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Escolhi Marcel Duchamp para fazer este trabalho porque me identifico com
muitas questões de sua trajetória. Como já disse no trabalho sobre Duchamp e Giotto, os
questionamentos que ele levanta, principalmente sobre o mercado de arte, tem muito a
ver com o que eu entendo por arte e o que eu gosto em arte, me ajudou a entender
melhor o meu juízo de gosto, e deste modo fortalecer os motivos pelos quais eu estudo
arte.
A ATEMPORALIDADE DE MARCEL DUCHAMP
O QUE É ARTE?
Uma das questões mais significativas para mim das tantas que Duchamp
levantou é o questionamento sobre o que é arte. E mais significativo ainda é a falta de
respostas para esta pergunta. Não existir uma resposta fechada amplia as possibilidades
artísticas, tanto de criação quanto de interpretação.
Para Duchamp a arte não se dá pelo belo, questão tão amplamente estudada na
Filosofia, porque o belo está sujeito ao juízo de gosto que é invariavelmente subjetivo.
A arte é a ideia. “Do Renascimento até Picasso as transformações artísticas se deram no
interior de uma linguagem pictórica, de uma concepção histórica da forma e do objeto
artístico” (OSÓRIO, Luiz Camillo). Marcel Duchamp fez um tipo de arte que não se
enquadrava nessas categorias: os ready mades. Abriu assim o caminho para a
exploração dos diversos materiais na arte, característica importante da Arte
Contemporânea.
A arte que ele defendia se opunha à arte retiniana, que seria uma arte agradável
aos olhos. Uma arte de contemplação. Duchamp pretende uma arte mental, que
confronte o público, force-o a pensar e refletir sobre a questão da arte enquanto
linguagem. A reflexão era o objetivo da obra e depois dele, a arte nunca mais deixou de
trabalhar com conceitos.
Quando Duchamp coloca objetos de fabricação industrial numa exposição, ele
está questionando o sistema que afirma saber distinguir a arte da não-arte. Quando ele
faz uma arte que confronta o público em oposição à arte retiniana, ele está
questionando o valor artístico de obras que só serviriam para decoração. Quando ele
afirma que a pintura está morta, é um movimento de repensar insistentemente a obra de
arte e seus meios. Ele faz com que o mundo da arte desconsidere seus conceitos rígidos
e aceite, aos poucos, estas formas de arte que fogem ao que era comum. A ação de
Duchamp como artista é de escovar a contrapelo****
Hoje continuamos sem definir o que é arte. A busca incessante pelas novas
formas de fazer arte parece ter esgotado possibilidades e aparenta ter virado uma
repetição de fórmulas. Acredito que o estímulo de Duchamp foi no sentido da arte não
se acomodar, estar sempre se reinventando. As reivindicações de Duchamp ainda são
aplicáveis.
ARTE E MERCADO
Se o ser ou não ser arte saiu de pauta, em seu lugar parece ter entrado a questão
do entendível. A ditadura do belo substituída pela ditadura do entendível. A
consequência é uma arte para especialistas. Esta arte é para que? Para quem? É uma arte
que atingiria a posteridade? Duchamp percebeu as questões comerciais da arte e as
expôs. O que faz com que consideremos um objeto arte hoje? Não pode ser porque a
galeria de arte quer vender mais obras. Há de haver outros critérios, quais são eles?
Uma ação Duchampiana se faz necessária na arte de hoje para confrontar a banalização
da experiência estética. Provavelmente esta sensação que tenho se dá pela forma como a
história é contada, como se em algum momento a arte tivesse sido linear e como se
intervenções como as de Duchamp tivessem um impacto significativo imediato.
Dentro dessa lógica as ações Duchampianas serão sempre necessárias, para estimular e
provocar o fazer e o entender artístico, e porque contribuem no processo de validação da
relevância social de um artista, obra ou movimento para que ele figure na História da
Arte. Por isso afirmo novamente a atemporalidade de Marcel Duchamp.
BIBLIOGRAFIA
CHILVERS, Ian. et al. Arte: artistas, obras, detalhes, temas: 1960 em diante. São
Paulo: Publifolha, 2012.
LEENHARDT, Jacques. Rumos da Crítica. 2º edição. São Paulo: Editora Senac, 2007.
KATO, Gisele. O homem que reinventou a arte. Revista Bravo! São Paulo, volume
131, Julho de 2008.
FILIPOVIC, Elena. Marcel Duchamp: uma obra que não é de arte. Disponível em <
http://mam.org.br/exposicao/marcel-duchamp-uma-obra-que-nao-e-uma-obra-de-arte/
>. Acesso em: 1 de Junho de 2014.