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A Filosofia na História (resumo e adaptação do livro Convite À Filosofia de

Marilena Chauí. Ed. Ática, 2012. Pp. 49-73)


 Filosofia antiga: Do século VI a. C. ao século VI d. C.

O período pré-socrático ou cosmológico: Explicação racional e sistemática sobre


a origem, ordem e transformação da natureza, da qual os seres humanos fazem
parte; busca do princípio natural, eterno, imperecível e imortal, gerador de todos
o seres; a physis (princípio primordial eterno) é imperecível, mas dá origem a
seres infinitamente variados e diferentes, que são perecíveis, mutáveis e mortais;
assim o mundo vive numa mudança contínua, sem no entanto, perder sua ordem
e sua estabilidade.

O período socrático ou antropológico: Época de maior florescimento da


democracia grega favorecido pelo fortalecimento do artesanato e do comércio
urbano frente a uma aristocracia agrária. O padrão de homem ideal deixa de ser
o guerreiro belo e bom e passa a ser o cidadão, ou seja, o trabalho do corpo e o
cultivo das virtudes admiradas pelos deuses e praticadas pelos heróis dava lugar
ao cidadão que participa das discussões na assembleias; e, para isso, deve ser
bom orador: saber falar em público e persuadir os outros na política. Os sofistas
ensinam, então, a arte da persuasão.
Sócrates critica os sofistas. Os acusa de não ter amor pela sabedoria nem
respeito pela verdade por defenderem qualquer ideia que lhes seja vantajosa.
Corrompiam, assim, os jovens, porque faziam o erro e a mentira valer tanto
quanto a verdade. Sócrates propunha que antes de conhecer a natureza cada um
deveria conhecer a si mesmo. Questionava a todos sobre as ideias, crenças e
valores do povo grego, e ao ser indagado sobre as respostas dizia “só sei que
nada sei”.
A consciência da própria ignorância é o começo da filosofia.
Buscava a essência verdadeira das coisas. Um trabalho intelectual sobre, a partir
e a respeito da realidade que culmina na formulação de conceitos, que são
verdades intemporais, universais e necessárias; e não opiniões que variam de
pessoa para pessoa, de lugar para lugar.
Características desse período: Foco nas questões humanas morais e políticas;
confiança no pensamento, no homem com um ser racional; preocupação em
estabelecer procedimentos de investigação para se alcançar a verdade; elege
como objeto central de suas investigações a moral e a política; a filosofia deve
encontrar a definição, o conceito ou a essência das virtudes para além da
variedade e multiplicidade de opiniões contrárias e diferentes; separação radical
entre opinião e as imagens das coisas e os conceitos e ideias; reflexão e trabalho
do pensamento permitem alcançar a verdade invisível, imutável, universal e
necessária; para Sócrates e Platão, opiniões e percepções sensoriais são falsas,
mutáveis, inconsistentes e contraditórias – devem ser abandonadas; já para os
sofistas servem como material de persuasão. Distinção assim entre o sensível e o
inteligível: o sensível forma a mera opinião e o inteligível é o conhecimento
verdadeiro que alcançamos exclusivamente pelo pensamento. “Para Platão, a
filosofia é o esforço do pensamento para abandonar o sensível e passar ao
inteligível”. P. 54.

Período Sistemático
Aristóteles é o destaque desse período. A filosofia é o conhecimento da
totalidade dos conhecimentos e práticas humanas. Aristóteles os organiza dos
mais simples e inferiores ao mais complexos e superiores. Surgem os campos de
investigação filosófica como totalidade do saber humano. Cada saber possui
objeto e procedimentos específicos para sua aquisição e exposição, formas
próprias de demonstração e prova. Cada campo de conhecimento é uma ciência.
No entanto, primeiro deve se conhecer os princípios e as leis gerais que
governam o pensamento. Analítica ou lógica é o estudo dos princípios e das
formas de pensamento, sem preocupação com seu conteúdo. A lógica é um
instrumento para a ciência. A metafísica e a teologia são os pontos mais altos da
filosofia, de onde derivam-se todo os outros conhecimentos: do ser, das ações
humanas e do conhecer.

Período Helenístico ou Filosofia Cosmopolita

Filósofos são cidadãos do mundo. É uma época de grandes sistemas ou


doutrinas, isto é, “explicações que buscam entender a realidade como um todo
articulado e entrelaçado formado pelas coisas da natureza, os seres humanos,
pelas relações entre elas e eles e de todos com a divindade (a providência
divina): o estoicismo, o ceticismo e o neoplatonismo. Preocupações coma Física,
a ética e a teologia.

 Filosofia Patrística (século I ao século VIII)

Patrística por ser dos padres da igreja. Começou com as epístolas de São Paulo e
o Evangelho de São João. O esforço de conciliar o cristianismo ao pensamento
greco-romano, no sentido de converter os pagãos.

 Filosofia Medieval (do século VIII ao século XIV)

Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. Grande influência de Platão


(interpretado por Plotino) e Aristóteles. Ensinada nas escolas recebe o nome de
escolástica, caracterizada pelo método de disputas com base em argumentos
bíblicos – assim o pensamento estava subordinado ao princípio de autoridade.
Discutem os mesmos problemas da patrística, particularmente o “problema dos
universais”. Santo Agostinho se destaca. Os temas constantes são: provas da
existência de Deus e da imortalidade da alma; a separação entre infinito e finito,
a diferença entre corpo e alma; e o universo como uma hierarquia.

 Filosofia da Renascença (do século XIV ao XVI)


Descoberta de obras desconhecidas de Platão e de novas obras de Aristóteles,
assim como se recupera obras de grandes autores e artistas gregos e romanos.
Grandes linhas do pensamento: A natureza como um grande ser vivo, dotada de
uma alma universal, e o homem parte da natureza; na defesa da liberdade
política recuperaram a ideia de República; e o homem como artífice do seu
próprio destino. – o Humanismo, ou antropocentrismo; viagens marítimas,
críticas à Igreja Católica Romana: Reforma Protestante – Contrarreforma
católica.

 Filosofia Moderna (do século XVII a meados do século XVIII)

O “Grande Racionalismo Clássico” nasceu se contrapondo ao ceticismo, a


atitude filosófica que duvida da capacidade da razão humana para conhecer a
realidade exterior e o homem.
As disputas entre protestantes e católicos e as descobertas de novos mundos
criaram um ambiente de pessimismo teórico: “o sábio já não podia admitir que a
razão humana fosse capaz de conhecimento verdadeiro e que a verdade fosse
universal e necessária. Ao contrário, diante da multiplicidade de opiniões em
luta o sábio tornou-se cético”. P. 61.
Proposta de três mudanças teóricas principais:
1. “O sujeito do conhecimento”: a filosofia deixa de se preocupar em
começar conhecendo a natureza, Deus e, por último, o homem, para
“começar indagando qual é a capacidade da razão humana para conhecer
e demonstrar a verdade dos conhecimentos”. Em vez de começar pelas
coisas, volta-se para si mesmo para refletir sobre a própria capacidade de
conhecer.
2. “Tudo o que pode ser conhecido deve poder ser representado por um
conceito ou por uma ideia clara e distinta, demonstrável e necessária,
formulada pelo intelecto” – natureza, sociedade e política são racionais
em si mesmos e podem ser representados.
3. Galileu: A natureza é um sistema ordenado de causa e efeito. A causa é
sempre um movimento que segue leis universais necessárias que podem
ser explicadas e representadas matematicamente. A realidade, assim, é
um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser
conhecidas e transformadas pelo homem. Porque a realidade pode ser
inteiramente representada pelos conceitos do sujeito do conhecimento,
que também pode intervir na realidade para alterá-la. – Experimentação
científica (são criados laboratórios) e ideal tecnológico, a possibilidade
do homem dominar a tecnicamente a natureza e a sociedade graças à
invenção de máquinas.
A razão é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões
e das emoções. A razão governa e domina as emoções, “de sorte que a
vida ética pode ser plenamente racional”. A razão define também o
melhor regime político e como mantê-lo.
 Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo
do século XIX):
A razão favorece a conquista da liberdade, da felicidade social e política; o
aperfeiçoamento e progresso do homem, liberando-se de preconceitos,
superstições e medo; ideia de evolução – o aperfeiçoamento se realiza pelo
progresso das civilizações; a diferença entre natureza e civilização, entre o reino
das relações necessárias de causa e efeito e o reino da liberdade e da finalidade
proposta pela vontade livre dos próprios homens. Reino da necessidade X reino
da liberdade. Grande interesse pelas ciências que se relacionam com a ideia de
transformação progressiva. Interesse pelas bases econômicas da vida social e
política: fisiocracia e mercantilismo,

 Filosofia Contemporânea (meados do século XIX aos nossos dias)

Mais complexo e mais difícil de definir, pois há muitas diferenças entre as várias
filosofias.
As principais questões discutidas:
1. História e Progresso:
Hegel – a História é a realidade; a razão, a verdade e os seres humanos
são essencial e necessariamente históricos.
Auguste Comte: “saber para prever, prever para prover”.
Século XX: a história é descontínua e não progressiva, cada sociedade
tem sua história própria, e não uma etapa da história universal.
Críticas à ideia de progresso, porque legitima colonialismos e
imperialismos. Em cada época histórica e em cada sociedade, os conhecimentos e as
práticas possuem sentido e valor próprios; desaparecendo na fase seguinte, não
havendo, portanto, transformação contínua, cumulativa e progressiva da humanidade.
2. As ciências e as Técnicas:
Século XX: Desconfiança do otimismo científico tecnológico do século
anterior em virtude das guerras mundiais, das bombas atômicas etc.
As ciências e as técnicas incorporadas à grandes complexos industriais e
militares.
Escola de Frankfurt – elaboração da Teoria Crítica, onde distingue duas
formas de razão: a razão instrumental, a técnico-científica, e a razão
crítica, que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento
instrumental e “afirma que as mudanças sociais, políticas e culturais só
se realizam verdadeiramente se tiverem como finalidade a emancipação
do gênero humano e não as ideias de controle e domínio técnico-
científico sobre a natureza, a sociedade e a cultura,

3. Os ideais políticos revolucionários.


Desconfiança do otimismo revolucionário. A filosofia indaga se os seres
humanos, os explorados e os dominados, seriam capazes de criar e
manter uma sociedade nova justa e feliz, Como os seres humanos podem
derrubar as burocracias que secretamente os governa.

4. A Cultura:
A cultura é o exercício da liberdade. A importância da linguagem.
A história é descontínua.
A cultura é plural.

5. O fim da filosofia:
Preocupação com a falta de rigor das ciências. A filosofia voltou a
afirmar seu papel de compreensão e interpretação crítica das ciências,
discutindo a validade de seus princípios, procedimentos de pesquisa,
resultados etc.

6 – A maioridade da razão.

Marx e Freud põe em questão o otimismo racionalista.


Marx – temos a ilusão de estarmos pensando com a nossa própria cabeça
e agindo por nossa própria vontade de maneira racional e livre –
desconhecemos o poder da classe econômica dominante: a ideologia.
Freud – deu o nome de inconsciente a esse poder que domina e controla
invisível e profundamente nossa vida consciente.
Reflexão sobre o que é o que pode a razão, sobre o que são e o que
podem as aparências e as ilusões,
Questões éticas e morais: o homem é realmente livre?

7. Infinito e finito

Interesse pelo finito, o existencialismo.


Interesse pela multiplicidade diferença entre as ciências, pelos limites de
cada uma delas e sobretudo por seus impasses e problemas insolúveis.

8. A pós-modernidade.

Critica as ideias modernas e as recusa.


Utilidade e eficácia.
As ciências são construções subjetivas; importância da linguagem.
Qualquer ordenamento é inventado e instituído
O ser humano é um animal racional com vontade livre, passional,
desejante, age movido por impulsos e instintos.
A ética se define pela satisfação de desejos, que define a felicidade, que
se realiza na intimidade individual.
Desconfia da política, da distinção entre o público e o privado e dá
importância à esfera da intimidade individual.
O social é uma teia fragmentada de grupos que se diferenciam por etnia,
gênero, religião, costumes, comportamentos, gostos e preferências.

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