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REPRESENTAÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO POR MEIO DE

VARIÁVEIS DE ESTADO LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO O EFEITO DA


FREQÜÊNCIA SOBRE OS PARÂMETROS LONGITUDINAIS

Sérgio Kurokawa∗ Fábio Norio Razé Yamanaka∗


kurokawa@dee.feis.unesp.br fabioyamanaka@gmail.com
Afonso José do Prado ∗
Luiz Fernando Bovolato∗
afonsojp@dee.feis.unesp.br bovolato@dee.feis.unesp.br
José Pissolato†
pisso@dsce.fee.unicamp.br

Departamento de Engenharia Elétrica,
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, UNESP, CP 31, CEP 15385-000,
Ilha Solteira, SP, Brasil

Departamento de Sistemas e Controle de Energia,
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, UNICAMP, CP 6101, CEP 13081-970,
Campinas, SP, Brasil

RESUMO tran.

O objetivo deste trabalho é determinar as matrizes de estado PALAVRAS-CHAVE: Transitórios eletromagnéticos, Parâ-
que representam uma linha de transmissão cujos parâmetros metros dependentes da freqüência, Domínio do tempo, Mo-
são considerados variáveis em relação à freqüência. Inici- delos de linhas de transmissão.
almente a linha é representada por meio de uma cascata de
circuitos π, sendo que o efeito da freqüência sobre os parâ- ABSTRACT
metros longitudinais da linha é sintetizado por meio de uma
associação série e paralela de resistores e indutores que é The main objective of this paper is to show the formulation
inserida em cada um dos circuitos π. Esta cascata é então rule of state matrices when the state-space approach is used
descrita por meio de variáveis de estado. O modelo será uti- to represent a transmission line taking into account its fre-
lizado para representar uma linha monofásica, levando em quency dependent parameters. First, the line is represented
consideração que os parâmetros da mesma são dependentes through a cascade of π circuits and the frequency dependence
da freqüência. As simulações serão realizadas no ambiente of the longitudinal parameters is synthesized with series and
Matlab. Para conferir a regra de formação das matrizes de parallel resistors and inductors that are inserted in each π cir-
estado, os resultados obtidos com a representação proposta cuit. After that the cascade is described through state equa-
serão comparados com os resultados obtidos com o Micro- tions. The model will be used to represent a single-phase line
taking into account that its parameters are frequency depen-
Artigo submetido em 14/09/2006 dents. The simulations are carried out by using Matlab and
1a. Revisão em 23/11/2006 the results obtained will be compared with results obtained
2a. Revisão em 27/03/2007
Aceito sob recomendação do Editor Associado with Microtran.
Prof. Denis Vinicius Coury

Revista Controle & Automação/Vol.18 no.3/Julho, Agosto e Setembro 2007 337


KEYWORDS: Electromagnetic transients, Frequency depen- diferenças e podem ser resolvidas utilizando qualquer lingua-
dence parameters, Time domain, Transmission line models. gem computacional.

A representação da linha por meio de variáveis de estado


1 INTRODUÇÃO pode ser utilizada no ensino de conceitos básicos de propaga-
ção de ondas em linhas de transmissão (Nelms et alii, 1989),
Os modelos de linhas de transmissão de energia elétrica po-
na análise da distribuição de correntes e tensões ao longo da
dem ser desenvolvidos no domínio do tempo ou no domínio
linha (Mamis e Nacaroglu, 2003) e na simulação de transitó-
da freqüência, sendo que a mesma é mais facilmente repre-
rios eletromagnéticos em linhas de transmissão que tenham
sentada no domínio da freqüência.
elementos não lineares (Mamis, 2003).
No entanto o sistema elétrico, no qual as linhas de trans-
Apesar da técnica de variáveis de estado ser amplamente uti-
missão estão inseridas, possui diversos elementos não line-
lizada na representação de linhas de transmissão, pode-se ve-
ares que são de difícil representação no domínio da freqüên-
rificar em publicações recentes (Mamis, 2003; Mamis e Na-
cia. Deste modo dá-se preferência por modelos de linha que
caroglu, 2003; Mácias et alii, 2005) que a mesma somente
são desenvolvidos diretamente no domínio do tempo (Marti,
foi utilizada, até o presente momento, para representar li-
1988).
nhas cujos parâmetros longitudinais possam ser considerados
Um outro fato que faz com que os modelos de linhas desen- constantes e independentes da freqüência.
volvidos diretamente no domínio do tempo serem mais uti-
No entanto, reconhece-se atualmente que a utilização de pa-
lizados, é que a maioria dos programas que realizam simu-
râmetros constantes para representar a linha em toda a faixa
lações de transitórios eletromagnéticos em sistemas elétricos
de freqüência, presente nos sinais durante a ocorrência de
requerem que os componentes do sistema estejam represen-
distúrbios na mesma, pode resultar em respostas em que as
tados no domínio do tempo.
componentes harmônicas de alta freqüência possuam ampli-
Um dos primeiros modelos a representar a linha de transmis- tudes maiores do que são na realidade (Marti, 1982).
são diretamente no domínio do tempo foi desenvolvido por
Deste modo, este artigo pretende inserir o efeito da freqüên-
H. W. Dommel e baseou-se no método das características ou
cia em uma linha representada através de circuitos π conecta-
método de Bergeron e consiste em combinar o método das
dos em cascata e obter as correntes e tensões na linha a partir
características com o método numérico de integração trape-
da utilização da técnica de variáveis de estado.
zoidal, resultando em um algoritmo que é capaz de simular
transitórios eletromagnéticos em redes cujos parâmetros são O método será aplicado em uma linha monofásica em que se
discretos ou distribuídos (Dommel, 1969). Este algoritmo considera a presença dos efeitos solo e pelicular.
sofreu sucessivas evoluções e atualmente é conhecido como
Eletromagnetic Transients Program, ou simplesmente EMTP Esta linha será aproximada por uma cascata de circuitos π
(Dommel, 1986). que, e em seguida, será representada por meio de equações
de estado. As equações de estado, que são as tensões e cor-
Em situações em que se deseja simular a propagação de on- rentes ao longo da linha, serão então simuladas no ambiente
das eletromagnéticas resultantes de operações de manobras Matlab. A cascata também será implementada no Microtran
e chaveamento realizadas nas linhas de transmissão, pode-se (Dommel, 1986), que que é um software do tipo EMTP uti-
representar a mesma como sendo uma cascata de circuitos lizado para simulações de transitórios eletromagnéticos em
π. Nesse modelo cada segmento é constituído de uma asso- sistemas de potência. Em seguida os resultados obtidos com
ciação série e paralela de resistores e indutores que resultam o Matlab e com o Microtran serão comparados entre sí.
em uma resistência e uma indutância, variáveis em função da
freqüência, que representam o efeito solo e o efeito pelicular
(Tavares et alii, 1999). Este modelo, que é desenvolvido di- 2 EFEITO DA FREQÜÊNCIA SOBRE OS
retamente no domínio do tempo, é então implementado em PARÂMETROS DA LINHA
softwares do tipo EMTP.
Os parâmetros longitudinais de linhas de transmissão com re-
Devido ao fato de que programas do tipo EMTP não são torno através do solo são fortemente dependentes da freqüên-
de fácil utilização, diversos autores tais como Nelms et alii cia. A descrição do efeito solo foi desenvolvida por Carson e
(1989), Mamis (2003), Mamis e Nacaroglu (2003) e Mácias por Pollaczek (Dommel, 1986). Ambos modelos apresentam
et alii (2005) sugerem descrever as correntes e tensões na resultados iguais quando aplicados em linhas aéreas. No en-
cascata de circuitos π por meio de variáveis de estado. As tanto, em se tratando de cabos subterrâneos, as equações de
equações de estado são então transformadas em equações de Pollaczek apresentam melhores resultados.

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A impedância interna resulta do efeito do campo eletromag-
nético no interior do condutor. Esta impedância própria é Z(ω) = R(ω) + j ω L(ω) (3)
constituída de uma resistência e de uma indutância cujos
comportamentos em função da freqüência pode ser calculada Na equação (3) R(ω) e L(ω) são, respectivamente, a resistên-
através de fórmulas derivadas das equações de Bessel. De- cia e a indutância longitudinal do segmento de linha.
vido ao efeito pelicular, o valor desta resistência aumenta à
medida que a freqüência aumenta enquanto que a indutância Geralmente não existe uma função que descreva a impedân-
diminui com o aumento da freqüência (Marti, 1983). cia Z(ω) pois os parâmetros R(ω) e L(ω) são obtidos por
meio de séries numéricas. No entanto, a impedância Z(ω)
pode ser descrita, de maneira aproximada, por meio de uma
3 LINHAS DE TRANSMISÃO função racional F(ω) cujos pólos são todos reais negativos
Sabe-se que uma linha de transmissão, cujos parâmetros pos- e os resíduos são números reais positivos. Deste modo, a
sam ser considerados independentes da freqüência, pode ser impedância Z(ω) pode ser escrita como sendo (Sarto et alii,
representada, de maneira aproximada e obedecendo a uma 2001):
série de restrições, como sendo uma cascata de circuitos π
(Nelms et alii, 1989; Mácias et alii, 2005). m
X Ki
Z(ω) = F (ω) = Z0 + (4)
A figura 1 mostra uma linha de transmissão monofásica de i=1
1 + jωQi
comprimento d representada através de n circuitos π conec-
tados em cascata. Na equação (4) têm-se:

Na figura 1 os parâmetros R e L são, respectivamente, a resis-


ri 1
tência e a indutância longitudinais da linha e os parâmetros Ki = − ; Qi = − (5)
G e C são, respectivamente, a condutância e a capacitância pi pi
transversais. Estes parâmetros são escritos como sendo:
Sendo pi e ri os pólos e os resíduos, respectivamente, da fun-
ção racional F(ω).
d d
R = R′ ; L = L′ (1) A função F(ω) mostrada na equação (4) descreve a impedân-
n n
cia do circuito mostrado na figura 2.

d d Na figura 2 R0 , R1 , R2 , ..., Rm são resistores enquanto que


G = G′ ; C = C′ (2) L0 , L1 , L2 , ..., Lm são indutores.
n n
Sarto et alii (2001) mostra que a impedância equivalente do
Nas equações (1) e (2) os termos R’, L’, G’ e C’ são os parâ- circuito mostrado na figura 2 é dada por:
metros, da linha, por unidade de comprimento.

A representação da linha por meio de uma cascata de circui- m  


tos π, conforme mostrado na figura 1, permite que as corren-
X Ki
Z(ω) = R0 + jω L0 + jω (6)
tes e tensões ao longo da linha sejam calculadas diretamente i=1
1 + jωQi
no domínio do tempo.
sendo
Quando se leva em conta os efeitos solo e pelicular, os pa-
râmetros longitudinais, por unidade de comprimento, de um
segmento de uma linha de transmissão resulta em uma impe- Ki
Ri = − ; Li = Ki (7)
dância Z(ω) escrita como sendo: Qi

R L R L R L
R1 R2 Rm
R0 L0
G/2 C/2 G G C/2
C C G C G/2

L1 L2 Lm

Figura 1: Linha representada por meio de uma cascata de Figura 2: Circuito cuja impedância é descrita pela função
circuitos π F (ω)

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Portanto, se os valores dos resistores e indutores do circuito Um outro inconveniente dos programas do tipo EMTP é que
mostrado na figura 2 forem escolhidos adequadamente, este os mesmos limitam a quantidade de circuitos π que podem
circuito pode representar a impedância longitudinal de uma ser utilizados para representar a linha. Deste modo, depen-
linha de transmissão. Neste caso, diz-se que os parâmetros dendo do comprimento da linha a ser representada, a quali-
da linha foram sintetizados pelo circuito mostrado na figura dade dos resultados obtidos a partir das simulações podem
2. ficar comprometidos.

Conforme mostrado em Sarto et alii (2001) e em Lima et alii Para contornar as dificuldades mencionadas nos dois pará-
(2005), existem diversos métodos que podem ser utilizados grafos anteriores, Nelms et alii (1989), Mamis (2003) e Ma-
para determinar os resistores e indutores do circuito mostrado mis e Nagaroclu (2003) sugeriram descrever a cascata de cir-
na figura 2. No entanto, estes métodos de ajustes não serão cuitos π por meio de equações de estado. No entanto, estes
explorados neste artigo. autores desprezaram o efeito da freqüência sobre os parâme-
tros longitudinais da linha.
Considerando que os parâmetros de uma linha de transmis-
são podem ser sintetizados por meio de um circuito do tipo Este artigo têm como principal objetivo tornar o modelo pro-
mostrado na figura 2, pode-se utilizar uma cascata de circui- posto por Nelms et alii (1989), Mamis (2003) e Mamis e Na-
tos π para representar uma linha de transmissão levando em garoclu (2003) mais completo, inserindo no mesmo o efeito
conta o efeito da freqüência sobre os parâmetros longitudi- da freqüência sobre os parâmetros longitudinais da linha.
nais da mesma.
O efeito da freqüência sobre os parâmetros longitudinais da
A figura 3 mostra um circuito π de uma cascata que repre- linha será representado, em cada um dos circuitos π da cas-
senta uma linha de transmissão, quando se considera o efeito cata que representa a linha, por meio de um circuito do tipo
da freqüência sobre os parâmetros longitudinais da mesma. mostrado na figura 2. Em seguida, as correntes e tensões ao
longo da linha serão escritas na forma equações de estado.
Na figura 3 as associações RL paralelas são tantas quantas As soluções das equações de estado poderão então ser obti-
forem necessárias para representar a variação dos parâmetros das por meio de métodos numéricos, sem o uso de programas
em cada década de freqüência que será considerada. do tipo EMTP.
A representação de linhas de transmissão por meio de casca- Inicialmente serão mostradas as matrizes de estado para uma
tas de circuitos π geralmente é utilizada nas simulações de linha representada por um único circuito π, considerando que
transitórios eletromagnéticos oriundos de operações de ma- o efeito da freqüência é sintetizado por meio de m associa-
nobras e chaveamento de linhas (Tavares et alii, 1999). ções RL conforme mostrado na figura 2. Em seguida, os
resultados serão estendidos para uma linha representada por
4 REPRESENTAÇÃO DA LINHA POR meio de uma cascata de n circuitos π, considerando m asso-
MEIO DE VARIÁVEIS DE ESTADO ciações RL para sintetizar o efeito da freqüência.

A representação de linhas de transmissão por meio de cas- 4.1 Linha representada por um circuito π
catas de circuitos π, levando em consideração o efeito da
freqüência, geralmente é implementado em programas do Antes de determinarmos as equações de estado para uma li-
tipo EMTP. No entanto o EMTP é um programa de custo nha representada por uma cascata de n circuitos π, vamos
elevado cuja utilização requer por parte do usuário um vasto mostrar detalhadamente o desenvolvimento das equações de
conhecimento referente a análise de sistemas de potência. estado considerando somente um circuito π. Em seguida, o
desenvolvimento feito para um único elemento π poderá ser
R1 R2 Rm estendido para uma cascata com uma quantidade genérica de
R0 L0 circuitos π.

L1 L2 Lm Considere, conforme mostrado na figura 4, uma linha de


transmissão representada por meio de um único circuito π,
G C G C onde o efeito da freqüência sobre os parâmetros longitudi-
2 2 2 2 nais é representado por meio de m associações RL.

Na linha mostrada na figura 4 as tensões nos terminais A e


B são u(t) e v1 (t), respectivamente. Considere também que
Figura 3: Inserção do efeito da freqüência nos circuitos que nos indutores L0 , L1 , L2 , ..., Lm circulam as correntes i10 (t),
representam a linha i11 (t), ..., i1m (t), respectivamente.

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R1 R2 Rm
R0 L0
A B  
j=m
P
Rj
L1 L2 Lm
 − j=0
 L0
R1
L0
R2
L0 ··· Rm
L0 − L10 

 
 
R1
G C G C 
 L1 −R1
L1 0 ··· 0 0  
2 2 2 2 



R2
0 −R 0 0 
 2

 L2 L2 ···
[A] = 



.. .. ..
 
..
Figura 4: Linha representada por um único circuito π
 
 . . . . 0 0 
 
 
Rm
· · · −R
 

 Lm 0 0 m
Lm 0  
A partir das correntes e tensões definidas nos elementos do  
2
circuito mostrado na figura 4 é possível escrever: C 0 0 ··· 0 −G
C
(14)

 
    1
d i10 i10 
m
1 
m [B]T = 0 0 ··· 0 0 (15)
L0
X X
= − Rj  + Rj i1j  +
dt L0 j=1
L 0 j=1

1 1
+ u(t) − v1 (t) (8) [X]T =

i10 i11 i12 · · · i1m v1 (t)

(16)
L0 L0

d i11 R1 R1
= i10 − i11 (9) • d [X]
dt L1 L1 [X ] = =
dt
h iT
d i10 d i11 d i12 d i1m d v1 (t)
= dt dt dt ··· dt dt
(17)
d i12 R2 R2
= i10 − i12 (10)
dt L2 L2 Nas equações (15) e (16) [B]T e [X]T correspondem a [B] e
[X] transpostos, respectivamente.

d i1m Rm Rm Os resultados obtidos mostram que o vetor [X] possui (m +


= i10 − i1m (11) 2) elementos e que a matriz [A] é uma matriz quadrada de
dt Lm Lm
ordem (m + 2).

d v1 (t) 2 G 4.2 Linha representada por n circuitos π


= i10 − v1 (t) (12)
dt C C
Os resultados obtidos para a linha representada por um único
circuito π podem ser estendidos para a linha representada por
Nas equações (8)-(12) os termos i10 , i11 , ..., i1m são nota- uma cascata de n circuitos π. Neste caso, a matriz [A] será
ções simplificadas para as correntes i10 (t), i11 (t), ..., i1m (t), uma matriz de ordem n(m + 2) e o vetor [X] terá dimensão
respectivamente. n(m + 2) e serão escritos na forma:
As equações (8)-(12), que descrevem o circuito mostrado na  
figura 4, podem ser escritas na forma: [A11 ] [A12 ]
[A1n ]···
 [A21 ] [A22 ]
[A2n ] 
···
[A] =  (18)
 
.. .. ..


 . . ···  .
[X ] = [A] [X] + [B] u(t) (13) [An1 ] [An2 ] · · · [Ann ]

[X]T =
 
sendo [X1 ] [X2 ] · · · [Xn ] (19)

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Na equação (18) [A] é uma matriz tridiagonal cujos elemen- π
tos são matrizes quadradas de ordem (m + 2). Um elemento
chave S
[Akk ] genérico da diagonal principal da matriz [A] é escrito
A B
sob a forma:
u(t) =20 kV
 j=m
P

Rj
 − j=0
 L0
R1
L0
R2
L0 ··· Rm
L0 − L10 

 

R1
 Figura 5: Linha monofásica com terminal B aberto
−R1
0 0 0 
 
 L1 L1 ···
 
 
 R2
0 −R2
··· 0 0 
 A equação de estado, que descreve uma linha representada
L2 L2

[Akk ] = 


 por uma cascata de n circuitos π, pode então ser resolvida

 .. .. .. ..

 por meio de métodos numéricos.
 . . . . 0 0 
 
5 TESTE DO MODELO
 
Rm
· · · −R
 

 Lm 0 0 m
Lm 0  
  Para verificar a performance do modelo desenvolvido,o
1 G
C 0 0 ··· 0 −C mesmo foi utilizado para simular a energização da linha mo-
(20) nofásica mostrada na figura 5.
Um elemento qualquer da subdiagonal superior na equação A linha mostrada na figura 5 é uma linha monofásica de 10
(18) é uma matriz quadrada de ordem (m + 2) cujo único km de comprimento. No terminal A desta linha é aplicado
elemento não nulo
 se situa
 na primeira coluna da última linha uma tensão constante de 20 kV no instante de tempo t = 0.
e possui valor −1/C .
Está sendo considerado que os parâmetros longitudinais da
Os elementos da subdiagonal inferior na equação (18) são linha, por unidade de comprimento, podem ser perfeitamente
matrizes quadradas de ordem (m + 2). Estas matrizes pos- sintetizados por um circuito constituído de um bloco RL série
suem um único elemento não nulo que conectado em série com 4 blocos RL paralelos, conforme
 sesitua na última co-
mostra a figura 6.
luna da primeira linha cujo valor é 1/L0 .
Os valores dos elementos R e L utilizados para sintetizar o
Considerando que a linha é representada por uma cascata de efeito da freqüência sobre os parâmetros longitudinais da li-
n circuitos π, o vetor [B] possui dimensão n(m + 2). Para nha foram obtidos utilizando o método proposto por Tavares
o caso de u(t) ser uma fonte de tensão conectada no início (1998) e são mostrados na tabela 1.
da linha [B] possui um único elemento não  nulo,
 que é o
1
primeiro elemento da matriz, e possui valor /L0 . Neste artigo foi considerado que os elementos mostrados na
tabela 1 sintetizam perfeitamente os parâmetros unitários da
Um vetor [Xk ] genérico, na equação (19), é escrito como linha. Portanto, não estão sendo levados em conta os erros
sendo: entre as curvas que descrevem o comportamento dos parâ-
metros e as curvas sintetizadas com as associações R e L.

Os parâmetros transversais unitários da linha mostrada na fi-


[Xk ]T =
 
ik0 ik1 ik2 · · · ikm vk1 (t) (21) gura 5 são G′ = 0, 556 µS/km e C ′ = 11, 11ηF/km.

Na equação (21), os elementos do vetor [Xk ] são: As figuras 7 e 8 mostram os parâmetros unitários da linha

ik0 Corrente no indutor L0 , do k-ésimo circuito π R’1 R’2 R’4


R’3
R’0 L’0
ik1 Corrente no indutor L1 , do k-ésimo circuito π

ik2 Corrente no indutor L2 , do k-ésimo circuito π L’1 L’2 L’3 L’4

ikm Corrente no indutor Lm , do k-ésimo circuito π


Figura 6: Circuito utilizado na síntese dos parâmetros unitá-
vk Tensão no capacitor no lado direito do k-ésimo circuito rios da linha

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5
Tabela 1: Valores dos elementos R e L utilizados na síntese
dos parâmetros unitários da linha
4

Indutância (mH/km)
Resistências (Ω) Indutâncias (mH)
R0′ 0,026 L′0 2,209 3

R1′ 1,470 L′1 0,74


′ ′
R2 2,354 L2 0,12 2

R3′ 20,149 L′3 0,10


R4′ 111,111 L4′
0,05 1

0
1 2 3 4 5 6
10 10 10 10 10 10
que foram sintetizados pelo circuito mostrado na figura 6. Freqüência (Hz)

Utilizando os dados mostrados na tabela 1 é possível montar Figura 8: Síntese da indutância unitária da linha
a cascata de circuitos π que representa a linha mostrada na
figura 5.
A versão do Microtran que foi utilizada permitiu a utilização
5.1 Comparação com o Microtran de somente 166 circuitos π para representar a linha mostrada
na figura 5. Portanto, neste teste foram utilizados 166 circui-
Uma vez que os valores dos elementos R e L da cascata tos π para representar a linha.
de circuitos π que descrevem a linha são conhecidos, pode-
se montar as equações de estado que descrevem o compor- Então, substituindo os dados da tabela 1 na equação (1), é
tamento das correntes e tensões ao longo da mesma. Es- possível determinar os valores dos elementos R e L que cons-
tas equações de estado constituem então o modelo que está tituem cada um dos 166 circuitos π que representam a linha.
sendo proposto neste artigo.
A tabela 2 mostra os valores dos elementos R e L que consti-
A mesma cascata de circuitos π foi também inserida no Mi- tuem cada um dos 166 circuitos π utilizados para representar
crotran. Deste modo foi possível comparar os resultados ob- a linha.
tidos com o modelo proposto com os resultados obtidos a
partir de um programa de referência que é o Microtran. Tabela 2: Valores dos elementos R e L para a linha represen-
tada por 166 circuitos π
As simulações utilizando o modelo proposto neste artigo fo-
ram realizadas no ambiente Matlab, utilizando o método de
Resistências (Ω) Indutâncias (mH)
integração trapezoidal (Nelms, 1989).
R0 0,00157 L0 0,13307
3
10 R1 0,08854 L1 0,04458
R2 0,14181 L2 0,00723
2
10
R3 1,21380 L3 0,00602
R4 6,69343 L4 0,00301
Resistência (ohms/km)

1
10

0
Os valores da condutância G e da capacitância C em cada um
10
dos 166 circuitos π, calculados a partir da equação (2), são
G = 0, 03349 µS e C = 0, 66928 ηF , respectivamente.
-1
10
A energização da linha ocorreu em duas situações: Na pri-
-2
meira situação considerou-se que o terminal B da linha es-
10
1
10 10
2
10
3 4
10
5
10 10
6 tava em aberto (conforme mostra a figura 5) e, na segunda
Freqüência (Hz) situação considerou-se que o terminal B da linha estava co-
nectado a um transformador em vazio.
Figura 7: Síntese da resistência unitária da linha
Em estudos de transitórios eletromagnéticos resultantes de

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chave S 50
A B

Tensão no terminal da linha(kV)


40
u(t) =20 kV
CT

30

Figura 9: Linha conectada a um transformador 20 1


2

10
operações de manobras e chaveamentos de linhas de trans-
missão, um transformador pode ser representado por uma
capacitância conectada entre a linha e o solo (Nelms, 1989) 0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
conforme mostra a figura 9. Tempo (ms)

Foi utilizado um transformador que, durante as operações de


Figura 11: Tensão no terminal B da linha conectada a um
manobras e chaveamentos da linha, pode ser representado
transformador - modelo proposto (1) e Microtran (2)
por uma capacitância CT = 6 ηF (Nelms, 1989).

As figuras 10 e 11 mostram a tensão no terminal B da li-


nha aberta e da linha conectada a um transformador em va- tensão ao longo da linha, deve-se mostrar, em um dado ins-
zio, respectivamente, durante o processo de energização da tante de tempo, o valor da tensão em cada ponto da linha,
mesma. A curva 1 mostra os resultados obtidos com o mo- sendo que, para que se tenha uma boa visualização do fenô-
delo desenvolvido e a curva 2 mostra os resultados obtidos meno, é necessário a utilização de uma grande quantidade
com o Microtran. de circuitos π. No entanto, os programas computacionais do
tipo EMTP limitam a quantidade de circuitos π que podem
Observa-se, nas figuras 10 e 11, que os resultados obtido com ser implementados sendo que, para o caso de linhas longas,
o modelo proposto são praticamente coincidentes com os re- nem sempre é possível mostrar, com boa resolução, a distri-
sultados obtidos com o Microtran. Este fato constata que o buição da tensão ao longo da linha.
modelo proposto está correto.
Uma vez que o modelo proposto no artigo não restringe a
5.2 Visualização da propagação de on- quantidade de circuitos π a ser utilizada, o mesmo poderia
ser utilizado para mostrar a distribuição da onda de tensão ao
das longo da linha.
Para que seja possível visualizar a propagação da onda de Como ilustração o modelo desenvolvido foi utilizado para
mostrar a distribuição da tensão ao longo da linha em aberta,
50 mostrada na figura 5, durante o processo de energização da
mesma. Neste caso, a linha foi representada por meio de 500
circuitos π.
Tensão no terminal da linha (kV)

40

A tabela 3 mostra os valores dos elementos R e L que consti-


30 tuem cada um dos 500 circuitos π utilizados para representar
a linha. Estes valores foram obtidos a partir da substituição
dos dados da tabela 1 na equação (1).
20 1
2
Os valores da condutância G e da capacitância C em cada um
dos 500 circuitos π, calculados a partir da equação (2), são
10
G = 0, 01112 µS e C = 0, 2222 ηF , respectivamente.

0 Serão mostrados somente os resultados obtidos com o mo-


0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Tempo (ms)
delo desenvolvido pois o Microtran permite a utilização de
somente 166 circuitos π.
Figura 10: Tensão no terminal B da linha aberta - modelo
A figura 12 mostra a distribuição da tensão ao longo da linha
Proposto (1) e Microtran (2) nos instantes de tempo t = 15 µs, t = 25 µs, t = 35 µs e

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45
Tabela 3: Valores dos elementos R e L para a linha represen-
tada por 500 circuitos π 40

Resistências (Ω) Indutâncias (mH) 35

R0 0,00052 L0 0,04418

Tensão (kV)
30
R1 0,02940 L1 0,00148 t = 95 us t = 85 us t = 75 us t = 65 us

R2 0,04708 L2 0,00240 25

R3 0,40298 L3 0,00200
20
R4 2,22222 L4 0,00100
15

10
0 2 4 6 8 10
t = 45 µs após a energização da linha com uma tensão de Posição ao longo da linha (km)
20 kV.
25
Figura 13: Distribuição da tensão ao longo da linha

20 B e agora se encontra a 7 km (aproximadamente) do terminal


A. Em um tempo t = 75 µs a onda de tensão está na posi-
ção 5 km em relação ao terminal A. No instante de tempo
Tensão (kV)

15
t = 85 µs a onda de tensão se encontra a 3 km do terminal A
t=15 us t=25 us t=35 us t=45 us
e no instante de tempo t = 95 µs a onda se encontra a uma
10 distância de 1 km do terminal A.

5 6 CONCLUSÕES
Neste trabalho os autores se propõem a representar a cascata
0
0 2 4 6 8 10 de circuitos π que representa uma linha de transmissão, cujos
Posição ao longo da linha (km)
parâmetros são considerados variáveis em relação à freqüên-
cia, por meio de variáveis de estado. Este modelo é então
Figura 12: Distribuição da tensão ao longo da linha
implementado no Matlab.

A figura 12 mostra que decorridos um intervalo de tempo Para verificar o desempenho do modelo proposto, uma linha
de 15 µs após a energização as posições ao longo da linha monofásica de 10 km foi representada por uma cascata de
que encontram se a menos de 3 km (aproximadamente) me- circuitos π. Esta cascata foi descrita por variáveis de estado
didos em relação ao terminal A encontram energizados, en- e também foi inserida no Microtran que é um programa do
quanto que as posições situadas a mais de 3 km em relação tipo EMTP. Foi feito então a simulação da energização da
ao terminal A possuem tensão nula. Decorridos 25 µs após linha utilizando o Matlab e o Microtran e verificou-se que os
o fechamento da chave, observa-se que a tensão propagou-se resultados são praticamente idênticos.
até a posição 5 km (aproximadamente). Após 35 µs a onda
A vantagem do modelo proposto é que o mesmo dispensa
de tensão encontra-se a 7 km medidos em relação ao ponto
o uso de programas do tipo EMTP, podendo ser facilmente
A e após 45 µs, um trecho de 9 km de linha já se encontra
implementado no Matlab que é um aplicativo mais amigá-
energizado. A onda continuará sua propagação até alcançar
vel que o Microtran. A representação por meio de variáveis
o terminal B da linha, com uma amplitude de 20 kV.
de estado pode ser utilizada no ensino de conceitos básicos
A figura 13 mostra a distribuição da tensão ao longo da linha de propagação de ondas em linhas de transmissão, na aná-
nos instantes de tempo t = 65 µs, t = 75 µs, t = 85 µs e lise da distribuição de correntes e tensões ao longo da linha
t = 95 µs após a energização da linha. e na simulação de transitórios eletromagnéticos em linhas de
transmissão que tenham elementos não lineares.Uma outra
A figura 13 mostra que após a onda de tensão alcançar o ter- vantagem é que o Matlab permite o uso de uma quantidade
minal B da linha a mesma retorna para o terminal A, tendo de circuitos π maior que o permitido pelo Microtran. Esta
seu valor aumentado. Decorridos um tempo de 65 µs, após a maior capacidade do Matlab permite representar linhas trifá-
energização da linha, a onda de tensão já alcançou o terminal sicas (decompostas em seus modos) de grande comprimento.

Revista Controle & Automação/Vol.18 no.3/Julho, Agosto e Setembro 2007 345


A quantidade de circuitos π utilizada provavelmente pode Marti, L. (1988). Simulation of Transients in Underground
ser aumentada se o modelo for implementado em linguagens Cables with Frequency-Dependent Modal Transforma-
como FORTRAN ou C. tion Matrices. IEEE Transactions on Power Delivery,
Vol. 3, No. 3; pp. 1099-1110.
AGRADECIMENTOS Nelms, R. M., G. B. Sheble, S. R. Newton and L. L. Grigsby
(1989). Using a Personal Computer to Teach Power
Os autores agradecem à FAPESP (Fundação de Amparo à System Transients. IEEE Transactions on Power Sys-
pesquisa) a concessão verbas para compra de equipamen-
tems, Vol. 4, No. 3; pp. 1293-1297.
tos e de bolsas de estudos (de Iniciação Científica e de Pós-
Doutorado) que possibilitaram o desenvolvimento deste tra- Sarto, M. S., A. Scarlatti and C. L. Holloway (2001). On
balho. the Use of Fitting Models for the Time-Domain Analy-
sis on Problems with Frequency-Dependent Parame-
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