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A construção de uma Tecnologia Educacional para as Artes

CESA – Centro Educacional Santo Antônio

Por Fernanda Paquelet

Considerações sobre Tecnologia e Tecnologia Educacional


É comum associar tecnologias da educação com equipamentos digitais utilizados por
professores em sala de aula. Esta é uma visão simplificada e que não faz jus à
quantidade de criações com objetivos pedagógicos desenvolvidos ao longo dos anos. A
história é testemunha da quantidade de artefatos educacionais que já foram construídos
e utilizados, dos quais muitos não chegaram ao nosso conhecimento. Mas o que une
todas essas construções é o desejo de resolver uma questão que se impõe. É o desejo
de aproximar o aluno de determinados conceitos que estimulem docentes e discentes a
serem criativos e inovadores.

A evolução da tecnologia se confunde com o progresso do próprio homem, pois


quando os povos primitivos começaram a transformar pedras em lâminas para cortar a
madeira e caçar animais, por exemplo, já estavam conseguindo realizar avanços
tecnológicos. Mesmo que cientistas e pesquisadores não sejam capazes de afirmar, ao
certo, quando é que começaram a aparecer os primeiros avanços humanos nesse
sentido, acredita-se que os primeiros sinais tenham surgido há mais de 50 mil anos.
Fazendo uma análise da etimologia da palavra tecnologia nos aproximamos um pouco
mais dos seus objetivos.

A palavra tecnologia vem do grego e deve ser separada em duas partes: “téchne”, que
pode ser definido como arte ou ofício e “logia”, que significa o estudo de algo. Arte
nesse caso confunde-se com os conceitos de criatividade e define a tecnologia como a
busca criativa para que algo seja ensinado (ofício de transmitir) para alguém. O
simples aproveitamento de recursos naturais e a transformação do ambiente a sua volta
é capaz de ser considerado um movimento tecnológico. Tecnologia da educação é todo
e qualquer meio que se utilize para que distintos conceitos sejam passados e
assimilados dentro de um processo de ensino-aprendizagem de algo.

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Considerações sobre o Ensino das Artes nas Escolas de Ensino
Fundamental

O ensino das artes está contemplado pela BNCC em quatro distintas linguagens: Artes
Visuais, Dança, Música e Teatro. E dentro dessas linguagens temos as competências
específicas postuladas:

1. ENTENDER A DIVERSIDADE ARTÍSTICA E CULTURAL


Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e
culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades
tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços
para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a
diferentes contextos e dialogar com as diversidades.
2. ARTE EM MÚLTIPLAS LINGUAGENS
Compreender as relações entre as linguagens da Arte e suas práticas integradas,
inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e
comunicação, pelo cinema e pelo audiovisual, nas condições particulares de
produção, na prática de cada linguagem e nas suas articulações.
3. ARTE E IDENTIDADE
Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente
aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira,
sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em
Arte.
4. LUDICIDADE
Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação,
ressignificando espaços da escola e de fora dela no âmbito da Arte.
5. TECNOLOGIA
Mobilizar recursos tecnológicos como formas de registro, pesquisa e criação
artística.
6. ARTE E SOCIEDADE
Estabelecer relações entre arte, mídia, mercado e consumo, compreendendo, de
forma crítica e problematizadora, modos de produção e de circulação da arte na
sociedade.
7. CULTURA SOCIAL
Problematizar questões políticas, sociais, econômicas, científicas, tecnológicas e
culturais, por meio de exercícios, produções, intervenções e apresentações
artísticas.
8. AUTONOMIA E EXPRESSÃO
Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo
nas artes.
9. VALORIZAÇÃO DAS CULTURAS
Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e
imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

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Cada uma das linguagens pode estar associada a uma ou mais competências podendo
ainda existir diálogos entre as distintas linguagens. O terreno metodológico é fértil,
mas a pouca capacidade dos gestores em perceber e avaliar a amplitude desse trabalho
ocasiona muitas vezes em uma distância dos valores e das conquistas pessoais e
coletivas que podem ser conseguidas dentro de um desenvolvimento planejado e
adequado ao contexto e aos objetivos educacionais. Importante ressaltar que as artes
no ambiente educacional são um meio de aprendizagem e conhecimento integrado,
pois a experimentação sem objetivos definidos tendem a causar vazios e inseguranças,
tanto por parte dos professores quanto dos alunos.

A criação de uma tecnologia educacional para as artes deve pressupor uma linguagem
artística, podendo ser mais de uma, que envolva uma ou mais competências já
descritas. A inovação está justamente na forma de abordar o ensino-aprendizagem
dentro das competências desenvolvidas. O primeiro passo para esta construção será um
exercício do professor de lembrar e de resgatar memórias do que é feito em sala de
aula e que garantam um resultado prático satisfatório, ou não. Este resultado não está
ligado a um contexto de avaliação da obra de arte, mas do envolvimento do aluno em
todas as etapas até a finalização e exposição de uma prática artística.

A sensibilidade, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades se


manifestam como formas de expressão no processo de aprendizagem da arte, e isto são
temas mais importantes nesse contexto do que a descoberta de um grande talento. O
aluno não deve ser tratado como um aspirante a carreira de artista, e sim como alguém
que merece ter sua espontaneidade e criatividade estimulada para ampliar sua
capacidade de autonomia e narrativa que envolve tanto a expressão do processo vivido
quanto à reflexão dessa trajetória.

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A construção de uma tecnologia educacional para as Artes dentro do
CESA
Será preciso unir todos os envolvidos dentro de um arcabouço teórico que se utilize de
princípios e valores das Artes dentro do Ensino Fundamental. Vamos trabalhar com os
valores relacionados ao desenvolvimento da Espontaneidade, Criatividade, Autonomia
e Narrativa, pois além de serem universais são capazes de unir facilmente os
professores da casa ao refletirem sobre suas aulas e seus métodos. São muitos os
profissionais que ministram aulas de arte em escolas de Ensino Fundamental. Os perfis
são distintos como também são os objetivos e as diretrizes oferecidas por diretores e
coordenadores escolares. A formação de arte-educadores é heterogênea até mesmo
para os que se dispõe a fazer uma graduação de nível superior. No entanto, mesmo
com todas as adversidades estamos acompanhando o crescimento do respeito e da
atuação das artes dentro do Ensino Fundamental e é nosso dever tirar o maior proveito
desse momento histórico. Este é um debate epistemológico.

Está no imaginário coletivo de que um professor entra em sala de aula para ensinar algo
que o aluno ainda não sabe, e este parâmetro não serve para o arte-educador, pois o seu
objetivo é conduzir os alunos dentro de uma experiência artística constituída de etapas e
destituída de certo e errado. As etapas serão os passos que serão dados até o que será
construído e os princípios que vão conduzir essas etapas serão: ideia, identidade,
história, estrutura, espaço e alcance. É este o caminho capaz de distinguir a prática da
arte como processo de formação e descoberta de potencialidades.

As ideias criam um diálogo entre a simplicidade e a complexidade, pois algo que está
na mente terá que se tornar real, pelo caráter prático e expositivo das artes. A tensão
criativa é reveladora e abre o espaço para a formação de outra característica, a
identidade, onde garantimos que novos conhecimentos podem ser obtidos de diferentes
pontos de vista. Ao trabalharmos as ideias e a identidade vem à tona a história, que é o
ponto de conexão com o mundo. A presença de uma história define pontos de partida
para o engajamento humano, bem como a percepção de que todos têm história e origem.
A estrutura e o espaço refletem tanto o ambiente convidativo com atividades
estimulantes quanto os desdobramentos que acontecem em outros ambientes de
convívio do jovem. O alcance diz respeito a uma característica das artes cênicas: precisa
de público para acontecer e garante a melhoria do convívio social, familiar e
profissional.

Dois aspectos importantes devem ser considerados como pontos fundantes de uma
metodologia artística. A primeira delas é o caráter libertador das artes, pois fornece
novas ferramentas de expressão, e com isso, novos caminhos para ideias e criação. O
que motiva um aluno a criar, é também parte da motivação que o público tem em
assistir: a compreensão de nós mesmos, das nossas emoções, das relações entre as
pessoas e o nosso lugar na natureza. As ciências e outras formas de investigação não
foram bem sucedidas ao lançar mão sobre esses assuntos, e por isso potencializar ações
como esta pode ser a ferramenta que falta para chegar a lugares novos de entendimento
sobre a formação e sobre a aprendizagem.

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Ao longo do Ensino Fundamental a criança/adolescente percorre um caminho de
construção dos valores e objetivos para a vida. Através dos acontecimentos, das
sensações e das percepções o aluno é transformado a cada nova experiência de
envolvimento emocional e é justamente isso que garante novas possibilidades.

Primeiros passos para a construção

Para começar a traçar esse caminho será preciso se debruçar em questões pragmáticas
definidas dentro de um plano de trabalho. Vamos substituir os horários dedicados à
sala de aula por este intensivo trabalho de estudo, construção e planejamento de uma
tecnologia educacional para as artes dentro do CESA. Serão quatro etapas, onde as três
primeiras vão acontecer remotamente e a última será presencial. Lembrando que a
última etapa só vai acontecer quando houver uma libração expressa por parte dos
órgãos de saúde. O envolvimento de todos é fundamental para a construção da
tecnologia e da segurança em sala de aula. É um caminho novo que pode ser avaliado
depois, mas que primeiro deve ser abraçado. Este processo coloca a todos na função de
co-criador desta tecnologia educacional para as artes.

Primeira Etapa – Leitura dos Textos Indicados.


São três leituras iniciais para que todos estejam envolvidos nos princípios
educacionais que estão criando os alicerces para esta construção.

Renato Soffner (Leitura Integral)


Este artigo mostra o relacionamento das ideias do sul-africano Seymour
Papert (Matemático), referência incontestável da aplicação da
tecnologia à educação, com aquelas do educador e teórico da educação
popular Paulo Freire, num contexto do suporte da tecnologia aos
processos e práticas educativos, do ponto de vista da práxis educativa
proposta por Freire, e das novas competências pedagógicas e do novo
modelo de escola defendidos por Papert.

Júnia Reis (Leitura Integral)


Este artigo nos aproxima do nosso público alvo que são alunos do
Fundamental. Ela explica bastante sobre os conceitos e como são
formados os conceitos que serão aplicados dentro de uma construção de
uma tecnologia educacional. Os alunos são o alvo desta pesquisa de
observação que nos dá subsídios para entender de que forma os
conceitos de tecnologia chegam até eles.

Maurício Monken (Pág. 85 a 110)


Esta é uma tese de doutorado e não precisa ser lido na íntegra. O
trabalho apresentado é da área de saúde, mas o pedaço indicado é
bastante abrangente podendo ser lido e compreendido fazendo as
devidas adaptações. Ele também adentra sobre a construção de
tecnologias, por outro modelo, e fala bastante sobre didática e como isso

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reverbera em sala de aula. Ao final ele discorre um pouco sobre as
etapas da pesquisa e que pode estimular o entendimento de que o
professor de artes está em constante trabalho de pesquisa.

Segunda Etapa – Respostas as Questões Colocadas.


Serão quatro respostas que serão enviadas em dias pré-determinados. Cada uma
deve ser escrita em documento de word e enviada como anexo.

Primeira Questão – Envio 06/04


Segunda Questão – Envio 09/04
Terceira Questão – Envio 13/04
Quarta Questão – Envio 16/4

Será interessante se conseguirem associar os princípios descritos nos textos que


foram lidos com as práticas realizadas em sala de aula. Quanto mais relações
existirem mais ancorado no sistema de ensino conseguirá estar.

Terceira Etapa – Escrita Coletiva dos passos a serem dados nas iniciativas
escolhidas com a participação de todos
Para esta etapa será enviado material específico para ser preenchido,
complementado e aprovado pelos professores que desenvolvem o trabalho. Este
material será elaborado a partir da segunda etapa.

Quarta Etapa – Encontro Presencial para leitura integral da Tecnologia


Educacional desenvolvida.
Esta data não será possível dizer nesse momento.

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Questões para a Segunda Etapa:
Primeira Questão: Em que bases educacionais estão apoiadas os processos de ensino-
aprendizagem das Artes dentro do CESA? Quais dos princípios descritos abaixo estão
presentes em sua aula? De que forma eles estão representados parcial ou
integralmente dentro do trabalho desenvolvido? Importante se sentir livre na
construção desse raciocínio, pois um pensamento pode ser o complemento de outro
que venha de outro professor.
O ensino das artes está assegurado graças a Lei de Diretrizes e Bases da Educação –
Lei n° 9.394/1996, e o artigo 206 estabelece oito princípios nos quais o ensino deve
estar baseado. São eles:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas


de ensino;

IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira,
com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade;

VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de
lei federal.

Segunda Questão: Quais iniciativas (projetos ou culminâncias) artísticas dentro do


CESA tiveram êxito e merecem ser repetidas? Ou quais as atividades que teriam dado
certo? Muitas vezes são situações corriqueiras que minam um trabalho interessante. E
pode ser algo que, se planejado corretamente, dê certo. Importante se debruçar sobre
memórias.

Terceira Questão: Quais os procedimentos adotados por você em sala de aula? Como
começa a aula? Como termina? Importante perceber que não queremos nessa resposta
um planejamento de aula que exista, pois sabemos que um planejamento sempre sofre
alterações no momento de sua aplicação. Descrevam o que de fato acontece relatando
algo que seja incômodo, se essa for a rotina. Existe algo que tenha sido criado por
você? Alguma regra? Alguma ferramenta? Como sabe que foi criado por você?

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Quarta Questão: Observe o quadro abaixo. Identifique o seu grupo de atuação e
responda de que forma são associados os valores sociais, os valores artísticos e os
objetivos dentro do trabalho que você desenvolve. Se achar que esses valores não
estão presentes indique quais os valores que voc~e identifica no lugar desses.

Série Valores Sociais Valores Artísticos Objetivo Culminâncias


Trabalhados Trabalhados Artísticas
1º ano Amizade, Espontaneidade, Cooperação
Fraternidade e Criatividade,
Paz Autonomia e
Narrativa
2º ano Amor, Verdade Espontaneidade, Cooperação
e Transparência Criatividade,
Autonomia e
Narrativa
3º ano Amorosidade, Espontaneidade, Identidade
Honestidade e Criatividade,
Liberdade Autonomia e
Narrativa
4º ano Confiança, Espontaneidade, Território
Respeito e Criatividade,
Cooperação Autonomia e
Narrativa
5º ano Sabedoria, Espontaneidade, Território
Justiça e Criatividade,
Equidade Autonomia e
Narrativa
6º ano Humildade, Espontaneidade, Transformação
Bondade e Criatividade,
Dignidade Autonomia e
Narrativa
7º ano Fé, Espontaneidade, Transformação
Solidariedade e Criatividade,
Caridade Autonomia e
Narrativa
8º ano Humildade, Espontaneidade, Protagonismo
Bondade e Criatividade,
Dignidade Autonomia e
Narrativa
9º ano Fé, Espontaneidade, Protagonismo
Solidariedade e Criatividade,
Caridade Autonomia e
Narrativa
Oficinas para Dignidade, Espontaneidade, Autonomia
Adultos (Pais, Equidade e Criatividade,
Funcionários e Esperança Autonomia e
Comunidade) Narrativa

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Referências

De Pablo S Pons J. Visões e conceitos sobre a tecnologia educacional. In: Sancho,Juana, org. Para uma
tecnologia educacional. Porto Alegre: Editora Artes Médicas;1998. p. 50-71.

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Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:Editora Paz e
Terra; 1996. (Col. Leitura).

Giddens A. A constituição da sociedade. São Paulo: Editoraa Martins Fontes;1989.Giroux H. Teoria


crítica e resistência em Educação: para além das teorias dereprodução. Rio de Janeiro: Editora Vozes;
1986.

Grossi, B Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Rio de Janeiro Ed Pargos, 1997.

Jantsch A. P. Interdisciplinaridade: para além da Filosofia do sujeito. Petrópolis: EditoraVozes; 1999.

Litwin E, org.. Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. Porto Alegre:Editora Artes
Médicas; 1997.

Maggio M. O campo da tecnologia educacional: algumas propostas para suareconceitualização. In:


Litwin E, org.. Tecnologia educacional : política, histórias e propostas. Porto Alegre: Editora Artes
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Minayo MCS, org. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: EditoraVozes; 1994.

Ramos MN. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? São Paulo:Editora Cortez; 2001

Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EditoraHucitec; 1999.
308 p

Veiga IPA, org. Técnicas de ensino: por que não? São Paulo: Editora Papirus; 1996.

Profissional Responsável,

Fernanda Paquelet
Mestre em Teatro (PPGAC-UFBA e Doutoranda em Administração NPGA-UFBA)
fpaquelet@gmail.com

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