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Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – NEFROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.

MED RESUMOS 2011


NETTO, Arlindo Ugulino.
SEMIOLOGIA

DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO EM NEFROLOGIA


(Professora Cecília Neta Alves)

A nefrologia € uma a especialidade m€dica que se ocupa do diagn•stico e


tratamento cl‚nico das doenƒas do sistema urin„rio, em especial o rim (a urologia se
ocupa, principalmente, do tratamento das doenƒas do trato urin„rio). A origem
etimol•gica da palavra vem do grego (nephros, rim + logos, tratado ou estudo), sendo
nefrologia o estudo dos rins, de sua fisiologia e enfermidades do n€fron, a unidade
morfol•gica e funcional do rim.
A nefrologia se ocupa n…o apenas ao estudo das afecƒ†es dos rins, mas
tamb€m analisa uma abordagem geral de todos os outros sistemas. Isso porque,
como se sabe, as principais patologias nefrol•gicas repercutem no funcionamento
dos demais •rg…os.
De fato, o diagn•stico de algumas patologias exige n…o s• uma abordagem
cl‚nica, como necessita da associaƒ…o de outros exames complementares, o que
inclui desde an„lises laboratoriais at€ bi•psias renais. Por esta raz…o, € necess„rio
ao estudante de medicina a capacidade b„sica de estabelecer um diagnóstico
sindrômico em nefrologia, unindo as mais vari„veis caracter‚sticas cl‚nicas de um
paciente com suspeita de uma determinada afecƒ…o renal e, em seguida, estabelecer
um ou mais prov„veis diagn•sticos e excluir outros.

C ONSIDERA•‚ES GERAIS
O termo síndrome, por definiƒ…o, diz respeito ao conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma
determinada doenƒa. Partindo deste pressuposto, devemos revisar o conceito de sinais e sintomas:
 Sinais: manifestaƒ†es cl‚nicas que podem ser verificadas de uma maneira objetiva, avaliada diretamente pelo
m€dico.
 Sintomas: manifestaƒ†es cl‚nicas que s…o notificadas de maneira subjetiva, a depender da descriƒ…o do
paciente.

Portanto, a proped‡utica diagn•stica em nefrologia deve seguir alguns passos para alcanƒar os seus objetivos
terap‡uticos e curativos: (1) Coleta do exame cl‚nico minucioso do paciente  (2) An„lise dos sinais e sintomas
apresentados  (3) Diagn•stico sindrˆmico  (4) Diagn•stico etiol•gico  (5) An„lise do grau do dano (acometimento
anatˆmico e/ou funcional)  (6) Traƒar plano terap‡utico adequado.

SINAIS E SINTOMAS NEFROLƒGICOS


De uma maneira geral, os sinais e sintomas que comp†em a maioria das s‚ndromes nefrol•gicas s…o
inespecíficos, isto €, podem estar presentes em diversas doenƒas, o que dificulta o diagn•stico cl‚nico quando eles s…o
analisados de forma isolada. Contudo, quando analisados em conjunto e associados a outros dados complementares
(laboratoriais ou de imagem), podem estabelecer diagn•sticos sindrˆmicos exatos.
Os principais sinais e sintomas em nefrologia – e seus respectivos conceitos – s…o:
 Anúria: diurese inferior a 100 mL/dia. Ocorre na obstruƒ…o bilateral das art€rias renais ou dos ureteres e na
necrose cortical bilateral.

 Polaciúria: consiste no aumento da necessidade de urinar e, com isso, da frequ‡ncia urin„ria diurna, com o
intervalo entre as micƒ†es inferior a 2 horas, sem que haja concomitante aumento do volume urin„rio. As
principais causas de polaciŠria s…o:
 Urina residual (obstruƒ…o infravesical por HPB)  Fibrose vesical
 Processos infecciosos/corpo estranho  Queda da complac‡ncia vesical.
 Tens…o nervosa  PoliŠria

 Poliúria: consiste no aumento do volume urin„rio (volume urin„rio superior a 2500 mL por dia). Como o volume
de cada micƒ…o est„ limitado pela capacidade vesical, verifica-se um maior nŠmero de micƒ†es, inclusive ‹
noite. Os dois mecanismos b„sicos de poliŠria s…o por diurese osmótica (decorrente da excreƒ…o de um volume
aumentado de solutos, determinando maior excreƒ…o de „gua, como na diabetes mellitus) ou por incapacidade
de concentração urinária (diabetes insipidus, hipopotassemia).

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 Noctúria/nictúria: embora sejam termos sinônimos para a maioria das literaturas, alguns autores defendem que
a noctúria define o aumento da frequência miccional durante a noite, enquanto que a nictúria define apenas a
presença de micção noturna além do normal (mais de duas micções por noite). Pode ocorrer na fase inicial da
insuficiência renal, insuficiência cardíaca ou em hepatopatias. A presença de noctúria sem polaciúria é bastante
sugestivo de falência do ventrículo esquerdo (devido ao retorno do líquido do terceiro espaço para o
intravascular, que ocorre quando o paciente se deita para dormir, o que aumenta a taxa de filtração glomerular e
a produção de urina). As principais causas são:
 Lesão renal grave  ICC
 Ingestão de irritantes vesicais próximo ao período  Obstrução infravesical
de dormir  Diabetes Mellitus

 Disúria: micção associada à sensação de dor, queimor ou desconforto. Ocorre na cistite, prostatite, uretrite,
traumatismo geniturinário, irritantes uretrais, reações alérgicas. Consiste no primeiro sintoma de infecção do trato
urinário (ITU); a disúria terminal é característica da cistite.

 Urgência miccional: a urgência urinária significa a necessidade súbita e imperiosa de urinar, podendo, mesmo,
haver esvaziamento involuntário da bexiga. As principais causas são:
 Hiperatividade neurogênica  Obstrução infra-vesical (50% dos pacientes)
 Hiperatividade idiopática  Processos inflamatórios vesicais

 Hematúria: A hematúria é um achado que, independente da manifestação associada, sempre deve ser
valorizada. Significa a presença de sangue na urina, podendo ser micro ou macroscópica. A hematúria pode ser
maciça, inclusive com o aparecimento de coágulos. É importante determinar se a hematúria é total (lesões renais
ou ureterais), inicial (lesões da uretra distal ou cólon vesical) ou terminal (lesões do trígono vesical). As causas
mais importantes são:
 ITU  Doenças hemolíticas
 Cálculo  HPB
 Hematúria silenciosa (até que se prove o contrário,  Pós-esforço
é câncer)

 Edema: o relato de edema (inchaço) constitui uma manifestação marcante nas doenças renais agudas e
crônicas. O edema que surge nas doenças renais resulta de diferentes mecanismos patogênicos e tem
características semiológicas próprias.
 O edema da glomerulonefrite é generalizado, sendo mais intenso na região periorbitária pela manhã. No final do
dia, acomete os membros inferiores. Em crianças, o aparecimento de edema costuma ser súbito, podendo ser
acompanhado de manifestações de ICC.
 Na glomerulonefrite crônica, a presença e a intensidade do edema são muito variáveis, podendo estar ausente ou
manifestar-se apenas como edema periorbitário pela manha.
 O edema da síndrome nefrótica é generalizado, mais intenso que na glomerulonefrite, podendo chegar à anasarca,
com intenso edema facial. Devido à glomerulopatia, ocorre um aumento da permeabilidade glomerular na
síndrome nefrótica, gerando quadros de hipoalbuminemia. Isso reduz a pressão coloidosmótica do plasma,
reduzindo o volume plasmático (o que faz, por meio do sistema renina angiotensina, uma maior retenção de H2O,
reduzindo ainda mais a pressão coloidosmótica) e aumentando o líquido intersticial (gerando o edema).
 O edema da insuficiência renal crônica é muito variável, na dependência da causa determinante.
 Na insuficiência renal aguda, o edema decorre geralmente da hiper-hidratação.

 Dor lombar: comum em várias afecções renais (principalmente quando elas atingem a cápsula renal), mas que
deve ser diferenciada de outras patologias osteomusculares e neurológicas.

EXAMES C OMPLEMENTARES INICIAIS


Como forma de enriquecer ainda mais os dados coletados durante o exame clínico, devemos lançar mão de alguns exames
complementares iniciais básicos, seja de urina ou de sangue. Há quem diga que somente através destes dados é que podemos
afirmar, com propriedade, que o paciente apresenta uma afecção renal (até porque os sinais e sintomas que constituem as síndromes
são, como vimos, muito inespecíficos). Contudo, nunca podemos desvencilhar a clínica dos exames laboratoriais.
Os principais exames complementares em nefrologia são:
• Exame de urina
• Hemograma
• Bioquímica:
 Uréia, creatinina
 Cálcio, fósforo, ácido úrico
 Na, K, Cl, CO2
• Ultrassonografia renal: descreve apenas alterações anatômicas que podem reportar algum dado clínico; nunca pode
estabelecer um diagnóstico de alteração funcional do rim.

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S„NDROMES NEFROLƒGICAS
Podemos destacar, pelo menos, 10 s‚ndromes nefrol•gicas cujos sinais e sintomas devem estar sempre
associados e encaixados para o estabelecimento de suspeitas diagn•sticas e, mediante o aux‚lio de exames
complementares, a instituiƒ…o do diagn•stico sindrˆmico.
 Insufici‡ncia Renal Aguda  Infecƒ…o Urin„ria
 Insufici‡ncia Renal Crˆnica  Obstruƒ…o do Trato Urin„rio
 S‚ndrome Nefr‚tica Aguda  S‚ndromes Tubulares Renais
 S‚ndrome Nefr•tica  Hipertens…o Arterial
 Anormalidades Urin„rias Assintom„ticas  Nefrolit‚ase

INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA


A insufici‡ncia renal aguda (IRA) € caracterizada pela reduƒ…o aguda ou abrupta da filtraƒ…o glomerular, sendo
definida pela perda r„pida de funƒ…o renal devido ao dano renal, resultando em retenƒ…o de produtos de degradaƒ…o
nitrogenados (ur€ia e creatinina) e n…o-nitrogenados, que seriam normalmente excretados pelo rim. Œ uma doenƒa grave
e tratada como uma emerg‡ncia m€dica.
Seus sinais e sintomas cl‚nicos s…o:
 AnŠria ou oligŠria
 Sinais de sobrecarga de volume
 Aumento de ur€ia, creatinina, pot„ssio
 Acidose metab•lica
 Diminuiƒ…o da DCE (depuraƒ…o de creatinina end•gena) ou clearence de creatinina, analisado na urina de 24h
 Presenƒa de cilindros granulares escuros (quando o problema € no pr•prio rim)

A insufici‡ncia renal, de acordo com a sua causa, pode ser classificada em: pr€-renal (causas relacionadas ao
suprimento ou fluxo sangu‚neo), renal (dano ao rim propriamente dito, sendo a necrose tubular aguda uma das causas
mais comuns) e p•s-renal (causas no trato urin„rio).
A IRA € usualmente revers‚vel, se tratada pronta e adequadamente. As principais intervenƒ†es s…o a
monitorizaƒ…o do balanƒo h‚drico (ingesta e eliminaƒ…o), o mais estritamente poss‚vel; a inserƒ…o de um cateter urin„rio
€ Štil para a monitorizaƒ…o do d€bito urin„rio, bem como para aliviar a poss‚vel obstruƒ…o ‹ via de sa‚da da bexiga
urin„ria, tal como em um aumento da pr•stata; dentro outros, incluindo o tratamento da causa.

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA


A insufici‡ncia renal crˆnica (IRC) € caracterizada pela reduƒ…o lenta da filtraƒ…o glomerular, sendo definida
como uma s‚ndrome metab•lica decorrente da perda progressiva, irrevers‚vel e geralmente lenta da funƒ…o dos rins
(glomerular, tubular e end•crina).
Seu quadro cl‚nico € caracterizado por duas vertentes:
 Assintom„ticos: a doenƒa pode se manifestar de maneira silenciosa.
 Sintom„ticos:
 Uremia: anorexia, n„useas, vˆmitos
 Palidez amarelada (devido a uma anemia importante por defici‡ncia de eritropoetina)
 Volume urin„rio vari„vel
 Diminuiƒ…o da DCE e/ou volume renal ao US (e perda da diferenciaƒ…o c•rtico-medular)
 Hipervolemia: consequ‡ncia da expans…o do volume extracelular devido a maior retenƒ…o de s•dio e
„gua, levando a repercuss†es c„rdio-pulmonares, al€m de contribuir para o aparecimento de HAS.
 Edema: causado pela retenƒ…o de sal e „gua, insufici‡ncia card‚aca e hipoalbuminemia.

Os pacientes pertencentes ao grupo de risco para o desenvolvimento de insufici‡ncia renal crˆnica devem ser
submetidos anualmente a exames para avaliar a presenƒa de les…o renal. Os exames utilizados para tal finalidade s…o:
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ur€ia, creatinina, pot„ssio, urina I, clearance de creatinina e proteinŠrias (ver OBS ).
De acordo com dados publicados pelo Registro Latino-americano de Di„lise e Transplante em 1997, as
principais causas de IRC no Brasil eram: glomerulonefrite crˆnica, hipertens…o arterial e diabetes mellitus. Outras causas
incluem a nefrite tŠbulo-intersticial, necrose cortical, processos obstrutivos, amiloidose, lupus, rins polic‚sticos, s‚ndrome
de Alport, etc.
A partir de 2002, com o intuito de diminuir a incid‡ncia da IRC (que cresce em torno de 8%/ano no mundo), a
doenƒa renal crˆnica (DRC) foi dividida em 5 grupos, sendo o est„gio DRC-5 considerado a “ponta do iceberg”, quando
a maioria dos diagn•sticos s…o feitos. Contudo, nesta etapa, por ser um grau de DRC incompat‚vel com a vida, o
paciente j„ necessita de uma terapia renal substitutiva, que pode ser representada por tr‡s procedimentos:
hemodi„lise, di„lise peritoneal e transplante de rim (sendo esta a melhor opƒ…o).

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OBS : Uma boa maneira para avaliar a função renal é através da estimativa da filtração glomerular (FG) pela medida da
depuração de creatinina, a qual constitui um bom índice da função renal e deve ser utilizada para o diagnóstico de
insuficiência renal crônica. A mensuração da filtração glomerular através da coleta de urina de 24 horas tem se mostrado
útil na avaliação da função renal, no entanto, esse método não é superior às estimativas provenientes de equações. Isso
pode ser explicado por erros durante a coleta de urina de 24 horas e variações diárias na excreção de creatinina. Uma
das principais fórmulas para estimar a filtração glomerular é a equação de Cockcroft-Gault:

SÍNDROME NEFRÍTICA AGUDA


A síndrome nefrítica é uma afecção renal definida como o aparecimento de edema discreto, hipertensão arterial
e hematúria (geralmente macroscópica). Característicamente, a proteinúria é discreta, sendo menor que 3,0 gramas ao
dia. Pode ser causada por vários tipos de glomerulonefrites. A principal causa de todas as anormalidades da síndrome
nefrítica é a glomerulonefrite aguda pós-infecciosa (estreptocócica). A síndrome nefrítica envolve apenas a região
cortical do rim, isto é, a região onde existem, em maior concentração, as estruturas mais nobres e morfofuncionais deste
órgão: os néfrons e os glomérulos.
Etimologicamente, a síndrome nefrítica significa uma resposta inflamatória aguda
por deposição de imunocomplexos na membrana basal dos glomérulos renais. Ocorre um
aumento da permeabilidade vascular glomerular em resposta ao estímulo inflamatório,
gerando a principal característica sintomatológica da síndrome nefrítica: a hematúria
macroscópica.
O quadro clínico clássico caracteriza-se por:
 Hematúria macroscópica (com dismorfismo eritrocitário e/ou cilindros hemáticos)
 Edema
 HAS
 Moderada retenção nitrogenada
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OBS : A presença de dismorfismo eritrocitário é um achado de importante avaliação. Esse dismorfismo diz respeito a
uma alteração estrutural da hemácia, e isso ocorre quando a hemácia é proveniente de afecções glomerulares (devido à
maior resistência à passagem da célula através do glomérulo, promovendo esta lesão na estrutura do eritrócito). Quando
o sangue é proveniente de outra região do trato urinário ou por qualquer outra alteração (lesões por cálculos, tumores,
cistites hemorrágicas, etc.), é comum que a hemácia esteja íntegra quando vista ao microscópio.

SÍNDROME NEFRÓTICA
A síndrome nefrótica é um conjunto de sinais,
sintomas e achados laboratoriais que se desenvolvem quando
ocorre uma elevação exagerada da permeabilidade dos
glomérulos renais às proteínas, ocasionando proteinúria.
Na verdade, a síndrome nefrótica não é uma doença;
mas sim um grupo de sinais e sintomas comumente observados
em pacientes com doenças glomerulares caracterizadas por um
aumento significativo da permeabilidade capilar para proteínas
séricas, mais do que alterações inflamatórias glomerulares. A
principal causa é a nefropatia diabética.
O quadro clássico é caracterizado por:
 Edema intenso (desequilíbrio entre pressão hidrostática
e pressão oncótica)
 Proteinúria maciça >3,5g/24h/1,73m2 (albumina)
 Hipoabuminemia (queda dos níveis séricos de
albumina)
 Derrames cavitários: ascite, hidrotórax, edema escrotal,
etc.
 Hiperlipidemia (que poderia ser considerada falsa
quando se parte do pressuposto que os lipídios estão
elevados devido a menor concentração de proteínas no
sangue; contudo, hoje já se sabe que, no fígado, ocorre
um estímulo na produção de lipídios na decorrência de
uma síndrome nefrótica).

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OBS : Podemos diferenciar a s‚ndrome nefr‚tica e a s‚ndrome nefr•tica por alguns par•metros cl‚nico-laboratoriais que
podem, de certa forma, auxiliar o estudante de medicina a compreender melhor as diferenƒas semiol•gicas de cada uma
das afecĠes:
Síndrome Nefrítica Síndrome Nefrótica
↑ HematŠria ↓ HematŠria
↑ Hipertens…o ↓ Hipertens…o
↓ ProteinŠria ↑ ProteinŠria
Edema pouco intenso (+/4) e localizado Edema intenso (+++/4) e generalizado (anasarca)
Funƒ…o renal diminu‚da Funƒ…o renal normal
↓ Insufici‡ncia renal ↑ Efeitos tromboemb•licos e insufici‡ncia renal (rara)

ANORMALIDADES URINÁRIAS ASSINTOMÁTICAS


ProteinŠria, hematŠria ou piŠria podem ser consideradas anormalidades assintom„ticas, desde que n…o estejam
associadas a uma s‚ndrome nefr‚tica, nefr•tica, infecƒ…o urin„ria etc. Portanto, as anormalidades urin„rias
assintom„ticas caracterizam-se por:
 ProteinŠria n…o-nefr•tica
 HematŠria
 LeucocitŠria (piŠria)
 Exig‡ncia: aus‡ncia das outras s‚ndromes

INFECÇÃO URINÁRIA
Œ uma das s‚ndromes mais comuns encontradas na pr„tica nefrol•gica. A presenƒa de dor lombar, febre, disŠria e
polaciŠria € indicativa de uma infecƒ…o renal. A presenƒa apenas de sintomas de irritaƒ…o vesical (disŠria, polaciŠria) e a
aus‡ncia de febre e dor lombar refletem geralmente uma infecƒ…o baixa (vesical) do trato urin„rio.
Os crit€rios para diagn•stico de uma infecƒ…o urin„ria j„ est…o atualmente bem estabelecidos: presenƒa de mais de
100.000 colˆnias de bact€rias por ml de urina. Em mulheres com disŠria, mesmo 100 colˆnias/ml podem indicar infecƒ…o. O
sedimento urin„rio usualmente apresenta numerosos leuc•citos ou pi•citos e bacteriŠria, sendo este diagn•stico facilitado
com os dados obtidos pelas tiras reagentes.
Em resumo, temos:
 Dor lombar
 Febre
 DisŠria
 PolaciŠria
 >100.000 col/ml

OBSTRUÇÃO DO TRATO URINÁRIO


A obstruƒ…o do trato urin„rio pode ser causada pela migraƒ…o de um c„lculo at€ um local de estenose fisiol•gica,
estenoses patol•gicas de ureter, tumores, etc.
O aparecimento abrupto de anŠria requer
sempre a exclus…o de uma obstruƒ…o do trato
urin„rio. Œ uma das consideraƒ†es no
diagn•stico diferencial de insufici‡ncia renal
aguda. As obstruƒ†es unilaterais do trato urin„rio,
frequentemente por c„lculos, costumam
apresentar-se de uma maneira dram„tica, com
dor lombar tipo c•lica, bastante intensa, mas de
progn•stico bom na maioria das vezes. As
obstruĠes de aparecimento mais insidioso
podem comprometer a parte alta ou baixa do
trato urin„rio.
• Supravesical: hidronefrose.
• Infravesical: retenƒ…o urin„ria e, com o tempo, uretero-hidronefrose bilateral.

Na obstruƒ…o alta, o aparecimento de insufici‡ncia renal crˆnica implica um comprometimento bilateral do trato
urin„rio, como se verifica numa fibrose retroperitoneal ou por tumores retroperitoneais. O diagn•stico € estabelecido
atrav€s de ultra-som e urografia excretora, demonstrando dilataƒ…o do sistema coletor acima da obstruƒ…o, ou atrav€s
de pielografia retr•grada. Uma obstruƒ…o baixa do trato urin„rio € habitualmente secund„ria a hipertrofia prost„tica,
manifesta atrav€s de res‚duo p•s-miccional, diminuiƒ…o do jato urin„rio etc.

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SÍNDROMES RENAIS TUBULARES


As anormalidades dos túbulos renais são classicamente divididas em
anatômicas e funcionais. Anormalidades anatômicas referem-se às doenças
císticas: rins policísticos, doença medular cística e rim espongiomedular. As
nefropatias císticas talvez sejam uma das principais causas de doença renal
crônica, pois os cistos múltiplos promovem uma compressão e morte das
células renais. Geralmente, o diagnóstico é estabelecido através de urografia
excretora, pielografia retrógrada ou arteriografia renal.
As tubulopatias funcionais referem-se a alterações seletivas nos
mecanismos na função tubular renal (função de secreção ou reabsorção
tubular) ou a um comprometimento na concentração ou diluição urinária.
+
Por exemplo, uma anormalidade na secreção de H pelo nefro distal. Distúrbios
no mecanismo de reabsorção podem causar hipouricemia, hipofosfatemia,
aminoacidúria ou glicosúria. São estas manifestações, como acidose, glicosúria,
poliúria ou anormalidades bioquímicas, que permitem o diagnóstico.
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OBS : A síndrome de Fanconi caracteriza-se por uma alteração tubular completa, causando glicosúria, proteinúria,
aminoacidúria, etc.

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS)


O diagnóstico baseia-se na observação, pelo menos por três vezes
consecutivas, de uma pressão sistólica superior a 140 mm Hg e/ou de uma pressão
diastólica acima de 90 mm Hg.
Quanto a sua etiologia, a hipertensão arterial pode ser classificada em
essencial ou primária (quando é decorrente de causas não-identificáveis,
correspondendo a 90% dos casos) e secundária (quando é possível identificar uma
etiologia, como na obstrução da artéria renal ou nos tumores da glândula supra-
renal). Afecções renais são as principais causas de HAS secundária, uma vez que
o rim é um dos principais centros de controle da pressão arterial: através do
balanço hidroeletrolítico e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona.
Contudo, no que diz respeito à função renal, a hipertensão arterial pode ser
tanto decorrente de uma nefropatia primária, como pode causar uma nefropatia
secundária. A investigação inicial procura encontrar causas potencialmente curáveis:
estenose de artéria renal, feocromocitoma, ou excesso de mineralocorticóide.
Quando uma causa curável não é encontrada (hipertensão arterial
essencial), o que ocorre em 90 - 95% dos casos, institui-se uma terapêutica médica
farmacológica e não-farmacológica a longo prazo.

NEFROLITÍASE
É bastante frequente o quadro de cólica nefrética secundária a um cálculo que obstrui o sistema coletor de urina.
As causas de urolitíase são múltiplas e vão desde estados hipercalcêmicos (como hiperparatireoidismo primário),
estados hipercalciúricos (como hipercalciúria idiopática), hiperuricosúria, cistinúria, até processos inflamatórios do
intestino.
O diagnóstico é obtido a partir da notificação da eliminação do cálculo, visualização do mesmo por exame de
imagem (US, radiografia simples ou tomografia) ou por sua remoção cirúrgica. Uma vez reconhecida a síndrome,
procede-se à avaliação funcional e identificação específica da enfermidade.

Hidronefrose (dilatação do sistema coletor) por


cálculo evidenciada pela US: na junção uretero-
piélica, há uma imagem muito ecogênica, o que
seria, provavelmente, um cálculo. A espessura do
parênquima está conservada.

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