Você está na página 1de 7

Céu da Boca

por:
Amanda Trindade

amandamtrindade@gmail.com
CENA01 - INT APARTAMENTO - DIA
MARI 23, uma moça de pele verde e cabelos azuis veste sua
camiseta enquanto BÊ de pele vermelha amarra os cardaços de
seu tênis num canto do apartamento bagunçado.
MARI
Então, não podemos mais ficar se
você não gosta do Roberto.


Eu, eu gosto dele.
Um silêncio constrangedor se instaura no apartamento
enquanto Mari caminha em direção à porta, mostrando a saída
à Bê.
MARI
Tá certo, ãnh eu tenho que
encontrar meu irmão agora, tá?

Mari abre a porta esperando Bê sair



Me manda mensagem depois?
MARI
Não dá, o Roberto engoliu meu
celular.
Mari já estava fechando a porta na cara de Bê. Andou até sua
cama olhou para um gato sentado no meio da cama, deitou ao
lado do gato.

MARI
Por que a vida é tão complexa
Roberto?

ROBERTO GATO
(voz off)
A vida não é complexa, ela promete
ser algo simples, somente 4 passos
para continuar sua espécie. É um
espectro, um flash dentro do
universo, irrelevante. Praticamente
uma ilusão. O que te faz
desacreditar na gravidade quando se
está dentro de um avião? A
gravidade? O vácuo existe? Como
posso ter certeza de que você não é
uma vávula de escape que minha
mente inventou para eu não me
sentir sozinho? Eu sou fruto da sua
imaginação?

(CONTINUED)
CONTINUED: 2.

ROBERTO GATO
miau.

CENA 02 - ALGUM LUGAR N DECIDIDO - DIA

Mari chega atrasado ao local combinado senta ao lado de uma


criança de 7 anos que parecia estar emburrada pois foi
obrigada a esperar e beija sua cabeça.
MARI
Oi maninho, como cê tá?
MARQUINHOS
(resmungando)
Me conta uma história?

FADE TO WHITE

CENA 03 - CAMPO EM BRANCO


Mari e Marquinhos estão vestidos com peles de animais que
cobrem praticamente todo seu corpo, Mari senta no chão e
Marquinhos fica em pé
MARI
Antes, tudo era gigante, por isso
nada era. As árvores eram gigantes,
os animais eram gigantes e as
pessoas igualmente gigantes. Até
que chegou um dia que tudo
encolheu, exceto a gente e por isso
tínhamos que construir novas casas
e isso nos deixava triste.

Enquanto Mari narrava a história gigantes apareciam no campo


em branco no meio de árvores e animais gigantes, que depois
diminuíram restando apenas um gigante sozinho no campo em
branco, os irmãos, miúdos no meio da infinitude observavam a
história.

CENA 04- INT. BAR - NOITE


Mari estava em um bar sentada no balcão bebendo uma cerveja,
tocava "Fazer Falta- MC Livinho" ao fundo, usava seu cabelo
preso e sua blusa que tinha as mangas rasgadas e a estampa
"FLUOR IS DEATH" na parte da frente. Uma pessoa também
sentada no balcão ficou encarando a menina, ela percebeu e
começou a falar com a pessoa.

(CONTINUED)
CONTINUED: 3.

MARI
O governo coloca flúor na sua água,
isso derrete seu cérebro e ninguém
te avisa.
A pessoa que estava encarando Mari sai do balcão sem dizer
nada, ela decide ir ao banheiro.

CENA 05 - INT. BANHEIRO DO BAR - NOITE


Mari estava no banheiro do bar que não era tão sujo, mas
poderia ser mais limpo, tinha azulejos e o piso laranja,
alguns pixos na porta do banheiro e um espelho perto da pia
onde foi lavar a mão. Ela olha no espelho e vê um chifre do
meio de sua cara, Mari entra em desespero. A perspetiva do
banheiro começa a ficar distorcida, ela sai do banheiro
correndo.

CENA 06 - INT. BAR - NOITE

Mari sai correndo do banheiro e rouba uma touca rosa de uma


pessoa que estava escorada na parede beijando outra, ela
coloca a touca e sai correndo do bar, ao sair a calçada se
desfaz. Ela cai.

Há transições psicodélicas enquanto ela cai, mesmo assim ela


segura a touca para não escapar da cabeça.

CENA07 - EXT. MAR - DIA

Mari se encontra sentada em alguma parte do oceano, não


chega a ser o fundo pois é um lugar claro, também não vê
muitas plantas marinhas nem peixes, exceto um, há um
blobfish gigante próximo dela, ele a encara, em volta deles
há pequenos fantasmas de luz, eles nadam inofensivos acima
deles, Mari acabou perdendo a touca que tinha acabado de
roubar.
BLOBFISH
Por que você é triste?

MARI
Por que você é triste?
BLOBFISH
Porque nasci com cara de gente
MARI
É.. é um bom motivo pra ficar
triste. Mas agora...eu queria ter
cara de gente

(CONTINUED)
CONTINUED: 4.

BLOBFISH
Pra viver triste?
MARI
Pra não virar rinoceronte

BLOBFISH
Eu não conheço rinocerontes, mas eu
nasci com cara de gente e isso eu
não posso mudar. Mas se eu nunca
tivesse visto meu reflexo na vida
eu ainda seria triste?
MARI
(ficando pistola)
Mas, mas os rinocerontes são maus

BLOBFISH
Se eles são maus, o que é você?
MARI
(retraída)
....sou menina

BLOBFISH
E como é ser menina?
MARI
eu já nem lembro mais...

Mari cutuca com o dedo um dos fantasminhas na barriga, eles


são inofensivos e toscos, ela olha com cuidado para ele.
MARI
O que é isso?

BLOBFISH
São pensamentos.
Mari dá pequenos tapinhas na cabeça de um deles enquando
Blobfish falav

BLOBFISH
Pensamentos reprimidos, deixados de
lado e forçados a se esconder
comigo, assim como você está
fazendo.

Miados ressoam no fundo do mar.


MARI
Já vou indo, o Roberto deve estar
com fome.
5.

CENA 08 - INT. APARTAMENTO - DIA


Marquinhos está apertando e abraçando o gato Roberto que não
miava continuamente, Mari notou que estava de touca e foi
resgatar o gato do colo do irmão, pegou roberto nos braços e
o colocou no chão, ficou encarando o irmão pra saber o
motivo de sua visita
MARQUINHOS
Fiquei pra dar comida pro Roberto.
Você sumiu por duas semanas.

Mari abraça o Marquinhos e o leva para continuar a historia.


FADE TO WHITE

CENA 09 - EXT. CAMPO ABERTO - DIA


Mari e Marquinhos estão sentados no grande campo em branco
novamente, ela continua a história sobre os gigantes. E à
medida que contava os gigantes novamente apareciam na
imensidão branca.

MARI
Os gigantes estavam tristes e isso
os fazia chorar. E suas lágrimas
serviam como chuva para aquele
ambiente, as árvores estavam mais
verdes, os lagos mais cheios e os
animais mais saudáveis e isso fazia
os gigantes chorarem ainda mais e
desejarem ser pequenos. Mas se eles
fossem pequenos não haveria chuva e
todo aquele ambiente morreria.

Quando a história acabou só restaram os irmãos vestidos em


pele na imensidão branca, Marquinhos olhava pra baixo
enquanto sacudia as pernas.
MARQUINHOS
Legal.
MARI
É

Os dois encaram o chão.


MARI
(sussurrando)
Estou virando um rinoceronte.

(CONTINUED)
CONTINUED: 6.

MARQUINHOS
Isso é algo ruim?
Marquinhos encara Mari que responde balançando os ombros.
MARQUINHOS
Rinocerontes são feios?
MARI
Acho que não.

MARQUINHOS
Eles são maus?
Mari resolve mentir e não encara o irmão.
MARI
Não.
Marquinhos dá um abraço em Mari que não retribui porque foi
surpreendida com o ato repentino, o abraço é sincero e
demorado, ele levanta e sai. Mari continua parada observando
o irmão indo embora, até que um fantasma de luz, inofensivo
e tosco, sai de sua orelha como se esperasse ela pega a
criatura nos braços e lhe dá um beijinho na testa.
FIM.

Você também pode gostar