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Filosofia-RONNEY

Sócrates não registra nenhum de seus ensinamentos, quem registra é Platão.


Platão só registra diálogos relacionado ao tema ético político. Do ponto de vista
político nesses diálogos se vê uma crítica ao que acontece em Atenas, uma
crítica socrática. As reflexões relacionada a ética e a política estão relacionadas
a democracia. Quando Sócrates fala da parresia da importância de falar a
verdade, isso se dá no ponto de vista político e pessoal. Há sempre dicotomias,
separações. Para alcançar a verdade do ponto de vista metodológico, tem de se
praticar o exercício racional, pois Sócrates era racionalista. Esse exercício parte
do nível mais rasteiro para chegar ao mais profundo. Chegar a verdade significa
conceituar lógico racionalmente algo. O método socrático é racionalista,
dialético e dialógico, ensina o pensar filosófico através do diálogo, de uma
conversa entre ele e seus interlocutores.

Revisionismo – Está sendo revisionado o saber do interlocutor. O interlocutor


tem um saber simplista, o Dóxa, no diálogo ele chega ao saber verdadeiro, a
Noetica.

Todo diálogo socrático obedece a uma estrutura. Esta estrutura se dá da


seguinte forma:

PROTRÉPTICO – É um convite que Sócrates faz ao interlocutor, uma exortação,


um chamamento para debater algum assunto e chegar a essência daquele
assunto.

ÉLENKHOS – O ensinamento se dá através de uma conversa não aleatória com


o objetivo precípuo de chegar a essência. É um encadeamento de perguntas e
respostas com o propósito de se encontrar a verdade, neste encadeamento
percebe-se três elementos: EIRONIA, MAIÊUTICA e APORIA. Isso se encontra
em todos os diálogos.

EIRONIA – Por conta da emergência de dois saberes dialéticos. O saber do


interlocutor e o saber de Sócrates. O saber do interlocutor é vulgar, está ligado
a ignorância tacanha e por isso se posiciona de forma arrogante por achar que
sabe, suposição do saber. Sócrates é um ignorante douto, ele conduz o diálogo
de maneira que essa arrogância fique muito clara a ponto do interlocutor admitir
que não sabe, cair em uma contradição, reconhecendo que não sabe. Este
processo de condução da fala do interlocutor que se chama EIRONIA. Sócrates
usa como recurso metodológico para que a pessoa, ela mesma veja que o que
ela achou que sabia não era suficiente para definir algo. É perigosa porque gera
raiva e ódio da parte do interlocutor e Sócrates era perseguido. A filosofia é
perigosa desde sempre porque ela é uma ameaça para aquilo que está
convencionado e estabelecido, ela transgride a ordem.

A ignorância douta leva a pessoa a ter uma postura de modéstia e humildade,


por isso Sócrates vai dizer “A única coisa que sei é que não sei”. Então esta
ignorância faz com que você, porque não sabe, queira sempre saber e saber
cada vez mais.

MAIÊUTICA – Sócrates cria a MAIÊUTICA para homenagear sua mãe que era
parteira. Literalmente na tradução grega significa a arte de fazer o parto.
Sócrates é um parteiro do conhecimento verdadeiro dentro do interlocutor,
Sócrates só estimula esse conhecimento quando ensina a pessoa a pensar
filosoficamente. Sócrates é um veículo para ensinar a refletir sobre o indivíduo
mesmo e sobre a realidade, conhecimento socrático é autoconhecimento. A
filosofia é instrumento hábil parar levar você a refletir sobre você, refletir de forma
crítica. A filosofia vai ter serventia para aqueles que entendem que sua existência
é construída ao longo da vida e que o homem, o indivíduo é a falha, a falta, o
limite e a imperfeição, a filosofia serve para os humildes. Sócrates é um parteiro
de ideias e de conhecimento crítico.

Em primeiro lugar você toma conhecimento sobre a sua própria ignorância, sobre
si mesmo e em segundo lugar você toma conhecimento sobre sua ignorância
acerca do real, então você vai se investigar e também o real de forma crítica
reflexiva. Há duas dimensões: a individual, que é o conhecimento sobre si próprio
e a coletiva, que é o conhecimento sobre o real. No conhecimento real está o
conhecimento político, está a pratica da democracia.

APORIA – A própria compreensão que Sócrates tem da filosofia explica isso.


“SÓ SEI QUE NADA SEI.” Por mais que se saiba muita coisa escapa a
capacidade do indivíduo, ou seja, os diálogos nunca são conclusivos. Traduzindo
do grego essa palavra significa ausência de conclusão, sem saída. Por mais que
conheça muita coisa deixarei de conhecer tantas outras. A aporia é a
compreensão de que o conhecimento é extremamente vasto em relação a minha
capacidade de empreende-lo, faz com que o filosofo fique na moderança, na
humildade, na modéstia.

Um dos princípios de Sócrates é admitir a própria ignorância, significa ter


habilidade para lidar com as incertezas, pois a realidade é incerta. O
conhecimento que eu tenho sobre a realidade é sempre um conhecimento
limitado. Há um paradoxo, pois avanço no conhecimento do real de mim mesmo
na medida em que meu pensamento se abre, quanto maior for minha abertura
de mentalidade mais eu conheço e quanto mais conheço mais deixo de
conhecer, porque não vou conhecer tudo. A APORIA é a busca incessante pelo
saber que não é de forma alguma conclusiva.

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