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Estudo das Cartas de Paulo sob as luzes da doutrina espírita

Pela psicografia de Chico Xavier, Emmanuel nos deixou um legado de comentários aos versículos do
novo testamento, reunidos em diversos livros. Através da tecnologia, hoje, acessamos com maior
facilidade estas lições, em especial no site Bíblia do Caminho, temos a disponibilidade da obra
organizada por tema, por livro bíblico, possibilitando, assim, diversas formas de estudo.

Depois de termos estuda os romances de Emmanuel, com grande ênfase para o livro Paulo e
Estevão, decidimos nos debruçar sobre as Cartas de Paulo, iniciando pela I Carta aos Coríntios.
Estudo já finalizado e disponível para download gratuito.

Quando realizamos o estudo da I Carta aos Coríntios com Emmanuel tivemos ao longo do ano de
estudo muitas surpresas com os dizeres de Paulo, quanta espiritualidade e quanta conexão com os
postulados espíritas.

Esta semana, preparando a palestra semanal que realizamos, deparamo-nos com o texto do Cardeal
Morlot, uma comunicação ao grupo espírita de Paris, em 1863, apenas um ano após ter
desencarnado, nos fala desta ligação das cartas de Paulo com o Espiritismo.

“Para nós os livros santos são celeiros inesgotáveis, e o grande apóstolo Paulo, que outrora tanto
contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo, por sua poderosa predicação, vos deixou
monumentos escritos que servirão, não menos energicamente, à expansão do Espiritismo.

“Não ignoro que os vossos adversários religiosos invocam seu testemunho contra vós, mas isto não
impede que o ilustre iluminado de Damasco seja por vós e esteja convosco, ficai bem convencidos.

“O sopro que corre nas suas epístolas; a santa inspiração que anima os seus ensinos, longe de ser
hostil à vossa doutrina, está, ao contrário, cheio de singulares previsões em vista do que acontece
hoje. É assim que, na sua primeira epístola aos Coríntios, ele ensina que sem a caridade não existe
nenhum homem, ainda que fosse santo, ainda que fosse profeta e transportasse montanhas, que se
possa gabar de ser um verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como os espíritas, e antes
dos espíritas, foi ele o primeiro a proclamar esta máxima que vos constitui uma glória: Fora da
caridade não há salvação!

“Mas não é apenas por este lado que ele se liga à doutrina que nós vos ensinamos e que hoje
propagais. Com aquela aguda inteligência que lhe era própria, ele havia previsto o que Deus
reservava para o futuro e, notadamente, esta transformação, esta regeneração da fé cristã que sois
chamados a assentar profundamente no espírito moderno, porquanto ele descreve, na citada epístola,
e de maneira indiscutível, as principais faculdades mediúnicas, que ele denomina: os dons
abençoados do Espírito Santo.

“Ah, meus filhos! Aquele santo doutor contempla com uma indissimulável amargura, o grau de
aviltamento em que caiu a maior parte daqueles que falam em seu nome e proclamam, urbi et
orbi, que outrora Deus deu à Terra toda a soma de verdades que ela era capaz de receber.

“Entretanto, o apóstolo tinha exclamado que em sua época não havia mais que uma uma ciência e
profecias imperfeitas. Ora, aquele que se lastimava de tal situação sabia, por isto mesmo, que essa
ciência e essas profecias um dia se aperfeiçoariam. Não está aí a condenação absoluta de todos os
que condenam o progresso? Não está aí o mais rude golpe para aqueles que pretendem que o Cristo
e os apóstolos, os Pais da Igreja e sobretudo os reverendos casuístas da Companhia de Jesus, teriam
dado à Terra toda a ciência religiosa e filosófica à qual ela tinha direito? Felizmente o próprio
apóstolo teve o cuidado de desmenti-los antecipadamente.
FRANÇOIS-NICOLAS MADEILEINE

E prossegue Kardec comentando estes sábios dizeres:

A esta notável comunicação juntaremos as seguintes palavras de São Paulo, tiradas da primeira
epístola aos Coríntios:

“Mas alguém me dirá: Como ressuscitarão os mortos, e qual será o corpo no qual eles voltarão?

“─ Como sois insensatos! Não percebeis que o que semeias não germina se primeiro não morre? E
quando semeais, não semeais o corpo da planta que há de nascer, mas apenas o grão, como o do
trigo ou de qualquer outra coisa. Depois disso, Deus lhe dá um corpo como lhe apraz, e dá a cada
semente o corpo que é próprio a cada planta.

“Nem toda carne é a mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais;
outra a das aves e outra a dos peixes.

“Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas os corpos celestes têm um brilho diferente dos
corpos terrestres.

“O Sol tem seu brilho, diferente da claridade da lua, assim como o brilho da Lua difere do brilho das
estrelas, e entre as estrelas, uma é mais brilhante do que a outra.

“Assim será na ressurreição dos mortos. O corpo, como uma semente, está agora na Terra, pleno de
corrupção, e ressuscitará incorruptível. Ele é posto na Terra todo disforme, mas ressuscitará
glorioso. Ele é posto na Terra privado de movimento, mas ressuscitará em pleno vigor. Ele é posto na
Terra como um corpo animal, mas ressuscitará como um corpo espiritual. Como há um corpo
animal, também há um corpo espiritual.
“Eu quero dizer, meus irmãos, que a carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus, e que a
corrupção não possuirá essa herança incorruptível. (São Paulo, 1ª Epístola aos Coríntios, Cap. XV,
versículos 35 a 44 e 50).

O que pode ser esse corpo espiritual, que não é o corpo animal, senão o corpo fluídico, cuja
existência é demonstrada pelo Espiritismo, o perispírito, de que a alma é revestida após a morte?
Com a morte do corpo, o Espírito entra em confusão; por um instante perde a consciência de si
mesmo, depois recupera o uso de suas faculdades e renasce para a vida inteligente. Numa
palavra, ele ressuscita com o seu corpo espiritual.

O último parágrafo, relativo ao juízo final, contradiz positivamente a doutrina da ressurreição da


carne, pois diz: “A carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus.” Assim, os mortos não
ressuscitarão com sua carne e seu sangue, e não necessitarão reunir seus ossos dispersos, mas terão
seu corpo celeste, que não é o corpo animal.

Se o autor do Catéchisme philosophique (Catecismo filosófico, do Pe. Feller, tomo III, pg. 83) tivesse
meditado bem o sentido destas palavras, teria evitado fazer o notável cálculo matemático a que se
entregou para provar que todos os homens mortos desde Adão, ressuscitando em carne e osso, com
seus próprios corpos, poderiam caber perfeitamente no Vale de Josafá, sem muito incômodo.

Assim, São Paulo estabeleceu em princípio e em teoria o que hoje ensina o Espiritismo sobre o estado
do homem após a morte.

Mas São Paulo não foi o único a pressentir as verdades ensinadas pelo Espiritismo. A Bíblia, os
Evangelhos, os apóstolos e os Pais da Igreja dele estão cheios, de sorte que condenar o Espiritismo é
negar as próprias autoridades sobre as quais se apoia a religião. Atribuir todos os seus ensinamentos
ao demônio é lançar o mesmo anátema sobre a maioria dos autores sacros.

Assim, o Espiritismo não vem destruir, mas, ao contrário, restabelecer todas as coisas, isto é, restituir
a cada coisa o seu verdadeiro sentido.

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Dezembro > São Paulo, precursor do
Espiritismo

Parece-nos que estes fortes argumentos de Kardec reforçam em nós o ensejo de estudar as Cartas
deixadas por Paulo aos cristãos dos primeiros tempos a fim de que seu profundo olhar e discernimento
nos alcançam e nos ensinam. Assim como Emmanuel, pelas mãos laborosas de Chico Xavier, deixou-
nos preciosos comentários sobre versículos e trechos destas cartas, instigando-nos a buscar o espírito
da letra, que eleva e vivifica.

Resta-nos, então, prosseguir em nossa jornada de estudo, abraçando outra carta de Paulo para novo
estudo.

Este texto, assim, além de nos fazer refletir é para anunciar que iremos iniciar o estudo da Carta aos
Gálatas com Emmanuel, rogando ao bom Jesus que nos conduza, ilumine e fortaleça para a jornada
que se inicia.

Como outrora, iremos compartilhar nossas singelas reflexões, esperando que lhes seja útil de alguma
forma.
Um fraterno abraço.

Candice

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