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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Lei de Abuso de autoridade II
Renato Brasileiro
Aula 02

ROTEIRO DE AULA

ABUSO DE AUTORIDADE
(Lei n. 13.869/19, de acordo com o Pacote Anticrime – Lei n. 13.964/19)

11. DECRETAÇÃO DE CONDUÇÃO COERCITIVA DE TESTEMUNHA OU INVESTIGADO MANIFESTAMENTE


DESCABIDA OU SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO DE COMPARECIMENTO AO JUÍZO.

Lei n. 13.869/19

Art. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia
intimação de comparecimento ao juízo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

12. OMISSÃO QUANTO À COMUNICAÇÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE À AUTORIDADE JUDICIÁRIA NO PRAZO


LEGAL E CONDUTAS EQUIPARADAS.

- A comunicação de qualquer prisão deve ser comunicada imediatamente a autoridade judiciária e, no caso de
prisão em flagrante, tal comunicação deve se dar no prazo de 24 horas, sob pena de se recair no delito do Art.
12 da LAA.

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Lei n. 13.869/19

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária


que a decretou;

II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família
ou à pessoa por ela indicada;

III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;

IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida
de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de
soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou
legal.

Sujeito ativo: é o agente público que tenha a obrigação de comunicar a prisão a autoridade judiciária, isto é,
o delegado de polícia.

Comunicação: o delegado de polícia deve comunicar a prisão em flagrante ao juiz das garantias (Art. 3º-B, I e
II, LAA), que é quem detém a competência para a fase investigatória, isto é, até o recebimento da peça
acusatória.

Norma penal em branco: o prazo legal a que se refere o Art. 12 da LAA está previsto em outras normas, como
o Art. 306 do CPP. Daí se concluir que o Art. 12 é espécie de norma penal em branco.

DOUTRINA: o prazo legal a que se refere o Art. 12 é o que consta do Art. 306, §1º do CPP, que prevê um prazo
de 24 horas para a remessa do Auto de Prisão em Flagrante para a autoridade judiciária. Trata-se, portanto,
de norma penal em branco HOMOGÊNEA e HETEROVITELINA. É homogênea porque o complemento do Art.

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12 é oriundo da mesma fonte legislativa que editou o preceito primário que precisa ser complementado (no
caso em questão, o Congresso Nacional). É heterovitelina porque o complemento está contido em outro
diploma legal.

ATENÇÃO: se a lei utiliza palavras diversas é porque o legislador possui intenção diversa. Assim, por mais
complicado que possa ser definir o que significa o termo IMEDIATAMENTE referido no inciso I, não é possível
estabelecer para ele o mesmo prazo que o da prisão em flagrante (24 horas), dado que o cumprimento de um
mandado de prisão preventiva ou temporária é muito mais rápido do que a lavratura de um auto de prisão
em flagrante. Logo, o termo imediatamente tem sentido mais restritivo para os demais casos.

Tutela da liberdade de locomoção: é fácil olhar para o Art. 12 e visualizar que ele como um todo tutela a
liberdade de locomoção. Com efeito, de nada adianta a Constituição assegurar a assistência da família e de
advogado se não houver uma norma penal que puna a conduta comissiva do agente público que não dá ao
preso direito a esse acesso.

Nota de culpa: a nota de culpa nada mais é do que um documento entregue ao preso em flagrante, com vistas
a dar ciência a ele de quais são os motivos e quais são os responsáveis por sua prisão. Além disso, o nome das
testemunhas também deve constar da nota de culpa.

DOUTRINA: excepcionalmente, é possível que o nome do condutor e das testemunhas não conste da nota de
culpa sem que isso seja considerado como crime. O fundamento da exceção pode ser encontrado com base
nas leis 12.890/12 (Lei das Organizações Criminosas) e 9.807/99 (Lei de Proteção às Testemunhas).

Previsão expressa do período da prisão temporária: o Art. 2º, §4º-A da Lei 7960/89 (Lei da Prisão Temporária)
estabelece que o mandado de prisão temporária conterá, necessariamente, o período de duração da prisão
temporária, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado. Se a prisão temporária não for prorrogada
ou convertida em prisão preventiva, o indivíduo deve ser colocado em liberdade, sob pena do juiz recair no
delito do Art. 12, IV, LAA, o qual restará caracterizado quando presente o dolo específico exigido.

Enunciado n. 9 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “A execução
imediata do alvará de soltura deve ocorrer após o cumprimento dos procedimentos de segurança necessários,
incluindo a checagem sobre a existência de outras ordens de prisão e da autenticidade do próprio alvará”.

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- O enunciado vem ao encontro dos casos em que existem dúvidas acerca da autenticidade do alvará, bem
como em relação aqueles casos nos quais a autoridade tem dúvidas sobre a possível existência de outros
mandados de prisão.

13. CONSTRANGIMENTO DE PRESO OU DETENTO.

Preso x detento: a lei utiliza duas palavras diversas (preso e detento) para significar situações distintas.
Entende-se a situação de preso como aquela em que a prisão já foi formalizada (ex.: auto de prisão em
flagrante já lavrado), ao passo que a situação do detento é aquela em que a prisão ainda não foi formalizada
(ex.: policial deu voz de prisão a uma pessoa).

Interesse público na exibição do preso: em geral, a exibição do preso não atende a nenhuma finalidade
pública, sendo o objetivo da autoridade apenas se autopromover. Excepcionalmente, porém, pode ser que
haja interesse público envolvido, como no caso de alguns crimes sexuais, nos quais a exibição do preso auxilia
outras vítima a identificarem o acusado e denunciarem.

Exemplos (situação vexatória): (i) preso que é obrigado a bater palmas e cantar parabéns, pois foi recolhido
a prisão no dia do seu aniversário; (ii) preso que é obrigado a vestir roupas de mulher; (iii) preso que é obrigado
a sair pedindo desculpas para todos na rua e é filmado fazendo isso.

ATENÇÃO: o flagrante é um constrangimento autorizado em lei. O que o inciso II incrimina é o


constrangimento não autorizado.

Exemplo.: se um diretor de presídio coloca o preso no RDD sem autorização, ele exerce uma espécie de
constrangimento não autorizado em lei.

ATENÇÃO: apesar do uso de algemas não ser um crime autônomo, é possível que tal uso seja criminalizado.

Exemplo.: policial coloca algemas em uma pessoa de 95 anos que já está em cadeira de rodas.

LEMBRE-SE: há entendimento sumulado no sentido de que o uso de algemas é uma medida de natureza
excepcional, cabível apenas nos casos em que há um risco para os envolvidos na situação de perigo de fuga.

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- O inciso III do Art. 12 tutela não apenas o direito de não produzir provas contra si mesmo, mas também o
direito de não produzir provas contra terceiros.

Exemplo.: o preso que é obrigado a mostrar todas as suas mensagens de whatsapp para a autoridade que o
prendeu.

Lei n. 13.869/19

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade
de resistência, a:

I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

III - (VETADO).

III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência.

CPP (Redação dada pela Lei n. 13.964/19)

Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento dos presos,
impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da
pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal.

Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias,
o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão, de modo
padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa,
assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à
prisão.’”

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ATENÇÃO: não se pode confundir o delito do Art. 13, III da LAA com o crime de tortura-confissão, na medida
em que os dois diferenciam-se em, pelo menos, 03 (três) aspectos. Em primeiro lugar, o crime previsto na LAA
é crime próprio (Art. 2º, LAA), o que não acontece com a tortura-confissão que é crime comum. Em segundo
lugar, o crime da LAA pode ser cometido mediante violência; grave ameaça ou violência imprópria, ao passo
que o crime de tortura-confissão não admite a violência imprópria. Em terceiro lugar, na tortura-confissão, é
necessário que haja um resultado (causação de sofrimento físico ou mental), o que não acontece com os
delitos da LAA. Por fim, os crimes da LAA configuram-se mediante a prática de um especial fim de agir (dolo
específico) distinto daquele previsto para o crime de tortura-confissão.

Lei n. 9.455/97

Art. 1º. Constitui crime de tortura:

I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

(...)

14. CONSTRANGIMENTO A DEPOR, SOB AMEAÇA DE PRISÃO, DE PESSOA QUE DEVA GUARDAR SEGREDO
OU RESGUARDAR SIGILO EM RAZÃO DE FUNÇÃO, MINISTÉRIO OU PROFISSÃO, E FIGURAS EQUIPARADAS.

Natureza do constrangimento: algumas pessoas tem o segredo como elemento essencial da função por elas
exercidas. Desta forma, a ideia do tipo penal contido no Art. 15 é obstar que tais pessoas sejam constrangidas
a depor (Art. 207, CP). Não se trata, contudo, de qualquer constrangimento, mas um constrangimento
exercido por meio da ameaça de prisão.

Natureza do interrogatório contido no tipo: o parágrafo único do Art. 15 não existe constrangimento, pois
seu tipo objetivo é tão somente prosseguir com o interrogatório. Cabe mencionar que o interrogatório aqui
aludido abrange, pelo menos em tese, tanto o interrogatório policial quanto o judicial.

RENATO BRASILEIRO: se o investigado/acusado já advertiu a autoridade de que permanecerá em silêncio, esta


não poderá prosseguir com as perguntas, sob pena de responsabilização criminal, desde que presente o dolo
específico. Além disso, não poderá ser tido como prejudicial o fato de o réu permanecer em silêncio ou as

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razões pelas quais a pessoa pretende exercer esse direito. Infelizmente, a criação do tipo penal na LAA não foi
acompanhada da mudança correspondente no CPP.

LEMBRE-SE: o direito ao silêncio não abarca a qualificação/identificação do investigado/acusado.

Presença obrigatória de advogado: Na mesma toada do Art. 7º, XXI do EOAB (Lei 8.906/94), o Art.15, II da LAA
criminaliza a conduta daquele que impede que o investigado/acusado seja assistido por advogado durante o
ato. No interrogatório judicial, a presença do advogado é obrigatória. O grande problema está no caso do
interrogatório policial/ministerial, onde a presença do advogado não era exigida até a edição da LAA. Também
no caso desta mudança a criminalização não foi acompanhada da necessária mudança no CPP, que previsse a
obrigatoriedade nos dois casos de um modo expresso. Deve-se ter cuidado, porém, pois a presença só será
obrigatória se o investigado/acusado optar por ser assistido por um advogado.

Lei n. 13.869/19

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório:

I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou

II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu
patrono.

CPP

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam
guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

CPP

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Art. 191. Deverão ser consignadas as perguntas que o réu deixar de responder e as razões que invocar para
não fazê-lo.

Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente. (Redação dada pela Lei n.
10.792/03)

CPPM

Art. 305. (...)

Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas que o acusado deixar de responder e as razões que invocar
para não fazê-lo.

15. OMISSÃO DE IDENTIFICAÇÃO OU IDENTIFICAÇÃO FALSA AO PRESO.

Objetivo da criminalização: todo preso tem direito a identificação dos responsáveis por sua prisão. Portanto,
nada mais natural do que a LAA tipificar uma conduta nesse sentido. Trata-se de falsa identificação que, em
geral, é praticada pelo agente público de modo a evitar possível responsabilização por alguma tortura ou outro
ato criminoso que ele praticar naquele momento. A figura do Art. 16 da LAA é muito próxima a figura do Art.
307 do CP.

Lei n. 13.869/19

Art. 16. Deixar de identificar-se (= conduta omissiva) ou identificar-se falsamente (= conduta comissiva) ao
preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa
identidade, cargo ou função.

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16. SUBMISSÃO DE PRESO A INTERROGATÓRIO POLICIAL DURANTE O PERÍODO DE REPOUSO NOTURNO.

Proteção da liberdade de autodeterminação do interrogando: no Brasil, não há muita regulamentação sobre


a proteção da liberdade de autodeterminação do interrogando. Nesse sentido, o crime de submissão de preso
a interrogatório policial durante o período de repouso noturno vem ao encontro da proteção deste princípio.
Também essa mudança não veio acompanhada da necessária alteração no CPP, que tal como o Código de
Processo Penal Militar, deveria prever em qual período a pessoa poderia ser interrogada e durante quanto
tempo.

Lei n. 13.869/19

Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo se capturado
em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar declarações:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Elemento normativo do tipo (“repouso noturno”): o delito do Art. 18 também é marcado pela presença de
um conceito jurídico indeterminado, qual seja, o repouso noturno. O Art. 155, §1º do CP traz o repouso
noturno como uma qualificadora do furto. Ao tratar do assunto, a doutrina menciona que a expressão pode
ser melhor compreendida como uma espécie de costume, já que o período de repouso noturno em um lugar
(ex.:São Paulo capital) não é o mesmo de outro (ex.: cidade do interior de Minas Gerais). No que toca a LAA,
o ideal é entender que o conceito pode ser encontrado na própria lei, pois a própria lei, ao tratar do crime de
violação a domicílio, conceitua o que pode ser entendido como “noite”. A partir desta observação, podemos
entender o repouso noturno como o período compreendido entre 21h e ás 5h. Por isso, como regra, o
interrogatório não poderá ser feito durante este período, salvo raras exceções, como a prisão em flagrante –
cujo prazo de comunicação ao juiz é muito exíguo – e quando o indivíduo, estando devidamente assistido
(advogado?), aceitar a prestar depoimento.

Lei n. 13.869/19

Art. 22. (...)

§1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

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(...)

III – cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21 (vinte e uma) horas ou antes das 5 (cinco)
horas.

Enunciado n. 11 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “Para efeitos
do art. 18 da Lei de Abuso de Autoridade, compreende-se por repouso noturno o período de 21h00 a 5h00,
nos termos do art. 22, §1º, III, da mesma Lei”.

Enunciado n. 12 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “Ressalvadas
as hipóteses de prisão em flagrante e concordância do interrogado devidamente assistido, o interrogatório
extrajudicial do preso iniciado antes, não pode adentrar o período de repouso noturno, devendo ser o ato
encerrado e, se necessário, complementado no dia seguinte.”

17. IMPEDIMENTO OU RETARDAMENTO DO ENVIO DE PLEITO DE PRESO À AUTORIDADE JUDICIÁRIA


COMPETENTE.

Lei n. 13.869/19

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade judiciária competente
para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora, deixa de
tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de
enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.

- Muitas vezes, o preso tem grandes dificuldades de manter contato com o mundo exterior, sobretudo se não
tem assistência da família; de um procurador ou quando não conta com a colaboração da polícia penal ou dos
agentes penitenciários. Nesse sentido, a lei visa coibir a conduta do agente público que obsta o envio do pleito
formulado pelo preso ao juiz competente. O problema aqui está na palavra pleito, cujo significado é
determinante neste caso. A palavra pleito é sinônimo de questão judicial; litígio ou demanda. Ainda assim, fica

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difícil identificar o que pode vir a ser uma demanda formulada por um preso. Uma leitura da integralidade do
Art. 19, contudo, nos permite realizar um paralelo entre pleito e a legalidade da prisão/custódia, o que nos
autoriza inferir que o pleito em questão pode ser equiparado a uma petição de habeas corpus.

18. RESTRIÇÃO, SEM JUSTA CAUSA, DA ENTREVISTA PESSOAL E RESERVADA DO PRESO COM SEU
ADVOGADO.

- De nada adianta o Estatuto da OAB prever que o individuo tem direito de se entrevistar privada e
reservadamente com seu advogado se não há instrumento coibindo a restrição injustificada dessa entrevista.
Tal entrevista é essencial para que o advogado colha os fundamentos de sua defesa técnica e, ao mesmo
tempo, oriente seu cliente no sentido do melhor exercício da defesa técnica.

Exemplo: no presídio de segurança máxima é possível a restrição de uma entrevista em período noturno. O
mesmo se diga dos casos em que o preso se encontra em RDD, onde o acesso é restrito.

Lei n. 13.869/19

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de entrevistar-
se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial,
e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou
no caso de audiência realizada por videoconferência.

- Geralmente, quando o advogado é constituído, é comum que o preso já tenha se entrevistado com ele, o
que pode não acontecer no caso de Defensor Público. Neste segundo caso, pode ser que a primeira
oportunidade de contato entre preso e defensor seja a audiência, motivo pelo qual o juiz deve conceder a eles
a oportunidade da entrevista em prazo razoável. Novamente tem-se o problema de um conceito aberto
quando há menção do termo “prazo razoável”.

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Extensão do direito de comunicação (1): o acusado é garantido o direito de comunicar-se com o seu defensor
durante a audiência. Quando esse direito é restringido, configura-se o crime do Art. 20 da LAA, tal como
quando não se concede que a entrevista seja feita em prazo razoável.

Extensão do direito de comunicação (2): durante o interrogatório não há direito de comunicação. O mesmo
se diga no caso da videoconferência.

Interpretação sistemática do direito de comunicação para tipificação do Art. 20 da LAA: uma lei não pode
mandar o que a outra proíbe. Logo, se o Art. 217 do CP possibilita a retirada do acusado da sala de audiência,
o acusado não ficará sentado ao lado de seu defensor, não configurando-se o crime do Art. 20 da LAA nesta
hipótese.

19. MANUTENÇÃO DE PRESOS DE AMBOS OS SEXOS NA MESMA CELA OU ESPAÇO DE CONFINAMENTO.

Caso Abaetetuba/PA: em meados de 2007, uma menina de 15 anos foi presa e colocada em uma cela com 20
homens durante 26 dias, sendo estuprada inúmeras vezes, na maioria dos casos para que ela tivesse acesso a
comida e materiais de higiene.

Lei n. 13.869/19

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na
companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei n. 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente).

- O Art. 21 da LAA vem ao encontro da própria Constituição, cujo Art. 5º, XLVIII garante que a pena será
cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito; a idade e o sexo do apenado. A
Lei de Execução Penal também esboça a mesma garantia em seu Art. 82, §1º.

Portaria interministerial nº 210/2014: o Ministério da Justiça instituiu a chamada politica nacional de atenção
às mulheres em situação de privação de liberdade.

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Resolução Conjunta nº1/2014 do Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciaria e do Conselho


Nacional do Combate a Discriminação: trata dos parâmetros de acolhimento de pessoas LGBT.

JURISPRUDÊNCIA

- Ao falarmos em divergência de sexos há de se observar a questão da identidade de gênero.

STF: “(...) a identidade de gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, como tal,
cabe ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa transgênero que comprove
sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi designada ao nascer por autoidentificação firmada
em declaração escrita desta sua vontade dispõe do direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e
da classificação de gênero no registro civil pela via administrativa ou judicial, independentemente de
procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema relativo ao direito fundamental ao livre
desenvolvimento da personalidade”. (STF, Pleno, ADI 4.275/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 01/03/2018, DJe 45
06/03/2019).

HC nº 152.491/STF: neste julgado, o Ministro Luís Roberto Barroso concedeu a ordem para que presos
transexuais fossem colocados em estabelecimentos compatíveis com as orientações da Portaria acima
referida, de modo que se quer se exigiu a observância do gênero constante do registro civil, mas apenas do
gênero social.

ATENÇÃO: o paragrafo único não menciona nada sobre o sexo, pois o seu objetivo é coibir a colocação de
criança ou adolescente junto a pessoas maiores de idade como forma de evitar a promiscuidade, pouco
importando se a pessoa maior é ou não do mesmo sexo.

20. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO EM UM CONTEXTO DE ABUSO DE AUTORIDADE.

- O Art. 22 da LAA trata do crime de violação de domicilio em um contexto de abuso de autoridade, motivo
pelo qual todas as outras discussões atreladas ao tipo penal podem ter como base o crime do Art. 150 do
Código Penal.

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Conceito de “casa” para fins de tipificação do crime da LAA: o conceito de casa é retirado do Art. 150, §§4º e
5º do Código Penal. Nesse sentido, podem ser considerados como casa um escritório; um barracão e, até
mesmo, um supermercado (nesta última hipótese apenas na parte que não é aberta ao público).

Lei n. 13.869/19

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel
alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial (=
cláusula de reserva de jurisdição) ou fora das condições estabelecidas em lei (= norma penal em branco
homogênea heterovitelina):

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;

II - (VETADO);

III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco
horas).

§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios que
indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre.

Norma penal em branco homogênea heterovitelina: o Art. 22, caput da LAA contém uma norma penal em
branco homogênea heterovitelina, pois coloca a necessidade de se buscar em outra norma os requisitos para
o cumprimento de um mandado judicial, ou seja, quais são as condições para que a polícia possa ingressar na
casa de alguém. Grosso modo, essas condições estão previstas no Art. 245 do CPP.

Mandado genérico: o mandado genérico é vedado pelo ordenamento, uma vez que todo mandado deve ser
individualizado.

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Exemplo (mandado genérico).: “dou autorização para que a polícia possa entrar em qualquer casa do bairro
“X”

Constituição Federal

Art. 5º. (...)

(...)

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial.

• Elemento normativo “dia”

- O termo “dia” sempre foi objeto de discussão por 3 correntes distintas:

1ª CORRENTE: período compreendido entre o nascer e o pôr do sol.

2ª CORRENTE: período compreendido entre 6 e 18h.

3ª CORRENTE: período em que há luminosidade solar.

- A LAA oferece um conceito de noite em seu Art. 22, III. O problema é que tal conceito é muito restritivo,
tendo em vista que seria muito difícil sustentar que alguns horários fora do período fornecido pela LAA seriam
tidos como dia. Aqui também existem 3 correntes:

1ª CORRENTE: o legislador recaiu em inconstitucionalidade, pois ampliou excessivamente o conceito de dia.

2ª CORRENTE: o inciso III é válido, mas desde que interpretado conforme a Constituição.

3ª CORRENTE (Renato): o inciso III é plenamente constitucional sem que haja a necessidade do elemento
“lumisosidade solar” para a sua interpretação. A razão da Constituição exigir o cumprimento da ordem judicial
durante o dia é respeitar o repouso noturno. Logo, ás 20h59, por exemplo, dificilmente alguém está dormindo.

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Além disso, vivemos em um país de dimensões continentais, de modo que em muitas localidades já é dia ás
5h.

RENATO BRASILEIRO: é melhor ter um conceito de dia definido em lei – ainda que este desagrade alguns – do
que depender da boa vontade do intérprete-aplicador ou do critério atrelado a luz solar. Mal ou bem esse
critério fornece segurança jurídica e, ainda que um pouco exagerado, está dentro de uma margem de
razoabilidade exigida da atuação legislativa.

JURISPRUDÊNCIA

- Nos últimos anos, os Tribunais Superiores tem exigido a chamada causa provável para o ingresso na casa
quando se tratar de hipótese de flagrante delito, pouco importando se o agente encontre algo ou não. A LAA
positiva a necessidade desta causa provável em seu Art. 22, §2º, LAA.

ATENÇÃO: no caso da chamada exploração de local – na qual coloca-se um grampo na casa de alguém durante
a diligência com objetivo de promover ali uma escuta ambiental - é possível ingresso no período noturno
(Inquérito nº 2424, STF).

Parâmetro para a tipificação (“início do cumprimento do mandado”): para fins de tipificação do delito
contido no Art. 22, III, LAA, interessa o início do cumprimento do mandado, pois a doutrina sempre entendeu
que o mandado deve ter início durante o dia, mas pode se prolongar durante a noite.

Enunciado n. 15 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “O mandado
de busca e apreensão deverá ser cumprido durante o dia (art. 5º, XI, CF/88). Mesmo havendo luz solar, veda-
se seu cumprimento entre 21h00 e 5h00, sob pena de caracterizar abuso de autoridade (art. 22, §1º, inc. III)”.

21. FRAUDE PROCESSUAL ESPECIAL EM CASO DE ABUSO DE AUTORIDADE.

- A figura contida no Art. 23 da LAA é praticamente uma reprodução do crime de fraude processual contido
no Art. 347 do CP. O que a LAA faz é apenas enquadrar a conduta em um contexto de abuso de autoridade.

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Lei n. 13869/19

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém
ou agravar-lhe a responsabilidade:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:

I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de diligência;

II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o curso da
investigação, da diligência ou do processo.

CP

Art. 347. Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa
ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:

Pena – detenção, de 3 meses a 2 anos, e multa.

Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas
aplicam-se em dobro.

22. CONSTRANGIMENTO DE FUNCIONÁRIO OU EMPREGADO DE INSTITUIÇÃO HOSPITALAR PÚBLICA OU


PRIVADA A ADMITIR PARA TRATAMENTO PESSOA MORTA.

Lei n. 13869/19

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de instituição hospitalar
pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local
ou momento de crime, prejudicando sua apuração:

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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Crime do Art. 24 e cadeia de custódia: à semelhança do que já foi estudado, o Art. 24 contém um dolo
específico diverso daquele contido no Art. 1º, §1º. Atualmente, o CPP foi alterado para prever muitas coisas
sobre a chamada cadeia de custódia, ou seja, sobre todo o processo atinente a documentação formal de uma
evidência. Daí a necessidade de se criminalizar a conduta de quem tenta constranger o funcionário de
instituição hospitalar a admitir pessoa morta em tratamento, visto que neste caso é muito provável que o
agente esteja buscando apagar os vestígios deixados por uma infração penal.

23. OBTENÇÃO DE PROVA POR MEIO MANIFESTAMENTE ILÍCITO.

- São inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos. Aquele que produz a prova ilícita
responderá pelos demais delitos juntamente com o delito contida na LAA.

Exigência de dolo direto: o delito do Art. 25, parágrafo único só pode ser punido a título de dolo direto, isto
é, não se admite a punição a título de dolo eventual.

Entram no conceito de “meio manifestamente ilícito”: (i) provas ilícitas (obtidas com base em violação de
regra de direito material – ex.: confissão sob tortura; encontro de drogas sem autorização judicial prévia;
etc...); (ii) provas derivadas das ilícitas (= Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada – ex.: cadáver encontrado
a partir da informação fornecida pelo torturado).

LEMBRE-SE: doutrina e jurisprudência admitem a prova ilícita pro reo, pois, neste caso, há hipótese de estado
de necessidade ou de legítima defesa (ex.: grampo sem autorização judicial que comprova a inocência do réu).

Não entram no conceito de manifestamente ilícito: (i) prova ilícita pro reo; (ii) teoria da fonte independente;
(iii) teoria da fonte inevitável; (iv) teoria da mancha puragada, dentre outras. Em nenhuma destas situações
há ilicitude, daí a sua não inclusão no conceito acima transcrito.

Lei n. 13869/19

Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio
manifestamente ilícito:

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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou fiscalizado,
com prévio conhecimento de sua ilicitude.

CPP (Redação dada pela Lei n. 13.964/19)

Art. 157. (...)

§5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou
acórdão.

- O §5º do 157 do CPP foi acrescentado pelo pacote anticrime. Trata-se de hipótese de descontaminação do
julgado, a partir da qual se entende que se o juiz teve contato com uma prova ilícita, ele é influenciado por ela
e, inevitavelmente, a levará em conta no momento de julgar (ainda que tenha determinado o seu
desentranhamento!). Logo, nada mais natural do que tirá-lo do processo.

Obs.: a mesma medida cautelar que suspendeu a eficácia da norma que previa o juiz das garantias, suspendeu
a eficácia do Art. 157, §5º do CP, uma vez que não é improvável que o conteúdo da norma em questão estimule
pessoas mal intencionadas a plantar provas ilícitas no processo como forma de retirar do caso um juiz visto
como indesejado pela parte.

Enunciado n. 16 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “Ressalvadas
situações excepcionais pacificadas, o uso da prova derivada da ilícita está abrangido pelo tipo penal
incriminador do art. 25 da Lei de Abuso de Autoridade, devendo o agente ter conhecimento inequívoco da sua
origem e do nexo de relação entre a prova ilícita e aquela dela derivada”.

24. REQUISIÇÃO OU INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO SEM QUAISQUER INDÍCIOS.

Observação quanto ao sujeito ativo: o crime do Art. 27 é muito próximo das funções do delegado e do
promotor de justiça.

Lei n. 13869/19

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Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou administrativa,
em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração
administrativa:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária,
devidamente justificada.

Procedimentos alcançados pelo tipo penal: a lei fala em procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa, abarcando as hipóteses de inquérito; procedimento investigatório criminal ou qualquer outro
procedimento.

Necessidade de demonstração dos indícios: a requisição deve ser feita à falta de qualquer indício para que se
configure o crime. A palavra indício aqui não se encontra no sentido de prova indireta, mas sim como prova
semi-plena, isto é, uma prova que não autoriza um juízo de certeza, mas sim de mera probabilidade. A
requisição de inquérito deve demonstrar que há uma mínimo de plausibilidade para a sua instauração, sob
pena da autoridade recair na prática de tal delito.

Inconstitucionalidade (?): não há falar em inconstitucionalidade do dispositivo por violação da norma que
atribui o poder de requisição ao MP. Todo e qualquer poder deve ser exercido de maneira legitima,
observando limites, de modo que o poder de requisição do MP não foge desta regra.

Constituição Federal

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos


jurídicos de suas manifestações processuais;

(...)

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Necessidade de VPI: no processo penal, a investigação penal sumária é o que comumente chamamos de
Verificação de Procedência de Informações (VPI), a qual antecede a instauração de um inquérito. A VPI é muito
comum nos casos de denuncia anônima, por exemplo.

Enunciado n. 17 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “A
configuração do abuso de autoridade pela deflagração de investigação criminal com base em matéria
jornalística, necessariamente, há de ser avaliada a partir dos critérios interpretativos trazidos pela Lei (art. 1º,
§1º) e da flagrante ausência de standard probatório mínimo que a justifique”.

Exemplo: se uma matéria jornalística traz imagens de um particular ou de um agente público cometendo um
delito, elas constituem indícios suficientes para que o promotor instaure o inquérito.

25. DIVULGAÇÃO DE GRAVAÇÃO SEM RELAÇÃO COM A PROVA QUE SE PRETENDA PRODUZIR, EXPONDO A
INTIMIDADE OU A VIDA PRIVADA DO INVESTIGADO OU ACUSADO.

Lei n. 13869/19

Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo
a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

- A gravação referida no Art. 28 pode ser resultado de uma interceptação ambiental (Art. 8º-A, Lei 9296) ou
telefônica (Art. 1º, Lei 9296).

- Para a tipificação do crime em questão a divulgação não pode guardar relação com a prova que se pretende
produzir.

Exemplo: Renato grampeia o telefone do Cleber e descobre que ele está tendo um relacionamento
extraconjugal com o Gialluca. O relacionamento extraconjugal não tem nenhuma relação com a prova a ser
produzida, motivo pelo qual o áudio que prova a sua existência deve ser destruído por meio de um

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procedimento incidental previsto em lei. Se, contudo, a autoridade que tem contato com o áudio repassa isso
para a imprensa por um certo preço, tem-se configurado o delito do Art. 28.

- Se a a gravação divulgada guardar relação com a prova que se pretende produzir, o crime será o contido no
Art. 10-A da Lei 9296.

Enunciado n. 18 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “O crime do
art. 28 da Lei de Abuso de Autoridade (Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que
se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a hora ou a imagem do investigado
ou acusado) pressupõe interceptação legal (legítima e lícita), ocorrendo abuso no manuseio do conteúdo
obtido com a medida”.

26. FALSA INFORMAÇÃO SOBRE PROCEDIMENTO JUDICIAL, POLICIAL, FISCAL OU ADMINISTRATIVO

Lei n. 13869/19

Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de
prejudicar interesse de investigado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO).

Necessidade do tipo penal: a falsa informação prestada seria uma espécie de ofensa a Administração da
Justiça; daí a necessidade de tipificação.

Especial fim de agir: o Art. 29 funciona como verdadeira norma especial em relação ao Art. 1º, §1º ao restringir
ainda mais o dolo específico.

Enunciado n. 19 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “O legislador,
na tipificação do crime do art. 29 da Lei de Abuso de Autoridade, optou por restringir o alcance do tipo,
pressupondo por parte do agente a finalidade única de prejudicar interesse do investigado. Agindo com

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finalidade de beneficiar, pode responder por outro delito, como prevaricação (art. 319 do CP), a depender das
circunstâncias do caso concreto”.

27. DEFLAGRAÇÃO DE PERSECUÇÃO PENAL, CIVIL OU ADMINISTRATIVA SEM JUSTA CAUSA


FUNDAMENTADA OU CONTRA QUEM SABE INOCENTE.

Observação quanto ao sujeito ativo: a figura do Art. 30 é muito próxima do Ministério Público.

Necessidade de justa causa: quem oferece denúncia sem justa causa recai no delito do Art. 30. Todavia, há
de se observar que a mera rejeição da denúncia pelo juiz com base na justa causa não implicará, por si só, na
responsabilização penal do promotor.

ATENÇÃO: o crime pode existir em duas modalidades; a ausência de justa causa ou ante a certeza da inocência
da pessoa contra quem se inicia a persecução penal.

Elemento normativo (“justa causa”): a justa causa a que se refere o Art. 30 é a mesma contida no Art. 395, III
do CPP, ou seja, um lastro probatório mínimo no tocante a autoria e a materialidade. O processo penal não é
espaço para aventuras levianas e temerárias. Responder um processo penal, por si só, pode ser um grande
problema a depender das pretensões da pessoa, ainda que ela seja absolvida depois.

Lei n. 13869/19

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou
contra quem sabe inocente:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Constituição Federal

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

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VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos


jurídicos de suas manifestações processuais;

(...)

Enunciado n. 20 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “O crime do
art. 30 da Lei de Abuso de Autoridade deve ser declarado, incidentalmente, inconstitucional. Não apenas em
razão da elementar ‘justa causa’ ser expressão vaga e indeterminada, como também porque gera retrocesso
na tutela dos bens jurídicos envolvidos, já protegidos pelo art. 339 do CP, punido, inclusive, com pena em
dobro”.

28. PROCRASTINAÇÃO INJUSTIFICADA DE INVESTIGAÇÃO EM PREJUÍZO DO INVESTIGADO.

Lei n. 13869/19

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do investigado ou


fiscalizado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de
procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do fiscalizado.

Prazo da investigação: nos termos do CPP e das leis especiais, a investigação tem um prazo determinado de
duração diferente conforme seja caso de réu preso ou réu solto. Excetuando os casos contidos em leis
especiais, quando o indivíduo está solto, o prazo previsto pelo CPP é de 30 dias, podendo tal prazo ser
prorrogado. Por outro lado, estando o indivíduo preso, o prazo é de 10 dias, admitindo-se também
prorrogação por mais 15 dias (Art. 3º-B, §2º, CPP). No caso de réu preso, há vedação expressa no sentido de
não permitir a prorrogação por mais de 15 dias. Todavia, em se tratando de réu solto, não é incomum que o
prazo seja prorrogado sucessivamente. Veja-se nesse sentido o caso do inquérito que durou 07 anos e que foi
analisado pelo STJ.

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Tutela da razoável duração do processo: o delito do Art. 31 tutela a duração razoável do processo, não
podendo o juiz permitir que um inquérito policial tramite por um tempo demasiadamente grande.

Elemento normativo (“injustificadamente”): o elemento normativo “injustificadamente” é essencial para que


haja caracterização do crime. Assim, se o promotor devolve o inquérito ao delegado sem qualquer motivo por
sucessivas vezes, a demora do processo estará sendo causada por diligências não pertinentes. Se as diligencias
forem pertinentes, isto é, com motivos, não há crime (ex.: quebra do sigio bancário, pitiva de testeminha,
dente outros).

ATENÇÃO: o excesso e a procrastinação dependem do caso concreto. Não devemos pensar, portanto, que há
um prazo certo e objetivo para o alongamento da investigação. Logo, o prolongamento da investigação jamais
poderá ser considerado como crime sem a análise específica. O indivíduo deve, portanto, perguntar-se se há
alguma diligência que vem justificando o alongamento do processo.

Enunciado n. 21 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “A elementar
‘injustificadamente’ deve ser interpretada no sentido de que o excesso de prazo na instrução do procedimento
investigatório não resultará de simples operação aritmética, impondo-se considerar a complexidade do feito,
atos procrastinatórios não atribuíveis ao presidente da investigação e ao número de pessoas envolvidas na
apuração. Todos fatores que, analisados em conjunto ou separadamente, indicam ser, ou não, razoável o
prazo para seu encerramento”.

29. NEGATIVA DE ACESSO AOS AUTOS DE PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO E DE EXTRAÇÃO DE CÓPIAS DE


DOCUMENTOS.

Lei n. 13869/19

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao
termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil
ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências
em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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- Em se tratando de diligência documentada, o investigado e seu advogado deverão ter acesso. Todavia, se se
tratar de uma diligência em andamento, não há porque franquear acesso, sob pena da eficácia de tal diligência
restar frustrada.

Súmula vinculante n. 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos
de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)

Art. 7º. São direitos do advogado:

(...)

§10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que
trata o inciso XIV.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)

Art. 7º.

§12. A inobservância dos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o
fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará

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responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do
advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)

Art. 7º. São direitos do advogado:

(...)

§11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.

30. Exigência de informação ou do cumprimento de obrigação sem expresso amparo legal.

Lei n. 13869/19

Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem
expresso amparo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a condição de
agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido.

Núcleo do tipo penal: exigir é impor como obrigação, sob pena de represália. A hipótese do Art. 33 da LAA é
diferente dos artigos 316/317 do CP, pois no primeiro caso a exigência dirige-se a prestação de informação ou
de direitos de fazer ou de não fazer, enquanto que no segundo (concussão) a exigência não é de cumprimento
de obrigação, mas de vantagem ilícita.

Distinção com tipos penais próximos: embora a redação do artigo 33 seja muito próxima daquela contida na
hipótese de corrupção passiva concussão, no crime do Art. 33 o indivíduo se utiliza do cargo/função e mostra
quem é, mas não há nenhuma ameaça implícita inerente ao exercício funcional.

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Exemplo: indivíduo invoca a sua condição de promotor em uma festa open bar para entrar (carteirada) → Se
o indivíduo fala que vai instaurar inquérito, há concussão/corrupção passiva. Por outro lado, se ele apenas
invoca a sua qualidade funcional o crime será o do Art. 33 da LAA.

Enunciado n. 22 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM), referindo-
se, porém, ao crime de corrupção passiva: “Quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a condição
de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido pratica
abuso de autoridade (art. 33, parágrafo único) se o comportamento não estiver atrelado à finalidade de
contraprestação do agente ou autoridade. Caso contrário, outro será o crime, como corrupção passiva (art.
317 do CP)”.

31. DECRETAÇÃO DA INDISPONIBILIDADE DE ATIVOS FINANCEIROS EM QUANTIA QUE EXTRAPOLA


EXACERBADAMENTE O VALOR ESTIMADO PARA A SATISFAÇÃO DA DÍVIDA E SUBSEQUENTE NEGATIVA DE
CORREÇÃO DO EXCESSO.

Lei n. 13869/19

Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapole
exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte E, ante a demonstração, pela parte,
da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Necessidade da realização de duas condutas: o tipo penal do Art. 36 só se configura com a prática das duas
condutas descritas na lei. Logo, não há razão para o temor excessivo dos juízes diante da incriminação
promovida pelo dispositivo.

Exemplo: quando o juiz decreta a penhora online via Bacenjud, é muito comum que todos os bancos sejam
comunicados. Assim, se o devedor que deve apenas R$ 50.000,00 tem 3 contas no valor de R$ 50.000,00 cada,
em 3 bancos diferentes, é possível que a penhora atinja as 3 contas, totalizando um valor de R$ 150.000,00.
Isso, no entanto, não se mostra suficiente para caracterizar o crime, o que só se verificará quando o juiz,

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comunicado do excesso (854, §3º, II, CPC), não proceder ao desbloqueio daquilo que extrapola o valor da
dívida.

- Os elementos normativos “exacerbadamente” e “excessividade da medida” são termos abertos que


dificultam a interpretação.

CPC

Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a
requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições
financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro
nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a
indisponibilidade ao valor indicado na execução.

§ 1º No prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar da resposta, de ofício, o juiz determinará o cancelamento
de eventual indisponibilidade excessiva, o que deverá ser cumprido pela instituição financeira em igual prazo.

§ 2º Tornados indisponíveis os ativos financeiros do executado, este será intimado na pessoa de seu advogado
ou, não o tendo, pessoalmente.

§ 3º Incumbe ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, comprovar que:

I - as quantias tornadas indisponíveis são impenhoráveis;

II - ainda remanesce indisponibilidade excessiva de ativos financeiros.

§ 4º Acolhida qualquer das arguições dos incisos I e II do § 3º, o juiz determinará o cancelamento de eventual
indisponibilidade irregular ou excessiva, a ser cumprido pela instituição financeira em 24 (vinte e quatro)
horas.

32. DEMORA DEMASIADA E INJUSTIFICADA NO EXAME DE PROCESSO DE QUE TENHA REQUERIDO VISTA EM
ÓRGÃO COLEGIADO.

Lei n. 13869/19

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Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que tenha requerido vista em
órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

DOUTRINA: como o Art. 37 da LAA fala em órgão colegiado, parte da doutrina sustenta que esse crime só
poderia ter como sujeito ativo os desembargadores ou ministros. Essa, contudo, não é a melhor interpretação,
sobretudo se levarmos em conta que o artigo 37 sequer menciona a necessidade do processo ser judicial. E,
ainda que se interprete nesse sentido, não se pode esquecer que há órgãos colegiados em 1ª instância, com
a participação de juízes (ex.: turma recursal; juízos colegiados para o julgamento de organizações criminosas
– Lei nº 12694; vara colegiada para o julgamento de organizações criminosas, etc...).

Elemento normativo: o termo “injustificadamente” pode ser interpretado conforme a mesma lógica da
demora na investigação, considerando elementos tais como complexidade do feito; eventual procrastinação
atribuída a alguém e número de pessoas envolvidas.

RENATO BRASILEIRO: a expressão “demora demasiada” pode ser extraída do Art. 940 do CPC.

33. ANTECIPAÇÃO DE ATRIBUIÇÃO DE CULPA POR MEIO DE COMUNICAÇÃO, INCLUSIVE REDE SOCIAL, ANTES
DE CONCLUÍDAS AS APURAÇÕES E FORMALIZADA A ACUSAÇÃO.

Lei n. 13869/19

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social,
atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

- A sociedade brasileira, como regra, nutri um sentimento de intolerância com relação a impunidade. Isso,
porém, tem causado uma certa pressa exagerada no âmbito da persecução penal, o que por vezes acaba
culminando na incriminação de um inocente.

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Tutela da presunção de inocência: a ideia desse tipo penal é proteger o princípio da presunção de inocência.
Se alguém é presumido inocente, essa pessoa deve assim ser tratada até o final do julgamento.

LEMBRE-SE: o crime do Art. 38 é infração de menor potencial ofensivo e, como tal, será processado e julgado
no JECRIM, havendo direito à transação penal.

34. APLICAÇÃO DO CÓDIGO PENAL, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E DA LEI N. 9.099/95 AOS CRIMES DE
ABUSO DE AUTORIDADE.

Lei n. 13869/19

Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, no que couber, as disposições
do Código de Processo Penal e da Lei n. 9.099/95.

Natureza da defesa preliminar: a figura da defesa preliminar traduz uma reação defensiva entre o
oferecimento e o recebimento da peça acusatória. Ou seja, oferecida a denúncia, o juiz deverá notificar o
acusado para constituir defensor que apresente essa defesa preliminar. Há de se ter cuidado, porém, pois
apenas alguns procedimentos contam com previsão para esse tipo de defesa. São eles: Lei de Drogas, JECRIM,
514, CPP e procedimento originário nos Tribunais.

• A defesa ou resposta preliminar aplica-se aos crimes da Lei de Abuso de Autoridade com base no
Art. 514 do CPP?

O Art. 514 do CPP aplica-se aos crimes de responsabilidade dos funcionários púbicos compreendidos entres
os artigos 312 e 326 do CP, nos quais a qualidade de funcionário público é elementar do tipo penal. A doutrina,
porém, afirma que apesar do abuso de autoridade não constar do Código Penal, ele não se diferencia em nada
dos delitos funcionais previstos entre os artigos 312 e 326 anteriormente citados.

CPP

Capítulo II – Do processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos

(...)

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Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e
ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de 15 dias.

Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-
lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.

Enunciado n. 24 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “Os crimes
de abuso de autoridade com pena máxima superior a dois anos, salvo no caso de foro por prerrogativa de
função, são processados pelo rito dos crimes funcionais, observando-se a defesa preliminar do art. 514 do
CPP”.

Enunciado n. 27 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “A
formalidade do art. 514 do CPP é dispensável quando a denúncia envolver, além do crime funcional, delito de
outra natureza, ambos em concurso”.

Enunciado n. 25 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da


União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM): “Por ser
privativa do servidor público, o particular concorrente no crime de abuso de autoridade não faz jus à
preliminar contestação prevista no art. 514 do CPP”.

35. Violação de direitos e prerrogativas do advogado.

- A LAA incluir no Estatuto da OAB o crime do Art. 7º-B. Há de se ter atenção, contudo, ao fato de que apenas
haverá crime quando houver violação das prerrogativas taxativamente elencadas e não de qualquer
prerrogativa.

RENATO BRASILEIRO: embora parte da doutrina defenda o contrário, o especial fim de agir (Art. 1º, §1º, LAA)
deve ser observado também neste caso, ainda que o crime esteja previsto fora da LAA. Além disso, o crime só
estará caracterizado se o indivíduo for advogado no exercício da advocacia. Se o mandado deixa claro que
nenhuma das condutas guardam relação com o exercício da advocacia, não haverá crime.

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Lei n. 8.906/94

Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos incisos II, III, IV e V do caput
do art. 7º desta Lei (Incluído pela Lei n. 13.869/19)

Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.

Lei n. 8.906/94

Art. 7º. São direitos do advogado:

II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de
sua correspondência escrita, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia;

III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se
acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados
incomunicáveis;

IV – ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da
advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação
expressa à seccional da OAB;

V – não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide
ADI 1.127)

36. Vigência da nova Lei de Abuso de Autoridade.

- A LAA tem 03 datas de vigência porque a lei foi publicada em um primeiro momento e o Presidente vetou
alguns dispositivos. Ocorre, porém, que alguns destes vetos foram derrubados pelo Congresso Nacional, sendo
a lei novamente publicada para incluir os vetos derrubados. Além disso, o crime do Art. 13 foi publicado sem
pena em razão de um erro de grafia, de modo que foi necessário proceder a retificação do dispositivo com
nova publicação no Diário Oficial.

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Regra: 03/01/2020

Exceções:

Art. 13: entrou em vigor apenas no dia 16/01/2020 após retificação no dia 18/09/2019

Caso dos vetos derrubados (Art. 3º, 9º, 13, III, 15, parágrafo único, I e II, 16, 20, 30, 32, 38 e 43): foram
publicados no dia 27/09/2020, entrando em vigor no dia 25/01/2020.

Lei n. 13.869/19

Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial.

LC 95/98

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela
se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis de
pequena repercussão.

§1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua
consumação integral. (Incluído pela Lei Complementar n. 107/01).

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