada, deferida em caráter
antecedente (art. 303), estabilizar-se-á, quando não interposto o respectivo recurso.
II - Os meios de defesa possuem finalidades específicas: a contestação demonstra resistência em relação à tutela
exauriente, enquanto o agravo de instrumento possibilita a revisão da decisão proferida em cognição sumária. Institutos
inconfundíveis.
III - A ausência de impugnação da decisão mediante a qual deferida a antecipação da tutela em caráter antecedente,
tornará, indubitavelmente, preclusa a possibilidade de sua revisão.
IV - A apresentação de contestação não tem o condão de afastar a preclusão decorrente da não utilização do instrumento
processual adequado - o agravo de instrumento.
V - Recurso especial provido.
(STJ, Primeira Turma, REsp 1.797.365/RS, Relator Ministro Sérgio Kukina, Julgamento 3/10/2019).

➢ Como agir em provas? Nas provas de concurso público, melhor ir pela lei. Ou seja, que somente o recurso (agravo
de instrumento e embargos de declaração) é o meio idôneo para a parte contrária demonstrar insatisfação, em
consonância, também, com o posicionamento mais recente do STJ, da Primeira Turma.

ENUNCIADO 28 DA ENFAM: Admitido o recurso interposto na forma do art. 304 do CPC/2015, converte-se o rito
antecedente em principal para apreciação definitiva do mérito da causa, independentemente do provimento ou não do
referido recurso → SOMENTE O RECURSO CONHECIDO, AINDA QUE NEGADO O PROVIMENTO.

d) Sentença da estabilização? (304, § 1º) (honorários – enunciado n. 18 ENFAM).

Caso não houver interposição de recurso impugnando a decisão que concedeu a tutela antecipada, o processo será extinto
por meio de sentença. A natureza jurídica dessa sentença é controvertida na doutrina:

1ª Corrente: sentença de extinção do processo com análise provisória do mérito porque a decisão que concedeu a tutela
provisória estabilizada pode ser revista, conforme será detalhado no próximo tópico, não fazendo coisa julgada;

2ª Corrente: sentença sem resolução do mérito porque o processo acabou sem que o juiz tivesse que enfrentar o pedido,
somente deu a tutela antecipada e não houve impugnação do réu, apesar de ter havido enfrentamento do direito
pleiteado pela parte.

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➢ O professor discorda dessas duas correntes, porque para ele parece que há a apreciação provisória do mérito,
acreditando que essa sentença é sui generis, com características próprias, não se encaixando nem no art. 485
nem no art. 487 do CPC;

➢ Essa sentença fixará honorários devidos ao advogado da parte contrária que, em tese, trabalhou menos porque
não impugnou a decisão.

ENUNCIADO 18 DA ENFAM: Na estabilização da tutela antecipada, o réu ficará isento do pagamento das custas e os
honorários deverão ser fixados no percentual de 5% sobre o valor da causa (art. 304, caput, c/c o art. 701, caput, do
CPC/2015 1).

e) Revisão Tutela Antecipada estabilizada (304, §§ 2º a 4º) (sem limite de tema) (Tutela Antecipada – Enunciado
n. 26 da ENFAM)

Tutela antecipada antecedente, não havendo recurso, se estabiliza. No momento em que se profere a sentença sui generis
mencionada no tópico anterior, as duas partes estavam satisfeitas, com o autor recebendo o medicamento e o réu
pagando o medicamento ao autor.

Acontece que, no curso dos efeitos da tutela antecipada estabilizada, as partes podem mudar de ideia e, quando isso
ocorre, deve ser permitido que elas possam rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada antecedente estabilizada.

➢ Qual a lógica na possibilidade de rever, reformar ou invalidar essa estabilização? Por um simples motivo, a tutela
que se estabilizou é provisória, concedida em cognição sumária, com juízo de probabilidade.

Art. 304 do CPC. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder
não for interposto o respectivo recurso.
§ 2º Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada
estabilizada nos termos do caput.

§ 3º A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito
proferida na ação de que trata o § 2o.

1
Art. 701 do CPC. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de
coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o
cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.

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§ 4º Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi concedida a medida, para instruir a
petição inicial da ação a que se refere o § 2o, prevento o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.

➢ Exemplo: o indivíduo ingressa com ação contra o Estado, com o pedido de que seja fornecido tratamento capilar
contra calvície, pedindo uma tutela antecipada antecedente, concedida pelo juiz de primeira instância com
fundamento no bem-estar psíquico. O Estado, citado, não recorre ante a jurisprudência pacífica favorável à tese
do autor e a decisão se estabiliza e o tratamento é concedido por meses ao autor. Entretanto, surgem novos
estudos revelando que, apesar da eficácia capilar, tal tratamento oferece altíssimo risco de infarto aos seus
pacientes. Assim, o Estado ou o autor pode fazer um pedido de invalidação da tutela antecipada estabilizada em
primeiro grau de jurisdição, ao juízo da decisão que é prevento, sendo tal pedido feito em ação autônoma →
não se trata de ação rescisória.

Essa ação autônoma não tem limite de tema, podendo a parte alegar qualquer coisa, diferentemente da ação rescisória.

ENUNCIADO 26 DA ENFAM: Caso a demanda destinada a rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada
seja ajuizada tempestivamente, poderá ser deferida em caráter liminar a antecipação dos efeitos da revisão, reforma ou
invalidação pretendida, na forma do art. 296, parágrafo único, do CPC/2015, desde que demonstrada a existência de
outros elementos que ilidam os fundamentos da decisão anterior → comprovação dos estudos no exemplo acima.

f) Prazo para a ação revisional e termo inicial (304, § 1º e § 5º, CPC)

Art. 304 do CPC. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder
não for interposto o respectivo recurso.
§ 1º No caso previsto no caput, o processo será extinto.

§ 5º O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2º deste artigo, extingue-se após 2
(dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos termos do § 1º.

➢ Em questões discursivas, podemos abordar que alguns autores, como Teresa Arruda Alvim, sustentam que esse
prazo de dois anos para a revisional da tutela antecipada antecedente estabilizada é inconstitucional porque
tutelas provisórias nunca podem se perenizar ad eternum, podendo sempre serem revistas;

➢ Em questões objetivas, opte pela lei. O prazo de 02 anos de que se trata o art. 304, § 5º do CPC é constitucional
e contado da ciência da decisão que extinguiu o processo.

g) Coisa julgada e cabimento de ação rescisória após 02 anos (Enunciado n. 27 ENFAM)

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Imaginemos que sobreveio uma sentença que estabilizou a tutela antecipada antecedente, conforme art. 304 § 1º,
determinando a entrega mensal do tratamento capilar. Até 02 anos, qualquer um pode rever essa decisão, nos termos do
artigo acima.

➢ E se completar os 02 anos sem que ninguém tenha pedido a revisão, acontece a coisa julgada?

➢ Se assim for, o efeito do decurso dos 02 anos é o mesmo do art. 502 2?

➢ A parte poderia, no prazo de mais dois anos, ajuizar a ação rescisória com fundamento no art. 966?

Para responder os questionamentos acima, existem três correntes doutrinárias, sendo que a jurisprudência ainda é omissa
acerca do tema:

1ª Corrente: da professora Teresa Arruda Alvim, esse raciocínio é inteiramente inaplicável porque, para ela, não existe o
prazo para revisional e jamais fará coisa julgada;

2ª Corrente: é a majoritária na doutrina. O prazo de 02 anos é final e, depois do transcurso desse prazo, haverá uma
estabilização qualificada da tutela antecipada antecedente, não sendo, entretanto, uma estabilização com a mesma
“força” que ocorre na coisa julgada;

➢ Os efeitos são semelhantes, mas não atinge o mesmo status de imutabilidade e indiscutibilidade nem sofre o
efeito positivo da coisa julgada, ou seja, no caso da tutela provisória, qualquer juiz pode decidir de modo diverso
se houver provocação em outro processo.

ENUNCIADO N. 27 DA ENFAM: Não é cabível ação rescisória contra decisão estabilizada na forma do art. 304 do CPC/2015.

Não cabe ação


rescisória
Consequências da
2ª Corrente
Nada impede a Não tem o efeito
propositura de positivo da coisa
nova demanda julgada

2
Art. 502 do CPC. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito
não mais sujeita a recurso.

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3ª Corrente: é a do professor e de outros doutrinadores. Na opinião do professor, a discussão deveria ser resolvida de
forma mais simples. Durante 02 anos, a partir da sentença do § 1º do art. 304, cabe ação revisional. Depois desse prazo,
se opera a coisa julgada.

➢ Consequência = o fenômeno da estabilização tem os mesmos efeitos do art. 502 do CPC, sendo cabível, por mais
02 anos a ação rescisória com base em algum dos fundamentos no art. 966. Terminado esse segundo prazo, nunca
mais nenhum juiz pode decidir de forma diversa, ocorrendo o efeito positivo da coisa julgada.

3.14. TUTELA DA EVIDÊNCIA – previsão no art. 311 e em procedimentos especiais

Esse tipo de tutela não é fundada no periculum in mora porque o sistema faz a opção do direito evidente, da altíssima
probabilidade de uma das partes estar correta.

a) Inicial completa (formulação do pedido principal) (TEM SÓ INCIDENTAL): justamente porque o legislador proibiu
essa tutela na modalidade antecedente, a inicial formulada deve ser completa com todos os requisitos dos arts.
319/320.

b) Hipóteses de cabimento (são 04 + parte especial – liminares na possessória, busca e apreensão do Decreto Lei
n. 911/69) (ampliação e intepretação extensiva - 30 e 31 ENFAM)

Art. 311 do CPC. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de
risco ao resultado útil do processo, quando:
I - Ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte (tutela da evidência
“sanção”);

➢ Exemplo: uma pessoa exige que a outra parte lhe entregue um carro que foi objeto de suposta doação verbal. O
réu discorda, negando que tenha feito tal doação de veículo. O autor, residente em Goiânia, diz que tem três
testemunhas do fato e pede para que o juiz depreque a oitiva para Porto Alegre, Manaus e em Sergipe, onde
residem as supostas testemunhas. As precatórias voltam, depois de seis meses, sem encontrar ninguém. O autor
se desculpa, alegando que trocou os endereços das cidades, pedindo para ouvi-las novamente de novo. As
precatórias retornam, depois de outros seis meses, sem achar ninguém e o autor alega que todos se mudaram. O
réu, então, se manifesta no sentido de que o autor está abusando do direito de defesa. O juiz, concordando,
defere a tutela de evidência mandando entregar o carro ao réu, ante o manifesto abuso de direito da parte autora.

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II - As alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente E houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos (IRDR, RE e REsp repetitivos, conforme art. 928 do CPC 3) ou em súmula vinculante;

Prova Precedente
Documental Qualificado

➢ A segunda hipótese do art. 311, II, à luz dos enunciados 30 e 31 da ENFAM vem recebendo pela doutrina uma
interpretação extensiva, a fim de reconhecer não somente nos casos repetitivos e súmulas vinculantes, como
também em qualquer precedente qualificado do art. 927.

ENUNCIADO N. 30 DA ENFAM: É possível a concessão da tutela de evidência prevista no art. 311, II, do CPC/2015 quando
a pretensão autoral estiver de acordo com orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle
abstrato de constitucionalidade ou com tese prevista em súmula dos tribunais, independentemente de caráter vinculante.

ENUNCIADO N. 31 DA ENFAM: A concessão da tutela de evidência prevista no art. 311, II, do CPC/2015 independe do
trânsito em julgado da decisão paradigma.

III - Se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que
será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa (ação de depósito e SV 25 do STF);

Súmula Vinculante n. 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

IV - A petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o
réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. (julgamento antecipado e art. 1.012, § 1º, V, NCPC?)

➢ ATENÇÃO: muitos doutrinadores alegam que, nessa hipótese, seria caso de julgamento antecipado, conforme art.
355, I porque, se o autor alega e o réu contesta de forma genérica, “dizendo nada com nada”, não é necessária a
produção de provas. O juiz pode, portanto, fazer as duas coisas. Julga antecipadamente concedendo a tutela de
evidência na sentença para anular o efeito suspensivo da apelação.

3
Art. 928 do CPC. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em:
I - Incidente de resolução de demandas repetitivas;
II - Recursos especial e extraordinário repetitivos.
Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material ou processual.

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c) Possibilidade de concessão liminar (311, parágrafo único, e 9º, CPC)

Só é permitida a concessão liminarmente, ou seja, sem a oitiva do réu, nas hipóteses do 311, incisos II e III.

Art. 9º do CPC: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

Art. 311 do CPC. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de
risco ao resultado útil do processo, quando:
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente.

PROCEDIMENTO COMUM: PETIÇÃO INICIAL

1. PETIÇÃO INICIAL

1.1. Aspectos gerais e conceito (instrumento da demanda)

A petição é corretamente conceituada pela doutrina como sendo o instrumento da demanda porque, é por meio dela,
que se exerce a demanda.

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➢ “Demanda” está no plano ideal, abstrato, sendo o direito de provocar o Estado a lhe prestar a tutela jurisdicional
e tal direito é exercido por intermédio da propositura da petição inicial.

Para ficar claro, façamos uma analogia com contrato e termos do contrato. Contrato está no plano abstrato,
consubstanciada na relação jurídica e o que é assinado são os termos, o instrumento do contrato.

1.2. Efeitos da propositura/protocolo da inicial (312 do CPC)

A petição inicial, por si só, não produz nenhum efeito. O que produz efeitos são a propositura, o protocolo da inicial →
iniciando a demanda, a ação.

Art. 312 do CPC. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da ação
só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado.

a) No registro ou distribuição:

Existem momentos distintos. O protocolo ocorre quando o advogado termina de redigir a peça e aperta a tecla “enter”
para enviar essa peça para o Poder Judiciário, no caso dos processos eletrônicos, sendo gerado um número. Nesse
momento, o único efeito que surge é o começo do processo.

Os efeitos processuais e materiais só ocorrem em um momento posterior, na etapa do registro (vara única) ou
distribuição (mais de uma vara com a mesma competência territorial). A partir de então, surgem dois efeitos:

i) perpetuatio jurisdictionis (43 CPC) – fixação e manutenção da competência até o final do


processo

Art. 43 do CPC. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão
judiciário ou alterarem a competência absoluta.

ii) prevenção (59 e 286 CPC) – uma vez prevento o juízo, passa a receber as ações conexas ou
continentes relativas ao mesmo caso

Art. 59 do CPC. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.

Art. 286 do CPC. Serão distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza:
I - Quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;

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II - Quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio
com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda;

III - quando houver ajuizamento de ações nos termos do art. 55, § 3º, ao juízo prevento.
Parágrafo único. Havendo intervenção de terceiro, reconvenção ou outra hipótese de ampliação objetiva do processo, o
juiz, de ofício, mandará proceder à respectiva anotação pelo distribuidor.

b) No despacho positivo: interromper precariamente a prescrição, retroação à data da propositura/protocolo


(240, § 1º, CPC e 202, I, CC)

Nesse despacho, o juiz apenas determina a citação da parte contrária, havendo a admissão da ação, surgindo um novo
efeito de interromper precariamente a prescrição.

Art. 240 do CPC. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a
coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 do Código Civil).
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.

Art. 202 do CC. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - Por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma
da lei processual;

➢ ATENÇÃO: o indivíduo pode protocolar a petição inicial às vésperas de prescrever e, até registrar/distribuir e o
juiz despachar determinando a citação do réu, poderia já ter ocorrido a prescrição. Assim, o sistema adota uma
ficção jurídica. Portanto, o momento é o do despacho positivo, porém haverá uma retroação à data do protocolo.

Efeitos do Protocolo Efeitos do Registro/Distribuição Efeitos do despacho de Citação


Inicia o processo Perpetuatio jurisdicionis Interrupção precária da prescrição → despacho
Prevenção com o “cite-se”

1.3. Requisitos da petição inicial (art. 319/320 CPC)

Como todos os requisitos são claros e estão expressamente previstos, o professor não viu sentido em expor todos em
aulas, visto que estão todos positivados na lei, recomendando a leitura atenciosa dos dispositivos. Entretanto, alguns se
destacam, merecendo especial atenção.

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a) Partes e suas qualificações (§§ - diligências/dispensa) (réus incertos – art. 554 e §§ CPC)

Art. 319 do CPC. A petição inicial indicará:


II - Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do
réu;

§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz
diligências necessárias à sua obtenção.

➢ Obs. 1: A rigor, o autor deve preencher todas informações constantes do 319, II. Entretanto, muitas vezes o autor
deixa o carro para arrumar na “Oficina do Alemão” e só tem o endereço do réu. Se, eventualmente, faltarem
dados, é dever do juiz realizar as diligências necessárias à obtenção desses dados, sendo vedado o
indeferimento da inicial (Banco Central, sistemas RENAJUD, DETRAN, INFOJUD, etc.).

§ 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a
citação do réu.

§ 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais
informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.

➢ Obs. 2: demanda contra réus incertos. Cabíveis principalmente em conflitos coletivos pela posse ou propriedade
de determinada área. Como no caso que a reitoria demanda pleiteando a remoção dos estudantes que invadiram
a universidade ou os invasores de uma fazenda, seguindo o procedimento dos §§ do art. 554.

Art. 554 do CPC. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e
outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.

§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal
dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais (art. 259, III), determinando-se, ainda,
a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.

§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-
se por edital os que não forem encontrados.

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§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista no § 1º e dos respectivos prazos
processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região
do conflito e de outros meios.

b) Opção pela realização da audiência do art. 334 CPC

No Procedimento Comum, se o juiz admitir a inicial, a primeira medida é o agendamento da audiência de conciliação que
somente não ocorre quando autor (na própria petição inicial) e o réu manifestarem expressamente o desinteresse. O
silêncio do autor na inicial importa anuência com a audiência conciliatória.

c) Documentos indispensáveis (320 CPC)

Documento indispensável é aquele cuja análise seja inerente ao próprio cabimento/processamento da ação. À exceção
desses, todos os demais documentos podem ser juntados no curso do processo.

➢ Exemplo 1: na ação de divórcio, o documento indispensável é a certidão de casamento;

➢ Exemplo 2: na ação de retificação de área de imóvel, o documento indispensável é a matrícula do imóvel;

➢ Exemplo 3: na ação revisional do contrato, o contrato não é documento indispensável. No curso do processo, tal
documento pode ser juntado, até mesmo por pedido de exibição de documento. Da mesma forma, não é
indispensável o recibo de pagamento em ação de cobrança, que pode ser juntado posteriormente.

d) Capacidade postulatória de quem assina (76 e 104 CPC)

São admissíveis somente, em regra geral, ações patrocinadas por quem tenha a capacidade postulatória → advogados

Art. 76 do CPC. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá
o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício (...).

Art. 104 do CPC. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão,
decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente.

§ 1º Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo
de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz.

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§ 2º O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o
advogado pelas despesas e por perdas e danos.

➢ Exceções: capacidade postulatória a quem não é advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB. São alguns
exemplos: habeas corpus, ação de alimentos e juizado especial até 20 salários mínimos o valor da causa.

e) Requisitos específicos de alguns procedimentos especiais (330, § 2º e 3º, CPC) (917, § 3º, CPC)

Art. 330 do CPC. A petição inicial será indeferida quando:


(...)

§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação
de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas
que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.

§ 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados.

Art. 917 do CPC. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:


(...)

§ 3º Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o embargante
declarará na petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu
cálculo.

2. PEDIDO

Corresponde ao objeto do processo, sendo o requisito mais importante da petição inicial.

2.1. Espécies

a) Imediato – provimento jurídico desejado.


b) Mediato – bem da vida

➢ Exemplo 1: sentença declaratória (imediato) e declaração de inexistência da dívida (mediato);

➢ Exemplo 2: sentença condenatória (imediato) e R$ 50.000,00 (mediato);

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➢ Exemplo 3: sentença desconstitutiva (imediato) e divórcio (mediato);

➢ Exemplo 4: busca e apreensão (imediato) dos animais (mediato) → exemplo do Processo de Execução.

2.2. Princípio da congruência dos pedidos ou da adstrição (141 e 492 CPC)

A petição inicial é o rascunho da sentença porque o pedido da petição inicial limita a atividade sentencial do juiz.

Art. 141 do CPC. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não
suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

Art. 492 do CPC. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da PEDIDA, bem como condenar a parte em
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional.

2.3. Pedido certo (322 CPC)

A expressão “certo” deve ser lida como “expresso”. Essa regra do pedido certo, expresso, acaba sofrendo certa mitigação
pelo que consta do seu próprio § 1º abaixo, a denominada teoria dos pedidos implícitos.

Art. 322 do CPC. O pedido deve ser certo.

§ 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os


honorários advocatícios.

2.4. Pedido determinado (324 CPC)

O sentido de determinado, nesse dispositivo, é “quantificado”.

Art. 324 do CPC. O pedido deve ser determinado.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.

2.5. Pedido genérico e liquidação de sentença (324, § 1º, 491 e 509 CPC)

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As três situações do § 1º do art. 324 possibilitam, excepcionalmente, que o pedido seja certo porém não
determinado/quantificado porque, ou não há possibilidade de quantificar ou, no momento da propositura, não é possível.

Art. 324 do CPC. O pedido deve ser determinado.

§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:


I - Nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados (herança);
II - Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato (futuro tratamento em casos de
acidente de trânsito);
III - Quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu
(necessário verificar o prejuízo do contrato parcialmente cumprido pelo réu)

➢ Mas e se o juiz der uma sentença genérica, eu não vou conseguir executar? Para resolver esse problema, esses
pedidos genéricos estão intimamente ligados com a liquidação de sentença (art. 509).

Art. 491 do CPC. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá
desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a
periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando:
I - Não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido;
II - A apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa,
assim reconhecida na sentença.

§ 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação.

§ 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença.

Art. 509 do CPC. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a
requerimento do credor ou do devedor:

I - Por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto
da liquidação;
II - Pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo.
(...)

2.6. Pedido genérico de dano moral? (Súmula n. 326 do STJ x art. 292, V, CPC)

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➢ É possível formular pedido de dano moral, sem quantia expressa, em valor a ser fixada pelo juiz? Esta é uma
hipótese atécnica, porque não consta do rol do art. 324, §1º, apesar de ser admitida pela jurisprudência superior
antes do novo dispositivo do CPC/2015.

A doutrina majoritária entende, portanto, que a partir do disposto no art. 292, V, do CPC/2015, é necessário que o pedido
moral seja formulado com o valor pretendido, ainda que seja lícito ao juiz arbitrar valor inferior.

Súmula n. 326 do STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial
não implica sucumbência recíproca → NÃO SE RELACIONA COM PEDIDO GENÉRICO, MAS SIM COM SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA.

Art. 292 do CPC. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:
V - Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;

2.7. Interpretação dos pedidos e pedidos implícitos (322, §2º, CPC).

Art. 322 do CPC. O pedido deve ser certo.


(...)
§ 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.

➢ Exceções (cumulação legal de pedidos). O pedido tem que ser certo, expresso. Eventualmente, podem ser
interpretados ampliativamente (teoria dos pedidos implícitos). Além disso às vezes a própria lei,
independentemente de pedido das partes, permite que o juiz conceda tutela em algumas situações → cumulação
legal de pedidos.

a) Prestações periódicas (323 CPC) – verbas alimentícias, alugueres, etc.

Art. 323 do CPC. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão
consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na
condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.

➢ Existe precedente polêmico no STJ determinando a aplicação desse dispositivo ao Processo de Execução.

b) Consectários legais (322, § 1º, CPC) (art. 404 CC) – juros legais de mora, derivados da lei. Os juros
contratuais, compensatórios devem ser pedidos.

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Art. 322 do CPC. O pedido deve ser certo.
§ 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os
honorários advocatícios.

Art. 404 do CC. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo
da pena convencional.

c) Honorários e custas (322, § 1º, e 85, § 18, CPC) (s. 453, STJ)

Art. 85 do CPC. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.


(...)
§ 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos honorários ou ao seu valor, é cabível ação
autônoma para sua definição e cobrança.

➢ Pela redação do art. 85, § 18 do CPC, ficou prejudicada a súmula n. 453 do STJ.

Súmula n. 453 do STJ: os honorários sucumbenciais, quando omitidos em decisão transitada em julgado, não podem ser
cobrados em execução ou em ação própria.

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