Ao pesquisar sobre as decisões judiciais em tempos de pandemia,
depreende-se que os Tribunais estão reconhecendo a incidência das tutelas provisórias, sobretudo das tutelas de urgência em tempos de CODVD-19, sustentando ser tal medida necessária para a preservação dos direitos pleiteados nos litígios. Nessa seara, a tutela provisória é um mecanismo de suma importância no enfrentamento das demandas geradas pelo covid 19. Como informado, o curso normal do processo é conhecido por sua demora, fator que se complica em tempos de pandemia, ao passo do judiciário estar funcionando de forma extraordinária. Ademais, há os pleitos que não se relacionam diretamente com o tratamento desse vírus, mas que surgiram justamente em decorrência dele, como, por exemplo, ações revisionais de alugueis, as quais são ajuizadas com a finalidade de reduzir valores pagos aos locadores em razão da queda de rendimentos pelo distanciamento social. Nesse aspecto, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, reconheceu a incidência da tutela de urgência por meio do julgamento de agravo de instrumento nº 0707596.27.2020.8.07.0000, o qual tratava de ação revisional de aluguel proposta por determinado escritório de advocacia que afirmava grande perda em sua receita em razão das políticas de distanciamento social, bem como pela suspenção de grande parte dos serviços jurídicos por ele prestado. No mérito, o tribunal entendeu se encontrarem presentes os requisitos da probabilidade do direito e perigo na demora, reduzindo o valor mensal do aluguel de R$2.000,00 (dois mil reais) para 1.300,00 (mil e trezentos reais) em virtude da pandemia gerada pelo novo corona vírus. Ainda neste prisma, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro por meio do relator Fernando Cerqueira Chaves, deferiu parcialmente os efeitos da tutela de urgência por meio do agravo de instrumento de nº0022449- 49.2020.8.19.0000 em demanda proposta pela rede de fast food Giraffa’s, reduzindo os aluguéis e demais despesas. No julgamento, além de fundamentar quanto à existência dos requisitos pertinentes a tutela pleiteada, o relator também fez menção ao princípio da preservação das empresas e emprego. Não obstante, o tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, segue o mesmo entendimento, nesse aspecto, vejamos acórdãos nos quais é possível observar a incidência do instituto das tutelas provisórias em temos de pandemia gerado pelo novo corona vírus: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO DESTINADO AO EXERCÍCIO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL AUTÔNOMA DE TRANSPORTE DE ESTUDANTES - SUPERVENIÊNCIA DA PANDEMIA DA COVID-19 - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DAS PARCELAS VENCIDAS E VINCENDAS - TUTELA DE URGÊNCIA - PROBABILIDADE DO DIREITO INVOCADO E "PERICULUM IN MORA" - VERIFICAÇÃO - DEFERIMENTO. I- Segundo o art. 300, "caput", do CPC, a concessão de tutela provisória de urgência depende da presença de elementos evidenciando a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo; II- Se os elementos até então constantes dos autos evidenciam a probabilidade do direito invocado e o "periculum in mora", deve ser deferido o requerimento de tutela de urgência atinente à suspensão, com impedimento dos efeitos da mora, da exigibilidade das parcelas do financiamento de veículo essencial à profissão do requerente de transportador de estudantes, vencidas e vincendas na constância das medidas de combate à pandemia da covid-19 que impossibilitam o exercício de tal atividade profissional autônoma. (Minas Gerais, 2020, online)
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO
DE FAZER C/C REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - ATRASO NA ENTREGA DA OBRA - PAGAMENTO DE ALUGUÉIS - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - REQUISITOS PRESENTES. Nos termos do art. 300, do CPC a tutela antecipada de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco para o resultado útil do processo. Demonstrado dos autos o atraso injustificado na entrega do imóvel pela construtora, bem assim, a dificuldade eventual que passa o consumidor diante de dificuldade econômica para continuar o pagamento de aluguel de imóvel em que reside consubstanciado na redução de ganhos em sua atividade comercial, pelos transtornos ocasionados pela pandemia de COVID-19, é de rigor a concessão de antecipação de tutela cautelar de urgência para determinar que custeie os alugueis por um período de 05 (cinco) meses. (Minas Gerais, 2020, online)
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO - AGRAVO DE
INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - DESOCUPAÇÃO DE IMÓVEL EM SITUAÇÃO DE RISCO - POSSIBILIDADE - TUTELA DE URGÊNCIA - PRESENÇA DOS REQUISITOS. Tendo em vista que os documentos elaborados pela Administração Pública noticiaram que a estrutura do imóvel se encontra comprometida e que o mesmo não se apresenta em condições de habitação, vislumbro a relevância do fundamento e o perigo do dano aptos à concessão da tutela de urgência. V.V.: Ordem desocupação de moradia, em situação de risco de iminente desabamento. Necessidade de desocupação que deve ser contrabalançada pela tomada de medidas mitigatórias, dada a relevante questão social do desabrigo da família desalojada, havendo que se fazer ponderação de valores, no sentido de se garantir o direito social fundamental à moradia, não se procedendo a desocupação de forma a criar situação de desabrigo para as pessoas que ocupavam o local. Situação de desabrigo que se torna ainda mais grave na consideração da existência de pandemia relacionada ao "Novo Corona Vírus", COVID-19, o que induz, além da vulnerabilidade social, ao risco à própria saúde e a vida da família desalojada, que, perdendo sua moradia, ficarão mais expostas à contaminação. Oferecimento, pela municipalidade, na esfera administrativa, de abrigo para segurança imediata e aluguel social, para se evitar a situação de desabrigo, mormente considerando-se que a desocupação foi determinada de forma provisória, até a realização de obras para garantir a segurança no local, as quais foi condenada a municipalidade. Poder de contracautela do juiz. Provimento parcial do recurso, para determinar que, efetivada a desocupação, seja garantido ao réu e sua família, abrigo imediato, e aluguel social, até o julgamento final da lide, ou até que haja condições seguras de retorno à moradia. (Minas Gerais, 2020, online)
Por fim, com os mencionados exemplos, resta cristalina a importância,
eficiência e eficácia da tutela provisória nas mais distintas situações. Pessoas com necessidades rápidas que pleitearam na justiça seus pedidos, tiveram de forma relativamente rápida respostas positivas, as quais possivelmente lhes seriam negadas frente a inaplicabilidade das tutelas provisórias, acabando por gerar prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação.