METROLOGIA-2003 – Metrologia para a Vida
Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)
Setembro 01−05, 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL
DETERMINAÇÃO DO LOTE MÍNIMO EM ENSAIOS DE COMPRESSÃO
DIAMETRAL
Patrícia I. S. Peres 1 , Eneida T. V. Duarte2 , Cláudio G. A. Barbosa3 , Eduardo A. Carvalho 4
1,2,3,4
UENF/CCT/LAMAV, Campos dos Goytacazes, Brasil
Resumo: O emprego do Ensaio de Compressão Diametral
(ECD) é de fundamental importância em diversos campos
da engenharia, sendo empregado na avaliação de
propriedades de materiais frágeis e dúcteis, bem como bi-
materiais.
Este trabalho apresenta um procedimento laboratorial para
se determinar o número mínimo de testes a serem realizados
para que os resultados sejam representativos. Fatores
geométricos e efeitos de granulometria são discutidos. A
análise da incerteza expandindo (U95 ) revela o limite
mínimo possível para uma dada dispersão e
conseqüentemente o lote mínimo. O efeito de contato é
brevemente discutido e sua solução apresentada.
Foram preparados 210 corpos de prova circular, a partir de
uma argila vermelha, apresentando diversas granulações e
pressões de compactação. Estes foram submetidos a
tratamento térmico e por fim rompidos em máquina de
ensaio, obedecendo-se às normas aplicáveis ao caso de
ensaios de compressão diametral.
Palavras chave: Compressão diametral, incerteza
expandida (U95 ), lote mínimo.
1. INTRODUÇÃO
Os ensaios mais usualmente empregados para a
determinação de propriedades mecânicas em materiais
frágeis são os de flexão [1], devido a sua praticidade e
rapidez de execução. Esses ensaios, porém servem tão
somente para se determinar a densidade de defeitos
existentes na superfície tracionada [2]. Desta forma os
ensaios embora de grande utilidade para materiais e peças
que trabalhem à flexão, tem pouca serventia para o estudo
de propriedades de materiais que trabalharam suportando
tensões máximas em regiões internas do corpo.
Para se estudar a densidade de defeitos existentes em um
material cerâmico após seu processamento faz-se necessário
empregar uma metodologia que estude o volume do
material. Os ensaios de compressão tradicionais
(compressão axial) são limitados pelas alturas mínimo e
máximo [3], para que o corpo de prova represente uma
região com carregamento constante ou que não ocorra a
flamb agem respectivamente. Casos também aonde a
disponibilidade de matéria prima é pequena ou que por
razões tecnológicas o seu formato final é de um disco
circular plano que apresenta espessura menor do que duas
vezes o valor do diâmetro, outra solução deve ser
encontrada.
Outro ponto relevante é a decisão sobre o tamanho da
amostra, pois uma amostra de tamanho grande pode implicar
em custos altos e de tamanho muito pequeno pode vir a
comprometer o resultado que se pretende determinar [4].
Uma parte da análise metrológica de relevância é o cálculo
da incerteza associada ao resultado da medição, sendo este
valor diretamente relacionado com a acurácia desejada para
a medida em questão [5].
Este trabalho optou pelo uso de ensaio de compressão
diametral ou Disco Brasileiro [6-9]. Os resultados foram
analisados estatisticamente, e a incerteza expandida (U95 ) foi
calculada.
2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
2.1. Tensão de ruptura em ensaio de compressão diametral
Este ensaio é utilizado para a determinação da resistência do
material ao esforço mecânico trativo, onde é identificado o
valor máximo de tensão que o material suporta antes da
ruptura.
A tensão de ruptura como calculada para um disco circular
plano sobre compressão diametral, tem forma de [10]:
2P
σ= (1)
πDh
Onde,
P é a carga aplicada;
D é o diâmetro do corpo de prova;
H é a espessura do corpo de prova.
2.2 Determinação do Lote Mínimo
Freqüentemente não se possuem informações disponíveis
para se ter certeza quanto a escolha do tamanho de uma
amostra. Para se escolher um tamanho de amostra n, é
necessário que seja definido o que se espera da amostra, em
termos de alguma decisão que deve ser feita quando o
resultado da amostra é conhecido.
Neste trabalho foi utilizado a Formulação de Cochran [4],
pois oferece um modelo simples para a determinação do lote
mínimo (n o ), baseado numa distribuição Normal, onde uma
primeira aproximação é:
  tS 
2 abrangência K, fator numérico utilizado como multiplicador
n 0 =   (2) da incerteza padrão combinada, selecionado como base no
 rµ  nível de confiança requerido do intervalo.
Onde t é o t de Student, S é o desvio padrão da amostra, r é Neste trabalho, foi adotado um nível de confiança p=95%,
uma acurácia que se deseja e µ é a média do lote estudado. logo o fator de abrangência Kp =1,96. Assim a incerteza
Na prática, primeiro calcula-s e no . Se no /N (onde N é o expandida é calculada por [11]:
número total de amostras do lote) é pequeno, no é uma
U95 = 1.96.Uc (8)
primeira aproximação de n, se não, n é obtido por:
n0
n= (3)
1 + (n0 / N) 3. MATERIAIS E MÉTODOS
O material analisado foi cerâmica vermelha, cuja matéria
2.3. Incerteza padrão combinada prima, argila, foi coletada de barreiros da região da Baixada
A incerteza padrão combinada (u c) de um processo de Campista.
medição é estimada considerando a ação simultânea de todas
as fontes de incerteza e ainda corresponde a um desvio Foram confeccionados 210 corpos de provas circulares, as
padrão da distribuição resultante. amostras foram distribuídas em cinco lotes e são
Neste trabalho, as variáveis de entrada relacionadas ao apresentados na tabela I. Neste trabalho os corpos de prova
paquímetro são estatisticamente dependentes, enquanto que foram elaborados utilizando como técnica de conformação a
a variável relacionada a máquina de ensaios de compressão prensagem a frio. A elaboração de corpos de prova foi feita
é estatisticamente independente. A fórmula é dada como utilizando-se uma prensa tipo hidráulica manual. Foi
segue [11]: utilizado uma matriz com cavidade circular (φ35 mm), e
2 2 contendo um conjunto de pistões de aço.
 ∂f   ∂f ∂f 
uc2( G) =  ⋅ u(a )  +  ⋅ u(b ) + ⋅ u( c )  (4)
 ∂a   ∂b ∂c  A pressão de compactação para os corpos de prova
circulares foi de 30 MPa. A etapa típica de queima dos
onde u 2 c(G) a incerteza padrão combinada da grandeza dada corpos de prova fabricados foi realizada em um forno
por G=f(a,b,c) e u(a), u(b), u(c), representam as incertezas elétrico marca MAITEC. Os corpos de prova foram
padrão associadas às grandezas de entrada “a”, “b”, “c”, submetidos a uma queima a 950ºC por três horas.
respectivamente, sendo “a” relacionada à máquina de
ensaios e “b” e “c” relacionadas ao paquímetro. Foram medidas as dimensões dos corpos de prova após os
processos de prensagem e queima, com um paquímetro
Para este cálculo, onde a propriedade medida é calculada digital marca Mitutoyo modelo 500-143B e resolução de
para o ponto situado na face oposta ao carregamento, a 0,01mm, e os pesos dos mesmos, em balança analítica com
equação (1) citada anteriormente gera os seguintes resolução de 0,001g.
componentes:
Os ensaios foram realizados na máquina INSTRON, modelo
∂σ R 2 5582, com capacidade de 100kN, a velocidade de aplicação
= (5)
∂P π dh da carga foi de 0,5mm/mim.
∂σ R 2P (6) Foram utilizados contatos elastoméricos entre os pratos de
= −
∂d π d 2h carregamento da máquina e os corpos de prova para evitar
fraturas localizadas, que alteram a distribuição de tensões no
∂σ 2P (7)
R
= − disco.
∂h π dh 2

A partir do certificado de calibração da célula de carga 4. RESULTADOS

retirado da Norma ASTM, classificado por desempenho, a 4.1. Tensão de Ruptura
incerteza ∂P (da máquina de ensaios) é utilizado 0,25% do
valor da carga máxima obtida em cada ensaio. A tabela 1 apresenta a quantidade e peso das amostras por
lote e suas respectivas granulometrias, bem como, a carga
Os componentes ∂d e ∂h estão relacionados com a incerteza máxima suportada pelo corpo de prova e a tensão de ruptura.
do paquímetro, onde este valor, a partir do certificado de
Tabela 1 – Valores obtidos para amostras estudadas
calibração (retirado das Normas RBC) é de 0,01mm
(0,02/2).
PESO Carga T. Rupt.
LOTE Quant. MESH (g) Máx.(N) (Mpa)
2.4. Incerteza Expandida
1 60 60 20 1212,71 2,06
A incerteza expandida (U) associada a um processo de 2 60 60 20 1508,41 2,55
medição é a grandeza que define um intervalo em torno do
3 30 150 20 2169,09 3,71
resultado de uma medição com o qual se espera abranger
uma grande fração da distribuição dos valores que possa ser 4 30 60 30 2395,70 2,74
razoavelmente retribuída ao mensurando, é estimada a partir 5 30 60 35 2117,49 2,01
da incerteza combinada multiplicada pelo fator de
4.2. Calculo da Incerteza Expandida U95 AGRADECIMENTOS
A partir dos itens 2.3 e 2.4 apresentados acima, podemos Os autores agradecem o suporte financeiro da TECNORTE /
calcular a Incerteza Expandida, sedo que, inicialmente é FENORTE.
calculado a incerteza padrão combinada, que se segue como:
2 2
 2    2P   2P   REFERÊNCIAS
u c =   ∂ P  +   −  ∂d +  − ∂ h  (9)
  πdh     πd h   πdh  
2 2
[1] ASTM Designation: C1161 – 90 (2000) Standard
Na tabela a seguir é apresentado o valor de U95 a partir de Test Method for Flexural Strenght of Advanced
U95 =Uc x 1,96, para cada lote. Ceramics at Ambient temperature.

Tabela 2 – Determinação de U 95 [2] Mandelsohn, D.A., Gross, T.S., Young, L.J., Chen,F.,
Goulet, R.U. (2001) Geometry and Load Fixture
LOTE Pmáx (N) hméd. (m) dméd (m) U95 (Mpa) Effects in the Four-point-bend Mixed Mode Fracture
01 1440,79 0,03475 0,01080 0,0058 Specimen. Engineering Fracture Mechanics, Vol. 68,
02 2039,19 0,03464 0,01092 0,0081
pp. 587-604.
03 2513,17 0,03460 0,01077 0,0103
04 2820,39 0,03462 0,01610 0,0057 [3] ASTM Standards: E 9 – 89a (1995) Test Methods of
05 2946,48 0,03487 0,01935 0,0044 Compression Testing of Metallic Materials at Room
Temperature.
4.3. Cálculo do Lote Mínimo [4] Cochran, W. G, (1997) Sampling Techniques, John
Wiley & Sons, Tirad Edition.
Utilizando a formulação de Cochran (equações 2 e 3)
obtemos os seguintes resultados: [5] Duarte, E.T.V. (2000) Análise Estatística e
Tabela 3 – Valores obtidos a partir de Cochran Metrológica de propriedades Mecânicas em Materiais
Frágeis, Tese de mestrado, Universidade Estadual do
Lote Nº total Média Desvio η0 η Lote Norte Fluminense, CCT, LAMAV.
de itens (MPa) Padrão Min.
01 60 2,0595 0,2286 19,60 14,80 15 [6] Hondros, G. (1959). The evaluation of poisson’s ratio
02 60 2,5450 0,4560 51,56 27,72 28 and the modulus of materials of a low tensile
03 30 3,7103 0,3690 16,47 10,63 11 resistance by the Brazilian (indirect tensile) test with
04 30 2,7400 0,3610 28,80 14,69 15 particular reference to concrete. Poisson’s ratio and
05 30 2,0069 0,4627 89,09 22,40 23 elastic modulus by Brazilian test, pp.243 – 268.
[7] ASTM Designation: C496 – 71. Standard Method of
A acurácia r adotada neste trabalho foi de 5%, sendo que, a Test for Splitting Tensile Strength of Cylindrical
partir dos resultados encontrados na incerteza expandida, a Concrete Specimens.
acurácia pode-se estreitar até 0,27% (Resultado obtido a
[8] Shetty, D. K.; Rosenfield, A. R.; Duckworth, W. H.
partir da divisão do maior valor de U95 pela maior media
(1987) Mixed-mode Fracture in Biaxial Stress State:
encontrada nos lotes).
Application of the diametral-compression (Brazilian
Disk) test. Engineering Fracture Mechanics, Vol. 26,
nº 6, pp. 825-840.
5. CONCLUSÃO
[9] Chau, K. T.; Wei, X. X. (2001) A new analytic
O lote 5, de maior volume, apresentou como esperado
solution for the diametral point load strength test on
tensão média de ruptura menor do que os outros lotes. Este
finite solid circular cylinders. International Journal
efeito pode ser creditado à maior quantidade de defeitos
of Solids and Structures, Vol. 38, pp. 1459–1481.
presente no plano de ruptura. O lote apresentou também, a
menor incerteza expandida. [10] Dally, J. W.; Riley, W. F. (1991) Experimental Stress
Analysis, MacGraW-Hill, Inc.
O lote 3, de menor tamanho de partículas, apresentou
também como esperado, a maior tensão média de ruptura. [11] ABNT, “Guia para a Expressão da Incerteza de Medição”,
Segunda Edição Brasileira do Guide to the Expression of
O lote 4 apresentou tensão média de ruptura maior do que o Uncertainty in Measurement, Edição Revisada, 1998.
1 e 2 de mesmo tamanho de partículas, o que foi inesperado,
uma vez que tem plano de ruptura maior do que os outros
dois. Autores: Bolsista IC, Patrícia Íris da Silva Peres,
A maior Incerteza Expandida encontrada foi bem menor do LAMAV/CCT/UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, Parque
Califórnia, Campos dos Goytacazes/RJ, Brasil, Tel. (22)27261625
que as acurácias usualmente empregadas em estudos de
Ramal 48, Fax (22)27261625, patriciairis7@yahoo.com.br
materiais cerâmicos.
M.Sc, Eneida Tavares Viana Duarte, LAMAV/CCT/UENF, Av.
Alberto Lamego, 2000, Parque Califórnia, Campos dos
Goytacaze s/RJ, Brasil, Tel. (22)27261625 Ramal 48, Fax
(22)27261625, eneida@uenf.br
Eng. Mecânico, Cláudio Galeno Aquino Barbosa,
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Ph.D, Eduardo Atem de Carvalho, LAMAV/CCT/UENF,
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