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ENFERMAGEM E QUALIDADE DE VIDA: CONTEXTO HOSPITALAR


NOTURNO
Nursing and quality of life: hospital nocturnal environment

Fernanda Cristina FOCHI


Samira Polettini VILLALVA
Faculdade de Jaguariúna

Resumo: O estudo objetiva investigar a qualidade de vida do profissional de


enfermagem que trabalha no período noturno. Estudo de abordagem quanti-
qualitativa, realizado no Hospital Municipal Walter Ferrari na cidade de
Jaguariúna - SP, no ano de 2010. A amostra consta de 27 profissionais de
enfermagem que atuam no período noturno. Foi utilizado o questionário
WHOQOL-bref, através de coleta de dados individual e sigilosa depositadas
em urnas. Os resultados apresentaram no domínio Físico, Psicológico e Meio
Ambiente a região de indefinição e alcançou a região de sucesso no domínio
das Relações Sociais. Conclui - se que os profissionais de enfermagem do
Hospital Municipal Walter Ferrari mantêm equilibrada e satisfatória, a sua
qualidade de vida, demonstrando serem capazes de superar as conhecidas e
esperadas dificuldades que estão expostos no trabalho noturno.
Palavras-chave: Enfermagem; Qualidade de Vida; Trabalho Noturno.

Abstract: This project is written to investigate the quality of life of the Nurse
Professional that works in night shifts. It is a quantity study, conducted at
the Municipal Hospital in the city of Walter Ferrari Jaguariúna - SP, in 2010.
The sample shows 27 nurses who work night shifts. We used the WHOQOL-
bref, through individual data collection and kept in secret ballot. The results
showed the Physical, Psychological and Environmental uncertainty of the
region and reached the region of success in the field of Social Relations. In
conclusion, the nurses of the Hospital Municipal Walter Ferrari keep balanced
and satisfying their quality of life, assuring they are able to overcome the
known and expected difficulties they are exposed with the night shift.
Keywords: Nursing; Quality of Life; Night shift

Introdução
O cuidado tem uma enorme importância na humanidade por ser
através dele que a vida continua e se desenvolve. É uma parte integral da
vida. Os profissionais que são responsáveis por esse ato, restritamente são
os da enfermagem, que tem como foco principal o cuidar do ser humano
(CELICH 2004).
Segundo Leopardi, Gelbcke & Ramos (apud MARTINS, 2002, p. 19) “a
enfermagem é um trabalho complexo, combinando três ações básicas, não
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dissociadas, ou seja, a educação em saúde, o cuidado e a gerência dos


sistemas de enfermagem”.
Contudo, a equipe de enfermagem é formada por enfermeiros, técnicos
de enfermagem e auxiliares de enfermagem, onde participam de forma
direta, através do cuidado individualizado e integral, do processo de cura e
reabilitação do paciente. (MARTINS, 2002).
Para Tanaka et al. (apud MARTINS, 2002, p. 22):
O profissional de enfermagem deve ter preparo técnico e
intelectual, ter a sua disposição, recursos materiais e ter saúde
física e mental para desempenhar a sua tarefa. É um trabalho
que exige um estado de alerta constante e grande consumo de
energia física, mental e emocional por parte do trabalhador.

A assistência prestada pelo profissional de enfermagem tem que ser


realizada em qualquer horário e dia, tendo a instituição de organizar-se com
trabalho em turnos para o atendimento continuado à população e, por isso, são
necessários turnos de trabalho organizados em manhã, tarde e noite. Sendo
assim, no período noturno os trabalhadores sofrem perturbações, devido ao
organismo humano estar adaptado ao trabalho diurno e ao descanso e
constituição das energias durante a noite. (MARTINS, 2002)
Realçando, que o trabalho noturno é importante para a sociedade e
para o desenvolvimento econômico do país, porém vem sendo preocupante o
modo que está sendo organizado e as suas repercussões para a saúde dos
profissionais que o desempenha. (LISBOA; OLIVEIRA; REIS, 2006).
Através de um estudo realizado por Tanaka et al. (apud MARTINS,
2002), observou-se que a maioria dos profissionais de enfermagem trabalham
no período da noite por estarem vinculados a outro emprego. O mesmo
ressalta também que eles não encontram tempo nem local para descanso
necessário, tendo grande déficit de recursos humanos e que a maioria
demonstram-se insatisfeitos com a assistência prestada no plantão noturno.
Nessa perspectiva, o autor Rutenfranz et al. (apud CHILLIDA, 2003)
ressalta que o trabalho no período noturno muda a periodicidade das funções
fisiológicas, tais como alimentação e sono, tendo o profissional que se
adaptar a novas rotinas, levando conflito em relação à necessidade de novos
hábitos.
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Um estudo de Menezes (apud FISCHER et al, 2002), comprovou que


enfermeiros noturnos apresentam taxas mais elevadas de prevalência de
sintomas e problemas de saúde do que os diurnos, os sintomas associam -
se, a alterações de qualidade de sono, distúrbios digestivos e sintomas de
fadiga, tais fatores são prejudiciais para a qualidade do cuidado oferecido ao
cliente e também visa fatores de riscos que afetam a qualidade de vida dos
profissionais de enfermagem.
Borges (2006), em sua tese concluiu que os trabalhadores noturnos
apresentam menos concentrações de 6-sulfatoximelatonina, que
consequentemente gera a diminuição da melatonina, que é um fator proteção
contra o câncer, isso pode estar relacionado à exposição à luz durante o
turno de trabalho. Observou também, que trabalhadores noturnos apresentam
menores concentrações de cortisol quando comparadas aos trabalhadores
diurnos, o que pode estar relacionado à maior fadiga referida por esses
trabalhadores.
Pires et al. (apud MAYNARDES, SARQUIS, KIRCHHOF, 2009)
acrescentam que os trabalhadores do período noturno também sofrem
alterações no ciclo circadiano (ritmos biológicos associados a claro e escuro),
essas alterações estão associadas a medidas fisiológicas e psicológicas: o
sono, a secreção hormonal, a temperatura corporal, a secreção urinaria, o
alerta subjetivo, o humor e o desempenho.
Lisboa, Oliveira & Reis (2006) complementam em termos biológicos,
que a noite é o momento no qual o organismo se prepara para renovar suas
energias.
Além dos fatores noturnos, a equipe de enfermagem em geral, sofre
inúmeros problemas relacionados à saúde do trabalhador, por estarem
expostos diariamente a situações de risco.
Uma pesquisa realizada por Silva et al. (apud CHILLIDA, 2003) explica a
relação do trabalho de enfermagem e as conseqüências à sua saúde. A carga
de trabalho está dividida da seguinte forma: as cargas biológicas, que estão
relacionadas com o contato com pacientes portadores de doenças infecciosas,
contato com matérias contaminadas; as cargas físicas, que estão relacionadas
com os ruídos de maquinas e aparelhos hospitalares, a iluminação inadequada,
as mudanças bruscas de temperatura, e radiação ionizante; as cargas
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químicas, que são substâncias químicas em modo geral, substância


medicamentosa, poeira, fumaça, e materiais de borracha; as cargas
mecânicas, que são a manipulação de perfuro cortante, quedas; as cargas
fisiológicas, ou seja, manipulação de peso excessivo, trabalho em pé, posições
inadequadas e incômodas, as cargas psíquicas, como a atenção constante,
supervisão estrita, ritmo acelerado, trabalho parcelado, monótono e repetitivo,
comunicação dificultada, trabalho feminino, agressão psíquica, fadiga, tensão,
estresse, insatisfação e situações que levam ao consumo de álcool e drogas,
que geram processos de desgastes evidenciados pela complexidade e
consequente dificuldade de captar manifestações por parte do indivíduo.
Indagamos sobre a qualidade de vida dos profissionais de enfermagem
atuantes no plantão noturno, diante de fatores de risco relacionados a esse
regime de trabalho, apontados em diversos estudos.
O trabalho em turnos é freqüentemente apontado como
possível causador de desordens fisiológicas e psicológicas e
desgastes na vida social e familiar, prejudicando o profissional
na sua vida, levando ao desgaste físico e mental do
trabalhador, repercutindo sobre o seu desempenho produtivo e
sua qualidade de vida. (MARTINS, 2002, p.14)

Das definições de qualidade de vida encontradas na literatura, o autor


diz que:
Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que
tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida
familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética
existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese
cultural de todos os elementos que determinada sociedade
considera seu padrão de conforto e bem-estar. (MINAYO,
HARTZ & BUSS, 2000, p.03).

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade de vida é


definida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto
da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (FLECK et al., 2000, p. 179).
A qualidade de vida tem sido referida, tanto ao momento de vida dos
indivíduos em sociedade como ao momento de trabalho. No entanto, a
qualidade de vida no trabalho se constrói mutuamente, ou seja, não há como
dissociar a vida do trabalho, bem como não reconhecer a interface deste na
nossa qualidade de vida (FELLI & TRONCHIN, 2005).
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Cecagno et al (2003), acrescentam que o trabalho está relacionado


com o bem estar e satisfação pessoal e profissional, sendo assim, a maneira
pela qual o trabalhador percebe e atribui um significado ao seu trabalho,
modo que está inserido no processo de trabalho envolvido por ele, tendo
implicações em sua maneira de viver e ser saudável.
Devido aos fatores de risco da enfermagem, no contexto hospitalar
noturno, encontrados na literatura, o presente estudo busca avaliar a
qualidade de vida dos profissionais de enfermagem noturno, seguindo um
instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida, validado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), desenvolvido na versão em português
no Centro WHOQOL para o Brasil, no Departamento de Psiquiatria e
Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Metodologia
O método utilizado neste estudo faz-se de caráter quanti-qualitativo,
em um estudo de campo, transversal.
O presente estudo foi avaliado através de um instrumento de aferição
de qualidade de vida validado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o
WHOQOL-bref, o instrumento abreviado na versão em português foi
desenvolvido no Centro WHOQOL para o Brasil, no Departamento de
Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
sob a coordenação do Dr. Fleck. O instrumento é composto por 4 domínios:
Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente, totalizando 26
questões fechadas, compostas de dimensões positivas e negativas sob a
percepção do individuo referente as duas ultimas semanas.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de
Jaguariúna e pela instituição participante a partir da obtenção de assinatura
da carta de autorização para a pesquisa em campo e pelo Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, lei 196/96, onde comprovou a
concordância do responsável pela instituição participante.
O campo estudado foi o Hospital Municipal Walter Ferrari, na cidade de
Jaguariúna – SP, com atendimento de pequeno porte, onde presta
assistência integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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Foram incluídos na pesquisa enfermeiros e técnicos de enfermagem


de ambos os sexos, na faixa etária de 20 a 50 anos que aceitaram participar
da pesquisa.
Os critérios de exclusão foram profissionais de enfermagem que não
aceitaram participar voluntariamente da pesquisa ou que não se encaixaram
na faixa etária de 20 a 50 anos.
O procedimento da coleta de dados foi realizado em concordância com
a Enfermeira de Saúde Continuada da instituição referida no período de julho
de 2010.
Foram utilizadas 02 urnas que continham explicações sobre o
procedimento e intuito da pesquisa, as urnas ficaram expostas no setor para
que os dados coletados fossem depositados sem identificação e com sigilo.
Previamente à aplicação do questionário WHOQOL-bref, foi aplicado o
Termo de Consentimento Livre e esclarecido, segundo a lei 196/96 do
Conselho Nacional de Ética, este ficando uma (01) via para o participante e a
outra via sendo depositada na urna 01.
Na urna 02 foram depositados os dados demográficos (idade, sexo,
cargo e setor) e o WHOQOL-bref respondido pelos participantes durante e no
fim do plantão.
As urnas estiveram no local da pesquisa durante 25 dias, estas
somente foram abertas pelos pesquisadores no término da coleta dos dados.
O tempo aproximado da aplicação foi relatado pelos participantes no
final do WHOQOL - bref e variou de 5 minutos a 20 minutos e nenhum dos
indivíduos relatou necessitar de ajuda para preencher o instrumento.
A amostra totalizou 27 trabalhadores da equipe de enfermagem e
envolveu os seguintes setores: Pronto Socorro, Unidade Materno Infantil,
Maternidade, Alojamento Conjunto, Berçário, Pediatria, Clinica Médica,
Clinica Médica Cirúrgica, Centro Cirúrgico e Central de Material Esterilizado.
Os dados obtidos foram avaliados estatisticamente pelo Microsoft Office
Excel 2003 e o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) para ambiente Windows, versão 17.0 e interpretados por tabelas.

Resultados
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No total de 27 entrevistados, 20 (74,07%) são do sexo feminino, 4


(14,81%) do sexo masculino e 3 (11,11%) não identificaram o sexo. A idade
variou de 23 a 47 anos, sendo a média 32, 17 anos.
A população foi de 2 (7,41%) enfermeiros e 21 (77,78%) técnicos de
enfermagem e 4 (14,81%) não responderam o cargo ocupado.
Quanto aos setores pesquisados a coleta apresentou a quantidade de
entrevistado em cada setor, sendo, Pronto Socorro 3 (11,11%) entrevistados,
Unidade Materno Infantil 1 (3,70%) entrevistado, Berçário 1 (3,70%)
entrevistado, Alojamento Conjunto 1 (3,70%) entrevistado, Maternidade 2
(7,41%) entrevistados, Pediatria 1 (3,70%) entrevistado, Clinica Médica 3
(11,11%) entrevistados, Clinica Médica Cirúrgica 8 (29,63%) entrevistados,
Centro Cirúrgico 2 (7,41%) entrevistados, Central de Material Esterilizado 1
(3,70%) entrevistado e 4 (14,81%) não responderam.

Tabela 1 – Ilustração dos Dados Demográficos


Características N=27
Idade
Variação (média) 23 - 47 (32,17)
Gênero
Feminino / Masculino/ Sem dados 20 (74,07%) / 4 (14,81%) / 3 (11,11%)
Cargo
Enfermeiro 2 (7,41%)
Técnico de Enfermagem 21 (77,78%)
Sem Dados 4 (14,81%)
Setores
Pronto Socorro 3 (11,11%)
Unidade Materno Infantil 1 (3,70%)
Berçário 1 (3,70%)
Alojamento Conjunto 1 (3,70%)
Maternidade 2 (7,41%)
Pediatria 1 (3,70%)
Clinica Médica 3 (11,11%)
Clinica Médica Cirúrgica 8 (29,63%)
Centro Cirúrgico 2 (7,41%)
Central de Material Esterilizado 1 (3,70%)
Sem Dados 4 (14,81%)
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Houve a predominância do gênero feminino que segundo COFEN 2004


(apud Borges, 2006) confirmam que este dado é característica da profissão de
enfermagem no Brasil.
Os domínios e facetas caracterizam o instrumento aplicado, WHOQOL-
bref, que é analisado por uma escala representada de 0 (zero ) a 100 (cem),
sendo que os valores entre 0 (zero) e 40 (quarenta) são considerados “região
de fracasso”; de 41 (quarenta e um ) a 70 (setenta) considerado “região de
indefinição”; e acima de 71 (setenta e um) como tendo atingido a “região de
sucesso” (Fleck et al., 2000)
O desempenho dos domínios foi analisado pelos extremos individuais
e pela média e desvio padrão alcançado pelo grupo estudado, está
apresentado, em seqüência, no gráfico e na tabela 2.

Gráfico: Referente à ilustração das regiões de definição, extremos individuais e média obtida
pelos participantes da pesquisa sobre qualidade de vida dos profissionais de enfermagem
noturno do Hospital Walter Ferrari, Jaguariúna - SP, de julho de 2010.

No gráfico são ilustradas as regiões de definição do WHOQOL-bref, as


mínimas e máximas individuais e a média obtida pelo grupo de 27
profissionais do plantão noturno.
No domínio 1 (físico) a mínima é apresentada com o escore de 32,14 e
a máxima de 96,43.
No domínio 2 (psicológico) a mínima é de 33,33 e a máxima de 83,33.
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O domínio 3 (relações sociais) apresentou o escore individual mais


alto, sendo a mínima de 41,67 e máxima alcançou o escore 100.
O domínio 4 (meio ambiente) obteve a mínima de 18,75 e a máxima de
84,38.
Os extremos caracterizaram a média obtida pelo grupo de 27
trabalhadores de enfermagem do plantão noturno, na seqüência será
apresentado os resultados obtidos pelo grupo (tabela2).

Domínio 1 Domínio 2 Domínio 3 Domínio 4


Físico Psicológico Relações Sociais Meio Ambiente
N 27 27 27 27
Média 69,44 64,04 73,14 57,87
Desvio Padrão 17,86 13,43 13,73 14,48

Tabela 2: Domínios 1, 2, 3 e 4 – Referente ao número de participantes da pesquisa sobre


qualidade de vida dos profissionais de enfermagem noturno do Hospital Walter Ferrari,
Jaguariúna - SP, de julho de 2010.

A análise dos resultados obtidos no domínio 1 (físico) mostrou que o


grupo composto por 27 profissionais de enfermagem do plantão noturno
obteve a média de 69,44 e desvio padrão de 17,86. O grupo atingiu neste
domínio a região de indefinição (de 41 a 70 pontos na escala de 0 a 100).
O domínio 1 (físico) é caracterizado nas suas facetas por questões
relacionadas à dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso,
mobilidade, atividades da vida cotidiana,dependência de medicação ou de
tratamentos e capacidade de trabalho.
Esses fatores têm relação estreita com a incidência de doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) e podem ser determinantes na qualidade
de vida, é importante manter o peso corporal na faixa de normalidade para
evitar as complicações de DCNT, e assim melhorar os aspectos físicos da
qualidade de vida. (Sonati e Vilarta, 2010).
Os resultados obtidos pelo grupo no domínio 2 – psicológico obteve a
média de 64,04 e desvio padrão de 13,43. O desempenho desse domínio
atingiu a região de indefinição (de 41 a 70 pontos na escala de 0 a 100).
O domínio 2 (psicológico) apresenta nas suas facetas questões
relacionadas à sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e
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concentração, auto estima, imagem corporal e aparência, sentimentos


negativo, espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais.
Os trabalhadores de enfermagem noturnos apresentam um sono que
varia de 2 a 4 horas durante o dia, isso confirma que o trabalhador retorna ao
trabalho em situação de fadiga, diminuindo o rendimento físico, o nível de
atenção, e perturbações sensíveis na coordenação motora e o ritmo mental.
Para Sonati e Vilarta (2010), a alimentação pode influenciar alguns
aspectos nesse domínio, a falta de alguns nutrientes podem comprometer o
aprendizado e a concentração, podem também alterar a imagem corporal e
auto-estima que nos dias de hoje se preconiza um padrão de beleza irreal
estimulados pela mídia.
O domínio 3 (relações sociais) obteve a média de 73,14 e desvio
padrão de 13,73. O desempenho desse domínio atingiu o maior escore,
atingindo a região de sucesso (acima de 71 pontos na escala de 0 a 100).
Este domínio inclui nas suas facetas questões relacionadas às
relações pessoais, suporte (apoio) social, atividade sexual.
Mackenzie et al (apud Neto et al, 2008) definem como capital social
uma propriedade de grupos que, além de envolver indivíduos, engloba
diversos aspectos da vida social, enfim, sentir-se com apoio emocional e
possuir relações afetivas podem ser representado como bom capital social
experimentado pela maioria dos seres humanos.
Celich (2004) enfoca no ambiente do cuidado a questão social, onde o
grupo de enfermagem tem que ter uma “convivência harmônica’’ entre os
cuidadores, ajuda mútua, construindo vínculos de aproximação, para
conseguir alcançar o bem estar geral da equipe.
O domínio 4 (Meio Ambiente) obteve a média de 57,87 e desvio padrão
de 13,73. Este domínio atingiu a região de indefinição (de 41 a 70 pontos na
escala de 0 a 100).
O domínio meio ambiente é caracterizado nas suas facetas por
questões relacionadas à segurança física e proteção, ambiente no lar,
recursos financeiros, disponibilidade e qualidade de cuidados de saúde e
sociais, oportunidades de adquirir novas informações e habilidades, lazer,
ambiente físico e transporte.
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Para o entendimento do domínio do meio ambiente relacionamos com


um estudo realizado por Cecagno et al (2003) que possibilitou que
profissionais de enfermagem relatassem verbalmente o que vem a ser para
eles qualidade de vida, trabalho e lazer, esses relatos foram expressos da
seguinte forma:
“Condições de trabalho digno, saúde, lazer, moradia
confortável, acesso aos serviços de saúde, relacionamentos
estáveis, confiança, férias, viagens, conseguir conciliar
trabalho e diversão, vida familiar saudável.
É poder desfrutar de todos os prazeres que a vida pode
proporcionar, bem estar social, emocional, financeiro, no
trabalho, família e amoroso”.

Assim o estudo de MARTINS (2002) acrescenta nessa questão, que os


componentes do domínio ambiental são relevantes para uma vida com
qualidade, porém, são questões que não dependem somente do profissional
para serem solucionadas.
Neves et al (apud Miranda 2006) enfatiza que trabalhadores de
enfermagem têm desgastes na qualidade de vida por terem longas jornadas
de trabalho, falta de materiais e recursos humanos, riscos ocupacionais, não
reconhecimento do trabalho desenvolvido e remuneração injusta entre outros.
Ao final do Whoqol-bref, é questionado em forma de pergunta aberta 3
itens, sendo a primeira investigação sobre o participante necessitar de ajuda
para preencher o questionário, onde todos participantes relataram não
necessitar de ajuda para o preenchimento do mesmo.
A segunda investiga o tempo de preenchimento, variando entre 5 a 20
minutos descritos pelos participantes.
E a terceira questiona se o participante tem algum comentário sobre o
questionário, neste momento apenas um (1) entrevistado fez um comentário,
expressando-se da seguinte maneira:

"Normalmente o profissional que trabalha a noite acaba


dormindo menos do que precisa, porém há também
profissionais que dormem mais do que precisa, ouço
comentários de colegas como eu, que dormem muito e ainda
sentem sono."

Segundo Horne e Ostberg (apud Manhães, 2009) existem diferenças


individuais para a adaptação de sono vigília 24 horas, os cronotipos analisam a
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compatibilidade do individuo para o melhor horário de adaptação, sendo,


indicada para o trabalho noturno o cronotipo, moderadamente vespertino que
são indivíduos que acordam tarde e dormem tarde, indiferentes são os que não
tem preferências, sendo estes mais tolerantes a privação do sono e
definitivamente vespertino que são a minoria da população.
Para Basseti e Gugger (apud Manhães,2009), sonolência é uma função
biológica, conceituada como uma probabilidade para adormecer, já na
sonolência excessiva o individuo tem uma propensão maior ao sono, sofrendo
fortes tendências para adormecer, complementa Olejniczak (apud Manhães,
2009) sonolência excessiva pode estar relacionadas a privação crônica de
sono, aos distúrbios do ritmos circadiano, e ao uso de drogas e medicações.

Considerações finais
Nos últimos tempos diversos estudos têm se preocupado com o tema
da qualidade de vida, buscando definições adequadas para o termo até
formas de mensuração.
Conforme estudos o trabalho noturno também vem crescendo e com
ele cresce as pesquisas levantando os fatores relevantes desse ciclo vigília.
Entretanto, muito ainda há para se pesquisar, sobretudo os
desenvolvimentos continuarão e dará cada vez mais a procura por qualidade
de vida e por serviços 24 horas que atendam as necessidades da população.
A análise dos domínios evidencia que, o domínio de relações sociais
alcançou a região de sucesso, o que confirma que as necessidades básicas
do ser humano de estar inserido na sociedade e se relacionar com os
indivíduos estão presentes no cotidiano destes profissionais que trabalham no
período noturno, uma vez que estão inseridos na sociedade em horários
diferentes da maioria da população, eles conseguem ainda buscar relações
pessoais, suporte (apoio) social e atividade sexual, que de alguma forma
proporcionam bem estar, elevando o nível de qualidade de vida.
Apesar dos domínios: físico, psicológico e meio ambiente não terem
alcançado a região de sucesso, ficando como a região indefinida, o domínio
físico e psicológico apresentaram pontuações próximas para alcançar o
sucesso, porém isto se deva ao fato de que o trabalho da enfermagem
juntamente com o fator de trabalhar no período da noite realmente gere um
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desgaste físico e psicológico, principalmente pela mudança dos ritmos


biológicos que demandam maior cautela para não se expor a riscos e pela
responsabilidade de exercer uma profissão que busca o bem estar do
próximo. Vale ressaltar que o cuidar de si próprio faz – se necessário para a
qualidade da assistência prestada ao próximo.
O domínio do meio ambiente, também se apresentou na região
indefinida, porém, com escore menor relacionado ao domínio físico e
psicológico, pode ter uma relação estreita com desenvolvimento global, que
levam ao aumento da poluição, trânsitos, ruídos, das mudanças nos últimos
anos que modificaram os sistemas de saúde,implantando o SUS, onde é
característica da maioria da população buscar melhoria da saúde oferecida
pelas esferas governamentais, ao crescimento acelerado das tecnologias que
gera o consumismo, e assim, os recursos financeiros nunca atendem as
expectativas pelo modernismo acelerado que visa busca continua do
conforto, bem estar e a qualidade de vida, muitas vezes definida por estes
aspectos.
A fala da participante evidencia que os profissionais noturnos
reconhecem o déficit do quesito sono, muitas vezes sendo menor o tempo de
descanso e fragmentado, e nota-se na fala da participante que alguns
profissionais sofrem com a privação do sono, mesmo que dormindo muito,
continuam com a necessidade de mais horas para descanso. Este fator pode
ocorrer devido a privação do sono, onde muitas vezes após o plantão o
profissional ainda tem as tarefas do lar para realizar, que na maioria das
vezes são as mulheres, ou mesmo o fato de exercer mais de uma atividade
profissional e/ou estudos, são fatores que dificultam e fragmentam o
descanso, levando a sonolência excessiva, ou até mesmo pelo cronotipo de
cada individuo em não se habituar no período noturno, estes sendo citados
em diversos estudos e ainda muito pesquisado.
Portanto, os profissionais de enfermagem atuantes do período noturno
do Hospital Municipal Walter Ferrari, mantêm equilibrada e satisfatória, a sua
qualidade de vida, demonstrando serem capazes de equilibrar e superar as
conhecidas e esperadas dificuldades que estão expostos no trabalho noturno.

Agradecimentos
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Aos pais, avós e queridos que acreditaram e apoiaram os nossos ideais,


ao Hospital Municipal Walter Ferrari e toda sua equipe que contribuíram para a
realização deste projeto e ao Professor Orientador Fábio Paixão que nos
proporcionou subsídios para o aperfeiçoamento do estudo.

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SOUZA, J. C. Sonolência diurna excessiva em trabalhadores da área de


enfermagem. J. bras. Psiquiatr, Volume 53, Maio. 2007

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